Com afetividade, a nova família brasileira quebra preconceitos
No último lar, a vida ainda tem o que ensinar
O pecado dos santinhos macula as eleições
Tecnologia ajuda a evitar sequestro de bebês
Superando resistências, casais gays conquistam direitos na Justiça e recorrem à reprodução assistida para ter filhos.
Idosos amparados por um asilo de Canoas aprendem a se adaptar a uma rotina de ausências, doenças e dificuldades em comum.
Proibida por lei, a boca de urna que suja as ruas é mais vigiada por quem a contrata do que por quem deve coibi-la.
Software monitora maternidades e avisa pais e polícia em caso de retirada de crianças sem autorização.
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Rap agita ruas de Gravataí Página 4 / Caderno de Cultura
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Por uma psiquiatria mais humanizada Graças à Reforma Psiquiátrica, pacientes que antes eram enclausurados em hospitais para fazer tratamentos hoje podem viver em residências especiais. Páginas 4 e 5
LUIS KREBS
Quilombo com cara de condomínio Depois de batalhar por melhores condições de habitação, trinta famílias do Quilombo Chácara das Rosas, em Canoas, vivem desde dezembro de 2013 em uma área com residências de alvenaria, praça e casa de culto. Página 3
PÁGINA 2 ED I TO R I A L
Longe do Jardim do Éden
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epois de uma acirrada campanha eleitoral, com acusações de parte a parte no segundo turno, chegamos ao fim do mais disputado pleito desde a redemocratização do país com a proclamação de candidata vitoriosa, mas com xingamentos ainda em alta nas redes sociais. Para uma parte do Brasil que alguns querem ver dividido, nordestinos, pobres, incautos e ignorantes elegeram a chapa vencedora.
Vem bem a calhar, então, esta edição do Babélia que, em notícias e reportagens, joga o foco sobre pessoas dignas, valorosas, mas que se encontram em situação de vulnerabilidade física, psíquica, social, econômica, de gênero, e que, por esse motivo, ou porque não somam mais números no Produto Interno Bruto (IPB), tendem a ser desconsideradas. Elas contam, porém, no IDH – Índice de Desenvolvimento Humano. Amor não correspondido, sífilis, vadiagem, epilepsia,
delírio espírita, menopausa, uso de entorpecentes já foram motivos para internar pessoas no Hospital Psiquiátrico São Pedro, da capital. Pessoas idosas, abandonadas pela família, que carecem de acompanhamento, acabam em asilos, uma espécie de escola que valoriza a aprendizagem da vivência com colegas com algum tipo de deficiência. A realização da Copa do Mundo motivou ganeses, senegaleses, haitianos e bengalis a buscarem asilo e nova
I M AG EM
morada no Brasil, por eles encarado como país do futuro, terra de muitas oportunidades. Quilombolas da Chácara das Rosas, de Canoas, estão realizados, tanto assim que acham que estão sonhando, tamanha a alegria com o condomínio conquistado. Jovens cadeirantes, mesmo com limitações de locomoção, não esmoreceram e fundaram um time de basquete, que treina em São Leopoldo e espera participar de campeonatos regionais. Seguido-
res de Maomé têm onde se encontrar, na capital gaúcha, para louvar Alá, o Clemente e o Misericordioso. Mulheres buscam coragem para denunciar agressores e se protegem contra estupradores. Para que, por que vivemos? Para engrossar os números do PIB? Certamente a humanidade seria menos agressiva, violenta, egoísta e belicosa se valorizasse a alteridade, aceitasse a pluralidade e visse no Outro um igual em dignidade. Talvez chegaríamos a uma filial do Éden!
BRUNA COMASSETTO
EXPEDIENTE
Ao cobrir a pauta sobre o Centro Islâmico de Porto Alegre (página 12), a fotógrafa Bruna Javiel Comassetto percebeu que é bastante comum a presença de estrangeiros na mesquita. Após o sermão realizado pela manhã, homens dedicaram-se ao estudo da língua portuguesa.
BABÉLIA
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Universidade do Vale do Rio dos Sinos São Leopoldo e Porto Alegre/RS Linha Direta: E-mail:
(51) 3591 1122 unisinos@unisinos.br
Reitor: Vice-reitor: Pró-reitor Acadêmico: Diretor de Graduação: Gerente de Bacharelados: Coord. Curso de Jornalismo:
Marcelo Aquino José Ivo Folmann Pedro Gilberto Gomes Gustavo Borba Vinicius Souza Edelberto Behs
Jornal produzido semestralmente pelos alunos do Curso de Jornalismo da Unisinos - São Leopoldo/RS
Textos: alunos das disciplinas de Jornalismo Impresso I e II, Redação Jornalística I e II, e Redação para Relações Públicas II. Orientação: professores Anelise Zanoni, Edelberto Behs e Felipe Boff. Imagens: alunos da disciplina de Fotojornalismo. Orientação: professora Beatriz Sallet. Projeto gráfico: alunos Daniel Stein Rohr, Diogo Rossi e Matheus D’Avila, da Turma 2013/2 da disciplina de Planejamento Gráfico. Orientação: professor Everton Cardoso. Diagramação: Agência Experimental de Comunicação (Agexcom). Diagramação: Gabriele Menezes. Supervisão: Marcelo Garcia.
2 Novembro/2014
CIDADANIA
Vida nova aos quilombolas Moradores do Quilombo Chácara das Rosas, de Canoas, reivindicaram direitos e hoje vivem em melhores condições na sociedade
Ana Paula Zandoná
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ualquer um que entre no Quilombo Chácara das Rosas, em Canoas, pode pensar se tratar de um condomínio comum: contém casas de alvenaria, infraestrutura de uso comunitário, como praça, centro social, casa de culto e horta. Mas naquele terreno onde tudo parece usual, muitas histórias de lutas foram vivenciadas. A presidente da Associação de Moradores do Quilombo, Isabel Genelício, coordena o local onde vivem 30 famílias, algumas galinhas e 15 cachorros. Ela costuma estar à frente das reivindicações dos direitos dos quilombos na sociedade. Diversos feitos foram conquistados por causa da persistência de certos membros. Atualmente, a associação conta com diversos recursos, como acesso à água e direito a consultas médicas a domicílio, que antigamente não eram tão simples: “Antes, a gente abria a água e distribuía em calhas e mangueiras em um só momento, porque era muito caro”, diz Isabel, aos risos. Antigamente, os homens quilombolas costumavam sofrer preconceito na hora de conseguir emprego: “Nós [mulheres] saíamos de casa para trabalhar, e os homens ficavam aqui, limpando a casa, cozinhando”, afirma Isabel. Porém, hoje em dia, eles comemoram a inserção na sociedade e no mercado de trabalho: “Eles estão trabalhando como limpadores de pátios, eletricistas, mecânicos.”, alegra-se. Em 2009, a Associação Quilombola Chácara das Rosas recebeu a titulação de quilombo urbano. E, em 2012, foi firmado contrato para a construção de moradias novas para os residentes do local. O empreendimento habitacional foi entregue em
tais famílias em outros programas do goverdezembro de 2013 e faz parte do programa no, mas isso não foi feito. Após entrar em “Minha Casa, Minha Vida” destinado a contato com os responsáveis, casas serão entidades, do Governo Federal. construídas no local da horta – que será A luta pelas novas moradias iniciou em transferida para outro espaço no terreno. 2004, mas os associados não foram ouviEm relação às raízes quilombolas, a dos pelo governo e órgãos públicos: “Até reclamação principal é que “as tradições eu achava que estávamos sonhando alto”, enfraqueceram muito”. Para Isabel, isso conta Isabel. Entretanto, em 2009, quando ocorre devido à juventude, que, às vezes, ocorreu a titulação, a visão dos membros não percebe a importância do respeito com mudou e eles passaram a acreditar que seria os mais velhos e não cultuam certos costupossível receber casas novas. mes. Na Associação, existe um Conselho Os quilombolas tiveram de enfrentar de Anciões para guiar a burocracias dos goverjuventude e auxiliá-la a nos federal, estadual e seguir as regras e hábitos. municipal. Inclusive, a Apesar disso, Isabel é presidente da associação otimista. “De uns tempos participou de audiências para cá, o interesse aupúblicas, juntamente do mentou, principalmente Conselho Nacional de em relação à religião”. Ela Promoção de Igualdade credita a melhoria às noRacial (CNPIR), para vas casas, pois aproximou pressionar os órgãos as famílias e gerou rodas responsáveis para firde conversa entre elas. mamento de acordo que Para ela, o assentamento lhes daria direito às novas das famílias nas moradias residências. Ela acredita ISABEL GENELÍCIO possibilitará enxergar que foi preciso anseio por PRESIDENTE DO QUILOMBO melhor “o todo” e, assim, mudanças: “Meu olhar CHÁCARA DAS ROSAS intervir. em relação à Associação é A urbanização foi um fator decisivo diferente. Eu quero respostas. E eu vivenciei para que as tradições ficassem em segundo diretamente a pressão política”, diz. Mesmo plano. O Quilombo Chácara das Rosas é com todos os empecilhos, nada desanimou localizado próximo a um bairro nobre de Isabel: “Apesar de tudo, foi uma grande Canoas, cercado de prédios altos e em frente vitória”, emociona-se. à construção de um shopping. Mesmo que Algumas reclamações, no entanto, surlutem contra isso, a comunidade está insegiram após a entrega das novas casas. Os rida em um contexto fortemente urbano. residentes avaliam o terreno como grande Assim, como há muitos jovens e adoproblema, uma vez que é desnivelado, e, lescentes na associação, é possível perceber quando chove, enche de água e poças na a adoração por tecnologia, como compupracinha. Além disso, Isabel salienta que tador, celular e televisão. Aliás, diversas oito famílias não receberam casas. A precasas contêm televisões de telas LCD e feitura, por sua vez, afirmou que abrigaria computadores. LUIS KREBS Alex, morador da comunidade, alega que passa a tarde inteira no computador. “Só paro para assistir à novela, mas, em seguida, volto ao Facebook”. Gabriela, filha de Isabel, também costuma acessar a rede social, e, quando foi convidada para posar para uma fotografia, disparou imediatamente: “Só tiro fotos quando estou arrumada, para postar no Face”.
“Ninguém acreditava que conseguiríamos as casas. Até eu achava que estávamos sonhando alto.”
Novas gerações dos quilombolas desfrutam da qualidade de vida que as casas novas propiciaram
3 Novembro/2014
BABÉLIA
REPORTAGEM ESPECIAL
Há vida além do São Pedro Humanização no tratamento é adotada como medida de cuidado aos pacientes das residências psiquiátricas
Jean Peixoto
pe multidisciplinar, coordenada pela nutricionista Maria Regina Almeida da Silva, composta por enfermeiro, nutricionista, assistente social, dois residentes (um terapeuta ocupacional e um psicólogo) e 13 técnicos de enfermagem que oferecem atendimento 24 horas por dia. O critério para a seleção dos pacientes que são encaminhados ao residencial é a autonomia, ou seja, a capacidade de interação e discernimento. Os mais aptos ao convívio social, ou menos debilitados pelo confinamento, acabam recebendo a oportunidade de viver nesses locais. Cada morador recebe um benefício do Estado no valor de R$ 600, que é utilizado para a manutenção do residencial. O Hospital Psiquiátrico São Pedro também auxilia financeiramente nas despesas da casa, pois ainda é responsável pelos pacientes. A residência, alugada pela Secretaria Estadual da Saúde (SES), tem três quartos, dois banheiros e um espaço com colchões extras para eventuais visitas. Não há horários específicos para acordar ou comer, como no hospital. As atividades são divididas. Ajudar nas tarefas diárias também faz parte da ressocialização. Mas ali ninguém é obrigado a nada. O propósito é a reintegração ao convívio social. Como presente de Natal, no ano passado, os moradores receberam uma nova companheira, a
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som do pequeno rádio de pilhas só é silenciado após o pedido da psicóloga que acompanha a visita. Poncio desliga o rádio, mas o mantém em seus braços. Aquele foi o presente que ganhara na tarde anterior, quando os moradores do residencial passearam pelo shopping. Seu passatempo predileto é andar no balanço da praça, onde semanalmente são realizados piqueniques. O sorriso pleno de alegria, contrastando com o vazio da boca sem dentes, rapidamente se desfaz, quando, em um ato descuidado, ele derrama suco na sua roupa. Agitado, Poncio pede repetidamente permissão para trocar de calça. “Ele nem mesmo come se não receber permissão”, conta a psicóloga, relatando o histórico de maus tratos do período em que o paciente morou no Hospital Psiquiátrico São Pedro. A humanização do tratamento psiquiátrico e a reconstrução das singularidades são os pilares que sustentam o Residencial Terapêutico Casa da Praça, zona norte de Porto Alegre. Inaugurado em dezembro de 2013, o local abriga hoje dez moradores, ex-pacientes do São Pedro. Oferecer tratamento com cuidados individualizados em um ambiente familiar também são diretrizes fundamentais na Casa da Praça. O novo modelo de vida é fruto da Lei da Reforma Psiquiátrica, iniciada há 20 anos, que prevê a extinção das internações permanentes. Desde 2001, cerca de 35 residências nestes moldes foram construídas em todo o Brasil. Os moradores contam com uma equi-
vira-lata Mel, com quem todos brincam e se divertem. Felipe Martins, um dos psicólogos da casa, conta que durante os dois anos de residência no hospital presenciou diversas cenas de negligência e abandono. Conta o caso de uma senhora com uma inflamação em um dos seios. Incomodado com a situação, levou ao conhecimento das enfermeiras, uma vez que, enquanto psicólogo, não poderia interferir no tratamento médico dos pacientes. Relembra com austeridade da indiferença com que o caso foi tratado. Somente seis meses depois, a senhora recebeu atendimento médico. O jovem reforça que é importante oferecer aos moradores certos confortos, como uma refeição saborosa, que para a maioria das pessoas é algo trivial, mas que para eles é um diferencial durante o tratamento. O olhar atento e curioso do morador Deco nada deixa escapar. Portador de atrofia dos membros inferiores, além da deficiência mental, ele se nega a ficar sentado na cadeira de rodas. Arrastando-se como consegue, ele anda por toda a casa. Mas no residencial ele pode. Assim como pode fazer seus tapetes artesanais e preparar o famoso pão caseiro, altamente elogiado pelos outros moradores e funcionários. “O Deco é o chefe da casa. Aqui ele fiscaliza as tarefas de todo mundo”, conta o psicólogo. “No residencial não temos prontuários, por isso criamos um livro diário para registrar o dia a dia deles”, conta Taís Fernanda Rolemberg, técnica de enfermagem em atividade há quatro meses na Casa da Praça. A jovem, que também foi residente por dois anos no Hospital São Pedro, lembra que em seus tempos de HPSP sentia-se incomodada com a atenção — ou falta de — dispensada aos prontuários: “Como pode quatro anos de uma vida, se resumir a seis páginas?”.
Ajudar nas atividades diárias faz parte da ressocialização dos moradores, que recebem R$ 600 do Estado para ajudar a manter as casas onde vivem
FOTOS DE LUANA FARIAS
A desconstrução das singularidades
Na sala de estar, Elia, a moradora mais ilustre, conhecida pela sua organização e lucidez, espera as visitas com a casa arrumada. Viveu boa parte da vida internada no São Pedro. Fala português, alemão e espanhol e já morou na Argentina. Mas, assim como tantos outros, foi abandonada pela família. Definir a idade de cada um é missão quase impossível. Os anos são calculados por aproximação e o aniversário não é comemorado à data do nascimento, mas sim na internação. Do nascimento para a loucura. Os nomes de batismo também são um mistério, pois muitos ao chegar
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no HPSP recebem o nome do santo padroeiro do dia. Assim foram se perdendo as identidades de muitos internos. Com a progressão da degeneração cognitiva, o limiar entre realidade e fantasia se estreita de tal forma, que se estabelece uma desconstrução das singularidades. É o caso de Cacá, o artista da casa. Suspeita-se de que seu nome fosse Carlos Eduardo, pois no hospital, onde vivia desde a década de 70, era assim que o conheciam. Cacá gosta de cantar, mas como o fim da visita se aproximava, foi obrigado a postergar sua apresentação.
Histórias do São Pedro
Na pequena sala, os visitantes são recebidos pelo historiador do Serviço de Memória Cultural do Hospital São Pedro, o professor Edson Medeiros Cheuiche. Antes de conduzi-los pelos recônditos corredores e imensos pavilhões históricos, Cheuiche compartilha um extensivo e detalhado histórico do hospital. O Hospício São Pedro, inaugurado em 29 de junho de 1884, foi assim batizado em homenagem ao padroeiro da Província. Foi o sexto asilo/hospício de alienados no Brasil e o primeiro do Rio Grande do Sul. A partir de 1961, foi chamado de Hospital Psiquiátrico São Pedro. A inauguração contou com uma grande festa. O ofício inaugural do HPSP foi assinado pela Princesa Isabel. O documento ainda hoje repousa na parede de uma das salas do prédio. De registro, somente os relatos do historiador e a tela de tinta a óleo pintada pelo artista
As causas de internações
Marco Lucaora, ainda não inaugurada, e ao grupo apresentada em caráter sigiloso. Homens e mulheres, pensionistas ou indigentes. Assim eram categorizados e devidamente separados os pacientes do Hospital. Com alas e tratamento distintos, os territórios sempre foram delimitados pelas condições psíquicas e financeiras dos internos.
As dependências do histórico Hospital Psiquiátrico São Pedro já chegaram a receber cerca de 5 mil internos
A escultura do padroeiro do hospital hoje contempla sozinha o pátio vazio, que na década de 1960 chegou a abrigar mais de 5 mil internos. Sobre a mesa da pequena sala, no pavilhão que hoje serve de museu, repousa o livro de admissão provisória com registros de centenas de ex-pacientes da Instituição. Cada página correspondia a uma pessoa, porém devido à superpopulação, na década de 1960 cada uma delas comportava o registro de pelo menos três internos. Amor não correspondido, pederastia, sífilis, vadiagem, idiotice, epilepsia, prática do espiritismo, delírio espírita, abandono pelo amante, desobediência, maus negócios, excesso de estudo, menstruação, menopausa e uso de entorpecentes. Estas eram algumas das principais causas de internação registradas, como relata Edson Cheuiche. “ Isso sem apelar ao excentrismo”, diz ele. De 1947 aos anos 90, diversas ações diminuíram as internações no São Pedro. O processo de interiorização, instaurado nos anos 70, possibilitou a recondução dos pacientes institucionalizados aos seus municípios de origem, reduzindo em cerca de 60% a população de moradores. Hoje, 183 usuários ainda residem no HPSP, enquanto 78 estão vivendo em 35 residenciais terapêuticos, em Porto Alegre e Viamão. Outros quatro novos serviços desse tipo são preparados para receber usuários: duas casas na zona Sul e duas na zona Norte de Porto Alegre.
A superpopulação
Em História da Loucura na Idade Clássica (1972), o filósofo francês Michel Foucault relata como a loucura substituiu a lepra como principal objeto de exclusão e reclusão social no fim do século XVIII. Nau dos Loucos, assim era conhecida a embarcação que regularmente recolhia os insanos e os levava para longe do convívio social. Algo similar ocorria na Província de São Pedro. O historiador Roberto B. Martins, em seu livro Ibiamoré, faz alusão ao trem fantasma, ou trem da loucura. Conta que as locomotivas que percorriam a campanha tinham um dos vagões de transporte de gado transformado para o transporte de doentes. Esse trem e outros meios de transporte, como os bondes, despejavam levas de pacientes nas portas do São Pedro. Assim teve início um dos maiores problemas enfrentados pela instituição ao longo de toda a sua história. A superpopulação. Em seis meses da sua fundação o número de internos passou de 41a 72. Em 1957 o número de pacientes chegava a 2.400.
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BABÉLIA
MEIO AMBIENTE / EDUCAÇÃO Campobonenses trocam garrafas pet usadas por flores da época
DIVULGAÇÃO
Gabriela Ribeiro dos Santos A Secretaria de Meio Ambiente (SEMA) da cidade de Campo Bom promove, toda quarta-feira, o Dia da Troca, quando uma sacola com garrafas pet pode ser permutada por uma caixa com mudas de flores da época. A iniciativa contribui para a conscientização sobre o meio ambiente. “Todo mês, com a ajuda de familiares e amigos, venho aqui trocar as garrafas”, disse a dona de casa Iracema Maurer, 66 anos, que distribui as mudas de flores aos seus familiares. Essa é uma maneira de mostrar aos netos a importância de preservar o meio ambiente para o futuro deles. “É uma forma de nos aproximarmos, pois ensino a eles como devemos plantar e cuidar as flores”, relatou. O Dia da Troca existe desde 2009. A prefeitura contribui com mão de obra especializada, luz e água. “O valor real torna-se baixo, quando conseguimos atingir os objetivos ao qual nos propomos”, destacou o secretário da SEMA, José Orth. Este ano, as garrafas arrecadadas pelo projeto enfeitarão a decoração de Natal da cidade. Voluntários transformarão as garrafas em guirlandas e uma grande árvore de Natal no Largo Irmãos Vetter. Atualmente, as plantas trocadas pelas garrafas pet são cravina, amor-perfeito, petúnia, que são as mudas de flores da época. A troca pode ser feita na sede do Projeto Floração para a Vida, na Av. Bibiano Trott, esquina com Av. dos Estados, no bairro Metzler, das 8h às 11h.
Cinquentenário de Ivoti é marcado com espetáculo de dança Julia Bürkle Schneider Em comemoração ao cinquentenário da cidade, o Programa Lazer Unindo Gerações de Ivoti (Plug) preparou musical inspirado na história infantil “Peter Pan”. A apresentação teve 300 alunos atores e, na estreia, dia 1o de outubro, o aplauso de 4 mil pessoas, que doaram material escolar em troca do ingresso. Unindo dança e teatro, o espetáculo conta a história de um lugar onde ninguém envelhece – a Terra do Nunca. Lá são vividas aventuras entre sereias, fadas, índios e piratas. “Escolhemos essa história por ser emocionante e envolver muitos personagens interessantes para a criação”, contou Jauana Mendes, professora de dança e uma das organizadoras do musical. A preparação começou no início deste ano e contou com o envolvimento de professores de diversas áreas na confecção dos acessórios , apoio às aulas e ensaios. O cenário e figurinos dos alunos foram produzidos pelo Plug com materiais recebidos em doações. Promovido pela Prefeitura de Ivoti, o Plug oferece aulas de música, esporte, informática e artes gratuitamente. Os alunos atores estão matriculados, a maioria, em educandários da rede pública, e frequentam o espaço no turno contrário à escola. “Valorizamos talentos natos, mas também motivamos novas descobertas sobre a própria pessoa”, disse Andréa Schneck, diretora do Plug.
BABÉLIA
No inverno, moradores se encarregam de deixar a orla em condições favoráveis para caminhadas e corridas
Praia Limpa 2015 recruta jovens no Litoral Norte Eles alertarão turistas sobre a importância de cuidar dos cômoros Mariana Dambrós
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Prefeitura de Tramandaí, através das secretarias de Ação Social e Meio Ambiente, promoverá a 5ª edição do projeto Praia Limpa, voltado ao veraneio de 2015. Serão beneficiados 100 jovens, com idade entre 14 e17 anos. Eles orientarão veranistas quanto à preservação ambiental, distribuindo panfletos informativos e sacolas para lixo na beira mar. O projeto foi desenvolvido em 2010, com o intuito de alertar a população sobre os cuidados com a natureza litorânea. As atividades acontecem na beira mar no período de dezembro a fevereiro, nos turnos
da manhã e tarde. Os integrantes ganham da Prefeitura Municipal transporte, uniforme, protetor solar, lanche e um auxilio de meio salário mínimo para a família. Antes de começarem a ação na praia, os jovens receberão treinamento e preparação teórica. “O projeto faz com que os jovens tenham, no período das férias escolares, uma atividade para exercer, evitando a entrada no mundo das drogas”, disse o secretário do Meio Ambiente, Milton Haack. Nos meses de alta temporada, a Secretaria de Obras conta com uma equipe de 30 mulheres para efetuar a limpeza da praia. “Dividimos a equipe em dois grupos, pois o recolhimento do lixo nas dunas exige um maior
Curso de Sommelier abre primeira turma com parcerias em Gramado Carolina Herrmann A primeira turma do Curso de Sommelier, oferecido gratuitamente para a comunidade gramadense através do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), iniciou as atividades em 7 de outubro. As 200 horas de aulas, presenciais, serão concluídas em março do próximo ano. Parceiras na iniciativa, 20 vinícolas da região, referências no mercado, doaram vinhos e espumantes para a viabilização do módulo, informou o coordenador do programa em Gra-
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esforço”, informou Wagner Freitas, da Secretaria de Obras. Cidadãos que praticam ilícitos ambientais, se identificados, estão sujeitos a uma multa que pode variar de 50 a 500 reais, dependendo da infração. No verão, a população em Tramandaí duplica, consequentemente o lixo produzido e depositado na beira mar também. A Secretaria de Obras conta com uma equipe de 30 mulheres e dois caminhões para efetuar a limpeza da praia, diariamente às 5h30. “Geralmente enchemos os dois caminhões com lixo. Nas datas festivas triplicamos a equipe, e mesmo assim quase não damos conta de limpar toda orla”, disse Wagner Freitas, integrante da Secretaria de Obras.
mado, Sidnei Pfau. Os 20 alunos matriculados no curso serão capacitados em técnicas de harmonização, armazenamento, análise sensorial e venda de vinhos. Também serão informados sobre as principais regiões produtoras de vinho no Brasil com origem controlada. Além do Sommelier, são ministrados mais de 30 cursos Pronatec na cidade. “Gramado trabalha nos eixos de turismo, gastronomia e hospitalidade. O projeto entrou em execução em 2013 e, desde lá, mais de mil pessoas foram beneficiadas com o programa”, disse Sidnei. O Pronatec foi criado pelo Governo Federal em 2011, com o objetivo de ampliar a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica. Ele é oferecido em âmbito nacional. O programa é gratuito e os estudantes recebem R$ 2,00 por aula, a título de incentivo.
EDUCAÇÃO
Embate nas escolas públicas Mudança de diretriz no Ensino Fundamental é vista por professores como atraso na educação da rede estadual
Mariana Blauth
O
s primeiros anos escolares são de grandes conquistas. Neles, as crianças dão passos rumo à maturidade. Base para conteúdos de outras áreas do conhecimento, a alfabetização é uma vitória para quem inicia o Ensino Fundamental. Porém, para Renan Nicolai, nove anos, a jornada escolar não tem sido fácil. Pela segunda vez cursando o terceiro ano, o menino enfrenta obstáculos na leitura, além de outros conteúdos. Isso se deve ao fato de que a alfabetização é necessária para o aprendizado de diversas áreas, como matemática por exemplo. Apesar da dificuldade em aprender a ler e a escrever no primeiro ano, ele foi promovido para as etapas seguintes devido a uma das novas diretrizes na educação do Rio Grande do Sul. Atualmente, estudantes não podem ser reprovados nos primeiros dois anos. Assim, os conhecimentos não alcançados em cada etapa devem ser retomados posteriormente. Isso porque, em 2011, a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) criou o Programa de Progressão Continuada na Alfabetização e Letramento para alunos do primeiro ao terceiro ano, reestruturando o currículo do Ensino Fundamental estadual. De acordo com a Seduc, a lei faz com que a escola deixe de ser espaço de aprovação ou reprovação e invista no aprendizado, considerando os tempos de cada aluno. “É um conjunto de direitos de aprendizagem que eles têm que adquirir e vivenciar”, diz a diretora do departamento pedagógico da Seduc, Vera Amaro.
Na prática, lei dificulta o ensino
Roselane Zordan Costella, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), considera o Programa de Progressão Continuada para as escolas públicas positivo. Segundo ela, cada criança tem um momento próprio de aprendizagem na jornada escolar. “Há alunos com período maior para a alfabetização. Temos que conceder esse tempo. Não reprovar é uma questão de lógica, de aprendizagem garantida. Temos que tentar alfabetizar desde o início. Não podemos deixar de ensinar pelo fato de o estudante não reprovar”, garante.
Professora na rede estadual há 35 anos, Rejane Borba vê a lei como um atraso na educação. Ela leciona para o terceiro ano da escola Otávio Rosa, em Novo Hamburgo, e afirma que, ao chegarem ao terceiro ano, crianças com dificuldades devem aprender os conteúdos previstos, além do que ficou para trás. “É um desestímulo total”, salienta. Rejane leciona na turma de Renan e conta que o menino está deslocado em relação aos colegas. Segundo ela, é difícil atender as crianças com dificuldade na alfabetização ao mesmo tempo em que Ensino Médio deve passar os conteúdos Politécnico às que estão adiantadas. faz parte das “Os alunos com potenmudanças cial esperam para seguir Enquanto no Ensino adiante”. Fundamental o Programa De acordo com ela, os de Progressão Continuprofessores não recebeada divide opiniões, no ram orientações de como Ensino Médio uma das atuar após a vigência da principais mudanças de REJANE BORBA lei. “Quanto mais é exidiretriz foi a ReestruturaPROFESSORA gido do estudante, mais ção Curricular, que teve ele tem para dar. Se não início em 2012. Este ano, é exigido no primeiro e segundo ano, o ela foi implantada em todas as séries. terceiro será o foco da reprovação, que é A diretora do departamento pedagócada vez mais frequente. Os alunos pergico da Seduc, Vera Amaro, explica que dem com isso. Quem tem dificuldades de o currículo foi reorganizado em quatro alfabetização leva uma marca para o resto áreas do conhecimento interdisciplinada vida”, avalia. res – o que caracteriza o Ensino Médio A professora Ana Lúcia Flesch, que Politécnico. Além disso, houve aumento leciona nas turmas do segundo e quarto ano da carga horária e o conceito de avaliação da escola Otávio Rosa, em Novo Hamburgo, foi modificado. “Ela valoriza cada experié contrária à lei. “Não é estimulante. Até ência do aluno”, aponta. Outra novidade que ponto isso é positivo para ele e para os é o Seminário Integrado, que introduz a outros?”, questiona. De acordo com ela, as pesquisa científica no período. crianças que não aprendem têm defasagem. Para Roselane Zordan Costella, quanto mais se busca a interdisciplinaridade, meJÚLIA BECKER lhor é a formação dos alunos, que passam a argumentar e a sair do senso comum. A professora diz que quando os projetos são elaborados conforme as áreas do conhecimento, é possível enxergar ação conjunta, cobrando dos estudantes o estabelecimento de relações entre os temas. O ideal, de acordo com ela, é que os docentes sejam consultados para identificar a realidade da sala de aula. “As mudanças precisam ser compartilhadas. Os professores precisam de autonomia sobre elas. O que falta? Que eles tenham entendimento das propostas”, analisa.
Se não é exigido no primeiro e segundo ano, o terceiro será o foco da reprovação”
Na Escola Otávio Rosa, professores criticam a lei da não reprovação
7 Novembro/2014
BABÉLIA
POLÍTICA Primeira cédula eletrônica completa 40 anos de invenção
DIVULGAÇÃO
Jéssica Martins Um bilhete de loteria foi o modelo inspirador para que o advogado e contador Francisco Moro modernizasse a votação. Apurador manual dos votos, há 40 anos ele procurava uma maneira eficaz de processar a eleição, que demandava em torno de três semanas. A cédula lotérica, de fácil compreensão da população, diminuía a margem de erro e foi inspirador para a primeira versão do voto eletrônico. A cédula era preenchida pelos apostadores da loteria conforme os números que lhe agradavam, coluna a coluna. Analisando o modelo, Moro descobriu que era possível fazer o mesmo com os nomes dos candidatos ao governo. Cada um teria seu próprio número, e o eleitor marcaria na cédula de votação. Terminadas as eleições, os mesários perfuravam o cartão de acordo com as respostas, para ser codificado no computador eletrônico. “Eu precisava criar um cartão que qualquer pessoa, mesmo com baixa escolaridade, fosse capaz de preencher e todos sabem fazer suas apostas na loteria”, contou Moro. O trabalho foi submetido à apreciação do Juiz Moysés Machado e logo encaminhado à aprovação na Justiça Eleitoral. Hoje com 70 anos, Francisco Moro ainda guarda todos os recortes de jornais alusivos ao seu projeto. Em folhas já amareladas pelo tempo, o manuscrito do trabalho repousa sobre a mesa. “Eu ajudei a mudar a história da democracia”, conta o advogado.
Para especialistas, reforma política é necessária nas eleições Anderson Huber Após 26 anos de votação indireta, o povo brasileiro conquistou o direito de votar. Mas, afinal, o voto é uma conquista ou um dever? Para o professor doutor em Ciências Políticas da Unisinos, Bruno Lima Rocha, o voto é uma imposição, feita pela lei, e não um ato livre e de espontânea vontade. Ele ressalta que o Brasil não está preparado politicamente. Ele afirma que, sem uma reforma política não há condições de alteração do panorama. Rocha considera esta reforma como muito difícil. “A mobilização dos eleitores perante o voto obrigatório é maior, já que o candidato pode incentivar o eleitor a votar, mas não pode transportá-lo até uma zona eleitoral, pois isso se configura como um crime eleitoral”, afirma. Sobre a reforma política, Rocha diz que deveria ser feita uma assembleia exclusiva e excludente. Ou seja, todos aqueles que formarem a constituinte não poderão concorrer às próximas eleições legislativas, para não correr o risco de legislar em causa própria. Outro ponto das eleições que deveria ser mudado para o professor é o financiamento das campanhas políticas. Segundo ele, “é o negocio mais rentável que existe, pois gera 200% de lucro para as empresas”. As medidas que deveriam ser tomadas, segundo ele, são campanhas com financiamento publico e fundo partidário, para que os candidatos fiquem menos suscetíveis a “chantagens” das empresas.
BABÉLIA
Cartazes ocuparam os protestos de 2013, quando jovens exigiram melhorias na política do país
Jovens pedem mudanças políticas
Juventude demonstra insatisfação por meio dos movimentos Giulia Rodrigues Silvestre
O
s movimentos sociais são utilizados por jovens a fim de reivindicar direitos e questões políticas que deveriam ser tratadas de forma prioritária pelo governo. A juventude é o primeiro grupo a demonstrar inconformidades com a sociedade. Devido à grande mobilização, os resultados são visíveis. Atualmente, esses manifestos são organizados pela internet e depois ocupam espaço nas ruas. Os jovens atuam principalmente por meio de entidades de representação. Porém, ainda há
fraca participação política, sobretudo em períodos eleitorais, explica José Luiz Bica de Melo, sociólogo e coordenador do curso de Ciências Sociais da Unisinos. Para ele, a dimensão política cedeu lugar para a esfera cultural. Um dos aspectos que aumenta o desinteresse pela política é a fraca comunicação dos representantes com os jovens. A forma encontrada por eles para serem ouvidos foi os movimentos sociais. Para a publicitária e protestante Renata Mendonça, essas ações direcionam o governo para os avanços necessários. Porém, Bica alerta que esses manifestos podem ser positivos
Inclusão social é solução contra a redução da maioridade penal Cláudia Paes Em ano de eleições, propostas e promessas estão por toda parte. Porém, alguns assuntos podem passar despercebidos, como a redução da maioridade penal. No Brasil há punição a partir dos 18 anos, o que faz com que crimes graves cometidos por crianças e adolescentes causem comoção devido às penas brandas. Desde 2011, a Frente Parlamentar pela Redução da Maioridade Penal luta para alterar estes códigos. No projeto, que deve ir a plenário em 2014, adolescentes a partir de 16 anos que cometam delitos hediondos ou repetirem crimes graves devem responder criminalmente.
8 Novembro/2014
ou negativos. “A participação nas iniciativas que propõem mudanças positivas é fundamental. Mas é preciso cuidar com grupos violentos”, afirma. O sociólogo explica ainda que a expectativa do jovem ao ingressar em um movimento é realizar reformas ou alcançar transformações em relação a demandas que entende que são fundamentais. É necessário ter a consciência de que as transformações ocorrem de maneira gradual. “A mudança política é muito lenta e dependerá mais da pressão popular do que dos governantes”, ressalta a ativista e advogada Daniela Berwanger.
Advogado e deputado estadual, Jorge Pozzobom (PSDB) é a favor do projeto. Porém, não concorda com a aplicação total da redução para 16 anos. “O índice de crimes de menores não passa de 0,01%, não podemos criá-los dentro de presídios”, afirma o deputado. Para ele, a alternativa seria fazer projetos de inclusão social. Em 2013, as revistas Vox Populi e Carta Capital realizaram uma pesquisa sobre a redução da maioridade penal para 16 anos, e esta foi aprovada por 89% da população. O psicólogo Gustavo Mano diz que o tema é corriqueiro em época de eleições. “Eleitoralmente, é favorável propor a redução, pois crimes envolvendo menores tendem a obter a atenção da mídia, e a proposta desponta como solução mágica para a criminalidade. Nosso sistema prisional representa o abandono da esperança na ressocialização do infrator, e tem superlotação”, diz Mano.
POLÍTICA
A política é suja No jogo da democracia, as práticas nem sempre são limpas – e as provas podem ser vistas nas ruas
ARTHUR MENEZES
Arthur Menezes
À
s 8h da manhã de domingo as pessoas já estavam trabalhando para que a festa da democracia ocorresse. As zonas eleitorais de Gravataí, que ficam em frente ao Fórum, estavam a mil. A Rua Irmão Geraldo fora bloqueada para as ações da Justiça. Cabeças de policiais militares estão para fora da janela do quarto andar. Comunicam-se com os PMs que estão do outro lado da rua. A maioria está de bom humor. As eleições fazem com que haja uma sinergia entre Justiça Eleitoral, Brigada Militar, Guarda de Trânsito e Polícia Civil. Às 8h30min, o comando da fiscalização ainda tratava de detalhes com a chefe da Zona Eleitoral, Marcia Veronique. Os presos seriam levados ao outro lado da rua, num espaço garantido para os policiais militares. Se alguém fosse preso, ficaria lá mesmo, no fórum. Nas ruas, pessoas cometiam os crimes. As escolas da cidade já recebiam os eleitores. Desde fazer propaganda com “santinho” até carro de som, passando pela coação, tudo isso é crime de boca de urna. Artigo 39, parágrafo 5º, incisos I e II da Lei Ordinária 9.504/97. A detenção pode ser de seis meses a um ano e/ou multa. Briga-se pelas esquinas das escolas. Os mais experientes são selecionados pelos partidos para que fiquem nos ambientes mais estratégicos. Alguns pontos são, historicamente, de famílias ou traficantes. “O momento mais complicado é quando a polícia passa”, diz o sujeito que não será identificado. Neste texto, aparecerá como Dudu. “Fiquei com os santinhos na caixa de correio da minha tia”, conta Dudu, “isso me deixava ficar só com dois na mão”. Dois santinhos é o número limite para que não se configure o crime de boca de urna. No meio da manhã, as ruas já estavam uma sujeira só. “Para vereador é melhor, dá para fazer uma correria”, garante Dudu. O sistema eleitoral brasileiro tem votações de dois em dois anos, separando os cargos. Neste ano, as eleições eram para presidente, governador, senador e deputados federal e estadual. “Nas eleições para prefeito e vereador, muitos alegam que os cargos já estão negociados. As relações mais próximas levam a essa incidência maior (de boca de urna)”, garante o sargento da BM João Bento Cabral dos Santos. Com os dados da Zona Eleitoral 173, a informação de que há mais trabalho nas “eleições locais” pode ser confirmada. Em 2010 houve duas representações, 17 processos de ação penal e 26 de notícia-crime. Em 2012 houve 105 representações, sete ações penais e 17 notícias-crimes. Nas eleições que compreendem os cargos de vereador e prefeito, a Justiça foi mais acionada.
No outro dia, na frente da escola, apenas o resquício da boca de urna
“A gente fica restrito ao momento, ao ato. À medida que acontece alguma coisa, a gente pode chamar a polícia. Mas não está no nosso trabalho o lado do preventivo”, diz Roberto Antunes, chefe do setor de mesários em uma escola de Gravataí desde 2001. “O policiamento ostensivo e preventivo segue normal, porém, com um acréscimo de PMs, especificamente para atuarem nas ocorrências eleitorais, principalmente nos locais onde existam seções eleitorais”, garante o sargento Cabral. Isso resultou, em Gravataí, apenas na eleição de 2012, em 35 prisões por “boca de urna”, duas prisões por transporte de eleitores e diversas por propagandas irregulares. “Quando a polícia chega, é só ficar tranquilo”, comenta Dudu, “porque eles não chegam revistando todo mundo”. As estratégias são as mais variadas, mas o diferencial para não ser pego, com certeza, é manter a calma. Saber dar uma volta, ficar fora do raio de 300m da escola se for preciso – distância que limita o crime. Mas, além da fiscalização da polícia, eles enfrentam a fiscalização dos contra-
tantes. Os partidos colocam uma ronda nas escolas. Talvez a fiscalização dos criminosos seja mais eficiente que a da polícia. O responsável pelo fórum garantia a advogados que estavam no local que aquele era um dia atípico. As manhãs sempre apresentam o maior número de prisões. Os advogados persistiram por lá. Passageiros de primeira viagem, os brigadianos que ficaram no plantão, na sala do fórum, ficaram só com as denúncias. Nas conversas, se mostravam cada vez mais surpresos com aquilo. “Coisa boa não ter nenhum crime”, disse um policial. “Parece que não vai ter papelada hoje”, disse outra. Às 9h, um deputado estaria fazendo boca de urna na Morada do Vale. Pouco depois, um candidato estaria fazendo boca de urna numa escola bem no centro da cidade. Dali a pouco, mais uma ligação: um vereador do PT estaria brigando com um vereador do PMDB. Nada se confirmou. No outro dia, mesmo que sem os flagrantes, as provas dos crimes ficaram nas ruas das escolas por toda a cidade. Se a eleição é a festa da democracia, a ressaca dessa festa é das piores.
Os partidos colocam uma ronda nas escolas. Talvez a fiscalização dos criminosos seja mais eficiente que a da polícia
9 Novembro/2014
BABÉLIA
POLÍTICA
Desnudando a vida eleitoral Vale tudo para ter o voto do eleitor
Rosa Vargas
N
a política reinam interesses pessoais e pouco coletivos, promessas nunca cumpridas, ataques a adversários que serão aliados. E os políticos que se omitem em responder perguntas simples, o que esperar deles na hora de representar os interesses da população? De acordo com um candidato que não quis revelar a identidade, e preferiu ser chamado de Blackout, a diferença de verba cedida ocorre porque o dinheiro vem dos “CC”(Cargos de Confiança) que cada candidato com mandato tem. “Inexperiência, empresários que ajudem em sua campanha. O maior é o financeiro, sem dinheiro não se faz política. Devemos repensar os financiamentos de campanha pelas grandes empresas, deveria ser apenas as doações de pessoas físicas,” diz Blackout. Segundo o entrevistado o vereador que agora quer ser deputado, não pensa no eleitor de maneira nenhuma. “Ele não está nem aí para o voto que recebeu. seu objetivo é ganhar mais e ter privilégios. Assim como aquele que aceita uma secretária.” E conclui falando o que é levado em conta na hora de uma coligação. “As coligações levam em conta a disponibilidade de cargos, na esfera nacional (ministérios) e na estadual (secretárias). E afinidade política.” Perguntado o que fazer para aumentar o interesse do cidadão na politica e sua opinião sobre o voto facultativo, ele é direto. “Ser honesto, trabalhar pelo coletivo e não pelo individual e combater a corrupção. Vai melhorar muito, com o voto facultativo, pois quem não tem interesse na política vai ficar de fora. Sou a favor é claro.” O que pensa sobre a violência e a im-
punidade, a redução da maioridade penal virtual. Tudo o que ocorre neste contexto Blackout é taxativo. tem repercussão na rede. “Não resolve apenas ameniza, devemos Importante destacar que a utilização rever nossas leis e torná-las mais severas, das redes sociais para arrecadação de votos bandido sabendo que vai ser punido, comete foi impulsionada pelo atual presidente dos menos crimes. Sou a favor da pena de morte. Estados Unidos, Barack Obama, já em 2008. Se o sujeito sabe que pode ser condenado à Atualmente, as redes sociais representam morte, ele irá medir seus atos, pois o mais canais privilegiados de interação entre um vil dos seres não quer morrer.” candidato e o eleitorado. Servem para humaHumberto Dantas, cientista político da nizar a figura do político, que pode externar Rede Vida, admite respirar política 24 horas o livro que está lendo, o filme que pretende por dia. “Essa minha ansiedade, esse meu assistir, ou o passeio que vai fazer no final de desejo de ver a política semana. Ao contrário do sendo discutida, debatique ocorre num comício, da, vivida no cotidiano onde ele fala para deterde forma consistente me minado público, e na web transforma num chato conversa com o eleitor. que precisa pedir desculNo entanto, utilizar a pas pelos exageros. Pois internet com profissionabem, desculpa,” comentou. lismo é fundamental para Na visão de Humbero sucesso de qualquer canto: “Política se discute, dedidato. Compreender que bate, se explora, e avança este é um espaço de troca, sobre ela. É essencial que interação e diálogo e que você construa sua forma tudo isso pressupõe emprópria de olhar o mundo. penho e disposição para MICAEL BEHS O voto é um direito conestar literalmente conecPROFESSOR DE quistado às duras penas tado a um determinado JORNALISMO DIGITAL que lhe dá a oportunidade público. de escolha,” ponderou. Neste sentido, a efiSobre as coligações partidárias diz que cácia da rede para fins eleitorais depende os partidos políticos viraram uma franquia, dos usos e apropriações que cada político aquele que detêm o poder explora melhor faz destes espaços. e faz melhor negócio (coligação). Promete A internet também pode prejudicar uma vantagens a seus aliados no âmbito federal candidatura. Ninguém quer interrogar o seu e estadual. candidato e ficar sem resposta. Portanto, quem se dispõe a estar na rede precisa compreender as suas lógicas de funcionamento. As redes sociais e a política É notório que muitos deles procuram De acordo com o professor de jornalismo visibilidade nestes espaços apenas durante o digital Micael Behs, os grandes comícios e período eleitoral e, depois, saem de cena. Essa locais para o debate da vida política se transpostura evidencia a falta de comprometimenferiram, em grande parte, para o ambiente to de alguns que, após eleitos, restringem ROSA VARGAS os canais de interlocução com o eleitor ao invés de alarga-los. A disseminação de um boato pode, sim, prejudicar uma candidatura e a neutralização dos seus efeitos exige uma assessoria de imprensa capacitada para intervir em situações de crise. Na esquina uma senhora aparentando uns 70 anos com uma bandeira nas costas e uns panfletos de campanha. A distribuir. Diz: “Não sou parente e nem conhecida da candidata, apenas simpatizei com as ideias na internet e quis disseminar a outros meu voto.”
A eficácia da rede para fins eleitorais depende dos usos e apropriações, que cada político faz destes espaços”
Senhora de 70 anos fazendo campanha para a candidata que ela apoiou através das redes sociais
BABÉLIA
10 Novembro/2014
GERAL
Um colégio no fim da vida Num asilo, os idosos precisam aprender a lidar com a saudade, as doenças e as dificuldades de todos para se adaptar à rotina do novo e último lar
Ariane Laureano
À
s 7h30min todos acordam e tomam café. Em fila, os idosos se dirigem ao refeitório do Lar Vicentino Dr. Décio Rosa, em Canoas. Os que têm dificuldade para caminhar chegam por último e demoram a ser servidos. O ambiente é silencioso, menos na hora das refeições, quando a alegria e a conversa tomam conta do espaço. Segundo pesquisa do Instituto Sodexho, até 2025 o número de pessoas com mais de 65 anos crescerá 156%. Com o aumento da expectativa de vida, o Brasil começou a se preocupar com os idosos. Em 2003 houve a aprovação do Estatuto do Idoso, estabelecendo sanções para a violação dos direitos dessa faixa da população. “Se o idoso fosse respeitado no Brasil, não precisaria disso”, lamenta a doutora em Ciências do Movimento com ênfase em Envelhecimento Bem-sucedido da Unisinos Susana Hübner Wolf. Muito antes dos 60 anos, as pessoas “mais velhas” já apresentam características de quem passou por muita coisa na vida. Além de rugas e cabelos brancos, vêm as doenças. As principais são o Alzheimer e o câncer. Nem todos têm a sorte que teve Nilva Aguzzoli. Seu neto Fernando Aguzzoli largou a empresa e a faculdade de Filosofia para cuidar da avó que sofria de Alzheimer. Muitos, como Reni Prates Monteiro, acabam indo para um lar. Magro, de olhar vago e triste, ele não tem 36 anos, como diz, e sim 80. Leva a vida como se os “três ou quatro” filhos – são três – fossem novos e os netos, recém-nascidos. Segundo Reni, não faz um ano que ele mora no lar, mas os registros mostram que está lá há mais de 10 anos. No Alzheimer, fatos do passado viram momentos vividos há menos de horas. Segun-
tos desabafa: “É brabo, aqui ninguém é feliz, do o presidente da Associação Internacional porque vem contra a vontade. Ou vem porque de Geriatria e Gerontologia, Renato Maia, não pode mais cuidar da casa, ou porque não é preciso ficar atento às consequências da quer incomodar os filhos”. A moradora é a perda de memória na rotina do idoso, visto mais jovem do lar, com 70 anos. Não é só de que o esquecimento é um sintoma comum idade que Claudete é a mais jovem. De cabelo de quem está envelhecendo. loiro e raiz bem retocada, ela não parece se Assistindo ao horário político na sala de encaixar nos padrões do asilo, não fosse pela estar do lar, que possui muitos sofás e só uma muleta e pelas dores nas articulações. televisão, Reni senta-se retraído, mas declara Para Dolores Guciardi Martins, a única que adora votar. “Acho tão lindo. Acordo de opção foi o lar. Com 92 anos, visão e audição manhã, tomo um banho e vou votar.” Na prejudicadas, a ex-dona de casa parou com as verdade, ele não vota há mais de 15 anos. atividades domésticas, que As maiores dificuleram interrompidas por dades ao se mudar para desmaios. Franzina e com um asilo são o desapego o rosto cheio de marcas, – dos objetos pessoais, do morava sozinha. Não tem convívio com familiares e parentes vivos e sofre do até mesmo de animais de coração. “A missão que me estimação – e a adaptação deram foi enterrar todos aos outros idosos. “Aqui é eles. Fiquei sozinha, mas um colégio, só que a gente Deus me dá força para aprende a conviver com as superar tudo isso.” deficiências de cada um”, Para Margarida Mota, explica a moradora do lar MARIA CONCEIÇÃO SERVA de 88 anos, ir para o lar foi Maria da Conceição Serva. MORADORA DO LAR uma luta com a família. Os asilos, ou ILPI (Institui“No início, meu filho não ção de Longa Permanência queria, mas depois decidiu que, quando eu para Idosos), são classificados por grau de completasse 65 anos, viria para cá.” Cheia de dependência do idoso, que vai de 1, o mais vida e de histórias para contar, Margarida faz autônomo, a 3. No Lar Vicentino, só são aceitos crochê em pano de prato e tricota roupas de os de grau 1. bebê. A única reclamação é sobre a comida, Na casa da família Aguzzoli, a situação foi insossa e líquida. Para a janta, ela comprou diferente. Nilva morreu antes de ir para um pizza. “Eu me governo”, diz a avozinha com asilo. “Há um momento para que essa transiuma forma na mão. Apesar da faceirice e das ção seja feita: é quando achamos que o idoso visitas que recebe, Margarida não esconde precisa mais do que amor, precisa de atenção a saudade do marido, morto há mais de 30 profissional”, comenta o neto Fernando. Em anos, nem as lágrimas ao mostrar sua foto. muitos casos, o lar ou clínica é uma salvação “Este aqui era o meu negrão. Viu como eu para os idosos que, abandonados ou sem estava bem?” parentes vivos, recebem carinho e cuidados Se para uns ser feliz é recordar, para de voluntários e funcionários. outros é aproveitar cada momento, como Apesar disso, Claudete Gonçalves dos SanNilva. Seu neto e a família resolveram enARIANE LAUREANO carar a doença com bom humor. Para isso ele criou uma fanpage no Facebook, onde narrava as peripécias da avó. Segundo Fernando, ele tomou essa decisão para evitar que sua mãe morresse de depressão antes da avó de Alzheimer. Do portão do lar, um senhor abana para a família que o visitou e foi embora, retornando com um andar lento e com lágrimas no rosto. Do mesmo portão, os colegas observam a ambulância chegar e querem saber qual dos companheiros está passando mal. Dessa vez não foi nada de mais, mas quando um dos idosos se vai, todos sentem. É como diz Dolores: “A gente, quando nasce, nasce pra morrer”.
Aqui é um colégio, só que a gente aprende a conviver com as deficiências de cada um”
Apesar de viver num asilo, Margarida Mota se governa e ainda escolhe sua janta
11 Novembro/2014
BABÉLIA
GERAL
A biologia nunca esteve acima do amor Em tempos de intolerância, o não convencional precisa se tornar normal
Vanessa Souza
ção assistida entrou na vida delas. Decidiram que o óvulo usado seria o de Eva e o esperma veio de um banco de reprodução. Depois de algumas tentativas frustradas, recorreram à adoção, mas foram paradas pela burocracia. “Fiquei sem esperanças e pensei em não repetir o procedimento, já havia gastado muito (mais de R$ 25 mil)”, conta Eva. O processo de reprodução assistida não é barato. Na rede pública de saúde ainda são poucos os centros que realizam o tratamento gratuitamente. Apenas em Pernambuco, Distrito Federal, São Paulo, Goiás e Rio Grande do Norte. Segundo o obstetra especialista em reprodução assistida Paulo Gallo, entre medicamentos e custos clínicos, o procedimento custa em torno de R$ 18 mil. As moças determinadas a serem mães viram a ansiedade se tornar alívio na quinta tentativa, quando foram implantados três óvulos em Eva. Alguns dias depois do procedimento, a ligação da clínica confirmou: estava grávida de gêmeos. Com os casais formados por homens, acontece a reprodução na “barriga solidária”. Escolhe-se de quem será o esperma usado para fecundar o óvulo e em seguida procura-se um banco de óvulos para escolher a doadora. Os doadores de óvulos ou esperma são escolhidos através das suas características físicas, mas
E
m um dos debates presidenciais deste ano, o famoso candidato do aerotrem, que peculiarmente se diz um representante da família brasileira, proferiu um apanhado de bobagens sobre homossexualidade. Para ele, “aparelho excretor não reproduz”, estimular a união homoafetiva reduzirá a população pela metade, gays devem ser atendidos no plano psicológico e “dois iguais não fazem filho”. Certamente, para Levy Fidelix, uma família ‘tradicional’ é formada pelo pai, pela mãe e por um ou mais filhos. Acontece que o sentido de família vem ultrapassando as definições pré-fabricadas há muito tempo. O que talvez Levy não saiba é que, segundo o último censo do IBGE, pelo menos 60 mil famílias se declararam homoafetivas no Brasil. Além disso, dois iguais fazem filho, sim! Em maio de 2013, o Conselho Federal de Medicina (CFM) aprovou uma resolução que garante aos casais gays o direito de recorrer à reprodução assistida para ter filhos. A resolução que definia as normas para o procedimento até então limitava as chances para eles. Agora, as novas regras deixam claro que o tratamento pode ser utilizado por casais homoafetivos. Em mulheres o procedimento pode ser feito a partir da inseminação de uma delas, ou por gestação compartilhada, quando o óvulo de uma é inseminado e introduzido na outra: dois iguais fazendo filhos. Eva* e Maria* são companheiras há nove anos. Eva sonhava em ser mãe, Maria já tinha uma filha de 13 anos. Foi então que a reprodu-
não é possível ver fotos ou ter contato. Essas células são explicitamente proibidas pela legislação brasileira de serem comercializadas. Da mesma forma, aqui no Brasil é proibida a ‘barriga de aluguel’, quando uma mulher cobra dinheiro para gestar o filho de alguém. Para Mailton Albuquerque e Wilson Albuquerque, quem emprestou o útero para gerar o primeiro filho do casal foi uma prima, em 2011. Maria Tereza, filha biológica de Wilson, nasceu em 2012 e eles viraram notícia pelo pioneirismo: foram o primeiro casal gay a conseguir a dupla paternidade legalmente. Já o caçula, que nasceu em junho deste ano, foi gerado por uma amiga do casal. Em ambos os casos os procedimentos ocorreram com o aval do Conselho Federal de Medicina. Junto com o filho mais novo, veio mais um fato inédito protagonizado pelo casal. Mailton obteve a primeira licença maternidade oferecida a um gay no Brasil, que lhe deu o direito de ficar em casa por seis meses para cuidar de Teo, que é seu filho biológico. “Sempre acreditamos que o amor é a base de tudo”, conta Mailton. Os gays ainda enfrentam algumas dificuldades no âmbito legal, pois o Brasil não tem legislação para esses casais. Em 2013, foi regularizado o casamento civil gay, que passou a obrigar todos os cartórios do país a celebrar cerimonias entre pessoas do mesmo sexo e a converter união estável em casamento. Agora é possível que eles tenham direito a pensão alimentícia, previdência e plano de saúde. Quando um casal gay decide registrar seus filhos, ainda encontra dificuldades: os pais da criança devem entrar com uma ação judicial. E esses filhos, como serão no futuro? Estudos realizados em vários países mostram que crianças que pertencem a famílias homoafetivas desenvolvem mecanismos para lidar com o fato de terem dois pais ou duas mães e assim têm um bom ajustamento à situação. Os papéis materno e paterno estão além do gênero, são vínculos muito mais sociais e afetivos do que biológicos.
Os papéis materno e paterno estão além do gênero, são vínculos muito mais sociais e afetivos do que biológicos
ARQUIVO PESSOAL
*Os nomes foram trocados a pedido das fontes.
Mailton e Wilson no aniversário de Maria Tereza, filha mais velha do casal
BABÉLIA
12 Novembro/2014
GERAL
Bismilah Alrahman Alrahim (“Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso”)
O sagrado Alcorão começa com a invocação acima, e assim o xeique inicia o sermão na sala de um prédio comercial em Porto Alegre. Ali fica o Centro Islâmico
Julia Regina Boeno Viana
J
oelhos dobrados, corpo prostrado e testa apoiada sobre um carpete bege, no décimo andar do número 62 da Rua Doutor Flores. Ali, entre dúzias de lojas, em meio aos gritos de “Compro ouro”, “Chip da Claro, baratinho” e “Vamo aproveitar!” fica o Centro Islâmico de Porto Alegre, dentro de uma sala não muito grande, onde se reúnem os muçulmanos, os adeptos do Islamismo, para fazer suas orações e ouvir o sermão feito pelo Xeique. Entro no prédio e pergunto sobre a sala. “Ah, os muçulmanos?”, diz a ascensorista. No elevador entra comigo um homem de cerca de 60 anos. Vestindo um abrigo azul-marinho e com uma leve barba por fazer, era alguém que passaria totalmente despercebido na rua. O elevador chega ao seu destino. Quando abre a porta, dá para um corredor um pouco estreito onde há um escritório de advogados. O homem de abrigo azul-marinho segue no curto corredor e entra na sala seguinte. Ele veio para a oração da Sexta-feira – Salat ElJumaa. Da porta é possível ouvir assalamu aleikum – “que a paz de Deus esteja contigo”, saudação muçulmana que está prescrita no livro sagrado do Islã, o Alcorão. Assim como um padre saúda quem vai à missa. Quando se ouve isso pela primeira vez parecem sons sem sentido, mas na verdade são desejos de bênçãos de Allah. Allah não é um deus estranho e animalesco, mas sim “Deus” no idioma árabe, língua oficial do Islã, pois foi nela que Ele revelou o Alcorão ao profeta Maomé (Muhammad em árabe). Dentro da sala, alguns homens em túnicas brancas, outros em roupas convencionais. Certos rostos ostentam espessas barbas e um pequeno turbante JAMAL BURAIMO branco. Todos com XEIQUE DO CENTRO ISLÂMICO os pés descalços. DE PORTO ALEGRE As meninas ficam em uma parte separada, no fundo da sala, atrás de um biombo de madeira. Elas usam roupas islâmicas, vestidos mais compridos, pretos, que não marcam o corpo, até a altura das canelas; por baixo, calças mais largas; e, na cabeça, um hijab – um lenço que cobre a cabeça e o pescoço. Todas, como em qualquer outro templo religioso, cumprimentam-se: um beijo no rosto, um abraço e um assalamu aleikum.
Por trás das roupas diferentes e do biombo que os separa, histórias inusitadas. Ana é podóloga, cabeleireira e segurança. “Eu tinha um salão nesse prédio aqui na frente”, conta ela, “aí um dia eu olhei pra cá e vi as letras em árabe. O meu cliente tinha dormido, e eu fiquei olhando, como em transe. Atravessei a rua e quando notei estava aqui! Isso foi em janeiro de 2013, e estou aqui até hoje”. Já Nabila tem um leve sotaque, há 11 anos vive no Brasil. “Eu vim como refugiada pra cá, com a minha família, mas todos voltaram para o Afeganistão e só eu fiquei.” Mas ela não é a única estrangeira. Alguns frequentadores vêm de países árabes ou da África, um deles é o próprio Xeique – Jamal Buraimo, de 41 anos –, vindo de Moçambique, que se tornou o iamam a pedido dos irmãos
do Centro Islâmico em meados de 2013. “Eu gosto de passar a mensagem do Islã pessoalmente, a verdade sobre ele, e não o que se vê na televisão. Minha religião é de paz e não de guerra.” Há quem está ali, como eu, pela primeira vez, e há também os convertidos. O Centro Islâmico de Porto Alegre recebe muitos visitantes e, como diz o Xeique Jamal, está sempre pronto pra recebê-los. Enquanto alguns vêm matar sua curiosidade, outros vêm para celebrar sua fé e sua religião, cumprindo o que há no Alcorão, na Bíblia ou até no Torá dos judeus. Essa pequena salinha comercial, no fim, é como qualquer outra “casa de Deus”, uma reunião entre fiéis que vêm sempre em busca de uma aproximação com Allah, alrahman, alrahim. BRUNA COMASSETTO
Seguindo a tradição, mulheres fazem suas orações em uma sala separada
Eu gosto de passar a mensagem do Islã pessoalmente, a verdade sobre ele. Minha religião é de paz e não de guerra”
13 Novembro/2014
BABÉLIA
GERAL
Passagem para uma vida digna Naquele dia, eles pegaram o avião com a certeza de que iriam encontrar um lar, um emprego e a promessa de um futuro melhor
Anne Caroline Kunzler
Max Nncube chegou à cidade em 3 de A empresa também alugou, por seis meses, outubro e ainda não encontrou um emprego. três casas para receber os novos trabalhadores. Ele é da África do Sul, tem 29 anos e passou A divisão das casas foi feita de acordo com o os três últimos anos economizando para a país e o credo de cada um e, após esse períoviagem. Como a maioria das pessoas vindas do, eles devem se manter por conta própria. da África, ele fazia sandálias de borracha – Mama Letícia ou big friend, como é chamada as mesmas que estava usando – e guardava pelos africanos, não se ateve apenas a emtodo mês 200 randes (moeda local) para a pregá-los. Nas primeiras semanas, envolveu viagem, cerca de R$ 42. Max deixou seus pais sua família e seus amigos na missão de lhes e dois irmãos e sonha em trazê-los para perto. apresentar a cidade e os moradores. Ela é a Quando o encontrei, ele estava justamente primeira pessoa que conheceram, e por quem indo falar com sua família pela web. mais apreço eles têm. Os caienses os ajudaram Abraham Adomako, com roupas, cobertores e 43 anos, e Aminu Mohameletrodomésticos, e uma med, 23, fazem parte do escola de idiomas lhes deu grupo de estrangeiros de presente um curso de vindo em julho. Eles moportuguês. ram com mais 15 homens Quem passa pela praça – entre os quais, Max – os vê sempre com o celular em uma casa amarela de na mão, usando a internet esquina, a uma quadra da sem fio para se comunicar praça. Para eles, a casa aincom suas famílias. Além da não é um lar, e sim um da alegria, das cores e da alojamento. Não há fotos cultura diferente, algo que ou nenhum tipo de objeto os caracteriza é a gratidão. que lhes tenha algum sig“Eles são eternamente granificado. tos por terem sido trazidos Ambos deixaram fapara cá, pela chance que LETÍCIA ODERICH MOREIRA mília em Gana, onde tamlhes foi dada.” RECURSOS HUMANOS bém trabalhavam fazendo Apesar de considerasandálias. “Você não consegue um emprego, rem a culinária brasileira muito farta, eles então precisa fazer alguma coisa por conta se alimentam de acordo com sua religião. própria.” Os três são unânimes em dizer que A maioria é muçulmana e eles não comem a África não é o que vemos e ouvimos. “Lá é carne de porco, não bebem leite nem café, tudo ruim! Aqui é melhor, gostei das pessoas apenas chá. Comem muitas comidas típicas e do lugar, quero ficar para sempre”, diz Max. feitas com farinha e consomem por semana, Abraham deixou sua mãe, dois irmãos no mínimo, 10 quilos de farinha de milho. e três irmãs, além de sua esposa de 28 anos, Além disso, rezam cinco vezes por dia para que trabalha em um mercado. Segundo ele, a Meca, desde as 5h da manhã. Nas horas vagas, primeira coisa que quer fazer é trazê-la para vão à academia, jogam futebol e já estão até cá e, quando fala isso, os amigos brincam: “e ensinando à comunidade suas danças típicas colocá-la aqui, com esse monte de homem?”. e capoeira. O pai de Abraham é falecido, assim como o VITÓRIA PEREIRA de Aminu. Ele também deixou para trás sua mãe, três irmãos e duas irmãs. A única coisa que os faz lembrar de casa é o verde da cidade, “floresta”, como ele dizem. Mas, depois de dois meses, a novidade é passado, tudo parece mais familiar, todos já têm sua rotina diária e novas metas. Agora, eles nada mais são que parte de todo cenário. Esse cenário de pessoas indo e vindo a todo momento, na correria de suas vidas e de seus afazeres. Aos poucos eles vão se acostumando a esse novo lar e, quem sabe, conseguirão proporcionar o mesmo aos seus entes queridos.
O
dia começa cedo para eles. O transporte passa ainda antes do nascer do sol nas casas onde moram. Enquanto uns estão indo para o trabalho, outros estão voltando. São 45 imigrantes, vindos de Gana, Haiti, Senegal e Bangladesh, que chegaram ao Brasil de avião, durante a Copa do Mundo. O objetivo deles já estava traçado há cerca de cinco anos, quando começaram a economizar para essa viagem, e suas esperanças aumentaram quando foi anunciada a Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Considerando o Brasil um país próspero e com procura por mão de obra, eles vieram tentar a sorte e buscar um mundo novo. A maioria pretende ajudar suas famílias, outros pensam em trazê-las para perto, e há aqueles que planejam construir uma aqui mesmo. Os estrangeiros se espalharam pelo país e os 300 que vieram para o Rio Grande do Sul foram alojados provisoriamente em Caxias do Sul, com um prazo para tentar a permanência fixa. A maioria foi para outras regiões e, para os que ficaram, surgiu uma fada madrinha: Leticia Oderich Moreira, recursos humanos na Oderich Conservas, de São Sebastião do Caí, que foi até a Serra buscá-los para trabalhar na fábrica. “Hoje, encontrar pessoas dispostas a trabalhar na produção de uma fábrica é mais difícil do que se imagina. Não vemos isso como uma ação pretensiosa, precisávamos de mão de obra e eles precisavam de emprego.” A maioria tem smartphones de última geração, alguns deles são trilíngues, diplomados. Entre as profissões deles estão eletricistas, designers, motoristas, técnicos em informática, comerciantes e, inclusive, engenheiros. Mas lá, mesmo com diploma, eles recebiam o equivalente a R$ 600.
Eles são eternamente gratos pela chance que lhes foi dada, uma oferta de emprego e de futuro”
Aminu mostra uma de suas fotos no Facebook, segurando uma das sandálias que vendia em Gana
BABÉLIA
14 Novembro/2014
GERAL
A difícil vida sobre rodas Diariamente, cadeirantes sofrem com problemas de acessibilidade nas ruas das cidades
Lidiane Menezes
P
reconceito, discriminação, falta de oportunidades de emprego e um péssimo atendimento na saúde pública. São as dificuldades enfrentadas por aqueles que sofrem com alguma deficiência física, mas talvez o maior drama vivido por cadeirantes seja a acessibilidade. Obstáculos nas calçadas são comuns, muitos deles perigosos. Um simples desnível entre um pavimento e outro ou até mesmo algumas pedras soltas podem causar sérios acidentes ou quedas. Em Portão, a 40 quilômetros de Porto Alegre, desníveis nas calçadas, buracos e calçamento irregular, dificultam a locomoção daqueles que andam sobre rodas. Um rápido passeio por uma das principais vias da cidade já mostra a falta de rampas para cadeirantes e aquelas existentes são mal planejadas e altas demais. O superintendente de Planejamento e Obras da Prefeitura Municipal de Portão, Antônio Dias, é enfático ao afirmar que não há acessibilidade no município e que uma lei determina que é de responsabilidade do proprietário a construção da calçada e cabe a prefeitura fiscalizar. “Aos poucos, estamos tentando regulamentar, pensamos em notificar o proprietário, se ele não realizar a obra, nós iremos fazer e depois a conta será enviada ao contribuinte”. Segundo Dias, uma ação nos moldes da que foi realizada em Porto Alegre está sendo pensada. Na Capital, empreendimentos são notificados e, caso a obra não seja realizada dentro do prazo, uma multa é gerada. Em Portão, alguns proprietários de estabelecimentos localizados na Av. Bra-
sil, via de maior movimento, foram comunicados para que seja realizada uma padronização nas calçadas. “Conversamos informalmente, mas percebemos que não está sendo feito”, pondera. Nos últimos dez anos houve crescimento no número de pessoas na terceira idade e portadores de algum tipo de necessidade especial, o que preocupa as autoridades. Questões financeiras são o principal entrave para a realização das obras e cadeirantes continuam passando por problemas na hora de se locomover e, infelizmente não haverá uma ação imediata.
aqueles com algum tipo de deficiência de mobilidade. Davi Daniel Teixeira tem uma história que é um exemplo de superação. Ele sofreu uma lesão medular em um acidente automobilístico em 1993. Nos 20 anos que vive em uma cadeira de rodas, ele já viajou o mundo e aprendeu que em questão de acessibilidade há dificuldades em todos os lugares. Apaixonado por esportes, ele joga em um time de basquete para cadeirantes e durante a Copa do Mundo fez um tour pelos estádios que sediaram o mundial. Segundo ele, a maioria tem problemas Vivendo em uma quanto à acessibilidade, cadeira de rodas mas o pior está no Rio Vistos por muitos Grande do Sul. “O Beicomo incapazes, alguns ra-Rio tem muitos procadeirantes acabam asblemas de acessibilidade. sumindo essa identidade. No local destinado às Um grande número de pessoas com deficiência, portadores de deficiência chove muito, existe propassa a ficar em cima de blemas de visibilidade, uma cama ao invés de um horror”, afirma. Ele viver uma vida plena acrescenta ainda que o e feliz. Muitos acabam Internacional devia se ignorando que a vida espelhar no estádio do continua e muitos de rival, a Arena gremista seus hobbies e prazeres DAVI DANIEL TEIXEIRA seria um belo exemplo ainda podem ser vividos, CADEIRANTE de como devem ser as mas de forma diferente adaptações para receber e adaptada. este público. Em um país despreAliás, um dos hobbies de Teixeira é parado para lidar com pessoas com proviajar. A bordo de seu carro ele já percorreu blemas de locomoção, a adaptação à nova todos os estados do Brasil, além de destinos vida é ainda mais difícil. como Deserto do Atacama, Ushuaia, Costa Segundo dados da Organização Mundo Chile, Sul do Peru, todos em um carro dial da Saúde, cerca de 15% da população adaptado e tendo ele como motorista. Mundial, ou 1 bilhão de pessoas, sofre Um blog foi criado para contar algucom algum tipo de deficiência, incluindo mas de suas aventuras. O Cadeirante na ARQUIVO PESSOAL Trilha Inca já foi acessado por diversos cadeirantes que se inspiraram no seu modo de vida e pessoas que a procura de dicas para planejar uma a viagem dos sonhos. “Depois de contar minhas viagens no blog, foi grande o número de pessoas que entraram em contato comigo perguntando: Como você faz isso? E cadeirantes questionando se isso era mesmo possível. É claro que é, basta ter vontade e o principal, planejar, planejar muito cada detalhe, mas percalços sempre aparecerão, você tem que superá-los”. A próxima aventura está sendo programada. Será uma viagem por toda a Costa Oeste dos Estados Unidos, em julho de 2015.
Basta ter vontade e o principal, planejar muito cada detalhe, mas percalços sempre aparecerão, e você tem que superá-los”
Davi em visita a Puno, cidade peruana às margens do lago Titicaca
15 Novembro/2014
BABÉLIA
GERAL
Desculpe, estava no WhatsApp! Criado em 2009 o WhatsApp facilitou a comunicação entre as pessoas, mas seu uso descontrolado tem causado inconvenientes
BABÉLIA
LIEGE PEREIRA BARCELOS
Liege Pereira Barcelos
“M
oço, você esqueceu de avisar em qual a parada eu deveria descer?” “Ih! Esqueci mesmo! Perdoe-me, senhora, me distraí com o WhatsApp.” Quem de nós nunca passou por uma situação semelhante a essa porque estava utilizando o WhatsApp? Dejalmo (nome fictício, a pedido do entrevistado) é cobrador de uma empresa de ônibus em São Leopoldo desde 2006. Ele e seu colega, o motorista Edson (nome também fictício), fazem o mesmo itinerário há oito meses. São nove horas diárias, seis dias por semana fazendo a mesma rota. Entre uma “volta” e outra, Dejalmo recorre ao aplicativo como forma de distração. O motorista conta que o colega está sempre “on”, mesmo sabendo que a empresa não tolera o uso de telefone durante o expediente. “Geralmente esqueço de orientar um ou outro passageiro quanto ao desembarque. Na hora ficam chateados, mas sempre consigo ajudar de um jeito ou de outro”, explica Dejalmo. Considerando que no regime de contratação pela CLT (Consolidação das Leis de Trabalho) o empregado deve exercer atividades de interesse da empresa pela qual foi contratado, o mesmo não pode “gastar” seu tempo de trabalho em atividades diferentes daquelas estabelecidas pelo empregador. Segundo a alínea B do artigo 482, incontinência de conduta ou mau procedimento constituem demissão por justa causa. Para Kalámide Jamila Jardim, analista de recursos humanos, o uso do WhatsApp no ambiente de trabalho muda de acordo com a empresa ou função. Há aquelas em que a atividade desempenhada pelo colaborador não permite a utilização, e há outras que não se opõem desde que o uso não interfira no desempenho do funcionário. Tudo passa a ser uma questão de bom senso. Desde que foi criado, em 2009, o aplicativo já atingiu a marca de 600 milhões de usuários. Não há como ignorar, ele está em todos os lugares, utilizado por pessoas de todas as idades. Onde quer que exista um smartphone, lá está o ícone do telefone verde. Henrique Fortuna é consultor de telefonia nas lojas Ponto Frio em São Leopoldo. Ele afirma que 90% dos clientes que se dirigem até a loja buscam um novo aparelho com tecnologia que suporte o aplicativo. “Os clientes já
Volnei encontrou no aplicativo uma maneira de reduzir a distância com sua cidade natal
refém do WhatsApp”, constata Volnei. chegam perguntando se dá pra instalar Para a psicóloga e professora da o WhatsApp. Em alguns casos, para Unisinos Fernanda Hamper Picon, aqueles mais ansiosos, o telefone já não apenas o WhatsApp, mas as resai da loja com aplicativo instalado.” des sociais em geral constroem uma Desde o ano passado, quando corelação muito imediata com o tempo e meçou a utilizar o aplicativo, Volnei alimentam uma falsa ideia de interação Paiva, 40 anos, não se afasta do telefone com o outro: “Se tu não és adicionado para nada. Natural de Itaqui, e morando ou se tu não possuis em Novo Hamburgo, uma rede interessante ele começou a usar a no WhatsApp, parece ferramenta para manter que tu não existes”. contato com os amigos A facilidade do e parentes que moram acesso ao WhatsApp em sua cidade natal. e demais redes soEncontrou no “Whats” ciais pelo celular está uma maneira de dimicontribuindo para o nuir a distância. VOLNEI PAIVA avanço da nomofobia, Com o passar do temUSUÁRIO DO APLICATIVO caracterizada pela senpo, a lista de contatos ausação de angústia que surge quando mentou, as conversas se tornaram mais alguém se sente impossibilitado de se longas e algumas situações desagradáveis comunicar ou se conectar estando em surgiram. “Dias atrás tinha uma reunião algum lugar sem seu aparelho de celuimportante na empresa onde trabalho, em lar. É um termo recente que se origina Novo Hamburgo, e, distraído com o Whatdo inglês: No-Mo, ou No-Mobile, que sApp, desembarquei na estação Esteio.” significa sem telefone móvel. Diariamente, Volnei, que mora em Apesar de ser uma ferramenta que Novo Hamburgo, embarca na estação auxilia na comunicação entre as pesSanto Afonso, desembarcando duas soas, o WhatsApp acaba causando estações depois para ir até o trabalho. dependência entre os usuários. O que Nesse dia ele simplesmente não desceu deveria facilitar acaba prejudicando. do trem. Foi até o terminal, permaneO uso moderado e o autocontrole se ceu dentro do vagão e apenas se deu tornam fundamentais quando se trata conta quando chegou à estação Esteio. de redes sociais. “Tornei-me o campeão de atrasos e
Tornei-me o campeão de atrasos e refém do WhatsApp”
16 Novembro/2014
GERAL MANOELA PETRY
Maria Eduarda aprendeu a lida campeira com o pai, Cassiano, que vive do tradicionalismo
Toda semana é farroupilha A história dos tradicionalistas que vivem de bombacha e não têm vergonha de ser gaúcho nos 365 dias do ano
Manoela Petry
D
ançarina desde criança, as sapatilhas, saias e vestidos de prenda fazem parte da vida de Mariana Vargas em mesma, ou maior, proporção que os tênis, calças jeans e camisetas. Ela é bailarina da invernada artística de um CTG (Centro de Tradições Gaúchas) em Montenegro, e divide seu tempo entre as atribuições de uma prenda e os estudos, trabalho, o filho de dois anos e as obrigações domésticas. Em quase todos os dias, desde 2002, Mariana doa algumas horas para o que, segundo ela, é algo que move sua vida. “Desde o dia 20 de julho daquele ano eu dedico a maioria do meu tempo ao tradicionalismo, uma paixão inexplicável”, conta. Com apenas 18 anos, ela não se lembra de sua vida antes de se tornar tradicionalista e antes de esse hobby tomar grande parte da sua atenção, do seu pensamento e do seu dia. Tradicionalista nos 365 dias do ano, a jovem vive as tradições gaúchas em cada ato, cada palavra. “Representa tudo em minha vida. Faz parte da minha personalidade”, explica a dançarina, que ensaia diariamente e vê nas danças tradicionais uma das dezenas de formas de cultivar a cultura do Estado. “Tomar aquele chimarrão todos os dias de manhã já é manter uma das nossas manifestações culturais vivas. Eu faço o que me deixa realizada.” Por ter o folclore do Estado presente do amanhecer ao anoitecer de cada dia, a jovem não vê sentido nos “gaú-
que o fez investir na área. “Sou apaichos de Semana Farroupilha”, que em xonado pelo que faço porque, além de setembro lotam acampamentos e baiestar entre os animais, consigo tirar les. “Muitos não sabem, por exemplo, o meu sustento mantendo a tradição o significado que uma bombacha tem”, e a história do meu povo”, destaca. destaca a prenda. Para ela, lembrar a Atualmente com 40 animais, a história do lugar onde nasceu apenas rotina de Cassiano é intensa, mas, por uma semana não mostra orgulho segundo ele, gratificante. “Não é fáalgum pelo seu chão. “Muitos não cil viver da paixão dos outros pelo têm tempo para estar mais presentes tradicionalismo, mas é uma vida manesse meio, mas defendem e honram o ravilhosa.” nosso Estado o ano inteiro, enquanto Segundo o empreoutros ignoram a nossa sário, ser sustentado história, e lembram que pelo tradicionalismo tivemos um passado e é uma tarefa que que temos uma cultutem ficado mais fára a zelar apenas por cil com o passar do alguns dias”, completa. tempo. “As pessoas Para Eduarda do Esestão se interessanpírito Santo, 16 anos, do mais por isso, e ser tradicionalista hoje querem que seus finão é um hobby barato, lhos cresçam nesse e isso pode ser outro EDUARDA DO meio”, ressalta. E é motivo para muitos ESPÍRITO SANTO no lombo de um canão conseguirem se NASCIDA E CRIADA NO valo e vestindo a pilmanter no movimento. TRADICIONALISMO cha típica do gaúcho “Eu acredito que muique Cassiano cria sua filha. “Isso faz tas pessoas gostam e se identificam, parte da minha vida. É uma paixão mas não têm condições financeiras que vem de berço e que, com certeza, ou tempo para cultuar nossa história vou levar para o resto da minha vida”, todos os dias, e isso não os faz menos enfatiza a jovem. tradicionalistas”, defende. Se algum deles pensa em deixar Eduarda nasceu em meio aos cavao convívio no meio tradicionalista los e encilhas, e sempre acompanhou e largar essa forma de viver? “Jao pai no trabalho tipicamente gaúcho. mais!”, “Bem capaz!”, “Com certeza Proprietário de uma hotelaria para não”. “Conseguimos conhecer lugares cavalos há 15 anos e tradicionalista diferentes e fazer amigos que levamos desde a infância, Cassiano do Espírito para o resto da vida. Não troco a vida Santo tem na lida campeira e na tradique levo hoje por nenhuma outra”, ção gaúcha um dos grandes prazeres conclui Eduarda. de sua vida. Foi o amor pelos bichos
Isso faz parte da minha vida. É uma paixão que vem de berço”
17 Novembro/2014
BABÉLIA
GERAL Estudantes questionam problemas no transporte da região Vale do Rio dos Sinos
DIVULGAÇÃO
Juliana Maiara Silveira Acadêmicos da Unisinos que residem em cidades próximas a São Leopoldo enfrentam dificuldades todos os dias no transporte público. Um dos motivos mais frequentes das reclamações dos estudantes é o transporte que abrange São Leopoldo, Sapucaia do Sul e Esteio. A confusão dos horários dos ônibus é um dos fatores que impedem a estudante de Engenharia Cartográfica e de Agrimensura, Luciana Castro de voltar para a casa tranquilamente no final da aula. Luciana reside na cidade de Esteio e faz uma escala de transportes cansativa. Ela utiliza a linha São Leopoldo/Mauá, da empresa Real Rodovias, com o qual vai até a Rua Padre Claret, em Esteio. Ao chegar, espera o próximo ônibus, que vai até a esquina de sua casa. Apesar de parecer simples, a estudante explica que a maior dificuldade está na segunda linha, devido à oscilação dos horários. “Isso me prejudica porque é perigoso ficar na rua até tarde na minha cidade”, relata. De acordo com Marco Aurélio, encarregado operacional da empresa Real Rodovias, os horários dos ônibus são definidos de acordo com o fluxo de passageiros na estação do Trensurb. Ao contrário do que conta a estudante, Aurélio diz que os horários são cumpridos corretamente. Ele explica que reclamações como estas devem ser feitas com o setor responsável na empresa.
Embate entre Brasil e Israel segue sem definição Tales Colman Entre 8 de julho e 26 de agosto deste ano, ocorreu uma nova fase do conflito de Gaza. Na ocasião, uma operação foi organizada pelas forças armadas de Israel para invadir o território palestino como represália a ataques do Hamas. No mês de julho, a diferença entre o número de baixas em cada um dos países envolvidos somava 700 mortos na Palestina contra um número de 35 mortos em Israel. Diante dos dados, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro divulgou uma nota considerando inaceitável a escalada da violência na região. Em resposta, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel Yigal Palmor disse que o Brasil continuava sendo um “anão diplomático”. Logo após o ocorrido, ele deixou o cargo de porta-voz. A declaração de Palmor foi tão polêmica que o presidente de Israel, Reuven Rivlin, ligou para Dilma Rousseff para fazer um pedido de desculpas. A guerra na região não terminou oficialmente, porém vive um período de estabilidade com um cessar-fogo entre Israel e a Palestina. Sobre os conflitos, a antropóloga Miriam Vieira explica que eles se estendem por muitos anos e são de difícil compreensão para a população brasileira devido às notícias que não costumam a tratar as reais motivações da guerra.
BABÉLIA
Passageiros da empresa Sogal têm acesso ao itinerário e localidade dos ônibus por meio do sistema
Tecnologia ajuda no transporte de Canoas
Aplicativo informa a situação das linhas de ônibus em tempo real Andressa A. S. da Silva
C
om o intuito de beneficiar os usuários e a empresa de ônibus, foi implementado na cidade de Canoas, em julho deste ano, um novo aplicativo, denominado Canoas Mobi. Ele é utilizado apenas nas linhas de ônibus da transportadora Sogal e fornece informações sobre os pontos de ônibus existentes, os itinerários e horários das linhas, além de pontos de táxi. A tecnologia foi desenvolvida por meio de um programa da
prefeitura da cidade, a Fundação Municipal de Tecnologia da Informação e Comunicação de Canoas (Canoastec), que assessora o poder executivo municipal, com objetivo de otimizar as atividades desempenhadas da tecnologia da informação e comunicação. O sistema foi criado a partir de dados que já eram coletados e controlados, como conta Paulo Oliveira, superintendente de projetos e sistemas da Canoastec, “já existia um sistema com controle de frota com GPS nos coletivos de Canoas, além
Daer adia sonho da população de Santa Maria do Herval Anderson Dilkin Há cerca de dois anos, centenas de moradores de Santa Maria do Herval comemoravam, pois uma parceria entre a prefeitura municipal, o Daer e a empresa Retromac trazia a possibilidade do asfaltamento que liga a estrada a Gramado. A prefeitura seria responsável pela preparação da estrada, para depois o Daer colocar a camada asfáltica. Seriam cinco dos 17 quilômetros a receberem uma técnica experimental que reduziria em 70% os gastos da obra. “Nós assumimos e fomos fazendo a nossa parte. Quando o Daer começou a fazer a sua parte, fez pela metade e depois abandonou”,
18 Novembro/2014
de todas as paradas de ônibus já estarem georeferenciadas”, o que facilitou a criação do app, já que acessará o mesmo banco de dados. Quando questionado sobre a ampliação do aplicativo para outras cidades gaúchas, Oliveira explica que será publicado quando tiverem capacidade operacional, pois “depende de uma estrutura de sistema por georeferenciamento para ter algumas funcionalidades”, afirma. O app está disponível nas lojas de aplicativos para aparelhos com sistema Android e iOS.
disse o prefeito de Santa Maria do Herval, Rodrigo Fritzen. Segundo o chefe do executivo, faltam cerca de 800 metros para serem finalizados. Para isso, o Daer teve que fazer uma nova licitação para que alguma empresa interessada faça o trabalho de reforço da base para depois colocar a camada asfáltica. Este trabalho deve ser concluído até o final deste ano. Santa Maria do Herval possui o maior frigorífico do Estado em abate (500 animais por dia). Cerca de 60 caminhões da empresa circulam diariamente pelo local. O morador Vanderlei Marcadente, que passa pelo menos três vezes por semana pelo trecho para se deslocar até Gramado, diz que facilitaria muito a sua vida com a conclusão da obra. “Eu gasto bastante combustível me deslocando até Gramado, com essa estrada defeituosa tenho mais prejuízo, pois volta e meia tem alguma coisa para arrumar no meu carro”, relata o morador.
COMUNIDADE
Dó Ré Mi Fá da tradição O município de São Vendelino, no interior do Estado, incentiva a inserção de música na comunidade e alia musicalidade à cultura alemã
Nicole Fritzen
U
m som suave e melódico ecoa pela vizinhança. O tom atrai os moradores, que saem curiosos de suas casas procurando saber de onde vem. Não demora muito para reconhecerem a música: Ode à alegria, da 9ª sinfonia de Beethoven. Enquanto isso, a pequena Renata, nove anos, circula pela casa ensaiando música clássica em sua flauta doce, trazendo sintonia e leveza ao bairro. Esse é o clima na cidade de São Vendelino. Localizado a cerca de 90 quilômetros de Porto Alegre, na região do Vale do Caí, o chamado de “Pequeno Paraíso” mantém a tradição de atrair música à comunidade. A cidade, que originalmente leva o nome alemão de Sankt Wendel, é regida por um povo hospitaleiro e que não abandona os costumes e tradições germânicas. Os eventos do município são sempre animados pela orquestra, o coral e a bandinha típica alemã, que empolgam pessoas de todas as idades em um ritmo de muito kerb e dança. Jovens, adultos e idosos se reúnem em pares para dançar músicas típicas alemãs, além de usar trajes germânicos como chapéus, vestidos ou tiaras. O ensino de música no município é gratuito e começou há 11 anos, com o surgimento da orquestra. Na época, a entidade tinha em torno de 30 integrantes. O grupo se modificou, e hoje conta com 23 instrumentistas, que estão divididos nos naipes de saxofones alto e tenor, trompete, trombone, flauta transversal, guitarra, baixo, bateria e teclado. O maestro Lucas Eduardo Grave ressalta que há muitos projetos em andamento, entre eles uma viagem à Ale-
domingo. “Gosto muito de tocar e cantar manha, em janeiro de 2016. Trabalhando também”, sorri. Para o professor Mello, com música há nove anos, ele ressalta que aprender a música aguça a percepção e passou por dificuldades quando assumiu desenvolve o raciocínio. Para ele, a música a regência, mas hoje se diz feliz com a age como uma espécie de válvula de escape, evolução do grupo. além de ser uma forma de exprimir emoções Um dos maiores orgulhos da orquestra e sentimentos. foi a gravação de um CD, em 2008. Na ocaA aposentada Marlene Schneider Auth, sião, o município completava 20 anos de 73 anos, é integrante do coral vendelinenemancipação e foi homenageado com um se há 63 anos. Ela conta repertório diversificado que seus pais sempre a e comemorativo. Para incentivaram a se envolGrave, um dos maiores ver com a musicalidade. desafios da entidade é “Meu pai me colocou agradar todos os públino coral aos 10 anos de cos. “Escolho o repertório idade, e antes disso eu já pensando em quem irá tocava piano e violão”. escutar, por isso é preciso Ela se diz orgulhosa da focar em todos os gostos”, formação musical que conta. Ele ainda salienta recebeu: “Acredito que a importância do ensino a música eleva, fortalece de música para crianças LUCAS EDUARDO GRAVE a pessoa. É uma alegria e jovens: “Acredito que MAESTRO constante”. ela faz parte da formação A bandinha típica integral do ser humano.” alemã é composta por seis integrantes, Além disso, também são ministradas ausendo apenas um deles vendelinense. O las gratuitas de flauta doce para crianças do grupo anima bailes e reúne principalmente das séries iniciais do Ensino Fundamental. casais idosos, que não perdem o gingado As aulas são coordenadas pelo professor e ao ritmo animado das músicas alemãs. A músico Wuilliam Mello, 27 anos, que tramais famosa delas, “Ein Prosit” (um brinde, balha no ramo há oito anos. Segundo ele, o em português) quando tocada leva todos ensino da flauta é incentivado por ser mais ao delírio: copos de chope são estendidos fácil para o entendimento dos pequenos. ao alto, e a empolgação toma conta. Toda Assim que dominarem o instrumento, eles essa alegria é traduzida na união entre o estão aptos para migrar para outros, como fortalecimento das tradições e ela, sempre o violão e o teclado, ou fazer aulas de canto. ela: a música. Foi ali que Renata teve seu primeiro Atração nos eventos da cidade, banda contato com um instrumento musical. Hoje, típica alemã empolga com um animado além da flauta doce, ela também toca violão. repertório e trajes que fazem referência à Um de seus passatempos preferidos é se cultura da cidade. apresentar para a família, nos almoços de
Acredito que a música faz parte da formação integral do ser humano”
ARQUIVO PESSOAL
Banda típica alemã anima as festividades do município
19 Novembro/2014
BABÉLIA
TRANSPORTE Cadeirantes reclamam da falta de acessibilidade em Canoas
DIVULGAÇÃO
Luan Maciel A frota de transporte público de Canoas conta com 115 ônibus, dos quais somente 55 são adaptados para cadeirantes, que somam 3% da população da cidade. Há duas empresas no município, a Sociedade de Ônibus Gaúcha Ltda (Sogal) e Vicasa. Passageiros relatam acidentes e despreparo por parte dos funcionários. Conforme o censo demográfico de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade tem 323,8 mil habitantes, dos quais 4 mil têm algum tipo de deficiência. “O transporte da cidade melhorou, mas não está bom”, afirma Jair Silveira, vice-presidente da Associação Canoense de Deficientes Físicos (Acadef). Ele ouve relatos de pessoas que encontram não só dificuldade para pegar o ônibus, mas também dos espaços públicos. A cadeirante Fernanda Ficari dos Santos, 20 anos, trabalha como assistente social e usa o transporte. Ela relata que no início do ano sofreu um acidente devido à falta de manutenção do equipamento para cadeiras de rodas, que ocasionou sua queda ao entrar no veículo. Ela ressalta que foi auxiliada por passageiros e não por funcionários da empresa. Segundo a Sogal, motoristas e cobradores recebem treinamento para auxiliar pessoas com necessidades especiais. Manoel de Souza, da Secretária de Transporte e Mobilidade, afirma que não há previsão para novas frotas. “Todos os ônibus novos que entrarem ou que forem substituídos terão modelos adaptados”.
Sapiranga concede subsídio para transportar universitários Roberto Cristiano Caloni Projeto aprovado este ano pela câmera de vereadores concede auxílio para universitários de Sapiranga. As inscrições estão encerradas para este semestre. A Secretaria Municipal da Educação está analisando os documentos para conceder os benefícios de 100%, 50% ou 25% de subsídio. Para participar, o estudante deve morar na cidade há pelo menos dois anos e estar matriculado em instituições localizadas a até 80 quilômetros do município. Foram 184 universitários inscritos no projeto. O aluno deveria encaminhar para a Smed o atestado de matrícula com número de disciplinas, os dias da semana, horários e a ficha sócia econômica. As transportadoras habilitadas, após a chamada pública, deverão apresentar mensalmente a relação de alunos transportados, local de destino, data das viagens e o visto de subsídio aos estudantes. A indicação do projeto foi feita pela vereadora Bruna Blos em 2013. A iniciativa surgiu pois o custo do transporte é caro e muitos estudantes não têm como pagá-lo. “O município deve ajudar o cidadão a crescer. Deve investir na população”, destacou Bruna. Para a prefeita Corinha Molling, quanto mais incentivos o cidadão tiver para investir em formação, melhor para a cidade. O valor investido pela prefeitura pode chegar até a R$ 400 mil neste ano, mas poderá aumentar em 2015. Todos os semestres haverá novas inscrições. Para a renovação será necessária nova entrega da documentação.
BABÉLIA
De acordo com a primeira etapa do projeto, serão construídos 5,9 quilômetros de via elevada entre os bairros
Canoenses utilizarão aeromóvel em 2016
Cerca de 150 mil habitantes serão beneficiados pelo veículo Yasmim Lopes
M
ais um meio de transporte será oferecido em Canoas. O contrato para a construção de um aeromóvel foi assinado em 1° de outubro pelo ministro das Cidades, Gilberto Occhi, e o prefeito, Jairo Jorge. De acordo com a proposta, a linha ligará a estação Mathias Velho do Trensurb ao bairro Guajuviras e transportará cerca de 60 mil passageiros por dia. O início das obras da primeira etapa, onde foram investidos R$
287 milhões, tem previsão para o primeiro semestre de 2015 e conclusão para 2016. Serão construídos 5,9 quilômetros de via elevada para o trajeto, ligando a estação Mathias Velho à Avenida 17 de Abril, no Guajuviras. Para este percurso estão previstas nove estações. O trajeto será reduzido de 40 para cerca de 12 minutos, entre a estação e o bairro, e transportando 5,6 mil usuários sentados a cada viagem. Durante a assinatura do contrato, o ministro das Cidades também anunciou a liberação de R$ 9 milhões do Orçamento
Controladores de velocidade operam nas principais vias de São Leopoldo Amanda Cita da Cunha Uma campanha foi lançada em São Leopoldo para apresentar aos moradores o novo sistema de controle de velocidade nas principais vias. Os primeiros equipamentos começaram a funcionar efetivamente, enquanto outros 13 passarão a multar a partir de janeiro de 2015. A intenção é que os condutores se acostumem com a fiscalização do radar móvel. Na cidade não existe via em que se possa circular com velocidade superior a 60 km/h. Serão autuados os veículos que forem flagrados a 68 km/h ou mais. Haverá também o monitoramento dos pontos críticos. Nesses trechos a velocidade é de 40 km/h. O planejamento é estender a fiscalização.
20 Novembro/2014
Geral da União (OGU), pelo PAC Mobilidade, para a elaboração de projeto da segunda etapa do aeromóvel. O segundo trecho, de 4,8 quilômetros, ligará a estação Mathias Velho ao final da Rua Rio Grande do Sul, no mesmo bairro. Ainda não há previsão para início e término desta segunda etapa. Segundo a Diretoria de Desenvolvimento Urbano, os dois bairros têm, juntos, cerca de 150 mil habitantes. Após a implantação do aeromóvel, a mobilidade dos moradores será mais rápida e tranquila.
O município investiu em cerca de 20 equipamentos fixos. O novo modelo de radar é o mesmo utilizado pelas polícias federal, rodoviária e estadual. O equipamento tem muito mais praticidade. Por não ter fios. A fiscalização é válida também para motocicletas. O secretário municipal de Segurança e Defesa Comunitária, Carlos Alberto Azeredo, afirma que mais de 70 locais apresentam altos índices de acidentes. “No momento, conseguimos controlar os que trazem os maiores riscos”, diz. Nas primeiras semanas em que os 11 controladores de velocidade foram instalados registraram mais de 2 mil infrações. As multas serão dadas pelo limite de velocidade. As fiscalizações são realizadas nas principais ruas da cidade, dentre elas Avenida Mauá, João Corrêa, Integração. O uso dos radares diminui os acidentes nas principais vias de São Leopoldo e ajuda na segurança pública e comunitária.
TRÂNSITO
Mudanças no trânsito leopoldense Principais ruas e avenidas do município estão recebendo a instalação de aparelhos para controlar o trânsito e diminuir o índice de acidentes
Henrique Standt
O
s constantes acidentes causados por excesso de velocidade e imprudência - alguns inclusive levando pessoas inocentes ao óbito – fizeram com que a Guarda Municipal Civil de São Leopoldo desenvolvesse um estudo para controlar o trânsito do município. Os aparelhos também vão servir para fiscalizar os roubos e furtos de veículos de toda a região. São registrados diariamente cerca de 20 acidentes envolvendo veículos, sendo que cerca de 50% estão ligados a motocicletas. Após o mapeamento, foram identificados 20 locais, difundidos em diversas localidades, onde os índices de acidentalidade foram considerados graves. Visando conter estes acidentes, a secretaria de Segurança Pública, em parceria com a Brigada Militar, com o SAMU e demais órgãos de segurança do município, decidiu realizar um projeto para diminuir os acidentes e aumentar a proteção de pedestres e motoristas. O estudo detectou a necessidade do uso de equipamentos de controle de velocidade, ultrapassagem em sinal vermelho e tempo máximo de parada sob a faixa de pedestres, o que dividiu opiniões entre os leopoldenses. Contra a instalação dos controladores, o técnico em automação bancária Thiago Santos acredita que os aparelhos causem lentidão de fluxo nos trechos em que foram instalados, devido à falta de conhecimento da via por parte de alguns motoristas que acabam reduzindo a velocidade drasticamente. Para
Os locais onde os controladores foram Marcelo Pereira, técnico eletromecânico, o instalados passaram por uma série de estrânsito da cidade não é ruim, contudo, os tudos científicos baseados em dados como horários de entrada e saída das empresas largura da via, número de veículos que acabam tumultuando as ruas. Questionado circulam diariamente no local, caracteríssobre a instalação dos controladores, ele ticas da via, entre outros. “Nós pegamos os se diz contra e argumenta: “Acho que o 20 locais com maior incidência e instalamotivo no qual os controladores foram mos os controladores para tentar diminuir instalados, que era a educação do trânsito estes acidentes”, afirmou o secretário na cidade, está em segundo plano. Acredito de Segurança Pública que seja uma forma fácil Cel Carlos Alberto O. de arrecadação de dinheide Azeredo. Segundo o ro através das infrações”. secretário, os 19 controEm contrapartida, ladores fixos, somados Giulianna Rhoden Lau, ao radar móvel, estarão assistente administraem pleno funcionamentiva, é favorável à nova to até janeiro de 2015. medida, porém, acredita Os equipamentos deque não é coerente lipendem de aferição feita mitar a velocidade a 40 pelo Inmetro, o que dekm/h em uma via sem manda tempo e dinheiro hospitais, escolas e onde dos cofres públicos, que o fluxo de veículos é injá investiu cerca de R$ tenso. “O trânsito de São RENATO WENDORFF 11 milhões e, conforme Leopoldo atualmente DIRETOR DE PLANEJAMENTO afirmação do secretáestá confuso tanto para DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE rio, explica a extensão visitantes de outras ciSEGURANÇA do prazo de instalação dades quanto para os e início do funcionamento dos mesmos. moradores. As preferenciais mudam De acordo com o diretor de Planejaconstantemente e agora temos diferentes mento de Políticas Públicas de Segurança placas com diferentes limites de velociRenato Luiz Wendorff Júnior, o uso dos dade em uma mesma via”, acrescenta. O controladores foi indispensável devido auxiliar de modelagem, Róger Diego de à situação do trânsito da cidade, onde Quadros acrescenta ainda que o trânsito trafegam mensalmente cerca de 6 mida cidade pode ser classificado como lhões de veículos em direção à Capital. mediano, devido à qualidade das vias, e O diretor afirma ainda que 78% do PIB acredita que os controladores servirão do Rio Grande do Sul passa por São Leopara melhorar o fluxo de veículos em poldo, por meio de ruas e estradas, dados determinadas localidades. fornecidos pela Fundação de Estatística HENRIQUE STANDT e Economia (FEE), conforme pesquisa realizada pelo IPEA. “Por conta desses dados, podemos ter uma noção do volume de trânsito da cidade de São Leopoldo”, afirmou Wendorff. Estima-se que a cada 10 acidentes que acontecem no município, apenas dois deles envolvem somente veículos de São Leopoldo. Os demais são causados por motoristas de outras cidades, e um dos motivos das colisões, segundo Renato Luiz Wendorff, se dá pela falta de conhecimento do trânsito leopoldense. Os motoristas acreditam que a cidade é um desvio da BR-116. Porém, as vias estão tomadas por veículos e o trânsito interno é intenso. O diretor finalizou dizendo que “o equipamento pode não evitar o número de acidentes, mas o índice de severidade para os envolvidos será diminuído”.
78% do PIB do Rio Grande do Sul passa por São Leopoldo, segundo a Fundação de Estatística Econômica”
A nova medida pretende diminuir o número de acidentes em regiões com alto índice de acidentalidade
21 Novembro/2014
BABÉLIA
POLÍCIA
NÉIA DUTRA
Videomonitoramento traz mais segurança à população capilé Lucemara Barcellos Câmeras instaladas em diversos pontos de São Leopoldo restringem ocorrências de sinistros. O uso dos equipamentos iniciou em 2008, com 27 aparelhos instalados em locais que apresentavam maior índice de furto, assalto e rotas de fuga de roubos de carros. O sistema tem como meta valorizar a informação e ser usado como ferramenta na inibição e prevenção da criminalidade. Atualmente, a Secretaria de Segurança Pública conta com 65 câmeras que fazem as gravações e transmissões das imagens. Os dados podem ser fornecidos mediante solicitação judicial para fins de comprovação de danos materiais e físicos. Ao ser indagado sobre o que representa o serviço de monitoramento eletrônico, o morador Pedro Silva, 45 anos, responde: segurança e proteção para a sociedade. Segundo o inspetor Alessandro Lucero, os comerciantes sentem-se mais seguros. Em qualquer situação de risco, se o operador suspeitar, enviará uma viatura para fazer abordagem e interceder na situação, afirma. O serviço é prestado por 24 horas e é interligado à Brigada Militar. Flagrantes e prisões são efetuadas com presteza. Conforme o inspetor Cleber Ávila, com a implantação dos equipamentos na rua principal, região das agências bancárias, não ocorreram nenhum assaltos desde então. De janeiro a julho deste ano, foram registradas 407 ocorrências. Dentre as quais se destacam as averiguações de suspeitas, roubo e acidentes de trânsito.
Guarda Civil Municipal de São Leopoldo já tem poder de polícia Henrique Lopes da Silva Apesar de os agentes da Guarda Civil Municipal (GCM) de São Leopoldo já trabalharem armados, somente em agosto deste ano a corporação recebeu, efetivamente, poder de polícia. O fato ocorre devido à Lei Regulamentar 13.022. Na sede da entidade fica o centro de monitoramento por câmeras. O diretor de Planejamento de Políticas de Segurança, Renato Luiz Wendorff Júnior, conta que São Leopoldo tem 60 equipamentos deste tipo instalados em locais estratégicos. O controle das imagens é feito por quatro agentes e por um policial militar 24 horas por dia. O monitoramento permanente permite uma ação mais rápida das equipes de segurança. Desde 23 de setembro deste ano, estão em funcionamento alguns equipamentos de controle eletrônico de velocidade. Até março de 2015, haverá 23 aparelhos, distribuídos em 20 locais. O subdiretor da GCM, Robson Camargo, explica que onde há um controlador, não tem necessidade de manter um guarda. Os agentes, substituídos pelos pardais, poderão ser deslocados para outras partes da cidade. A presença mais ostensiva da GCM nas ruas já apresentou a diminuição no número de acidentes com vítimas. Em uma comparação de agosto de 2013 com o mesmo mês de 2014, este ano, mostrou queda de 14% nos atendimentos da SAMU. “A GCM trabalha incessantemente para oferecer segurança, diminuir acidentes e preservar vidas”, diz ele.
BABÉLIA
Software para segurança em hospitais poderá ser instalado em smartphones e sistema Android
Polícia já pode monitorar sequestro de bebês Programa oferece segurança às crianças em maternidades Ana Carolina Oliveira
O
s estudantes de eletrotécnica da Fundação Liberato, em Novo Hamburgo, Gustavo Viegas da Rocha e Jordan Kopper, ambos de 19 anos, desenvolveram um projeto de segurança hospitalar que ajudará a polícia em casos de sequestro de bebês em hospitais. Segundo a Fundação de Infância e Adolescência (FIA), foram registrados 479 casos de sequestros em 2012 no Estado. O Sistema Inteligente de Segurança Hospitalar (SISH) é um software que verifica a localização da criança, confor-
me pesquisa feita pelos jovens. Muitos casos de roubo de bebês são atendidos pelas autoridades da cidade e ainda pelo Brasil devido à tecnologia. O projeto foi orientado pelo professor Diego Ramos Moreira e iniciou em agosto de 2013. O software verifica a situação das crianças nas maternidades. Com sistema integrado de alerta, avisa a polícia e os pais, caso o bebê seja retirado do local sem autorização. O programa cria um banco de dados de visitantes para identificação e acesso das pessoas. Com a presença de estranhos, o alarme é disparado e pode ser desativado por pessoas autorizadas.
Para proteger mulheres, Canoas inaugura o Plantão Lilás Daniela Cristiane da Silva Passos Com o objetivo de diminuir os riscos de violência doméstica em Canoas, a Coordenadoria de Políticas para Mulheres criou um projeto que visa tornar privadas e seguras as ocorrências das mulheres violentadas. O Plantão Lilás evita o constrangimento na frente de outras pessoas, e o risco da vítima ser atendida no mesmo ambiente que o seu agressor. Segundo a coordenadora interina, Lurdes Santin, é importante ressaltar que a criação do Plantão Lilás é uma resposta para uma demanda das mulheres que há anos solicitam o funcionamento da
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Os pais podem monitorar por meio do celular. Basta instalar o programa em smartphone ou pelo sistema Android, possibilitando acompanhar as crianças se algo estiver ocorrendo. Rocha conta que o programa ainda não foi apresentado oficialmente para a polícia, mas está em fase de teste e logo poderá ser usado. “É uma ajuda inicial que terá um resultado gratificante pelas pessoas”, diz Jordan. O projeto conquistou prêmios no Chile e na categoria Ciência da Computação da Mostratec, em Novo Hamburgo. Em 2015 os jovens participaram da feira mundial Expo Milset na Bélgica.
Delegacia Especializada no atendimento à Mulher (DEAM), o que ainda é um desafio considerando o custo para o Estado. Com dados apresentados pela DEAM, de 2010 até o primeiro semestre de 2014, pode-se observar que foram registradas cerca de 6,5 mil ocorrências referentes à Lei Maria da Penha na cidade, entre elas ameaças, lesão corporal, perturbação de tranquilidade, estupros e homicídios dolosos. Um dos fatores mais importantes é a avaliação do risco de morte que deverá ser feita pelo/a atendente do projeto. Caso haja essa ameaça, a vítima deve ser questionada se tem um local seguro para ir. Do contrário, será encaminhada para a Casa Abrigo feminina. O Plantão Lilás, que funcionará junto à Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento de Canoas, atenderá de segunda a sexta-feira, das 17h às 8h. Nos sábados e domingos funcionará por 24 horas.
POLÍCIA
Um crime mancha a paisagem Um dos locais mais belos de Sapiranga foi cenário de um dos assassinatos mais bárbaros registrados no município
Maese Closs
A
o pé do Morro Ferrabraz, meia dúzia de bicicletas escoradas no brejo que sucedia o matagal demonstravam a confiança que as pessoas daquela comunidade tinham entre si. Pessoas simples esbarravam umas nas outras para tentar enxergar melhor o cenário ermo em que se transformou um dos locais mais bonitos de onde é possível avistar o pôr do sol em Sapiranga. “Eu sabia que uma hora a briga desses dois não acabaria em boa coisa.” “Essa mulher parecia louca, mas o marido deve ser transtornado.” No local, conhecido também pelo frequente uso de drogas, havia pelo menos três mães adolescentes com seus bebês no colo observando o cenário. O ar do matagal já era por si só bastante desagradável, simplesmente por ter se transformado no local de um crime, e aquelas pobres ingênuas ainda levavam seus pequeninos no colo. “A curiosidade matou o gato, mas morreu sabendo.” Aquelas pessoas pareciam ter uma enorme necessidade de saciar a curiosidade de assistir o cenário da tragédia alheia. Algumas peças de roupas velhas e lixos foram abandonados no local. Os eucaliptos serviram de pilares para que a fita de segurança fosse enrolada, não permitindo a passagem daqueles que, durante a presença dos policiais, não puderam mexer no local do crime, anteriormente fotografado, do qual já rolavam imagens de uma das vítimas, no matagal, pela internet. Ah, a tecnologia! Hoje não permite mais sequer que as pessoas morram em privacidade. Há poucas semanas um homem, também em Sapiranga, foi assassinado a tiros no banheiro de sua casa. Esse sim perdeu toda a privacidade com imagens soltas na internet dele nu e sangrando debaixo do chuveiro. Prefiro não tentar entender a
mente humana nesses momentos. “Passei na frente da casa do marido e ele estava lá, só podia! As janelas estavam abertas e o infeliz não se deu o trabalho nem de fugir.” “Pois é, ela vivia avançando nele. Não sei o que acabou com essa família, se foi a droga ou o álcool.” Os populares não cansavam de opinar e procurar uma resposta para desvendar aquilo que naquele momento nem a polícia podia afirmar. Mais do que isso, eles praticamente sentenciavam, acusando o marido, que, segundo os vários murmurinhos, era alcoólatra. Três cachorros vira-latas guardavam o local zangados. O menor, de cor caramelada, não deixava nem os policiais avançarem mata adentro. “Esse cachorro é dos bons. Protege o dono até mesmo na morte”, murmurou entre dentes um dos policiais. A Vila Operária, uma das localidades mais perigosas de Sapiranga, frequentemente era palco de crimes e de apreensões de pessoas com drogas. Há menos de dois meses, na mesma vila, um homem havia esfaqueado sua mulher, dentro da própria residência e na frente do sobrinho. Há quem diga que quando satanás toma conta da situação, ele faz com que as pessoas ajam por impulso e instantes depois elas se veem perdidas. Mas aí a tragédia já está feita e não há mais solução. Talvez seja isso que tenha acontecido com o autor do crime que deixou uma jovem, de apenas 27 anos, abandonada desde a madrugada passada naquele matagal. Seu companheiro, não de casamento, mas de tragédia, ao amanhecer ainda agonizava de
dor. A facada, executada como um facão, atravessou a garganta do homem. Os famosos populares foram quem escutaram seus gritos, ao meio-dia, e chamaram a polícia e o Serviço de Emergência Móvel (SAMU), que o encaminhou para o Hospital de Canoas. A Polícia Civil de Sapiranga, três dias após, conseguiu constatar que o homem agredido também mantinha relações com a mulher morta. Se o seu marido zangou-se e resolveu acabar com a relação dos dois, não se sabe. Patrícia não resistiu à machadada na cabeça e aos golpes de facão e acabou morta, ao pé do morro Ferrabraz, amanhecendo sem vida na manhã daquele domingo ensolarado. A maioria dos seus vizinhos, pelos murmurinhos, parecia nem simpatizar com a moça, mas nenhum deixou de tentar vê-la pela última vez. Na tarde do dia seguinte do crime, o marido da vítima que foi assassinada foi encontrado pela polícia. Denúncia anônima. Com diversos antecedentes criminais, o homem, de 31 anos, disse à polícia que não matou sua mulher. O homem hospitalizado, alguns dias depois, quando finalmente conseguiu votar a falar, afirmou à polícia que o marido da vítima foi quem executou o crime. Logo se pensa que o criminoso está preso, porém, a lei o deixou livre, já que este não foi pego em flagrante. Imagina-se agora que os usuários procurarão outro local para o uso de tais substâncias, respeitando o matagal que os pobres cãezinhos, agora sem dona, guardavam para a jovem.
Conhecido ponto de drogados, o lugar, desta vez, atraía uma multidão de curiosos – até mulheres com bebês de colo
MAESE CLOSS
Dezenas de populares observaram o local do crime, momentos antes da perícia
23 Novembro/2014
BABÉLIA
COMPORTAMENTO
Wifi: a nova forma de amor Aplicativos e redes sociais atualizam os namoros e são ferramentas na hora da paquera
Paula Câmara Ferreira
um site de relacionamento. Ela é noiva do jovem egípcio Mahmoud Abdel Aziz Helmy Mohamed Bayoumi, 22 anos, e afirma que apesar de nunca terem se encontrado pessoalmente, o amor dos dois se desenvolve ao mesmo passo que uma relação construída ao vivo. Os dois se conheceram pela rede social Badoo, que possui mais de 223 milhões usuários ativos. “No início, estávamos interessados em apenas conversar, e falávamos todos os dias, durante horas. Foi aí que notamos o quanto éramos parecidos e como nos completávamos, então começou a surgir o amor”, conta Julia e Mahmoud afirma que o sentimento que os une é muito forte. O casal se comunica pelo idioma inglês, pois os dois dominam bem a língua americana. Eles estão sempre em contato, usando todos os recursos tecnológicos disponíveis, como o Skype, programa que permite chamadas em vídeo e o whatsapp, aplicativo que manda mensagem de textos e imagens, e o viber, ferramenta que realiza chamadas de voz. Com muita persistência, os dois mostraram para familiares e amigos o que estão construindo juntos, que é muito mais que um romance de adolescente. “Graças a Deus eles estão convencidos de que não somos apenas algumas letras e chamadas de vídeo”, explica o rapaz. No dia de aniversário de Julia, o egípcio
T
odo casal tem uma música tema. Aquela que faz lembrar o momento em que se conheceram, onde seus olhares se cruzaram e uma mistura de sensações percorreu o corpo dos apaixonados. É aquele pele na pele, desejo no olhar. Com o surgimento da internet, o toque de leve nas mãos foi sendo substituído pelo frio digitar de teclas para fazer o login em um site. O mundo virtual oferece infinitas possibilidades, já que todos os dias são lançados novos aplicativos e redes sociais como: Tinder, Twoo, Snapchat, Badoo e Okcupid. Todas as ferramentas tem o mesmo objetivo: ajudar as pessoas a encontrarem alguém, seja para tomar um café ou para manter um namoro no ambiente online. Para o psicólogo clínico e coach em relacionamentos Alexandre Pifer, essa popularização do uso da internet em relacionamentos ocorre pela facilidade e comodidade. “No ambiente virtual tu és quem gostaria de ser. Sem falar, que para os tímidos, é muito mais fácil por não ser necessário se expor de fato, mesmo havendo o receio da rejeição, esse receio é bem menor”, completa o profissional.
enviou de presente um anel de compromisso, que consolida o noivado dos dois. Para o futuro, o plano é casar e viver no país dele, a estudante irá embora logo que terminar a faculdade. Relações de Julia e Mahmoud são cada vez mais comuns e podem ser duráveis como qualquer outra. Segundo o professor de psicologia Eduardo Lomando, relacionamentos à distância podem dar certo, o que define é como o casal lida com a situação. “Se a falta do contato concreto é algo que é suportável para os dois, não vejo nenhum problema”, comenta o psicólogo.
Antes de sair para um encontro que nasceu no mundo virtual, o ideal é conversar muito com o pretendente
Eu, você e a tela do computador
Apesar de parecer estranho, achar um amor na rede não é menos emocionante que em um encontro casual no bar, porque apesar do que muitos pensam, a realidade virtual, como o nome já diz ,é real. A estudante de jornalismo Julia Regina Boeno, 21 anos, vive há oito meses um romance que nasceu por meio de
PATRICIA BOHN
A evolução do cupido
A jornalista e empresária Diana Haas, 28 anos, conheceu o namorado, Jonas Pohlmann, 23 anos, desenvolvedor de software, no aplicativo para celular Tinder. Diana mora em São Leopoldo e Jonas em Esteio. Apenas 14 quilômetros os separam e eles poderiam ter se encontrado na fila do cinema, mas ambos preferiram utilizar a tecnologia para conhecer pessoas interessantes. Antes de sair para um encontro que nasceu no mundo virtual, o ideal é conversar muito com o pretendente, até para avaliar as chances de a noite ser um sucesso. Diana relata que o primeiro encontro com Jonas foi maravilhoso, como os dois adoram sushi, um restaurante japonês foi o cenário das primeiras horas que passaram juntos. “Como já era de se esperar, passamos a noite toda conversando até mesmo depois de o lugar fechar. Nos dias seguintes nos encontramos praticamente todos os dias, para ir ao cinema, jantar, conversar, além de claro, ficarmos online o tempo todo nos falando”, conta a empresária. Tanto contato e afinidade resultaram em um pedido de namoro 15 dias depois do nosso primeiro encontro. Contato contínuo, em ambos os tipos de relacionamentos, são importantes e saudáveis, desde que a pessoa não pare de conviver com amigos e familiares. O psicólogo Alexandre Pifer alerta que hoje as pessoas estão perdendo a velha e boa forma de se relacionar, que é a interação física. “Em reuniões de amigos as pessoas interagem mais com os celulares do que com está a sua volta”, acrescenta o especialista em casais.
Julia dedica o seu tempo disponível para conversar com seu noivo egípcio
BABÉLIA
24 Novembro/2014
ECONOMIA
Delícias congeladas Empreendedora aposta na venda de comidas caseiras para viver do próprio negócio
Bárbara Müller
A
cordar. Tomar café. Escovar os dentes. Tomar banho. Colocar uma roupa. Trabalhar. Almoçar. Voltar ao trabalho. Ir pra casa. Jantar. Tomar outro banho. Dormir. Muitas vezes, o cotidiano da vida adulta não nos permite ter uma alimentação saudável e balanceada. Ter um horário de almoço suficiente para ir até em casa e preparar a própria comida é um luxo para poucos. Foi a partir dessa rotina maçante que Liane Müller, 54 anos, viu uma oportunidade: vender alimentos caseiros congelados. Moradora de São Leopoldo, de uma família de pai operário e agricultor, mãe dona de casa e 13 irmãos, Liane já sabia, aos seis anos, que não queria viver na mesma dificuldade que seus pais viviam. “Era um salve-se quem puder. De toda a família, eu fui a única que estudou”, recorda. Ser um empreendedor é uma atividade que exige algumas habilidades específicas. Com força de vontade, todos somos capazes de desenvolvê-las ao longo de nossas vidas. Existem pessoas que já nascem com fortes traços do perfil empreendedor e não precisam desenvolver muita coisa, não. Basta surgir um fato para que elas vejam a oportunidade. E Liane era um exemplo desse tipo de pessoa. Às vezes a vida não é justa, mas, com certeza, tudo o que acontece traz consigo uma lição, um aprendizado. Quando vem a chuva, ou se aprende a dançar nela, e depois se aprecia
das panquecas: qualidade e sabor. Faz o arco-íris, ou se esconde embaixo diversas variedades de sopas, mocodo guarda-chuva. “Casei jovem. Eu e tó, feijoada. “Nutricionistas de outros meu marido tivemos muito dinheiro. restaurantes vêm aqui buscar os meus Quando me separei, fiquei sem nada. alimentos, porque são mais leves e tudo Sem nada mesmo. Então comecei a tem muito sabor. Hoje, o nome da emprefazer panquecas congeladas em casa”, sa é uma ironia, porque não vendemos revela emocionada. mais só panquecas”, ri. O projeto que começou em casa A rotina da consumidora Sabrina cresce no Centro de São Leopoldo. A Rathke, 36 anos, é bem corrida. MoraSó Panquecas já conta com 40 sabores dora do bairro Lomba Grande, em Novo diferentes – no início eram sete – e está Hamburgo, ela sai de instalada, atualmente, casa às 7h da manhã em um ponto bem vipara trabalhar em Porsível da cidade, onde a to Alegre. “Como não circulação de pessoas é tenho muito tempo, constante. Liane conta ficou muito prático, com a ajuda da irmã para mim, comprar caçula, Rose. A irmanesses produtos condade e a cumplicidade gelados. Levo menos fazem delas uma dupla de 10 minutos para imbatível. “Eu tenho a preparar a minha resorte de poder contar feição”, conta. com a minha irmã, que Além disso, Sabrina me ajuda todos os dias. tem um filho de 10 anos. Graças a Deus, sempre Seu nome é Guilherme. consegui pagar ela”, O garoto também aproconfessa. LIANE MÜLLER va os alimentos de LiaFazer panquecas EMPRESÁRIA ne. “A minha panqueca congeladas partiu da preferida é a de filé. Se eu pudesse, comeria ideia de praticidade. Comida congetodos os dias”, brinca o menino. lada já existia. Mas a maioria era inPara Isabel Cherpinski, 53 anos, modustrializada. Panquecas congeladas, radora de São Leopoldo, o consumo de 100% caseiras e buscando sempre os comidas congeladas lhe rendeu mais ingredientes mais benéficos para a tempo para atividades de lazer. “Olha, saúde, não. Ali estava a oportunidade faz um bom tempo que eu não perco que faria de Liane dona do próprio horas na cozinha. Aquecer o alimento negócio. pronto se tornou muito cômodo. Sem Com o passar do tempo, Liane comecontar que são pratos muito saborosos”, çou a produzir outros tipos de alimentos explica animada. congelados seguindo a mesma linha
Eu estou vendendo saúde, vendendo qualidade. Já ofereço tudo isso pronto. Basta aquecer”
LIANE MÜLLER / ARQUIVO PESSOAL
Atualmente o estabelecimento possui 40 sabores de panquecas, além de sopas e outros pratos congelados
25 Novembro/2014
BABÉLIA
SAÚDE
Mesmo com coleta a domicílio, estoque de leite em banco é baixo
Hospital Materno Infantil de Porto Alegre recebe 40 litros por mês, quando o ideal seriam 80 KAMILA F. DE JESUS
Kamila Fernandes de Jesus
O
Banco de Leite Humano (BLH) do Hospital Materno Infantil Presidente Vargas (HMIPV), de Porto Alegre, está com baixo estoque, mesmo depois da parceria da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) com o Corpo de Bombeiros, que têm facilitado a coleta do leite materno. Existem pré-requisitos para que uma mãe se torne doadora: ela precisa apresentar excesso de leite, ser saudável, não usar medicamentos que impeçam a amamentação, ter os exames de pré-natal em dia e não ser fumante, usuária de álcool ou drogas. Informações sobre a doadora são coletadas no ato do cadastramento junto com os dados pessoais, explicou a coordenadora técnica do Banco de Lei-
Ana: para doar, mães têm que estar em perfeito estado de saúde
te, Ana Tereza Mendes. O cadastro pode ser feito presencialmente no BLH ou na casa das doadoras. Antes de começar a doar, a mãe aprende como coletar o leite e recebe materiais como gorro, máscara e frascos de vidro esterilizados com tampa plástica. A indicação é que após retirar o leite a mãe o mantenha refrigerado e entre em contato com o BLH em até dez dias para que as equipes façam a coleta. Equipes de bombeiros são treinadas para tirar dúvidas por telefone sobre aleitamento e prestar informações a respeito dos bancos de leite. São essas equipes que fazem a coleta domiciliar do leite materno junto com as médicas do HMIPV. Alice Moraes, 27 anos, foi doadora para ajudar uma amiga que não produzia leite o suficiente para amamentar
o filho. Ela incentiva outras mães: “Se você pode, doe”. A doação do leite excedente, afirmou, é um ato de amor. A conscientização sobre a doação do leite materno é uma ação contínua, já que acontece desde o prénatal, disse a funcionária, Angelita Laipert Matias, da SMS. Um litro de leite pode alimentar até 30 recém-nascidos, contou a coordenadora técnica, Ana Mendes. O hospital recebe em média 40 litros por mês, mas o ideal seriam 80 litros. Crianças baixadas na UTI neonatal do HMIPV são beneficiadas com o leite doado. Mães que tiverem interesse em doar o leite excedente ou com dúvidas podem entrar em contato com o Banco de Leite através do telefone (51) 3289-3334 ou comparecer pessoalmente no HMIPV, localizado na Avenida Independência, 661, em Porto Alegre.
Violência sexual é assunto de evento em Garibaldi
Cidade de Canoas promove campanha sobre câncer de mama
Gravataí constrói Unidade de Pronto Atendimento 24h
Karine Dalla Valle
Letícia Ferreira da Cunha
Tuhana Peroza Pinheiro
O aumento no número de casos de agressão sexual em Garibaldi fez com que a Secretaria Municipal da Saúde oferecesse o primeiro seminário sobre o tema na cidade. O evento ocorreu no dia 10 de outubro e voltou-se aos profissionais das áreas da saúde, educação e assistência social. O objetivo foi capacitá-los para o atendimento de vítimas de violência sexual, que passará a ser oferecido no Hospital Beneficente São Pedro a partir de novembro. Atualmente, as vítimas que sofrem esse tipo de agressão em Garibaldi são encaminhadas ao Hospital Geral, em Caxias do Sul, onde recebem apoio psicológico, tratamento emergencial para evitar doenças sexualmente transmissíveis e, no caso das mulheres, para impedir a gravidez. Segundo dados do Programa de Vigilância da Violência, 19 pessoas sofreram algum tipo de agressão sexual este ano, até setembro de 2014. O número é quase três vezes maior que o de 2013, quando sete casos foram notificados na cidade. A coordenadora do programa, Roselene Foppa, atribuiu o aumento do número de casos às denúncias que começaram a ser realizadas. Grande parte das agressões não chega ao conhecimento dos órgãos responsáveis. A maioria dos casos não é notificada por medo, vergonha e sigilo.
O Hospital Nossa Senhora das Graças realizou, no dia 18 de outubro, o mutirão de Mamografia - exame radiológico de avaliação das mamas para obtenção de imagens do tecido mamário. Foram realizados 67 exames e atendidas 400 mulheres na faixa etária acima de 35 anos. Somente em 2013, conforme dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil (Datasus), 311 mulheres gaúchas foram vítimas de câncer de mama e vieram a falecer. Dentre essas, oito eram moradoras de Canoas. Diagnosticada precocemente, a doença tem chance de cura em 95% dos casos. Pensando nessas questões, o município de Canoas desenvolveu em outubro ações de conscientização sobre o câncer de mama. “É essencial estimular a divulgação do tema, formando multiplicadores, pessoas que possam repassar a importância dos exames preventivos para a população”, declarou o médico Luciano Artico. A canoense Elizabeth Galvani, 60 anos, teve câncer de mama há cerca de quatro anos. Ela fez o tratamento e venceu a luta. Hoje ela é defensora e participa do Movimento Rosa. “Quando recebi o diagnóstico, o apoio de outras mulheres que estavam passando pela mesma situação foi fundamental, assim como o da minha família”, contou. O exame é realizado gratuitamente pelo SUS.
O município de Gravataí, que possui 260 mil habitantes, contará com mais uma estrutura na área da saúde. Está em construção a primeira Unidade de Pronto Atendimento 24 horas (UPA). A Unidade será contemplada com consultórios salas de assistência social, de observação, eletrocardiograma, inalação, curativos, material, gesso, imobilização, radiologia, isolamento e urgência. A equipe médica contará com 200 profissionais, entre clínicos gerais, traumatos, pediatras e cirurgiões. O Pronto Atendimento terá capacidade para atender até 300 pacientes por dia. A obra conta com recursos da União, no montante de R$ 2 milhões, mais R$ 750 mil alcançados pelo governo do Estado e R$ 350 mil investidos pelo município. Ela deve estar concluída em março de 2015. O terreno foi cedido pela prefeitura do município e localiza-se em um ponto estratégico, próximo à rodovia RS 118. A construção da UPA vem suprir uma grande carência na saúde em âmbito municipal, já que o único hospital, Dom João Becker, não consegue comportar a demanda do município. O bairro Ibiza receberá a segunda UPA, cuja construção já foi iniciada. “Com essas novas unidades, os atendimentos na área da saúde serão agilizados”, assegurou o prefeito Marco Alba.
BABÉLIA
26 Novembro/2014
SAÚDE
Combate às décadas gordurosas Na Serra, desafio de nutricionistas é ensinar crianças a se alimentar diferente de como faziam os pais
Priscila Boeira
T
ainá Pereira Padilha, sete anos, não tirou os olhos da máquina de moer cana. A cada taquara devorada pelos dentes mecânicos, ela e os colegas da Escola de Ensino Fundamental Félix Faccenda, de Bento Gonçalves, formavam um coro uníssono ao comemorar com um sonoro “óh!”. “Eu adorei conhecer de onde vem a merenda, passear, comer ‘berga’ direto do pé, ver a vaca e o boi”, disse. Tainá e seus colegas de segundo ano estão aprendendo a origem da merenda escolar. Todos os meses, as escolas do município visitam propriedades rurais, como a de José Speranza, localizada na Linha Ferri, no distrito de Faria Lemos. Assim como a família Speranza, outras 39 são conveniadas à prefeitura. Delas são comprados 80% dos produtos necessários para compor cardápios elaborados por nutricionistas. Mostrar às crianças de onde vem o extrato de tomate, frutas e verduras é uma nova maneira de educar, elaborada pelos professores após a obrigatoriedade da Lei Federal nº 11.947, de 16 de junho de 2009, que destina 30% do valor repassado aos municípios aos produtos da agricultura familiar. O orçamento do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) para 2014 é de R$ 3,5 bilhões, para suprir 43 milhões de estudantes da educação básica e de jovens e adultos. A qualidade da dieta estipulada aos alunos de educação básica - infantil, Ensino Fundamental, Médio e de jovens e adultos (EJA) - também ganhou credibilidade após a Resolução do Fundo Nacional de Desenvolvimento Edu-
cacional (FNDE) 38/2009, que tornou obrigatório o profissional nutricionista como responsável técnico da merenda escolar. A partir de então, as escolas devem preparar refeições balanceadas, inclusive respeitando individualidades e patologias. Os cardápios são planejados conforme a cultura alimentar, a probabilidade de doenças na família e a vocação agrícola da região. Frutas e verduras são obrigatórias e alimentos de baixo valor nutricional são proibidos. Até pescado é servido, uma realidade bem diferente para os pais e avós dessas crianças.
café com leite ou achocolatado. No lanche, frutas da época, e o almoço é sempre variado, com carnes, arroz, feijão, risoto ou macarrão”, afirma.
Geração acima do peso
Para a nutricionista, especializada em dietoterapia nos ciclos da vida, Fabíola Tortelli, as leis foram um marco para a mudança. Nas décadas de 90 e 2000, o lanche disponível nas cantinas das escolas era composto por salgadinhos e chocolate, biscoito recheado, pastel e empada. A merenda era elaborada por uma cozinheira, geralmente sem conhecimento nu“Já vi chegar até tricional. feijão estragado” “Antigamente, soPedagoga e profesmente a Educação Insora de Ensino Infantil fantil recebia alimenem Garibaldi há 22 anos, tação e essa não era Solange Facchinelli de nutricionalmente adeLima acompanhou a quada, pois consistia, evolução nutricional basicamente, em carda merenda escolar. FABÍOLA TORTELLI boidratos. Raramente Mas recordações vêm NUTRICIONISTA apareciam frutas e verde muito antes, ainda duras. As cantinas vendiam bastante quando criança. “Há 35 anos, a alimengordura saturada, fritura e doces. Essa tação era, em partes, saudável. A escola geração ficou marcada pela obesidade e municipal onde eu estudei tinha uma doenças como o diabetes e hipertensão”, horta. De lá eram colhidos os legumes avalia. usados na sopa. Também serviam leite Os avanços nos estudos relacionados com achocolatado e bolo, que só era feito à nutrição têm mostrado a importância se os alunos levassem de casa os ovos”, de uma alimentação rica em nutrientes, recorda. “Nesses 22 anos lecionando principalmente na infância. A merenem diferentes creches e escolas, já vi da agora é vista como uma blindagem chegar até feijão estragado. Atualmente, ao sistema imunológico, prevenindo a a merenda está muito superior ao que desnutrição e as carências nutricionais, era. Nas creches, as crianças fazem três como deficiências de vitaminas e minerefeições. No café da manhã, geralmente rais, principalmente de vitamina A e de têm pão com geleia, patê ou margarina, ferro. O próximo desafio é modificar os PRISCILA BOEIRA hábitos de toda família. Porém, Fabíola não acredita em grandes mudanças a curto prazo. “Os pais têm que se interessar e buscar informações, interagindo com a escola. Do contrário, o aprendizado de nada valerá, se ao saírem da escola, os pais levarem as crianças para passear e comprarem salgadinhos, biscoito recheado e refrigerante. Assim, o esforço acaba ficando pela metade”, observa.
De nada valerá se, ao saírem da escola, os pais levarem as crianças para tomar refrigerante”
As escolas de Bento Gonçalves ensinam alunos a comer bem, visitando propriedades rurais como as da família Speranza
27 Novembro/2014
BABÉLIA
SAÚDE
Nova UBS em Campo Bom Repasse de verba disponibilizará mais de R$ 400 mil para o município investir na saúde
Rafael Bauer
obras de mais uma UBS, localizada no dos pacientes, garantindo dados mais loteamento do bairro Firenze. Terá esprecisos para orientar o planejamento trutura semelhante à de outras duas, de apoio ao médico responsável. no bairro Imigrante Sul e o Mônaco, Para a estruturação, modernização e esta última em fase final das obras. O aquisição de equipamentos para as UBSs, prédio também terá, em seus 302,63 m², o Governo do Estado disponibiliza de R$ três consultórios, um deles pronto para 44 mil a R$ 113 mil por unidade de saúde, atendimento ginecológico, salas para dependendo do seu porte, do número vacinação, curativos, observação, ativide equipes da Estratégia de Saúde da dades coletivas, inalação e consultório Família (ESF), de agentes comunitários odontológico, sala de distribuição de de saúde e do diagnóstico da rede elémedicamentos, administração e depósito trica e lógica já instalada. Os municípios de equipamentos e matêm 120 dias a partir teriais. do recebimento do reSegundo o secrecurso para a adequação tário de Obras, Nírio elétrica e aquisição de Breunig, a obra terá a equipamentos de inestrutura recomendada formática, inclusive os para a implementação tablets para cada agente do e-SUS, seguindo comunitário de saúde. normas da Estratégia O treinamento para de Saúde da Família uso da nova platafor(ESF). Ele estima que ma será realizado pela seja entregue no prazo equipe do Telessaúde oito meses. Licitado deRS, da UFRGS, no em mais de R$ 700 mil, valor de R$ 9 milhões, o local contará com o também financiado pela e-SUS após sua entrega. SES. Inclui aulas preJOÃO PAULO BERKEMBROCK Alguns profissionais senciais de implantaDENTISTA já utilizaram o sisteção do software, apoio e ma em UBSs de outros municípios, e monitoramento por meio de conferências aprovam. “Utilizei o e-SUS em outras online e suporte via telefone ou internet. unidades de saúde do Estado, estou caO banco de dados será administrado pacitado. Hoje não temos a estrutura de pela Companhia de Processamento de nos colocar em contato com o sistema, Dados do RS (Procergs), responsável mas pode vir a ser útil, por mais que em pela manutenção do data center com minha área não necessite de um banco de os dados gerados pelo e-SUS. dados de diagnóstico”, declara o dentista A ser inaugurada no município, sua João Paulo Berkembrock, que trabalha 14ª UBS já contará com o e-SUS. Como em uma das UBS de Campo Bom. A projeto de aplicação do sistema em toferramenta é positivamente vista pela das unidades de saúde, a prefeitura de comunidade médica. “Na odontologia Campo Bom iniciou recentemente as seria interessante em casos de unidades RAFAEL BAUER de saúde muito afastadas, uma consulta ao banco de dados para tentar chegar a um diagnóstico prévio, para ganhar tempo de encaminhar para um colega médico”, conclui. A nova unidade será uma Estratégia de Saúde da Família (ESF), como as demais, e realizará atendimentos desde o bebê até a terceira idade, podendo ser realizado por meio de agentes comunitários de saúde e a domicílio. Atenderá cerca de 4 mil pacientes. Atualmente, os moradores do bairro têm conseguido atendimento nas UBSs de bairros vizinhos, mas dentro de oito meses não precisarão mais sair de seu bairro para realizar consultas.
P
ara melhorar a estrutura das Unidades Básicas de Saúde (UBS) de cinco municípios da região do Vale dos Sinos, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) repassou o valor de R$ 1,17 milhão ao programa Rede SUS RS. Além de Campo Bom, que recebeu a maior quantia desta distribuição, somando R$ 427 mil, o valor destinado ao programa foi dividido entre os municípios de Estância Velha, Esteio, São Leopoldo e Sapiranga. Desde o começo do repasse, já foram destinados cerca de R$ 26,7 milhões entre 136 municípios gaúchos, totalizando mais de 620 UBSs beneficiadas. Através do financiamento de equipamentos de informática e da adequação elétrica das unidades, será possível informatizar, estruturar e viabilizar a implantação do prontuário eletrônico (e-SUS). O valor recebido também será utilizado para a compra de um tablet para cada agente comunitário de saúde, que será usado profissionalmente, com aplicações que facilitarão o atendimento. Lançado pelo Ministério da Saúde, o e-SUS é uma das estratégias para desenvolver, reestruturar e garantir a integração de Sistemas de Informação em Saúde (SIS). Ele trabalha de modo a permitir um registro da situação de saúde individualizado por meio do Cartão Nacional de Saúde. A plataforma permite o registro e o rápido acesso ao histórico de cada usuário do SUS, possibilitando a busca de pacientes faltosos, além de relacionar medicamentos que o paciente toma ou tomou em atendimentos anteriores. O prontuário eletrônico facilita a gestão
Seria interessante uma consulta ao banco de dados do e-SUS para tentar chegar a um diagnóstico prévio.”
Terreno onde será construída a nova UBS
BABÉLIA
28 Novembro/2014
SAÚDE
Terapia especial no Centenário Visita Pet garante que pacientes de hospital recebam carinho de animais para acelerar processo de cura
Tuanny Prado
para acompanhar a proposta por, segundo ela, ser a única psicóloga especializada na área de pet-terapia na região do Vale dos ara mim, ver uma menina que Sinos. O trabalho está em andamento e até o havia sentido dor a noite inteifim do ano a Fundação Hospital Municipal ra e que chegou ao encontro Getúlio Vargas, de Sapucaia do Sul, também reinando, começar a sorrir e estará desenvolvendo a Visita Pet em suas esquecer o seu problema, mostra que esdependências. tamos no caminho certo”, relata Ana Luísa Segundo Fernanda, muitos pacientes Accorsi, psicóloga responsável por assistir o têm solicitado o tratamento e já é possível projeto desenvolvido na Fundação Hospital perceber melhoras em seus quadros méCentenário, em São Leopoldo. dicos. Todo o paciente O momento descrito com liberação médica ocorreu em uma quartapode recorrer ao novo feira pela manhã, horário método, sendo vedado das visitas assistidas em para aqueles com risco grupo por pacientes da de infecção ou imunipediatria, saúde mental e dade muito baixa. Aos idosos. É nesta oportunidaque têm condições de de que animais da organiparticipar, é possível zação não-governamental frequentar as reuniões Coração Vira-Lata se reúem grupo ou receber o nem às pessoas e districontato de seu próprio buem afetos para acelerar animal de estimação, o processo de cura. desde que esse esteja Foi no dia 22 de agosem dia com a higiene. to que o novo método de Para isso, existem pet tratar pacientes chegou ANA LUÍSA ACCORSI shops conveniadas com ao Hospital Centenário, PSICÓLOGA ACOMPANHANTE o hospital que realizam a tornando a cidade de São DO PROJETO higienização adequada, Leopoldo a primeira do sem custo para os donos. Brasil a ter uma instituição pública que Para organizar as visitas tem-se o cuiaderiu à nova forma de tratamento. O prodado de manter apenas um animal por jeto é inspirado no que ocorre no Hospital vez, no local designado, ao lado de fora do Israelita Albert Einstein, em São Paulo. A hospital, para que não ocorra estranhamenideia foi desenvolvida por um grupo de to entre eles e não há limite de encontros profissionais, entre eles, o vice-presidente por paciente. A única questão é que sejam médico da Fundação Hospital Centenário, de pequeno porte, como gatos, cachorros, Dr. Leandro Netto, e é coordenada pela pássaros, hamsters, entre outros. Apenas enfermeira chefe, Fernanda Estrella. os pertencentes à Coração Vira-Lata par Ana Luísa Accorsi foi designada
“P
São Leopoldo é a primeira cidade do Brasil a ter uma instituição pública que aderiu ao tratamento”
ticipam das sessões em grupos. A ONG é responsável por cuidar de animais de estimação abandonados. Cães e gatos são acolhidos e medicados para depois serem encaminhados para adoção. Agora, eles também participam da Visita Pet visitando pacientes que não têm bichos domésticos, mas que solicitam o tratamento diferenciado. Ana garante que há comprovação científica de que o contato de pacientes com os animais diminui a ansiedade e o aborrecimento. Através das experiências que estão acontecendo no Centenário está sendo desenvolvido um estudo pelos responsáveis em acompanhar o projeto. Com essas pesquisas, será possível determinar o avanço de cada paciente antes e depois das visitas e se há diferença nos quadros clínicos entre as pessoas que recebem seu próprio animal doméstico com as que encontram com desconhecidos, como os pertencentes à Coração Vira-Lata. Os animais da ONG são dóceis e estão acostumados a interagir com pacientes. Alguns deles acompanham a psicóloga em sua clínica particular. Os animais, principalmente os cachorros, têm uma busca por afeto muito grande, pois é o que lhes garante segurança. O projeto é direcionado para casos de extensa internação, sendo requisito estar há pelo menos um mês hospitalizado.
Benefícios da visita O contato com animais diminui a ansiedade e o aborrecimento, o que auxilia na cura do paciente. LARA FEIJÓ
Psicóloga Ana Accorsi juntamente com Anuk, um dos animais participantes do projeto
29 Novembro/2014
BABÉLIA
SAÚDE
Não tome remédio.Tome cuidado Com o verão cada vez mais próximo, a corrida contra o tempo e a balança aumenta a procura por emagrecedores rápidos e duvidosos
Marcella Luiza Lorandi
pois o corpo é o reflexo de uma mente esses “medicamentos” de outros cartranquila. “Não gosto de comer ovo às navais. Ela não receita esses métodos 22h30, mas preciso disso para alcançar em hipótese alguma, pois acredita em meu objetivo.” Com 1,54m de altura, 54kg uma alimentação balanceada e em sue um percentual baixíssimo de gorduplementação. É pouco comum que nura, ela vive um período pré-competição tricionistas ou nutrólogos trabalhem chamado de off season, no qual deve com suplementos alimentares, mas por adquirir massa, e, quando se aproximar ter um alto índice de pacientes atletas, da competição, perder esse peso para ela descobriu que eles têm muito a que todos os músculos sejam definidos. acrescentar não só para quem pratica “O suplemento traz todos os benefícios exercícios, mas também àqueles que de uma alimentação apresentam déficit de correta, desde que seja qualquer vitamina ou bem utilizado e que o nutriente. “Eu poderia produto seja de qualificar aqui sentada e dade. Várias pessoas receitar Xenical para acham que faz milagre. todas que querem perO que faz milagre é o der peso.” O Xenical é teu esforço, o que tu indicado para pessoas come. Ele não vai te com obesidade e sobreemagrecer, não adianta peso. Contudo, caiu nas comer batata frita e dedietas da moda e virou pois tomar um termoaté genérico, o Orlistate. gênico, é incoerente. Sua função é eliminar RAFAELLA ZANETTI FERRI Tem gente que nem as gorduras pelas fezes, FISICULTURISTA treina e toma Whey para pessoas que posProtein porque quer ‘crescer’, e o quão suem os índices de massa corpórea isso é prejudicial só alguém que conhece elevados. O valor do medicamento, e é instruído sabe.” mesmo genérico, gira em torno de R$ A estudante de Publicidade e Pro100, e para quem não se encaixa na paganda Bruna Hoffmaister, 19 anos, faixa recomendada o efeito é quase já fez uso de medicamentos sob presimperceptível. “Mas eu tenho um nome crição médica. “O medicamento agiliza a zelar, o meu e o da minha clínica. Que o processo, é como se fosse um empurpaciente vai confiar no trabalho da rão. Depois que o resultado começa a Simone se ela receita coisas prontas?” aparecer, a vontade de comer saudável Rafaella Zanetti Ferri, 19 anos, é ese de praticar exercícios aparece junto. tudante de Direito e atleta na categoria Perdi aproximadamente 6kg tomando Wellness de fisiculturismo. Categoria Sibutramina, um controlador de anque enaltece os bons hábitos alimentasiedade, e não houve efeitos colateres e atividade física. De longos cabelos rais. Mantenho o peso balanceando a castanhos e olhos verdes, ela diz que prialimentação. Atualmente faço uso dos meiramente a cabeça tem que estar boa, produtos da Herbalife, cada um com ARQUIVO PESSOAL sua função.” Bruna sempre foi gordinha e desde muito pequena afirma sofrer com esse peso a mais, que não vem da genética nem de um possível distúrbio, é apenas o biotipo do corpo. Não tem desculpa, basta dar o primeiro passo.
“D
ispara a venda de remédios ilegais para emagrecimento na internet.” “Brasileiras compram remédios para emagrecer nos Estados Unidos.” “São controladores de ansiedade que inibem o apetite.” “Anvisa proíbe venda e uso de substâncias para emagrecimento.” Afinal, que substâncias são essas que a Anvisa quer proibir? A educadora física e acadêmica de Nutrição Giordana Fernandez possui um espaço de Treinamento Funcional e Lutas e uma loja de suplementação. “É comum, no verão, as pessoas recorrerem a dietas da moda, produtos que prometem milagres e até utilizar substâncias ilegais. Procuro sempre informar dos riscos dessas substâncias à saúde. O correto é iniciar por uma reeducação alimentar, mudar os hábitos e praticar uma atividade física.” Segundo Giordana, “adquirir um produto ilegal vem do fato de a preguiça e a comodidade vencerem as pessoas. É mais fácil dar desculpas de que não consegue emagrecer, não tem tempo pra treinar ou não suporta fazer dieta do que se dedicar, ter disciplina e comprometimento com aquilo que se deseja alcançar”. Giordana também faz acompanhamentos como personal trainer, e é muito comum que alguns alunos apareçam na academia três meses antes do verão. “As pessoas não deveriam parar de treinar no inverno. Se você toma banho todos os dias, se alimenta todos os dias, por que não treinar todos os dias?” A nutricionista graduada pela Unisinos Simone Turcatti, dona da Clínica de Biomedicina Estética Zarho, conhece
Não gosto de comer ovo às 22h30, mas preciso disso para alcançar meu objetivo”
Rafaella alerta que o suplemento deve ser bem utilizado: “O que faz milagre é o teu esforço, o que tu come”
BABÉLIA
30 Novembro/2014
ESPORTE MARCO ANTONIO DA SILVA
Profissional aposentado, Sandro Sotilli defende as cores do clube Barnabé Thiago Greco
As cadeiras de roda foram adaptadas para a prática do esporte. O ideal seria equipamento profissional
Cadeirantes mostram talentos no basquete Time leopoldense busca treinador e apoio financeiro Carolina de Zotti
O
basquete em cadeira de rodas vem ganhando maior espaço no Brasil. Em São Leopoldo (RS), deficientes físicos-motores treinam duas vezes por semana para participar de campeonatos e competições regionais. O time Adavas é formado por três jogadores de São Leopoldo, mas também o integram atletas de Porto Alegre, Canoas, Sapucaia e Torres. A equipe participa de amistosos e copas organizadas pelos municípios vizinhos. O basquete em cadeira de rodas é um esporte muito parecido com o tradicional, porém, algumas regras são adaptadas. Os times são
formados com até cinco jogadores e cada um deles é numerado com uma pontuação de 1.0 até 4.5. Esses números indicam o grau de lesão do atleta. Os times podem ter no máximo 14 pontos em quadra. O jogo é dividido em quatro tempos de dez minutos, totalizando 40 minutos. Os atletas da Adavas não contam com treinador e se mantém pela força de vontade de cada integrante. Eles seguem as normas da Confederação Brasileira de Basquetebol em Cadeira de Rodas (CBBC). Um dos destaques em motivação e liderança é o jogador Marcelo da Silva, 22, que participa do time desde 2012. O garoto ficou sabendo que o grupo treinava no ginásio municipal e resolveu
Time de Parobé incentiva futebol de base e espera disputar campeonatos Carolina Schaefer “A maior alegria é você inserir na sociedade mais de 180 crianças, colaborando para torná-las pessoas boas no futuro”. Esse é o orgulho do presidente do Grêmio Esportivo Parobé, Horácio Willers. O clube auxilia jovens de 10 a 17 anos através de sua categoria de base. No próximo dia 30 de novembro, o Grêmio Parobé completará 67 anos de história. Durante muitos anos, o Grêmio Esportivo conquistou torcedores por apresentar bom futebol na categoria veteranos, fazendo com que a torcida se
assistir um jogo. Desde então faz parte da equipe. Marcelo comenta que é difícil participar de campeonatos regionais, pois os atletas precisam do apoio da prefeitura, de transporte e permissão para representarem a cidade. Por falta de treinador, os garotos às vezes perdem oportunidades de competir e levar adiante o trabalho que envolve esforço, garra e vontade. Silva lembra que o time está aceitando auxílio de professores voluntários para treiná-los. O time está em busca, também, de patrocínio e apoio. Qualquer doação é bem recebida: bolas de basquetes, uniforme e cadeira profissional. Hoje, eles usam cadeiras adaptadas para jogar.
orgulhasse do clube da cidade. “O time de 1981 foi talvez o melhor grupo amador que tivemos até hoje. Naquele ano, eram mais de 200 clubes, e nós ficamos com a 8ª colocação do Estado”, relembra Horácio. O time se mantém com ações comunitárias. Almoços e ações entre amigos são planejados para arrecadar dinheiro. O clube também aluga sua sede e campo para eventos. Tudo isso para não ter seu trabalho interrompido por falta de investimento. Apesar de jovem, Franklin Fishborn, 19 anos, fundou há três anos, com um amigo, a Velha Guarda Parobeense, cujo objetivo é apoiar o time, onde quer que ele esteja. A torcida tem em média 90 integrantes que cantam e torcem apaixonadamente pelo Grêmio. “É um orgulho participar do Grêmio Parobé e da Velha Guarda. Acho que todos sonham com a profissionalização do clube da nossa cidade e que dispute grandes campeonatos”, idealiza Franklin.
31 Novembro/2014
O maior artilheiro do futebol gaúcho, com 111 gols na primeira divisão do regional, Sandro Sotilli está jogando no E.C. Barnabé, time amador de Gravataí. Sotilli junta se a Arílson – campeão da América pelo Grêmio em 1995, e a Donizeti – goleiro vice-campeão em 2008 da Copa Lupi Martins com o Cerâmica, também da cidade. Empresário e amigo de longa data de Sandro, Maicon Witt foi quem tornou realidade a vinda do jogador para o citadino de Gravataí. “A negociação foi tranquila, somos amigos há algum tempo, lancei a ideia e ele aceitou de primeira”, contou Witt. Sandro Carlos Sotilli aposentou-se com a camisa do Pelotas, no dia 1º de junho de 2014, e um mês depois apresentou-se ao Barnabé. “Sempre que me convidam, se estou disponível, eu aceito. Gosto de participar, fazer novos amigos. O Barnabé tem um projeto legal com as crianças, gosto de ajudar”, declarou Sotilli. “Sei que não vou mais jogar profissionalmente, por isso mato a saudade jogando com os amigos no amador”, agregou. Sotilli começou sua carreira no futebol em 1993, no Ypiranga de Erechim. Em sua carreira, o atleta vestiu 24 camisetas diferentes, entre elas a vermelha do Internacional. Beijing e Xian Chanba, da China, e Necaxa, Jaguares, Dorados e Léon também constam no seu currículo como jogador. O citadino de Gravataí está na fase de mata-mata e como Sotilli era candidato a deputado, não pode comparecer a alguns jogos. Com a derrota nas urnas, Sotilli retornará ao time.
Atletas sapiranguenses apresentam ginástica artística em festival Fernanda Salla Sapiranga realizou o V Festival de Ginástica Artística na sexta-feira, 24 de outubro, no Ginásio de Esportes Nenezão. O projeto que incentiva essa modalidade existe há dez anos na cidade e teve como novidade a participação de três educandários: Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria Emília de Paula, Dr. Décio Gomes Pereira e Escola Municipal de Educação Infantil Leopoldo Sefrin. Sob a coordenação de Carla Matzenbacher, Mônica Fão e Catiucia Greff, mais de 300 crianças e adolescentes estão no projeto. São aceitos alunos entre 3 e 18 anos. O espaço para treinos e equipamentos foram cedidos pela prefeitura da cidade. Os treinos ocorrem no turno inverso ao da aula, de segunda a sexta-feira. Carla teve a ideia de retomar a ginástica artística por causa de seu pai, que foi ginasta quando mais novo. Ela ficou impressionada com a emoção de alguns alunos ao descobrirem que ganhariam medalhas no festival. A professora ama o que faz, tanto que poderia estar aposentada, mas continua envolvida na ginástica. O projeto é um grande incentivo para jovens sapiranguenses. A ginástica artística ainda é desconhecida de professores. Grande parte tem uma visão fechada, limitando-se a esportes com bola, pois não compreendem que essa prática auxilia na formação e desenvolvimento de seus alunos.
BABÉLIA
ESPORTE
Diagnóstico: angustiado A dor dos jogadores que sofrem lesões e não sabem qual será seu destino
Dankiele Tibolla
cruzar. Quando eu tentei travá-lo, meu pé Com a mão levantada, Sérgio gritava por ficou preso e meu joelho virou. Meu contrato ajuda. Seus companheiros corriam pedindo já havia encerrado, e o clube não quis renovar.” para que o juiz liberasse a maca para entrar. Sem clube e sem dinheiro para custear a “Achei que eu tivesse quebrado minha perna, cirurgia, Cleivan entrou para a fila do SUS. eu sabia que era sério”, relata o jogador. Em A cirurgia demorou para acontecer e já não questão de minutos o médico do clube, Walmir dava tempo de voltar. É grande o número de Sampaio, já tinha feito um pré-diagnóstico. atletas que encerraram suas carreiras devido Com um semblante preocupado, olhava em a esse problema. direção do técnico sinalizando com os dedos Segundo o coordenador de preparação que o atleta não tinha mais condições de jogo. física do Cerâmica Atlético Clube, Alexandre Em meio a milhares de torcedores ali Ramos, as lesões de ligamentos são comuns, e presentes, Sérgio tinha uma em especial, suas causas podem variar. a namorada Ivana Ven“A exigência e a alta comdramini, que correu em petitividade, bem como as direção ao amado. No vescaracterísticas do esporte, tiário, Sérgio só pensava fazem com que ocorram na família. Dona Solange diversos problemas físiligava incessantemente. cos nos futebolistas.” Teria A noite foi praticamenSérgio o mesmo destino de te em claro, a dor e o medo Cleivan? não o deixavam dormir. Durante seis meses, “Eu temia pelo pior”, diz Sérgio Manoel trocou o Sérgio, emocionado. O dia gramado pela sala de fimal tinha amanhecido e sioterapia do clube. As ele já se dirigia ao hospital chuteiras deram espaço para fazer exames. Após SÉRGIO MANOEL para os tênis, as corridas algumas horas, através JOGADOR DE FUTEBOL não passaram de leves de uma ligação do prócaminhadas, mas o pensamento e a fé eram prio médico, veio a notícia que Sérgio não um só: voltar logo. desejava receber: rompimento do ligamenO fisioterapeuta Mauren Mansur exto cruzado anterior. Intervenção cirúrgica, plica que para obter um bom resultado o fisioterapia, dores e seis meses de angústia, tratamento inicia logo após o procedimento medo e incerteza. cirúrgico. “Quando acontece esse tipo de São inúmeros os jogadores que já paslesão, a única forma é começar imediatasaram ou passam por essas lesões, assim mente as fisioterapia, pois o jogador tem como existem aqueles que são obrigados a que trabalhar o músculo.” interromper suas carreiras. Cleivan Brauner Perto de completar seis meses de trataviu seu sonho ir embora quando aos 18 anos mento, Sérgio recebeu a notícia de que estava sofreu uma lesão de ligamentos em uma apto a voltar aos gramados. Mal sabia ele o que partida entre Comercial de Ribeirão Preto e o esperava. O volante não via a hora de voltar XV de Jaú, no dia 10 de dezembro de 2010. a jogar. O joelho não reclamava mais. Em um “O jogador adversário foi na linha de fundo treino, véspera de jogo, o jogador treinava DIVULGAÇÃO / CORITIBA FOOT BALL CLUB normalmente quando, em um lance, viu seu mundo desabar novamente. Faltando 5 minutos para o fim do treino, ao dominar a bola, recebeu um encontrão de um companheiro e, ao se virar, escutou o galho seco quebrar. Era seu joelho pedindo socorro novamente. Naquele momento passou um filme em sua cabeça. Sérgio desabou: “Achei que seria o fim. Passar por tudo que passei novamente seria muito doloroso pra mim”. Talvez a árvore estivesse cansada e seus galhos não suportaram o esforço que fazia desde muito jovem; as raízes precisavam de forças para se manter em pé; o solo, dona Solange mantinha firme; a namorada cuidava das folhas para que não caíssem em nenhum momento. Lá foi ele, tudo de novo. Nova cirurgia, mesma dor, mesmo medo, mesma incerteza, mesma fé: voltar. No estádio de dona Solange, desta vez não tinha pipoca, afinal não era dia de jogo, mas tinha um belo e saboroso bolo à minha espera. A noite tinha chegado e nem percebemos. Sentada no “camarote”, fiz a última pergunta: “Sérgio, tem alguma previsão de volta aos gramados?”. Com o sorriso largo e as vistas umedecidas, ele me disse: “Então, voltei ontem!”.
E
ntardece em Curitiba. Da janela do edifício Lascelles, junto ao pôr do sol, ouve-se o coro da torcida alviverde. Tem jogo do Coxa no Couto Pereira. Como de costume, dona Solange prepara tudo para torcer e ver o filho Sérgio Manoel jogar. Sua arquibancada é tão confortável que mais parece um camarote: dois sofás. Na mesa, refrigerante, água e pipoca “à la vonté”. Na televisão a propaganda anuncia: Coritiba x Grêmio pela 13º rodada do Campeonato Brasileiro. Os primeiros torcedores vão se acomodando no camarote. Enquanto aguarda a escalação dos jogadores na tevê, Dona Solange já avisa: “Sérgio vai começar jogando! Ele vai de titular!”. É costume de mãe e filho trocar mensagens antes das partidas. Enquanto a torcida ensaiava seus cantos, dentro do vestiário o som que ecoava era dos jogadores, que berravam a oração do Pai Nosso. Com todos em campo, iniciou-se a partida. Seria apenas mais um jogo para Sérgio Manoel, 25 anos. Seria, se no meio do segundo tempo um lance não o tirasse da partida. Após tocar a bola para seu companheiro de time, Sérgio correu para recebê-la de volta. No entanto, ao tentar se esticar para alcançá-la, sua perna esquerda travou, fazendo o corpo girar sobre o joelho. “Ouvi um barulho, como se alguém estivesse quebrando um galho seco de árvore. Caí de bruços e não senti mais minha perna.” No estádio da dona Solange, a alegria que antes contagiava deu espaço para o silêncio, ouvia-se apenas o narrador. No rosto dela, preocupação, mãos atadas por ver seu filho jogado no chão e não poder ajudar. Olhos fixos na televisão, via e revia o lance. Ninguém dizia nada.
Ouvi um barulho, como se alguém estivesse quebrando um galho seco de árvore”
Sérgio Manoel passou por duas cirurgias no joelho
BABÉLIA
32 Novembro/2014
ESPORTE
Crossfit, o esporte polivalente Prática inspirada no treinamento de fuzileiros navais norteamericanos conquista adeptos de diferentes faixas etárias
Germana Zanettini
V
ocê já imaginou começar o dia erguendo um pneu de caminhão? Não é preciso ser um superatleta para realizar tal façanha. A farmacêutica Daiane Timm, 32 anos, é prova disso. Praticante de crossfit há pouco mais de dois meses, ela mostra um vídeo no celular, no qual movimenta um pneu de 140 quilos em parceria com uma colega de academia. Maquiada e exibindo longas unhas vermelhas, a vaidosa farmacêutica confessa: “Aqui não tem espaço para delicadeza. Tem que tirar anéis, pulseiras, relógio. Estou com um calo no dedo. É assim, mão de pedreiro”, confessa. Desenvolvido pelo ex-ginasta americano Greg Glasmann e utilizado na formação dos soldados das Forças Armadas dos Estados Unidos, o esporte assusta à primeira vista. “Dá medo. O pessoal quando vai se informar sobre crossfit vai para o YouTube. Mas a maioria de vídeos é de atletas de elite, que competem. Nossas aulas não são assim”, garante Plínio Rangel Júnior, professor de crossfit. Ele explica que o objetivo do esporte é ajudar as pessoas em atividades diárias. “Todo mundo tem que carregar sacola do mercado, trocar um pneu, subir uma escada, lavar o carro, cortar grama. As necessidades de todo mundo são as mesmas”, explica Rangel. O dentista Rafael Veeck, 40 anos, e o empresário Etevaldo Pioner, 58 anos, são colegas da mesma turma. Realizam os mesmos exercícios, porém, cada um os executa no próprio tempo e intensidade. “Eu era sedentário há um ano e meio. Voltei direto com o crossfit e não tive problemas. A aula se adapta para qualquer pessoa”, enfatiza Pioner. Weeck, ex-jogador de vôlei, pega
mais pesado nos treinos, apesar de ter uma lesão. ”Tenho problema na lombar, comum aos dentistas. Na musculação, às vezes eu ficava mal por causa da lombalgia. Aqui eu nunca tive problemas, e nunca deixei de fazer o que os outros fazem.” Diferente das aulas de uma academia convencional, que utiliza aparelhos, no crossfit os exercícios são livres, usando apenas cordas, argolas, caixas e pneus. “As pessoas se espantam porque não temos equipamentos. Não usamos máquinas. Transformamos e criamos as máquinas, que somos nós”, enfatiza Rangel. Na sala da academia também não há espelhos. “Aqui a gente não fomenta o ego. A melhora da aparência é apenas uma consequência dos benefícios da melhora na qualidade de vida”, diz o professor de crossfit Carlos Eduardo dos Santos.
Como é a modalidade
Uma aula dura em média uma hora e passa por três etapas. A primeira é o aquecimento. Depois vem a técnica, quando os praticantes aprendem um movimento novo ou aperfeiçoam aqueles utilizados previamente. Para Santos, essa é uma das partes mais importantes. “Antes de chegar no pneuzão de caminhão, por exemplo, tu vais passar pelo pneuzinho. E tu vais aprender a técnica para levantar aquele pneu de forma eficiente e segura”. A última etapa é o WOD, hora de pôr em prática os movimentos aprendidos durante a técnica: o volume do som sobe e os professores gritam palavras de incentivo e desafiam os alunos a superarem seus limites. As turmas são mistas, integrando pessoas de várias idades e condicionamentos físicos. Os professores são categóricos ao afirmar que quando há um grupo heterogêneo, o ganho de todos é maior. “Quando ALINE CRISTIANE DE OLIVEIRA
as pessoas se unem, ficam mais fortes. Um motiva o outro. Quem tem mais condicionamento dá força para quem está começando” afirma Rangel. “Todo mundo vai passar pelo mesmo WOD, não importa se é um idoso, se tem algum problema, se é um atleta. Óbvio que a gente modifica: de acordo com as limitações da pessoa, vamos colocar menos carga”, comenta Santos. Para o médico Felix Albuquerque Drummond, presidente da Confederação Sul-Americana de Medicina do Esporte, é imprescindível que se faça uma avaliação antes do início de práticas esportivas. “Recebo muitos pacientes que sofreram lesões depois de se submeterem a esforços inadequados. É necessário realizar ao menos um eletrocardiograma de repouso e uma avaliação muscular”, afirma Drummond. O especialista esclarece que no Brasil ainda não há normas legais que fiscalizem as academias, mas que na Europa há países que levam o assunto a sério. “Na Itália, por exemplo, há uma lei que institui a obrigatoriedade da avaliação médica antes do início de práticas esportivas. Devido ao alto índice de mortes súbitas registradas durante exercícios, virou lei”, salienta.
Vocabulário próprio Os termos do crossfit são todos em inglês. Esse é um dos motivos que faz o esporte se considerar uma comunidade internacional. Veja os principais termos: • Box – a sala de aula do crossfit • Box Jump – salto na caixa • Burpee – exercício de agachamento, flexão de braços e salto vertical. Utilizado também como punição: quem chega atrasado ou não devolve os equipamentos para o local correto paga um número pré-determinado de burpees • Coach – treinador de crossfit • Double under – salto duplo de corda • Muscle up – subida na argola • Tire Flip – virada de pneu • WOD (workout of the day) – treino do dia e terceira parte da aula
O professor Carlos Santos executa um tire flip, movimento que consiste na virada de um pneu de 140 quilos
33 Novembro/2014
BABÉLIA
ESPORTE
Fogo amigo Com armas idênticas às reais, airsoft une simulação militar e companheirismo
BABÉLIA
vez de esperar pela ação e vai atrás dela. “Tá, melhor jogador”, grita rindo Jeferson, ou, como agora eu vou lá matar uns caras.” Dizendo está escrito na sua tag, “Jaguara”. Jeferson é isso, ele some de vista no meio das árvores. um tatuador de Esteio que divide seus finais de Em seguida ouvem-se gritos de “Morto!”. Um, semana entre o filho e o airsoft. No intervalo dois, três, quatro cabeças cobertas por panos de um jogo e outro, PJ dá instruções de jogo a vermelhos saem do mato, todos eliminados uma jogadora iniciante. Isadora Kolicsa está pelo jogador, que, em suas próprias palavras, recém no seu terceiro jogo de airsoft, mas está “em ótima fase”. já se assume apaixonada pela modalidade. Durante toda a ma“O que me chama mais nhã é possível captar a atenção no esporte é o cenas de descontração e companheirismo, a lealdade diversão entre os jogae a adrenalina”, comenta dores. Em uma dessas o a publicitária Isadora, que outro tatuador do time, descobriu o airsoft por acaToledo, que carrega na caso na internet. beça dreadlocks e é coberMais um jogo começa, to de tatuagens coloridas, e Jaguara vai mais uma vez cumprimenta e abraça o atrás do título de Melhor seu colega de profissão Jogador. Após o início da Jaguara. “Bah, cara, que disputa de captura da matroca de tiros massa que leta, ele cansa de esperar fizemos”, parabeniza Toem sua base e fala: “Vou lá ISADORA KOLICSA ledo, encenando alguns pegar essa maleta de uma PUBLICITÁRIA E dos seus movimentos vez”. Assim, ele caminha PRATICANTE DE AIRSOFT durante a ação. No final até a maleta, encontrada do duelo, quem se deu melhor foi Jaguara, mais uma vez na trilha. Chegando perto do que conseguiu eliminar Toledo com Head objetivo, os disparos inimigos se intensificam. Shot (tiro na cabeça). Então, levantando sua Full Metal, faz alguns Ao final, a impressão que se teve pela disparos contra os adversários. Após pegar fresta dos tapumes é apagada. Apesar de ser o objetivo com sucesso, ele realiza a mesma um jogo de simulação militar e com cara de caminhada tranquila de volta, carregando a guerra, o que prevalece é a lealdade e amizade maleta na mão e um sorriso divertido no rosto. entre os jogadores de airsoft do Iron Heads. De volta à base, o tatuador se cansa mais uma
Matheus Alves
N
o final de uma rua, quase na divisa de Canoas e Esteio, tem um terreno abandonado, protegido por paredes altas e tapumes. A visão que se tem através de uma fresta é de assustar. Homens e mulheres trajando roupas pretas ou camufladas, cada um deles com uma arma na mão e uma pistola em um coldre, preso na cintura ou no colete, que ostenta vários outros artefatos, como granadas e pentes de munição. O terreno não é menos assustador. Com duas pequenas casas em ruínas em cada extremo, cercadas por grandes árvores, um mato que chega à altura dos joelhos e apenas uma pequena trilha desmatada entre elas, torna-se um lugar pouco convidativo. Ao entrar no terreno, logo se percebe que o clima é muito menos agressivo do que aparenta. Este é o “campo de batalha” do time de airsoft Iron Heads (em português, “Cabeças de Ferro”). Paulo Junior Duarte, conhecido como PJ, é o capitão do time. Formado em Gestão de Projetos e gerente de projetos de infraestrutura de TI na empresa HCL Technologies, especialista em Tecnologia de Informação, PJ explica que, apesar de assustar um pouco, as armas são apenas simulacros de armas reais, fabricadas em plástico ABS, fibra de vidro ou ainda totalmente em metal (as Full Metal), e funcionam com baterias ou a gás. As AEGs (Airsoft Eletric Gun) é como são chamadas as armas elétricas, preferidas entre os jogadores do time. As armas a gás são as GBB (Gas Blow Back). Ambas disparam projéteis esféricos de 6mm a uma velocidade superior a 400 FPS – convertendo: mais de 438 km/h. O airsoft, como explica o capitão, é um jogo voltado para a simulação militar, e pode ser jogado com vários objetivos. A lealdade do jogador também é um fator importante, já que o projétil do airsoft, apesar de doer, não deixa marca, então o jogador atingido deve se acusar “morto”. Em uma referência cômica ao clássico filme de 1986, os jogadores que não se acusam são chamados de Highlanders. Para o jogo, o time é divido em duas equipes. Após um tempo para as equipes montarem suas estratégias, o jogo começa. No início só há silêncio. Passado algum tempo, tiros e gritos de “morto!” são ouvidos, seguidos de jogadores com as armas abaixadas e panos vermelhos na cabeça, indicando que estão fora da disputa. O final do jogo é indicado por um apito e acontece quando um time elimina todos os jogadores do outro. O apito é soprado pela jogadora fora de combate Michele Alves. Ela trabalha em um ateliê de costuras e, como hobby, praticava paintball com o marido, até que descobriram o airsoft e não largaram mais. Infelizmente, Michele machucou o pé e está há duas semanas sem praticar. “Eu já estou enlouquecendo por não poder jogar.” Durante a manhã ensolarada de domingo os Iron Heads disputam várias partidas. Desta vez o objetivo é capturar e guardar uma maleta, posicionada no centro da trilha entre as duas casas. Ao final, o time que consegue capturar a maleta e guardá-la em segurança até o final do tempo vence. Um jogador comemora mais que os outros. “Acabou! Ganhamos com a estratégia que eu bolei. Vou ser eleito o
O que me chama mais a atenção no esporte é o companheirismo, a lealdade e a adrenalina”
FELIPE BILIBIO
Jaguara volta para sua base após a captura do objetivo
34 Novembro/2014
ESPORTE
Goleirinho mais do que especial Getulio, o menino símbolo da Copa e que venceu a paralisia cerebral, busca o sonho de ser goleiro
NATANE DOS SANTOS
Júlia Klaus Bozzetto
A
imagem é a de um garoto moreno, com 1,45 de altura e uma expressão cansada no rosto. O desgaste físico é visível, mas a satisfação estampada no sorriso é maior. Assim ele sai de campo. Toma um banho rápido, veste-se para a escola e senta-se num banco de concreto azul. Seus olhos brilham e ele balança os negros cabelos lisos ainda molhados, saboreando com gosto um saquinho de pipoca doce coberta com leite condensado, comprada pelo pai. Entre uma bocada e outra, relata sobre sua vida, reabilitação, Copa, sonhos, conquistas e os treinos na Escolinha de Futebol. Todas as quartas-feiras o pequeno Getulio Felipe Fernandes da Silva, 10 anos, pula da cama cedinho, ás 7h para ir aos treinos da Escolinha de Futebol do Grêmio, em Porto Alegre. A missão de transportar o goleirinho até o local cabe ao pai, Getulio Santos da Silva, 45 anos. Eles moram em Alvorada e se deslocam até a capital para o menino realizar atividades todos os dias, pois ele também estuda na Escola Pastor Dohns, no Bairro Higienópolis, à tarde. Getulio ou Gagaga, como é carinhosamente chamado pelo pai, se tornou uma celebridade mirim ao entrar de mãos dadas com o goleiro da Alemanha Manuel Peter Neuer, 28 anos, durante a última edição da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. ‘’Me inscrevi numa promoção do Mc Donald’s intitulada Sonho de Craque por conta própria e tive a sorte de ser uma das crianças sorteadas para um jogo das oitavas de final da Copa’’, relata Getulio.
Logo que nasceu prematuramente de uma gestação de seis meses, Getulio sofreu paralisia cerebral. Teve os movimentos dos membros inferiores e superiores afetados, mas por sorte teve uma paralisia cerebral grau 2, com gravidade menor e que não tirou por completo os movimentos dele. O que sem dúvida já é uma grande conquista para Getulio, pois ele conseguiu recuperar os mo-
vimentos das pernas e dos braços por meio de fisioterapias, contrariando os diagnósticos médicos negativos. ‘’A parceria de sete anos entre o Gagaga e a Associação de Assistência a Criança Deficiente deu resultado. A equipe de médicos e fisioterapeutas acreditou no potencial dele, e o resultado não podia ter sido melhor, a reabilitação’’, conta orgulhoso o pai de Getulio.
O treino O treino começa com um elogio. ‘’Boa pegada, Getulio’’, diz o professor. São 9h e, na primeira parte, ele realiza os exercícios específicos para goleiro em separado com mais três meninos. Depois, às 10h, ele treina junto com todos os outros meninos de idades mistas até às 11h. Eles formam times mistos cada um na sua posição e cabe a Getulio o papel de goleiro em um dos times. O pequeno astro treina na escolinha há dois meses, com o propósito de realizar o seu maior sonho: ser goleiro. Rodolpho Zingano, 24 anos, professor estagiário de Educação Física, treina os meninos na primeira parte da manhã. Ele explica que são realizados movimentos mais lentos específicos para goleiro. Inicia com o coordenativo intercalado entre os fundamentos, onde o professor mostra como fazer as atividades. Depois, seguem os exercícios como a pegada, a entrada, a saída de gol, a rasteira com queda e, por fim, alongamentos. Para tais atividades ele utiliza a bola e algumas mini goleiras. Os exercícios são iguais para todos os meninos.
‘’O Getulio é persistente, agitado e disposto a aprender. Conheci-o na TV e foi uma surpresa quando soube que ele viria treinar na escolinha. Um menino de 10 anos que enfrenta toda a dificuldade que ele tem em busca de um sonho é um fenômeno’’, conta animadamente o professor. Para Getulio, os treinos fazem parte das suas conquistas e foi por meio de convite para um treino experimental que essa história começou. Segundo Kim Pontes, 25 anos, assistente da área de iniciação da escolinha, o convite partiu da supervisora técnica Bruna Almada, 28 anos, que encontrou Getulio em dois eventos diferentes e o reconheceu da TV. Encantada com o seu carisma, fez o convite e ele ficou sem jeito, pois é colorado. Ela insistiu e, por fim, ele aceitou. Chegando lá emocionou a todos devido a sua garra e força de vontade. Resultado: ganhou uma bolsa na escolinha como incentivo e ficou. ‘’ Todas as crianças o adoram, nos treinos querem fazer gol na goleira dele. O objetivo da escolinha é formar cidadãos, e ele foi muito bem-vindo por todos’’, conta Kim. ‘’Você tem que correr atrás dos seus sonhos, pois se você tiver garra, eles podem se tornar reais, basta acreditar. Devo ao meu pai tudo o que sou e tudo o que conquistei, ele é meu grande incentivador, o meu melhor amigo’’, finaliza sorridente o pequeno sonhador chamado Getulio.
Getulio é só sorriso durante o treino, mostrando que superou a paralisia cerebral
35 Novembro/2014
BABÉLIA
ESPORTE
Uma organização que deu certo Uma das cidades sedes da Copa do Mundo, Porto Alegre, organizou uma festa tranquila, fazendo a alegria de todo mundo
Julieli Ribeiro
craques de suas seleções”. dos torcedores e não prejudicou o andar Outro ponto bem interessante é a do jogo”, relembra Bruna. torcida exaltar seu país e time. Prova Ela destacou também a importância disso são os argentinos, muito fiéis e da Copa para Porto Alegre. “ Foi um exaltam muito a seleção Argentina, coisa evento que deu orgulho para os gaúchos que a torcida brasileira não faz. e, principalmente, para a cidade que ficou A Copa abriu novos horizontes para o mais conhecida”, fala. intercâmbio. Estar com pessoas diferenA cidade de Porto Alegre cumpriu tes é muito bom, que com o papel de receber falam várias línguas, os turistas, mostrar para alemã, australiano, o mundo a sua riqueza, francês, holandês, é sua hospitalidade, seus bem interessante. A lazares, suas comidas torcedora Bruna diz, típicas e seus pontos “ aprender mais do que turísticos. um idioma é essenA torcedora do Incial para quem quer ternacional fanática conhecer outras culpor futebol, se divertiu turas e outros países. muito durante os jogos.” Assim como pessoas É um lugar onde diverde diversas partes do sas pessoas, do mundo mundo vêem ao Brainteiro vieram de muito sil conhecer toda essa longe para ver um time rica e bonita cultura”, de futebol jogar, vieram BRUNA OLIVEIRA diz Bruna. apoiar a sua seleção e ESTUDANTE DA UNISINOS É uma ótima oporbrigas zero. Eu sou sustunidade para os jovens que querem peita em falar sobre futebol, pois comprei conhecer mais do mundo, que gostam ingressos para todos os jogos no estádio de se aventurar em um lugar diferente. do meu time, amo futebol desde pequeÉ como uma troca de experiência e, nininha”, diz Bruna. que é muito válida. “ É uma sensação No futebol algumas vezes as torcidas diferente para quem se interessar em brigam, vão parar na delegacia para fazer um intercâmbio. Uma chance de prestar ocorrência, lembra Bruna, “ na treinar o idioma para não fazer feio na Copa isso foi tranquilo. Teve paz em todo hora”, segundo Bruna Oliveira. o momento e muito show no futebol dos
P
rimeiramente, a cidade de Porto Alegre não estava preparada para receber a Copa, pois as obras ainda estavam em andamento. Não só o futebol, mas a Copa trouxe para a região alegria, diversidade e culturas diferentes. O sorriso e a felicidade dos estrangeiros provou que além do povo gaúcho ser muito hospitaleiro também podem realizar um torneio a nível mundial. A cachoeirense Joellen Soares foi ao jogo da Argentina e Nigéria pra ver de perto o maior rival. “ Não houve brigas dentro do estádio, então foi bem seguro e, acolheu todas as torcidas sem problema. Um ponto negativo foi que a comida acabou rápido durante o jogo, quando as pessoas iam comprar algo na hora do intervalo, as bancas não tinham muitas opções de vendas”, relata Joellen Soares. A caponense Bruna Oliveira foi em todos os jogos no Beira-Rio e ficou muito surpresa com o respeito, principalmente entre gremistas e colorados. “ Foi muito legal! Com a união das torcidas, percebeu-se que a rivalidade não existia, vi muitos gremistas e colorados, juntos se divertindo e muito alegres. Mesmo no jogo da Argentina não havia provocações. Claro que não podemos dizer que não teve nada, era uma coisa ali e outra mas, não atrapalhou a felicidade e a paz
Foi um evento que deu orgulho para os gaúchos e, principalmente, para a cidade que ficou mais conhecida.”
ARQUIVO PESSOAL
Bruna no estádio Beira-Rio no jogo da França x Honduras no dia 15 de junho
BABÉLIA
36 Novembro/2014
ENSAIO
O
s imensos pavilhões do Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre, continuam firmes, exibindo seus 130 anos de idade. Foi a Princesa Isabel quem assinou o ofício de inauguração, que aconteceu em 29 de junho de 1884. No sexto mês de vida, a instituição contava com 72 internos. O auge chegou na década de 60, quando mais de 5 mil pacientes recebiam tratamento no local. A escultura de São Pedro, padroeiro do hospital, hoje anda mais solitária, contemplando apenas 183 usuários que ainda residem por ali. Esse vazio foi captado pelas lentes da aluna do Curso de Fotografia da Unisinos Luana Farias. As imagens foram originalmente produzidas para a reportagem especial desta edição do Babélia (páginas 4 e 5). Confira aqui um pouco mais do Hospital São Pedro.
37 Novembro/2014
BABÉLIA
S Ã O
J
L E O P O L D O
BABÉLIA
( R S )
á pensou, em plena Rua da Praia, em Porto Alegre, uma banda tocando som calminho? Pois a Som Central, banda independente, vai lá as segundas, quartas e sextas, e faz as pessoas pararem no meio daquela muvuca para ouvirem letras que falam de inclusão social, com melodias calmas. Transeuntes até dançam ao som de Bob Marley! Confira as fotos do ensaio de Martina Silveira, graduanda do Curso de Fotografia da Unisinos.
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N O V E M B R O
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D E
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E D I Ç Ã O
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CADERNO DE
SÃO
CULTURA
LEOPOLDO
(RS)
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NOVEMBRO
DE
2014
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ENCARTE
DA
EDIÇÃO
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DO
JORNAL
BABÉLIA
Os novos nomes da literatura Cada vez mais, jovens conseguem lançar livros, seja de forma independente ou por meio de parcerias com editoras
Lurdenir Matos
FOTOS AR QUIVO
N
o transporte público, centenas de pessoas se acomodam nos bancos e nos cantos, prontas para viajar. Colocando fones de ouvido, elas se preparam para outra viagem. Com os livros em mãos, seja no ultrapassado papel ou no badalado tablet, elas passam o tempo vivendo a história daqueles personagens. Os cinemas acompanham o fenômeno em torno dos livros. As bilheterias estão cheias de adaptações dos best sellers. Os fãs cobram fidelidade com a história escrita e resmungam quando a cena favorita não está no telão. A mesma expectativa que rodeia o fã que lê avidamente rodeia o autor que escreveu uma história. Não é fácil fazer sucesso. Por trás das obras estão noites mal dormidas, expectativas e sonhos. O processo da escrita pode ser natural e rápido, ou difícil e arrastado. Mas o autor sempre espera, com a mesma expectativa dos fãs na fila de cinema, ver suas obras nas prateleiras das livrarias ou nas listas de ebooks. A cada dia aparecem novos escritores. Eles estão ávidos por colocar ideias no papel e compartilhá-las com os leitores que estão sempre em busca de novos enredos.
Desde sempre
Aos 23 anos, Luisa Geisler lançou este ano o terceiro livro, intitulado Luzes de Emergência se Acenderão Automaticamente. A escritora já venceu dois prêmios Sesc de Literatura. Um em 2010, na categorias contos, com o livro Contos de Mentira. O segundo prêmio veio em 2011, quando ganhou na categoria romance com a obra Quiçá, que também foi finalista do prêmio Jabuti. Em 2013, ela foi homenageada na Feira do Livro de Canoas, sua cidade natal. O desejo de escrever foi tão natural que Luisa nem sabe explicar quando surgiu, mas ela sempre foi incentivada pela família e pelos professores. Foi aos 18 anos, durante uma Oficina de Criação Literária, com o escritor Luis Antônio de Assis Brasil, na PUCRS, que as brincadeiras de infância tomaram forma. No curso ela soube do
prêmio Sesc e publicou seu primeiro livro, Contos de Mentira. Apesar das dificuldades para conciliar o curso de Relações Internacionais com a escrita, ela jamais pensou em desistir. Escreve no trem, entre as viagens que precisa fazer de casa até a faculdade. O barulho e as conversas não atrapalham. Pelo contrário, servem de inspiração. Quanto a ser jovem no meio da literatura, Luisa tenta ignorar os preconceitos, que são sutis, mas perceptíveis. “Eu sei que é a primeira coisa que chama atenção, no fim, isso vai passar, eu vou envelhecer e tudo vai ficar bem”, diz. Estar entre os 20 melhores jovens escritores brasileiros da conceituada revista inglesa Granta, é uma “pressão gratificante” nas palavras dela. No entanto, ela acredita que estar na lista só aumenta a força do seu trabalho. “É necessário ter uma produção estável, que se sustente. A Granta fez a promessa, agora cabe a mim estar apta a isso”, completa.
Produção independente
Surgida em 2009, a Startup Clube de Autores facilita o processo de quem deseja lançar um livro. Essa opção não tem tiragem mínima, e a obra é confeccionada conforme a demanda. O livro fica sob total responsabilidade do autor. A empresa, porém, oferece trabalhos de revisão, edição e diagramação
PESSOAL
Luisa Geisler (à esq.) aos poucos consolida a carreira de escritora. À direita, Francine Locks, que atualmente busca parceria com editoras
com custo negociado por pacotes. Para lançar a obra, basta disponibilizá-la no site e definir o valor que deseja ganhar por cada exemplar. A clube de autores calcula e define o preço final do livro. Foi através da empresa que Francine Locks, 20 anos, conseguiu lançar o primeiro livro, Reviver. Foram oito meses de trabalho, entre a produção e a finalização. A escritora pagou pela revisão e edição, para evitar erros que passam despercebidos pelo autor. “Nenhuma palavra descreverá o que eu senti quando vi meu livro impresso pela primeira vez”, conta. Ela agora se dedica à produção de mais duas obras e espera conseguir parceria com alguma editora. Paula Oliveira, 21 anos, também optou pelo lançamento independente da obra Essencial. Apesar das dificuldades, principalmente para revisar e editar todo o material, a escritora jamais pensou em desistir. Paula se apaixonou tanto pela escrita que pretende conseguir se dedicar exclusivamente à profissão. “Hoje, meu sonho é ter meu livro físico, percorrendo o mundo! Batalho todos os dias, para que isso aconteça”, diz.
Estado ganha festival em celebração à cultura cervejeira
Produção de cervejas artesanais em plena aceleração
Projeto de rap modifica cultura musical de Gravataí
Lançado no final de setembro, em Santa Cruz do Sul, Festival da Cerveja Gaúcha apresenta novidades de rótulos de dezenas de microcervejarias. Página 3
Aumento do poder aquisitivo do gaúcho e do lucro das cervejarias favorece a ampliação de novos rótulos no Estado, que conta com cerca de 50 empresas do setor. Página 2
Com frequência mensal, Rap na Praça reúne grupos interessados em divulgar músicas e arrecadar doações para instituições carentes da cidade. Página 4
CAROLINA TEIXEIRA LIMA
Mistérios da cevada
O primeiro lote da Babel foi feito em novembro de 2013 e hoje tem produção média de oito mil litros por mês
O consumo de cervejas artesanais tem crescido, e a fabricação caseira delas também
Dois lados de um mesmo hobbie
Carolina Teixeira Lima
A
popularização da cerveja artesanal tem crescido no Estado. Alguns defendem que é por conta do aumento do poder aquisitivo da população. Outros pela questão de que a produção industrial da bebida segue uma lógica de consumo que viabiliza o lucro, deixando de lado a qualidade. Não se sabe ao certo como explicar. A certeza é que no Brasil já existem 250 microempresas de cervejas artesanais registradas, 50 delas no Rio Grande do Sul, sendo que sete estão no bairro Anchieta, em Porto Alegre. As perspectivas são de que esse mercado ‘alternativo’ só cresça. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Cerveja, CervBrasil, o país é o terceiro maior distribuidor no mundo, produzindo cerca de 13 bilhões de litros que abastecem mais de um milhão de ponHUMBERTO FROHLICH tos de venda. EstiDONO DA CERVEJARIA BABEL ma-se que 5% dessa indústria seja formada pelas microempresas do líquido feito de forma artesanal. Roger Klafke, formado em Administração e coordenador estadual de carteira de projetos coletivos do Sebrae/RS, defende que o mercado, apesar de ter crescido nos últimos anos, ainda é novo e que não existem muitas pesquisas e números sobre esta área da indústria. “A própria nomenclatura ainda é confusa, pois se fala em cerveja artesanal, cerveja premium, entre outros termos”, afirma.
Vinicius Rodrigues é empresário e leva a fabricação de cerveja como hobbie. Teve conhecimento das possibilidades de preparar seu próprio “líquido sagrado” pela internet, viu vídeos e pesquisou sobre o assunto. Para se aperfeiçoar, fez um curso na WE Consultoria. Na visão dele, a grande indústria da área atrapalha os investimentos futuros. “Os custos são altos, e a concorrência com as empresas grandes do setor complica”, afirma. Pensando diferente, o engenheiro Humberto Frohlich fundou a Cervejaria Babel. A vontade de fazer cerveja artesanal surgiu após sua viagem de férias para a Alemanha. “Eu vi muita variedade da bebida lá e me questionei do porquê de não fazíamos aqui também”, conta. Começou a produção artesanal por lazer e a vontade de investir no comércio veio do antigo sonho de ter seu próprio negócio. “Por que meu hobbie não poderia virar fonte de renda?”, questiona. O primeiro lote da Babel foi produzido em novembro de 2013 e desde então tem crescido. Hoje a média é de oito mil litros por mês. O desafio no momento para a Cervejaria Babel, que faz parte do Polo Anchieta, é encontrar clientes. Existem alguns aspectos que limitam a venda do produto em grande escala. Acredita-se que o principal motivo do crescimento da popularização das cervejas artesanais vem devido à procura por uma bebida mais diferenciada e com mais qualidade. “Tem mais sabor, tu acabas tomando menos”, defende Luiz Della Méa, técnico em Segurança do Trânsito e Mobilidade Urbana, e degustador da iguaria nas horas vagas. Ele aponta que a produção artesanal é mais encorpada e
Por que meu hobbie não poderia virar fonte de renda?”
2 Novembro/2014
que vale a pena pagar mais caro por uma qualidade melhor. “Depois que você bebe a cerveja artesanal, você até bebe as outras, mas não é mais a mesma coisa”, diz. Para se fazer o popular “suco de cevada” são necessários quatro ingredientes básicos: o malte (derivado da cevada), a água, o lúpulo e a levedura (fermento), produtos que muitas vezes são importados de outros países. O técnico cervejeiro Clóvis Fink explica que as principais matérias-primas não podem ser produzidas no Brasil por conta da temperatura e o custo para trazê-las são altos, fazendo com que as grandes indústrias de cerveja utilizem outro tipo de produto para a fabricação. “O malte pode ser substituído por milho”, explica. O que acaba deixando a bebida mais barata, ao mesmo tempo que mais aguada e pouco encorpada.
Cerveja viva A tendência gaúcha é por cervejas não pasteurizadas. Os cervejeiros defendem que a pasteurização modifica o gosto do produto. Isso pode ser um empecilho na venda, pois a bebida deve estar sempre refrigerada para não estragar. Não existe a possibilidade de deixá-la nas prateleiras, fora do gelo, dos supermercados, porque pode perder o gosto inicial. Além disso, tem um tempo para consumo. “Funciona como um organismo vivo, o frio faz com que ela durma”, explica o técnico cervejeiro Clóvis Fink, querendo dizer que a baixa temperatura estabiliza o processo.
Fermentando a cena cervejeira Cerca de 3 mil pessoas reuniram-se para prestigiar as cervejas do Rio Grande do Sul
Victoria Silva
A
partir deste ano, o dia 20 de setembro passa a ter um novo significado para os gaúchos, ao menos aos cervejeiros. A data, que marca o início oficial da Revolução Farroupilha, ou Guerra dos Farrapos, foi escolhida para celebrar a cultura cervejeira sul-rio-grandense. E Santa Cruz do Sul foi eleita palco do 1º Festival da Cerveja Gaúcha. Nos dias 19 e 20 de setembro não houve conflito nem piquete. O pavilhão 2 do Parque da Oktoberfest foi, aos poucos, tomado por visitantes, curiosos, entusiastas e profissionais do universo cervejeiro, que reuniram-se para prestigiar o primeiro festival do segmento no Estado. O evento contou com shows, participação de microcervejarias, opções gastronômicas, expositores de insumos e a participação da Acerva – Associação Gaúcha de Cerveja – e da Cervale – Cervejeiros do Vale do Rio Pardo. A ideia de fazer um festival que difundisse e fomentasse a indústria cervejeira gaúcha não é recente. Há pelo menos dois anos a possibilidade era discutida pelos amigos Leo Sewald, Leonardo Garbin, Rodrigo Yung e Milena Gerhardt, das cervejarias Seasons e Heilige, respectivamente. As parcerias feitas entre as duas cervejarias em outros festivais, além das cervejas produzidas em conjunto, foram aproximando o grupo, e o projeto foi sendo amadurecido. Segundo Leo Sewald, a decisão de optar por pessoas ligadas ao universo cervejeiro, que fossem próximas deles, foi decisiva para tornar o evento possível. “Ao invés de contratar uma produ-
cervejarias aproveitaram o momento tora que a gente conhece, e nunca ouviu para divulgar lançamentos. A Lake Side, falar, vamos trazer essas pessoas que já de Passo Fundo, divulgou sua cervesão do nosso círculo de confiança, para ja homônima, primeira sem glúten do trabalhar de perto conosco”, explica o Brasil. A cerveja atende à demanda do cervejeiro. Quanto à escolha do local, público portador da doença celíaca, que não poderia ser outra: o Parque da Okno país já está em 2 milhões, segundo toberfest é popular pela festa homônima a Acelbra – Associação dos Celíacos do que ocorre anualmente na cidade. No Brasil. Marcelo Teochi, gestor da Lake entanto, os organizadores queriam um Side Beer e da Cervejaria Farrapos – festival diferenciado que, ao contrário da dona da marca Lake Side – afirma que festa germânica, difundisse o conceito a produção também posiciona a Lake do “beba devagar, beba melhor”. Side em um mercado de Apesar de, para produtos mais saudámuitos, parecer noviveis. “A gente não pega dade, o Rio Grande do só o cara cervejeiro, a Sul é um dos estados gente tá entrando em com o maior número outro mercado, que é de microcervejarias o do cara mais natural”, do país, junto de São constata Teochi, já que Paulo, Santa Catarina, a substância também é Minas Gerais, Rio de evitada por aqueles que Janeiro, Paraná e Goiás. querem uma dieta mais Para se ter uma ideia, só equilibrada, ou que deem solo gaúcho há mais sejam emagrecer. de 50 microcervejarias Segundo o organifermentando a cena zador e cervejeiro Leo local. Representando Sewald, na próxima ediesse número, no festiLEONARDO SEWALD ção se espera “um evenval, 26 microcervejarias ORGANIZADOR DO FCG to ainda maior, com atraíram a atenção e o mais bandas, mais opções gastronômicas paladar dos visitantes, com 120 rótulos e mais cervejarias!”. O organizador ainda disponíveis para degustação. Durante levanta a possibilidade de aumentar em a festa, destacou-se a diversidade de mais um dia a festa. Independente das cervejas. Os amigos Diego Valadas, 32 proporções que tomará, o Festival da anos, Caroline Schmidt, 28 anos, e André Cerveja Gaúcha, com certeza, entrará Mattos, 29 anos, de Caxias do Sul, não para a agenda dos eventos anuais do pouparam elogios. “Há vários estilos Estado. Um evento para movimentar não diferentes para experimentar. Normalsó a economia, mas também a cultura do mente as cervejarias têm os mesmos “beba menos, beba melhor”, que cresce rótulos nos festivais... Aqui tem pra cada vez mais. Um brinde e sirvam as todos os gostos!”, anima-se Diego. cervejas de modelo a toda Terra! Além da variedade de rótulos, as
O Festival da Cerveja Gaúcha, com certeza, entrará para a agenda dos eventos anuais do Estado”
VICTORIA SILVA
O festival contou com shows de bandas do Estado, como a Irish Fellas
3 Novembro/2014
Projeto de rap promove cultura aos moradores de Gravataí Jovens promessas do rap estimulam atitude de rua e beneficiam comunidades carentes do município
Paola Cunha
para dentro da cidade. que recebe mais de 10 grupos. Além de apreNo âmbito nacional, Racionais MC’s, Sasentações de dança freestyle, há prática de botage e RZO são as grandes influências dos skate, bike, slackline e grafite. A estudante de garotos. “Hoje o rap está mais underground, Turismo Karine Melchiors, 22 anos, é quem mas tem muita gente que representa suas solicita a autorização da Secretaria de Planeraízes”, conta Rafa. Grupos como La Trupe, jamento e Urbanismo da cidade para que o NHC, Projeto Eztinto, LC, Diegudang, todos local esteja liberado para o encontro. “Sempre de Gravataí, marcam presença desde a priteve rap na cidade, mas o pessoal da antiga meira edição. não incentivava, não chamava a galera”, diz. A ação de criar um Segundo Karine, o evento, a partir de uma projeto só existe pela cultura de rua com origem iniciativa dos próprios nos guetos da Jamaica, grupos. O evento não em 1960, demonstra que tem fins lucrativos e tem a juventude pode engaa função de divulgar e jar-se em algo para um propagar os grupos da bem maior e ao mesmo cidade e ajudar pessoas tempo fazer o que gosta. É de comunidades carentes. inevitável não comparar a “Eu fico muito feliz dessa forma como é realizado o atitude juntar toda a galeRap na Praça com a improra e ajudar quem precisa”, visação dos versos feitos declara Karine. pelos garotos. Não é de hoje que os A maior barreira que grupos tentam ganhar o movimento enfrenta é espaço no cenário cultuRAFAEL MATOS a dificuldade da sociedade ral. Há dois anos, o InseRAPPER em enxergar o que o gêert busca na música uma nero musical retrata na cultura. O vestuário, forma de se expressar e desenvolver o gênero os gestos e as gírias são vistos como uma musical. O trio se formou a partir da idealizatransgressão a uma classe que se diz supeção de Rafa, que convidou Chris e Emerson rior e conservadora. Para a comunidade, o para fazer um som juntos. Com letras que rap representa a própria comunidade, os fazem críticas, questionamentos e revela as moradores, o dia a dia de quem luta por si e cicatrizes da própria cidade à mercê da impelo próximo. O som que foi trilha sonora dos punidade. “A cena do rap em Gravataí está becos dos bairros mais perigosos da Jamaica, começando a ficar mais forte, porque antes e que depois migrou para os Estados Unidos cada grupo fazia o som para somar apenas onde a comercialização é forte, hoje, é a trilha na sua quebrada”, explica Lanes, que acredita sonora das casas, ruas e praças de Gravataí. que agora, o objetivo é intensificar e trazê-lo
N
os últimos seis meses, as ruas de Gravataí ganharam trilha sonora. O Rap na Praça - evento com manifestações da cultura de rua -, surgiu com a iniciativa de jovens rappers da cidade que queriam apresentar o discurso atrelado às rimas, poesia e beatbox. O evento ocorre uma vez por mês, na Praça do Tuiuti, no bairro Bonsucesso. O projeto foi o atalho que os grupos de garotos encontraram para divulgar as suas músicas, em prol de uma boa causa. Diante dos problemas de infraestrutura, segurança e saúde, os grupos fizeram do rap um compromisso para arrecadar doações para instituições carentes da cidade. Gravataí é tema constante nos versos do grupo Inseert, formado por Rafael Matos, 19 anos, Chris Lanes, 17 anos, e Emerson Borges, 19 anos. O peso que o gênero musical carrega nas letras é o reflexo das experiências vividas tanto por quem o faz e tanto por quem o aprecia e se identifica com a realidade. “Cantamos aquilo que a gente vê nas ruas, o que a gente vive, passamos isso para a folha e fazemos as nossas músicas”, explica Rafael. O palco é improvisado. Há caixas de sons ao ar livre e microfones emprestados. Tudo é organizado pelos próprios rappers, MC’s e amigos que apoiam o projeto. Para Anna Carolina Bertini, 14 anos, o evento é uma boa opção de lazer para quem gosta do gênero musical. “Eu adoro vir até a praça, encontrar os meus amigos, ajudar as pessoas e ainda ouvir música”, conta a adolescente. Os shows ocorrem nas bordas do bowl,
Cantamos aquilo que a gente vê nas ruas, o que a gente vive, passamos isso para a folha e fazemos as nossas músicas”
MALÍBIA BIER
Inseert O nome do grupo vem da palavra em inglês insert, que na tradução significa inserir. “Nós colocamos um ‘e’ a mais para diferenciar, mas é isso que queremos passar, inserir conteúdo”, explica Rafa.
Grupo Inseert faz do rap um compromisso
4 Novembro/2014
Inovador e clássico Como “O Poderoso Chefão” influenciou o cinema, a cultura contemporânea e até a máfia real
Amanda Oliveira
A
saga da família Corleone surgiu primeiro em 1969, no livro “The Godfather”, de Mario Puzo. Os longas foram lançados, respectivamente, em 1972, 1974 e 1990. Mais de 40 anos depois, o filme que popularizou a máfia e que é considerado um dos primeiros blockbusters da história do cinema continua atraente a ponto de agradar até mesmo algumas pessoas que nasceram muito tempo depois de sua estreia. A história foi citada em várias peças de teatro, filmes e seriados de TV. Até os gângsteres reais gostam de brincar de “O Poderoso Chefão”. No livro “Gomorra: A História Real de um Jornalista Infiltrado na Violenta Máfia Napolitana”, o jornalista italiano Roberto Saviano conta que os mafiosos napolitanos utilizavam o termo compare – traduzindo para o português, compadre. Porém, depois do filme, o termo foi substituído por padrinho. Ele cita também o caso de um chefão que passou a levantar o queixo quando fotografado, como Vito Corleone fazia. Além disso, existem à venda inúmeros produtos que fazem referência à trilogia. DVDS, Blu-rays, camisetas, canecas, videogames, além dos kits para colecionadores com álbuns de fotos, histórias sobre os bastidores das gravações e compilação de entrevistas. Para Hugo Gualberto da Silva Filho de 21 anos, administrador da página do Facebook “Conselhos do Poderoso Chefão” e repórter do canal esportivo Esporte Interativo, o atrativo dos filmes são a qualidade do roteiro e a sua fidelidade ao livro. “Acho que o filme foi muito bem-feito e é extremamente fiel à obra de Mario Puzo”, conta. A máfia sempre foi um tema que interessou a jornalista Fernanda Vaz, de 27 anos. Ela já leu vários livros sobre o assunto e o fato de a obra de Mario Puzo ter ganhado destaque chamou a sua atenção. “Já assisti diversas vezes, CHARLES SCHUMACHER não sei dizer quantas. ATENDENTE DE LOCADORA Os livros eu li duas vezes cada um deles. Já li outros livros do Mario Puzo também, e há pouco comprei outro, baseado na trilogia, que explica o início dos negócios da família”, conta empolgada. Se atualmente “O Poderoso Chefão” é um filme adorado, na época de sua produção a situação era outra. O diretor do longa, Francis Ford Coppola, não era um nome muito
conhecido no meio e suas brigas com os produtores tumultuavam o set de filmagem. Para piorar a situação, houve a perseguição da máfia real. Joseph Colombo, líder da família criminosa Colombo, declarou guerra ao filme e fez inúmeras ameaças e atentados às gravações. Através da Liga Ítalo-americana de Direitos Civis”, alegou que estava cansado de ver os italianos retratados como bandidos cruéis. Porém, o objetivo real era incomodar o governo por causa dos altos impostos que lhe eram cobrados, e o filme foi utilizado como desculpa. O estúdio convocou uma reunião com Colombo e as gravações puderam continuar com a condição que a palavra “máfia” não aparecesse nem uma vez no script. Mesmo com todas as dificuldades, os três longas entraram para a História, fazendo com que qualquer filme sobre o assunto tenha que lidar com as comparações. A saga dos Corleone, portanto, não é novidade há muito tempo. E não é exibida frequentemente na TV fechada, muito menos na aberta – até porque os três filmes são compridos. Além disso, não se encontra disponível para locação em qualquer locadora. Então, qual é
o grande diferencial de “O Poderoso Chefão”? Para Charles Schumacher, atendente na locadora E O Vídeo Levou, de Porto Alegre, “O Poderoso Chefão” é o ícone dos filmes de máfia. “O filme causou uma revolução em 1972, tanto pela superprodução quanto pela violência. E também por ser o primeiro filme a retratar com maior proximidade o que foi a máfia ítalo-americana”, explica. Patrícia Simone de Araújo Santos é psicóloga e escreve em seu blog, Psicologia e Cinema, sobre a relação entre os filmes e a psicologia. Para ela, o tema gera uma curiosidade em relação ao poder que a máfia possui. “Como alternativa sócio-política demonstra regras particulares que desafiam o poder circundante, rompendo leis e exibindo sua própria lei: do mais forte, do dinheiro, da família que protege”, conclui. A trilogia “O Poderoso Chefão” é um grande clássico do cinema cuja trama continua interessante. Se você ainda não assistiu, eu tenho uma proposta que você não poderá recusar. Deixe-se levar pela história dos Corleone e aprenda com seus acertos e erros. MYCHELLE FRAZÃO / ARQUIVO PESSOAL
O filme causou uma revolução em 1972, tanto pela superprodução quanto pela violência”
O fã Hugo exibe orgulhoso a sua pequena coleção
5 Novembro/2014
Transcendental até no formato Do download ao streaming, as inovações tecnológicas ganham espaço entre os jovens
Jacó, dono de loja de CDs, lamenta a baixa procura, mas persiste
Bárbara Bengua
preferidos do estudante. Mas ele não é o único. E esse é um caminho sem volta. Segundo o Michel Pozzebon, 31 anos, jornalista, blogueiro músico João Paulo Sefrin, a internet não é um de música e redator em site de som eletrônico, modismo. “Tudo indica que ela vai se alastrar também adora esses estilos, mas inclui uma e crescer com ajustes necessários. Em vez velha MPB. O seu iPod Classic branco, que de se tentar combater esse recurso, deve-se nem é mais fabricado pela Apple, ocupa o buscar organizar, formalizar e intensificar posto de dispositivo que mais gosta de utilizar. o uso”, corrobora. Nele, estão músicas que foram baixadas pela Opções de acesso não faltam. Músicas diinternet: algumas compradas e outras baixagitais, lojas on-line, download ilegal e serviços das ilegalmente. Passando pelas playlists que de streaming estão entre os preferidos. Este criou, o jornalista opina: “Uma das vantagens último, novidade no Brasil, atrai curiosos por em baixar músicas é a variedade. É fácil de novidades. O estudante de Direito Henrique encontrar novidades e raridades. Além disso, Jorge, 23 anos, baixou, há menos de seis mealguns sites disponibilises, o Spotify – aplicativo zam a pré-venda antes que possui cerca de 30 midas lojas”, defende. A sua lhões de músicas –, e não postura vem de encontro vive mais sem. O rapaz, de ao comportamento de diolhos e cabelos castanhos, versos jovens do Brasil: com sorriso largo no rosdados da ABDP mostram to, não abre mão, nem um que, das vendas digitais, dia, de ouvir seus artistas 21,3% do total foram por preferidos através do app, downloads; 25,3% por e confessa que se sente no assinaturas de serviços paraíso desde que baixou a de streaming; 27,4% por versão paga. “Consigo desstreaming de vídeos mucobrir novos artistas, tenho sicais remunerados por tudo organizado e posso FRANK JORGE publicidade; e 26% por compartilhar com amigos MÚSICO E PROFESSOR música ouvida no ceas músicas que gosto”, colular. Sobre a polêmica memora. Além dele, milhade baixar músicas ilegalmente, Pozzebon é res de brasileiros aderiram à ideia: segundo categórico: “Baixo e seguirei assim até que a ABPD, o mercado de música digital em as gravadoras resolvam ser mais justas e 2012 chegou a 28,37% do consumo nacional honestas nos preços. Quem ganha dinheiro (em 2011, eram 16%). Para Jorge, essa forma são as gravadoras, não os artistas”, ressalta. de ouvir um som caiu como uma luva: ele Quem explica essas formas de consumo também toca guitarra, violão e gaita de boca, na esfera musical é o músico e coordenador e os instrumentos, alinhados em seu quarto, do curso de Produção Fonográfica da Unisirevelam que a música faz parte de sua rotina. nos, Frank Jorge. “O público jovem pratica“A musicalidade reflete de diversas formas no mente não busca mais músicas nas rádios meu cotidiano, seja para adquirir cultura ou convencionais. O pessoal aderiu fortemente para descontração”, revela. ao streaming e às rádios temáticas”, resume. Blues, rock e jazz estão entre os estilos Segundo ele, isso afeta o meio da música SOFIA WOLFF de forma positiva. “Assim, todas as classes sociais têm acesso amplo à informação, aos recursos e ferramentas para consolidação e difusão da música”, sublinha, ressaltando que não há como lutar com os novos paradigmas, já que estudos revelam que as vendas de músicas on-line devem superar a venda por meio físico até 2017. Mas enganam-se as pessoas que pensam que os CDs estão com os dias contados. O estudante de Comércio Exterior Lucas Fontanari, 20 anos, é a prova de que não há nada comparável a pegar o CD na mão. “Quando gosto muito de uma banda, sempre compro o CD. Às vezes, é só para ter no meu acervo mesmo”, resume, mexendo na capa de papel de um de seus CDs preferidos. Mas Fontanari não abriu mão de baixar músicas ilegalmente e, eventualmente, fazer download pago para ouvir músicas em seu celular. O Brasil é um grande consumidor de música, e isso é inegável. Seja no toca-discos ou no celular, o importante é ouvir o que se gosta. A música é uma forma de arte que segue presente na vida das pessoas. Sobre seus benefícios, Frank Jorge, o cantor do clássico gaúcho “Amigo Punk”, resume: “Ela permite que as pessoas saiam do lugar onde estão e projetem a vida em um mundo diferente”.
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e segunda a sábado, o dono da Estação Laser, Jacó Bernardo Wolff, 55 anos, dirige-se à Rua João Corrêa, 815, Centro, para levantar as grades da sua loja de CDs e DVDs. Líder de vendas, o estilo pop/rock é o mais procurado pela clientela jovem e rende bons negócios para Wolff. Mas nada disso se compara aos resultados que aconteciam há 10 anos. “O mercado caiu 60% nos últimos anos”, lamenta o proprietário, que já possui alguns cabelos brancos. No entanto, a queda nas vendas de CDs no Brasil, comprovada por pesquisa da Associação Brasileira de Produtores de Disco (ABPD), nada reflete no consumo de música dos jovens. As formas são outras, mas ninguém deixa de curtir um som. A principal responsável por essa mudança é a própria indústria musical, que passa por grande reorganização. Mas isso não é ruim: o disco de vinil foi substituído pela fita K-7, que cedeu lugar para os CDs, que, atualmente, perdem espaço para as músicas digitais e os serviços de streaming. Hoje não é mais preciso ter um único aparelho para ouvir música: os smartphones armazenam todas as mídias. “O principal modelo de negócio foi desestabilizado por novas práticas de consumo decorrentes de novas tecnologias como o streaming, compactação e compartilhamento de arquivos on-line”, explica a psicóloga e doutora em Comunicação Gisela Castro. “Ouvir música continua em alta, mas hoje se faz isso de muitos modos. Atualmente, o MP3 está em desuso, mas até a televisão a cabo tem canais só de música”, resume, lembrando que a digitalização de conteúdo diminuiu a distância entre a produção e o consumidor, possibilitando novas formas de consumo.
O pessoal praticamente não busca mais as músicas nas rádios convencionais”
6 Novembro/2014
As lutas da imprensa gaúcha Associação Riograndense de Imprensa completa 80 anos em 2015 e se preocupa em continuar a luta pela liberdade de expressão e de imprensa
Amanda Mendonça Moura
E
m Porto Alegre, no Viaduto Otávio Rocha, sob a Av. Borges de Medeiros, no Passeio Inverno, número 915, encontra-se o prédio sede da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), a casa da história do jornalismo ou a “casa do futuro do jornalismo”, como prefere chamar o presidente Batista Filho. As liberdades de expressão e imprensa sempre foram motivos de luta e pautas de debate para profissionais da comunicação e, em seus 79 anos de atividades, a ARI trabalhou na linha de frente em defesa por estes direitos. Criada em 1935 por um grupo de jornalistas e intelectuais, a associação consolidou-se como a mais antiga instituição ligada à comunicação e deu origem a outros sindicatos no Estado. Surge com a proposta de integrar profissionais em atividade e, diferentemente de um sindicato, congregando também os empregadores, realizando a mediação entra o capital e o trabalho. A instituição passou por duas grandes ditaduras, o Estado Novo e o Período Militar, o que, segundo o diretor cultural, Antônio Goulart, “serviu para estimular ainda mais o espírito de doação dos seus integrantes e da sua diretoria”. Durante os regimes autoritários, teve importante atuação política na defesa dos profissionais que foram detidos e sofreram torturas, procurando retirá-los das prisões e de delegacias para investigações. Para o presidente Batista Filho, a ARI agiu politicamente e contundente. “A sua atuação nos anos de chumbo foi de defesa intransigente do direito de
pensar e de opinar, não apenas de seus profissionais mas de todas as pessoas”, destaca ele. Em quase 80 anos, a associação conquistou mudanças para a profissão e passou por diversas fases que acarretam na mudança da sua forma de atuar e a sua inserção na sociedade. Antes, ela defendia os direitos de seus associados e, hoje, o direito da cidadania. “Fomos durante muito tempo uma entidade de classe, protegendo associados dos arroubos ditatoriais; Hoje precisamos proteger os seus associados como cidadãos de uma sociedade que clama por reformas e mudanças”, frisa Batista sobre as modificações no exercício da instituição.
O Dia da Imprensa brasileira
estadual da ARI, o dia da imprensa foi sancionado pelo então presidente da República Fernando Henrique Cardoso, em 1999, no dia 1° de junho. O Museu Hipólito da Costa, na Capital, também foi uma iniciativa abraçada pela entidade. “Até então os jornais eram jogados pelos cantos, por várias repartições do estado haviam montes e pilhas de jornais”, relembra o vice-diretor de cultura, Ayres Cerutti. A partir da criação do museu, exemplares do Correio Braziliense e de outros jornais passaram a ser centralizados lá. “A ARI sempre esteve ao lado das iniciativas que surgiram em defesa da profissão e do nosso acervo também”, destaca Ayres.
Fomos durante muito tempo uma entidade de classe, protegendo associados dos arroubos ditatoriais”
A modernização da ARI
Comemorado no dia Há 56 anos, a ARI 10 de setembro, o dia da realiza o evento que já imprensa foi instituído premiou mais de dois pelo início da circulamil trabalhos de jornaJOÃO BATISTA DE MELO FILHO ção do jornal Gazeta do listas, o Prêmio ARI. A PRESIDENTE DA ARI Rio de Janeiro, perióassociação, que compledico da imprensa régia. Graças a uma ta 80 anos em 2015, prepara uma série iniciativa da ARI, o nome do jornalista de modificações para deixar o concurso Hipólito José da Costa foi proposto como mais atrativo e informatizado. Uma delas o “Patrono da Imprensa no Brasil”. é dar agilidade ao processo de inscrições Em 1° de janeiro de 1808, Hipólito foi e avaliações com a implantação de um responsável pela publicação do primeiro sistema online. jornal brasileiro, o Correio BrazilienAlém disso, uma preocupação perse, três meses antes do surgimento da manente dos integrantes é o acesso das Gazeta do Rio de Janeiro. O jornal era universidades e novos associados. “Preeditado em Londres devido a proibição da cisamos abrir espaços para que os novos Censura Régia de circularem impressos entendam que esta é uma instituição de oposição. Surgido na representação preocupada com o nível de bem-estar da cidadania”, explica Batista. Para o NATALIA MENTZ presidente, é o compromisso da ARI criar, sugerir e por em prática mecanismos para que jovens que deixam faculdade descubram a ARI e façam dela sua terceira casa. A segunda a universidade e a terceira a associação.
Fachada do prédio que pertence à ARI, na Avenida Borges de Medeiros
7 Novembro/2014
Preservando o patrimônio social A vestimenta típica é um dos diversos legados da cultura gaúcha
Maiara Rybar
é verão ninguém pode”. deu para facilitar os trabalhos realizados Denise Garcia tem 30 anos e desde os 15 no campo, ou com a lida dos cavalos, pois já frequentava CTGs. Ela e a irmã Débora antes elas só ficavam na cozinha cuidando Garcia, 28 anos, foram influenciadas pela da comida. Nos dias atuais muitas montam mãe e avó. Seus trajes sempre foram os a cavalo, e o vestido atrapalha o manejo. vestidos e saias, mas, devido à paixão de Ela destaca também, que a bombacha andar a cavalo, as bombachas hoje predodeveria ser somente para este tipo de minam o guarda roupas das duas. Ambas função, pois não abre mão de um vestido acreditam ser muito importante manter bem rodado e um penteado bonito. Márcia o uso do vestido, pois Campos, é a patroa do assim manterão as tra35 CTG, e destaca: “Nos dições herdadas. Denise dias em que há bailes, a faz como sua mãe, tenta mulher tem de usar vespassar ao pequeno Matido, sempre em nossas riano de cinco anos os reuniões peço para as meensinamentos que seus ninas que venham vesantepassados. tidas assim, pois é uma Odete e Ademar de maneira de contagiarmos Carvalho trabalham o público presente e fazer no ramo gaúcho há com que isso se mantemais de 18 anos. Eles nha. Isso enche nossos têm uma loja na cidade olhos de beleza”. de Gravataí onde as Clair Menezes e vendas têm aumentaCláudia Moreira são avado muito depois que liadoras da parte cultural CLAIR MENEZES mulheres começaram e artística das provas de AVALIADORA DE INVERNADAS a usar bombachas. Esinvernadas pela 1° retes são produtos que sempre estão em gião tradicionalista, são participantes alta, dona Odete conta que: “Sempre de CTGs há mais de 15 anos, e estão se tenho que estar repondo o estoque, os adaptando à modernidade. Clair acredita vestidos saem também, mas não com que a bombacha é muito prática, rápida tanta frequência que as bombachas”. As de vestir e mais confortável. Para Cláusaias e as camisas têm saído bastante dia, que sempre foi criada com vestidos, também, acredita ser devido ao modismo é muito difícil abrir mão de um. É mais usado pela apresentadora do Galpão feminino, destaca. Ela diz que: “Sempre Crioulo, Shana Muller. Muitas mulheres que as invernadas terminam uma aprechegam à loja e perguntam se temos a sentação, as meninas vão correndo trocar indumentária da apresentadora, fico o vestido por bombachas, dançar com feliz, pois assim manteremos a nossa saias de armação e vestido com mangas tradição de saias e vestidos, não vai se cumpridas dá um calor muito grande, perder, ressalta. quando é inverno tudo bem, mas quando
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entre as diversas culturas, a gaúcha é uma das mais expressivas. Na indumentária, há um amplo vocabulário, que com o passar dos anos foi se adaptando conforme a necessidade das meninas ou gurias. Antigamente, as mulheres de classes superiores usavam leques, sombrinha e vestidos aveludados, com saias de armação, tudo com muito luxo e babados. As mais humildes e de galpões usavam blusas mais simples e saias sem muito glamour. Para identificar o estado civil, os rapazes olhavam a forma como estava o cabelo, gurias que usavam cabelos presos eram casadas, e teriam assim que serem tratadas com respeito, as que usavam cabelos soltos eram as solteiras, ou seja, poderiam ser cortejadas. E quem acha que as coisas mudaram, engana-se. O Movimento Tradicionalista Gaúcho, (MTG), serve para manter as tradições vivas. O movimento que coordena os CTGs faz com que os mesmos mantenham as origens de acordo como foram criadas. O 35 CTG é o mais antigo do Estado, e a campeira, que é a parte que trata dos cavalos, é frequentada tanto por mulheres quanto por homens. Karen Patcher está no meio tradicionalista há mais de três anos e conta que para se manter no CTG, é necessário obedecer algumas regras. Blusas decotadas e transparentes são proibidas. Marilza Martins, há mais de 20 anos em centros culturais, diz que no seu tempo as coisas eram muito diferentes, usavam vestidos e flores nos cabelos. Ela acredita que a evolução referente às bombachas se
“Sempre que as invernadas terminam uma apresentação, as meninas vão correndo trocar o vestido por bombachas”
MAIARA RYBAR
Meninas mantendo a tradição dos vestidos, saia rodada com bombacha por baixo para poderem andar a cavalo
8 Novembro/2014
A boemia encontra a literatura Há 15 anos na programação semanal fixa do Ocidente, Sarau Elétrico é referência de evento cultural
Paola Oliveira
G
rupos de amigos e casais ocupam as mesas de madeira espalhadas por todo o salão do Bar Ocidente, tradicional casa noturna localizada na esquina das rua General João Telles com a Avenida Osvaldo Aranha, no Bairro Bom Fim, em Porto Alegre. Para um observador desavisado, pode parecer mais um happy hour após o trabalho, como tantos outros que ocorrem nos diversos bares da capital gaúcha, mas é muito mais que isso. Com 15 anos de existência completados no último mês de julho, o Sarau Elétrico é referência por convergir boemia e literatura, se tornando parte da agenda cultural fixa da cidade. Pouco depois das 21h, os refletores se acendem, iluminando o palco improvisado no canto do salão, sobre o qual estão quatro banquinhos e microfones. Assim como a música, as conversas e risos também são interrompidos abruptamente. Todos estão prontos para ouvir literatura. A ideia do Sarau Elétrico surgiu após uma leitura em público da obra do escritor Caio Fernando Abreu feita pela radialista Katia Suman. “Achei legal aquele clima, ver que todos estavam prestando atenção. Convidei os conhecidos para repetir. A segunda vez foi ótima, a terceira também”, recorda a criadora do evento. Com a ajuda do professor Luís Augusto Fischer e do músico Frank Jorge, nasceu o Sarau Elétrico, cuja fórmula continua a mesma: escolher previamente um tema e ler trechos de bons livros sobre ele. É o suficiente. À medida que as rodadas de leitura sucedem, os ouvintes acompanham com risadas e aquiescem com a cabeça. A atenção no palquinho continua até a última palavra. Não há celulares à vista. “Ninguém resiste.
Todos precisam de histórias para viver”, resume Katia.
Literatura e diversão em um só lugar
seguem tornar leve, alegre e despojado”, considera Elisa, que já levou outras pessoas ao evento e acumula histórias das noites no Ocidente. “Tive momentos muito felizes aqui. Já dei risada, me emocionei e conheci pessoas que foram muito importantes na minha vida”, revela.
Atualmente conduzidas por Katia Suman, Cláudio Moreno, Claudia Tajes e Diego Grando, as leituras ganham também a voz de um convidado. Com o tema Crônicas Amizades e aprendizado Femininas, o Sarau do dia 23 de setembro A escritora Claudia Tajes, que assumiu teve a presença da psicanalista Diana Coro lugar de Frank Jorge em 2006, nota que há so. As amigas Stella Bittencourt, 52 anos, e rotatividade de pessoas conforme o tema. Adriana Coltra, 50 anos, Diz que gerações passafaziam sua segunda visita ram pelo evento, tanto de ao encontro justamente pessoas que participam por causa do assunto e apenas uma vez por cauda convidada. sa de determinado tema, Stella é psicóloga clíquanto daquelas que fanica. Natural do Rio de zem do Sarau um prograJaneiro, mora em Porto ma obrigatório por algum Alegre desde 98. Adriana tempo. Há aqueles que, é fisioterapeuta e já frepela frequência assídua, as quentava do Bar Ocidente anfitriãs conhecem pelo nos anos 90. “Na primeinome. ra vez em que viemos, o Mesmo se revezando assunto era tango, algo entre Porto Alegre e trade que também nos intebalhos no Rio de Janeiro, ressa. É complicado sair Claudia faz questão de KATIA SUMAN às terças, mas o local é continuar participando do IDEALIZADORA DO SARAU ELÉTRICO de fácil acesso. Gostamos encontro. A convivência muito do ambiente”, excomo os professores Cláuplica Adriana. dio Moreno, que se juntou ao evento em Moradora de Guaíba, a contadora Elisa 2000, e Luís Augusto Fischer, atualmente Martins Rosa, 45 anos, foi ao evento pela na França, é um dos estímulos: “Estamos primeira vez, por curiosidade, em 2000. A sempre buscando assuntos novos e leituras partir de 2004, Elisa transformou as noites interessantes para despertar a curiosidade no Sarau em um de seus momentos de lazer do público”, conta. semanais e virou frequentadora assídua. O Sarau Elétrico também transformou A contadora, que se diz uma “usurpadora sua idealizadora, Katia Suman. Para ela, parda literatura”, admira muito a proposta. “As ticipar do evento é como fazer uma espécie pessoas pensam que literatura é um assunto de pós-doutorado em literatura. “Minha vida muito sério, engessado, mas aqui eles conmudou pelo conhecimento que fui adquirindo por meio da leitura e pela convivência com EDUARDA ROCHA os colegas”, diz ela, enfatizando o orgulho que sente por ajudar na formação de leitores. Além da variedade de assuntos, livros e convidados que já passaram pelo evento, uma atração musical sempre encerra a programação. “O cantor Felipe Catto, hoje em São Paulo, era frequentador assíduo e tocou aqui no início da carreira”, ilustra Katia. Para o próximo ano, um livro com as crônicas do evento está sendo produzido. “A ideia é reunir momentos importantes, como se fosse um grande Sarau reunido em livro”, antecipa a radialista. Histórias não vão faltar.
É como fazer uma espécie de pós-doutorado em literatura. Minha vida mudou por meio do conhecimento.”
De forma leve e descontraída, as noites de terçafeira no Ocidente incentivam a leitura
9 Novembro/2014
MARTINA SILVEIRA
Projeto Som Central tornando mais leve o dia a dia das pessoas na Rua dos Andradas
Vibrações positivas na Capital É possível relaxar em meio ao caos do dia a dia através de música nas ruas
Priscila Serpa
que, às vezes, as apresentações da Som realidade que os rodeia. Mas além de menCentral atrapalham nos negócios. “Se eles sagens de superação e positividade, a Som montam o equipamento muito perto da Central também retrata nas músicas o que gente, acabam juntando muitas pessoas em percebem na sociedade. “Sentimos necesvolta e acabamos tendo baixo lucro, pois sidade de falar coisas que o véu do sistema perdemos a visibilidade e os consumidores impede a percepção de muitos de nós,” diz preferem dar a volta pelo outro lado do Pablo SeeaRasta, um dos integrantes do que passar aqui por perto,” projeto. fala Luis. “Se eles ocupam Apesar de postarem um espaço um pouco mais citações da Bíblia entre afastado é melhor pra gensuas frases positivas no te,” completa Rosane. Facebook, a banda diz Não é difícil presenciar não ter uma religião moradores de rua pedindo ou seguir um sistema. moedas da caixinha dos Possuem uma vivência músicos devido à quanfilosófica espiritual funtidade de contribuições damentada nos ensinaque a banda arrecada. Eles mentos de Yeshua. acreditam que os mendiOs integrantes têm gos são atraídos não só diversas influências mupelo fato do dinheiro, mas sicais de outras bandas, PABLO SEEARASTA também pela carência que mas o que os motiva INTEGRANTE DO sentem e procuram não mesmo é a música com SOM CENTRAL tratá-los mal. sentimento, propósito, A banda costuma se que sirva como veículo reunir também no Parque Farroupilha de informação e que seja uma arma de (Redenção), e em outros locais da Capital. transformação social. Entre uma música e outra, exalam palavras Escolheram a rua por ser o local onde de reflexão e de afeto ao próximo. está o verdadeiro público carente de cultura e de boas palavras através da música. “Na noite você toca um monte de músicas de Som Central e outras pessoas para agradar o público e seus integrantes quem te contratou. Na rua tocamos o que O Projeto Som Central existe há cerca de queremos, na hora que queremos e falamos dois anos e surgiu a partir da necessidade o que é necessário às pessoas ouvirem,” natural da expressão artística e como uma conclui SeeaRasta. espécie de fuga da cena noturna. A banda é Os integrantes da banda não vivem apeformada por integrantes que participam de nas de músicas e precisam realizar outras outras bandas do cenário musical indepenatividades para ajudar no sustento de suas dente. Todos os músicos já se conheciam famílias. SeeaRasta comenta que “é difícil se e fazem parte do projeto pela afinidade e sustentar de arte em um sistema capitalista ideias em comum que são manifestadas vampiro.” Mas quando o assunto é a quanem suas mensagens em forma de música. tidade de público que eles aglomeram pelas A banda busca inspiração na fé, nos ruas a fora, os músicos às vezes se surpreensinamentos do mestre Yeshua Hamashia endem e acham a experiência maravilhosa. (expressão em aramaico que significa Jesus Concordam que é uma realização de um Cristo, na raiz hebraica, Yeshua significa serviço e uma realização do ser. salvar ou salvação) e principalmente na
A
os poucos, nota-se um aglomerado de pessoas. Cada vez vai chegando mais gente. Entre transeuntes se forma uma plateia. Os pés vão seguindo a batida no ritmo da música. As bocas murmuram as letras conhecidas do grande público, e o corpo se embala ao som das letras autorais. E, ao final de cada música, há aplausos e contribuições na caixinha. Não é difícil andar pelas ruas de Porto Alegre e encontrar artistas demonstrando trabalhos. O Projeto Som Central é um deles. A positividade que a música emana é tamanha, que, em plena bagunça da Rua dos Andradas, é possível sentir momentos de paz e tranquilidade. A banda intercala covers de Bob Marley, Peninha, Chico César, entre outros com suas músicas próprias. Desta forma, atraem todo tipo de público à volta. Nem sempre realizam suas apresentações com a participação de todos os integrantes. O que determina se a banda estará completa ou não, é a disponibilidade dos músicos nos dias escolhidos para tocar sem que isso atrapalhe suas atividades profissionais. Para André Martins, 23 anos, a sonoridade é perfeito para aliviar a adrenalina do trabalho. “Sempre que posso dou uma passada por aqui no meu intervalo de almoço. Muitas vezes, sei que eles estão tocando na Andradas. Compro um salgado para comer e passo meu almoço inteiro curtindo a música dos caras,” diz Martins. Como a rua é um espaço público onde a cultura pode e deve ser divulgada, os guris não têm um ponto exato para montar a aparelhagem. Os vendedores de pão de queijo Rosane Cândido, 41 anos, e Luis Gustavo Cândido, 29 anos, divergem nas opiniões. “Gosto da música deles,” comenta Luis. Rosane não curte muito o som da banda. “Sou evangélica, por isso não gosto das músicas deles,” diz. Ambos concordam
Sentimos necessidade de falar coisas que o véu do sistema impede a percepção de muitos de nós”
10 Novembro/2014
Personagens superpopulares Profissionais explicam as razões pelas quais os heróis estão em alta
Vinícius Bühler da Rosa
S
ão pássaros? São aviões? Não! Em toda a parte, são super-heróis! No cinema, na internet, nas bancas e até mesmo dentro da literatura, os justiceiros fantasiados vêm provando que são super rentáveis. Há quem acredite que homens que voam ou escalam paredes são bobagem. No entanto, a filosofia explica que o ser humano precisa de um mito e de um modelo. Quem explica é o filósofo Gelson Weschenfelder, autor de dois livros que ligam os super-heróis à filosofia. O escritor explica a popularidade dos super-heróis em cinco itens. O primeiro deles é a necessidade do mito. “O ser humano sempre precisou de histórias de deuses e semideuses lhe protegendo. Essa foi a ideia inicial do surgimento do super-herói no final da década de 30”, coloca. Em segundo lugar, Weschenfelder coloca os heróis como um meio de avaliar questões rotineiras. “Eles trazem questões que enfrentamos e mostram o que se pode fazer diante de determinada situação”, avalia. Os super-heróis como um modelo são a terceira explicação do filósofo. “Desde jovem até sua vida adulta, o homem busca modelos. A cultura pop traz estes personagens e eles acabam servindo de parâmetro”, diz. O penúltimo item é a influência da mídia por meio do cinema e da televisão. Para ele, os super-heróis são os novos seres mitológicos, o que leva ao quinto e último item. “Muitos jovens se espelham em seus heróis, pois eles trazem mensagens de superação e desenvolvimento humano, tratando questões antropológicas, éticas, sociais e, ainda, mostrando um caminho correto”, explica.
Dos gibis para as telonas
é necessário uma narrativa bem desenvolvida, atores apropriados, direção que O modo como os heróis questionam desenvolve o conceito estético junto com e respondem questões cotidianas passa a história e cuidado com os elementos perto da popularidade também no cinevisuais e sonoros. “O que pode ser próprio ma. De acordo com o cineasta Ulisses da dos filmes de super-heróis é a necessidade Motta Costa, cada época teve seu gênero de equilibrar bem os elementos de drama, de filme que era o carro-chefe das bilhehumor e ação com o sentimento épico que terias. Hoje, depois dos westerns, musié natural ao gênero”, sugere. cais, épicos bíblicos e filmes de aventura, são os heróis os que mais lucram. “Esses gêneros populares conseguem sublimar Nerds, heróis e o sentimento da época em que eles são buracos de minhoca feitos”, coloca o diretor. A internet também está cada vez mais Para Costa, é fácil relacionar a telotada com os super-seres. Blogs e vimática dos filmes com o atual momento deoblogs trazem notícias, curiosidades sócio-político. “X- Men trata da questão e “nerdices” voltadas para o público dos de preconceito, Capitão América 2 é uma personagens. O blogueiro Isaac Cruz colonada sutil apropriação cou uma ideia antiga em dos casos recentes de prática e criou o Buracos espionagem suja pelo de Minhoca, um blog de governo norte-americonteúdo nerd com pocano”, cita. dcasts temáticos, gameUma vez que a defiplays e o Vlog Worm.TV, nição de gênero sugere carro-chefe da iniciativa. um estilo que obedece “A pauta é sempre a determinadas congerada focando em venções, ele afirma que algo que seja destaque “super-herói” pode ser no ‘mundo nerd’ ou na considerado uma cacultura pop em geral”, tegoria. “A história de explica Isaac. origem, a descoberta O blogueiro é fã dos poderes, inimigos de quadrinhos desde que surgem mais amea quarta série, quando açadores à medida que ganhou os gibis que o o herói desenvolve suas professor de história habilidades, o interesse mandaria para o lixo. GELSON WESCHENFELDER romântico, o descrédiSegundo ele, a populaPROFESSOR DE FILOSOFIA to após um fracasso...”, ridade do mundo nerd na exemplifica. internet é grande por causa da facilidade Mesmo sendo um gênero popular, não com que os fãs chegam até a informação. basta colocar o personagem na tela para “Com os e-books hoje em dia, qualquer que o filme seja sucesso. Segundo Ulisses, um pode ler quadrinhos do tablete ou do celular”, avalia. ARQUIVO PESSOAL De um modo geral, o blogueiro diz que a fama dos heróis vem justamente pela identificação que as pessoas têm com eles. “Tu, na escola, pequeno, mirrado, apanhando, depois crescendo, morando sozinho, passando dificuldades financeiras. Quem não se identifica com o Homem-Aranha? Eles nos fazem sentir como se fôssemos parte daquele mundo”, destaca. “Grande parte do meu caráter vem dos quadrinhos e da mensagem que, por mais que as coisas estejam difíceis, nunca podemos esquecer que a noite é sempre mais escura logo antes do amanhecer”, encerra.
Há quem acredite que homens que voam são bobagem. Mas a filosofia explica que o ser humano precisa de um mito e de um modelo”
Gelson é autor de dois livros que relacionam os super-heróis com a filosofia
11 Novembro/2014
BABÉLIA