Jornal de Toronto #22

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Jornal de Toronto michael cooper

Nesta primavera, Amamentação o amor está tranquila: no ar 6 coisas que Ópera La Bohème é apresentada em Toronto você precisa com o tenor brasileiro saber p. 7 Atalla Ayan p. 5

E quem ganha no final?

Série Losers, da Netflix, mostra o lado de quem fracassou p. 8 mickey duzyj

edição # 22 | ano # 2 | maio 2019 | www.jornaldetoronto.ca | info@jornaldetoronto.ca | ISSN 2560-7855 Rogério Soares Quando analisamos a presença feminina na Amazônia nos deparamos com uma energia conciliadora, de vibração amorosa de acolhimento e também de luta. Grande parte dos movimentos sociais na Amazônia estão nas mãos de mulheres. Ativistas, quebradeiras de coco, donas de casa, lideranças indígenas, mães, parteiras, o universo feminino amazônico que se descortina na contemporaneidade se contrapõe à visão masculina e individualista que ali imprimimos historicamente. Há uma poderosa força e uma linguagem totalmente diferente da que conhecemos na maneira como elas lidam com a vida na Amazônia. p. 4

O feminino amazônico ricardo matias

Tamakwera Parakanã com sua família, em imagem do filme River Silence, dirigido por Rogério Soares.

valf

Comunidade brasileira evolui no Canadá

Corte de 30% no orçamento do Legal Aid Ontario vai dificultar a vida de refugiados e imigrantes

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Movimento antivacina: de onde vem a dúvida? p. 7

As emoções da MotoGP na Argentina

O Campeonato Mundial de Motovelocidade aterrissou na cidade de Termas de Rio Hondo, no norte da Argentina, para a realização da segunda etapa da temporada 2019! Nosso correspondente no Brasil, o fotógrafo e jornalista de esportes a motor, Marcos Tadeu Batista, esteve presente na cobertura da etapa e trouxe para os leitores do Jornal de Toronto tudo o que aconteceu de melhor nesta prova. Confira no nosso site (www.jornaldetoronto.ca) a matéria completa e as fotos incríveis da corrida.

O piloto Andrea Dovizioso, da equipe Ducati.

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Editorial

Vemos o mundo por nossos olhos; o que não significa que o mundo seja como o vemos. E nesse gap entre as duas coisas é que nos relacionamos com as informações que recebemos. Esta edição é sobre esse olhar – somatória do nosso modo de ver com o do outro.

Política

E por falar em rádio, o programa Noites da CHIN - Brasil completou 1 ano de idade, com mais de 107 entrevistas, disponíveis em podcast pelo Jornal de Toronto. Parabéns ao nosso colunista Schuster e a CHIN Radio, nesse grande exemplo de parceria entre mídias, tão frutífera para nossa comunidade.

Gerente de mídia social: Luiza Sobral Revisor: Eduardo Castanhos Fotógrafos: Dario Amaral, Felipe Milanez, Gris Guerra, Malu Baumgarten, Marcela Boechat, Marcos Tadeu Batista, Michael Cooper, Michael Zender, Peter Bojarinov, Ricardo Matias, Rodrigo Durigon, Rogério Soares Colunistas: Alexandre Dias Ramos, Camila Garcia, Cristiano de Oliveira & José Francisco Schuster Colaboradores dessa edição: Camila Valente, Erika Sendra Tavares, Jota Camelo, Mickey Duzyj, Rogério Soares, Valf & Will Leite Agradecimento especial para: Avril Sequeira, Kristin McKinnon Agências, fontes e parceiros: Canadian Opera Company, CHIN Radio, CIUT Radio, Hot Docs Festival, Netflix, Rádio Inconfidência, Tambor Soul, Velocidade em Foco Conselho editorial: Camila Garcia, Nilson Peixoto, Rosana Entler & Sonia Cintra © Jornal de Toronto. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução de qualquer trecho desta edição sem a prévia autorização do jornal. O Jornal de Toronto não é responsável pelas opiniões e conteúdos dos anúncios publicados. Circulação: O Jornal de Toronto é mensal e distribuído em Toronto, Mississauga, Oakville, Montreal e Calgary. Contato: info@jornaldetoronto.ca Subscription: $0.50/cada, $50.00/ano Siga nossa página no Facebook, Twitter, Instagram e matérias complementares, durante todo o mês, em nosso site: www.jornaldetoronto.ca Edição #22, ano #2, maio 2019 ISSN 2560-7855

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valf

Corte de 30% no orçamento do Legal Aid Ontario vai dificultar a vida de refugiados e imigrantes

Há o olhar feminino, de mãe; o modo como nossa comunidade é vista hoje, muito mais desenvolvida; o (tão presente) olhar conservador, que não consegue olhar pela própria população que o elegeu; as perspectivas errôneas que a má informação pode causar à saúde; há também o olhar dos (nem sempre) derrotados; e o modo de ver que só a cultura pode trazer, pelo som da música ou do rádio.

Editor-chefe: Alexandre Dias Ramos

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Os imigrantes serão muito afetados por essas medidas, principalmente aqueles que lutam por status para permanecer no país Camila Garcia O ministro das finanças de Ontário, Vic Fedeli, apresentou ao público, o primeiro orçamento Conservador em 15 anos. Muitos dos cortes que antes eram apenas suspeitas ou menções realizadas pelo governo de Doug Ford, agora são uma realidade. Focado em equilibrar as contas e reduzir o déficit em $1,4 bilhões, o plano de gastos possui mudanças significativas que afetarão a qualidade de vida de todos os residentes da província e, em maior grau, das populações mais vulneráveis da sociedade. Dentre as medidas destaca-se o corte de 30% no orçamento destinado ao Legal Aid Ontario (LAO – www.legalaid.on.ca), uma corporação independente, sem fins lucrativos e responsável por promover assistência jurídica em mais de 200 línguas. Em valores monetários, a organização, que é coletivamente financiada pelo governo federal e da província, esperava receber $456 milhões de dólares, no entanto, receberá $323 milhões. Está previsto ainda que esta redução de $133 milhões irá aumentar para $164 milhões em 2021-2022. David Field, presidente da LAO, anunciou que este ano a instituição não terá condições de aceitar novos casos de imigração e refugiados, uma vez que o governo de Doug Ford decretou que a agência não pode utilizar recursos provinciais para cobrir os gastos provindos dessas situações.

Esses serviços, no entanto, estão em alta demanda, em especial no Ontário, onde o número de pedidos de refúgio aumentou mais de cinco vezes desde 2013 – de acordo com dados da Immigration and Refugee Board of Canada Statistics. É importante ressaltar que desde sua posse, o premier Doug Ford expressou sua insatisfação com as políticas de imigração dos Liberais, e já deixou claro que não quer assumir a parte da província de dividir as responsabilidades nos cuidados com os refugiados, mesmo esta sendo uma tarefa prevista na Constituição canadense. Ao final, o empobrecimento

Auto

desta instituição pode vir acompanhado por um aumento no tempo de espera dos processos e desperdício de dinheiro público em inúmeras audiências, onde indivíduos sem condições e recursos para navegar no complicado sistema jurídico terão que representar a si próprios. Os imigrantes também serão muito afetados por essas medidas, principalmente aqueles que lutam por status para permane-

cer no país. Alguns advogados de direitos humanos apontam que o desamparo dessa população pode abrir portas para mais deportações e encarceramentos injustos. Cortar os números sem levar em consideração todas as vidas que serão colocadas em risco é, no mínimo, irresponsável, e apoiar esta atitude é cruel. Em ambos os casos, o tiro pode acabar no próprio pé.

Camila Garcia é paulista e já trabalhou com teatro, rádio, televisão e jornalismo. Sempre de olho no universo político, adora trocar suas impressões com os mais chegados, e agora com os leitores do Jornal de Toronto. Atualmente é apresentadora do programa de televisão Focus Portuguese, todos os sábados e domingos, na OMNI TV.

de resistência _ Jota Camelo


Cotidiano

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dario amaral

Programa Noites da CHIN - Brasil, na CHIN Radio.

Cidadania de Ontário.

Forrobod ó

no Lula L ounge.

Comunidade brasileira evolui no Canadá

marcela boechat

peter bojar

inov

Evento do Conselho de

a e Sérgio amila Garci OMNI T V. C s re o d ta a Os apresen Mourato, d

Brasilidade Como Herança.

Ciranda Brasile

ira.

Capa da primeira edição do Jornal de Toronto.

rodrigo durigon

O crescimento numérico que vem tendo a comunidade brasileira no Canadá nos últimos três anos, com o deteriorar da situação econômica e política brasileira e o aumento da busca pelo processo de imigração, está sendo acompanhado, felizmente, por uma evolução na sua presença. Novos organismos comunitários vêm surgindo ou passam agora por uma fase de consolidação. Trata-se de algo muito importante para mostrarmos ao Canadá que não somos apenas quantidade, somos qualidade, e como tal devemos ser apreciados. Anteriormente a esse período, passamos inclusive por um retrocesso, no qual tivemos, por exemplo, o fechamento do Centro de Apoio e Integração Social Brasil-Canadá (CAIS), próximo de completar seu 15º

michael zender

José Francisco Schuster

Baque de Bamba

no Brazilfest.

aniversário, e de estabelecimentos comerciais de referência na comunidade, como os restaurantes Casa do Churrasco – que marcou época – e O Kilo, os bares Novo Horizonte e Cantina, e a agência da Varig. Se ainda não temos organização equivalente ao CAIS e um centro comunitário brasileiro continua um sonho, atividades comunitárias vêm sendo promovidas pelo Conselho de Cidadania de Ontário, que se tornou de fato ativo há dois anos e realizou 19 eventos a partir da posse da última gestão. Com a reeleição para o biênio 2019-2021, através de uma chapa com muito mais integrantes, as expectativas

Roda de Samba de Toronto.

são otimistas. Já o atendimento aos brasileirinhos tem sido cada vez maior, através de entidades como o Ciranda Brasileira e, mais recentemente, o Brasilidade Como Herança. Também vão surgindo grupos com focos específicos, como a busca do primeiro emprego, com o Networking para Brasileiros; palestras culturais, com o Café e Cultura; interesses estudantis, com a Associação dos Estudantes Brasileiros da Universidade de Toronto (Brasa) e até a reunião de torcedores, com

o time do Grêmio, de Porto Alegre, por exemplo, já tendo chegado a nada menos do que 14 consulados (como são denominadas as representações) no Canadá, em um crescimento vertiginoso. A expansão é nítida também na área artística, com a chegada de novos talentos e o surgimento de novos projetos, como o Forrobodó, a conquista de novos espaços, como o Drom Taberna, e a consolidação dos já existentes, como o Lula Lounge, apresentando shows brasilei-

malu baumgarten

ros quase todas as sextas-feiras, e o Yauca’s Lounge, recebendo um público crescente na tradicional Roda de Samba. Ainda nos últimos três anos, registrou-se um aumento de público em festivais, como o Brazilfest e a própria consolidação do Brasil como presença no Carassauga, em Mississauga.

Também fazem parte desta evolução a mídia comunitária, que ganhou novos órgãos, como o próprio Jornal de Toronto, o programa de rádio Noites da CHIN - Brasil e o programa Focus Portuguese, na OMNI TV, que incluíram novas temáticas e passaram a abranger uma faixa de público diversa, até então não atendida. Resta à comunidade brasileira aproveitar todos estes instrumentos disponíveis, valorizando o grande esforço de voluntários e empreendedores, para que tenhamos um melhor acolhimento no Canadá, ao mesmo tempo em que não perdemos contato com nossas raízes.

Com mais de 35 anos de experiência como jornalista, José Francisco Schuster atuou em grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e TV no Brasil. Foi, durante 8 anos, âncora do programa Fala Brasil, e agora produz e apresenta o programa Noites da CHIN - Brasil, na CHIN Radio.


Cultura

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O feminino amazônico Rogério Soares é documentarista A exploração das Américas pelos europeus foi baseada na destruição de todo um sistema cultural e espiritual, pelo medo. A natureza do lugar, desconhecida e misteriosa, seus habitantes selvagens, o clima e relevo, os mosquitos, as doenças tropicais, as intempéries, o gigantismo, a espiritualidade e conexão cósmica com os elementos, tudo ia contra o que eles conheciam e dominavam racionalmente.

O impulso de dominar foi, desde o início, uma luta pela posse de territórios físicos, mas também míticos. Repetimos os erros do passado quando olhamos para a Amazônia, um dos últimos lugares a ser “conquistado”, um processo que se faz presente diante de nossos olhos e que trilha os mesmos caminhos de nossos antepassados. Não foram as mulheres que construíram esse padrão de com-

Francinete Novaes, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), em Belo Monte, Altamira.

portamento. Ao contrário, quando analisamos a presença feminina na Amazônia nos deparamos com uma energia conciliadora, de vibração amorosa de acolhimento e também de luta. Grande parte dos movimentos sociais na Amazônia estão nas mãos de mulheres. Ativistas, quebradeiras de coco, donas de casa, lideranças indígenas, mães, parteiras, o universo feminino amazônico que se descortina na contemporaneidade se contrapõe à visão

masculina e individualista que ali imprimimos historicamente. Há uma poderosa força e uma linguagem totalmente diferente da que conhecemos na maneira como elas lidam com a vida na Amazônia. É um vocabulário que não reconhecemos, de conexões que já desaprendemos. Um novo olhar, como no movimento das Sementeiras, que colhem sementes das plantas da região e preservam, trocam, plantam, colhem os frutos da sua nature-

rogério soares

za. Há uma poderosa simbologia neste ato de preservar sementes, que são a nossa própria essência. São coisas que devemos aprender: a força da Amazônia é uma mulher.

Rogério Soares trabalha documentando questões ambientais e de direitos humanos na Amazônia. Seu último filme, River Silence, teve lançamento mundial no Hot Docs Festival de Toronto, no mês passado. O filme foi coproduzido pelo EyeSteelFilm e National Film Board of Canada, em associação com a TVO.

Anésia _ Will Tirando Crianças de Tamakwera, em Altamira.

rogério soares

As doações ao Museu Nacional do Rio de Janeiro O Museu Nacional do Rio de Janeiro, fundado por Don João VI em 1818, foi destruído pelo fogo em 2 de setembro de 2018 e recebeu, até hoje, o equivalente a $53 mil dólares canadenses em doações de pessoas e empresas brasileiras, $51 mil do British Council e $272 mil do governo alemão, num total de $376 mil dólares canadenses. No dia seguinte ao incêndio, houve também a promessa do Ministério da Cultura (MinC) de alocar o equivalente a $3,4 milhões

Incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro, em setembro de 2018.

Éo Brasil na

felipe milanez

para a reconstrução do prédio, mas o próprio Ministério foi extinto no governo de Bolsonaro e, portanto, o dinheiro nunca chegou. Segundo Alexander Kellner, diretor da instituição, a reconstrução do Museu pode chegar a custar $136 milhões de dólares. O Museu Nacional era um dos maiores museus de história natural das Américas e um dos mais importantes do mundo, com uma coleção de 20 milhões de peças.

A bilionária brasileira Lily Safra doou o equivalente a $15 milhões de dólares canadenses para a restauração da catedral de Notre-Dame de Paris, que sofreu um terrível incêndio no mês passado. Espera-se que essa generosidade também mobilize os empresários brasileiros a preservar e investir no patrimônio histórico do nosso país, que se encontra em situação precária.

Noites da CHIN - Brasil

1540AM

com José Francisco Schuster sábados 7pm-12am

www.chinradio.com


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Nesta primavera, o amor está no ar Ópera “La Bohème” é apresentada em Toronto com o tenor brasileiro Atalla Ayan Canadian Opera Company - COC La Bohème, de Puccini, uma das histórias de amor mais conhecidas da ópera, está retornando ao palco no Four Seasons Centre (aquele lindo teatro com fachada de vidro, na Osgoode Station). Arte, vida, amor e perda colidem com um grupo carismático de jovens artistas em dificuldades na Paris do século XIX. A história conquistou os corações de gerações de público e inspirou numerosas adaptações, incluindo o musical da Broadway Rent. Uma mistura de novas estrelas canadenses e internacionais compõe o elenco: a soprano americana Angel Blue faz sua estreia no COC como a fadada Mimì. Blue foi nomeada uma das “18 to Watch” pelo Opera News no ano passado, e compartilha o papel com a soprano libanesa-canadense Miriam Khalil, que foi recentemente nomeada para um Juno Award de Álbum Clássico do Ano. O tenor brasileiro Atalla Ayan ganhou o San Francisco Opera’s Emerging Stars Competition em 2018 e compartilha o papel do amor de Mimì, Rodolfo, com o tenor Joshua Guerrero. Nascido em Belém do Pará, Atalla Ayan desenvolveu seu amor por cantar ouvindo gravações de Luciano Pavarotti. Ainda adoles-

cente, foi aceito no Conservatório Carlos Gomes, em sua cidade natal. Ele cantou seu primeiro grande papel aos 21 anos, aparecendo como Rinuccio no Teatro da Paz, também em Belém. Sua estreia na Europa foi um ano depois, no papel de Rodolfo, na produção de La Bohème de Graham Vick. Foi nesse mesmo ano que ingressou na Scuola della Opera Italiana, em Bolonha. Na temporada 2009/10, tornou-se membro do programa Lindemann Young Artists Development do Metropolitan Opera. Atalla rapidamente se estabeleceu como um dos tenores mais procurados de sua geração. Allan Kozinn, do New York Times, na ocasião da estreia de Atalla no Metropolitan Opera, escreveu que “ele é um achado; tem um tom quente e arredondado com uma qualidade que lembra o jovem Plácido Domingo”. O tenor brasileiro tem sido igualmente bem recebido em grandes casas pelo mundo, incluindo o Teatro Scala em Milão, Grand Théâtre de Genève, Deutsche Oper Berlin, Staatstheater Stuttgart e o Ópera de Paris, dentre tantos outros. O ganhador do prêmio Tony, John Caird, dirige esta produção, que foi apresentada pela última vez em Toronto em 2014. A equi-

pe de criação se inspirou no período da Belle Époque francesa para transmitir o ambiente da ópera de Puccini e de seus personagens. O conjunto inteligentemente incorpora uma colagem de telas do pintor na ópera, Marcello, enquadrando a história no palco dentro de vários locais parisienses. O maestro italiano Paolo Carignani (Tosca de 2012 e Carmen de 2016) retorna a Toronto para

conduzir a orquestra através de uma trilha sonora que inclui os famosos duetos de amor de Mimì e Rodolfo. O maestro italiano Antonello Allemandi, fazendo sua estreia no COC, conduz a apresentação final, no dia 22 de maio. La Bohème é cantada em italiano, com subtítulos em inglês. A ópera é uma coprodução do COC com o Houston Grand Opera e o San Francisco Opera.

michael cooper

Atalla Ayan como Rodolfo e Angel Blue como Mimì, na produção de La Bohème, no Canadian Opera Company, em Toronto.

Não deixe a Rádio Inconfidência morrer Cristiano de Oliveira No começo, quando eu ia ao Brasil visitar a família, tinha sempre um sonzinho e meus CDs no carro comigo. Nada chique ou barulhento, só o bastante pra tocar minha coleção de músicas enquanto eu rodava pela noite de Belo Horizonte em busca de um mexidão, um Xis-Tudo de trailer ou um caldo de feijão – homem sistemático não vai atrás dessa tal “balada” não! Aliás, essa expressão é algo com que nunca concordei. Como assim, “balada”? Você vai sair à noite pra cantar música romântica? Vai musicar lendas de heróis na pracinha? Gíria besta... E agora só me falta falar “no meu tempo não tinha disso” pra ganhar o Troféu Corega de Véio Mais Chato da cidade, que em inglês é Corega Trophy of Old Enjoator Foot in the Bag Man. Pois há um bom tempo, em uma das minhas visitas, resolvi conferir as rádios locais pra saber das modas. Parei na mais antiga das estações, a Rádio Inconfidência, conhecida desde a infância como “a Bra-

sileiríssima”. Lógico que eu a conhecia, afinal, a rádio tem 83 anos e é a casa do lendário Tutti Maravilha, produtor teatral nos anos 80 e conhecedor em nível além-biográfico de Elis Regina, que há 30 anos soma à tendência da emissora de garantir espaço para veteranos e também novos músicos. Foi a

Em Toronto, La Bohème terá 10 apresentações: três delas foram em abril, e em maio serão nos dias 2, 4, 5, 7, 11 e 22. Os ingressos vão de $35 a $250, mas há também preços mais baratos para quem tem menos de 15 anos, para lugares em pé, grupos de estudantes e ingressos remanescentes na última hora. Confira no site www.coc.ca

rádio que lançou Clara Nunes e abrigou por 63 anos o locutor esportivo Jairo Anatólio Lima, cujo pai criou, também ali na Inconfidência, o programa de rádio mais antigo em atividade no Brasil e – há quem diga, mas não encontrei provas – no mundo, “A Hora do Fazendeiro”, transmitido pela AM

Prédio da primeira sede da Rádio Inconfidência, de 1936 a 1967, onde hoje fica a estação rodoviária de Belo Horizonte.

desde 1937. Conhecer a rádio, eu conhecia. Mas quando a gente sai do Brasil é que dá valor ao que deixou, e foi só naquele momento que eu finalmente resolvi escutála. E desde então, nunca mais ouvi um CD no carro em BH. A Inconfidência é excelente. Uma programação 100% nacional e de qualidade, enquanto todas as outras se dedicam a qualquer bobagem estrangeira (se até St. Patrick’s Day e Halloween os beija-gringos já estão comemorando no Brasil... O único irlandês que passou por lá até hoje foi um disco do U2, mas tem St. Patrick’s Day, tá?), às coisas tristes da música brasileira ou à programação religiosa. A última rádio a se manter firme, sem se render às modinhas. Como esperado, ela conseguiu esse feito sendo uma rádio estatal, pois infelizmente a cultura não dá lucro, nem no Brasil nem em lugar nenhum – vá ver o aperto que a CBC

passa! E o novo governo de Minas Gerais já avisou: a ideia é acabar com a emissora AM e, caso a FM não dê lucro de $3 milhões até ano que vem, acaba também. O que significa virar rádio comercial tocando Ariana Frangue e Marliéria & Marataízes, ou então fechar. E os cortes já começaram. Cortes de verba na cultura representam uma economia porca, que futuramente trazem reflexos catastróficos. Após o anúncio da extinção da Rádio, o governo perdeu a primeira batalha, devido à pressão popular que se criou, mas essa guerra ainda não acabou. Não sei se a qualidade vai dar lugar ao caça-níqueis, mas enquanto isso não acontece, convido vocês a ouvir e apoiar o melhor da música brasileira e da cultura mineira que a Rádio Inconfidência de Belo Horizonte bravamente ainda nos traz. Adeus, cinco letras que choram.

Cristiano de Oliveira é mineiro, atleticano de passar mal, formado em Ciência da Computação no Brasil e pós-graduado em Marketing Management no Canadá. Foi colunista do jornal Brasil News por 12 anos. É um grande cronista do samba e das letras.


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Saúde& Bem-Estar

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Movimento antivacina: de onde vem a dúvida? Erika Sendra Tavares é cientista no SickKids Toronto Até o começo dos anos 90, não existia polêmica em torno da vacina. A imunização universal reduziu a incidência de inúmeras doenças, como sarampo, caxumba, rubéola, coqueluche e tétano. Além disso, a humanidade se livrou de doenças extremamente debilitantes, como a varíola, e reduziu drasticamente outras, como a poliomielite. A varíola, entre outros sintomas, causava erupções dolorosas na pela e levava a óbito mais de 30% dos portadores. Muitos sobreviventes sofriam sequelas permanentes, como cicatrizes e cegueira. A poliomielite (pólio) também extremamente epidêmica, causa inflamação do tecido nervoso, podendo causar danos permanentes, como paralisia. Desde o

desenvolvimento da vacina, o número de casos caiu de centenas de milhares para menos de mil, mas não foi completamente erradicada ainda. Recentemente, pessoas têm tido receio de vacinar seus filhos por conta de informações erradas encontradas em websites, sugerindo associação de vacinas com desordens neurológicas, alergias e outros males. Apesar dessas fontes não terem embasamento de dados científicos, são monta-

das para criar ilusões causativas, recheadas de relatos pessoais sugerindo que vacinação precedeu problemas sérios em crianças. A retórica é reforçada por textos e vídeos de falsos especialistas ou doutores, que estimulam a sensação de conspiração em relação à indústria farmacêutica e equivocadas percepções de que se é natural é melhor, incluindo infecções por bactérias e vírus. Muitos pais que, de fato, estão preocupados com a saúde dos filhos e têm

dúvidas em relação à vacina entram em contato com essas informações e são convencidos. Esses, por sua vez, intensificam ainda mais o problema através das redes sociais. Enquanto isso, a incidência de sarampo em países onde não havia mais relato está voltando. Uma em cada 1000 pessoas com sarampo desenvolve dano cerebral permanente. Em 2017, a Organização Mundial de Saúde registrou cerca de 110.000 mortes por conta do sarampo. Recém-nascidos, pessoas alérgicas a componentes das vacinas e por-

tadores de doenças que afetam o sistema imune (leucemia, por exemplo) não têm o benefício direto da imunização, mas são protegidos indiretamente quando a grande maioria da população é vacinada. Com muitas pessoas optando por não vacinar, epidemias podem se espalhar rápido, principalmente nesses grupos vulneráveis. Poucas coisas devem causar mais arrependimento para os pais do que perder uma criança por uma doença possível de prevenir.

Amamentação tranquila 6 coisas que você precisa saber Camila Valente é enfermeira especialista em amamentação Se você está grávida, sua lista de preparo provavelmente inclui lista de compras, sessão de fotos e planejamento para o parto. Mas você está se preparando para amamentar? Você pode estar se perguntando: “O que há para aprender exatamente, se é algo natural?”. Estudos mostram que 92% das familias têm de 1 a 3 grandes preocupações/queixas nos primeiros dias que, caso não sejam solucionadas, levam à suplementação/ desmame precoce – a Organização Mundial de Saúde recomenda amamentação exclusiva por 6 meses, e continuada por 2 anos ou mais, com a introdução de alimentos sólidos. Como International Board Certified Lactation Consultant (IBCLC), quero te contar seis coisas que tornarão tranquilo o começo da amamentação: 1. Pré-natal O tempo e a qualidade do preparo para amamentar, se comparados ao preparo para parto, são bem menores. Estar pronta para amamentar vai além de saber

técnicas e posições. Significa ter informações sobre o que esperar nos primeiros dias, saber identificar os principais desafios na amamentação e onde obter ajuda qualificada precoce. Faça um curso que fale disso. Esse é um “ah, se eu soubesse!” comum no pós-parto. 2. Parto Ter um parto sem tração, intervenções ou separação entre mãe e bebê garante o melhor começo da amamentação. Mas, por vezes, intervenções são necessárias. A boa notícia é que amamentar não é um processo “tudo ou nada”. IBCLCs contam com estratégias de reabilitação nesses casos. 3. Será fome? Bebês nascem com reflexos pró-amamentação. Quando perceber que seu bebê está buscando ou sugando qualquer coisa, ele está dizendo que está com fome e pronto para mamar. Posicionar um bebê que já está chorando torna-se mais difícil.

4. Amamentar dói? Os primeiros dias pós-parto são como uma super TPM e há uma grande sensibilidade nos mamilos, sim. Isto é bem diferente da dor de um mamilo ferido, sangrando: sinal de que algo não vai bem. Ajustar posição e pega do bebê ajuda, caso contrário, consulte uma IBCLC antes de desistir. A causa pode ser algo mais complexo, como língua presa, e uma avaliação precoce protege seu conforto. 5. Em casa É normal e esperado que um bebê mame frequentemente enquanto o “leite não chega”. É assim que seu corpo começa a produzir cada vez mais. Uma das formas de saber que está tudo bem é pelo número de fraldas: duas molhadas e uma suja no segundo dia é um bom sinal! Seios enchem entre o terceiro e quinto dia e vocês logo passarão a uma nova fase! 6. Ajuda Mães que possuem apoio têm

gris guerra

mais chances de um pós-parto tranquilo. Além do companheiro/a, conte com um familiar ou amigo/a e profissionais que apoiem seus objetivos. Para cuidar bem é preciso estar bem cuidada. Esses seis passos são um excelente começo para tranquilidade

na amamentação, pois a importância do preparo está em conhecer e prevenir o que pode afetar seus objetivos. Caso sua preocupação/queixa permaneçam, consulte uma IBCLC para avaliar pega/posição, transferência de leite e a motricidade oral do seu bebê.


Esportes

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E quem ganha no final? Série da Netflix mostra o lado de quem fracassou Alexandre Dias Ramos A Netflix lançou há pouco o seriado Losers, produzido e dirigido por Mickey Duzyj, que trata do ponto de vista dos atletas perdedores. Ninguém gosta de perder, e menos ainda quando se trata de esporte, quando a habilidade física e mental é avaliada pelo desempenho, aos olhos de juízes e de uma plateia. O mundo é competitivo, o mercado é competitivo, as pessoas são cada vez mais competitivas, e tudo nos leva a crer que ganhar é o único modo de viver. Tudo depende do ponto de vista, ganhar tam-

mickey duzyj_netflix

As animações da série Losers descrevem parte das intrigantes histórias.

bém significa deixar todos os outros para trás, e não necessariamente é uma boa coisa comemorar o fracasso alheio – como bem lembrou um amigo, no Sumô, o esporte mais respeitado no Japão, não se comemora a derrota de um adversário. A antropóloga Katia Rubio, autora do livro Heróis Olímpicos Brasileiros (Editora Zouk), pesquisa a frustração imensa de atletas medalhistas que tiraram segundo ou terceiro lugar ou, quase pior, do vazio

que ganhadores do ouro sentem na vida depois de eventos marcantes, mas que não se repetem mais. Há, na competição, um lado que não é visto – e que os cursos motivacionais no YouTube não mostram. Losers mostra justamente esse lado, o lado da maioria, o lado daqueles que perderam jogos e campeonatos contra todas as expectativas de pais, amigos e treinadores que depositaram esperanças em seus desempenhos. E como

transformar essa frustração em lição? Melhor ainda, como ver que, na verdade, o processo gerou algo muito mais rico e duradouro? A série, com apenas oito episódios, trata com agradável bom humor do drama de um talentoso jogador de basquete que não tinha temperamento e disciplina para competir; da mulher que escolheu seu amor pelos cães ao primeiro lugar no pódio de trenó; do corredor que fez de sua quase-morte a obstinação para

continuar sua maratona; do pior time de futebol do campeonato, ameaçado de perder até mesmo o último lugar; e também a história de um time sempre vencedor, que por pouco não provocou o fim do curling. Essas e outras intrigantes histórias trazem não

apenas a beleza e a paixão pelos esportes, mas também a motivação genuína de quem compete, ainda que seja para perder. No fim das contas, para os personagens dessa série, o fracasso foi seu modo magnífico de vencer.

Alexandre Dias Ramos é editor-chefe do Jornal de Toronto, mestre em Sociologia da Cultura pela FE-USP, doutor em História, Teoria e Crítica pela UFRGS, e membro-pesquisador do Grupo de Estudos sobre Itinerários de Formação em Educação e Cultura da Universidade de São Paulo.


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