Jornal de Toronto #25

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Jornal de Toronto

Nova lei de imigração visa regularizar trabalhadores indocumentados Governo federal

informou que 500 trabalhadores sem status na construção civil terão a oportunidade de se tornar residentes permanentes. p. 5

O rei está nu p. 4 william heath

edição # 25 | ano # 3 | ago. 2019 | www.jornaldetoronto.ca | info@jornaldetoronto.ca | ISSN 2560-7855

"Sou como um espelho do meu povo" O cantor Alceu Valença concedeu entrevista exclusiva ao Jornal de Toronto, e fala sobre sua carreira e a força da cultura nordestina p. 3

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Do palanque ao púlpito p. 6

Cristiano de Oliveira No silêncio da noite, uma pergunta reverbera no vazio das casas e no oco das cabeças, numa busca fútil por respostas: como é que a gente faz pra ser um povo tão besta? p. 4

Nosso colaborador de longa data, Rodrigo Toniol, estreia agora como colunista do Jornal de Toronto

Amamentar é natural

Atuamos nas áreas de Direito Empresarial, Trabalhista, de Família, Testamentário, Sucessório, Imobiliário, Criminal e Civil

p. 7

Unidos para o mal p. 5

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Editorial

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Toda monarquia tem aquele lustro chique de história, mas também uma boa dose de esculhambação. Gostamos das lendas, das batalhas, dos heróis e vilões, e achamos que tudo faz parte de um tempo muito passado. Mas não. Ainda temos, claro, heróis para reverenciar, vilões para combater (com direito a tempos de trevas e tudo o mais) e também feudos para conquistar.

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"Sou como um espelho do meu povo. Eu me reconheço nele e ele se reconhece em mim."

A política parece estar em tudo, e possui essa contraditoriedade de fazer o bem e o mal. Devemos sim ficar próximos dela, estudá-la e entendê-la. E se não conseguimos perceber o que os governantes fazem, se não desenvolvemos um senso crítico para ações arbitrárias, demagógicas ou malignas, então precisamos parar, olhar de novo e tentar ver o que de real se apresenta à nossa frente.

O cantor Alceu Valença concedeu entrevista exclusiva ao Jornal de Toronto

Nessa edição tivemos a honra de conversar com o cantor Alceu Valença, um ícone da cultura brasileira, que nos brindou com uma aula de música nordestina e com sua visão precisa do nosso povo. Também temos, a partir desse mês, a presença ilustre do nosso mais novo colunista, Rodrigo Toniol, pós-doutor em antropologia da religião, que vai nos trazer reflexões importantes sobre a diversidade cultural do nosso país. E há mais, muito mais. Boa leitura! Editor-chefe: Alexandre Dias Ramos Mídia social: Luiza Sobral Revisor: Eduardo Castanhos Fotógrafos: Aline Camargo, Dewis Caldas & Serge Quadrado Colunistas: Alexandre Dias Ramos, Camila Garcia, Cristiano de Oliveira, José Francisco Schuster & Rodrigo Toniol Colaboradores dessa edição: Alceu Valença, Camila Valente, Hans Christian Andersen, Marcelo Monteiro, Valf, Will Leite & William Heath Agradecimento especial para: Julio Moura, Paula Schver & Yanê Montenegro Agências, fontes e parceiros: Ascom Tropicana Produções, CHIN Radio, Maranhas Filmes, Míddia Assessoria, Pixabay Conselho editorial: Camila Garcia, Cristina Tozzi, Nilson Peixoto & Rosana Entler © Jornal de Toronto. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução de qualquer trecho desta edição sem a prévia autorização do jornal. O Jornal de Toronto não é responsável pelas opiniões e conteúdos dos anúncios publicados. Circulação: O Jornal de Toronto é mensal e distribuído em Toronto, Mississauga, Oakville, Montreal, Boston e Nova York.

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O cantor pernambucano Alceu Valença.

Contato: info@jornaldetoronto.ca Subscription: $0.50/cada, $50.00/ano Siga nossa página no Facebook, Twitter, Instagram e matérias complementares, durante todo o mês, em nosso site: www.jornaldetoronto.ca Edição #25, ano #3, agosto 2019 ISSN 2560-7855

Noites da CHIN - Brasil

1540AM

com José Francisco Schuster sábados 7pm-12am

www.chinradio.com


Cultura

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Alexandre Dias Ramos é editor Jornal de Toronto - Aqui na comunidade brasileira de Toronto temos já uma tradição musical muito ligada à cultura pernambucana; prova disso é termos três grupos de maracatu bastante atuantes. Na sua visão, ao que se deve essa força da cultura nordestina? Alceu Valença - Fico muito feliz que a pluralidade da arte e da cultura do Nordeste se estenda por diversas partes do planeta. Não sabia que havia grupos de maracatu tão consolidados em Toronto, como você me informa agora. É a cultura do Nordeste litorâneo, da zona da mata, com predominância da influência indígena e africana, diferente do sertão e do agreste, onde nasci, que possui uma presença mais arabesca, mourisca, ibérica. No litoral do Nordeste havia uma presença africana mais proeminente, por conta das lavouras de cana-de-açúcar, então os elementos percussivos acabam sendo marcantes na música que ali se desenvolveu – como por exemplo o maracatu, os caboclinhos e até mesmo a ciranda. No semiárido houve o que chamamos de civilização do couro, onde o canto dos vaqueiros gerou um gênero chamado aboio. Ali surgiram também as toadas, os galopes, martelos agalopados, o xaxado, as bandas de pife, os violeiros e emboladores, os poetas de cordel. Tudo isso acabou gerando a cultura do forró, do baião, do xote, estilizados principalmente por Luiz Gonzaga. Hoje percebo que o forró, por exemplo, também está se espelhando pelo mundo. Há diversos festivais dedicados ao gênero na Europa: na França, na Espanha, na Alemanha, na Rússia, em Portugal, onde fui homenageado recentemente pelo Forró de Lisboa. Costumo dizer que o Brasil precisa redescobrir sua trilha sonora, que anda meio esquecida em nossa terra. É assombroso, e também estimulante, que outros países a estejam valorizando da maneira como acontece atualmente. Espero que o público de Toronto e do Canadá em geral possa comparecer em peso no show que faremos no dia 4 de agosto no Liuna Local 183. Será um show inteiramente dedicado à identidade brasileira, em especial à nordestina. JdeT - O que você busca passar

com suas letras? A mensagem foi mudando durante sua trajetória musical?

Alceu - Em mim, o poeta veio

antes do músico. Minha família acreditava que os filhos de meu pai, Décio Valença, que foi procurador do estado de Pernambuco,

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O cantor pernambucano Alceu Valença.

não tinham jeito para a música. Como ele era desafinado, pensavam que os filhos dele também o seriam. Meu avô Orestes, que tocava violão e bombardino, dizia que eu não tinha ritmo. Então, durante muito tempo eu acreditei que não levava mesmo jeito para a coisa. Mas o tempo tratou de mostrar ao meu avô que ele estava errado [risos]. Havia também a preocupação de que nós seguíssemos uma profissão considerada séria, para não acontecer conosco o que ocorrera aos parentes mais boêmios em São Bento do Una, minha cidade. Eles acabavam dependendo financeiramente daqueles que seguiam o Direito, a Medicina ou que trabalhavam no comércio. Meu pai não permitia que tivéssemos radiola em casa e isso fez com que eu jamais tivesse o hábito de ouvir música. Já o gosto pela poesia e pela literatura era sempre incentivado. Desde muito jovem eu lia Fernando Pessoa, Drummond, Rubem Braga, e já publicava meus poemas nos cadernos de cultura dos jornais do Recife, muito antes de me aventurar a ser músico. Ganhei meu primeiro violão, dado por minha mãe, escondido de papai, somente aos 16 anos. Estudei na Faculdade de Direito do Recife, para agradar meu pai, e quando eu tocava as músicas do sertão sentia um preconceito muito grande por parte do pessoal da capital. Todos queriam escutar rock ou tropicalismo ou bossa nova, era como se as músicas de Luiz Gonzaga fossem ultrapassadas para aquele pessoal. Curiosamente, foi quando fiz um curso de verão na Universidade de Harvard, nos EUA em 1969, que decidi me tornar artista de verdade. Levava meu violão para a praça e cantava os forrós, xotes e martelos que o pessoal do Recife detestava. Os hippies e hare krishnas dançavam ao meu en-

torno e começava a juntar gente. Um jornal local chegou a me chamar de “o Bob Dylan brasileiro”, porque eu dizia que fazia protest songs. E eu nem falava inglês nem nunca havia escutado Bob Dylan em toda a minha vida [risos]. No mais, sempre fui muito fiel às minhas origens, às minhas convicções e à minha poética. Durante a década de 70, por conta da censura, elas precisavam ser mais metafóricas. Eram coisas como “terno de vidro costurado a parafuso / papagaio do futuro / num para-raio ao luar”. Depois disso, minhas letras foram se tornando mais populares, sem deixar a elaboração de lado. Todo mundo entende um verso como “Tu vens, tu vens, eu já escuto os teus sinais” ou “morena tropicana / eu quero o teu sabor”. E essas músicas acabaram ficando eternas por falarem direto ao coração do público. Como costumo dizer, sou como um espelho do meu povo. Eu me reconheço nele e ele se reconhece em mim.

JdeT - O Brasil agora perdeu seu

Ministério da Cultura e algumas instituições e artistas têm começado a sofrer com cortes de apoio e patrocínio. Você sente que isso, de alguma forma, interfere no seu trabalho?

Alceu - Artistas como eu, que

possuem um público muito consolidado, sofrem menos os efeitos não só destas alterações, mas de toda uma mudança de paradigma que acontece, por exemplo, na indústria da música depois da chegada da internet e, mais recentemente, com a substituição da mídia física pelo streaming e as mídias digitais. Hoje é mais complicado você emplacar um hit, pois as mídias tradicionais possuem uma influência bem menor sobre o público. Mas é preciso se adaptar aos novos tempos. Jamais me utilizei de leis

de incentivo, mas entendo que estas sejam importantes para o desenvolvimento de jovens artistas e também para determinados projetos de artistas conhecidos. Parece haver certa perseguição aos agentes culturais, uma falta de conhecimento da importância fundamental da arte e da cultura na constituição da identidade de um povo. No caso do Brasil, isto é muito evidente, as diferenças regionais são essencialmente acompanhadas por suas diversas manifestações culturais. E há também a Economia Criativa, um preceito indispensável nos dias de hoje. Quando um artista faz um show, há toda uma rede de pessoas beneficiadas. Além dos músicos, dos técnicos, dos produtores, os hotéis faturam, o comércio fatura, o ambulante fatura, a coisa vai muito além do simples ato de o artista subir no palco e cantar para o público. No meu caso, eu canto para expressar minha identidade, a identidade da minha região, do meu país. Como diria o filósofo Ortega y Gasset, "eu sou eu e as minhas circunstâncias".

JdeT - Sua música é parte da história do nosso país, não apenas como trilha, mas também como agente de transformação, seja por ter ajudado tanto na valorização da música nordestina, seja pela qualidade das letras ou por sua atividade como cantor. Nesses últimos tempos, seu ativismo tem sido fundamental na defesa de nosso país. Quais as consequências, positivas e negativas, de sua postura política? Alceu - Como disse, no início da

letras metafóricas para fugir da censura. Na época em que gravei meu primeiro disco, em dupla com Geraldo Azevedo, fizemos uma canção de amor chamada “Talismã”. Não tinha nada de rebeldia, de transgressor, nada disso. Tinha um verso que dizia: “Joana me dê um talismã / viajar / você já pensou em mais eu viajar?”. A censura implicou. Fui pessoalmente ao departamento conversar com o censor. Ele dizia: “Joana é marijuana e viajar é uma referência à maconha”. Eu, que nunca fumei maconha, nem pensei em nada disso quando fiz esta letra, argumentei: “e se eu trocar Joana por Diana, a caçadora?”. O censor coçou a cabeça e disse: “Diana, tudo bem, sendo assim está liberada” [risos]. Pouco depois fui convidado a compor uma música para a novela Gabriela, inspirada no romance de Jorge Amado. Fiz “São Jorge dos Ilhéus” que tinha uma letra mais provocativa e fazia referência aos coronéis do cacau no Nordeste. A censura vetou. Em vez de escrever uma nova letra, optei por voltar ao estúdio e emitir uns gritos alucinantes, grunhidos, algo que expressava angústia, quase um desespero. A música foi liberada e entrou na novela assim mesmo – somente com a base e os gritos. Com a volta da democracia, nossas preocupações se tornaram mais abrangentes, falavam direto ao coração das pessoas. No mais, é como digo em uma das minhas músicas: “tomara / meu Deus tomara / uma nação solidária / sem preconceitos, tomara, meu Deus”.

minha carreira eu precisava fazer

Alexandre Dias Ramos é editor-chefe do Jornal de Toronto, mestre em Sociologia da Cultura pela FE-USP, doutor em História, Teoria e Crítica pela UFRGS, e membro-pesquisador do Grupo de Estudos sobre Itinerários de Formação em Educação e Cultura da Universidade de São Paulo.


Novos

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mutantes _ Will Tirando

Ô povo besta Cristiano de Oliveira No silêncio da noite, uma pergunta reverbera no vazio das casas e no oco das cabeças, numa busca fútil por respostas: como é que a gente faz pra ser um povo tão besta? E de cara já aviso que não estou chamando você de besta. Eu estou chamando você e eu de bestas. O brasileiro virou um bicho extremamente bobo, e isso vale pra nós todos, inclusive o camarada que tá perdendo tempo na frente do computador pra escrever esse

tipo de coisa. Podia estar falando de futebol, ração pra gato, lambada, Gretchen... Mas não, ele gosta é de polêmica! Mas não dá pra evitar o assunto, pois desde o dia em que um gaiato inventou a frase “quer aparecer, coloca uma melancia na cabeça”, passou a faltar melancia no mercado e 90% da população brasileira começou a ter dor no pescoço. A história já começa meio abestalhada, lá no início do século 19, quando D. João VI fez como aquele cara que muda pro bairro Olhos D’água mas fala que ali é Pampu-

lha: meio com vergonha dos coleguinhas do Congresso de Viena, por ter corrido de Portugal pra se esconder no Estado do Brasil, ele muda o nome dali pra Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve. Pois é, mas como acontece com todo mundo que gosta de contar muita vantagem, o nome era lindo mas ele estava mesmo era quebrado. E enquanto a Coroa não tinha nem o da passagem de ônibus, a elite brasileira, com seus fazendeiros e traficantes de escravos, era rica. Ao mesmo tempo, nossa elite era mais tosca do que é hoje, e a corte era refinada (ao menos para os nossos padrões; para o resto da Europa, era o cão de sun-

ga). Pois D. João, muito esperto, passou a conceder títulos de nobreza pra quem deixasse um trocado bom na caixinha dele, e daí saiu Visconde da Rua do Sapo, Marquês de Tatu-Bolinha, Barão de Alvinópolis... Como se diz no bom mineirês, “só trem trapaiado”. E o brasileiro, será que sentiu o cheiro da mutreta? Rá! Até parece... Pois virou foi moda andar pela rua com as medalhas de D. João no peito, coisa extremamente incomum no resto do mundo. O bicho mais besta do planeta não só caiu no golpe, como ainda fez questão de ir pra rua se mostrar. E não há atestado de besta maior do que dizer “ah, mas hoje é diferente”. Analise a História com carinho e você verá que nada mudou. Guardadas as proporções – vá lá, hoje já não se esquartejam os condenados – você verá que a mentalidade da nação é a mesma. Como o brasileiro de 1808, quanto mais alto chegamos na pirâmide social, mais olhamos pro próprio umbigo e cuidamos pra que

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aqueles abaixo de nós continuem por lá mesmo. Você pode se formar pra advogado, tornar-se juiz, desembargador e o escambau, fazer 700 juramentos às leis do país, mas não adianta: a sua origem, sua casta, seu mundinho, virá sempre antes da lei, da profissão e do juramento. Não há ética profissional que se sobreponha ao desejo do brasileiro de resolver o seu próprio lado, de impor seu modo de ver as coisas, e de conquistar o favorecimento pessoal. Não há ilibada classe jurídica, nem paladinos da justiça: há gente querendo aparecer e/ou encher os bolsos. Um dia vamos parar de querer fazer graça, parar de bater-boca pelo simples amor ao barraco, e vamos analisar os fatos com frieza, boa memória e consciência histórica. Aí nossa besteirite ainda não estará curada, mas ao menos vai parar de coçar. Adeus, cinco letras que choram.

Cristiano de Oliveira é mineiro, atleticano de passar mal, formado em Ciência da Computação no Brasil e pós-graduado em Marketing Management no Canadá. Foi colunista do jornal Brasil News por 12 anos. É um grande cronista do samba e das letras.

O rei está nu Hans Christian Andersen foi escritor no séc. XIX Há muitos anos atrás, havia um rei tão profundamente apaixonado por roupas novas que gastava todo o seu dinheiro só para ficar bem vestido. Ele não se importava com seus soldados ou em ir ao teatro ou dar uma volta em sua carruagem, exceto para mostrar suas roupas novas. Todos os dias muitos estrangeiros chegavam à cidade e, entre eles, um dia vieram dois vigaristas. Eles se apresentaram ao rei como tecelões e disseram que poderiam tecer os tecidos mais magníficos que se poderia imaginar. Suas cores e suas estampas não só eram extraordinariamente lindas, como também as roupas feitas com esse tecido tinham um poder incrível de se tornar invisíveis para qualquer pessoa que não fosse adequada para seu gabinete, ou que fosse extraordinariamente estúpida. “Essas seriam roupas apenas para mim”, pensou o rei. “Se eu as usasse, seria capaz de descobrir quais homens no meu império são inaptos para ocupar seus postos. E eu poderia distinguir os sábios dos tolos.” Então o rei pagou aos dois vigaristas uma grande soma de dinheiro para começarem a trabalhar imediatamente. Eles montaram dois teares e fingiram tecer, embora não houvesse nada nos teares. Toda a melhor seda e o mais puro fio de ouro que eles solicitaram foram direto para as suas bolsas de viagem, enquanto eles trabalhavam nos teares vazios até tarde da noite. “Eu gostaria de saber como esses tecelões conseguem trabalhar com esse tecido”, pensou o rei, mas se sentiu um tanto des-

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confortável quando lembrou que aqueles que não estavam aptos para o cargo não poderiam ver o material. Ele não podia duvidar de si mesmo, então achou melhor mandar outra pessoa para ver como as coisas estavam indo. Toda a cidade ficou sabendo sobre o poder peculiar do tecido, e todos estavam ansiosos para descobrir quão estúpidos eram seus vizinhos. “Mandarei meu bom e velho ministro aos tecelões”, decidiu o rei, “Ele será a melhor pessoa para me dizer como o material parece, pois é um homem sensato e ninguém faz melhor o seu dever”. Então, o velho ministro foi para a sala onde os dois vigaristas trabalhavam em seus teares vazios. “Que o céu me ajude”, pensou o ministro enquanto seus olhos se arregalaram, “não consigo ver absolutamente nada”. Mas ele não o disse. Ambos os vigaristas insistiram para que ele se aproximasse para aprovar o excelente padrão e as lindas cores. Eles apontaram para os teares vazios, e o pobre e velho ministro olhou tão firme quanto pôde. Não conseguia ver nada, porque não havia nada para ver.

“Que o céu tenha misericórdia”, pensou ele. “Seria eu um tolo? Seria eu inapto para ser ministro? Nunca poderei deixar transparecer que eu não consigo ver o tecido, ninguém deve saber.” “Não hesite em nos dizer o que você acha”, disse um dos tecelões. “Oh, é lindo; é encantador.” O velho ministro olhou através de seus óculos. “Que estampa, que cores! Vou dizer ao rei o quanto estou encantado.” Os vigaristas logo pediram mais dinheiro, mais seda e fios de ouro, para continuar com a tecelagem. Mas tudo foi para seus bolsos. Toda a cidade estava falando a respeito desse esplêndido tecido, e o rei queria ver por si mesmo enquanto ainda estava nos teares. Com a presença de um grupo de homens bem escolhidos, o rei foi ter com os dois vigaristas. Ele os encontrou tecendo com vigor, mas sem fio algum em seus teares. “Magnífico”, disseram dois velhos oficiais. “Veja só, Majestade, que cores! Que desenho!” Eles apontaram para os teares vazios, cada um supondo que os outros pudessem ver o material. “O que é isso?”, pensou o rei,

“Eu não consigo ver nada. Isso é terrível! Seria eu um tolo? Seria eu incapaz de ser rei? Lamentável isso acontecer comigo, dentre todas as pessoas!”. Toda sua comitiva olhou fixamente. Um não viu mais do que outro, mas todos se juntaram ao rei, exclamando: “Oh! É realmente muito bonito!”, e eles o aconselharam a usar roupas feitas com esse maravilhoso tecido especialmente para a grande procissão que estava por vir. “Magnífico! Excelente! Insuperável!” eram passados de boca em boca, e todos faziam o possível para parecer bem satisfeitos. O rei deu a cada um dos vigaristas uma cruz para usar na lapela e o título de “Mestre Tecelão”. Então o rei veio, acompanhado de seus nobres mais nobres, e os vigaristas levantaram um braço como se estivessem segurando alguma coisa. Então disseram: “Estas são as calças, aqui está o casaco, e este é o manto”, nomeando cada peça de roupa. “Todas as peças são tão leves quanto a teia de uma aranha. Alguém poderia quase pensar que o rei não estaria vestindo nada, mas é isso que as faz tão extraordinárias.”

“Exatamente”, todos os nobres concordaram, embora não pudessem ver nada, pois não havia nada para ver. Assim foi o rei em procissão, sob seu esplêndido dossel. Todos nas ruas e nas janelas diziam “Oh, quão belas são as roupas novas do rei! Ficam tão perfeitas nele, não acham? E vejam sua longa cauda!”. Ninguém ousaria dizer que não podia ver nada, pois isso o provaria ser inadequado ao cargo, ou um tolo. Nenhum traje que o rei tenha usado antes fora um sucesso tão completo. “Mas ele não tem nada”, disse uma criancinha. “Você alguma vez ouviu tão inocente besteira?”, disse seu pai. E uma pessoa cochichou para outra o que a criança dissera: “Ele não tem nada. Uma criança disse que o rei não tem nada”. “Mas ele não tem nada!”, a cidade inteira finalmente clamou. O rei estremeceu, pois suspeitava que todos estavam certos. Mas pensou: “Esta procissão tem que continuar”. Então, ele andou mais orgulhoso do que nunca, enquanto seus nobres seguravam alto a cauda que, definitivamente, não estava lá.


Política

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Unidos para o mal José Francisco Schuster Ainda fico chocado, passado mais de meio ano das eleições, como um projeto de ódio conseguiu ser vitorioso no Brasil. Fica ainda mais complexo de entender porque não faz tanto tempo assim que o país passou por uma violenta ditadura militar. Eu a vivi, ninguém me contou. O que me deixa estupefato é de que naquele difícil momento da história, em que íamos às ruas em manifestações enfrentar militares fortemente armados atirando bombas de gás lacrimogênio e com policiais infiltrados nas universidades, a população estava unida em torno de um ideal democrático, que se viu mais uma vez, anos depois, nas ruas lotadas em favor das Diretas Já. O lema “ditatura nunca mais” consolidou-se e pareceu-me que a questão era página virada. É desconcertante, portanto, ver que em 2018 o pior que existe no ser humano veio à tona como projeto de governo e de país, e conseguiu ser vitorioso. Sentimentos de ódio não só afloraram, como foram legitimados pelo poder instalado. Hoje, há quem se diga cristão e faça arminha com as mãos, sem perceber que está crucificando de novo a Jesus Cristo. Tornou-se corriqueiro e até moda ser machista, misógino, racista (apesar de ser proibido em lei), homofóbico, ter preconceito contra pobres, nordestinos, deficientes, esquerdistas e assim por diante. Ataques a quem não tem o pensamento alinhado ao poder não ocorrem mais dentro de um debate democrático, como antes, mas vêm carregados da mais profunda intolerância. O governo, por seu lado, além de reforçar a discriminação nas palavras de seu próprio mandatário, ainda abriu uma caixa de Pandora, libertando o que jamais se imaginou: o desmata-

mento indiscriminado da Amazônia, a liberação de dezenas de agrotóxicos, o perdão a dívidas bilionárias de poderosos, um grande afrouxamento ao uso de armas, enquanto ataca com todas as forças os direitos previdenciários (dos outros, não dos encastelados no poder), os direitos trabalhistas, a educação, e entrega as riquezas do país. O pior é que muitos ainda

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Nova lei de imigração visa regularizar trabalhadores indocumentados Camila Garcia

marcelo

monteir

o

apoiam tudo isso, cegos ao desmonte do Brasil e às consequências que vão recair sobre eles próprios. Vim para o Canadá nos anos 90 como “refugiado” econômico do desgoverno de Fernando Henrique Cardoso, que já provocava severos danos ao país. Hoje, me sinto literalmente como refugiado político. É deprimente ver o Brasil, um dos maiores países do mundo, com riquezas natu-

rais como poucos, um belo parque industrial e universidades que, apesar de tudo, ainda conseguem produzir bons profissionais, naufragado nos sentimentos mais mesquinhos. Em tempos que parecem medievais, está difícil e até perigoso uma pessoa do bem viver lá.

Com mais de 35 anos de experiência como jornalista, José Francisco Schuster atuou em grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e TV no Brasil. Foi, durante 8 anos, âncora do programa Fala Brasil, e agora produz e apresenta o programa Noites da CHIN - Brasil, na CHIN Radio.

Em anúncio realizado no início do mês de julho, o governo federal informou que 500 trabalhadores sem status na construção civil terão a oportunidade de se tornar residentes permanentes no Canadá. A Temporary public policy for out-of-status construction workers in the Greater Toronto Area sinaliza uma tentativa do governo de Justin Trudeau em atender a uma parcela vulnerável da população, ao mesmo tempo em que responde à escassez de mão de obra no setor. O Immigration and Refugee Protection Act define como “indocumentado” uma pessoa que não possui autorização para entrar ou permanecer no país por um longo período, e/ou sem status legal para trabalhar. A falta de estatísticas oficiais torna difícil afirmar quantos desses trabalhadores atualmente existem; porém, é comum estimar que o número varia entre 200.000 e 500.000 – a maioria dos quais residindo em Toronto, Montreal e Vancouver. Devido à carência de mão de obra, historicamente a indústria da construção civil depende desta força de trabalho, mesmo que sem status, para realizar os projetos de habitação e infraestrutura na região do GTA. Este impasse é reconhecido pelo governo quando escreve nas considerações da lei temporária: “Relatórios indicam que esta mesma força de trabalho tem sido por muitos anos composta por residentes de longo prazo que perderam seus status imigratórios e estão operando em uma economia clandestina” [tradução livre].

As implicações de uma vida sem status deixam marcas profundas nos trabalhadores e suas famílias, que frequentemente relatam desgaste físico e mental, isolamento social, más condições de trabalho e qualidade de vida, vulnerabilidade a abusos e explorações, e diversas barreiras institucionais. Em 2013, o Conselho Municipal de Toronto se autodeclarou como “cidade santuário” ao aprovar uma moção determinando que todos os funcionários municipais fossem treinados para garantir que o status de imigração não impedisse o acesso dos moradores aos serviços essenciais. No ano seguinte, consolidou-se este compromisso com a política denominada Access T.O. Em qualquer canteiro de obras muitos imigrantes de diversas comunidades, inclusive a brasileira, aguardavam ansiosamente por uma lei desta natureza. É a esperança de regularizar o status no país e finalmente consolidar o sonho canadense. Requerimentos Abaixo estão simplificados alguns dos requerimentos divulgados pelo Immigration, Refugees and Citizenship Canada (IRCC) até o presente momento: • Ter entrado legalmente no Canadá como residente temporário e já ter recebido autorização de trabalho na indústria da construção; e • Fornecer comprovante de declaração do imposto de renda canadense (400 requerentes); ou • Ter entrado legalmente no Canadá como residente temporário (100 requerentes); • Residir no país por pelo menos cinco anos na data da solicitação;

• Estar trabalhando sem autorização no setor de construção no GTA e fornecer comprovante de três anos de experiência full-time na área; • Canadian Language Benchmark de Inglês nível 4 para fala, escuta, leitura e escrita; • Possuir membros familiares que são cidadãos canadenses ou residentes permanentes; • Carta de encaminhamento fornecida pelo Canadian Labour Congress. Os membros da família do principal solicitante receberão as mesmas isenções de admissibilidade. Indivíduos que aplicaram para refúgio e aplicações de refúgio fracassadas não são elegíveis para esta lei temporária. Os candidatos que atendem aos requisitos acima deverão primeiro identificar-se ao Canadian Labour Congress, a maior organização trabalhista do Canadá – órgão resultado da união de sindicatos, federações, conselhos trabalhistas e grupos comunitários –, que será responsável por determinar as aplicações elegíveis e redigir a carta de referência para o IRCC. Inicialmente será emitida uma aprovação temporária e haverá suspensão do pedido de deportação, caso exista, até que a decisão final seja tomada. Caso o número de aplicações ultrapasse 500, a prioridade será para requerentes com filhos e com parceira(o) ou união estável. A lei têm caráter temporário, o que significa que será efetiva de janeiro de 2020 a janeiro de 2022, ou até quando forem preenchidas as 500 vagas. Uma quantidade muito baixa


www.jornaldetoronto.ca para o tamanho da problemática; entretanto, pelos critérios de qualificação, muitas famílias podem ficar de fora. Ainda restam inúmeras dúvidas a serem esclarecidas, como por exemplo o destino de famílias não contempladas pelo programa e que expuseram sua atual situação ao governo, ou como as construtoras fornecerão comprovantes de experiência aos trabalhadores contratados sem status, uma vez que esta é uma prática ilegal e pode resultar em multas de até $50,000 e/ou dois anos de prisão. Toda vez que oportunidades como essa surgem, também aumentam os golpes e fraudes por parte de pessoas mal-intencionadas que se aproveitam da ingenuidade e vulnerabilidade dessas pessoas para o seu enriquecimento pessoal. Como é comum ouvirmos, cada caso é um caso, e a informação correta pode fazer toda a diferença no resultado final. Consulte

um profissional licensiado pelo Immigration Consultants of Canada Regulatory Council (www.iccrc-crcic.ca) ou procure por orientação em uma das organizações espalhadas pela cidade de Toronto, que, como “cidade santuário”, não cruzará os dados com o governo federal. Muitos comparam de forma pejorativa a questão dos trabalhadores sem status com a abertura do Canadá ao acolhimento de refugiados; porém, é preciso entender que uma luta não exclue e nem minimiza a outra. As duas são de igual importância e precisam conviver juntas para continuarmos a sustentar uma sociedade diversa e inclusiva. Com 9.984 milhões de quilômetros quadrados, maior país do Hemisfério Norte, o Canadá tem muito espaço para receber a todas e a todos.

Camila Garcia é paulista e já trabalhou com teatro, rádio, televisão e jornalismo. Sempre de olho no universo político, adora trocar suas impressões com os mais chegados, e agora com os leitores do Jornal de Toronto. Atualmente é apresentadora do programa de televisão Focus Portuguese, todos os sábados e domingos, na OMNI TV.

Do palanque ao púlpito

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Rodrigo Toniol

Em meados de junho ocorreu mais uma edição da Marcha para Jesus. Após 27 anos do surgimento do evento no Brasil, o número de participantes saltou exponencialmente na última década e não raramente leva às ruas milhões de pessoas. Certamente esses números são impressionantes e atestam o crescimento da população evangélica no país, e da ampliação de sua legitimidade no espaço público. Em 2019, contudo, a novidade não esteve no número de participantes, mas sim na presença inédita de um presidente em exercício no evento. Jair Bolsonaro foi à Marcha, subiu no carro de som e repetiu seu lema de campanha, a passagem da bíblia João 8:32, “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. A imprensa brasileira deu grande destaque ao fato, associando-o aos outros sinais que Bolsonaro deu aos evangélicos ao longo dos últimos anos, como quando se batizou no rio Jordão pelas mãos do ex-presiden-

ciável, pastor Everaldo, ou quando celebrou sua vitória com uma oração conduzida pelo ex-senador e pastor Magno Malta. Embora certamente relevante para a história da Marcha para Jesus, a presença de um presidente não chega a ser surpreendente, se considerarmos o capital político que o evento oferece. Ao lado de Bolsonaro, por exemplo, não faltaram outros políticos: Bruno Covas, Major Olímpio, Marco Feliciano e João Dória também falaram para a multidão, cercados por pastores e autoridades religiosas no alto dos carros de som. Essa cena é um bom exemplo de como a relação entre religião e política tem sido cada vez mais estreita no Brasil. O que não significa dizer que esse seja um fato novo e tampouco que seja característico de um único espectro político. A própria Marcha para Jesus foi tema de uma lei federal promulgada em 2009, pelo então presidente Luís Inácio Lula da Silva, que incluiu o evento no calendário oficial do país. A lição sobre a importância da religião para a política foi aprendida por Fernando Henrique Cardoso muitos anos antes, em 1985, durante a disputa com Jânio Quadros pela prefeitura de São Paulo. – Senador, o senhor acredita em Deus? Com essa pergunta o apresentador Boris Casoy começou o segundo bloco

do último debate televisivo daquele pleito. FHC: – É uma pergunta típica de quem quer levar uma questão que é íntima para o público, uma pergunta típica de quem quer simplesmente usar uma armadilha para saber a convicção pessoal do senador Fernando Henrique, que não está em jogo. Devo dizer ao senhor Boris Casoy que esse nosso povo é religioso. Eu respeito a religião do povo, as várias religiões do povo, automaticamente estou abrindo uma chance para a crença em Deus. Boris Casoy: – A pergunta não foi respondida. Não se trata de armadilha, nem de convicção pessoal. Político muito mais experiente que FHC na ocasião, Jânio Quadros, em sua última resposta, depois de dissertar sobre o sistema do transporte público na cida-

de, concluiu: – Antes de terminar Boris, quero fazer um pedido ao povo de São Paulo: não votem em um ateu. FHC perdeu aquela eleição. Desde então, poucos candidatos se arriscaram no ateísmo. O próprio FHC, quando disputou as eleições para presidência, em 1993, fez questão de aparecer em missas comungando. Certa vez fez um grande estardalhaço porque foi para a Bahia no dia da lavagem das escadarias do Bonfim. Em 2006, numa entrevista para a Playboy, declarou que assiste até missa pela TV e que tem um rosário na cabeceira de sua cama. Se o crescimento da bancada evangélica nas últimas eleições mostrou o crescimento no número de políticos que vão do púlpito ao palanque, essas situações todas nos lembram que há pouca novidade nos políticos que vão do palanque para o púlpito.

Rodrigo Toniol é doutor em antropologia e professor da Unicamp, tendo realizado estudos de pós-doutorado na Universidade de Utrecht (Holanda); foi também pesquisador-visitante nos Estados Unidos e México. Suas pesquisas e publicações estão principalmente relacionadas com os temas de religião, saúde e ciência.

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Amamentar é natural Camila Valente é enfermeira especialista em amamentação

Amamentar é natural? Essa, que já foi uma verdade absoluta, hoje soa como questionamento. E com razão. Apesar de seu desejo – ilustrado pelos altos índices de iniciação do amamentar –, a maioria das mulheres no mundo não está conseguindo continuar a amamentar passados alguns dias do parto e, consequentemente, seus bebês não estão tendo acesso ao leite materno na enorme maioria das vezes. Em média, mais da metade das mulheres e bebês no mundo estão sendo privados desse direito básico por razões políticas e sociais que nada têm a ver com a sua capacidade biológica – desejo de amamentar ou a do bebê de mamar e ingerir leite materno. A

interrupção precoce (e frequentemente não planejada) da amamentação gera um custo de US$ 1 bilhão por dia, se considerarmos somente custos com (falta de) saúde por doenças evitáveis e a consequente diminuição da produtividade laboral no mundo, é o que diz a recente publicação canadense The cost of not breastfeeding: global results from a new tool, de Dylan D. Walters, Linh T. H. Phan e Roger Mathisen, cujo estudo foi desenvolvido ao longo de seis anos em mais de cem países. Esses dados sugerem a urgência pelo aumento do investimento em políticas e programas de proteção à amamentação. Agosto é o mês que se comemora a Semana Mun-

serge quadrado

dial de Amamentação e esse ano o tema abordado é o empoderamento de pais e

mães. Ou seja, informação para trilhar esse caminho, atualmente cheio de armadilhas desconhecidas que geram cruéis frustrações e nos fazem questionar a naturalidade do aleitamento materno. Como mostra a pesquisa, amamentar é um processo muito importante e complexo para ficar relegado ao acaso e a pal-

pites. Sua saúde e a do seu bebê merecem assistência respeitosa e especializada que te ofereça avaliação e acompanhamento continuado. Para tanto, existem profissionais de saúde especializadas chamadas IBCLC (International Board Certified Lactation Consultants). Tenha uma para chamar de sua, desde o pré-natal, e

saiba como prevenir complicações e/ou tratá-las de forma eficiente. Espera-se que assim, além de possível, amamentar pelo tempo desejado seja também comum e muito mais pessoas consigam desfrutar dos seus inúmeros benefícios, com prazer.


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