Jornal de Toronto #7

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Jornal de Toronto

“Focus Portuguese” mostra os “PF LOK LIZA pontos de convergência entre os 51 MI AP EX MN imigrantes de língua portuguesa no GDDL V LIMA” Canadá O Jornal de Toronto entrevistou a jornalista p. 6

“Este ano será diferente!”

Quantas vezes você repetiu isso? Você se prepara para o “ano da virada”. Compra aquela roupa amarela, pula sete ondinhas (ou dá sete pulos na neve) e come romã (o único dia do ano que você lembra que esta fruta existe)... p. 3

e apresentadora Camila Garcia, que é uma das âncoras do programa, na OMNI TV. p. 5

edição # 7 | ano # 1 | janeiro 2018 | www.jornaldetoronto.ca | info@jornaldetoronto.ca | ISSN 2560-7855

A depressão de inverno p. 7

Onde estão os empregos para os imigrantes qualificados? O brasileiro potencial imigrante para o Canadá, que possui formação superior e experiência, questiona-se sobre o que vai encontrar quando chegar no novo país. Descontada toda propaganda, será pessoalmente uma troca profissional interessante? p. 2 ina hoekstra

Agora vai!

2017 em muito poucas palavras Cristiano de Oliveira Saudações, espíritos do Ano Novo. É o seguinte: pediram-me pra escrever uma retrospectiva de 2017. Eu não lembro nem o que eu comi ontem, quanto mais os fatos do ano inteiro. Portanto, retrospectiva aqui em casa funciona mais ou menos assim: p. 2

Baixista brasileiro toca em projeto de música canadense p. 6

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Curling

Entenda as regras do jogo p. 8

divulgação/cbdg

Juliana Nogueira é nutricionista funcional na Herbal Health Nutrition Ano novo, vida nova! Agora vai! É hora de começar aquela dieta nova, de limpar a alimentação, causar uma revolução! É só escolher: Dieta da proteína? 100% comida viva (tudo cru!)? Low carb? Jejum intermitente? Dieta da sopa? Substituir a refeição por um shake? É tanta escolha. É tanta restrição. Me ajuda. Por onde começar? Aí vai a minha sugestão. Que tal mudar o foco? Trocar o negativo pelo positivo? A restrição pela adição? Se comprometa a comer um prato de salada todos os dias, com vegetais de 3 cores diferentes, no mínimo. Ou talvez acorde mais cedo para preparar um café da manhã nutritivo. Ele vai te ajudar a comer melhor durante o resto do dia sem esforço, naturalmente. Mais uma. Saia para uma

caminhada uma vez na semana, sem se importar com o frio lá fora. Estimula o metabolismo que é uma beleza. Comece aos poucos. Adicione amor pelo seu corpo, cuide dele com carinho. Mostre para ele o que é bom, o que cura e revigora. Para que forçar, sofrer e depois se decepcionar? Cada hábito positivo que você acrescenta, pouco a pouco, faz o seu corpo funcionar e se sentir um pouquinho melhor. Note cada mudança, e se conecte com elas. Cada garfada, cada passo de cabeça erguida no ar frio aumenta a vibração das suas células. Não é bruxaria, é ciência. Mas quase que, como mágica sim, o corpo começa a entender, a se curar e a pedir o que faz bem. Troque o não pelo sim, isso sim é uma revolução!

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Editorial Então um ano novo começa e, com as esperanças renovadas, recarregamos as baterias para 2018. Viver fora do nosso país traz essa sensação constante de renovação, no sentido de que temos de nos reinventar o tempo todo, e com isso vemos que, na verdade, temos sempre uma abertura muito grande para tudo o que podemos nos tornar – no momento, talvez um casulo no inverno. O ano novo traz sempre a perspectiva de novos voos, sem dúvida. Para o Jornal de Toronto, o objetivo é criar ainda mais oportunidades para as pessoas se conectarem, compartilharem ideias e discutirem, em alto nível, sobre questões importantes com que nos deparamos, sendo brasileiros. Temos consciência da importância e da responsabilidade que é publicar um jornal, e de como cada assunto escolhido, cada pessoa convidada, cada imagem, traz consigo muito mais do que está ali impresso. Nossa comunidade tem crescido, tem estado mais estruturada, e nosso jornal vem para dar sua contribuição. Produzir o Jornal de Toronto tem nos dado uma satisfação muito grande e poder ser parte da comunidade brasileira aqui no Canadá é um privilégio. Feliz Ano Novo! ADR

Cotidiano

2017 em muito poucas palavras Cristiano de Oliveira

Fórmula 1

Saudações, espíritos do Ano Novo. É o seguinte: pediram-me pra escrever uma retrospectiva de 2017. Eu não lembro nem o que eu comi ontem, quanto mais os fatos do ano inteiro. Portanto, retrospectiva aqui em casa funciona mais ou menos assim: Brasil Todo mundo se indignou com tudo. Todo mundo odiou tudo e todos. Barraco houve quase todo dia, uma polêmica atrás da outra, às vezes coisas bobas transformadas em grandes debates pela forma como são expostas. Ninguém leva nada a cabo ou se dedica a uma causa, pois os debates perdem força rapidamente para que nova polêmica fresquinha vire o assunto do dia. E assim o povo segue distraído com seus pequenos horrores e indignações, enquanto as verdadeiras sujeiras vão passando devidamente disfarçadas. 2017 foi o ano em que o Brasil solidificou sua posição histórica de caminhão de porco: todo mundo grunhe, reclama, faz barulho, mas ele segue pro matadouro do mesmo jeito.

Não faço a menor ideia. MMA Vixe, piorou. Desde que eu soube que o moleque que me deu um tiro de chumbinho no tempo de escola virou campeão de MMA, cismei com esse negócio. O menino mesmo eu já perdoei, não desejo mal a ninguém. Ademais, a profissão do cara envolve ter sempre um grandão suado sentado na cara dele, portanto já é castigo suficiente.

campeão nacional com méritos, o Cruzeiro também. Quanto ao Galo, eu poderia passar horas desossando a diretoria incompetente e o conselho mafioso, mas vou me ater ao futebol, que se resume a uma frase: esse ano, o cavalo passou em frente à porta arreado, com sela acolchoada, câmera de ré, CD player com caixa Bose e cerveja no embornal... mas o Galo não montou. TTC Conseguiu piorar ainda mais. O fundo do poço ainda não chegou, pra chegar lá tem que descer na Dufferin e pegar o 29. Samba

Futebol Em 2017 a Seleção deu uma limpada no cabaré que o 7x1 deixou de herança, mas ainda gera mais desconfiança que desconto de Black Friday. O Corinthians foi

Foi um ano legal. A Batucada Carioca fechou um ano de renovação com um showzão no Geary Lane dia 8 de dezembro, enquanto a banda Roda de Samba de Toronto terminou seu quarto ano de samba de raiz nas tardes de sábado, o segundo no Yauca’s Lounge. É uma honra participar dos dois

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grupos, e uma alegria poder fazer meu belo jabá aqui. Visite nossas páginas no Facebook para saber mais. Toronto Choveu até morrer. Até achei bom, pois a ilha ficou fechada e eu pude ficar bem longe daquela balsa lotada. Incrível como Toronto é tão grande e ainda assim todo mundo vai para os mesmos lugares no fim de semana. Daí você vê a importância de vó: quando há casa de vó perto, você sabe exatamente qual é o melhor lugar para se passar um domingo. E te garanto que não é numa arca de Noé do inferno que atravessa uma poça pra chegar numa ilha. E por falar em vó, sempre há quem me pergunte, então já aviso: sim, meus amigos, coroei meu 2017 celebrando meu 15º Natal com vó. Vó continua invicta, pois são 15 anos de Canadá e 15 Natais ao lado dela. E assim foi. Eis aí 2018 e que ele seja o melhor ano das nossas vidas. Um Ano Novo altamente cheio das coisas boas pra você, e muito obrigado pela leitura nesse ano que passou. Foi um prazer e uma honra escrever pra você. Adeus, cinco letras que choram.

Cristiano de Oliveira é mineiro, atleticano de passar mal, formado em Ciência da Computação no Brasil e pós-graduado em Marketing Management no Canadá. Foi colunista do jornal Brasil News por 12 anos. É um grande cronista do samba e das letras.

Editor-chefe: Alexandre Dias Ramos Gerente de marketing: Sonia Cintra

Onde estão os empregos para os

Gerente de mídia social: Luiza Sobral Revisor: Eduardo Castanhos Fotógrafos: Iáfa Cac-Marchon, Ina Hoekstra, Patrick Kramer & Peter Bojarinov Colunistas: Alexandre Rocha, Cristiano de Oliveira & José Francisco Schuster Colaboradores dessa edição: Alex Calo’ De Santis, Antônio Francisco Pereira, Camila Garcia, Deb Lou, Débora Nunes, Gerd Altmann, Gustavo Longo, Juliana Nogueira & Tania Aloísio Agradecimento especial para: Erica Manetta & Leandro Calado Agências, fontes e parceiros: Confederação Brasileira de Desportos no Gelo, Omni TV, Outras Palavras, Pixabay Conselho editorial: Nilson Peixoto, Rosana Entler & Sonia Cintra © Jornal de Toronto. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução de qualquer trecho desta edição sem a prévia autorização do jornal. O Jornal de Toronto não é responsável pelas opiniões e conteúdos dos anúncios publicados. Circulação: O Jornal de Toronto é mensal e distribuído em Toronto, GTA, London, Montreal, Ottawa, Calgary e Vancouver.

José Francisco Schuster O brasileiro potencial imigrante para o Canadá, que possui formação superior e experiência, questiona-se sobre o que vai encontrar quando chegar no novo país. Descontada toda propaganda, será pessoalmente uma troca profissional interessante? Como a vida é uma só, a sugestão é sempre fazer planejamento para evitar o doloroso e caro método de tentativa e erro. E, assim como para o processo de imigração recomenda-se utilizar os serviços de um profissional da área em vez de ir atrás de palpites de leigos, quanto às possibilidades atuais de emprego perguntamos ao presidente da Câmara de Comércio Brasil-Canadá (BCCC), Marcelo Sarkis, que fez uma pesquisa auxiliado por Maria Beatriz Barberis e Nina Garcia.

Contato: info@jornaldetoronto.ca Siga nossa página no Facebook, Twitter, e matérias complementares, durante todo o mês, em nosso site: www.jornaldetoronto.ca Edição #7, ano #1, janeiro 2018 ISSN 2560-7855

gerd altmann

imigrantes qualificados? Conforme apuraram, na província de Ontário, especialmente nas proximidades de Toronto, estão as maiores possibilidades de emprego, despontando Barrie, Kitchener e Hamilton. Também se destacam Winnipeg, em Manitoba, e Kelowna, em British Columbia. É a província de British Columbia que possui a menor taxa de desemprego desde 2015. As áreas de maior demanda são TI (Tecnologia da Informação), finanças, recursos humanos, telecomunicações, engenharia, arquitetura, marketing, saúde, administração pública e relações públicas. Ter uma experiência de trabalho no Canadá é muito importante para os empregadores do país, e por isso muitas vezes é necessário entrar no mercado em empregos com salários mais baixos, em áreas como o setor de serviços, em trabalhos como o de vendedor ou o de atendente em restaurantes – ou até mesmo como voluntário, é uma outra opção. Estudar no Canadá também faz parte da experiência prévia no país, e levada em conta pela maioria dos empregadores. “A área de TI, porém, é menos restrita quanto a isso”, relatou Sarkis.

A maioria dos empregados no Canadá se inscreveram para pelo menos 10 oportunidades de emprego para conseguirem a vaga em que estão atualmente. Os que chegaram à fase de entrevista, precisaram de apenas uma ou duas até serem contratados. No total, entre estudos e primeiro emprego, Sarkis entende que leva em torno de quatro anos para o imigrante recuperar o padrão de vida do Brasil. Em certos casos, contudo, demora bem mais. Quem é médico, por exemplo, tem que passar novamente por todos os estudos até obter a licença para poder praticar a medicina. O mesmo quem tinha um cargo alto no Brasil, que praticamente recomeça do zero ao chegar no Canadá.

Conforme a pesquisa do presidente da BCCC, o governo do Canadá continua incentivando a imigração para substituir os “baby boomers”, que estão se aposentando. Assim, de 2011 a 2016, 1.212.075 imigrantes chegaram ao Canadá, sendo 8.495 brasileiros. Todavia, em 2013, 14,7% dos imigrantes recentes com diploma universitário em Ontário, e 12,4% em Quebec, estavam desempregados, principalmente pelo desencontro entre suas áreas de especialização e as áreas de demanda no Canadá. “Devido à necessidade da experiência canadense, as áreas que mais exigem experiência e rede de contatos são as mais difíceis para os imigrantes ingressarem”, concluiu Sarkis.

Com mais de 30 anos de experiência como jornalista, José Francisco Schuster atuou em grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e TV no Brasil. Foi, durante 8 anos, âncora do programa Fala Brasil, inicialmente pela rádio Voces Latinas e posteriormente pela Camões Rádio.


Economia Alexandre Rocha

“Este ano será diferente!”

Quantas vezes você repetiu isso? A cada novo ano, novas promessas: quero mudar de vida; vou quitar a dívida; vou reduzir o consumo; vou controlar as despesas; vou montar um novo negócio, eu quero é dinheiro... Você se prepara para o “ano da virada”. Compra aquela roupa amarela, pula sete ondinhas (ou dá sete pulos na neve) e come romã (o único dia do ano que você lembra que esta fruta existe). Passam-se doze meses e você nem se dá conta que aquela empolgação não passou dos primeiros quinze dias de janeiro. O seu consumo não reduziu, as dívidas continuaram e você

não conseguiu guardar dinheiro para investir. Ah! A mente humana... O problema pode estar na forma e no modo como você pensa. Isso é explicado por Daniel Kahneman* em seu livro Pensar, depressa e devagar. Para Kahneman, existem duas maneiras de pensar: Sistema 1 e Sistema 2. O Sistema 1 é rápido, intuitivo e emocional. Ele oferece conclusões automaticamente. O Sistema 2 é mais lento, corajoso e racional. Ele oferece respostas conscientes. Uma verdadeira mudança tem a sua origem no Sistema 2 e quando se trata de dinheiro, é dali que você tem que extrair a sua capacidade

de decidir corretamente. Se você quer realmente entrar 2018 focado em mudar a sua relação com o dinheiro, você terá que lidar com três realidades:

1. Os nossos pensamentos são emocionalmente e socialmente condicionados e a indústria do consumo sabe disso. Somos bombardeados por todos os lados e esta indústria quer decidir por você. Por quê você consome? O produto realmente tem valor ou você compra “para os outros”? Não é fácil ficar de fora quando todo mundo está trocando de iPhone ou usando aquela “marca legal”. Mas tudo isso é emocional e garanto que a sensação de prazer

não dura mais do que uma semana. Você está jogando dinheiro fora! A mudança é lenta e você terá que ter coragem para ir contra a maré. No longo prazo, você verá o resultado.

2. Se você é um assalariado, não ficará rico trabalhando. Infelizmente, como na maior parte das sociedades, você vai se aposentar com um salário limitado, provavelmente com uma idade elevada e pagará muitos, mas muitos, impostos até lá. Resumindo: o sinônimo do assalariado é limitação. Felizmente, existem algumas maneiras de sair deste ciclo limitado. Se você possui algum talento fora do seu ambiente de trabalho, que tal empreender e tocar um projeto paralelo nas horas vagas? Gosta de cozinhar? Tem habilidade

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com idiomas? Sabe desenhar? Dirigir? Ofereça o que você sabe fazer e, se for bom, sempre vai ter alguém disposto a pagar por seu serviço. Gosta da empresa onde trabalha e quer se dedicar 100% à sua profissão? Ótimo! Torne-se sócio dela e pense nos bônus e nas ações que vai receber fazendo aquilo que gosta. O que importa é que você vai começar a ter uma renda paralela ao seu salário e, esta sim, pode se tornar ilimitada.

3. Não adianta ganhar na loteria se você não tiver educação financeira. Um estudo da Vaderbilt University, no Tennessee, chegou à conclusão de que quem ganha de uma hora para outra uma quantia razoável de dinheiro está tão sujeito a enfrentar dificuldades financeiras quanto as pessoas que permaneceram dependentes do próprio esforço para arcar com despesas cotidianas. Surpreendentemente, os dados obtidos também mostraram que, alguns anos após a

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premiação, os ganhadores possuíam um nível de endividamento maior do que os que não ganharam nada. Aí é que entra a educação financeira, o conhecimento. Pouco importa a quantidade de dinheiro que você possui. Se você não sabe o que fazer com mil, também não vai saber o que fazer com um milhão. O dinheiro vai acabar! Na virada do ano, não basta olhar para o céu e pedir o seu bilhete premiado. Ative o Sistema 2 na sua mente, esteja sempre em estado racional para lidar com as suas finanças, crie oportunidades que possam gerar renda ilimitada e, finalmente, estude muito e aprenda definitivamente como o mundo financeiro funciona. Feliz Ano Novo! * Kahneman tornou-se o primeiro não-economista a ganhar o Prêmio Nobel de Economia por sua investigação sobre processo de tomada de decisões em momentos de risco e incerteza.

Alexandre Rocha é trader nos mercados futuros do Brasil, EUA e consultor financeiro independente. Em 2014, deixou o Banco do Brasil para fundar a consultoria Aletinvest. Se formou em economia pela UCAM-RJ e é mestre em Études Internationales pela Université de Montréal. Atualmente mora em Montreal, mas é apaixonado por Toronto. _ www.aletinvest.com

Moeda é presença inevitável na vida em sociedade. Vencer seu poder é olhá-la de frente, como o que ela de fato é: um instrumento, um objeto, que tem o sentido que lhe damos que, intimamente, duvidem possível ignorar como o di-

patrick kramer

O uso do dinheiro revela a alma

Débora Nunes é arquiteta urbanista outras palavras

Um dos motivos da adoração ao dinheiro é seu poder de evitar frustrações. Quem tem dinheiro pode ter “tudo” o que deseja – materialmente – e assim não precisa priorizar, frustrar desejos. O dinheiro também traz descanso: paga serviços, bens e situações que evitam trabalho e permitem “curtir a vida”. Mas a liberdade de escolha

e o conforto que o dinheiro permite é apenas um componente do seu fascínio: a alma quer mais. A promessa de aprovação social que o dinheiro oferece favorece o reconhecimento que cada ser humano busca. É fato que as pessoas tentam, por diferentes meios, conseguir reconhecimento: a maioria tenta ser útil, trabalha no que lhe

cabe buscando mostrar seu mérito, tenta ser bom pai, mãe, filho, amigo, colega de trabalho, etc., confiando colher amor e respeito de si mesmo e dos outros. O dinheiro desestabiliza a equação social. Como poderoso motor de reconhecimento, particularmente numa sociedade consumista, ajuda a criar uma imagem pública favorável até para quem

não tem mérito e o usa para criar a desejada admiração pública. Pode-se imaginar que quando uma pessoa obtém dinheiro por algo meritório – um serviço profissional bem feito, por exemplo – ela se sinta reconhecida pela própria atividade exercida e tenha menor necessidade de reconhecimento público pela exibição de poder econômico. Nessa linha, seria exagerado dizer que o apego excessivo ao dinheiro e mesmo a exibição pública da riqueza estaria mais presente naqueles que não têm outros merecimentos para serem reconhecidos? Ou

de seu próprio valor? Nestes casos, o dinheiro pode facilmente virar uma prisão, ao invés de um instrumento de liberdade de escolhas. O uso do dinheiro é um revelador da alma: desprendida ou apegada; cuidadosa consigo e com os outros, ou controladora das pessoas ao redor. Do mesmo modo que as compras sem fim são sinal evidente de frustrações da alma, o dinheiro também pode ser uma força de vida e justiça, quando usado para serviços honestos e comprar produtos que fazem bem a si, a quem se ama, à Natureza e ao mundo. Para aqueles que querem uma existência plena, não é

nheiro lhes afeta, nem desconhecer que ele é também uma metáfora de poder. A alma, ou a consciência de cada um, não quer subterfúgios, não quer vender ilusões a si mesma ou aos outros. Ao invés de execrá-lo, talvez a melhor forma de vencer o poder do dinheiro seja simplesmente olhá-lo de frente, como o que ele de fato é: um instrumento, um objeto, que tem o sentido que lhe damos. Como diz a música de Frejat “desejo que você ganhe dinheiro, pois é preciso viver também... E que você diga a ele, pelo menos uma vez, quem é mesmo o dono de quem”.


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Cultura

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Os apresentadores Camila Garcia e Sérgio Mourato.

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peter bojarinov

“Focus Portuguese” mostra os pontos de convergência entre os imigrantes de língua portuguesa no Canadá O Jornal de Toronto entrevistou a jornalista e apresentadora Camila Garcia, que é uma das âncoras do programa, na OMNI TV. Jornal de Toronto - Fale um pouco sobre o Focus Portuguese?

Camila - O Focus Portuguese é um

programa de uma hora, aos finais de semana, que apresento ao lado do meu colega português Sérgio Mourato. Abordarmos as principais notícias locais e, através de entrevistas com especialistas e profissionais, apresentamos uma visão crítica e o mais completa possível sobre temas atuais. Por exemplo, a legalização da maconha, ou ainda, assuntos relacionados à imigração, ao desenvolvimento das relações entre os países e o Canadá, projetos especiais de falantes de português e, por fim, pontos mais gerais, como finanças, nutrição e estilo de vida.

JdeT - Como surgiu o projeto da OMNI voltar a ter um programa em português? Camila - Acredito que voltar a pro-

duzir contéudo em português foi um caminho natural para uma emissora que já é bem inserida e reconhecida na comunidade, por toda a sua contribuição e pelos jornalistas de alto nível que acolheu no passado.

JdeT - Como tem sido a receptividade do programa e como os brasileiros têm se relacionado com ele? Camila - A receptividade tem sido

excelente; desde dos primeiros dias a comunidade de língua portuguesa nos acolheu e abriu as

portas de suas instituições, organizações, eventos e atividades. Todo esse suporte é fundamental para continuarmos produzindo conteúdo relevante e que atenda às necessidades específicas de cada comunidade que representamos. Em relação aos brasileiros, estou muito feliz com o retorno que tive até agora. Acredito que cada um se relaciona com o Focus Portuguese conforme o seu momento de vida atual. A comunidade brasileira é muito diversa: existem aqueles que já residem no Canadá há muitos anos e estão totalmente integrados na sociedade canadense, e aqueles que estão chegando agora e se encontram nos primeiros estágios do processo de adaptação – e, claro, muitos outros no meio.

Eu procuro sempre trazer tópicos, em especial nas entrevistas, que sirvam ao interesse de algum desses grupos, assim como temas que atendem a todos. Gostaria de salientar que estou sempre aberta a receber ideias, sugestões e histórias pelo e-mail camila.garcia@omnitv.rogers.com.

JdeT - Até que ponto ter um programa direcionado para imigrantes vindos de diferentes países da língua portuguesa facilita e dificulta a preparação do Focus Portuguese? Os públicos são muito diferentes? Camila - Os públicos são diferen-

tes sim, e durante a preparação do programa temos a preocupação em atendê-los corretamente. Eu e o Sérgio trocamos experiências e

conhecimento para tornar os textos acessíveis a todos e tentamos sempre selecionar e manter um balanço adequado no quadro de convidados. Apesar das diferenças culturais existirem, também encontramos pontos de convergência e conexões entre os países, o que, além de muito interessante, nos fornece a oportunidade de continuar desenvolvendo a programação. Convido a todos para conferir o Focus Portuguese, aos sábados e domingos, às 6pm, na OMNI TV, canal 4 da Rogers. Temos também o conteúdo em vídeo disponibilizado no site www.omnitv.ca, dentro da seção de português, e na nossa página no Facebook: Focus Portuguese. Espero por você!

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o seu espaço.


Baixista brasileiro toca em projeto de música canadense Alex Calo’ De Santis é engenheiro de som, produtor e compositor Aqui em Toronto, eu e o guitarrista Umair Nadeem lançamos recentemente uma campanha onli-

ne para a produção do Inner Space, um álbum de nove músicas que segue as influências dos gêneros

Ambient, Progressive, Metal e Jazz-Fusion. Nos inspiramos no trabalho do ilustrador Deb Lou, de São Francisco, e traçamos o fio condutor do projeto graças a um incrível trabalho de associação entre imagem e som, que definiu o design conceitual da música. Convidamos o baixista brasileiro Fernando Molinari para colaborar conosco no projeto. Considerado uma das novas referências da chamada Fusion /Prog Rock, Fernando transformou seu amor pela música em uma deb lou consistente carreira profissional, tornando-se também um educador respeitado e autor de material didático sobre baixo

para revistas e sites brasileiros. Fernando é o baixista da banda No-Metric, e tem participado dos maiores festivais de música do Brasil, tocando e gravando com artistas de renome. Recentemente lançou seu álbum solo Built by Elements, considerado único, virtuoso e maduro, com sua fusão perfeita de gêneros. Eu e Umair nos orgulhamos muito de ter Fernando a bordo e estamos aproveitando seu perfeccionismo para agregar valor ao projeto e atender às expectativas de seu público e de qualquer amante da música. Se você puder apoiar esse incrível projeto, a campanha de crowdfunding para custear a produção do álbum Inner Space está no site www.pledgemusic.com/projects/ innerspace. Acompanhe também nossa página no Facebook (INNERSPACE.ALBUM), onde você poderá acompanhar um pouco do processo de produção do álbum.

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iáfa cac-marchon

redação

Festa do Jornal de Toronto é de todos

A equipe do Jornal de Toronto sempre teve o costume de se reunir mensalmente para um happy hour. É uma forma de encontrar pessoalmente com as pessoas que produzem o jornal. Uma equipe forte e unida produz melhores conteúdos e cria uma rede de relações que beneficia seus participantes, os leitores e os anun-

Tecnologia &

iáfa cac-marchon

ciantes. E cria um círculo virtuoso de amizades. Como costumamos brincar, fazemos o jornal só pra ter uma

boa desculpa pra tomar cerveja. E foi nesse clima que nos juntamos com a cervejaria OverHop e fizemos nosso primeiro happy hour aberto ao público, no dia 7 de dezembro, no The Craft do Liberty Village. Foram mais de 170 pessoas e 5,5 barris de cerveja! E que venham mais! Feliz 2018!

Mundo digital

Antônio Francisco Pereira é escritor em MG Hoje em dia eu tenho o mundo na palma da mão mas, às vezes, ainda me sinto um homem das cavernas. O mundo, no caso, é o smartphone que ganhei de presente no último Natal. Um belo brinquedo com mil e uma funcionalidades embutidas num tijolinho que não pesa mais que a minha consciência. Ali eu tenho computador, cinema, correio, biblioteca, filmadora, um estúdio fotográfico e até uma sala de conferências. Embora com certa dificuldade no manuseio, tudo o que eu quiser está ali, na ponta dos dedos; até o próprio telefone, que vai perdendo espaço para um aplicativo que é, atualmente, o xodó do homo digitalis: o WhatsApp. E é justamente nesse ponto que eu regrido à Idade das Cavernas. Explico. Já com a vista cansada e ainda condicionado ao hábito de esmurrar, durante décadas, o teclado de uma máquina Olivetti mais pesada e barulhenta do que uma britadeira, é óbvio que minha adaptação à nova ferramenta não seria fácil. Pau que nasce torto... A minha bronca já começa com a finalidade do engenho, que se destina a mensagens rápidas e instantâneas. Ora, na minha idade nada mais (daquilo que ainda funciona) é rápido, a não ser eventual corrida ao banheiro. Tela ultrassensível, espaço mínimo como

uma caixa de fósforo, letras miúdas e xifópagas, nada disso combina com dedos calosos, reflexo lento e falhas de memória. A linguagem também é outra. Muitas vezes você tem que decifrar a mensagem recebida, que parece vir criptografada, podados os sinais gráficos e quase todas as vogais. Exemplo: “PF LOK LIZA 51 MI AP EX MN GDDL V LIMA”. De início, você acha que está diante dos pergaminhos do Mar Morto. Depois pensa que pode ser uma ameaça ou um pedido de resgate. Finalmente, com algum esforço e o noticiário da televisão, a luz se faz: “POLÍCIA FEDERAL LOCALIZA 51 MILHÕES EM APARTAMENTO DO EX-MINISTRO GEDDEL VIEIRA LIMA”. Ah... e tem hora que não chega mensagem nenhuma, mas apenas umas carinhas com diferentes expressões. Vovô, isso são os emojis, explica meu neto primogênito, que ainda tem paciência para explicar alguma coisa ao jurássico ancestral. Muito prazer, respondo eu. Só não tenho muito prazer quando vou digitar alguma coisa. Aí o bicho pega. Eu coloco uma letra e o visor mostra outra. Coloco uma palavra e o visor mostra outra ou muda, por conta própria, o termo que eu pus no meio do texto. Parece até sabotagem, porque às vezes altera todo o sentido da comunicação. “Pedido” vira

“peido” e “buda” vira “bunda”. E isso é perigoso. Imagine uma mensagem romântica com esses equívocos. A mulher pede a separação. Por tudo isso é que, de certa forma, eu fiquei satisfeito quando, não faz muito tempo, um juiz mais afoito suspendeu temporariamente esse serviço. Para mim foi uma trégua nesse fogo cruzado entre bytes e megabytes. Eu já estava um pouco saudoso da escrita cuneiforme, onde pau é pau e pedra é pedra. Da composição mecânica, onde as palavras não são mutiladas e não existem expressões esquisitas, como “startar” e “inicializar”. Saudade da época em que o beijo e o abraço eram dados pessoalmente, e não por meio de duas letrinhas assexuadas. Mas não reclamo. Pelo contrário. Fico deslumbrado quando vejo meu netinho caçula, que ainda não completou um ano, deslizar agilmente o dedinho pela tela do aparelho, abrindo e fechando janelas instintivamente, como se tivesse aprendido essa arte ainda no ventre materno. Aposto que ele vai surfar nas ondas do WhatsApp e demais aplicativos antes mesmo de aprender a falar papai e mamãe. Este, sim, é o admirável mundo novo.

[Esta crônica foi premiada em 2º lugar no 4º Concurso Nacional Literário da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil]


Saúde& Bem-Estar

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A depressão de inverno

Tania Aloísio é psicoterapeuta em Ontário Depois da colorida estação de outono, chega o inverno e é comum também o aparecimento de diversas doenças e condições típicas desta estação. Uma delas é a chamada “depressão de inverno”, também conhecida como “depressão sazonal” ou “transtorno afetivo sazonal”. Essa depressão

é caracterizada por um estado anormal de tristeza ou redução de energia nos meses mais frios e menos ensolarados do ano. Há muitas controvérsias sobre a causa exata, mas muitos estudiosos acreditam que esse tipo de depressão está relacionado com uma necessidade do

organismo de luz. Dentre as principais causas relacionadas à depressão de inverno estão o aumento da melatonina, que é um hormônio regulador do sono produzido no escuro, e a diminuição da serotonina, que aumenta consideravelmente quando a pessoa se expõe à luz. Assim como a depressão comum, a depressão de inverno costuma atingir mais as mulheres do que os

homens, e a idade mais afetada costuma ficar entre os 20 e 40 anos. Em Toronto, este tipo de depressão tem sido responsável por grande parte dos suicídios que acontecem no inverno. Os principais sintomas são: fadiga e isolamento social, aumento anormal do sono e dificuldade de levantar de manhã; aumento de apetite, especialmente por doces e massas; falta de concentração e dificuldade na execução de tarefas rotineiras, diminuição do

desejo sexual; mudanças no humor, com episódios de angústias, apatia e irritabilidade; baixa autoestima, com a presença de pensamentos negativos e, no caso das mulheres, piora da tensão pré-menstrual. A depressão de inverno segue o mesmo tratamento da depressão comum – através de psicoterapia e, em alguns casos, antidepressivos e light terapia –, mas muitos pacientes melhoram espontaneamente quando muda a estação e o inverno acaba. Experimente também as seguintes dicas: ter uma alimentação saudável e fazer

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exercícios regularmente; reduzir o estresse que te consome energia; ter um horário para meditação e relaxamento; decorar sua casa com cores quentes que lembrem dias de sol; ter plantas e flores em casa; procurar ouvir músicas alegres; ter uma vida social ativa (encontro com amigos, sair para jantar); e tirar férias de alguns dias no inverno. Lembre-se: depois do inverno, com certeza a primavera chegará colorindo outra vez a sua vida e tudo voltará ao normal; por isso, seja feliz, mesmo nos dias cinzentos, mantendo a esperança da chegada de uma nova estação.

ina hoekstra


Esportes Curling

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Entenda as regras do jogo

Gustavo Longo é gestor de comunicação da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo Um dos esportes mais fascinantes dos Jogos Olímpicos de Inverno, o curling, é disputado em três categorias: equipes masculinas ou femininas (com quatro jogadores), Dupla Mista (um homem e uma mulher) e Equipe Mista (dois homens e duas mulheres) – essa última ainda não faz parte do programa olímpico. O jogo é dividido em dez ou oito ends e as equipes

divulgação/cbdg

alternam-se no lançamento de oito pedras (ou seis, no caso de Duplas Mistas), em direção a um alvo do outro lado da pista, para marcarem os pontos. No final de cada end, apenas a pedra mais próxima do centro do alvo marca o ponto. Se as duas pedras mais próximas forem da mesma equipe, são dois pontos e assim sucessivamente. No fim da partida, somam-se os pontos obtidos

em cada end e vence o time com o maior número de pontos. Em caso de empate, ocorre o extra end, para determinar o vencedor. Por outro lado, quando a diferença no placar é muito grande, os jogadores da equipe que estiverem perdendo podem solicitar o encerramento da partida, concedendo a vitória ao adversário. Para alterar a velocidade e a trajetória da pedra, os jogadores utilizam vassouras, para diminuir o atrito da

divulgação/cbdg

pista com o granito da pedra. Nenhum jogador pode tocar a pedra que estiver em jogo. Durante o lançamento, o jogador precisa soltar a pedra antes da linha vermelha demarcada na pista, conhecida como hog line. O curling esteve presente na primeira edição dos Jogos Olímpicos de Inverno em Chamonix, na França, em 1924. Contudo, só retornou ao programa olímpico em 1998, na edição de Nagano, no Japão. A categoria Duplas Mistas vai estrear em 2018 nos Jogos Olímpicos.

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