Jornal de Toronto #23

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Jornal de Toronto Orgulho ferido

O ódio não é liberdade de expressão

Uma reflexão sobre a questão LGBTQ atual p. 6

Crescimento de discursos de ódio nas mídias sociais entre brasileiros aqui no Canadá tem sido motivo de alerta p. 5

royal canadian mint

edição # 23 | ano # 2 | junho 2019

A cantora brasileira Pabllo Vittar, considerada pela Billboard entre as 50 artistas mais influentes nas redes sociais no mundo, concedeu entrevista ao Jornal de Toronto e estará na Pride esse mês p. 7

"Eu resisto e não me deixo calar"

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Cotidiano

Editorial

A crença é, antes de tudo, um posicionamento pessoal e social. É uma força que vem do compartilhamento dos valores que você acredita, sejam eles quais forem, e também com os de seu grupo. Devemos valorizar e cultivar nossas crenças, ser orgulhosos delas, mas também entender que seus limites vão até chegar na crença do outro. E não há problema nisso. Quando encontramos uma fronteira, está ali uma oportunidade para conhecê-la, lidar com ela, aprender com um lado diferente do nosso. A riqueza está justamente nas diferenças que cada grupo pode se deparar. Quando pedimos por um bom relacionamento, pela ecologia ou pelo orgulho e respeito na sociedade, operamos a crença no poder de transformação do mundo; num mundo muito mais colorido e diverso. Como se diz, não adianta olhar para trás porque a direção das coisas é sempre para frente. E para aqueles que se acham com autoridade para agir com violência travestida de moral, para quem é saudoso de uma unidade familiar tradicional dos tempos de Antão, olhem a sua volta e decidam se querem ficar para trás ou fazer parte do mundo em que vivemos. Editor-chefe: Alexandre Dias Ramos Gerente de mídia social: Luiza Sobral Revisor: Eduardo Castanhos Fotógrafos: Ernna Cost Colunistas: Alexandre Dias Ramos, Camila Garcia & José Francisco Schuster Colaboradores dessa edição: Hewton Tavares, Pabllo Vittar, Rosana Entler, Valf & Will Leite Agradecimento especial para: Alex Alton & Priscilla Millan Agências, fontes e parceiros: BT Legal, CHIN Radio, CIUT Radio, Gente XYZ, Melina Tavares Comunicação, Royal Canadian Mint Conselho editorial: Camila Garcia, Cristina Tozzi, Nilson Peixoto, Rosana Entler & Sonia Cintra © Jornal de Toronto. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução de qualquer trecho desta edição sem a prévia autorização do jornal. O Jornal de Toronto não é responsável pelas opiniões e conteúdos dos anúncios publicados. Circulação: O Jornal de Toronto é mensal e distribuído em Toronto, Mississauga, Oakville, Montreal e Calgary. Contato: info@jornaldetoronto.ca Subscription: $0.50/cada, $50.00/ano Siga nossa página no Facebook, Twitter, Instagram e matérias complementares, durante todo o mês, em nosso site: www.jornaldetoronto.ca Edição #23, ano #2, junho 2019 ISSN 2560-7855

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Solidão é peso adicional para muitos imigrantes

Cartas para Santo Antônio, popularmente conhecido como o santo casamenteiro.

José Francisco Schuster Tenho notado, no dia a dia, um grande número de pessoas vivendo solitariamente. Creio que entre comunidades imigrantes, como a que vivemos aqui no Canadá, a situação seja ainda mais nítida, pois muitos emigram sós

e, atribulados com mil outros problemas de adaptação à nova vida, a parte afetiva acaba ficando relegada a segundo plano. Reconheço que relações machistas e opressoras, e a necessidade de manter as aparências que existiam no passado, distorcem a comparação ao longo do tempo, mas é hora de atentarmos para o presente e o futuro. Não acredito que seja percentualmente tão numeroso o grupo dos que, definitivamente, pretendam passar o resto da vida sozinhos. Pelo contrário, os solitários contumazes deveriam ter claro o que os levaram a pensar assim, se foi o abalar-se ao presenciar o cotidiano de uma relação falida ou, julgando-se os soldadinhos do passo certo, crer em um estereótipo de que “ninguém presta”. Se viver em sociedade é uma necessidade de sobrevivência (ermitões devem estar praticamente extintos), não encontrar entre 7 bilhões de pessoas ninguém com

Paola Wortman

Conselheira e Estrategista Financeira

RRSP/RESP/RDSP/TFSA/Corporations Seguros de Vida, Doenças Críticas e por Invalidez

paola.wortman@edwardjones.com

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quem valha a pena conviver mais de perto é preocupante. Entre os que buscam alguém para compartilhar a vida, os mecanismos de encontro mútuo atuais aparentemente não têm dado conta do recado. Os sites de relacionamento, na minha visão, criam muito mais ilusões do que possibilidades reais. E os velhos métodos de encontro da alma gêmea, seja na sua comunidade, escola, trabalho ou local de diversão, não estariam tendo a eficiência do passado. Seria a vida atribulada, grupos muito maiores numericamente do que décadas atrás (dificultando conhecimento mútuo mais aprofundado) ou estarmos muito mais exigentes em relação a quem consideramos merecedor para dividirmos nosso dia a dia? Enquanto estamos jovens, nem damos bola para isso,

passamos por divórcios, mas agora muitos vivem nos “enta” sem ninguém ao lado. Esta reflexão me veio da forma mais trágica possível: uma amiga recentemente faleceu em sua casa aqui no Canadá, solitariamente, e ninguém se deu conta por vários dias. Quem percebeu não foi familiar ou amigo, foi a locadora do apartamento. Nas conversas entre amigos mútuos que se seguiram, demo-nos conta de quantos outros brasileiros vivem no Canadá sem mais ninguém em casa. Ninguém que lhes alcance um medicamento. Ninguém que acuda. Ninguém que telefone para a emergência. Se a solidão dói para a maioria em vários momentos da vida em que um ombro seria o melhor remédio, na hora da necessidade emergencial, pode ser até fatal.

Com mais de 35 anos de experiência como jornalista, José Francisco Schuster atuou em grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e TV no Brasil. Foi, durante 8 anos, âncora do programa Fala Brasil, e agora produz e apresenta o programa Noites da CHIN - Brasil, na CHIN Radio.


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O estado de emergência climática Apesar do Canadá ser elogiado pela sua diplomacia climática internacional, ainda configura entre os países com maiores emissões de gases de efeito estufa

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Camila Garcia Há 30 anos, pela primeira vez, os impactos potencialmente negativos da emissão de gás carbônico proveniente da queima de combustíveis fósseis e dos incêndios nas florestas tropicais foram notícia de capa de um jornal. De lá para cá, a ciência evolui em provar como as mudanças climáticas afetam a vida humana e são um risco para o nosso futuro enquanto humanidade. Entretanto, poucas ações concretas foram realizadas e algumas medidas ainda encontram grande resistência entre políticos e membros da sociedade. O Environment and Climate Change Canada recentemente apresentou ao público um extenso relatório (www.changingclimate. ca) explorando todas as mudanças que o Canadá vem sofrendo ao longo dos anos e projetando como elas podem influenciar daqui em diante. Desde incêndios nas florestas, as últimas enchentes em Ottawa, até as ondas de calor e secas, a temperatura no Canadá está subindo duas vezes mais rápido que a média global.

Na região norte, a situação é agravada com a média de aquecimento três vezes maior que o resto do mundo. A mudança climática – ou como o próprio jornal The Guardian atualmente atualizou no seu vocabulário diretriz como “estado de emergência climática” – será um dos protagonistas nas eleições federais canadenses em outubro deste ano. É claro que a ação para impedir que sejamos extintos do planeta Terra passa pela política e pelo estilo de governar de cada partido. As ideias de exploração do meio ambiente para benefício apenas econômico do país ou do estado devem ser revisadas e atualizadas, e o mundo alerta que isso deve ocorrer o

mais rápido possível. Já passamos do tempo onde aquecimento global era papo do futuro. O próprio Banco do Canadá já demonstrou que as consequências das mudanças climáticas ferem a economia e o sistema financeiro do país. O mais contraditório disso tudo é que o Canadá, apesar de elogiado pela sua diplomacia climática internacional, ainda configura entre os países com maiores emissões de gases de efeito estufa, tanto em termos absolutos quanto per capita. Um número muito alto para sua pouca população. Enquanto a geleira derrete, os nossos principais governantes gastam dinheiro público em uma disputa legal sobre a taxa

de carbono, ou cortam benefícios oferecidos aos proprietários que buscavam equipamento ecológicos e luz solar para suas casas, ou ainda o incentivo para adquirir carros elétricos e implementar estações de recarga nas estadas. Por outro lado, de nada adianta cobrarmos soluções das mãos dos governantes se nós, como cidadãos, não mudarmos nossos hábitos e costumes. A nossa bolha precisa estourar, e precisamos aprender que dividimos essa ter-

ra com uma diversidade de outros animais e vegetais, e que cada ser tem uma importante função para manter o equilíbrio. Também está na hora de entendermos que o nosso bolso irá pagar mais caro pela inconsequência de anos. Isso tudo, claro, se desejamos um futuro para nossa espécie; afinal, nós precisamos mais do planeta Terra do que vice-versa.

Camila Garcia é paulista e já trabalhou com teatro, rádio, televisão e jornalismo. Sempre de olho no universo político, adora trocar suas impressões com os mais chegados, e agora com os leitores do Jornal de Toronto. Atualmente é apresentadora do programa de televisão Focus Portuguese, todos os sábados e domingos, na OMNI TV.

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Valf é ilustrador e escritor Não adianta. Ruindade não se aprende não. É mancha da alma. É sina nata. Doralice era assim. A descompaixão em pessoa. A disgrama em forma de gente. Era linda. Tamanha formosura parelha apenas com a fealdade de seus atos. Foi assim quando criança, foi assim quando mocinha. Foi assim até o fim de sua curta vida. O pai coitado, Seu Orlando, depois que a mãe morreu no parto, criou com dificuldade, porém com todo mimo, a mal-agradecida menina. Trabalhava pesado de sol a sol para a garota não precisar pegar nunca em cabo de vassoura, poder terminar o magistério e casar com um moço de bem. Mas anos e anos de desgosto, destrato e desmando fizeram fraco o coração do velho. A judiaria que fez com o noivo, o João Euclídes, moço bom e dedicado, foi de cortar o coração. O rapaz, que passara anos morando na capital estudando para se tornar doutor, engolia seco cada desaforo que ouvia e movia montanhas para agradar a destemperada noiva. Ela acabou com o noivado depois de ter gasto com bobagem até o último centavo do rapaz, fruto de uma herança deixada para ele. Totalmente desesperado, teve problema de nervos e acabou sendo internado num

da série "Crônicas de vidas miseráveis"

sanatório. Tanta ruindade junta assim só podia dar nisso. Castigo. Lombriga que subiu para a cabeça passou de boca em boca na versão do povo. Taenia Solium foi a explicação oficial do médico. Em meio à discussão se lombriga ou solitária teria sido o algoz, de certo ficou apenas a tristeza do cortejo f ú nebre de um homem só. O padre foi o único na cidade a rezar p o r

Doralice. Três coroinhas que o sacerdote teve que praticamente arrastar ajudaram muito a contragosto o coveiro a carregar as alças do caixão. O coveiro estava no enterro também, mas isso não conta.

O ódio não é liberdade de expressão

Crescimento de discursos de ódio nas mídias sociais entre brasileiros aqui no Canadá tem sido motivo de alerta Rosana Entler Historicamente, a liberdade de expressão – um direito aparentemente natural no exercício da cidadania – custou a vida de vários pensadores e defensores da sociedade democrática. Independentemente das controvérsias em torno da liberdade de expressão, não há dúvidas sobre seu significado e importância para uma democracia plena. Mas será que existem limites

entre a liberdade de expressão e o discurso de ódio? No Canadá, a liberdade de expressão é garantida pelo The Canadian Charter of Rights and Freedoms; já o discurso de ódio é definido pelos artigos 318 e 319 do código criminal. O artigo 319 trata justamente do incitamento público e da disseminação deliberada do ódio. Em casos de propagação de discursos de ódio que acabaram em ações judiciais, os acusados sempre tentaram se utilizar da liber-

Sabe como é. São os ossos do ofício. Enterrada na pequena fazenda do pai, a cova nunca mais recebeu capina ou visita. O mato cresceu e tomou conta de tudo. E uma laranjeira nasceu no lugar que ficava o sepulcro de Doralice. O tempo se passou e anos depois o descompassado João Euclídes, o ex-noivo que saíra do sana-

tório, agora com uma imensa e desgrenhada barba, virou pedinte e fica aí gritando pela cidade afora. Enlouqueceu sim, mas não perdeu a erudição dos tempos da faculdade. Com a voz impostada, fica usando palavreado rebuscado, falando que Doralice virou árvore, cheia de frutos, folhas, flores e acúleos. E ele não deixa de ter certa razão. Decerto a laranjeira brotou do coração da moça, pois nunca se viu laranja mais azeda na face desta terra. Nem passarinho chega perto. Porém, quanto ao tal dos acúleos eu olhei no dicionário. João Euclídes está completamente errado. Acúleo quem tem é roseira. Solta com facilidade do caule, deixando apenas a beleza da flor. No caso da laranjeira, é espinho mesmo, que não quebra e está até o talo enraizado, que nem a ruindade de Doralice. João Euclídes insiste. Sobrevive fazendo geleia das laranjas que brotam lá no túmulo da moça. Eu mesmo tenho um punhado, que eu compro para ajudar. Fica guardado no fundo do armário. Ninguém aqui em casa come... val f

Acúleos

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dade de expressão para justificar seus atos; “no entanto, esse argumento vem sendo rejeitado nos tribunais”, comentou Alex Alton, advogado associado do escritório BT Legal. De acordo com Alton, “leis que tratam sobre discursos de ódio vêm, repetidamente, sendo consideradas limites razoáveis em uma sociedade livre e democrática”. O mundo digital e mídias sociais representam mais um desafio na luta contra crimes e dis-

cursos de ódio. Textos e vídeos, muitas vezes disfarçados de posições políticas, visam atingir diretamente uma pessoa ou grupos de pessoas em relação à cor da pele, raça, religião, nacionalidade ou origens étnicas, gênero e deficiências físicas ou mentais. O que realmente causa espanto é quando grupos minoritários começam a se utilizar de discursos discriminatórios contra outros grupos minoritários, sem nenhum embasamento legal ou moral. Infelizmente, começamos a observar tal narrativa dentro de grupos de brasileiros nas mídias sociais aqui no Canadá. Será que esquecemos que também somos minorias? Somos imigrantes latinos (não-brancos, por definição), viemos de um país marcado pelo racismo (vexatoriamente o último país a abolir a escravidão), e

não há como negar a miscigenação como um dos fatores mais marcantes do nosso povo. Então, fica evidente em certos discursos demagógicos a perversidade dos interesses por trás de tais narrativas. A defesa dos direitos de um determinado grupo não pode passar pela difamação e discriminação de outros grupos. Fica aqui o alerta, já existem ferramentas para monitoramento do discurso de ódio em mídia social, mesmo em línguas que não o inglês. Esse monitoramento também é civil: screenshots e armazenamento de vídeos, com vasta documentação, podem ser evidências suficientes para eventuais demissões, multas, ações judiciais e até mesmo a expulsão do país. Se, por um lado, parece haver liberdade total para se dizer e compartilhar tudo o que se pensa, é preciso saber que todos estão nos olhando, e que haverá consequências para aqueles que disseminam discurso de ódio. Happy Pride a todas e a todos.


Política&Cultura

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Orgulho ferido Uma reflexão sobre a questão LGBTQ atual Hewton Tavares é pesquisador na área de educação Tenho que primeiro confessar aqui que esta aparente obsessão com a palavra “orgulho”, dentro do movimento LGBTQ, sempre me causou algum incômodo. Por muito tempo, procurei racionalizar este sentimento por condenar a ligação entre orgulho e ego. Ironicamente, eu só pude realmente compreender inteiramente a importância do recorrente uso desta palavra mais recentemente. O motivo é simples. Nós, LGBTQ brasileiros, estamos com o nosso orgulho ferido. A nossa comunidade está sangrando em função da atual atmosfera de intolerância e desrespeito que tomou conta do Brasil. Mais do que nunca, a nossa cidadania está amea-

çada. Se já não bastasse apenas o fato do Brasil ser um dos países mais violentos do mundo contra o seus cidadãos LGBTQ, agora os homofóbicos de plantão querem abertamente nos curar, nos achincalhar e, de uma forma velada ou não, tentar cercear os nossos direitos. No geral, também nos sentimos traídos muitas vezes por termos amigos e parentes próximos que decidiram claramente nos virar as costas e eleger um presidente que tem execrado, perseguido e tripudiado sobre a nossa existência desde sempre. O Canadá, ao contrário, é visto como um paraíso para nós LGBTQ brasileiros, vivendo, desejando vir ou permanecer aqui. O

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Moeda em homenagem ao 50º aniversário da descriminalização do homossexualismo no Canadá.

Nada

país é retratado pela mídia como um modelo a ser seguido, por ações tais como a criação de uma moeda em comemoração pelos 50 anos da descriminalização do homossexualismo, ou pela assídua participação do primeiro ministro nas paradas de orgulho gay ano após ano. Na verdade, estas iniciativas ainda estão longe de serem garantias reais de cidadania pra nós, particularmente em função do volátil momento político atual. De qualquer maneira, elas represen-

contra, mas _ Will Tirando

tam símbolos importantes quando se vem de um país onde estas meras demonstrações de respeito são simplesmente inimagináveis. Por isto, e mais do que nunca, hoje eu me sinto muito orgulhoso em usar a expressão “orgulho LGBTQ ou gay”. Também desejo a você, LGBTQ ou aliado(a), um feliz mês do orgulho gay, principalmente se você luta, assim como eu, para que sempre tenhamos muito orgulho desta expressão, onde quer que estejamos.

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"Eu resisto e não me deixo calar" A cantora brasileira Pabllo Vittar, a primeira drag queen nomeada ao Grammy na história, e considerada pela Billboard entre as 50 artistas mais influentes nas redes sociais no mundo, concedeu entrevista ao Jornal de Toronto e estará na Pride esse mês Jornal de Toronto - Você transi-

menos preconceituosa e mais tolerante?

ta muito bem entre os gêneros, e divulga fotos suas tanto como mulher como homem, mostrando às pessoas como essas barreiras são relativas e, no fim das contas, não fazem mais sentido na sociedade de hoje. Por outro lado, você vive num dos países mais violentos do mundo para a comunidade LGBTQ.* Como você lida com as ameaças e a violência no Brasil?

Pabllo - Eu não enxergo mudan-

ças consideráveis tão cedo, infelizmente. É cultural, enraizado e não vai mudar de um dia para outro. Com informação, luta, resistência e voz, tento semear mudanças, porque de pouco em pouco acredito que as melhorias acontecem – como já estamos vendo. E não digo isso apenas por mim, mas por minhas colegas cantoras e por toda nossa comunidade.

Pabllo Vittar - Eu resisto e não

me deixo calar. Sou o que sou e as pessoas precisam me aceitar assim, precisam parar de enxergar a partir dos olhos estereotipados dos outros e verem por si mesmas, através de seus próprios olhares. O ódio, as ameaças, vêm de um senso comum, de um sentimento de aversão gratuito. Por isso, não vou desistir nunca, nem eu e nem minha comunidade.

Jornal de Toronto - A partir de uma visão de fora, por sua experiência e importância no cenário internacional, você vê algum caminho para fazer a sociedade brasileira se tornar

Jornal de Toronto - Há videocli-

pes seus que chegaram a mais de 449 milhões de visualizações, e você tem 8,4 milhões de seguidores no Instagram e mais de 5,5 milhões de seguidores no YouTube. Como você vê o reconhecimento e, ao mesmo tempo, a responsabilidade do seu trabalho, sendo uma das drag queens mais conhecidas no mundo?

A cantora brasileira Pabllo Vittar.

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Pabllo - É um reconhecimento que me deixa feliz e ciente de que meu espaço deve ser usado para debate, informação, resistência, e é isso que faço e não pretendo parar.

Jornal de Toronto - Você estará em turnê pela América do Norte (Los Angeles, Boston, Miami, Chicago, Toronto, Nova Iorque e São Francisco). Como foi o convite para a Pride Toronto? Pabllo - Foi um convite feito através do contato da organização com meu empresário. Fiquei feliz e espero que as paradas tenham cada vez mais evidência e força – ainda mais do que já possuem. Fazer parte dessa história me emociona e me faz lembrar de tudo o que vivi até hoje.

* Segundo a organização Transgender Europe, mais de 1/3 de todas as mortes de travestis e transexuais no mundo acontecem no Brasil.

Alexandre Dias Ramos é editor-chefe do Jornal de Toronto, mestre em Sociologia da Cultura pela FE-USP, doutor em História, Teoria e Crítica pela UFRGS, e membro-pesquisador do Grupo de Estudos sobre Itinerários de Formação em Educação e Cultura da Universidade de São Paulo.


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