Blog de Papel # 9

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NĂşmero 09 / Maio de 2019

Arte sobre foto de JĂşlia Berrutti


Editorial A edição número 9 do Blog de Papel nasce em formato digital e com a força da curiosidade. Os textos das próximas páginas compõem um painel diversificado, informativo e que reflete as perguntas de nove jovens repórteres, que já estão trabalhando na consolidação de um perfil multiplataforma do jornalismo e do jornalista. Todas as reportagens foram cuidadosamente planejadas, revisadas, reescritas e editadas pelos próprios estudantes, incluindo fotos, vídeos e gráficos que integram esta edição interativa. E o resultado responde a perguntas provocativas, elaboradas individualmente mas que refletem as inquietações de um grupo. Os textos desta edição apresentam ao leitor um cardápio interessante, que começa com uma reportagem sobre expressões e palavras racistas e termina contando como o bambu vai mudar o cenário de uma das feiras ecológicas mais tradicionais de Porto Alegre. Boa leitura!

Profª Ângela Ravazzolo

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Nesta Edição: A palavra como ela é

Viver na rua e estudar Júlia Berrutti

Júlia Barros

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Ensino parcelado Júlia Guarienti

Diferentes ângulos da Cidade Baixa Márcia Fernandes

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União Feminina: a luta pelo empoderamento Giulia Marques

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Investimentos na bolsa: como ganhar dinheiro com eles? Gabriel Mito

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Cresce a cena do RAP no Rio Grande do Sul Carla Carvalho

Do resgate à adoção Rafaela Knevitz

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Bambu na feira

Vinícius Umann


Expediente

O jornal Blog de Papel é uma publicação semestral dos estudantes do curso de Jornalismo da ESPM Porto Alegre Coordenação do curso de Jornalismo: professor Dr. Alessandro Souza e professora Dra. Rôsangela Florczak Equipe da Edição Número 9 (Maio de 2019): Carla Carvalho, Gabriel Mito, Giulia Marques, Júlia Barros, Júlia Berrutti, Júlia Guarienti, Márcia Fernandes, Rafaela Knevitz, Vinícius Umman Coordenação Editorial: professora Dra. Ângela Ravazzolo. Monitor da disciplina: Edson Haetinger Criação do nome do Jornal Blog de Papel desenvolvido por Micaela Ferreira e Richard Koubik e projeto gráfico por Eduardo Diniz e Marcos Mariante ESPM Porto Alegre: Rua Guilherme Schell, 350 e 268 – Santo Antônio – Porto Alegre – RS, 90640-040 – (51) 3218-1300

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Expressões racistas que devem sair do seu vocabulário

Júlia Barros

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Eu sou o sapato que aperta, o calo que incomoda, a sobremesa indigesta dessa branca festa. Cheia de sorrisos falsos e falsas modéstias, a etiqueta da tua mesa não reinventa a moda de escravizar as minas pretas, não sustenta 500 anos de treta, da preta que mega desenvolveu, saiu do subemprego e na faculdade se meteu.” Trecho da Poesia “Terrorismo Lírico”, de Natalia Xavier Pagot

Foto: Júlia Barros

Entre brincadeiras, comentários e sutilezas, palavras impregnadas no cotidiano exemplificam o racismo implícito no vocabulário brasileiro. “Não sou tuas negas”, “Da cor do pecado” e “A coisa tá preta” são expressões que costumam ser repetidas sem que necessariamente se compreenda o verdadeiro significado. Mas se há algum tempo os termos eram reproduzidos sem muitos questionamentos, hoje precisam ser repensados e reformulados, conforme alertam especialistas. Entender o que está “na boca do povo” deve ser uma prática diária. “Para que uma palavra exista, basta que alguém a utilize.” A mestre em Linguística Aplicada Eliane Pereira de Moura provoca a reflexão sobre o uso indevido de algumas expressões. Afinal, é importante ir além do estudo etimológico das palavras. Algumas delas, quando investigadas, representam contextos que vêm diretamente da escravidão, prática social abolida no Brasil somente em 1888, com a Lei Áurea. “Mesmo a gente repudiando este tipo de comportamento, fazemos igual sem perceber”, explica Eliane ao se referir a determinadas atitudes. Séculos de escravidão não se apagam do dia para a noite, o racismo está implícito no cotidiano. “O vocabulário diz muito sobre a gente. A pessoa pode não dizer o lado que está, mas automaticamente sabemos qual ela escolheu”, afirma. Em tempos de debates intensos na internet, muitos falam que protestos não passam de “mimimi”. Internautas declaram ainda que questionar o

Foto: Júlia Barros

A Diversidade palavra como ela é

Natalia Xavier Pagot recita poesia autoral “Terrorismo Lírico”

lugar de fala, tanto próprio, como o do outro, pode ser considerado vitimização excessiva. Para que possam exercer esses direitos, grupos surgiram com o desejo de criar novos espaços para expor suas poesias livres e significativas, que colocam em xeque também o uso de algumas palavras. Com o formato de competição, o Slam Peleia é um deles. Para comemorar seus dois anos, os integrantes organizaram a peleia poética, momento em que todos, independente de cor e gênero, têm direito a apresentar suas verdades. Durante o evento do dia 30 de março, que aconteceu na Borges de Medeiros, em Porto Alegre, os artistas foram questionados sobre o sentimento ao ouvir e presenciar cenas com o uso destas palavras. Primeira campeã gaúcha de Slam de 2017, Cristal conta quando começaram seus questionamentos a respeito disso. “Acho que a primeira que eu conheci, assim, foi o denegrir né, que já é meio explícito que está falando de preto”, afirma a garota, que também é escritora e lançou recentemente o livro de poesias Quando O Caso Escurece. Para falar sobre as possíveis variações desses termos, Pretana — nome pelo qual a integrante Ana Tereza se identifica – diz que sempre foram criadas para chamar de um tom pejorativo. “Mulata, pretinha… por mais que nós sejamos negras, o tom que as pessoas usavam conosco, sempre foram tons pejorativos. Então hoje a gente colocar essas palavras na poesia e mostrar que elas não nos representam e não significam o que nós somos é um ato de resistência”, declara. Segundo Victor de Aquino, membro do grupo UniVerso POA, de forma alguma estas expressões os representam. Ele frisa: “Elas fazem com que nossa imagem seja relacionada a algo ruim. Mesmo que para outras pessoas brancas isso seja visto como normal, acaba afetando a sociedade e nós, principalmente”.


Analisando como acontece o processo de autodeclaração e identidade étnico-racial, a estudante de licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Natalia Xavier Pagot conta por que é importante entender sobre, já que “autodeclaração e a identidade são processos fora e dentro, simultâneos”. A artista também alerta para a palavra mulata: “Ao mesmo tempo que eu não nasci negra e me torno negra, como me torno mulher, eu poderia me tornar mulata se eu aceitasse essa palavra, mas eu não aceito.” A professora e antropóloga da ESPM Patrícia Kunrath propõe que devem ser tomadas atitudes para retirar essas expressões e palavras de nosso vocábulo. “A autocrítica é fundamental para elaborarmos nosso próprio etnocentrismo. Não é possível evoluir socialmente se não deslocamos nossas certezas”, afirma a antropóloga. “Para a antropologia, o importante é relativizar as culturas, o que não significa relativismo moral, e tentar entendê-las em seu próprio contexto”.

Falam de igualdade, só que preferem intervenção a debate. Isso só consta que cão que ladra mesmo, não morde. Direitos desiguais para todos, onde o preto não tem nenhum e o branco tem em dobro?” Trecho da Poesia de Pretana

Aperte o play Confira o vídeo sobre representatividade e autodeclaração, gravado durante o evento Slam Peleia.

Fontes: Eliane Pereira de Moura e Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de Antônio Geraldo da Cunha, editora Lexicon.

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Para questionar alguns termos Para que uma palavra seja dicionarizada, ela surge, inicialmente, em um determinado grupo. Afinal, a língua é viva e reflete o comportamento da sociedade. Em alguns contextos, porém, estas precisam ser analisadas. Quando usadas com tom difamatório, por exemplo, fazem parte da grande porcentagem presente no vocabulário racista da língua portuguesa. Perceba que a palavra “nude” está presente em nosso cotidiano para identificar uma cor específica. Do mesmo modo que o “cor de pele” sempre foi aceito, o nude tornou-se banalizado pela população. Em seu verdadeiro significado, ele é derivado da palavra “nu”, que significa transparência. Então, existem diferentes tons de nude, para diferentes tons de pele. Outras que têm extrema importância são aquelas expressões em que o negro é usado como algo pejorativo. Ovelha negra, para fazer alusão à peculiaridade de uma pessoa diferente das outras, ou seja, que está fora dos padrões considerados normais pelo seu grupo social. Mercado negro, para definir a parte da economia ativa que envolve transações ilegais, geralmente de compra e venda de mercadorias ou serviços. Magia negra, que é o suposto manejo de forças sobrenaturais com intenções e propósitos malévolos. E, por fim, lista negra, para quando um indivíduo ou um coletivo qualquer é considerado perigoso, desleal, subversivo ou contrário a certos interesses. Provavelmente, seu nome acabará figurando uma lista de pessoas não gratas. Em resumo, porque o branco é considerável puro e aplicado em bons contextos e o preto, somente para o lado sombrio da força? Cabe a você se questionar e realizar o processo de autocrítica, todos os dias.


Educação Viver na rua e estudar

As adaptações de uma escola que atende pessoas em situação de vulnerabilidade social

Júlia Berrutti Foto: Júlia Berrutti

Alunos recebem lanche da tarde no refeitório da EPA.

“Eu chego, guardo meu carrinho num canto, vou tomar banho, vou pro café e, na hora que bate pro turno da manhã entrar, eu vou direto pra oficina de papel. Fico até quando bate pro almoço e volto até começar a aula de tarde. Depois eu só vou pra oficina para pegar minhas coisas, fecho tudo e vou trabalhar com reciclagem na rua. Vou até uma, duas horas da manhã. De vez em quando, eu paro, outras, eu só durmo quando tá começando a aparecer o clarinho do céu. Mas sempre durmo aqui perto da escola.” Essa é a rotina diária de Micael Dias, 29 anos, em situação de rua, que frequenta a Escola Municipal Porto Alegre, mais conhecida como EPA, localizada no Centro Histórico. Inaugurada em 1995, a EPA foi criada para atender prioritariamente a população em situação de rua e de vulnerabilidade social, excluída da 7

escolarização formal, funcionando na modalidade Educação de Jovens e Adultos. Atualmente, a instituição tem em torno de 120 estudantes matriculados, embora a capacidade seja para 90 pessoas. De acordo com Renato Farias dos Santos, diretor da EPA de dezembro de 2016 a março de 2019, a escola costuma inscrever um certo percentual a mais por saber que esse público é infrequente. “A pessoa arruma serviço, desaparece, se muda... Para termos uma frequência de uns 15 alunos em cada sala, precisamos ter mais matriculados do que o esperado.” Como a escola trabalha com estudantes fragilizados em suas relações familiares e sociais, ela se torna também um espaço de acolhimento e organização das pessoas em situação de rua. “Quando eles vêm à escola estando em situação

de rua, muitas vezes não têm seu histórico escolar completo, mesmo assim eles são matriculados.” explica Renato. Para poder avançar e concluir o ensino, é obrigatório que tenham seus documentos. Nesses casos, a escola tenta buscar, junto aos alunos, os colégios nos quais eles já estudaram para providenciar a documentação. A maioria das pessoas que procura estudar na EPA vem por iniciativa própria. Esse é o caso do Micael, que vive na rua desde os 14 anos e acabou ouvindo falar da existência da escola. “Me diziam que tinha um colégio que tu toma banho, que tu estuda, que tu olha TV. Aí eu acabei vindo, fazendo minha inscrição”. Outros alunos são matriculados com o auxílio de serviços de assistência social ou são egressos do sistema prisional. Nesse último caso, a professora da turma de alfabetização, Cláudia Machado, 50 anos, explica que costumam ser “adolescentes e jovens adultos que estão cumprindo medida socioeducativa ou em semiliberdade e que, por algum motivo, não se integraram na escola regular”. “A EPA tem tudo que as outras escolas têm. Tem Secretaria, Supervisão e Orientação Escolar, só que ela se adapta para acolher melhor esse aluno específico. Temos dois diferenciais. O Serviço de Acolhimento, Integração e Acompanhamento (SAIA), que é diferenciado na lógica do acolhimento. E o Núcleo de Trabalho Educativo, oficinas de cerâmica e papel artesanal que dão a possibilidade de os estudantes permanecerem no horário inverso”, esclarece Renato. O estudante Edson da Silva, 42 anos, relata que esse acolhimento


da escola foi decisivo em sua aprendizagem: “O significado dessa escola é forte na minha vida. Se a gente vem com vontade de aprender, eles retornam nos ajudando no ensino. Quando eu era adolescente, chorava porque não conseguia fazer conta. Agora, estou aprendendo e tentando me agarrar em alguma coisa pra lá fora eu poder aprender mais.”

Acolher e organizar antes de ensinar O primeiro contato que os estudantes têm com a escola é por meio do SAIA, setor responsável pela entrevista inicial, composto por professoras. Antes mesmo de anotar qualquer dado sobre o aluno, a conversa se inicia por um oferecimento a comer e a tomar banho, caso deseje. Após isso, perguntam sobre a questão escolar e se é atendido por algum serviço, seja da área da assistência social ou da saúde. A professora Cláudia Machado ressalta que a diferença desse aluno em situação de vulnerabilidade “é que ele às vezes não vai ter aquela estrutura de família, então ele não está referenciado num posto de saúde ou em um CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) do bairro porque considera que ele não tem bairro.” Ela insiste que essas pessoas em situação vulnerável precisam ter esses atendimentos diferenciados, pois podem ser rejeitadas se chegarem precárias em certos locais. Concluída essa primeira conversa, os estudantes são convidados a realizar uma visita orientada pela escola para conhecê-la e “por último, é perguntado se eles gostariam de realizar a matrícula na EPA”, revela Cláudia. Uma das tarefas mais importantes do Serviço de Acolhimento, Integração e Acompanhamento é organizar e cuidar da documentação dos alunos que estão na rua. Todos possuem uma pasta onde 8

são guardados os documentos originais e uma ficha de acompanhamento escolar e de saúde. Essas pastas continuam sob o domínio da escola mesmo após os alunos terem se formado ou abandonado, pois, muitas vezes, eles acabam perdendo cópias de certidão de nascimento ou outros documentos e voltam. De acordo com Cláudia, o setor fica atento aos documentos do estudante, pois “muitos chegam aqui sem história, sem memória e sem documentação. Trabalhamos para acolher o aluno e perguntar qual o seu projeto de vida.” Uma pessoa que pode falar sobre projeto de vida construído a partir do que viveu e aprendeu na EPA é o aluno formado Rafael Dutra, 31 anos. “A EPA foi uma escola que surgiu para que eu continuasse meus estudos. Ela me ajudou a mudar muito a minha vida. Nunca quis parar de estudar e eu ainda não quero parar, mesmo me formando no ensino fundamental.” O seu sonho é cursar o ensino médio e se tornar médico, pois gosta de cuidar das pessoas.

Reduzindo os danos O trabalho pedagógico da Escola Municipal Porto Alegre tem como princípio a redução de riscos, trazidos pela situação de rua, e de danos, causados pela drogadição. “Não precisa largar as drogas ou não usar drogas pra vir para a escola. Apesar de trabalharmos com eles a ideia de que aqui não é lugar pra isso, sabemos que a maioria utiliza.” declara Renato. A EPA encara o tempo que as pessoas passam lá como uma forma de reduzir os danos, pois estão estudando em vez de aumentar seus vícios. Quanto mais tempo na escola, maior é essa redução. Entre as ações de redução de danos, estão as oficinas de cerâmica e papel, oferecidas pelo Núcleo de Trabalho Educativo. Após permanecerem 15

EPA oferece oficina de cerâmica no turno inverso.

dias seguidos frequentando as aulas, os estudantes podem participar dessas atividades no turno inverso. Dessa forma, as pessoas em situação de rua conseguem passar o dia inteiro na escola, fazendo suas refeições, tomando banho e lavando suas roupas. Além disso, o projeto também está ligado à ideia de economia solidária, já que existe a possibilidade de venda dos produtos feitos por eles em feirinhas e exposições. Um dos exemplos é o Contraponto, um espaço de comercialização organizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Toda terça-feira, há uma feirinha, na qual os alunos podem comercializar seus produtos, como cadernos, agendas e os artesanatos de cerâmica. O valor obtido na venda é dividido entre os participantes das oficinas. “É legal porque gera renda pra gente”, explica o estudante Edson da Silva, que usa esse dinheiro para alimentação, roupas e medicamentos.

Foto: Júlia Berrutti


O propósito do Núcleo de Trabalho Educativo está para além da geração de renda, pois visa a valorizar a autoria dos educandos em suas produções. Isso inclusive pode ser observado nas paredes, muros e salas de aula da escola, onde há marcas das identidades dos alunos em grafites, pinturas, xilogravuras e modelagens. Para Micael Dias, dedicar-se ao Ateliê de Papel “serve pra ocupar a mente” e preservar-se de brigas e atritos da rua. Além disso, o jovem entende que essa é uma oportunidade de trabalho futuro: “que se pode levar pra vida inteira. Só ter os materiais e começar a produzir”.

Micael Dias na oficina de papel trabalhando para a fabricação de produtos.

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Além das oficinas, a EPA possui parcerias e projetos que normalmente estão ligados a outras pessoas ou instituições. A principal delas é a participação da escola na Rede de Atendimento de Saúde, Assistência e Educação, uma ação articulada das secretarias municipais para atendimento da população em situação de abandono e vulnerabilidade. Entre esses serviços públicos, estão o “consultório médico da rua, o CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), o CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), os albergues e os abrigos”, descreve a professora Claudia. Outra parceria desenvolvida pela instituição é com a UFRGS. Essa acontece por meio de estágios, residências e oficinas. Conforme revela Renato, “A EPA é um grande campo de estágios. Inicialmente eram de pedagogia ou das áreas de conhecimento, mas começaram a surgir outras propostas.” Atualmente, os cursos de Saúde Coletiva, Psicologia, Terapia Ocupacional, Assistência Social 9

Foto: Júlia Berrutti

“Essa escola é um mundo”: parcerias e projetos

e Enfermagem encaminham os residentes para a escola. A universidade também é responsável por organizar o projeto “Cara da Rua”. Nele são realizadas aulas de fotografia com orientação de um profissional da área. Os alunos saem pela cidade com uma temática a ser registrada pelo seu olhar. O trabalho resulta na criação de postais e de um livro, que, com sua venda, ajuda na geração de renda para as pessoas em situação de rua. Esse “mundo” de socialização de saberes e, ao mesmo tempo, de acolhimento de pessoas em situação de vulnerabilidade pode contribuir para as mudanças dos modos de vida dos estudantes da Escola Municipal Porto Alegre. São nas palavras simples dos educandos que a importância dessa instituição ganha significado: “Na rua tu é mal visto, tu é marginal. Mas não sabem se tivemos família,

emprego ou até uma boa estrutura, que em algum momento desequilibrou e a pessoa foi parar na rua. Aqui na EPA, eu evoluí. Daqui a pouco, já me formo, vou viver outra vida. Mas eu ainda espero que esse lugar esteja aberto para outros virem aprender”, afirma Edson. Na EPA, as pessoas em situação de rua ganham a oportunidade de sonhar e traçar outros projetos de vida para si e para os outros. O ex-aluno Rafael Dutra, que ainda visita a instituição, compreende a importância do direito à educação garantido constitucionalmente a todos os cidadãos. “Dizem que estamos na rua porque nós queremos. Não é porque nós queremos. Nós estudamos nessa escola porque queremos ser alguém na vida. Se a gente não quisesse mudar, a gente estava roubando, assaltando, matando pessoas. Mas a gente quer ter uma vida melhor mais para frente.”

O que é a EJA? A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de ensino criada pelo Governo Federal para atender jovens, adultos e idosos que não tiveram acesso à educação em idade apropriada. Em Porto Alegre, a EJA iniciou suas atividades em 1989. Atualmente, há oferta de vagas em 33 escolas municipais. Na Rede Municipal de Ensino, a EJA organizase em seis etapas, chamadas Totalidades de Conhecimento. São três Totalidades Iniciais (T1, T2, T3) e três Totalidades Finais (T4, T5, T6). Pode-se dizer, de forma simplificada, que as Totalidades Iniciais correspondem às etapas de alfabetização e as Totalidades Finais relacionam-se à pósalfabetização.


Educação Ensino parcelado

As dificuldades das professoras da rede estadual para pagar as contas em dia devido à crise financeira e a paixão pela educação

Júlia Guarienti Contas em dia, vida financeira controlada. Esse é o sonho de muitos (as) que, constantemente, vivem em meio a dívidas com seus gastos. Mas, e se essas dívidas não dependessem somente de você, e sim, do Estado? Pois é assim que professores da rede estadual convivem com salários parcelados há um total de 39 meses (dados até março deste ano). Ou seja, desde ano de 2015, docentes vinculados ao estado do Rio Grande do Sul foram obrigados a reorganizar suas vidas, tanto financeiramente quanto mentalmente. Relatos de que suas contas atrasaram e houve uma maior preocupação com renda em casa são recorrentes para Rosa, Maria Cristina, Solange e Zuleiva, professoras da rede estadual. Professora por quase 30 anos, Rosa Azeredo, de 57 anos, comenta que, após o parcelamento de salário, não conseguiu mais pagar suas contas em dia, sempre havia atrasos devido à incerteza da data do pagamento pelo governo estadual. Apesar de ser rigorosa com suas contas, as prestações de seu carro ficaram mais difíceis e até a escola de seu filho não o permitiu de permanecer em aula, devido ao atraso no pagamento. “Um dia, no colégio do meu filho me chamaram dizendo que ele não podia ver aula. Aquelas ligações me cobrando me fizeram mal.” Hoje aposentada, Rosa mora em Viamão e conta que, em nenhum momento, deixou de querer ser professora. Ela escolheu dar aula de Educação Física conciliando faculdade e trabalho, com dificuldades para manter os estudos. Neste caso, ela deu aula 10

Foto: Júlia Guarienti

Professor tem que vestir a camiseta, tem que amar. Acho a profissão mais linda que se possa imaginar. Maria Cristina de Mello, professora da rede estadual

para todas os anos na Escola Estadual de Ensino Médio Agrônomo Pedro Pereira, em Porto Alegre, O atraso nas contas se repete em boa parte dos cenários de crise financeira. E não somente o atraso, mas o que também prejudica são os juros. É o que acontecia com Maria Cristina de Mello, de 68 anos, que mudou a data de sua conta de luz para a segunda quinzena do mês, para não pagar a mais pelo atraso. Ela conta que até 2015 conseguia pagar seus gastos com sua casa - luz, água, IPTU e ainda ajudava no pagamento da escola e do transporte escolar de sua neta de 10 anos. As viagens em família também diminuíram ao longo do tempo e Maria ainda divide as contas com a filha, professora da rede municipal, já que ambas dividem o mesmo terreno. Mas Maria salienta: “O poder aquisitivo do professor, aquele que tem casa, comida e família, é diferente daquele que é sozinho. Aquele já é mais fácil, porque aí tu não tem obrigação com criança, né”. A uruguaianense Zuleiva Gonçalves, de 56 anos, lecionou por mais de dez anos como professora de Biologia. No ano de 2002, entrou para a escola Anne Frank, dando aula para alunos do ensino fundamental. Ela conta que várias vezes passou por dificuldades financeiras e, em alguns momentos, seus filhos, de 20 e 25 anos, a ajudam com os gastos. “O início foi difícil, eu não aceitava”, declarou sobre a saída do seu filho de uma escola particular para estadual e ainda, que diversas de suas contas foram pagas com atraso. Hoje ela é diretora da Escola


O que diz o Estado

Foto: Júlia Guarienti

O subsecretário adjunto do Tesouro do Estado, Eduardo Lacher, por meio de sua assessoria, declarou por email que o objetivo do Estado é regularizar os pagamentos para atingir um novo patamar de perspectivas para seus servidores.

Zuleiva Gonçalves conta que após se tornar diretora, vive ainda mais de perto as dificuldades financeiras da escola

Anne Frank e convive ainda mais de perto com a falta de pagamento, não só mais de seu salário, mas com o descaso da educação. Casos de adoecimento, de pessoas que foram obrigadas a entregar suas casas, carros que estavam pagando, voltar a morar com familiares e até falta de comida e suprimentos foram relatados pela 1ª vice-presidente do CPERS, Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul, Solange da Silva Carvalho. Solange também foi professora na rede estadual e confessa: “nos sentimos tremendamente humilhados, porque a educação é uma das mais relevantes profissões. Não é porque nós somos profissionais dessa área que a gente diz isso. Ela é relevante pelo entendimento da importância dela na construção de um país”. 11

Desde quando o Estado passa por esse problema financeiro a ponto de parcelar o salário dos professores? O problema financeiro do Estado é antigo e se agravou nos últimos 40 anos, período em que o Estado gastou mais do que arrecadou em quase todos os anos. Por isso, é comum dizermos que o déficit é crônico ou estrutural. Muitos pagamentos foram afetados por essa situação, como na redução de investimentos por parte do poder público. O atraso no pagamento dos salários do Executivo significa uma situação limite, em que o Estado tem níveis de investimentos muito baixos e precisa destinar mais de 70% de suas receitas para despesas relativas a pessoal. Já houve atrasos e parcelamentos em outros anos. Neste momento, o parcelamento vem ocorrendo desde fevereiro de 2016 a todos os servidores do Executivo, incluindo os professores. Quais são as perspectivas financeiras para esses profissionais? Nenhum professor no Estado recebe menos do que o piso regional. O governo tem como objetivo regularizar os pagamentos e permitir avanços a diversas categorias do funcionalismo estadual, o que passa por uma revisão da situação atual em relação a cargos, funções e carreiras. [...]O primeiro passo foi o estabelecimento de um calendário para que o servidor saiba em que data receberá o salário. O próximo passo, que exige uma série de medidas complementares de redução de despesas e aumento de receitas, é colocar a folha em dia.

Queria ser cabeleireira quando pequena para transformar as pessoas. Depois, quando me tornei professora, pensei que também era uma forma de transformar as pessoas.

Pesquisa encomendada pelo Sindicato dos Professores por meio do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) em março de 2019

Rosa Azeredo, professora da rede estadual


Segurança Diferentes ângulos da Cidade Baixa

Quatro mortes no início do ano assustam moradores e frequentadores

Márcia Fernandes

Foto: Márcia Fernandes

Nos primeiros três meses do ano, aconteceram quatro mortes violentas na Cidade Baixa. Em janeiro, foram assassinadas três pessoas na madrugada de um sábado, em meio a uma multidão, na rua João Alfredo. Em março, às 14h de uma terça-feira, na esquina da rua Lima e Silva, um outro assassinato no bairro: um advogado foi morto a tiros na calçada. Os crimes deixaram frequentadores dos bares, moradores e comerciantes assustados. Para a polícia, as mortes foram pontuais e não estão relacionadas, mas a segurança do bairro boêmio ficou em xeque.

O crime, que aconteceu em janeiro, foi em meio à rua. Alguns dos frequentadores da CB assistiram aos assassinatos, como por exemplo, um estudante de fisioterapia, que comenta sobre a noite: “Saí da festa pelas quatro horas da madrugada, depois de escutar os tiros e os gritos. Logo na saída, já conseguia ver as viaturas da polícia estacionadas na rua fazendo barreira, já que a festa em que eu estava era bem perto do local do crime. Minha primeira reação foi ir embora daquele lugar, e desde o que aconteceu, a CB me causa medo. As cenas foram chocantes demais.” O bairro também é residencial e possui moradores como a Dona Eneida Domingues, de 68 anos, aposentada, que mora na rua General Lima e Silva, no mesmo apartamento, há 24 anos. Para ela, as mudanças foram muito radicais durante esses anos. O barulhou começou em 1994, quando foram instalados bares nas ruas. As pessoas migraram do bairro Bom Fim para a Cidade Baixa, fazendo da General Lima e Silva o seu “point”: “Desde então, começaram a se formar novos grupos de jovens, diferentes dos de 24 anos Foi na rua João Alfredo onde aconteceram as três mortes em janeiro 12

atrás. Agora, eles têm novas maneiras de pensar e viver, fazendo da Lima e Silva o que é hoje. Como a rua é frequentada por diversos tipos de pessoas, acontecem desde situações envolvendo substâncias ílicitas, passeatas e protestos, até momentos de alegria, como, por exemplo, no carnaval ou quando ocorreu a Copa do Mundo”, afirma Eneida. Ela também comenta que os moradores, de certa forma, estão protegidos: “Eu quase fui assaltada na frente do meu prédio à tardinha. Quando alguém falou: É morador! É morador!, os assaltantes se retraíram.” Desta forma, dona Eneida percebe que morar no bairro possui suas vantagens. Por conta do barulho, ela e o marido decidiram colocar proteção nos vidros do seu apartamento, para não deixar que o som da rua entre na casa: “Valeu a pena o investimento, pois, como já estamos mais velhos e não queremos nos mudar, nos apegamos a nossa casa e achamos melhor colocar as vedações nas janelas. O barulho diminuiu 70%.” Dona Eneida também afirma que gosta do movimento e de morar na rua General Lima e Silva. No entanto, acredita que, se houvesse a presença de policiais no bairro, os jovens não fariam tanta balbúrdia, e o local seria mais limpo: “Me sinto segura aqui porque tem movimento, é a minha casa, meu lar, e não vou sair.” Carlos Barros, dentista do exército e morador da Cidade Baixa, de 45 anos, reside na rua Luiz Afonso. Juntamente com a sua família, ele mora no 12º andar de um prédio, e acredita que o barulho não os incomoda. “Em relação à segurança, vejo este fato como um problema em toda a cidade. Moro aqui com a minha família desde dezembro de 2012. E a

Desde o que aconteceu, a CB me causa medo. As cenas foram chocantes demais.” Estudante de Fisioterapia


Foto: Márcia Fernandes

janeiro. Agora que tomei coragem e percebi que tem policiamento aqui na João Alfredo, tornando a rua mais segura e me deixando mais calma.” Danielle Fraga, de 18 anos, estudante, comenta que sentia falta de policiamento nas ruas da Cidade Baixa mas que agora, depois de janeiro, o policiamento começou a melhorar: “A segurança mudou desde os assassinatos, mas acredito que não adianta eles ficarem aqui agora e depois irem embora, tem que ter presença da polícia na maior parte do tempo aqui na CB. Me senti segura a voltar aqui só depois de dois meses mas, ainda fico com o pé atrás.” Esquina onde ocorreu o assassinato do advogado Os frequentadores da CB costumam ir no Calico Cidade Baixa, para mim, é um bairro tão perigoso Jack Bar, que tem como um de seus sócios Felipe quanto os outros.” Mesquita de Oliveira, de 28 anos: “O movimento A reportagem do Blog de Papel passou a noite de baixou muito aqui na Cidade Baixa, agora que está sexta-feira, dia 6 de abril, na Cidade Baixa. Mais especificamente, na João Alfredo, uma das ruas mais voltando ao normal, desde que fecharam alguns bares e algumas casas de festas, o pessoal migrou para conhecidas e frequentadas pelos jovens. É possível perceber que o bairro apresentou diferença de 2018 outros bairros da cidade, deixando a Cidade Baixa vazia. Eu vejo muita diferença desde o ano que o bar para 2019. Antes, os jovens ficavam por todos os abriu que foi há dois anos atrás. Naquela época a CB lugares, com músicas altas e bebidas alcoólicas. bombava, mas aí começou a ficar perigoso.” No dia Este ano, o cenário é outro. Os frequentadores se 26 de janeiro, o Calico estava fechado na hora em que mantiveram no limite das calçadas. aconteceu o crime, mas Felipe ainda estava dentro Conversamos com Rafaela Dorneles da Rosa, do bar: “Tive que ficar aqui até o final da perícia, que de 18 anos, que comentou: “Não me sinto mais acabou por volta das seis horas da manhã de domingo, segura na Cidade Baixa. Eu costumava vir poucas vezes aqui, mas fiquei muito mais apreensiva depois o pessoal teve que verificar o local, porque havia marcas de tiro.” do que aconteceu. Depois de janeiro, eu senti a Mesmo com as inquietações dos moradores, diferença de antes do assassinato para agora, pois a frequentadores e comerciantes a polícia se posicionou segurança aumentou.” Outra menina de 18 anos que também costumava sobre os crimes que aconteceram no bairro nesse início de ano. Confira ao lado o depoimento de ir na CB, Lenora Chaffe, estudante de engenharia Roberta Bertoldo, delegada da 2ª DHPP (Delegacia de química comenta: “Eu me senti muito insegura Homícidios e Proteção a Pessoa). de voltar para o bairro desde o que aconteceu em 13

O que diz a polícia A delegada da 2ª DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoa), Roberta Bertoldo, comenta sobre os homicídios que aconteceram nesses três primeiros meses do ano: “Sobre índices de homicídio não temos tanta ocorrência na Cidade Baixa. O que houve em janeiro foi um fato pontualíssimo, não sendo algo corriqueiro como em outros bairros por exemplo, na vila Cruzeiro. A polícia em momento algum fez a relação dos assassinatos com a festa e o horário, porque uma coisa não tem nada a ver com a outra, poderia ter ocorrido em qualquer outro bairro e lugar. O homem que assassinou as outras três pessoas já estava sendo procurado pela polícia, e o motivo do crime era tráfico de drogas, já o caso do advogado também foi outro fato pontual, que poderia ter ocorrido em outro bairro.” A delegada Bertoldo também comenta sobre os homicídios em geral: “Os índices de homicídios no bairro Cidade Baixa não aumentaram. Homicídio é algo que acontece por vários motivos, circunstâncias e em determinados momentos, não está relacionado às festas do bairro, só estaria relacionado se as pessoas que estão na festa se drogam, bebem, ficam fora de si e ocasionam esse crime, mas não foi o que ocorreu em janeiro.”

Os homicídios não estão relacionados com as festas do bairro.” Delegada Roberta Bertoldo


Perfil União feminina: a luta pelo empoderamento

Institutos como o Tulipa e o Elos que Empoderam trabalham na busca pela autoestima e confiança das mulheres

Giulia Marques Milena Demaman, 35 anos, presidente e fundadora do Instituto Tulipa, e Ivana Limah, 41 anos, embaixadora em defesa da mulher pelo Instituto Elos que Empoderam no Rio Grande do Sul. Duas mulheres singulares e unidas pelo mesmo propósito: levar autoestima e empoderamento para o maior número de mulheres possível. As duas são movidas pelo desejo de disseminar os seus ensinamentos para pessoas em situação de violência e vulnerabilidade. A paixão e o fascínio pelas causas sociais acompanharam Milena durante toda a vida, e por isso seu sonho sempre foi ter sua própria ONG. Formada em Relações Públicas, ela ingressou no setor de comunicação da Prefeitura de Porto Alegre, no ano de 2013, quando conheceu diversos profissionais que, em um futuro próximo, tornariam possível o seu sonho. Também obteve conhecimentos sobre políticas públicas de cuidado social, o que a impulsionou a tentar a carreira política, candidatando-se à vereadora pelo município de Porto Alegre, no ano de 2016. Apesar de não ter se elegido, escolheu erguer a cabeça e finalmente pôr seu plano em prática: “Decidi que aquele seria o pontapé inicial para a construção do meu sonho”, diz Milena. E assim surgiu o Instituto Tulipa. Funcionando desde o dia 5 de maio de 2017, com o slogan “Despertando o Melhor de Cada Um”, o Instituto Tulipa realiza eventos, projetos e ações sociais para conscientização da sociedade 14

Foto: Giulia Marques

Milena Demaman, presidente do Instituto Tulipa

quanto a situações de desamparo, trabalhando diretamente com pessoas em circunstâncias de vulnerabilidade social. Debates, bate-papos, rodas de conversa e palestras acontecem durante diversos eventos idealizados pelo instituto, para que temas importantes, como a violência doméstica e os

abusos sofridos pelas mulheres, estejam em pauta. O início não foi fácil. Foi preciso contar com as pessoas que conheceu enquanto trabalhava como servidora pública. Ela se orgulha de dizer que sempre transmitiu confiança aos seus apoiadores e voluntários, o que faz com que seus eventos, como o “Debut Encantado” e o “Desfile Metamorfose”, tenham parcerias com mídias televisivas e jornalísticas, como por exemplo, a BAND RS, e pessoas vindas de cidades como Caxias do Sul para ajudar. Sua última grande iniciativa foi “O Amor Que Queremos”, projeto que teve como objetivo focar na raiz do problema: a baixa autoestima e falta de amor-próprio, que levam mulheres a estarem em relacionamentos abusivos ou até mesmo que ofereçam risco a suas vidas. Para tal, grandes apoiadores como a DEAM (Delegacia de Polícia Especializada no Atendimento à Mulher), Secretaria de Segurança, Fundação Lions, RBS TV, Instituto Elos que Empoderam e os artistas Daya Moraes, Mc Jean Paul e Seguidorf, responsáveis pela canção que leva o nome do projeto, estiveram presentes no dia 14 de abril, na Usina do Gasômetro, em Porto Alegre, onde o evento ocorreu. A ideia partiu de uma iniciativa conjunta entre Milena e a delegada da DEAM, Tatiana Bastos. “À medida que as mulheres se calam diante das agressões sofridas, o agressor se fortalece”, afirma Tatiana. Juntas, observaram que faltavam debates, não só sobre a violência, mas sobre a mulher em si. Por ser popular e de fácil acesso, a música foi


O erro é o silêncio.

Érica Claros

“Você nasceu com tudo para dar errado, né? Mulher, negra e nordestina”. Essa foi a frase que Ivana Limah, treinadora comportamental e embaixadora em defesa da mulher pelo Instituto Elos que Empoderam, escutou de seu contratante durante sua primeira entrevista de emprego, em Porto Alegre. Ao ser perguntada por que deveria se tornar funcionária daquele escritório, ela respondeu que, na verdade, não queria, pois era qualificada demais para aquela vaga. Quatorze anos depois, já bem-sucedida e com seu projeto em ascensão, 15

encontrou novamente com este homem, que não a reconheceu, mas disse que seu rosto era familiar. Ela disse: “Sou aquela que tinha tudo para dar errado”. Ivana nunca teve a vida fácil. Muito pelo contrário, foi muito pobre e passou por muitas dificuldades. Vinda de uma família de cinco filhos, teve mãe costureira, e o pai, alcoólatra. Adulta, relacionouse com um parceiro que, no futuro, se tornaria agressivo. Sofreu violência doméstica, sexual e psicológica por muitos anos, até o momento em que decidiu que precisava mudar e que iria vencer na vida. Apesar de toda a dor, ela seguiu em frente e tornou-se uma mulher empoderada, forte e determinada, que hoje auxilia outras mulheres em situações como as que ela esteve, por meio do seu projeto “Mulheres Lapidadas”, que consiste em um treinamento vivencial que busca descobrir os recursos que estão dentro de cada uma, por meio de dinâmicas utilizadas para ressignificar crenças antigas, realinhar valores e descobrir poderes internos. Em 2017, foi convidada pela presidente do Instituto Elos que Empoderam, Flavia Mellysse, para tornar-se embaixadora no estado do Rio Grande do Sul, onde passou a cooperar, como palestrante, em eventos e ações em defesa da mulher. Ivana reforça a importância de se trabalhar o empoderamento na prática. Para isso, ela conta com uma equipe de doze pessoas, que a auxiliam a levar seus ensinamentos para dentro de empresas, faculdades, locais públicos e onde quer que seja necessário. Ela acredita que cada pessoa é um agente de cocriação, pois dissemina aquilo que escuta e gera novos ensinamentos para outros seres. Milena e Ivana, com sabedoria e sensibilidade, apresentam caminhos para cada uma dessas mulheres que estão sem esperanças, levando novos olhares e horizontes para dentro dos lares, construindo seres humanos mais fortes e capazes de mudar suas vidas.

Caso deseje se tornar voluntário (a) do Insituto Tulipa, acesse o site: institutotulipa.com.br

Foto: Giulia Marques

escolhida como meio principal de comunicação com as personagens principais dessa mobilização. Para isso, a voz feminina escolhida foi a da cantora Daya Moraes, 35 anos, que aceitou o convite: “Sou feminista e engajada na causa, todo o meu trabalho é pautado na questão de a mulher poder estar onde, com quem e fazendo o que ela quiser. Por isso, é uma honra colaborar com uma ação tão importante”. Érica Claros, autônoma e participante do evento, afirma que se sentiu representada e teve suas esperanças para o futuro aumentadas. Tendo sofrido violência doméstica por dez anos, durante seu último relacionamento, emociona-se ao dizer que, realmente, é possível sair dessa situação, e afirma: “O erro é o silêncio”. Por outro lado, Rosa Maria Chalmes, pedagoga e participante da roda de debates sobre empoderamento feminino, critica a falta de representatividade para as mulheres negras: “Esse tipo de discussão não chega até a comunidade, à mulher periférica, que passa por todos os tipos de violência, todos os dias, e não recebe auxílio”.

Ivana Limah exibe a camiseta do seu projeto pessoal, “Mulheres Lapidadas”


pessoas”, afirma Gabriel. “Eu faço show de rap aqui no Opinião desde 1988, 1987, então até chegar nesse estágio de ter uma vez, duas vezes por mês show de rap… Era um por semestre, um a cada três meses.” Produtor, rappers e DJ’s comentam sobre suas experiências com o gênero no estado Esses nomes fortes e crescentes na cena brasileira Carla Carvalho conquistam seu espaço pelo sul, mas nenhum dos Foto: Carla Carvalho principais nomes dos festival são gaúchos. “Tem Sabotage e Racionais, uma série de fatores que vão da história, postura, há um tempo atrás o cultura, mercado, etc. E não acredito em um ponto rap era só com essa em específico ou algum culpado, mas acho que galera”, comenta Gabriel Souza, um dos existem vários. É um conjunto de coisas”, explica o rapper Zudizilla, 33 anos, da cidade de Pelotas. diretores da Opinião Produtora e responsável “Para eu fazer rap já é mais fácil do que foi pro J. pelos shows de rap. “A Clip, ou pro Mabeiker, ou pro Da Guedes”, comenta. Já a visão de Negra Jaque, 30 anos, rapper portogente já viu há 20 anos alegrense crescida no Morro da Cruz, também com Da Guedes que eles fizeram uma coisa pedagoga, aponta a falta de produtores como um fator prejudicial à ascensão do rap do estado pelo diferente e tiveram Brasil: “A cena no Rio Grande do Sul é muito sucesso, circularam Rio, São Paulo, fizeram potente e promissora, mas temos deficiência na área da produção, na organização e no incentivo para turnês, mesmo sendo nossas mídias. É importante que esses profissionais muito baseado nas tenham essa consciência do papel deles para coisas que acontecem nossa evolução, são muitos artistas e poucos bons aqui”, complementa. produtores.” Indicada ao Prêmio Açorianos de A rapper Negra Jaque mediando o bate-papo com o rapper Rincon Ao observar os Música, na categoria “melhor intérprete pop”, Negra Sapiência e a comunidade durante a 12ª FestiPoa Literária. eventos de show de rap porto-alegrenses, nota-se Jaque ainda afirma que “o rap nacional está em que os nomes do festival Rap In Cena, realizado construção, é um movimento orgânico, é mutável No final do ano de 2018, a plataforma Spotify pela Olimpo Produções no Pepsi On Stage, são e transformador, contemporâneo e seu perfil se revelou uma lista dos artistas mais escutados no semelhantes aos do ano passado. Djonga, de mostra de acordo com o seu tempo.” mundo. Os três primeiros eram rappers. As cinco Belo Horizonte, Froid, de Brasília, e Cynthia Luz, Enquanto o resto do Brasil avança na produção, primeiras músicas da lista de “música do verão”, de Minas Gerais, aparecem novamente no lineo Rio Grande do Sul parece estar indo lentamente também do Spotify, são de rap. O gênero tem up do festival de 2019. Baco Exu do Blues, de para o mesmo caminho. “É tudo uma questão de se ganhado destaque nos últimos anos, tanto no Salvador, fez parte do festival no ano passado e, mundo quanto no Brasil. “Aqui em Porto Alegre, nesse, veio com seu show solo para a capital. “Com adaptar”, comenta Gabriel Souza. “Acredito que Rio e São Paulo se adaptaram um pouco melhor a essa a cena rap e hip-hop sempre foi muito da galera essa popularização que deu, da galera do rap ter nova cena, e Porto Alegre está engatinhando.” Ele do movimento, que basicamente era a galera entendido o que a gurizada quer, como youtube, justifica explicando que um dos principais fatores é de periferia. E todos os shows, tirando algumas vídeos, redes sociais, fez eles darem um passo à a música ser “muito de periferia”. exceções que estouraram como o Marcelo D2, frente e terem chegado a um número maior de

Cultura Cresce a cena do rap no Rio Grande do Sul

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O rap nacional está em construção, é um movimento orgânico, é mutável e transformador, contemporâneo e seu perfil se mostra de acordo com o seu tempo. Negra Jaque

Confira Negra Jaque cantando “Cabelo Crespo” na 12ª FestiPoa literária!


“Letras mais sociais e menos conhecimento de beat e equipamentos. Isso aconteceu porque a periferia lá é maior que a nossa, e as pessoas começaram a ter acesso a essas informações muito antes da gente”, afirma o produtor.

instituição social que precise de doações mais urgentes.” Da última vez, no lançamento do primeiro modelo de camisetas, a Lowlife doou para o Lar do Ancião — um asilo para idosos, de Bento Gonçalves. Foto: Lowlife Mob, divulgação

Outros projetos Não é necessário ser rapper para difundir a cultura hip-hop. O grupo Lowlife Mob é formado por dois DJ’s, um dançarino, um fotógrafo e uma designer. O objetivo é “fazer a diferença de um jeito diferente”, afirma Guilherme Rigo, um dos DJ’s. “Na música, como nós gostamos muito do estilo, introduzir a cena do rap de um jeito diferente e quanto mais forte possível, principalmente a nacional”, explica. “Na arte do desing também, porque é muito desvalorizada aqui no Brasil. E além de tudo isso, quebrar paradigmas sociais, como a homofobia e o machismo, que acabam fazendo parte da própria cena.” Oriundos de cidades gaúchas como Bento Gonçalves e Carlos Barbosa, o grupo decidiu introduzir o rap aos poucos, na serra, durante seus trabalhos. “Última festa que tocamos eu toquei 45 minutos de rap e o Carlo (Mocellini, outro DJ) tocou 45 minutos de funk. Eu fiz um set inteiro de gangsta rap (nomes como Tupac, Dr. Dre, Snoop Dogg, 50 Cent) ou seja, uns caras antigos. O pessoal acha que é limitado, só que as coisas se renovam e eles não se dão conta”. Por esse motivo, Guilherme diz que “não deixa de tocar quatro ou cinco músicas nacionais para mostrar que aqui também é forte” e introduzir a cena aos poucos. Como forma de ajudar a comunidade, o grupo trabalha também com a própria marca de roupas. “De tempos em tempos, a gente dropa uma peça exclusiva para arrecadar renda para alguma 17

O grupo Lowlife Mob tem o objetivo de introduzir arte e a cena do rap para seu público. Confira a playlist dos DJ’s no Spotify!

Chegada diretamente do Bronx, nos Estados Unidos, a cultura hiphop ganhou forma no Brasil durante os anos 80. Marcado pela resistência e afirmação de cultura, o movimento surgiu primeiramente por meio do breakdance — estilo de dança de rua criado em Nova York por afrodescendentes e latinos. E foi em 1990, com Holocausto Urbano, que os Racionais MC’s trouxeram a realidade das favelas por meio do rap, contrastando com a visão de sociedade brasileira que até então era constituída principalmente pelas melodias da MPB. Enquanto isso, aqui no Rio Grande do Sul, em 1993 formava-se o grupo Da Guedes. Proveniente da Rua Guedes da Luz, do bairro Partenon, em Porto Alegre, Da Guedes rodou o Brasil com rimas sobre o bairro e a realidade da cultura periférica da cidade. Em 2012, com 25 anos de grupo, Da Guedes voltou às atividades trazendo sua formação original: Baze, Nitro Di e DJ Deelay. Nos palcos, o grupo apresenta um setlist com os sucessos de sua discografia.

Acompanhe a cena nas redes sociais:


Ambiental Do resgate à adoção

Fotos: Rafaela Knevitz

Os cavalos salvos pelos profissionais da EPTC

Rafaela Knevitz

Encontrado no Arroio Dilúvio, em Porto Alegre, o cavalo hoje conhecido por Ceguinho teve seus olhos perfurados por seu proprietário para que pudesse transitar em meio a ciclovia apenas sendo guiado pelas cordas. Graças a uma denúncia feita à central telefônica da Empresa Pública de Transporte e Circulação de Porto Alegre (EPTC), o animal foi resgatado e hoje vive no Abrigo de Animais da própria EPTC, localizado na zona sul da capital. Desde 2008, com a aprovação da Lei 10531, que proíbe a circulação de veículos de tração animal, a EPTC tornou-se responsável por todas as três etapas do resgate desses animais: recolhimento em via pública, encaminhamento ao Abrigo de Animais e acompanhamento da adoção. Desde 2009, ao total, já foram resgatados mais de 3.150 cavalos, dentre estes, 756 adotados. Para entender como funciona o recolhimento destes equinos, leia as três etapas do resgate realizado pelos profissionais da EPTC.

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Operações de resgate De acordo com o responsável pela Equipe de Veículos de Tração Animal (VTA), Julio Vieira, o resgate de cavalos inicia-se principalmente a partir das ocorrências encaminhadas aos números 118 ou 156 (número de denúncias da EPTC e Prefeitura Municipal de Porto Alegre). Devido às ocorrências registradas em locais distintos da cidade, a EPTC, com a Guarda Municipal, realiza blitz para acompanhamento das denúncias relativas à conduta e trânsito de veículos de tração animal em local proibido. Estas operações são planejadas com antecedência para que ambas as viaturas desloquem-se juntas e dirijamse aos locais onde as ocorrências foram registradas. Em Porto Alegre, por exemplo, Julio informa que a região da cidade com maior número de ocorrências é a zona sul, em razão de possuir mais campos abertos para soltar cavalos. Porém muitos desses resgates acontecem em plena deslocação de viaturas. Nestes casos, logo que os fiscais avistam o animal, que pode estar solto ou carregando carroça, descem com os equipamentos necessários para prendê-lo até que o veículo do Abrigo de Animais da EPTC chegue para o resgate.

Na foto acima, cavalo resgatado na blitz carregando uma carroça. Abaixo, dois fiscais da EPTC dentro da viatura.


Quando há confiscação de animal diretamente de seus proprietários, os mesmos recebem um documento chamado Termo de Recolhimento do Animal. Neste registro, devem estar os dados necessários para identificação do dono, e informando que o próprio poderá entrar com um pedido de devolução do cavalo em até 15 dias. Antes disso, o animal é encaminhado até o abrigo e lá será avaliado por médicos veterinários para uma primeira vistoria. Caso não constar no laudo veterinário nenhum sinal de maus-tratos, o equino poderá ser retirado após o pagamento de uma multa de R$ 15,00 por seu proprietário, se ainda houver interesse. No entanto, quando há confirmação de negligência por parte do dono, a devolução é suspensa e o animal entrará direto para a lista de adoção do Abrigo de Animais.

Abrigo de Animais da EPTC Proibido de realizar trabalhos forçados, o cavalo resgatado, agora aposentado, desfruta de um campo de 20 hectares, localizado na Estrada Chapéu do Sol, bairro Belém Novo, até que algum adotante demonstre interesse. Lá recebem uma alimentação regrada e são escovados todos os dias. Além do campo, o Abrigo de Animais conta com caminhão equipado com capacidade para recolhimento de cinco animais, 12 baias em alvenaria para cavalos debilitados, serviço veterinário e funcionários para tratamento, limpeza, manutenção do campo e atendimento ao público. “Quando o animal chega no abrigo, o veterinário primeiramente avalia fisicamente e registra no laudo. Caso houver machucados, o cavalo vai para as baias, é tratado e solto no campo quando melhorar. Após 15 dias, o animal já está apto para entrar no processo de adoção” diz Guilherme Santi, cuidador do Abrigo de Animais. Apenas em 2018, 258 cavalos foram recolhidos e 63 adotados. Neste momento, permanecem apenas 41 equinos, de acordo com Andreia Santi Machado, gerente administrativa do abrigo.

Fotos: Rafaela Knevitz

Cavalos resgatados e acolhidos no Abrigo de Animais da EPTC.

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A gente fica apegado, mas também ficamos felizes porque custa muito alguém querer adotar. Guilherme Santi


Foto: arquivo Solange Tibola

Processo de adoção Atualmente, há em torno de 80 pessoas interessadas na adoção de cavalos. Segundo números da EPTC, 90% dos candidatos adotantes são proprietários de sítios. Os 10% restantes são ONGs e clínicas especializadas em equoterapia. Para adotar algum desses animais, os interessados devem assinar um formulário, no qual constam as condições para a adoção e estar ciente de que o animal não poderá ser comercializado, realizar qualquer tipo de trabalho e ser usado em práticas esportivas. A EPTC fica responsável pela vistoria dos possíveis adotantes e avalia se estão aptos a receber algum animal em suas propriedades. Se estiver tudo conforme as exigências, a equipe de Veiculos de Tração Animal (VTA) entra em contato com os interessados e marca uma visita. Quem passou por este processo de adoção foi a micro empresária Solange Tibola, que adotou dois cavalos resgatados pelos profissionais da EPTC. Solange, que é moradora de Caxias do Sul, diz que procurava algum cavalo para fazer companhia ao seu Petiço, mas não encontrava abrigos de adoção de cavalos em sua cidade. Foi aí que uma protetora de animais indicou o Abrigo de Animais da EPTC. A empresária entrou em contato com o abrigo e informou que não havia exigências, assim ultrapassando diversos interessados. Isto só foi possível pois, dentro da lista de candidatos, a maioria procura apenas por animais sadios e permanece à espera até que algum animal esteja apto às exigências. Após informar ao fiscal da VTA que adotaria algum cavalo que não apresentasse interessados para adoção, ela conheceu dois animais inseparáveis, amparados no abrigo durante um ano, que nunca tiveram propostas de adoção. “Como escolher um quando o outro será deixado sozinho e sem chances de adoção?” questionou Solange. Ela afirma que há consciência das dificuldades de manter três animais de grande porte, porém a vontade de dar uma vida digna aos dois animais resgatados já a torna satisfeita. O agente de fiscalização da EPTC Edimar Pascoal garante que, mesmo após a adoção, continua em contato com as famílias para assegurar que estão sendo bem tratados. Ele afirma que os adotantes não se tornam fiéis depositários, podendo devolver o animal caso não houver mais condições de cuidá-lo.

Disque denúncias da EPTC: 118 20

Solange Tibola e seus dois cavalos adotados do Abrigo de Animais da EPTC.

Como adotar:

> Preencher e assinar formulário decretando

estar ciente das condições de adoção. Documento está anexado no site do Abrigo de Animais. LINK

>

Enviar o formulário junto a cópia de um documento contendo n.º de RG e CPF, e do comprovante de residência para o email adote@eptc.prefpoa.com.br Assista à reportagem no YouTube clicando abaixo


Economiana Bolsa: Investimentos Como ganhar dinheiro com eles?

As oportunidades que a Bolsa de Valores traz e as estratégias de aproveitá-las

Gabriel Conversani Em março de 2019, viralizou na internet um vídeo divulgado pela Empiricus, no qual Bettina Rudolph afirmava ter conquistado um patrimônio enorme apenas investindo na Bolsa de Valores. Supostamente, Bettina iniciou com R$ 1.500, e após quatro anos teria conquistado mais de R$ 1 milhão. Muito se falou sobre o vídeo nas redes sociais, o que tornou pauta de muitas discussões os investimentos na Bolsa de Valores. Afinal, é realmente possível ganhar tanto dinheiro em Foto: Gabriel Conversani

Juliano Bernartti em um dia de trabalho em seu escritório.

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tão pouco tempo investindo na Bolsa? É sim possível ganhar dinheiro investindo na Bolsa de Valores, o investidor Juliano Bernartti, que possui dez anos de experiência no mercado financeiro, afirma que a Bolsa de Valores representa uma ótima maneira de multiplicar o dinheiro, mas não é brincadeira. Ele já perdeu grandes quantias de dinheiro com investimentos que deram errado, assim como já ganhou muito. Para Juliano, o que realmente vai fazer alguém lucrar na Bolsa é a análise de mercado, para definir qual ativo mobiliário será comprado e o timing, para definir o momento certo para se investir. O que o investidor quer dizer com timing? É importante lembrar que, na Bolsa de Valores, o preço dos produtos negociados não é como o de um carro ou de um videogame. O preço na Bolsa muda o tempo inteiro, a cada minuto. Portanto, para se realizar um bom investimento, é preciso definir a hora certa para fechar o negócio no melhor preço possível. Mas como o preço muda tanto? O mercado é baseado na confiança. Por exemplo, se uma empresa está em ascensão, lucrando cada vez mais, os investidores terão confiança nessa empresa, pois acreditam que ela irá crescer. Com isso, compram ações da empresa. Baseado na lei da oferta e demanda,

se a procura por um produto aumenta e a oferta não, o preço do produto aumenta. Mas vamos supor que tenha sido descoberto um caso de lavagem de dinheiro por parte do dono da empresa. Aquela confiança dos investidores vai por água a baixo. E quando alguém não tem confiança sobre um produto que possui, vende. Os investidores perderam a confiança na empresa, e já que as ações são uma fração mínima do capital da empresa, perderam a confiança nas ações. Então vendem as ações, que perdem bastante valor. Esse exemplo mostra ações que, apesar de terem sofrido fortes variações em seu preço, se mantiveram estáveis por mais de um dia. Para se aprofundar mais sobre o tema, pode-se analisar a situação do Brasil em abril de 2019. Com toda a dúvida referente à execução ou não de uma greve dos caminhoneiros e a aprovação ou não da Reforma da Previdência, qualquer coisa que alguém do governo comentasse durante o dia interferiria nos preços. Se, por exemplo, algum mebro do governo atual dissesse que a Reforma será aprovada certamente, a confiança dos investidores no Brasil sobe imediatamente, e o preço das ações no Brasil sobre. Mas, se no

final do mesmo dia, a Reforma não for aprovada, a confiança deve desabar, e o preço das ações negociadas no Brasil deve despencar.

Não basta comprar ações, é preciso realmente investir.” Juliano Bernartti

Mas é realmente investir. Não adianta apenas colocar seu dinheiro em alguma aplicação e esperar que renda lucro. “O investimento na Bolsa envolve investir tempo, dinheiro e dedicação.” Muitas pessoas pensam que investir na Bolsa de Valores é arriscado como apostar em um Cassino, e por isso não investem. Mas uma grande quantidade de pessoas entende que esse investimento é questão de estudo e planejamento, mas não possuem conhecimento suficiente para isso, e acabam não investindo. Segundo a consultora de investimentos Renata da Silva, isso expõe o seguinte fato: muitos indivíduos deixam de entrar em um


negócio rentável por causa de falta de conhecimento, o que as faz, às vezes, pensar que para investir na Bolsa é preciso ter uma grande quantidade de dinheiro, o que não é verdade. E isso não é de hoje. “Quando as pessoas enxergam algo novo com muitas possibilidades de retorno, mas aparentemente muito complexo, preferem não se arriscar. Com isso, perdem ótimas oportunidades”. Para aqueles que passam das fases de dúvida quanto a investir na Bolsa de Valores e iniciam suas tentativas, definir a melhor maneira de realizar os negócios é um grande desafio. Para os que não se imaginam trabalhando na Bolsa, é uma incógnita. Mas para os dois grupos, a questão central é a mesma: o que analisar

Não basta comprar ações, é preciso realmente investir.”

valorizar ainda mais. Mas também não vai comprar uma ação muito barata hoje se não analisar que ela vai ganhar um grande valor futuramente. Alexandre conclui, sobre a escolha do melhor investimento, que a empresa emissora deve possuir pouco risco de inadimplência (não pagamento do valor devido), além de suas ações deverem dar uma perspectiva de crescimento de valor.

Quanto menor o risco, menor é o retorno.

Alexandre Júnior ao lado de Juliano Bernartti.

Juliano Bernartti

no mercado e como?O investidor Alexandre Júnior explica que na Bolsa de Valores são distribuídos diversos ativos, como ações, debêntures, fundos de investimentos, fundos de índice, dentre outros. Para explicar melhor, ele exemplifica o que disse com um exemplo de investimento em ações: “Vamos supor que eu esteja analisando o mercado para definir quais ações comprar. Uma das primeiras coisas que vou fazer é analisar o risco de cada empresa emissora das ações.” Em outras palavras, ele irá calcular qual é a chance de a emissora não me pagar os dividendos (caso haja).

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Foto: Gabriel Conversani

Esse risco é calculado principalmente por três empresas americanas, Standard and Poor’s, Fitch e Moody’s. (Estas empresas calculam o risco baseando-se em relatórios econômicos da empresa.) “Em seguida, estudaria o nível de negociação das ações na Bolsa, ou seja, o quanto estão sendo negociadas. Se estão sendo bastante procuradas para compra, seu valor está alto e/ou em crescimento. O que eu quero é comprar uma ação que estará valendo mais quando eu a vender do que quando a comprei.” Ele não irá, portanto, comprar a ação mais valiosa atualmente se não achar que irá

Alexandre Junior

Alexandre ainda fala sobre a relação entre risco e lucro. Muitos investidores tem essa frase na base dos seus investimentos, e tomam diferentes decisões para seus diferentes objetivos, dependendo se querem ganhar mais ou menos dinheiro e da sua capacidade de tomar riscos.

Esse pensamento ajuda-os na hora de investir, pois sabem que um risco maior é melhor remunerado, mas também mais penalizado. Quanto maior a segurança, menor é o risco. E quanto menor é o risco, menor é o retorno. Isso justifica por que investidores mais conservadores e que não correm muitos riscos não costumam perder dinheiro, mas não ganham grandes quantias em curto prazo. Aqueles profissionais mais arrojados e tomadores de risco, em geral, perdem dinheiro com mais frequência, mas ganham mais em menos tempo. Mas, afinal, como analisar o mercado e definir o melhor investimento? Tendo em vista o que Alexandre e Juliano disseram, foi elaborada uma tabela de dicas para investir na Bolsa. Esta tabela não traz regras para investir, apenas dicas.

Dicas de Investimentos

Infográfico produzido por Gabriel Conversani


Ambiental Bambu inova a feira ecológica

Projeto muda cenário em um dos mais tradicionais comércios de orgânicos da Capital

Vinícius Umann

Foto: Vinícius Umann

A Feira dos Agricultores Ecologístas de Porto Alegre, que acontece todos os sábados ao lado do parque da Redenção, ganhou um presente no ano em que completa 30 anos de existência: um projeto de implementação de bambus na feira. A ação é uma iniciativa da comissão da FAE, juntamente com o trabalho de Thiago Rempel, designer e artesão, com o objetivo de inovar uma feira que sempre montou suas bancas com metal. O projeto começou em janeiro de 2019, quando os feirantes estavam

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Thiago Rempel (direita), designer e artesão, finalizando o portal de entrada da FAE

organizando como seriam os portões de entrada, buscando reforçar uma visão sustentável e agroecológica. Foi então que surgiu a ideia de utilizar o bambu na construção desses portões, apresentada pela comissão da FAE em uma reunião entre os agricultores, que acontece todos os sábados, com o intuito de sugerir melhorias para o lugar. A partir disso, Elson Schroeder, membro da comissão e jornalista, entrou em contato com Thiago Rempel, que já havia feito exposições de bambu na feira, tornando seu trabalho e habilidade conhecidos pelos agricultores, e firmou a parceria para iniciar o projeto. Segundo Elson, “o artesanato do Thiago foi muito bem reconhecido pelos frequentadores da FAE, por isso a iniciativa de chamá-lo para integrar um dos maiores planos de ação feitos pela atual administração.” A partir disto, quando se concluiu a produção dos portais adotando a ideia do bambu e conhecendo o trabalho do Thiago, começou a se pensar em ampliar este processo de maneira geral, buscando cada vez mais um contexto sustentável no ambiente. Foi então que, em fevereiro, a Banca do Meio e a banca de eventos, pontos administrativos da feira, passaram a ser construídas por bambu a fim de se avaliar, inicialmente, como seria o impacto dessa novidade. Elson afirma que formas de sustentabilidade - redução de plásticos, utilização de material reciclável, entre outros - em qualquer ramo, é cada vez mais relevante e isso faz com que a reputação do lugar aumente, trazendo mais

movimentação aos negócios. De acordo com a comissão, a feira possui 44 bancas registradas e mais ou menos 300 famílias trabalhando no local. A estimativa média de público, segundo a prefeitura, é em torno de 15 mil pessoas circulando aos sábados. Durante o mês de fevereiro “o aumento do público da feira foi significativo”, acrescenta Elson. “Conforme a FAE foi divulgando o projeto, principalmente nas redes sociais, mais pessoas apareceram para conhecer. Embora nós da administração não registramos dados de público durante o mês, percebemos o aumento do público pela multidão que se formava nos corredores da feira. Tinham momentos que não conseguíamos nem passar por dentro. Tivemos que dar a volta por fora”. Nesse momento foram realizados eventos com música ao vivo e contação de histórias para crianças. “Os bambus trouxeram mais vida à feira que trabalha a favor do natural, do alimento de qualidade - sem agrotóxicos ou produtos transgênicos - e, principalmente, reforçando a relevância que um material sustentável tem com a agroecologia”, coloca Helen Pinheiro, feirante e graduada em história, frequentadora há 7 anos da Feira dos Agricultores Ecologistas. Segundo Camila Torres, produtora cultural da feira, o público que passa pelas bancas acaba ficando curioso com o bambu. O espaço consolidou-se como referência de comercialização de alimentos livres de agrotóxicos. Mas não só isso. Ela se tornou


Foto: Vinícius Umann

Camila Torres (centro), produtora cultural, na banca administrativa de eventos da FAE

As pessoas ficam encantadas. Elas querem saber o que é, querem tocar no bambu. Acho que o mais importante é a retomada do contato com o que é natural.

Camila Torres, produtora cultural da feira.

também um ponto de encontro e de convergência de pessoas, grupos sociais e entidades interessadas em agroecologia, agricultura familiar, gastronomia e defesa do meio ambiente – reforçado ainda mais com o projeto. “A feira tem uma história que já está perto de entrar em sua terceira geração. Quem for à feira hoje encontrará jovens produtores e produtoras que freqüentam as suas bancas desde bebês.” O bambu traz uma ideia inovadora na questão de estética do local. Este projeto está passando uma mensagem não apenas para a FAE, mas também para as famílias agricultoras, grupos e entidades que defendem uma vida ecológica e que buscam um estilo de vida mais sustentável. Elson e Thiago acreditam que o bambu faz parte do contexto da feira, um local que busca ser ecológico em todas as questões, tanto na parte alimentícia quanto nas formas 24

de se organizar e materiais que se usam. “Uma vez que é preciso pensar e agir em relação ao plástico excessivo no planeta, com a poluição dos rios e degradação dos solos, projetos como o Bambu na Feira precisam ser mais frequentes”, afirma Elson. De acordo com Nelson da Silva, agricultor e feirante há 29 anos - sendo um dos pioneiros da feira – o projeto representa o contexto ideológico do lugar. “Está sendo desenvolvida a arquitetura com bambu em todas as bancas da FAE, além de ambientações no local”. Nelson afirma que projetos sustentáveis sempre foram um dos pontos de foco. Até mesmo quando não haviam administrações ou comissões, o consenso entre os agricultores sempre foi um ponto positivo. “Desde o início, há vinte e nove anos atrás, temos uma parceria muito grande: trocamos produtos, compartilhamos conhecimentos, visitamos a horta um do outro e por aí vai. Esse consenso é o que deu vida ao bambu na Feira dos Agricultores Ecologistas.” Os demais trabalhadores têm um ponto de vista positivo sobre a implementação do projeto. Segundo a opinião de Gabriel Mathias, 19 anos, agricultor de Eldorado do Sul, integrante da Cooperativa Pão da Terra e trabalhador na FAE, “o bambu traz uma ideia totalmente inovadora para a feira. Seria muito “massa” fazer parte dessa transformação e contribuir para o planeta com essas ideias.” Além disso, Gabriel exalta a importância da colaboração dos demais agricultores para que funcione. Independentemente das ideias de complementos e inovações que surgem nas reuniões da feira, por parte da comissão e administração, é sempre levantado questões como: “Por que é necessário?”, “O que beneficiaria a FAE?”, “É de acordo com a ideologia da feira?”. No projeto Bambu na Feira não foi diferente. Alguns pontos como economia, arquitetura, durabilidade e como benefício social

foram discutidos nas reuniões sobre o projeto. Thiago, há 12 anos trabalhando com artesanato de bambu, criando e desenvolvendo projetos sobre o material, é quem responde a essas questões. Segundo ele, o bambu é de grande relevância social por ser uma planta que cresce rápido, podendo atingir até um metro por dia, além de ser importante na descontaminação dos solos e “acabar com os barulhos que as bancas de metal produzem na feira, às quatro horas da manhã”, acrescenta. No assunto da economia, Thiago afirma que não será um problema, levando em consideração todos os benefícios e a durabilidade do bambu. “Como o projeto Bambu na Feira está em desenvolvimento, ainda não fechei os valores. Mas as negociações estão bem encaminhadas”. Thiago tem sido, até então, a única pessoa com conhecimento técnico a realizar o trabalho com bambu na feira. Ele afirma que, mesmo sendo uma planta forte, de fácil crescimento e adaptação, com o tempo pode sofrer degradações se não tiver cuidado. Para isso, Thiago estará à disposição da feira para observar o material ao longo do tempo e realizar qualquer manutenção que for necessária, garantindo um futuro da FAE com bambu. A feira acontece todos os sábados na avenida José Bonifácio. Os trabalhadores geralmente chegam a partir das 4h e assim começam a montar o seu dia de trabalho, que se estende até as 13h. Lá se encontra de tudo: desde alimentos, objetos e roupas.

...projetos como o Bambu na Feira precisam ser mais frequentes.

Elson Schroeder, jornalista da feira.


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