Jornal de Toronto O hábito de Em busca da felicidade poupar Não é fácil co- Existe uma convicção de que para sermos
meçar a poupar. Requer tempo, organização, controle, vontade e criação de novos hábitos. p. 3
mais felizes devemos controlar as nossas emoções e os nossos pensamentos negativos. Esta ideia, ao contrário do que se acredita, tem trazido muito sofrimento. p. 7
O drama dos deportados
Você está de boa quando o telefone toca de repente: “Pegaram o Fulano. Está na prisão da Imigração”. O Canadá deportou 117 mil pessoas entre 2006 e 2014, ou seja, 35 por dia. p. 2
edição # 9 | ano # 1 | março 2018 | www.jornaldetoronto.ca | info@jornaldetoronto.ca | ISSN 2560-7855
Açores… no sul do Brasil
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Praia da Galheta, em Florianópolis.
susie sun
Um futuro Matrix
O que mais será que o futuro nos reserva? p. 5
O primeiro Fórum de Educação Brasil-Canadá O evento abordou formas de ampliar oportunidades para brasileiros estudarem no Canadá e de tornar o Brasil mais conhecido e acessível, sobretudo no que se refere à qualidade, riqueza e diversidade do nosso ambiente acadêmico e universitário. O Fórum discutiu diversas iniciativas de cooperação em curso, explorou possibilidades de aprimorá-las, e reforçou a coordenação entre os governos brasileiro e canadense, universidades e empresas dos dois países. p. 5
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O último desejo Antônio Francisco Pereira Cá embaixo também fico eu, plantando e colhendo, saboreando e agradecendo a sinfonia da vida, pois sei que cada dia é a véspera do desconhecido, ou, na visão mais fatalista do poeta Cassiano Ricardo, “desde o instante em que se nasce já se começa a morrer”. Quantas jabuticabas ainda tenho na bacia, eu não sei. Mas não posso queixar-me: todas são muito saborosas. p. 4
antoine de saint-exupéry
A língua portuguesa na paisagem linguística de Toronto p. 4
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Editorial De alguma maneira, as matérias dessa edição tocam na questão do futuro; por vezes de maneira literal – porque, afinal, teremos um, e ele será bastante diferente do que vemos hoje –, por vezes de maneira simbólica, pelo que esperamos dele. Em todos os casos, a vida nos leva a caminhos desconhecidos, mas não menos surpreendentes. Poucos anos atrás não imaginaríamos estar morando aqui. Criamos nossos laços, aprendemos milhões de coisas, amadurecemos mais rápido do que imaginávamos, e temos ainda décadas e décadas pela frente, que serão igualmente outra aventura. O mês de março é aquele mês que começamos a voltar da hibernação do inverno, e é quando reorganizamos os planos para o ano. Nosso futuro está junto com o de nossos leitores, e tudo tem nos soado muito bem. Muitos têm dito que o Jornal de Toronto veio para reavivar o gosto pela leitura de boas reportagens e mostrar que os brasileiros que estão no Canadá são melhores do que alguns supunham. E de fato são, sem dúvida. No nosso entender, não há leitor débil, e nunca se deve subestimar o conhecimento do público. Nosso jornal é prova e consequência disso.
E se então podemos falar do futuro, podemos dizer que ele será ótimo! ADR
Editor-chefe: Alexandre Dias Ramos Gerente de marketing: Sonia Cintra Gerente de mídia social: Luiza Sobral Revisor: Eduardo Castanhos Fotógrafos: Giovanna Kuan, Steve Buissinne & Susie Sun Colunistas: Alexandre Rocha, Leandro Calado & José Francisco Schuster Colaboradores dessa edição: Ademar Seabra da Cruz Jr., Anabela Rato, Antoine de Saint-Exupéry, Antônio Francisco Pereira, Elizabeth Schulz, Luiza Sobral & Manuela Marujo
Cotidiano O dra
pessoas entre 2006 e 2014, ou seja, 35 por dia, inclusive para países em conflito.
Achar um indocumentado, mesmo que mantenha uma vida reclusa, não é difícil. Basta, por exemplo, uma infração de trânsito qualquer (não importa que não seja o motorista do veículo, a polícia checa todos os passageiros), uma batida da Imigração em locais de trabalho ou uma denúncia. Indocumentado não pode ter inimizades. Não pode nem mesmo ser mais firme com o patrão que não quer lhe pagar o que lhe deve. Além de não haver onde o trabalhador se queixar, neste caso (o patrão pode se vingar). O
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Os principais países
José Francisco Schuster Você está de boa quando o telefone toca de repente: “Pegaram o Fulano. Está na prisão da Imigração”. Você gela – ainda mais – de cima a baixo. Mais um que acreditou que o Canadá é igual aos Estados Unidos pré-Trump, onde a Imigração fechava um olho para os indocumentados. Contudo, como o Canadá tem muito mais possibilidades de legalização de um imigrante do que no vizinho – e uma população sete vezes menor para a Imigração controlar –, é muito diferente. O Canadá deportou 117 mil
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de origem deportados pelo Canadá
charme brasileiro também joga contra: uma canadense denunciou um belo brasileiro que não aceitou ir para a cama com ela. E, vejam só, um marido de mentirinha foi à loucura quando flagrou a brasileira com o namorado de verdade. Ciúmes é fatal. Em Toronto, a prisão da Imigração fica em um discreto prédio na Rexdale Boulevard. Depois da identificação do visitante, se entra em um ambiente de filme – no mau sentido. Cabines onde visitante e preso ficam separados por um vidro.
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China ............ 2066 Índia .............. 1029 eu sou apenas o visitante, que vai levar uma palavra de conforto.
A prisão dura em média pouco menos de uma semana, durante a qual há um julgamento de cartas marcadas – como os de certos juízes brasileiros –, onde o preso aparece só em vídeo para um tribunal em outro lugar. Aí, só resta a um amigo a dolorosa tarefa de preparar a mala do preso, que vai da prisão direto para o aeroporto, sem sequer passar em casa uma última vez. O que não couber na mala, fica para trás. É caro demais mandar pelo
os de
Mãos se tocam pelo vidro, abraços são impossíveis. Lágrimas rolam dos dois lados. A conversa é por um telefoninho, naturalmente grampeado. Entre amenidades, como as que se fala em velório, curiosamente muitas vezes se repete uma em que o preso diz “quebrou a calefação aqui, tenho passado muito frio”. Por trás do preso que se visita passam famílias inteiras rumo a outras cabines, inclusive com crianças pequenas, para desespero dos avós visitantes. Já fiz várias dessas visitas e sempre saio arrasado. Dói demais – e isso que
por ta
correio, não vale a pena. Assim, em uma mísera malinha, termina o sonho mal planejado do Canadá. Como diz meu colega Cristiano de Oliveira, “adeus, cinco letras que choram”.
E.U.A. .............. 977 Nigéria ............ 905 Haiti ................ 742 Paquistão ........ 605 México ............. 543 Somália ........... 422 Cuba ................ 354 Jamaica ........... 262 Fonte: Canada Border Services Agency
dos
Com mais de 30 anos de experiência como jornalista, José Francisco Schuster atuou em grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e TV no Brasil. Foi, durante 8 anos, âncora do programa Fala Brasil, inicialmente pela rádio Voces Latinas e posteriormente pela Camões Rádio.
Agradecimento especial para: Letícia Tórgo Agências, fontes e parceiros: BrazilCanada Chamber of Commerce, Canada Border Services Agency, Consulado-Geral do Brasil em Toronto, Department of Spanish and Portuguese UofT, Google, Virgin Hyperloop One, Pixabay Conselho editorial: Nilson Peixoto, Rosana Entler & Sonia Cintra © Jornal de Toronto. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução de qualquer trecho desta edição sem a prévia autorização do jornal. O Jornal de Toronto não é responsável pelas opiniões e conteúdos dos anúncios publicados. Circulação: O Jornal de Toronto é mensal e distribuído em Toronto, GTA, London, Montreal, Ottawa, Calgary e Vancouver. Contato: info@jornaldetoronto.ca Siga nossa página no Facebook, Twitter, e matérias complementares, durante todo o mês, em nosso site: www.jornaldetoronto.ca Edição #9, ano #1, março 2018 ISSN 2560-7855
steve buissinne
Economia
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O hábito de poupar
Alexandre Rocha Eu sei que não é fácil começar a poupar. Requer tempo, organização, controle, vontade, mudança de crenças e criação de novos hábitos. Neste mundo rápido e líquido, tudo é para ontem! Quando se fala em poupar, há um conflito de escolha entre o imediato e o futuro. Um dos meus economistas preferidos, Eduardo Gianetti, trata exatamente deste tema em seu livro O Valor do Amanhã. Para Gianetti, “a vida é breve, os dias se devoram e nossas capacidades são ilimitadas. A cada passo da jornada, com maior ou menor ciência e grau de deliberação, escolhas têm de ser feitas. O que valeria a pena escolher – colocar mais vida em nossos anos ou (quiçá) mais anos em nossas vidas? (...) Até que ponto vale a pena subordinar o presente ao futuro ou vice-versa? (...) Juros são o prêmio da espera na ponta
credora e o preço da impaciência na ponta devedora”. O fato é que você não precisa entrar nesta eterna luta entre o hoje e o amanhã. Poupar pode e deve se tornar um hábito bem equilibrado. Com atitudes simples, você pode colocar em prática e incorporar esse novo hábito sem ter aquela sensação de privação do presente. Inicie esta mudança com disciplina e deixe o tempo fazer o resto. Vamos começar a criar o hábito de poupar?
Saiba exatamente o quanto ganha (bruto e líquido). Divida as suas despesas em duas categorias: recorrentes e não recorrentes. Sobra ou falta dinheiro? Tenha sempre este número com você.
1) Investimentos automáticos
E aí, sobrou dindin? Depois de passar pelos três pontos anteriores e no final do mês não sobrar nada, você terá que reavaliar as suas despesas e os seus custos. Não quer reavaliar? Então vai ter que arrumar uma renda extra. É matemática e a conta é de “mais e menos”:
O banco possui produtos com aplicação e resgate automáticos. Todo o dinheiro que entra na sua conta corrente pode ir diretamente para estes investimentos automáticos. Não deixe dinheiro parado na conta corrente. 2) Despesas e receitas Se você não conhece as suas despesas e receitas, não vai conseguir poupar.
3) Custos Saiba quais são os seus custos e quais os fatores que influenciam a sua vida financeira. Analise e veja se tem um custo de vida alto ou baixo. 4) Separando o valor para poupar
Poupar = Salário – Despesas – Custos
Sobrou? Determine o quanto vai poupar no mês. Exemplo: vou separar men-
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salmente 10% do meu salário para poupar. 5) Investimento com carência Se depois de tudo isso você ainda tiver dificuldades em poupar, experimente aplicar em um investimento com carência. Assim, você não vai mexer no dinheiro.
Com o tempo, e conforme o montante for aumentando e saindo da carência, você vai diversificando os investimentos. Depois que já tiver o hábito de poupar incorporado à sua vida, sugiro que a cada trimestre reavalie os passos. Coloque um alerta no celular. Veja como você
poderá otimizar as despesas e tente aumentar a sua poupança. “Os juros compostos são a oitava maravilha do mundo”, disse uma vez Albert Einstein. Bora poupar? À tantôt.
Alexandre Rocha é trader nos mercados futuros do Brasil, EUA e consultor financeiro independente. Em 2014, deixou o Banco do Brasil para fundar a consultoria Aletinvest. Se formou em economia pela UCAM-RJ e é mestre em Études Internationales pela Université de Montréal. Atualmente mora em Montreal, mas é apaixonado por Toronto. _ www.aletinvest.com
Cultura
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O último desejo Antônio Francisco Pereira é escritor em MG Um cigarro e uma taça de vinho. Em muitos lugares, como na França, essa combinação é quase obrigatória. Faz parte do ritual quando se senta à mesa, sozinho ou acompanhado, em casa ou num ambiente público. Por isso mesmo um flagrante dessa natureza, de tão prosaico, não chamaria a atenção de ninguém. Mas outro dia, quando Carsten Flemming Hansen, de 75 anos, pediu um cigarro e uma taça de vinho – no que foi atendido – a notícia correu o mundo. Onde está a novidade? Aconteceu na Dinamarca e a novidade está em que Carsten era um paciente terminal no Hospital de Aarhus, acometido de um aneurisma na aorta e hemorragia interna. Segundo avaliação médica, a luz do sol não o aqueceria no dia seguinte. Que fez ele então, no seu último momento de lucidez? Pediu às enfermeiras que o conduzissem na cadeira de rodas até a varanda do hospital e lhe servissem... um cigarro e uma taça de vinho branco. Enquanto os consumia assistiu ao último pôr do sol de sua vida. Morreu feliz, disseram as enfermeiras e os próprios familiares.
Um leitor brasileiro mais apressado, que dispensa os detalhes, diria que Carsten morreu como um passarinho e, logo, procuraria outras notícias no jornal. Eu, não. Acho que foi mais do que isso. Foi além disso. O ancião encarou aquele inevitável desfecho com tamanha dignidade, com tal leveza, que, para mim, ele nem chegou a morrer. Só fechou os olhos e disse para a Visitante: estou pronto, pode me levar. Foi uma partida quase poética. Enquanto o sol se punha no horizonte ele voava noutra dimensão – aí sim – como um passarinho. Que ele faça um bom voo, planando livre, leve e solto entre as nuvens de algodão que – imagino – paramentam o caminho do céu. Cá embaixo, os parentes encontrarão consolo nas orações ou nas palavras de Antoine de Saint-Exupéry: “Aqueles que passam por nós, não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”. Cá embaixo também fico eu, plantando e colhendo, saboreando e agradecendo a sinfonia da vida, pois sei que cada dia é a véspera do desconhecido, ou, na visão
mais fatalista do poeta Cassiano Ricardo, “desde o instante em que se nasce já se começa a morrer”. Quantas jabuticabas ainda tenho na bacia, eu não sei. Mas não posso queixar-me: todas são muito saborosas. A de hoje mais do que a de ontem. Quando uma delas está azeda eu jogo fora antes que contamine meu paladar. Ao fim, quando não restar mais nem uma, eu gostaria de ter a mesma chance que teve Carsten Flemming Hansen. Mas, no lugar do cigarro, eu pediria música. As Quatro Estações, de Vivaldi, cairiam bem. Afinal, eu terei vivido todas elas intensamente. Digo, por último, que não é justo envolver minha companheira nessa história sem seu consentimento. Mas, vislumbrando outro cenário, confesso que eu não ficaria triste se, encerrado o tempo regulamentar, o Criador ainda nos desse um bônus de sobrevivência. Como fez com o casal nonagenário de americanos Teresa e Isaac, que fecharam os olhos no Hospital de Highland Park, em Illinois, com apenas 40
minutos de diferença um do outro, de mãos dadas, depois de 69 anos de convivência. Foi um concerto a quatro mãos, tocado em perfeita harmonia no instante derradeiro, mesmo sem a presença do piano. Que ambos descansem em paz! De minha parte, eu vou à estante buscar em Carlos Drummond de Andrade mais uma dose de poesia, porque esse assunto, essa lua e esse conhaque botam a gente comovido como o diabo.
Ilustração do livro O Pequeno Príncipe (1943), de Antoine de Saint-Exupéry.
A língua portuguesa na paisagem linguística de Toronto Anabela Rato é professora assistente de Linguística na UofT
No âmbito da disciplina de Língua Portuguesa e Sociedade, considerou-se importante colocar aos alunos do programa de estudos lusófonos, da Universidade de Toronto, o desafio de descrever e refletir sobre a relevância da língua portuguesa em Toronto. Afinal, trata-se de uma das cidades mais multiculturais e multilíngues do mundo. Daí que seja essencial não só estudar a importância da língua portuguesa na construção do espaço público em Toronto, como também compreender as mudanças que se observam na sua paisagem linguística ou, em outras palavras, as alterações que vão surgindo,
giovanna kuan
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o seu espaço.
resultantes do contato entre línguas, culturas e comunidades. Dentre os resultados deste trabalho, destacamos o fato de, atualmente, a presença do português não estar circunscrita à área chamada de Little Portugal, estendendo-se a outras áreas da cidade, como por exemplo a de Weston-Pellam Park. Torna-se evidente a presença da língua portuguesa em estabelecimentos comerciais, instituições financeiras, consultórios e associações culturais e desportivas. No entanto, não nos deparamos apenas com nomes de estabelecimentos em português, como também com informação escrita nas suas vitrines, publicidade e cartazes alusivos a eventos culturais das comunidades lusófonas. Sinalização pública é visível, por exemplo, na Dundas Street West, identificando a “Rua Açores”. Por outro lado, de caráter temporário, encontramos, ainda, disper-
sos pelas ruas da zona oeste de Toronto, grafites com palavras ou frases escritas na nossa língua. E podemos ver em vários estabelecimentos as bandeiras nacionais dos países lusófonos, imagens de símbolos e ícones culturais e referências a topônimos que apelam a uma identidade com as culturas lusófonas. Este conjunto de elementos gerou observações significativas dos nossos alunos: “Ter visto a bandeira do Brasil e a palavra ‘Lisboa’ me fez sentir como se estivesse em casa; Little Portugal parece com um pedacinho de Portugal ou do Brasil. E não é possível caminharmos por estes espaços urbanos sem reparar na língua portuguesa”, comentou um deles. A presença expressiva do português nestes espaços públicos dá, desta forma, uma cor vibrante e distinta à paisagem linguística de Toronto.
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Educação para a liberdade e para a prosperidade O primeiro Fórum de Educação Brasil-Canadá Ademar Seabra da Cruz Jr. é Cônsul-Geral Adjunto em Toronto
A Brazil-Canada Chamber of Commerce (BCCC), com o apoio do Consulado-Geral do Brasil em Toronto, organizou, em 23 de fevereiro passado, no REAL Institute da Universidade Ryerson, o I Fórum de Educação Brasil-Canadá, voltado para a cooperação e o intercâmbio educacional, com ênfase no aprendizado do português, do inglês e francês, nos níveis de graduação e de pesquisa acadêmica. O evento abordou formas de ampliar oportunidades para brasileiros estudarem no Canadá e de tornar o Brasil, para acadêmicos e estudantes canadenses, mais conhecido e acessível, sobretudo no que se refere à qualidade, riqueza e diversidade do nosso ambiente acadêmico e universitário – buscando ainda disseminar o aprendizado do português no Canadá. O Fórum discutiu diversas iniciativas de cooperação em curso, explorou possibilidades de aprimorá-las, e reforçou a coordenação entre os governos brasileiro e canadense, universidades e empresas dos dois países, com vistas à forma-
ção e qualificação de estudantes e pesquisadores. Embora sempre se fale do imperativo e da premência de se prover educação de qualidade para todos – especialmente no caso do Brasil, onde são conhecidas as deficiências nesse campo –, para muitos não está claro o seu papel inquestionável para o desenvolvimento econômico e o bem-estar do indivíduo. A educação, e o domínio de idiomas em particular (sobretudo o nosso próprio), consistem em habilidades que definem e conferem identidade ao indivíduo e ao povo ao qual pertence. A identidade do indivíduo pode ser considerada autêntica somente na medida em que formos capazes de fazer escolhas, mais e melhor informadas. Para termos condições de fazer escolhas, por sua vez, temos de dispor de diversas opções na vida, sejam profissionais, intelectuais, espirituais, políticas, afetivas, estéticas, econômicas e civilizacionais. Apenas a educação e o aprendizado podem gerar e expandir tais opções.
O intercâmbio educacional e acadêmico Brasil-Canadá constitui verdadeiro movimento criador de opções, de promoção e de fortalecimento da própria liberdade, como valor universal e indissociável da dignidade humana. Os grandes contingentes de brasileiros que vêm para o Canadá são atraídos pela qualidade das instituições de ensino e de pesquisa deste país e pelas oportunidades geradas em termos de colocação profissional e de imersão numa cultura e num sistema político-
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Uma imagem vale mais que mil palavras. Vá dizer isso com uma imagem. Millôr Fernandes Jornalista e cartunista
-social que, se guardam muitas semelhanças com o Brasil, apresentam, por outro lado, evidentes diferenças – como, no caso canadense, uma bem articulada aproximação entre as demandas do
Parte dos participantes do I Fórum de Educação Brasil-Canadá, no REAL Institute, na Ryerson University.
desenvolvimento econômico e a oferta de mão-de-obra qualificada, pelas universidades e centros de ensino profissionalizantes do país. Millôr Fernandes objetou que “uma imagem vale mais que mil palavras. Vá dizer isso com uma imagem”. Tal aforismo preconiza a importância crucial da palavra, do domínio dos idiomas e da educação como o melhor – e talvez o único – caminho para a ampliação do leque de opções e de oportunidades para a vida, para o desenvolvimento, para a prosperidade e para a própria liberdade. O I Fórum de Educação representou uma oportuna e superlativa ocasião de promover e difundir esses valores, nas relações culturais, educacionais, acadêmicas e diplomáticas entre o Brasil e o Canadá.
bccc
Tecnologia Local de construção de teste do Hyperloop, nos EUA (esquerda), com o tubo e o veículo de transporte (acima).
Carros auto-dirigíveis
Um futuro Matrix Luiza Sobral é jornalista
Em um piscar de olhos, passaram os dois primeiros meses de 2018. Para alguns, a virada do milênio parece que foi ontem. Porém, os bebês do ano 2000 esse ano já completam a maioridade. Difícil de acreditar que adultos com mais de 30 anos lembram de um mundo sem internet ou smartphone. O que mais será que o futuro nos reserva? Hoje, já vemos entregas serem feitas por drones, carros elétricos, e também já dá
para apagar a luz, trancar as portas e fazer pedidos online utilizando comandos de voz. Mas tem coisa muito mais impressionante já sendo desenvolvida. Algumas são: Hyperloop Um transporte terrestre a vácuo, com velocidade de avião. Imagina ir de São Paulo ao Rio em 20 minutos. Testes foram realizados com sucesso nos EUA, e o Hyperloop deve começar, nos próximos 5 anos, a transportar carga e pessoas a velocidades mínimas de 400km/h.
Nossos netos talvez não precisem tirar licença para dirigir. Em 20 anos, “ter um carro que não é autônomo será como ter um cavalo”, disse Elon Musk, CEO da Tesla. Impressão 3D virgin hyperloop one
Já está sendo utilizada
para construir casas. E, pasmem: “bioimpressão” também é uma realidade. Impressão de partes humanas, utilizando biotinta, feita de células orgânicas, pode tornar extinta a espera por transplantes de órgãos. O Matrix, quem diria, não é tão fictício assim.
Lentes de contato com internet Em 2017, a Google lançou em seu celular a funcionalidade Lens, que utiliza a câmera para ler informações do produto fotografado. O futurólogo Michio Kaku prevê que uma tecnologia similar será usada em lentes de contato. Por exemplo, quando olharmos para uma pessoa, uma biografia aparecerá ao lado dela; e legendas instantâneas facilitarão a conversa entre estrangeiros.
Lente de contato que está sendo desenvolvida pela Google.
Viagem
Praia Mole, em Florianópolis.
praias como Campeche, Armação, Matadeiro ou Pântano do Sul. Os barcos e a arte da pesca foram mantidos e a tradição é visível na construção das casas baixas, de barras azuis, amarelas ou ocre, nos túmulos dos cemitérios, nas igrejas e capelas. O meu lugar favorito da ilha é o Balneário dos Açores; dá acesso à praia que me deslumbra. Esta praia, localizada entre as praias do Pântano do Sul e Solidão, oferece seis quilómetros de areia branca e fina. No horizonte, os ilhéus das Três Irmãs e Moleques do Sul. Está abrigada pelos morros que a separam da Lagoinha do Leste, do Ribeirão da Ilha e da Praia dos Naufragados, praias estas que requerem caminhadas por trilhas difíceis de acesso, ou onde se pode chegar de barco. A praia do Saquinho, de acesso por uma trilha mais fácil, oferece paisagem de beleza inesquecível e é de
visita obrigatória. A vida parou ali e são apenas os nascidos lá e alguns artistas que ocupam uma mão cheia de casinhas simples de madeira. No caminho, até ao cimo do morro, e na descida para a praia, encontramos pequenas cachoeiras, árvores de fruto de goiabas, flores exóticas, muitos beija-flores e borboletas de cores variadas. Só na Festa da Cruz, de raiz açoriana, o Saquinho é surpreendido por dezenas de habitantes da Ilha. Assisti a essa festa em maio de 2000 e fiquei deslumbrada pela manifestação de fé que trouxe tanta gente ao pequeno lugar, numa noite de lua cheia, a iluminar a trilha. Os “manezinhos da ilha”, como são denominados os descendentes dos açorianos, começaram a ganhar status na segunda metade do século XX, graças a estudiosos como Walter Piazza, Nereu do Vale Pereira, Lélia Nunes; trabalho de resgate cultural realizado por Franklin Cascaes,
Celsi Coelho, Joi Cletison (do Núcleo de Estudos Açorianos da Universidade Federal de Santa Catarina) e tantos outros artistas, pesquisadores e escritores que têm publicado muitas dezenas de obras sobre o legado açoriano na ilha. A
Ilha de Santa Catarina recebe viajantes de todo o Brasil, é palco de congressos internacionais nas suas universidades e lugar de destino de muitos turistas. Passar o verão em Florianópolis e poder escolher uma das dezenas de praias,
todas diferentes e maravilhosas, é um privilégio. Melhor de tudo ainda é o reencontro com amigos manezinhos que nos recebem com amabilidade, carinho e muita simpatia – esse jeito brasileiro de ser que é único e me encanta.
Praia do Saquinho, em Florianópolis.
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Açores… no sul do Brasil
Manuela Marujo é portuguesa e profa. aposentada da UofT Há quase vinte anos descobri um pedacinho de paraíso no sul do Brasil, a Ilha de Santa Catarina – referida entre os locais, muito apropriadamente, como “Ilha de Magia”. A minha primeira viagem foi no ano de 2000, ano muito significativo para Portugal e Brasil, pois se festejavam os 500 anos da chegada dos portugueses a “terras de pau-brasil”. A Ilha de Santa Catarina, a cerca de 800 km a sul de São Paulo, foi povoada por casais açorianos enviados pelo rei de Portugal na primeira metade do século XVIII. Quando se chega à Lagoa da Conceição, Santo António de Lisboa, Ribeirão da Ilha (para mencionar apenas os mais conhecidos) ou se passeia pelo Centro de Florianópolis, temos a percepção de estar em qualquer lugarejo ou centro histórico de Portugal. No sul da Ilha, os baleeiros açorianos deixaram bem marcada a sua presença em
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Saúde& Bem-Estar
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Em busca da felicidade Elizabeth Schulz é psicóloga em Montreal Existe uma convicção de que para sermos mais felizes devemos controlar as nossas emoções e os nossos pensamentos negativos. Esta ideia se propagou pela mídia nos últimos anos e, ao contrário do que se acredita, tem trazido muito sofrimento. O médico e terapeuta Russ Harris, em seu bestseller The Happiness Trap: how to stop struggling and start living [Liberte-se: evitando as armadilhas da procura da felicidade], nos diz que todos somos guiados por crenças sobre a felicidade. Infelizmente estas, em sua grande maioria, são enganosas! Harris trabalha com a Terapia de Aceitação e Compromisso (TAC ou ACT, sigla em inglês para Acceptance and Commitment Therapy). Em seu livro, ele fala sobre algumas dessas crenças ou mitos: A felicidade é um estado natural Esse é um forte mito da cultura ocidental. No entanto, percebemos uma realidade bem oposta à nossa volta! O mundo moderno traz desafios que há 100 anos atrás seriam mesmo inimagináveis! Somos bom-
bardeados com notícias e imagens como nunca antes e, consequentemente, sofremos grande impacto com essas mudanças. Dados estatísticos de 2011 indicam que o uso de antidepressivos e de medicação para a ansiedade aumentou em quase 400% entre 1988 e 2008, somente nos Estados Unidos. Um em cada 10 americanos já foi diagnosticado com depressão e calcula-se que este número cresce à 20% ao ano. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de algum tipo de depressão. Nós somos sempre capazes de controlar o que sentimos e pensamos A mente humana sofreu mais de cem mil anos de evolução para chegar onde chegou e funcionar como funciona! Ela é capaz de fazer planos, criar coisas, resolver problemas e aprender com a experiência. Isso nos torna seres superiores e capazes de modificar o ambiente à nossa volta. Mas por causa desta grande capacidade, concluímos erroneamente que podemos
“The happy face”, um estado natural?
controlar os sentimentos e pensamentos; consequentemente, se não conseguimos fazê-lo, experimentamos uma sensação de fracasso, como se houvesse algo de errado conosco ou em nossas vidas. Se você não é feliz, há alguma coisa errada contigo! Por acreditarmos que a felicidade é um estado natural e que podemos sempre controlar os pensamentos e as emoções, as sociedades ocidentais percebem o sofrimento como anormal, como uma fraqueza ou como produto de uma mente defeituosa ou doente! Mas, se observarmos bem, tudo o que vale a pena para nós virá permeado por sentimentos bons e ruins. Por isso mesmo, não se pode fugir dos sentimentos desagradáveis sem o perigo de nos afastarmos também do que nos é mais valoroso e importante! Tudo o que julgamos ter mais significado em nossas vidas, como relacionamentos íntimos, família, amigos, trabalho etc., nos trazem muitas alegrias, mas inevitavelmente trarão tristezas e decepções também. Esses sentimentos fa-
zem parte constituinte dos desafios da vida e do viver! Veja a situação de alguém que vai se casar: Quantas expectativas e quanto prazer! Mas, ao mesmo tempo, sabemos dos muitos estresses e frustrações que geralmente ocorrem durante os preparativos para uma festa. E somamos aqui muitos outros momentos, como a chegada tão esperada de um filho, que traz tantas alegrias, mas também ansiedades e angústias – antes, durante e depois do nascimento.
Steven Hayes, pesquisador, psicólogo e autor de 27 livros sobre a Terapia de Aceitação e Compromisso, afirma que “a aceitação da dor é um passo importante para se livrar do seu sofrimento”, e que “todas as artimanhas que criamos para escapar da aflição nos desviam de nossos objetivos de vida. São esses objetivos que fazem a vida valer a pena”. Se realmente desejamos uma vida comprometida com aquilo que acredita-
mos ser importante para nós, precisamos saber aceitar todas as experiências emocionas que ela oferece, mesmo que às vezes estas sejam desprazerosas. Em suma, a vida feliz acomoda uma gama enorme de emoções diferentes e muitas vezes contraditórias! Assim como no verão há dias chuvosos e frios, uma vida feliz será permeada de experiências e sentimentos imprevisíveis e muitas vezes dolorosos. E isso faz parte da vida.
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