Enfoque Vila Kédi 2

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SUSI TESCH

PAULO EGÍDIO

LAÍSE FEIJÓ

GOSTAR, MAS MUDAR

ATENDIMENTO PRECÁRIO

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Moradores revelam desejos

Acesso dificulta o socorro

EFEITOS DA CRISE

Negócios locais são atingidos Página 7

ENFOQUE VILA KÉDI ALESSANDRO SASSO

PORTO ALEGRE / RS OUTUBRO DE 2015

CRIANÇAS EM FESTA PERMANENTE COMEMORAÇÕES FAZEM A ALEGRIA DOS PEQUENOS PÁGINAS 4 E 5

EDIÇÃO

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2. CRÔNICA

| ENFOQUE VILA KÉDI | PORTO ALEGRE (RS) | OUTUBRO / 2015

Simples e peculiar

P

ela segunda vez na vida, fui até a Vila Kédi, lugar onde poucos vão. Praticamente ignorada pelas pessoas que correm na Avenida Nilo Peçanha ou pelos trabalhadores espremidos nos tantos ônibus que passam pela entrada principal da comunidade. Fui até lá para, novamente, me surpreender com a receptividade das pessoas. O local estava meio vazio, o que era compreensível, levando em conta que 12 de setembro foi, inesperadamente, o dia mais frio do ano. O que também julgo compreensível, mas acho uma perda de vivência, é o fato de muitos ignorarem a Vila. Nos últimos dois anos e meio, muitas vezes passei de ônibus por ali sem notar o lugar. Apenas uma vez vi várias crianças na frente, já na Nilo, brincando. Na verdade, posso voltar menos no tempo, apenas para o semestre passado, antes de conhecer o local por meio dessa disciplina da universidade. Como da primeira vez, também, mas agora mais, já me senti totalmente à vontade para conversar com os moradores de lá, desde o rapaz torcedor do Chelsea, da Inglaterra, que gosta do brasileiro Ramires e do marfinense Didier Drogba, ao pequeno Everton, de cinco anos contados nos dedos da mão, que não segurava uma nota de R$ 2,00, enquanto na frente de

casa esperava a sua tia acordar para ficar com ele, já que seus pais estavam trabalhando. Caminhando pela estreita rua da comunidade, à medida que ia passando pelas casas feitas desde tijolo à vista até madeira, ouvi músicas como o funk, o pagode do Grupo Pixote e uma outra que não consegui reconhecer, mas lembro de perceber a presença de violão, parecia ser algo mais para música popular brasileira. Perto do Dia das Crianças, desta vez vi menos crianças, traçando Numa fria um comparativo com a última manhã de visita. Mais tarde descobri que era por causa de um torneio de sábado, a vila futebol que estava acontecendo demorou em um campo do outro lado da a acordar Avenida, onde, segundo a mãe do Rafael, um dos meninos jogadores de bolita, os pequenos iriam ganhar troféus e medalhas. Porém, pude conversar com Adrian Samuel, de 4 anos, que brincava com seu Buzz Lightyear, apelidado de “O Super Poderoso”. Além dele, o guri também brincava no chão com um boneco do Hulk e um minicraque da Copa do Mundo de 1998 do Mauro Silva. A infância é uma marca registrada do lugar. LUCAS PROENÇA PAULO EGÍDIO

RECADO DA REDAÇÃO

Nuances disfarçadas Câmeras, blocos de anotações e a primeira edição do Enfoque Vila Kédi. Assim a equipe de jornalismo saiu para a sua segunda visita a comunidade, prontos para entregar e ver a reação dos moradores olhando nosso produto final. Foi gratificante o sorriso dos que pegavam o jornal e viam o lugar em que vivem em páginas coloridas. Foi um dia muito frio, e a temperatura baixa nos dificultou um pouco o trabalho quando chegamos lá, mas, novamente, tivemos que ir atrás e descobrir. Fomos conhecer mais uma vez e mais um pouco, descobrir o que a vila quer que sejam ditas nas páginas do jornal. Com esse objetivo, a equipe foi encontrar suas pautas e suas fontes. Naquela manhã de sábado, ocorria um campeonato de futebol, no outro lado da Avenida Nilo Peçanha, e muitos, especialmente as crianças, estavam envolvidos com o evento.

Também faltava pouco menos de um mês para o Dia das Crianças, um dia muito especial para eles, pois sempre fazem uma grande festa para os pequenos. Mas não é o tempo todo que grandes eventos e comemorações acontecem na vila. Eles nos contaram o que eles gostam e o que mudariam na vila, e continuam enfrentando alguns problemas. O caminhão do lixo e os serviços de atendimento móvel não têm acesso devido ao corredor estreito. No comércio, também chegou a crise. E, como já dito na primeira edição, o saneamento básico continua sendo um incômodo. Juntando tudo, devolvemos aos moradores da comunidade em formato impresso. Mais uma vez, mostramos este universo que poucos conhecem dentro de Porto Alegre. LEONARDO STÜRMER Editor-chefe

ENTRE EM CONTATO

DATAS DE CIRCULAÇÃO

(51) 3590 1122, ramal 3727

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12 / 9 / 2015

enfoquevilacaddie@gmail.com

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3 / 10 / 2015

Av. Luiz Manoel Gonzaga, 744 – Petrópolis – Porto Alegre – RS Cep: 90470 280 – A/C Coordenação do Curso de Jornalismo

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6 / 11 / 2015

QUEM FAZ O JORNAL O Enfoque Vila Kédi é um jornal experimental dirigido à comunidade da Vila Kédi, em Porto Alegre (RS). Com tiragem de mil exemplares, é publicado a cada dois meses e distribuído gratuitamente na região. A produção jornalística é realizada por alunos do Curso de Jornalismo da Unisinos Porto Alegre.

EDIÇÃO E REPORTAGEM Disciplina Jornalismo Cidadão Orientação Luiz Antônio Nikão Duarte Edição geral (chefia) Leonardo Stürmer

Edição de fotografia Stéphany Franco Reportagem Débora Vaszelewski Gabriela Gonçalves Guilherme Engelke Leonardo Stürmer Lucas Proença Luciano Del Sent Matheus Martins Rebecca Rosa Rodrigo Ávalos Stéphany Franco FOTOGRAFIA Disciplina Fotojornalismo Orientação Flávio Dutra Fotos Alessandro Sasso

Cora Zordan Laíse Feijó Paulo Egidio Rebeca Souza Susi Tesch ARTE Realização Agência Experimental de Comunicação (Agexcom) / Unisinos São Leopoldo Projeto gráfico e arte-finalização Marcelo Garcia Diagramação Gabriele Menezes IMPRESSÃO Realização Grupo RBS Tiragem 1.000 exemplares

Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Av. Luiz Manoel Gonzaga, 744 – Petrópolis – Porto Alegre – RS. Cep: 90470 280. Telefone: (51) 3591 1122. E-mail: unisinos@unisinos.br. Reitor: Marcelo Fernandes de Aquino. Vice-reitor: José Ivo Follmann. Pró-reitor Acadêmico: Pedro Gilberto Gomes. Pró-reitor de Administração: João Zani. Diretor da Unidade de Graduação: Gustavo Borba. Gerente de Bacharelados: Vinícius Souza. Coordenador do Curso de Jornalismo: Thaís Furtado.


ENQUETE .3

ENFOQUE VILA KÉDI | PORTO ALEGRE (RS) | OUTUBRO / 2015 |

Os encantos e os desejos de melhorias Qual a parte preferida e o que gostaria de mudar no local? Tudo e tudo

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ma só palavra responde duas perguntas contrárias na Vila Kédi: tudo. Os moradores valorizam a calmaria, a tranquilidade e a segurança. Porém, pedem por saneamento, luz elétrica e asfalto. Morar ali é estar entre família e amigos com condições precárias e sem atenção do governo. Em 100 anos de existência, a comunidade ainda não recebeu as promessas que lhe foram feitas. Para cada um, prioridades diferentes. Enquanto algumas avós se preocupam

“Aqui é calmo, não é igual às outras vilas. Quero que minha filha cresça na Kédi, próximo de todos os parentes.” Dinamara da Silva, 28 anos, auxiliar de serviços gerais

“O Natal, os aniversários, o Dia das Crianças e o Ano Novo são festas muito lindas. Agradeço a Deus pelas árvores, pelo verde e pela natureza.” Maria de Jesus da Silva, 76 anos, aposentada

mais com os fios de luz soltos, a falta de esgoto assusta outros vizinhos. É unânime a adoração pela vila, onde as crianças correm e brincam o tempo todo, adultos trabalham, aproveitam a companhia dos parentes e contam histórias. A localização também é considerada um dos benefícios da Vila Kédi, pois oferece fácil acesso para o Centro de Porto Alegre, shoppings, postos de saúde, farmácias e comércios. Enfoque ouviu moradores sobre como é viver na Vila Kédi.

“Faz 25 anos que moro aqui, desde que nasci. Todo mundo é parente, tudo aqui é perto. Só queria melhorar o esgoto e asfaltar.” Tiago Pacheco de Oliveira, 25 anos, manobrista

GABRIELA GONÇALVES REBECA SOUZA

“O que me encanta são as pessoas, amigos com amigos. Na infraestrutura, eu resolveria tudo se pudesse.” Edésio Custódio de Paula, 50 anos, caddie

“Aqui nós somos uma irmandade. Todo mundo se ajuda mutuamente, é isso que eu gosto.” Marino Querino da Rosa Filho, 62 anos, auxiliar de golfista

“Minha brincadeira preferida é pega-pega gelo, daí quando alguém pega, tem que congelar. Eu corro bastante também.”

“Me criei na vila, gosto de tudo. Até mudei de endereço para conhecer outros lugares, voltei porque senti saudades.”

Adrian Samuel, 4 anos

Setembrino Ribeiro Borja, 47 anos, servente

“Nasci e me criei aqui. Eu amo minha vila. Mas mudaria quase tudo: esgoto, calçada, construiria sobrados. Faria o que a Prefeitura nunca fez.” Jefferson Dutra Pacheco, 32 anos, desempregado

“Faz um ano e sete meses que eu vivo aqui. Sinto falta de espaço para entrar e sair com o meu carro.” Silvia Nilda Fernandes de Ávila, 50 anos, doméstica


4. ESPECIAL

| ENFOQUE VILA KÉDI | PORTO ALEGRE (RS) | OUTUBRO / 2015

Festividades não passam em bran Preparação para as datas comemorativas une e tira os moradores da rotina

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ma agitação costuma marcar a vida naVila Kédi nos últimos meses de cada ano. Depois das festas de são João, em junho, Tânia Dutra volta a pensar nos preparativos para uma das festas mais esperadas do ano: o Dia das Crianças. O evento é aberto ao público e as cerca de 150 crianças, que se juntam no dia 12 de outubro, dividem suas atenções entre brincadeiras e nos bolos e doces disponíveis. - O pessoal todo daqui se reúne e ajuda um pouco. A Tânia organiza e nós colaboramos com pratos de doces, salgados e pacotes de bala –

conta Dinamara da Silva, de 28 anos. Além de contar com o apoio dos moradores,afestividaderecebedoações do lado de fora da vila. Lojas e bares são exemplos de empreendimentos que ajudam. Tânia Dutra, de 44 anos, explica que se organiza para fazer uma festa enxuta para todos. - Nosso primeiro passo é distribuir panfletos. Minha filha produz um cartãozinho perguntando se há interesse em colaborar para a festa e coloca o número do nosso telefone. Geralmente nos ligam de volta e nós mesmos buscamos as doações – esclarece Tânia. Lavinia de Paula é neta de Tânia e tem sete anos. Acompanha a avó na organização e se diverte quando o grande dia chega. - Gosto dos doces e enfeites. As

brincadeiras são legais e brinco muito de “pega-pega” – exalta Lavinia. A igreja Santa Edwiges, localizada na entrada da Vila Kédi, altera sua programação em outubro.Tradicionalmente, ocorre missa todos os sábados pela manhã, mas em função do dia 12 de outubro ser também o Dia de Nossa Senhora Aparecida, tem uma missa extra para abençoar as crianças e celebrar a santa. Próximo da Vila Kédi está o Quilombo da Família Silva. Muitas crianças de lá se juntam para a comemoração também. Depois do Dia das Crianças logo vem o Natal. A vila volta a ficar movimentada, colorida e em clima de confraternizaçãoentreadultosecrianças. DÉBORA VASZELEWSKI CORA ZORDAN

Para eles, sempre é Dia das Crianças ALESSANDRO SASSO

REBECA SOUZA

Meninos e me se divertem, s futebol ou inventa novas brincadeiras


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nco na Kédi

Data surgiu em 1924 no Brasil O Dia das Crianças surgiu quando o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) escolheu o dia 20 de novembro para a comemoração da data, em função da oficialização da Declaração dos Direitos da Criança, em 1959. Embora várias nações acompanhem essa resolução, na maioria a data dedicada é diferente. A começar pelo Brasil: em 1924, o então deputado federal Galdino do Valle Filho (RJ) elaborou o projeto de lei que estabelecia a comemoração em 12 de

Lavinia está ansiosa pelas brincadeiras e guloseimas

outubro. A data demorou a ser uma unanimidade, até que, em 1955, uma grande indústria de brinquedos elaborou uma forte campanha de marketing para o

dia, chamando a atenção de outras empresas do ramo e popularizando, desde então, a data comemorativa. (Pesquisa: Enfoque Vila Kédi).

eninas seja no ando as LAÍSE FEIJÓ

SUSI TESCH

LAÍSE FEIJÓ

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6. INFRAESTRUTURA

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Incerteza no atendimento médico Ambulâncias têm dificuldade de acesso ao chegar no local

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oradores da Vila Kédi têm que conviver com a falta de infraestrutura pública, pois o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) não costuma atender o local com facilidade, devido ao espaço restrito para a locomoção da ambulância. “Tenho carro por necessidade, não por luxo”, é o que declara Delmar de Souza Fontoura, auxiliar de produção que, no começo desse ano, passou por uma situação difícil ao ver a filha mais nova com febre alta e convulsões e não ter a garantia de atendimento do SAMU de imediato. Na ocasião, a bebê tinha apenas nove meses de vida. “Tive que pedir carona para um vizinho para poder levar ela no Hospital Conceição, porque meu marido estava trabalhando e a ambulância não chegava”, complementa a mãe da criança, Marina Ribeiro Borges, dona de casa, conhecida na comunidade como Mara. Ela conta que essa não foi a primeira vez que a família

Caminho estreito e esburacado impede a passagem de veículos sofreu com a falta de apoio do serviço. “No ano passado meu irmão teve um mal-estar. Chamamos o SAMU e eles demoraram tanto para chegar que ele já estava morto”. A vítima foi Jordeli Ribeiro Borges, apelidado de Carrueira. Tinha 47 anos e morava na vila des-

Como solucionar os problemas? Os moradores garantem que a Vila Kédi está devidamente regularizada junto à Prefeitura Municipal de Porto Alegre desde 2012, por meio de usucapião - um direito de domínio que alguém adquire sobre um bem móvel ou imóvel, por tê-lo utilizado por determinado espaço de tempo, contínua e incontestadamente, como se fosse o seu real proprietário.

A Vila Kédi está denominada como Avenida Frei Caneca na planta oficial da cidade. Deveria, portanto, receber o tratamento de esgoto municipal, como todos os outros locais. Mesmo assim, sofre com a falta de saneamento básico, com o esgoto a céu aberto e com acúmulo de lixo - conforme mostrado na primeira edição do Enfoque Vila Kédi.

de que nasceu, assim como a sua família. Era hipertenso e tinha problemas com álcool. Conhecido por todos como um homem trabalhador, que ganhava a vida como caddie no Country Club de Porto Alegre. “Se a gente depender do SAMU para ser atendido, morre”,

O caminhão de lixo do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) não consegue entrar na vila porque ela é muito estreita. Por isso, o lixo é deixado na entrada do local para ser recolhido. O DMLU informa que faz recolhimento domiciliar na Vila Kédi três vezes por semana, assim como em todos os bairros: às terças, quintas e sábados no turno do dia. Nos locais de difícil acesso, os coletores buscam os resíduos a pé e os conduzem até o caminhão. GUILHERME ENGELKE REBECA SOUZA

Falta de encanamento faz com que detritos formem barro e a situação piora

lamenta Mara.“Nem a Polícia vem aqui quando precisa, imagina a ambulância”, afirma Delmar. O casal tem medo que, em caso de doença na família, fiquem mais uma vez sem atendimento médico de urgência. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, responsável

pelo serviço, o tempo médio de espera para o atendimento do SAMU, entre o recebimento do chamado, avaliação do caso pelo médico regulador da central e a chegada da ambulância no local é de 15 minutos. Entretanto, os deslocamentos podem ser afetados pelo trânsito cada vez mais intenso e, dependendo da região, exige escolta da Brigada Militar para garantir a segurança da equipe socorrista. A constituição prevê, desde 1988, que o Estado tem o dever de garantir assistência à saúde para todos, independente da classe social. Deste modo, na década de 90 foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS) que assegura aos cidadãos assistência terapêutica integral e farmacêutica de forma gratuita. Visto que as despesas são pagas com os impostos da população. Porém, na prática, com as limitações de atendimento, a assistência médica que seria integral, passa a ser parcial, o que contradiz a sua própria lei. STÉPHANY FRANCO PAULO EGIDIO

Continua o mistério do terreno esquecido Depois de uma peregrinação pelos gabinetes de vários registros de imóveis de Porto Alegre à procura pelo dono do terreno, a informação conseguida é de que não havia registros no endereço desde 1960. E que, sendo assim, não havia como chegar a uma conclusão sobre o dono. Voltando a entrar em contato com a Companhia Zaffari a respeito do terreno esquecido, desta vez, o retorno foi diferente: o terreno pertence à empresa Country Empreendimentos Imobiliários, que possui acionistas em comum com a Companhia. Explicando assim, uma possível confusão. Em contato com a empresa citada desde o início da reportagem, não houve retorno. Foram várias tentativas sem sucesso. Os moradores da Vila Kédi afirmam que as pessoas que realizam a limpeza do terreno estão sempre vestidas com uniformes do Zaffari. Angela, que é uma das responsáveis pela associação dos moradores da Vila Kédi, diz que o telefone que costumavam ligar para solicitar a limpeza do terreno não atende mais. Muitas são as tentativas, porém sem resposta. Sendo assim, Angela recorre para a Secretaria Municipal de Saúde, que por sua vez contata o misterioso dono do terreno. Enquanto isso, na realidade da Vila Kédi, Guilherme Washington Oliveira da Silva, de 18 anos, neto de Angela, usa o terreno para jogar futebol com os amigos. Na parte mais plana do terreno cheio de irregularidades e perigos iminentes é onde acontecem as partidas de futebol entre os moradores da Vila. O terreno segue inativo, e os moradores da Vila, sem um lugar para utilizarem nos momentos de lazer. REBECCA ROSA


ENFOQUE VILA KÉDI | PORTO ALEGRE (RS) | OUTUBRO / 2015 |

ECONOMIA .7

A crise também chega aqui Moradores e comerciantes apertam o cinto na hora de comprar

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crise também chegou na Vila Kédi. Nos seus estabelecimentos comerciais, que focam no fornecimento de lanches, a alta no preço do produto final chega até 10%. Angela Maria, dona de um dos comércios, fala sobre os reajustes: “Nas bebidas, aumentei cerca de 5%, nos alimentos, como lanches e almoços, tive que colocar mais 10% no preço”. Em outro estabelecimento, que fica no final da rua, os produtos também aumentaram. Éder Bueno, dono do bar, diz que vende mais bebidas, mas que também esse foi o produto que mais subiu. Em dois anos de comércio, ele nunca viu aumentar tanto. “O refrigerante aumentou bastante. Em dois ou três meses tive que colocar quase o dobro do preço aqui”. Um dos principais fatores para a elevação dos preços é a alta de quase 42% na energia, no início do ano. Custos como luz, gás e fornecedores batem rápido no bolso dos consumidores.

Éder Bueno: é necessário elevar o preço das bebidas devido à atual crise financeira

É o caso das moradoras Bárbara e Clair. Bárbara realiza as compras para sua casa no supermercado, já que na vila não há esse tipo de estabelecimento. Nos últimos meses, disse que com R$ 100,00 já não compra mais a mesma coisa. Já Clair traz

Bares são ponto de encontro Diversos tipos de estabelecimentos comerciais alimentícios funcionam dentro da Vila Kédi. Logo no início, entrando pela Avenida Nilo Peçanha, um local com bandeirinhas de marca de cerveja pode ser notado. Por fora, nem parece um boteco, mas, no interior, há mesas e cadeiras, além de uma mesa de sinuca e um aparelho de música, do tipo jukebox. O propr ietár io, João Carlos Gonçalves Dutra, já aluga o estabelecimento há dois anos. Sem horário para abrir ou fechar, ele conta que o pessoal da vila adora se reunir ali para beber e jogar na mesa de bilhar, à noite. Além disso, ele também vende comidas durante o dia, como em um armazém, mas diz não cozinhar. “Tem bastante gente que compra aqui porque é mais barato. No posto (de gasolina, atravessando a avenida) é quase o dobro do preço as bebidas e salgadinhos”, afirma. Mais ao fundo da Rua Frei Caneca, é possível en-

contrar Evanir Mendes e seu pequeno restaurante, que tem uma proposta diferente do boteco de Dutra. O “Bar da Vani”, como ela diz que é conhecido, serve café da manhã e almoço tanto para o pessoal da vila quanto para quem trabalha ali ao lado em obras e no Country Club. Vani, como é chamada, João Carlos G. Dutra: Jogar bilhar à noite é o atrativo preferido dos consumidores

um hábito como uma solução: tem uma horta dentro de casa. A produção das verduras em casa reduz sua conta no final do mês. “Se não fosse essa horta eu já teria morrido de fome. Com o preço que estão as coisas, não dá para comprar tudo.”

trabalha sozinha a maior parte do tempo e, às vezes, até tarde da noite, por conta dos clientes que ficam bebendo: “Tomam bastante cachaça e até hoje nenhum deixou de pagar. Mas se não pagarem, a gente vai atrás”. Ela ainda conta que até alguns caddies do clube passam ali para beber depois do expediente. Entre os dois bares há boa convivência. Cada um conquistou seus clientes e tem características próprias. Quem gosta de música, sinuca e conversas, vai para perto da saída. Quem quer comida boa e um lugar mais tranquilo, entra perguntando pelo “Bar da Vani”. LEONARDO STÜRMER SUSI TESCH

Segundo a pesquisa mensal da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), diversos setores como comércio e serviços tiveram que enxugar o quadro de funcionários, devido à crise econômica. Apenas em junho deste ano, os dois

setores demitiram juntos 209 mil pessoas nas seis principais regiões metropolitanas do País em relação a igual mês do ano passado. MATHEUS MARTINS CORA ZORDAN

Vítima de violência, jovem busca recomeço Com a necessidade de adquirir produtos de limpeza, alimentos e bebidas com urgência, a comunidade usufrui do Bueno’s Bar, situado próximo da Rua 14 de Julho, paralela à Avenida Nilo Peçanha. Administrado pelo ex-funcionário da Transportadora Ouro e Prata Éder Bueno, de 34 anos, o local, de arquitetura simples, além de auxiliar os moradores, é uma oportunidade de gerar lucro para o proprietário, que busca reestruturar sua rotina após ser baleado em uma tentativa de assalto, sofrida há cerca de três anos, na Zona Norte, da Capital. Bueno conta que trafegava na Avenida Tenente Ary Tarragô quando foi abordado por dois assaltantes, que também dirigiam uma motocicleta. Devido ao susto, reagiu, sendo alvejado por três tiros de pistola nas costas e na região do peito.“A vida já me apresentou essa reviravolta severa. Com um dos pulmões perfurado, eu fiquei 40 dias internado, em coma, longe dos meus

familiares”, convicto e com semblante sério, revela Bueno. Ele afirma que a elaboração do Bueno’s Bar, assim como a mudança para a Vila Kédi, há dois anos, tornou-se um recomeço. Éder Bueno, procura encontrar soluções para adequar o estabelecimento às ofertas ainda não comercializadas. Conforme Bárbara Oliveira, de 25 anos, o mercado não consegue atender plenamente a demanda da comunidade, pois faltam determinados produtos. Sabendo dessa necessidade de qualificar seu serviço e com o objetivo de ampliar o negócio, Bueno, auxiliado por sua esposa, Amanda Muniz, de 30 anos, está construindo uma área mais ampla, consolidando as finanças da família, que conta com quatro crianças.“As obras estão na reta final, sendo que, provavelmente, em novembro já teremos a possibilidade de abrir esse novo espaço”, revela o comerciante. LUCIANO DEL SENT


ENFOQUE VILA KÉDI

PORTO ALEGRE (RS) OUTUBRO DE 2015

EDIÇÃO

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Barcelona levanta a taça Torneio mantido por lojistas do entorno da Vila Kédi leva alegria e esporte às crianças

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a manhã do dia 12 de setembro ocorreu o 2º torneio de futebol da Vila Kédi. Participaram crianças entre 6 e 14 anos. Os times foram montados de forma a equilibrar as forças, contando com meninos e meninas misturados, bem como jogadores de idades variadas. Logo na primeira partida da competição já podia ser vista a força do Barcelona. Formado por Rafael, Yago, Kelvin, Wellington e Léo a equipe venceu a primeira partida sobre o Brasil pelo elástico placar de 8 a 3. Real Madrid e Argentina fizeram a segunda partida. Em um jogo apertado com poucas chances de gol para ambos os lados, o Real Madrid conseguiu a vitória, finalizando a partida por 3 a 1. As partidas foram se seguindo com o Brasil vencendo o terceiro jogo contra o Real Madrid. Na sequência a Argentina, em partida surpreendente, venceu o Barcelona e deixou todo torneio embolado. Agora tínhamos uma vitória e uma derrota para cada equipe e a terceira rodada iria decidir tudo.

Barcelona e Brasil venceram suas últimas partidas na competição, confirmando o favoritismo e relegando Real Madrid e Argentina a disputarem o terceiro lugar, nos pênaltis. E que disputa. A Argentina começou defendendo e o goleiro Marcelo com muita agilidade impediu o gol nos três primeiros chutes da equipe branca. Já nos seus chutes a Argentina não obteve a mesma precisão, errando as duas primeiras cobranças. Ao final dos cinco chutes estava empatado, 2 a 2. Os goleiros das equipes foram para a marca da cal e acertaram, ambos, as suas penalidades. No sétimo chute do Real Madrid o goleiro rival fez uma grande defesa no canto esquerdo da goleira, aí foi só esperar a conversão do último pênalti dos azuis e colocar a Argentina no terceiro lugar da competição. A grande final foi disputada entre Barcelona e Brasil, levando a torcida, em sua maioria formada pelos times desclassificados, a loucura, com crianças penduradas nas grades entre gritos e vaias. O Barcelona começou arrasador. Um gol no primeiro minuto de jogo seguido de um gol olímpico do goleador do campeonato, Léo, colocou o time vermelho em vantagem para a segunda etapa. Na volta ao segundo tempo, mais dois gols do

Barcelona. O Brasil descontou e o Barcelona ainda teve tempo para um último gol, finalizando a partida derradeira do campeonato em 5 a 1. Barcelona, o grande campeão do 2º torneio de futebol da Vila Kédi. Após o torneio todos participantes foram recebidos ao lado da loja Saccaro, logo na entrada da vila para partilharem cachorros-quentes com refrigerante e receberem as medalhas e troféus.

O campeonato é organizado por George Jardim, 40 anos, funcionário da loja Saccaro, localizada na entrada da Vila Kédi, e que financia o campeonato juntamente com as lojas SM Concept, Essencial Iluminação, Delano Móveis e Academia Curves. George atua como juiz durante as partidas contando com o apoio de Marcelo Pinto dos Santos, estudante de Educação Física do Centro Universitário Metodista e

estagiário do SESC RS na Protásio Alves. Os dois pretendem realizar a próxima edição do torneio perto do Natal contando desta vez, quem sabe, com uma ajuda ainda maior dos lojistas e da própria população para além do esporte levar também brinquedos para as crianças da Vila Kédi. RODRIGO ÁVALOS SUSI TESCH

Fase Classificatória Barcelona 8 X 3 Brasil Real Madrid 3 X 1 Argentina Brasil 3 X 2 Real Madrid Argentina 2 X 1 Barcelona Barcelona 3 X 0 Real Madrid Brasil 3 X 1 Argentina DISPUTA DE 3º LUGAR (PÊNALTIS) Real Madrid 6 X 1 Argentina DISPUTA DA GRANDE FINAL Barcelona 5 X 1 Brasil CAMPEÃO Barcelona VICE-CAMPEÂO Brasil Em torneio disputado, Barcelona se deu melhor sobre o Brasil na final (acima). Argentina conquistou o 3º lugar.

3º LUGAR Argentina GOLEADOR Léo (Barcelona) GOLEIRO MENOS VAZADO Kelvin (Barcelona)


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