Lupa 8

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Curso de Jornalismo . Unisinos . Porto Alegre . RS

Lupa.

Edição

Especial

Os sete

pecados capitais

novembro.2016

Para a religião católica, a confissão dos pecados é uma das maneiras de ser perdoado

Atire a primeira pedra

g Todos os seres

humanos estão sujeitos ao erro

A

popularização dos sete pecados capitais pode ser observada nas reproduções iconográficas, ao longo dos séculos. Como por exemplo, na tábua do pintor holandês Bosch, de 1475. Essas imagens doutrinárias existem desde a Idade Média e difundiram a moral cristã, identificando a preguiça, gula, ira, inveja, avareza, soberba e a luxúria como pecados. O termo que deriva da palavra capital vem do latim caput, relativo à cabeça, o que é superior aos outros. A etimologia explica o adjetivo capitalis como “o que está acima dos outros; principal, dominante”. Na economia, traz a ideia de abundância e influência. Também tem relação com capítulo, ou com o que captamos, assimilamos. Tratam-se de pecados que se agravam com a repetição. São

vícios que, assim como o dinheiro, acumulamos. De acordo com o teólogo Calimério Moura, que estudou teologia na Universidade Batista de São Paulo, o pecado, segundo a tradição cristã, é uma atitude que Deus desaprova, ou seja, é “errar o alvo”. O conceito de pecado surge muito antes do cristianismo, a partir da ideia do pecado original, ou da quebra da ligação entre o homem e Deus, representado pela narrativa de Adão e Eva, segundo o Pastor Luterano Valdemar Shultz, teólogo e professor da Rede Sinodal. O surgimento dos pecados capitais datou do século IV d.C, incluídos na lista de um monge chamado Evágrio do Ponto entre os pecados que considerava os mais graves. Entre eles, estava a melancolia. Mais tarde, esses pecados foram oficializados pelo Papa Gregório Magno, como são conhecidos até hoje. Os sete vícios são os mais corriqueiros. “A gula está relacionada à fome, a inveja, à algo que o outro tem que você gosta-

ria de ter, e assim por diante”, diz Calimério. Para o pastor Valdemar, apesar da doutrina e ensino dos sete pecados capitais fazerem parte da tradição católica, a identificação das pessoas com essa lista se dá por tratarem de questões da ambiguidade humana. “A experiência de vida mostra que a incoerência e as contradições fazem parte do ser humano em suas múltiplas relações”, diz. Valdemar, cujo sacerdócio ecumênico prega a tolerância, ainda acredita que é preocupante a dimensão que a ira alcança em forma de violência gratuita e generalizada em nossa sociedade. Para ele, não existe um pecado dentre eles o mais grave, mas, se fosse escolher um, escolheria a avareza. “Para muitos, a inveja é a origem dos males da sociedade, eu creio que seja a avareza o pior dos pecados, pois, além de incluir a inveja, leva a pessoa a se tornar extremamente materialista em detrimento dos valores e das relações pessoais.” A remissão dos pecados pode

ser feita através do arrependimento, da confissão, por meio da oração, ou pelo abandono. Mesmo assim, o teólogo Calimério acredita que alguns são para a vida toda. “Isso mexe com a questão do caráter, não no sentido de ser mau caráter, mas no sentido de que o pecado já está naquela pessoa, já faz parte dela. Os exemplos são ira, gula e vaidade. Isso você não controla, mas pode amenizar.” A importância do perdão Muitas pessoas também acreditam que quem peca tem mais dificuldade de chegar ao céu. “Eu vejo isso como uma tamanha besteira, pois somos seres humanos e estamos sujeitos ao erro ou ao pecado. Isso é uma ideia de cristãos fundamentalistas. Deus é amor. Se a pessoa se confessar, Ele perdoa”, diz Calimério. Para ele, há uma visão muito distorcida do cristianismo, pois muitos cristãos colocam Deus numa “caixa doutrinária”.

Valdemar também acredita que Deus não condena. “As igrejas protestantes não ensinam os sete pecados capitais, considerando que não há diferença entre um pecado pequeno ou grande, pois qualquer afastamento da comunhão com Deus carece de perdão, reconciliação e renovação.” No Evangelho de João, capítulo 8, está a narrativa com a famosa frase: “Quem não tiver nenhum pecado, que atire a primeira pedra”. Nessa passagem, entende-se muito sobre a ideia do perdão. Jesus perdoou uma mulher que cometeu adultério e evitou que ela fosse executada pelos que a condenavam. Quando ouviram essas palavras, sentiram-se acusados pela própria consciência. Portanto, independente de religião, a reflexão sobre os pecados é algo complexo que depende do contexto histórico e cultural. Texto Cora Zordan Foto Liane Oliveira


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