Jornal de Toronto Ô frio desgraçado! Quando a gente Da lembrança dos pássaros p. 6
pensa que já acostumou com o clima daqui, tem sempre um diazinho mais “forte” pra nos lembrar que não. Mas está quase acabando e depois seremos (re)lembrados de como é bom viver nesse país. p. 2
edição # 8 | ano # 1 | fevereiro 2018 | www.jornaldetoronto.ca | info@jornaldetoronto.ca | ISSN 2560-7855
Como fica a cabeça na construção ou na faxina? p. 2
José Francisco Schuster
Um viva ao vinho! Marcio Petroni
Vinho: como definir este companheiro ideal, esse mágico elixir de vitalidade e apaziguamento que tem estado presente em minhas lembranças desde a infância – protagonizando o memorável sagu e a refrescante sangria (vinho, açúcar e água)? Posteriormente, este amigo não tardaria em se impor como um colaborador do bem-estar e amplificador do prazer das reuniões de amigos, familiares e também como vitalizador das refeições diárias. Tenho convivido com o mercado canadense de vinhos desde 2014 e posso dizer que é possível encontrar na LCBO e SAC vinhos na faixa de $15 a $30 dólares de altíssima qualidade, com ótimo custo-benefício. p. 8
anna waldl
Agora OHIP+ cobre o custo Uma técnica muito de medicamentos para estranha: Falar com você menores de 25 anos mesmo p. 3 A partir de 1º de janeiro de 2018, mais de 4400 medicamentos passaram a ser gratuitos para qualquer pessoa com idade até 24 anos. Ninguém precisa se inscrever; basta levar à farmácia o seu número do cartão de saúde e uma receita médica válida. Quem se qualifica? Todos os bebês, crianças e jovens com idade igual ou inferior a 24 anos que tenham cobertura do OHIP são cobertos automaticamente pelo chamado OHIP+: Children and Youth Pharmacare. Ao completar 25 anos, a cobertura do OHIP+ terminará; no entanto, o governo possui outros programas de ajuda para custear medicamentos, e você poderá verificar se qualifica para algum desses programas. Quais os medicamentos cobertos pelo programa?
OHIP+ cobre completamente o custo dos mais de 4400 medicamentos disponíveis através do chamado Ontario Drug Benefit program, que inclui: • antibióticos para tratar infecções; • inaladores para asma;
• insulinas e medicamentos para diabéticos; • autoinjetores de epinefrina; • medicamentos para tratar artrite, epilepsia e outras doenças crônicas; • medicamentos para tratar condições de saúde mental (por exemplo, antidepressivos); • drogas para déficit de atenção e hiperatividade; • drogas para tratar alguns tipos de câncer de infância e outras condições raras.
Notícias da Baixada ... a Anitta também escuta desaforo, mas no fundo todo mundo adora. Em vista do panorama mundial, acho que ela merece o sucesso que faz, pois não perde em nada pras rebolatrizes americanas. O problema foi quando ouvi seu novo sucesso, “Vai Malandra”... p. 7
Relatório investiga abuso de direitos humanos ligado à mineradora canadense no Brasil p. 5
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Editorial Ô frio desgraçado! Quando a gente pensa que já acostumou com o clima daqui, tem sempre um diazinho mais “forte” pra nos lembrar que não. Mas está quase acabando e depois seremos (re) lembrados de como é bom viver nesse país. Essa edição, de alguma forma, fala dessas compensações da vida, de como precisamos relativizar as coisas, rever nossos valores, e saber ver as coisas boas que temos no nosso dia a dia no Canadá. Das ruins, só nos tornam mais fortes, mais maduros e mais conscientes de nossas escolhas. Por conta do grande número de leitores, o Jornal de Toronto tem servido de ponte entre aqueles que estão recém-chegados – e sofrem nos primeiros anos com os prazeres e angústias da imigração – e aqueles que já vivem aqui há muitos anos, passaram por isso, e sabem que no fim dá tudo certo. A vida no Brasil também não era fácil, e não seria em qualquer outro lugar. O inverno nos ensina duas coisas: que conseguimos viver em qualquer circunstância, e que depois teremos nossas boas compensações! ADR Editor-chefe: Alexandre Dias Ramos Gerente de marketing: Sonia Cintra Gerente de mídia social: Luiza Sobral Revisor: Eduardo Castanhos Fotógrafos: Anna Waldl, Daniela Fichino & Engin Akyurt Colunistas: Alexandre Rocha, Cristiano de Oliveira, Emma Sheppard & José Francisco Schuster Colaboradores dessa edição: André de Miranda, Dalmir Lott & Marcio Petroni Agradecimento especial para: Alessandra Vinhas, Daniela Fichino & Leandro Calado Agências, fontes e parceiros: Above Ground, Consulado-Geral do Brasil em Vancouver, Federação Quilombola do Estado de Minas Gerais, Justiça Global, Kidaha.com, Pixabay Conselho editorial: Nilson Peixoto, Rosana Entler & Sonia Cintra © Jornal de Toronto. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução de qualquer trecho desta edição sem a prévia autorização do jornal. O Jornal de Toronto não é responsável pelas opiniões e conteúdos dos anúncios publicados. Circulação: O Jornal de Toronto é mensal e distribuído em Toronto, GTA, London, Montreal, Ottawa, Calgary e Vancouver. Contato: info@jornaldetoronto.ca Siga nossa página no Facebook, Twitter, e matérias complementares, durante todo o mês, em nosso site: www.jornaldetoronto.ca Edição #8, ano #1, fevereiro 2018 ISSN 2560-7855
Cotidiano
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Como fica a cabeça na construção ou na faxina? José Francisco Schuster
A propaganda no Brasil muitas vezes é de que o Canadá seria mais ou menos como o Velho Oeste, uma terra abandonada pronta para ser desbravada e para oferecer muito lucro aos aventureiros. A ilusão de ser um bandeirante do século 21 cai em uma simples consulta à Wikipédia, onde está uma foto de Dom Pedro II, que já em 1876 fazia a visitinha básica às Cataratas de Niágara. Segundo, é preciso dar-se conta que se está escolhendo o Canadá para viver – e não as Botas-do-Judas – justamente porque é um país do G7, cheio de excelentes universidades despejando profissionais. Não é, portanto, terra de cego, o que significa que, mesmo chegando com dois olhos, formação superior e experiência, muitos acabam trabalhando na construção ou na faxina, como única opção. Mas o que significa isso para a cabeça do brasileiro? Perguntamos a três profissionais da área da Psicologia. Tania Maria Freire Aloísio afirmou que “profissionais verdadeiramente vocacionados à sua profissão, ou previamente bem remunerados, podem ter problemas psicológicos, como depressão e distúrbios de ansiedade, por contínuos pensamentos de fracasso e consequente baixa autoestima, por não se sentirem valorizados fazendo algo abaixo de seu potencial intelectual”. Observou, porém, que outros podem fazer deste momento um desafio a ser vencido, o tempo para ganharem algum dinheiro para investirem em um College e assim terem um novo futuro profissional. “Com objetivo planejado, essas pessoas terão uma resiliência maior para
enfrentar dificuldades”, afirmou. Já Valda Lopo considera que um trabalho na construção ou na faxina pode ser visto até como um sucesso para alguns. “Pode ser alguém que foi forçado pela família a estudar para advogado e que nestas profissões encontrará sua independência financeira”, considera. Para ela, depende da personalidade, expectativa e motivo pelo qual o imigrante está vindo para o Canadá. “Sem falar inglês, é até positivo buscar estas profissões. É questionável que se veja sempre como negativo, e ainda pode ser uma fase passageira”, afirmou Valda. Na opinião de Teresa Ferreira, por sua vez, a chegada ao Canadá inclui um choque cultural com a nova língua, nova moradia, novo emprego, novos amigos, novo clima e a distância dos familiares. “É bem possível que o imigrante fique desapontado, devido às oportunidades limitadas. As exigências são muito rigorosas para os próprios residentes”, afirma. Assim, ao entrar em um campo de trabalho diferente, podem haver sentimentos de angústia, de estar sem rumo, de sentir que merece algo melhor, de raiva, incapacidade, vulnerabilidade e outros. Ela adverte que normalmente o imigrante tem necessidade de desabafar ou aliviar estes sentimentos e podem, em vez de procurar ajuda psicológica, buscar meios de escape práticos que propiciam alívio temporário “com efeitos devastadores”, como o álcool. Para Teresa, um imigrante de poucas posses, entretanto, terá menos dificuldades, por não criar expectativas tão ambiciosas. “A ambição e as expectativas irreais que
se cria antes de imigrar são os fundamentos da infelicidade do imigrante, principalmente no primeiro ano”, afirmou. Segundo ela, as pessoas quando imigram para o Canadá não devem criar expectativas, uma vez que vêm de cul-
turas completamente diferentes e as coisas não funcionam conforme imaginam. “A mudança para o Canadá implica uma mentalidade aberta de adaptação”, concluiu.
Com mais de 30 anos de experiência como jornalista, José Francisco Schuster atuou em grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e TV no Brasil. Foi, durante 8 anos, âncora do programa Fala Brasil, inicialmente pela rádio Voces Latinas e posteriormente pela Camões Rádio.
Novo cônsul em Vancouver Silvio José Albuquerque e Silva assumiu recentemente a função de cônsul no Consulado-Geral do Brasil em Vancouver. Nascido em Niterói, o embaixador tem um longo histórico de trabalho na área de direitos humanos, tendo sido, em junho de 2017, eleito para um mandato de quatro anos como membro do Comitê das Nações Unidas para a Eliminação da Discriminação Racial.
Além dos serviços consulares tradicionais de apoio e proteção de brasileiros, o novo cônsul pretende dar também importância à promoção dos direitos civis e sociais (entre os quais o direito à saúde, previdência e educação), nos limites previstos pela Convenção de Viena sobre Relações Consulares e nos acordos bilaterais firmados entre o Brasil e o Canadá. O objeto central é a bus-
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ca do bem-estar e do autodesenvolvimento dos brasileiros que se encontrem na jurisdição do consulado de Vancouver. Segundo nota, o cônsul-geral buscará reforçar as parcerias entre o Brasil e o oeste do Canadá nos campos cultural, turístico, comercial e econômico, buscando estreitar os vínculos bilaterais e oferecer aos cidadãos, empresários e autoridades do oeste do
Canadá uma visão plural, diversa e dinâmica do Brasil e das enormes potencialidades de cooperação entre nossos países. Fortalecer a presença brasileira numa das regiões mais dinâmicas do Canadá e atrair investimentos para o Brasil em áreas relevantes para nossa economia serão objetivos permanentes da atuação do Consulado-Geral.
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Para assistência em português, ligue para Taís Jacques (416) 799.8610 em inglês, para Aria Alavi (647) 781.5284 – ariaalavi85@gmail.com
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Uma técnica muito estranha: Falar com você mesmo Emma Sheppard
Dois meses depois de me mudar para o Brasil, eu me vi morando sozinha e sem trabalho. Eu estava apenas começando a aprender português e a me sentir confortável para conversar com as pessoas, e a única oportunidade que tinha para praticar era quando ia todo dia comprar pão na padaria da rua. Então comecei a usar o único recurso que eu tinha para praticar a nova língua: eu mesma. Enquanto eu cozinhava meu jantar, ou limpava a casa, eu falava comigo mesma em português. Qualquer coisa que eu pensava, dizia em voz alta. E quando saía, narrava na minha cabeça tudo o que eu via, os buracos nas calçadas, as mães com seus filhos, as mangas que caíam das árvores. Ao falar português comigo mesma, pude praticar e me cercar do meu novo idioma, mesmo quando estava sozinha. Além disso, eu estava fazendo algo que, como professora de línguas, eu acredito que seja o fator mais importante na aprendizagem de um novo idioma: eu estava fazendo a língua ser parte de mim. Português era a língua pela qual eu estava vendo o mundo, e então quando eu de fato
kidaha
precisava falar com alguém, me sentia mais confortável. Isso era parte de mim porque eu já estava usando comigo mesma.
E há também outros benefícios com essa técnica: você se ajuda a identificar palavras que você não conhece, e se empenha em descrever as coisas que você vê usando as palavras que não sabe. E, claro, a melhor parte: você sempre vai soar melhor dentro da sua própria
cabeça do que quando é forçado a falar com as outras pessoas. E essa confiança pode te ajudar muito. Tenho sugerido essa prática aos meus alunos há anos, e eles sempre riem da minha cara. Eles devem achar que sou louca, e devem se sentir muito estranhos em
praticar com eles mesmos. Mas então, quando tentam, se dão conta que essa técnica muito es-
tranha funciona. Se você não está despendendo o tempo com inglês como gostaria, se você não se sente seguro em descrever o que vê a sua volta, ou, se você simplesmente gosta da sua própria companhia, tente então falar inglês com você mesmo. Pode parecer estranho, mas funciona.
Emma Sheppard é nova iorquina, mas paraense de coração. É professora de inglês há mais de 10 anos, com mestrado em Pedagogia pela UofT. Atualmente, Emma dá aulas para a comunidade brasileira e angolana, e para todos aqueles que desejam melhorar a sua experiência no Canadá. _ teacheremma123@gmail.com
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Economia
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ETFs: uma maneira fácil de investir e diversificar
Alexandre Rocha Você já ouviu falar em ETF (Exchange Traded Fund)? Os ETFs são fundos que são negociados em Bolsa de Valores e podem representar um ativo, como o ouro, uma carteira de ações ou um índice, como o S&P 500. Na verdade, eles podem representar qualquer ativo. A Evolve Fund Group, por exemplo, é uma empresa financeira canadense que acabou de apresentar um prospecto preliminar para o primeiro ETF de Bitcoin do Canadá. O ETF vai se chamar “BITS” e será uma maneira fácil e rápida de investir indiretamente na criptomoeda. Em breve, em vez de comprar o Bitcoin,
e
você poderá adquirir as cotas do ETF Bits diretamente na Bolsa de Toronto. E quais são as vantagens deste tipo de investimento? São muitas as vantagens de investir por meio de ETFs? A primeira é a liquidez. Os ETFs oferecem liquidez intradiária. Isso quer dizer que você pode aplicar e resgatar o seu dinheiro a qualquer momento. É possível comprar e vender cotas dos ETFs no mercado secundário, como se fosse uma ação. Eles também são flexíveis, já que existe uma oferta variada de fundos que cobrem quase todos os ativos disponíveis no mercado. Possuem custos baixos. Se compararmos com Fundos tradicionais, os ETFs costumam ter uma taxa de administração muito menor. A taxa de administração do iShares Canadian Select Dividend ETF, por exemplo, é de 0,35% ao ano. Sem falar que você estará investindo em uma carteira de ações
fazendo apenas uma transação. Finalmente, eles também podem fazer parte de uma estratégia de diversificação. Em outras palavras, os ETFs permitem a exposição do investidor em todas as ações que integram a carteira do seu índice de referência, reduzindo, assim, o risco de concentração. Agora que você já conhece um pouquinho o mundo
Onde o ouro não reluz justiça global
O ouro é o mineral mais associado à riqueza, vitória à beleza. A história por trás de como esse metal chega a medalhas, joias e alianças, todavia, esconde destruição e envenenamentos, seja da natureza ou de comunidades tradicionais. É isso que revela o relatório “Violação de Direitos – O caso da empresa Kinross em Paracatu”, lançado recentemente pela Justiça Global, que trata da maior mina de ouro do Brasil, pertencente à empresa canadense Kinross, localizada nesta cidade de Minas Gerais. Três comunidades quilombolas foram diretamente afetadas pela expansão do empreendimento, sendo que duas tiveram seu território destruído para o uso do complexo minerário. Segundo relatos de quilombolas, o processo de expulsão envolveu práticas intimidatórias e acordos sem paridade de informações e condições de negociação. A degradação da terra e a poluição das fontes de água era, no entanto, uma realidade mesmo antes da remoção das comunidades de Amaros e Machadinho, e permanece uma violação
constante para São Domingos, única que ainda mantém-se em seu território. As violações de direitos associadas à atividade extrativa na mina Morro do Ouro, em Paracatu, também incluem a perseguição a pessoas que se insurgem e denunciam, a afetação à saúde em decorrência da poluição, a degradação ambiental e completa fragilização das atividades econômicas e modos de vida tradicionais. “Os projetos de mineração estão rotineiramente associados ao desrespeito aos direitos humanos e danos ambientais no Brasil. No caso da mina de Morro do Ouro, as violações se estendem por dezenas de anos e envolvem a mudança do controle de operações entre grandes mineradoras mundiais. O processo de expansão das atividades da mina, sob a responsabilidade da Kinross, é um marco deste processo ininterrupto de degradação social e ambiental, afetando diretamente comunidades tradicionais e seus territórios”, afirma Daniela Fichino, da Justiça Global. O relatório também suscita preocupação com a supervisão am-
dos ETFs, saiba que aqui no Canadá existem muitas opções para você começar a investir. Você não vai ouvir o seu gerente de banco ou o seu consultor falar sobre os ETFs, porque eles não geram muitas comissões. Como já disse, as taxas de administração são baixas e os bancos não têm interesse em divulgar este produto. Sendo assim, eu vou apresentar dois ETFs que estão entre os mais negociados do Canadá. Quero deixar claro que não é uma recomendação. Os dois exemplos têm o intuito de ajudar você a entender como este tipo de produto pode ser interessante para a sua carteira de investimentos. O primeiro é o iShares S&P/TSX 60 Index ETF (TSE:XIU) que possui taxa de administração de 0,35%
e já rendeu 12,03% no último ano. Este ETF replica o índice S&P/TSX 60, que é constituído pelas 60 maiores empresas em valor de mercado e liquidez pertencentes ao índice S&P. O segundo é o iShares Core S&P 500 Index ETF (CAD-Hedged) que possui taxa de 0,22% e já rendeu 22,44% em 1 ano. Este ETF replica o índice S&P 500 integralmente e é muito indicado para investidores que gostam de uma estratégia diversificada e de longo prazo, investindo indiretamente nas 500 empresas que compõem o índice. Baratos, simples para a diversificação e acessíveis a todos. Estes são os ETFs, um meio inteligente e fácil de investir, pagando menos corretagem. Comece a investir com um pequeno
capital e você se beneficiará dos chamados ganhos de diversificação com baixo risco. À tantôt.
Alexandre Rocha é trader nos mercados futuros do Brasil, EUA e consultor financeiro independente. Em 2014, deixou o Banco do Brasil para fundar a consultoria Aletinvest. Se formou em economia pela UCAM-RJ e é mestre em Études Internationales pela Université de Montréal. Atualmente mora em Montreal, mas é apaixonado por Toronto. _ www.aletinvest.com
Relatório mostra violações causadas pela maior mina do Brasil
daniela fichino
biental da mina, que está localizada a menos de 500 metros de centenas de casas na cidade de Paracatu. Esta proximidade com o núcleo urbano também levanta preocupações quanto ao depósito de rejeitos de mineração nas duas barragens do complexo. Ainda impactados com o cenário de destruição promovido
pela Samarco e Vale a partir do rompimento da barragem de rejeitos do Fundão, muitos moradores sinalizam preocupação com a possibilidade de um desastre semelhante na cidade. O relatório foi produzido pela Justiça Global em parceria com a Federação Quilombola do Estado de Minas Gerais N’GOLO,
na versão em português, e com a organização canadense Above Ground, na versão em inglês. Entre as recomendações constantes no relatório estão a suspensão das operações da Kinross no Morro do Ouro até que os direitos à terra dos quilombolas sejam protegidos e a adoção pelo Canadá de um quadro legal
para identificar, prevenir e mitigar as violações nas atividades comerciais canadenses no exterior, entre outros.
Você poderá ler os relatórios pelos links da matéria online, no site do Jornal de Toronto: www.jornaldetoronto.ca
Cultura
Da lembrança dos pássaros Dalmir Lott é músico em Belo Horizonte Eu e Cristine descobrimos, ao sair de Belo Horizonte em direção à BR-381, em viagem para Guanhães, um restaurante que, por uns tempos, considerei servir as melhores sobremesas por mim provadas. Tudo à moda da roça e nossos costumes. A quantidade era enorme, impossível de provar tudo. Um colorido formidável! A comida ótima, muito bem confeccionada, mineira, servida em fogão à lenha em muitas panelas de pedra. O garçom simpático, trajado conforme manda a boa escola de hotelaria, nos passando confiança profissional. As instalações sanitárias bem higienizadas. E havia algo em especial que me comprazia durante a refeição. O pardais e canarinhos que voavam por dentro do restaurante, pousando aqui e acolá, muito próximos de nós, numa intimidade só vista, a espera de um grãozinho de comida que sobrasse dos pratos. Um e outro bem-te-vi também me recordo. Um espetáculo ao vivo, de voos rasantes e delicados pousos nas cadeiras vagas, que eles transformavam em poleiros os encostos. De propósito eu jogava um arrozinho ao chão só para vê-los bicar. E cá vinham eles, a meio metro de mim. A música caipira de raiz tocada nas caixas de som enchia o ambiente decorado à moda das fazendas antigas. Ao fim da refeição, já acertada a conta, dirigi-me às proximidades da cozinha. Lá dentro, vi duas senhoras de uns 60 anos, negras, lindas, paramentadas de cima a baixo, óculos no nariz, com aquele ar de quem traz na expressão a oralidade de séculos da cultura africana. Fiz sinal de presença e elogiei a comida e sobremesa. Devolveram-me dois grandes sorrisos e votos de boa viagem. E lá fomos nós pela rodovia perigosa, levando esta boa recordação. Algum tempo passou. E noutra viagem, neste mesmo trajeto, propomo-nos a almoçar no tal estabelecimento, para “matar o bicho”, matar a saudade do bom atendimento e qualidade da comida. E claro, ver os passarinhos. Aquelas formidáveis criaturinhas que, graciosamente, nos ofereciam um espetáculo de pureza e simplicidade. Eis que no momento em que entramos com o carro no estacionamento privado do restaurante, notei certo desleixo. Vi peças de construção civil jogadas de qualquer jeito, um monte de areia a espera de alguém peneirar ou mesmo dali retirar. Ao entrar-
andré de miranda
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mos no restaurante, ouvi algo estranho. Tocava uma música eletrônica! Oito compassos que se repetiam num looping interminável, que de vez em quando era quebrado por uma voz feminina gritando “I got you”. Senti falta da toada caipira. Olhei ao fundo, e lá estava o fogão à lenha e as panelas. Menos mau. Sentamo-nos. Passei os olhos ao redor e não reconheci aqueles funcionários. Eram outros. E sem as fardas de trabalho. Serviam à civil, um deles com uma camiseta do Chicago Bulls, nos pés tênis de montanhismo. Bem, bola pra frente. Estávamos ali para almoçar. Pedi uma cerveja sem álcool e, enquanto bebia, constatei que os passarinhos estavam presentes, na mesma brincadeira de sempre. Sorri. Ali estavam eles!, fiéis como da outra vez. Ergui-me da cadeira e resolvi dar uma olhada nas panelas. Antes fui lavar as mãos no lavatório e constatei que os banheiros precisavam ser limpos. Voltei para a sala. Dei uma volta ao redor do fogão para conferir o que havia ao lume. Quando o contornei, vi a cozinha. Aquelas senhoras bonitas de antes não estavam mais lá. Eram outras pessoas. Servi meu prato daquelas coisinhas mineiras que gosto, aquelas que os médicos – estes nazistas do paladar – proíbem. Tudo light, eu juro, rsrsrsrs. Quando sentei-me à mesa e provei do que estava no prato, o sentido denunciou que não era aquela refeição de antes. Muito abaixo da média. Bem, depois que lutei com faca e garfo, como um El Cid na arena romana, recordei-me das inúmeras sobremesas. Aquelas tão por mim elogiadas e torci para que ainda tivessem mantido a excelência da qualidade. Isso salvaria a decepção até aqui. Quando cheguei ao bufê referido... Meu Deus! Duas qualidades delas apenas à disposição, sendo uma queijo com goiabada, o que não terá exigido qualquer mágica culinária que eu esperava. A outra era algo frio, parecido com as hóstias das igrejas católicas, só que açucaradas. Na hora de pagar, Cristine, que é craque em matemática, ouviu o gerente calculando nosso consumo numa máquina, a dizer o total da conta. Antes de passarmos o cartão de débito, ela solicita, já desconfiada de algo: – Me faz esta conta novamente por itens, com os preços de cada. Me fala em voz alta, por favor. – Ah, você tomou suco de uva! Eu cobrei de laranja. É por isso que está dando mais. Desculpe – respondendo num tom maquinal, automático e monótono. Ué?! Quem falou em suco? Quem disse que a conta estava a mais? Ficou a impressão de que ele tinha a justificativa escondida na manga. E de suco em suco, o gerente enche o papo. Pois bem. Fim do último ato. Mudaram a gerência daquele restaurante e o drama assim finaliza: o estacionamento com restos de obra, a música irritante, a comida sofrível, as sobremesas pífias, o banheiro sujo, o gerente desonesto. Mas uma coisa se salvara. Os passarinhos! Estes, até aqui, não traíram as boas lembranças de antes. E dei graças a eles, lindas criaturinhas. Com a conta paga, dirigimo-nos à porta de saída, na certeza de que ali nunca mais retornaríamos, e levaríamos somente a lembrança dos pássaros. Ao meio do corredor, ainda dentro da casa, ouço Cristine me dizer: – Nossa! Sua camisa branca! – O que foi? – Um passarinho fez cocô nela! Bem nas costas.
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Notícias da Baixada: o sistemático no Brasil Ano XIV, Parte 1 Cristiano de Oliveira Saudações, ursos polares. A cada visita anual ao Brasil, escrevo essa coluna intitulada “Notícias da Baixada”. Quando eu trabalhava com legendagem, era uma beleza, pois podia trabalhar de casa, daí ia pro Brasil no Natal e voltava só depois do Carnaval. A viagem rendia umas três colunas recheadas de informações importantes sobre o Brasil, inclusive o preço de bens de consumo de primeira necessidade, como requeijão, X-Tudo, Amandita, drops Chu-Cola, mandioca frita e cerveja no bar e no supermercado, para que o Fiscal do Sarney que vive dentro de nós pudesse crescer forte e sadio. Mas o tempo passou e eu fui trabalhar em empresa sistemática. Férias controladas, não pode trabalhar de casa, nem de pijama, camisa do Galo, chinelo Rider etc. Assim, hoje meu tempo no Brasil é curto demais pra entrar em roubadas que geram histórias boas. Mas eu tento; portanto, vamos lá, é mixaria, mas é de coração.
Ao menos em Belo Horizonte, a palavra do ano é a insuportável “resenha”. Quando a gente se juntava pra falar bobagem lá no começo dos 90, chamávamos aquilo de “resenha esportiva”, pois no rádio esportivo usavam esse termo até então obscuro pra nós. Hoje em dia, um evento com 700 malucos fritando numa boate já é chamado de “resenha”! Ninguém nem escuta o que o outro tá falando ali dentro; como pode ser resenha? Com 2,5 semanas de Brasil, eu acabei incluído em três grupos de WhatsApp que tinham “resenha” no nome. Mas tenho que achar bom: do jeito que o brasileiro anda apaixonado por gringuices, era perigoso ser um nome em inglês. Imagina ser convidado no Brasil para um Gué Tchuguéda? Igual St. Patrick’s Day em BH: o único irlandês que a cidade já viu é um disco do U2, e ainda assim deve ter sido prensado pela Gravadora Copacabana Chantecler. O universo musical do brasileiro no momento gira em torno
de duas figuras que não deveriam gerar girança nenhuma: Anitta e Pablo Vittar. Todo mundo reclama de Pablo Vittar. Ele canta bem? Não. Mas de cantor ruim o Brasil tá cheio e ninguém fala nada! Só no sertanejo você tem voz do tipo “Alvin and the Chifremunks”, “Belchior com cólica”... Mas só sobra pro Pablo Vittar. Já a Anitta também escuta desaforo, mas no fundo todo mundo adora.
Em vista do panorama mundial, acho que ela merece o sucesso que faz, pois não perde em nada pras rebolatrizes americanas. O problema foi quando ouvi seu novo sucesso, Vai Malandra. Aí
minha cabeça aberta e coração jovem foram tragados pelas trevas e eu virei um véio chato outra vez. Ah, me ajuda: não é por causa da tosquice do clipe, ou da sacanagem... O que mata o cristão é uma música que rima “bumbum” com “tum turum”. Ôu, pede pra morrer! Cê não é capaz de rimar com um pobre dum bumbum? Larga ele então, cê não merece bumbum nenhum! Aí ó: só enquanto eu esculachava o compositor, já rimei com o bumbum duas vezes, irmão! E agora eu tô nervoso! Na próxima edição tem mais. A parte 2 das “Notícias da Baixada” vem aí, e quem sentar no chão o Roomba leva. Adeus, cinco letras que choram.
Cristiano de Oliveira é mineiro, atleticano de passar mal, formado em Ciência da Computação no Brasil e pós-graduado em Marketing Management no Canadá. Foi colunista do jornal Brasil News por 12 anos. É um grande cronista do samba e das letras.
Saúde&Bem-Estar
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Um viva ao vinho! Marcio Petroni é enófilo Vinho: como definir este companheiro ideal, esse mágico elixir de vitalidade e apaziguamento que tem estado presente em minhas lembranças desde a infância – protagonizando o memorável sagu e a refrescante sangria (vinho, açúcar e água)? Posteriormente, este amigo não tardaria em se impor como um colaborador do bem-estar e amplificador do prazer das reuniões de amigos, familiares e também como vitalizador das refeições diárias. Tenho convivido com o mercado canadense de vinhos desde 2014, na condição de consumidor, e posso dizer que é possível encontrar na LCBO e SAC vinhos na faixa de $15 a $30 dólares de altíssima qualidade, com ótimo custo-benefício. Ótimos exemplares canadenses, americanos
(Zinfandel, Cabernet Sauvignon e Chardonnay), neozelandeses (Pinot Noir e Sauvignon Blanc), australianos (Shiraz e Cabernet Sauvignon), sul africanos (Pinotage e Cabernet Sauvignon), chilenos (Cabernet Sauvignon e Carménère), argentinos (Malbec e Cabernet Sauvignon), franceses, italianos, espanhóis e portugueses, entre outros; que fazem parte do firmamento luminoso das opções. Dedico uma atenção especial aos generosos e deliciosamente inigualáveis ice wines canadenses, e recomendo-os. O vinho pode ser uma “celebridade” extremamente sofisticada e complexa, feito com uma demanda de acuidades e custos bastante significativos; porém, o ato de degustá-lo,
sem desprezar toda a cultura envolvida e mesmo as especificidades sensoriais, pode ser um ato simples de ingestão de um dos melhores alimentos e agentes vitamínicos da história – e ter em mente que estamos bebendo meses, anos ou mesmo décadas de histórico geográfico engarrafado pode ser bem instigante. Cada vinho tem sua alma própria que, ao ser liberada, continuará sua trajetória expansiva em nossos afetos e vitalidade, despertando sentimentos e qualidades muitas vezes inusitados. E com grande alegria, menciono: viva o vinho em nossas vidas! Saúde!
Dica de tintos
engin akyurt
Porcupine Ridge (Syrah) - Austrália Ravenswood (Zinfandel Vieilles Vignes) - E.U.A. Rodney Strong State (Pinot Noir) - E.U.A. Aquinas (Pinot Noir) - E.U.A. Pepper Wood Grove (Zinfandel) - E.U.A. Marquês de Riscal Reserva (Rioja) - Espanha Campofiorin Ripasso (Masi - Corvina, Rondinella e Molinara) - Itália Went - Sothern Hills (Cabernet Sauvignon) - E.U.A. Jester Mitolo (Shiraz) - Austrália Carmen Gran Reserva (Cabernet Sauvignon) - Chile Nederburg (Pinotage) - África do Sul Kim Crawford (Pinot Noir) - Nova Zelândia Esporão Reserva (Alicante Bouschet, Aragonez, Trincadeira e Cabernet Sauvignon) - Portugal Tinto da Ânfora (Bacalhoa - Aragonês, Trincadeira, Touriga Nacional e Cabernet Sauvignon) - Portugal