Babélia São Leopoldo/RS - Junho de 2016 - Edição 25
RODRIGO JANKOSKI
Nos trilhos da sobrevivência Mesmo proibido pela Trensurb, pedir esmolas e vender dentro dos vagões do trem é uma prática rotineira e necessária para muitas pessoas que vivem do dinheiro doado ou adquirido com a venda de produtos Páginas 4 e 5 Graziele Iaronka
Recomeço em solo brasileiro
Falta de ciclovias prejudica ciclistas
Refugiados e imigrantes trabalham em busca de melhores condições de vida, enquanto planejam o retorno à terra natal
Projeto prevê 490 quilômetros de vias para quem anda de bicicleta em Porto Alegre, porém apenas 30 estão implantados na cidade
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Tráfico atrai mais adolescentes aos crimes
Aterro em Canela acirra discussão sobre ambiente
Exemplos de manifestação visual e verbal, traços expressam pensamentos sociais e não deixam a arte de rua morrer
Pouca estrutura familiar e desigualdade social são fatores que incentivam menores de idade a ingressar no tráfico e a praticar infrações
Local está desativado desde 2006, mas gera custos ao município, que precisa acomodar em outras áreas o lixo produzido pelos moradores
Páginas 34 e 35
Páginas 6 e 7
Página 30
Representatividade na pichação e no grafite
Babélia - São Leopoldo/RS - Junho de 2016
IMAGEM Helen Appelt
O olho que olha é outro em relação àquele que alcançou este olhar. O olho que capturou a sutileza do olhar é o da Helen Appelt. Na tentativa de exprimir o que projetou em sua mente sobre o que seria o olhar, a estudante, apoiando-se na técnica, encontrou o êxito estético e expressou-se através da imagem. Entre Helen e a foto, além dos referentes/assuntos e das experiências que a constituem como ser no mundo, há uma câmera Nikon 5.100 com objetiva macro 60mm. (Sandra Klafke)
Universidade do Vale do Rio dos Sinos São Leopoldo e Porto Alegre/RS Linha Direta: E-mail: Reitor: Vice-reitor: Pró-reitor Acadêmico: Diretor de Graduação: Gerente de Bacharelados: Coord. Curso de Jornalismo:
Babélia
(51) 3591 1122 unisinos@unisinos.br Marcelo Aquino José Ivo Folmann Pedro Gilberto Gomes Gustavo Borba Vinicius Souza Edelberto Behs
Jornal produzido semestralmente pelos alunos do Curso de Jornalismo da Unisinos - São Leopoldo/RS
Textos: alunos das disciplinas de Jornalismo Impresso I e II, Redação Jornalística I e II e Redação para Relações Públicas II. Orientação: professores Anelise Zanoni, Edelberto Behs e Mariana Bastian. Imagens: alunos da disciplina de Fotojornalismo, do curso de Jornalismo. Orientação: professora Beatriz Sallet. Projeto gráfico: alunos Fernanda Bierhals, Mariana Dambrós e Matheus Alves, da Turma 2015/2 da disciplina de Planejamento Gráfico. Orientação: professor Everton Cardoso. Diagramação: Agência Experimental de Comunicação (Agexcom). Diagramação: Mariana Matté. Supervisão: Marcelo Garcia.
Editorial Histórias de nossas vidas Este Babélia traz facetas do palco onde homens e mulheres, de todas as faixas etárias, cores e etnias, se movem e se relacionam. O olhar mostra um quadro que ora beira o caótico, ora se enche de compaixão. Em todos os casos, um quadro bem representativo da condição humana, pois aponta para o contraditório. De acordo com a Trensurb, é mendicância; para homens e mulheres que percorrem vagões oferecendo desde balas de goma a torrones, foi a maneira que encontraram para batalhar o pão de cada dia. Tem passageiro que suspeita: é vagabundagem, preguiça. Outro reconhece o esforço de quem, talvez por falta de melhor qualificação, não encontra lugar no mercado de trabalho. Compra, então, alguma bala ou alcança uma esmola. A falta de trabalho faz com que estrangeiros deixem para trás família e conhecidos, e se deslocam ao Brasil, onde se metem a vendedor ambulante, a
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frentista, enfim, ao que estiver disponível. O país também tem hospedado refugiados – políticos, econômicos, de guerra. Não são poucos os que condenam essa solidariedade “porque eles vêm para tirar os nossos postos de trabalho”. A coordenadora do Programa Brasileiro de Reassentamento Solidário no Estado, Karin Weapchowsik, garante que migrantes e refugiados não roubam oportunidades, mas ocupam lacunas existentes nas cidades. Preencher lacunas de dignidade é o que faz o projeto O Som da Periferia, que recorre à música como elemento de transformação social e dá sentido de vida a adolescentes vulneráveis de Alvorada. Esse panorama controverso poderia ser mais justo? Sem dúvida. Afora os desastres naturais, as enfermidades – e nem todas -, a morte, tudo o mais que rodeia a humanidade é construído pelas pessoas, é cultural. Basta olhar para o nosso torrão: temos condições de quebrar o fosso que separa coletores de moedinhas dos que mantêm contas em paraísos fiscais. Mas, como diz a pedinte que anda pelos trilhos do trem: “Essa é a história da minha vida.” Melhor: Essas são as nossas histórias.
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Rádio
Companheiro, informativo e eterno
Segundo pesquisa, 90% da população brasileira ainda tem um forte vínculo com esse meio Anderson Dilkin
O
rádio nasceu no Brasil oficialmente em 7 de Setembro de 1922, dia em que era comemorado o centenário da independência do país, transmitindo a fala do presidente Epitácio Pessoa. O discurso aconteceu numa exposição na Praia Vermelha, sendo o transmissor instalado no alto do Corcovado pela Westinghouse Electric Co. A primeira estação de rádio no Brasil foi instalada no ano seguinte, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, cujos ouvintes eram associados e colaboravam com mensalidades. Osvino Dilkin, 56 anos, morador de Santa Maria do Herval, nasceu em 1959, quando o rádio já estava bastante popularizado no país e, desde então, este é o principal passatempo para ele e seus familiares. “Domingo à tarde ouvíamos rádio. Raras vezes isso não acontecia. Inclusive nos reuníamos na casa de alguém para ouvir rádio. Ouvíamos a rádio Progresso, de Novo Hamburgo onde, entre outras coisas, a gente ouvia uma dupla de amigos nossos que tocavam ao vivo na emissora”, diz ele. Letícia Rodrigues, 20 anos, moradora de Dois Irmãos, não tem muito tempo para ouvir rádio durante a semana, mas sempre que pode sintoniza em alguma frequência. “Não tenho muito tempo, pois trabalho o dia todo, mas a noite quando posso sempre ouço alguma rádio”, disse ela. Sobre o tipo de emissora, Letícia diz preferir rádios musicais. “Não gosto de ouvir rádio Jornalística, prefiro ouvir uma rádio que toque música, como Jovem Pan, Atlântida entre outras”, destaca ela. Rodrigues diz que gosta de se atualizar, mas pensa que outros veículos são mais apropriados para isso. Letícia destaca também a importância da internet para o rádio, já que através dela é possível ouvir rádios de todo mundo. “Lembro que quando era pequena, só podia ouvir as rádios próximas, porém após o surgimento da internet, posso ouvir rádios do mundo todo”, destaca. Levantamento realizado pelo IboJayme aproveita pe Media, no final para ouvir de 2014, indica que rádio até mesmo o rádio alcança 90% no celular da população brasileira, sendo que 70% dos pesquisados utilizam o meio como forma de entretenimento e 50% para ouvir notícia. Segundo a pesquisa, a música sertaneja é a preferida da população com 50%, seguida pela Música Popular Brasileira (MPB), com 41%. Ainda, segundo o levantamento, uma curiosidade, a maior audiência do rádio é às 10 horas da manhã. Em casa, são 50% que ouvem rádio, se juntando ao grupo 10% que
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ouvem no carro e 5% no trabalho.
Lembro que quando era pequena, só podia ouvir as rádios próximas, porém após o surgimento da internet, posso ouvir rádios do mundo todo”
RÁDIOS COMUNITÁRIAS Também não podemos deixar de lembrar das rádios comunitárias, que de um tempo para cá voltaram com força em suas cidades. Segundo levantamentos são mais de 30 mil emissoras no país. Em 1998, a Lei 9.612 homologou a existência dessas emissoras de curto alcance (0,25) Wats. Segundo a lei, a rádio comunitária deve ser um veículo sem fins lucrativos e que deve divulgar ideias, manifestações culturais, tradições e hábitos sociais locais. Os dirigentes devem ser brasileiros natos ou naturalizados há mais de uma década, maiores de 18 anos e moradores da comunidade onde a rádio está instalada. Erico Dapper, 65 anos, morador de Dois Irmãos, elogia esse tipo de emissora. Segun-
Letícia Rodrigues Representante de Vendas
do ele, a rádio comunitária possibilita maior interação com a comunidade. “Desde que existe rádio comunitária em Dois Irmãos eu acompanho pelo menos algumas horas por dia, pois a partir dela consigo ouvir notícias da minha cidade que eu não escuto nas outras emissoras” comenta.
Futuro do rádio Mesmo o rádio não sendo mais o principal veículo de comunicação, muitos jovens ainda sonham em ter nele o seu futuro profissional. Jayme Neto, 24 anos, é aluno de jornalismo da Unisinos, e foi por gostar de rádio que ele optou pelo curso. “Desde que tinha os meus cinco anos de idade ouvia rádio e pensava: é isso que quero trabalhar, por isso escolhi o curso de jornalismo”, disse ele.
Mariana Bastian Tramontini
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Geral Rodrigo Jankoski
Comércio e mendicância dentro do trem são proibidos, mas regra não é cumprida
Balas, torrones e histórias trágicas
Pedintes e vendedores encontram uma forma de sobreviver enquanto percorrem os vagões do trensurb Karine Dalla Valle
O
zunido do trem correndo sobre os trilhos cessa por uns minutos. É a estação Anchieta ou a Niterói. As portas do vagão se abrem. Em cada uma das 22 estações da linha férrea que liga as cidades de Porto Alegre, Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul, São Leopoldo e Novo Hamburgo, o movimento se repete. Passageiros embarcam, outros saem. O trem volta a correr. Uma voz ressoa em meio à multidão que se amontoa nos vagões. Dá boa tarde, pede a atenção de todos. Traz uma história triste. Rostos se viram em sua direção. Quando os passageiros, surpresos em um primeiro momento, reconhecem do que se trata, logo retornam a seus devaneios. Abaixam a cabeça, suspiram. Parece que a voz fala para ninguém. Precisa de dinheiro pois um acidente de trabalho trouxe a invalidez. A casa onde morava foi tomada pelo poder público. A doença minou as chances de um bom emprego. Só uma cirurgia para a cura do filho trará de volta a alegria de vê-lo brincar. A voz muda de face, de entonação, de causas para estar ali. Mas o objetivo é o mesmo: atravessar cada vagão pedindo trocados ou vendendo balas, torrones e outros doces para sobreviver. O desafio da voz, além de soar mais alto que o barulho do trem deslizando sobre os trilhos, é sensibilizar passageiros endurecidos pelo cansaço e pelos compromissos do dia a dia. Há mais um empecilho: não chamar a
atenção dos seguranças que circulam pelas estações. A Trensurb, Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A., faz campanha para desestimular passageiros a comprar doces dos vendedores ambulantes ou dar dinheiro aos pedintes que, dia após dia, bradam suas desgraças pelos vagões. Nas televisões instaladas para distrair a viagem com ofertas e notícias do mundo, uma mensagem parece querer dissipar qualquer resquício de piedade nos viajantes. “Não incentive a mendicância. Não tenha dúvida. Não dê dinheiro no trem”. Os maquinistas usam o microfone para reforçar que o comportamento, ali, deve ser de indiferença. “Senhores, sejam responsáveis. Não incentivem a mendicância”. A justificativa da empresa para proibir a prática é que incomoda os viajantes. Entre denúncias já feitas, há relatos de ameaças sofridas por quem se recusou a contribuir com pedintes. Também há casos de crianças colocadas no trem para mendigar no lugar dos adultos. Como um menino por volta dos 10 anos que vendia doces com uma mochila de super herói pendurada nas costas. Por isso, uma campanha para frear ímpetos de caridade. Os passageiros não são unânimes quanto ao assunto, nem tão seguros quanto a capacidade de domar a própria compaixão. Há quem permaneça indiferente a cada infortúnio contado pelos pedintes. Outros não conseguem esconder a revolta contra as lamúrias. “Essa se divertiu bastante, hein? Seis filhos?”, indignava-se uma senhora ao ouvir uma pedinte dizer que não podia trabalhar pois precisava
cuidar dos seis filhos que tem em casa. Mas há os que os se sensibilizam, e mesmo com pouco dinheiro oferecem duas ou três moedas recolhidas da carteira. Como dona Marlene Luciano, uma senhora na casa dos 60 anos que não nega ajuda a um homem que há anos pede dinheiro para pagar os gastos com a paralisia cerebral do filho. “Umas moedinhas não vão me fazer falta”, garante a senhora.
O DESAFIO É CONVENCER Ao por os pés no trem, pedintes e vendedores cumprimentam os passageiros e adiantam um pedido de desculpa. Assim que terminam de explicar as dificuldades que os levou até ali, começam os apelos à compaixão. Uns citam o coração. Outros, Deus. Talvez porque vendam doces ao invés de implorar dinheiro, alguns vendedores abrem mão das súplicas. Caminham pelos vagões oferecendo seu produto, como comerciantes prestando um serviço. Uns apostam no bom humor para conquistar clientes. Simpáticos, aparentam não se amedrontar com as caras amarradas. “Olá. Por acaso você gostaria de ter a oportunidade de saborear um delicioso, crocante e saboroso torrone por apenas um real?”, perguntava um rapaz a cada pessoa no vagão. A ênfase dada às qualidades do doce, além do jeito malandro e descontraído do jovem, fazia surgir meios sorrisos. Uma mulher encostada na parede do va-
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gão sorriu por inteiro e consentiu. “Dois, só para te ajudar”, respondeu. Mais tarde, confessou que só fez a compra porque gostou da irreverência do vendedor. Há quem demonstre verdadeiros dotes cênicos. De saia longa, chinelos e lenço amarrado na cabeça, uma senhora pediu a atenção de todos para contar sua desgraça. Com o rosto inchado e sem um fio de cabelo à mostra, a aparência de doente convencia. Com dicção perfeita e entonação dramática, a senhora falava como se tivesse decorado um texto de peça de teatro. Contou que precisava de dinheiro para os remédios. Não disse qual doença tinha, mas garantiu que o dinheiro não seria usado em drogas ou bebida. Ao terminar a fala, muito emocionada, colocou as mãos em uma das barras de ferro verticais que dão sustentação a quem viaja em pé. Apoiou a testa no ferro, fechou os olhos e disse: “Essa é a história da minha vida”. O ato estava encerrado. Ficou na posição por alguns segundos. Ergueu a cabeça para ver se alguém lhe ajudaria. Duas ou três pessoas se comoveram e estenderam uns trocados. Repetiu a história ao se dirigir a passageiros sentados em bancos mais à frente, mas, ao invés de segurar na barra de ferro ao encerrar o discurso, colocou as duas mãos sobre os olhos fechados e logo arrematou com a frase “Essa é a história da minha vida”. Novamente, houve quem lhe oferecesse ajuda. Os demais não pareceram acreditar. Vestido aos farrapos, um homem com um violão entra no trem e rouba a atenção desti-
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CERTO OU ERRADO, FORMA HONESTA DE GANHAR A VIDA Aos 12 anos, Marcos* cantava música sertaneja e vendia balas nos vagões. Fazia isso para ajudar a mãe e os irmãos mais novos. Se queria fisgar os passageiros, não tinha erro: ia de Zezé Di Camargo e Luciano. “Pessoal me dava dinheiro de montão”, recorda. A vergonha de cantar veio com a adolescência. Aos 16, largou o trem e virou funcionário de carteira assinada num supermercado. Tentou se acostumar com o salário mínimo pingado de uma só vez no início do mês, mas não conseguiu. Abriu mão da cantoria, mas teve de retornar aos vagões. Hoje, aos 21 anos, Marcos tira R$ 50 por dia vendendo balas de goma e torrones. O valor que consegue com os doces duplica quando é início de mês. A vontade de cantar ainda bate, mas a esposa acha que soltar a voz nos vagões é mendicância. Por isso, o casal compra os doces para depois revender. Um bate-boca travado há alguns dias com seguranças da Trensurb abalou a
Há quem permaneça indiferente a cada infortúnio contado pelos pedintes. Outros não conseguem esconder a revolta contra as lamúrias. “Essa se divertiu bastante, hein? Seis filhos?”, indignava-se uma senhora nada a uma mulher que pede dinheiro para sustentar seis filhos. “Vim trazer um pouco de arte e cultura para vocês “, anuncia o maltrapilho, para logo em seguida começar a dedilhar Cowboy Fora da Lei, de Raul Seixas. Abafada pela música, a pedinte desiste de mendigar e desembarca do trem. Nisso, o aspirante a cantor alerta os passageiros que a mulher gasta todo o dinheiro das doações com carteiras de Marlboro e latas de Skol. Foi para afugentá-la que começou a tocar violão, informou. Colocando uma trouxa de pano no chão do vagão, avisou que os viajantes poderiam depositar ali a contribuição para a sua arte.
disposição do vendedor. Ele trabalhava no trem quando um vigia ordenou que desembarcasse. Ao se recusar a sair do vagão, foi tirado à força pelo homem. Eles desceram na estação Canoas, onde o funcionário chamou dois colegas para participar da confusão. “Não tô fazendo nada errado, só ganhado meu pão”, defendia-se Marcos. Foi levado para uma sala e obrigado a entregar o documento de identidade para registrar ocorrência. Quando a Brigada Militar chegou na estação, foi avisada que o rapaz ameaçara um dos vigias. Ao negar dizendo que era mentira, Marcos provocou a ira de um segurança. “Como assim, tá chamando meu colega de mentiroso?”, revoltou-se o vigia, dando um tapa no rosto do vendedor. Irritado ao recordar da injustiça, Marcos diz que os seguranças do trem são prevalecidos. Deixa escapar que já os viu bater em pedintes mudos e em vendedores menores de idade. “Qua-
se todos já apanharam de segurança. Essa, para mim, foi a primeira vez”, conformou-se. A confusão fez com que cogitasse abandonar o trem para voltar ao trabalho de carteira assinada. Ironia ou não, o jovem sonha ganhar dinheiro como segurança particular. Assim como Marcos, Jakeline encara o trem como oportunidade de ganhar a vida. De manhã, varre as ruas de Porto Alegre a serviço da Cootravipa, cooperativa que faz a limpeza urbana da Capital. Recebe um salário mínimo. À tarde, passa na casa que divide com a sogra em São Leopoldo e pega a filha Eshiley, de três anos. Juntas, vão para o trem conseguir o resto da renda que irá sustentá-las. Ao invés de vender doces, Jakeline caminha pelos vagões distribuindo bilhetes sem dar um pio sobre dificuldades da vida. Chegou a vender balas de goma, mas desistiu. Não gostava das histórias carregadas de drama que tinha de contar para cativar clientes. Agora, bate
perdeu a paciência com as lamúrias. Levou à risca a recomendação dada minutos antes pelo maquinista para que os viajantes não fossem indulgentes com os pedintes. “Tá, chega!”, gritou. “Tu vai para outra estação e zera tudo, né? Começa a dizer que conseguiu dois, quatro reais...”. O pedinte afastou-se do homem e caminhou em direção a outro vagão para arrecadar o resto do dinheiro. Maria Cândida Becker, 60 anos, a senhora
no computador uma mensagem com apelo emocional e entrega na mão dos viajantes. Quem ler e ficar comovido, abre a carteira. Enquanto a mãe trabalha, Eshiley, uma menina roliça e cheia de energia, perambula pelos vagões, se atira no chão e passa por baixo das pernas de quem viaja em pé. Jakeline se orgulha de não botar Eshiley para amolecer corações e com isso ganhar mais dinheiro. A mãe garante o sustento, a filha vive a infância. Só com os bilhetinhos, a gari chega a arrecadar R$ 60 por dia. O lucro, às vezes, vem às custas de humilhação. “Tu é tão nova, por que não vai trabalhar?”, perguntou um passageiro. “Não vou dar dinheiro para essa gente fumar pedra”, desprezou outro. Ela se defende das acusações e garante não ter vergonha de mendigar. “Prefiro pedir do que roubar”, orgulha-se. (*) O nome do entrevistado foi alterado para preservar sua identidade
que deu uma nota de R$2 ao pedinte, costuma ajudar os necessitados a cada viagem de trem. Entre tantos que atravessam os vagões contando casos e clamando ajuda, dá uns trocados ao menos para um. “ A pessoa que me toca, eu dou”, confessa. Para a senhora, a Trensurb se precipita ao impedir que a população estenda a mão a seus semelhantes. A viagem seria cansativa só pela quantidade de gente em pé, mas o calor derretia o ânimo dos passageiros. Pendurados pelas barras de ferro, não Rodrigo Jankoski conseguiam distinguir de onde vinha a voz que insistia em dar “bom dia”, mas perceberam que havia algo errado quando outra voz, bruta e masculina, se sobressaia a cada investida da primeira. “Senhores, não deem dinheiro para essa mulher!”, gritava a segunda voz. A mulher era uma senhora franzina, cabelo preto e pele escura, que tentava vender balas no trem. O homem que a impedia de falar era um segurança forte e gordo, que faz patrulha na estação Mercado, em Porto Alegre, mas seguiu a vendedora até dentro do trem ao ver que ela portava mercadoria. A cada vez que a mulher levantava a voz para oferecer as balas, o homem a interrompia. “Não deem dinheiro para essa mulher!”, exigia. Surpresos com o bate-boca, os passageiros caíram na gargalhada. Apesar de xingar a vendedora, o segurança acabou tirando dela a culpa pela situação. “Eles (os vendedores) estão aqui porque os passageiros fornecem dinheiro. Se a fonte secasse, eles iriam embora”.
A voz rasgada e desafinada, seguiu cantando e tocando o instrumento. Agora, arriscava uma composição própria. “Eu sou o personagem principal dessa história/ História que você ignora e finge que não vê/ De uma gente que luta/ Simplesmente sou mais um garoto de rua” A trouxa de pano permaneceu vazia. Diante da indiferença dos passageiros, o homem silenciou o violão, sentou no banco e desembarcou na estação Sapucaia.
MOEDAS E OFENSAS Segurando uma sacola plástica com seus pertences, um homem de olhos pequenos e aparência humilde fazia cara de desespero ao pedir aos passageiros que o ajudassem com dinheiro para comprar remédios. Exibia para quem quisesse ver uma receita rabiscada de recomendações médicas para provar que a lista era grande “Preciso juntar noventa e um reais e quarenta e cinco centavos. Peço a ajuda de vocês “, implorava, enquanto andava de um lado para outro do vagão com o papel estendido à sua frente. “Por favor, por favor”, insistia. “Já tenho sessenta e dois reais, mais dois reais da moça ali”, disse, apontando para uma senhora que lhe estendera uma nota. De acordo com seus cálculos, faltava pouco para chegar aos R$91,45 necessários para comprar todos os itens da lista prescrita pelo médico. Para isso, bastava a boa vontade dos viajantes. Encostado na parede do vagão, um passageiro de semblante zangado
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GERAL
Juventude refém do tráfico
A desigualdade social faz com que cada vez mais cedo jovens cometam atos infracionais Thais Ramirez
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les ainda estão em fase de crescimento, aparentam ser jovens comuns. Com tatuagens e histórico de uma vida a margem da lei, são adolescentes com mais de 12 anos e menos de 18 que já cometem atos infracionais. Dentre os crimes mais frequentes estão furtos, roubo e tráfico. Logo na entrada do Centro de Internação Provisória Carlos Santos (CIPCS), estava um casal de pais de um dos internos, com uma expressão de ansiedade e aflição. Era o segundo dia do filho na unidade e o primeiro dia de visita da família. Além de ser acusado de roubo, o jovem foi visto armado na hora do ocorrido, o que pai acredita que é mentira, como conta, “ele estava em uma festa com os amigos quando um deles roubou um carro, onde meu filho entrou junto”. Segundo Mauricio Pozolo, diretor do CIPCS, o motivo do ingresso dos jovens são o meio onde eles vivem. “A maioria dos adolescentes está dentro de uma periferia, são poucos os que têm uma boa estrutura familiar. No primeiro momento sempre falam de arrependimento, que se pudessem não voltaria para isso, às vezes existe a vontade de mudar, mais onde o sistema os devolve, é o que pode causar a reincidência”, conta. Na Fundação de
Atendimento Socioeducativo (FASE), os menores recebem atendimento psicológico, psiquiátrico, assistente social, dentista e escolarização. Mas Pozolo acredita que quando eles saem da FASE irão retornar sempre para o mesmo meio da convivência deles, onde não vão ter limites, onde talvez eles não irão ter a oportunidade de uma assistência. O diretor ainda ressalta que hoje o maior índice de internação é o tráfico e o assalto, que está sempre vinculada à situação de crime organizado que atualmente passa o Brasil, onde poucos escolhem o crime por conta própria. “Eles estão vinculados a uma comunidade ou facção criminosa, e o perfil deles mudou bastante, antes chegavam e na hora da entrevista do ingresso, quando perguntado se pertenciam a algum grupo ou facção, sempre diziam que não. Mas hoje eles se orgulham de dizer que pertencem a elas, então já chegam aqui dizendo a qual eles fazem parte.” Aqueles que voltam para cumprir novamente uma medida de internação, na maioria das vezes, o seu crime vai aumentando de grau, ficando pior. Começa por furto, depois passa para roubo e quando se percebe, o jovem acaba se vinculando ao tráfico. Assim, tendo múltiplos reingressos, voltam cada vez mais revoltados ou com mais dificuldade. Isso pode ser devido às questões de
hierarquia dentro das facções, como relata Pozolo: “Na rua eles são, por exemplo, um gerente, tem mulheres, dinheiro e moral, e aqui dentro eles só vão ser mais um”. O jovem que é internado será incluído em um sistema de educação, no qual vai participar de oficinas, sendo tratado como um adolescente, que de fato ele é. A Superintendência dos Serviços Penitenciários (SUSEPE), leva até a FASE maiores de idade, entre 18 a 21 anos, que cometeram um novo crime nas ruas, mas que ainda possuem penas que estão pendentes no sistema da FASE. Esses casos acontecem geralmente quando o jovem foge da unidade, interrompendo o seu período de internação. Dependo da sentença do novo crime ele cumprira a pena na FASE e o restante será terminado na penitenciaria.
REFÚGIO DAS RUAS A assistente social da CIPCS, Janete Oliveira, relembrou da história de um jovem que sua equipe atendia, que tinha na sua primeira entrada 12 anos, mas era franzino com aparência de 7 a 8 anos. Ele reingressou várias vezes, cometia atos infracionais para voltar a fundação, que era onde ele tinha afeto, atenção, limites, realizava atividades, tinha bons alimentos e cuidados médicos. Entre suas passagens, em uma delas,
sua sentença foi cumprir a semiliberdade em Novo Hamburgo, onde fugiu e cometeu uma infração para voltar novamente à unidade Carlos Santos. Até que um dia, entre essas idas e vindas pelas ruas, ele foi assassinado com um tiro nas costas, como conta a assistente social emocionada. “O corpo dele foi encontrado, no seu celular só havia dois contatos, o de uma ONG que o atendia e o da Unidade Carlos Santos.” O aumento do número dos jovens neste mundo do crime preocupa as autoridades, como o Promotor de Justiça da Promotoria da Infância e da Juventude de Porto Alegre, Dr. Julio de Almeida, que comenta sobre o que levam os jovens a buscar esta vida, ” O principal problema é a falta das políticas públicas, pois o mundo criminal da uma aparente facilidade e superioridade de vida e hoje se não temos o Estado na região, o jovem acaba tendo que se defender pela força individual ou pela força do grupo e em regra esse grupo é o criminoso”. O promotor ressalta que se trata de um problema muito complicado, dizendo “eu posso ter a melhor instituição de cumprimento de medida sócio educativa do mundo, mas se eu não tiver uma retaguarda social, como saúde, educação, segurança, dignidade, lazer, tudo o que a constituição garante, o jovem evidentemente vai estar mais suscetível ao crime”.
WILLIAM MARTINS
Na área de convivência, os internos jogam bola
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FOTOS DE WILLIAM MARTINS
Internos realizam oficina para fabricação de sabonete oferecida pela unidade
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Eles estão vinculados a uma comunidade ou facção criminosa, se orgulham de dizer que pertencem a elas, então já chegam aqui dizendo a qual eles fazem parte” Maurício Pozolo Diretor do CIPCS
O promotor relata que o adolescente, a pesar da pouca idade, é capaz de discernir o certo do errado. Sendo que a legislação brasileira prevê que a partir do dia que ele completa 12 anos de idade, ele já pode se responsabilizar sobre seus atos. Tanto que com essa idade ele já poderá receber uma medida socioeducativa, inclusive de internação sem possibilidade de atividade externa. Almeida explica que o interno das unidades socioeducativas, normalmente entra com quinta série, com analfabetismo funcional, começando a se vincular numa facção. Mas ao sair, não estarão vinculados no mundo das drogas e provavelmente sairão com alguma profissionalização, com dois ou três níveis de escolaridade superior. O grande problema é que o jovem que ganha R$ 2 mil por semana traficando ou ganha mais assaltando, dificilmente que ele vai se submeter a trabalhar para seu futuro, se submetendo a uma carga de oito horas, para ganhar um salário mínimo. “Quem nasce rodeado pelo crime, vendo os pais neste caminho,
acaba achando lícito este mundo, e é este conceito de normalidade que tem que mudar e só mudará com o Estado lá dentro. Quando o jovem não precisar mais “Da proteção do traficante ou da zona de bloqueio”, tendo sua segurança garantida, evitando que busque essas medidas ilícitas”. Os internos da unidade Carlos Santos são separados nos dormitórios por idade e tamanho. Durante os intervalos das aulas, eles utilizam uma área de convivência onde podem jogar futebol, pingue pongue e usufruir da biblioteca. Os que tem bom comportamento podem realizar oficinas disponíveis na unidade, ministradas por voluntários. As oficinas disponíveis são de pintura, velas e sabonete. Onde as peças fabricadas podem ser entregues para seus familiares nas visitas ou vendidas em feiras realizadas fora da unidade. Os sabonetes fabricados são usados pelos próprios internos na hora da higiene pessoal.
DO CRIME À SENTENÇA O Departamento especializado na criança e no adolescente (DECA) serve tanto para crianças e adolescentes vítimas como para menores infratores, atuando em Porto Alegre com quatro delegacias. Quando o adolescente pratica um ato infracional na rua ou na escola ele pode ser aprendido pela Polícia Militar ou por qualquer outra pessoa que possa trazer até a delegacia. Pela manhã, Eduardo* recém tinham chegado no departamento, com seu comparsa, maior de idade. Eles roubaram uma caminhonete armados e após rendidos pela Polícia, foram encaminhados para o DECA, onde lá foram reconhecidos pelas vítimas que estavam presentes no local. Logo na chegada o jovem de 17 anos é cadastrado no sistema, segundo a Delegada Plantonista Dra. Eleonora Ronchetti Xavier, o cadastro é feito pela impres-
AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS - Advertência: geralmente é dada para casos leves, como roubo sem armas. - Obrigação de reparação de danos: é quando ocorre pichação ou danos aos patrimônios, onde ele devera restaurar o objeto danificado, mas segundo o Promotor, nesta medida o jovem não poderá ter acesso a nenhum elemento que possa ser prejudicial a sua saúde, assim a medida podendo ser revertida. - Prestação de serviço à comunidade: entre alguns de seus atos, se enquadra dirigir sem habilitação e lesão corporal leve, assim sendo definido no ECA, que o menor deverá realizar tarefas gratuitas por período de seis meses. - Liberdade assistida: segundo o Art. 118. “Será adotada sempre que se afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente, a liberdade assistida será fixada pelo prazo
mínimo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor.” - Regime de Semiliberdade: Serve para situações de roubo sem armas ou tráfico de entorpecentes, nele o jovem poderá realizar atividades externas durante o dia, estudando e trabalhando, mais deve voltar à noite para a unidade. Medida essa que pode ser regredida ou substituída, conforme comportamento do jovem. - Internação: Quando jovem cumpri sua medida dentro de uma unidade, podendo ou não ter atividades externas. Como no Art.121. “Constitui medida privada de liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento”. Esta medida é reavaliada a cada seis meses, podendo durar até três anos.
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são digital, pois muitos quando chegam mentem seu nome ou não revelam. Após é realizada uma revista, tendo como objetivo, verificar se o adolescente ainda não esconde drogas e para recolher piercings, colares, cadarços e demais utensílios que possam ferir sua integridade física. A família é comunicada do ato, conforme manda o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). É realizada uma conversa entre a defensora pública e o jovem. Em seguida ele é levado para o Ministério Público para o seu julgamento, na primeira hora da tarde, e aguarda o restante do dia na sala de custodia localizada no DECA, onde no final da tarde sai seu julgamento e dependendo da sentença é encaminhado para a FASE. (*) O nome do entrevistado foi alterado para preservar sua identidade
ESTATÍSTICAS DA FASE l Aos 12 anos Internos: 0,1% Principal Ato: Roubo- 0,17% l Aos 13 anos Internos:1,2% Principal Ato: Roubo- 0,51% l Aos 14 anos Internos:: 3,7% Principais Atos: Roubo-2,45%, Tráfico-0,68%, Porte Ilegal de Armas-0,51% l Aos 15 anos Internos: 9,5% Principais Atos: Roubo-5,83%, Tráfico-1,35%, Homicídio-1,01%, Porte Ilegal de Armas-0,68% l Aos 16 anos Internos:22,4% Principais Atos: Roubo 9,88%, Homicídio-2,96%, Tráfico-2,62%, Tentativa de Homicídio-1,60% l Aos 17 anos Internos:: 33,3% Principais Atos: Roubo-15,79%, Tráfico-4,81%, Homicídio-4,81% Fonte: FASE (dados divulgados de maio a novembro de 2015)
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GERAL
Um problema contemporâneo
Entre 2005 e 2013, mais de 4.500 jovens tentaram suicídio no Rio Grande do Sul Saimon Bianchini
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eja na imprensa, em casa, nas escolas ou no círculo entre amigos, o suicidio , ganha espaço silenciosamente. O ato tem números crescentes no país, e o Rio Grande do Sul é um dos líderes nesta estatística que, para muitos, segue sendo um tabu. Segundo pesquisas recentes, o panorama está modificado. No passado, o índice era maior entre pessoas mais velhas. Hoje, os números aumentam entre jovens, adolescentes e até mesmo crianças. Os motivos são conhecidos, mas pouco explorados pela dificuldade de trabalhar o assunto. Em território nacional, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), três brasileiros por hora tentam o suicídio. Um deles consegue. Em números o país é oitavo desta lista. De 2008 a 2012, o Rio Grande do Sul registrou 5.530 casos. Para o psiquiatra Nelson Lemos, especialista no tema, e que trabalha no Instituto Forense, o número elevado é devido a diversos fatores. “Nós temos uma colonização europeia diferenciada. De franceses, alemães e italianos. Essas civilizações criaram uma cultura em que nada poderia dar errado”, analisou Lemos. O psiquiatra, Ricardo Nogueira, coordenador do Centro de Promoção da Vida e Prevenção ao Suicídio do Hospital Mãe de Deus, alerta para algo ainda mais alarmante. Entre os jovens, os números aumentam. Segundo o Centro de Informações Toxicológicas (CIT), somente por autointoxicação, no período entre 2005 e 2013, 4.658 crianças e adolescentes no Estado tentaram o suicídio. Nas jovens, o suicídio é a principal causa dos óbitos. Entre os meninos é o terceiro no ranking. “Nas meninas tudo é mais precoce do que nos meninos. Cada vez com uma idade menor, elas estão tendo vida sexual ativa, além do uso de álcool e drogas. Isso acaba gerando gestações precoces. Meninas de 14, 13 e até de 12 anos. Cerca de 30% das jovens usuárias de drogas tentam o aborto. Não conseguindo, tentam o suicídio. As principais causas são a utilizações de álcool e drogas. O suicídio está associado à depressão, utilização de álcool e drogas, transtornos de personalidade, ansiedade e escurecia”, ressaltou.
ser suicida? O primeiro passo é buscar a comunicação com o próximo. “Às vezes, as pessoas ao redor não percebem alguns sintomas. O ato suicida é um algo bem planejado e que muitas vezes ocorre porque a pessoa não foi percebida pela família como doente, e em algumas ocasiões, são tidas como capazes de enfrentar tudo, e chegam em situações de vida, internas ou externas, que fazem com que esse indivíduo não consiga evitar. Então é papel da família acompanhar seus entes “, disse o psiquiatra Nelson Lemos.
O contato com familiares é fundamental para descobrir tendências suicidas.
Tabu na imprensa
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É um papel social do Jornalismo buscar ser esclarecedor”
São poucos os casos noticiados nos grandes veículos de comunicação. Quando ganham espaço são casos de famosos. Para muitos, a falta de matérias sobre o assunto acaba gerando um tabu ainda maior sobre o tema. Mas para ambos os Flávio Porcello especialistas consultados é necessário cuiJornalista dado na abordagem do tema. Casualmente, Lemos chegou a cursar Jornalismo paralelamente ao curso de Medicina, mas não conseguiu concluí-lo. A divulgação tem tão se criou um cuidado ao tratar desse tema que seguir alguns conceitos, afirma. nas redações. Não tem comprovação cien“Falar sobre suicídio, que é uma coisa tífica sobre isso para impedir a divulgação. normal e corriqueira, é algo que tem que Nunca ouvi, pelo menos. O jornalismo não ser comum. Isso não vai incentivar nem é o dono da informação. Nas redes sociais se mais e nem menos. Se uma pessoa, que publica tudo. Muito antes da perícia ou a imestá pensando em se matar, lê no jornal prensa chegarem”, acredita Porcello. que alguém se matou, não vai deixar de Para o professor, é papel social do jornapensar nisso, nem se estimular. Se a mídia lismo buscar esclarecer os fatos. E como a respeitar os limites éticos, eu não vejo pro- questão é algo que está presente na sociedablema algum”, avalia Nelson Lemos. de, então logo, precisa ser reportado. Flávio Porcello, jornalista, professor da “Todos estando informando, o jornalisUniversidade Federal do Rio Grande do Sul mo não tem como omitir. O jornalista acaba e membro do Conselho de Ética do Sindicato sendo a fonte oficial. O suicídio é uma morte dos Jornalistas Profissionais do RS, acredita evitável. Não defendo que se divulgue, não que é função do repórter abordar o assunto, defendo que se esconda. É um problema seguindo praticamente linha social dos órgãos públicos. É semelhante aos especialistas. um papel social do JornalisÍndices de “Tema controverso. O Jormo buscar ser esclarecedor. suicídios entre nalismo trata com cuidado, Tratar sobre essa questão ajuda os jovens pois, muitas vezes, baseou-se a sociedade a lidar com esse aumentam no estímulo de mais casos. Entema”, conclui Porcello.
O que fazer Para alguns, as dificuldades parecem ser simples de serem resolvidas. Para outros, tudo acaba gerando inúmeros problemas e empecilhos. Isso tem explicação, segundo o psiquiatra Nelson Lemos, e está diretamente ligado à personalidade das pessoas e situações do cotidiano de cada um. “O primeiro plano a ser pensado é a baixa resiliência, que é a capacidade que a pessoa tem de enfrentar problemas que a vida lhe apresenta por questões biológicas, ambientais e psicológicas. Essa tríade basicamente é a responsável para a pessoa que a vida não vale a pena e a que a morte, naquele momento, passa a ser uma situação que lhe traga conforto e ausência dos problemas que a vida apresenta”, comenta. Os especialistas recomendam que quem sofre de depressão ou baixa resiliência procure ajuda médica. Quem notar que alguém enfrente tais situações deve procurar ajuda.
Ivan Júnior
As causas Para ambos especialistas, os sintomas são os mesmos. O mais comum é a depressão. Segundo Lemos, 15% das pessoas que sofrem com a doença pensam em cometer suicídio. Os médicos também destacam que pessoas que têm em seu histórico familiar de atos suicidas, também estão propensas no grupo de risco. Mas em dias tão corridos como os atuais, como notar que alguém pode
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GERAL
Recursos tecnológicos auxiliam na aprendizagem
EJA DÁ OPORTUNIDADE DE RECOMEÇO PARA ALUNOS Silvana Beatriz da Silva, 49 anos, já foi aluna da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Incentivada por suas filhas e pela família da casa em que trabalhava de doméstica retomou os estudos. Alguns alunos se formam e não vão além, mas ela resolveu não parar por aí. Deixou suas filhas em São Lepoldo e mudou-se para Porto Alegre para concluir os estudos. Hoje ela é formada técnica em enfermagem, e cursa o primeiro semestre de Assistência Social na Unisinos. Silvana conta que abandonou os estudos aos 12 anos, quando iniciou sua vida profissional. Vanisse Ruppethanl, da escola Otávio Rocha de Estância Velha, diz que o motivo de Silvana é um dos mais comuns entre os alunos do EJA. A técnica em enfermagem conta que não se arrepende de voltar a estudar. Agora pretende estudar e fazer o ENEM para conseguir uma bolsa, pois, devido a sua atual situação financeira, faz apenas uma cadeira. (Daniela Gatelli) hvaldez1 / FREEIMAGES
Juliana da Silva Vargas
Quadro interativo colabora no processo educacional
Escolas recorrem às novas tecnologias como aposta na educação Juliana da Silva Vargas
O
s avanços tecnológicos modificaram as demandas da sociedade, causando impacto em diversas áreas, inclusive na educação. Entretanto, as tecnologias não estão distribuídas de modo igualitário a todas escolas. Gravataí é um exemplo deste
contraste. No colégio particular Dom Feliciano, os alunos possuem quadros interativos em todas as salas de aula. Os cursos de idiomas também utilizam das tecnologias. Emili Dalpiaz é professora de inglês e proprietária da escola Fun English, que possui um quadro interativo. Porém, ela lida com realidades totalmente distintas. No ensino público, ela
conta com poucos projetores e apenas um quadro interativo para atender a grande demanda. “O avanço tecnológico veio para garantir maior eficácia na atuação do professor, fortalecendo o ensino e proporcionando melhores resultados na aprendizagem”, afirma o pedagogo, especializado em psicopedagogia, Francisco Costa.
BILÍNGUES TÊM MAIS CHANCES DE CONTRATAÇÃO
Mais educação COMO suporte aos alunos
UNITEC INCENTIVA INCUBAÇÃO DE STARTUPS
Atualmente o conhecimento de uma segunda língua está abrindo portas de emprego. A estudante Mariana Chaves, aprendeu inglês sem frequentar uma escola. A professora Letícia Kohhman diz que há benefícios ao saber um novo idioma. A evolução de um adolescente em aprender o inglês é notável desde que gere interesse. “Durante um ano de estudo do novo idioma já se nota uma diferença significativa”, conta Letícia. Em 60% das vagas você precisa falar inglês em qualquer entrevista: “Em empresas multinacionais se você não fala o idioma, você já está fora”, diz Letícia. Muitos jovens no Brasil não têm chance de aprender um novo idioma e acabam perdendo o emprego. A adolescente Mariana que não têm condições financeiras, ela aprende inglês ouvindo músicas de seus artistas favoritos. “Já coloquei em currículos que não tenho inglês e fui descartada”, relata a jovem. (Juliana Henzel Peruchini)
Há alguns anos, o Governo Federal criou o Mais Educação, um programa no qual crianças têm o direito de ficar o dia todo na escola. O projeto é destinado para as séries iniciais e adolescentes. De primeira à quarta série são feitas oficinas e há um tempo para as atividades escolares. Para os alunos da quinta série em diante, também há práticas de esportes e informática. Em diferentes escolas os alunos podem escolher quais atividades desejam praticar. Foi o caso dos judocas da Escola Municipal Maria Lygia, que colecionam medalhas por todo o pais. E, anos depois voltaram a escola para darem aulas. Os pais ficam tranquilos sabendo onde os filhos estão. Assim foi com Sandra Martins, que deixa a neta o dia inteiro na escola. “Ela fica o dia todo na escola, eu gosto muito do tratamento dos profissionais com os alunos” diz. (Milena Ferreira)
A incubação é importante numa conjuntura onde dificuldades burocráticas se impõem pra quem já está comprometido em fazer um bom produto ou serviço. Nesse contexto, empresas do ramo tecnológico podem ser incubadas na Unitec, unidade da Unisinos que “fomenta, planeja e realiza inovação”, segundo nota institucional. A unidade também visa o desenvolvimento regional e matura empresas. A reportagem conversou com os rapazes da Micromos Engenharia, empresa incubada na Unitec desde 2014, que presta serviços de engenharia eletrônica. Auxílio no planejamento empresarial e a relação criativa com uma empresa de software vizinha foram pontos positivos da condição. Em contraposição, devido a uma concepção equivocada de concorrência, muitas empresas se fecham, complementa Ânderson Ignácio, técnico de sistema e aluno de engenharia eletrônica da Unisinos. ( Victor Dias Thiesen )
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CIDADANIA
A perfeita imperfeição dos animais
Assim como seres humanos, animais com deficiência também levam uma vida normal VERIDIANA FREITAS
Daniela Tremarin
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perda de membros, paralisia, cegueira e surdez são algumas das deficiências congênitas ou adquiridas por cães e gatos. Na maioria das vezes, os donos abandonam ou sacrificam esses animais, por acharem que o cuidado com eles irá gerar despesas e trabalho dobrado. Porém, suas imperfeições apenas os tornam mais afetuosos e muitas pessoas acabam adotando os animais deficientes, justamente por ver a perfeição no politicamente imperfeito imposto pela sociedade. A Tuca e o Alemão não se conhecem. Mas as histórias de vida desses animais compartilham o mesmo sentimento: amor. A Tuca foi adotada pela Veridiana e o João em uma feira, na cidade de Sapucaia do Sul. Já o Alemão, depois de ser devolvido inúmeras vezes para o Canil Municipal de São Leopoldo, foi adotado pelo Gaspar e a Vanessa.
TUCA - SOBREVIVENTE CHEIA DE ENERGIA A Tuca é uma vira-lata de porte médio, que leva à loucura seus novos irmãos Luli e Fifo. Os pais org u l hosos são a professora Ver id ia na Freitas L a ra e o ma r ido João Henrique Christmann. “Adotamos a Tuca ainda filhote em uma feira de adoção em Sapucaia do Sul. Quando olhamos para ela e percebemos que não tinha uma das patinhas nós tivemos certeza que queríamos ela”, disse Veridiana. “Nós sabíamos que os outros animais na feira teriam a oportunidade de ser adotados, mas ela, talvez, passasse o resto da vida em abrigos”, completou o marido João. A história da Tuca começa triste,
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Nós sabíamos que os outros animais na feira teriam a oportunidade de serem adotados, mas ela, talvez passasse o resto da vida em abrigos” João Henrique Christmann Dono da Tuca
Mesmo com deficiência, Tuca é uma campeã assim como a de outros animais abrigados. Ela foi atropelada e abandonada para morrer, mas conseguiu superar essa batalha e a recompensa veio rápido. Apenas dois meses depois do
acidente Veridiana e o marido levaram a pequena para casa. Hoje, Tuca já tem um ano e participa de corridas. A última foi em Porto Alegre, a 1ª Corrida Beneficente Vai Totó, criada
Seja diferente e adote já um animal deficiente! Em São Leopoldo, a Secretaria de Proteção Animal (Sempa), vem realizando um trabalho árduo para dar uma nova casa para os animais portadores de necessidades especiais que vivem no Canil Municipal da cidade. “Já tivemos algumas adoções no nosso canil. Atualmente, temos apenas seis animais deficientes, um número pequeno comparado aos quase 300 animais que abrigamos”, afirmou o médico veterinário da Sempa Francisco Padilha. Animais com qualquer tipo deficiência, ou não, precisam ser amados e respeitados. Na maioria das vezes, o preconceito e a falta de informação faz com que eles sofram com a rejeição. Ao contrário do que muitos pensam, animais deficientes podem viver normalmente e com boa qualidade de vida. A protetora de animais da cidade
de Novo Hamburgo, Carla Dias, afirma isso. “Cachorro, gato ou qualquer outro tipo de animal de estimação é igual ao ser humano, ele quer ser amado, precisa desse carinho. Eu, como protetora, amo todos os que estão e já passaram por mim, incondicionalmente”. É claro, animais com necessidades especiais requerem maiores cuidados. “É preciso, muitas vezes, adaptar a própria casa para recebêlos”, acrescentou Carla Dias. Ser diferente é normal, não existe nenhum problema com animais portadores de deficiência. É necessário ter consciência que cães como a Tuca e o Alemão existem em todos os lugares do mundo e podem levar uma vida normal se adotados por famílias dispostas a darem toda a atenção necessário para um animal de estimação com ou sem deficiência.
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para arrecadar doações para abrigos da cidade, onde a Tuca deu um show de superação. “Ela realmente correu os dois quilômetros do percurso e deu uma verdadeira canseira em nós”, destacou Veridiana, a mamãe orgulhosa.
ALEMÃO SÍMBOLO DE INCLUSÃO Gaspar Scangarelli e Vanessa Herter se sensibilizaram com a história do cachorro A lemão, que passou anos da sua vida pulando de casas em casas e sempre retornando para o Canil Municipal de São Leopoldo por causa da sua deficiência. A vida de Alemão mudou quando o casal Gaspar e Vanessa conheceram sua história. Na hora eles decidiram adotálo. O que ninguém sabia, até a hora da adoção, é que tanto Gaspar quanto Vanessa são surdos e professores da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Eles entendem muito bem como é conviver com o preconceito da sociedade. Adotado em 2015, o Alemão ganhou um irmão cachorro e dois irmãos humanos para brincar. “Quando o adotamos, sabíamos da sua condição e foi uma novidade, porque só tínhamos tido cachorros normais. Agora estamos ensinando para ele a língua dos sinais, como ele é muito afetuoso e inteligente não temos problemas”, destacou Scangarelli.
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Cidadania
A favor de outras vidas
Projeto Focinhos de Rua cuida de animais abandonados pelas ruas de São Leopoldo Fernando Campos
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onstantemente acontecem discussões acaloradas nas redes sociais sobre aborto, pena de morte e direitos humanos. Sendo que, uma das frases mais ditas por alguns internautas é ‘eu sou a favor da vida’. Mas será que essas pessoas são a favor de todas as formas de vida ou apenas uma? Já que, pelas ruas, é possível ver diariamente vários animais abandonados. Sendo que os recolhidos esperam meses para serem adotados. Portanto, a pergunta que fica é: onde estão essas pessoas a favor da vida para permitirem que animais fiquem nesse estado? Por isso, o projeto Focinhos de Rua foi criado, para cuidar de outras vidas que também precisam de carinho. A iniciativa atua em São Leopoldo e é comandada por três mulheres: Cacá Rhoden, Gabriela Ancheta e Paola Rodriguez. Apesar de serem as responsáveis, elas destacam que também recebem ajuda de vários voluntários e parceiros. Antes do projeto, as amigas já trabalhavam como voluntárias para algumas ONG’s. Elas divulgam seu trabalho através das redes sociais. Segundo elas, o grande objetivo dessa interação pela internet é ver as famílias que desejam adotar os cachorros e também receber avisos de pessoas sobre bichos precisando de cuidado.
DIFICULDADES ENFRENTADAS
FORMAS DE 3 dias sem atendimento veterinário. EnRedenção, em Porto Alegre. LembranCONSEGUIR RECURSOS tão nós a recolhemos, tratamos e, hoje, do que todo o lucro é revertido para o ela está com uma nova família consvalor gasto com o material e a causa aniDiante desses problemas e a neces- mal, portanto sem fins lucrativos. ciente e comprometida”, relata. Todo o processo de adoção é feito sidade em captar recursos financeiros, Mesmo com tantas dificuldades, as code forma legal. Os animais são doados as meninas buscaram algumas formas mandantes da iniciativa sempre destacam mediante assinatura de Termo de Res- de obter dinheiro, como o pedido de o quão bem esse trabalho faz para elas. doações por depósito Gabriela Ancheta diz que se sente a pessoa ponsabilidade e, na bancário ou pessoal- mais feliz do mundo. “Me renova todos os maioria dos casos, mente. Também acei- dias”. Já Paola destaca que, por vezes, tem entregue na casa do tam doações de jornal, que pagar do próprio bolso alguns proadotante para vericobertas, casinhas, po- dutos, para não perder credibilidade com ficação do local. Nas tes, ração, vermífugo e clínicas veterinárias parceiras. Ela confessa semanas seguintes vacinas. Doações em que já pensou em desistir. “É um sentid a ado ç ão, umas dinheiro são captadas mento que todo protetor já teve, desânimo, das fundadoras faz através do Cofrinho decepção com o ser humano, mas quando o acompanhamenSolidário, que é dis- olhamos para aquelas carinhas inocentes to. Se for atestado tribuído no comércio que precisam da gente mais do que tudo que a família não é local, ou também por na vida deles, é um incentivo para seguir mais cômoda ao cão, campanhas divulgadas lutando a cada dia para conseguir encaimediatamente ele é no Facebook. recolhido de volta. minhá-los para bons lares”, conta. Outra maneira Paola explica tamMuitas pessoas gostam de expor suas encontrada para ar- opiniões, transmitir mensagens e comenbém que, além de ter recadar fundos é pela tar sobre vários assuntos. Mas no mundo de orientar donos nevenda de produtos, de hoje, o necessário são cidadãos menos gligentes, há dificulcomo guias, pelúcias e falantes e mais atuantes. Assim como o dades diárias como roupas para cachorro. Focinhos de Rua, existem vários projetos buscar locais para Paola Rodrigues Portanto, o Focinhos que ajudam animais abandonados, criananimais que precisam Organizadora do de Rua está presente ças carentes, e outros grupos que precisam de isolamento, abriFocinhos de Rua toda a semana na Fei- de assistência. Além de estar ajudando gos específicos para rinha da Unisinos, o quem precisa, atos de caridade servem felinos e conseguir que ajuda também o para encher a vida de cada um com amor. dinheiro para pagar as despesas veterinárias. Lembra tam- projeto a se aproximar da Como diz Gabriela: “O maior bém que o Focinhos de Rua não é uma comunidade local. Além dom que temos é o de amar Organização ONG, portanto não possui sede oficial ou de expor seus produtos na e respeitar todo ser vivo.” recolhe animais ajuda do governo, dependendo de ajudas universidade, a iniciativa Basta que as pessoas deperdidos nas ruas está presente no Brique da espontâneas e atos de caridade. senvolvam esse dom.
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Quando olhamos para aquelas carinhas inocentes que precisam da gente mais do que tudo na vida deles, é um incentivo para seguir lutando”
ARQUIVO/FOCINHOS DE RUA
Porém, nem todos os animais conseguem receber esse cuidado. Daiane Santos, 20 anos, atendente de supermercado, conta que, certa vez, encontrou um cachorro de rua próximo a seu trabalho. Ao avisar o projeto ouviu que não poderiam pegá-lo, já que não havia vagas. Isso acontece porque o número de locais é limitado, portanto nem todos podem resgatados. São utilizadas para hospedagem ‘casas de passagem’. Esses espaços são de amigos e voluntários que cedem suas casas para receber os bichinhos temporariamente. Atualmente, há uma média de 26 animais aguardando adoção, todos espalhados por lares provisórios. O que ressalta a necessidade de mais voluntários e pessoas dispostas a ajudar. Porém, essa não é a única dificuldade. Paola Rodriguez, que é uma das fundadoras, conta que a negligência, muitas vezes, é um problema a ser combatido. “Fomos procuradas para socorrer uma fêmea que foi doada filhote para uma família. Quando completou 6 meses castramos. Logo depois a cadela foi atacada pelo outro cão da família. Ficou
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CIDADANIA
Música que transforma vidas
Jovem cria projeto para sensibilizar adolescentes vulneráveis em comunidades de Alvorada Ellen Renner
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Ellen Renner
vida dos jovens moradores de periferia pode seguir caminhos diversos. Alguns, em meio às dificuldades, veem o mundo do tráfico ou do roubo como saída. Outros, no entanto, enxergam a oportunidade de ser alguém diferente através de projetos socioculturais, como no caso de Jordi Ericson da Silva Neques, 22 anos, que teve o futuro transformado pela música e busca incentivar pessoas através de um novo projeto, o Som da Periferia. Filho de uma família simples e morador do bairro Tijuca, em Alvorada, Jordi, mais conhecido por Diih, cresceu sem a figura paterna, após os pais se separarem quando tinha oito anos. O irmão mais velho, envolvido com drogas, foi morto em uma tentativa de assalto frustrada. A falta de exemplos positivos no grupo familiar fez com o que o jovem, na época com 12 anos, se espelhasse em amigos que estavam criando um projeto voltado para música.
INSPIRAÇÃO PARA MUDAR Cativado pelos instrumentos musicais desde pequeno, o rapaz resolveu se juntar ao grupo Nação Periférica e, ao longo de cinco anos, aprendeu a tocar percussão, flauta e violão. “Eu me encantei pelo projeto porque ele tinha um protagonismo juvenil. Era o John, o Isac e o William, que tinham 16 anos na época. Eu via eles, meus olhos brilhavam. O que me movia era saber que eu poderia ser um deles. Isso me salvou”, reconhece. No início, o grupo buscava o empoderamento de jovens da periferia através da música, com trabalhos nos bairros Tijuca, Vila Elza, Umbu e Salomé. Mas assim que o projeto foi crescendo, os ideais foram mudando e muitos meninos deixaram de participar. “Mudou a ideologia, o foco. Deixou de ser algo pela comunidade e passou a ser uma coisa externa, ficou meio comercial. Até os próprios criadores saíram”, lamenta Diih. Com a vontade de fazer algo pelo bairro em que cresceu, ele resolveu trazer de volta para comunidade uma atividade que pudesse integrar as crianças a adolescentes vulneráveis durante os finais de semana. O Som da Periferia nasceu da ideia de utilizar a música como elemento de transformação social e de trabalhar a arte em áreas marcadas pelo preconceito, podendo ser um passo para o resgate da autoestima e, simultaneamente, transformando a comunidade envolvida. O objetivo é atender, inicialmente, cem jovens de dez a 18 anos. O programa, que começou no início de abril, também conta com a participação de um ex-integrante e professor do Nação Periférica, o John Silva. Na opinião do percursionista, este é um trabalho de grande importância. “Nosso trabalho não visa uma
quantidade de pessoas, mas sim a proposta de fazer o bem. Nós estamos aqui para tentar dar a oportunidade para jovens que não são privilegiados pelo sistema e apesar de ser uma estrutura precária, nossa essência é verdadeira”, manifesta.
tes. Eles relatam que muitas pessoas veem o trabalho das oficinas de percussão como barulhentos ou coisa de “batuqueiro”. Dona Vera, ao longo das oficinas, deixa bem claro que tudo é questão de cultura. “As pessoas acham que tambor é só coisa de terreiro, mas isso aqui (o projeto) mostra que não tem a ver com a religião africana, e traz também questões culturais”, esclarece. “Os jovens que
Diih viu na música a oportunidade de mudar a sua vida e a de outras pessoas
PROJETO EM PRÁTICA Após uma conversa com dona Vera Silva, idealizadora do Coletivo de Mulheres Onédes da Silva, do qual o projeto é vertente, e dona do espaço em que ocorrem as oficinas de percussão durante os sábados, os envolvidos viram a necessidade de criar algum evento que pudesse gerar verba para comprar materiais. Em fevereiro foi realizada uma feijoada por meio de doações de alimentos e através da venda de 400 convites, no valor de R$5 cada. Na ocasião, estiveram presentes cerca de 200 pessoas. Com o valor arrecadado foram comprados dois surdos, uma malacacheta, um repinique e um tarol, todos usados devido ao alto custo dos aparelhos novos. “Como a feijoada foi feita na rua, chamou a atenção da comunidade. Quem não estava participando veio para ver o que esta acontecendo. Queremos que eles percebam o quanto é diferente, mas que eles podem ter acesso a essa cultura, da raça negra”, explica o jovem. Porém essa é uma visão constante de quem não participa de projetos semelhan-
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O Som da Periferia nasceu da ideia de utilizar a música como elemento de transformação social e de trabalhar com a arte em áreas marcadas pelo preconceito” Diih Neques Percussionista
vêm aqui, vêm para contribuir com um trabalho sociocultural”, salienta. Outra iniciativa, prevista pelas organizadoras Vera e Josi Arruda, será de transformar o Coletivo de Mulheres Onédes da Silva em uma Organização Não-Governamental (ONG), para captar recursos por meio de leis de incentivo à cultura, no intuito de ajudar a comunidade e reformar o espaço utilizado nas oficinas.
PAPEL IMPORTANTE NA COMUNIDADE Além de entender cada instrumento musical, o projeto pretende que jovens das comunidades de Alvorada aprendam a ouvir e a se expressar, para que haja uma interação entre grupos que apreciam a música de percussão e, principalmente, para não deixar que a cultura “morra na cidade”. Para Diih, o trabalho realizado no Som da Periferia será para que os jovens possam se apropriar de uma cultura deles mesmo e que está se perdendo. “Quando a gente ensina música, aquele tambor tem uma história e a nossa ideia é de que ele valorize aquele tambor de uma maneira responsável. E claro, trabalhar com questões vulneráveis. Queremos fazer com que eles gostem de algo, que respeitem aquilo; porque no momento que conquistamos o carisma, que veem que estamos ensinando algo que ele goste, ele vai respeitar, nos ouvir. A ideia é usar a música para trabalhar a vida dos jovens, a cidadania, a prevenção de drogas e doenças, além de assuntos sociais”, garante.
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CIDADANIA
O sonho da música como profissão Orquestras Jovens possibilitam o início de uma carreira para os estudantes
Gabriela Stähler
T
rabalhar com música, principalmente em uma orquestra, pode ser um sonho distante para muita gente. Porém, com os projetos sociais que visam a criação de orquestras, crianças e adolescentes podem aprender música clássica. Seja em Esteio, São Leopoldo ou Porto Alegre, os jovens de escolas públicas aprendem com músicos experientes e recebem até mesmo algumas noções sobre como iniciar uma carreira na área. Em Esteio, os estudantes podem participar da Orquestra Jovem, que faz parte do projeto Criarte, do Programa Integrado de Inclusão Social (PIIS). As atividades acontecem na Casa de Cultura Lufredina Araújo Gaya. Os alunos podem escolher entre viola, violino, violoncelo e contrabaixo. Todos os materiais necessários para as aulas são fornecidos pela prefeitura, os alunos gastam apenas com o transporte até o local. A psicóloga do Centro Municipal de Educação, Cultura e Inclusão Social, Sheila Andrade, conta que há regras para participar das aulas do PIIS. “É preciso ter entre 6 e 18 anos, morar em Esteio e, preferencialmente, ser estudante da rede municipal”, diz ela. Caso sobrem vagas, alunos de outras redes de escolas podem participar.
Iniciando uma carreira na área
ze anos e depois, com a ajuda de um funcionária da orquestra, dois alunos professor, ingressou na orquestra de do projeto já estão no programa de exextensão da UFRGS. Atualmente, ela tensão de música da UFRGS. Enquanto toca na OSPA Jovem. “Considero a alguns seguem no caminho profissioOrquestra de Esteio uma porta de en- nal, outros se desligam do projeto para trada para muitas coisas”, conta. iniciar no mercado de trabalho. Além da Orquestra de Esteio, ouJá em Porto Alegre, há o Conservatras iniciativas levam tório Pablo Komlós, o ensino de música também chamado para crianças e adode Escola de Músilescentes. Um exemca da Ospa. As aulas plo é o projeto Vida são gratuitas, tendo com Arte da Orquescomo público alvo tra Unisinos Anchiecrianças e jovens ta. São 240 crianças entre 8 e 25 anos. beneficiadas, todas Os músicos da Ospa estudantes de escolas dão aulas de diverpúblicas e moradosos instrumentos: ras de São Leopoldo. violino, viola, vioAs crianças que loncelo, contrabaixo, participam do Vida trompete e trombocom Arte têm entre ne são alguns deles. 6 e 15 anos e estão Um dos ex-alunos do em situação de vulprojeto é o músico Ismael de Almeida nerabilidade. Quem Zé Natálio, contraProfessor de música faz a seleção dos baixista do grupo Paalunos é a assistenpas da Língua. te social do projeto. O socióloAssim que ingressam, as crianças po- go Thiago Pires salienta que, muidem escolher entre aprender violino, tas vezes, não há um debate com a viola, violoncelo e contrabaixo. comunidade sobre a criação desses Os alunos fazem apresentações para projetos. Thiago também destaca a a comunidade, ocasião em que podem importância de serem projetos fomostrar as novas habilidades musicais. cados em crianças e jovens de baixa As crianças também se apresentam em renda. “Esses projetos têm um recorte recitais na universidade e em escolas de para quem não tem acesso”, diz ele. O São Leopoldo. Segundo Cinara Beineke, sociólogo não defende excluir jovens
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A música trabalha o indivíduo como um todo. Alguns deles vão se tornar músicos profissionais, outros vão atuar em outras áreas”
de outras classes sociais, mas priorizar aqueles com menor renda.
Os benefícios da música Além do aprendizado e a oportunidade de tocar músicas que gostam, participar de uma orquestra na infância e adolescência tem outras vantagens. “A música trabalha o indivíduo como um todo. Alguns deles vão se tornar músicos profissionais, outros vão atuar em outras áreas. Mas, independente da carreira que seguirem, vão levar as coisas que aprenderam para o resto da vida”, conta o professor de contrabaixo Ismael de Almeida. Para os professores, trabalhar com crianças também é benéfico. “Eles te devolvem toda a energia investida neles. Reconhecem a sinceridade em você e acabam depositando sua confiança”, elogia Ismael. O estudo da música pode beneficiar as crianças e jovens a longo prazo. As crianças que aprendem música desenvolvem a coordenação motora e melhoram a criatividade e a imaginação. O raciocínio matemático também é exercitado, pois é preciso combinar os sons e lidar com compassos. É por isso que, desde o ano de 2012, o ensino de música é obrigatório na educação básica. Para quem quer ir além do básico, o que não falta são entidades interessadas em despertar o amor dos jovens pela música. Gabriela Stähler
Muitos professores da Orquestra Jovem de Esteio tocam em orquestras de forma profissional, como é o caso do professor e regente Ismael Almeida. Além de dar aulas no município, ele é músico e professor na orquestra da Universidade de Caxias do Sul (UCS). Consequentemente, os professores do projeto encorajam os jovens a seguirem na carreira musical. Para o ex-professor de violoncelo da Orquestra Jovem Lucas Duarte, projetos como a orquestra de Esteio são importantes para iniciar uma carreira no ramo. Porém, Lucas observa que esse ramo é concorrido, indicando as orquestras como o melhor caminho. “As melhores orquestras são a da Universidade de Caxias do Sul e a OSPA. O clima lá dentro da UCS é bem familiar, o que favorece para que a música flua”, diz. A violinista Virginia Bedin é um exemplo de quem usou a Orquestra Aula de Jovem de Esteio viola com para iniciar uma o professor carreira. Ela fez Ismael aulas no projeto Almeida dos dez aos quin-
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Cidadania
“Eles aguardam as mulheres da cantina”
Há história entrelaçadas por trás dos muros da Penitenciária Modulada Estadual de Osório Jéssica Trajano
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las cuidam de seus lares, dos filhos e descem ladeira abaixo para sustentar a casa. Carregam nas mãos as marcas de dias exaustivos de trabalho e um olhar profundo de quem sabe demais sobre a vida. Estão lá debaixo do sol forte da manhã. Mulheres de diferentes faixas etárias aguardam - divididas por um muro, algumas esperam para visitar seus companheiros e outras trabalham com eles por trás dos altos portões da Penitenciária Modulada Estadual de Osório. Muitas sacolas colocadas ao lado, algumas com filhos nos braços. O sol ainda nem raiou, mas para elas já começou sagrado: é dia de visita. As histórias que contam são muitas. Carregam o peso de um ‘amor bandido’, mas não se separam de quem leva a vida atrás das grades. Alguns relacionamentos começaram por telefone, outros na comunidade onde vivem. Algo tão natural para algumas que parece passar despercebido o incômodo da revista. As visitas íntimas, por vezes barganhadas, e o contato por telefone cercam a linha tênue em estar acompanhada, mesmo estando só. Muitas questões cercam esses relacionamentos. Algumas estão envolvidas pela proteção que ser a ‘mulher do bandido’ oferece dentro das comunidades onde estão inseridas. Outras não dão fim à relação por ameaça. E tantas tomam o lugar dos companheiros dentro dos ‘negócios’. As mulheres são muito mais companheiras, não abandonam a relação, principalmente se ela já é sólida antes do delito. É o que explica Margareth Bemfica, psicóloga da ONG Catavento, que atende menores infratores. Dentro do sistema semiaberto, a intimidade de um casal se resume ao espaço do alojamento. Uma coberta é o que priva os olhares. O tempo se limita ao fluxo de quantos detentos precisam utilizar o espaço. O horário que vai das 8h às 16h30 pode ser todo para os dois, se tiverem sorte. “Uma mulher para estar aqui precisa ser forte, porque existe a humilhação de passar pela revista. Ela tem que vir com o próprio dinheiro, visitas íntimas são com tempo limitado, trazem os ‘pacotinhos’, não é fácil manter uma relação aqui”, explica Ismael T. Os itens permitidos aos detentos são chamados de ‘pacotinhos’ ou ‘merenda’. Nas visitas, até 15 itens são consentidos por acompanhante, que trazem a ‘cantina’. Questiono as reações da família das companheiras e a risada entrega que a desconfiança é um efeito da prisão. Os relatos são uma desconstrução do que se pode pensar das relações mantidas entre o presídio e o ‘lado de fora’. Realidades tão diferentes vividas dentro de um mesmo mundo.
desconfiança. Vagas que estavam abertas automaticamente fecham. ‘Não estamos precisando de ninguém para nosso quadro’ ou ‘não está dentro do perfil da vaga’, é o que dizem”, desabafa Ismael. A cada três dias de serviço prestado no presídio, se diminui um na pena. São os próprios presidiários os responsáveis por toda manutenção de higiene, alimentação e organização da Modulada. Para ter direito a este benefício, eles precisam “rasgar a camisa”, como são recoESPERA POR nhecidos pelos outros OPORTUNIDADES presos, aceitando trabalhar para a Supe“Eles não são o crime que comete- rintendência dos Serram”, afirma a assistente social Kadi- viços Penitenciários ja Taha, com a experiência de quem (SUSEPE). Nenhuma trabalha há 23 anos nessa realidade. das opções é fácil. “Existe uma ineficiência das políticas “Não dá para quepúblicas que não conseguem atingir rer viver dois munessa parcela da população, que é ex- dos, se estiver aqui cluída e fica exposta à marginalida- dentro e pensando na de. Jovens desamparados são recru- vida lá fora tu enloutados, principalmente, pelo universo quece. Tem que saber Ismael do tráfico de drogas”, contrapõe. separar as coisas, não Apenado A maioria dos homens que encontrei pode ficar lembrando em reclusão está na faixa de 20 a 58 anos da vida que ficou para e não possui Ensino Fundamental com- trás”, conta Sheron pleto. Sobre as oportunidades para uma Stones, enquanto divide comigo um nova vida, me contam que pouco mais sobre sua vida. o mercado de trabalho está Travesti desde os 14 anos As aguardadas fechado para eles. “Hoje, a Sheron, registrada como visitas acontecem primeira coisa que pedem Leandro, entendeu que duas vezes por são antecedentes criminais. para ser respeitada precisemana Sempre vão nos olhar com sava se impor e foi na prisão
É consenso entre eles que a família é a base necessária para se manter bem ali dentro e não voltar a procurar o ‘mundo obscuro’, como enxergam o passado. Esperam a visita com a certeza de ter alguém que ainda se importa, mesmo quando todo o resto da sociedade já não tem motivos para acreditar. Entre esquecer-se de quem realmente são como seres humanos e a certeza de que a assistência governamental é quase inexistente, sabem que o sistema é gerido para voltarem ao cárcere.
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que aprendeu, com 25 anos, ser essa uma questão de sobrevivência.
A HORA DO ADEUS Chega o final do horário de visita e, junto, a proximidade com o contato externo. Enquanto o enlaçar das mãos vai se desvencilhando, se aproximam as despedidas carregadas de ‘depois eu volto’, ‘fique bem’. Cada palavra tem um peso, talvez por coisas que realmente nem sejam ditas, mas fiquem no ar. Todos sabem que o muro que os separa não é só o de concreto, mas logo vem a sextafeira e é horário de visita novamente. Homens que continuam cercados de mulheres, quando suas companheiras atravessam os portões. Aquelas que estão ali para atendê-los, na assistência social, na enfermaria e as agentes do cárcere, também aguardam, enquanto o sol se põe, o momento de partir. Mesmo com o olhar sempre direcionado ao chão, já aprenderam a conviver com elas. No local que é predominantemente masculino, elas transitam com a facilidade de quem conhece cada história por trás daquelas enormes grades.
Uma mulher para estar aqui precisa ser forte, porque existe a humilhação de passar pela revista”
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CIDADANIA
Estranho Mundo S.A.
A situação de refugiados e imigrantes na busca por melhores condições de vida longe de casa Khael Santos
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iver longe de casa não é tarefa fácil. Há quem passe um período de férias longe do lar e já sinta saudade logo nos primeiros dias. O desconhecido, embora desperte a nossa curiosidade, por vezes, nos amedronta. É difícil viver longe da nossa zona de conforto. E essa dificuldade aumenta quando esse afastamento acontece por motivos alheios à nossa vontade. Recomeçar do zero, tentar a sorte em outros lugares por conta de questões políticas, religiosas, raciais, financeira...Refugiados e imigrantes não estão aqui a passeio e buscam novas oportunidades fora de suas raízes. Após conferência da ONU realizada em 1951, ficou determinado que são considerados refugiados “as pessoas que se encontram fora do seu país por causa de fundado temor de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, opinião política ou participação em grupos sociais, e que não possa (ou não queira) voltar para casa”. Ainda são classificados aqueles que foram Curso de língua “obrigados a deixar seu país devido a portuguesa para imigrantes conflitos armados, violência generalizada e violação massiva dos direitos humanos”. De acordo com dados do Comitê Nacional de Refugiados (Conare) do Ministério da Justiça divulgados em agosto de 2015, o número de refugiados no Brasil chega a 8.400. Para chegar nessa condição, é preciso realizar uma solicitação de refúgio junto à Polícia Federal logo após a entrada no país. Quem explica é Karin Weapchowsik, coordenadora do Programa Brasileiro de Reassentamento Solidário para refugiados no Rio Grande do Sul. “A pessoa preenche um formulário e a partir desse momento recebe um protocolo de solicitante que permite que essa pessoa faça o CPF e a carteira de trabalho para que ela já tenha acesso ao mercado de trabalho”, esclarece. O tempo de avalição do processo de solicitação leva em torno de três a seis meses. Trabalhando há mais de 10 anos com refugiados, o programa coordenado por Karin é financiando pela ACNUR, agência da ONU para refugiados que auxilia os recém-chegados na busca de uma nova cidade e de uma fonte de renda para recomeçar a vida em um lugar desconhecido. O local indicado para acolhida é feito de acordo com o perfil da família. “Se alguém tem uma vocação um pouco mais rural ou então rural urbana, uma cidade menor seria o ideal. A cidade nós prospectamos e, então, incluímos essas pessoas de acordo com o perfil delas”. A coordenadora destaca que a estratégia do reassentamento é fazer com que os refugiados sejam integrados e absorvidos na sociedade de maneira
ACNUR/J.TAVARES
tranquila e evitar xenofobia ou qualquer outro tipo de descriminação. Por esses motivos a formação de pequenas comunidades é evitada durante o programa. Trabalho e geração de renda não é dificuldade. Para Karin, o Rio Grande do Sul é sinônimo de esperança de vida, devido ao grande número de postos de trabalho a serem preenchidos. “O migrante ou refugiado não vem roubar oportunidade de ninguém. Pelo contrário. Ele vem ocupar uma lacuna existente na cidade”, diz ela.
O RECOMEÇO EM SOLO BRASILEIRO Vivendo no Brasil há mais de um ano junto com sua família, o colombiano José conta que a adaptação vem sendo tranquila. Em bom 'portunhol', diz que a vinda para cá foi uma oportunidade para se integrar e ser aceito pelas pessoas. Características primordiais para ter “una vida tranquila”. Suas filhas estudam no colégio mais próximo de sua casa. “Elas foram bem recebidas, recebem apoio dos professores e de todas as pessoas da escola”. Apesar da dificuldade inicial, o idioma foi um obstáculo superado. “Escrever e falar em português foi difícil. Mas elas queriam muito aprender, então, se esforçaram bastante e se adaptaram rápido”. O sotaque e a cultura diferente chamam a atenção de quem não está acostumado a conviver. Nem sempre isso é motivo de preconceito. Yuri, conterrânea de José, abre um largo sorriso ao falar que nunca sofreu
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As pessoas se alegram ao escutar um idioma diferente. Temos ido a escolas, pois somos colombianos e querem saber um pouco mais sobre nossa história” Yuri Refugiada colombiana
sequer um tipo de rejeição desde que passou a viver no Brasil. “As pessoas se alegram ao escutar um idioma diferente. Querem falar com a gente. Temos ido a escolas, pois somos colombianos e querem saber um pouco mais sobre nossa história”. Se engana aquele que pensa que a situação dos africanos é a mesma. Karin explica que os senegaleses, figuras que acabaram sendo presença comum em nosso dia a dia, não são considerados refugiados pois eles têm a opção de voltar ao país de origem. Essa distinção em “categorias” só ocorre
no Brasil dentro da América Latina. Nos outros países, todos os estrangeiros são considerados migrantes e encaminhados a programas sociais. “O migrante também sai do seu país por algum motivo, ele tem uma razão. Mas não é uma razão ligada à segurança como é o refúgio.” Esse é o caso de Pape Sané. O motivo que levou o senegalês de 26 anos a deixar sua terra natal é simples: ajudar a família. “Eu vim aqui para trabalhar. No Senegal não tem guerra, não tem problema. Eu vim para cá para trabalhar”, reitera. Legalizado, ele conta com a companhia do irmão e reclama do salário. Pepe trabalha vendendo bolsas no centro de Porto Alegre e, apesar do baixo rendimento, pondera: prefere esse tipo de serviço aos trabalhos pesados ofertados a ele. “As pessoas nos buscam para trabalhos de força, e isso não é bom”, conta. Com certificado de soldador em mãos, depois de realizar o curso em Caxias do Sul através de programas sociais, ele busca uma oportunidade na área de formação. De Caxias vem uma situação curiosa. Questionado se sofreu algum tipo de preconceito na serra, ele responde que não e diz que deixou a cidade por não se adaptar ao frio. “O problema de Caxias é que é muito frio, por isso procurei outra cidade”. Pepe e o irmão pretendem voltar ao Senegal, mas o preço da passagem não os ajuda. Um bilhete para o país africano custa, em média, R$ 5 mil. Enquanto eles não conseguem juntar essa quantia, seguirão por aqui fazendo parte do nosso dia dia.
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Cidadania
Secretaria promove lazer e integração a idosos Atividades contemplam 33 núcleos, reunindo mais de 4 mil cidadãos de Gravataí
Leonardo Ozório
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egunda-feira e disposição são elementos que, para maioria das pessoas, não combinam. Dona Lorena Pereira, contudo, discorda. Aos 80 anos – viúva há 19 -, ela esbanja euforia, compartilhando as novidades do final de semana com as amigas que acaba de encontrar em frente ao salão paroquial da Igreja Santa Isabel, no bairro Castelo Branco, em Gravataí. O relógio marca 8h02min. Ambas aparentam estar entusiasmadas para mais um dia de atividades físicas, promovidas nas comunidades gravataienses pela Secretaria Municipal de Esporte e Lazer. “Gosto bastante de estar aqui e acho legal que sejam promovidos esses momentos de integração entre o pessoal da comunidade. É um formato de lazer que me deixa animada, pois além de cuidar da minha saúde, revejo as amizades e Atividades coloco a conversa ocorrem duas em dia sem precivezes por sar caminhar muito (risos)”, comentou. semana em cada comunidade Assim como dona Lorena, cerca de 30 pessoas são instruídas por um profissional de Educação Física que trabalha exercícios leves como dança e ginástica. Embora conte com parcela significativamente idosa, os espaços são abertos a todos. Coordenadora dos núcleos esportivos da SMEL, a professora Sabrina Dias conta que o projeto envolve, mensalmente, mais de 4 mil cidadãos. A iniciativa contempla 30 bairros do município com aulas de uma hora, duas vezes por semana. Em outros quatro bairros, é implementado o futebol – este restrito às crianças. “É uma ação que a secretaria realiza há mais de 10 anos em Gravataí. Alguns núcleos estão ativos por todo esse tempo. Também temos outros mais recentes, de aproximadamente um ano, e que reúnem até 90 alunos por dia, como é o caso do bairro Itacolomi”, explicou Sabrina. O trabalho é ministrado e planejado por acadêmicos de Educação Física. Além da dança e da ginástica, é desenvolvido o câmbio, popularmente conhecido por newcom – espécie de vôlei adaptado para a terceira idade. Responsável por super visionar o cronograma, Sabrina destaca a promoção da socialização através das atividades: “Muitos idos os chegaram aos núcleos se sentindo exclusos da sociedade. O ambiente proposto por nós e pelas comunidades acaba fa-
Jéssica Beltrame Nunes
vorecendo e articulando ciclos de harmonia. Temos alunos que se encontram fora dos núcleos, em função da amizade construída para festas de aniversário, passeios e outras formas de integração”, contou. Doutor e geriatra, Issao Ymay ressalta a importância dos exercícios físicos e seus benefícios na saúde física e mental do idoso. “É comum que, por muitos motivos, o idoso se sinta isolado. Estando nesta situação, ele necessita de cuidados. Na companhia de um parente ou amigo querido, ele se torna mais feliz e amparado, se alimenta melhor
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O ambiente proposto por nós e pelas comunidades acaba favorecendo e articulando ciclos de harmonia” Sabrina Dias Coordenadora dos núcleos esportivos da SMEL
e fica disposto a praticar atividades físicas. Isso o ajuda a permanecer mais ativo e alegre, evitando com que entre em depressão”, explicou. Os interessados em abrir um núcleo em Gravataí devem procurar pela SMEL, entregando uma lista com, no mínimo, 20 nomes participantes. Também é exigido um local público – como um Centro de Tradições Gaúchas (CTG), uma associação ou um salão paroquial – que tenha água, energia elétrica e estrutura adequada para receber a comunidade e as atividades. Além do mais, cada centro necessita de dois nomes locais encarregados para sua abertura e fechamento. À secretaria, cabe encaminhar um instrutor para comandar as aulas e sugerir até três programações semanais diferentes – segunda e quarta-feira, terça ou quinta-feira ou quarta e sexta-feira –, em dois turnos: pela manhã – entre 08h e 11h – ou tarde – entre 14h e 17h. “Percebemos que o trabalho é reconhecido pelas pessoas que, indep endentemente das condiçõ es climáticas, apresentam disposição para comparecer aos encontros. Eu costumo dizer aos professores: pode estar chovendo canivetes, mas se uma pessoa estiver lá, cedo, em uma segunda-feira e disposta, por exemplo, não vamos deixar de dar aula. Isso é algo muito gratificante e que nos deixa muito felizes”, concluiu Sabrina.
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Aprendizado mútuo Não são somente os alunos que desfrutam do aprendizado desenvolvido por meio e do esporte e do lazer. Graduanda do 4º semestre em Educação Física, a estudante Angélica Souza se responsabiliza pela orientação de quatro comunidades por semana. Assim como ela, outros sete acadêmicos do mesmo curso se encarregam de elaborar um plano de aula que contorne e seja abraçado por todos os núcleos. “Dar aulas para a comunidade é uma alegria imensa para mim. A satisfação de poder levar animação e proporcionar elementos vitais para o ser humano, como autoestima, saúde, bem-estar e convívio social são coisas que, de fato, me deixam muito bem”, revelou a acadêmica. Estagiária remunerada pela Prefeitura Municipal de Gravataí, ela trabalha com núcleos esportivos há pouco mais de quatro meses, tempo suficiente para notar que, mesmo na condição de professora, também recebe ensinamentos e lições de vida. “É uma sensação incrível notar a felicidade no rosto de cada um, através de um sorriso espontâneo. Sinto que, mesmo os instruindo, meus alunos me ensinam muitas coisas. Nos núcleos, conheci histórias de vida que alimentaram não só minha vida profissional como pessoal. São histórias de superação, de fé e de trabalho em equipe”, relatou.
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CIDADANIA
Lutando por um futuro melhor Projeto social de Gravataí facilita o acesso à prática do Taekwondo
Vitória Padilha
C
rianças e adolescentes são inquietos, querem saber tudo e aprendem rápido. A curiosidade os move e o que descobrem nessa fase de formação, levam para a vida toda. Por isso, o conhecimento adquirido e as oportunidades que têm no início da vida são tão importantes. Os alunos da Associação Gravataí Taekwondo Clube, por exemplo, além de terem acesso ao esporte, aprendem a combater o preconceito e a violência. A associação tem como objetivo principal a democratização do esporte. “Não só no sentido de um taekwondo gratuito, mas principalmente de um taekwondo que oferta condições igualitárias da prática para todas as classes de renda, gênero e etnia”, afirma o diretor administrativo e professor, Ruan Martins. Metade dos cem alunos que a associação tem são do projeto Cultivando Sonhos, Construindo o Futuro que oferece professores e materiais de treinamento de forma voluntária para os alunos. Vale lembrar também que tudo usado é igual tanto para os alunos que pagam quanto para os que participam do projeto, o que ajuda para um esporte mais igualitário.
SOBRE A ASSOCIAÇÃO A GTC, como é conhecida, foi fundada em 2013 devido a uma necessidade de renovação do esporte em Gravataí. Ruan Martins, junto com os outros professores Caroline Zanzi, Kalebe Zanini, Roger dos Santos, Rodrigo Leal e Leandro Muniz, que já trabalhavam juntos em outra entidade, entendiam que era importante usar o esporte para avançar em outras pautas. Todos os fundadores da associação já tinham turmas e projetos sociais, então o projeto Cultivando Sonhos, Construindo o Futuro surgiu para englobar tudo. No ano seguinte, a GTC já conquistava campeonatos. Além de ter três atletas na Seleção Gaúcha, ficou em segundo lugar no campeonato do estado e no brasileiro. O sucesso continuou por mais um ano: em 2015, seis alunos faziam parte da Seleção Gaúcha, quatro deles pertencentes ao projeto social.
a avó, a menina tinha temperamento sidade, faz uma pergunta que, no funforte, retrucava muito e falava demais do, é retórica: “Nem morder?”. nas aulas, atitudes que os professores reA avó elogia a relação estabelecida clamavam. A pequena lutadora, com um entre os professores e os alunos. “Nos sorriso tímido, concorda que melhorou. perguntam como é o comportamento Quanto ao desempenho no taekwondo, em casa”, ela afirma. Durante as auela conta que já tem 16 medalhas e é faixa las, a preocupação com o comportavermelha, podendo se formar em faixa mento também aparece. “Quando algo preta até o fim deste ano. “Ela é muito está errado, conversam com eles (os comunicativa, quer fazer tudo, saber alunos), com os responsáveis, se eles tudo. Como no taekwondo, ela sempre não se comportam, ficam uns dias sem quer lutar mais”, conta dona Lúcia. participar dos treinos, eu acho que é A relação dela com a irmã mais nova, uma ajuda pra eles”, continua. Melissa, de cinco anos, igualmente caDO OUTRO LADO minha bem. A pequena também está praticando taekwondo, mas começou Não é só com a vida dos alunos que a por motivos diferentes. Ao contrário da irmã mais velha, Melissa era tímida, GTC mexe. O professor Ruan conta que não gostava de sair de casa e de falar costuma brincar que a Associação traz com outras pessoas, o que deixava dona é cansaço físico e dor de cabeça, mas, Lúcia preocupada. Agora, já na esco- que na verdade, observar a ação dela no dia a dia traz satisfação. “É necessário la, as mudanças se apresentam. Em casa, a situação também está avaliar como ela muda a sociedade, nem melhor. A relação das duas é boa, o que seja numa esfera mínima, local. que é essencial, já que a avó trabalha e Atingindo isso ela já legitima sua exisa irmã mais velha cuida da mais nova. tência. Não posso negar que trabalhar Como agora elas têm essa atividade na Associação é gratificante, dialogar em comum, o esporte ajuda no com- com os temas geradores das comuniportamento. Agatha e Melissa são mais dades é de um sentimento desafiador parceiras, existe mais assunto entre as impressionante”, afirma ele. Apesar de irmãs e as conversas e brincadeiras são falar que é no cotidiano que acontecem as vitórias, uma situação foi mais harmoniosas. Ao ouvir marcante: a conquista da a vó afirmar que antes havia Crianças e medalha de bronze por um brigas e que Melissa já havia professores tem aluno do projeto social, no aprendido que era errado clima de amizade campeonato brasileiro do brigar e bater na irmã, a penas aulas esporte, representando a Sequena, com cara de curioARQUIVO/GTC
CONSTRUINDO UM FUTURO MELHOR Praticar um esporte durante a infância traz benefícios para o desenvolvimento físico e mental. Agatha, 10 anos, entrou para a Associação porque estava acima do peso, segundo a avó Lúcia Schimidt. Depois de dois anos e meio praticando o esporte, outras melhoras no comportamento já são visíveis. Segundo
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Um taekwondo que oferta condições igualitárias quanto a prática para todas as classes de renda, gênero e etnia” Ruan Martins Professor
leção Gaúcha de Taekwondo. O menino tinha apenas 12 anos e foi o primeiro aluno de Ruan a se formar faixa preta. O que Ruan fala sobre a relação entre alunos e professores não foge do que a avó e as netas entrevistadas afirmaram. “A ideia é quebrar um pouco daquela relação hierárquica e engessada do mestre com o discípulo”, afirma. Há uma aprendizagem mútua, segundo Ruan, os professores acreditam que tanto as crianças aprendem com eles, quanto eles aprendem com as crianças. “Ser um amigo do aluno, estabelecendo uma relação de confiança, é fundamental para descobrirmos seus problemas e suas ânsias, assim como, juntos, superá-las”, finaliza.
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POLÍTICA ARQUIVO PESSOAL
A deputada Silvana (no centro) Covatti recebe Serigne Cheikh para tratar de assuntos relacionados aos senegaleses
O poder do sexo feminino na política
A busca de espaço para mulheres na política está cada vez mais forte no âmbito nacional Mirian Centeno
A
gestora pública Silvana Covatti iniciou a carreira política ao lado do seu esposo, Vilson Covatti, ex-vereador de Frederico Westphalen e ex-deputado estadual e federal do Rio Grande do Sul. Dedicou-se aos bastidores da política por 23 anos, fazendo voluntariando e assumindo também, nesse período, a presidência da Mulher Progressista do Estado. Concorreu pela primeira vez a uma vaga na Assembleia Legislativa Gaúcha em 2006, quando foi eleita a parlamentar mais votada entre as mulheres da 52ª legislatura, com 65.547 votos. Em 2010, foi reconduzida ao cargo com 85.604 votos - a maior votação do legislativo gaúcho naquele ano. Nas últimas eleições, em 2014, conquistou 89.130 votos, sendo eleita a mais votada da bancada progressista no parlamento gaúcho. Atualmente, é Líder Partidária na ALRS e Primeira Vice-Presidente do PP/RS. Neste ano, tem a honra de ser a primeira mulher a presidir o Parlamento Gaúcho, em 180 anos de história. No dia 3 de fevereiro de 2016, a Deputada Silvana Covatti (PP) assumiu a presidência da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, sediada na Praça Mal. Deodoro, 101 - Centro Histórico, Porto Alegre, antes presidida pelo deputado Edson Brum (PMDB). Entretanto, o fato de ser a primeira mulher a presidir o Parlamento gaúcho em 180 anos representa, na verdade,
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Não há terreno fácil para as mulheres e isso vale para o dia a dia e para o ambiente político, onde os homens dominam, embora as mulheres sejam maioria na população e no eleitorado”
passo, mas de forma consistente, sem retrocessos. “Graças a iniciativas como a Procuradoria Especial da Mulher no âmbito dos parlamentos e a campanhas como a da ONU Mulher – “Mais Mulheres na Política” – e especialmente pela mobilização dos movimentos femininos dentro dos partidos, acredito que já avançamos muito em termos de participação feminina na campanha municipal deste ano.” diz.
Do Interior para Capital
Silvana Covatti Presidente da Assembleia Legislativa do RS que terá um ano de grandes desafios e enormes responsabilidades. Neste terceiro mandato considera-se mais preparada do que nunca para os enfrentamentos. Não há terreno fácil para as mulheres e isso vale para o dia a dia e para o ambiente político, onde os homens dominam, embora as mulheres sejam maioria na população e no eleitorado. A conquista de mais espaços para as mulheres na política é um processo, que avança passo a
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Seguindo no mesmo parâmetro, o engenheiro civil, Secretário de Meio Ambiente e Ecologia, Coordenador do GEAD Ambiental no Fórum Democrático de Desenvolvimento Regional, nos últimos quatro mandatos Lélio Luzard Falcão acredita na grande expectativa na Gestão da Deputada Silvana Covatti (PP), em princípio por sua formação (professora), depois por sua origem (interior do estado), a seguir por sua experiência e trânsito na ALRS, seguida por sua sigla partidária (PP), finalmente por sua estrutura familiar (seu marido, ex-deputado estadual e federal). Falcão ressalta o grande desafio da deputada, pois, a mesma vai ser comparada a todos os antecessores, e todos sabemos os tempos difíceis que passa o Estado e País. Na visão do advogado Militar Antônio Reginaldo Kniphoff de Souza, a falta de mulheres no cenário político, faz com que várias políticas sociais e importantes para o povo deixem de
ser aplicadas e levadas até as classes menos abastadas. Pois, a maioria dos projetos políticos de parlamentares homens é focado somente no seu “eu”, ou de uma minoria, raramente atingindo a grande massa. Já as mulheres no parlamento, seja, Municipal, Estadual ou Federal, sempre abrangem várias camadas sociais, e acabam melhor adaptadas aos anseios do povo.
A diferença que faz a mulher na política O momento é próprio para se ter uma mulher na Presidência da Assembleia Legislativa Gaúcha. Soma a isto ao fato de que somente em 1935, foi eleita a primeira mulher deputada Estadual no Brasil, ou seja, isto há menos de 100 anos atrás. Maria do Céu Fernandes, foi eleita para a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte em 1935, recorda o advogado.Reginaldo ratifica o preconceito com as mulheres negras brasileiras, “em cargos e profissões menos gloriosas”, o que dirá em cargos públicos legislativos de destaque e comando. É uma realidade diária, mesmo sendo o Brasil, o País com a maior população negra fora da África. Isto, se reflete no meio político, e por conta da cultura brasileira, se vê mais mulheres nas casas legislativas do País, em serviços de limpeza e conservação do que no Plenário da Casa, envergando um Mandato Legislativo, como deveria ser, em relação a cultura da população brasileira. “Vergonha e Preconceito”.
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CIDADANIA
Falta de ciclovias afeta ciclistas em Porto Alegre
Com poucos quilômetros de faixas exclusivas,quem anda de bicicleta sofre com desrespeito de motoristas Natália Pfitzer
A
tualmente, Porto Alegre tem cerca de 30 quilômetros de ciclovias. Segundo o advogado e cicloativista Pablo Weiss, da Associação dos Ciclistas de Porto Alegre, desde 2009 existe um Plano Cicloviário (PDCI) que tem como objetivo incentivar o uso do transporte de duas rodas. Nele está prevista a construção de 490 quilômetros de acesso para bicicletas. Porém, enquanto elas não são construídas, os ciclistas têm receio de pedalar aonde não há uma faixa exclusiva para eles. A falta de bom senso e de educação dos motoristas também contribui para que a prática não seja vista como boa opção. A designer de moda Jéssica Duarte utiliza a bicicleta como forma de transporte até o trabalho. Ela se desloca todos os dias do bairro Navegantes até o Floresta, em Porto Alegre. No
trajeto não existe ciclovia e ela reclama da falta de segurança que encontra pelo caminho. “Normalmente ando pela calçada, apesar de saber que atrapalho o pedestre, prezo pela minha segurança. Tenho medo de andar nas vias com os carros.” Conforme Sinara Soares, da Escola Pública de Trânsito do Detran, aonde não tem ciclovia os usuários de bike devem trafegar na rua, no bordo da pista, nunca na calçada. “Esse lugar pertence aos pedestres, com exceção dos lugares que são permitidos o trafego dos dois. Mas daí existe uma placa avisando”, enfatiza. O artigo 201 do CTB estipulou que os veículos, ao passarem ou ultrapassarem uma bicicleta, devem manter 1,5 metros de distância. Apesar de não ter equipamentos obrigatórios para eles, o Detran/ RS aconselha que sejam utilizados por medidas de segurança, capacete, aparelhos luminosos, retrovisor e buzina. “Quanto mais chamativo o veículo e a pessoas es-
tiverem melhor, pois fica mais fácil de serem enxergados, diminuindo os riscos de acidentes”, comenta a educadora de trânsito. Pablo Weiss acredita que, se as pessoas tivessem conhecimento das leis de trânsito, o índice de acidentes envolvendo ciclistas diminuiria, pois teriam conhecimento dos seus direitos e deveres. “As pessoas não sabem que lugar de bicicleta não é na calçada. Os motoristas não enxergam como um veículo também, assim como a moto, carro ou ônibus.” Weiss entende que o desrespeito acontece pelo fato de muitos ainda enxergarem esse transporte apenas como algo de lazer. “Os motoristas não sabem que a maioria dos ciclistas utilizam a bike para ir até o trabalho,” lamenta. De acordo com uma pesquisa realizada pelo site Transporte Ativo em 2015 para levantar o perfil dos ciclistas do Brasil, 85,8% dos porto-alegrenses utilizam a bicicleta como meio de transporte para se deslocar até o trabalho.
Pablo Wiess
Ciclovia na Av. Ipiranga é uma das poucas da Capital
portadores COM LÚPUS SÃO AUXILIADOS POR ONG
PROJETO SOCIAL DIACONIA AJUDA PESSOAS CARENTES
INCENTIVO NO ENSINO SUPERIOR EM TUPANDI
Compartilhar experiências vividas com outras pessoas traz a esperança de dias melhores para quem é portador de alguma doença reumática. Eliane Gomes Mattos, 52 anos, São Leopoldo, compartilha sua experiência com quem também é portador de doenças reumáticas. Voluntária e vice-presidente da Associação de Lúpus e Outras Doenças Reumáticas do Vale dos Sinos, ela conta que descobriu, em 2012, aos 48 anos, que tinha lúpus. “Eu sentia muitas dores no corpo, não conseguia caminhar, nem me movimentar e perdi a vontade de me alimentar. Fui ao Posto de Saúde da Família, em São Leopoldo, e logo me encaminharam ao Sistema de Unidade de Saúde para fazer exames que diagnosticassem as causas das dores que sentia. Foi aí que descobri que tinha lúpus”, comenta. Com a missão de ajudar os pacientes com apoio assistencial, psicológico e palestras que levem conhecimento à população, a Associação, localizada na antiga sede da Unisinos, no Centro de São Leopoldo, nasceu da experiência de Izabel Terezinha, presidente da ONG e também portadora da doença, a ajudar outras pessoas que partilham da mesma realidade. “Eu sou paciente com lúpus e SAF (Síndrome do anticorpo antifosfolipídeo). Pensei que fosse a única aqui na região do Vale dos Sinos. Por incentivo da minha família, criei a Associação”, conta. A Instituição conta hoje com 600 pacientes. “Hoje atendemos toda a região do Vale dos Sinos, mas também somos referência no Estado como a única ONG que promove o contato entre paciente e médico reumatologista”, afirma a presidente. ( Matheus Miranda )
Na Igreja Evangélica Luterana no Brasil (IECLB) de Igrejinha funciona o projeto social Diaconia. Ele é organizado por voluntários da comunidade que ajudam pessoas carentes com doações de roupas, remédios, dinheiros, visitas e cestas básicas. Todos são incentivados a doar roupas e calçados para a entidade. Algumas peças são doadas direto para as pessoas que precisam. O restante é separado e vendido no brechó da Diaconia, por valores simbólicos de R$ 2 a R$ 15. Com o dinheiro arrecadado, os organizadores compram remédios, mantimentos e também destinam parte do dinheiro para as pessoas que precisam. “Nós não tínhamos condições de atender todas as pessoas que vinham aqui na secretaria pedir ajuda. Então, a gente pede para que cada pessoa preencha uma ficha, para que possamos saber aonde a pessoa vive e quais são as suas reais necessidades”, explica uma das organizadoras, Carla Iara Koetz. De acordo com Roseli Lanz, ela teve que largar o emprego para poder cuidar de sua filha, que com o passar do tempo foi perdendo seus movimentos do corpo e até agora nenhum médico conseguiu explicar o que ela tem. Desde então, uma vez por mês, a Diaconia ajuda com dinheiro e rancho, para que Roseli possa manter os recursos de que a sua filha precisa. Uma vez por ano, a Oktoberfest de Igrejinha, que é uma festa voluntária, doa uma pequena parte para a Diaconia, que é de tamanha importância para a continuação do projeto. Atualmente, o grupo está buscando mais pessoas para poder ajudar nesta iniciativa. (Tatiana Dege)
Um projeto inédito no Estado, da prefeitura de Tupandi, no Vale do Caí, concede o pagamento de uma disciplina para estudantes universitários e de 50% do valor para cursos técnicos. Conforme a lei, o benefício destinase aos estudantes residentes e domiciliados no município a, no mínimo, dois anos. Em contrapartida, o estudante compromete-se a prestar serviços comunitários. De acordo com a secretária de Educação, Janice Theisen, são inúmeros os tipos de serviços comunitários prestados. “Desde a limpeza de praças e escolas, até a entrega de documentos nas casas dos munícipes”, destaca. Em uma parceria com a Associação dos Estudantes local, com a qual a Administração Municipal tem convênio, foram concedidos diversos auxílios durante o último ano. De acordo com dados da Prefeitura, são 106 estudantes que recebem auxílio financeiro para custeio de uma disciplina e 44 estudantes com auxílio em cursos profissionalizantes ou tecnólogos. Para o prefeito Hélio Müller, o projeto certamente é algo inédito no Estado. “Estes repasses totalizam um investimento de R$ 2.573,33 por cada estudante universitário do município”, destaca. Conforme explica Müller, a Administração investe na educação, pois acredita que o desenvolvimento da cidade depende daqueles que buscam uma especialização para futuramente colaborar com a cidade. Graduada na Unisinos, Geane Boesing, 28 anos, é licenciada em Ciências Biológicas. Segundo ela, o benefício concedido mensalmente pela prefeitura representou muito para sua formação profissional. “Este auxílio ajudou a equilibrar as minhas finanças além de acelerar meu processo de formação”, enfatiza Geane. (Matheus Klassmann)
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ECONOMIA
Crise não impede jovem de viver na Serra Pesquisa de preços e controle de orçamento são fundamentais para evitar endividamento Estéfani Hobus
Estéfani Hobus
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orar sozinha, para Priscila Broch, significa ter independência e liberdade - duas coisas que, agora, a jovem de 26 anos não abre mão. Longe da casa dos pais há quase dois anos, a garota saiu de Gravataí rumo a Nova Petrópolis para morar em um apartamento alugado. Mesmo com a crise econômica pela qual o país passa desde 2015, ela mostra que, com organização, é possível viver só e gastar pouco. Para Priscila, ter o próprio apartamento rende uma lista enorme de vantagens, mas a mais importante é a liberdade. “Não preciso dizer para ninguém aonde eu vou, chego em casa e posso fazer o que eu quiser. Eu recebo [na minha casa] quem eu quero”, conta. No entanto, para tamanha independência, algumas desvantagens podem surgir. Desde 2015, o cenário econômico inflacionado desfavoreceu o poder de compra não somente de quem vive sozinho, mas das famílias brasileiras em geral, explica Rafael Lüdke, 25 anos, economista graduado pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). “O aumento da inflação se
deve à liberação de preços administrados pelo governo após o ano eleitoral, como o da gasolina e da energia elétrica, que influenciam na alta dos preços de todos
os demais produtos”, afirma. O aumento do custo da energia elétrica foi o que mais impressionou Priscila, vendedora na Cervejaria Edelbrau, em Nova
Petrópolis. “O preço praticamente dobrou. Para alguém que se sustenta sozinho, é difícil”, desabafa. No entanto, para evitar o endividamento, o segredo é não deixar que os gastos superem as receitas, além de ter um bom planejamento financeiro. Os gastos com transporte também acarretam grandes despesas para os consumidores. No entanto, Priscila encontrou uma saída bastante econômica para se locomover: uma moto Honda Biz. “É muito econômica. Mesmo com Ponho R$15 de gadificuldades, solina e consigo anPriscila curte dar por duas semao novo lar nas”, garante. Além disso, para agregar no orçamento, a vendedora trabalha como free lancer nos finais de semana, situação em que as empresas pagam bons valores pela hora trabalhada. Para viver em Nova Petrópolis, a média de gastos - incluindo aluguel, energia elétrica, água, alimentação e internet - é de R$1,3 mensais. Contudo, pesquisando os melhores preços e monitorando constantemente as despesas, Priscila consegue viver sozinha desembolsando R$1mil por mês.
Pedaladas fiscais afetam o dia a dia
voluntARIADO transforma vidas
CEUPA SELECIONA MORADORES
Irmãos fazem trabalho social em Canoas
Nos últimos meses, um dos assuntos mais comentados na economia brasileira são as pedaladas fiscais. Um dos principais exemplos do que elas causam seria a redução no limite de financiamento da casa própria, ocorrido em 2015, diz a professora Gisele Spricigo, coordenadora do curso de Economia da Unisinos. Já Marta Sfredo, jornalista especializada em Economia do jornal Zero Hora, o Estado não é diretamente afetado. Entretanto esse “rombo” provocado pelas pedaladas torne mais difícil a renegociação da dívida pública estadual. No país, existem dois grandes impactos: o primeiro é a escassez de recursos para o financiamento da casa própria na Caixa Econômica, porque os bancos terão que usar valores que seriam utilizados para sustentar as políticas do governo. Tudo isso ainda é um grande assunto para discussões, pois essa seria a principal acusação para que a Presidente Dilma sofra o Impeachment. (Eric Machado)
A vontade de amparar e transformar o mundo normalmente está presente nas ações dos jovens. Ser voluntário influi diretamente na vida de quem doa tempo para ajudar. Essa participação cidadã contribui para formação de líderes do amanhã. Para a estudante de Serviço Social Eduarda Gatelli, 21 anos, os benefícios desse tipo de trabalho são muito mais impactantes na vida de quem ajuda do que na vida de quem é ajudado. Há quem inicie cedo se dedicando a essa atividade, como é o caso de Paula Blos, 19 anos, que desde pequena era influenciada pelos seus pais a ajudar as pessoas. Caroline Spaniol, 28 anos, considera que o trabalho social a fez ver o mundo com outros olhos. Para o jovem que quer participar de algum projeto pode procurar auxílio na Parceiros Voluntários na cidade onde mora, que é uma entidade de assessoramento que qualifica e direciona pessoas e Instituições para Ongs e projetos sociais. (Jaciane Martins)
Os estudantes que procuram um lugar acessível para morar devem ficar atentos às seleções semestrais da casa Estudantil Universitária de Porto Alegre (CEUPA). A instituição recebe alunos do interior do Estado, outros estados e de outros países. Além de oferecer moradia de baixo custo, a CEUPA oportuniza o crescimento pessoal e o convívio com diferentes culturas. Os interessados devem encaminhar a inscrição, de acordo com as regras do edital. Após, é feito a avaliação socioeconômica e depois o participante passa por uma entrevista no qual são julgados aspectos a partir de sua documentação e demais esclarecimentos que a comissão responsável achar necessário. Conforme a estudante de Biomedicina, Lavínea Passos, morar na CEUPA tem pontos positivos. “A oportunidade de morar em um lugar de baixo custo é bom, pois economizamos em relação a outros lugares”, comenta a jovem caboverdiana. (Liane Oliveira)
O pastor Valdir Araújo, o Neni (50), seu irmão João Araújo, o Titi (56), mesmo com crenças diferentes usam suas igrejas como meio para ajudar os pobres com comida e roupas nos cultos de Canoas. Neni fundou a igreja evangélica Casa de Deus Porta do Céu em 1995. Em 2011, abriu o departamento de assistência social com voluntários. “Eu não ganho nada como pastor, sou eletricista e as pessoas que doam fazem isso por livre e espontânea vontade são conhecidos meus ou pessoas que queriam ajuda o próximo”, diz Neni. O irmão, João Araújo foi presidente da Casa Espírita Fraternidade entre 2002 e 2006.Neste período ajudou o departamento da família (DAPSE) com doações de alimentos. Atualmente, os encontros no DAPSE ocorrem todas as quintas, às 14h. Na última quinta do mês, doa-se roupas e uma cesta básica. “Nós ajudamos estas famílias, mas também tentamos ensiná-las a não cair no vício de ficar recebendo as coisas”, disse Titi. Para a família receber a ajuda precisa ter no mínimo três presenças no mês e um cadastro. (João Pedro Chagas Vieira)
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ECONOMIA
Quadro econômico fomenta abertura de startups Com declínio da efetivação nas empresas, modelo de empreendimento social obteve expansão no RS
Franciele Feijó
A
situação financeira e política crítica no país está incentivando os jovens gaúchos a empreender. A taxa de desemprego já atinge, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), em média, 10,2% e faz com que as buscas por alternativas se voltem principalmente às startups. Para o professor de Empreendedorismo e Inovação da Unisinos Alexandre Pereira, o principal motivo dessa tendência é a sensação de controle dentro do âmbito empresarial. “Quanto mais controlável for o ecossistema, mais tranquilidade o jovem terá para ter ideias, para e inovar. Esse modelo de negócio, quando colocado dentro de uma incubadora, deixa os fatores externos minimizados por meio do auxílio de mentores, da estrutura e da troca com as demais empresas”, afirma.
Junto às motivações mais visíveis do aumento da inserção nesse nicho, há também o baixo investimento inicial no negócio. As facilidades, agregadas ao ambiente acadêmico, que proporciona até quatro anos de incubação, e o apoio junto a órgãos especializados, como o Sistema Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), torna o modelo altamente atrativo e confortável àqueles que têm receio em investir. “Geralmente, a partir da ideia de negócio e da sua formatação, há a premeditação da aversão a riscos. O fato de ter que efetuar um empréstimo de R$ 15 mil diante a crise, assusta”, menciona Pereira. Apesar dessa preferência, as condições hostis presentes desde o momento da implementação do plano até o cotidiano fazem com que muitos desistam de prosseguir. A Devorando, startup localizada no Parque Tecnológico TecnoSinos, é uma
DIVULGAÇÃO
p l at a f or m a q u e mento da procura Tusset, Grings e busca facilitar os dos serviços. SeOnzi são sócios pedidos em restaugundo o profissiona empresa rantes. Para Kenner nal, essas lacunas, Devorando Grings, diretor de que vão além do tecnologia e sócio na empresa, prejuízo financeiro, desafiam as dificuldades ainda permeiam a credibilidade da organizao negócio, mesmo com o au- ção, principalmente por tra-
balhar com plataformas ainda pouco exploradas. “Além de investimento financeiro para expandir o negócio mais rapidamente em diversas regiões, a mudança cultural foi uma barreira que tivemos que enfrentar e encontrar formas de contornar”, conta Grings em respeito à dificuldade de os restaurantes compreenderem a nova proposta, e do receio dos consumidores. Ainda que o movimento seja relevante mesmo frente às circunstâncias, os números ligados ao PIB gaúcho não podem ser quantificados, especialmente por se tratar de algo difundido recentemente. Atualmente, são cadastradas na Associação Gaúcha de Startups (AGS) 133 empresas, que se encontram, em sua maioria, na região metropolitana de Porto Alegre. Os empresários que possuírem interesse, podem se registrar diretamente no site http:// www.agstar tups.net/.
HOTELARIA DE GRAMADO SE ADEQUA À CRISE
MENSALIDADES PREJUDICAM GRADUANDOS
REDUZA GASTOS NO DIA A DIA
SAIBA COMO ECONOMIZAR PARA VIAJAR
A crise econômica que atingiu o Brasil, trouxe redução de gastos, instabilidade e desemprego. Segundo o economista Agostinho Pontalti, a sociedade passa a se preocupar com itens básicos de sobrevivência. “As incertezas quanto a economia, degradação de renda e a alta da inflação fazem o consumidor repensar as prioridades”, comenta Pontalti. Apesar destas prioridades, a hotelaria Gramadense tem boas expectativas para a temporada de inverno. O gerente do Hotel La Hacienda, Jeremias Polidoro, acredita que a temporada será discreta com hóspedes fazendo uma análise mais detalhada sobre os gastos. Hotéis da Rede GJP também têm boas expectativas, pois segundo o gerente corporativo, Émerson Córdova, os hotéis estão apostando no bom atendimento e na estrutura da cidade. Conforme Pontalti, Gramado poderá ser favorecida devido à alta do dólar, pois os turistas estão deixando de ir ao exterior e optando por viagens nacionais de menor custo. (Renata Willrich Bruno)
As altas mensalidades das faculdades particulares estão impedindo que alunos da graduação cursem o número de disciplinas que desejam. Os valores, reajustados anualmente, retardam a conclusão do curso e fazem com que os universitários busquem alternativas para seguir estudando. O aluno de Jornalismo na Unisinos Rodrigo Jankoski iniciou a faculdade em agosto de 2012, mas ainda está fazendo disciplinas do 2º semestre. “Hoje consigo fazer três cadeiras, mas no próximo semestre corro o risco de não fazer nenhuma” afirma Jankoski. “Há muitos anos o reajuste da inflação é superior ao dos salários dos professores, que representam aproximadamente 70% dos custos. Portanto, os motivos só podem ser o aumento da lucratividade ou a proteção de uma inflação futura”, explica o professor de Economia da Unisinos, Cassio Calvete. Os reajustes da mensalidade deveriam seguir uma planilha de custos, contudo ela não é apresentada aos estudantes. (Vitor Brandão)
O ano de 2016 trouxe desafios para os brasileiros, pois o país vive em uma crise econômica. Em momentos instáveis, é preciso planejamento para manter os gastos dentro do orçamento. Para o consumidor realizar escolhas mais eficientes, o economista da FEE, Jéfferson Colombo, informa que o primeiro passo é analisar o orçamento e reduzir o que é supérfluo. Mudanças de hábitos também contribuem na redução do valor de contas fixas como evitar tomar banho em horários de pico e reaproveitar água da chuva na limpeza de calçadas e carros. Para não afetar o dinheiro mês, alguns cuidados deverão ser analisados, sugere Colombo. “Essencialidade de serviço, como água, luz, gás, entre outras vitais para a família, devem ser priorizadas para que não haja cortes”. Em um cenário favorável, o economista alerta que a economia pode começar a se recuperar no primeiro semestre de 2017, passando a registrar aumento ao invés de queda da atividade econômica. ( Michele Ortiz)
A chegada das férias desperta a vontade de viajar, e um dos destinos mais procurados é Buenos Aires. Mas para se organizar é importante ter um planejamento e seguir alguns passos, como realizar várias pesquisas de preços. O economista Gerson Azambuja, sugere calcular em forma de planilha todas as despesas para evitar um comprometimento de 30% do que se ganha. Outra dica é ter disciplina para administrar o dinheiro, e se for levar cartão de crédito, ter muita atenção com a cotação e taxas extras de serviço. Estudante e estagiário, Cassiano Bertoletti já viajou para Buenos Aires, mas pretende voltar. Para isso, mudou seus hábitos e está guardando R$250 por mês para pagar o pacote e casuais gastos. Estima-se que a bolsa auxílio de um estagiário de graduação é em média de R$850. E um pacote pela agência CVC para a capital argentina durante cinco dias incluindo aéreo, taxas e hotel custa cerca de R$3.349,12, para duas pessoas. (Fernanda Dewes Cheruti)
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EDUCAÇÃO
Não dar o peixe, mas ensinar a pescar
Além da profissionalização, o Projeto Pescar desenvolve os jovens de forma integral Elisa Ponciano
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cordar cedo, vestir o uniforme, ir até o ponto de ônibus e seguir até a empresa são situações vivenciadas por trabalhadores todos os dias. Mas essa rotina também faz parte da vida de jovens que estão iniciando suas vidas profissionais. Na incerteza dos primeiros passos, encontram no Projeto Pescar um amparo para seguirem com mais preparo no mercado de trabalho. O que esses jovens não sabem ao ingressar no Pescar é que ele não é focado apenas na formação profissional. Essa frente corresponde a um dos eixos do projeto; que divide-se nos grupos do ‘Saber Conviver’ e ‘Cidadão’. Ao serem selecionados, após um processo de seleção com diversas etapas, os aprendizes recebem conhecimento técnico e aprendem a trabalhar em equipe, a se comunicarem melhor e serem cidadãos mais conscientes. Mais do que um curso, o programa é um agente de transformação social. O Projeto Pescar surgiu de uma iniciativa do empresário Geraldo Linck que, em 1976, inspirado no provérbio chinês “Se quiseres matar a fome de alguém dá-lhe um peixe. Mas, se quiseres que ele nunca mais passe fome, ensina-o a pescar”, inaugurou a primeira turma da Linck S.A. composta por 15 jovens em situação de vulnerabilidade social para aprenderem uma profissão. Demorou 12 anos para que outros empresários investissem na causa, mas hoje, 40 anos depois, já são mais de 115 unidades espalhadas pelo Brasil e 25 no exterior, localizadas na Argentina, Paraguai e Angola. O projeto atendeu, só no ano de 2014, mais de 25 mil jovens.
A responsabilidade de conduzir o projeto Atualmente a Fundação Projeto Pescar, com sede em Porto Alegre, é a grande responsável pelo controle das unidades do projeto. A fundação atua como um meio de campo entre jovens, educadores e empresas, “Chegamos nos jovens através dos educadores, nossos representantes dentro das unidades, estamos tentando evoluir para estarmos mais próximos do educador, ajudar ele a enxergar que o jovem é um ser que precisa de uma série de atendimentos”, é o que Silvia Ramirez, Gerente de Qualificação e Acompanhamento da fundação, acredita ser o principal papel da instituição. O contato com as empresas também é realizado pela fundação, o programa é divulgado para outras possíveis mantenedoras principalmente por indicação de dirigentes das companhias que já possuem o projeto. O Pescar está inserido em diver-
CÁREN PROENÇA
sas organizações, na lista constam nomes de peso como Renner, AGCO, Gerdau, Vonpar e Banrisul. Além de grandes empresas, o projeto atua em ambientes complexos, como a Fundação de Atendimento Sócio-Educativo do Rio Grande do Sul (Fase) e é esperança de um futuro melhor para jovens infratores internados na instituição, que encontram no programa uma oportunidade de recomeço.
caminhada de sucesso O que existe por trás dos profissionais e pessoas de sucesso, muitas vezes, é fruto de uma oportunidade bem aproveitada. Um desses casos é a história
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Hoje sou muito mais segura e me comunico muito melhor do que antes, vejo muitas diferenças positivas desde a época do Pescar” Janine Lisch Ex-aluna do Pescar
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de Janine Lisch, ex-aluna do go Pelzer, atuante no projeto Grupo de jovens Pescar na unidade da Midea desde 2011 na unidade do comemora Carrier, em Canoas, no ano Projeto Pescar Midea Carformatura no de 2006. Janine relata que rier, ele trabalha no setor Projeto Pescar o projeto foi fundamental de Engenharia Industrial para seu desenvolvimento da empresa e por iniciativa pessoal e profissional, entre seus apren- própria resolveu ser voluntário. dizados ela percebe o amadurecimento Quando pensa em seu papel ele coe a capacidade de expressar suas ideias menta que muita gente o ajudou a estar e se comunicar. “Hoje sou muito mais onde chegou e agora ele também quer segura e me comunico muito melhor fazer isso por outras pessoas. Além de do que antes, vejo muitas diferenças po- aulas técnicas, Tiago auxilia os jovens sitivas desde a época do Pescar e ainda durante o Programa Miniempresa da Jume lembro de vários ensinamentos que nior Achievement, realizado na unidade lá aprendi, inclusive, levarei para a vida e que tem como foco desafiar os jovens toda, sem dúvidas.” Mas não basta apenas a desenvolverem seu lado empreendea passagem pelo programa, a força de dor. Ele também participa do projeto vontade e a busca pelo que acreditava de apadrinhamento, nele cada jovem ser melhor também fizeram a diferença torna-se ‘afilhado’ de um dos profissiopara ela. Depois de sair do projeto, con- nais voluntários. Em troca do tempo e tinuou estudando e investindo em seu disposição Tiago relata que aprendeu a desenvolvimento. O slogan do projeto foi lidar com as pessoas e a entender outras recentemente alterado para ‘Atitudes que realidades e cresceu como pessoa. Para transformam vidas’, pois oportunidades as empresas o projeto é uma oportuexistem, mas é preciso ter atitude. nidade não só de formar talentos, mas desenvolver seus funcionários. voluntários Seja como voluntário, aluno, educador ou dirigente, todos concordam Casos como o de Janine só são pos- que só quem passa pelo Pescar consegue síveis por causa de outro protagonista compreender a dimensão do trabalho indispensável no Pescar, o voluntário. realizado nesse programa. Essa rede de Eles são funcionários da própria empresa oportunidades é capaz de transformar onde a unidade do projeto está inserida vidas e realidades. Ao constatarmos ou integrantes de entidades parceiras, tantos cases de sucesso de profissionais que dedicam uma parte do seu tempo que passaram pelo projeto temos certeza para ajudar a desenvolver os jovens. Um de que a atitude de seu Geraldo Linck desses profissionais e voluntário é Tia- continua dando frutos até hoje.
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Educação
Faltam vagas nas creches em Canoas
Pais sofrem com a falta de um lugar para deixar as crianças e conseguirem trabalhar Jaime Zanatta
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m drama que vem atingindo diversas famílias de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, tem sido a falta de vagas nas escolas de educação infantil da cidade. Muitos pais não encontram um lugar para deixar os seus filhos e conseguirem ir trabalhar. Muitas vezes a alternativa é colocar as crianças dentro de uma instituição particular, só que durante uma crise econômica, como a que o Brasil vem enfrentando, o gasto extra, se torna impraticável. Esse é o problema de Camila Santana, 27 anos. Mãe de duas crianças de 4 e 7 anos, ela não consegue creche para o filho menor e, por isso, não encontra tempo para trabalhar. “Preciso arrumar um emprego e já venho há mais de dois anos batalhando por uma vaga”, relata. A filha mais velha frequenta uma escola de Ensino Fundamental há um ano, mas também não passou por uma creche pública, pela falta de vagas. “Na época, eu e o meu marido conseguíamos pagar uma escolinha particular, então nem batalhamos muito por uma vaga. Mas agora não dá”, ressalta. SITUAÇÃO FINANCEIRA A crise econômica também é um problema para a família. A demissão em massa na empresa onde trabalhava o marido de Camila, diminuiu o orçamento da casa, o que os impede de pagar uma escola particular para o filho mais novo. A falta de vagas não afeta só a família de Camila, mas também dos familiares. A avó das crianças, a cozinheira Ana Santana, 45 anos, precisou deixar o emprego para ajudar no cuidado com os netos. “Não dá para cuidar de duas crianças, e deixar casa, comida e roupa lavada. Precisei ajudar, o ruim é que com essa crise econômica, vamos ter que apertar os gastos”, salienta a avó. Na mesma casa, convivem o pai, a mãe, a avó e as duas crianças. A mais velha, freqüenta a escola no turno da manhã. Já o pai, trabalha o dia inteiro em Guaíba, distante cerca de 50 km de Canoas, o que é um problema para a mobilidade da família. “Se meu marido trabalhasse mais perto, poderíamos dar um jeito de montar um esquema para cuidar do mais novo e todos conseguiríamos trabalhar”, comenta Camila. Para o marido, Bruno Luciã, 30 anos, seria ideal que a esposa conseguisse trabalhar para aumentar a renda familiar, mas por causa das crianças isso se torna impossível. “Não adianta ela ir trabalhar, a gente conseguir aumentar a renda, e ter que gastar com uma creche particular, porque não consegui-
para as crianças maiores de 4 anos. Lembrando que a idade máxima para freqüentar a educação infantil é de 5 anos. Esses índices foram apresentados na Radiografia da Educação Infantil no Rio Grande do Sul realizado pelo TCE/RS ao longo dos anos de 2014 e 2015. Esse projeto tem o objetivo de monitorar a oferta de vagas dessa modalidade de ensino em todo o Estado. A Secretaria Municipal de Educação de Canoas contesta o déficit de 95% na oferta de novas vagas que é apresentado pelo TCE. Segundo o tribunal foram abertas 230 vagas, número que não é apresentado pela Prefeitura. “Ofertamos mais de 1.700 vagas”, comenta o secretário Eliezer Pacheco. Nos últimos dois anos, foram entregues oito novas escolas de educação infantil e mais quatro estão em fase final de consTCE: CANOAS TEM trução. A meta da Prefeitura é disponibiDÉFICIT NAS VAGAS lizar para esse ano, e também para 2017, mais de 8 mil novas vagas para a populaSegundo dados divulgados pelo ção. “Essas novas vagas devem diminuir a Tribunal de Contas do Estado (TCE), fila de espera”, salienta o secretário. em 2011, Canoas possuía 5.626 vagas Atualmente, são disponibilizadas na Educação Infantil, o que significa 6.456 vagas e mesmo com o número que o município já apresentava um maior se comparado a 2011, o TCE déficit superior a dez mil vagas. segue afirmando que a falta de vagas Já em 2014, o TCE mossupera a marca de dez mil. trou que a cidade tem um déAinda, segundo a PrefeituA creche Mundo ficit de 94,5% no número de ra, em 2015 foram ofereciMágico está vagas, principalmente quandas 2.618 novas vagas e em com falta de do elas devem ser ofertadas 2014 mais de 5 mil crianvagas e sem para os bebês de 0 a 3 anos. O ças foram atendidas. identificação número também é negativo
cerca de doze horas por dia no trabalho, o que para a diarista, complica na hora de cuidar da filha. “Ele fica o dia inteiro fora e aí quando chega, está muito cansado”, diz Bárbara. “Tenho muita sorte de ninguém encrencar com ela indo junto comigo fazer a limpeza”, comenta Bárbara sobre os patrões. Ela conta que antes da crise econômica, deixava a criança com uma cuidadora, junto com outras dez crianças. “Precisei tirar, né, não tinha mais dinheiro”. Bárbara, como o marido, também fez curso de vigilante antes de engravidar, há dois anos. Porém, não conseguiu conciliar o horário de trabalho com o cuidado da filha e precisou abandonar a futura carreira. “Não deu! Ou eu trabalhava, ou cuidava da Lorraine. Tive que sair”.
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Não adianta ela ir trabalhar, a gente conseguir aumentar a renda, e ter que gastar com uma creche particular, porque não conseguimos vaga na pública” Bruno Luciã Metalúrgico
mos vaga na pública”, comenta. A situação de Camila e sua família é parecida com a que Bárbara Borba, 22 anos, o marido e a filha do casal de dois anos, convivem. A diarista precisa levar a filha junto ao trabalho por não conseguir creche para deixar a criança. “É muito complicado levar a bebê junto. Ela não se comporta, não fica quietinha, pede atenção o tempo todo, aí não consigo me concentrar no trabalho”, conta Bárbara, enquanto brinca com a filha. O marido, que é vigilante, passa
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EDUCAÇÃO
Adaptações, socialização e aprendizado Vivência escolar precoce? Crianças de 4 anos de idade se adaptam à nova lei
Nahiene Alves
“A
socialização da criança em compartilhar suas experiências, a convivência em grupo, o contato com um mundo diferente, um mundo escolar, onde sua autonomia, segurança e confiança possam lhes garantir oportunidades de desenvolvimento físico, emocional e cognitivo”, assim que Maria Rita Feijó, 42 anos, diretora na Escola Municipal de Ensino Fundamental Homero Fraga, vê o reflexo da nova lei implementada no ensino brasileiro e, especialmente, na cidade onde trabalha. Rita relata um dos processos que alguns alunos irão passar durante 2016. Esse ano será diferente para crianças de quatro anos que ainda não estavam matriculadas, é o prazo final para pais e escolas se adequarem à nova lei de número 12.796, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A partir desse ano, foram abertas as listas de inscrição para os novos alunos. O novo regulamento traz mais uma etapa em sua divisão: a Educação Infantil, além do Ensino Fundamental e Ensino Médio. A intenção é diminuir o déficit educacional brasileiro. Segundo Rita, as famílias que precisam trabalhar ficam muito tempo na fila de espera por vagas. “Acredito que a lei veio principalmente pela necessidade de ampliar não só o tempo de permanência das crianças na escola, mas de também diminuir o tempo de espera por uma vaga no ensino público”, pontua. Outras es colas tamb ém estão passando por ajustes finais: “Nós nos adaptamos e esperamos que as famílias entendam a nova realidade, que será boa”, expõe Eduardo Ivanowski, diretor na EMEF Miguel Couto, em Nova Santa Rita.
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É visível na primeira semana o desenvolvimento delas. Social e intelectualmente” Eduardo Ivanowski Diretor na EMEF Miguel Couto
5 anos foram supridas atrav é s d e c o n c u r s o p ú b l i c o. Ivanowski desabafa. A nova lei o deixa com dois corações. Assim como outros, ele está se adaptando em casa também. É pai, e como tal, acha que as crianças precisam amadurecer para desfrutar do ambiente escolar. Por outro lado, como educador, se preocupa com a socialização dos alunos. Ele menciona que um dos argumentos, quanto à nova implementação foi o de iniciar a fase escolar mais cedo. E concorda, pois notou que a vida social formada pelas crianças na escola proporciona um avanço. “É visível na primeira semana o desenvolvimento delas. Social e intelectualmente ajuda na formação do ser humano”, destaca. Com o sorriso de uma lembrança no
rosto, o diretor conta: “É engraçado ver na primeira semana alguns esperneando, querendo ir para casa. Não estão acostumados ou são muito apegados aos pais”. Ele comenta que a adaptação com as crianças é um processo. Além de passarem a frequentar um novo ambiente, as crianças terão contato com outras pessoas que antes não faziam parte de seu convívio. Ele identifica como um processo gradual e destaca a primeira semana de aula como a mais importante. “Nós fizemos uma semana inteira de adaptação, na qual as crianças entravam no início do turno e não ficavam até o final e gradualmente aumentamos esse tempo”.
PAIS PODEM SER MULTADOS Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), os pais podem ser multados se não respeitarem a nova legislação. Os educadores ainda notam certa resistência de alguns pais em levar os filhos tão pequenos às escolas. Mas as crianças devem estar vinculadas ao ambiente escolar a partir dos quatro anos e as redes de ensino têm a obrigação de garantir a vaga para todas as crianças dessa idade. Em caso de negligência por parte dos pais, há a chance de responder ao Conselho Tutelar ou para a Vara da Infância e Juventude.
Retrato de uma crise na rede privada Não foi apenas a nova Lei que desencadeou o aumento de alunos na rede pública. O aumento de mensalidades de escolas e universidades privadas atrelado à situação econômica do país está tendo como efeito a perca de alguns alunos para a rede pública. Um número baixo, mas que traz tristes razões. Vitória da Silva Alano, jovem professora da rede privada no município de Canoas percebe em sala de aula o esforço que os pais fazem a cada mês para manterem seus filhos na escola.
“A escola perdeu certo número de alunos, que migraram para a rede municipal, ou que procuravam uma opção privada com preços mais baixos, isso por conta da crise”, conta. Pais desempregados pediram desconto naB mensalidade. Vitória teve alunos que saíram da escola e foram para rede municipal, ela relata que diminuiu o número de alunos também em sala de aula: “Tem salas de aula com 23 alunos, quando ano passado haviam 31, eu tenho apenas 18 alunos em sala de aula numa turma de terceira série”.
Nahiene Alves
OUTROS OBSTÁCULOS O diretor declarou que a escola passou uma dificuldade estrutural. Todo município precisava se readequar à Lei. A Secretaria de Educação e a Administração Pública, investiram na construção de salas de aula e de novos ambientes para os alunos e para se ajustar à lei a partir de 2016. “Ano passado nós recebemos três salas de aula novas, cada uma com banheiro, bem adaptada aos novos alunos”. A necesIvanowski está sidade de novos adequando professores com a escola às e sp e c i a li zaç ã o mudanças para trabalhar exigidas pela com a faixa etánova lei ria dos 4 aos
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EDUCAÇÃO
Merenda escolar dá suporte a crianças carentes Escolas públicas têm dificuldade no fornecimento de alimentos essenciais aos estudantes Gov-Ba/everystockphoto
Thamyres Preis Thomazini
A
alimentação escolar servida a crianças e adolescentes é um fator muito importante quando se trata da educação em comunidades carentes no Brasil. O Programa Nacional da Alimentação Escolar (PNAE) é um dos mais importantes do país, pois atende a milhões de crianças diariamente. No período escolar estes cuidados devem ser redobrados, pois é o momento de pleno desenvolvimento de habilidades e conhecimentos. Segundo a nutricionista e professora da Unisinos Vanessa Backes, a alimentação adequada, tanto em quantidade quanto em qualidade, é fundamental ao aprendizado. “Estudos mostram que crianças com carências alimentares e aquelas alimentadas em excesso acabam tendo comprometimento no desenvolvimento escolar”, relata. Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Tancredo Neves, de Canoas, é servido aos alunos diariamente uma alimentação balanceada e acompanhada por nutricionistas. A diretora Maritza Medina, que trabalha há 30 anos na área, acredita ser muito importante
que as escolas ofereçam a refeição. “Nós sabemos que, infelizmente, há alunos que chegam com fome nas escolas, mas ainda bem que podemos oferecer a oportunidade de ter uma alimentação às crianças”, completa a diretora. O coordenador de serviços da Escola Tancredo, Lucas da Silva, conta que, além
de irem à escola por causa do estudo, os alunos sabem que ali terão uma refeição, pois se não fosse assim geraria desconforto e desatenção em sala de aula. “Nossa instituição recebe alunos de lares, casas de passagem, orfanatos e até mesmo de comunidades pobres e tem situações que a refeição servida na escola é melhor do
que a de casa, mas sabemos que essa não é a realidade de todas as escolas. No município há estudantes carentes que não têm essa mesma opção”, disse Lucas. A Prefeitura de Canoas já esteve envolvida em um caso de fraude das merendas das escolas públicas. Contratos Crianças foram superfaturecebem rados e alimentos alimentação de má qualidade inadequada foram fornecidos nas escolas aos estudantes. O Ministério Público Federal entrou com uma ação contra o prefeito na época do ocorrido, Marco Antônio Ronchetti, o ex-secretário de Governo Francisco Fraga, o ex-secretário de educação Marcos Zandonai e as empresas envolvidas, SP Alimentação e Gourmaitre Cozinha Industrial e Refeições. Constantemente observamos que instituições em comunidades carentes vivem uma triste realidade: a falta de alimento. Há situações que voluntários se mobilizam para arrecadar alimentos. Devido a isso, governantes estão focando sua atenção cada vez mais para esse problema.
BALLET COMO FERRAMENTA EDUCACIONAL
ACESSIBILIDADE ESCOLAR É TEMA DE ESTUDO
MAIS ACESSO À ESCOLA NO INTERIOR
ALUNOS APRENDEM NOVOS ESPORTES NO PEI
O ballet é uma modalidade de dança e também um exercício físico essencial para o processo pedagógico do desenvolvimento. A dança ensina a ter calma, paciência e precisão, por mais difícil que seja o movimento, a bailarina aprende a executá-lo com suavidade e perfeição. Formada em Pedagogia, a professora de dança Juliane Galer garante que a dança tem papel educacional e visa um amplo desenvolvimento físico, emocional e social. Proporciona o despertar e a construção de responsabilidade, postura e disciplina. A estudante Antônia Portilho, 11 anos, dança desde os dois anos e afirma que dançar interfere no seu dia-a-dia desde o modo como se senta na cadeira até a forma como se comporta diante do público. “O ballet me ensinou a não desistir e a correr atrás dos ‘desafios’, dar o melhor de mim. Não pensar que sou melhor que os outros, mas pensar que sou melhor que mim mesma a cada aula”, explica. ( Ana Júlia Barth )
Pesquisa realizada em Estância Velha, na Escola Municipal de Ensino Fundamental Selvino Ritter, e no Colégio Luterano Arthur Konrath (CLAK). Detectou se há condições adequadas para receber alunos com algum tipo de deficiência. Coordenadora da Selvino, Jaqueline Dall Agnol relata que as novidades para atender Nicole Eduarda Veríssimo, 11 anos, deficiente visual, são utilizar mapa e impressora em braille e máquina de escrever que a aluna utiliza para fazer trabalhos. Segundo a coordenadora do CLAK, Maria Helena Teixeira Senger, foi construída uma passarela até a pracinha para o aluno Gustavo Henrique Duarte Huff, seis anos, cadeirante. Gustavo chorou ao entrar na escola, pois achou que seria difícil, principalmente em fazer novos amigos. “Hoje eu tenho três melhores amigos”, diz alegre sobre a sua conquista. No futuro, o menino quer ser astronauta e jogador profissional de basquete. (Stephany Caroline Foscarini)
A 90 quilômetros de Porto Alegre, a realidade de Caraá, município tipicamente interiorano, é diferente dos centros urbanos. Atualmente com 20 anos, já teve dias piores para seus alunos, épocas que, ainda distrito de Santo Antônio da Patrulha, quem queria estudar tinha que caminhar quilômetros. A professora Darlete Tedesco leciona em dois no município. Ela conta que quando estudava não sabia como iria para a escola, mas que hoje a realidade é outra. “Com o transporte a aprendizagem dos estudantes só tende a crescer”. O motorista Anselmo de Oliveira, 41 anos, percorre 320 quilômetros por dia levando 350 alunos para três escolas e duas creches. “Felizmente, nenhum passageiro tem que andar mais de 400m até a pegar o ônibus”, afirmou. Entretanto, ele relatou que ainda há crianças em situação complicada. “Sei que meus colegas pegam crianças que andam quase 2 quilômetros, moram onde não entram carros”, lamentou. (Bolívar Gomes)
O Programa Esporte Integral (PEI) é um projeto desenvolvido para crianças carentes, no curso de Educação Física da Unisinos. Mais de 10 mil crianças da região do Vale dos Sinos já foram atendidas. “Além de aprender a respeitar e ajudar o próximo, o PEI foi importante para nós e para as crianças que estudaram conosco, por esportes como basquete, vôlei, e o próprio hockey, que não é tão conhecido”, afirmam Cristian Gabriel e Raul Cesar, ex-alunos do PEI. O projeto trabalha com a metodologia do futebol de rua. “É um processo diferente, os alunos aprendem valores, que os ajuda a serem pessoas melhores no futuro”, conta Bruna Borecki, responsável técnica pelo Hockey sobre grama e atletismo. Uma das alunas, Kailane Guimarães, se sente motivada: “Eu acho o PEI legal, porque aqui eu aprendo sobre esporte, além de fazer amizades”. A Unisinos e a Prefeitura oferecem transporte e alimentação às crianças. (Rafael Erthal)
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saúde
A alegria pode ser uma forma de tratamento
Terapia do riso é o método utilizado por ONG de Porto Alegre para auxiliar no tratamento de pacientes Camila Moraes
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ONG Doutorzinhos, por meio da figura do palhaço, proporciona alegria a crianças em tratamento e a seus familiares nos hospitais da capital gaúcha. No Hospital Santo Antônio, os pequenos aguardam ansiosos a visita do Dr. Zinho para brincar e se divertir. Ao caminhar pelos corredores do hospital o doutor palhaço arranca sorrisos de funcionários, visitantes, familiares e pacientes, espalhando bom humor por onde passa. Acompanhado de seu cachorro imaginário, ele faz com que as crianças esqueçam por alguns momentos que estão em um leito de hospital e viajem para aquele mundo de sonhos que só elas conhecem. Thais Vieira de Oliveira, mãe de um bebê que está em tratamento, recebe os voluntários com muita alegria, sente-se satisfeita com a presença dos Doutorzinhos e ressalta que o filho fica feliz e tranquilo após a animada visita. Para Cristiane da Silva, mãe de uma menina internada no hospita, o sentimento é de esperança ao ver a filha levantar da cama para brincar. Cristiane diz que o ambiente se torna melhor com a chegada dos voluntários e quando saem permanecem as boas vibrações obtidas por eles. A organização que foi criada em 2006 iniciou com um integrante, o seu fundador Maurício Bagarollo, hoje conta com 62 voluntários. O nome da ONG é devido a uma menina que chamou Maurício de doutorzinho porque o mesmo estava com jaleco e estetoscópio, além da caracterização de palhaço. Maurício começou 10 anos atrás contando histórias para crianças no Hospital Santo Antônio, mas sua intenção sempre foi trabalhar com a figura do palhaço que tem a capacidade de causar uma transformação, afirma ele. Para Bagarollo o importante é humanizar as práticas dentro do hospital, o objetivo não é somente o riso, é também gerar um ambiente de trabalho mais agradável para beneficiar os pacientes. A organização usa a figura do palhaço para fazer rir, com a
A Terapia do riso na história: “O sorriso e o riso entre os movimentos expressivos inatos e universais”. Charles Darwin, em1872. Freud, em 1916, afirmou que uma cena cômica e o riso, resultado dela, melhoravam a saúde física e mental. “O segredo da longevidade é sorrir sempre”. Jeanne Louise Calment, francesa falecida em 1997, aos 122 anos.
Rubiane Lazzeri da Silva
A sintonia intenção de colaborar efetiauto-medicar com terapia do estabelecida entre vamente na recuperação física riso, também serviu de inspio voluntário e a e psicológica dos pacientes. ração para que a prática comecriança. Alegria O fundador da ONG reçasse a ser utilizada em muitos que ameniza a dor lata que a comprovação de hospitais pelo mundo. que o seu trabalho está surExistem outras instituições tindo efeitos positivos, vem brasileiras que também pratipor meio de pesquisas. Os estudos com- cam a terapia do riso, entre estas, Os Doutores provam que, após a visita dos voluntários, da Alegria, que atuam em São Paulo e Recife mais de 90% das crianças comunicam-se fazendo um trabalho remunerado há 25 melhor, 87% têm maior aceitação dos pro- anos, possuem a maior notoriedade. cedimentos e 70% melhoram a quantidaA risoterapia é baseada em argumentos de e a qualidade na alimentação. filosóficos e pesquisas cientificas. Está O objetivo dos Doutorzinhos é ser comprovado que os pensamentos alegres referência nacional em palhaço voluntário. Para alcançar esta meta eles acreditam que a qualificação da equipe é muito importante. Os voluntários, após serem aprovados no processo de seleção, passam por um treinamento exigente. As inscrições podem ser feitas através do site http://www.doutorzinhos.org.br/ A inspiração da ONG foi o fundador do Instituto Gesundheit, norte-americano Hunter Doherty Patch Adams começou a usar esta forma de tratamento em hospitais para proporcionar aos pacientes momentos bons, livres do sofrimento causado pela doença. O Dr. Da Alegria ficou conhecido mundialmente após o filme Patch Adams: o amor é contagioso, que foi baseado em sua vida, protagonizado por Robin Willians. Desde então, o médico incentivou muitas pessoas a usarem o método. O relato do jornalista americano Norman Cousin, que afirma ter se curado de uma grave doença depois de se
Para Bagarollo, o importante é humanizar as práticas dentro do hospital. O objetivo não é somente o riso, é também gerar um ambiente de trabalho mais agradável para beneficiar os pacientes
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trazem benefícios ao organismo, partindo do princípio que ao rir o nosso corpo produz as betas endorfinas, que têm efeito analgésico. Quando o indivíduo se sente feliz, as partes do cérebro que estão ligadas à sensação de alegria e prazer são ativadas pelo riso, isso contribui no tratamento de doentes. Com a existência de várias tecnologias a favor da saúde, muitas vezes o fator psicológico é esquecido, a doença é tratada e a necessidade de cuidar do emocional fica em segundo plano. A inovação das práticas da medicina tem proporcionado a médicos aprofundarem-se cada vez mais em estudos e pesquisas para exercerem um trabalho mais humano. Isso abre espaço para que a terapia do riso seja conhecida por um maior número de pessoas, podendo beneficiar a todos. No Brasil, o médico Eduardo Lambert dedica-se a estudos e pesquisas sobre o método, em 1999 lançou o livro Terapia do riso: a cura pela alegria, onde cita: “Ao rir você tem uma proteção cardiovascular contra anginas, infartos e derrames, o riso proporciona um relaxamento que ajuda a normalizar a respiração arterial. ” Esta terapia é utilizada a muitos anos, Hiprócates no século IV a.C. aplicava o método para auxiliar na cura de seus pacientes, recentemente uma pesquisa feita pelo departamento de psicologia de Dusseldorf na Alemanha constatou que “rir faz tão bem para saúde de nosso corpo e mente quanto praticar esportes”. Veja mais fotos desta matéria na contracapa
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SAÚDE
A volta por cima
Uma história com diagnósticos difíceis, mas marcada pela superação Tuhana Peroza Pinheiro
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ual seria sua reação se soubesse que seu filho tem uma má formação grave e, provavelmente, pouco tempo de vida? Uma história emocionante conta esta luta de sobrevivência. Dos primeiros dias de vida até hoje Jackson Reis, 23 anos, dá exemplo de superação. Ele possui uma doença rara, chamada Displasia Metatrófica, que provoca desvio na coluna vertebral e limita o crescimento de ossos e músculos. A mãe de Jackson, Cleusa Teresinha Reis, é pura emoção. “Quando o Jackson nasceu, mesmo sabendo que ele tinha uma deficiência, vê-lo nascer, para nós, foi uma grande alegria”, conta emocionada.
O TRATAMENTO Jackson realiza consultas anuais no Hospital de Clínicas de Porto Alegre com o acompanhamento da pneumologista Simone Canani, que também é especialista em medicina do sono, e afirma não existir um tratamento específico para essa doença. “A Displasia Metatrófica é uma forma de nanismo, caracterizado por tronco longo e extremidades curtas na infância e, na fase adulta, o tronco é curto, com extremidades longas e estatura baixa. ” Segundo ela, o acompanhamento realizado pela equipe no caso do Jackson é necessário, devido ao atrofiamento de sua coluna, fazendo com que os pulmões sofram limitações e comprometam a capacidade respiratória. “O tratamento consiste no uso de um ventilador para auxiliar na respiração com uma máscara nasal durante o sono. ” As notícias que os familiares recebiam dos médicos após as consultas não eram nada animadoras. A mãe de Jackson conta que sempre teve muita confiança na recuperação do filho e batalhava, incansavelmente, na luta para tentar reverter a posição da equipe médica. “Tivemos um susto, quando os médicos foram pessimistas e nos deram pouca esperança. Apesar disso, a confiança na recuperação dele foi muito grande, pois sabíamos que ele ia dar a volta por cima. Nossa fé foi muito maior do que o medo”, destaca a mãe. Para complementar o acompanhamento da equipe do Hospital de Clínicas, em 2001, ele iniciou um tratamento de reabilitação na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), onde realizava sessões de fisioterapia, hidroterapia, musicoterapia, terapia ocupacional e também consultas com ortopedista e neurologista. A Associação propiciou ao jovem um grande desenvolvimento físico e social, pois ele adquiriu A fé é o maior firmeza osteoprincipal guia muscular e flexibilide Jackson dade, aprimorando e sua família movimentos.
A BASE
A VOLTA POR CIMA
A família, composta pelos pais Lauri PauDiante de todos os prognósticos desalo Reis e Cleusa Teresinha L. Reis, a irmã nimadores, Jackson provou ser capaz de mais velha Elisangela Cristina Reis, avós e mudá-los. Sobreviveu através de intensivos uma grande quantidade de tios e primos, é tratamentos. Fez sessões de fisioterapia e um suporte fundamental na vida de Jackson. utiliza um aparelho ventilatório, chamado “Eu sempre tive amigos com quem brincar, e Bipap, que é necessário colocar durante todas muitos primos de idade as noites para estabilizar parecida, então, sempre sua capacidade respihavia uma companhia, ratória. Com tudo isso, nunca estava só. As sempre levou uma vida amizades, o amor e os relativamente normal, cuidados da minha fadentro das limitações mília: isto bastou para que a deficiência impõe. a felicidade marcar os As lembras do temmeus tempos de crianpo de criança emocioça”, conta. nam Jackson “Gostava Jackson ingressou de brincar e ter contato no mercado de trabacom amigos. Mesmo lho logo que concluiu assim, eu tinha muitas o Ensino Médio. Atulimitações devido à almente, trabalha no saúde: não podia brinsetor administrativo car na rua ou correr. na empresa Massas Apesar disso, tive uma Jackson Reis Romena. Em algumas infância feliz, porque eu Estudante situações, percebia certo procurava transformar preconceito, por parte os obstáculos em algo de alguns encarregados positivo, jamais reclamei que, durante certo tempo, delegavam pou- ou me revoltei”. cas tarefas por não julgarem que ele fosse Até os oito anos de idade, morou em plenamente capaz de cumpri-las. “Posso São Francisco de Paula. Em 2001, mudouafirmar que sou autossuficiente no trabalho, se para Gravataí, onde teria mais recursos e uma atividade que, para além do retorno melhor estrutura básica para manter uma financeiro, ainda me traz satisfação e faz eu boa qualidade de vida. me sentir útil na sociedade”, ressalta. Sempre muito curioso, desde pequeno, o
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Tive uma infância feliz, porque eu procurava transformar os obstáculos em algo positivo, jamais reclamei ou me revoltei. ”
interesse pela cultura incentivado pela irmã que é professora de Português e Literatura. Sua mãe revela que ele aprendeu tudo sozinho, e que, aos quatro anos, já sabia ler e escrever. “Tenho muito orgulho do meu irmão, ele é muito talentoso e tem uma capacidade de se expressar muito forte”, diz sua irmã Elisângela. Aos 13 anos, publicou seu primeiro livro, o romance policial “Os Traficantes da Rua Voluntários”. A obra foi publicada por meio de um projeto da Prefeitura Municipal de Gravataí. Após o sucesso do livro, publicou a segunda obra, “Cem Anos”, em 2007. Aos 15 anos, lançou o terceiro livro “O Guardião do Tesouro Perdido”. Considerado um exemplo de vida para as pessoas com quem convive, Jackson tem convicção de que sua vida é uma prova de que nenhuma diferença física, mental, moral ou social representa um obstáculo para a realização dos seus sonhos. Estudante de Administração na Faculdade CNEC Gravataí, está a apenas a um ano de completar a sua primeira graduação, uma conquista que irá coroar sua trajetória de lutas e superação. Infelizmente, a falta de informação ainda é um grande desafio na vida de Jackson. Muitas portas se fecham para quem tem algum tipo de deficiência, mas o jovem prova, através da sua biografia e da expressão da sua arte, que é possível a igualdade vencer e que qualquer diferença não representa um empecilho, mas pode ser um ponto extra na realização dos sonhos de qualquer ser humano. Tuhana Peroza Pinheiro
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Estilo de vida
A arte de aprender a não fazer nada
Na era do estresse e da falta de tempo, ficar sem fazer nada pode ser a solução Amanda Cunha
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ocê já se deu conta como é comum tentarmos achar tempo para tudo? Ajustamos a agenda, apertamos aqui, e esticamos de lá e sempre conseguimos achar espaço para fazer outras coisinhas. Percebeu também que nunca conseguimos tirar um tempinho para fazer nada? Isso pode ser um sinal de alerta. Se não pararmos, uma hora o corpo e a mente param por nós. É o que garante o designer Marcelo Bohrer, mentor do clube do nadismo e que após uma forte crise hipertensiva aos vinte e poucos anos decidiu parar e fazer nada. Ele passou a se dedicar mais por conta desse processo louco que vivemos e de como isso afeta todo mundo. Foi após o ápice do estresse e de o corpo ter cobrado o preço de uma imensa rotina, e nunca parar, que ele decidiu fundar o clube do nadismo. Em 2005 em Londres, ele saiu com uma placa que dizia “você quer aprender a não fazer nada? Tenha lições aqui”. E a ideia vingou de Londres e veio para o Brasil, foi a nova York e voltou. Com cerca de 7 mil membros, o clube realiza encontros mensais a céu aberto. Baseado na sua experiência, Bohere até escreveu o livro Nadismo: uma revolução sem fazer nada, que ele descreve como sendo uma armadilha para a pessoa ficar com muita vontade de fazer nada. O símbolo do nadismo é um cubo branco que representa o vazio. Sua ideia é transformar o nadismo num movimento mundial como o slow moviment.
lhos tecnológicos que todos hoje em dia estão conectados o tempo inteiro.
ENERGIAS RECARREGADAS E a prática do nadismo vem ganhando adeptos cada vez mais hoje as pessoas procuram o movimento para poder se afastar um pouco da rotina corrida do dia a dia. A advogada Vanessa Dormann, 27 anos, pratica o nadismo diariamente e adotou esse método na vida depois que foi em um encontro do nadismo em Porto Alegre, recomendado pela sua amiga. A curiosidade falou mais alto. “Parece fácil, aliás, todos acham que já praticam o nadismo, mas é bem mais complexo do que se imagina. Não fazer nada
Mas afinal o que é o nadismo? É não fazer nada, é algo que envolve completamente as questões filosóficas. O nadismo é um movimento por mais qualidade de vida, é um método de aliviar o estresse e a falta de tempo sem fazer absolutamente nada. O principal objetivo do nadismo é aprender a desfrutar momentos de pausa para fazer nada e manter o equilíbrio para viver bem. O movimento de Marcelo Bohrer tem o objetivo de reunir indivíduos em locais públicos, parques e praças para que se juntem e façam nada durante um período de tempo. O propósito é a melhora da qualidade de vida. O clube já chegou a reunir 7 mil adeptos em muitas cidades do Brasil e também do mundo. Tudo começou quando Marcelo teve uma crise de burnout. A síndrome do trabalho é um distúrbio psíquico depressivo, que causa esgotamento físico e mental intenso. O clube do nadismo funciona em praças e parques onde durante uns 40 minutos os participantes permanecem deitados em colchonetes praticando o nadismo, ou seja, fazendo absolutamente nada. Além disso, o clube defende a ideia do abandono momentâneo, diariamente ou semanalmente da utilização dos apare-
Ana Carolina Oliveira
NADISMO
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O nadismo é um movimento por mais qualidade de vida, é um método de aliviar o estresse e a falta de tempo sem fazer absolutamente nada
envolve uma organização muito grande, um desapego, um desligamento do mundo. E não se trata de uma meditação, mas sim de não fazer absolutamente nada, como não requer nenhum tipo de ferramenta, objeto ou local específico pode e deve ser praticado por qualquer pessoa”, afirmou Vanessa. Depois do evento ela começou a ficar 15 minutinhos diariamente sem fazer nada, observando as coisas ao redor, de forma que se sentisse confortável, deitada ou sentada, de preferência em algum lugar em que sentisse bem e trouxesse bem-estar. Sem sentir culpa por não estar fazendo nada é a chave para o nadismo. Afinal, vivemos em uma sociedade na qual não fazer nada parece errado, parece ser o contrafluxo da modernidade. É preciso desconstruir essa cultura de excessos. De acordo com a psicóloga Leticia Torres, devemos ter um tempo para nós e poder fazer absolutamente nada para então relaxar. Ela afirma que nossa mente está focada em resolver problemas diários e absorver muitas informações em quantidades exageradas, gastando nosso tempo em energia e atividades que muitas vezes causam problemas físicos e psicológicos. “Para tomar consciência e ter uma mente saudável, é necessário fazer um mapeamento e perguntar se é importante ou não e se fará diferença no seu dia a dia, ler todas notícias e manter-se atualizado das redes sociais sempre. Para assim poder poupar a mente”, afirma a psicóloga. A diferença entre a prática do nadismo e a meditação, por exemplo, é que o nadismo pode ser feito em qualquer lugar sem a necessidade de mantras, posturas ou métodos. É um estilo livre sem certo ou errado. Luiza Tavares é praticante das duas modalidades. Por anos ela se dedicou á meditação e hoje prefere a pratica do nadismo, pois sente que pode exercitar a qualquer momento sem esA ideia do forço algum. nadismo é “Morei muito temo abandono po na praia em Santa momentâneo Catarina, onde todo do corpo e dia levantava para ver da mente o nascer do sol e poder meditar tranquilamente, antes de entrar no mar para praticar o surf. Mas hoje em dia, voltando a morar na cidade, tive de me adaptar à prática do nadismo, pois posso fazer a qualquer momento e não preciso estar na praia, apenas em um lugar em que me sinta bem.” Os eventos do clube do nadismo proporcionam o precioso tempo de parar de verdade e desfrutar de um momento para fazer nada e se sentir leve. Os encontros ocorrem mensalmente. Para quem ainda reclama de nunca ter tempo para nada e não consegue parar, este é o momento e a pratica ideal para experimentar algo novo de profundo prazer, sem pressa, sem culpa e totalmente numa boa.
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COMPORTAMENTO
Uma dor que precisa ser sentida
A religião é um escape para muitas pessoas passarem pelo processo da perda Natália Collor
Luana Ferreira
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ualquer momento de perda, seja ele a morte de alguém próximo, a aposentadoria ou um divórcio, é um processo delicado. A condição de luto que acontece após etapas dolorosas é vivida pela maioria das pessoas. O que deve ser entendido é que o luto precisa ser sentido, mesmo que muitos o neguem. Em 2001, Luiza Kehl não imaginava que 15 anos depois tanta coisa teria acontecido em sua vida. Hoje, com 62 anos, um livro publicado e muitas histórias para contar, ela é um exemplo de fé e serenidade. A organizadora de eventos sempre foi muito espiritualizada, mas em 2001, após o falecimento da filha, Joyce, ela encontrou no espiritismo respostas para dúvidas a respeito da morte da filha. Sobre o processo de luto, a senhora diz que desde o começo sentiu a dor da perda, mas que procurou a melhor forma de passar por isso. “Falta um O luto de pedaço em nosso morte é o mais coração que jamais conhecido, será preenchido. Teporém não o mos que respeitar único este período de luto, viver a dor, porém, sem nos prendermos neste momento”, completa Luiza. O luto dos pais é misturado frequentemente com raiva e culpa, algumas vezes gerando a sensação de que foram injustiçados. Em meio a esse processo, alguns perdem a fé. Por outro lado, existem aqueles que como, a mãe de Joyce fez, procuraram ainda mais a religião e se agarraram nela.
consolação APÓS A MORTE A religião é importante como um conforto. Muitas pessoas procuram respostas ou uma maneira de curar angústias. Alguns conseguem encontrar em terapias o consolo. Segundo a psicóloga Vivian Wallauer Pescke, a conversa é muito importante para o processo de luto. É preciso que a pessoa fale e seja escutada. Mesmo que o enlutado não consiga se abrir logo após o acontecimento, é necessário que alguém esteja presente e pronto para um amparo. De acordo com Francisco Battisti, vice -presidente da União Municipal Espirita (UME), a maioria das pessoas que procura o espiritismo após alguma morte na família quer buscar respostas para suas dúvidas. O espiritismo vê a morte como passagem, que apenas o corpo físico está morrendo, mas a alma é eterna. “As principais perguntas que as pessoas se fazem são: Quem somos? Para onde vamos? Por que sofremos? Todas essas são perguntas naturais”, diz Battisti sobre as dúvidas de quem acaba de conhecer o espiritismo.
Por outro lado, existem pessoas que buscam no Cristianismo as respostas para as angústias. Na Igreja Católica a crença é de que a morte pode fazer sofrer, mas a consolação se dá pela condição de passar desta vida para uma mais plena, junto a Deus. Padre Everson Rodrigues acredita que cada um tem seu luto e que esse processo deve ser vivido, mas que a Igreja Católica mostra o sentido para vida e morte. “Não é vontade de Deus que alguém bêbado cause uma morte no trânsito, não é vontade de Deus que alguém mate, muitas situações Deus não quer que a morte se dê. A morte talvez tenha sido estúpida, mas o conforto está em saber que existe algo pleno após a morte”, completa o padre.
psicologia da perda Além de buscar a religião, é importante que um acompanhamento psicológico seja realizado com a pessoa enlutada. Para a psicologia, o luto é um conjunto de sentimentos que acompanham a tristeza, como a raiva e a ansiedade. Mas todos os sintomas precisam passar em até dois anos. Após esse período, é esperado que a pessoa comece a demonstrar interesse em voltar as suas atividades normais. No entanto, algumas pessoas não conseguem passar por essa etapa, elas se encontram estagnadas em um luto patológico. Não conseguem concluir o processo e param em uma das etapas. Este é o caso de Mariana*, que passou
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A conversa é muito importante para o processo de luto. É preciso que a pessoa fale e seja escutada” Vivian Pescke Psicóloga
recentemente por um processo de luto doloroso após sua aposentadoria. O sentimento pode ser comum para pessoas que trabalharam a vida toda com algo e não sabem como lidar com a ausência da rotina. Há alguns anos, ao perder o irmão passou pela mesma situação. Ele faleceu e Mariana, que cuidava da mãe, teve que abrir mão destes cuidados, pois outros familiares queriam assumir o zelo. Observando que estava sem a mãe por perto e sem o irmão, Mariana se sentiu trocada, não tinha mais a mesma rotina. Quando a aposentadoria chegou, se sentiu da mesma maneira, por lembrar-se da dor que havia sentido no passado.
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( * ) O nome foi alterado para preservar a identidade da entrevistada
Fases do luto Entorpecimento – O primeiro momento após uma perda, seja ela física ou emocional, é o choque. Dura algumas horas ou pode durar até dias. A pessoa nega o acontecimento, tem crises de raiva e se sente desamparada. Anseio e protesto – O segundo momento se trata da agitação e a necessidade de preencher o vazio da perda. A raiva e o choro se manifestam com mais força nesta etapa. Desespero – A fase mais difícil do processo é este momento, em que a pessoa se afasta de tudo e todos, acreditando que não tem interesse em mais nada a sua volta. É comum a falta de sono e fome, perda de peso também pode ocorrer. Tudo é sentido com mais intensidade nesse estágio. Recuperação – A pessoa começa a reagir e se sentir outra vez confortável para a socialização e voltar para sua rotina. Essa fase é conhecida como a etapa em que a pessoa se torna “inteira” mais uma vez. Fonte: Livro A psicoterapia em situações de perdas e luto, de Helena P. F. Bromberg
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MEIO AMBIENTE
Aterro desativado motiva discussões em Canela Entre as polêmicas estão questões ambientais, gastos de transporte e inutilização do espaço público
Gustavo Bauer
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esativado em 2006 através de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público Federal (MPF) e com a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM), área do antigo aterro sanitário localizado na Linha Banhado Grande, no interior de Canela, ainda gera polêmica. A comunidade questiona o abandono do espaço público e a falta de utilização do mesmo para outros fins, assim como gastos do município para acomodar o lixo recolhido na cidade. Segundo o secretário de Meio Ambiente de Canela, Gelton Matos, o município foi obrigado a desativar o aterro através do TAC, que instituiu essa ação em municípios com menos de 50 mil habitantes. O monitoramento ambiental da área deve continuar por mais dez anos, seguido de perto pelo MPF e FEPAM. Já em relação aos custos, o secretário destacou que a desativação imediata foi acertada, pois, se o município continuasse investindo no aterro, desperdiçaria dinheiro público. “Tivemos que nos adequar ao TAC e essa foi uma escolha acertada. Com certeza, a terceirização dos serviços foi financeiramente melhor”, disse Matos. Atualmente, resíduos sólidos da cidade, que antes eram depositados no local, são transportados por empresa terceirizada até Minas do Leão, a 192 Km de Canela. A cada dia, 30 toneladas de lixo
GUSTAVO BAUER
Área do antigo aterro poderá virar pista de motocross ou canil
seguem via rodoviária da cidade serrana até o destino final. O volume de lixo aumentou nos últimos nove anos, de 17 para 30 toneladas ao dia, segundo dados da Secretaria de Meio Ambiente. Já em relação aos custos, a administração pública não revelou a quantia que gastava quando o aterro estava ativo. A Geral Transportes, empresa terceirizada, não quis revelar informações do contrato que mantém com o município. O espaço onde o lixo era des-
pejado não possui cercamento adequado, facilitando o livre acesso a qualquer pessoa. O secretário de Meio Ambiente foi incisivo, argumentando que não há abandono e que a área não oferece riscos à população. “Fazemos análises periódicas nas margens do aterro e em 58 pontos da cidade, avaliando o lençol freático. Hoje, a contaminação é baixa e não preocupa”, explicou. O biólogo Carlos José Frozi, 61 anos, que participou da instalação do aterro sanitário em 2001
e atuou como secretário de Meio Ambiente na oportunidade, confirmou que o local não oferece riscos de contaminação. “As pessoas só podem ser contaminadas caso entrem em contato direto com as lagoas de tratamento, estando expostas a então contrair hepatites, leptospirose e outras inúmeras doenças”, relatou Frozi. No entanto, o biólogo demonstrou também seu desacordo com a desativação do aterro sanitário, entendendo que a medida observou exigência para
a construção do aeroporto em Canela. “Foi uma questão política, pois tecnicamente o aterro era moderno e poderia permanecer aberto por muitos anos mais”, disse. A área totaliza 11 hectares, sendo três deles específicos do aterro. Atualmente, de acordo com a administração pública, existem dois projetos para a utilização do espaço, um deles de cessão de uso para um clube de MotoCross e outro para a construção de um canil municipal, ambos ainda no papel.
Alunos do Fundamental reciclam materiais A Escola Municipal de Ensino Fundamental 1º de Maio, de Farroupilha, selecionou 40 alunos, do 6º ao 9º ano, para dar continuidade pela terceira vez, em 2016, ao projeto Com Vida, voltado ao cuidado do meio ambiente. Cada escola envolvida constrói sua Agenda 21 com o objetivo de transformar a realidade do seu entorno através de ações coletivas de sustentabilidade.
A professora Rejane Vilanova abraçou essa causa e é a mediadora do projeto, que enfatiza o trabalho em grupo e o reaproveitamento de materiais recicláveis que teriam como destino o lixo. Um dos produtos que alunos produzem é o sabão, reutilizando óleo de cozinha. Para tanto, contam com a colaboração de famílias e de restaurantes da cidade. O lí-
quido que ainda sobre dessa reciclagem é vendido para empresa que o transforma e utiliza de diferentes maneiras. O dinheiro arrecadado reverte em aquisição de materiais para a escola e os alunos. A fabricação de cartões recorre a sobras de revistas, jornais, sachês, casca de amendoim e caixas de ovos. Para a aluna Giovana, 12 anos, é gratificante ver o
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produto do trabalho sendo aproveitado. “No dia da família, fomos nós que fizemos os 300 cartões em forma de coração entregues para os pais dos alunos. Foi ótimo fazer”, contou. “Quando comento para a minha mãe o que eu faço aqui na escola, ela diz que estou fazendo o certo”, agregou o aluno Felipe. O projeto Com Vida foi criado pelo educador brasileiro
Paulo Freire, com o intuito de constituir “conselhos escolares de meio ambiente”. Cada aluno integrado ao programa passa a ser um multiplicador de informações para a comunidade onde vive. Os 40 defensores do meio ambiente da 1º de Maio, divididos em dois grupos, reúnem-se a cada duas semanas no contraturno da escola para dar andamento às ações planejadas. (Mariana Balbinotte)
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Entretenimento
Conhecendo os novos personagens do Youtube O site está criando novos artistas, os youtubers, jovens que o utilizam para se divulgar
Eduardo Zanotti da Silva
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cada dia que passa, o Youtube cresce como um grande meio de produção de conteúdo, e quem está fazendo esse material são jovens, que o procuram para divulgar o trabalho, dia a dia ou até mesmo para a própria diversão. Há aqueles que usam o espaço online para se curar da depressão. Como é o caso do youtuber Vinícius Schmidt Felix, 21 anos , do Canal Ah Lemão, que diz que isso ajudou a superar esse problema. “O Youtube foi muito bom para mim no momento de severa depressão, era o único lugar onde eu tinha um conforto, que eu tinha para me alegrar, para um relaxamento onde tudo não era tão terrível. Foi esse sentimento de querer fazer o bem para alguém necessitado igual que me levou a fazer vídeos para o site”, conta. O canal tem 1.377 inscritos, e Vinícius o avalia com um bom desempenho mesmo não atingindo tantas pessoas que gostaria. “Eu sou uma pessoa muito autocrítica, então eu daria nota 8 ou 9, porque sempre tem aquela sensação de que depois que você termina de gravar e editar você pensa, eu podia ter feito melhor”. Fazer vídeo para a plataforma não é uma tarefa fácil. Quem cria conteúdo para o site sempre encontra algum empecilho, dificuldade ou algo que o atrapalha. “A principal dificuldade que quem está começando a produzir conteúdo para o Youtube é se manter motivado, porque é muito fácil você lançar os seus três primeiros vídeos e ficar bem motivado”. Como todo trabalho que é realizado há os prós e contras, Vinicius acredita que até mesmo na produção de conteúdo há isso. “Para mim os prós é que eu consigo treinar aquilo que eu aprendo em aula, colocando em prática o que eu vi na sala de aula, e os contras é que quem cria conteúdo para o Youtube acaba sofrendo um certo preconceito, pois tem pessoas que pensam que é bobagem, inútil e que você poderia estar gastando melhor o seu tempo”. Há quem utilize o site para divulgar arte como no caso do youtuber Abel Kebach Ferreira, 14, dono do canal ZeusBR, com 710 inscritos. O foco do canal de Abel é RAP’S de variados assuntos, séries que envolvem o RAP e Game play. “Comecei a produzir vídeos para o Youtube em 2014. Produzi um RAP em homenagem à youtuber ‘Malena0202’, ela comentou o vídeo e ele alcançou uma boa quantidade de visualizações, possibilitando assim um bom início para o canal”. Até mesmo para quem está começando na plataforma de vídeos, como o Abel, há os pontos positivos e negativos ao produzir os vídeos para o site. “ Para mim, produzir vídeos, traz reconhecimento, interação com a galera que
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entrei na loja de games onde trabalho descobri muitas coisas o que me gerou uma vontade de ter o meu canal e ver se era tão simples quanto parecia”. Guarino acredita que uma boa maneira de fazer sucesso na plataforma de vídeos é através de parcerias com outras pessoas que também produzam vídeos. “Seja amigo de todos do ramo e não se esqueça que no Youtube não existe concorrência e sim parcerias”, diz. Como todos da área e de outras, produtores de conteúdo encontram dificuldades no seu trabalho e para Guarino não foi diferente: “No caso de games o mais difícil é você ter os jogos lançamentos, pois hoje em dia estão cada vez mais caros, já no caso de Vlog é necessário ter um bom PC para poder editar sem travar”.
O Youtube foi muito bom para mim no momento de severa depressão que eu passei, era o único lugar onde eu tinha um conforto” Vinicius Felix Estudante
tem o mesmo gosto que o meu. Porém como nada é perfeito, para produzir um bom conteúdo individualmente, exige muito tempo e é realmente bem trabalhoso”.
DO TRABALHO PARA A PLATAFORMA Diferente dos outros produtores de conteúdo para o site, o youtuber Vinicius Guarino, 24 anos, dono do canal PallazoAndo com 71 inscritos, que começou a fazer vídeos por causa do emprego. “Eu não conhecia muito o site a não ser para ver clipes de música, depois que
apostar mais no Facebook, onde tem mais pessoas que você conhece, amigos e etc., foi uma decisão que não me arrependo! Yu r i t a m b é m c o m e n t a s o bre as dificuldades de quem está no começo das produções. “Acho que a principal dificuldade de alguém que está começando a postar vídeos no Youtube, é a estrutura de equipamentos. As pessoas que acompanham os youtubers ou canal de cantores famosos esperam ver em todos os outros a mesma qualidade”. O jornalista Fabiano Baldasso explica como começou essa produção de conteúdo e do que é necessário para que isso seja feito. “Eu acho que não estamos falando especificamente de uma linguagem de produção de conteúdo para o Youtube, acho que tem que partir da ideia de produção de conteúdo em vídeo”. NEM TUDO DÁ CERTO O jornalista também criou um canal NO YOUTUBE no Youtube, no qual, segundo ele, foi uma experiência muito interessante. Infelizmente nem todos os canais dão “Quando eu lancei o meu canal no certo ou resultados. É o caso do músico Yuri Youtube, fiquei alguns meses, e tive um de Andrade, que usava o canal para divul- milhão de visualizações por mês. Eu progar a música dele, onde ele tocava músicas curei estabelecer uma dinâmica diferente, autorais e covers, mas por falta de audiência que ao contrário dos grandes sucessos do ele preferiu se desfazer do canal. Porém Brasil, que produz material um pouco mais começou a divulgar o trabalho dele pelo longo e de periodicidade mais espaçada. Facebook, onde finalmente está Eu postava de quatro a cinco atingindo resultados esperados. vídeos por dia, de um minuto youtuber “Eu parei de postar vídeos com informação, e eu acabei arrumando os no Youtube, porque a visibilitendo uma boa repercussão últimos detalhes dade estava muito baixa para por causa disso”, diz. para gravar o que eu queria. Então resolvi Jaime Zanatta
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Arte
Estereótipos de sexualização na fotografia Conceitos hierárquicos estão matando o segmento de nu artístico
Artur Cardoso Colombo
A
“
Gosto de lembrar que sou uma vítima, quem deveria ter vergonha de se expor são essas pessoas que tratam o corpo humano como um brinquedo sexual”
PRECONCEITO ENRAIZADO Me despedi da dona Elenice tendo a convicção de que algumas pessoas possuem não só medo da exposição na realização de um ensaio de nu artístico, mas também o desconhecimento sobre como tudo funciona. Procuro, então, alguém que me explique de forma técnica essa relação do corpo biológico com a sexualização desse mesmo corpo e, para isso, converso com a bióloga Miriam Simone, formada em Biologia pela Unisinos. “Todos nós temos um corpo constituído de órgãos, ossos, músculos e afins. Mas nossa cultura ‘determina’ que devemos nos vestir e, portanto, nos ‘esconder’ atrás das roupas. Sendo assim, a roupa se tornou uma espécie de escudo e os nossos olhos passaram a interpretar a nudez como algo ‘inapropriado’ para o convívio humano e, por conseguinte, um tabu se criou. Não há nada mais natural do que o corpo humano, afinal somos feitos da mesma biologia, da mesma genética, salvo algumas características que nos diferenciam”, explica Miriam. Despeço-me da bióloga e caminhando em direção ao meu carro concluo que o problema da fotografia de nu artístico como forma definitiva de arte é exatamente a sociedade, enraizada em conceitos hierárquicos que colocam o corpo como um objeto que só deve ser mostrado no momento do ato sexual o que exclui qualquer outro processo, principalmente o da arte, destruindo uma visão de mundo livre de preconceitos e conceitos hierárquicos.
BRUNA BARROS
definição do que seria ou não artístico no segmento da fotografia de nu é uma tarefa complicada. O que é artístico para uns pode acabar sendo sexualizado para outros. Educação, preceitos morais, idade e cultura são alguns dos fatores que influenciam a percepção das pessoas sobre o tema. Buscando entender mais sobre esse mundo exponho minhas dúvidas para a jovem fotógrafa Bruna Barros. A investigação corporal tem aguçado o olhar de Bruna desde os primeiros contatos com uma máquina fotográfica. É através dela, aliás, que seu olhar vem desmistificando o nu artístico nos últimos anos. Moradora de Sapucaia do Sul e estudante de Artes Visuais na UFRGS, Bruna realiza esse trabalho há mais de dois anos e se diz feliz com os resultados. “Sinto-me grata por eternizar estes momentos íntimos, para sempre”. Com a câmera por perto, esperando o momento para registrar algo do cotidiano, Bruna conta que condena a sexualização de suas fotografias e que isso é influência de uma sociedade que valoriza o corpo apenas por seu apelo ou comportamento sexual. “Vemos exemplos de sexualização, principalmente com as mulheres, em revistas, videogames, videoclipes, filmes e na internet, isso acaba tendo um efeito danoso dentro da arte, tudo que é reproduzido acaba sendo sexualizado pelas pessoas”, explica Bruna. Muitas fotografias expostas nas redes sociais por Bruna, têm ela mesma como modelo, isso acaba gerando críticas. Segundo ela, já recebeu mensagem de amigos pedindo para tirar fotos, porque estava ficando ‘feio’ para sua imagem, ou que poderia atrair assédios. “Como se eu fosse culpada por toda essa sexualização. Gosto de lembrar que sou uma vítima, quem deveria ter vergonha de se expor são essas pessoas que tratam o corpo humano como um brinquedo sexual”, enfatiza. Bruna me conta um pouco sobre como é trabalhar com pessoas que, na maioria das vezes, não são modelos profissionais e só procuram uma experiência nova neste segmento fotográfico. Ela conta que é renovador, tanto para o fotógrafo quanto para o modelo e diz que eles ajudam a entender melhor a figura humana e compreender suas sutilezas e estruturas. Por isso ela não procura modelos que obedeçam a estereótipos, Retratos e adora fotografar pessoais de pessoas de todos os Bruna são tamanhos, formas uma espécie de e etnias. Isso nos laboratório para faz refletir sobre o o trabalho dela preconceito neste com os modelos meio artístico, que,
fazer um ensaio, acha as fotos muito bonitas. “Eu entendo que algumas pessoas achem isso pornográfico, porque sempre foi assim, nossos pais nos ensinaram que é vulgar mostrar o corpo dessa forma. Mas eu acho muito bonito e apoio quem faz, confesso que não faria porque não tenho mais idade para isso”, desabafa dona Elenice, com um sorriso no rosto. Percebo que dona Elenice tem duas REPRODUÇÃO DO filhas, uma de 15 e outra de 18 anos. E PRECONCEITO se as filhas quisessem realizar uma sessão de nu artístico? Ela explica que se Após acompanhar as opiniões no sentiria um pouco desconfortável e que meio da Fotografia, volto meu olhar considera as meninas ainda muito novas para alguém leigo, a para isso. Diz que fim de obter uma visão não tem problema mais abrangente da siquanto às fotografias tuação. A dona de casa em si, mas teme o Elenice Maciel, me reassédio alheio. “Eu cebe em sua residência, teria que conhecer simples, localizada em muito bem a pessoa um bairro carente de que vai tirar as fotos Sapucaia do Sul. Dona e onde elas vão ser Elenice me explica que expostas, por isso, qualquer espécie de nu prefiro esperar um artístico que ela viu até pouco até elas tehoje foi visto através de rem discernimento meios de massa como para lidar com esse televisão ou revista. tipo de exposição”, Ela diz que isso conexplica dona Elenitribui com a sua falta ce, frisando o medo de conhecimento sobre que tem das meninas a diferença entre o nu sofrerem algum tipo Bruna Barros ‘normal’ e o nu artísde assédio se as fotos Fotógrafa tico, mas que, mesmo chegarem até seus nunca pensando em colegas na escola.
segundo ela, talvez exista devido aos estereótipos. “Algumas pessoas preferem expor quadros de corpos lineares e perfeitamente alinhados com o padrão comercial”, indica Bruna, para quem isso faz parte de uma experiência mútua entre o fotógrafo e o modelo e, logo, não exclui ninguém, procurando viver todos os ensaios ao máximo.
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ARTE
Um violão na mochila
Relato de um músico andarilho e seus pitacos comparativos da cultura de rua brasileira e internacional Fernanda Bierhals
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iver um sonho é bom. E viver dois ou três ao mesmo tempo, então? Melhor ainda! Nesse texto eu conto a história de Gabriel Almeida, um músico folk viajante que conta sobre a turnê de busking no leste europeu. Busking? É como chama a performance que artistas fazem na rua. Músicos, bandas completas, atores e companhias de teatro, tem na rua o espaço mais democrático para disseminar arte. Para se apresentar, basta talento e vontade. Não é necessário pagar impostos, fazer merchandising ou cobrar entrada. O público é livre para ir e vir e apreciar. Contribui conforme a adoração e o bolso; aplaude, assovia, vaia. É possível que o artista comercialize seus produtos, divulgue seu material, sem intermediações do capital institucionalizado. Um verdadeiro sonho de liberdade dos artistas alternativos. No Brasil e no mundo, a prática é bastante comum. Na região metropolitana do Rio Grande do Sul, por exemplo, diversos artistas dividem os palcos asfaltados da Esquina Democrática ou da Rua da Praia. Na Redenção, os mais de quatrocentos mil metros quadrados reúnem o público e artistas performáticos de todos os segmentos artísticos imagináveis. Em São Paulo, então, onde a capital comporta mais de 11 milhões de habitantes, é possível encontrar artistas nas principais avenidas, esquinas ou estações do metrô. E é nessa efervescência da cultura urbana que nascem os sonhos da Gabriel.
NOS ARES EUROPEUS Há quase 10 mil quilômetros dali, em Dublin, na Irlanda, pela primeira vez Gabriel faz sua apresentação nas ruas. A capital da Ilha da Esmeralda é conhecida como uma das cidades mais propícias e sociáveis aos artistas de rua, devido à cultura e carisma do povo nativo. Por ser uma cidade multicultural, destino de intercambistas e imigrantes do mundo todo, o multiculturalismo é muito bem-vindo. Foi por lá que nosso personagem desse texto, já formado em Jornalismo e com 24 anos, tomou sua primeira dose de coragem ao observar o quão aberto à a novos artistas aquela cidade era. O palco era extenso e dividido com diversos outros artistas, de diferentes performances e estilos. Na rua de baixo, irlandeses nativos faziam uma batalha de rap. Há algumas quadras dali, outro europeu deslocara um piano para o meio da rua e reproduzia melodias clássicas. Entre uma ruela e outra
ARQUIVO PESSOAL
Gabriel no do Temple Bar – região da tradicional e os palcos externos logo de me apresentar nos pubs Kenny’s Bar em boemia de Dublin – Gabriel Almeida passaram a ser em lugaeu dizia que era brasileiLahinch, Co. saca seu inseparável violão e desenrola res acalentados e interro, a galera gostava ainda Clare / Ireland melodias do mestre Bob Dylan. Sor- nos. “Em alguns lugares, a mais! Acha uma enorme ri tímido, com o rosto parcialmente neve chegava nos joelhos. peculiaridade um latino oculto pela sombra de sua boina. A Literalmente não tinha -americano estar tocando troca dos acordes e o toque nas cor- como tocar na rua. Mas o pessoal é folk na Polônia... Pra falar a verdadas de aço evita que o frio congele os muito acolhedor e respeita o artis- de, eu também achava (risos)”. dedos do músico, que se apresenta ta, dá uma oportunidade pro cara se Hoje, Gabriel já está de volta a ao relento, num frio de -5ºC. apresentar mesmo quando a condição São Paulo. Acabou seu período de Nos conhecemos em um encontro do tempo é adversa”, relata Gabriel intercâmbio e retornou às terras brade amigos, onde entre uma cerveja e sobre os vários convites que recebeu sileiras para ficar próximo da família outra, mais uma vez ele sacou o violão. para se apresentar em pubs. e para se dedicar à escrita. Vez ou Depois disso, pude encontra-lo tocando Segundo o artista, essa ainda é a outra vaga as ruas da cidade divagancomposições clássicas do folk e diver- maior diferença cultural em termos de do ideias e ideais, procurando uma sas músicas próprias pelas ruas de Du- apresentações públicas. “O brasileiro vê resposta para os costumes tradicioblin, cada vez mais desinibido. o músico de rua como um pedinte. E da nais brasileiros e encontrando cada Eis que um dia ele anuncia uma mesma forma vê as apresentações cir- vez mais perguntas. “Eu não consigo certa coceirinha na censes no sinal. Ele entender, rola um preconceito muito alma e na sola do acha que o músico grande com a arte. O bonito de ver é pé. É hora de rodar está ali porque é va- que está sendo descontruído...cada o mundo de novo e, gabundo”. Segundo vez mais lugares ocupados, mais povo em pleno inverno ele, enquanto aqui na rua. Mais artistas, mais público, europeu, o destino essa visão é alimen- arte cada vez mais democrática.” é o frio extremo: o tada por uma indúsNo que depender dos artistas brasiLeste. Com alguns tria cultural baseada leiros, a arte vai tomar as ruas sim. Pela t ro c ado s no b olna popularidade de utilização e revitalização dos espaços so, alguns contaprogramas de televi- públicos, pelo acesso democrático às tos de botecos e o são, lá fora os músi- atividades culturais, pela disseminaviolão nas costas, cos alternativos, suas ção da cultura: cada vez mais a classe lá se foi o Gabriel. composições pró- artística se manifesta. Para Gabriel, Nu m a v i a g e m prias e estilos inusi- esse movimento é mais que positiúnica e turnê intados estão cada vez vo, é motivador. “Estou trabalhando Gabriel Almeida ternacional. Foram mais em alta. “Parece num pequeno repertório. Já á tenho Músico shows na Alemanha, que o público quer em vista um ponto para ficar, onde Polônia, Hungria e mesmo ver algo dife- quero me apresentar. Logo eu tô na República Tcheca rente. Quando antes rua fazendo um som de novo.”
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O brasileiro vê o músico de rua como um pedinte. E da mesma forma vê as apresentações circenses no sinal.”
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CULTURA FOTOS DE Graziele Iaronka
Pichação e grafite dão voz aos pensamentos sociais
O mundo da arte urbana Pichação e grafite traduzem o contexto das cidades
Graziele Iaronka
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ntre prédios gigantescos e bairros da periferia brasileira, a pichação e o grafite ganham vida e trazem consigo diversos significados da realidade das cidades. O consagrado filósofo e crítico cultural alemão, Friedrich Nietzsche, afirmava que a arte nos permite não morrer com a verdade. Ou seja, a arte urbana é uma forma da população sobreviver ao meio em que vive. Por serem tão próximas, as duas manifestações artísticas são confundidas, pois há artistas que trabalham com pichação e grafite ao mesmo tempo. Segundo o professor do PPG em Ciências da Comunicação da Unisinos e estudioso da arte urbana, Fabrício Lopes da Silveira, para efeitos didáticos é possível ver certas distinções formais entre as duas manifestações. “Por exemplo, a pichação é mais verbal; o grafite é mais visual; a pichação é preto e branco; o grafite explora a cor; a pichação tem fundo político; o grafite tem sentido artístico; a pichação se dirige a iniciados, a sujeitos que reconhecem os códigos inscritos; o grafite é dirigido ao cidadão comum; sobre a pichação recai, hoje, maior estigma; sobre o grafite recai uma compreensão de que é mais artístico e mais ‘domesticado’, mais próximo de uma
estética jovem, de maior apelo e trânsito midiático”, explica. Mesmo com as diferenças de significado e estéticas, ambas são termômetros sociais e disputam o espaço público. “Tanto o grafite como a pichação são respostas da sociedade, pois são respostas estéticas e políticas. Essas duas manifestações são como vozes da população, que muitas vezes, não tem por onde se expressar”, enfatiza Silveira.
São Paulo, o berço da pichação Com uma população gigantesca, São Paulo tem uma grande importância histórica para a pichação, pois é um centro de referência geográfica. Dessa maneira, surgiu na década de 90 uma determinada linguagem dentro da arte urbana, conhecido como o pixo paulistano, o pixo com x. “Em São Paulo essa linguagem foi muito desenvolvida, de forma que isso se transformou numa ‘escola’ dentro da pichação, conhecida também como pixo reto. Essa é uma vertente dentro de vários estilos e manifestações”, relata Silveira. O estudioso explica também que o pixo reto é um tipo de experimentação muito própria de São Paulo, que explora a caligrafia reta, principalmente em locais
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altos da cidade, o que destaca São Paulo no cenário da arte urbana. Entretanto, atualmente, a pichação não tem o mesmo significado que tinha quando começou. Segundo o desenvolvedor mobile, nascido e criado em São Paulo, Leonardo Dionísio, 21 anos, a pichação, quando começou, foi usada para o crime, por meio de símbolos específicos. “É uma forma de agressão, mesmo sendo uma arte, pois é algo que você não autorizou. Hoje, deixou ser uma comunicação, porque a periferia mudou”, explica. Dionísio complementa que antes a periferia era muito mais agressiva, mais consciente, e sabia o porquê de estar ali pichando.
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Onde há seres humanos, há a necessidade de comunicação visual” Thiago Scott professor de História
Mas o que leva as pessoas a terem menos consciência? A urbanização. Diante do crescimento dilacerado da grande metrópole, as periferias estão cada vez mais longe dos grandes centros urbanos, pois o Estado tem cada vez mais “higienizado” as cidades, empurrando as periferias para as bordas. “Agora virou violência, pois as pessoas não têm mais consciência de quem está explorando. Isso é resultado da influência da mídia”, enfatiza o desenvolvedor.
Pichação: o protesto por meio da simbologia Por mais que os estudos comprovem a importância da cultura urbana, a pichação é vista como uma arte violenta pela população. Essa é mais comum em lugares de difícil acesso, prédios altos, locais perigosos. Conforme explica o professor de História graduado pela UFRGS, Thiago Scott, dentro de uma mentalidade e senso comum, e até de pessoas mais informadas, a pichação é o ‘primo pobre’ do grafite. “A pichação está ligada às classes mais populares. Isso colabora para o estigma de que se vem das classes populares não é legítimo. Entretanto, se vem de uma classe média mais ilustrada, como o grafite, que possui desenhos complexos e cores, é visto como algo mais bonito”, explica.
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Desenhos traduzem o cenário das periferias e dos grandes centros. Por trás dos traços do pixo e do grafite há muitas mensagens
Marcas históricas da arte urbana
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As duas manifestações são como vozes da população, que muitas vezes, não tem por onde se expressar” Fabrício da Silveira estudioso da arte urbana
Segundo Silveira, as pessoas são pouco instruídas e preferem logo criminalizar e reduzir. “A propriedade, para o senso comum, é algo sagrado. Tudo aquilo que rompe com esta sacralização é muito mal visto e, logo, deve ser contido e criminalizado. Esta é uma das discussões que a arte urbana propõe”, exemplifica. A questão de como as pessoas se relacionam com a cidade é um dos motivos para o preconceito contra esse tipo de manifestação. “A maioria das pessoas não se relacionam com a cidade, pois essas enxergam os espaços sempre privados. A população não se apropria da cidade para si, então, isso gera um problema, pois essas não se sentem como fazendo parte, e acabam vendo a pichação como uma agressão e não como uma forma de comunicação”, acrescenta Scott. Diante dessa visão, Scott destaca outra problemática que gera o preconceito,
fite é arte contemporânea e está em alta. Muitas vezes as pessoas veem grafiteiro, na rua pintando, sujo de tinta e cheio de latas de spray, e já acham que o artista está praticando vandalismo. Muitos ainda questionam: ‘não tem nada para fazer?’, ‘tu só faz isso?’, ‘tu trabalha?’”, diz. Mesmo fazendo grafite, o artista diz que pichação em si é uma cultura, pois essa era usada pra manifestações e protestos, mas que, atualmente, está sendo mal-usada.
a influência do mercado. “As pessoas veem a pichação como poluição social, mas não veem isso na publicidade, pois o mercado diz que isso não é agressão”, considera o professor. Scott ainda diz que vê a pichação como um resultado de um processo de desigualdade social e do processo de urbanização descontrolado no Brasil. “Pichação não é sinônimo de desigualdade, mas é um sintoma de uma sociedade urbana desigual. Está ligado a uma urbanização desenfreada e a uma concentração de renda”, complementa.
Cidade limpa, um alerta
Cores e expressão dão forma A MUITAS ideias
Nem tudo o que parece é o que realmente se vê. Tanto a pichação quanto o grafite tem uma grande importância, pois dá voz aos pensamentos sociais. Mas porque as pessoas temem tanto? Segundo o pesquisador Fabrício Silveira, o preconceito existe pelo fato do indivíduo não entender o que está querendo ser dito. “As pessoas têm medo de perder o controle da cidade, pois a cidade está sendo apropriada sem que alguém peça licença”, exemplifica. É perceptível, que a população vê a arte urbana como uma “sujeira”, pois por trás desse preconceito é evidente o conceito de sociedade higienizada. “Eu particularmente acho bastante perigoso temer tanto a perda dessa purificação e higienização do espaço urbano. A minha tendência é achar muito mais feio e pior, do ponto de vista social, uma cidade totalmente branca e isenta de pichação, pois isso é sinal de que há algum problema”, opina o estudioso.
Uma das diferenças entre tantas semelhanças que podemos encontrar entre a pichação e o grafite é a cor. O grafite é mais artístico menos verbal e mais colorido. Esse está se comunicando com quem não é do meio, sendo compreendido pelo cidadão comum. Entretanto, o grafite, às vezes, é confundido com a pichação, pois tem as mesmas raízes. O artista, tatuador e estudante de Artes Visuais, Rafael Jung, pratica a arte de grafitar há 15 anos. Envolvido desde pequeno com a arte, Jung teve influência dos familiares. “Comecei a pintar telas, mas essas já não me satisfaziam mais e quase ninguém via minhas pinturas. Então, no grafite me encontrei, pois assim eu conseguia mostrar minha arte” conta Jung. O tatuador relata que o fato da população achar que o grafite é vandalismo é resultado da falta de informação. “O gra-
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Estamos cercados por arte em todas as partes. As pichações e grafites possuem muitas histórias por trás dos seus traços, sendo coloridos ou não. Mas como essas nos chamam atenção? Por meio da provocação. Segundo o professor de história, Scott, no bairro do Bom Fim, em Porto Alegre, há uma pichação que diz ‘Sexo e macumba’. “Essa faz com que diversos olhares sejam atraídos”, explica. A comunicação em qualquer sociedade sempre existiu e evoluiu. A prova disso é a arte urbana, que vem relatando a história brasileira. Pichações sobre o aumento da passagem e, principalmente, a da marcha dos 100 mil, onde um manifestante pichou ‘Abaixo a Ditatura’, mostra o quanto a pichação e o grafite constroem a história. “A fotografia da pichação da marcha dos 100 mil está em todos os livros de história, o que comprova o quanto é forte esse tipo de comunicação”, explica o professor. Mas além da arte grifada nos muros, a arte urbana está presente nas danças de ruas, no Hip Hop e até mesmo no funk. O historiador afirma que em todos os tipos de sociedade há um tipo de comunicação simbólica, seja por meio da arquitetura, construções, símbolos religiosos. “Onde há seres humanos, há a necessidade de comunicação visual”, enfatiza Scott.
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CULTURA
Biblioteca Pública mantém raízes em meio à era digital Após a realização de uma adequação tecnológica, o local recebeu modernização e inovação
Andressa Brunner Michels
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udar de vida por meio do estudo. Esse é o objetivo do vendedor Douglas Fontes, 28 anos, mor a d o r d e S ã o L e o p o l d o. Buscando um lugar calmo e silencioso para estudar, ele visita a Biblioteca Vianna Moog para realizar estudos para concursos públicos. No momento, o concurso do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), é o foco principal. Para ele, que mora com cinco familiares, estudar em casa gera muita distração e dificuldade de concentração. “Barulho, televisão e cama, são alguns exemplos de coisas que dificultam o estudo em casa”, explicou. Mas não é apenas pelo local tranquilo que a biblioteca é escolhida para estudos. Segundo Fontes, é uma combinação ideal, pois, há muitas opções de estudo. Além de todo acervo de livros, também é possível pesquisar em jornais, revistas, Livros e enciclopédias, materiais tecnologia específicos, e se necesjuntos para sário, pode ainda utilifornecer mais zar a internet por meio conhecimento dos computadores. D e s e mpre g a d o há dois meses, agora possui mais tempo para dedicar-se aos estudos, reservando de três a quatro dias da semana. A boa localização da biblioteca pública, que fica na Avenida Osvaldo Aranha, no centro de São Leopoldo, também é um fator que facilita a vida do estudante. Com o avanço da tecnologia, todos os lugares precisaram se renovar e adaptar-se aos novos tempos. Segundo a bibliotecária da Biblioteca pública de São Leopoldo, Daiane Andrade, o cadastro do usuário é feito por meio de sistema, onde cada pessoa tem uma senha. Além disso, pode retirar livros, consultar o acervo, fazer reservas e renovações, tudo pela internet. Uma página no Facebook foi criada e informa sobre os eventos que acontecerão no local. Outra modernização que ocorreu na biblioteca foi o Telecentro, que tem dez computadores abertos ao público para que sejam realizadas pesquisas, digitação de trabalhos e documentos, envio de e-mail, entre outros. Para ela, muitos professores das escolas da cidade incentivam o uso da biblioteca, pedindo em seus trabalhos referenciais bibliográficos e o uso de enciclopédias, porém, os computadores também ajudam na complementação da pesquisa. A estudante Pâmela Boeira, 18 anos, nunca havia frequentado o local, porém, quando precisou acompanhar a irmã, Caroline Boeira, 12 anos, para ajudá-la em um trabalho escolar, teve a oportunidade de conhecer as instalações e tudo que é
Lorenzo Panassolo
oferecido para pesquisas e estudos. “Fiquei impressionada com a quantidade de recursos que podemos utilizar, sem contar que o espaço é legal e o atendimento muito bom”, afirmou. Com opções de estudos que conta com materiais importantes e acesso à internet, ela passou a frequentar a biblioteca para preparar-se para o próximo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Atualmente, a biblioteca conta com cerca de 12 mil cadastros. Porém, nem todos são utilizados com frequência. O público ativo é diversificado, desde crianças e adolescentes, até adultos que procuram exemplares com assuntos específicos, materiais para concurso público e literatura para o lazer. Para a bibliotecária Daiane, a falta de atratividade, acervo atualizado e atividades interessantes são alguns dos motivos do desinteresse pelas bibliotecas públicas. “O ambiente precisa possibilitar a interação entre o público e gerar interesse. Por esse motivo, sempre estamos tentando trazer novidades com a realização de eventos, oficinas e muitas atividades”, explicou. O Comitê para Democratização da Informática (CDI), pensando em tornar o ambiente mais convidativo para jovens, lançou um projeto no final do ano passado que visa estimular 50 bibliotecas nas cinco regiões do país, a avançar com o uso da tecnologia. Segundo a diretora executiva do CDI Brasil, Elaine Pinheiro, o projeto pretende desenvolver um ambiente de inovação nas bibliotecas, com a doação de
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500 novos computadores e realização de formações para bibliotecários. “O fato de a biblioteca ser vista apenas como um espaço de leitura pode afastar as pessoas. Ela não se torna um espaço de convívio”, disse.
Livros abaixo de mau tempo
Com cerca de 45 mil livros, a biblioteca sofreu várias vezes com as chuvas, devido às más condições do telhado, com goteiras e infiltrações. A solução temporária é espalhar baldes e lonas pelo local. Conforme explicou a bibliotecária Daiane, foram perdidos em torno de 50 livros e muitos outros ficaram danificados, alguns eram exemplares únicos. O Secretário de Cultura, Paulo Marcelo, afirmou que algumas empresas já estão fazendo orçamentos e estudos para que a reforma seja realizada.
Projetos e Atividades Buscando integrar e incentivar a comunidade a usar os espaços e serviços da biblioteca, muitos projetos e atividades são desenvolvidos, como por exemplo, Projeto Contação de Histórias: Ocorre nas terças e quartas-feiras, voltado para as crianças, em um espaço criado especialmente para elas, que é aberto à comunidade e também utilizado pelas escolas. O objetivo, além do incentivo à leitura, é de que as crianças conheçam a biblioteca
e tragam seus pais ou responsáveis para serem usuários. Os livros infantis também podem ser levados para casa. Jardim da Leitura: É um jardim de inverno dentro da biblioteca, inaugurado em janeiro, decorado com muitas cores pelo artista plástico Rogério Tosca, onde são realizados eventos de incentivo à leitura. Projetos Livros Livres: Já existe há quatro anos, acontece quando são distribuídos livros de literatura em diversos lugares do centro da cidade. A intenção é de as obras passem de mão em mão. A biblioteca Vianna Moog funciona de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 18h30.
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O ambiente precisa possibilitar a interação entre o público e gerar interesse. Por esse motivo, sempre estamos tentando trazer novidades” Daiane Andrade Bibliotecária
Babélia - São Leopoldo/RS - Junho de 2016
CULTURA
O que é ser um super-herói hoje?
Um pouco de ficção, em meio a uma realidade confusa, influencia a cultura nerd cada vez mais Gabriele Gomes
O
primeiro semestre de 2016 começou bem para a chamada “cultura pop”. Os nerds e geeks de plantão foram à loucura com tantas referências. Primeiro, o lançamento do filme Deadpool, da Marvel. Mas outros dois filmes fazem fãs da DC e Marvel terem taquicardia e lotarem os cinemas: Batman Vs Superman e Guerra Civil. Para quem é nerd esse é o ano perfeito, e nem precisa ser entendido no assunto para ser influenciado por essa cultura. Crianças, adolescentes, pais, avós, não importa, basta gostar de super-heróis. “Por trás de toda história de super -heróis se esconde uma compreensão acerca de nós mesmos e do mundo em que vivemos”, ressalta o pesquisador Iuri Andréas Reblin, teólogo e professor da Faculdades EST. A estreia no Brasil do filme Batman Vs Superman lotou as salas de cinema de todo o Brasil. Independente das críticas, o sucesso de bilheteria foi inquestionável. A curiosidade para ver o Cavaleiro das Trevas e o Homem de Aço lutando e brigando entre si foi incrível.
ESPERANÇA DE MUDAR
HERÓIS E RELIGIOSIDADE Reblin mostra o que o Superman representa no âmbito da religião. “Pois, tirando o Batman, que é humano, e mesmo que existam outros super-heróis alienígenas ou meta-humanos, é o fato de ser um humano que demonstra uma característica religiosa”, ressalta. Sobre o filme Batman Vs Superman, dirigido por Zack Snyder, que explora exatamente essa dimensão, de acordo com Reblin. “O diretor mostrou uma alusão já no filme anterior, do Homem de Aço, em três momentos ele associa o Superman a Jesus Cristo, com a idade de 33 anos e várias cenas apocalípticas, por exemplo, quando em um sonho, Superman está de braços esticados e vários esqueletos. Em outro momento, quando ele sai da nave ao fazer o sinal da cruz”, ressalta Reblin. Original-
“
Por trás de toda história de super-heróis se esconde uma compreensão acerca de nós mesmos e do mundo em que vivemos” Iuri Andréas Reblin Teólogo e professor da Faculdades EST
mente o Superman não apresentava referências a Jesus Cristo, foi uma indicação que se construiu na medida em que a mitologia do próprio personagem foi aumentando ao longo dos anos. “É interessante perceber essas imbricações, e o Snyder nesse último filme explora bastante isso”.
mito CONTEMPORÂNEO Sobre a mitologia do herói, podese ressaltar que os super-heróis ou os gêneros de superaventura, são compre-
endidos como mitologias contemporâneas. “As mitologias sobre eles (heróis) recontam feitos extraordinários, reiteram valores, aspirações, medos da sociedade à qual se referem e se destinam”, afirma o professor Reblin. Esses mitos visam a construção de uma identidade, lidam com temas universais, como morte, esperança, violência, e reafirmam um senso de comunidade. Para ele, essas histórias também são histórias de salvação. Elas falam sobre um deus que vem para resgatar a humanidade de perigos eminentes. Todo mundo tem suas preferências, mesmo que digam gostar das duas editoras (Marvel e DC Comics). “A Marvel buscou criar um único universo audiovisual (cinema e tv), tentando aplicar a lógica dos quadrinhos, digamos assim, para dentro desse ‘universo audiovisual’. O resultado, até agora, foi satisfatório, mas a tendência é se complexificar cada vez mais, afinal, um produto audiovisual custa exponencialmente mais que a produção de uma história em quadrinhos”, argumenta Reblin. Para Reblin, toda essa história de super-heróis apresenta uma compreensão escondida de nós mesmos e do mundo que fizemos parte. As pessoas querem um motivo para fugir da realidade, e resgatar a esperança perdida com tantas tragédias do mundo real. E um pouco de ficção nunca é demais, não é mesmo?
Tadeu Vilani / Agência RBS
Essa dominação dos super-heróis na vida das pessoas veio para trazer um pouco de esperança no coração de todos, uma luz no final do túnel. Para a estudante, Estela Froehlichpick, 12 anos, de Novo Hamburgo, a influência veio dos pais. “Eles me incentivaram a ler os quadrinhos, e principalmente aquela ideia de que os super-heróis podem melhorar o mundo”, afirma empolgada. Utopia? Fantasia? O que importa é o que gera essa esperança de mudança. “Meus super-heróis na vida são meus pais”, afirma Estela. As histórias com os super-heróis tem uma tendência forte de serem adaptadas para o cinema e TV. De acordo com o pesquisador Iuri Rublin, embora estejam na ‘moda’, desde que surgiram, por volta de 1938, sempre tiveram uma versão transposta para outra mídia, principalmente no cinema, em seus primórdios. “Ao longo de toda a história das HQs, estas sempre serviram como fonte de ótimas adaptações”, afirma. As narrativas das histórias em quadrinhos constituem uma Linguagem cultura própria, própria marca contemporânea, as adaptações que acaba sendo de elementos da f av o r e c i d a p o r cultura nerd esses diferentes
veículos. Em outras palavras, narrativas gestadas originalmente nas histórias em quadrinhos, hoje chamada de ‘cultura de mídia’ por Douglas Kellner (Professor da Universidade da California, em Los Angeles, e reconhecido como um especialista no estudo da cultura de massas) acabaram se tornando narrativas transmidiáticas. Histórias que podem ser contadas, recontadas, vividas, revividas em diferentes meios. “É isso o que acontece com as histórias de super-heróis, por exemplo”, ressalta Reblin.
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Cultura
Banda do RS tem 300 mil inscritos no Youtube Grupo gaúcho posta vídeos diariamente no site e torna-se referência no cenário pop gaúcho
Verônica Luize
O
CLASSE NERD
Brasil é um dos países que mais produz conteúdo para o site do Youtube. Muitos brasileiros fizeram disso profissão e principal fonte de renda. O Rio Grande do Sul não podia ficar para trás. Há inúmeros youtubers no Estado e entre eles está a Banda The Kira Justice, Porto Alegre, que atualmente possui mais de 300 mil inscritos no canal. Começou em 2007 tocando nos eventos de cultura pop da região metropolitana do Estado. Foi fundada pelo vocalista e guitarrista Matheus Lynar, 27 anos, e natural de Porto Alegre com uns amigos. Estavam em um evento de cultura pop quando perceberam a falta de alguém tocando os principais temas de aberturas dos desenhos e séries favoritos da época e pensaram o quão bom seria juntar essa banda. Hoje, com Matheus na guitarra, voz e composição, Sarisa no baixo, voz e teclado, e Mimura na bateria, a TKJ como ficaram conhecidos entre os milhares de fãs, começaram sem grandes pretensões. Sonhavam com os pequenos eventos da região e quando perceberam, já realizaram shows por todo Brasil e inclusive em países vizinhos e em 2013 surgiu o canal.
a marca de 300 mil INSCRITOS Para Matheus, o sucesso deles deve-se principalmente à determinação. Por nunca desistirem, a persistência e a vontade de sempre fazer mais e melhor pelo cenário da música pop ajudou a chegarem nesse patamar, porém, fazer um trabalho que 15 mil pessoas possam ver em 24 horas é extremamente gratificante e o Youtube tem boa parte do mérito disso. Atualmente, são postados vídeos diariamente. Quando questionado sobre ser um serviço fácil, Matheus responde de forma direta e simples que as dificuldades são muitas, inclusive por conta da instabilidade da economia do país. Por isso, a produção
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Fazer um trabalho que 15 mil pessoas possam ver em 24 horas é extremamente gratificante, e o Youtube tem boa parte do mérito disso.” Matheus Lynar Vocalista da The Kira Justice
Show da TKJ no sua região mostrando o que de material no Youtube é esevento “Geek há de bonito por lá e que um sencial, assim os responsáveis Zone”, no Rio de dia ele sonha produzir um que pelos eventos podem vê-los, Janeiro se torne “viral”. Também faz os fãs podem assisti-los, pedir filmagens que mostram um pela banda nas suas cidades e pouco da sua vida e de sua assim surgem mais shows, o que rotina, mostrando que um garoto de ciainda, é o principal meio de sustento. A TKJ também conta com auxílio finan- dade pequena pode pensar grande. Inspirando-se em Youtubers como Cauê ceiro do Patreon, onde fãs podem ajudar financeiramente em troca de prêmios exclusi- Moura e Jovem Nerd, seus vídeos tem tom vos ou vantagens, há a loja própria que vende de humor, vlog e já alcançou a marca de 2 artigos da banda e também alguns patrocina- mil inscritos no canal. Quando questionado dores, mas não teriam nada disso sem a visi- sobre o que é ruim em ter um canal ele resbilidade que o Youtube proporciona. Matheus ponde com humor que é editar os vídeos, e Sarisa afirmam sorridentes, que melhor que ignorar os “haters” que tentam desmotiva-lo o dinheiro, são as conquistas diárias que a e até mesmo ofendê-lo. Ainda em tom de banda consegue, e por causa delas que eles se- brincadeira, diz que seus inscritos sempre o questionam sobre quando terá novos vídeos, guem firmes produzindo para o canal. Como bons autodidatas, a banda produz, e acha graça da sua “pouca” fama que ele edita e conclui os próprios vídeos. Pedem atribui ao seu cabelo ruivo natural. Apenas da região do Vale do Caí há mais ajuda a amigos quando precisam de algo diferente. Matheus ainda afirma sorrindo de 20 canais no Youtube e canais das bandas que poder viver da música, que é o que re- de rock da região Alisson afirma que há almente os faz feliz, é tão maravilhoso que tantos canais na região por conta da falta do todo o trabalho vale a pena, inclusive poder que fazer além de baladas, é uma forma de juntar música, games e escrita, que são, res- se divertir com amigos sem ter que sair da sua cidade sem a necessidade de ir as granpectivamente, as paixões do vocalista. des cidades. Uma bela maneira de passar o Uma brincadeira tempo sem pensar em “besteiras” e ainda ter a chamada Youtube chance de ter reconhecimento e fama. Para Alisson Bender, 21 anos, de Feliz, e produtor do Canal Alissonedwiges, fazer vídeos é uma diversão e nada além disso, pois o Youtube precisa de muitos views para dar “lucro”. Sua proposta é fazer sempre algo diferente, como o de tour pelas cidades da
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O site mais assistido O Youtube surgiu em fevereiro de 2005, com um vídeo simples e curto de 19 segundos postado no até então desconhecido site. Tudo não passava de uma brincadeira
entre os amigos Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim do Estados Unidos. Hoje, 11 anos depois, o Youtube é o site mais popular para criação e distribuição de vídeos do mundo, possui mais de um milhão de canais pelo mundo e inclusive no Brasil.
A popularidade de vídeos caseiros Para Ivanir Migotto, o Boca Migotto, 40 anos, e coordenador do curso de Realização Audiovisual da Unisinos, o Youtube é muito utilizado pelas mais diversas pessoas “pela fácil navegação e compartilhamento de multimídias”. Quando se pergunta por que tem tantos canais no site ele afirma que “isso deve-se à vontade de ter fama das pessoas, então elas produzem vídeos com a intenção que se espalhe e então alcancem uma determinada fama, que de outras maneiras não haveria como”. “Levando em conta o que possuímos de meios de divulgação, o Youtube reúne, em apenas um lugar, todos os outros. O site em questão é uma ferramenta completa e como tudo nessa vida, deve-se saber usar. Migotto ainda complementa, que “o Youtube é consumido de forma frenética, igual a TV, jornal ou rádio.
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CULTURA
Os mistérios do terror brasileiro
No país das comédias, a produção audiovisual do gênero se desenvolve com caráter independente Victória Freire
A
reprodução de um pesadelo. Assim Ulisses da Motta Costa, diretor do thriller psicológico Kassandra, define o terror. Segundo o cineasta gaúcho, as histórias do gênero não exigem uma explicação lógica para existir: como sonhos ruins, elas avançam sem qualquer justificativa racional e atingem diretamente as emoções do espectador. Tremores, coração acelerado, falta de ar. Em cada ser humano, determinados elementos inconscientes acionam este mecanismo mental de sobrevivência. É na esperança de mexer com as sensações do público de forma tão intensa que os realizadores audiovisuais investem nos filmes assustadores. No Brasil o terror não costuma atrair grande público e constitui uma produção anual pouco expressiva. Dados transmitidos pelo último anuário estatístico do Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA) mostram que, dos 113 filmes brasileiros lançados em 2014, apenas um retratava o gênero. Para a concepção popular, a representatividade do horror nacional se restringe à figura do Zé do Caixão. Seu criador, José Mojica Marins, foi considerado um vanguardista na década de 60. Costa comenta que suas películas, internacionalmente aclamadas, eram audaciosas e “diferentes de tudo o que estava sendo feito na época”. Iniciativas independentes, como a antologia Contos da Morte, que reúne curtas-metragens de 12 cineastas brasileiros, resgatam o horror no cenário audiovisual contemporâneo. O projeto foi idealizado pelo diretor Vinicius José dos Santos, de São Paulo, e produzido em parceria com realizadores de várias regiões do país. Em fase de pós-produção, Contos da Morte deve ser exibido no primeiro semestre de 2016. Santos trabalha no ramo há quase 10 anos, tendo finalizado três longas e
participado de uma colaboração entre Brasil, Nova Zelândia e Canadá. Além disso, criou a própria produtora e organiza a Mostra Monstro, evento voltado para o cinema fantástico. Foi durante a primeira edição da Mostra que ele e Costa se conheceram, quando Kassandra ganhou o prêmio de melhor filme. Após, o gaúcho foi convidado para participar da antologia e desenvolveu o suspense de perseguição Venatio. Ao serem questionados sobre o contexto atual de produção, ambos os cineastas citam Rodrigo Aragão, do Espírito Santo, enquanto referência nacional. O autor da trilogia Mar Negro faz filmes de baixo custo que já foram distribuídos pela América, Europa e Ásia. Seu mais recente trabalho, o longametragem Fábulas Negras, foi exibido em março pelo Canal Space. De acordo com Costa, Aragão faz parte de uma forte cena underground na qual a falta de uma estrutura ideal não é impedimento para executar bons filmes.
Linguagem cinematográfica Os recursos visuais, para o professor universitário João Martins Ladeira, formam a grande fonte de riqueza dos filmes de terror. Jogos de câmera, luz e som são essenciais para criar a atmosfera densa das narrativas. Conforme Ladeira, o cinema se diferencia das outras artes por fazer a junção de todos esses elemen-
tos técnicos. Ao mencionar clássicos de ferentes entre si porque retratam a monstros, tal qual Nosferatu, ele ressalta cultura na qual foram gerados. a utilização do ambiente – as trevas, a névoa, um castelo - como artifício do Incentivo à produção susto. “É um dos poucos gêneros em O Instituto Estadual de Cinema foi que o espaço nunca é trivial, ele sempre fundado no Rio Grande do Sul, em 1968, faz parte da história”, explana. Aludindo ao ensaio O Horror So- com o objetivo de fomentar a produção, brenatural da Literatura, de H.P. Lo- distribuição e exibição cinematográfica. vecraft, o professor conta que o terror Liege Nardi, coordenadora do IECINE, surgiu numa época em que o mun- explica que a entidade era responsável do estava cada vez mais povoado por por armazenar, fazer a manutenção e máquinas, ciência, razão. À medida administrar o empréstimo de aparelhos em que a realidade se torna chata, co- audiovisuais. “No entanto, nos tempos meçam a surgir os contos fantásticos. atuais, esses equipamentos se tornaram Em suas palavras, as histórias aterrori- obsoletos”, complementa. Hoje o Instizantes, assim como as infantis, confi- tuto atua por meio de políticas públicas. guram uma possibilidade de proteger Liege declara que a equipe do IECINE a imaginação, pois “abrem margem também tem buscado obter informações para uma série de experiências que acerca da indústria cinematográfica gaúcha. Um catálogo dos filmes que foram não se teria em outro momento”. Em relação à gênese do terror, realizados com o apoio da entidade será Costa afirma que um fator intrínseco finalizado até dezembro deste ano. Santos confessa a dificuldade de viver ao enredo é a perda da humanidade. “Através de uma metamorfose em algo de cinema no Brasil, principalmente trahediondo ou de uma morte violenta. É tando-se do terror. O gênero não é valoricomo se fossemos um animal tentando zado, o que dificulta a captação de apoios sobreviver”. Intimamente conectado e patrocinadores. “Mesmo assim, a gente ao gênero, o fim da vida pode ser abor- corre atrás e não desiste”, assegura. Ele dado de maneira concreta ou simbó- menciona o uso de plataformas de financiamento coletivo, feito o site lica. No Contos da Morte, Catarse, como um jeito de tirar a temática é representada Ulisses da Motta os projetos do papel. Outros das mais diversas formas; Costa: cineasta, mecanismos de apoio direto e de invasões alienígenas a professor e indireto a projetos audiovisuataques de aranhas. Sobre o crítico de ais são mediados pela Agência conteúdo dos filmes, o cinecinema Nacional de Cinema. asta diz que todos serão diFernanda Bierhals
A antologia Contos da Morte reúne curtas de horror, suspense e ficção científica realizados por 12 cineastas de diferentes regiões do Brasil 39
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TRÂNSITO
Vidas interrompidas pelo descaso na direção Mãe que perdeu o filho em acidente promove campeonato de futebol sete para homenageá-lo
Annanda Werb
A
comerciante Jucelia Gomes, mãe de filho morto em acidente de carro em junho de 2015, homenageia-o anualmente e ajuda a comunidade na conscientização do trânsito. Ela introduziu, com apoio do poder público, a Taça Rafael Brito de Futebol Sete, esporte que o jovem adorava. Este ano, o campeonato teve início no dia 20 de março, contando com 11 times inscritos e 143 atletas de Glorinha e do entorno. A final do campeonato será no dia 12 de junho. Jucelia disse que a iniciativa ameniza a perda do filho, mas também é um incentivo à prática esportiva e um meio de chamar a atenção da juventude dos cuidados que devem ter quando transitam em ruas, avenidas e rodovias. Rafael faleceu aos 20 anos de idade, no dia 27 de junho de 2015, na ERS-030, em Santo Antônio da Patrulha, a 40 Km de Glorinha, por volta das 5h30 da manhã, quando ele voltava com amigo de uma festa. Os pais de Rafael trabalham vendendo lanches do lado de fora das festas que ocorrem no município de Glorinha. A comerciante relatou sobre as inúmeras vezes em que teve de segurar jovens bêbados que pretendiam dirigir para ir embora. Questionada so-
Através do esporte, pais e amigos de Rafael conscientizam jovens sobre os cuidados que devem ter ao dirigir
DIVULGAÇÃO
bre a importância da conscientização em relação ao trânsito, Jucelia frisou que esse cuidado é sempre necessário para que o número de acidentes diminua. “Não acreditamos em acidentes, e sim em falta de conscientização da parte das pessoas que estão por
trás da direção”, afirmou. A Taça Rafael Brito integrase, em Glorinha, ao Movimento Maio Amarelo, introduzido pela Organização das Nações Unidas (ONU). Ela é apoiada por entidades, empresas e poder público, e tem por meta mobilizar um
maior número de pessoas visando a segurança no trânsito. Segundo levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2009 ocorreu 1,3 milhão de mortes por acidente de trânsito em 178 países. Outros 50 milhões de pessoas sobrevi-
veram, mas com sequelas. Na época, três mil pessoas morriam por dia em estradas e ruas do planeta Terra. Acidentes no trânsito são a nona maior causa de mortes no mundo. Nessa estatística o Brasil aparece em quinto lugar entre os países recordistas em mortes no trânsito, precedido por Índia, China, EUA e Rússia e seguido por Irã, México, Indonésia, África do Sul e Egito. Juntas, essas dez nações são responsáveis por 62% das mortes por acidente no trânsito. O estudo apontou que 1,9 milhão de pessoas deve morrer por causa de acidentes até 2020, e 2,4 milhões até 2030. O movimento Maio Amarelo tem por mote a chamada “Atenção pela Vida”, valorizando a preservação da vida e conscientizando para que motoristas sejam mais responsáveis, com o intuito de diminuir a estatística macabra e os casos de acidentes de trânsito.
campanha alerta futuros motoristas
ACIDENTADOS RECEBEM CUIDADOS
No município de Dois Irmãos, de pouco mais de 30 mil habitantes e localizado no Vale do Sinos a 58 Km da capital, o Movimento Maio Amarelo ganhou força durante o mês passado. Ações coordenadas pelo Departamento de Trânsito, e intensificadas nas salas de aula das escolas municipais e do Projeto Global, envolveram mais de duas mil crianças em atividades como palestras e pedágios educativos que chamaram a atenção para a segurança nas ruas. Minipistas também foram criadas nos pátios das instituições de ensino para os alunos terem acesso, na prática, à sinalização de trânsito. Este foi o terceiro ano que o município promoveu no Maio Amarelo. Segundo o chefe do Departamento de Trânsito, Mauro Agostini, as campanhas já surtem efeito em motoristas e pedestres. Como prova, ele mencionou
Em Canoas, cerca de 8.305 acidentes de trânsito são registrados por ano, e o número de ocorrências com lesões graves é alto. A Associação Canoense de Deficientes Físicos (ACADEF), que realiza ações de reabilitação física e inclusão social, atende, atualmente, 19,55 mil pacientes, muitos deles deficientes físicos em decorrência de imprudências no trânsito. Lariane Caetano, 23 anos, e Sandro Freitag, 45 anos, recebem atendimento da ACADEF. Lariane se acidentou em 9 de setembro de 2006. Ela passeava de moto com um amigo quando foram fechados por um carro. A jovem foi arremessada por cima do veículo. Ao cair, por conta de não ter prendido o capacete, bateu a cabeça e sofreu traumatismo craniano. Entrou em coma e permaneceu dias
a redução do número de mortes em acidentes na cidade, que conta com uma frota de 17.353 veículos - 11.838 automóveis e 2.356 motocicletas. “Em 2014, registramos duas mortes e em 2015 apenas uma. O número de acidentes também diminuiu. Em 2014, foram 449 contra 328 em 2015. A queda nos números comprova que nossas campanhas estão atingindo a comunidade e que as crianças estão cobrando seus pais”, completou Mauro. Pais confirmam os puxões de orelha dos filhos. A auxiliar administrativa Gabriela Johann, 41 anos, é mãe do Otávio Johann, que completou dez anos em janeiro. Agora ele já pode sentar no banco da frente no automóvel. A mãe destacou que o filho fica atento aos cuidados no trânsito. “Se entro no carro e não uso o cinto de segurança ele cobra”, completou Gabriela. (Thaís Lauck)
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no hospital. Ela ficou com sequelas motoras, está em tratamento com um neurologista e faz fisioterapia. Sandro sofreu acidente em 11 de março de 2008. Ele estava andando de bicicleta quando um carro ultrapassou o sinal vermelho e atropelou -o. Ficou internado por cerca de três meses. Ele perdeu a visão periférica e o equilíbrio, sente um formigamento constante e, seguidamente, dores pelo corpo, fatores que o impedem de correr e dirigir. Na ACADEF, Lariane e Sandro têm oportunidade de tentar reverter as sequelas. Ambos atribuem os acidentes à falta de educação e respeito no trânsito. Acreditam que para um trânsito melhor é necessário conscientizar as crianças e adolescentes desde cedo, começando nas escolas. (Karina Verona)
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Esporte
Técnico China é destaque do Gauchão 2016
Responsável pela boa campanha do São José no Estadual, China brilha como técnico do Zequinha Guilherme Chaves
J
everson Balbino, 36 anos, apelidado de China na infância, é o técnico mais cotado para levar o prêmio de melhor treinador do Campeonato Gaúcho deste ano. O treinador se profissionalizou como jogador no América -MG, time que conquistou a Copa Sul-Minas de 2000. Depois, retornou para o Rio Grande do Sul e defendeu muitas equipes do Interior, como São Luiz, Ulbra, Santa Cruz, Sapucaiense, Grêmio Bagé, Ypiranga, Santo Ângelo e 14 de julho. Nestes anos como jogador, ele estudou muito e aprendeu na prática os melhores padrões técnicos e táticos. Balbino tornou-se treinador em Santa Catarina, no Caxias de Joinville. Comandou as equipes de base e depois os profissionais. Mais tarde, foi auxiliar na Chapecoense e no Cruzeiro de Cachoeirinha. Em 2014, chegou ao São José,Porto Alegre, para trabalhar com o técnico Gilson Maciel. Em 2015, foi efetivado e o ano foi de título para Balbino. Ele e o grupo de jogadores foram campeões da Copa Valmir Louruz e da Super Copa, assim credenciando-se a permanecer no São José para o Gauchão. Na estreia no Estadual, em janeiro deste ano, o São José aplicou 3 a 0 no Passo Fundo, fora de casa, assumindo a liderança. Depois enfrentou Inter, Cruzeiro e Grêmio. Não perdeu e assumiu a liderança do campeonato. Após campanha, com somente uma derrota, o time do São José terminou com o segundo melhor desempenho da fase de grupos do Campeonato Gaúcho. Com a classificação para as semifinais do Campeonato Gaúcho, o exjogador, exaltou o feito do grupo de atletas. Para ele, o triunfo é mais um marco de sua campanha exitosa à frente da equipe, que mantém boa parte dos atletas da temporada passada. Na fase semifinal, a equipe de China enfrentou nada mais, nada menos, que o pentacampeão gaúcho, o Internacional, pelas semifinais do Campeonato. No primeiro jogo, realizado no beira-rio, o São José empatou com a equipe colorada em 0 a 0, levando uma boa vantagem para casa. Na partida decisiva, jogada no Passo da Areia, uma bola alçada para dentro da área do Zequinha, resultou no gol de Ernando e na vitória do China, 36 anos, Internacional por é uma das 1 a 0. Terminava gratas surpresas ali o sonho do tído Gauchão tulo estadual para
a equipe azul e branca. Apesar da desclassificação, a equipe da zona norte da Capital ficou com o título do Interior - Taça a que concorrem todas as equipes, com exceção da dupla Gre-Nal, desde que não cheguem à grande final - isso dá motivos de sobra para a alegria da direção e comissão técnica da equipe. Perguntado sobre o seu futuro como treinador, China deixou incerteza no ar. “Não sei ainda o que será para o segundo semestre. Recebi
“
algumas propostas, mas o São José tem um projeto para a Série D e o grupo está fechado ”, contou. Ele afirma ainda que São José-RS buscará reforços para conseguir uma vaga na Série C. Inspira-se em sucesso recente de clubes como o Brasil de
RAIO-X Nomes da imprensa esportiva analisam o desempenho do treinador Adroaldo Guerra Filho (Gaúcha) Uma grande surpresa para o futebol gaúcho. Lembro que o São José tinha uma projeção bem ruim para as primeiras quatro rodadas do campeonato, pois jogaria contra, Passo Fundo, Inter, Cruzeiro e Grêmio. Todos acreditavam que o Zequinha perderia os jogos, e China seria demitido. Ao contrário do que pensavam, ele empatou com o Inter e venceu o Grêmio, o Passo Fundo e o Cruzeiro. Ajeitou o time, implantou uma bela filosofia de trabalho e hoje colhe estes frutos. Não sei quem passará de São José e Inter nas semifinais. Sei que, com o trabalho que ele apresentou até aqui, é o melhor técnico do Campeonato Gaúcho.
China, uma grata surpresa do futebol neste ano, levou o São José ao título do Interior e agora busca uma vaga na Série C do Campeonato Brasileiro” Filipe Duarte Repórter
Pelotas, que subiu para a Série B, e o Ypiranga, que está na Série C. Para isso, o clube deve analisar nomes no mercado local. A disputa de competição nacional cria um atrativo a mais para os atletas que disputaram os estaduais pelo Brasil.
Filipe Duarte (Bandeirantes) Eu sinceramente não conhecia o trabalho do China Balbino, mas o conheci na final da Recopa Gaúcha, em 2015, entre São José e Cruzeiro, qual o Zequinha sagrou-se campeão com um belíssimo trabalho de auxiliar juntamente com o Thiago Gomes. De lá para cá, acompanho de perto o projeto do São José. China dá continuidade ao trabalho do Thiago Gomes, que era técnico do clube e saiu para ser auxiliar técnico do Falcão, com muita qualidade. Ele fez uma belíssima manutenção, implantando sua filosofia. China, com certeza, é uma das gratas surpresas do futebol gaúcho. Levou o São José ao título do Interior e agora busca uma vaga na Série C do Campeonato Brasileiro.
Daniel Boucinha/São José
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Esporte
O esporte como plataforma de crescimento
Após 11 cirurgias, Paulo Henrique da Silva prova que obstáculos existem para serem quebrados Tiago Schommer de Assis
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istórias de superação tornam-se cada vez mais comuns com os meios de divulgação contemporâneos. Mas quando fala-se sobre alguém que, mesmo com “limitações” (nem tão limitadas assim) físicas, luta por mais oportunidades dentro do esporte, torna-se um caso especial. Nesse ponto se encaixa Paulo Henrique Amaral da Silva, 22 anos, que luta por mais chances no judô. A história do judoca é de, no mínimo, chamar a atenção, visto que inúmeras complicações físicas aconteceram durante sua existência. Nascido de seis meses, o esportista que hoje se sente feliz por conseguir atravessar o tatame, mal conseguia se manter em pé, por conta de suas “limitações” físicas antes de iniciar a caminhada dentro do judô. “Eu não conseguia me manter em pé por muito tempo nos primeiros dias de treino, com o tempo ganhei mais equilíbrio devido ao esporte“ lembrou o esportista, que manteve-se em pé durante toda a entrevista, escorandose brevemente, por duas vezes. Tendo passado por 11 operações médicas desde que nasceu, Paulo Henrique teve três paradas cardíacas durante primeiro ano de vida. “Segundo os médicos, como meus pulmões não eram totalmente formados, faltava oxigênio em meu cérebro. Tive de ir para a incubadora, mas como em algum momento eu teria de respirar “aqui fora”, me tiraram de lá. Isso ocasionou em mais duas paradas cardíacas. ” Mas não foram apenas essas as barreiras que Silva teve de superar. Após as paradas cardíacas, o lado direito do corpo foi afetado, o que o fez necessitar uma série de cirurgias nos anos seguintes. Ele, que passou pela primeira cirurgia em 2000, aos cinco anos, não conseguia andar normalmente, tendo que se arrastar no chão para poder se locomover. No11º processo cirúrgico, em 2009, judoca precisou ter uma placa de titânio acoplada na canela. “Minha musculatura atrofiou pela falta de fisioterapia, por conta da cirurgia tive de passar cerca de um ano utilizando cadeira de rodas “ explica. Segundo Paulo, este foi um dos momentos mais complicados de sua vida “Eu via meus amigos fazendo coisas comuns e eu mal podia me mexer, foi horrível. ”
mar o caminho dos esportes, Silva iniciou uma caminhada dentro da GABA. “Comecei a praticar o esporte em 2013, eu até sabia dos benefícios, mas nunca imaginei que ele me ajudaria tanto fisicamente “, destaca. O esportista já participou de dezenas de campeonatos. Orgulha-se de suas duas medalhas de ouro e, quando perguntado sobre a sensação de vencer um campeonato, não esconde a satisfação ao relembrar o momento da vitória “ O primeiro foi épico, me dediquei demais para aquele dia. Consegui acertar uma técnica que ninguém tinha ideia que eu sabia. “ Perguntado sobre a técnica, Silva explica que costuma adaptar alguns golpes para sua condição física, de maneira que tenha o resultado mais próximo do esperado. Para completar, ele especifica a sensação do momento da vitória “ No momento em que eu apliquei a técnica, o ginásio se calou, foi demais. Passou um filme na minha cabeça, lembro que tinha visto um vídeo sobre aquele golpe algum tempo antes e re-
solvi tentar. Deu certo (risos). ” A adaptação é constante para o judoca, que costuma modificar certos golpes para que consiga reproduzi-los com eficiência. Aliás, não só a adaptação, mas também o treino, algo que o mesmo faz com muito prazer, segundo o próprio. Paulo treina duas vezes por dia nos dias úteis, entre às 18h e às 20h30min. “Ninguém nasce com dom, o dom se adquire. A prática leva a perfeição“, conta, referindo-se aos treinos. Tamanho esforço já gerou certa preocupação dentro da família, segundo o judoca “No início meus pais ficaram com um pé atrás, mas com o tempo eles viram que os resultados eram ótimos e aceitaram que eu praticasse o judô“, lembra.
PALAVRA DE ESPECIALISTA Uma de suas inspirações, o sensei Eduardo Ferreira, da GABA, falou sobre a superação de Paulo Henrique e o quanto isso é importante para ele,“ É impressi-
Helen Appelt
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Comecei a praticar o esporte em 2013, eu até sabia dos benefícios, mas nunca imaginei que ele me ajudaria tanto fisicamente. ” Paulo Henrique Amaral da Silva Judoca
zonante a evolução do Paulo, lembro que quando ele chegou aqui, nas primeiras semanas, mal conseguia atravessar o tatame. Hoje ele se mantém de pé por muito tempo, demonstrando uma clara melhora no seu físico “, lembra. Mas não é só fisicamente que o judoca melhorou, ainda segundo o sensei, Paulo conseguiu entender que o judô transcende a barreira do tatame “O respeito e o aprendizado andam juntos nesse esporte, para praticar o judô deve-se ter uma mente aberta e calma, mas também muita concentração “, explica.
PRECONCEITO Não poderia ser diferente, o preconceito existe e não é de hoje. No judô ele também aparece, mas Paulo Henrique sabe que ele é praticado por uma minoria. “O preconceito já foi muito maior, durante toda minha vida sofri preconceito Silva durante pela minha condisua rotina de ção física, mas vão treinos do judô precisar fazer mais do que isso para me parar!”, exclama. O esporte parece ter ajudado a mudar a vida do judoca, que viu no mesmo uma oportunidade de melhora física e pessoal, e consequentemente na diminuição do preconceito “Aprendi muito com o judô, conheci muitas pessoas boas e que me ajudaram muito. Respondo o preconceito com mais treinos, tenho que provar que consigo fazer o mesmo que eles”, destaca. Por fim, o atleta foi fazer uma de suas coisas preferidas: treinar. Nesse caso, vale à pena relembrar a frase de Jigoro Kano, criador do judô e responsável pela reforma do Jiu-Jitsu: Somente se aproxima da perfeição quem a procura com constância, sabedoria e sobre tudo muita humildade.
INGRESSO NO ESPORTE Em 2013, ao conhecer o judô, Silva viu algo que poderia ser objeto de auxílio para sua condição física. Decidido a reto-
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ESPORTE
Alambique busca reforços para o estadual
Equipe de São Leopoldo chega para disputar pela segunda vez consecutiva o Gauchão de Váreza Eduardo Vidal
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bjetivo do ano: a busca do bicampeonato do Gauchão de Várzea 2016. Essa é a principal meta do Alambique Leopoldense no ano em que suas atenções estarão totalmente voltadas para a competição estadual, a qual se sagrou campeão em 2015. O t rab a l ho de manutenção da equipe já foi iniciado pela direção do clube, que empreendeu esforços para manter a gara da equipe nesta temporada, que tem início no mês de julho. Sabendo da dificuldade em manter um grupo qualificado e com um bom número de atletas, direção e comissão técnica dão como certa a possibilidade de ter caras novas no time que jogará o maior torneio de futebol de várzea do Estado. No ano passado, o Alambique entrou em campo com atletas combiça-
dos por outros clubes da região que disputam competições municipais e metropolitanas. “Estamos sondando alguns nomes para se agregarem à equipe, até porque, em 2015, fizemos alguns jogos com o plantel reduzido. Tínhamos mais de 20 atletas inscritos, mas como alguns jogadores atuam em vários campeonatos, disputamos muitos jogos com 15 atletas apenas”, destacou o coordenador técnico do Alambique, Gilmar Oliveira. Como o Gauchão de Várzea é uma competição que exige muito da direção do clube, por causa da realização dos jogos em locais distantes, que requer todo um processo logístico e elevado investimento financeiro, o presidente do Alambique Alessandro Camilo, o Lemos, decidiu não participar do campeonato municipal de São Leopoldo organizado pela Liga Interna de Futebol Amador (LIMFA) em 2016. “Sobre o campeonato
municipal, não iremos disputar, Em relação ao apoio de papois envolve gastos e tempo, trocinadores, Gilmar destacou e participar de duas competi- a importância de Manuel da ções simultaneamente, em ci- Costa, o Juca, ex-treinador da dades diferentes, divide muito equipe Associação Portão, de a torcida e acaba prejudican- Portão, que, mesmo sendo elido o clube. No ano minada ainda na passado, jogávamos primeira fase da Atletas aos domingos pela competição em vencedores na manhã e à tarde 2015 pelo próprio mira de outras em locais distinAlambique, aceiequipes da região tos”, contouLemos. tou o convite do DIVULGAÇÃO
clube leopoldense e com toda sua experiência na várzea da região fortaleceu a campanha que trouxe o inédito título para a cidade do Vale dos Sinos. “Falando do Juca, dispenso comentários. Um cara humilde, puro, honesto e de personalidade, que aceitou o nosso convite, abraçou o projeto e nos ajudou muito no título gaúcho. Então, sabendo um pouco sobre ele, acredito que esteja fechado com o Alambique em 2016”, projetou. O Gauchão de Várzea é organizado pela Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer do Rio Grande do Sul (SETEL). De acordo com a assessoria de imprensa do órgão, a quinta edição do torneio terá a participação de 497 municípios do Estado. São Leopoldo contará com dois representantes: o Alambique Leopoldense, atual campeão, e o Cohab Feitoria, que garantiu vaga ao conquistar, no ano passado, o campeonato municipal da LIMFA.
Futebol americano tem fãs em São Leopoldo
NOVO HAMBURGO MANTÉM PLANTEL PARA A SÉRIE D
ESPAÇO SESC CONQUISTA CLIENTELA CANOENSE
O Futebol Americano deixou de ser um esporte visto por raros fãs que possuem alguma ligação com os Estados Unidos. Com o apoio de universidades e empresários, o Brasil também nota a ascensão desse desporte. Existem times amadores tentando construir uma história com a bola oval em praças e campos abertos, como o São Leopoldo Coyotes, que está montando uma equipe há dois meses e já conta com mais de 27 jogadores. Os treinos, que acontecem aos sábados, das 8h às 12h, exigem muito esforço e disciplina. A Praça Elis Regina, local de treinamento, não possui terreno plano, o que dificulta os exercícios que necessitam de deslocamento e agilidade dos atletas. Porém, nenhum desses fatores interfere na vontade de todos de aprender e evoluir a cada semana. “Nossa meta é daqui a cinco meses ter um time competitivo, que conheça as regras do esporte e jogue com inteligência”, afirmou o presidente da equipe, Gabriel Fernandes A busca de patrocínios é um desafio para qualquer equipe amadora, e o São Leopoldo Coyotes procura apoiadores que estejam interessados em ajudar na evolução da equipe. A confecção de uniformes, os materiais utilizados nos treinamentos, como coletes, obstáculos, bolas, não estão no orçamento do time, devido aos custos elevados. Por isso, a ajuda externa é fundamental para a evolução do elenco. “A gente está buscando sim, a gente quer patrocínio, a gente precisa de patrocínio, e as empresas que acreditarem em nós com certeza vão ajudar o esporte e muitas pessoas”, destacou o vice-presidente de comunicação, Mateus Cabezudo. (Lorenzo Panassolo)
O Esporte Clube Novo Hamburgo planeja a introdução de quadro social para se firmar financeiramente, visando a conquista do campeonato da série D do Brasileirão de 2016. A direção do clube está reformulando o elenco em busca de equipe competitiva parar enfrentar, na primeira fase, times como o Madureira, do Rio de Janeiro, o J. Malucelli, do Paraná, e o Brusque, de Santa Catarina. O treinador do Novo Hamburgo, Ben Hur Pereira, afirmou que os adversários desta primeira fase são clubes extremamente organizados, com tradição, e que fizeram grandes campeonatos estaduais. A presidência do clube hamburguês p e d iu a o t re i na d or qu e a c omp an he o trabalho de jogadores das categorias de base, tanto que Bem Hur chegou a colocar alguns desses atletas em treinamento com os profissionais, para que evoluam e adquiram experiência”, disse. Uma das vantagens do Novo Hamburgo é que não sofreu desmanche do elenco principal, o que não ocorreu com seus três adversários diretos. O Madureira teve que vender o volante William Oliveira, revelação do ano, ao Vasco da Gama para fazer caixa. A estreia do Novo Hamburgo será no domingo, 12 de junho, às 16 horas, no Estádio do Vale. A última partida da primeira fase será fora de casa, no dia 17 de julho, contra o J. Malucelli. As finais ocorrerão nos dias 25 de setembro e 2 de outubro. ( Lucas Weber )
Conforto e localização são essenciais na hora de escolher onde praticar exercícios físicos. O Sistema Social do Comércio (SESC) abriu uma nova sede de esportes e lazer para os canoenses e em seis meses já atende mais de 1.200 usuários de segunda a sexta, em todos os turnos. Com o aumento da insegurança nos últimos anos na região metropolitana, os esportes ao ar livre se tornaram restritos a dias e horários da semana. Uma das alternativas são as academias, que oferecem o serviço a um custo elevado, muito caro para usuários de menor poder aquisitivo. Desde dezembro de 2015, quando foi inaugurada em Canoas, a nova sede do SESC vem recebendo essa clientela. “Localização, qualidade dos profissionais, equipamentos novos e preço acessível fazem bastante diferença na hora da escolha”, relatou a aluna de hidroginástica, Eliani da Silva, 56 anos. O SESC Canoas está instalado na Rua Guilherme Schell, 5.340, e é a primeira unidade no Rio Grande do Sul com funcionamento todos os dias na semana. “O que mais me motiva a trabalhar no SESC é poder ajudar a melhorar a qualidade de vida dos alunos e comerciários de Canoas”, afirmou a professora de Educação Física, Caroline Bitencourt, 24 anos. O espaço conta com academia, piscina térmica, sala de teatro para 334 lugares, sala de leitura com três mil volumes, sala multiuso, cafeteria e consultório odontológico. Criado pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), o SESC é uma entidade de caráter privado, mantida por empresários do comércio, que oferece serviços à comunidade com preços diferenciados aos do mercado. (Josuel Maschke)
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ENSAIO FOTOGRÁFICO FOTOS Rubiane Lazzeri da Silva
Um riso para a dor A intenção não é esquecer os problemas, mas ver uma nova perspectiva sobre eles. A alegria, o riso, a positividade tem um grande poder. E acreditar que a felicidade está nos pequenos detalhes pode traz bons resultados também na vida desses pequenos. Mesmo diante de tantas adversidades, são guerreiros. E o que faz o palhaço da ONG Dotorzinhos? Os relembra de que ainda são crianças! (Rubiane Lazzeri da Silva)