Jornal de Toronto Toronto: a cidade Uma sociedade A mania brasileira de moradia quase mais humana de atirar depende de você inviável Já parou para pensar em to- cadeiras p. 6 sem culpa dos os momentos em que você excluiu outra pessoa?
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edição # 20 | ano # 2 | março 2019 | www.jornaldetoronto.ca | info@jornaldetoronto.ca | ISSN 2560-7855
As “barreiras”
na busca de emprego
no Canadá
por José Cabral gerd altmann
Se você é um estudante, já formado, ou imigrante recém-chegado ao país, algumas perguntas já devem ter passado pela tua cabeça. Não te preocupa! Veja umas dicas que podem te ajudar a superar as barreiras e encarar a busca de emprego com mais facilidade. p. 5
"O Canadá sempre retribui quando você se dedica e tem boas intenções"
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Fim do mundo
Gente XYZ
Como o Vesúvio, exceto pelas lavas incandescentes, a barragem Córrego do Feijão reescreveu, em solo mineiro, a história de Pompeia ao engolfar, em poucas horas, o povoado adjacente com uma onda gigantesca de água, areia e resíduos de minério de ferro. Arrastando casas, carros, móveis, árvores, animais e pessoas indefesas. p. 7
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O novo point da música brasileira
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Dos Balcãs ao Brasil, Drom Taberna tem se tornado referência musical em Toronto p. 8
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Editorial
Pois é, o mundo é bem mais doido do que pensamos, e não tem um só dia que não escutamos ou lemos alguma barbaridade. Parece que também precisamos de uma boa dose de loucura para poder sobreviver nisso tudo. A Fulana atirou uma cadeira do 450 andar de um prédio e nem ligou para o pessoal que poderia morrer lá embaixo. Na ânsia por mais e mais likes, a (má) “influencer” achou seu modo de aparecer – e, diga-se de passagem, parece estar feliz com os holofotes. Pois bem, resolvemos ajudá-la. Faltou nela empatia, e essa edição trata disso. Como nos comportamos em relação aos outros, como os vemos e como, consequentemente, eles nos veem. Num mundo cada vez mais difícil e imprevisível, onde nem sempre achamos o emprego que desejamos ou nem sempre conseguimos pagar nosso aluguel, onde a lama mata em nome do dinheiro, e onde pessoas se agridem ou se excluem por raça ou condição social, a empatia é a chave para vivermos numa sociedade melhor. Dançamos conforme a música... Na verdade, podemos compor nossa própria, ou prestigiar com alegria aqueles que a fazem de bom grado por nós. Editor-chefe: Alexandre Dias Ramos Gerente de mídia social: Luiza Sobral Revisor: Eduardo Castanhos Fotógrafos: Edwin Isensee, Fernanda Vicentin, Jenna Hamra, Malu Baumgarten & Nate Shepherd Colunistas: Alexandre Dias Ramos, Camila Garcia & José Francisco Schuster Colaboradores dessa edição: Antônio Francisco Pereira, Arnon Melo, Franciszek Starowieyski, Gerd Altmann, Jamile Cruz, José Cabral, Pete Linforth, Rosana Entler, Ryszard Kaja, Valf & Will Leite Agradecimento especial para: Hewton Tavares Agências, fontes e parceiros: CHIN Radio, CIUT Radio, ConCidToronto, Gente XYZ, I&D 101, Tambor Soul, Things By Dru Conselho editorial: Camila Garcia, Nilson Peixoto, Rosana Entler & Sonia Cintra © Jornal de Toronto. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução de qualquer trecho desta edição sem a prévia autorização do jornal. O Jornal de Toronto não é responsável pelas opiniões e conteúdos dos anúncios publicados. Circulação: O Jornal de Toronto é mensal e distribuído em Toronto, Mississauga, Oakville, Montreal e Calgary. Contato: info@jornaldetoronto.ca Subscription: $0.50/cada, $50.00/ano Siga nossa página no Facebook, Twitter, Instagram e matérias complementares, durante todo o mês, em nosso site: www.jornaldetoronto.ca Edição #20, ano #2, março 2019 ISSN 2560-7855
Cotidiano
A mania brasileira de atirar cadeiras sem culpa José Francisco Schuster
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Gente XYZ Rosana Entler
A imprensa canadense noticia que uma jovem de 19 anos lançou uma cadeira da varanda de um apartamento no 45º andar de um edifício de Toronto sobre a rua, quebrando-a em pedaços quase irreconhecíveis, mas por milagre não atingindo ninguém. Tudo registrado em um vídeo que viralizou na internet. Todos começaram a se perguntar quem teria feito tal absurdo, até que a mulher se entregou à polícia. Gira a roleta e, tendo o Canadá imigrantes de tantos países do mundo inteiro, a nacionalidade da sem-noção é... brasileira. Lei de Murphy não falha. Eu, como tantos brasileiros, me senti profundamente envergonhado por esse vexame para a comunidade. Como querer fazer crescer no Canadá o respeito pelo Brasil e seu povo com fatos como este? Vontade de me enfiar em um buraco. Contudo, não foram todos que sentiram assim, já que a segunda parte da história é tão surpreendente como a primeira: a própria autora dessa maluquice, que poderia ter matado uma ou mais pessoas, foi à sua audiência na corte não só tranquila como até sorridente, como se fosse um dia como qualquer outro. Ainda teve tempo de passar batom e ajeitar o cabelo no elevador antes de ser confrontada pela imprensa e, depois disso, ainda comprar um café. Business as usual. Saem chocados desta história, portanto, apenas estrangeiros como os canadenses e somente parte dos brasileiros. Fica a impressão de que há muitos brasileiros como a autora, que tomam esta insanidade como algo sem importância, uma brincadeira sem maiores consequências, e bola pra frente. À justiça, a jovem alegou ter perdido o mínimo de senso por “pressão do grupo”. Como certos grupos de Whatsapp, podemos comparar, onde a lógica mais básica passa longe. Punição? Até o momento, apenas ser “vigiada” pela mãe – uma das responsáveis por ter feito da jovem o que ela é. Sem considerar que teve seus 15 minutos de fama e um fantástico aumento
Imagem do vídeo de celular em que Marcella Zoia atira uma cadeira da janela de um apartamento no centro de Toronto.
de seguidores nas redes sociais. Quem sabe seja até convidada para o BBB. É possível que este anestesiamento da consciência esteja vinculado ao acostumar-se com o atirar de cadeiras que eleitores e seus gurus profissionais, os políticos e juízes, praticam todos os dias no Brasil. Atiramos cadeiras sem dó – e os políticos e juízes com uma pontaria treinada anos a fio – nas leis trabalhistas, na Previdência, na Amazônia, nos indígenas, nos direitos humanos, nos direitos constitucionais, nas minorias e assim por diante. É só uma brincadeira, não é? É engraçado, não é? Acaba tudo em pizza, não é? E começamos a achar natural Brumadinhos, Marianas, Marielles, malas de dinheiro, helicópteros de cocaína, auxiliares de políticos milionários e tanto mais. Responsáveis riem do judi-
ciário, que está mais preocupado em atirar cadeiras no teto salarial e certos de que ele não vai atrapalhar a vida de quem é seu parceiro no golfe. Igualzinho à jovem, o CEO da Vale não aparece arrependido à imprensa, mas afirmando que a empresa é uma joia e não pode ser condenada. Então, se querem saber quem morre no final do filme, adianto que não são os bandidos: são as vítimas das barragens, os meninos do Flamengo, Marielle e Anderson, Amarildo, indígenas e tantos outros que fazem falta e que ficarão para sempre na nossa memória. E melhor olhar para cima, pois neste momento mais uma cadeira pode estar caindo na sua direção, enquanto da varanda gargalham.
Com mais de 35 anos de experiência como jornalista, José Francisco Schuster atuou em grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e TV no Brasil. Foi, durante 8 anos, âncora do programa Fala Brasil, e agora produz e apresenta o programa Noites da CHIN - Brasil, na CHIN Radio.
Os milhões de grupos na mídia social são formados por pessoas que se reúnem virtualmente para debater temas de interesse comum entre seus membros. Não é diferente com um grupo chamado Brasileiros LGBTs no Canadá, que tem Hewton Tavares como um de seus moderadores. Tavares é também um dos fundadores do Grupo Gente XYZ. O grupo Brasileiros LGBTs no Canadá foi formado para reunir, pelo menos no mundo virtual, a comunidade brasileira LGBTQ+ no Canadá, mas a partir do início de 2019 o grupo passou a receber cada vez mais adesões de membros que ainda residem no Brasil. Consequentemente, o tema “imigração” foi se tornando cada vez mais frequente no grupo. Foi assim que o Gente XYZ decidiu dar o primeiro passo fora do mundo virtual, oferecendo gratuitamente um workshop voltado especificamente à comunidade LGBTQs brasileira. O evento Informações de Imigração para LGBTQs brasileiros aconteceu no último dia 2 de fevereiro em um centro comunitário LGBTQ de Toronto. O workshop foi apresentado pela advogada de imigração Ahsley Fisch, do escritório de advocacia Kaminker & Associates, que falou um pouco sobre as principais categorias vigentes de imigração canadenses. O workshop foi gravado e está sendo editado. O vídeo será viabilizado online e compartilhado com ONGs brasileiras que atuam em defesa dos direitos LGBTs. O grupo Gente XYZ espera que o vídeo leve informações importantes a todos os que estejam pensando em sair do Brasil e consideram o Canadá como possível destino. Desde 1996, quando o país modificou sua legislação especificamente para proibir a discriminação baseada na orientação sexual de qualquer pessoa, até 2005, quando o país legalizou o casamento entre parceiros do mesmo sexo, o Canadá tem sido, e continua sendo, uma liderança na defesa de direitos LGBTs.
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Uma sociedade mais humana depende de você
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jenna hamra
Jamile Cruz é cofundadora e diretora executiva da I&D 101 Já parou para pensar em todos os momentos em que você, com comportamentos, palavras, ações ou atitudes, excluiu outra pessoa? Consegue perceber que quando não estamos sendo intencionalmente inclusivos, podemos estar praticando a exclusão? Todos nós temos a tendência de nos comportar de forma a incorporar e demonstrar nossos privilégios, normas culturais e tradições. Ao fazer isso, muitas vezes permitimos que nossos preconceitos afetem direta ou indiretamente as pessoas ao nosso redor. Entenda inclusão como um mo-
O
delamento de cultura e comportamentos onde todos os membros se sintam aceitos e são tratados de forma justa e equitativa, inspirados a participar em todos os níveis e em todos os processos organizacionais e na sociedade. Isso é a chave para desvendar o valor que a diversidade traz para nossa vida profissional e pessoal. Infelizmente, avaliando meu próprio comportamento, poderia escrever um livro sobre os vários momentos em que excluí pessoas ou propaguei conceitos de exclusão e estereótipos entre colegas de trabalho, familiares e amigos.
prêmio vai para... _ Will Tirando
Temos que aprender com esses erros, aprender como nos desculpar e fazer um esforço muito consciente para mudar e praticar a inclusão. Também poderia escrever um segundo livro, mais extenso que o primeiro, com os momentos em que me senti excluída. Pois quando somos vítimas desse tipo de comportamento, a recordação é mais clara e esses momentos nos deixam cicatrizes mais profundas. Com a desumanização presente no nosso dia a dia, vivemos uma cultura de divisão, onde constantemente pensamos em “nós contra eles”. Esse comportamento é
muito visível na política atual e incentiva uma divisão cada vez mais aparente em nossa sociedade. Isso aumenta a necessidade de uma maior conscientização sobre inclusão, e de como podemos agir para elevar nossos esforços em busca de mais unidade, humanização e empatia em nossos relacionamentos; seja no ambiente de trabalho, em nossas famílias ou em interações sociais. Eu convido todos a fazer uma autoavaliação e analisar seus comportamentos através da lente da inclusão. Precisamos rever palavras e ações que propaguem
sentimentos de ódio, discriminação e diferença, e focar na mudança necessária. A construção de um mundo melhor e mais gentil depende de cada um de nós, da mudança de comportamento e compreensão do impacto do mesmo. Onde começar? Siga esses 5 passos na prática da inclusão: 1. Ouça com atenção – às vezes apenas ouvindo é possível dar espaço para alguém que não encontrou ou não teve espaço para usar a própria voz. 2. Considere as opiniões e perspectivas de todos – isso o ajudará a aceitar novas ideias e também a expandir seus conceitos.
3. Manifeste-se (Speak-up) – não assista alguém sendo maltratado e vá embora sem fazer nada a respeito. Empreste sua voz quando a vítima não puder encontrar a própria voz. 4. Verifique suas crenças e preconceitos – você está tomando decisões ou julgando com base no indivíduo que conheceu ou em um estereótipo? 5. Seja autêntico – quando você se apresenta de forma verdadeira aos outros, você os incentiva a serem autênticos também.
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"O Canadá sempre retribui quando você se dedica e tem boas intenções" O Jornal de Toronto entrevistou o empresário Arnon Melo, atual porta-voz do Conselho de Cidadania de Ontário Jornal
de
Toronto - Você é uma
pessoa muito conhecida na comunidade brasileira, especialmente por ser um empresário bem-sucedido, mas também por sua notória participação na produção de eventos e reuniões para a comunidade. Quando foi que seu envolvimento com a comunidade brasileira passou a ser parte do seu cotidiano?
Arnon - Eu sempre tentei fazer a minha parte, em apoiar todos os eventos e atividades dos brasileiros aqui – ainda mais pelo fato de ter uma empresa que promove e auxilia os negócios entre Brasil e Canadá. Sempre senti a responsabilidade de passar uma imagem positiva do Brasil para o canadense e dar apoio à comunidade aqui, pois eu sou brasileiro e está no meu sangue amar o Brasil e me importar com meus conterrâneos. Quando aqui cheguei, há quase 30 anos, estava sozinho e não conhecia ninguém. Como várias pessoas, temos primeiro o instinto de sobreviver, depois de procurar nos adaptar e melhorar nossa vida. Ter feito College aqui foi umas das escolhas mais importantes que já fiz. Não foi fácil ter de trabalhar e estudar ao mesmo tempo para pagar o College; mas, como costumo dizer, o Canadá sempre retribui quando você se dedica e tem boas intenções. O tempo passou e agora, com nossa empresa (Mellohawk) já há 17 anos, fica mais fácil poder
participar de eventos que possam trazer o Brasil para mais perto do Canadá e vice-versa. Claro que nossa comunidade cresceu muito desde que cheguei, e vemos hoje um grupo de brasileiros muito capazes e talentosos, que chegam aqui muito mais preparados do que eu quando vim. Sempre acreditei que, quando oferecemos nossa energia para o bem, o universo se encarrega de retornar o mesmo. Acho que não custa nada doar alguns minutos para dar um conselho amigo a quem quer que seja; o voluntariado é muito importante para amparar e ajudar na adaptação do novo imigrante. Nós brasileiros temos muito o que aprender com os nossos irmãos canadenses.
JdeT - Na sua opinião, quais os melhores caminhos para que a comunidade brasileira cresça e se desenvolva de forma positiva no Canadá? Há espaço para isso? Arnon - Com certeza há espaço para uma comunidade cada vez mais positiva, eu sempre acreditei que o copo está mais cheio e não mais vazio. A melhor maneira para que a gente cresça e se desenvolva é através da nossa união como comunidade e do respeito que temos que ter uns pelos outros. Viemos de diversas partes do Brasil, com costumes distintos e, portanto, somos todos diferentes. O Canadá me ensinou uma lição preciosa: o respeito é dado a quem
Arnon Melo, palestrantes, empreendedores e público, no evento de networking do ConCid, realizado em maio de 2018, na Prefeitura de Toronto.
oferece também. Para que possamos conquistar nosso espaço, temos que respeitar e saber lidar com as diferenças que estão ao nosso redor. Vivemos em Toronto, uma cidade multicultural, e para mim é um aprendizado enorme poder ver todos os dias culturas bem diferentes que coabitam sem problemas e com respeito. Vemos hoje eventos maravilhosos na nossa comunidade que são apoiados por todos e isso é uma união positiva. Participar e ajudar a divulgar nossa cultura e nosso talento local é fundamental. Claro que nem tudo é festa. As pessoas chegam e precisam estar inseridas no mercado de trabalho, então, ter um apoio nesse sentido é essencial.
JdeT - Nos últimos dois anos,
você tem atuado como membro do Conselho de Cidadania de Ontário, que tem produzido eventos de networking para os brasileiros que vivem aqui. É período de novas eleições e sua chapa concorre à reeleição. Quais são as diretrizes e os novos objetivos para os próximos dois anos?
Arnon - Os últimos dois anos
têm sido muito gratificantes para mim, e um grande aprendizado. Ser membro eleito e parte do Conselho de Cidadania (concidtoronto.org) despertou ainda mais
em mim a vontade de ajudar os que aqui chegam com os mesmos sonhos que eu tive quando cheguei. O Conselho me ensinou que podemos juntos fazer muito em prol de outras pessoas. O Conselho é uma plataforma positiva, na qual eu e meus colegas pudemos realizar eventos relevantes para a comunidade, em diversas áreas. Lembrando que o Conselho é formado por voluntários que doam seu tempo sem nenhuma remuneração, status ou apoio financeiro do governo brasileiro. Temos limitações, claro, mas ainda é possível fazer muita coisa. Foi por causa do apoio da comunidade e do sucesso dos nossos eventos que decidi continuar esse trabalho. A nossa CHAPA 1 é formada por um grupo diversificado de profissionais incríveis que têm trabalhado em conjunto e doado seu tempo, e anos de experiência no Canadá, em prol da comunidade brasileira. E foi com essa vivência no Conselho, na atual gestão, que pudemos descobrir as reais e imediatas necessidades que a comunidade tem aqui, e onde ela precisa de mais apoio. Algumas das nossas propostas da CHAPA 1 para o ConCid 20192021 são: • Realizar eventos e workshops com o intuito de ajudar os brasi-
fernanda vicentin
leiros recém-chegados, na busca por emprego em Ontário, além de colocá-los em contato com potenciais empregadores. • Realizar eventos direcionados à mulher brasileira e sua posição no mercado de trabalho em Ontário, com foco nas áreas de saúde, qualidade de vida, empreendedorismo, entre outros.
• Divulgar informações acerca dos diversos serviços em português oferecidos na cidade de Toronto e na província de Ontário. • Produzir eventos informativos sobre assistência social, inclusão e diversidade, comunidade LGBTQ, sistema de saúde local, tanto para residentes quanto para não documentados. • Realizar palestras informativas sobre os serviços que o Consulado-Geral do Brasil em Toronto dispõe para os brasileiros em Ontário.
• Dar continuidade às atividades de comemoração da Independência do Brasil e à Semana do Brasil em Toronto, promovendo o talento dos artistas brasileiros locais.
Essas são algumas das ideias e sabemos que teremos o apoio da comunidade para executá-las, caso sejamos escolhidos pela comunidade para a reeleição do Conselho de Cidadania de Ontário.
Economia
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As “barreiras” na busca de emprego no Canadá José Cabral é consultor de carreiras na Ted Rogers School of Management - Ryerson University
Se você é um estudante próximo da graduação, já formado, ou imigrante recém-chegado ao país, as seguintes perguntas já devem ter passado pela tua cabeça. Não te preocupa! A seguir eu compartilho umas dicas que podem ajudar a superar as barreiras e encarar a busca de emprego com mais facilidade. Vale lembrar que é sempre bom se consultar com um professional da área de carreiras para uma ajuda personalizada.
“Eu não tenho experiência canadense! Como eu faço pra arrumar emprego na minha área de formação acadêmica?” A ideia de experiência se refere não só ao conhecimento aplicado, o que é um dos fatores quando se verifica se o candidato é qualificado, ou não, mas também tem a ver com a quantidade de informação que ele possui sobre o mercado local, consumidores, produtos e normas sociais e de negócio. Por exemplo, o processo de venda pode ser semelhante, mas o comprador e suas necessidades são diferentes. Isso requer que o vendedor se adapte ao mercado local. Seja através de estágio, emprego em tempo parcial ou voluntariado, qualquer experiência é válida para se entrar no mercado de trabalho, pois o indivíduo estará desenvolvendo habilidades e ganhando conhecimento do ambiente de trabalho canadense, o que pode ser transferido quando estiver buscando um trabalho a tempo integral. Em sites como volunteertoronto.ca ou volunteer.ca encontra-se oportunidades de acordo com a área de expertise. E caso esteja interessado em estágio remunerado para imigrantes, pode visitar careeredge.ca.
pete linforth
“Tenho enviado muitos currículos pelos sites de várias empresas, mas não sou chamado para entrevistas. O que estou fazendo de errado?” A ideia de se usar um único currículo para enviar a várias empresas pode parecer o método mais fácil; porém, não é o mais eficaz. O candidato tem que ler o anúncio com atenção para entender o que o empregador está buscando, assim como quais são as responsabilidades e requerimentos da função. Muitas vezes, as pessoas se baseiam somente no título e já se acham qualificadas. Se o currículo não especificar em detalhes como você se qualifica e demostrar que sua experiência pode ser aplicada à função, o mesmo sequer chega ao topo da pesquisa do recrutador, e
muito menos nas mãos do gerente que decide sobre a contratação. Em sites como jobscan. co pode-se testar como o currículo se compara com o anúncio da vaga. Mas, esteja atento para as opções de compartilhar o currículo na internet, principalmente se o mesmo tiver informações que te identifiquem. Caso não esteja ciente do modelo de currículo no Canadá, visite a seção “employment” no site settlement.org.
“Networking é muito chato… Eu tenho mesmo que fazer isso pra conseguir emprego?” Quando um gerente precisa preencher uma vaga, a maneira mais rápida, eficaz e barata é perguntando à própria equipe se conhecem alguém interessado e qualificado. Isso explica porque a maioria das vagas (cerca de 80%) nunca chegam à internet, mas são preenchidos por encaminhamento de candidatos por funcionários internamente. A pergunta é, como essas pessoas podem ajudar se elas não te conhecem e não sabem das tuas capacidades e interesses? Ao participar de eventos, e realizar entrevistas de informação, você tem a possibilidade de conhecer melhor o profissional, a sua ocupação e a empresa que talvez seja o teu objetivo. Desenvolvendo um relacionamento profissional genuíno, você pode expandir a tua rede de contatos, ampliar o conhecimento sobre o mercado de trabalho local e até conseguir uma recomendação, caso a pessoa confie o suficiente na tua capacidade de desempenhar a função. Com o avanço das mídias sociais, fica cada vez mais fácil encontrar e se conectar com profissionais. De acordo com o U.S. News, cerca de 95% dos recrutadores usam Linkedin como fonte de candidatos. Então, quer ser achado? Crie um perfil que te ajude a promover para os empregadores potenciais. Boa sorte na busca!
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Política & Camila Garcia
Quase todos os dias, alguém questiona nos diferentes grupos de brasileiros em Toronto, nas redes sociais, a respeito do custo de vida na cidade. Entre as várias respostas, está a noção de que alugar um apartamento, por menor e mais longe que seja, pode ser mais caro do que o antecipado. A preocupação com moradia a preços acessíveis não é exclusiva dos imigrantes, afetando particularmente residentes de baixa renda e pessoas que dependem de subsídios do governo. Um dos destaques das eleições de outubro, o acesso à moradia é tema recorrente em reuniões na prefeitura de Toronto, com alguns vereadores tendo classificado o momento atual como uma verdadeira crise. O Affordable Housing Office da cidade – que seria nossa Secretaria Municipal de Habitação – comissionou no ano passado um documento contendo uma visão aprofundada sobre a situação. O relatório, de 53 páginas, é denominado Toronto Housing Market Analysis e aponta que, entre os anos de 2006 e 2018, a renda familiar média cresceu apenas 30%, enquanto os custos médios de uma propriedade 131%, reduzindo assim a participação das famílias de classe média no mercado imobiliário. O mesmo estudo alega que, com os preços das propriedades atuais, essas famílias levariam de 11 a 27 anos para conseguir economizar os 10% de entrada necessários para a compra de um imóvel. Outro ponto relevante é a constatação que a população de Toronto poderá chegar a 4 milhões de ha-
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Toronto: a cidade de moradia quase inviável
nate shepherd
bitantes em 2041. Desta forma, a lista de espera por habitação social aumentará, assim como a necessidade por moradia acessível – levando em conta a projeção de que haverá 600 mil pessoas vivendo em lares de baixa renda. Um potencial inquilino leva de três a quatro meses para encontrar residência e, muitas vezes, acaba comprometendo grande parte da sua renda mensal no alu-
guel. A escassez de unidades habitacionais destinadas a locação acontece pelo fato do desenvolvimento imobiliário não ter conseguido acompanhar, na mesma velocidade, o aumento da demanda. Para se ter uma ideia, quase 90% dos edifícios existentes foram construídos antes de 1980. Em contrapartida, nos últimos 20 anos, o mercado é dominado quase que exclusivamente pelo setor pri-
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o seu espaço.
vado, que se importa mais com os próprios interesses financeiros do que com a acessibilidade de seus imóveis. O plano do prefeito John Tory, chamado “Housing Now” – apoiado pela vice-prefeita Ana Bailão, que também preside o comitê de planejamento de moradia –, oferecerá a construtoras privadas e organizações de habitação sem fins lucrativos 11 terrenos públicos
excedentes para a construção de prédios com ao menos um terço das novas unidades classificadas como acessíveis. A cidade reservou $280 milhões de dólares em incentivos financeiros, por meio de alívios em
taxas de desenvolvimento, licenças de construção, solicitações e impostos de propriedade, por 99 anos. Na primeira fase, o plano prevê a construção de 10 mil casas residenciais, onde 3.700 seriam acessíveis e destinadas a famílias com renda média entre $21.000 a $52.000 por ano. O vereador Mike Layton acredita que esse número é pequeno e pede que ao menos metade das unidades sejam disponibilizadas a preços acessíveis. Mesmo com toda a polêmica e controvérsia na qual este programa foi introduzido, ele acabou sendo aprovado com 22 votos contra 4 pela câmara municipal no final de janeiro. É certo afirmar que este desafio pelo qual Toronto hoje passa poderá ter consequências graves no futuro. Igualdade de oportunidades, prosperidade econômica pessoal e da própria cidade podem estar em risco. Sem moradia acessível, a base trabalhadora da cidade não tem condições de permanecer e acabam deslocadas do centro urbano. Ao aumentar o custo e o tempo de deslocamento, desequilibra-se a qualidade de vida. Cabe à sociedade civil compreender que moradia acessível é um direito coletivo, e que devemos, juntos, pressionar governos e empresas privadas para que encontrem soluções inovadoras e sustentáveis. Quem sabe assim Toronto saia da lista de cidades mais caras do mundo para se morar.
Camila Garcia é paulista e já trabalhou com teatro, rádio, televisão e jornalismo. Sempre de olho no universo político, adora trocar suas impressões com os mais chegados, e agora com os leitores do Jornal de Toronto. Atualmente é apresentadora do programa de televisão Focus Portuguese, todos os sábados e domingos, na OMNI TV.
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Fim do mundo Antônio Francisco Pereira é escritor em MG O fim do mundo em Brumadinho começou na tarde de sexta-feira, 25 de janeiro de 2019. Começou subitamente com o rompimento de mais uma barragem. Com a revolta intestinal do caldeirão de lama que não se conteve nos limites geográficos traçados pelo homem. Para muitos moradores, que já temiam uma tragédia, por conta de trincas e vazamentos suspeitos naquela montanha de contenção, o aparecimento de uma nova fissura soou como um aviso. Mas as sirenes não soaram. E, assim, naquela tarde, o dique se rompeu com uma força descomunal, liberando um tsunami de 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos que, nas horas seguintes, espalhariam um cenário bíblico de devastação e morte na região. Como o Vesúvio, exceto pelas lavas incandescentes, a barragem Córrego do Feijão reescreveu, em solo mineiro, a história de Pom-
peia ao engolfar, em poucas horas, o povoado adjacente com uma onda gigantesca de água, areia e resíduos de minério de ferro. Arrastando casas, carros, móveis, árvores, animais e pessoas indefesas. Dois pilares de uma ponte, três locomotivas e 132 vagões desapareceram sob o turbilhão de lama. Quem sobreviveu não salvou nada, além da roupa suja e gosmenta colada no corpo. Náufragos desesperados se arrastando com dificuldade sobre o barro pegajoso e galhos retorcidos. Com a chegada do socorro, o helicóptero dos bombeiros tinha, para eles, a dimensão da arca de Noé. Nessa hora Caronte, em seu barco, já podia contabilizar as vítimas entre mortos e desaparecidos. Dezenas e dezenas de corpos sugados pelo vagalhão só seriam resgatados, sem vida, nos dias seguintes. Outros, nem isso. Retornaram ao pó sem o adeus da família.
Visto do alto, logo depois, o lodaçal traçou uma rota pestilenta, infestando as águas do rio Paraopeba e destruindo o meio ambiente. Por satélite, uma sinuosa mancha escura con-
taminando o território conquistado. Uma locomotiva rebocando os destroços do que um dia foi um povoado cheio de vida, trabalho e esperança. Depois daquela sexta-
-feira, é verdade, a vida continua para mim, para o estimado leitor e para muitas pessoas. Milhares, milhões, bilhões de pessoas. Mas, para aquelas inocentes criaturas engolfadas no jorro da montanha – trabalhadores, donas de casa, crianças e idosos, e para várias espécies de animais
– o mundo acabou naquele momento, de forma brutal, sob o impacto de um segundo dilúvio, que não foi deflagrado pela cólera de Deus, mas pela cobiça dos homens. Foi com essa convicção que Lázaro Simões, acompanhado de uma repórter, voltou ontem ao local onde perdeu dois parentes. Conteve as lágrimas ao se deparar com o cenário pós-apocalíptico, a paisagem degradada que tinha agora diante dos olhos. – Hiroshima! – respondeu quando a moça lhe perguntou em que estava pensando – A barragem era uma bomba de 100 megatons sobre nossas cabeças. E em nome dele eu faço outras duas perguntas: Como vamos dormir tranquilos, daqui pra frente, se ainda existem outras bombas como essa espalhadas praticamente no quintal da nossa casa? Quando e onde vai soar o próximo alarme?
Cultura ryszard kaja
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O novo point da música brasileira Dos Balcãs ao
edwin isensee
Brasil, Drom Taberna tem se tornado referência musical em Toronto Alexandre Dias Ramos Quando escolhemos ir a um lugar ou a outro para ouvir música, estamos fazendo algo muito importante, estamos escolhendo prestigiar determinado local ou determinado músico. E apoiar nossos músicos é contribuir para a divulgação da nossa cultura e o desenvolvimento da nossa comunidade. Como sabemos, é muito difícil viver da música e, portanto, cada dólar recebido faz uma diferença enorme no cotidiano de um músico – cada vez mais, considerando os preços absurdos para se viver
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nessa cidade. Seja no valor da entrada ou em doações espontâneas, nosso dinheiro é fundamental para a sobrevivência dos vários grupos musicais que promovem o Brasil no Canadá. E tomar umas cervejas e comer uns petiscos é não só parte do nosso divertimento em sair à noite, mas também o que faz os bares continuarem existindo e apoiando quem toca neles. O Drom Taberna, por exemplo, aquele charmoso bar na 458 Queen St. W. (esquina com a Augusta Ave.), tem sido um grande promotor da nossa cultura, e merece todo o nosso apoio. Todas
Mari Palhares e Zeca Polina, no Drom Taberna.
as noites há música ao vivo – de bilhares de países e estilos diferentes – e a entrada é sempre gratuita. A variedade de bebidas é excelente, a comida excepcional, e o número crescente de público é também resultado do bom atendimento e calor humano de todos os que trabalham lá. Com o chapéu na mão, Misha Artebyakin, um dos sócios, faz
malu baumgarten
ecoar aos presentes seu entusiasmo em defesa dos músicos da cidade, e da importância de cada centavo para a sobrevivência daqueles que nos trazem alegria e entretenimento.
Logo que o Drom abriu, há poucos meses atrás, Tangi Ropars convidou a musicista Mari Palhares para tocar com o grupo Baobá. Desde então, o Drom tem recebido diversos artistas brasileiros, como Aline Morales, Carla Dias, Zeca Polina e Sérgio Xocolate, em shows de rock, forró, MPB, samba, maracatu, coco de roda e chorinho. E eu não falei da frequência? Ah, o público que vai ao Drom é um capítulo à parte. Qualquer dia, qualquer hora, vale a pena fazer parte daquele lugar com paredes repletas de cartazes do Leste Europeu. Dos Balcãs ao Brasil, o Drom Taberna é onde você deverá ir esta noite.
Alexandre Dias Ramos é editor-chefe do Jornal de Toronto, mestre em Sociologia da Cultura pela FE-USP, doutor em História, Teoria e Crítica pela UFRGS, e membro-pesquisador do Grupo de Estudos sobre Itinerários de Formação em Educação e Cultura da Universidade de São Paulo.