Babélia 21

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Em Bento, jiu-jítsu faz parte do currículo Escolas da rede municipal introduziram também a oferta de skate e corda bamba nos currículos do ensino fundamental

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Militares pressionaram anunciantes de jornal

Publicação experimental do curso de Jornalismo da Unisinos - São Leopoldo/RS - Junho de 2014 - Edição 21 CRISTIANO VARGAS

Considerado uma das publicações mais importantes na resistência ao regime ditatorial, o Coojornal sucumbiu ante problemas financeiros e ideológicos

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Decreto 477 permitia expulsão de alunos No período da ditadura cívicomilitar no Brasil, o chamado “AI-5 das universidades” autorizava a exclusão de estudantes considerados subversivos

THIAGO SANTOS

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Quanto maior a oferta, maiores os problemas Impulsionada pelo crédito, a construção civil entrega imóveis freneticamente, mas, ao entrar na casa própria, muitos moradores já precisam fazer reformas

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Lixo vira arte em escola de meio rural No interior de Santo Antônio da Patrulha, crianças do ensino fundamental do educandário José Telmo Martins transformam casca de ovo e jornais em presépios

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Ateliês mantêm produção calçadista de Parobé Empesas que fecharam ou se transferiram abriram espaço para ex-funcionários iniciarem seu próprio negócio, gerando 3,5 mil empregos no município 4e5

Maconha plantada em casa semeia polêmica Movimento defende o cultivo doméstico da erva como forma de evitar o tráfico. Para a polícia, continua sendo crime – e dá cadeia

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Política

São Leopoldo Junho/2014 Edição 21 l

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Da Redação Maior parte da mídia apoiou o golpe, avalia Elmar Bones

EXPEDIENTE

Em 2014, quando a nação lembra os 50 anos do Golpe de 1964, o Brasil sedia o Campeonato Mundial de Futebol. Política, repressão e futebol caminharam de mãos dadas em vários momentos da história humana. Na América Latina, tanto a ditadura cívico-militar brasileira como o governo repressor da Argentina tiraram proveito de vitórias das suas seleções nacionais. Os dois eventos – Golpe e Copa - ganham espaço nessa edição do Babélia. O jornalista Elmar Bones, 70 anos, um dos fundadores do Coojornal, vivenciou a falta de liberdade de expressão antes e depois do Ato Institucional número 5 (AI-5). Antes, quando militava no movimento estudantil e depois por publicar matéria reportando a fragilidade do Exército. Teve, por isso, diárias na cadeia. Na análise do jornalista, a grande imprensa foi uma das grandes apoiadoras do Golpe. Aliás, na época não se falava em Golpe, mas em Revolução Redentora. Mais tarde a imprensa foi vítima de quem ela apoiou. Depois do AI-5 a censura aterrissou em redações de jornais. Consequências dos anos de chumbo são notadas ainda hoje. O professor Pedro Osório e a professora Christa Berger destacam a proibição da leitura de certos temas, proibidos pela ditadura. Christa traz exemplos de apreensões surreais, como o confisco de livros sobre o cubismo porque militares achavam que seu conteúdo se reportava a Cuba. Talvez resida aí a formação de uma geração acrítica ou que recorre a lugares comuns para papagaiar o que a mídia lhe dita. O complexo de vira-lata, conceito cunhado pelo escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues quando o Brasil perdeu o jogo, e a Copa, para o Uruguai, em 1950, está de volta. O conceito refere-se a esse sentimento de inferioridade em que o próprio brasileiro se coloca frente aos demais povos e países. Por isso é que a nossa corrupção é a maior do mundo, o brasileiro não sabe planejar, os materiais aqui produzidos não prestam e por aí afora. Claro que a organização brasileira para abrigar a Copa do Mundo tem falhas, houve desvio de recursos, a nossa oferta em saúde e educação deixa a desejar... Mas daí a colocar todas as atuais mazelas brasileiras na conta dos investimentos alocados para a realização da Copa é, talvez, uma espécie de golpe, não de caráter cívico-militar, mas, sem dúvida, político. Até parece que antes do anúncio da Copa o Brasil era um paraíso! Por isso é sóbria a análise do professor Igor de Morais, do Mestrado de Economia da Unisinos, ao frisar que a anunciada crise que arautos preveem para depois dos jogos mundiais de futebol não é culpa da Copa. A crise tem a ver com vários fatores que geram o desequilíbrio macroeconômico. Se a corrupção relacionada à construção de estádios tem o tamanho do informado, é chegada a hora de apontar corruptos e corruptores. Vejamos se, depois da Copa e depois das eleições de outubro, esse clima de cobrança perdurará. A primeira batalha permanente a ser enfrentada é o combate à secular impunidade presente na sociedade brasileira. Deixamos aqui o convite para a leitura dessas análises.

REPÓRTER, QUE FOI UM DOS FUNDADORES DA COOJORNAL E TRABALHOU EM GRANDES JORNAIS E REVISTAS DA ÉPOCA, ANALISA A INTERFERÊNCIA DO REGIME MILITAR NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO Ariane Laureano

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e houver outro golpe, a imprensa vai apoiar novamente”. A frase é do jornalista Elmar Bones, que teve sua vida modificada pela ditadura militar. Para ele, a maior parte da imprensa foi favorável ao regime instaurado em 1964, com a justificativa de “salvar o país do comunismo”. Manchetes de grandes jornais da época pediam por uma “intervenção militar contra a baderna”. Faz meio século que o presidente João Goulart, mais conhecido como Jango, foi deposto e os resquícios daquela época ainda sobrevivem na sociedade atual. Bones participava do movimento estudantil, em Livramento, engajado num projeto de educação de adultos, patrocinado pelo governo de Jango. Com a deposição do presidente, houve também a proibição dos manifestos estudantis. No início de 1965, quando foi para Capital prestar vestibular, ocorreu a sua primeira prisão. Bones e seus antigos colegas do movimento estudantil foram capturados pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). Naquela época, o regime fez o que chamou de “limpeza”, prendendo quem não era a favor do governo. Em 1968, a censura aumentou no país, a partir do Ato Institucional Número Cinco (AI-5). Foi nessa época que Bones sentiu que estava vivendo num regime militar. Antes de uma reportagem ser publicada, o material passava por uma avaliação da censura, que decidia o que podia

ou não ser publicado. Segundo o jornalista, a avaliação era muito aleatória, o que proporcionava um ambiente desanimador nas redações. Para Bones, uma das maiores apoiadoras e vítimas da censura foi a mídia. Não dá para esquecer, que foi nesse período que grandes grupos surgiram. O acordo consistia em não se falar em ditadura e sim em revolução. Temas como anistia, tortura e presos políticos estavam proibidos dentro das redações. Entre 1974 e 1975, a censura foi para dentro das redações. Jornalistas que não eram confiáveis ou que não concordavam em se autocensurar foram expurgados das redações, como Mino Carta, da revista Veja, Cláudio Abramo, da Folha de São Paulo, Aloysio Biondi, do Estadão. Esse período também ficou marcado pelos movimentos contra a ditadura. A população estava inquieta, pois não se noticiava nada sobre o que acontecia no país. Foi então que surgiram os jornais alternativos, que criticavam e denunciavam o regime militar. Um deles foi o Coojornal, fundado por Bones, dentro da

Jornalista lembra que imprensa apoiou mas também foi vítima da censura. Temas como anistia, tortura e presos políticos estavam proibidos dentro das redações

(51) 3591 1122 unisinos@unisinos.br

Reitor: Vice-reitor: Pró-reitor Acadêmico: Diretor de Graduação: Gerente de Bacharelados: Coord. Curso de Jornalismo:

Marcelo Aquino José Ivo Folmann Pedro Gilberto Gomes Gustavo Borba Gustavo Fischer Edelberto Behs

Atualmente, Bones se dedica à publicação da Revista JÁ

Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre. A censura passou longe do jornal, porque a cooperativa era composta por vários membros, alguns favoráveis à ditadura. Porém, uma reportagem publicada por Bones, em 1980 , mostrava a fragilidade do Exército, através da formação de uma guerrilha, liderada por Carlos Lamarca, no Vale do Ribeira, no estado de São Paulo, na década anterior. Na época, o jornalista estava a serviço da revista Veja, onde a matéria foi censurada. A publicação da reportagem pelo Coojornal levou à prisão de Bones e de mais três colegas: Osmar Trindade, Rosvita Saueressig e Rafael Guimarães - que passaram 20 dias detidos no Presídio Madre Pelletier, em Porto Alegre. O jornalista, que nunca sofreu nenhuma tortura física, conta que a maior era a psicológica. “O lugar onde eles nos colocaram era horrível, havia um corredor que dava acesso às celas, lá no final eram executadas as torturas. Me colocaram numa

cela onde eu ouvia tudo.” Bones se dedica hoje ao Jornal JÁ e à Revista JÁ, ambos de sua criação. Ele acredita que a censura ainda existe, porque em 2001, ao publicar uma reportagem, no JÁ, denunciando um desvio de aproximadamente R$ 800 milhões – em valores atualizados – pela Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), foi condenado por danos morais. Quem estava envolvido no caso era Lindomar Rigotto, irmão do ex-governador Germano Rigotto. Segundo o jornalista, sua reportagem não tinha erros, porém a questão danos morais é um meio de censura atual. Atualmente, Bones está engajado na publicação de três edições especiais sobre o golpe militar de 1964 na Revista Já. A primeira edição, já publicada, tratou do período que antecedeu ao golpe, a segunda será sobre o regime e a terceira, o seu desfecho. (Mais Política na página 6)

Jornal produzido semestralmente pelos alunos do Curso de Jornalismo da Unisinos - São Leopoldo/RS

Universidade do Vale do Rio dos Sinos São Leopoldo e Porto Alegre/RS Linha Direta: E-mail:

ARIANE LAUREANO

Textos: alunos das disciplinas de Jornalismo Impresso I e II, Redação Jornalística I e II, e Redação para Relações Públicas II. Orientação: professores Anelise Zanoni, Edelberto Behs, Felipe Boff e Luiz Antônio Nikão Duarte. Imagens: alunos da disciplina de Fotojornalismo. Orientação: professora Beatriz Sallet. Projeto gráfico: alunos Fabiano Gil, Juliana dos Santos, Roseli Santos e Tainá Hessler, da Turma 2012/2 da disciplina de Planejamento Gráfico. Orientação: professor Everton Cardoso. Diagramação: Agência Experimental de Comunicação (Agexcom). Diagramação: estagiária Gabriele Menezes. Supervisão: jornalista Marcelo Garcia.

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Economia

Copa não gera crise nem tira o Brasil da pobreza DESEQUILÍBRIO ECONÔMICO OCORRERÁ DEVIDO A PROBLEMAS CÍCLICOS DE GASTOS PÚBLICOS, QUE SE POTENCIALIZAM APÓS AS ELEIÇÕES, SEGUNDO ECONOMISTA DA UNISINOS Bianca Ferrão de Oliveira

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Copa do Mundo não pode ser culpada pela iminente crise econômica que atingirá o Brasil, segundo o economista Igor de Morais. Para ele, a causa é a herança da política econômica praticada no país nos últimos anos. A deficiência no planejamento dos investimentos afeta setores como o de Turismo e reduz a expectativa de desenvolvimento gerada pelo evento. Doutor em Economia e professor do Mestrado Acadêmico em Economia da Unisinos, Morais ressalta que dentre tantas abordagens sobre o assunto é importante separar o que é “Copa” do que é a economia como um todo e avaliar a herança do país: “Se fala muito de uma crise pós-Copa, porém essa crise não tem nada a ver com o evento. Ela tem conexão com outros aspectos, com a política econômica adotada nos últimos anos que é uma soma de fatores que nos conduzem a um ambiente de desequilíbrio, chamado de desequilíbrio macroeconômico. Esses fatores se somam e estouram em um determinado momento. Não é que esse momento seja o pós-copa e sim o pós-eleições”. O economista também aponta que não há nenhuma comissão para avaliar a efetividade dos investimentos realizados após o evento: “Tivemos um problema de dimensionamento, ficamos muito deslumbrados com esse evento e esquecemos de todo o resto. A herança é ruim desse ponto de vista e acho que ela fica pior ainda sob a percepção de que como sociedade brasileira nós não soubemos planejar.” Em abril, quando faltavam pouco mais de 40 dias para o início do evento do Brasil, pesquisa realizada pelo Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil – FOHB, revelou que 40% dos quartos de hotéis ainda estavam vagos. São Paulo é a cidade com menor percentual de diárias reservadas, apenas 24%. Já o Rio de Janeiro tem o maior percentual de diárias vendidas, chegando a 93% na final dos dias 12 e 13/7. Dos jogos da primeira fase, Brasil X Camarões, que ocorre no dia 23 de junho em Brasília, conta com valor de hospedagem médio de R$ 959,00, um dos mais caros, conforme levantamento da trivago. Igor destaca dois elementos como possíveis justificativas para a baixa procura: a desistência dos

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Inflação causa impacto no campus da Unisinos A inflação de 6,3%, a maior desde 2003, se reflete no campus São Leopoldo. “Está terrível. As taxas de inflação nas passagens aéreas e pacotes de intercâmbio são imensas, fazendo com que todos fiquem em casa e adiem planos de passar um tempo no exterior”, diz Josiane Rosa, gerente da Agência de Viagens CI. Também há constante inflação sobre medicamentos, apesar da venda de produtos higiênicos na farmácia localizada na Unisinos ser maior. Andreia Ferreira, farmacêutica da filial da Agafarma, afirma que há muitas reclamações, por parte dos consumidores. Ainda mais neste primeiro

semestre, quando o IPCA teve um aumento de 10,76%. Quem não sofre tanto com essa inflação é o setor alimentício, em que os representantes cumprem uma tabela de valores, para que nenhum estabelecimento destoe de preço. “Já que trabalhamos dentro de uma universidade privada, não temos baixa no consumo e raramente recebemos reclamações”, diz o gerente do Restaurante Fratello, Gilnei Oliveira. Segundo a vendedora da Loja Ouze, Juciara Freitas, o baixo consumo está ligado à estação do ano e não ao preço, por se tratar de clientes de classe média-alta.” (Ana Alice Meireles)

Comerciantes avaliam efeitos da alta de preços

Visão crítica sobre o legado Alguns dos investimentos realizados não serão aproveitados após o evento esportivo, pois são de utilidade pontual. Segundo o entrevistado, isso é uma questão importante, pois toda estrutura pública é determinada para atender o nível médio de necessidade e não picos.

Estádios: Igor afirma que do ponto de vista econômico os estádios não têm muita utilidade: “É um volume de recursos que seria suficiente para construir muito mais museus, outros tipos de lazer educativo. Não estou dizendo que o futebol não seja cultura, porém isso reflete, apenas, a situação em que se encontra a cultura brasileira, enquanto prioriza esse tipo de coisa. Em algum momento, como a população vai demandar recursos de oferta de infraestrutura pública, vai ter que ser feito esse investimento futuro”. turistas por conta da imagem negativa do país no exterior - que teve repercussão ampliada nas últimas semanas e o excesso de otimismo que levou a altos investimentos. “O pessoal do Turismo tem uma expectativa boa, mas não é em todo o Brasil, são determinadas regiões.

Hotéis: no setor de Turismo foram investidos R$ 2 bilhões através do programa BNDES ProCopa que tem por objetivo financiar a construção, reforma, ampliação e modernização de hotéis, aumentando a capacidade e qualidade de hospedagem. O preocupante é que no retorno do fluxo normal de hóspedes, com o término da Copa do Mundo, esses estabelecimentos ficarão com um excedente de vagas que não será habitualmente ocupado. Pode ser um evento bom, mas com decepção”, diz ele. O plano de investimentos da Copa totaliza R$ 25,6 bilhões, segundo o último balanço divulgado pelo Portal da Copa, em setembro do ano passado. Estão sendo aplicados R$ 12,78 milhões em Porto Alegre.

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Com 90 hectares, o Campus Central abriga um amplo comércio. São mais de 50 pontos de prestação de serviços ou comércio. As lanchonetes e centros de fotocópias lideram o ranking de serviços. Os acadêmicos também podem contar com farmácia, bancos, correios e salão de beleza. O administrador e gerente do Bar Taberna do DCE, Fábio Fogaça, diz que apesar de o ponto ser novo, de março para abril já houve um aumento de 25% na demanda e se mostra confiante. Ele e seu sócio Márcio Pagaes pensam em ideias inovadoras. “Nós temos um ponto bem localizado. Quando tem apresentação aqui, os estudantes

vêm, sentam e aproveitam. Futuramente queremos agregar serviços e atividades, como incorporar no nosso cardápio a tapioca e também abrir um espaço para expor fotografias e desenhos dos estudantes”, diz Fábio. Já a gerente da loja de calçados Mundi, Carla Cúnico, fala que os horários de maiores movimentos são ao meio-dia - para funcionários da Unisinos - e à noite - com os estudantes. Geraldo Endres, feirante de artigos de couro, diz que sempre expõe seus produtos nas datas comemorativas, período em que é aberto o espaço para a feira na Unisinos. (Karen Reis)

Bancos apostam em clientes jovens Os bancos apostam cada vez mais em jovens e oferecem a conta universitária, sem cobrança de taxas. Também colocam limites acima dos ganhos e, desse modo, conseguem algumas vantagens. Bancos como o Banrisul oferecem limites mais favoráveis na conta corrente e cartão de crédito com teto acima de salários. Outros, como Itaú, exageram nos juros, o que afasta jovens. O Bradesco foca em uma forma de ajudar os universitários, muitos em seu primeiro emprego, a controlar seu dinheiro. Mariana Batista, 23 anos, estudante de Relações Públicas da Unisinos, reclama das condições de encerramento da conta. Os altos juros do cartão de crédito tam-

bém são um perigo para os jovens contribuintes. O HSBC e Santander são hoje os bancos com taxas mais altas. Já o Banrisul tem os menores juros para estudantes e isenção de taxas durante o primeiro ano. Cassiano Koning, 25 anos, funcionário do Bradesco, diz que o banco é bastante procurado. Para ele, a grande jogada em atrair os universitários é que no futuro serão funcionários bem sucedidos e buscarão fazer investimentos em quem os apoiou. Cassiano acredita que o endividamento dos jovens acontece porque muitos nunca tiveram conta corrente com limite de cheque especial, cartão de crédito. (Aline Krüger)


Economia

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Ateliês de calçados crescem no vácuo FOTOS CRISTIANO VARGAS

PAROBÉ CONTA COM CERCA DE 300 MICROEMPREENDIMENTOS DO RAMO COUREIROCALÇADISTA, SEGUNDO SINDICATO Cristiano Vargas

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les estão em todos os lugares. Basta andar um pouco pela cidade para vê-los improvisados em garagens ou cômodos de casas, quintais, prédios grandes ou pequenos. Os ateliês de calçados marcaram o início da produção industrial em Parobé e hoje, depois da ascensão e queda de empresas, voltam a ocupar espaço no cenário municipal. É nos tubos de cola para sapato e do barulho das máquinas de costura que muitos calçadistas recebem seus salários. A indústria do sapato é uma das marcas de Parobé. Ela está no brasão da cidade, representada pelo couro e a engrenagem, e também na vida de muitos moradores. Como afirma o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Calçados, João Nadir Pires, “o calçado faz parte da história municipal”. Com o fechamento e transferência de grandes empresas da cidade, Pires salienta que alguns ex-funcionários decidiram montar seus próprios negócios, começando com a ajuda de familiares e crescendo aos poucos. Atualmente, ele afirma haver cerca 300 microempreendimentos do setor coureiro-calçadista no município, responsáveis por gerar 3,5 mil empregos formais. Apesar de não falar em números precisos, Pires garante que houve um crescimento acentuado nos últimos dez anos na criação de pequenos empreendimentos do ramo. A geração de empregos é um dos fatores mais importantes na opinião dele, revelando que mais de 90% dos ateliês fazem serviços terceirizados para empresas da região e da cidade, sendo que a costura é a atividade mais realizada nestes moldes. “O trabalhador de Parobé, seja de empresa grande ou pequena, conhece toda a produção de um calçado. A nossa mão de obra tem condições de produzir todos os tipos de sapatos”, atesta. O empreendimento no ramo coureiro-calçadista é o de maior expressão em Parobé, segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico, Samuel Ruiz Mosmann. Referindo-se ao microempresário que está à frente dos ateliês que operam para grandes indústrias, lembrou que muitos destes têm grande parte de seu tempo demandado na atividade operacional, e que lhes falta noções de gestão. “Por isto, no ano passado, a Secretaria lançou o programa Empreendedor de Sucesso, no qual desenvolvemos projetos para dar suporte

de finanças, administração, contabilidade”, informa Mosmann. Além disso, o secretário afirma que sua pasta oferece assessoria empresarial gratuita por meio de parcerias com as Faculdades Integradas de Taquara (Faccat) e com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). “Estamos preparados para ajudar o microempreendedor individual a formalizar seu negócio, com um custo de manutenção baixo”, garante. A entidade também possui uma linha de micro-crédito, que contribui para compra de equipamentos ou aplicação no capital de giro.

A indústria do sapato é uma das marcas de Parobé. Ela está no brasão da cidade, representada pelo couro e a engrenagem, e também na vida de muitos moradores

Quase todos os ateliês fazem serviços terceirizados para empresas da região

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deixado por grandes empresas A indústria nos laços da família Foi da cozinha de uma pequena casa que Cláudio Edinger, 47 anos, sua esposa, Maristela Edinger, 43, e o irmão dele decidiram empreender pela primeira vez no ramo coureiro-calçadista, há duas décadas. O negócio expandiu, mas acabou sucumbindo com uma crise em meados de 1990, forçando-os a desistir temporariamente e voltar às empresas de sapato, de onde iniciaram suas experiências profissionais. No retorno ao negócio próprio, ele relembra que precisou alugar algumas máquinas. Passados mais de 20 anos, hoje ele garante que o ateliê da família é bem montado, com equipamentos próprios e de qualidade. A Edinger Calçados conta com 45 funcionários em um prédio próprio e responde pela preparação e costura de aproximadamente 2,5 mil pares de sapatos femininos por dia. “Para crescer é preciso ter muita garra e força de vontade. Por muitas vezes, trabalhei 15 horas por dia para conseguir tirar um pouco a mais no final do mês”, garante ele, concluindo que o segredo para o bom negócio é saber guardar o dinheiro para o amanhã. Os filhos Igor Edinger, 19

anos, e Mateus Edinger, 16, criaram-se entre as mesas de costura e preparação de calçados, e hoje ajudam Cláudio e Maristela na produção. O empresário argumenta que trabalhar com os filhos por perto foi essencial para acompanhá-los no crescimento e monitorá-los com maior frequência. “A cada choro, a cada tombo, eu estava ali presente!”, lembra. Além dos dois meninos, o casal tem uma filha chamada Cláudia Vitória, de três anos. Cláudio comenta que “a concorrência é grande, há burocracia e dificuldades administra-

tivas. É um ramo muito instável, sempre com altos e baixos”. Ele diz ter pouco estudo e que sapato é tudo o que sabe fazer. “O meu maior sonho sempre foi estar perto dos meus filhos. Não adianta você ter bens e dinheiro, mas os filhos estarem perdidos pelo mundo. A educação que consegui dar a eles é o desejo de qualquer pessoa”, orgulha-se.

Trabalhando junto, família consegue vencer os desafios do dia a dia

O sonho da marca própria O casal Carlos Binello de Souza, 43 anos, e Clenir Rodrigues de Souza, 42, tem um sonho: produzir a sua própria marca de calçados. Para isso, os dois vêm há sete anos se empenhando em conquistar maquinários e, aos poucos, já começam a dar seus primeiros passos. “Desde novembro do ano passado, estamos fazendo alguns pares, e vendo como eles estão sendo aceitos no mercado”, revela o Carlos. Ambos já foram funcionários de

grandes empresas de sapatos, atuando nos setores de produção, supervisão e chefia. O objetivo com a marca própria é conquistar a independência na comercialização do produto. Souza diz que o empreendimento fará todo o processo de produção do calçado, como uma mini-fábrica. Ele e a mulher almejam investir na linha feminina e fabricar cerca de 30 pares por dia. “Trabalhamos neste projeto aos finais de semana para

Da garagem vem o complemento na renda

atender aos pedidos de algumas pessoas. Queremos produzir um produto mais artesanal, com a mesma qualidade que muitas empresas oferecem”, destaca. Proprietários e administradores da empresa CWC Binello Beneficiamento de Calçados Limitada, que conta com nove funcionários e opera nos fundos de casa, Souza e Clenir chegam a produzir mil pares da pré-produção de uma bota. O trabalho do casal é em conjunto: ela cuida da produção interna, enquanto ele faz os trabalhos de rua, além de cuidar da qualidade. “Se não for assim, dividindo as tarefas, não conseguimos fazer dar certo”, destaca o microempreendedor, lembrando que algumas pessoas investem em ateliê, mas, quando não conseguem obter lucro em curto prazo, decidem desistir de tudo. “Quem quer um negócio próprio tem que ir devagar, com os pés no chão”, aconselha. Casal divide-se nas tarefas do pequeno empreendimento

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ticos e do menino. Um dia de traDepois do “Nós pagamos alubalho tem mais expediente na guel, e precisávade oito horas para fábrica, as amigas mos de um dinheiro as amigas e comaconcentram-se extra. Foi quando dres Gesika Simone na garagem de decidimos fazer serMachado, 22 anos, casa para produzir viços em casa”, ree Jécica Andressa calçados lembra Jécica Prado. Prado, 23. As duas O serviço delas é temporámoram juntas e, assim que chegam das fábricas em que rio, e prestado para um ateliê, trabalham, concentram-se na do qual recebem R$ 0,28 por garagem de casa para produ- par de calçado produzido. “Para zir calçados. A atividade é feita mim, é um trabalho normal, pelo menos três vezes por se- como qualquer outro. Já tentei mana, de acordo com a deman- outras coisas, mas gosto mesmo é de calçado”, destaca Jécica da de serviços. A produção se reveza com os Prado, que está no ramo desde cuidados do pequeno Gustavo os 14 anos. As amigas trabaHenrique Brocco, de três anos, fi- lham por conta e aproveitam o lho de Gesika Machado. Enquan- momento juntas para, além de to uma faz parte dos trabalhos, a trabalhar, conversar, ouvir múoutra cuida dos afazeres domés- sicas e tomar chimarrão.

Linha do tempo Década de 40 Um grupo de jovens inaugura uma nova era: a das primeiras fábricas 1949 Criação da Bibi Calçados Década de 60 e 70 Grande crescimento de empresas 1985 Criação da Bottero Calçados Década de 90 Fechamento Calçados Simpatia, Rio de Luz, Hong Kong Anos 2000 Começa a crise pela concorrência com a China Julho de 2005 Azaleia demite 90 funcionários

Julho de 2007 Azaleia demite 600 funcionários De janeiro a março de 2009 Azaleia demite 900 funcionários Julho de 2009 Azaleia dispensa 600 Maio de 2011 Vulcabras Azaleia demite 800 funcionários


Política

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FOTOS ARQUIVO PESSOAL

Lembranças vivas de quem esteve em lados opostos Era madrugada do dia 2 de abril de 1964 quando os generais Olímpio Mourão Filho e Odílio Denys ordenaram aos militares que levassem o sargento Ney de Moura Calixto, juntamente com os demais presos, para uma ilha no estado do Rio de Janeiro, onde passariam quatro meses. O MILITANTE Calixto estava nessa condição porque em 1961, com outros sargentos e oficiais da Base Aérea de Canoas, se negou a cumprir ordens para bombardear o Palácio Piratini, em Porto Alegre. “Nos revoltamos e assumimos o comando da base, esvaziamos os pneus dos aviões, colocamos caminhões de bombeiros na pista e ordenamos que nenhum avião decolasse. Evitamos um desastre”. No dia 1º de abril de 1964, após o golpe militar e a renúncia de João Goulart, os militares da Aeronáutica que assumiram o governo cassaram e decretaram a prisão do sargento Calixto e de todos que participaram da rebelião de 1961. “Fomos presos, expulsos da Força Aérea Brasileira, cassados e torturados. Sinceramente, não sei como não me mataram, eu tinha certeza que iria morrer. Paguei um preço caríssimo, fiquei desempregado e tive que vender

jornal para pagar os estudos da minha filha”. Para Calixto, muitas pessoas, inclusive soldados, não tinham conhecimento do que se tratava o golpe. O MILITAR A ditadura persuadiu os soldados novatos, que não sabiam o que fazer. Antônio Carlos de Souza Cardona, soldado em 1967, recebeu ordens para cumprir prisões de padres, jornalistas e qualquer pessoa que se manifestasse contra o novo regime. “Naquela época, tudo foi censurado. Tinha que saber o que dizer e não se citava abertamente as coisas. Nós apenas cumpríamos ordens. O Exército foi usado pela ditadura. Se não fizéssemos o que era determinado, éramos presos também”. Tanto Ney de Moura Calixto quanto, Antônio Carlos de Souza, foram vítimas do golpe de 1964. Foi uma época onde a sociedade não tinha vez. Hoje, Calixto com 85 anos e Antônio Carlos com 65, lembram-se do passado como épocas difíceis. Para o soldado, experiência, aprendizado e maturidade. Para o sargento, a luta e o pior momento de sua vida. “Antes um país com uma democracia precária do que um país com uma ditadura boa”. (Dankiele Tibolla)

Resistir foi a opção adotada por Galvani Com 30 anos de idade e nove de profissão à época do golpe militar, Walter Galvani teve que encarar, juntamente com seus colegas da redação do jornal Folha da Tarde, a privação da liberdade de expressão imposta pelo novo regime. Atualmente com 80 anos e compatibilizando a profissão original com a literatura, conta que jamais passou pela sua cabeça desistir do jornalismo; apenas, resistir. “As opções eram trabalhar ou abandonar o emprego. Fui obrigado a me conformar; fui me mantendo, levando a situação”. Ele lembra que as formas de se praticar o jornalismo foram se modificando durante a ditadura, inclusive a maneira como a repressão atingia os profissionais e como eles lidavam com ela. Segundo Galvani, as intromissões dos militares se tornaram recorrentes, transformando a rotina da redação. “Com o tempo, passamos a conviver com a presença de um censor, que aprovava ou reprovava cada matéria”.

Galvani recorda com detalhes o pior momento vivido por ele nessa época. Foi quando chefiava a redação do jornal Folha da Manhã e recebeu, pela primeira vez, ordens para não publicar certas matérias. “Tive que explicar para os redatores que o produto feito com tanto cuidado, empolgação e profissionalismo não seria publicado. Foi realmente difícil”. Galvani mantém uma oficina online de criação literária e escreve crônicas semanais para jornais como o ABC Domingo, do Grupo Editorial Sinos.

(Manoela Petry)

Rafael Guimarães, Elmar Bones, Rosvita Saueressig e Osmar Trindade foram os jornalistas presos devido à divulgação de documentos que o Exército pretendia manter secretos

Coojornal pagou caro por enfrentar ditadura JOSÉ ANTÔNIO VIEIRA DA CUNHA LEMBRA A CRIAÇÃO DE UM IMPRESSO INDEPENDENTE, QUE LUTAVA PELA LIBERDADE DE EXPRESSÃO NOS TEMPOS DE REPRESSÃO Lurdenir Matos

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desejo de liberdade, o descontentamento com a ação dos censores e a vontade de produzir um conteúdo sério levaram 66 jornalistas a fundarem a Cooperativa de Jornalistas de Porto Alegre (Coojornal), em 24 de agosto de 1974. Data que José Antônio Vieira da Cunha, um de seus fundadores, jamais esquecerá. Segundo ele, não foi fácil produzir um jornalismo sério e independente. “O lançamento do primeiro jornal levou mais de um ano”, conta. Por falta de recursos, os filiados à cooperativa pagavam cotas mensais para arrecadar fundos e poder abrir o jornal, até que foi publicado pela primeira vez em novembro de 1975. A iniciativa teve repercussão nacional, com o Coojornal sendo considerado uma das publicações mais importantes do Brasil em sua época. O escritor Bernardo Kucinski, em seu livro “Jornalistas Revolucionários”, classificou o Coojornal como um dos cinco mais importantes veículos independentes do país. O fator que fazia com que o jornal se sobressaísse aos outros era seu posicionamento sério. Enquanto outras publicações usavam sarcasmos e ironias, a cooperativa se comprometia com a notícia veiculada na íntegra. Quando o então deputado Alencar Furtado (MDB-PR), líder da oposição na Câmara Federal, foi cassado, em 1977,

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o Coojornal lançou a lista completa de cerca de quatro mil políticos privados de mandato durante a ditadura. A matéria recebeu como resposta um baque financeiro irreversível. Os militares do governo do general Ernesto Geisel bateram de porta em porta nos patrocinadores do jornal e apenas dois desses patrocínios não abandonaram a cooperativa. O trabalho e as dificuldades não pararam por aí. Em fevereiro de 1980, durante o governo do general João Figueiredo, o jornal divulgou documentos secretos do regime, que mostravam o despreparo dos militares na guerrilha do Araguaia. Uniformes que não protegiam adequadamente, soldados que morreram por falta de cuidados médicos, além de medicamentos vencidos, distribuídos nos quartéis do Norte do país eram alguns dos fatos revelados.

Foi ao estilo da época, sem qualquer julgamento. Meus colegas simplesmente foram presos e, mesmo os homens, ficaram 19 dias no Presídio Feminino Madre Peletier”

José A. Vieira da Cunha Fundador da Coojornal

José Antônio Vieira da Cunha

Essa publicação levou à prisão de quatro colegas de Vieira. “Foi ao estilo da época, sem qualquer julgamento. Meus colegas simplesmente foram presos e, mesmo os homens, ficaram 19 dias no Presídio Feminino Madre Peletier”, relembra. Além disso, Vieira foi pressionado a abandonar o trabalho através de ligações anônimas feitas à sua esposa que prometiam “uma resposta” caso ele não parasse com o trabalho da Coojornal. Apesar do medo natural, as ameaças só fortaleceram o desejo de publicar as verdades que eram escondidas da população brasileira. Sob a presidência do jornalista e com cerca de 450 profissionais filiados, 100 deles trabalhavam unicamente para a publicação. Vieira foi presidente da Coojornal por sete anos. Se ainda existisse, a cooperativa estaria completando 40 anos em 2014. Diversos problemas financeiros e ideológicos fizeram com que o jornal encerrasse seus trabalhos no dia 28 de março de 1983. Hoje José Antônio Vieira da Cunha é sócio diretor da revista eletrônica Coletiva.net e colunista do Jornal do Comércio.


Educação JOÃO PAULO MILESKI

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Biblioteca de Farroupilha informatiza seu cadastro A Biblioteca Pública Olavo Bilac, de Farroupilha, recebeu 55 mil reais do governo do Estado por meio de projeto promovido pela Secretaria da Cultura. A verba foi entregue pelo secretário, Luiz Antônio de Assis Brasil, na segunda semana de abril. A Olavo Bilac foi contemplada em quarto lugar no projeto de modernização de bibliotecas municipais. Segundo a secretária de Educação do município, Elaine Giuliato, o valor será destinado a melhorias. A execução dessas atividades está a cargo do poder público municipal, afirmou a responsável pela

Artes marciais ajudam na melhoria das relações interpessoais

Bento adota skate e jiu-jítsu na escola AS MODALIDADES VÃO INTEGRAR O CURRÍCULO DAS ESCOLAS MUNICIPAIS A PARTIR DO SEGUNDO SEMESTRE. PROFESSORES VÃO SER CAPACITADOS Priscila Boeira

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s aulas de educação física ficarão mais dinâmicas em Bento Gonçalves, na Serra – a 92 quilômetros da Unisinos, a partir do segundo semestre. Além das modalidades atuais como futebol, vôlei, handebol e rugby, cerca de 6,5 mil alunos da rede municipal poderão optar por aulas de skate, slackline e jiu-jítsu. As modalidades passarão a integrar o currículo escolar como forma de descobrir novas habilidades. “O esporte é ferramenta muito importante para auxiliar o desenvolvimento das potencialidades do aluno, o que se reflete positivamente dentro da sala de aula”, afirmou a secretária de Educação, Iraci Luchese Vasques. De acordo com o secretário de Juventude, Esporte e Lazer, Gustavo Sperotto, os professores passarão por capacitações. “Estamos negociando com profissionais das três áreas para formatar um curso preparatório. As modalidades foram escolhidas levando em conta seus benefícios e a popularidade entre os jovens”, comentou. De acordo com o levantamento realizado em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Bento tem 111.384 habitantes. Destes, 18.368 são

estudantes de Ensino Pré-Escolar a Ensino Médio, e 6.982 cursam Ensino Superior. As aulas de Educação Física não são encaradas apenas como descontração para o mestre de jiu-jítsu Eduardo Veríssimo, referência da arte marcial em Bento e no país. Ao longo dos últimos 20 anos ele conquistou títulos como campeão sul-brasileiro, sul-americano, tri-campeão gaúcho, campeão Asian Open e Miami Open. Em 1998, fundou a Garra Team, escola cujo objetivo é “formar pessoas de bem e aptas a praticar artes marciais de forma consciente”. Veríssimo explicou que a arte marcial envolve coordenação motora, agilidade mental e cognitiva. “Os relatos dos professores e dos pais é de que a me-

O esporte é ferramenta importante para auxiliar o desenvolvimento das potencialidades dos alunos, o que se reflete na sala de aula.”

Iraci Luchese Vasques secretária de Educação

lhora é geral, principalmente no campo disciplinar. A arte oriental também transmite valores que influenciam diretamente as relações interpessoais”, garantiu. Atualmente a Garra Team, em parceria com a prefeitura, desenvolve um trabalho no contraturno escolar, ensinando jiu-jítsu para 500 crianças provenientes de nove núcleos.

Conheça as modalidades

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biblioteca Silvana Balbinot. ‘’A prefeitura tem papel importante desde a contrapartida dada ao projeto até as reformas em geral’’, explicou. O objetivo da Olavo Bilac é facilitar o cadastro dos usuários. Desde sua fundação, há 74 anos, a retirada de livros é feita manualmente. Em média, 100 leitores passam pela biblioteca diariamente. ‘’O usuário que está em casa poderá pesquisar, reservar e renovar livros sem se deslocar até o centro da cidade’’, observou. Por enquanto, o software para a informatização ainda está em fase de testes. (Maiandre Lazzari)

Espaço “natureza” incentiva a consciência ambiental O “Ciência e Natureza”, em Sapucaia do Sul, é um local destinado à diversidade animal, vegetal e geológica da região. Mantido pela Prefeitura, através da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMA), o espaço já recebeu mais de 4 mil visitas. O objetivo do projeto é trazer conhecimento às crianças do município. O lugar possui dois ambientes, um para o público infantil e uma área especifica para o público adulto, que apresenta conteúdo mais avançado e equipamentos científicos. Além do espaço destinado à aprendizagem, as escolas municipais des-

senvolvem projetos de preservação ecológica. O município está preparado para manter um lugar limpo e ecologicamente correto, porém ainda enfrenta dificuldades, “Levamos informações aos jovens através de diversas ações, mas ainda não conseguimos reeducar os adultos, este é o nosso desafio.”, relatou o geólogo e secretário Ivan Matte. Devido ao bom desempenho do Espaço Ciência e Natureza e uma relação consolidada com as crianças, a SEMA planeja criar novos projetos e focar na conscientização de adultos. (Fabiano S. Ferraz)

n Jiu-jítsu é a arte marcial ja-

ponesa que utiliza golpes de articulação para imobilizar o oponente. Melhora o preparo físico, a consciência corporal, a autoconfiança e a disciplina interior. Também ensina valores como respeito, honestidade, humildade e dignidade.

n Skate desenvolve consci-

ência corporal, tônus muscular e flexibilidade, além de melhorar a concentração e estimular a criatividade.

Já o Slackline, também conhecido como corda bamba, significa “linha folgada”. Consiste em uma fita elástica esticada entre dois pontos fixos, o que permite ao praticante andar e fazer manobras tendo a fita como apoio. Fortalece todos os músculos do corpo, principalmente os membros inferiores e a região abdominal. O slackline trabalha também alguns atributos psicológicos, como equilíbrio e concentração.

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Voluntária faz “ronda” para ajudar cães de rua Depois de realizar o primeiro resgate de um cão de rua há dois anos em Cachoeirinha, a técnica em farmácia Manoele Raffone, 34 anos, envolveu-se na atividade de protetora voluntária na cidade. “Eu cresci vendo meu avô cuidando de vários vira latas, dando polenta com osso. Os cães viviam felizes, livres. Resolvi de fato atuar quando na minha rua via as cadelas parindo até dez filhotes nas calçadas. Muitos morriam com sarna, atropeladas, com frio e as pessoas não faziam nada”. Manoele passou a fazer. Informou-se como encaminhar bichos para a castração, como conseguir pessoas que adotem

animais abandonados, equipou a rua com casinhas para cães e expandiu a atividade ao bairro. Na avaliação da técnica farmacêutica, a falta de políticas públicas e a ausência de fiscalização geram o quadro de abandono dos animais em ruas e avenidas. Na “ronda” diária ela leva sempre consigo uma sacola contendo ração, antisséptico, unguento, luvas e potes para água. Ao incentivar pessoas a serem parceiras na defesa dos animais, Manoele deixa um recado: “Para salvar 100 animais, comece castrando um. Proteção animal é uma causa, não um negócio”. A atividade envolve um processo educativo. (Thayná Bandasz)


Educação

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A inclusão começa pela escola FOTOS LUCAS SCHARDONG

ALUNOS COM DEFICIÊNCIA ESTÃO ENTRANDO NAS ESCOLAS REGULARES. MAS ESTAMOS PREPARADOS? Lucas Schardong

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ma mente lúcida presa em uma casa que não consegue controlar: o próprio corpo. Essa é a realidade vivida por Yasmin Paz. A garota de quatro anos tem paralisia cerebral, o que a impede de se movimentar e falar completamente. Além dessas dificuldades, a mãe de Yasmin aponta a falta de acessibilidade. “Na cidade, é bem complicado, quase impossível encontrar locais com rampas de acesso”, diz Marion Rodrigues Paz. Desde o início não foi fácil para a mãe de Yasmin: “Ela tem um problema que não se trata com remédio, só com estímulos. Foi um desafio, mas eu enfrentei e encontrei os médicos”. Marion deixava a filha em uma creche que não tinha qualquer tipo de acessibilidade ou professores especializados. Durante uma sessão de fisioterapia na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), foi sugerido que Marion colocasse a filha em uma escola regular que tivesse uma Sala de Recursos. Para auxiliar os alunos com deficiência dentro das escolas regulares, em 2007 o Ministério da Educação (MEC) desenvolveu o projeto Salas de Recursos Multifuncionais. Nele, alunos com diversos tipos de deficiência têm atendimento especial durante o contraturno da aula regular. A escola recebe equipamentos tecnológicos e cursos para que os professores possam trabalhar com os alunos. “Busco trabalhar com ela como trabalho com todas as outras crianças, mas confesso que é um desafio. Ela é uma criança meiga e carinhosa, apresentou uma tranquila adaptação. Às vezes é complicado, pois, como ela não fala, fica difícil saber o que está acontecendo”, afirma Tassiana Munari, professora de Yasmin no turno regular. Por isso, Tassiana busca a Sala de Recursos. “Para auxiliar e acompanhar o desenvolvimento dela, a Sala de Recursos tem me dado muito suporte, pois junto com a professora (especializada) tenho buscado ajuda e aprendido muito”, conta. Entretanto, Tassiana observa que ainda faltam melhorias: “A infraestrutura da escola também é um obstáculo. Não temos rampa de acesso à pracinha, à biblioteca, à quadra de esportes, muitas vezes temos que carregá-la no colo”. De acordo com a mãe de Yasmin, o fraco apoio do governo é algo que preocupa. “A prefeitura não dá incentivo para os alunos deficientes estudarem em escolas regulares. Por exemplo: é de direito da Yasmin ter um professor auxiliar especializado dentro da sala de aula, e o governo não providencia isso.”

Para a professora Isabel Cristina, essa participação do aluno deficiente na aula regular é essencial para colaborar com a inclusão e o desenvolvimento. “Estudando com os outros alunos e convivendo com os desiguais, aumenta a probabilidade do desenvolvimento deles. E mesmo com a dificuldade de comu-

Estudando com os outros alunos e convivendo com os desiguais, aumenta a probabilidade do desenvolvimento deles. E mesmo com a dificuldade de comunicação, ela (Yasmin) se dá muito bem com os colegas, eles a adoram”

Isabel Cristina Professora

nicação, ela (Yasmin) se dá muito bem com os colegas, eles a adoram”, afirma. Isabel é professora na Escola Municipal Afonso Gomes de Carvalho, de Portão, onde trabalha há 11 anos e, desde o início de 2014, atua na Sala de Recursos. Não cabe somente aos professores coordenar os trabalhos com os alunos deficientes e a Sala de Recursos. A orientadora educacional Karine Della Nina vê o espaço como um lugar de importantes oportunidades: “Os alunos têm situações de aprendizagem através da ludicidade, atividades desafiadoras, em que a socialização e o desenvolvimento da autonomia estarão presentes”. Karine trabalha como orientadora na Secretaria de Educação de Portão, órgão responsável pela identificação e seleção das escolas com demanda mais expressiva. Mas nem todos concordam que alunos deficientes devam estudar em escolas regulares. De acordo com outra professora da Afonso Gomes de Carvalho, Jaqueline Martins, a estrutura precária e a falta de incentivos do governo são razões para os alunos procurarem alternativas. “A proposta da inclusão é excelente, mas os investimentos do governo são insuficientes para atender à demanda das escolas. Além disso, acredito que a estrutura física da minha escola não atende às necessidades dos alunos”, avalia. Existem opções, como as Apaes, por exemplo. “A Apae é uma

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excelente instituição e, de acordo com a deficiência do aluno, somente os profissionais dela para atender”, afirma Jaqueline. Para a mãe de Yasmin, a escola regular está sendo uma grande e positiva experiência: “É bom para ela estar na escola. Antes ela não tinha contato com outras crianças. Agora ela brinca mais, se interessa mais. Acredito que ela terá um grande progresso ao longo dos anos”.

Na Escola Afonso Gomes de Carvalho, Yasmin participa normalmente das aulas com os colegas; professora do turno regular, Tassiana também aprende com Yasmin na Sala de Recursos


Saúde JÉSSICA ARILDE FABRO

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Dois Irmãos aguarda recursos para Postão A Prefeitura de Dois Irmãos aguarda a liberação de 1 milhão de reais, recurso dos governos federal e estadual, para dar início à construção de um novo centro de saúde. O projeto do “Postão” está concluído e a área que o abrigará escolhida, no centro da cidade. Para uma população de 30 mil habitantes, o sistema de saúde de Dois Irmãos prestou 183 mil atendimentos em 2013, entre consultas, internações e exames. Ainda assim, o espaço físico hoje existente na cidade, no hospital e postos, é insuficiente para a aquisição de novos instrumentos de traumatologia, endocrinologia e reumatologia, especialidades que

São Carlos teve várias administrações, até a intervenção da prefeitura

Comitê ataca crise no hospital de Farroupilha COM UMA DÍVIDA DE 15 MILHÕES DE REAIS, NOVA DIREÇÃO, APOIADA PELA PREFEITURA, QUER PAGAR CONTAS EM DIA, SEM ATRASAR SALÁRIOS Jéssica Arilde Fabro

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pós dois meses sob administração do novo Comitê Gestor, o Hospital Beneficente São Carlos (HBSC), de Farroupilha, já apresenta melhorias. A nova direção quer mudanças e planeja ações para o avanço da instituição. Entretanto, o maior desafio que tem pela frente é sanar as dívidas da casa. O HBSC, único do município, tem passado por um período difícil devido a uma dívida de cerca de 15 milhões de reais. A instituição privada enfrentou graves problemas de gerenciamento nos últimos anos. Só em 2013, a coordenação mudou quatro vezes. O atraso dos salários virou rotina. A organização já não tinha mais licença da vigilância sanitária e o pagamento dos impostos estava atrasado. A Prefeitura Municipal emitiu o decreto N.º 5.555 e interveio no hospital. Com o intuito de gerenciar a crise financeira e administrativa, o prefeito Claiton Gonçalves nomeou um Comitê Gestor, com apoio do Governo do Estado, integrado por três membros: o vereador Vandré Fardin, o empresário Geraldo Alexandrini e o médico Paulo Kratz. Para o presidente do Comitê, Vandré Fardin, o principal ponto de partida da comissão é a melhoria da gestão do hospital, com

a implantação de sistema de informação que consiga apurar as despesas de cada procedimento realizado para encontrar uma maneira de racionalizar custos. Uma tarefa nada fácil par um hospital do tamanho do São Carlos, que conta com 102 leitos, 409 funcionários e 70 médicos. “Se nós não sanarmos a questão financeira, não resolveremos o problema do hospital”, admitiu Fardin, Ele ressaltou que, no momento, quitar a dívida antiga não é o mais importante, mas sim pagar as novas contas em dia e não atrasar os salários. Problemas passados serão resolvidos no futuro. A psiquiatra Karen Letti ficou sem receber pagamento durante

Quitar a dívida antiga não é, de momento, o mais importante, mas honrar salários. Se o lado financeiro não for sanado, o problema do São Carlos não será resolvido.”

Vereador Vandré Fardin Comitê Gestor

oito meses. É cedo, entende, para dizer se a nova gestão está suprindo as necessidades dos funcionários do HBSC, mas a expectativa é de a nova gestão acertará o passo. Muitas coisas ainda carecem de melhorias por causa das crises políticas e financeiras que a instituição viveu. “É preciso dar um tempo para as coisas se organizarem. Houve prejuízo no emocional de muitos funcionários do hospital por questões de entraves e ideias contrárias”, observou Letti. Enfermeira do centro cirúrgico há 20 anos, Janete de Lima assegurou que a constante transição de gestões atrapalhou muito o progresso da entidade. Quando os projetos estavam sendo encaminhados, a administração mudava e quem a substituía não continuava com o projeto. Em todo esse tempo em que ela trabalha no hospital, contou Lima, nunca ocorreram reuniões com os funcionários, nem para saber como estavam se sentindo em relação à empresa, ou o que eles esperavam da instituição. Nunca houve incentivo, reconhecimento e comunicação. “Podemos fazer muitas coisas sem dinheiro, não precisa de milhões para atender bem ou incentivar um funcionário, não precisa nem de aumento de salário, o reconhecimento e a atenção já mudaria tudo”, desabafou Janete. Emancipado em 1934, Farroupilha tem 63,6 mil habitantes, que encontram atendimento de saúde no São Carlos e em 11 postos de saúde espalhados pelo município. Em 2012, a prefeitura arrecadou 160,3 milhões de reais.

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precisam de equipamentos de ponta, além de profissionais. Ainda assim, o sistema de saúde dois-irmãosense, gratuito para os seus moradores, é superior inclusive aos planos de saúde privados, assinalou o secretário da Saúde e vice-prefeito, Jerri Meneghetti. O presidente da Câmara de Vereadores, professor Jailton de Lima Proença, concorda que a construção de um novo centro de saúde é uma medida correta e necessária. Ele destacou que o município investe, hoje, mais de 25% do seu orçamento em saúde pública. (Roque Vieira Vilande)

Saúde de Osório é referência no Estado O Posto de Saúde de Osório precisou de cinco anos para ser visto como exemplo aos municípios vizinhos. Através da implantação de seu sistema de atendimento, em 2009, Osório virou modelo e proporcionou uma oferta mais ágil e qualificado à população pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O sistema contribuiu com avanços como a otimização de recursos, facilidade de acesso às informações de pacientes e diminuição das filas de espera. Na prática, essas mudanças significaram uma redução de 30% dos gastos com medicamentos, somente devido à melhora do controle. Os números chamaram

a atenção até de outras regiões do Estado. No mês de abril, representantes da Prefeitura de Santa Cruz do Sul estiveram em Osório para conhecer o sistema informatizado e seus benefícios. “Municípios que estão iniciando o processo de confecção de seus editais para este mesmo serviço têm nos visitado e buscado informações sobre o sistema de atendimento informatizado, como foi o caso de Santa Cruz. Oferecemos hoje uma estrutura que serve como modelo para região”, disse o secretário municipal da Saúde, Emerson Magni da Silva. (Arthur Isoppo)

Vacina antigripal leva até dez dias para atuar A campanha de vacinação contra a gripe, programada para terminar em 9 de maio, foi prorrogada por mais duas semanas. A Secretaria Estadual da Saúde contabilizou 1,8 milhão de pessoas vacinadas até a data inicial, o que representa uma cobertura de 56% do público, a terceira maior do país. Em Canoas, apenas 41,7% da população alvo – pessoas com mais de 60 anos de idade, profissionais da área da saúde, indígenas, gestantes, presidiários, crianças até cinco anos e portadores de doenças crônicas não transmissíveis – tinham procurado, até o dia 9 de maio, uma das

26 Unidades Básicas onde a vacina estava sendo aplicada. A técnica em Enfermagem, Luciane Biasi Sousa, funcionária do Centro de Atendimento Especial de Canoas, informou que, apesar de terem ampliado a vacinação para crianças de 0 a 5 anos, quando em anos anteriores era de 0 a 2 anos, a procura caiu em 2014. Uma das explicações: mães não ficaram sabendo dessa ampliação da faixa etária. O diretor da Vigilância em Saúde, o médico Paulo Zubaran, alertou que a vacina leva dez dias para criar anticorpos na pessoa que foi vacinada. (Amanda Mendonça Moura)


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PAULO POERSCH

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Professor de educação física, Getulio, 65 anos, compartilha a própria receita de saúde com os clientes acima dos 50

A “jovem” terceira idade NOVOS HÁBITOS, COMO ACADEMIA E INCLUSÃO SOCIAL, LEVAM IDOSOS A VIVER MAIS E MELHOR Guilherme Rossini

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Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) diz que há sete décadas tínhamos como expectativa de vida no país a seguinte marca: 41,3 anos. Em 2014, a previsão é de que cada brasileiro poderá viver por mais de 74 anos. E, até 2050, projeta-se que a população alcance uma expectativa de vida superior a 80 anos. Mas como está vivendo essa “nova terceira idade”? Segundo a enfermeira Cristiane Maria Schneider Wiederkehr, vários fatores são fundamentais para se ter uma vida plena e uma velhice sadia. Formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Cristiane atua há mais de 25 anos nessa área, que, segundo ela, melhorou consideravelmente. “As vacinas evoluíram muito com o passar do tempo, e isso foi uma coisa que ajudou bastante nesse crescimento da expectativa de vida”, aponta. No entanto, Cristiane enfatiza que é preciso tomar algumas medidas para que se tenha saúde em uma idade mais avançada. Em sua maioria, ações simples,

como controle da alimentação, exercício físico regular, hidratação e cuidados com a pele e com a saúde bucal. “Essas são coisas que todos sabem, porém, muita gente se esquece de fatores muito importantes: dar atenção e alimentar o intelecto dessas pessoas”, complementa a enfermeira. Segundo ela, os idosos devem ler e, principalmente, conversar. “Sentir-se incluído socialmente é algo fundamental para uma velhice plena”, conclui. Segundo Ivone Dunker, 64 anos, cuidar tanto da saúde física quanto mental é fundamental para levar uma boa vida. A apo-

Há sete décadas, a expectativa de vida no país beirava os 40 anos. Mas, com o avanço da medicina e novos métodos preventivos, hoje chegamos à marca de 74 anos 10

sentada caminha três vezes por semana e, à mesa, evita gordura, doces e sal em excesso. “Se a gente come tudo isso e ainda não faz nenhuma atividade física, engorda demais e perde saúde”, alerta. Ivone mantém sua vida social participando de um grupo chamado Associação da Terceira Idade Sempre Jovens. Como diz o nome, elas fazem tudo o que os jovens fazem. Viajam, organizam almoços e vão a bailes todo o fim de semana. Ivone não perde um, pois neles as amigas se encontram, conversam, dançam e até namoram de vez em quando. José Getulio Machado Franco, 65 anos, é proprietário de uma academia em Feliz há 10 anos. Popularmente chamado de Getulio, o professor de educação física exerce a profissão há 42 anos, sendo 40 dedicados a lecionar em escola pública. A academia de Getulio é uma das três existentes na cidade de pouco mais de 12 mil habitantes, localizada a 90 quilômetros de Porto Alegre. Porém, destaca-se por dar atenção especial aos idosos. “Tenho duas pós-graduações e mais de 20 cursos que me habilitam a trabalhar com pessoas de mais idade”, diz Getulio. O professor recebe muitas pessoas acima dos 50 anos. Em geral, com problemas de saúde a serem amenizados ou apenas

o desejo de deixar de lado o sedentarismo. “Solicito exames médicos antes de qualquer atividade, e então vejo quais exercícios são melhores para cada pessoa”, explica. Um dos casos é o de João Lotário Freiberger, 61 anos. Há oito anos, Lotário sofreu um acidente de carro e, com isso, teve de mudar totalmente seus hábitos. Com uma grave lesão na coluna, passou a sofrer limitações em movimentos comuns de seu cotidiano. Após algum tempo de fisioterapia, ele ainda se via limitado. “Eu sentia muita dor, então o médico me indicou a opção de entrar numa academia. Frequento-a há sete anos, três vezes por semana. Faço todos os exercícios e me sinto muito bem, me sinto normal”, relata Lotário. Enfim, a “nova terceira idade” pretende tomar conta de todas as áreas, eliminando a barreira da velhice. Cuidar da saúde física e mental, sentir-se incluído na sociedade e se divertir são fatores que determinam se os idosos estarão vivendo ou sobrevivendo. Hoje, pouco mais de 5% da população brasileira tem mais de 60 anos. Até 2050, a expectativa é de que mais de 30% da população seja formada por pessoas dessa faixa etária. Uma meta para consolidar a ideia de que, após os 60 anos, a vida continua.


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Depressão pós aposentadoria PRÁTICA DE EXERCÍCIOS FÍSICOS E LAZER PODEM SER ALIADOS NO COMBATE À DOENÇA Camila Hugenthobler

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entada na cadeira de balanço, Edi Kohlrausch, 55 anos, não consegue segurar as lágrimas nos olhos verdes ao se lembrar da doença que a acompanha desde criança, e que se intensificou com o tempo e a aposentadoria. A depressão está presente no cotidiano, e as consequências da síndrome fizeram com que ela buscasse alternativas para amenizar os sintomas da doença. A aposentadoria chegou cedo, aos 41 anos, após trabalhar e contribuir com a Previdência Social durante 25 anos. A jornada de trabalho começou na roça, seguiu como empregada doméstica e continuou como faxineira. Mesmo aposentada, Edi não pára de trabalhar por dois motivos: primeiro, por indicações médicas. Segundo, porque o salário de aposentada não cobre as despesas com os remédios da depressão e pressão alta. Frequentes dores nas costas, nas pernas, dificuldades em caminhar e levantar-se, o desânimo para realizar tarefas simples do dia a diae a negação da presença da depressão em sua vidafizeram com que elaprocurasse ajuda. Por incentivo da família e de conhecidos, há quatro anos, ela faz parte do Grupo da Amizade, programa da Prefeitura Municipal de Nova Hartz, cidade em que reside.Lá são oferecidas aulas de aeróbica, oficinas de artesanato e informática, entre outras atividades, de forma gratuita. Atualmente, ela participa todas as quintas-feiras das aulas de aeróbica realizadas no centro comunitário do bairro onde vive, Campo Vicente. “Parece que a quinta-feira demora a chegar”, conta Edi com sorriso no rosto. “Para mim, esse dia da semana é sagrado. Eu não trabalho nas quintas à tarde, ela é reservada para eu ir nas aulas”, afirma. Animada,ela define o grupo como uma benção em sua vida. “Eu quase não caminhava, era uma pessoa introvertida, hoje não. Fiz muitas amizades lá, não consigo mais viver sozinha, preciso de gente na minha volta, preciso das minhas amigas”, diz. “Desde que comecei a frequentar as oficinas sinto que minha saúde melhorou, não digo 100, mas certamente 80%”. Formada há 27 anos e trabalhando com pacientes acima dos 50 há mais de uma década, a médica Carla Brenner, especialista em medicina interna, destaca que com a aposentado-

ria e a quebra repentina de uma rotina de serviço, uma pessoa acostumada a trabalhar desde muito cedo pode apresentar sintomas de envelhecimento precoce físico e mental. Dentre as principais consequências deste processo de transição, a doutora enfatiza o isolamento social, que pode levar o paciente a um estágio de depressão. “Nesta etapa, é essencial o convívio social. A pessoa precisa de amizades, passeios, mudanças na rotina”, afirma Carla. Para a médica, outro fator que ajuda no combate à depressão pós-aposentadoria é a leitura, que estimula o raciocínio. Ela destaca ainda que a música auxilia na prevenção ao envelhecimento, e a prática continua de exercícios e hobbies, como artesanato e dança, evita problemas articulares e cardíacos, bem como o sedentarismo. Uma das principais motivadoras de dona Edi na busca por ajuda no combate à depressão, atende pelo nome de Luisa Kohlrausch, 22 anos. Segunda filha do casamento que já dura 34 anos, foi ela quem incentivou e incentiva a mãe a continuar com as visitas periódicas ao psiquiatra e ao psicólogo. Hoje, o principal motivo para ela continuar lutando contra a doença silenciosa tem menos de um metro, e de

um ano de idade. O seu primeiro neto, Igor, renovou a esperança de momentos bons na vida da aposentada. “Pensei por muitas vezes em desistir de tudo, agora não penso mais, meu netinho trouxe muita alegria. Tenho uma família linda, amigas, emprego, não tenho mais motivos para ser triste”, completa Edi. OS SINTOMAS DA DEPRESSÃO A depressão pode ser definida como um sentimento de tristeza constante, de vazio na vida. Ela afeta de maneira direta a rotina de uma pessoa, tirando dela a vontade de realizar atividades que antes lhe eram prazerosas, deixando-a, de certa forma, incapaz de executar tarefas simples do dia a dia, como por exemplo, ir ao supermercado ou conversar com amigos e familiares. Junto com a sensação de tristeza constante, os sentimentos de culpa, impotência e desesperança podem ser notados claramente em pessoas depressivas. Agitação, irritabilidade e pensamentos de morte estão, por muitas vezes, presentes no cotidiano delas.Pessoas depressivas também podem apresentar dores crônicas de cabeça, estômago, insônias e falta de apetite,

Eu quase não caminhava, era uma pessoa introvertida. Hoje sou diferente. Fiz muitas amizades, não consigo mais viver sozinha, preciso de gente na minha volta, preciso das minhas amigas”

Edi Kohlrausch faxineira aposentada

ou excesso de ambas,além de dificuldades de concentração. A doença pode manifestar-se de diferentes modos dependendo do paciente. Às vezes, ela se justifica por questões hereditárias, quando familiares, nos quais se tem contato frequente e direto, são portadores da doença. Em outras ocasiões, a depressão pode aparecer depois de acontecimentos de perda, como falecimento de entes queridos, demissão, término de relacionamentos amorosos, ou queda no padrão financeiro de vida.

Edi Kohlrausch (primeira da esquerda para direita) busca minimizar a doença frequentando periodicamente grupos de dança e de exercícios aeróbicos para aposentados DJENIFER IENSE

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Saúde

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FERNANDA FAUTH

Maria da Silva vive sozinha em seu apartamento, no centro de Porto Alegre

Quando viver vira um transtorno A ANSIEDADE É UM DOS DISTÚRBIOS MENTAIS QUE ACOMETEM PELO MENOS 700 MILHÕES DE PESSOAS NO MUNDO E PODE ATINGIR GRAVEMENTE O ESTILO DE VIDA DE QUEM SOFRE COM ELA Fernanda Fauth

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aria da Silva, 59 anos, adora falar. Seja por telefone, sozinha ou pessoalmente com outras pessoas. O apartamento dela, de 80 metros quadrados, parece grande para ela e a cadelinha poodle. “Por me sentir sozinha, acabo falando com a Kate ou comigo mesma”, comenta olhando para os lados, com feição triste no rosto. Ela gesticula com as mãos e com a cabeça enquanto profere frases. “Às vezes acontece de eu estar tão entusiasmada com o papo que esqueço o que ia dizer e começo a tentar demonstrar algo com as mãos”, diz a funcionária pública da rede estadual de saúde. A conversa poderia durar o dia inteiro. Durante a entrevista, ela recebeu visitas e telefonemas de colegas de trabalho e parentes. Maria, um nome fictício criado a pedido da entrevistada, adora essa atenção extra. Até que mais para o final do dia, perto das 18h, ela recebe uma ligação.

Não consegue achar o telefone. Quando o encontra, a ligação já havia encerrado. Era o ex-marido. Ela tenta retornar, mas não consegue. Maria entra em pânico. Pensa em histórias terríveis, acidentes, mortes e outras coisas relacionadas ao ex. Eles são grandes amigos, apesar de separados. Tiques nervosos com a boca, as mãos e os pés tomam conta dela. As suas feições também mudam. Ela está com medo e assustada. São os sintomas da ansiedade e da síndrome do pânico se manifestando. A funcionária pública, Maria da Silva, não está sozinha. Segundo dados do ano passa-

De acordo com a médica psiquiatra e psicoterapeuta Lis Elisa Vianna Schäffer, a partir do momento em que a ansiedade tem um alto nível de intensidade, vira um transtorno

do divulgados pela Organização Mundial da Saúde, estima-se que 700 milhões de pessoas no mundo tenham transtornos mentais. As doenças mais frequentes são a ansiedade e a depressão. De acordo com a médica psiquiatra e psicoterapeuta Lis Elisa Vianna Schäffer, a partir do momento em que a ansiedade tem um alto nível de intensidade, vira um transtorno. “Depende o quanto interfere na vida da pessoa. Há necessidade, em todos nós, de certa ansiedade para irmos em direção a situações novas, realizarmos mudanças, evoluirmos, mas em excesso pode ser paralisante”, afirma a doutora. No caso de Maria da Silva, ela prefere não procurar ajuda médica. “Gosto de viver assim. Sei que tenho problemas, meus familiares falam, mas não sinto que esteja preparada”, diz a funcionária pública. Contudo, quem tem ansiedade ou qualquer outro transtorno associado à mesma pode ficar tranquilo: existe tratamento. Um recurso terapêutico é trabalhado na pesquisa de mestrado de Andressa Behenck, enfermeira psiquiátrica do ambulatório de psiquiatria do Hospital de Clínicas. O foco dos estudos é avaliar os fatores terapêuticos que surgem na terapia cognitivo comportamental em grupo (TCCG) – psicoterapia - para o

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transtorno obsessivo-compulsivo, mais conhecido como TOC, e para o transtorno do pânico. Em grupo, os voluntários têm a oportunidade de compartilhar experiências com outros pacientes que apresentam os mesmos problemas, ajudando a diminuir a percepção de estar sozinho. Segundo a especialista em saúde mental, a eficácia da psicoterapia para o tratamento do pânico já é comprovada. “Trabalha-se corrigindo pensamentos distorcidos e resignificando o medo irracional. Também são exercitadas técnicas comportamentais, planejando o enfrentamento gradual de situações evitadas”, afirma Andressa. A equipe é composta por cinco pesquisadores e 28 pacientes, sendo 12 sessões de terapia em grupo. A cada sessão semanal com duração de duas horas, os pacientes respondem a um questionário. Serão feitos até o final 336 questionários. A pesquisa será realizada até março de 2015. EXERCÍCIO FÍSICO AJUDA NO CONTROLE Muito se fala sobre como os exercícios físicos são fundamentais para uma boa qualidade de vida. Contudo, eles também devem ser lembrados quanto à saúde mental. Segundo artigo publicado pela Revista Brasileira

de Atividade Física e Saúde, uma pesquisa realizada com 26 jovens mostrou que, independente do nível de ansiedade que os pacientes tinham, o exercício feito de forma moderada ou alta foi benéfico para o bem estar. O resultado mostrou ainda que houve um efeito calmante nos voluntários após exercitarem-se. Marcelli Pedroso, 20 anos, estudante de Jornalismo da Unisinos, acredita que ter uma rotina de atividades ajuda no controle dos sintomas. Diferentemente de Maria da Silva, Marcelli ouviu os familiares e vai mensalmente à psiquiatra. “Exercícios sempre me deixaram bem, fazendo com que, de certa forma, eu esqueça o mundo”, afirmou a jovem. De acordo com Darlen Portal, professora em uma academia e especialista em Nutrição Esportiva, o exercício físico, se feito com regularidade e de forma moderada à intensa, pode ajudar no controle da ansiedade. “Você passa a ter um novo foco, um novo objetivo”, explica. Segundo Darlen, a sensação do bem estar vem das chamadas endorfinas, hormônios que ajudam a reduzir dores e até o sofrimento. “Quanto maior for a carga de exercícios, mais endorfinas são produzidas, por isso, as atividades mais recomendáveis são os aeróbios, como natação, corrida e ciclismo”, afirma a personal trainer.


Geral ANA PAULA ZANDONÁ

São Leopoldo/RS Julho/2014 Edição 21 l

Torcedores argentinos terão apoio na Copa A alguns dias do início da Copa do Mundo no Brasil, o Consulado Argentino em Porto Alegre prepara um esquema especial para atender turistas do seu país que deverão se dirigir à capital gaúcha para acompanhar o jogo entre Argentina e Nigéria, no dia 25 de junho. Serão instalados postos de atendimento no Aeroporto Salgado Filho e na rodoviária. Eles atenderão os torcedores entre os dias 20 e 28 de junho. “Sabemos que muitos dos nossos conterrâneos virão até aqui (Porto Alegre) de avião e de ônibus. Por isso temos que estar presentes para atendê-los, tanto na rodovi-

O garçom Lauro de Lima sequer soube da existência do projeto

Baixa procura para capacitação do inglês CURSOS DE INGLÊS DO PROJETO TCHÊQUALIFICA NÃO ATRAÍRAM MUITOS PROFISSIONAIS. A CAPACITAÇÃO FOI OFERECIDA SOMENTE EM JANEIRO Ana Paula Zandoná

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ara capacitar profissionais envolvidos na Copa do Mundo de 2014, a Secretaria de Turismo (SETUR/ RS) abriu vagas, em dezembro do ano passado, em cursos de inglês no TchêQualifica. O público-alvo eram taxistas, garçons, comerciários, recepcionistas da Grande Porto Alegre. Apesar da iniciativa, o idioma ainda é uma das grandes preocupações desses profissionais em relação à Copa. Muitos profissionais prestadores de serviço nunca chegaram a fazer um curso de inglês. O garçom Lauro de Lima trabalha por mais de dois anos em restaurante em Canoas – que preferiu omitir o nome -, e não lhe foi oferecida a capacitação no idioma. “Nunca ouvi falar do TchêQualifica. Só sei meia dúzia de palavras em inglês!”. Ele já serviu estrangeiros, mas não conseguiu conversar com eles. O taxista Oldair de Almeida disse que ficou sabendo dos cursos oferecidos pela prefeitura, mas que não teve interesse em se especializar: “Na hora, eu me viro”, comentou. Outro problema é que os programas de capacitação foram organizados tardiamente. Em teoria, os profissionais interessados teriam apenas seis meses para

“aprender”, e isso é insuficiente. A diretora do curso Challenge Centro de Idiomas, Maria da Graça Galinatti Flach, de Canoas, duvida de programas de idiomas de curta duração. “O que é o inglês para a Copa? Ensinar meia dúzia de palavras? Para conseguir diálogo na língua, é preciso fluência, tempo. Eu não creio no inglês dissociado dessa maneira,” afirmou. Ela alertou que o nível de interesse do brasileiro é muito baixo: “Aqui, nós somos muito diferentes da Europa, por exemplo. Nem mesmo em alguns hotéis e postos de informações turísticas

O que é o inglês para a Copa? Ensinar meia dúzia de palavras? Para conseguir diálogo na língua, é preciso fluência, tempo. Eu não creio no inglês dissociado dessa maneira.”

Maria da Graça Galinatti Flach diretora do Challenge Centro de Idiomas

há quem domine o idioma”, disse. Segundo pesquisa da Education First (EF), o Brasil ocupa a 46ª posição em fluência no inglês, numa pesquisa que considerou 54 países. O Rio Grande do Sul teve um desempenho considerado “muito baixo”. Na Copa do Mundo, os brasileiros terão a oportunidade de perceber que precisam aprender um idioma para estabelecer relações com outros países. “As pessoas não dão muita atenção porque o mercado interno é forte, e parece que basta negociar internamente, na língua local”, apontou Michael Lu, diretor-sênior da EF. “Menos inglês significa menos inovação, comércio e receita”, concluiu. Canoas faz parte do grupo de cidades que pretende receber um número elevado de visitantes. A cidade está na lista de cidade com possiblidade de abrigar treinamento de seleções visitantes para a Copa da FIFA, através do Centro Esportivo da Ulbra. É a cidade-natal do técnico Luiz Felipe Scolari e, por isso, atrai turistas curiosos. Em entrevista ao Diário de Canoas, a gerente-comercial do Hotel Metropolitan, Daniela Ochsenhofer, garantiu que já contam com 60 reservas para grupos de estrangeiros: “Na capital, os valores dos hotéis são mais elevados. E para cá o deslocamento é bem fácil. Estamos mais próximos do aeroporto do que hotéis da zona Sul da capital”, comparou. De acordo com o Ministério do Turismo, o Rio Grande do Sul estima receber mais de 260 mil visitantes durante o período.

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ária como no aeroporto”,afirmou Lisandro Parra, cônsul adjunto da Argentina na capital gaúcha. Segundo o cônsul, nesses postos haverá informações aos turistas sobre hotéis, restaurantes, bares, festas e atividades culturais. Também será possível realizar a emissão de documento de identificação provisório que permita o argentino regressar ao seu país em caso de perda do original. Parra afirmou que, em um caso extremo, o consulado pode providenciar também o retorno do turista para a Argentina se ocorrer extravio da passagem de volta, ou sanar outros imprevistos que possam ocorrer. (Anderson Guerreiro)

Escada rolante do trem está parada há meio ano Os usuários da Trensurb das Estações Unisinos e São Leopoldo nem lembram mais quando foi a última vez que encontraram as escadas rolantes em funcionamento. Inoperantes desde dezembro de 2013, tornaram-se um obstáculo para quem usa o trem diariamente. A situação se agrava para os passageiros que têm necessidades especiais. O cadeirante Régis Viegas, estudante de Jornalismo, 31 anos, não pode usar o elevador da Estação Unisinos porque o equipamento só atende o segundo e o terceiro andares. Com a escada rolante estragada, resta apenas a rampa de acesso. Porém, ele necessita do auxílio de alguém, pois a rampa fica longe do local onde pega o ônibus para ir à universidade. “É preci-

so que alguém me ajude a atravessar a rua com a cadeira de rodas. Nem sempre há funcionários do trem para fazer isso. Eles alegam que o trabalho deles é apenas da Estação para dentro. Dependo da boa-vontade das pessoas que passam por mim”, conta Viegas. A assessoria de imprensa da Trensurb informa que as escadas rolantes foram desativadas por questão de segurança. Como são de um modelo que foi abandonado pelo fabricante, a reforma não é possível. A empresa conta com um projeto para substituí-las e aguarda disponibilidade orçamentária para sua execução. Por enquanto, não há previsão de troca. (Germana Zanettini)

Projeto social motiva alunos ao voluntariado “Um olhar para o outro”, programa social da Instituição Evangélica de Novo Hamburgo, incentiva o trabalho voluntário de alunos do Ensino Médio, que visitam entidades carentes e buscam melhorias para a vida das pessoas atendidas. Na intenção de realizar o exercício da cidadania, os estudantes escolhem um professor orientador e decidem qual entidade querem visitar, onde passam a promover atividades e organizar apresentação de todas as vivências sociais adquiridas. A aluna Eduarda Oliveira e seu grupo decidiram fazer o trabalho na Escola de Educação In-

fantil da Paz, pertencente à Associação Beneficente Evangélica da Floresta Imperial (Abefi). “Achamos legal a ideia de trabalhar com alunos entre 2 e 4 anos., pois temos muita afinidade com crianças”, relatou. Para a professora Júlia Wolff, que auxiliou o grupo, esse projeto é fundamental aos alunos. “Aprender a ser humilde e a enxergar o outro são as principais lições desse programa”, opinou. A diretora da entidade, Monika Maier, também acredita na eficácia das atividades. “As crianças ficam felizes em receber atenção e carinho”, sublinhou. (Bárbara Bengua)


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SAMUEL GAMBOHAN

Durante período de pouca liberdade, livros e artistas foram censurados

Vida universitária na ditadura em todos os setores da sociedade. Pedro Luiz da Silveira Osório, 60 anos, professor da Unisinos, iniciou a vida acadêmica em 1973, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Em plena ditadura, ser líder estudantil em uma universidade de extrema direita, “criada sob as bênçãos do regime”, não era nada fácil. Ele recorda que os alunos eram “extremamente vigiados,

Mailsom Portalete

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s estudantes universitários enfrentam, muitas vezes, problemas na luta e na garantia de seus direitos. Entretanto, houve uma época em que não existiam direitos e não se podia nem lutar por eles. Vejamos alguns relatos de quem viveu a recente e trágica história brasileira. Vamos tentar entender como era ser um universitário e como funcionava o ambiente acadêmico na época da ditadura. “Só cursávamos a faculdade pela obtenção do diploma. Eram raríssimas as aulas que nos proporcionassem alguma satisfação. A falta de espírito crítico nos cursos de graduação decorre desta época”, conta o professor da Unisinos, Pedro Osório. Ele diz ainda que “os limites presentes na democracia do Brasil e a própria falta de consciência política da população atual” se devem ao que foi feito com os cursos de graduação na época da ditadura. O que, segundo ele, tem consequências até hoje

Uma coisa que me marcou muito, é que a minha geração e a posterior foram privadas de muitas leituras fundamentais. Isto é bem grave e tem consequências até hoje na nossa formação política”

Christa Berger professora da Unisinos e jornalista

desde a sala de aula até a Casa do Estudante”. Era muito difícil fazer política. Pedro Osório é Presidente da Fundação Cultural Piratini – Rádio e Televisão (FM Cultura e TVE). Ele é especializado em Sociologia, Mestre em Comunicação e Doutor em Ciência Política pela UFRGS. Além disso, é presidente da Associação Brasileira das Emissoras Públicas Educativas e Culturais (ABEPEC). O professor conta que os diretórios acadêmicos (por curso) foram extintos. No lugar, criaram-se diretórios acadêmicos por centros. Desta forma, era impossível juntar as pessoas e mobilizá-las em torno de um propósito comum. Inclusive foi naquela época que se acabou com o conceito de turma (o mesmo grupo de alunos cursando as mesmas disciplinas todos os dias da semana). Outro método para evitar a criação de vínculos emocionais mais fortes entre os estudantes. O golpe mais duro veio com o decreto 477. Conhecido como “o AI-5 das universidades”, esta determinação possibilitava a expulsão dos subversivos não só da universidade, mas de todo o sistema acadêmico brasileiro. Na prática, este tipo de aluno estaria proibido, para sempre, de frequentar qualquer instituição de ensino superior em todo o território nacional. “Os estudantes e os intelectuais ficavam submetidos a quem era muito ignorante”, lembra a professora Christa Berger. Professora da Unisinos e jornalista, Ela tem 64 anos, é mestre em Ciências Sociais

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RENATA MACHADO

HÁ POUCO MENOS DE 30 ANOS, LIVROS ERAM CENSURADOS, ALUNOS E PROFESSORES ERAM PRESOS E TORTURADOS POR SUAS OPINIÕES E HAVIA AMEAÇA CONSTANTE DE EXCLUSÃO PERMANENTE DE TODO O SISTEMA UNIVERSITÁRIO BRASILEIRO

Professor Pedro Osório

Professora Christa Berger

e doutora em Comunicação. Ela fala sobre os livros censurados e confiscados. “Uma coisa que me marcou muito é que a minha geração e posteriores foram privadas de muitas leituras fundamentais. Isto é bem grave e tem consequências até hoje na nossa formação política”. A censura não se restringia a Karl Marx e a pensadores de esquerda. Muitos livros de literatura também eram proibidos, como O Vermelho e o Negro de Stendhal, por acharem que teria algo relacionado ao comunismo. Ou ainda absurdos, como quando os militares entravam nas casas e “viam na estante livros sobre o cubismo, os recolhiam então por pensarem que se relacionava a Cuba”, recorda Christa. Sociólogos, antropólogos, economistas, jornalistas, entre outros são profissionais que, segundo a professora Christa, necessitam ler textos críticos como, por exemplo,

sobre o marxismo. Então, no Brasil “toda uma geração destes profissionais foi proibida de ler determinados textos fundamentais”. Christa fez Jornalismo na PUC. Também cursou Sociologia na UFRGS. Apesar de não ter se formado no último curso. Foi na UFRGS que participou de forma mais atuante nos movimentos estudantis. Ela conta que na PUC a repressão era maior. Parte desta repressão existia porque havia espiões infiltrados nas salas de aula. Eles delatavam os colegas que fossem contra o regime, conta a professora. Embora que “nas minhas salas de aula nós sabíamos quem eram os infiltrados e, às vezes, até bancávamos certo enfrentamento”, completa Christa. Da mesma forma, havia professores que apoiavam a ditadura e “brigavam com os alunos, em sala de aula, caso fossem contra o regime”.


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Segredos da Galeria Malcon MARIANA CARLESSO

OS 27 ANDARES DA GALERIA MALCON EM PORTO ALEGRE ABRIGAM SENTIMENTOS E HISTÓRIAS DE VÁRIAS VIDAS QUE AINDA NÃO SABEM PORQUE FORAM VIVIDAS Guilherme Rovadoschi

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ara quem enxerga ao longe, os imponentes 27 andares da Galeria Malcon chegam a impressionar. Um dos maiores prédios do Centro Histórico de Porto Alegre é marcado pelas lembranças de quem por ali passou em mais de 40 anos de existência do local. Lugar onde muitos se escondem e outros despem as máscaras da alma, o número 1560 da Rua dos Andradas abriga todos os sentimentos e tipos possíveis: da atendente com expressão fechada à alegria do sorriso de quem já não tem dentes. Um espaço onde gremistas e colorados, ateus e religiosos, trabalhadores e desempregados convivem bem. Ou melhor, conviviam.

Eu entrei nessa porque quis, ninguém me obrigou a isso. Abandonei família, filha pequena. Nunca mais quis ver ninguém. As escolhas foram minhas”

Andrea Garota de programa

PRÉDIO MALDITO A harmonia entre os habitantes, que até o final da década de 90 era pacífica, tornou-se o principal empecilho para quem trabalha no prédio. Prostitutas e ambulantes dividem clientes na base do grito e do marketing pessoal. Compradores de cabelo, vendedores de aparelhos ortodônticos e intermediadores de perfumes de qualidade duvidosa disputam a clientela com moças de aparência pálida e abatida, reflexo das marcas de uma vida de quem ainda não viveu o que sonhou viver. Pior ainda é para quem tem empresa ou loja fixa na galeria há tempos, como é o caso de advogados, contadores e empresários. O prédio, que permaneceu como referência de ambiente comercial no Centro de Porto Alegre, hoje é um pastiche do que já foi. Segundo o advogado Luis Pedro Moniazzi, a clientela dele que, por muitos anos, era de 20 pessoas por dia, hoje não passa de dois por semana. “Os tempos são outros. As pessoas têm medo de entrar aqui. Virou um prédio maldito, sombrio, sem luz”, avaliou o advogado. Sem medo de combater o que ele chama de “falta de vergonha na cara e na bunda”, Moniazzi já foi agredido pelos cafetões do local por três vezes. “Eu sempre encarei essa bandalheira que acabou com a minha vida e com meu emprego. Isso era um ambiente de família. Vai ver se a mãe de alguma dessas meninas visita a galeria?”, indaga o senhor do alto de seus 74 anos, com uma das mãos apoiada em uma bengala cor de creme, com a coragem que parece não ter mais forças para ter.

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Prédio abriga comerciantes, profissionais liberais, prostitutas e histórias que o tempo não ousou apagar

UM DRINQUE NO INFERNINHO Ao mesmo tempo que a Galeria Malcon tornou-se um ponto de prostituição, a busca pelo prazer e pela exposição humana é o que mantém o local vivo. As portas, de números nem sempre sequenciais, surpreendem quem procura pelo prazer de um momento fugaz. Corpos que se vendem por, no máximo, R$ 50, estão em quartos sem ventilação, ambientes mal-

cheirosos e pouco iluminados, com garrafas de álcool espalhadas pelo chão e cortinas de seda que dariam inveja a música “Menina Veneno”, do cantor oitentista Ritchie. As salas, que antes eram comerciais, hoje são chamadas de “inferninhos”. Os mantenedores do espaço, chamados de cafetões, tentam angariar clientes para suas companheiras das maneiras mais agressivas e malévolas possíveis. Desde puxões direto para dentro das salas, até

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ameaças verbais reverberadas à quem dispensa os serviços. Transitar, principalmente pelo sétimo andar, é sentir-se em um corredor polonês. Com poucas chances de não levar um encontrão. Na sala 414, encontra-se um desses casos. Há 12 anos na prostituição, Andrea, que assumiu seu nome de guerra, vive há sete anos na Galeria Malcon. A escuridão se repete não só no ambiente, mas também na alma dela. A mágoa na carne fica exposta para quem con-

versa com ela por poucos minutos. Aos 32 anos, não faz pausas para a troca de cigarro enquanto fala de forma urgente. Sem vírgulas, despejando palavras de conformismo com o rumo que tomou. “Eu entrei nessa porque quis, ninguém me obrigou a isso. Abandonei família, filha pequena. Nunca mais quis ver ninguém. As escolhas foram minhas”, resignou a se lembrar de suas memórias, do tempo em que se dizia feliz. “Eu já fui feliz. O que eu aparento hoje é só sofrimento, é pura dor. Mas eu me afastei de tudo por medo daquela felicidade que eu não entendia o que era”, refletiu, com os olhos marejados e sendo pressionada por seu “companheiro” para realizar o próximo programa. Ao lado, no 415, vive outro caso. Morgana, 52 anos, nem lembra há quanto tempo se prostitui, mas busca nas lembranças a infelicidade que habita o quarto. “Eu já vivi tudo que eu podia viver aqui. É tanta angústia, tanta falta de amor. Daria tudo por outra vida”, conta a senhora, de 52 anos, que parece não aguentar as dores da troca carnal. “Muitas meninas chegam aqui muito jovens e usam drogas para conseguir aguentar essa vida. Eu já cansei, meu tempo tá acabando e eu não vejo saída”, declarou, áspera, com a dignidade de quem não pretende esconder os erros cometidos. “Eu me arrependo de quase tudo. Mas um orgulho eu tenho: consegui dar um bom futuro para as minhas filhas. Tudo com o dinheiro que ganhei aqui”, ressaltou, segura da escolha que fez. A Galeria Malcon transcende o espaço físico. É um ambiente da alma, é a busca pelo prazer consciente e a fuga da rotina consciente. Os 27 andares retratam as vicissitudes do corpo, o eterno esconderijo, o terno abrigo de um local onde os que adentram qualquer porta do edifício podem encontrar qualquer coisa. Menos encontrar a si mesmos.


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Cidade amiga dos animais THAÍS MONTIN

ALVO DE DENÚNCIAS EM 2012, O CANIL MUNICIPAL DE GRAVATAÍ PASSA POR MUDANÇAS E OFERECE ABRIGO SEGURO A CÃES E CAVALOS DA REGIÃO Thais Montin

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s cães podem não saber falar, mas transmitem sua felicidade de maneira muito clara: abanam os rabos e latem, mostrando como é bom estar em um local onde recebem tantos cuidados quanto se estivessem em um verdadeiro lar. E é exatamente isso que o Canil Municipal de Gravataí, após tantas reformas, tornou-se para eles. O canil é mais velho do que as funcionárias conseguem se lembrar. Porém, o tratamento vip é recente. Desde 2012, o local passou por uma reestruturação completa e agora conta com baias para cães e cavalos, espaços destinados a tratamentos, depósitos para rações e uma nova sede administrativa. Tudo isso contribuiu para uma impressionante melhora na qualidade de vida dos animais recebidos na instituição. “Ver essa mudança emociona todo mundo aqui”, afirma Cleber dos Reis, tratador que trabalha há quatro anos no canil da cidade. O lugar, antes construído com madeiras velhas, tampas de caixa d’água e outros materiais, que para tantos são considerados lixo, agora possui um brilho diferente. Ninguém sabe afirmar se ele vem das novas estruturas ou da alegria emanada pelos animais. Orgulhoso, dos Reis - funcionário mais antigo do local - narra histórias de superação vivenciadas dentro dos portões. “Havia casos em que o bichinho chegava aqui sem conseguir se mexer e, com o nosso esforço, ganhava uma vida nova”, conta o tratador, que diariamente alimenta, examina e dá carinho aos mais de 400 animais abrigados pelo canil.

A reestruturação do canil contribuiu para a qualidade de vida dos animais

tini, titular da Promotoria Especializada de Gravataí, que solicitou uma intervenção judicial no canil em março de 2012. A justiça nomeou Jackson Müller, atualmente biólogo da FMMA, como interventor e responsável pelas novas estruturas do local. “Um canil de uma cidade de grande porte como Gravataí não deve funcionar como depósito de animais”, frisa Müller, afirmando que, agora, a instituição é modelo para todo o estado. A maior dificuldade, porém,

UMA LUTA DE MUITOS Demorou, mas a administração municipal comprou a briga e fez de tudo para construir uma boa casa para os animais. “Nosso canil era abandonado. Só conseguimos mudar essa realidade com fortes investimentos e muita boa vontade”, relata Claudia Costa, diretora-presidente da Fundação Municipal de Meio Ambiente (FMMA). A prefeitura da cidade desembolsou cerca de R$ 2 milhões para as obras. Segundo Costa, a próxima etapa é a edificação de um gatil, para receber os felinos da região. O primeiro passo para a chegada de melhorias foi dado pelo promotor de Justiça Daniel Mar-

Havia casos em que o bichinho chegava aqui sem conseguir se mexer e, com o nosso esforço, ganhava uma vida nova”

Cleber dos Reis tratador

é o alto custo da alimentação e higienização do local. Por mês, são gastos cerca de 210 sacos de 25kg de ração para cães, 60 sacos de 40kg de ração para cavalos e uma tonelada de alfafa. “Usamos em média 350 litros de produtos desinfetantes por semana, pois a limpeza é realizada duas vezes por dia”, calcula a coordenadora do Canil, Márcia Becker. Toda a verba provém dos cofres públicos. QUE TAL AJUDAR? O Canil Municipal de Gravataí precisa de ajuda. O maior apelo vindo dos funcionários é que a população adote os cães que já foram tratados e esperam, há tanto tempo, por um lar de verdade. “Quem tem condições para cuidar e oferecer carinho para um destes bichinhos, não deve hesitar na hora de adotar”, destaca Cláudia Costa, contando que os cachorros são dóceis e meigos. Os animais para doação são microchipados – para fácil identificação em caso de fuga - e castrados. Ao novo dono é dada a responsabilidade pela aplicação de vacinas e de vermífugos, cuidados essenciais para os animais domésticos. Depois, é só aproveitar a companhia e a amizade proporcionada por eles.

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Canil Municipal Endereço: Estrada Leonel Cabeleira Bitelo, 271, Costa do Ipiranga Telefone: 3486-0229 E-mail: canil.fmma@gravatai.rs.gov.br

Linha do tempo 2003 Instaurado inquérito civil para apurar denúncias de descaso da prefeitura quanto à situação dos animais do canil. Na época, foi relatado que os cães não recebiam alimentos suficientes nem cuidados adequados dentro da instituição. 2007 A Prefeitura de Gravataí assina um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), no qual a cidade assume o compromisso de acolher animais abandonados em local adequado, alimentá-los e oferecer assistência veterinária. 2012 Um vídeo, divulgado por moradores das imediações do canil, mostra cenas de uma violenta briga entre um grupo de cães. Falsas denúncias de canibalismo entre os animais foram lançadas pela mídia, chocando todo o país. 2013 Obras de reestruturação são realizadas, ampliando a área de acolhimento. A reforma, que custou cerca de R$ 600 mil, traz profissionais para atender em turno integral e uma nova rotina, tanto para alimentação quanto para aplicação de medicamentos. HOJE Após investimentos de mais de R$ 2 milhões, o resultado positivo é visível e comemorado. Os cães recebem, além dos cuidados básicos, amor e carinho dos funcionários.


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Boom imobiliário: sonho e incômodo THIAGO SANTOS

CONSTRUÇÃO CIVIL EM ALTA ESTÁ FACILITANDO A VIDA DE MUITA GENTE, MAS TAMBÉM VÊM DANDO DOR DE CABEÇA Thiago Santos

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osué dos Santos da Silva se preparou, guardou dinheiro e esperou. Quando surgiu a oportunidade, comprou a casa própria. Escolheu na planta, a localização era boa e o projeto, uma maravilha, conforto e tranquilidade. Só que a história não foi bem assim. A casa iria ficar pronta em um ano. Demorou quase dois. Concluído o imóvel, Josué se mandou para o novo lar. E foi aí que os problemas começaram. Rachaduras dentro e fora da casa, reboco caindo, lajotas soltas, rejunte de cimento, portas e janelas tortas. Mas ainda havia mais. A caixa d’água, além de ser instalada em cima de forro, apoiada em madeira, transbordava porque não tinha sistema de evacuação. As telhas de barro haviam sido mal instaladas e, quando chovia, a casa virava um campo minado de baldes. Não bastasse isso, o box do banheiro fora construído sem caimento. Quando alguém tomava banho, já podia levar o rodo junto pra escoar a água depois. Mas Josué não foi o único a passar pela situação. Lisiane Lutz ajeita as coisas no pátio enquanto fala sobre seu imóvel. O terreno é em declive, mas a casa está no nível da rua, apoiada por vigas que já deram e ainda dão certa dor de cabeça à esteticista. Com expressão de desânimo, Lisiane conta os problemas que já teve com a residência nova: “Quando nos entregaram a casa, as janelas e portas emperravam, não havia reboco em algumas partes, as vigas embaixo davam medo”. Lisiane comprou a casa na planta. Deveria receber o imóvel em quatro meses, mas demorou oito. Quando chegou à residência, percebeu vazamento no banheiro. Em uma semana, notou que não era só o banheiro. Todo o sistema de esgoto da casa estava condenado. “Tivemos de abrir tudo e refazer.” A esteticista reclamou à imobiliária. “Eles queriam mandar o pessoal que construiu para arrumar, mas a gente não queria.” Josué e Lisiane tiveram que lidar com falhas em casa. Porém, quando se trata de apartamento, os problemas “caseiros” podem ser coletivos. Moradora de um condomínio inaugurado há quatro anos, próximo ao centro de São Leopoldo, Maritania Molinari Gunschnigg já deparou com rachaduras nas paredes do imóvel e nas escadas. Algumas calçadas do condomínio estão cedendo. Mas Maritania não tentou recorrer à imobiliária ou à construtora. Optou por fechar os olhos para as brechas e imaginar o futuro.

Problemas hidráulicos obrigaram Josué, de São Leopoldo, a refazer o banheiro da casa nova

Segundo o pedreiro Adair Chagas Echeverria, muitas vezes o construtor é chamado para reparar o que outros supostamente terminaram. Porém, nem tudo é simples. Adair já passou por situações em que até o essencial teve de ser refeito. “Me chamaram porque as tesouras do telhado estavam fora da medida. A gente teve que desmontar tudo.” Para o pedreiro, esses casos têm uma explicação prática: “O pessoal está construindo mais, daí precisa de pedreiro. Quem pode pagar mais consegue

Quando nos entregaram a casa, as janelas e portas emperravam, não havia reboco em algumas partes, as vigas embaixo davam medo”

Lisiane Lutz Esteticista

os pedreiros mais experientes. Quem não tem condições pega alguém com menos experiência, e as obras são feitas na corrida, para já fazerem a próxima”. Mas, quando o assunto é construção civil, não é só o cliente e o construtor que enfrentam problemas. Marilene Frota, corretora de imóveis em São Leopoldo, faz careta para o tema: “Quando lançaram o programa Minha Casa Minha Vida, houve aquela busca por construtores e empreiteiras. A gente começou a indicar sempre três empresas que conhecíamos. Em um ano, já indicávamos só duas. Hoje, só sugerimos uma empresa para construção”. O fenômeno observado por Marilene e Adair é causado pelo boom da construção civil. O doutor em Economia e professor da Unisinos Igor Alexandre Clemente de Morais explica melhor. “Podemos ver que há fatores de impulso pelo lado do mercado de trabalho e pelo lado financeiro. No primeiro caso, destaca-se a evolução do emprego e do salário real, que, combinados, geraram uma demanda aquecida para o setor imobiliário. O segundo ponto contempla maior oferta de recursos para financiamento, além das políticas governamentais.” Mas, se por um lado a construção civil está aquecida, por outro há falta de mão de obra qualificada para a demanda. Para a diretora do Procon de Sapucaia do Sul, Miriam Gresa, his-

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tórias como essas vêm ocorrendo com mais frequência nos últimos anos. “Esses casos aumentaram, mas realmente não é todos os dias que aparecem.” Miriam orienta os consumidores a procurar a entidade sempre que se sentirem lesados ou prejudicados na aquisição do imóvel. A diretora também esclarece as primeiras ações tomadas pelo órgão nessas situações. “O que o Procon tenta fazer primeiro é uma mediação entre o cliente e a empresa. Se essa mediação não der certo e o cliente continuar se sentindo lesado, ele tem o respaldo para apelar à Justiça.” Josué conseguiu recorrer à imobiliária. “Tive que ir lá várias vezes.” Quando solicitada, a empresa atendeu a todos os pedidos do cliente. O caso de Lisiane não teve o mesmo desfecho. Alguns de seus pedidos foram atendidos, mas as vigas que sustentavam a casa ficaram por conta da proprietária. Agora, Josué tem um novo problema: um buraco no box do banheiro, que já está sendo reparado pela imobiliária. Experiente, ele adverte: “Quando comprar uma casa, vá na obra, olhe como está sendo feita”. Para Lisiane, a solução passa pelo mesmo remédio. O certo é que o boom pode ocorrer em qualquer área. No ramo imobiliário, ele aqueceu os negócios, trouxe investimentos e o lar para muita gente. Mas também revelou outro lado: a falta de preparo de alguns profissionais para o trabalho.


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Os caminhos da adoção ANDREIA KLEIN/DIVULGAÇÃO

PERSISTÊNCIA E FLEXIBILIDADE SÃO IMPORTANTES PARA QUEM QUER ADOTAR CRIANÇAS Karina de Freitas

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iagnosticada com endometriose na adolescência, a jornalista Camila Arócha, 31 anos, conviveu com as dores e a rotina do tratamento de uma doença que ameaça a fertilidade feminina. O sofrimento maior, porém, veio após a revelação dos médicos de que não poderia engravidar, mesmo com os tratamentos de fertilização. A impossibilidade de ter seu filho gerado do próprio ventre não fez Camila, casada há oito anos com Ederson Negri, desistir. Inscrito no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) desde 2010, o casal não foi chamado. A jornalista telefonava a diversos abrigos do país, buscando crianças para adoção, até que encontrou uma menina, na cidade de Itambacuri, no interior de Minas Gerais. Com dez meses, a menina continuava no abrigo em virtude de uma deficiência. Ela nasceu com uma síndrome, artrogripose múltipla congênita, caracterizada por contraturas articulares – no caso dela, nos pés. Por isso, passava os dias deitada no berço, sem caminhar. Não tinha cabelo, e pesava oito quilos. Logo encaminharam os documentos para adoção. Passados cinco meses, o casal recebeu a notícia de que poderia buscar a filha. “Quando fomos buscá-la, tudo já estava organizado. Minha Ana Vitória chegou com um ano e três meses”, relembra Camila.

CONTA QUE NÃO FECHA Dados divulgados pelo Cadastro Nacional de Adoção indicam que existem cerca de 5,4 mil menores de idade cadastrados para serem adotados. Entretanto, há 30 mil pretendentes a fazer a adoção no Brasil. A assistente social Taís Hanh explica que esses números não têm uma lógica matemática. Alguns detalhes são decisivos para as famílias continuarem na busca da adoção. Como o caso do jornalista Silvestre Silva Santos, 56 anos, criado por pais adotivos. Ele pretendia seguir o exemplo, pois sua mulher não pode ter filhos. A possibilidade de adoção foi cogitada, mas, aos poucos, eles desistiram do sonho. Segundo Silvestre, em virtude da demora do processo. “A burocracia e a falta de flexibilidade inibem os casais de procurar a adoção. O processo mais rápido ajudaria as crianças a saírem das ruas, ganhando um lar com um futuro garantido”, desabafa. Para Taís, o perfil do filho adotivo que as famílias buscam é fundamental. “Os casais querem crianças

pequenas, com determinadas características. Em geral, as crianças para adoção possuem mais idade e muitas vezes não têm traços físicos da família”, explica. A habilitação para adoção não segue um período específico. Segundo a assistente social, o período aproximado é de um ano. Os pretendentes à adoção passam

A burocracia e a falta de flexibilidade inibem os casais de procurar a adoção. O processo mais rápido ajudaria as crianças a saírem das ruas, ganhando um lar com um futuro garantido”

Silvestre Santos Jornalista

por análises objetivas, materiais, sociofamiliares, revisão das motivações da adoção e condição emocional para receber um filho. Durante o convívio das crianças em suas novas casas é aconselhado o acompanhamento de um profissional de psicologia. De acordo com o psicólogo Michel Mansur, as famílias não devem omitir a origem dos filhos adotivos. “Não pode ser escondida a verdade, pois outra pessoa, de forma acidental, pode falar, e a criança se sentirá enganada pelos pais”, alerta. Para o cadastro do CNA é necessário ser maior de idade e ter no mínimo 16 anos a mais do que o menor. Não é necessário ser casado. Não é permitida a habilitação de avós ou irmãos dos menores no processo de adoção.

TENTATIVA DE RETORNO Os menores retirados do convívio familiar por ordem judicial são levados aos abrigos municipais e recebem acompanhamento social e psicológico. De acordo com o conselheiro tutelar Joelson Cardoso, as tentativas de retorno à família biológica não são descartadas pelo Judiciário. “Existe a família extensiva, os avós e tios. Quando essas expectativas não são atendidas, as crianças são encaminhadas para adoção”, explica. A equipe multiprofissional do Serviço de Acolhimento é responsável pelo acompanhamento dos

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menores visando ao trabalho de retorno à família biológica, preconizado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O Juizado da Infância e da Juventude é que tem o poder de definir a destituição familiar, encaminhando as crianças para adoção. “Acredito que a questão judiciária de fato é demorada, mas não vejo que a Justiça dificulte. Porém, sabemos que a fila de pessoas aptas à adoção é extensa”, analisa o presidente da Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente de Gravataí, vereador Dimas Costa.

SER MÃE É TUDO Ana Vitória completou três anos. Seguindo os tratamentos e acompanhamentos profissionais de que necessitava, hoje ela consegue caminhar, pular, correr, fazer balé e capoeira. Segundo Camila, o tratamento da filha será por toda a vida. A fisioterapia é três vezes por semana, mas já foram seis sessões semanais. A menina passou por três cirurgias, e ainda serão necessárias mais operações. Logo após a adoção, Camila teve outra grande surpresa. Superando as expectativas médicas, de forma natural, sem qualquer tratamento, Camila engravidou de Luana. “Não consigo imaginar nada melhor do que ser mãe. Amo ser mãe das minhas pequenas, que vieram de maneiras diferentes, mas são tudo na minha vida”, conclui.

Depois de ter ido a Minas Gerais para adotar Ana Vitória (D), Camila foi novamente presenteada com o inesperado nascimento de Luana (E)


Geral

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Culto à maconha vira cultivo JOSÉ FRANCISCO RIBEIRO JÚNIOR

ATIVISTAS DE PORTO ALEGRE DEFENDEM A LEGALIZAÇÃO DA ERVA EM PLANTAÇÕES DOMÉSTICAS José Francisco Ribeiro Júnior

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consumo de maconha é crime? O combate à erva funciona contra o narcotráfico de forma mais efetiva do que o cultivo caseiro da planta? A lei de proibição da maconha no Brasil é constitucional? Essas questões são debatidas por ativistas de todo o país. Usuários entendem que consumir cannabis não deve ser considerado crime. Em diferentes nações, grupos se reúnem em torno do mesmo assunto: a legalização. “O ativismo se define por aquilo que você representa. Na questão da cannabis, o preconceito é tão grande que só defender a descriminalização já é ativismo. Assumir que é usuário é uma exposição”, relata o publicitário Charles (nome fictício), 33 anos. Com o crescimento da internet e o surgimento das redes sociais, grupos começaram a se aglutinar em razão da mesma demanda. Diversas pessoas interessadas no cultivo da planta foram se aproximando. O meio virtual foi o facilitador desse movimento, permitindo a troca sem qualquer tipo de exposição. O Growroom atua há 12 anos, promovendo a integração de cultivadores de cannabis, dialogando com a sociedade civil e prestando auxílio jurídico a seus membros. O movimento vem promovendo debates, congressos e a Marcha da Maconha. Influenciados por ele, ativistas da capital gaúcha se mobilizam a favor da liberação. “Mesmo que na maioria das vezes o cultivo se destine ao autossustento, cultivadores têm sido presos por todo o Brasil, com quantidades de pés ínfimas, que não produziriam o suficiente para uma pessoa fumar por uma semana. A má vontade da polícia é fundamental para que esse cenário continue”, afirma Charles. No início do ano, a polícia gaúcha passou a investigar um grupo que teria sido responsável pela organização da 2ª Copa Growroom, realizada no fim de 2013, em Porto Alegre. O Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) desaprovou o vídeo publicado na internet com imagens do encontro. O diretor de Investigações do Denarc, Heliomar Franco, considera um deboche as manifestações ativistas: “Eles se expõem cada vez mais. Além de praticar algo ilícito, estão cometendo o grande equívoco de se identificar. Esses grupos promovem competições e transportam a droga de diversos locais. Se cada um tivesse a sua droga para con-

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Esses grupos promovem competições e transportam a droga de diversos locais. Se cada um tivesse a sua droga para consumo próprio, seria posse de entorpecentes, mas não é isso que acontece. Existe um comércio e uma exposição ”

Heliomar Franco Diretor de Investigações do Denarc

Em um dos grows, cultivador utiliza um armário, papel laminado e iluminação artificial

sumo próprio, seria posse de entorpecentes, mas não é isso que acontece. Existe um comércio e uma exposição. O tráfico é responsável por grande parte da violência das ruas”. Entre os ativistas, há muitos motivos para a legalização da maconha. De acordo com entrevistados, a ideia do cultivo surge aos usuários que se cansam de frequentar as “bocas de fumo”, da má qualidade e da violência proporcionada pela ilegalidade. “O cultivo é disseminado pela própria vontade do pretendente

a ativista. A internet fornece as informações para o cultivo. Cada um que planta é um a menos que compra. A maconha do mercado negro brasileiro é uma das piores do mundo. Esses são motivos para trocar o hábito de comprar de traficantes pelo ato de cultivar”, comenta o empresário Fernando (nome fictício), 29 anos. Recentemente, o Estado americano do Colorado e o Uruguai legalizaram a planta. Conforme nota publicada , o Colorado visa arrecadar com a maconha legal impostos acima do esperado no

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próximo ano. A estimativa durante a campanha de legalização projetava uma arrecadação de US$ 70 milhões, mas deverá chegar a US$ 98 milhões. O consumo não é controlado pelas autoridades, porém, parte da arrecadação é destinada à redução de danos à saúde. Do lado uruguaio, a legalização é vista como uma alternativa de controle da criminalidade no país. O projeto é estritamente nacional, controlado e licenciado pelo governo. O reflexo desses desdobramentos, principalmente com a

liberação no país vizinho, é de mobilização. Atualmente, esses grupos têm seus interesses representados na Câmara dos Deputados. O deputado federal Jean Wyllys (PSOL/RJ) protocolou em março o projeto de lei da regulamentação da maconha no Brasil. Conforme Wyllys, o projeto de lei visa a regulação da produção, comercialização e descriminalização da maconha para consumo pessoal. O projeto vem ao encontro da opinião de juristas que consideram a criminalização da maconha inconstitucional, utilizando como argumento o princípio de lesividade, que, nesse caso, considera que o sujeito que se droga só pode fazer mal a ele mesmo. Jean Wyllys pontua que “o Brasil precisa mudar o paradigma, porque as políticas atuais jamais surtirão efeito, como hoje não surtem. Se avaliarmos a eficiência dessas políticas em relação ao dinheiro empregado nelas, o erro fica evidente”. O psiquiatra Renato Spagnoli, no entanto, considera a maconha o passaporte de entrada para a dependência química. “A maioria dos pacientes que atendo ingressa no mundo das drogas experimentando drogas lícitas, como álcool, e ultrapassa a barreira da proibição com a maconha. Mesmo os que mantêm o hábito de fumar maconha correm sérios riscos de saúde. O uso diário de maconha pode causar alterações no cérebro semelhantes à esquizofrenia”, alerta o médico.


Trânsito

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MARIANA BLAUTH

Inscrições do Passe Livre estudantil seguem abertas As inscrições para o programa Passe Livre Estudantil, que beneficia com a gratuidade no transporte público estudantes que residam em uma cidade e estudam em outra e tenham renda de até 1,5 salário mínimo, permanecem abertas por tempo indeterminado. Foram necessárias algumas adaptações nos sistemas de transportes intermunicipais para a utilização do benefício. Segundo Brunilda Werner, assessora da Metroplan, muitos municípios não têm a estrutura para o sistema de bilhetagem eletrônica. “Encontramos algumas dificuldades no passe livre. E uma delas foi a falta das catracas e leitoras eletrônicas

em vários municípios do interior”. Mesmo com o processo de adaptação, o programa está em funcionamento. Ao todo são 447 cidades beneficiadas. O ingresso no Passe Livre Estudantil é gratuito, havendo apenas o custo para confecção das carteirinhas de identificação. Para o ingresso no programa é necessária a apresentação dos seguintes documentos: formulário cadastral (disponível no site www. ueers.org.br), comprovante de matrícula em instituição regular de ensino, documento de identificação do estudante; comprovante de residência, comprovante de renda do beneficiário e dos membros do grupo. (Vanessa Ferrão)

Trânsito aborrece quem chega à Unisinos Congestionamentos e grandes filas aborrecem alunos, professores e funcionários na chegada à Unisinos. O movimento intenso ocorre das 8h às 8h30 e das 19h às 19h30. Principal via de acesso, com três entradas do campus, a Avenida Unisinos tem apenas uma pista de acesso para quem vêm no sentido Capital-São Leopoldo. O congestionamento inicia na curva de entrada para a Avenida, que se divide em três pistas para receber mais de 20 mil alunos. Estudante de Jornalismo, Artur Cardoso, 18 anos, chega às 19h na estação. “Este ano as filas estão maiores. Além disso, está sempre cheio e demoro 15 minutos

para descer”, conta. De acordo com Cristian Lehmann, coordenador de transporte e trânsito da Unisinos, não faltam vagas para estacionar. Devido à troca das cancelas, os alunos chegam às vagas nos centros mais cedo, mas para quem chega às 19h a impressão é de que faltam. Prédios garagem, a solução, não são prioridade, afirma Lehmann. Para diminuir a fila do circular, dois ônibus são abertos simultaneamente. Mas, se o veículo não lotar, não pode sair até o horário-tabela. O aumento na fila tem a ver também com novas estações do trem em Novo Hamburgo. (David Farias)

Tarifa de ônibus entre municípios é reduzida Uma simplificação tarifária reduziu o preço das passagens de ônibus entre cidades do eixo norte da Região Metropolitana em até 46%. A mudança beneficia cerca de 250 mil passageiros. A viagem entre os municípios de Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul, São Leopoldo e Novo Hamburgo ficou com o valor de R$ 2,65, e o trajeto deles até Porto Alegre agora custa R$ 3,15. Os descontos entraram em vigor no dia 19 de março. Segundo o cobrador de um dos ônibus da linha NH – POA, da empresa Central Transportes, Francisco Antônio Corrêa, o ajuste recuperou parte do número de usuários que ha-

viam deixado de usar o serviço com a inauguração de três novas estações da Trensurb na cidade. O superintendente da Metroplan, Oscar Escher, diz que com a alta na procura pelo serviço, as empresas poderiam renovar a frota. A redução tarifária vale para a linha comum das empresas Real Rodovias, Central Transportes e Vicasa. Para os passageiros, a mudança agradou. A dona de casa Sandra Pereira, de Novo Hamburgo, justifica a preferência pelo ônibus em relação ao trem dizendo achar o primeiro mais confortável. “E tem a vantagem de passar no bairro, pertinho de casa”, declara. (Laura Pavessi)

Estação Fenac, novo ponto de parada, teve quase dois mil acessos nos dias úteis de fevereiro

Trem facilita transporte em Novo Hamburgo ESTAÇÕES INDUSTRIAL, FENAC E NOVO HAMBURGO INCIARAM OPERAÇÕES NA CIDADE EM DEZEMBRO DE 2013 E EM MAIO PASSOU A COBRAR PELA PASSAGEM Mariana Blauth

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começo das operações em três novas estações da Trensurb em Novo Hamburgo modificou a rotina das pessoas. Até o início de maio, o trem funcionava em horário integral, e o passe era livre. Agora, a tarifa é cobrada ao valor de R$ 1,70 em todos os espaços, incluindo os pontos de parada Industrial, Fenac e Novo Hamburgo. Lucas Lindenmeyer, 24 anos, trabalha em Porto Alegre e opta pelo trem para chegar à cidade. Ele desembarca na estação Farrapos, de segundas às sextas-feiras e no último sábado do

mês. Antes, precisava de ônibus para ir e voltar da estação Santo Afonso. Agora, como mora perto de um dos novos pontos de parada, pode ir a pé até o local. Para Lindenmeyer, os gastos em transporte foram reduzidos em R$ 120 no período do passe livre. Além disso, Lindenmeyer gasta menos tempo para transporte. “Pela manhã, ganho aproximadamente cinco minutos, mas na volta para casa, economizo de 30 a 40 minutos”, afirma. De acordo com ele, ter mais estações na cidade também tonou mais eficaz locomoção nas terças-feiras, quando cursa Gestão Financeira no pólo da ULBRA em Novo Hamburgo. EMPRESAS DE TRANSPORTE De acordo com a assessoria de imprensa da Trensurb, houve queda no acesso de usuários pela estação Santo Afonso após a abertura dos novos pontos de parada em Novo

Hamburgo. Segundo dados, em novembro de 2013, a média de acessos por dias úteis no local era de 6.398. Em fevereiro deste ano, o número diminuiu em 56,37%, chegando a 2.792. No terminal Novo Hamburgo, a média de acessos aumentou em 405,45% de dezembro a fevereiro. A Trensurb ainda não tem como prever se a cobrança das passagens afetará o comportamento dos usuários e o reflexo financeiro na operação do metrô. Em relação às linhas de ônibus, o gerente operacional da empresa de viação Hamburguesa, Ricardo Ferraz, acredita que a queda do número de passageiros, durante o passe livre do Trensurb, e as mudanças financeiras foram insignificantes. De acordo com ele, não existe um levantamento oficial. Como o trem funcionava na modalidade gratuita, não era possível ter certeza se o passageiro migraria ou não. A partir de agora, a empresa ficará atenta ao número de usuários de ônibus.

Cidades se preparam para a Balada Segura Atualmente, 15 cidades se preparam para efetuar ações próprias da operação Balada Segura. A Operação é uma blitze de fiscalização para combater e educar motoristas alcoolizados. Nos três anos da operação, houve redução de 37% dos acidentes com vítimas fatais, segundo Renato Wendorff Júnior, diretor de Planejamento de Políticas Públicas de São

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Leopoldo. De maio de 2012 a maio de 2013, houve a contenção de 18% no número de acidentes em Esteio. O alerta é que a combinação de álcool com direção é mortal. Diovanni Martins tem 19 anos e é estudante de Psicologia. Ele percebeu que o comportamento dele e dos amigos mudou com a blitze. “Quando saio com meus amigos, sempre há o motorista da

rodada”, pontua . O condutor consciente faz com que o trajeto seja mais seguro, ele evitará riscos e nem será causador de acidentes e lesões. “Beber não é o problema – o que está proibido é dirigir após beber, pois o motorista fica com reflexos alterados e pode colocar sua vida e de todos os outros em perigo”, ressalta Renato Wendorff Júnior. (Patrícia Dutra Martins)


Trânsito

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Diferentes caminhos até o Beira-Rio A ROTINA DOS GAÚCHOS VAI SER ALTERADA PELA COPA DO MUNDO Joellen Soares

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Além das possíveis melhorias para o próprio morador, a mobilidade urbana da cidade também passou por fases de aperfeiçoamento. A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) capacitou os agentes com cursos de línguas estrangeiras para atender aos turistas com infor-

mações necessárias. Das 174 placas bilíngues previstas, mais de 100 já foram implantadas em diversas vias do Centro Histórico, Arena do Grêmio, entorno do estádio Beira-Rio, Av. Edvaldo Pereira Paiva, rodoviária, aeroporto, entre outros pontos. Além destas, outras sinalizações

Cultura Gaúcha

Celso da Silveira Fernandes taxista

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OBRAS E SINALIZAÇÕES Para receber a Copa do Mundo em Porto Alegre foram implantadas 14 grandes obras com o objetivo de recepcionar melhor os turistas e também com o intuito de criar um legado para os moradores da Capital. Segundo o Secretário de Gestão de Porto Alegre, Urbano Schimitt, conseguiu-se a oportunidade para melhorar a mobilidade dentro da cidade. Ele salienta que as obras ligadas à Copa: Av. Edvaldo Pereira Paiva, entorno do estádio Beira-Rio, Complexo da Rodoviária, estarão prontas antes da abertura do evento.

A cidade de Porto Alegre se prepara para a Copa desde que foi escolhida como uma das cidades-sede. A Capital recepcionará os estrangeiros com eventos culturais e amostras, de acordo com o Prefeito José Fortunati. “Em termos de atividades, queremos mostrar a cultura do gaúcho oferecendo o Acampamento Extraordinário da Copa. Será uma mini

indicativas também estão sendo implantadas nas mesmas regiões. Já foram instaladas mais de 1,5 mil placas, de um total de 2.151 previstas, indicando zonas de interesse, rotas, bairros e áreas turísticas, como museus, parques, entre outros.

Rotas até o estádio DIVULGAÇÃO / PMPA

uitos pés circulam por Porto Alegre atualmente. Os que vão trabalhar, pegar ônibus, que estão passeando, uns com mais pressa e outros nem tanto. A capital dos gaúchos já é movimentada. Na Copa do Mundo, muitas nacionalidades diferentes estarão espalhadas pelas ruas, conhecendo a cidade e seus pontos turísticos e, principalmente, assistindo aos jogos da Copa do Mundo no estádio Beira-Rio. Os trabalhadores que dirigem por Porto Alegre terão que mudar de rotina devido a Copa na cidade. É o caso do taxista Celso da Silveira Fernandes, 47 anos, que encontrará muitas ruas bloqueadas nos dias de jogos e que também levará muitos turistas para o evento. De acordo com Fernandes, os trajetos que são feitos hoje serão mudados nos dias de jogos. Apesar disso, o taxista destaca: “Porto Alegre terá um movimento muito maior do que hoje, e o nosso trabalho aumentará 40% no tempo que os turistas ficarão na cidade”. Nos dias de jogos, ruas estarão bloqueadas para os torcedores poderem se deslocar a pé até o estádio. A partir da Avenida Ipiranga, não haverá acesso de veículos, como também pelas avenidas Edvaldo Pereira Paiva e Padre Cacique. A Avenida Borges de Medeiros ficará bloqueada do centro de Porto Alegre, ao lado do Mercado Público, até o estádio. Nos estacionamentos, mais de 900 vagas em um espaço aberto, controlados por agentes, serão destinadas a ônibus e excursões. Trezentas vagas estarão disponíveis na Av. Borges de Medeiros até Av. Praia de Belas. E outras 600 vagas estarão liberadas na região do Cais Mauá. Os torcedores que irão de carro terão duas opções de estacionamento. A primeira é na área da PUCRS e a segunda é no Hipódromo do Cristal. Os dois locais disponibilizarão para os torcedores um transporte até próximo ao estádio e do estádio para os estacionamentos. A frota de ônibus será a mesma que a Capital mantém atualmente, 1.704 veículos. Nos dias de jogos, a EPTC conseguiu estruturar as linhas de ônibus, sendo que sete atenderão do Centro Histórico até o estádio, além das linhas do Aeroporto e outros pontos da capital. Para Vanderlei Cappellari, diretor-presidente da EPTC, haverá uma grande oferta de transporte coletivo na cidade, onde a população não deve encontrar problemas de deslocamento até o estádio.

Porto Alegre terá um movimento muito maior do que hoje, e o nosso trabalho aumentará 40% no tempo que os turistas ficarão na cidade”

edição daquele que temos tradicionalmente no mês de setembro, porém, com cerca de 100 piquetes. Neste espaço, o turista aprenderá fazer chimarrão, as danças típicas e conhecerá outros elementos que fazem parte da nossa cultura. São eventos que mostrarão um pouco da nossa capital para aproximar os turistas com o povo gaúcho”, salienta.

Para o turista que irá assistir algum jogo no estádio BeiraRio, separamos algumas opções n O motorista que vem da Free Way, iniciando o trajeto em Osório, deve seguir viagem até a entrada de Porto Alegre, acessando a Avenida Castelo Branco. Seguindo pela Rua da Conceição, pegando a Av. Osvaldo Aranha, entra na Av. João Pessoa segue pela Av. Venâncio Aires que vira Av. Aureliano de Figueiredo Pinto e acessando a Av. Praia de Belas que podem estacionar nesta área. n O motorista que vem da BR-290, do Interior, pode fazer o mesmo trajeto. Saindo pela Ponte do Guaíba e acessando a Avenida Castelo Branco. Seguindo pela Rua da Conceição, pegando a Av. Osvaldo Aranha, entra na Av. João Pessoa segue pela Av. Venâncio Aires que vira Av. Aureliano de Figueiredo Pinto e acessando a Av. Praia de Belas que podem estacionar nesta área.

KARLA OLIVEIRA

A Avenida Padre Cacique será uma das vias bloqueadas para que pedestres possam se deslocar a pé em torno do estádio

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Meio Ambiente

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DIVULGAÇÃO

Empresa reutiliza plásticos para produzir matéria-prima Trabalhar em prol do meio ambiente é a tarefa diária de uma fábrica localizada em São Vendelino, município do interior do Rio Grande do Sul. A Wendelplast, que faz referência ao nome da cidade na língua alemã, é responsável pela reutilização de plásticos e fabricação de matéria- prima. O trabalho passa por algumas etapas: primeiramente, são comprados os resíduos das indústrias, que são moídos pela compactadora e transformados em matéria prima, sem perder sua propriedade. Assim, o produto passa a ser novo e pode ser reutilizado, voltando a ser vendido pela indústria. Para o sócio da empresa Renê Nestor Freitas, a iniciativa é dar um

novo rumo ao lixo descartado de forma irregular. “Tudo que era descartado, ou jogado em depósitos passa a ser utilizado novamente, o que colabora tanto com o meio ambiente quanto para as indústrias que podem reaproveitá-lo”. Ele ainda salienta que são transformadas aproximadamente 100 toneladas de plástico por mês. Para o funcionário Márcio Schmitz, este processo é fundamental para o cuidado e a valorização do meio ambiente. “Apesar de ser um trabalho pouco incentivado, ele demonstra que é possível dar um novo rumo ao lixo de forma correta”, finaliza. (Nicole Fritzen)

Bairros de São Leopoldo são perturbados por urubus Viver com a presença de aves que se alimentam de matérias em decomposição e que gostam de pousar em lugares altos é a realidade dos moradores do bairro São João Batista, em São Leopoldo. Próxima ao zoológico de Sapucaia do Sul, a área é ponto de encontro das aves que se aproximam principalmente do conjunto habitacional Acapulco. Felipe Rosa Oliveira, 25 anos, residente do condomínio, relata que há cerca de um ano os urubus visitam o local. “Certa vez, saí e deixei as janelas abertas para ventilar. Quando voltei, encontrei um urubu na janela da sala”, relata. Segundo o biólogo especializado em aves e que atua no

laboratório de ornitologia da PUCRS, Márcio Repenning, o urubu-de-cabeça-preta é a espécie mais observada em áreas urbanas ou suburbanas. Lixões e locais onde a população descarta restos de animais mortos atraem a espécie, que encontra oferta de comida pelo olfato apurado. Matar um urubu é crime ambiental e pode resultar em multa e até um ano de prisão. O ornitólogo explica que, para afastá-los, o ideal é manter a cidade e a periferia livre de depósitos de lixo e carcaças de animais. Os urubus habitam as terras do zoológico, e a instituição não quis prestar esclarecimentos. (Paula Ferreira)

Moradores provocam queimadas em Parobé Neste ano, têm sido constante as queimadas causadas por moradores do bairro Laranjeiras, em Parobé. O município, que foi considerado capital da Natureza Limpa, pelo cuidado que tinha com o lixo, hoje é poluído por pequenas indústrias. Também perdeu o posto devido a atitudes inadequadas dos moradores. “Tinha muita fumaça e fedor altamente sufocante”, disse a moradora Cristina Matte, 31 anos. Ela conta que ligou para os bombeiros reclamando do fogo. A corporação disse que não havia o que fazer, pois as chamas estavam no terreno vizinho. Cristina ligou para a Brigada e não obteve retorno. Irritada, entrou em contato com a Secretaria do Meio Ambiente, que disse

que não podia fazer nada. “O município passa por mudanças. Tivemos problemas ambientais deixados pelo mandato anterior”, explica Celso Luís Abreu, secretário de meio ambiente. Segundo ele, a fiscalização não era feita por gestores, geólogos e biólogos como é agora. “O município controla um sistema que aplica multas e penalidades aos infratores, juntamente com a ajuda da polícia ambiental”, disse. Cássio Grovermann, gestor ambiental, afirma que as queimadas são crimes previstos no Código Ambiental do Município, que defende a conservação de área natural em terreno público ou privado.

Durante o turno inverso ao das aulas, estudantes produzem tinta caseira para pintar os trabalhos

Comunidade faz arte com o que seria lixo PROJETO DO INTERIOR DE SANTO ANTÔNIO DA PATRULHA INCENTIVA A REUTILIZAÇÃO DE MATERIAIS E INCLUI MORADORES PARA AUXILIAR NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Israel Silveira

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eixar um mundo novo para as crianças. Mais do que isso, incentivá-las a cuidar do meio ambiente para usufruir de suas belezas. Por esse pensamento, é que a Escola Municipal de Ensino Fundamental José Telmo Martins, localizada no interior de Santo Antônio da Patrulha investe na Educação Ambiental. Os projetos, que têm por objetivo a reutilização de diversos materiais, atende alunos do 5ª ao 9ª ano e conta

com a participação de toda a comunidade escolar. Segundo a coordenadora pedagógica da Secretaria Municipal de Educação, Eliane Beatriz da Silva, estes projetos foram implementados na escola devido à grande dificuldade de locomoção dos alunos para a sede do município. “Eles aproveitam a vida no meio rural para cuidar do meio ambiente”. Ela lembra ainda que a Escola em 2014 recebe o Projeto Mais Educação, levando diversas atividades em turno inverso ao da aula, como arte, música e esportes. Os alunos reutilizam diversos materiais, como jornal e casca de ovo, para construírem outros produtos, como árvores de natal e bonecos de pano. Além disso, no turno inverso às aulas, eles fazem ainda mais pelo meio ambiente: através de saídas a campo, eles visitam novas loca-

lidades, deixando mudas de árvores frutíferas em cada espaço verde. A diretora da escola e bióloga Anália Carvalho acredita que as ações estão envolvendo também a comunidade. “Os pais dos alunos e vizinhos da escola participam dos projetos e auxiliam na confecção dos trabalhos em casa. A partir disso, o Sertão do Cantagalo (localidade onde a escola está situada) está aprendendo a ser mais ecológico, tornando o meio rural ainda mais limpo e saudável”. O projeto é reconhecido a nível estadual. Em 2008, a Fundação Educando lançou um livro sobre Inclusão Social no qual o projeto de educação ambiental da Escola José Telmo Martins foi citado como modelo para as demais instituições de ensino. Iniciativas como estas é que mudam o mundo.

Benefícios para donos de imóveis históricos A compra dos índices construtivos, em São Leopoldo, é vantajosa para as construtoras, que podem renegociar o limite de altura nos seus edifícios. O potencial construtivo é a capacidade e limites de construção das áreas, terrenos ou imóveis, que passa a ser comercializada separadamente do imóvel neste caso. “É uma medida que será utilizada para que os proprietários te-

(Felipe da Silva)

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nham alguma vantagem e poder de barganha sobre o imóvel considerado patrimônio. Para isso temos que ir contra o plano diretor original, o que pode gerar outros problemas”, lembra Maristela Schmidt, membro do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural como representante da Associação de Arquitetos e Engenheiros de São Leopoldo. Atualmente, existe um inventá-

rio com 135 prédios considerados patrimônio histórico leopoldense, protegidos pelo COMPAC. Os imóveis da lista precisam passar por autorização do conselho para qualquer tipo de reforma ou negociação que envolva o prédio. Para evitar burocracia, muitos proprietários são negligentes e realizam reformas indevidas nos prédios, ou deixam que sejam depredados.

(Letícia Gedrat)


Meio Ambiente

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Arborização é foco em Sapucaia do Sul DOMINIQUE NUNES

PROJETO DE TRÊS ESTUDANTES VISA AUMENTAR BIODIVERSIDADE DO MUNICÍPIO COM PARTICIPAÇÃO DE ESCOLAS Dominique Nunes

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ias muito quentes e abafados no verão são comuns na rotina de quem mora em Sapucaia do Sul. Quando as sombras são raras, as árvores são a saída para amenizar o calor e purificar o ar que guarda a carburação de tantos carros. A falta de arborização na cidade, motivou três estudantes do Instituto Federal Sul-Rio-grandense (IFSul) a criar um programa que incentiva o plantio de mudas nativas no município. A constatação da carência surgiu a partir da experiência das professoras de biologia do instituto Cristiane Forgiarini, Lacina Maria Teixeira Freitas e Daniele Gervazoni Viana. Há alguns anos, as profissionais notavam o grande número de espécies exóticas de árvores plantadas nas vias públicas da cidade. O primeiro esboço do projeto chamado ‘O uso de espécies nativas no ambiente urbano e sua contribuição para a biodiversidade’ surgiu com Cristiane em 2012, quando trabalhou como professora substituta no IFSul Campus Sapucaia do Sul. As jovens Kássia Scharlau (16), Débora Demoliner (17), e Giordana Pereira Scherer (17) iniciaram o projeto com as professoras enquanto estavam no 1º ano do técnico em Gestão Cultural, integrado no IFSUL Campus Sapucaia do Sul. “Não tínhamos conhecimento sobre a área botânica e teremos o conteúdo este ano. Portanto, foi uma iniciativa própria sem vínculo com nenhuma disciplina, e sim como uma forma de conhecimento”, destaca Kássia.

Primeira a receber mudas nativas foi a Escola Otaviano Silveira. Em frente ao ginásio de esportes, cresce uma cerejeira do rio grande

pucaia”, anuncia a estudante. O Secretário Municipal de Meio Ambiente de Sapucaia do Sul, Carlos Eduardo Santana, afirma que há outras plantações realizadas com árvores vindas de compensação ambiental. “Estas árvores são utilizadas para plantio em passeio e áreas públicas e para a recuperação de áreas degradadas”, explica Santana. Segundo o secretário, o projeto será contínuo.

PLANEJAMENTO Kássia afirma que o projeto deve ser apresentado ao longo do ano em pelo menos uma turma de cada uma das 27 escolas do município, com atividades lúdicas para facilitar o entendimento dos alunos. Em um primeiro momento, foram plantadas cerca de 20 árvores às margens do arroio José Joaquim, entre elas mudas de Pitangueira, Aroeira Vermelha, Ingá e Guajuvira. As três estudantes apresentaram o projeto em reunião com todos os diretores das escolas do município - incluindo municipais, estaduais e particulares - para que tivessem a aprovação do projeto em cada instituição. “Começamos pela escola Otaviano Silveira, plantando cinco árvores nativas doadas pela prefeitura com alunos do 6º ano. Agora, pretendemos continuar com todas as escolas de Sa-

Segundo o secretário, há outros projetos que se preocupam com o ambiente da cidade, como a recuperação de margens de arroios pertencentes à preservação permanente e a recuperação de avenidas e praças

DESENVOLVENDO O PROJETO A partir de uma pesquisa feita observando as principais ruas da cidade, as alunas organizaram os dados e produziram gráficos para mostrar a diferença de quantidade de espécies existentes no município. Foi constatado que apenas 28% das plantas eram nativas e 72% de exóticas, ou seja, provenientes de fora da flora original local. Cristiane Forgiarini fala que, juntamente com a professora Lacina Maria Teixeira, será confeccionado um livro de espécies nativas para uso popular, onde ela está responsável mais diretamente pela publicação. A professora Lacina ajudará Cristiane na elaboração do livro, mas foi ela quem primeiramente entrou em contato com a Secretaria do Meio Ambiente e da Educação e que organizou palestras para professores e alunos do município. Quem assume a partir de agora mais diretamente as ações de sensibilização da comunidade escolar é a professora Daniele. INICIATIVA GANHOU DESTAQUE NACIONAL As orientadoras incentivaram as jovens a inscreverem o trabalho na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (FEBRACE), realizada na Universidade de São Paulo (USP) todos os anos. Estudantes de todo

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país inscrevem suas produções e concorrem a uma vaga para participar, e os finalistas são chamados para apresentar seus trabalhos na mostra. Na edição deste ano, que ocorreu de 17 a 21 de março, a iniciativa concorreu com 331 projetos do Brasil inteiro e as levou às apresentações finais. Kássia acredita que, além de ver muitas pesquisas diferentes, cada uma com a sua importância, conhecer e conviver com pessoas de todo o país não teve preço. “Era uma mistura de várias culturas, cada participante representava um pedacinho do Brasil. A FEBRACE acontecia dentro da USP, então além de conviver com quem estava lá para participar, também estáva-

mos no meio da rotina de uma universidade onde tinham pessoas de estilos e culturas muito diferentes. Com certeza voltamos pra casa com algo diferente, com uma bagagem a mais”, considera a estudante. POPULAÇÃO INSERIDA Para o secretário, o projeto visa proporcionar a educação e conscientização ambientais além do bem estar proporcionado pela vegetação. “Queremos que a população perceba a importância destas ações e as insiram em seu dia a dia. Nosso objetivo é que ações como estas não partam só do poder público, mas que sejam constantes na comunidade”, considera.

Espécies nativas Saiba quais árvores serão plantadas na cidade nos próximos meses: Pequeno porte:

Médio porte:

Grande porte:

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Pitangueira Cerejeira n Araçá n Ipê amarelo n Camboim n Araticum n Topete de cardeal

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Cocão Aroeira vermelha n Chá de bugre n Pata de vaca n Capororoca n Uvaia n Ingá feijão n Chal chal n Guabiroba

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Ipê-roxo Açoita cavalo n Guabijú n Caroba n Cedro n Canjerana n Guajuvira


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DIVULGAÇÃO/PMPA

Furtos e roubos de veículos aumentam em cidades do RS O número de furtos e roubos até março de 2014 mostra aumento na criminalidade das principais cidades do Estado, incluindo Porto Alegre. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), o número de furtos e roubos em Novo Hamburgo e São Leopoldo aumentou em relação a 2013. Na Capital houve, no primeiro trimestre, 985 furtos e 1467 roubos enquanto ano passado foram 932 e 1812. Novo Hamburgo foi a campeã dos crimes: 333 furtos e 213 roubos e, em 2013, 270 furtos e 155 roubos no mesmo período. Em São Leopoldo, 165 furtos e 130 roubos contra 99 furtos e 110 roubos de 2013. O comandante da BM de Novo Hamburgo, o tenente-coronel Cláu-

dio Rieger, afirma que esses números aumentaram devido ao sistema falho do país. “Muitos acusados já estão presos, porém aproveitam as falhas do sistema para cometer crimes”, diz. Rieger lembra que um dos principais motivos que leva o bandido a roubar um carro é o desmanche. “Deve-se desconfiar quando é oferecida uma peça de veículo por um preço mais baixo que o convencional, que pode ter sido retirada de um carro roubado. A pessoa pode estar incentivando um mercado ilegal”, alerta. Após verificar o furto ou roubo do veículo, a BM deve ser comunicada pelo telefone 190, facilitando o processo de busca e apreensão do veículo. (Elen Guimarães)

Dispositivos móveis são porta para crimes virtuais Segundo pesquisa realizada pela Symantec em 2013, 57% dos usuários de smartphone no Brasil foram vítimas de crime virtual em dispositivo móvel. O estudante de Sistemas da Informação Thalison Carneiro, 19, é um dos casos. Ele conta que recebeu um e-mail desconhecido e fez o download do anexo. Depois, não conseguiu mais acessar algumas de suas contas na web. Elói Junior, com mais de 14 anos de experiência em atuação na área de Tecnologia da Informação, comenta que a maior fragilidade do usuário está num simples fator: a curiosidade. “Os golpes mais comuns simulam notícias de celebridades, fotos polêmicas ou escandalosas e provocações que fazem o usuário

acreditar que poderá saber quem visualizou o seu perfil”, diz Elói. O aumento dos crimes virtuais em dispositivos móveis é uma consequência do crescimento de aparelhos em circulação no país. De acordo com o relatório da Symantec, ocorreram mais de 22 milhões destes crimes entre agosto de 2012 a agosto de 2013. Ao encontro disto, desde o ano passado, uma nova legislação se faz válida - 12737/12 -. Invadir computadores ou dispositivos como smartphones e tablets se tornou crime com pena cabível de multa e até detenção de três meses a um ano. A Polícia Federal disponibiliza o e-mail crime.internet@dpf.gov.br para que sejam feitas denúncias. (Isnei Júnior)

Assaltos deixam cidades do Vale do Sinos em alerta Mateus Martins foi surpreendido por dois assaltantesna última sexta-feira de carnaval, em Novo Hamburgo. O fato aconteceu durante a visita do rapaz a casa da namorada, Alessandra Mattos. O jovem, em meio a coronhadas, foi levado pelos bandidos até um dos quartos, onde Alessandra e sua cunhada, Amanda,estavam amarradas. Enquanto aprisionados no quarto, os ladrões fizeram uma verdadeira “limpa” no resto da casa. Levaram televisão, rádio e carros. Depois de algum tempo trancados, percebendo que não havia mais ninguém por lá, Amanda,mesmo amarrada conseguiu mandar uma mensagem para o celular de sua mãe,

Suzana, que imediatamente foi em direção à casa junto da polícia. “Foi pior que cena de cinema”, relata Mateus Martins, após o susto.Não foram encontrados vestígiosdos assaltantes e nem um dos pertences. Assaltos na região são cada vez mais frequentes, principalmente em São Leopoldo.De acordo com o secretário de Segurança Pública de São Leopoldo, Carlos Azeredo, os assaltos no município estão contidos, mas pede aos leopoldenses que tomem mais cuidado ao chegar e sair de suas residências. “Prestem atenção em tudo que for anormal. Qualquer dúvida ligue190”, ressalta Carlos Azeredo.

(Máico Pereira Martins)

Prefeitura contratará serviço privado e público para garantir segurança aos visitantes durante 30 dias

Acampamento na Copa prioriza segurança PARA SE DIFERENCIAR ENTRE AS CIDADESSEDES DURANTE A COPA, SECRETARIAS MUNICIPAIS DE CULTURA E TURISMO ORGANIZAM EDIÇÃO ESPECIAL DO EVENTO Gabriele Gomes

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om a proposta de fazer uma edição extra do Acampamento Farroupilha em Porto Alegre durante o período da Copa, está sendo preparada segurança especial e rigorosa para receber os visitantes e turistas estrangeiros. O projeto ocorre entre os dias 12 de junho a 13 de julho, no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho (Harmonia), em dias de jogos o horário de funcionamento das 9h às 0h. Aos sábados das 9h às 2h, nos domingos, 9h às 0h, e demais dias das 10h às 22h. A segurança do local contará com a proteção de todos os órgãos de segurança pública, além da contratação de serviços privados. A contratação será feita de junho a setembro, período que incide na Semana Farroupilha todos os anos. A ideia do acampamento extra é aproximar os visitantes estrangeiros da cultura gaúcha. A edição oferecerá uma estrutura com praça de alimentação, feira de artesanato, palco de shows e espaço fazendinha. São cerca de 115 Galpões Típicos que estarão desenvolvendo atividades culturais que irão compor a programação do projeto Turismo de Galpão, com oficinas, palestras abertas ao público em geral que queiram conhecer o cotidiano do gaúcho. Uma das novidades será um espaço para receber turistas e visitantes, oferecendo equipe capacitada em atender em outros idiomas, fornecen-

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do informações sobre o turismo da cidade de Porto Alegre e mesmo das atividades do acampamento. Além disso,nesta edição é a determinação de apenas duas entradas de acesso de pessoas e veículos. Será feito um controle rigoroso pela segurança no local para evitar o ingresso de armas e ou materiais considerados perigosos. “O acampamento, por ser um evento municipal, deve ser inserido em todos os protocolos de segurança”, diz Giovani Tubino, o coordenador de Tradição e Folclore da Secretaria Municipal de Cultura em Porto Alegre e organizador do evento. Dessa forma, de acordo com o coordenador, a preparação sendo feita pelo comitê local e secretaria de Segurança do Estado, tornando assim ainda mais rígida e com alta prioridade a segurança no parque. O motivo desse controle é por causa do Acampamento ficar na Rota Protocolar e o Caminho do Gol, duas vias importantes que levam os turistas e autoridades ao estádio. Com a preocupação da seguran-

Uma das novidades será um espaço para receber turistas e visitantes, oferecendo equipe capacitada em atender em outros idiomas, fornecendo informações sobre turismo da cidade

ça dos visitantes estrangeiros, haverá uma palestra com a delegada do Turista para prestar informações pertinentes de como proceder em atendimento ao turista caso aconteça alguma coisa.Foitambém oficializada a Chefia da Polícia Federal com Sede na capital para que se instalasse dentro do Parque assim como os outros órgãos de segurança. Para Giovani Tubino, acredita que este evento será o diferencial dentre todas as Cidades-sedes dessa Copa de 2014. “Colocando definitivamente a nossa capital na Rota de Turismo do Mundo tendo o Acampamento Farroupilha como expressão da Cultura do Estado do Rio Grande do Sul”, encerraTubino.

BM promove cursos preparatórios Com o objetivo de manter a ordem pública, principalmente em possíveis manifestações, a Brigada Militar promove cursos preparatórios para a Copa do Mundo. Os soldados e sargentos recebem treinamentos diferenciados para agir neste período. A primeira edição, que ocorreu em abril na Serra gaúcha, ofereceu o curso de Especialização de Operações de Choque, nível multiplicador. Contou com a participação de diversos policiais renomados e também com oficiais de outros estados. No conteúdo estão disciplinas de direitos humanos, uso moderado da força e treinamento físico. (Gilvana Dias)


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JUAREZ DE ANDRADE JÚNIOR

Com 95% das obras concluídas, Penitenciária Estadual de Canoas deve receber detentos do Presídio Central até o final deste ano

Para mudar a realidade dos presídios COMPLEXO CARCERÁRIO CONSTRUÍDO NO BAIRRO GUAJUVIRAS, EM CANOAS, BUSCARÁ REABILITAÇÃO DE PRESOS POR MEIO DE CONTATO COM FAMILIARES E OFICINAS DE TRABALHO E ESTUDO Rafaella Rosar

U

m olhar de desconfiança cerca os moradores do Bairro Guajuviras, em Canoas. Quem passa pela Avenida do Nazário ainda se espanta com a construção do novo Complexo Prisional do Estado. O local, distante das áreas movimentadas da cidade, receberá a maior parte dos detentos do Presídio Central de Porto Alegre, após a sua desocupação, prevista para o final deste ano. Fruto da parceria entre a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), prefeitura municipal e o governo do Estado, iniciada ainda em 2010, o Presídio Estadual de Canoas tem 95% das obras concluídas. A área, de 250 hectares, ainda receberá mais duas casas prisionais que integrarão o complexo e, somadas, disponibilizarão 2.808 novas vagas carcerárias. Com recursos do governo do Estado, foram investidos quase R$ 18 milhões na obra. Segundo o superintendente da Susepe, Gelson Treiesleben, cerca de 1,6 mil apenados da Comar-

ca de Canoas serão transferidos do Presídio Central para as novas detenções e, com isso, iniciará a possibilidade de humanização das famílias que precisam se deslocar até Charqueadas ou ao Presídio Central na Capital. “É uma nova perspectiva para o Estado, e Canoas dá um passo à frente em relação à segurança e ressocialização da população carcerária”, disse. A ressocialização dos apenados, uma das principais características dos presídios construídos sob o modelo da Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (APAC), também foi

É uma nova perspectiva para o Estado, e Canoas dá um passo à frente em relação à segurança e ressocialização da população carcerária”

Gelson Treiesleben superintendente da Susepe

destacada pelo secretário de Segurança Pública e Cidadania da cidade, Guilherme Pacífico. “Dialogando com a sociedade e com as empresas percebemos que o complexo trará bastante visibilidade para nossa cidade, à medida que propomos a reabilitação da massa carcerária com trabalho e estudo,” explicou Pacífico. Serão oferecidos aos detentos estudo e trabalho, como uma forma de estímulo à queda nos índices de reincidência. A oportunidade de melhorias trazidas para o bairro com a construção da nova unidade prisional é destacada por grande parte da população. Embora haja divergência de opiniões quanto ao método APAC de administração de presídios, os habitantes do Guajuviras se mostram favoráveis à instalação do novo complexo. “Vai ser bom para o nosso bairro”, disse a moradora Carine Luz, 23 anos. Para ela, o maior benefício que a construção do novo presídio trará será no âmbito de segurança. A jovem lembrou que o bairro já foi pioneiro no país com a implantação do projeto Território de Paz, e desde 2009 reduziu significativamente o número de homicídios na região. “Acredito que a construção dessa nova unidade pode ser a continuação desta mudança”, diz. Para ela, o principal objetivo do presídio é a possibilidade de trazer o apenado de volta à sociedade e evitar a reincidência de crimes, e não necessariamente resolver o problema de falta de vagas carcerárias. Também morador do bairro, Die-

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go Pinheiro, 27 anos, diz ser favorável até certo ponto. “Acredito na possibilidade de melhorias no bairro, porém, ainda não confio no formato da APAC, que opta por não ter guardas ou policiais, trabalhando apenas a autodisciplina ou que os próprios apenados tenham a responsabilidade de controle. Não consigo assimilar essa ideia de forma positiva”, afirmou. CENTRAL SERÁ DESOCUPADO ATÉ O FINAL DO ANO Com 4,5 mil presos e 2.069 vagas, o Presídio Central de Porto Alegre funciona, há anos, com contingente bem acima de sua capacidade. A superlotação rendeu ao local o 1º lugar no ranking dos piores presídios do país, segundo relatório feito pela CPI do Sistema Carcerário. Para definir a lista, foram usados como critérios a superlotação, insalubridade, arquitetura prisional, ressocialização por meio do Estado e do trabalho, assistência médica e maus-tratos. De acordo com o chefe de Gabinete da Susepe, Jairton Santos, até o final deste ano a maior parte do presídio será desocupada e a outra parte já estará em processo de desocupação. Ainda, segundo o dirigente, a transferência dos detentos para as novas casas prisionais se dará de acordo com o andamento das obras e será feita de forma gradativa. Quanto ao destino do espaço onde hoje fica a unidade, Santos explica que ainda não existe uma definição

a respeito do que será feito com a área do Central após ele ser desativado, mas comenta que existe a possibilidade de ser construído um novo presídio – porém, para abrigar no máximo 900 presos. “Não vamos nos desfazer daquela área sem um aproveitamento que seja extremamente benéfico para a população de Porto Alegre”, projeta.

Características dos presídios APAC n Proporcionam aos presos

contato constante com suas famílias e comunidade. Ensinam aos detentos novas profissões - como a carpintaria e o artesanato.

n Não há polícia, nem

agentes penitenciários (ausência de armas), mas sim a vigilância pelos próprios apenados, com auxílio de funcionários, voluntários e diretores das entidades.

n São dotados de infraes-

trutura para prover, além de trabalho, assistência e saúde, informática, projetos educacionais e profissionalizantes, bem como possibilitar a remissão da pena por estudo regular.


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Latrocínios assustam população COMBATE À VIOLÊNCIA ESTÁ SENDO FEITO PELAS FORÇAS DE SEGURANÇA, GARANTE SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA DO RIO GRANDE DO SUL Leonardo Severo

M

esmo sendo referência em combate à violência na área de agressão contra a mulher, a lista de vítimas de crimes no Estado do Rio Grande do Sul aumenta a cada dia. É só ir às ruas e perguntar. De cada dez pessoas, pelo menos três já sofreram algum tipo de roubo, assalto ou tentativa. A constatação ocorre não por motivos simples. Há sempre um contexto envolvido. Há o da pessoa distraída que fica “teclando” no celular em um local onde não há segurança da Brigada Militar. O da pessoa que rouba para sobreviver, seja pra trocar por comida, ou pagar uma dívida com traficantes. E há, ainda aquele que rouba para sustentar o vício, ter posse, ou praticar um crime mais vantajoso às custas dos outros. Um dos crimes mais comuns no Estado é justamente o assalto. À mão armada, ou não, o crime tem sido o grande receio da população da cidade. Mas um tipo em especial tem chamado atenção tanto da população, do governo e da sociedade cada vez mais o latrocínio, roubo seguido de morte. O que mais chamou a atenção da população nos últimos tempos foi a morte, ocorrida em fevereiro, com requintes de crueldade e à queima roupa, do publicitário José Lair Kunzler, 68 anos. O crime ocorreu na porta do condomínio onde ele morava, no bairro Cavalhada, zona sul da cidade. Segundo informações colhidas pela imprensa à época, o publicitário chegou a ser socorrido e levado ao Hospital de Pronto Socorro (HPS), em Porto Alegre, onde deu entrada, mas não resistiu ao ferimento, um tiro na cabeça, e morreu. O crime desencadeou uma série de questões relativas à capacidade da polícia em garantir a segurança da população já que, como depois provado, o suspeito da morte de Kunzler havia cometido outro crime de igual circunstância no ano de 2004. Segundo os dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado do Rio Grande do Sul os índices de latrocínio em todo o Estado são de 91 casos “consolidados”, conforme os últimos dados, que são do ano de 2012. Mas, conforme diz a própria secretaria, muitas ocorrências são registradas, equivocadamente, como homicídio, por falta da prova que a motivação da morte seja justamente o fato de poder roubar a vítima. Mesmo com o número alto,

a Secretaria de Segurança Pública afirma que a estratégia de repressão tem refletido em avanços, evitando o crescimento tanto dos roubos quanto dos latrocínios. Segundo a entidade, o Estadoapresenta, desde 2010, queda nos números de roubos seguidos de morte. Questionada sobre a falta de dados finais sobre o ano de 2013, a secretaria afirmou que em maio os mesmos devem ser disponibilizados em breve. Conforme o secretário da Segurança Pública, Airton Michels, a repressão das forças de segurança está sendo ampliada, e os bandidos mais perigosos estão sendo afastados das ruas. “Estamos tentando chegar aos maiores responsáveis pelos delitos, prendendo os responsáveis pelos crimes. Isso é extremamente necessário.” Michels também acredita que esse tipo de repressão confere maior eficácia na resolução de crimes e evita a superlotação das prisões.

Estamos tentando chegar aos maiores responsáveis pelos delitos, prendendo os responsáveis pelos crimes. Isso é extremamente necessário”

Airton Michels Secretário de Segurança Pública

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Mudança na código penal pode ser solução O código penal (instituíto por Getúlio Vargas na década de 1940) é falho. A legislação abre brechas para que os bandidos cometam crimes, como afirma a publicitária Mirian Coelho, que mora na Cidade Baixa. Ela aponta que se sente insegura no bairro porque só vê as viaturas da Brigada Militar nos dias de protesto contra o aumento das passagens de ônibus. Ela reclama do clima de receio que toda a população vive. “Eu sinto que as pessoas vivem com medo. Eu, realmente vivo com medo. Moro a quadras da Redenção e vejo pessoas sendo assaltadas nas proximidades quase diariamente”, afirma. “E, quanto à polícia, não se vê quase nunca ali [na Cidade Baixa], sempre apa-

rece nos protestos, mas não faz nada. Fui assaltada duas vezes no meu trajeto daqui do Mercado até em casa”, revela. Para a auxiliar de limpeza Jaqueline dos Santos, moradora do bairro Passo d’Areia, na Zona Norte, a Brigada Militar faz a parte dela, de prender os bandidos, mas a falta de espaço para manter os bandidos presos é um entrave. “O que adianta a Brigada ir lá prender e esses ‘cara’ ir pro [Presídio] Central. Dias depois tem que soltar porque tá lotado. Não adianta nada. E mesmo que prenda, fica um tempinho preso, depois já soltam. Não dá tem que mudar o tempo das penas e colocar quem mata na cadeia pro resto da vida”, opina Jaqueline.


Esporte LURDENIR MATOS

São Leopoldo/RS Julho/2014 Edição 21 l

Complexo Esportivo aberto aos alunos e à comunidade Alunos e comunidade podem utilizar o Complexo Esportivo da Unisinos, em São Leopoldo. Basta fazer um cadastro, ter força de vontade e ir aos locais onde se desenvolvem as práticas. Os monitores são todos acadêmicos de Educação Física. Eles selecionam os alunos que participam das competições entre estudantes de outras universidades, como o JUGS (Jogos Universitários Gaúchos), além de amistosos, campeonatos regionais e a própria Copa Unisinos, que acontecerá em outubro. Mateus Tegner, de Engenharia de Produção, treina futebol de campo todas as quintas-feiras. “O bom é juntar o útil ao agradável e não pre-

Empate com o Juventude garantiu a permanência do Índio Capilé na primeira divisão do Gauchão

Aimoré quer ficar na elite do Gauchão APÓS O RETORNO À PRIMEIRA DIVISÃO, DIREÇÃO PLANEJA MANUTENÇÃO DO PLANTEL DE JOGADORES E INVESTIMENTOS VISANDO IMPULSIONAR O CLUBE PARA A PRÓXIMA TEMPORADA Alan Gressler

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Clube Esportivo Aimoré, que retornou à Primeira Divisão do Campeonato Gaúcho este ano, quer agora se manter na elite. Para isso, superados os problemas financeiros das últimas décadas, a atual direção busca manter o elenco, campeão da Segunda Divisão em 2013, e investir na infraestrutura do estádio. O diretor de futebol, André Luiz Schu, relata que sabe bem das dificuldades que o clube pode encontrar pelo caminho. Segundo ele, são os mesmo desafios enfrentados no passado. - Trabalhei junto com o Felipe Becker (atual presidente) em 1987, quando conquistamos a segunda divisão. Foi o último título antes da crise que levou o clube a fechar as portas em 1997. Acompanhei de perto o triunfo do clube e a dificuldade financeira encontrada nos anos seguintes. Não é fácil administrar as dívidas quando você investe e os resultados não vêm mais. André lembra com pesar de quase tudo dessa época, com exceção de uma coisa: sua relação com o presidente.

- Foi graças a nossa boa relação na época que o Felipe me convidou para ser seu vice de futebol em 2012. Nós pensamos muito parecido. Ele me conhece bem. Com certeza isso ajudou a obter as vitórias que tivemos. Sobre a fórmula do sucesso frente ao Índio Capilé – como os torcedores chamam carinhosamente o clube – o dirigente diz não haver segredos. É preciso trabalhar sério e ter engajamento.

Estamos com ótimos planos para o futuro. Nossa principal aposta agora está na reformulação do estádio João Correa da Silveira. Estamos em negociações avançadas com um investidor”

André Luiz Schu diretor de futebol do Aimoré

- O primeiro desafio é evitar os erros que já passamos. Hoje o clube tem uma dívida pequena, bem administrada, mas que também não permite descuidos. É preciso usar bem o dinheiro que temos, para podermos contratar reforços e pagar a folha salarial em dia. Nosso principal compromisso é manter o elenco atual, que garantiu nossa permanência na primeira divisão. Porém, isso não é tão fácil, porque atualmente sabemos que todo clube precisa vender jogadores para se sustentar. Quanto aos investimentos para o futuro, André Schu revela o novo projeto de reformulação do estádio no Cristo Rei. - Estamos com ótimos planos para o futuro. Nossa principal aposta agora está na reforma do estádio João Correa da Silveira. Estamos em negociações avançadas com um investidor, porém ainda buscamos recursos para viabilizar as obras. Acreditamos que com a reformulação e expansão das nossas instalações, nós conseguiremos atrair mais sócios e patrocinadores. Assim nos tornaremos grandes. Esse será provavelmente o foco do clube para o próximo ano. A direção encerrará seu comando no final dessa temporada, junto com a atual gestão, uma das mais vitoriosas da história do Aimoré. Questionado sobre sua permanência, André deixa isso a cargo das próximas eleições. - Para quem assumir agora, com certeza será um presente. Mas vamos ver o que vai acontecer. Minha vontade, sem dúvida, é ficar.

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cisar se deslocar. Se a Unisinos nos oferece essa estrutura, por que não aproveitar? Saio de casa mais cedo, pratico esporte e depois vou à aula, é bem mais prático”. A pista atlética e a academia estão sempre abertas para a comunidade, esta última com cobrança de mensalidade. As equipes se encontram de duas a quatro vezes por semana, dependendo da modalidade. O quadro completo com os horários, contatos e a indicação de onde acontecem as práticas esportivas pode ser conferido através do endereço unisinos.br/ institucional/estrutura/complexode-esporte-e-lazer. (Lucas Girardi Ott)

POA Pumpkins joga Estadual e Nacional O Porto Alegre Pumpkins disputa neste ano o Campeonato Gaúcho e o Campeonato Brasileiro de Futebol Americano (CBFA). A equipe porto-alegrense conquistou a classificação para a final do Gauchão após vencer o Santa Cruz Chacais por 21 a 6, no dia 18 de maio, em Porto Alegre. A fórmula do Campeonato Gaúcho é de todos contra todos, em turno único. Os dois mais bem classificados disputam o Gaúcho Bowl, no dia 1° de junho, com mando de campo do time de melhor campanha. Assim como no ano anterior, os adversários da equipe são o Santa Maria Soldiers, que é o atual campeão gaúcho, e o Santa Cruz

Chacais que competem pelo título estadual da temporada. “O Campeonato Gaúcho é muito disputado por toda a rivalidade dos times. Este ano temos muitos jogadores novos e um treinador americano que esta colocando uma filosofia e estilo de jogo diferente, portanto, temos mais chances de vencer o Gauchão.”, diz Guilherme Marra, jogador de defesa do Porto Alegre Pumpkins. Acerca do Campeonato Brasileiro, Marra afirmou que existem times nacionais com muito potencial, como o Cuiabá Arsenal e o Coritiba Crocodiles, que tornam a disputa pelo título nacional mais difícil. (Dyessica Abadi)

Atraso em obras na Arena dá sobrevida ao Olímpico O Estádio Olímpico vai receber algumas das Seleções em disputa pela Copa do Mundo, que passarão pela capital. Além do Olímpico, já estavam definidos como campo de treinamentos a própria Arena do Grêmio e o SESC Campestre. Com o atraso nas obras, o Centro de Treinamento (CT) da Arena Grêmio foi cortado. A CBF chegou a ofereceu um empréstimo ao clube, mas os juros eram altos. O mais viável é usar os gramados do Olímpico, que já estão prontos, e fazer apenas alguns reparos nas imediações do estádio. A implosão do Olímpico já estava marcada, mas, com o imprevisto, segue sem definição.

As assessorias de imprensa do Grêmio e da OAS informam que não está definida nenhuma data final para a demolição do Estádio Olímpico. Douglas Lunardi, do Grêmio, acrescenta: “Terá uma reunião entre o Grêmio e a construtora Ramos Andrade para definir a data final da implosão”. Carlos Nascimento, de 36 anos, está triste com a demolição do estádio. “É lastimável saber que o lugar onde tive fortes emoções vai virar pó”. O torcedor lembra com carinho de Jardel, Paulo Nunes e o goleiro Danrlei. “Até as derrotas eram emocionantes. Espero que com essa nova casa o Grêmio venha a ter grandes conquistas”. (Letícia Santana)


Esporte

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Skate, brincadeira de profissional O UNIVERSO DE QUEM VIVE DE UM DOS ESPORTES QUE MAIS CRESCEM NO BRASIL E NO MUNDO Virginia Machado

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É uma missão difícil, devido à concorrência, mas estamos indo bem. O mercado brasileiro tem tudo para ser o maior do mundo, já que atualmente só perde para os Estados Unidos”

Allan Mesquita Empresário e skatista profissional

juntar os R$ 9 mil necessários, está vendendo rifas. Segundo Abe, isso ocorre porque o skatista não é valorizado no Brasil e, para ter sucesso, é preciso sair do país. “Skatistas ganham fora o que um jogador de futebol ganha aqui. Em campeonatos como o Street League, os prêmios chegam a US$ 150 mil, equivalentes a mais de R$ 300 mil, o que é muito diferente da realidade brasileira.” Para se inserir no meio, as multinacionais de artigos esportivos utilizam a imagem dos skatistas a fim de conquistar o público do skateboard,

mas sem investir de verdade no esporte. Foi o que pensou Rafael Russo, 32 anos, um dos idealizadores da marca Liga Trucks. Ele queria oferecer suporte aos skatistas. Lançada oficialmente em 2011, a Liga começou a desenvolver seus produtos oito anos antes. Profissionais como Danilo Dandi, Daniel Crazy, Gui Zolin e Gui da Luz integram a marca, que é uma das principais apoiadoras dos skatistas brasileiros, realizando campeonatos e patrocinando jovens que sonham em ser profissionais. Assim como Russo, Allan Mesquita fundou a marca Devotion, uma das mais conhecidas do mundo do skate. “É uma missão difícil, devido à concorrência, mas estamos indo bem, por sermos skatistas de verdade. Fazemos por amor”, enfatiza. Segundo ele, o mercado brasileiro tem tudo para ser o maior do mundo, já que atualmente só perde para o dos Estados Unidos. A aceitação da marca é grande, pois o empresário busca trazer ideias inovadoras e autênticas e dar um toque brasileiro às confecções, firmando a identidade dos atletas em cada roupa ou shape. Apesar das dificuldades, principalmente no início da carreira, Allan explica que, com dedicação e persistência, são muitas as chances de ser um profissional consagrado. “Sou realizado com o que faço. Ando de skate e consigo ajudar jovens que têm o mesmo sonho que eu. Não conseguiria me imaginar fazendo outra coisa”, diz ele.

Mesmo morando em SC, quando vem para Esteio, Héricles vai praticar na praça. A manobra da vez é o Back Side Melon, que ele realiza no half ROCHELE PIRES

ogo nas primeiras horas da manhã, o barulho das rodinhas em atrito com o cimento já pode ser ouvido. No decorrer do dia, meninos e meninas vão arriscando novas manobras e logo o espaço é completamente ocupado. A Praça Coração de Maria, em Esteio, é o lugar preferido de Héricles Fagundes, 17 anos, conhecido por Malhação. Quando vivia em Sapucaia do Sul, cidade vizinha, ele acordava todos os dias, pegava o skate e ia treinar na pista. Essa é uma rotina comum para quem, como ele, sonha em ser profissional do skate. Conforme pesquisa do Datafolha, em 2010 eram mais de 3,8 mil skatistas no Brasil, 20% a mais do que em 2006. A situação era bem diferente há 25 anos, quando Allan Mesquita, hoje com 38, começou a praticar as primeiras manobras em Cabo Frio (RJ). O atleta se tornou profissional em 1996, em um campeonato em Piracicaba (SP), quando recebeu a primeira premiação em dinheiro e resolveu que ganharia a vida assim. Segundo ele, não era fácil viver do skate, pois o esporte era discriminado e o mercado, pequeno. Foi quando decidiu ir para São Leopoldo em busca de oportunidades que recebeu os primeiros patrocínios e suporte. “Viajei quase todo o planeta em cima do meu skate, vivendo o meu sonho”, completa ele. É fácil notar o crescimento do skate no Brasil e no mundo. Muitas cidades têm uma ou mais pistas e cada vez mais adeptos. Malhação começou a andar de skate com 10 anos e, aos 13, já participava de competições. Hoje mora em Florianópolis (SC), onde, afirma, ficam as melhores pistas e muitos campeonatos de Bowl (pistas em formato de piscinas redondas). Ele se mantém por meio de patrocínios de marcas de skate e premiações. Atualmente, compete na categoria amador, e quando se sentir pronto para competir com profissionais deve comunicar à Confederação Brasileira de Skate (CBSk), que faz uma avaliação baseada na trajetória do atleta. “Amo o skate, ele mudou a minha vida. Conheço pessoas incríveis e vou a lugares que só ele pode me levar. A adrenalina é enorme, e quebro barreiras a cada manobra que executo com sucesso”, explica. O mundo do skate não se resume a manobras radicais e campeonatos. Segundo a CBSk, a modalidade ocupa hoje o segundo lugar no mercado esportivo, só perdendo para o futebol. Além dos shapes, existem marcas de roupas e meios de comunicação que abordam exclusivamente esse esporte. Novos segmentos surgem, e mais pessoas trocam profissões tradicionais pela paixão pelas

rodinhas. Cansado de fazer a parte comercial de uma skateshop online, Guilherme Abe, 23 anos, teve uma ideia inovadora. O criador do canal Sobreskate, que hoje conta com mais de 228 mil inscritos, queria fazer algo diferente, e pensou em responder perguntas sobre o tema. Dos quase 4 mil skatistas do Brasil hoje, 80% são iniciantes, e não havia uma mídia que fizesse isso. Há um ano no ar, o Sobreskate já é o maior canal de skate do país, e Abe recebe mais de 150 perguntas por dia. Além de respondê-las, faz a edição dos vídeos, contando com a ajuda de um amigo cinegrafista. O único retorno financeiro são os anúncios do Google, que lhe rendem 60% dos lucros de acessos, ou seja, alguns centavos por clique. Além disso, realiza parcerias com marcas e lojas especializadas. Abe explica que ainda não dá para viver só do canal, mas faz planos para expandir a ideia. “Jamais imaginei que daria tão certo, e hoje não poderia estar mais feliz com o resultado. Eu me divirto gravando, e o retorno que tenho do público é a recompensa.” Como o futebol, o skate exige treino e, para entrar para “os grandes times”, é preciso determinação e investimento. É o que tem feito o atleta Malhação. Depois de conquistar o terceiro lugar no Mundial Red Bull Skate Generation, em abril, em Santa Catarina, ele quer disputar campeonatos na Europa. Para

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Invasão feminina nos tatames LAURA KUNZ

PARA COMPROVAR QUE MULHER NÃO É SEXO FRÁGIL, ELAS ESTÃO INDO À LUTA, MAS DESSA VEZ, NAS ACADEMIAS DE ARTES MARCIAIS Franciélen Severo

A

s mulheres se empenharam muito na busca pela igualdade e a cada dia deixam isso mais evidente ao conquistarem postos que até então pertenciam ao universo masculino, não se importando muitas vezes em deixar traços de vaidade de lado. Agora, os esmaltes duram pouco nas unhas por causa do atrito com o kimono. As saias foram substituídas por calças, para esconder os hematomas das lutas. A chapinha reveza com os coques e nem isso tira a feminilidade das mulheres que, muitas vezes por prazer ou como uma forma de se proteger, encontram nas artes marciais não somente uma segurança, mas um estilo de vida. A modalidade nem sempre é aceita pelas famílias devido à falta de conhecimento, mas não é o que ocorreu com Caroline da Rocha, coordenadora financeira. “Quando eu era adolescente minha mãe obrigou eu e meu irmão a fazermos um esporte, optamos pelo judô. Eu gostava muito”. Ela conta que iniciou cedo a praticar artes marciais e acredita que foi fundamental para a formação da sua personalidade, devido à disciplina e respeito que sempre estiveram presentes nas aulas. Há cerca de cinco anos treinando duas vezes por semana, e ter conquistado a faixa verde, Caroline teve que se afastar por um tempo do judô pra se dedicar à faculdade de Economia que cursava na época. Há um ano, a partir da indicação de seu irmão, ela passou a treinar muay thai, mas o foco era melhorar os próprios padrões estéticos. Passados alguns meses, perder peso já não era mais o seu único objetivo e as aulas passaram a ter outras motivações. Para quem treinava duas vezes por semana em uma turma apenas de mulheres, passou a treinar três vezes por semana em turma mista. E ela queria mais. Queria competir. Treinar todos os dias e estar ciente de que não haveria distinções nos treinos por ser mulher foram um dos requisitos para Caroline se tornar atleta. Ela já possui duas lutas amadoras e afirma que não vai parar por aí. “Eu pretendo continuar lutando muay thai até adquirir bastante experiência e depois quero ir para as artes marciais mistas (MMA)” diz empolgada. AS MULHERES NO MMA As artes marciais mistas, como o nome sugere, é a união de diversas artes marciais em uma luta só.

É cada vez mais comum ver mulheres estreando nesta modalidade. O ano de 2013 evidenciou isso ao trazer ao maior evento de MMA do mundo, o Ultimate Fighting Championship (UFC), a primeira luta feminina, sendo a principal atração na edição 157 do evento. As competidoras foram Ronda Rousey e Liz Carmouche, que brilharam na noite ao disputar o cinturão do peso galo do UFC, que é o peso até 61,2kg. Entre elas, muitas outras mulheres passaram a se destacar nesse meio, como Miesha Tate, Sara Macmann, que também foram adversárias de Ronda em outros evento do UFC e a conhecida aqui no Brasil Cris Cyborg, e são essas mulheres corajosas que servem de inspiração para as meninas que estão iniciando. MOTIVAÇÃO Em meio a tantas atividades físicas que visam fugir do sedentarismo, proporcionar uma maior resistência física e o tão desejado corpo perfeito, as artes marciais passaram a fazer parte dos interesses destas mulheres, que sonham com a forma ideal. A Equipe Hawks, de Esteio, tem três modalidades de lutas, sendo elas o jiu jitsu, Muay Thai e o MMA. Segundo Hugo Krug, professor da equipe e integrante da diretoria da Federação Riograndense de Muay Thay, a mais procurada por mulhe-

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res, é o muay thai, que ele não tem dúvidas que é uma escolha geral nas academias de artes marciais. De acordo com o professor, 40% de seus alunos são mulheres e a média de faixa etária é 25 anos. “O muay thai é um atrativo por que nesta modalidade conforme a intensidade, em um único treino o aluno pode queimar mais de 1000 calorias”, destaca Hugo. Na academia Hawks existem duas turmas de muay thai, a mista, em que homens e mulheres praticam, e a feminina, onde a esposa de

Quando o aluno chega no professor e pede para competir, é perdida a distinção de sexo. Não temos mais meninos ou meninas, temos atletas”

Hugo Krug empresário

Hugo, Lis Antunes, bicampeã gaúcha nessa modalidade, é instrutora. Ele explica que essa divisão ocorre porque algumas meninas não se sentem a vontade em treinar com homens ou até mesmo pela falta de ritmo que elas entendem que não acompanharam o grupo. Contudo, o empresário relata que quase a metade dos grupos femininos ou passa permanentemente para a turma mista ou intercala com as duas turmas em busca de um treino mais intenso. Tratando-se de competição, o instrutor avisa: “Quando o aluno chega no professor e pede para competir, é perdida a distinção de sexo. Não temos mais meninos ou meninas, temos atletas.” Ou seja, as meninas treinam de igual para igual, fazem as mesmas atividades, e para ele só assim estarão preparadas para qualquer combate. Para finalizar, Hugo Krug recomenda que não apenas as mulheres, mas qualquer pessoa que queira praticar uma arte marcial, pesquise o histórico de cada academia, que com a popularidade das artes marciais, em especial do MMA, é natural que surjam pessoas não qualificadas se aproveitando deste momento. “E para as mulheres que querem realizar uma atividade física a arte marcial sempre será uma boa pedida, uma atividade que não gera monotonia, sempre terá exercícios diferentes a cada aula e a perda de peso será apenas uma consequência”, conclui.

Cuidar do corpo é só um dos atratativos do muay thai, que tem treinos de resistência física e concentração


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RALUPOP AHLOF OVIUQRA / PRIT LEAFAR DIVIED

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Equipe que disputa a Série Ouro é composta por jogadores novos e veteranos, alguns conhecidos pela torcida

O caminho de um sonho dourado EQUIPE DE FUTSAL, QUE POR MEIO DE PARCERIAS OBTEVE RECURSOS PARA MONTAR UM PROJETO QUE EM CINCO ANOS, A COLOCOU NA SÉRIE OURO DE FUTSAL, A ELITE GAÚCHA Paloma Griesang

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Um ginásio praticamente lotado. O azul que predomina o lugar agora dá espaço para o preto, branco e dourado. Cerca de 2 mil pessoas reunidas por um único motivo, por um único time, o Teutônia Futsal (ASTF). Na quadra, a equipe não poupa esforços para recompensar a torcida. Time e torcida jogam juntos. O jogo é contra a ACBF de Carlos Barbosa, um dos principais times da modalidade. A disputa é significativa no que diz respeito ao momento atual da ASTF: a Série Ouro do Gauchão de Futsal. ASTF, um time jovem, de uma cidade com cerca de 30 mil habitantes, em quatro anos conseguiu alcançar a elite do futsal estadual. Para contar essa história é preciso voltar até a criação da Associação. Até 2009, Teutônia não tinha entidade responsável pelo futsal da cidade. O radialista Cristiano Stapenhorst Schwarz lembra que pediu em seu programa que as lideranças da cidade se reunissem para criar a entidade. Em 2007, pessoas se levantaram e pagaram a inscrição do time na série bronze. Uma equipe foi montada em parceria com a es-

cola de Futsal Juventus. Jogadores tomaram a liderança para viabilizar a manutenção do time, mas não foi o suficiente. Em 2008, o futsal na cidade ficou totalmente parado. Ressurgiu então a necessidade de criar uma entidade responsável pelo futsal. Em 2 de fevereiro de 2009, em reunião, cerca de 22 pessoas criaram a Associação Teutoniense de Futsal (ASTF). Cristiano Stapenhorst Schwarz foi eleito o primeiro presidente. Um grupo de trabalho foi montado e iniciou a busca por patrocínios. Mobilizaram-se as três grandes cooperativas da cidade, Languiru, Certel e Sicredi, a Auto-Viação Estrela e empresas para dar o suporte. De acordo com o atual presidente do clube Valdair Kliks, diretor de esportes na época, o plano era de que em cinco ou seis anos o time chegasse na Série Ouro. O plano parecia ambicioso, mas se confirmou. “Sempre acreditei no time pela força que tinha, mas não esperava ser tão rápido. Porém o trabalho foi sendo aperfeiçoado e aconteceu”, declara Vanderlei Rogério Weiand, o Peixe, jogador e incentivador do futsal na cidade. A entidade começou simples, com pouco recurso. O foco era os jogadores da região e que jogavam no futebol de campo. Os atletas se dividiam entre os treinos e outras atividades. Tudo era feito de acordo com os recursos disponíveis. “Sempre fizemos tudo com os pés no chão”, afirma Kliks.

ASCENSÃO PARA A SÉRIE OURO O time jogou por 4 anos a Série Prata, e foi trabalhado para se tornar competitivo. “Estivemos em evolução constante, tanto em quadra, quanto a diretoria” afirma Kliks. Em 2012 o time não apresentou boa campanha e teve uma baixa receita. Surgiu a necessidade de profissionalizar. Foram feitas reuniões de mobilização para obter patrocínio maior, possibilitando a contratação de atletas. A partir de 2013, os jogadores passaram a jogar exclusivamente para a ASTF. Evoluiu também os parceiros. Em 2013, durante a Série Prata, a receita anual da Associação foi de R$ 220 mil. Todos os esforços refletiram dentro de quadra. A Teutônia Futsal chegou até a final da disputa. O título escapou, mas a vaga para a Série Ouro foi garantida. Reforços com experiência em grandes times do Estado foram contratados. Como o técnico Morruga, um dos principais na categoria. Hoje a estimativa para a receita anual do time este ano é de R$ 650 mil, 50% do custo vem do patrocínio, entre R$ 350 mil a 400 mil. Os outros 50% vêm da bilheteria, sócios e do bingo. Segundo o presidente Valdair Kliks, o trabalho em equipe e o entendimento das cooperativas ajudaram a dar um salto de qualidade no time. “Evoluímos em tudo”, declara. Segundo Peixe, a união da diretoria foi fundamental. “Todos

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Novos ídolos A ASTF cresceu, subiu, e Teutônia agora tem novos ídolos. Uma cidade inteira, sem mais distinção de bairro ou rivalidade, grita que “estamos na elite”. A torcida perde a vergonha de vibrar. A cada jogo a cidade vive em uma só voz a nova emoção de viver um sonho dourado.

Sempre acreditei no time pela força que tinha, mas não esperava ser tão rápido. Porém, o trabalho foi aperfeiçoado e aconteceu”

Vanderlei Rogério Weiand – o Peixe Jogador

pegaram junto e seguiram junto. A força da ASTF é a união”. A equipe treina em dois turnos com toda estrutura. De acordo com Kliks, devido às parcerias, proporcionam serviços de fisioterapia, médicos, apartamentos, restaurantes e a parte logística. “A diretoria proporciona estrutura para o atleta dar o melhor, não há atraso de salário, é cumprido exatamente o combinado” destaca o ala esquerda, Marcos Adriano. “A diretoria trabalha sem medir esforços para profissionalizar a equipe” acrescenta Morruga. O time tem boa qualidade nos jogos, mas resultados tímidos. Segundo o técnico “Ainda estamos nos conhecendo para poder formatar uma equipe”. Os objetivos são, no primeiro semestre, classificar entre os oito primeiros da Série Ouro. Para o segundo semestre, chegar à disputa do título da Copa Lupicínio Rodrigues. OLHOS NO FUTURO Os objetivos não param na Série Ouro. Uma das metas é criar uma equipe forte, para nos próximos anos disputar o título e a Liga Nacional de Futsal. “Temos estrutura para isso. Estamos trabalhando para conseguir alcançar”, afirma Kliks. “Não está longe, não acreditavam que chegaríamos à Série Ouro e chegamos.”, diz Peixe. A ASTF também vai lançar um projeto social que visa levar o esporte a crianças carentes e captar novos talentos. A diretoria trabalha na captação de recursos e encaminhou um projeto para a Lei de Incentivo ao Esporte.


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Sonho de muitos, realidade de poucos JÉSSICA BRITZKE

MUITOS JOVENS ALMEJAM O FUTEBOL PROFISSIONAL, MAS MUITOS ACABAM FICANDO PELO CAMINHO Thomas Bauer

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sol brilha alto sobre o campo de futebol, em Estância Velha. Como sempre, um grupo de amigos reúne-se para a tradicional pelada. Calçam chuteiras coloridas e vestem calções surrados pelo uso. Quando garotos, todos pensaram ao menos uma vez em ser um jogador de futebol. Hoje, a paixão pelo esporte ainda é cultivada, no momento sagrado no final de semana. A bola rola no gramado e a partida começa. Em meio aos lances, em que se nota o amadorismo, um jogador baixinho e certamente acima do peso, faz jogadas que se destacam. Ele recebe um lançamento, mata no peito e coloca a bola no ângulo, sem chances para o goleiro. O chute não é mais tão potente como antigamente, e a velocidade da juventude já não existe mais. Porém, Maicon Jaeger, conhecido entre os amigos como Maldini, chegou perto de ser um jogador profissional. Assim como ele, muitos meninos tentam tornar-se jogadores e acabam ficando pelo caminho. Afinal, no país do futebol, tornar-se um profissional não é nada fácil. Seleções realizadas em todo Brasil, as famosas “peneiras”, aproveitam apenas 1% dos candidatos, como afirma Élio Carravetta, preparador físico do Internacional. UM CAMINHO NADA FÁCIL A maioria dos jogadores que fica pelo caminho acaba atuando em peladas e campeonatos amadores, assim como Maldini, hoje com 29 anos. Ao fim da partida, ele senta na beira do gramado e conta sua história. Um pouco acima do peso, ele joga hoje somente com os amigos, mas conta que quando adolescente teve várias chances de se tornar profissional e jogar grandes equipes do sul: Grêmio e Internacional. “Realizei várias peneiras, mas sempre aparecia um problema e acabei sendo cortadas várias vezes”, explica Jeager. Ele começou jogando nas categorias de base do Esporte Clube Novo Hamburgo, onde se destacou por sua velocidade na meia cancha, pelos passes precisos para o ataque, além dos chutes de efeito da perna canhota. “Eu me destaquei num grupo que contava com mais três jogadores e fomos levados para realizar um teste no grêmio”, relembra Maldini. O sonho foi frustrado pela primeira vez logo após ele ser aprovado na peneira gremista. Ao passar nos testes, ele foi chamado até a sala de um cartola do time, que pediu algo além das habilidades do então garoto.

Maldini (dir.) ainda joga futebol aos sábados com os amigos

Era uma sala enorme. Fiquei lá sentado vendo um diretor do Grêmio me pedir R$ 5 mil para seguir no time. Meu pai não tinha condições de bancar isso”

Maicon Jaeger técnico em redes

“Era uma sala enorme, fiquei lá sentado vendo um diretor do Grêmio me pedir R$ 5 mil para seguir no time. Meu pai não tinha condições de bancar isso”, lamenta Maldini. “É complicado competir contra isso”, enfatiza. Ele teve outras chances de se tornar profissional. No Grêmio, recebeu uma nova oportunidade após a insistência de seu pai com membros da comissão técnica. Entretanto, uma lesão fez com que a chance se perdesse por entre seus dedos e acabou o afastando por certo tempo dos campos. Após recuperar-se, ele tentou

mais uma vez. No Internacional, conseguiu entrar para as categorias de base e destacou-se nos treinamentos. Contudo, acabou frustrado novamente. Uma entrada violenta rompeu os ligamentos do tornozelo e acabou com os sonhos do garoto. Atualmente, Maldini presta assistência técnica em uma operado-

ra de internet, mas afirma que até hoje pensa nas chances que acabaram passando. Enquanto ele despejava suas histórias sobre seus tempos de jovem promessa, ainda pode se notar a paixão pelo futebol nos olhos, que até hoje quando se fecham pensam em como seria entrar num estádio lotado e fazer

um gol no maior adversário. “Até hoje, sempre que jogo, imagino como poderia ser e que perdi a chance de me tornar profissional, sempre fica esse sentimento”, afirma Maldini em palavras que são iguais a milhares, quem sabe milhões que passaram por situações iguais a dele.

Ilusões e falsas promessas

Tolerância com a frustração

Existem muitos relatos como o de Maldini sobre casos onde o dinheiro e a ganância de empresários e cartolas do futebol se sobrepõem ao talento dos jogadores e acaba terminando com os sonhos de muitos jovens. Cristiano Kehl, 27 anos, joga no time da Universidade Feevale. Ele também já foi treinador de camadas jovens no interior e conhece bem a realidade nos bastidores do mercado da bola. “Todos sabem que hoje o futebol é uma máquina de dinheiro, e que infelizmente a questão financeira é algo importante para se abrirem as portas”, comenta Kehl. Ele sabe de algumas situações de atletas que, para prosseguirem em determinado clube, precisaram desembolsar um determinado valor e também conhece alguns professores de escolinhas que fazem promessas exorbitantes paras as crianças, acabando somente iludindo os jovens e sua família. “Infelizmente existem muitos picaretas querendo tirar vantagem da ingenuidade das pessoas”, lamenta Kehl.

O preparador físico da equipe principal do Internacional, Élio Carravetta, afirma que qualidade técnica e força de vontade são essenciais para se tornar profissional. O professor é especialista em analisar o potencial de jogadores, sejam eles jovens promessas ou profissionais. “O caminho é longo e o jovem enfrenta várias barreiras até o profissionalismo. Além disso, é um número muito pequeno que chega a um grande clube”, explica Carravetta. Segundo ele, para se entrar em um grande clube é necessário passar por uma “peneira”, onde o jogador realiza vários testes para entrar para o time. É também onde muitos acabam sendo barrados, pois são poucas vagas para muitos jovens atletas, que não têm um nível técnico para tornarem-se profissionais. Por isso, o índice de rejeição é alto. “É necessário que o jovem atleta tenha tolerância à frustração, pois será rejeitado em um número indeterminado de peneiras para ser aprovado”, afirma o preparador.

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Unisinos - São Leopoldo/RS Edição 21 Junho/2014

JULIANA MUTTI

Villa Antonietta abre as portas para receber festas de casamentos e formaturas Em área de dois hectares, rodeada de árvores, casa antiquário abriga peças que vão de obras de arte e móveis a réplicas dos ovos Fabergé Capa e página 2 CAROLINA ENGELMANN

Abandono de escola motiva olhar fotográfico Desde a interdição da escola Dom Pedro I, de Estância Velha, definida em junho de 2012 pelo Ministério Público, o estado de desleixo só aumentou Ensaio fotográfico

O que não é silêncio é música O ruído é a raiz da proposta artística de uma “pós-banda” nascida em São Leopoldo 3


Encarte da Edição 21 do jornal Babélia São Leopoldo/RS Junho de 2014

Uma casa do fundo do baú VILLA ANTONIETTA, EM SAPUCAIA, UNE MÓVEIS ANTIGOS E OBRAS DE ARTE, RESGATANDO A HISTÓRIA DA FAMÍLIA EM CADA DETALHE DECORATIVO Karla Oliveira

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expressão conhecida como fundo do baú, se refere à coisas velhas que, ao invés de serem jogadas fora, ficam guardadas em caixas e acabam esquecidas com o tempo. Da carta de amor aos livros antigos, tudo que é velho tem um valor afetivo incomparável a qualquer joia preciosa. Mas o que fazer quando essas coisas não são do tamanho adequado para se guardar em caixas? Para Lucia e Marco Paixão, a resposta é simples! Montar uma casa que abrigue todas estas velharias.

veis herdados de parentes e velhos amigos do casal, que iam se mudando e queriam se desfazer de seus pertences. Com entusiasmo, Lucia, 60 anos, mãe de família e artista plástica autodidata, conta que o gosto pelo antigo não surgiu do nada, começou na infância quando sua mãe a levava junto para comprar objetos em antiquários. “Minha mãe sempre foi ligada às antiguidades, comprava muito e eu sempre ia junto. Desde pequena, eu tenho este encanto por coisas antigas”, conta. Mas a convivência com as antiguidades, só se concretizou na vida adulta. Hoje, a casa dela combina obras de arte, quadros pintados pela própria dona e móveis herdados da mãe. Peças do tempo da vovó, como guarda-roupas, cômodas, cadeiras, penteadeiras e até algumas louças, fazem parte do seu interior. Como um cenário de filme, a decoração transporta o

visitante a diferentes épocas. O renascimento ressurge a partir das várias imagens e esculturas de santos, anjos e corpos humanos nus, expostos ao longo da residência. A arte ocidental também ganha destaque com os vasos de cerâmica, sem falar nas réplicas dos ovos Fabergé, ovos de Páscoa conhecidos como obras-primas produzidas pelo joalheiro Peter Carl Fabergé, em 1885, na Rússia. Estes, dividem espaço com esculturas barrocas de figuras brasileiras, em cima de uma pequena mesa. Ícones pops, como Marilyn Monroe, Elvis Presley, Buda e Audrey Hepburn, ilustram os porta-retratos pendurados nas paredes ao lado dos filhos e netos de Lucia. Em alguns casos, o brega ganha funcionalidade dentro do lar do casal. As coisas que ficariam isoladas sem nenhuma utilidade, ganham nova vida. Sapatos, pratos quebrados, discos arra-

nhados que servem de decoração dão ares provinciais e vintage a casa, resgatando itens que iriam para o lixo. Criados por Lucia, estas peças surgem de uma mente criativa e ansiosa. “Estou sempre pensando em alguma coisa. Meu dia nunca pode ser igual ao outro, senão eu fico nervosa. É só reparar na casa, nas peças, nada é igual. Eu estou sempre criando e transformando as coisas em algo diferente,” diz. Na entrada da casa, em frente à porta, é possível encontrar o berço que balançou várias gerações de bebês. Com pelo menos 100 anos, o berço tem passado ao longo dos tempos de pais para filhos, como uma herança de família. Já o armário que tem em sua parte superior gravado o ano de 1889, ganhou um ar mais despojado com o sapato estilo scarpin, colado na sua porta, ao lado da maçaneta. A mesa e as cadeiras à Luís XV, dispostas ao longo da antiga sala,

datam mais de 200 anos. Para o especialista em antiguidades, Flávio de Lorenzini, o local poderia realmente ser um antiquário, devido a raridade das peças expostas. Ele ainda destaca a importância histórica e cultural que ela abriga, “Vemos cadeiras da Indonésia, quadros abstratos e móveis que tem um século de existência e tudo muito conservado, é uma riqueza cultural imensa. A nostalgia de épocas passadas que a casa passa é tão grande que supera até alguns museus que visitamos”, comenta. (Continua na página 2)

Casa com mais de mil m2 guarda relíquias de decoração

JULIANA MUTTI

DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO Com mais de mil metros quadrados de área construída, o lar do casal, que fica em meio a uma região arborizada de Sapucaia, esconde em seu interior a verdadeira virtude. A residência que se parece mais com um antiquário se comparada às casas tradicionais, traz em seu interior mó-

Minha mãe sempre foi ligada às antiguidades, comprava muito e eu sempre ia junto. Desde pequena, eu tenho este encanto por coisas antigas”

Lucia Paixão proprietária da casa


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Babélia

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Capa

Nome e ares de rainha FOTOS KARLA OLIVEIRA

SETE QUARTOS, UMA ADEGA, COZINHA, ESCRITÓRIO E GAZEBO COMPÕEM OS AMBIENTES DA CASA QUE É ALUGADA PARA EVENTOS Karla Oliveira

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ois hectares de terra, cheios de árvores, flores e uma charmosa casa, hoje, mostram gravados nas placas espalhadas o nome do local, Villa Antonietta. Ele lembra imediatamente a famosa rainha da França, Maria Antonieta e o verde dominante, recordam os Jardins de Versailles, conhecidos como o Domínio da Rainha, oferecidos a ela como presentes por seu marido o Rei Luís XV. Mas tudo isso é mera coincidência. Segundo Lucia Paixão, proprietária da casa, o nome surgiu a partir da avó do marido, que morava no local e tinha o mesmo nome da rainha da França. A avó era carinhosamente conhecida como Voca. Ela criava animais, cultivava horta e plantou as árvores frutíferas que hoje tomam conta da área, na época o espaço era chamado de Villa Netta. Como uma forma de homenageá-la, o lugar foi batizado de Villa Antonietta, “o nome é forte, é bonito e tudo pertenceu a ela, nada mais justo”, ressaltou Lucia. Sem filhos morando junto, em uma residência com o total de nove banheiros, sete quartos, uma adega, um escritório, uma cozinha, e mais um gazebo, o casal decidiu abrir as portas para realização de eventos no local. A ideia surgiu de Lucia, que viu que o lar que comporta cerca de 140 pessoas, vazio, poderia causar tristeza e solidão. “A casa é muito grande, tudo ia ficar muito triste, porque o dia a dia vai te consumindo se tu não fazes nada, ou se está sozinho. Então, tive a ideia”, relata. A casa antiquário, recebe eventos, festas de casamento e formaturas, com um ambiente acolhedor e cheio de história. Karen Brasil, foi uma das noivas que realizou seu casamento na Villa Antonietta. Segundo ela, o lugar faz com que todos se sintam em sua própria residência, “A sensação era que estávamos recebendo as pessoas em nosso lar. A casa tem alma”, afirma. Ao olhar o lugar de perto, é fácil enxergar o seu potencial enriquecedor. Cheio de diversidade e originalidade, o lar do casal, mostra sua beleza sem cansar os apreciadores, cativando os olhos mais atentos, que a cada minuto podem descobrir um novo detalhe, uma nova perspectiva do local. A casa confirma que as antiguidades têm estilo e personalidade, que os objetos com história valem muito mais do que um Nov. Afinal, pode-se encontrar verdadeiras preciosidades no meio de velharias.

A nostalgia de épocas passadas que a casa passa é tão grande que supera até alguns museus que visitamos”

Flávio Lorenzini especialista em antiguidades

O QUE SE ENCONTRA NA CASA n

Armário de madeira de 1889

Conjunto de mesa e cadeiras Luís XV, com mais de 200 anos n

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Cadeira de ratâ da Indonésia

Cristaleiras de vidro de cristal bisotê n

Penteadeira vermelha dos anos 50 n

Espelhos de cristal veneziano n

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Sofá dos anos 70

Berço de 1910, herança de família n

Cadeira branca com braços dos anos 50 n

Mesa de madeira com rodas de bicicleta cromada n

Boa parte das peças usadas na decoração vieram do Exterior

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Abajures e tapetes persas

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Queijeiras antigas

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Bergeres


Som

Babélia

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Pós-música do barulho EVE RAMOS

PROJETO COM RAÍZES EM SÃO LEOPOLDO CONTESTA E REDEFINE CONCEITOS A PARTIR DO RUÍDO Caubi Scarpato

Nós somos a única possibilidade. E a única possibilidade é a possibilidade de incompreensão”

Daniel Mittmann Fundador e vocalista da Macedusss e As Desajustados Bando

vista underground, “existem bandas e selos bem representativos. Os shows ocorrem todo mês, interagindo com bandas de outras cenas, como hardcore, punk, metal etc.”. O caráter transgressor, a busca pelo novo e a constante redefinição de regras parecem ser os propulsores do noise enquanto possibilidade limite dentro da experiência musical. Para Villaverde, “o músico que se aventura nesse submundo busca apenas exorcizar seus demônios internos com o barulho! É mais honesto e barato do que pagar um psiquiatra, não?”, conclui ironicamente. “Toda música, a rigor, é ‘noise’. Fazemos uma música que chama a atenção justamente por colocar os simples viventes em situação de limite de entendimento”, explica Mittmann, enquanto Kowa Kowala, dono do selo independente Kowala Records, saúda a própria despretensão do gênero: “noise dá a possibilidade de fazer o que quiser sem ser julgado e sentenciado. Noise é livre!”. Vinte intensos minutos depois, a apresentação é encerrada, o recado está dado. Uma satisfação incrédula paira no semblante dos presentes. “A única possibilidade é a possibilidade de incompreensão.” O som da casa começa a tocar um hardcore, agora já é tudo melodia, o turbilhão passou, um enebriante estranhamento ficou.

MARCE

ídos, distorções, riffs desconexos e inserts atonais. O único membro fixo do grupo é seu próprio fundador, que no caso de eventuais shows arregimenta músicos aleatórios que podem ser, inclusive, espectadores do evento. Mesmo uma proposta tão inusitada como essa está inserida em uma “cena”, ainda que o noise se distinga pelo seu caráter fragmentado e instável, tendendo a refutar qualquer tipo de rotulagem. Caracterizando esse fenômeno, Fabrício Silveira identifica: “são eventos persistentes, de público pequeno, mas fiel. Além disso, há o trabalho individual de alguns com seus pequenos selos”. Para Daniel Villaverde, músico e ati-

LO VEIT

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ma casa noturna parcamente iluminada. Pouco mais de 20 pessoas presentes. Uma noite úmida em um dia de semana. Sobre o palco, um kit de bateria, guitarra, baixo e amplificadores. Junto à parafernália sonora, instrumentos não convencionais como carrinho de mão, martelo e guarda-chuva. O estranhamento inicial causado pelo aparato se acentua, definitivamente, com a chegada de indivíduos vestindo sacolas plásticas cobrindo o rosto. O figurino inclui ainda bobinas desenroladas de papel, manequim de loja e, orgulhosamente trajadas, camisetas do Clube Esportivo Aimoré. O show vai começar. Macedusss e As Desajustados Bando está no palco, e eles são, autoproclamados, “a única possibilidade!”. A experimentação e o ruído estão presentes na música desde os seus primórdios. O renomado compositor John Cage, um dos próceres da experimentação, salienta com propriedade em seu livro Silence que “não importa onde estejamos, a maior parte do que ouvimos é ruído. Quando o ignoramos, nos perturba, quando o escutamos com atenção, ficamos fascinados”. Dentro dessa perspectiva é indispensável citar “um álbum seminal, que inaugura uma espécie de ‘estética do ruído’”, na descrição do pesquisador Fabrício Silveira em seu livro Rupturas Instáveis. Trata-se do disco Metal Machine Music, lançado por Lou Reed em 1975, no qual o músico “munido apenas de duas guitarras, dois amplificadores e um gravador de quatro canais deu corpo e forma àquela escultura sonora explorando ruídos à exaustão”, explica Silveira. “Nós somos a única possibilidade. E a única possibilidade é a possibilidade de incompreensão”, brada o vocalista sobre o palco onde cada um parece tocar sua própria música. É a demonstração ao vivo daquilo que Daniel Mittmann, cabeça pensante do projeto Macedusss, qualifica como pós-música: “é algo que não pode ser compreendido pelos simples seres afeitos ao normal, à norma. Somos pós tudo isso”. A pós-banda capitaneada por Mittmann existe desde 2002, dispensando canções, discos e ensaios periódicos. Nas apresentações não há um setlist ou músicas identificáveis, apenas uma potente massa hipnótica composta de ru-

Grupo utiliza instrumentos inusitados, como martelo, no palco; Daniel Mittmann busca levar as pessoas ao “limite do entendimento”


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Babélia

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Edição 21

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São Leopoldo/RS

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Junho/2014

Desesperança Carolina Engelmann (Texto e fotos)

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i em um trabalho para a disciplina de Fotografia no Jornalismo, ministrada pela professora Beatriz Sallet, no curso de Fotografia da Unisinos, a oportunidade de levar mais longe um dos assuntos que mais me assusta: o total descaso com a educação no nosso país. A escola do meu bairro – localizada na cidade de Estância Velha –, Dom Pedro I, onde estudei quando criança e por onde hoje passo frequentemente, foi interditada pelo Ministério Público em junho de 2012 devido à precariedade de suas dependências. Passados dois anos, a única coisa que ocorreu na escola foi a sua municipalização, o que não estancou o aumento da deterioração de toda sua estrutura. Agora, aliás, a escola sofre também com o vandalismo ao qual fica sujeito um local público abandonado. Aproveito a motivação do trabalho na disciplina para denunciar a minha crescente desesperança no rumo de meu país. É irônico, mas, enfim...

Ensaio


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