Babélia 23

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BABÉLIA

EDIÇÃO 23 - JUNHO/2015

JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNISINOS - SÃO LEOPOLDO (RS)

O desafio de salvar vidas em um hospital Instalado em um prédio simples e antigo, o Hospital Cristo Redentor é a porta de entrada para casos de emergência na Zona Norte de Porto Alegre. Histórias

de vida vão e vêm pelos corredores da instituição que atende em média 158 mil pacientes ambulatoriais e instala 6,7 mil pessoas por ano nos leitos.

Páginas 4 e 5

No comando dos vagões da Trensurb

Frota de carros cresce mais que população

Lembranças de uma vida no campo de concentração

Bocha é o novo esporte dos jovens gaúchos

Operadora de trens há 30 anos, Madalena Schwertner nunca utilizou o transporte como passageira

Em Porto Alegre, o aumento foi de quase 50% em dez anos, contra 3,8% dos residentes

O alemão Curtis Stanton, 85 anos, é um dos sobreviventes do holocausto e hoje vive no Estado

Atletas de 15 a 21 anos participam de campeonato e provam que atividade não é para idosos

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Página 21

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Página 29 ARTHUR PEREIRA

Projeto tenta dar novas perspectivas a catadores Todos Somos Porto Alegre beneficiará 1,8 mil famílias a partir da oferta de cursos de qualificação que devem inserir catadores e carroceiros no mercado de trabalho

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BABÉLIA | UNISINOS | SÃO LEOPOLDO | JUNHO 2015

imagem

BERNARDO HEINZ

Fotografia captada por Bernardo Heinz, aluno do Curso de Fotografia da Unisinos, próximo ao Mercado Público de Porto Alegre, em uma manhã mais do que especial para os gaúchos: dia da Revolução Farroupilha – 20 de Setembro.

Universidade do Vale do Rio dos Sinos São Leopoldo e Porto Alegre/RS Linha Direta: E-mail:

(51) 3591 1122 unisinos@unisinos.br

Reitor: Vice-reitor: Pró-reitor Acadêmico: Diretor de Graduação: Gerente de Bacharelados: Coord. Curso de Jornalismo:

Marcelo Aquino José Ivo Folmann Pedro Gilberto Gomes Gustavo Borba Vinicius Souza Edelberto Behs

BABÉLIA

Jornal produzido semestralmente pelos alunos do Curso de Jornalismo da Unisinos - São Leopoldo/RS

Textos: alunos das disciplinas de Jornalismo Impresso I e II, Redação Jornalística I e II, e Redação para Relações Públicas II. Orientação: professores Anelise Zanoni e Edelberto Behs. Imagens: alunos da disciplina de Fotografia no Jornalismo, do curso de Fotografia. Orientação: professora Beatriz Sallet. Projeto gráfico: alunos Daniel Grudzinski, Júlia Gabriela Soares e Rafael Woycicskowski, da Turma 2014/1 da disciplina de Planejamento Gráfico. Orientação: professor Everton Cardoso. Diagramação: Agência Experimental de Comunicação (Agexcom). Diagramação: Gabriele Menezes. Supervisão: Marcelo Garcia.

editorial Canchas ocupam lugar do videogame

O

s jovens são o futuro do esporte. Se você, leitor, procurar essa afirmação no decorrer do Babélia vai encontrá-la como citação de algum atleta, dos antigos, bem atento aos acontecimentos. Fica a dica: a citação está na página 23 desta edição. Ela também poderia vir grafada na página 21, matéria que aborda o sucesso de empreendimento na cidade gaúcha de Taquari, por iniciativa de um professor que adquiriu terras e constituiu uma escola de futebol voltada para atletas de três a 17 anos de idade. Não, não se trata, aqui, de prestar atenção no jovem atleta futuro do futebol. Também o é, sem dúvida. No caso, o foco está num esporte difundido de modo especial na área de colonização italiana e praticado, se definido pelo censo comum, por velhos: a bocha. Há indícios de que o esporte já era

praticado na Grécia e no Egito antigo. Há quem o vê sendo jogado pela primeira vez no período clássico romano. Foram, contudo, os franceses e os italianos que o difundiram pelo mundo. A União do Piemonte, em Rivoli, Itália, foi a primeira entidade constituída em função dessa modalidade. Isso pelos idos de 1877! E foi pelas mãos dos imigrantes italianos que a bocha desembarcou em terras meridionais. No vislumbre que aponta o futuro da bocha vinculado ao crescente interesse da juventude pelo esporte constata-se uma simbiose interessante. Jovens que acessam redes sociais, comunicam-se pelo Facebook, Instagram, recorrem ao WhatsApp, deixam de lado joysticks e videogames para, em canchas de terra, carpete, piso sintético ou concreto com areia, disputarem a melhor proximidade ao bolim de quatro bolas, de cerca de um quilo cada, para cada time ou competidor. Força da tradição? Outro braço dessa simbiose dá-se no convívio de jovens com pessoas de mais idade, aposentados em boa parte, amantes desse esporte. Certo é que nas canchas de bocha jovens escutam histórias, muitas histórias, do quilate de algumas que o Babélia traz nesta edição.


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política 3

Problemas sociais afetam a população Aumento no número de manifestações traz à tona debate sobre como brasileiro lida com a sociedade Anderson huber

O

Brasil viveu e está vivendo uma forte onda de reclamações e protestos sobre a situação vivida pelo país. Milhares de pessoas foram às ruas pedir a saída da presidente da República, Dilma Rousseff, por não concordar com as atitudes tomadas pela mesma. Há também aqueles que defendem a chefe de Estado, afirmando que ela está no caminho certo e que o Brasil passa por apenas uma crise e vai superá-la. Isso é completamente normal em um país que desde 1989 vive em um regime democrático, onde o eleitor tem o direito de eleger os candidatos de forma direta. Isso tem mudado nos últimos tempos. Cada vez mais, as pessoas se preocupam com a forma como os governantes atuam, quais os projetos eles propõem e/ou votam, quais são os seus pensamentos sobre de-

Através de faixas e protestos, jovens manifestam sua indignação com o governo

terminados temas sociais, como por exemplo corrupção, formas de preconceitos e outros temas variados. O advento da internet e, consequentemente, das redes sociais, ajuda muito neste processo, pois ali são criados fóruns de debate, onde toda e qualquer opinião e declaração é veiculada e repercutida. Aumentou também a fiscalização sobre pessoas públicas, as quais suas ações interferem diretamente no andamento da sociedade. O problema é que nem sempre as pessoas entendem de maneira clara como funcionam as leis no Brasil, não entendem quais são os regimentos da Constituição de 1988, talvez pelo fato de que esse tipo de assunto não é muito divulgado, não se é esclarecido na quantidade e na qualidade necessária. Também tem a possibilidade de a população não procurar se aprofundar mais sobre um tema tão importante, pois este assunto rege as diretrizes do país, qualquer que seja a mudança reivindicada deve seguir as normas e padrões encontradas na constituição. Por exemplo, nas últimas manifestações,

ocorridas em março de 2015, boa parte dos manifestantes pediu o impeachment e até mesmo intervenção militar, o que segundo as normas constitucionais seria praticamente inviável, por que para tomar tais atitudes é preciso atender várias demandas que, segundo especialistas, não estão sendo atendidas até o momento. INTERESSE PÚBLICO SEMPRE EXISTIU Para a deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), o interesse público por questões sociais sempre existiu, só que de maneira reprimida, talvez pelo fato de que este é um processo em andamento, inacabado, que precisa ser construído passo a passo para a melhoria da sociedade. A deputada salienta que o desejo por uma intervenção militar vem do pensamento de parte da população que não havia corrupção, e o fato de não se ter liberdade de expressão e de imprensa são coisas periféricas, que não atinge diretamente o público. Segundo ela, o manifesto em favor do golpe militar, mesmo que representado por

pequenos grupos, é um retrocesso histórico. Ela diz que devemos seguir bons exemplos de pessoas mais velhas, cita Paulo Brossard com um exemplo a ser seguido, pois antes de o Brasil sofrer o golpe militar de 1964 ele acreditava que essa seria uma boa saída para melhorar o país. Após a intervenção militar ele se deu conta de que havia se enganado profundamente, que ao contrário do que pensara, aquela situação só atrapalharia a situação brasileira. A partir daí, começou a militar contra o regime, em defesa da volta da democracia. Virou uma das maiores vozes da luta popular pela redemocratização. De modo geral, há um total descontentamento com os políticos e gestores públicos, não se vê em boa parte de quem integra tais cargos uma confiança para avançar, para progredir. Mas, para a deputada, houve um grande avanço na última década, que boa parte da sociedade melhorou, em relação a situação na qual se encontrava. Mas admite que deve-se “alterar as regras do jogo”, com o objetivo de garantir maior eficiência e mecanismos de

combate à corrupção. Um exemplo desse avanço citado por ela é a pesquisa realizada pela Secretária de assuntos estratégicos da Presidência (SAE), onde diz que caiu de 85 milhões para 61 milhões o número de brasileiros que vivem na classe baixa. CONGRESSO É CONSERVADOR Em relação à falta de informação, ao modo de se expressar e informar-se da sociedade, Manuela diz que parte dessa culpa se deve ao fato da manipulação das informações divulgadas, uma reforma midiática, dos meios de comunicação seria uma maneira de levar informações mais precisas para o público. Também ressalta que a bancada do congresso nacional é extremamente conservadora e, não atende os anseios da sociedade. Por mais complicado que possa parecer enfrentar crises políticas e sociais, deve-se ter sempre o pensamento de que todo o trabalho e esforço que se faz é necessário para a melhoria do país. SABRINA VIER FAGUNDES

As manifestações buscam levantar temas de importância, como a maioridade penal, para que sejam debatidas” KASSIELE FAGUNDES, estudante


4 reportagem especial

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Com a traumatologia como especialidade, o hospital Cristo Redentor atende basicamente casos de emergência

THAMELA GARCIA

Tentando salvar vid Anderson Guerreiro

U

ma rotina marcada pela tensão. É preciso salvar vidas. A todo momento, é necessárioenfrentaroscontratempos que a vida coloca diante dos pacientes de um hospital que atende basicamente emergências. São aquelas pessoas que saíram de casa para trabalhar e, em alguns minutos, podem estar entre a vida e a morte em uma sala de cirurgia. Com um prédio simples, antigo, numa subida íngreme de uma rua pouco movimentada - no entroncamento da Domingos Rubbo com a avenida Assis Brasil -, fica o Cristo Redentor. É considerado a “emergênciadaZonaNorte”,apesardenão haver regionalização plenamente delimitada para os atendimentos. Recebe desde a criança que caiu e quebrou o braço até o bandido que, num acerto do tráfico de drogas, levou um tiro ou uma facada. Na chegada ao hospital, três portas recepcionam os visitantes. A entrada principal, com uma sala de espera composta por cadeiras de plástico verdes e televisão. É por ali que entram e saem os funcionários das mais diversas áreas.A outra porta é a da Urgência. Quando ela é transposta, há o setor de acolhimento.A terceira entrada, restrita, é para o acesso rápido de macas com pacientes graves. Fica de frente para um local onde ambulâncias podem estacionar de ré com facilidade. Bancos de madeira são o consolo de quem aguarda notícias de parentes internados no hospital. Ficam em uma área coberta do sol e a da chuva, mas que não impede, no inverno, que o frio gaúcho seja sentido na pele. Muitos fazem suas refeições ali. Leem jornais, livros. Precisam fazer o tempo passar.O tricô e as palavras cruzadas fazem parte da lista de passatempos.Comprar frutas na banca do outro lado da rua também é um hábito. Luiz Carlos da Costa, 45 anos, passa pelo menos 14 horas do dia em frente aoCristo Redentor.Acompanha a mãe, dona Ivone Coracine, 65 anos, que fez, no final de março, uma cirurgia para retirar um tumor no cérebro. Ele é motorista de ônibus. Pediu licença para cuidar dela no hospital. Os outros três irmãos seguiram a própria rotina e auxiliam como podem. Na primeira tentativa de se tirar o tumor, dona Ivone teve fortes sangramentos internos. A cirurgia teve queserinterrompidaeretomadadias

O Cristo em números

O último Relatório Social do Grupo Hospitalar Conceição traz os números de seus hospitais referentes ao ano de 2013. No Cristo Redentor foram:

6.700 depois. Aí, sim, um sucesso. Costa esperava a alta de sua mãe para a semana seguinte. “Ela é jovem.Tem muito tempo com a gente ainda. Estátudoseencaminhando,graçasa Deus”, diz o motorista com os olhos marejados de lágrimas. A IMPREVISIBILIDADE DO HOSPITAL Pacientes entram e saem do Cristo Redentor a todo o momento, das mais variadas formas. Há quem chegue de ônibus, táxi ou trazido por parentes. A pé ou pelo SAMU, quando o caso é mais grave. Logo que entra na emergência, o paciente é classificado em uma escala de cinco cores, chamada de Protocolo de Manchester. A cor azul identifica o paciente não grave, que pode ser atendido em uma Unidade Básica de Saúde. A vermelha, aqueles que têm risco imediato de perder a vida. Eles são atendidos por uma equipe capaz de avaliar a gravidade da situação. A manicure Lenara Alves de Oli-

pacientes em hospitalização

158.640

pacientes ambulatoriais

A calma e o cuidado dos médicos fizeram com que minha mãe ainda esteja viva. Quando viram que ela não resistiria por conta do sangramento, interromperam a cirurgia” LUIZ CARLOS DA COSTA , motorista

veira esperava ganhar como presente de aniversário de 50 anos um leito para que fosse operada. Ela foi atropelada por uma moto na manhã do dia 7 de abril, na avenida Adelino FerreiraJardim, bairro Rubem Berta, em Porto Alegre, quando saía para trabalhar. Deu entrada na emergência doCristo Redentor cerca de uma hora após o acidente, levada pelo SAMU. A espera na emergência já durava 36 horas. SegundoaenfermeiraLilianFrustockl, que faz parte da coordenação da emergência do hospital, o foco do setor é dar o atendimento inicial ao paciente e enviá-lo à devida área posteriormente, seja a de queimados, UTI ou diretamente ao bloco cirúrgico. “A emergência é um local de passagem”, diz. Tanto o motorista Luiz Carlos quanto a manicure Lenara elogiam equipe e estrutura do Cristo Redentor. “Me dão café da manhã, almoço e café da tarde.Como o mesmo que comem os médicos e enfermeiros aqui”, diz ele após ter acabado de dar notícias da mãe para um dos irmãos

por telefone. Elejáéconhecidopelosfuncionários do hospital.Cumprimentam-no pelo nome. Acena com a alegria de quem sente que o pior já passou. Lenara, embora deitada em uma maca no leito 4, em um dos cantos da sala amarela da Emergência, mantém o otimismo. Diz que é bem atendida noCristo. “Bah, as gurias todas muito queridas aqui”. A rotina de um hospital com a traumatologia como especialidade é completamente imprevisível. Uma quarta-feira, como a de 8 de abril, dava a sensação de absoluta tranquilidade no Hospital Cristo Redentor. Já um domingo, como o 27 de janeiro de 2013, quando, em Santa Maria, um incêndio tomou conta da Boate Kiss, alterou completamente a rotina hospitalar. Na época, o Grupo Hospital Conceição montou uma operação de emergência que envolveu mais de 300 profissionais para ajudar no socorro às vítimas. Quinze pacientes foram deslocados para hospitais do GHC; sete para o Cristo.


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O LEOPOLDO | JUNHO 2015

das durante 24 horas GHC tem meta de ser melhor instituição pública de saúde do país até 2022 O Hospital Cristo Redentor faz parte do Grupo Hospitalar Conceição, que tem outros três hospitais: Conceição, Criança Conceição e Fêmina. Foi inaugurado em 15 de novembro de 1959. Parte da estrutura se mantém a mesma, mas há alas, como a UTI, que foram reformadas recentemente e fazem com que o Cristo, apesar de só ter atendimentos pelo SUS, se assemelhe em alguns aspectos à rede privada de saúde. Segundo a assessoria de imprensa do GHC, “são

CAROLINA EIFERT

obras que podem ser simples e de baixo custo ou complexas e que são realizadas em etapas”. Implantado há dois anos, o Planejamento Estratégico do Grupo Hospitalar Conceição quer colocar o grupo no patamar de melhor instituição pública de saúde até 2022. Otimizar recursos e articular os órgãos públicos para convergir nas iniciativas são dois pontos destacados na busca desta meta. A superlotação extrema não faz mais parte do cotidiano do Cristo Redentor.

Como o foco é a área cirúrgica, pacientes que necessitam de atendimento clínico são encaminhados aos outros hospitais do GHC. O da Criança e o Conceição ficam a três quadras dali. Nos finais de semana, a tendência é sempre de aumento nos atendimentos. Nos demais dias, a imprevisibilidade reina. Os profissionais precisam estar preparados para qualquer situação. “São esporádicas as situações de superlotação”, diz a assessoria de imprensa do GHC.

Quase três décadas de Cristo

A enfermeira Lilian Frustkol já não estranha mais ver um desfibrilador sendo usado, se deparar com um paciente algemado à maca ou mesmo com uma pessoa com queimaduras graves. Também já faz parte do seu cotidiano ver vidas se perdendo, quando os casos são gravíssimos e irreversíveis. São 27 anos na enfermagem do hospital. Hoje ela ocupa uma função administrativa, na coordenação da Emergência. Mas transita Lilian consegue por todos os manter a calma diante setores: UTI, de situações bloco cirúrinusitadas para gico, área de muitos queimados, serviço social. Conhece o Cristo como sua própria casa. Cumprimenta colegas pelos corredores, todos pelo nome e com um bom humor que muitos acham incompatível com um hospital. “E aí, Dudu, tudo tranquilo?” O

Dudu trabalha na UTI e, ao seu redor, pacientes com quadro de saúde grave e complexo. A maioria respirando com a ajuda de aparelhos. Esta é a tranquilidade. Na emergência, é chamada por outros enfermeiros. Um paciente havia dado entrada no hospital e nos seus pertences fora encontrada uma arma. Policiais civis, que têm um posto dentro do próprio Cristo Redentor, pediam a um funcionário que fosse depor. “Nossa função aqui é atender o paciente”, disse Lilian. A arma foi entregue à segurança, que deveria dar os encaminhamentos legais junto à autoridade policial. O funcionário não iria depor. É comum que o que Lilian chama de “pessoas em conflito com a lei e com a sociedade” estejam internadas junto àqueles tidos como pessoas do bem. Não há uma separação entre a ala dos bandidos e a ala dos bonzinhos.

Casos que envolvem crianças são sempre mais impactantes, diz a enfermeira enquanto transita pelos corredores que ora ficam vazios e ora cheios no Cristo. Abre portas sempre com o crachá que, no verso, tem a data de admissão: 01 de outubro de 1988. Ela relembra o caso de uma criança de quatro anos, vítima de afogamento, que deu entrada na emergência. “Não conseguimos”, lamenta a enfermeira fixando seu olhar para o chão. “Tamanho era o desespero do pai quando soube da morte do filho que de longe se ouviam suas cabeçadas na parede”. Lilian diz que nunca pensou em desistir da profissão, apesar de já ter visto “de tudo”. Garante que o mais importante é o profissional ter vocação, competência, habilidade e segurança para atuar. “Eu nunca tive dúvida em relação a ser enfermeira e de traumatologia”.


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BABÉLIA | UNISINOS | SÃO LEOPOLDO | JUNHO 2015

ANA CAROLINA OLIVEIRA

O problema é hereditário, mas ainda não sabemos as causas, ao menos 30% delas acabam morrendo em cinco anos”

Médica e PHD em Genética do câncer pela universidade de Londres, Maira Caleffi, e Cleiva Oliveira, do Imama

MAIRA CALEFFI, ginecologista

Juventude contra o câncer de mama Sem prevenção, a doença acaba sendo mais agressiva e pode levar muitas jovens à morte Ana Carolina Oliveira

A

vida dos jovens brasileiros passa sempre em ritmo frenético, em dias que parecem ter mais de 48 horas. O diagnóstico de um câncer nesta fase interrompe o ciclo, deixando lacunas e gerando impactos. O início da puberdade, marcado pelo desenvolvimento das mamas, quando associado à obesidade, representa um fator de risco para o câncer de mama. Isso porque existe uma associação entre câncer de mama, idade precoce da menarca e maior índice de massa corporal e gordura corporal. O câncer de mama é considerado raro entre adolescentes, mas o número de casos cresce a cada ano. Ele atinge pelo menos uma em cada 100 mulheres diagnosticadas com câncer de mama no Brasil entre os 13 e 16 anos - 1% das adolescentes brasileiras. A doença na mulher jovem é mais agressiva, de crescimento mais rápido e de propensão genética maior. “O problema é hereditário, mas ainda não sabemos as causas, ao menos 30% delas acabam morrendo em cinco anos, porque os casos são muito agressivos. Quando ocorrem, a chance de morte é quase certa, pois não respondem à quimioterapia”, diz Maira Caleffi, mastologista, ginecologista e obstetra no Hospital Moinhos de Vento e presidente da

Femama (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de apoio à saúde da Mama) Segundo a Femama, a facilitação deste processo é uma das medidas necessárias para a redução de morte por câncer de mama no Brasil. É preciso estimular as mulheres a realizarem a mamografia, pois esta é a melhor alternativa para que o câncer de mama seja diagnosticado precocemente. HISTÓRIAS VIVIDAS COM A DOENÇA Cleiva de Oliveira, voluntária capacitada pelo Instituto da Mama do Rio Grande do Sul (Imama) para palestrar no Brasil junto com a Doutora Maira Caleffi, foi diagnosticada com câncer de mama em fevereiro de 2008 aos 40 anos, e realizava exames de prevenção há 10 anos. Em um desses exames descobriu o câncer na mama direita, no ducto mamário, chamado de Carcinoma Ductal. Ela então passou por uma mastectomia radical que consiste na retirada das duas mamas, optou pela colocação de prótese de silicone no lugar das mamas, mas muitas mulheres não têm condições de colocar, pois o custo de tudo é altíssimo. Os efeitos da quimioterapia debilitaram o corpo dela. Ela perdeu cabelo, sobrancelhas, unhas e teve a pele manchada (cada um reage de uma forma). Quando um tratamento é iniciado, ele continua a pós

a retirada do tumor, os remédios para evitar o surgimento de novos tumores duram cinco anos. A menopausa precoce é uma das reações dos remédios, segundo seu oncologista, em 2013 foi aumentado o uso das medicações como prevenção. Marcia Fernandes tinha 24 anos quando descobriu um nódulo na mama. Era mês de dezembro e, em janeiro do ano seguinte, seria sua formatura. Ela não tinha histórico familiar, era jovem, saudável, cuidava-se, fazia exercícios e naquele ano tudo mudou. Formou-se de peruca e com a vida totalmente transformada. Hoje passados cinco anos, curada e feliz, ela realizou o maior sonho na vida... Ser mãe de uma linda menininha. Nos conta Cleiva Oliveira. BUSCAR UNIÃO FORTALECE Há um grupo no Facebook, criado por uma médica pneumologista chamada Marina Maior, As Amigas do Peito, onde participam mulheres de todo o Brasil. De 22 a 24 de maio será realizado em São Paulo o Encontro Nacional das Amigas do Peito. A cada dia surgem surpresas com a entrada de mulheres no grupo. Seguidamente, surgem más notícias sobre jovens do grupo que partiram. A última chamada Milena Cunha, morreu em abril, com 32 anos. “São notícias assim que nos encorajam a continuar, e alertar muitas outras mulheres e meninas”, diz Cleiva.

A doença que mais mata no RS O câncer da mama ainda é a forma mais comum de tumor entre as mulheres, ocupando o primeiro lugar em incidência nas regiões Nordeste, Sul e Sudoeste, na proporção de 22,84%, 24,14% e 23,83%, respectivamente. Segundo dados do Pro/Onco - INCA em 1996. No Norte e Centro-Oeste, a incidência é sobrepujada pelo câncer do colo do útero. O Rio Grande do Sul é onde mais morrem mulheres com câncer de mama, se fizerem os exames e diagnóstico precoce, a chance de cura é de 95%.” O que acorre é “relaxamento”, as mulheres são relapsas consigo mesmas, cuidam de tudo casa filhos, trabalho, família, mas esquecem-se delas próprias”, revela Cleiva. Femama é uma associação Civil sem fins econômicos, que busca reduzir os índices de mortalidade por câncer de mama, facilitar o acesso ao exame na rede pública de saúde para mulheres a partir dos 40 anos, além disso, são promovidos eventos como o “Outubro rosa”, que visa incentivar pacientes com a doença, para novos tratamentos, e o diagnóstico precoce. O tema em 2014 foi, “Lei dos 60 dias – Paciente com câncer, cobre seu direito”, há uma lei em vigência, que garante aos pacientes de câncer o direito de iniciarem o tratamento da doença pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em, no máximo, 60 dias após o diagnóstico, a campanha foi promovida pela Femama e apoiada pelo Instituto da mama do Rio Grande do Sul (Imama).


saúde 7

BABÉLIA | UNISINOS | SÃO LEOPOLDO | JUNHO 2015

Em busca de cura para Rafael Com doença degenerativa, menino foi à Tailândia para fazer tratamento Daniela Cristófoli

J

ogando videogame na sala de estar, foi assim que Rafael Nunes Borba, de 15 anos, o Rafa, recebeu a reportagem do Babélia em sua casa. A mãe, Luciana Nunes, encontrou os repórteres na entrada da casa, logo depois o pai do jovem, Luis Carlos Ferreira Borba, chegou sorridente ao local. Uma família normal e feliz, porém com uma diferença, a esperança de uma vida com “menos dores para o Rafa”, como disse a mãe do menino. Esta esperança é alimentada pela família desde que, aos 12 anos, o jovem não conseguiu mais caminhar e ficou dependente da cadeira de rodas, por conta de uma doença degenerativa chamada Distrofia Muscular de Duchenne, que tem caráter recessivo, ligada ao cromossomo X. O primeiro passo para uma vida sem dores já foi dado. Em abril deste ano, a família desembarcou na Tailândia em busca de um tratamento com células tronco, que durou 25 dias, isto pode amenizar o sofrimento e a dor que ele sente. “Sabemos que o Rafa não poderá voltar a andar, pois iniciamos o tratamento muito tarde, mas queremos pelo menos que ele não sinta mais dores e que a doença não avance”, afirmou Luciana. “Nesta primeira fase vimos vários resultados, pequenos, porém nos mostra que está valendo o esforço” comentou o pai sobre o início do tratamento. O diagnóstico veio aos três anos de idade, a partir daí começou uma luta contra o tempo, buscando tratamentos, pois a expectativa de vida é de 19 anos de idade, para os portadores da distrofia. “Embora ciente que não existe tratamento nunca perdi a esperança, pois acredito que Deus sempre abre uma porta. Com este pensamento positivo sempre na luta, descobri, por intermédio de uma amiga, que existia este tratamento”, disse a mãe do rapaz. ESPERANÇA NAS CÉLULAS-TRONCO No Brasil, o tratamento da doença não existe, porém alguns procedimentos são feitos para amenizar o sofrimento dos pacientes. Uma das técnicas mais conhecidas atualmente é feita na Tailândia, por meio

de injeções de células-tronco. Vendo uma esperança na melhora de qualidade vida do Rafa, a família do garoto lançou uma campanha para custear o tratamento do adolescente no país do Sudeste asiático. “Uma pequena contribuição de cada um fará a diferença total na vida do Rafael”, disse Luciane. A viagem, a internação e as aplicações tornam o procedimento caro, cerca de 300 mil reais são necessários para fazer o tratamento, que tem duração de três anos. Com a mobilização de uma campanha, a família arrecadou o suficiente para dar início ao tratamento, que ocorreu no mês de abril, na Tailândia. Ele passou por procedimentos como, acupuntura, terapia ocupacional, fisioterapia e câmara hiperbárica, que é um método no qual o paciente é submetido a uma pressão duas ou até três vezes maior que a pressão atmosférica ao nível do mar, para ele este último

Rafael já iniciou o tratamento que tem três etapas. Família segue em campanha para arrecadar o dinheiro necessário para a conclusão do procedimento

Conseguimos arrecadar boa parte do valor com a campanha, mas o dólar subiu. Agora precisamos correr contra o tempo porque é pela vida do Rafa”. LUCIANE NUNES, mãe do jovem

era o pior, “eu tinha que usar uma máscara, da última vez ela deu uma pressão muito forte, acabei ficando sem ar” disse o jovem. Com o tratamento ele emagreceu 10 quilos. A família retornou ao Brasil no dia 27 de abril, e agora seguem a campanha para arrecadar o dinheiro necessário para concluir o tratamento.

Entenda a campanha e o que é a distrofia #TamoJuntoRafa, foi idealizada pela família e amigos, afim de arrecadar o valor necessário para o tratamento. Diversas ações foram feitas, como pedágios, vendas de camisetas da campanha, bingos e rifas. Porém, o que foi adquirido ainda não é o suficiente para que o tratamento possa continuar e ser concluído. “Devido à alta do dólar, nossos recursos só deram para primeira parte do tratamento”, relatou Luciane. A cada dia, na internet, a ação ganha mais força, pessoas de diversas cidades do Rio Grande do Sul compartilham nas redes sociais a história e buscam uma maneira de ajudar. Para facilitar as doações, um site foi criado para a venda de camisetas da campanha e também possui um espaço para contribuição online de dinheiro. Para ajudar na campanha, basta acessar tamojuntorafa.com ou ainda a página na

rede social Facebook, Tamo Junto Rafa. “Conseguimos boa parte do valor com a campanha. Precisamos correr porque é pela vida do Rafa”, concluiu Luciane. Segundo estudos, a doença está ligada ao cromossomo X, que afeta especialmente crianças do sexo masculino. É caracterizada pela progressiva degeneração da musculatura esquelética, resultando uma fraqueza muscular generalizada. As manifestações clínicas costumam surgir por volta dos 3 a 5 anos de vida, e são elas: debilidade e fraqueza muscular da cintura pélvica, principalmente nos músculos extensores e abdutores do quadril, acometendo posteriormente os músculos da região do ombro. A fraqueza da musculatura do quadril leva a dificuldades do paciente em andar, além de provocarem quedas frequentes.

LUCAS COSTA


8 saúde

BABÉLIA | UNISINOS | SÃO LEOPOLDO | MAIO 2015

ARTHUR PEREIRA

Os pediatras argumentam que, com o tempo e o amadurecimento dos órgãos, ele vai melhorar. Eu nunca perdi a esperança” LUANA MOREIRA, dona de casa

A mãe sorri enquanto olha para o filho dormindo e diz não deixar de acreditar no sonho de levá-lo para casa

A esperança de uma vida saudável

Bernardo sofre de bronquiolite obliterante aguda e, dia após dia, deseja ter de volta a vida fora da UTI David Farias

Q

uem visita a UTI hospitalar se surpreende. Lá, encontra-se um menino de sorriso fácil, alegre, que abraça a mãe como quem diz a ela para não fugir. Talvez os anos dentro do hospital tenham o feito aprender, da pior forma, o que é saudade. A televisão o distraia, Barney era motivo de graça e, ousasse acabar um episódio, para logo ele sinalizar com os braços pedindo o próximo. Entrando à esquerda, na primeira porta da UTI Pediátrica do Hospital Universitário da Ulbra, em Canoas, você encontrará Bernardo Moreira, seis anos. Em junho de 2010, quando completava um ano e quatro meses de vida, sua trajetória mudou completamente. Bê, como todos que o conhecem lhe chamam, tinha uma vida saudável. Mas, após uma crise intensa de asma, acabou parando na emergência. A asma, motivo que o levou ao hospital, era agora secundária em vista do novo diagnóstico. Foi quando ocorreu o pior: bronquiolite obliterante aguda, a sequela de uma doença viral, a bronquiolite, que é transmitida principalmente

entre crianças devido à baixa imunidade e, que em sua forma aguda, não tem cura. Depois da emergência, Bernardo foi internado no quarto. Posteriormente, sem melhora, acabou na UTI. Sem conseguir respirar sozinho, os médicos decidiram realizar a Traqueostomia, permitindo assim que ele voltasse a respirar. Bernardo, por não falar, costumar fazer sinais para pedir o que deseja. A mãe, Luana Moreira, conta que “Além do Barney, ele tem outros DVD’S, para que a gente entenda qual colocar, ele criou um gesto para cada. Quando quer Xuxa ele toca o dedo no nariz, quando quer o do Carrossel balança as mãos”. Luana e Juliano Garcia, o pai, têm mais duas filhas. Manoela, seis, e Kailane, oito. Garcia não pode ir sempre ao hospital - pois trabalha, costuma visitar o filho aos finais de semana. Já Luana não pode procurar emprego, pois cuida da filha menor e visita Bernardo na UTI todos os dias. Kailane, primogênita, vive com a avó, para que possa estudar com tranquilidade. O DESEJO DE TER O FILHO PERTO Há algum tempo, os pais

fazem força levar o filho para casa, mas como a residência onde a família morava era insalubre, não era possível. “Nós vivíamos em uma casa velha, de madeira, com problemas na fiação. Então eu e meu marido fizemos uma página no Facebook para arrecadar doações e poder fazer uma nova”, relembra a mãe. Naquele momento, conseguiram juntar e começar a construção de um novo lar para o menino. Até o Home Care, serviço de aparelhagem semelhante ao da UTI, com médicos e enfermeiros 24 horas foi doado, mas, a empresa não pode entregar o serviço, pois a casa ainda não estava pronta. Surge uma luz no fim do túnel: a história da busca de ajuda para Bernardo atrai o programa de televisão Brasil Urgente, da Bandeirantes, que resolve cobrir a o caso e

intermedia a entrega de um apartamento para a família, que o recebe quando é incluída no programa social Minha Casa Minha Vida. Segundo a mãe de Bernardo, os médicos afirmam que ele ainda não pode sair da UTI, pois não têm uma situação de saúde estável. “ A empresa que iria dar o Home Care não entrou mais em contato. A Secretaria da Saúde daria os aparelhos, mas não quer disponibilizar o auxílio de médicos e enfermeiros que o Bê precisa”, lamenta Luana. A esperança para Bernardo está agora no seu crescimento. “Os pediatras dizem que ele não necessita de transplante de pulmão. Argumentam que com o tempo o amadurecimento dos órgãos fará ele melhorar”, ressalta a mãe.

A CONQUISTA DE UMA NOVA FAMÍLIA “A UTI é o mundo do Bernardo”, conta Elizabeth Amaral, técnica de enfermagem do Hospital Universitário da Ulbra. “Quando conheci o Bernardo, em 2012, fiquei comovida com a história. Depois que saí do hospital mantive contato com os pais dele, visitava sempre que tinha tempo. No fim do ano passado, recebi uma ligação da Luana me convidando para apadrinhar o Bê, foi uma surpresa muito especial, parecia um sinal pra eu voltar, na época eu fazia uma seleção para retornar”, relembra Elizabeth. A ligação da técnica com a criança foi tão forte que ela ressalva “ se acontecer algo de ruim com ele, eu não entro mais naquela UTI. Aquele lugar não vai ser o mesmo sem o Bê”.

O que é bronquiolite obliterante aguda A médica pediatra Samanta Dickel explica que a bronquiolite obliterante é a sequela da bronquiolite, que é uma infecção no pulmão causadora de falta

de ar. “Algumas crianças acabam tendo isso, que vira uma doença crônica e deixa o pulmão sem oxigenar direito, tornando elas dependentes do oxigênio

ou da traqueostomia para respirar. Em alguns casos, quando a criança cresce, pode haver melhora e elas até podem deixar o oxigênio”, ressalta.


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Sábado Solidário arrecada alimentos Iniciativa do Banco Social abastece estoque de instituições carentes do Estado

VICTÓRIA FREIRE

Victória Freire

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o primeiro sábado de cada mês, moradores do Vale dos Sinos se reúnem em frente aos supermercados das redes Walmart e Rissul para arrecadar mantimentos. O evento, chamado de Sábado Solidário, é promovido pelo Banco de Alimentos e beneficia 47 instituições como creches, asilos e escolas de contra turno. Realizado em todo o Rio Grande do Sul, o projeto conta com a colaboração de voluntários do Rotary Club, Lions, Diaconias e outras organizações beneficentes. Somente em São Leopoldo, Portão, Esteio e Sapucaia do Sul mobilizam-se cerca de 150 indivíduos cuja meta mensal é angariar três toneladas de alimentos. As equipes operam das 9h às 19h, distribuindo panfletos e conscientizando compradores transeuntes. A Parceiros Voluntários é responsável por organizar a equipe que atua no supermercado Nacional do bairro Cristo Rei, em São Leopoldo. Marinês Souza, representante da ONG no município, acredita que as doações são fundamentais à comunidade. “Algumas pessoas fazem apenas uma refeição por dia que provém, muitas vezes, do Sábado Solidário”, afirma. Uma das instituições que mantém o estoque com a ajuda da iniciativa voluntária é a

Proporcionar um pouco de conforto, esperança e tentar colocar um sorriso no rosto de pacientes internados no hospital. Esse é o objetivo do grupo Corrente do Bem, que a cada 15 dias alegra manhãs no Hospital Centenário, em São Leopoldo. O projeto foi lançado em junho de 2013. A ideia foi do ator e estudante de Comunicação da Unisinos Maikinho Pereira. “Por vezes ficamos tristes por motivos bobos e chegando lá vemos pessoas lutando pela

Motorista incentiva a leitura com Táxi-teca Thayná Bandasz

Formado em História, ex-banqueiro e escritor, o também taxista Vandir Luiz Ottoni trouxe a paixão pela leitura para o trabalho. Localizado no ponto de táxi do Shopping do Vale de Cachoeirinha, o projeto Táxi-teca, que já completa um ano, arrecadou muitos livros e o foco continua sendo incentivar as pessoas a terem o amor pela leitura. Ottoni comemora o sucesso do projeto, e a cada semana recebe cerca de 30 livros. Agora ele também virou doa-

dor. “Fazemos doações para o Hospital Santa Rita. Deixamos livros e revistas para que as pessoas tenham algo para se entreter”, explica. O empurrão para o projeto veio da produtora cultural Sônia Zanchetta, que não é só uma cliente, mas também ajudou no início doando os primeiros livros para Vandir. A aposentada Sueli Duarte ficou maravilhada ao pegar o táxi pela primeira vez. “Os jovens só querem saber de celular e não pegam mais livros, pessoas como ele são essenciais para que a leitura não caia em esquecimento”, afirma.

Caminhar Faz Bem revitaliza ciclovias Amanda Victória Büneker Leopoldenses cadastrados pela Parceiros Voluntários participam da arrecadação de alimentos no supermercado Nacional

Associação de Meninos e Meninas do Progresso (AMMEP). Segundo Letícia Cidade Silva, assistente social, os mantimentos são solicitados conforme a demanda. “Possuímos convênio com a prefeitura, mas o repasse nem sempre é suficiente para quitar as despesas. Nestes meses, o apoio do Banco de Alimentos garante a refeição das crianças e adolescentes que atendemos”, conta Letícia. Em contrapartida ao subsídio, os funcionários da AMMEP se envolvem com o Sábado Solidário durante todo o ano. Jair João Reginato, coordenador operacional da unidade Vale dos Sinos do Banco de

Alimentos, explica que a ação solidária não termina na entrega dos donativos. “Além de destinarmos alimentos às entidades carentes, disponibilizamos também um serviço de orientação nutricional, a fim de assessorar na segurança alimentar”, completa. De acordo com Reginato, a organização possui um grande vínculo com a Unisinos, a qual fornece estagiários do curso de nutrição para integrarem o projeto. O Sábado Solidário representa uma das principais fontes de arrecadação para a rede Banco de Alimentos, que trabalha através de 17 unidades com o objetivo de minimizar a fome no Estado.

Grupo Corrente do Bem alegra pacientes do Hospital Centenário Andressa Brunner Michels

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vida e isso nos faz dar mais valor para nossa”, explica. Segundo ele, às vezes, um familiar está com o paciente e quando o grupo de voluntários chega, usando fantasias, tocando violão e entretendo os pacientes, o ambiente já muda. “Os familiares emocionam-se e nos dizem o quanto esse gesto é importante naquele momento, e é muito recompensador”, comenta. A visita dura cerca de uma hora e meia e percorre quase todas as alas do hospital. “Tentamos fazer com que os pacientes, mesmo que por

alguns minutos, tirem o foco da doença e sintam-se felizes e com a esperança renovada, esse trabalho é extremamente gratificante”, comenta a voluntária do grupo, Fátima Tramontin. A inspiração surgiu a partir dos Doutores da Alegria, que é uma organização que há 23 anos realiza visitas contínuas de palhaços profissionais em diversos hospitais públicos. Segundo o idealizador do grupo, os planos são de, em breve, estender as visitas também para os sábados pela manhã.

Os mais de 18 mil metros de ciclovia localizados na cidade de Campo Bom estão sendo restabelecidos no cotidiano dos moradores como espaço esportivo e de lazer a partir do projeto Caminhar Faz Bem, criado pela Secretaria do Esporte e Lazer (Smel) em parceria com a Secretaria da Saúde (SMS). A realização teve seu inicio em maio de 2014, realizando quinzenalmente o percurso de 6,4 km com o acompanhamento de agentes da saúde e profissionais do esporte. O projeto surgiu conforme informado pelo secretário do esporte e lazer JoãoCarlos eSilva com o propósito de colocar os cidadãos em movimento. Entretanto, as caminhadas estão também revitalizando a ciclovia. “A grande sacada é ter a estrutura e saber aproveitá-la”, complementou João.

Segundo o secretário, a estrutura está passando por um processo de renovação de seu espaço físico. No momento ela está sendo totalmente iluminada, para que a população possa utilizá-la durante a noite, e futuramente a prefeitura pretende demarcar o espaço especifico para pedestres e para ciclistas. Com isto, a utilização das ciclovias aumentou, algo que conforme o secretário da saúde Jerri Moraes, chamou atenção de outras cidades. “Hoje constatamos que nossas ciclovias são muito utilizadas, até por moradores de cidades vizinhas” informou. As atividades têm início às 9 horas na Estação Saúde, com a medição de pressão arterial, questionamentos básicos sobre saúde e alongamento com auxílio de profissionais.As 9h30min a caminhada começa tendo a duração de cerca de uma hora e 20 minutos.

Apae ganhará nova sede em Canoas em 2016 Luan Michel Maciel

A Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) foi a mais votada na 2ª Rodada do Orçamento Participativo de 2015. Em 116 pontos de votação espelhados pelo município, canoenses elegeram uma demanda para a microrregião e outra para a cidade. A entidade vencedora ganhou a construção de um prédio próprio. A eleição ocorreu em março deste ano. A obra, localizada no bairro

Moinhos de Vento, tem previsão para estar pronta até o final de 2016.Custará cerca de 3 milhões de reais. “O objetivo é ter uma Apae que seja referência em inclusão e no atendimento à pessoa com deficiência”, diz a coordenadora da instituição, Lisiane Oliveira. Há 48 anos na cidade, a entidade presta assistência a cerca de 300 crianças e jovens com deficiência mental e/ou múltipla. É a única a não ter sede própria no Estado. Com o slogan “Seja nosso super herói”, conquistaram 4 mil 381 votos.


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Novas oportunidades para catadores Jéssica Beltrame

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oseane não imaginara que sua vida mudaria tanto após a adesão ao programa Todos Somos Porto Alegre e, mesmo com receio, encarou a oportunidade. “Quando me chamaram para fazer o curso eu fiquei com medo, achei que fosse um golpe. A gente ouve falar tanto em golpe e, como eu não conhecia, achei que fosse isso”, conta a ex-catadora Joseane do Ponte, 30 anos. O programa de inclusão produtiva na reciclagem da prefeitura de Porto Alegre, Todos Somos Porto Alegre, tem como objetivo tirar os catadores de material reciclável da rua, qualificar a coleta seletiva e melhorar a limpeza da cidade. Os carroceiros e carrinheiros receberão qualificação profissional e serão encaminhados para o mercado formal de trabalho. 1,8 mil famílias serão beneficiadas. O coordenador do Todos Somos Porto Alegre, Fernando Mello, explica que “inicialmente houve uma insegurança por parte dos catadores com o programa e uma grande dificuldade em fazê-los aderirem ao projeto de inclusão produtiva”. GARANTIA DE FUTURO “Participar do projeto foi ótimo pra mim. Hoje eu trabalho de carteira assinada, recebendo todos os benefícios e direitos, não estou mais à deriva como antes”, conta Antônio Viana Carboneiro, 68 anos. Após trabalhar por 16 anos como papeleiro, o líder comunitário da Vila Santa Terezinha, antiga Vila dos Papeleiros, conta que incentiva outras pessoas a participarem das formações, “Eu conto a minha história e como minha vida melhorou e outros catadores se interessam em fazer os cursos também. Assim temos mais estabilidade e tranquilidade né”.

ARTHUR PEREIRA

Todos Somos Porto Alegre deverá beneficiar 1,8 mil famílias de carroceiros e carrinheiros

Assim como as famílias de Antônio e Joseane, o programa deverá beneficiar outras 1,8 mil famílias de catadores

oferecendo as condições necessárias para que os catadores tenham melhor renda e bem estar no trabalho. O terceiro, de Educação Ambiental, terá ações em escolas, universidades e órgãos públicos municipais para repercutir estratégias de inclusão e proteção, mobilizando a cidade a contribuir e participar da separação, triagem e recuperação de materiais descartados no pós-consumo. O orçamento do programa

conta com recursos de 9 milhões de reais do BNDES Fundo Social e contrapartida de 9 milhões de reais da prefeitura, totalizando 18 milhões de reais. OUTRAS ALTERNATIVAS O Todos Somos Porto Alegre conta com o grupo de busca ativa, que tem como objetivo localizar os condutores deVTAs e VTHs para adesão no programa, além de realizar um diagnóstico da situação de cada família e promover uma maior aproximação com as comunidades. O projeto dá três alternativas: a qualificação em outras atividades, como eletricista, jardineiro

ou pedreiro, o encaminhamento para trabalhar em uma unidade de triagem do Departamento Municipal de Limpeza Urbana – DMLU, e a disponibilidade de cursos e apoio à família.

Hoje eu trabalho de carteira assinada, recebendo todos os benefícios e direitos”

RETORNO POSITIVO O coordenador Fernando Mello conta que estão todos relativamente satisfeitos com os resultados do programa na reta final. Mello salienta também que todas as decisões tomadas passam por um comitê gestor e que todo o projeto foi construído juntamente com os catadores, visando a qualificação profissional.

ANTÔNIO VIANA CARBONEIRO, ex-catador

O PROJETO O projeto é dividido em três eixos centrais: O primeiro, de Inclusão Profissional de Condutores de Veículos de Tração Animal (VTA) e Veículos de Tração Humana (VTH), promove o ingresso de trabalhadores da coleta e separação de resíduos sólidos no mercado formal de trabalho. O segundo, de Reestruturação das Unidades de Triagem (UTs), visa transformar a realidade destes empreendimentos populares,

A lei municipal que deu início ao programa Em processo de cadastro e capacitação desde setembro de 2013, o programa foi desenvolvido em contrapartida a Lei Municipal Nº 10.531, de 2008, que prevê a redução gradativa do número de veículos de tração animal e de tração

humana. Foi estabelecido o prazo de oito anos para a proibição definitiva da circulação de carroças e carrinhos. A retirada total de VTAs e VTHs deverá estar concluída até 2016, como prevê a Lei. “Quando a Lei entrar em vigor

definitivamente, todas as carroças e carrinhos serão recolhidos”, explicou a Coordenadora Executiva do Programa, Denise Souza Costa. Segundo prevê a lei, só será permitido o uso em locais privados, área

rururbana (área rural dentro da cidade, usada para fins industriais e urbanos), região periférica (bairros afastados do centro do município), em locais públicos para fins turísticos, e em rotas e baias que sejam autorizadas pela prefeitura.


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Na contramão de violência Thiago Greco

O

futebol brasileiro e mundial vive tempos delicados. Nunca a violência nas arquibancadas foi tão vista como nos últimos anos. Rio Grande do Sul não fica fora, casos de racismo na Arena e em Bento Gonçalves, marcaram o 2014. Hoje, na Europa, dois fatos de injúria racial chamaram atenção, um contra o marfinense atacante da Roma, Gervinho, em partida válida pela Europa League, onde torcedores do Feyenoord arremessaram uma banana gigante em sua direção. O outro aconteceu no metrô de Paris, onde torcedores do Chelsea impediram um negro de ingressar no transporte aos gritos de “somos racistas e gostamos disso”. Pensando nisso que o Imortal Bus, um grupo de torcedores organizados gremistas de Gravataí, realiza há quatro anos ações que beneficiam os moradores mais necessitados da cidade. Em busca de migrar a imagem de que toda torcida organizada é sinônimo de violência, para outra, em que torcida organizada, pode sim, ser sinônimo paz. A ideia das ações surgiu no de 2010, quinto ano do “Bus”, quando quatro líderes do movimento, Bruno, Chrystian, Luciano e William, se reuniram para uma reunião de rotina, eis que Luciano, atual coordenador de comissão do Imortal Bus Solidário, apareceu com o pensamento de realizar ações sociais em prol de uma sociedade mais humana e igualitária, que foi prontamente aceita pelos outros membros. “A ideia era ajudar as pessoas carentes, aproveitando a força da torcida gremista de Gravataí. Sabíamos que teríamos um apoio maciço da massa, inclusive dos colorados que apoiariam a nossa iniciativa”, explica Luciano Silva. O IMORTAL BUS O Imortal Bus surgiu em 2005 com a intenção de criar laços entre os gremistas de Gravataí que iam aos jogos “por conta”. Até que decidiram alugar um ônibus particular para irem juntos ao antigo Olímpico. Além das iniciativas sociais, o Bus, em dia de jogos importantes, tem a tradição

LEONARDO GOMES

Grupo de amigos torcedores do Grêmio realizam ações sociais em Gravataí desde 2011

Organizadores do Imortal Bus Solidário em uma das ações comunitárias

grupo de torcedores que, até então, iam sozinhos aos jogos, criaram o Imortal Bus”. AS AÇÕES

de chegar de manhã no entorno do estádio e organizar um churrasco com os integrantes. Completando dez anos em 2015, a prioridade são os jogos do Grêmio em Porto Alegre, mas já esteve presente em Florianópolis e Santos, litoral de São Paulo. Um dos fundadores do Imortal Bus, William Silva, sintetiza: “Grêmio vivia um momento ruim e cabia à torcida reergue-lo e devolvê-lo à elite do futebol brasileiro. Um

Foram 13 ações sociais de 2011 pra cá. A primeira, foi início do mesmo ano no bairro Rincão. “Apesar de ter sido complicado pois era primeira vez que estávamos fazendo aquilo, deu tudo certo. Conseguimos arrecadar muitos brinquedos e comida. Deu tão certo que abastecemos todas as pessoas que lá estavam e ainda acumulou em estoque para as futuras”, comemora Luciano.

A partir dessa, vieram outras seis ações: Lar de Idosos Nossa Família no bairro Itacolomi, Clube de Mães no bairro Vila Cruzeiro II, Clube das Mães Maria Augusta no bairro Vila Neiva, Escola Bom Jesus no bairro Vila Cruzeiro, Escola Especial Cebolinha no centro e duas na APAE-Gravataí, também no centro. Todas elas em Gravataí. “Olhar pra trás e ver tudo que a gente já fez é uma satisfação enorme, mesmo com o objetivo de fazer o bem, mas ser reconhecidos pelas ações, ver pessoas nos procurando para ajudar ou pedir ajudar, só fortalecem nosso trabalho”, complementa.

O futuro das ações comunitárias no Bus A meta para os próximos anos é manter um padrão de, ao menos, três ações por ano. Usando como exemplo este ano, o de 2015, realizarão uma em julho, outra no dia da criança e, para fechar o planeja-

mento das três ações, uma na semana do natal. Local e data das ações ainda serão definidas pela comissão Imortal Bus Solidário. Tudo isso veio de uma reestruturação elaborada no final

de 2014, onde foram elegidas dez pessoas para cuidar de todos os objetivos idealizados pelo movimento. “Está nos nossos planos ir além de ações sociais de arrecadação de alimentos, roupas e brinquedos.

A ideia era ajudar as pessoas carentes, aproveitando a força da torcida gremista de Gravataí” LUCIANO SILVA, coordenador

Organizar eventos, como o Pagode Imortal Bus Solidário, com o intuito de gerar, autonomamente, estoque para as futuras atividades do Bus, e ainda com um caráter de festa.


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Cais: mobilização social e cultural Manifestações contra a revitalização de ponto turístico da Capital agregam arte e cultura Fabiano Scheck

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á mais de cem anos, o Cais Mauá faz parte do cenário de Porto Alegre. Nos últimos meses, um consórcio responsável pelas obras do local apresentou um projeto de revitalização da área. Diversas pessoas consideraram o projeto irregular e iniciaram protestos para anular a revitalização. As manifestações ocorrem na Avenida Sepúlveda, em frente ao pórtico central do Cais. Além de alertar para uma causa social, a ocupação do espaço público tem chamado atenção por outro fator: a arte e a cultura nas ruas. A NOVA FORMA DE PROTESTAR Largo Glênio Peres, Redenção, Orla do Guaíba e outros pontos turísticos tornaram-se cenário de um novo tipo de protesto: as ocupações. Os participantes chegam ao local e se reúnem em grupos com amigos para comer, beber e principalmente expressar-se artisticamente. Geralmente iniciando no começo da noite e finalizando ao amanhecer, o protesto consiste em permanecer no lugar. As ocupações são organizadas pela internet por coletivos de pessoas engajadas em causas sociais. Entre 5 e 15 mil pessoas comparecem. Os coletivos Ocupa Cais Mauá, o Cais Mauá de Todos e o Porto Alegre.cecê são os responsáveis pelas ocupações na Sepúlveda.

pondo suas fotos em varais. Camisetas, desenhos e artesanatos produzidos pelos próprios participantes do evento estavam expostos. Nícolas Nardi, estudante de Letras da UFRGS, juntamente com o coletivo artístico Quarto Ambiente, realizou um projeto via internet para publicação de seu primeiro livro. Quem simpatizasse com a ideia poderia doar alguma quantia em dinheiro para ajudar no financiamento da obra. Depois de algumas semanas, o poeta conseguiu lançar um livro, chamado Amanual de formação de um desescritor. O jovem de 21 anos não faltou às ocupações do Cais Mauá, em que costuma vender fanzines com seu coletivo. “A galera que frequenta curte essas coisas mais alternativas. O Coletivo se aproveita disso. Gosto de montar banca nesses eventos porque rola sempre uma interação com quem passa” relata. O Conjunto Bluegrass Porto-Alegrense, quarteto de

As ocupações ocorrem na Avenida Sepúlveda, em frente ao pórtico central do Cais

A gente acha que a cultura está nas paredes e vigas dos armazéns, nos guindastes, no cais, em cada detalhe” MARCIO PETRACCO, músico

músicos do gênero bluegrass, também foi atração nos eventos de mobilização. Marcio Petracco, músico que toca bandolim na banda, quando perguntado sobre os possíveis novos espaços culturais na revitalização, salientou que de nada serve um espaço cultural em grandes construções modernas. “A gente acha que a cultura está nas paredes e vigas dos armazéns, nos guindastes, no cais, em cada detalhe. Isso não pode ser tirado da gente”, esclarece.

As polêmicas sobre a revitalização O projeto da Porto Cais Mauá do Brasil S.A. está disponível pela internet no site vivacaismaua. com.br. Basicamente, os galpões seriam restaurados, se transformariam em centros de lazer e em algumas áreas construídos um shopping, um hotel e um estacionamento com 4 mil vagas. Nos textos dos coletivos há manifestos sobre essas empreitadas comerciais, já que o Cais é uma área histórica e pode perder sua característica com a transformação da paisagem. João Volino Corrêa, um dos representantes do Cais Mauá de Todos, quando questionado sobre as mobilizações, revelou que esse é um meio para sensibilização da opinião pública em relação às denúncias de supostas irregularidades do Poder Público Municipal

e Estadual com o Consórcio. O objetivo é a revisão e possível anulação do processo de licitação, dos termos de contrato e dos procedimentos relacionados aos projetos e licenças. “Nossa proposta prevê a realização de um novo edital, aberto à ampla participação da sociedade civil organizada, onde o projeto de revitalização do Cais tenha como premissas: o interesse público; a valorização do patrimônio histórico, ambiental e arquitetônico; as formas de exploração sustentável, tanto do ponto de vista urbano quanto socioeconômico; sua vinculação a projetos voltados a economia criativa, a produção de conhecimento, arte e entretenimento na forma de projetos educativos e culturais” declara João.

LIVIA TABERT

EXPRESSÕES ARTÍSTICAS E CULTURAIS Nas três últimas edições de mobilizações na Sepúlveda, que ocorreram nos dias 13 e 28 de março e 18 de abril, a música ao vivo fez parte de todo o evento. Rock, rap, samba, hip hop e entre outros ritmos foram tocados. No evento de abril, o cantor gaúcho de MPB, Nei Lisboa, apresentou-se cantando sucessos de sua carreira com a presença de milhares de fãs. Além da música, o lugar também foi palco de artistas alternativos de outros gêneros. Era possível encontrar indivíduos pintando telas em tempo real e fotógrafos ex-

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cotidiano 13 RAFAEL FEYH

Uma missão sobre os trilhos

Trabalhando 30 anos como operadora, Madalena Schwertner viveu metade da vida conduzindo trens

Roberto Caloni

P

ara muitos, utilizar o trensurb é um meio de transporte para ir de casa até o trabalho, mas para outros garantir esse serviço é uma missão. É o caso de Madalena Schwertner, 61 anos, que é operadora de trens há 30, quase metade da vida trabalhou sobre os trilhos. Resolveu fazer o concurso para trabalhar na Trensurb logo após se formar em Comércio Exterior, na Unisinos. Profissão que optou não exercer. “Era recém formada, ia me casar e o salário era muito bom para época, então resolvi fazer o concurso”, comenta. Ela começou a trabalhar como operadora nos trens em 1985 e continua até hoje. “Não me imagino fazendo outra coisa. O clima aqui é super bom de trabalhar”, fala, sem conseguir esconder o brilho nos olhos. Conta que nunca sofreu preconceito por ser mulher e trabalhar como operadora. “No começo eram só sete ou oito, hoje tem bem mais mulheres trabalhando com os trens”, disse. Fato curioso é que nesses 30 anos ela nunca utilizou o trem como passageira, ou pelo menos, não nos vagões. “Quando utilizo sempre venho na cabine, então essa é uma experiência que ainda não tive”, confessa. Além de trabalhar no trem, já foi musa para alguns artistas. Em 2012, participou do trabalho “A voz da Roupa”, do fotógrafo Tiago Coelho. “Foi muito legal. As fotos ficaram lindas”, falou orgulhosa. E a outra foi para um poeta “Recebi uma poesia de um dos passageiros”, relembra.

A BORDO DO TREM “Aqui cada dia temos uma missão para cumprir. Hoje minha primeira viagem começa às 14h01”. Ela entra na cabine e confere para ver se está tudo certo. Velocímetro, botões e alavancas enchem o painel que fica a sua frente. “Pilotar é muito fácil, você só precisa aprender e fazer tudo com bastante atenção”, falou enquanto dava a partida. Chegando na estação, seus olhos ficam atentos ao relógio e ao espelho para ver se todos embarcaram. Quando os ponteiros marcam 14h01 ela fecha as portas e o trem começa a se locomover. “Precisão nos horários é muito importante”, destacou. “Se tem algo que aprendi aqui é a valorizar o tempo. Dez segundos a mais com as portas abertas em uma estação pode ser uma eternidade”, frisa. Ao iniciar a viagem, ela realiza o primeiro Public Audition (PA) que são as mensagens transmitidas aos passageiros. “Recebemos muitas reclamações que falamos baixo de mais, ou que não falamos, mas nós não nos escutamos. Muitas vezes as caixas de som dos vagões não funcionam direito e os passageiros colocam a culpa em nós”, lembra. VELOCIDADE E SINALIZAÇÃO Cuidar da velocidade, da sinalização da ferrovia, abrir e fechar as portas em cada estação e ouvir o que o Centro de Controle Operacional (CCO) os informa são alguns dos cuidados que os operadores devem ter durante a pilotagem. “Escutamos a CCO o tempo todo e precisamos prestar

atenção para saber o que está acontecendo na via”. A velocidade é determinada de acordo com o trecho que o trem percorre. “Aqui no velocímetro a luz verde me mostra até quantos km/h posso andar”, explica. Os trechos são de 30, 50, 70 e 90 km/h.Ao longo da ferrovia há sinaleiras, parecidas com as das ruas, que avisam se está liberado para o trem passar (cor verde), se deve ter cuidado (amarelo) e quando deve parar o trem (vermelho). Ao chegar à estação Novo Hamburgo, antes de as portas serem abertas, o último comunicado é dado: “Ao desembarcar não esqueçam seus objetos pessoais. Tenham todos uma boa tarde”, finaliza. As portas se abrem, os passageiros seguem seu destino, e Madalena se prepara para a próxima viagem. Sua missão diária ainda não terminou.

Se tem algo que aprendi aqui é a valorizar o tempo. Dez segundos a mais com as portas abertas em uma estação pode ser uma eternidade” MADALENA SCHWERTNER, operadora de trem da Trensurb

ROBERTO CALONI

Da cabine, Madalena garante a segurança das viagens entre Novo Hamburgo e Porto Alegre

Cuidados e precauções durante a viagem A operadora explica que deve estar atenta não só aos trilhos, mas também à rede aérea (cabos de energia), à via e à sinalização. “E em dias de chuva, temos que cuidar com os trilhos molhados para o trem não patinar. São aqueles socos que o trem dá”, complementa. Durante o trajeto, os operadores devem observar se há pessoas ou animais nos trilhos. “O trecho mais perigoso é entre as estações Petrobras e Esteio. As casas ficam próximas da ferrovia, do lado na verdade, e as pessoas não usam as passarelas, pulam

a cerca e passam”, alerta Madalena. Se o trem apresentar algum problema, eles devem concertá-lo. “A primeira coisa que se aprende é como deixar o trem pronto para funcionar, se ele estraga no meio do caminho temos que arrumá-lo. Não se pode deixar o trem parado na pista”, destaca. Além de todos esses cuidados, os operadores precisam prestar atenção aos passageiros. “Quando um passageiro passa mal, ou acontece algo em algum vagão, precisamos avisar a Central para mandar ajuda”, explica.


14 geral

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Catamarã atende 70 mil pessoas por mês Artur Cardoso Colombo

A travessia de passageiros por barcas entre Porto Alegre e Guaíba tem atendido 70 mil pessoas por mês e 2 mil usuários em 37 viagens diárias. A CatSul, empresa responsável pelo serviço, aposta na fidelidade para manter o desempenho. Olga Valeria dos Santos, 40 anos, atravessa o Guaíba todos os dias para voltar pra casa e ficar junto dos filhos. Ela elogia o serviço, mas reclama do preço da passagem que hoje está em 6 reais.

A estudante Jaqueline Alves, moradora de Porto Alegre, utiliza o catamarã para visitar o noivo, Carlos Oliveira, que mora em Guaíba. Ela conta que já utilizou os ônibus até a cidade, mas prefere o transporte por barcas por considerar mais rápido. Segundo os funcionários da CatSul, o uso do transporte é muito pluralizado nos dias de hoje, mas admitem que a quantidade de pessoas que utilizam como transporte é bem maior do que as pessoas que utilizam como turismo, caracterizando uma dualidade no transporte hidroviário.

Pitbull é defendido por especialistas Cassiano Cardoso

Há pouco mais de um mês, uma idosa foi atacada e morta por um pitbull em casa, no bairro Mathias Velho, em Canoas. O animal pertencia à família dela, mas quem o cuidava cão era o filho da senhora. À época, os vizinhos relataram que o cão era maltratado pelo dono e tinha comportamento agressivo porque era treinado para isso. “O pitbull é tão dócil quanto qualquer outra raça. Apesar da pitbull ter problemas com outros cães, eles atacam apenas quando sentem algum medo ou ameaça”, afirma Alfeu Machado, adestrador do Canil Melba’s Kennel, de Viamão.

De acordo com o professor de veterinária da Ulbra, Dr. Renato Pulz, a raça foi criada para ser naturalmente agressiva com outros cães. “Ele pode ter alguma reação agressiva. Muitas coisas podem ter desencadeado isso nele. Não adianta condenar a raça”, diz. O professor também afirma que todo o cão pode ter essa atitude. Contudo, o pitbull é um caso mais grave, pois os outros animais geralmente são menores, e o dano causado é menor. A Brigada Militar relatou que a cena do crime indicava que o cão pode ter sido cutucado por um rodo que estava próximo à vítima. Na casa, também foram encontradas uma arma com balas de festim e um aparelho de choque.

Acidentes de trânsito em São Leopoldo diminuem Tiago Assis

A Guarda Civil de São Leopoldo divulgou a contagem de multas de trânsito no primeiro trimestre de 2015. Com início de funcionamento em 23 de setembro de 2014, os controladores demonstram queda significativa na quantidade de ocorrências de trânsito comparados ao ano passado. O número de acidentes registrados foi reduzido em 24,5%, enquanto o número de vítimas teve uma diminuição de 170 pessoas. São 23 equipamentos em funcionamento por toda a cidade, divididos em pardais, lom-

badas eletrônicas e caetanos. Em menos de 48 horas de atividade, os dispositivos somaram mais de 700 multas registradas. Na primeira semana, o total de multas chegou a mais de 4 mil. O trânsito pelos locais onde os instrumentos estão em exercício ultrapassa os 90 mil veículos por dia. Como informado pela Guarda Civil de São Leopoldo, os controladores eletrônicos têm como finalidade o resguardo do interesse público dos usuários de trânsito da cidade. As tecnologias implantadas no controle do tráfego possibilitam a preservação da segurança dos pedestres e motoristas.

RS tem oito mulheres agredidas por hora No total, ocorreram mais de 71 mil casos de agressão no ano passado, segundo Secretaria de Segurança Pública

Carolina Zeni

A

s mãos cruzadas sobre as pernas anunciam a fragilidade de uma mulher, que com apenas 30 anos sentiu na pele e na alma a dor da violência. Joana, (apresentada com este nome fictício para preservar sua identidade real), foi vítima desde muito pequena. O pai, bêbado e agressivo, a mãe usuária de drogas, os irmãos, desatentos. A criança, com sete anos, conheceu ali o pior nível que um ser humano pode chegar. Abusada sexualmente pelo pai e abandonada pela mãe, a doce menina perdeu toda a sua inocência. Viveu uma sucessão de erros, tentando consertar os acontecimentos da vida com a criação de uma família. Seu atual marido, com quem teve três filhos, já foi muito cruel. Socos, chutes, e até uma tentativa de enforcamento foram marcas do relacionamento, que apesar de humilhante, permanece –intacto- na atualidade. Situações como a de Joana, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul (SSP), no ano passado, um total de 71.455 mulheres foram vítimas de agressão, o que equivale a oito casos por hora. Joana registrou a denúncia e foi amparada pela Lei Maria da Penha. A opção de permanecer com o atual marido foi

dela. “Ele já foi horrível comigo e foi preso com a minha denúncia. Sentiu na pele que não poderia fazer o que quisesse comigo. Eu o amo e vou permanecer para ampará-lo, apesar de tudo’’, relata. “Estou recomeçando e sei que vou vencer,’’ complementa. “Mulher não é sexo frágil. Pelo contrário. Muitas oportunidades são oferecidas para aprendermos a viver. O conselho que eu dou, é que a mulher perceba se é isso o que realmente quer. Existem formas de sair disso, cada uma precisa descobrir dentro de si qual, `` afirma, com os olhos marejados e o sorriso tímido de quem conseguiu vencer a mais dura das batalhas. Ambivalência é a palavra que a titular da Coordenadoria

de Políticas Públicas para as Mulheres (CMulher) de Novo Hamburgo, Anita Lucas de Oliveira, usa para descrever as mulheres atendidas no Viva Mulher. ``Ao mesmo tempo em que ela é guerreira e forte, ela nunca estará imune a qualquer tipo de violência. As mulheres ainda são vistas como algo que não precisa estar ali. Temos que mudar isso”, ressalta. Plenitude é a palavra que Joana usa para descrever sua situação atual. ``Eu me sinto realizada como pessoa. A vida é um eterno recomeçar e existem oportunidades, e com elas precisa-se aprender a viver, `` diz desejando que possa desfrutar sua vida em toda plenitude. Nesta batalha ainda se fim o maior inimigo é o silêncio. CAROLINA ZENI

Vítima relata agressões que sofreu na infância e na idade adulta

Esteio atua em planos de prevenção contra enchentes Nahiene Alves

Devido às enchentes de 2013, a prefeitura de Esteio está aprimorando os planos de limpeza de arroios e córregos. A Secretaria Municipal de Obras Viárias e Serviços Urbanos realizou a drenagem e a restauração das principais tubulações que levam todo esgotamento da cidade para o Arroio Sapucaia e para o Rio dos Sinos. Programas como Cidade Limpa e o Esteio Superando

as Enchentes foram criados para a prevenção de alagamentos. Eles trabalham na limpeza nos Arroios entre a BR-116 e BR-448 e nas bocas de lobo. O apoio imediato é executado pela Defesa Civil, que atende os afetados e atua com a União para a entrega dos documentos que devem ser recolhidos para o saque do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS. O coordenador da Defesa Civil de Esteio, Luiz Bastos, explica que no Estado apenas cinco cidades

conseguiram liberar o FGTS para a população. “Aqui em Esteio nos três primeiros eventos foi liberado, porque os documentos estavam certos”, afirma. Mesmo com as limpezas os moradores ainda demostram insegurança em relação às chuvas, pois o serviço nas canalizações dos esgotos é feito; porém, quando a chuva chega até a BR-116 não há escoamento, por conta da construção da BR-448 e a água acaba voltando para a cidade, somente baixando o nível horas depois.


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Povo curdo instala comitê no Estado Divulgação da revolução de Rojava, ameaçada em várias frentes, é o foco inicial da organização

GABRIELA FÉRES / JORNALISMO B

Igor Mallmann

U

ma ideia gestada no Ateneu Libertário A Batalha da Várzea culminou, no final de abril, com a criação de um comitê de solidariedade ao povo do Curdistão em Porto Alegre. O objetivo inicial é divulgar e propagar a simpatia à revolução social protagonizada em Rojava, no norte da Síria, processo ausente no discurso da mídia tradicional. A população da etnia curda da região enfrenta o Estado Islâmico, além de sofrer antagonismo de Turquia e potências ocidentais. “Grande parte da esquerda internacional saudou a eleição do Syriza na Grécia, mas vem ignorando o processo de Rojava. Quanto tempo mais vamos ficar esperando até que os curdos sejam massacrados?”, advertiu Lorena Castillo, militante do Ateneu Libertário. De início, o comitê focará em campanhas de disseminação dos fatos da revolução e tradução de material. As reuniões ocorrerão periodicamente no Clube de Cultura de Porto Alegre, junto à sede do Ateneu. A intenção é atrair a adesão de sindicatos e movimentos de esquerda. O professor de Relações Internacionais e analista político Bruno Lima Rocha explica que o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), no qual se ba-

O protagonismo feminino na revolução de Rojava foi tema dos debates no lançamento do comitê

seia a luta de libertação curda, é classificado como terrorista pelos Estados Unidos. Isso explicita os riscos que corre a autonomia de Rojava, sob embargo comercial e hostilizada continuamente pela Turquia. “A luta é justa e é muito importante informar a população. Do caos, os curdos estão construindo um novo modelo de sociedade.”, avaliou. Em Rojava, está sendo implementado o chamado Confederalismo Democrático, cujos princípios incluem democracia de base, ecologia, economia cooperativa e protagonismo feminino – algo notável no contexto de opressão de gênero do Oriente Médio.

Gramado inova com projeto social de piano Andriele Brito

O Projeto Piano Para Todos ocorre em Gramado e é uma parceria da Secretaria de Cultura com o professor Guilherme Dartagnan. A ação tem como objetivo a inclusão social por meio da possibilidade de todos estudarem piano contando com mensalidades acessíveis e aulas em turmas. O curso tem três módulos de durabilidade de um ano cada. As aulas ocorrem uma vez por semana, com duração de 45 minutos. As turmas têm no máximo cin-

co pessoas. Atualmente, o projeto já conta com quatro turmas que totalizam 14 alunos. O método elaborado pelo professor Dartagnan é resultado de 12 anos de experiência musical, quatro anos de dedicação a aulas de piano e teclado acompanhados de inovação e com base na maioria das escolas internacionais atribuídos a paixão do professor e ao respeito com personalidades dos alunos. “Há a quebra do cotidiano, o cérebro começa a trabalhar áreas diferente, os níveis de estresse diminuem, os alunos tocam o

Esta experiência foi possível a partir da expulsão das forças governamentais sírias, com o advento da guerra civil no país. “A luta contra o capitalismo e o imperialismo não é apenas uma luta contra os Estados por meio da arte militar. Nossa luta foi e é contra a mentalidade patriarca e sexista. A mentalidade do Estado surge a partir destes aspectos. Assim, o paradigma da libertação das mulheres foi fundamental para o movimento curdo”, comentou Melike Yasar, representante internacional do Movimento das Mulheres Curdas, que esteve presente no lançamento do comitê em Porto Alegre.

que gostam as mudanças são visíveis, ocorrem transformações em todas as aulas”, conta o professor Guilherme Dartagnan. O piano popular contribui para a liberdade do aluno de buscar livremente sua própria forma de expressão. As aulas ocorrem no Centro Municipal de Cultura de Gramado, localizado ao lado do lago Joaquina Rita Bier. Alunos de todas as idades são aceitos no projeto. As inscrições para as aulas estão abertas e podem ser feitas pelo fone: (54)9631-3221. O valor da mensalidade é de R$79,00.

Falta atenção aos deficientes Lucas Serão

Em São Leopoldo, alguns professores do colégio São Luís dizem que a estrutura do local está de acordo para receber alunos com necessidades especiais. Entretanto, na legislação deixa a desejar. Mirian Obach, profissional do ensino que trabalha diariamente com as crianças diz que medidas precisam ser tomadas em relação à legislação e ao corpo docente das escolas. “Na verdade, toda uma legislação precisa mudar, e também é necessário que na sala de aula tenha um professor auxiliar e um suporte no contra turno. Caso a escola não ofereça, é recomendável que a pessoa vá se afiliar a uma

instituição especifica nestes assuntos, como uma APAE, que é oferecido todo esse suporte juntamente com psicopedagogos, psicólogos, nutricionistas e fisioterapeutas”. Para Liane, psicopedagoga de um aluno do colégio, “muita coisa deveria mudar, porque hoje o ensino está muito ultrapassado, está estagnado. Então, este olhar que nós temos sobre as diferenças precisa entrar nas escolas, pois como é que um aluno vai aprender, sendo que ele não tem um suporte para isso?” Dentro da sala de aula, o aluno que possui alguma deficiência vai encontrar alguma dificuldade para aprender, não só pelo problema em si, mas também pela legislação que está estagnada.

Moda do desapego invade Porto Alegre Mariana Aveline

A moda dos brechós vem se consolidando na Capital. Há três anos, um projeto em particular tem chamado a atenção: o Brick de Desapegos. Organizado por Natália Guasso e Sara Cadore Luz, o evento está incluído na agenda de Porto Alegre. A ideia consiste em distribuir araras com roupas usadas, mas bem selecionadas, disponíveis para compra, além de espaços para trocas de roupas, como o Balaio Free, música e comidinhas especiais. Neste ano, o projeto conta com uma nova atração, uma arara especial, na

qual personalidades conhecidas pelo seu bom gosto e estilo fashion - como Rodaika (apresentadora da RBS TV) e Pati Leivas (produtora de eventos), ambas conhecidas como it girl - expõem peças do próprio guarda-roupa e as disponibilizam para compra por um preço acessível. Quem se interessar pode conferir a página do Facebook Brick de Desapegos ou mandar e-mail para brickdedesapegos10@ gmail.com.br se quiser participar como expositor em alguma de suas edições. O evento ocorre uma vez por mês, no Bar Ocidente (Avenida Osvaldo Aranha, 960/1) e tem entrada franca.

Gravataí ganha feira de adoção Eduarda da Silva Luzia

Gravataí agora tem a própria feira de adoção de animais. A ação da Fundação Municipal do Meio Ambiente (FMMA) junto ao Canil Municipal, que ocorre desde o começo do mês de abril e tem como objetivo dar um lar aos animais desabrigados. O canil, que hoje tem mais de 300 cães, possui boa estrutura, porém fica em uma região de difícil acesso. Cláudia Costa, diretora da FMMA,

conta que este foi o principal motivo para a realização da feira. “Levar os animais até o centro da cidade resultou em um grande número de adoções, devido as pessoas que não podiam ir até o canil.” A feira ocorre todas as quartas-feiras, na Pça.Borges de Medeiros, centro de Gravataí, das 10h às 16h. O canil fica localizado na Estrada Leonel Cabeleira Bitello, 217, no bairro Costa do Ipiranga. Outras informações pelo telefone 3486-0229 e pela página do Facebook – Canil Municipal de Gravataí.


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A sentença que procura educar Medidas socioeducativas abrem portas para menores infratores em Novo Hamburgo Laura Pavessi

N

o bairro Canudos, em Novo Hamburgo, no loteamento Marisol, atrás de portões, cadeados e muros, vivem 133 meninos. É nesse lugar que eles passam os dias. Vão à escola, se alimentam, se divertem como quaisquer outros adolescentes. A diferença é que eles são menores infratores sentenciados a cumprir medidas socioeducativas e o local que os abriga é oCentro deAtendimento Socioeducativo (Case). Um dos jovens que vive no local é Pedro*, 19 anos. Tímido, ele conta que chegou há um ano e sete meses. Lá fora não frequentava mais a escola. Quando retomou os estudos na Escola Estadual de Ensino Médio Bento Gonçalves, situada dentro do Case, ele estava no 5º ano do Ensino Fundamental. Hoje, Pedro parece orgulhoso em dizer que já chegou ao 1º ano do Ensino Médio e concluiu dois cursos, entre eles o de logística e o de estofador. Sobre o futuro, ele diz que não sabe como que vai ser lá fora. “Mas quando sair daqui eu quero continuar estudando e arrumar um emprego”, conta. Além de salas de aula que comportam no máximo 10 alunos por turma, a Bento Gonçalves dispõe de biblioteca e laboratório de informática. Segundo a diretora da escola, Rosana Chinazzo, a evasão desses jovens se dá pelo modelo ultrapassado de escola que segue vigente e que desconsidera a realidade de seus alunos. “Nosso empenho e determinação é no sentido de não reproduzir este modelo, de construir uma proposta pedagógica diferente, baseada naquilo que temos aqui. Por isso fazemos reuniões pedagógicas a cada semana, para discutirmos juntos todas as possibilidades”, destaca.

A rotina dos internos consiste em aulas em um turno e cursos no outro e, à noite, atividades envolvendo o lazer. Eles também passam uma hora, diariamente, no pátio da instituição, em atividade de livre escolha. Espalhados por todo o local estão graffiti, pinturas e objetos confeccionados pelos adolescentes. “SINTO FALTA DA MINHA MÃE” Quando perguntado sobre o que sente mais falta, sem pensar duas vezes, Pedro respondeu “da minha mãe. Sinto falta da minha mãe”. Para Carla Monteiro, diretora do Case de Novo Hamburgo, essa é uma das consequências da internação. Ela garante que é preciso envolver toda a família em um esforço conjunto para a recuperação dos adolescentes. “A gente promove várias ações enquanto eles estão aqui, mas temos que pensar também no que vai estar aguardando eles quando saírem”, diz. Segundo ela, enquanto cumprem sentença muitos internos acabam se reaproximando da família, principalmente das mães, uma vez que elas se tornam o vínculo deles com o mundo externo.

A gente promove várias ações enquanto eles estão aqui, mas temos que pensar também no que vai estar aguardando eles quando saírem” CARLA MONTEIRO, diretora do Case Novo Hamburgo

Diversos projetos da Escola Bento Gonçalves também buscam essa aproximação. Nas quartas-feiras, quando ocorre o horário semanal de visitas, os familiares assistem vídeos das atividades escolares, exposições de trabalhos e apresentações artísticas dos internos. A escola também organiza o projeto “Sábados da Família”, com palestras, almoço e outras atividades de interação. (*) Nome fictício para preservar a identidade do entrevistado

A polêmica da redução da maioridade penal Hoje, no Brasil, a maioridade penal é atingida aos 18 anos. Entretanto, voltou a ser assunto nos últimos meses a PEC 171/93, que propõe que a idade seja reduzida para os 16 anos. Se essa já fosse a lei vigente, Pedro não teria sido julgado perante a Vara da Infância e Juventude, mas teria sido preso e sentenciado como um adulto. Pesquisa do Datafolha realizada em abril deste ano revelou que 87% dos brasileiros querem a redução, com apenas 11% se mostrando contrários. Entre os favoráveis, 74% a apoiam para qualquer tipo de crime. Segundo o Unicef, 90% dos crimes cometidos por adolescentes no Brasil são roubos e outros atentados à propriedade. Os dados da pesquisa ainda revelaram que a

maior taxa de reprovação à proposta é observada entre os grupos mais escolarizados (23%) e mais ricos (25%), o que indica a necessidade de desmitificação do assunto entre a população mais simples. Para o professor do curso de Direito da Unisinos, André Luis Callegari, as medidas aplicadas hoje ainda não são suficientes, mas tampouco são as penas privativas de liberdade que deveriam ressocializar o criminoso adulto. “Se impuséssemos pena aos maiores de 16 anos, na prática, só haveria uma transferência do local de cumprimento da medida imposta. O que precisamos é de investimento e acompanhamento dessas pessoas quando saem para que possam efetivamente ter a chance de uma reintegração social”, declara.

DÉBORA ROSA

AMBIENTE E ROTINA O Case de Novo Hamburgo é uma das duas unidades que recebem menores infratores no Estado e que correspondem ao padrão do Sistema Nacional de Socioatendimento (Sinase) no quesito estrutura. Inaugurado em 2004, o local atende 35 municípios e possui capacidade para 60 internos. Junto às alas que compõem o complexo, estão quadras de esporte, pátio, auditório, setor de saúde, entre outros.

Pedro*, evadido da escola antes de ir para a Case, conta que pretende continuar estudando quando voltar para casa


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RAFAEL CARDOSO

Meus gatos são praticamente os donos da casa, tanto é que minha mãe costuma dizer “Filho, vem cá!”, e eu não sei dizer se é comigo ou com o Lord Salazar” LUIZ BARBOZA, estudante de Ciências Biológicas

Exposições de filhotes são constantes em Estância Velha

Grandes cidades e gatos domésticos Muito dócil e de fácil adaptação, o gato doméstico costuma cativar os humanos Milena Riboli

A

o se pensar a respeito de quais são os animais domésticos mais comuns, é provável que a maioria responda que são o cão e o gato, respectivamente nesta ordem. O que pode ser novidade, no entanto, é a atual popularização do gato, que, estima-se, ultrapassará a quantidade de cães até 2020 aqui no Brasil. E o fator que torna a informação ainda mais surpreendente é que um animal que já foi tão marginalizado e perseguido esteja se firmando de vez em nossas vidas e rotinas. O que contribui para que o gato se torne cada vez mais o “animal do momento” é o fato de ser de fácil adaptação, muito independente. O homem cada vez mais vive nas chamadas “residências verticais”, os apartamentos em meio a grandes cidades. Por não precisarem de grandes espaços para se sentirem confortáveis, correr ou caminhar, os felinos de pequeno porte se sentem bem nestes locais. Muito organizados, eles têm lugar próprio para fazer suas necessidades, além de não precisarem tomar banho como os cães, uma vez que o gato está constantemente se limpando com a língua. “Eu sou suspeito pra falar, porque gosto muito de cachorro e gato. Mas posso dizer que me encaixo mais na categoria dos gatos, porque é um animal muito independente e fácil de cuidar. Não sei se é possível que aqui no país, algum dia, existam mais gatos do que

cães. Ainda vejo muita gente sendo preconceituosa com os gatos, tratando mal. Meus gatos são praticamente os donos da casa, tanto é que minha mãe costuma dizer “Filho, vem cá!”, e eu não sei dizer se é comigo ou com o Lord Salazar”, brinca Luiz Barboza, estudante de Ciência Biológicas apaixonado por gatos, dono de três felinos. Alice Brondani, estudante de Publicidade e Propaganda, reforça a ideia: “São como meus filhos, trato com o maior carinho. Cuido da saúde, da higiene, do ambiente onde eles vivem. Castrei todos os meus gatos com cerca de 5 meses de idade cada, porque acho que essa é a única maneira de podermos reduzir a quantidade de animais abandonados que vivem nas ruas, sofrendo maus tratos de todo o tipo.” Apesar de tudo, gatos são animais que inspiram cuidados. Carolina Sant’Anna já passou por algumas dificuldades com sua gata, que já contraiu câncer de pele e teve parte de seu rabo amputado. “Por ser branca, ela é mais propensa ao câncer. Felizmente a gente conseguiu tratar em tempo e da maneira certa, mas foi difícil. Junto com isso, ela acabou contraindo uma gripe forte e ficou cega do olho esquerdo”, explica ela. O caso de Gabriele Hilgert Rasche é um pouco diferente. Após 11 anos de convivência com um gato, ele faleceu em maio. “Morte natural, é o que suspeitamos que tenha sido. Ele era um gato forte, ativo. Por enquanto não quero outro, mas quando eu estiver bem com certeza vou querer mais um, não consigo ficar longe de gato.”

Vale dos Sinos recebe exposição de gatos Ocorreu nos dias 18 e 19 de abril a 4ª Exposição Internacional de Gatos realizada pela União dos Criadores de Gatos do Brasil, a Unigat-BR, em parceria com a Premier, patrocinadora do evento. Atraindo cerca de 1000 pessoas de distintas cidades aqui do estado e do país, a mostra contou com 35 expositores e mais de 80 gatos foram inscritos. A visitação ocorreu das 10h às 19h, com entrada franca, no espaço “Realize Festas e Eventos”, em Estância Velha – RS. Contando com 3 juízes, sendo um norte-americano, um brasileiro e um argentino, a exposição elegeu os mais belos gatos de raça nas categorias adulto, filhote e castrado, além de gatos SRD (que não possuem raça definida), estes nas categorias adulto e filhote. As competições

vencidas por estes gatos somam pontos no ranking de classificação da Associação Internacional de Gatos (TICA). Os eventos ocorrem desde abril de 2014, data da primeira exposição, que aconteceu em São Leopoldo. A segunda e terceira edições ocorreram em Porto Alegre, em agosto e outubro do mesmo ano, respectivamente. A próxima edição está prevista para o final de agosto de 2015. Segundo Juliana Batista, veterinária e uma das organizadoras do evento, os locais que possuem mais público estão nesta região do Vale dos Sinos, e por este motivo a ideia é realizar a mostra com mais frequência por aqui. Todas as informações sobre os eventos podem ser encontradas no site da instituição, www.unigat.com.br.


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GLAUCIA DAMAZIO

As pessoas conversam menos, se encontram menos, se olham menos, abrindo espaço para doenças como a depressão” FLAVIA MEDEIROS, psicóloga

A meditação purifica os veículos da consciência, possibilitando equilíbrio do corpo físico e controle da mente

Feche os olhos e abra a mente

Estudo comprova que meditação pode auxiliar no tratamento de insônia, depressão e ansiedade Glaucia damazio

A

linhe o corpo confortavelmente. Relaxe as pernas, os braços e a face. Respire fundo. Quais são os sentimentos que te atravessam? Apenas observe-os. Mantenha a respiração lenta e profunda. Agora escute os pensamentos. Deixe-os passar, como se fossem feitos de água, caindo de uma cascata. Não se ligue a eles. Apenas sinta o agora, o teu corpo, a tua mente. Viva a essência. PRONTO, VOCÊ ESTÁ MEDITANDO

A prática milenar vinda do Oriente promete uma mudança na vida, reaproximando o ser humano da própria natureza. Além da busca pelo autoconhecimento, a meditação é alternativa para melhorar a qualidade de vida. Recente estudo feito pela Universidade Federal de São Paulo comprovou que a meditação reduz os sintomas de ansiedade e depressão. A Unifesp também concluiu em diferente pesquisa que 75% das mulheres acompanhadas pelo estudo e sofriam de insônia, conseguiram parar com a medicação sem qualquer efeito negativo.

“O mundo contemporâneo nos trouxe grandes avanços em tecnologia, mas também vieram consequências para as doenças físicas e psíquicas. As pessoas conversam menos, se encontram menos, se olham menos, abrindo espaço para doenças como a depressão. É preciso parar, esvaziar a mente, energizar”, explicou a psicóloga do Centro de Atendimento e Estudos em Psicologia Flavia de Medeiros. “A cura da vida é a vida”. Assim, o especialista em Psicologia Oriental Gerson Jung define o remédio para todos os males. “A meditação nos dá autonomia para reequilibrar o ser, neurologicamente, fisiologicamente, por todos os sistemas, para melhorar as suas relações e seus potenciais. Através dela, paramos o processo mental para acalmar o corpo, as emoções e os pensamentos e, então, agirmos na raiz do problema, que não é simbólica, mas energética”, pontuou Jung. SÓ ACREDITO VENDO A educadora física e instrutora de ioga Ana Melo explica: “O estado de repouso físico e mental, aliado às práticas respiratórias, equilibra o sistema nervoso autônomo e interfere

na produção de hormônios do bem-estar, como endorfinas e serotoninas”. No dia a dia, estamos expostos a uma rotina de estresse, o que aumenta a produção substâncias como adrenalinas e cortisol, além de acelerar o batimento cardíaco, dificultando a digestão e eliminando menos toxinas. Segundo Ana, doenças como glaucoma, hipertensão, diabetes e cardiopatias poderiam ser prevenidas com maior equilíbrio do sistema nervoso autônomo, ou seja, por meio de atividades de calma e relaxamento. Marilaine Matos descobriu a meditação a partir da sugestão de uma psicóloga. Desde 2008, quando foi diagnosticada com Síndrome do Pânico, experimentou diversos tratamentos à base de medicação. “Durante um tempo, o sintoma passa, mas depois que o remédio para, volta tudo”, revelou. Hoje, a analista de RH sorri com tranquilidade ao contar que as colegas de trabalho reconhecem duas pessoas distintas: uma antes e outra depois das práticas. “Eu era irritada e explosiva. Brigava por pouco e passava mal depois. Agora, o meu dia é tranquilo. Quando preciso, lembro dos àsanas (posturas), dos pranayamas (respiração) e da meditação, onde tudo flui com equilíbrio.”

Saída para os superativos Quem procura a meditação em centros especializados, frequentemente se depara com grupos de ioga na porta ao lado. Isto porque as duas técnicas são quase inseparáveis. “Tratar meditação e ioga separadamente é como ver no homem um ser à parte da natureza que o cerca”, assegura a instrutora Rose Maria Ferreira. Praticante há dez anos e professora há três, Rose explica que tanto na meditação quanto na ioga, o objetivo principal é o equilíbrio de corpo, mente e espírito. “É uma busca pelo despertar da sabedoria interior para chegar à união com a essência divina. A meditação é o primeiro passo desta jornada, pois sem o controle da mente (pensamentos, medos, ansiedades), não estabelecemos o contato com o que realmente somos”. São muitos os tipos de meditação. Entre as téc-

nicas transcendentais e silenciosas, uma alternativa para o mundo ocidental são as meditações ativas. “O homem moderno é neurótico, com excesso de energia, de preocupações e desconexão da sua essência. Para ele, é muito difícil apenas sentar em silêncio”, explica a terapeuta Pavita Machado, que há 23 anos utiliza os ensinamentos do filósofo indiano Osho em seus atendimentos. Nesta modalidade, os primeiros estágios são de liberação de energia através de movimentos e expressões sentimentais para que haja, então, o encontro com o eu interior. “É preciso reservar aquele espaço onde você não tem que ser a mãe, a esposa, a profissional, nem a mulher, mas simplesmente um ser humano em contato com a sua energia mais essencial”, sugere.


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meio ambiente 19

Limpeza de rio e arroios evita cheias

A cada faxina são retirados objetos como sofás,colchões, bicicletas, animais mortos, roupas, garrafas PET e sacolas MARCELO SCHNEIDER / SEMAE

Daniela Caroline Tremarin

C

om a época das chuvas se aproximando na Região Sul do país, a apreensão com alagamentos e cheias do Rio dos Sinos aumenta na população e autoridades leopoldenses. O Serviço Municipal de Água e Esgoto (Semae) realiza a limpeza diária das cinco casas de bomba da cidade para tentar amenizar a situação do acúmulo de lixo, mas só isso não é suficiente. A assessora de impressa do Semae, Carla Dal-Ri, afirma que “em um único trabalho de limpeza, após fortes chuvas, já foram recolhidos mais de cinco toneladas de lixo, apenas da casa de bombas do arroio da João Corrêa”. Além da limpeza das bombas, foi instalado um mangote (tipo de mangueira) para a contenção dos resíduos no arroio. “A cada 15 dias executamos a limpeza do mangote, quando se retira cerca de uma tonelada de lixo. Tudo é levado para o aterro municipal”, explica Dal-Ri. Entre os objetos recolhidos encontram-se desde sofás, bicicletas, animais mortos, roupas até garrafas PET, sacolas, colchões. O descarte em locais inapropriados prejudica o sistema de drenagem urbana, causando alagamentos e inundações. “As ruas alagam quando a água da chuva não

Menos esgoto na Lagoa do Armazém Débora Moreira de Andrade

Manutenção periódica das casas de bomba é fundamental para evitar que águas invadam bairros, ruas e avenidas

escoa livremente devido ao acumulado de lixo nos bueiros e a inundação urbana ocorre quando há o transbordo de água dos arroios – que pode ser causada tanto pelo excesso de chuvas, quanto pela obstrução do canal com descarte de aterros, colchões e outros objetos”, ressalta o coordenador da Defesa Civil de São Leopoldo, Diogo Arns. Os cidadãos devem agir em conjunto com a prefeitura e o Semae no cuidado diário do despejo de dejetos. A falta de conscientização sobre atitudes básicas, como manter telhados e canaletas limpas, não jogar em terrenos baldios lixo, resto de materiais de construção, móveis,

madeiras ou qualquer outro tipo de resíduo que impeça o curso do rio são ações que devem ser aplicadas no dia a dia, ensina Arns. A preocupação dele é evitar que calamidades como as cheias de 2013, quando o Rio dos Sinos atingiu o nível histórico de 6,70 metros acima do seu nível normal, aconteçam no futuro. O Semae realiza trabalho de conscientização com a população através de folhetos e informativos, além do Projeto de Educação Ambiental Capileco, realizado nas escolas do município. O projeto promove o debate sobre o impacto ambiental causado pelo descarte irregular do lixo.

Moradores do bairro Scharlau reclamam de descaso do Semae Juliane Keroll Chaves

Moradores das ruas Catulo Cearense e Bocaneira, no bairro Scharlau, de São Leopoldo, reclamam há ano e meio da condição da água que recebem em suas casas, de péssima condições de potabilidade, trazendo riscos à saúde e prejudicando o uso de equipamentos domésticos. Julia Lampert, moradora da Catulo há mais de 20 anos, está “cansada de reclamar e trocar chuveiro por causa

da água”. Logo depois das reclamações, funcionários do Serviço Municipal de Água e Esgoto de São Leopoldo (Semae) coletaram uma quantidade de água no local. Mas o atendimento não passou disso, observou Julia. Outra moradora dessa mesma rua, Munique Chaves, também tem reclamado da sujeira presente na água, que sai muitas vezes turvas dos canos. Agente do Semae, que não se identificou, limitou-se a explicar que a água, depois de receber tratamento, for-

ma o manganês, um componente químico que deixa-a nessas condições. Vazamento aflorou há mais de quatro meses em residência da Rua Bocaneira. Moradora há mais de 20 anos, Tania Martins relatou que o Semae arrumou canos de água na esquina da Bocaneira com a Catulo, porém deixou-as praticamente intransitáveis por causa dos buracos. O marido de Tania chegou a telefonar para o Semae, para a prefeitura, mas apenas recebeu promessas de resolução.

Obra de ampliação da rede de esgoto em Tramandaí auxiliará na melhoria das águas da Lagoa do Armazém. Iniciada em 2014, com previsão do término em 2016, a infraestrutura pretende ampliar a cobertura do tratamento de esgoto da cidade em 50%. Atualmente, somente 19% do esgoto produzidos na cidade são tratados. A ampliação da rede consumirá 39,3 milhões de reais, informou a assessoria de imprensa da Corsan. Os recursos são provenientes da própria Corsan e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC II), do Governo Federal. Os bairros Recanto da Lagoa e Tirolesa serão os maiores beneficiados, uma vez que situam-se próximos à Lagoa do Armazém - habitat de peixes e frutos do mar, como bagre e camarão. Os dois bairros recebem mais de 80% do esgoto domiciliar.

Em Tramandaí, parte do esgoto domiciliar é escoado através de fossas negras ou rudimentares, que funcionam como uma espécie de filtro dos resíduos sólidos, em que a parte líquida é absorvida pela areia. Esse método acaba por contaminar os afluentes da lagoa, poluindo-a. Para agravar a situação, algumas residências descartam o esgoto diretamente na lagoa sem nenhum tipo de tratamento. Nos meses do verão esse quadro fica dramático, uma vez que o município, de 41,5 mil habitantes, quintuplica a população com a afluência de veranistas. Nessa época, a lagoa exala, muitas vezes, odores insuportáveis. Morador há cinco anos do bairro Tirolesa, Daniel Almeida disse que essa obra é muito importante para a Lagoa do Armazém, já que o esgoto das casas não irá mais contaminar as águas. “Quem sabe assim a lagoa deixará de ser poluída e o cheiro ruim que vem dela diminua”, comentou.

Estância Velha realiza análise da água de arroio Stephany Foscarini

A Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Preservação Ecológica (Semape) de Estância Velha e o Centro Tecnológico do Couro (Senai) realizam diariamente o monitoramento do arroio que corta a cidade. A coleta levanta a qualidade química e física da água, explicou a bióloga e professora, Karen Ost. Da nascente do arroio até o limite com o município de Portão são 35 pontos de coleta. As análises são feitas no local, além dos exames laboratoriais. Segundo Karen, o projeto de monitoramento das águas, em especial do arroio Estância Ve-

lha/Portão, é necessário por causa do quadro crítico em que se encontra. Houve época em que recebia efluentes da indústria coureira, lembrou a professora. As análises realizadas pela Semape seguem os parâmetros estabelecidos em lei. Alguns resultados saem na hora da coleta, como a turbidez (relacionada à potabilidade). Outros vêm pelo laboratório, como o nível de oxigênio presente na água. Esse é um dos principais índices coletados, pois indica as condições da água como habitat de seres vivos. “Popularmente é um arroio morto, pois as águas possuem tanta baixa de oxigênio que seria impossível um peixe viver ali”, comentou a bióloga.


20 meio ambiente

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Um programa de todos por todos Arthur Isoppo

T

er uma cidade bonita, limpa e organizada foi o sonho que motivou a professora de língua portuguesa aposentada e hoje primeira-dama do município de Osório, Soraia Abrahão, a idealizar um programa de conscientização e sensibilização aos problemas ambientais. Conhecido por muitos como um ponto de passagem entre a Capital e o Litoral, Osório tem cerca de 42 mil habitantes e oferece uma variedade de belezas naturais. Localizada na encosta da Mata Atlântica, a cidade é circulada por inúmeras lagoas e possuí área marítima nos balneários de Atlântida Sul e Mariápolis. Diante de tantos recursos da natureza, o município sempre demonstrou preocupação com questões ambientais. A administração pública mantém iniciativas visando a conservação do meio ambiente e a limpeza da cidade, como a capina e a limpeza permanente das ruas e os serviços de Coleta Regular e Coleta Seletiva do lixo. Porém, antes do projeto as pessoas permaneciam depositando lixo em locais inadequados. Foi então que, vendo a necessidade de implementar um projeto de conscientização da população para o descarte correto do lixo, surgiu o programa “Jogue Limpo com Osório – seu lixo tem destino certo”. Segundo Soraia, muitas ações e iniciativas já foram tomadas por parte do poder público em outros tempos, e os resultados não foram os esperados. Era necessário, em sua opinião, que fosse diferente. O programa necessitaria da participação de diversos atores da sociedade, desde professores, comerciantes e líderes comunitários até o cidadão comum. “O poder público, trabalhando sozinho, nunca conseguiu mudar a visão da população, precisávamos que o programa tivesse uma abordagem diferente para fazer com que as pessoas passassem a rever seus hábitos”, disse. Foi neste contexto que o programa “Jogue Limpo com Osório - seu lixo tem destino certo” foi idealizado e implementado pela administração municipal em dezembro de 2013 pelo atual prefeito, Eduardo Aluísio Cardoso Abrahão. O plano visava à mudança compor-

FOTOS PAMELLA GERMANN

Osório aposta na coletividade para promover projeto de reeducação ambiental

A realização de oficinas e workshops fazem parte do trabalho de conscientização que é feito junto à comunidade

tamental das ações referentes ao uso dos espaços públicos, na relação cidadão-meio ambiente, a partir da mobilização da própria população, sendo o esforço coletivo, o marco do projeto. PARCEIROS O programa “Jogue Limpo com Osório” passou a ganhar forças à medida em que a comunidade osoriense se comprometeu com a causa. Através da participação direta de entidades municipais e de cidadãos voluntários. Esse esforço coletivo, acredita Soraia, deverá ultrapassar mandatos e permanecer ativo após o governo de Abrahão.

“Esse programa não é meu, não é de partido, nem do governo, ele é um programa da cidade. A gente sabe que no momento em que terminar o governo atual, o próximo, independente de questões partidárias, certamente terá um compromisso com a comunidade de manter o projeto e os serviços que acabaram se agregando a ele em funcionamento”, disse. AÇÕES Uma das principais conquistas do “Jogue Limpo com Osório” nos quase dois anos, foi dar visibilidade para alguns mecanismos e serviços que a

Esse programa não é meu, não é de partido, nem do governo, ele é um programa da cidade” SORAIA ABRAHÃO, Idealizadora do plano

Um sonho que se tornou realidade “Sempre foi costume de minha família passear de carro pelas ruas de Osório nos finais de semana, olhar como estava a cidade e poder vê-la limpa e organizada. Porém, a situação da colocação do lixo em locais inadequados nos

incomodava muito, e impedia este sonho”, comentou a primeira-dama. Soraia conta que reconheceu na eleição do esposo como prefeito da cidade uma oportunidade de unir sua ligação às questões da

educação para contribuir com um trabalho no sentido de conscientização e reeducação ambiental. Inicialmente, o projeto consistia em eleger alguns locais que fossem considerados mais problemáticos,

cidade já oferecia, mas que não eram usados de forma adequada. O trabalho de divulgação foi realizado a partir de eventos, palestras, reuniões e fóruns. Para atingir também o público mais jovem, foram realizados teatros e oficinas de conscientização que já somam a participação de cerca de mil alunos da rede municipal. “Tivemos a preocupação de mostrar que a cidade já prestava alguns serviços à comunidade, como a coleta seletiva, a coleta do lixo orgânico, e uma Central de Transbordo construída, que as pessoas não conheciam, ou grande parte da população, pelo menos, não tinha conhecimento”, disse Soraia.

e então promover atividades juntos às escolas municipais. Com o surgimento de novas ideias, e o engajamento de diversas entidades o pequeno projeto acabou ganhando em proporções e se tornando um programa.


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Frota cresce mais que a população

Bicicletas públicas aliviam trânsito na capital gaúcha Brenda Fernández

Número de habitantes de Porto Alegre aumentou 3,80% em dez anos; quantidade de carros subiu 49,67% JOÃO ROSA

João Rosa

A

frota de veículos na capital gaúcha aumentou 49,67% de 2004 a 2014, saltando de 491.914 para 778.493 unidades, conforme dados divulgados pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC). Quase no mesmo período, entre 2002 e 2012, a população da cidade cresceu apenas 3,8% – de 1.360.590 para 1.409.350 habitantes. Ou seja, o crescimento da frota de veículos é cerca de cinco vezes maior do que o de habitantes. A EPTC busca medidas para diminuir esses números que tendem a crescer cada vez mais. Segundo Daniel Oliveira, gerente de monitoramento e mobilidade urbana, a ideia vem através da educação de trânsito. - Temos que fazer o porto-alegrense ir para o trabalho ou faculdade de transporte público. Sabemos que isso soa ruim aos ouvidos dos motoristas que estão acostumados a ir para suas empresas de carro, mas a reeducação pode ser uma boa alternativa, disse. A preocupação da EPTC também diz respeito ao número de acidentes. Júlio César Moreira de Almeida, responsável pela equipe de educação da EPTC, reforçou que a disciplina de trânsito para evitar acidentes vem de casa e passa pelas escolas e empresas.

Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) busca medidas para diminuir índices que tendem a aumentar

- Procuramos estabelecer a educação através de ações realizadas pela EPTC, estreitar o assunto entre crianças, jovens, adultos e idosos para que tenhamos uma sociedade melhor daqui para frente, afirmou. Além de buscar soluções para o tráfego na cidade, a empresa abriu inscrições para o 8º Prêmio EPTC de Educação para o Trânsito, que poderão ser feitas até 17 de agosto, na Av. Erico Verissimo, 100, em Porto Alegre. O evento tem o objetivo de incentivar iniciativas para uma circulação mais segura no município com menos acidentalidade.

Outro fator relevante é o índice de acidentes na capital que, neste ano, teve uma queda de 5% em relação a janeiro a abril do ano passado. O número de vítimas fatais também diminuiu em relação aos meses iniciais de 2014. No período, foram constatadas 35 ocorrências com óbitos e nos últimos quatro meses deste ano ocorreram 27 mortes de trânsito em Porto Alegre. Segundo a empresa que desde 1998 monitora o fluxo da cidade, o dia da semana em que acontecem mais acidentes é na sexta-feira. Já a principal faixa de horário que ocorrem mais contingências é entre 7h e 8h da manhã.

Esteio e Montenegro adotam semáforos para organizar fluxo Denis Machado Michelle Oliveira

O semáforo é uma das soluções encontradas pelas autoridades de trânsito para resolver problemas nas vias públicas. Os municípios de Esteio e de Montenegro são exemplos de localidades em que a instalação dos equipamentos mostrou-se uma alternativa para a organização do tráfego. Desde abril, dois importantes cruzamentos de Esteio estão sendo controlados por semáforos. As esquinas da Rua Rio Grande com a

Avenida Padre Claret e da Rua 24 de Agosto com a Fernando Ferrari, consideradas problemáticas pelos moradores, receberam a melhoria. A implantação, feita pela Secretaria Municipal de Segurança e Mobilidade Urbana (SMSMU), custou cerca de 360 mil reais. Dieison Vedoy, que passa diariamente pelas movimentadas ruas de Esteio, entende que os semáforos foram uma ótima iniciativa. “A esquina da Claret com a Rio Grande estava muito problemática, principalmente quando se tentava atravessar a avenida”,

trânsito 21

contou ele. Já em Montenegro, a instalação está prevista para julho. O município é cortado pela RSC 287 e o local é palco para muitos acidentes pelo grande movimento de veículos e pedestres atravessando de um lado ao outro em meio ao tráfego da rodovia. Os cruzamentos da RS com as Ruas Heitor Müller e Cel. Antônio Inácio receberão os equipamentos, que custarão 68 mil reais. O responsável pela implantação dos semáforos é o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem.

Porto Alegre é a cidade brasileira que conta com a maior ocupação de bikes em número de viagens, segundo dados da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC). O sistema BikePoa atende a necessidade de locomoção da população que recorre a esse meio de transporte e alivia os índices de poluição. O projeto é da prefeitura de Porto Alegre em parceria com as empresas Itaú e Serttel. Ao todo, são 400 bicicletas públicas disponíveis em 40 pontos turísticos, de cultura, polos de atratividade, universidades, além de estações do

transporte urbano. Os usuários podem se cadastrar no site do BikePoa, via aplicativos para smartphone (IPhone e Android) ou por celular convencional, através do portal de voz, ligando para o fone (51) 4003.6052. O valor do passe mensal é de 10 reais e o diário de 5 reais. O usuário adquire, assim, o direito de utilizar o sistema durante todo o dia, das 6h às 22h. Mas a locomoção deve ser realizada em até uma hora. Após esse tempo, há um intervalo de 15 minutos para possibilitar outras viagens, com a mesma ou outra bicicleta. O objetivo é dar rotatividade e manter as estações com bikes para todos os usuários.

Modal de integração não saiu do papel Gustavo Schenkel

Embora prometido pela Trensurb, o complexo de integração multimodal de Novo Hamburgo está apenas no projeto. O plano prevê a criação de uma interligação entre ônibus e trem, no quarteirão ao lado do Bourbon Shopping e da Estação Novo Hamburgo. Porém, o que se vê hoje é um terreno em condições precárias de conservação. Conforme informações da assessoria de imprensa da empresa, a obra está em fase final de estudos de viabilidade. Após a assinatura do contrato, o consórcio Verdi-Cadiz NH, vencedor

da licitação para construir o empreendimento, deve apresentar o projeto tanto para a Trensurb quanto para a prefeitura. O investimento proposto é de 12,91 milhões de reais, em uma área construída de 5,6 mil metros quadrados. O complexo está projetado para receber um terminal para 20 ônibus, estacionamento, bicicletário, entre outras facilidades. Para o gerente de Gestão em Transporte Público de Novo Hamburgo, Leandro de Bertoli, o complexo desafogaria a demanda por ônibus no principal terminal urbano e diminuiria a movimentação na antiga rodoviária, que ainda recebe passageiros das cidades vizinhas.

Rótulas dificultam vazão de turistas na Serra Jéssica Zang

A secretária de Planejamento, Coordenação de Trânsito e Habitação de Nova Petrópolis, Tatiana Kayser, entende que o trânsito da cidade precisa ser repensado. Nos finais de semana, com o grande afluxo de turistas que sobem a Serra, a Avenida 15 de Novembro, principal via do município, fica congestionada, em parte por causa das rótulas ali instaladas. As rótulas confundem o morador da cidade, avalia o empresário Victor Júnior. “A maioria

das pessoas não dá preferência correta e não permite a circulação de forma segura”, explicou. Elas foram implantadas há dez anos justamente para deixar a cidade mais bonita e dar fluidez ao trânsito. A Secretaria ainda não tem um plano traçado, “mas mudanças precisam ser feitas”, admitiu Tatiana. Para Genessí Nienow, moradora na cidade, as rótulas atrasam os motoristas. “Em dias de grande movimento preciso esperar que todos os veículos que estão na preferência passem para que consiga contornar a rótula”, reclamou.


22 viagem

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JULIANA SILVEIRA

Algumas pessoas fazem intercâmbio para melhorar a fluência em um idioma. Outras, para conhecer novas culturas” MARIANA BRUM, consultora de intercâmbios da Wizard

Paula encontrou na leitura uma maneira de estar mais próxima dos lugares que sonha conhecer

Intercâmbio faz a cabeça dos jovens Nos últimos dois anos, a procura por viagem de estudos aumentou 31% entre os jovens Juliana Silveira

N

unca foi tão fácil fazer um intercâmbio. Hoje em dia, está ao alcance de todos, principalmente dos jovens, público alvo das agências de viagens e dos cursos de idiomas. De acordo com a Associação do Setor de Empresas de Intercâmbio, mais de 230 mil brasileiros deixaram o país para estudar no Exterior no ano passado. O índice está relacionado a diversos fatores. Assim como algumas pessoas procuram conhecer novos lugares e estudar para encontrar o objetivo de vida profissional, outras têm a necessidade de estabelecer a fluência em um novo idioma, por isso, buscam cursos que auxiliem na rápida aprendizagem. Para realizar um intercâmbio, os alunos dispõem de alguns recursos disponibilizados pelo Governo Federal como, por exemplo, o programa Ciências sem Fronteiras, que fornece bolsas de intercâmbio para estudantes de graduação e pósgraduação que tenham um bom desempenho acadêmico. Muitas instituições de ensino particulares possuem pacotes de viagens com destinos como Estados Unidos, Canadá e Europa, porém os custos devem ser arcados pelo próprio intercambista.

A consultora de Intercâmbios da Wizard Idiomas Mariana Brum explica que o motivo principal pela procura de viagens de estudo é aprimorar outras línguas e conhecer novos países. Para âmbito cultural, o destino mais recomendado pela escola são os Países da Europa, devido à riqueza histórica. Considerando que a maior procura ocorre entre jovens e adultos de 16 a 30 anos, a consultora diz que na maioria das vezes as viagens são custeadas pela família do estudante. “O intercâmbio é uma ferramenta de fluência, porque durante a viagem o aluno irá praticar o idioma 24 horas por dia. Mas o resultado só será satisfatório se houver empenho e dedicação da parte dele”, finaliza Mariana. PRÓXIMA PARADA, REINO UNIDO O sonho de estudar no exterior está nos planos de muitos adolescentes. Alguns têm argumentos de sobra para descrever os motivos pelos quais desejam visitar alguns destinos. Estudante do Ensino Médio, Paula Severo estuda inglês há quatro anos. Com a resposta na ponta da língua, ela não hesita quando questionada sobre o destino que gostaria de conhecer e estudar.

“Reino Unido”, dispara. “A cultura deles é muito mais rica se comparada aos Estados Unidos e o inglês é mais puro, já que foi lá que a língua surgiu. Também é um lugar significativamente lindo”, explica. A Europa está na lista dos destinos mais visitados para intercâmbios por um período de tempo maior, devido a seus históricos atrativos. A estudante de Administração Francine Enzveiler interrompeu o curso de graduação em 2012 para viajar a Dublin, na Irlanda. Ela estudou e também trabalhou como au pair. A jovem disse que já cursava inglês no Brasil quando decidiu viajar, mas estava no nível básico. Após o intercâmbio, Francine comenta que a vontade de viver fora do país aumentou. “Penso em morar fora pela segurança que tu tens fora do Brasil, pra mim esse foi o maior choque quando retornei”, relata. Para todos que almejam viajar em busca de aprendizado ou até viver fora do País, as possibilidades são diversas. São recursos inesgotáveis que facilitam a realização deste objetivo e que são aperfeiçoados a cada dia. Portanto, é necessário desempenhar com muita disciplina cada atividade proposta e principalmente acreditar que tudo é possível.

Quando o sonho se torna profissão Alguns estudantes optam por viajar antes de escolher uma profissão, tanto para conhecer novos lugares, quanto para se aprimorar em novas línguas. Outros descobrem o que realmente querem para seu futuro durante a viagem. Aos 17 anos, Débora Stein sonhava em fazer intercâmbio. Acessava sites, lia reportagens sobre o assunto e estava sempre procurando por agências de viagens. Até que um dia, durante as incessantes sessões de pesquisas, foi surpreendida com um concurso cultural que premiava o ganhador com um intensivo de um mês nos Estados Unidos ou Inglaterra. Débora participou, foi selecionada e realizou o primeiro intercâmbio. Após muitas conversas com a

família, ela decidiu que sua primeira viagem de estudos para o exterior seria para os Estados Unidos, mais precisamente para San Diego, na Califórnia. Essa foi a primeira experiência para Débora, mas que a fez descobrir o que queria para o futuro. Em janeiro de 2014, ela iniciou o curso de Comissária do Voo e, em junho do mesmo ano, foi selecionada para trabalhar na empresa Azul Linhas Aéreas. Atualmente, ela viaja pelo país e concilia as viagens com o blog Longe Voar, que criou para compartilhar com os internautas suas experiências como intercambista.


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Coletivo garante impressão de livro

Poeta de Novo Hamburgo arrecada mais de 4 mil reais em financiamento coletivo para projeto autoral Júlia Ramona

C

idade Baixa, Porto Alegre. Os postes que iluminam a rua trazem também a poesia de um morador de Novo Hamburgo. O bairro mais boêmio da capital gaúcha é o local escolhido pelo jovem para divulgar ações artísticas por meio do que, segundo ele, é uma “referência ao tosco”. Estas intervenções renderam a criação de um livro com seus principais trabalhos por meio de uma ação de crowdfunding. O estudante de Letras da UFRGS Nícolas Nardi, 20 anos, criou o projeto Amanual de formação de um desescritor, que consiste na colagem de suas obras em postes de rua. A ideia, para o artista, foi “tornar a poesia menos elitizada e provocar as pessoas que não estão interessadas em receber informações além da rotina diária”. Ele lembra que o projeto também valoriza o interesse pela leitura. “As pessoas que passam e leem um poema meu na rua, acabam lendo sem querer. Acho isso muito importante

para a formação de novos leitores”, afirma. O livro é composto por poesias sem temas específicos. “A ideia surge de maneira não organizada e, com isto, acabo escrevendo aleatoriamente. Com os postes tenho muita liberdade, chamo isso de brincar de desconstruir”, define o poeta. Para arrecadar os fundos necessários para a impressão dos livros, Nardi utilizou o site Catarse, plataforma de financiamento coletivo de projetos, popularmente conhecido como crowdfunding. Até o final do prazo de arrecadação, no

início de abril, o Amanual obteve 4.435 reais por meio de 115 apoiadores, que serão recompensados com a obra em PDF e citados nos agradecimentos do livro. O valor possibilitou a confecção de mil exemplares com publicação até junho. Para a professora do curso de Comunicação Digital da Unisinos, Daniela Horta, 45 anos, a importância do crowdfunding é agregar cada vez mais pessoas para a coletividade. “O mundo de hoje vive em busca de colaboração. As pessoas notaram que sozinhas não costumam ter força para promover DIVULGAÇÃO as mudanças que julgam necessárias. Com o final das barreiras geográficas que a internet proporciona, as pessoas - e as empresas - perceberam que as oportunidades são muito maiores”, declarou a docente. Depois que o sonho do livro se tornar realidade, Nardi prevê a criação do selo “Quarto Ambiente”, para a publicação de novos talentos que, segundo seu idealizador, “ainda estão escondidos pelas esquinas.”

Além de iluminarem as ruas, os postes também trazem a poesia do estudante Nicolas Nardi, morador de Novo Hamburgo

cultura 23

Trensurb incentiva hábito da leitura Aline Fanti

Prestes a completar sete anos, a Biblioteca Livros sobre Trilhos, que fica na Estação Mercado do Trensurb, tem 3,7 mil sócios e conta com um acervo de 6,3 mil livros, somando cerca de 50 mil empréstimos desde sua criação. A Trensurb trabalha continuamente em ações de divulgação do local. Entre elas está o bookcrossing, onde, na primeira sexta-feira de cada mês, são distribuídos livros nos trens. De acordo com o gerente de comunicação da Trensurb, Jânio Ayres, a ação é bem-aceita e resulta na adesão de mais sócios. “Queremos que as pes-

soas criem o hábito de ler com frequência. Só assim podemos diminuir o déficit de leitores que há no Brasil“, diz. Conforme Ayres, os exemplares costumam ser devolvidos em perfeito estado. Extraviados, são 0,01%. Neste último caso, é possível doar outro exemplar, idêntico ou não, ao acervo. A biblioteca conta com doações para ampliar o número de títulos disponíveis ao público. Para associar-se a Livros Sobre Trilhos não há custo. Interessados devem levar ao local documento de identificação, comprovante de residência atual com cópia e uma foto 3x4. Menores de idade devem estar acompanhados dos responsáveis.

Educadora cigana acolhe comunidade Aline Santos

Alegria, interação e desenvolvimento humano. Os três pilares integram as oficinas de dança ministradas pela cigana e educadora popular Lori Emanoela da Silva. As aulas ocorrem na Apae, abrangendo um público de 50 alunos e na Casa de Cultura de Esteio com 12 alunos. Segundo a educadora, os encontros com as turmas em ambos segmentos têm traduzido resultados muito positivos, como aumento da autoestima e desenvolvimento psicomotor. “Cada

público tem uma peculiaridade. Na Apae eu realizo atividades com movimentos adaptados e suaves. Na Casa de Cultura, o público é constituído de mulheres e trabalho com minhas alunas, o resgate do feminino e valorização do ser”. Além do envolvimento com a educação e cultura, Lori é militante pelos direitos do povo cigano tanto no Rio Grande do Sul como no Brasil, procurando estar em diferentes congressos, onde ministra palestras e oficinas em prol da causa, a fim de erradicar o preconceito para com a etnia nômade.

Espetáculo cultural reflete sobre o ato de se travestir

Grupo francês dança no Brasil pela primeira vez

Dino Nunes

Nagane Frey

Desenvolvido pelo estudante Luiz Manoel Oliveira Alves, bacharel em teatro pela UFRGS, o projeto B’Day [Uready!?] envolve música, dança e atuação e discute sobre o ato de “travestir”. A ideia nasceu como projeto acadêmico, mas virou realidade e agradou a quem assistiu. Devido ao sucesso de público da primeira edição, ocorrida em julho do ano passado, o espetáculo voltou em cartaz em maio. No palco, os sucessos da canto-

ra Beyoncé ganharam vida por meio de um alter ego do universitário: BeyTravesti, a personagem principal da peça e fator de conexão entre a sexualidade e o pop. Além de idealizador do projeto, Oliveira atua, canta, dança e coreografa. A figura masculina travestida de diva americana chama a atenção. O ator faz questão de manter a barba para a criação de um personagem híbrido, a fim de questionar os limites entre o masculino e o feminino. Na nova temporada, Oliveira dá ênfase para aspectos da sexualidade.

“Acredito que a peça contribui acerca das infinitas possibilidades presentes em nós mesmos, tanto em um aspecto interior quanto exterior”, conta. A equipe de trabalho envolve 25 pessoas e é composta por músicos, dançarinos, maquiadores, cabeleireiros, técnicos de som, iluminação e projeção. Todos amigos e colegas universitários que acreditam no projeto, pois, por ser independente e gratuito, não há remuneração. Com entrada franca, a peça esteve em cartaz em maio na Sala Alziro Azevedo, em Porto Alegre.

Nova Petrópolis, na Serra Gaúcha, está organizando, entre os dias 17 de julho a 2 de agosto, o 43º Festival Internacional de Folclore. Neste ano, contará com a presença do Groupe D’Arts Popularies de Berstett, da França. O grupo de danças da cidade de Alsace tem 77 anos de experiência e vem pela primeira vez ao Brasil. Foi criado em 1938 a fim de salvar a arte, a cultura e as tradições e conta com cerca de 40 dançarinos. Sabrina Muñoz, que faz o contato direto com os grupos internacionais, diz que os bai-

larinos estão imensamente orgulhosos de poder fazer parte deste festival. “Os franceses estão ansiosos para vir ao nosso país. Nenhum membro veio antes para cá”, explica Sabrina. Yedda Michaelsen, uma das coordenadoras do evento, diz que a expectativa de público é em torno de 120 mil pessoas. “Espero que o festival atenda às expectativas do público, que agregue conhecimento e entretenimento. É nossa meta que os visitantes gostem do evento e queiram retornar”, diz a coordenadora. Yedda esclarece que muito além dos números, o objetivo principal é o cultivo do folclore e a vivência da diversidade.


24 cultura

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Feiras artesanais ganham destaque na Capital Maria Righetto

As feiras que ocorrem em Porto Alegre implicam em ajudar na divulgação de trabalhos artísticos. Para os artesãos, vale a troca de experiências com outros expositores e com o público que contribui para o crescimento profissional de quem produz. Normalmente, as feiras ocorrem em espaços diferentes, com entrada franca, justamente para incentivar as pessoas a participar, conhecer e apoiar o trabalho dos artistas. Dependendo de qual você

MARIANA BALBINOTTE

escolher ir, poderá encontrar apresentações artísticas, shows e outras atrações. O trabalho da Ludmilla Kunzler é um exemplo do que se pode encontrar nas feiras. A jovem faz bolsas à mão e viu grandes chances de crescimento ao participar desses encontros. “Com certeza essa reunião de artistas é importante para quem está iniciando um trabalho independente. Os eventos são movimentados e bem divulgados, fazendo com que bastante gente conheça a marca”, conta a gaúcha de 20 anos. Espetáculo Automákina - Universo Deslizante do grupo homenageado De Pernas pro Ar

Mar e Moto irrita moradores do Litoral Henrique Bergmann

O clássico encontro de motoqueiros em Tramandaí, feito pelo Moto Clube Asas da Liberdade, trouxe irritação nos moradores do centro da cidade. Segundo eles, o Encontro de Motociclistas atrapalha o fluxo da cidade, já que ocorre na avenida Emancipação, local de maior circulação da cidade. Outro aspecto que incomoda os habitantes são as atitudes dos participantes. Para o estudante João Comin: “não há nada que atraia o público. Além de incomodar o sossego do morador”, afirma. Mas também há cidadãos que enxergam o lado positivo do evento. “O lado bom é que gera dinheiro

para o comerciante local, já que a concentração de pessoas no centro é bastante grande. Mas o lado ruim é que prejudica a administração pública, pois os participantes estragam as ruas e calçadas com o modo que andam de moto”, afirmou o estudante Cristiano Rambo Dias, que lembrou que o presidente do Moto Clube de Tramandaí é dono de uma loja no centro. O moto Clube não se incomoda com as críticas recebidas. Eles dizem que “há muitas pessoas a favor da sua realização, inclusive a Prefeitura Municipal”, que é parceira na realização do encontro. E mesmo com toda a controvérsia, o Asas já está encaminhando a próxima realização do encontro para 2016, chegando a sua 18ª edição.

Festival mundial debate mudanças na publicidade Maitê Alencastro

A mudança é algo que deve ser debatida no meio comunicacional. Com esse espírito, a Associação Latino-Americana de Publicidade (ALAP) prepara o 20º Festival Mundial de Publicidade de Gramado. O evento é o 3º maior do mundo na área e será presidido pelo publicitário Roberto Duailibi. A expectativa é reunir 4 mil pessoas no Sierra Park, em Gramado, de 10 a 12 de junho. Aline Barbosa Soares, 26 anos, acredita que esse evento é importante para

estudantes de Publicidade e Propaganda assim como ela, que cursa na Unisinos. “Um evento como esse com certeza nos trará inspirações para atuar na nossa área”, comenta. O coordenador do curso, Sérgio Trein, destacou que o festival é uma oportunidade de trocas de conhecimentos. “Os alunos podem conhecer os publicitários, além de acompanhar algumas discussões do dia a dia da profissão”, citou. Para maiores informações acesse o site oficial: www.festivalgramado.com.br.

Festival de teatro passa por 27 bairros

O evento, que ocorre desde 2009 na Capital, homenageia este ano o grupo De Pernas pro Ar, de Canoas

Franciele Arnold

E

spetáculo ao alcance do público.Umaboadefinição para a proximidade com os espectadores que o Festival Internacional deTeatro de Rua de Porto Alegre trouxe. O evento, que ocorre há sete anos na Capital, promoveu espetáculos dos mais variados estilos em espaços públicos da cidade, passando por 27 bairros. De dança e performances visuais ao teatro combonecosegrandesestruturas, foram 22 grupos participando destaedição.Entreeles,duasatrações internacionais: Os franceses Cie. L’HommeDebout,eCie.Kumulus.

O De Pernas pro Ar, de Canoas, foi o homenageado este ano pelo festival. O grupo foi criado em 1988 por Luciano Wieser e Raquel Durigon. A sede localizada no bairro Igara (Canoas) é chamada de Inventário – Espaço Criativo, e lá são realizadas oficinas, ensaios e teatro para a comunidade.  Segundo Odair Fonseca de Souza, montador do de Pernas pro Ar, um dos destaques do grupo é o uso de objetos e instrumentos criados pelos próprios artistas: O espetáculo Automákina por exemplo, que esteve no festival, é todo construído por sucata. Odair explica que a partir de visitas

aos ferros velhos, eles descobrem materiais para criar novos objetos, desde instrumentos musicais até bonecos e decoração. “A gente mexe muito com a coisa de cenografia funcional: engenhocas, coisas que a gente inventa mesmo, mas que acabam tendo uma função na cena. São coisas que a gente vai trabalhar sobre a ressignificação de objetos” diz. PARA SABER MAIS - Sobre o festival: www.ftrpa.com.br - Sobre o grupo De Pernas ProAr: www.depernasproar.com.br

Reciclando para fazer arte Mariana Balbinotte

Pedro Emiliano Cappelari Bin é designer gráfico e trabalha em uma agência de publicidade em Farroupilha. Com 22 anos, fez uma viagem para o Rio de Janeiro no ano passado quando conheceu pessoas que faziam shapes de madeira de reaproveitamento. Quando voltou teve a ideia de fazer arte em shapes que seus amigos não utilizavam mais. Com a popularidade desta arte, foi convidado a fazer

uma exposição no SESC de Farroupilha e Caxias. Mas, sua principal exposição, foi no maior Festival da América Latina de Blues, Mississipi Delta Blues Festival em Caxias do Sul. Começou mostrando seu trabalho em festas e depois foi sendo convidado para começar as exposições. A primeira foi na Feira do Livro, na cidade de Farroupilha e com o nome de “O Luxo também é lixo”. Na época fez a decoração com utensílios encontrados no lixo como frutas, telefones,

quadros velhos e serragem. Levou a exposição ao Festival onde conheceu Mona Carvalho que é curadora de artes visuais e convidou para mostrar seu trabalho no SESC de Caxias do Sul. Havendo esta nova oportunidade, trocou o nome para Sincronidade em Harmonia e customizou todos os acessórios acrescentados no local como sofás, cadeiras e shapes mais trabalhados. Já está com novos planejamentos para futuras exposições e novos trabalhos.


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Oito décadas de histórias sobre a guerra Em campos de concentração, Curtis Stanton lutou pela sobrevivência durante muito tempo Maria Eduarda de Lima

L

utar pela sobrevivência foi o único pensamento de Curtis Stanton aos 12 anos, quando saiu do conforto de sua residência na Alemanha para um campo de concentração. Os anos vividos sob os castigos nazistas demoraram a ser digeridos pelo alemão, que, somente depois de muitos anos, resolveu contar sua história e levar adiante a esperança que lhe manteve vivo. Hoje, aos 85 anos, ele é um dos integrantes do grupo desenvolvido pela entidade judaica B’nai B’rith, dedicada à luta pelos direitos humanos, e pelo Instituto Cultural Judaico Marc Chagall, o projeto Compromisso Moral e Lições de Solidariedade que visita escolas no Rio Grande do Sul. Com gestos lentos, olhos azuis e um olhar caloroso de um senhor nascido em meados dos anos 30, ele abre a porta.

“Prazer”, afirmou enquanto se dirigia à poltrona e sentou-se em frente à janela com vista para o topo das árvores da rua. Ainda com o português enrolado e às vezes conjugando verbos em tempos inexistentes, aquele senhor trouxe a década de 30 para os tempos atuais. Filho de um alemão gerente de loja e de uma portuguesa dona de casa, Stanton por muito tempo evitou lembranças e não fala muito a respeito da numeração tatuada em seu braço esquerdo. Traumas do passado que ainda percorrem seus pensamentos. Começou a frequentar a escola em 1935 como toda criança normal da época. De uma hora para a outra, seus amigos começaram a chamá-lo de judeu sujo e a agredi-lo de muitas formas. Foi expulso da escola sob pretexto de que brigava muito e começou a frequentar uma escola judia. Como todo judeu, foi obrigado a usar uma estrela de seis pontas na roupa com a palavra

Estava nevando, as pessoas não tinham sapatos, roupas adequadas e nem força para caminhar” CURTIS STANTON, sobrevivente de campos de concentração nazistas

“jude” (judeu em alemão) no centro para ser diferenciado dos demais alemães. Isso durou até 1941, quando receberam um aviso de que deveriam se apresentar na estação ferroviária após dois dias. “Quando cheguei lá havia muitos judeus convocados pela polí-

cia”, completa. Em média, 70 judeus foram colocados em cada vagão de gado. “As portas foram fechadas e iniciamos uma viagem de mais ou menos um dia e meio sem comida até chegarmos à cidade de Lodz na Polônia”, conta. Stanton recebia comida apenas uma vez por dia e havia vezes em que era necessário buscar comida nos lixos do campo, com sorte encontrava cascas cruas de batata. Em Lodz, o mais complicado era a frequente tentativa de fuga dos judeus. “Os que tentavam fugir, eram trazidos de volta para o campo e enforcados em praça pública, isso servia de aviso para que os outros judeus não tentassem fugir.” O inverno se aproximava e alguns boatos de que o exército russo estava por perto corria pelo campo. Foram então convocados para saírem de lá durante a noite. “Estava nevando, as pessoas não tinham sapatos, roupas adequadas e nem força para caminhar”, conta Stanton. URSULA JAHN

Emocionado, Stanton relembra momentos difíceis

Aqueles que não conseguiam andar e caíam durante o trajeto eram fuzilados. Ele caminhou sem comida durante dias até ser transportado para o campo de concentração da Áustria chamado Mauthausen. Lá ficaram dois meses e novamente foram transportados para outro campo perto de Berlim chamado Sachsenhausen. Ficou por uns quatro meses, até ter sido colocado em um dos caminhões do exército alemão para ser levado para outro lugar. UM RECOMEÇO A interminável viagem durava dias, até que em um certo momento acordou junto ao grupo de sobreviventes e não encontrou nenhum motorista ou militar. Desceram do caminhão e começaram a caminhar até serem encontrados por soldados ingleses. “Eles não falavam alemão e nós não falávamos inglês, de alguma forma inexplicável todos se entenderam”, conta emocionado. Eles os levaram para a cidade de Lübeck e os colocaram em um hotel. Nesse período já era o fim da guerra. Stanton tinha 16 anos e estava finalmente livre. “Em Paris consegui reaver contato com meu irmão que estava no exercito inglês e marcar de revê-lo”. Desde 1938 Stanton não falava com seu irmão e o reencontrou em Paris após todo o período de conflitos. “Foi uma reunião de dois estranhos, não tínhamos mais nada em comum”. Resolveram que iriam para o sul da França. “Para mim foi a coisa mais difícil, vivi por cinco anos aprendendo a sobreviver, assim nos tornamos pessoas com pensamentos extremamente difíceis, não éramos seres humanos, éramos selvagens que queriam sobreviver”. Em 1945, Stanton fez uma viagem de navio para Montevideo, de lá pegou um avião para Porto Alegre para ir trabalhar no Brasil e foi somente na segunda viagem que realmente se encantou pelo país e resolveu se fixar. Hoje Stanton dedica seu tempo livre para dar palestras em escolas do Estado com o objetivo de relatar sua história e não deixar que um episódio como esse se repita na história do mundo.


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Chimarrão só retoma time com patrocínio

tínhamos uma empresa engatada para o patrocínio master, além do convênio Depois de 19 anos e 13 com a prefeitura, mas no títulos estaduais, a diretoria final nada deu certo. Não do Chimarrão, de Estância conseguimos consolidar Velha, fechou o departa- com a empresa e com a mento de futsal feminino. administração”, lamentou O clube só volta a disputar o diretor do Departamento competições profissionais se Feminino, Irineu Schuster. conseguir patrocinador. Para Mesmo que consiga paeste ano nada feito, já que trocinador para 2016, o dia competição iniciou no dia rigente jogou a toalha e não 16 de maio e a direção pediu assumirá mais o departalicença à Federação Gaúcha mento. Ele está cansado de de Futsal (FGF). ter que fazer ginástica para Na avaliação da direção, conseguir fechar as contas com um orçamento anual de no final do ano. ISAÍAS RHEINHEIMER 80 mil reais é viáA atleta Heli vel montar equipe Beal, 33 anos, lacompetitiva – nos mentou o fim do anos 2000, o clutime que defenbe tinha um orçadeu por 15 anos. mento de 120 mil “Lembrar de reais/ano, quando tudo que vivi no recebeu apoio da Chimarrão, dos CRdieMentz e da títulos conquistaSultepa. dos, de tudo que o O anúncio do clube representa Irineu: cansei fim das atividapara o esporte e des foi feito em para o município, março. Faltava dinheiro é de entristecer. Uma pena para bancar alimentação, que ninguém mais valoriza”, transporte, ajuda de custo colocou. Heli era capitã e às atletas e à arbitragem. espécie de coringa no time. Nos últimos sete anos, o que O Futsal Feminino do mantinha o departamento Chimarrão foi criado em aberto era um convênio com 1995 e, naquele ano, o time a prefeitura. Mensalmente, sequer chegou às quartas eram repassados 4 mil reais de final do Estadual. De lá ao clube. Em troca, atletas pra cá, o clube empilhou do Chimarrão comandavam títulos: foi 13 vezes camo projeto “Futsal como In- peão gaúcho, três vezes clusão Social” nas escolas campeão brasileiro e uma municipais. vez da Liga Nacional. TamEste ano, o convênio bém conquistou duas vezes chegou a ser renovado, en- a Copa Jal Internacional, tretanto, o Executivo voltou com a participação das meatrás. “Estava tudo certo lhores equipes do Brasil e de que iríamos participar, do Japão.

Isaías Rheinheimer

Tiro de Laço continua dividindo tradicionalistas José Luis Biulchi

A briga no seio do tradicionalismo coloca o MTG e a Federação Gaúcha do Laço em confronto por causa de uma prova. Desde que o tiro de laço foi colocado como modalidade de disputa, permaneceu sempre sob a coordenação do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG). Em junho de 2013, um grupo de tradicionalistas que não concordavam com as normas impostas, fundou a Federação Gaúcha de Laço. Isso bastou para iniciar uma grande polêmica no tradicionalismo gaúcho e, em março de 2014 o Conselho

Diretor do MTG editou resolução normativa proibindo entidades filiadas de participar de quaisquer atividades promovidas da citada Federação de Laço. O veto estende-se para narradores e juízes credenciados. O presidente da Federação de Laço, Cleber Vieira, explicou que a entidade tem por objetivo organizar, assessorar e ser parceira daqueles que laçam. Ele quer ver como isso vai funcionar juridicamente e disse que a federação vai dar respaldo para quem supostamente for punido pelo MTG. O direito constitucional de ir e vir terá de ser respeitado. “Se isso não acontecer, a justiça vai decidir”, disse Cleber.

Projeto paralímpico incentiva criançada ONG possibilita alunos a desenvolver capacidade física e participar de competições internacionais

THANISE MELO

Thanise Melo

T

ransformar sonhos em realidade, essa é a proposta de ONG RS Paradesporto que, desde 2005, realiza projetos em Porto Alegre para incluir deficientes físicos em atividades esportivas. O projeto Escola Paraolímpica Gaúcha oferece atividades olímpicas para a crianças de 5 a 12 anos, desenvolvendo não só a capacidade física do aluno, mas também o relacionamento entre crianças com deficiência. Durante as aulas são utilizadas cadeiras de competição olímpica, disponíveis em todos os tamanhos. Durante três horas, grupos realizam atividades que promovem a coordenação motora. Uma enfermeira acompanha as atividades, preparada para todo tipo de atendimento, desde um incidente, até mesmo para uma simples troca de fraldas. Cerca de 80 crianças participam das aulas de iniciação, que vão da natação até a bocha olímpica. O apoio e a participação dos pais é fundamental para o aluno interagir com o projeto. A ONG também trabalha o programa Família Acessível, que dá suporte aos pais que buscam auxílio e entendimento quanto à superação dos filhos. Alguns pais ainda valorizam mais a fisioterapia do que o esporte.

Crianças de 5 a 12 anos, com aptidões para algum tipo de modalidade olímpica, têm onde se preparar em Porto Alegre

Neste sentido, os professores incentivam a família em pensar no deficiente físico como protagonista da sociedade. Um dos fatores que dificultam a continuidade da criança no projeto é a fisioterapia e as cirurgias. Quando submetidas a tais procedimentos, afastam-se de práticas esportivas. Embora a ONG conte com transporte próprio, nem todos podem participar com frequência do projeto, pois os carros não se deslocam por todas as regiões da capital. Em 2013, com o apoio do Criança Esperança os projetos ganharam recursos financeiros, desde ajuda no transporte para alunos, até

na aquisição de materiais. Outra parceria importante dá-se com o Teresópolis Tênis Clube, que cede espaço para as atividades. “As pessoas se surpreendem quando percebem que a ONG é apoiada pelo Criança Esperança. Para a parceria é necessária a apresentação de fotos e de relatórios para que as verbas sejam repassadas”, disse Juliana Maria Correa, coordenadora do projeto. Para participar do projeto é necessário ser portador de deficiência física e ter noções cognitivas para compreender o trabalho esportivo. A criança deve estar apta para alguma modalidade olímpica.

Canoagem fica sem verbas para prosseguir e perde atletas Vitória Padilha

A Associação Gravataiense de Canoagem passa por uma fase difícil depois de perder a parceria de anos com a prefeitura de Gravataí. Ela chegou a ter entre 80 a 90 atletas, a maioria crianças vindas de casas de passagem. Ao final de 2013, porém, a prefeitura alegou falta de verba e interrompeu o repasse, que ajudava na manutenção dos barcos e pagava um professor. A partir disso, os alunos pararam de praticar o esporte. Alguns acabaram

envolvidos em drogas e na criminalidade, segundo o presidente, Paulo Ricardo da Silva. “Isso era inevitável, já que vários viviam numa realidade marginal e encontravam na canoagem o único refúgio”, disse. As crianças chegaram até a associação graças à iniciativa do presidente e do ex-secretário municipal do Esporte, Nelson Beretta. Outro fundador, João Paulo Domingos, também teve participação importante no processo. Além do trabalho com crianças carentes, o clube também contou a com

alunos portadores de deficiência física. Eles tinham o mesmo desempenho de outros atletas, precisando apenas de ajuda para entrar no caiaque. Hoje em dia, a associação conta com poucos atletas. Sem aulas, os únicos que a frequentam são os mais velhos, já maiores de idade, que podem treinar sozinhos. Mas também há aqueles como Juliano da Silva e Mateus Andrei Machado, ambos de 17 anos, que já participaram de campeonatos brasileiros e hoje não podem treinar, por falta de professor.


esporte 27

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Peneira pelo sucesso nos gramados Carolina Schaefer

I

maginar um futuro como jogador de futebol é o sonho da maioria dos meninos no Brasil. A história de um país vitorioso e cheio de craques viram contos de ninar. Camisas de clubes, chuteiras, álbuns de campeonatos, bolas, pôsteres e jogos de vídeo game fazem parte da energia futebolística que compõem quartos de meninos e homens. Vinicius Jobim Fischer, psicólogo formado pela PUCRS e licenciado em Educação Física pela UFRGS, explica que a infância é uma fase da vida marcada pelos sonhos. Outro aspecto fundamental consiste na imagem transmitida por esse esporte. “Quando se pensa em futebol, se pensa em sucesso, fama, dinheiro, festas, carrões. Todos esses itens parecem extremamente atrativos e possíveis de serem alcançados”, explica. Mauricio Conceição da Silva, 11 anos, quer uma vida inteira dentro das quatro linhas de um campo de futebol. Há um ano joga na escolinha Pinheiros Dutra, em Taquari. O menino de olhos verdes e madeixas loiras, fala rápido para disfarçar a timidez. Preocupa-se em mostrar nos treinos a habilidade que lhe foi concedida pelos deuses do futebol. Em uma peneirinha realizada este ano pelo Internacional, Mauricio foi um dos selecionados. Enquanto aguarda a definição do futuro no Inter, Mauricio tem tempo de sonhar com uma carreira na Europa. João Vitor Martins dos Santos, sete anos, chega animado falando sobre o primeiro jogo das quartas de final da Champions League, entre Barcelona e PSG (Paris Saint Germain). “Tu viste que em um dos gols do Suárez ele driblou três jogadores do Brasil? Marquinhos, Maxwell e David Luiz. Uma loucura”, comenta. Apesar de novinho, o guri tem altura para ser um cabeceador goleador. Apreciador do futebol de Yuri Mamute, do Grêmio, João precisa somente de um porte físico semelhante ao do atacante gremista. Afinal, seu futuro também será na pequena área. APOSTANDO EM JOVENS A determinação de um professor pode mudar vidas. Antônio Carlos Dutra é um exemplo

FOTOS BERNARDO HEINZ

A luta de crianças e jovens pela oportunidade de transformar a vida por meio do futebol

disso. Formado em Educação Física, ele começou um projeto de futebol em conjunto com o Clube Pinheiros e a Escola Pereira Coruja, na cidade de Taquari. O projeto logo ficou pequeno para quantidade de adeptos. O professor já trabalhou como gestor técnico e executivo de clubes como o Internacional, Caxias e Juventude, e decidiu comprar terrenos na cidade para montar um grande centro de treinamento. Em 1996 o CT da Escola de Futebol Pinheiros Dutra estava totalmente pronto para atender crianças da comunidade. Hoje, a escola conta com 12 funcionários, sendo dez professores formados ou graduandos na área. Além de 315 alunos, de três a 17 anos. O clube adota uma mensalidade socialista. “Os pais trazem seu comprovante financeiro, e se encaixam em um dos nossos seis valores de mensalidade. Assim não prejudicamos a renda de ninguém. Temos ainda cerca de setenta bolsistas”, explica o professor. As mensalidades

Os treinamentos são realizados no CT nas terças e quintas-feiras, no turno inverso das atividades escolares das crianças

ajudam nas despesas fixas da escola. O clube ainda conta com o apoio mensal de seus patrocinadores, que são cerca de vinte e cinco empresas

de Taquari, somando 30% da renda da escola. “Minha vida hoje é manter o clube Pinheiros Dutra funcionando. O que me alegra é que

não vemos crianças nas ruas de Taquari, porque junto com outras entidades do município, influenciamos nessa realidade boa”, finaliza Dutra.

Cícero Souza: um pupilo da escola Pinheiros Dutra Cícero Souza, atual gerente de futebol do Palmeiras, trabalhou durante 17 anos na Pinheiros Dutra. “Trabalhei lá de 1989 a 2006. Fiz de tudo: marquei gramado, coloquei rede no gol, fui roupeiro e treinador de goleiros. Depois, coordenador técnico e administrativo. Na escola, aprendi

as lições mais importantes da minha vida, e por isso, vou ser eternamente grato”. Souza acumula passagens pelo Grêmio, Sport, Criciúma, Bahia e Palmeiras. Seu recado para jovens que procuram o futebol é que façam esta escolha por amor, não por pressão de terceiros. Que não

forcem a barra e não transfiram responsabilidades, pois futebol de alto nível precisa de muita renúncia, e isso não é fácil administrar. “Nossos limites estão em nossa vontade de nos preparar e não nos obstáculos que a vida nos apresenta”, filosofa. “Para adolescentes que

querem trabalhar com gestão de clubes sugiro a prática. Clubes de pequeno porte e categorias de base. A prática nos ensina, nos realiza e nos indicam caminhos. Precisamos primeiro conhecer a essência, para depois buscarmos a excelência”, finaliza Souza.


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“Novo” futebol ganha forma no Sul

Apesar de ainda amador, o esporte americano cresce, acumula fãs e faz sucesso entre os gaúchos Eduardo Zandavalli Brandelli

A

pesar de o velho esporte bretão continuar sendo paixão nacional, nos últimos anos, vêm ocorrendo um grande crescimento do “futebol errado” dentro do Estado. A história do futebol americano no Rio Grande do Sul iniciou em 2004, com a fundação do Porto Alegre Pumpkins. Hoje já são mais de 15 times espalhados por todo o território gaúcho. A trajetória de mais de uma década alcançou neste ano um marco simbólico para a consolidação do esporte. Em 2015 está ocorrendo o primeiro Campeonato Gaúcho federado de Futebol Americano. Já haviam sido realizadas seis edições do campeonato gaúcho, porém as três primeiras foram na categoria “full contact”(sem os equipamentos de segurança denominados “pads”) e as que ocorreram na categoria “full pads”(com o equipamento completo) não foram federadas, destas, quatro edições foram vencidas pelo Porto Alegre Pumpkins e duas pelo Santa Maria Soldiers.

Porto Alegre Pumpkins contra São José Bulls pela semifinal do Campeonato Gaúcho de Futebol Americano 2015

O campeonato deste ano é o primeiro com a participação e organização da Federação Gaúcha de Futebol Americano (FGFA) que surgiu em outubro de 2014 e só é disputado na categoria full pads. Apenas sete times se enquadraram nos requisitos para disputar o campeonato gaúcho deste ano. O preço alto dos equipamentos, um kit completo gira em torno de 1,5 mil reais, é o principal entrave para a participação de novas equipes. Porém, se espera que no mínimo mais duas ou três equipes consigam se regularizar para 2016. No dia 24 de maio, o Juventude FA venceu a final do primeiro Campeonato Gaúcho Federado de Futebol Americano contra o POA Pumpkins por um placar de 28 x 6, consagrando-se o primeiro campeão oficial do esporte no Rio Grande do Sul. UMA PAIXÃO NASCIDA DA PROGRAMAÇÃO ENTEDIANTE Gustavo Rech é head coach do Bento Gonçalves Snakes e é fã de futebol americano desde 2004. A história de como ele começou a acompanhar é curiosa. Segundo Gustavo, ele estava entediado em casa e não havia nada de bom na TV. Então, ele parou na ESPN e começou a assistir um jogo de futebol americano para tentar entender como

funcionava. Após gostar muito da primeira impressão, Gustavo começou a acompanhar a programação e assistir mais jogos, e ainda no mesmo ano comprou uma bola e começou a jogar sozinho como passatempo. A paixão dele pelo futebol americano não parou por aí. Ele começou a pesquisar jogadas e táticas e o interesse só foi crescendo. Um dia, numa reunião de amigos que também eram fãs surgiu a ideia de começar a praticar o esporte. Porém, a brincadeira tomou proporções inesperadas, e assim surgiu o Caxias Gladiators (primeiro time de Caxias do Sul), que após um tempo anunciou vínculo com o Juventude(time de futebol da cidade) e mudou para Juventude Gladiators, e hoje é Juventude FA. Gustavo se diz extremamente orgulhoso de ter sido um dos pioneiros do esporte na cidade e no estado. Ele se desvinculou do time que ajudou a fundar para assumir o posto de técnico do time de Bento Gonçalves. O BG Snakes é um dos novos times do estado. Surgiu ano passado e segundo Rech já tem planos para até o início do segundo semestre estar totalmente equipado para poder disputar alguns amistosos e conseguir participar oficialmente do Campeonato Gaúcho de 2016.

Projeto visa melhoraria do futebol americano Carlos Eduardo Fernandes, também conhecido como C.E.F., é coordenador de linha ofensiva do POA Pumpkins e está montando junto com o quarterback do time Antônio Freire, um projeto semelhante a uma categoria de base para o futebol americano que visa ensinar os fundamentos básicos do esporte, táticos e técnicos. O projeto foi desenvolvido em prol do crescimento do futebol americano, para melhorar a qualidade geral dos atletas. É uma iniciativa aberta a todos, mesmo para quem não faz parte de nenhum time. “Junto com o Antônio Freire, nosso quarterback, a gente anda a algum tempo desenvolvendo um projeto de formação, não só pra crianças, mas pra qualquer pessoa que queira jogar o futebol americano, inclusive de outros times, Bulls, Mustang, Juventude, Santa Maria, Cha-

cais, quem quiser se juntar e pode vir. ”, falou C.E.F. Além da grande deficiência técnica que existe, o projeto visa também uma mudança de mentalidade. “Muita gente hoje joga, tenta, mas não tem uma base sólida nem um conhecimento da sua função, o projeto é para tratar tanto a mentalidade de como jogar quanto as técnicas usadas”, completou C.E.F. Fernandes comentou sobre o técnico americano do time. “O coach Will comprou nossa ideia, ele estava morando aqui, ele sempre trabalhou com crianças desenvolvendo projetos em prol do esporte lá nos Estados Unidos, não só com futebol americano, mas também basquete e outros esportes.”, afirma. “Tem que haver união, a federação tem que ajudar o esporte a crescer, não adianta se isolar e querer crescer só o seu time”, terminou C.E.F.

RAFAEL FEYH

Tem que haver união, a federação tem que ajudar o esporte a crescer, não adianta se isolar e querer crescer só o seu time” CARLOS EDUARDO FERNANDES, coordenador de linha ofensiva do POA Pumpkins.


esporte 29

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FABINHO SOUZA

Quem tem condições de fazer a bocha de alto rendimento é a juventude” DAVI OLIVEIRA, presidente da Federação Gaúcha de Bocha

O atleta Cristian Parcianello joga concentrado sob olhares dos veteranos e colegas do clube Caminho do Meio

Bocha conquista juventude

Conhecido como passatempo de idosos, o esporte atrai cada vez mais o público jovem Mel Quincozes

A

rotina de qualquer adolescente geralmente é repleta de atividades. Além dos estudos, eles ainda encontram tempo para acessar as redes sociais, sair com amigos e para se dedicar aos esportes. Mas nem todos optam pelos esportes mais praticados, como o futebol e o vôlei. No Rio Grande do Sul, cresce o número de jovens que gostam de praticar um esporte que tem identificação com a cultura gaúcha: a bocha. Geralmente ensinados por familiares, esses meninos e meninas aprendem desde cedo a gostar da atividade. Mas se engana quem pensa que eles jogam apenas por lazer. O amor pela bocha faz com que enfrentem rotinas de treino em clubes, além de viagens para participar dos campeonatos que ocorrem quase que semanalmente por todo o Estado. Eduardo Viana, 14 anos, é um dos muitos que possuem a bocha como herança familiar. Cresceu vendo os tios competindo e, com apenas oito anos, já entrava nas canchas e tentava jogar. Mas foi só em 2014 que começou a trilhar o caminho no esporte, após se juntar à equipe do Clube

Esportivo Caminho do Meio, de Porto Alegre, conhecido por descobrir talentos do esporte. A paixão dele é tanta que seus olhos brilham ao falar da bocha. “Espero a semana toda para treinar, pois é a coisa que eu mais gosto de fazer. Se pudesse, treinava todos os dias”, conta o jovem que sonha conquistar um título estadual juvenil. O campeonato a que Eduardo se refere ocorre no final do ano e é o principal torneio estadual voltado para atletas entre 15 e 21 anos. A falta de mais competições juvenis é normal e eles acostumaram a jogar junto aos adultos, competindo em duplas e trios ou mesmo jogando individualmente contra eles. No entanto, a diferença de idade não costuma interferir no momento do jogo. ATLETA PROMISSORA A atleta Julia Beschorner, 16 anos, é um exemplo disso. Ela joga desde os 11 anos e, atualmente, integra a equipe feminina do Clube Independente, formada por doze mulheres. Mesmo competindo contra pessoas mais experientes, Julia se destaca nos torneios. Tanto que é a atual campeã estadual feminina na modalidade simples (individual), título que

adquiriu no ano passado. Ela conta que ninguém esperava que fosse ganhar, devido ao talento das mulheres contra quem jogou. “Quando acabou o jogo, todo mundo entrou na cancha. Foi demais. Acho que meus pais ficaram mais felizes que eu”, diverte-se. Julia relata uma situação pela qual quase todo jogador de bocha juvenil passa: o estranhamento dos amigos. Para escapar das piadinhas, ela teve que ser paciente e ir explicando como funciona o esporte. “Agora meus colegas se acostumaram, mas antes viviam dizendo que era ‘jogo de velho’”, conta. INCENTIVO AOS JOVENS Segundo o presidente da Federação Gaúcha de Bocha, Davi Oliveira, antes os clubes nem permitiam que os jovens entrassem nas canchas, mas ele garante que hoje o quadro é outro: a maioria procura e incentiva os novos talentos. Outro motivo que afastava a juventude, de acordo com ele, era a duração das partidas que, nas canchas sintéticas, podem passar de três horas. A reaproximação se deu após a instalação das canchas de carpete, que tornam o jogo mais ágil. Hoje, Oliveira co-

memora a ascensão da bocha que, para ele, “deu um pulo de qualidade”, e ressalta que os jovens são o futuro do esporte. “Quem tem condições de fazer a bocha de alto rendimento é a juventude”, garante. Essa também é a opinião de Jaime Flores, 64 anos, que há 20 anos treina a equipe do Caminho do Meio e a Seleção Gaúcha Juvenil de Bocha, que reúne as revelações do Estado nas categorias sub-15, 18 e 21. Ele é enfático ao afirmar que a bocha só sobreviverá devido aos jovens. “Eles dão vida ao clube”, descreve Jaiminho ou “Véio”, como é chamado carinhosamente por seus aprendizes. Mas, apesar do clima de brincadeiras nos treinos, ele exige bastante dos atletas. Para ele, é fundamental treinar em todas as posições para se tornar um “jogador completo”. Além disso, ressalta que as principais qualidades de um bom competidor são disciplina, concentração, atenção na quadra e união com o grupo. Cristian Parcianello, 19 anos, garante que os jovens têm muito a aprender com a experiência do técnico. “Dos veteranos de Porto Alegre, o Véio é o que mais entende de bocha. A gente aprende mais com ele do que com qualquer outro”, afirma o atleta.

Regras da bocha l Pode ser jogada individualmente, em duplas ou em trios l Cada jogador tem quatro bochas (se dupla ou trio, duas por pessoa) l O objetivo é lançar bochas e situá-las perto do balim (pequena bocha) l A partida inicia com o lançamento do balim. Após, cada equipe lança uma bocha l Somente uma equipe pontua na rodada (um ponto para cada bocha mais próxima do balim) l Vence quem primeiro marcar 12 ou 15 pontos (conforme regra do local)


30 ensaio

BABÉLIA | UNISINOS | SÃO

Situação limite é tema de performance teatral Apresentação do Coletivo Errática, de Montenegro, é realizada nas ruínas da antiga Estação Ferroviária da cidade Texto e Fotos de

Ursula Jahn

O

que leva as pessoas a migrarem? Perda, morte, angústia, possibilidade do novo? Este é o questionamento que embasa a performance artística “Ramal 340: sobre a migração das sardinhas ou porque simplesmente as pessoas vão embora”. O espetáculo do Coletivo Errática, criado por estudantes do curso de Graduação em Teatro da UERGS, unidade Montenegro, estreou no mês de abril. Com o intuito de criar algo inédito, os artistas optaram por usar um espaço de grande importância para a cidade: as ruínas da antiga Estação Ferroviária. Como explica o coletivo, buscaram quebrar a visão de memória do local para fazer com que as pessoas vissem aquele

espaço como parte viva do cotidiano. A peça se apropria do local e uma nova relação se estabelece. A arte se faz presente pelas ruas. O coletivo propõe uma conexão com o outro lado do mundo, imergindo nas situações conflitantes e de disputa tanto quanto em sua cultura. Um caminho imaginário entre dois lugares distantes e desconhecidos do mundo é apresentado: Ramal Montenegro – Islamabad. A proposta trata de situações limite que nos levam ao movimento. O fim de um relacionamento, a procura por amor, um pai em busca do paradeiro de sua filha. São histórias de amor, despedidas, decepções, memória, sonho, vida e morte. O teatro é poderoso, e o coletivo Errática traz esse poder através da teatralidade contemporânea, que apresenta roteiros que se cruzam entre o real e o ficcional. São histórias

que não se explicam, mas que se conectam de alguma maneira. O projeto “Ramal 340”, financiado pelo Fundo de Apoio à Cultura do Rio Grande do Sul (FAC – RS), foi escrito por Francisco Gick, que também integra o elenco de atores, ao lado de Bruno Teixeira, Diogo Rigo, Guega Peixoto, Gustavo Dienstmann, Luan Silveira, Marcelo de Carvalho e Nina Picoli. A direção é de Jezebel De Carli, da Santa Estação Cia de Teatro de Porto Alegre, e professora do curso de Teatro da UERGS. “Ramal 340” prende a atenção do público com a grande atuação, trilha sonora e iluminação, do início ao fim do espetáculo. Plataforma de uma estação de trem. Pessoas esperam, passam, vão, voltam, encontram-se. Ninguém fica muito tempo. Nada se fixa. As coisas simplesmente passam umas pelas outras.


O LEOPOLDO | JUNHO 2015

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BABÉLIA A repórter fotográfica Lívia Tabert registrou imagens da mais recente manifestação contra o projeto de revitalização do Cais Mauá, em Porto Alegre, realizada em abril, na Avenida Sepúlveda. O repórter Fabiano Scheck foi junto e preparou uma reportagem sobre o assunto, que você pode conferir na página 14.

ENSAIO FOTOGRÁFICO

FOTOS LIVIA TABERT


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