Babélia 24

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BABELIA São Leopoldo | Novembro de 2015 | Edição 24

FELIPE MOLLÉ

Portas abertas à solidariedade Com fome e sede, cerca de 200 moradores de rua vão diariamente à Casa de Ramiro, em Porto Alegre, para buscar um prato de comida e apoio para a vida. Páginas 4 e 5

Vingança machista machuca mulheres

Canoas converte lixões em praças

Alvoroço Filmes lança quarto longa

Dois veteranos voltam à cena

Ódio de ex-parceiros inconformados expõe privacidade na rede de mundial de computadores

As novas áreas são revitalizadas com o plantio de árvores e uso de materiais recicláveis, como dormentes de trilhos e pneus

A produtora independente, de Alvorada, levará “O maníaco do Facebook” para as telas do Santander Cultural em janeiro

Lourival, 87 anos, e Arthurzinho, 72, de Novo Hamburgo, fazem tremer os palcos onde apresentam a peça O quarto sinal

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BABÉLIA | Novembro de 2015

Imagem

PÁGINA 2 NATÁLIA SEVERO

ARQUITETURA ÍMPAR | A fotógrafa Natália Severo, autora desta imagem da cidade de Paraty, no Rio de Janeiro, foi uma das alunas do curso de Fotografia, da Unisinos, que integrou o grupo de estudos, juntamente com os professores do curso, ao 11° Paraty em Foco, ocorrido no último mês de setembro

Universidade do Vale do Rio dos Sinos São Leopoldo e Porto Alegre/RS Linha Direta: E-mail:

(51) 3591 1122 unisinos@unisinos.br

Reitor: Vice-reitor: Pró-reitor Acadêmico: Diretor de Graduação: Gerente de Bacharelados: Coord. Curso de Jornalismo:

Marcelo Aquino José Ivo Folmann Pedro Gilberto Gomes Gustavo Borba Vinicius Souza Edelberto Behs

BABÉLIA

Jornal produzido semestralmente pelos alunos do Curso de Jornalismo da Unisinos - São Leopoldo/RS

Textos: alunos das disciplinas de Jornalismo Impresso I e II, Redação Jornalística I e II, e Redação para Relações Públicas II. Orientação: professores Anelise Zanoni, Edelberto Behs e Mariana Bastian. Imagens: alunos da disciplina de Fotografia no Jornalismo, do curso de Fotografia. Orientação: professora Beatriz Sallet. Projeto gráfico: alunos David Farias, Germana Zanettini e Marco Prass, da Turma 2015/1 da disciplina de Planejamento Gráfico. Orientação: professor Everton Cardoso. Diagramação: Agência Experimental de Comunicação (Agexcom). Diagramação: Gabriele Menezes. Supervisão: Marcelo Garcia.

Editorial

Chega de crise, em três tempos

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esses tempos que correm, quando a palavra mais em voga nos meios de comunicação de massa é “crise” - política, econômica, financeira, comportamental, de idade e outras mais -, é animador inteirar-se da iniciativa do roteirista e cineasta Evandro Berlesi, 38 anos, idealizador da produtora Alvoroço Filmes, de Alvorada. Não só pela coragem de instalar uma produtora independente numa cidade interioriana, mas pela própria proposta. Em todas as produções a Alvoroço abre espaços para atores, músicos, técnicos e cenários locais. Para selecionados com pouca ou nenhuma experiência nas telas, a produtora oferece oficinas de interpretação. Na apresentação em praça pública de Alvorada do primeiro longa, a produtora reuniu mais de 25 mil pessoas. Mesmo sem contar com recursos públicos, a Alvoroço alvoroçou Alvorada e parte, em janeiro, para a apresentação no Santander Cultural, em Porto Alegre, do seu quarto longa, este com a participação do ator Werner Schünemann. Depois de “mochilar” por 75 países em três anos, o guaporense Thiago Berto, 34

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anos, descobriu, na sua passagem por Cusco, que ganhar dinheiro não é o objetivo último da vida. Na cidade peruana ele conheceu a Aldea Yanapay, que o inspirou, de volta à terra natal, a abrir a Cidade Escola Ayni, com a oferta de um currículo alternativo. A escola tem por objetivo despertar crianças para valores como afeto, limites e respeito. Em fase de conclusão, a Cidade Ayni receberá alunos no turno oposto à oferta da escola formal. A própria criança escolherá o que pretende estudar, aprender e se relacionar, partindo da máxima que a natureza é a “pacha mama”, mãe de todas as coisas, e que, bem por isso, deve ser respeitada e amada (confira a reportagem na versão digital do Babélia – issuu.com/unisinosagexcom). Com uma ampla bagagem de vivências e experiências na mochila da vida, e atendendo aquele chamado interior que simplesmente diz “vai e faz”, Lourival Pereira e Arturzinho Oliveira, de Novo Hamburgo, voltaram a subir os palcos. Eles são atores. Detalhe: Lourival tem 87 anos e Arturzinho 72. Os dois divertem o público com a peça O quarto sinal que, para interpretá-la tiveram que decorar 16 páginas de texto. Lourival e Arturzinho demonstram que talento não tem idade nem envelhece. Histórias desta edição do Babélia apontam que sentir-se realizado, satisfeito, contente, de bem com a vida, dando-lhe sentido a cada instante, não depende do tamanho da conta bancária. Boa leitura!


BABÉLIA | Novembro de 2015

CIDADANIA

Lar de cultura e resistência

Ocupação Pandorga leva arte à comunidade do bairro Azenha, em prédio da Prefeitura

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sol de inverno derrama luz sobre ano e meio, chegaram a Porto Alegre. Pria mesa na qual caixas de leite meiro, passaram pela Ocupação Violeta, na viram carteiras. Um punhado de Rua Ramiro Barcelos. Conheceram outros crianças se aglomera ao redor da ativistas culturais locais, que já sabiam do jovem que ministra a oficina artesanal. Tão espaço público fora de uso no bairro Azelogo se encerra a atividade, os pequenos nha. Tinha início a Pandorga. correm para dentro e para fora dos prédios “Nosso trabalho, mais do que reprecujas paredes exibem a arte do grafite em sentar espetáculos, é de intervenção social, cores vivas. Cenas assim vêm se repetindo através de processos pedagógicos, oficinas, no número 191 da Rua Professor Freitas e principalmente com crianças. Fazemos Castro, bairro Azenha, Porto Alegre, desde uma pesquisa sobre o teatro callejeiro nos julho, quando famílias países que passamos. e coletivos culturais deA América Latina está Nosso trabalho, cheia de artistas de rua. ram vida à Ocupação Pandorga. Mas geralmente são mais do Quem chega à ocumenosprezados, vistos que representar pação é recebido com mais como mendigos do saudações de “bem-vin- espetáculos, é de que como artistas, prodo à Pandorga” por par- intervenção social” priamente”, elucidou te dos moradores que Emiliano Nandayapa, vão de um lado a outro EMILIANO NANDAYAPA 22 anos, um dos meArtista e morador da Pandorga com preparativos para xicanos que compõe a as atividades culturais. ocupação. Às vezes, as boas-vindas vêm em espanhol, Os Nandayapa, originários do Estado proferidas por algum dos artistas mexica- mexicano de Chiapas, formam o grupo nos que cruzaram a América Latina sobre de teatro Xutil, ativo há três décadas. Nos quatro rodas. Estes, junto com os ocu- últimos tempos antes de saírem do país, pantes oriundos da Grande Porto Alegre, haviam se mudado para a capital, Cidaconverteram dois prédios pertencentes à de do México. Emiliano conta que o país Coordenação de Transportes Administra- passa por uma situação muito conturbada, tivos (CTA), da Prefeitura de Porto Alegre, com um Estado extremamente autoritário. em moradia popular. No espaço, que estava Frente a essa opressão, emergem formas abandonado há cerca de seis anos, agora de resistência popular, como movimentos são oferecidas atrações culturais e oficinas estudantis, de professores ou indígenas, gratuitas à comunidade do bairro. “Acho que o nosso principal trabalho é com as crianças. Temos aqui perto a Vila Cabo Rocha, que está resistindo próximo ao centro de Porto Alegre. A arte não chega até eles. Tem o Teatro Renascença aqui perto, mas é um espaço muito elitizado. Eles não se sentem nem um pouco à vontade”, avaliou o ocupante Gustavo – o “Margarina Bailarina”, como é conhecido no cenário da arte circense. Tudo funciona em regime de ação direta. Alguém propõe uma atividade e o coletivo Pandorga aprova. Semanalmente, ocorrem oficinas de circo, de bolhas de sabão gigantes, aulas de espanhol, capoeira, apresentações artísticas, almoços veganos, entre outras programações. Um dos objetivos é constituir uma escola de circo completa. Vêm-se trabalhando para isso, contam os moradores, mas a ocupação ainda carece de estrutura e materiais, tais como colchões para viabilizar mais projetos.

caso do Movimento Zapatista. Emiliano, inclusive, chegou a ser arbitrariamente colocado na prisão durante um mês, em função da participação em manifestações contra normas que pretendiam banir a arte do grafite. O teatro de rua, segundo ele, carrega um engajamento social e político indelével, ainda que não se exponha isso verbalmente. “O teatro de rua e o teatro convencional são completamente diferentes. Um é rebelde e outro serve para a elite, para dominação. O teatro de rua é uma saída, traz essa essência humana que se vai mitigando nesse tempo de televisões, celulares, de toda a tecnologia”, ponderou Emiliano, em um espanhol entrecortado por sorrisos e bom humor.

Resistência contra o avanço da iniciativa privada Poucos dias após entrarem no imóvel, em 17 de julho, os moradores da Pandorga acordaram pela manhã com a batida de dois homens que ordenavam a desocupação em nome da prefeitura. Chegaram também agentes da Brigada Militar. Porém, constatando que a ocupação já estava instalada, desistiram da tomada dos prédios. No mesmo dia, veio um aviso não-oficial da prefeitura pedindo que o local fosse desalojado dentro de cinco dias. Mas os ocupantes continuaram trabalhando e não tiveram maiores moléstias desde então.

A arte como engajamento social A família Nadayapa trouxe em sua van larga tradição no que em espanhol se denomina teatro callejero (teatro de rua). Oito mexicanos viajavam pela América Latina em busca da essência da arte popular em cada país do continente. Após cerca de um

BRINCADEIRAS | O trabalho de proporcionar atividades culturais às crianças carentes é central para a ocupação

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Um decreto municipal de 2011 destina os dois galpões existentes na área para uso da FASC – Fundação de Assistência Social e Cidadania. Os cerca de quinze moradores alegam que resolveram dar vida ao imóvel de maneira autônoma, uma vez que a prefeitura relegou o espaço ao abandono. Também criticam a possível cedência do espaço à iniciativa privada, especificamente para a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). O debate proposto pela Pandorga diz respeito à escassez e o sucateamento de espaços públicos para uso social, enquanto a especulação imobiliária avança sobre Porto Alegre. A ocupação é vista como uma forma de luta e resistência à essa tendência. Dia após dia, brotam novas oficinas na Pandorga. Novos voluntários adentram o portão, cada qual com uma contribuição que confere vida própria à ocupação. Cada vez fica mais difícil fazer com que as crianças da redondeza deixem o lugar ao fim de um dia de atividades para retornarem às suas moradias. Para muitos, este é um dos poucos refúgios para recreação, senão o único. Ao contrário do que está do lado de fora, nada aqui é hostil. A única hostilidade é a denunciada através da arte – a da sociedade para com as camadas populares e excluídas. Por Igor Mallmann Foto de Estefânia Young


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REPORTAGEM ESPECIAL

Um alento em meio à indiferença Todos os dias, cerca de 200 moradores de rua são abraçados pela Casa de Ramiro

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GUSTAVO SCHENKEL

RECOMPENSA | A angústia daqueles que têm fome e esperam todas as manhãs pela “Sopa do Pobre”, em Porto Alegre

FÁBIO KRAEMER

uem passa pela Casa de Ramiro, em Porto Alegre, quase sempre escuta: “você precisa conhecer o Faísca”. Uma das mais antigas instituições de Porto Alegre que auxilia moradores de rua, fica no bairro Menino Deus, um dos mais nobres da cidade. Márcio de Vargas, o Faísca, tem 49 anos e vive na rua. As marcas da vida o envelhecem mais 15, pelo menos. Enrolado em um cobertor, ele desce a rampa de entrada da casa e olha nos olhos de quem o espera. Faísca não tem tempo a perder. A magreza e o aspecto frágil justificam o apelido. Mas ele garante: “já carreguei muito sacos de cimento nas costas”. Às vezes na chuva, no frio, não importa. Segundo Faísca, ele está todos os dias à espera da primeira e, quase sempre, única refeição. “Dá um conforto no coração. Esquenta a gente.” Após a primeira colherada de arroz carreteiro, servido todas as manhãs, de segunda a sábado, seu rosto muda. Um novo homem surge, assim como as primeiras palavras. Faísca tem 1,65 metro. Carrega no corpo algumas marcas, como um rasgo no braço direito, fruto de uma desavença há mais de 10 anos. “Na rua a gente não tem muita opção”. Ele sonha em rever a filha. O nome dela? Não lembra. Mas não a esquece um dia se quer. Recruta é o cachorro que está ao seu lado. É seu filho, acompanhante, parceiro. Natural de São Borja, região Noroeste do Estado, o homem está em Porto Alegre desde os anos 1980 - mas não lembra bem ao certo o ano. Veio com a expectativa de mudar de vida, assim como tantos outros que andam anonimamente pelas ruas da Capital. Chegou a trabalhar como servente de pedreiro e garçom. Então conheceu as drogas. Foi apresentado às ruas. Agora, sonha em retomar a vida. Ele precisa de oportunidades. Mas Faísca não tem cara, documentos e nem Facebook. É um número que vira estatística. Vive num espaço chamado lugar nenhum, que fica entre o esquecimento e o abandono. Depois de 20 minutos com ele e seus colegas, é possível saber por que deve-se conhecê-lo, e também o verdadeiro motivo do apelido: Faísca brilha.

Assim como os demais assistidos na Casa, o homem faz a refeição em uma sala com duas grandes mesas brancas. A luz é baixa, às vezes até falha. O lugar é simples. E talvez devesse ser assim mesmo. Eles chegam e logo são servidos por voluntários. Mas antes, é puxada uma oração pela equipe de trabalho da Casa. Todos rezam. O cardápio varia: sopa, arroz carreteiro, galinhada, feijoada. A única condição é que o prato tenha “sustância”. Depois de comer, Faísca começa a servir o prato dos colegas. Circula pela sala, como se flutuasse. Ele realmente está nas nuvens. É visto, respeitado. Ele recebe alguns abraços. Um afago bem apertado vem de Dona Neide, que ajuda há mais de 10 anos na “Sopa do Pobre”. Ela se lembra do primeiro dia de Faísca: “Ele mal falava, entrou todo encabulado. Hoje é essa alegria toda aqui dentro”. Diariamente, cerca de 500 refeições são oferecidas pela Ramiro D’Ávila para mais de 200 moradores de rua. Edilson Vargas, presidente da Casa, conta com orgulho que desde a abertura a instituição nunca fechou as portas. “Em alguns dias é complicado, porque recebemos muitos dependentes químicos, especialmente no começo da semana. Mas com o apoio dos nossos colaboradores, conseguimos atender os que mais precisam”, conta. A vida de Faísca é em preto e branco - menos durante os momentos em que está entre os “companheiros de luta”, como chama os demais moradores de rua que frequentam a Casa de Ramiro. Ele vive da coleta de latas, papel e tudo que possa lhe render algumas moedas. Para fugir do inverno e das noites geladas, a cachaça barata é quase sempre o único remédio, como relata sorrindo. O dia a dia de Faísca nas ruas parece roteiro de filme. Mas ele não está sozinho. Sua história e dos menos favorecidos não é novidade no Brasil. Os moradores de rua, em determinadas situações, são imperceptíveis. Assim como é invisível a sua dor. Mas o dicionário Aurélio sentencia: faísca é o que brilha, cintila; é ardente, brilhante e valente. Isso tudo também está nos olhos do nosso personagem. Ele precisa ser visto, lembrado, amparado. Ao saber qual será o resultado do dia, brinca: “Bom que posso usar também para me esquentar”. Por Gustavo Schenkel Fotos de Fábio Kraemer, Felipe Mollé e Gustavo Schenkel

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GUSTAVO SCHENKEL

Faísca não tem cara, documentos e nem Facebook. É um número que vira estatística GUSTAVO SCHENKEL

FÁBIO KRAEMER

A Casa de Ramiro Fundada em 1932, a Sociedade Espírita Ramiro D’Ávila atende diariamente mais de 200 moradores de rua de Porto Alegre. Entre as atividades está a conhecida Sopa do Pobre, que, por meio de trabalho voluntário e de doações, oferece alimentação às pessoas em situação de risco social. Além disso, disponibiliza acompanhamentos médicos e psicológicos para àqueles que apresentam algum envolvimento ou dependência química. “Toda ajuda é bem-vinda. Alimentos, roupas, itens de higiene e limpeza. Mantemos a Casa com a colaboração dos amigos da causa”, conta o presidente da Casa, Edilson Vargas. As tardes, a Ramiro D”Ávila abre para passes e sessões espíritas. Para contatar a instituição: pelos telefones (51) 32334934/3233-3926 e pelo e-maiI contato@ sopadopobre.com.br.

As ruas em números Os dados são de 2008, divulgados pela FASC. Uma nova pesquisa qualitativa e quantitativa será lançada, parcialmente, no primeiro semestre de 2016. l Idade

71,8% têm até 44 anos l Renda

29,1% até um salário mínimo l Escolaridade

46,4% têm Ensino Fundamental incompleto l Utilização de abrigos

60% dormem em lugares de risco 35% dormem em abrigos ou albergues l Alimentação

34,6% recebem alimentação em residências, restaurantes ou nas ruas l Fonte de renda

22,9% recolhem material na rua 15% pedem esmola 12,3% guardam e lavam carros FELIPE MOLLÉ

O mapa das ruas Um número que ninguém gostaria de contabilizar: Porto Alegre tem mais de 1,3 mil moradores de rua, segundo dados da Fundação de Assistência Social e Cidadania (FASC). São homens, mulheres e crianças vivendo em condições de degradação humana. Viadutos, pontes, esquinas, becos. Os espaços públicos são utilizados como moradia por quem não sabe para onde ir. Do total, cerca de 80% são homens, 16% mulheres e os outros 4% são formados por um grupo de crianças e idosos. Para tentar resgatar, ainda que minimamente, a cidadania dessa fatia da população, a Prefeitura mantém cinco abrigos, três albergues, uma casa lar e uma república.

SOLIDARIEDADE | A instituição sobrevive de doações e de ações comunitárias

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Entre os serviços prestados estão pernoite, dicas para cuidado com higiene e alimentação, além de encaminhamento à rede de saúde, quando necessário. Recentemente foi inaugurado um restaurante popular, no bairro Floresta, que oferece 600 refeições dia, no valor de R$ 1 para as pessoas em situação de rua. Em junho, foi lançado o Plano Pop Rua que prevê a ampliação de uma série de serviços aos moradores de rua. Entre os beneffcios, que devem ser implantados até o final de 2016, estão a opção de convênio em serviço de hospedagem, aumento de profissionais para equipe de abordagem social e contratação de equipes de redução de danos da saúde.


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CIDADANIA

Eles também merecem cuidados Espaço em Canoas é o refúgio para cães e gatos negligenciados pela comunidade

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rame, Quinta-feira, Pirulito, Francisco, Piranha, Mijão, Mili e Zoiudo. Esses são os nomes de alguns dos cães e gatos que a voluntária Maria Ângela Ronchetti, 49 anos, cuida no Centro de Bem Estar Animal, em Canoas. A comerciante é uma voluntária veterana do espaço desde 2012. “Adoro animais. Aqui nós damos água, comida, limpamos e fazemos carinho. Tentamos tornar a vida deles um pouco melhor”, diz, ao ser questionada sobre o porquê de escolher os animais para cuidar como voluntária. Maria Ângela é muito elogiada e reconhecida na instituição por ser sempre bem disposta e carinhosa com os bichos. Ela comparece ao Centro todos os domingos e alguns sábados pela manhã. Também é voluntária no espaço “Abrigatos”, a cada duas terças-feiras. O Centro de Bem Estar Animal tem a sorte de poder contar com um grande número de voluntários que ajudam nos finais de semana, limpando, dando comida e água, levando para passear e, o mais importante, dando muito carinho, amor e atenção, o que os animais mais necessitam. “Há voluntários que até levam os cães para casa e dão banho e tosa. Voltam bem cheirosos!”, comenta Maria Ângela. A professora de Educação Física Fernanda Marques, 30 anos, também é uma das voluntárias ativas mais antigas, estando no Bem Estar há um ano e meio. “Tenho paixão por animais. Também já fiz voluntariado com idosos em Porto Alegre”, diz. A professora iniciou as atividades no Centro por indicação de Maria Ângela. “Achei bom por ser perto de casa e por ter bastante conhecidos. E também porque eu amo os animais”, comentou Fernanda. Cada cão e gato tem nome e recebem toda a atenção e cuidados dos voluntários. A estrutura também conta com quatro baias para receber cavalos abandonados ou maltratados, fato inédito no município, e um grande espaço para que possam pastar e se movimentar. O último equino a chegar ao Bem Estar foi batizado de Panga, e ainda está se recuperando depois de ser abandonado pela região. A área de tratamento, onde cães e gatos se encontram em recuperação, é o lugar onde Maria Ângela e Fernanda mais ajudam. Segundo elas, a reabilitação dos bichinhos precisa de atenção maior. O espaço recebe em torno de 12 voluntários cadastrados ativos, que vão ao local nos finais de semana. “A primeira coisa que o voluntário precisa é dispersar muito amor e atenção pelos animais, além de responsabilidade e respeito por todas as formas de vida. Deve então buscar a Parceiros Voluntários de Canoas para fazer o cadastro e passar pela Reunião de Conscientização, e depois entrar em conta-

SOLIDARIEDADE | A voluntária Maria Ângela cuida dos animais do Centro de Bem Estar desde 2012 to conosco para abrirmos espaço durante a semana para vir fazer o voluntariado”, explica Cristiano Moraes, Secretário Especial do Centro de Bem Estar Animal.

meio ambiente ecologicamente correto, sadio e equilibrado”. A fauna doméstica é o foco do Centro. Moraes diz que o poder público faz a consulta, a internação, o tratamento e a Clínica realiza tratamentos cirurgia. Por fim, o animal, depois de saudável, é castrado e retorna para a pessoa. O Centro de Bem Estar Animal tem na Nesse ínterim, o contribuinte deve ter tido equipe funcionários, estagiários e tercei- tempo para conseguir um adotante, caso rizados, um total de 14 pessoas. O espaço contrário, o cachorro retorna ao local de abriga 86 animais internos, da época em onde saiu, na condição de cão comunitário. que eram recolhidos indiscriminadamenSegundo Moraes, a lógica de adoção te. “Quando eu entrei no espaço é inversa. “As O voluntário aqui, em 2013, eram pessoas vêm mais aban198 cães em canis imdonar e pedir ajuda do precisa provisados. Não raro que adotar e auxiliar. chegávamos e tinham dispersar muito Como é um problema animais mortos por amor e atenção pelos socioambiental, não é brigas. Então inicia- animais, além de só o poder público que mos um processo de tem que trabalhar para adoção de animais responsabilidade e mudar essa realidade”, adultos e paramos de respeito” comenta. O Bem Estar recolher, por entenAnimal já passou da marCRISTIANO MORAES der que não há bem Secretário do Bem Estar Animal ca de 6.753 castrações estar animal quando desde janeiro de 2013, você aglomera muitos cães no mesmo feitas em animais da população de baixa espaço”, diz o secretário do Bem Estar. renda, macho e fêmea, cão e gato. Também Os contribuintes levam os cães ao são consumidas duas toneladas de ração Centro para serem atendidos com a se- por mês, disponibilizadas pela prefeitura. guinte ressalva: devem ser responsáveis O conceito e o objetivo do Bem Estar pelo retorno dos pets. Moraes informa Animal é ter como objeto de proteção o a existência de um Artigo da Constitui- animal. O Centro já passou da marca de ção, onde diz que “o poder público e a 3 mil atendimentos no modelo de atender coletividade são responsáveis por um de quatro a cinco animais por dia pela

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manhã, pois à tarde são realizadas as cirurgias e tratamentos. Os casos de emergência são atendidos na hora. Situações não tão urgentes são agendadas para até dois dias. “A demanda de atendimentos é gigante. Foram mais de 70 anos de total negligência com os animais domésticos em Canoas”, explica Moraes. “Cada dia que passa, cada adoção que é feita, cada vida que é salva eu considero uma conquista”, finaliza Moraes. Palestra para ingressar no voluntariado O primeiro passo para ser voluntário é passar por uma reunião de conscientização, como explica Tatiani Oppi, assistente social e palestrante dos encontros da Parceiros Voluntários de Canoas. “A pessoa passa pela RC, onde é informado como funciona o processo do voluntariado e as instituições disponíveis em Canoas”, diz Tatiani. Logo após a palestra, o voluntário é encaminhado para a instituição de sua escolha para combinarem as visitas durante a semana e os horários. Todas as reuniões de conscientização são realizadas na Rua Ipiranga, 95, 9° andar, no Centro de Canoas. Para saber as próximas datas, acesse o site www.parceirosvoluntarioscanoas.org.br. Por Mariana Artioli de Moraes Foto de Zé Luiz Dias


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CIDADANIA

REALIZAÇÃO | Maria Di Pietro mostra orgulhosa o trabalho confeccionado pelo grupo

Mulheres na economia solidária Associação Maria José descobre na cooperação a fórmula do empoderamento feminino

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história da humanidade está repleta de “Marias”, desde a mãe de Jesus até a da Penha, nome de santa e de guerreira, repleto de simbolismos. De origem hebraica, Maria quer dizer “senhora soberana”, e a simplicidade do nome carrega bem mais do que as pessoas imaginam. Cada Maria possui uma luta diária, uma busca por aperfeiçoamento pessoal. No município de Esteio reside Maria Elisabeth de Pietro, que leva a saga de todas as outras Marias na Associação de Voluntárias Maria José. Entre tecidos, costura e maquinário, aliados a uma boa dose de dedicação e parceria, o grupo fundado há 17 anos e composto hoje por 15 mulheres, trabalha semanalmente na confecção de artesanatos variados. A alquimia do processo se faz presente no espaço quando retalhos e insumos rejeitados se transformam em belas bonecas com detalhes caprichados, como se fosse um festival de cores quentes. Cada produto contém um pouco da identidade e do sentimento das artesãs. Suas histórias de vida e vitórias deixam explícito o empoderamento no âmbito colaborativo da economia solidária, chamada de Ecosol. Na sala da associação, situada no bairro São José, em Esteio, o olhar de Maria

é atento. Um banner na parede anuncia antiga da equipe conta como o trabalho com com convicção as motivações do grupo: “Só as mulheres mudou sua vida. “Estou com as morrem os ideais pelos quais não lutamos”. gurias há 11 anos, quando eu as vi expondo Organizadas nas máquinas de costura, as os produtos em uma feira. Gostei do traintegrantes produzem em larga escala os balho e pedi informações para participar. produtos para as feiras. “Nosso grupo é mui- Estar com elas me faz bem”, conta a artesã. to unido, aqui surgem diferentes peças criaApesar das baixas e renovações na equitivas, damos destino ao material descartado pe, Maria Geni não se imagina deixando a por grandes empresas e turma. “Gosto de estar que doado a nós acaba com elas, quero levar Nós já tivemos virando arte. Cultivamos o trabalho adiante, mulheres no espaço a consciência da todos os momentos que chegaram sustentabilidade”, explica naquela sala são mara responsável. cantes”, completa. aqui tomando A voluntária acrediPara o presidenantidepressivos e ta que algo maior que a te da Cooperativa de hoje acreditam mais artesãos do RS, Sérgeração de renda impulsiona o grupo e aponta as gio Freitas Silva, que nelas mesmas” relações pessoais como o dirige um projeto de MARIA DI PIETRO alicerce da equipe. “Cuiformação e qualificaArtesã damos umas das outras, ção de artesanato com toda integrante é valorizada, tanto por seu foco em economia solidária em Canoas, talento como pela amizade que construímos. a participação da mulher no segmento é Nós já tivemos mulheres que chegaram aqui significativa no Rio Grande do Sul. “O engatomando antidepressivos e hoje acreditam jamento de mulheres na economia solidária mais nelas mesmas, são donas de si e re- no Estado tem sido de 80%, por muitos moconstruíram a autoestima”, salienta. tivos: desde ocupação terapêutica, mulheres Engajada com o grupo de economia que se aposentam e não desejam parar de solidária, outra Maria se destaca: Maria trabalhar e outras buscando uma atividade Geni Escouto, 76 anos. A integrante mais remunerada oficial.

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Silva acredita que a Ecosol traz valores importantes como dividir o mesmo espaço, compartilhar saberes e uma gama de ações que permitem aos indivíduos estarem conectados uns com os outros não somente como colaboradores de um setor econômico, mas sim como grupos que estabilizam relações através da empatia. Por Aline Santos Foto de Aline Secco

Estatísticas por gênero O cenário das estatísticas na Ecosol atual ainda está longe de ser satisfatório a nível nacional no quesito relações de gênero. De acordo com uma pesquisa realizada pela Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), a participação das mulheres no setor ainda é menor que a dos homens, em uma porcentagem de 36% contra 73% em território brasileiro. Para sanar estas questões estão sendo planejadas políticas públicas que visam estimular a autonomia da mulher no segmento, como por exemplo, capacitações para inserção no mercado de trabalho.


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REPORTAGEM ESPECIAL LEODAIR NASCENTE

VERGONHA | “A forma como meu pai e minha mãe passaram a me tratar doeu mais do que a pior das surras”

A vitrine da humilhação: o lado da web que ninguém quer ver Mulheres e meninas têm privacidade exposta devido ao ódio de ex-parceiros

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essa nova era, temos a impressão de que nada mais é escondido. Uma época em que as pessoas concorrem umas com as outras para serem cada vez mais populares, para estarem cada vez mais expostas nessa vitrine chamada redes sociais. O que antes era feito e limitado ao conhecimento de poucos, hoje é de conhecimento de milhares. A intimidade tornou-se um valioso tesouro. Em pleno século 21, muitos paradigmas e preconceitos são quebrados, mas existem fatos que ainda chocam e, inevitavelmente, muitos via internet. Entre eles está o que chamamos de revenge porn ou pornografia de vingança. Para quem não conhece trata-se da divulgação e exposição de vídeos e/ou fotos íntimas por companheiros, após o término do relacionamento, sem o consentimento da ex-parceira. Raivosos, inseguros e inconformados. Este é o perfil da grande maioria dos homens que cometem esse tipo de crime. Sim,

crime, que prevê até um ano de prisão, segundo a lei 12.737, conhecida como Lei Carolina Dieckmann. Dentre os delitos descritos na Lei estão a invasão de dispositivo alheio, conectado ou não à internet, com a intenção de obter, adulterar ou destruir dados sem autorização do titular; interrupção ou perturbação de serviço telefônico ou semelhante; e falsificação de documento particular ou cartão. Em vigor desde 2 de abril de 2013, a Lei foi proposta em referência à situação na qual a atriz foi exposta dois anos antes, quando um hacker invadiu seu computador pessoal e divulgou trinta e seis fotos íntimas de Carolina na internet. Segundo a juíza de direito da 3ª Vara Cível do Fórum de Esteio, Jocelaine Teixeira, outras leis já defendiam a privacidade da sociedade em geral, não somente dos usuários de redes sociais. “O caso da Carolina Dieckmann mostrou que, com o aumento da

modernidade e da quantidade de usuários de internet, esse tipo de episódio vai acontecer cada vez mais”, ressalta. Nem poucos nem bons Pode parecer um tipo de crime incomum, mas a pornografia de vingança tem sido cada vez mais corriqueira no mundo virtual. Só em 2014, o site SaferNet, especializado no recebimento de denúncias de crimes realizados via web, recebeu 224 denúncias de revenge porn via chat e e-mail. O número é quatro vezes maior que em 2012, quando foram registrados 48 casos. Segundo o site, esta é a principal violação para a qual os internautas brasileiros pedem ajuda. Em entrevista para o site UOL, a coordenadora psicossocial da SaferNet, Juliana Cunha, afirma que os casos continuam crescendo por conta da sensação de impunidade, já que a lentidão ainda impera na hora de punir

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o responsável pelo vazamento. Ela explica que, ao receber uma denúncia, a central da SaferNet envia os dados para o Ministério Público Estadual e Federal e para a Polícia Federal que fazem a investigação. O SaferNet está no ar desde 2008 e já recebeu mais de 3 milhões de denúncias anônimas sobre diversos crimes cometidos via internet. Deste número, foram atendidos 9.577 casos, sendo 914 envolvendo crianças e adolescentes. Com o aumento do uso de internet no país, cresce, também, a quantidade de crianças e adolescentes nas redes sociais. Em entrevista para o UOL, Juliana conta ainda que o crescimento no número de casos de superexposição de crianças e adolescentes na internet é motivado, também, pelas primeiras experiências sexuais dos jovens. “Os adolescentes de hoje namoram pela internet, usam a webcam e as novas tecnologias para trocar mensagens e fotos. De cada quatro


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casos de meninas expostas intimamente na internet, uma é menor de idade”, afirma ela. Manda nudes Em maio desse ano um grupo de jovens de Encantado viu suas vidas virarem um verdadeiro inferno quando fotos íntimas foram parar em um grupo de conversas no aplicativo WhatsApp. Algumas, inclusive, tiveram suas imagens publicadas em um dos principais jornais da região, sendo duramente criticadas por um dos proprietários do veículo em sua página no Facebook. Na crítica, o fotógrafo e proprietário do jornal Antena, Juremir Versetti, diz que as meninas “não se valorizaram”. “Alguém disse que precisariam de um acompanhamento psicológico. Tem remédio, sim. Uma boa cinta de couro de búfalo com uma fivela de metal fundido, isso ajudaria e muito no psicológico delas”, afirmou Juremir em sua página no Facebook. “Tentei cortar os pulsos até com a lâmina do apontador” Yasmin Santos, moradora de Esteio, tinha 15 anos quando viu sua intimidade ir por água abaixo. A ausência do pai fez com que a menina procurasse carinho e atenção em outros homens. Yasmin acabou conhecendo Diego e entre eles cresceu uma amizade e intimidade. Os assuntos eram diversos, dentre eles sexo. Durante conversas via webcam, Yasmin e Diego, frequentemente, ficavam ambos nus. Quando Yasmin conheceu outro rapaz e começou a namorar, Diego começou a mostrar uma violência e um ciúme que ela desconhecia. “Ele começou a me ameaçar. Várias vezes ele foi na saída da escola tentar bater em mim ou no meu namorado. Até o dia em que eles brigaram e o Diego apanhou”, diz ela. Yasmin conta que recebeu mensagens de Diego dizendo que aconteceria algo muito ruim com ela para que ela aprendesse que era do lado dele seu lugar. Quando Yasmin se conectou ao Facebook, haviam centenas de mensagens falando que havia

uma foto de seus seios postada no perfil de que poderia confiar, pois estávamos sempre um amigo de Diego. juntos, saíamos, conversávamos bastante”, Após o ocorrido, Yasmin foi até a Defen- conta ela. As imagens de Raquel nua nunca soria Pública descobrir como proceder. “Isso foram parar em redes sociais, embora ela aconteceu em 2013, quando eu ainda era tenha recebido várias ameaças. menor de idade. O Diego já era ‘de maior’ e A menina fez tudo para esconder a situpediu pro tal amigo posação dos pais. A história tar a foto pois o cara era estourou quando um paA pessoa ‘de menor’. Se fosse para rente de Raquel mandou que tem a processar alguém, seria o as fotos para a mãe dela amigo dele, e não aconpor e-mail. “Ela avannecessidade de se teceria nada”, explica ela. sobre mim, tentou vingar, normalmente çou Na época, a família decime bater, mas meu pai diu não prosseguir com o impediu. Ela não me batem transtorno processo pois não tinha teu, mas nem precisou. de personalidade. condições de contratar A forma como ela e meu Ela vê na vingança um advogado. pai passaram a me tratar Quando o caso esdoeu mais do que a pior uma forma de obter tourou, Yasmin perdeu das surras. Os dois me prazer” as amigas e o emprego. tratavam como lixo. Era Colegas de escola se afassó ‘oi’ e ‘tchau’. Meu pai ANDREIA BÁRBARA taram completamente. E disse que eu não merecia Psicóloga as tentativas de suicídio o sobrenome que tinha. ficaram mais frequentes. “Comecei a cortar os Ele esqueceu que eu existia”. Quanto ao pulsos com qualquer lâmina que encontrasse, rapaz que enviou as fotos para sua mãe, até com a do apontador escolar”, afirma. Raquel conta que nunca mais o viu. “Ele é Logo após o acontecido, a menina fez dono de todo o meu nojo”. consultas com uma psicóloga durante seis Raquel nunca chegou a fazer boletim de meses, trocou o turno da escola e teve que ocorrência ou ir a psicólogos. Ela conta que fazer novos amigos. “Ele já fez isso várias conversava muito com amigos, o que amenizou vezes e vai continuar até que alguém faça-o a dor da pornografia de vingança. “Eu sei que parar”, disse ela. ele fez isso comigo para ‘se achar’, para que os outros vissem que ele era ‘bonzão’. Até hoje “Minha mãe começou sou conhecida como a vagabunda da escola. Só a me tratar como lixo” o tempo para curar essa história”, afirma ela.

Ausência de controle

A soma de conversas eróticas de webcam e confiança em pessoas erradas também jogaram a intimidade de Raquel Martins* na lama. Em 2013, ela tinha apenas 12 anos e teve que suportar a dor de ver suas fotos nua rolando em grupos de WhatsApp. Embora as imagens tenham sido feitas há dois anos, a menina conta que até hoje as pessoas ainda comentam bastante. Inacreditavelmente, o rapaz que vazou as fotos de Raquel é o mesmo que cometeu o crime contra Yasmin. “Eu era tão ‘cabeça fraca’, ia nas conversas dos outros. Ele era muito meu amigo, nunca chegamos a ter nada além de amizade. Achei

Marisa da Costa é orientadora pedagógica de uma das escolas de Esteio com maior número de meninas vítimas de revenge porn. Segundo ela, o início do amadurecimento dos alunos e alunas e a necessidade da autoafirmação são os fatores responsáveis por fotos íntimas de menores de idade irem parar na internet. “Eles estão saindo da adolescência e indo para a fase adulta. Sentem a necessidade de que os outros olhem para eles e os admirem. As meninas acham que precisam ser vistas como ‘gostosas’ e os meninos acham que deJULIANO OLIVEIRA

O trauma A psicóloga Andreia Bárbara explica que o trauma causado por exposições desse tipo é extremamente grande, o que leva muitas meninas vítimas da pornografia de vingança ao suicídio. “O motivo da morte destas meninas é compreensível. Se para uma mulher já é muito dolorido, imagina para uma menina que recém está ingressando na vida adulta”, conta. Andreia fala, ainda, sobre o perfil de ex-companheiros que cometem o revenge porn. Segundo ela, a vingança não deveria ser considerada algo comum e a pessoa que tem a capacidade de expor a outra desta forma necessita de acompanhamento psicológico. “A pessoa que tem a necessidade de se vingar, normalmente tem transtorno de personalidade. É um indivíduo que não sabe lidar com o ‘não’, com a frustração, com a rejeição de terceiros e tem uma estrutura emocional muito frágil. Ela vê na vingança uma forma de obter prazer, através da punição ao outro”, explica a psicóloga.

vem ser os ‘melhores’. É normal. O problema é quando isso se mistura. Os garotos recebem essas fotos de meninas que se acham lindas e distribuem para massagear o seu ego”, sinaliza. Marisa conta que quando estes casos ocorrem entre os alunos da escola, a direção procura conversar e orientar os pais e os próprios estudantes. “Quando os burburinhos começam a gente já fica atento. Chamamos os envolvidos para explicarem a situação e ligamos para os pais. É um tipo de caso muito delicado, por isso, quando necessário, encaminhamos para psicólogos”, explica ela. A orientadora ainda afirma que, há alguns meses, ela e demais membros da direção da escola passaram por um curso realizado pela SaferNet sobre segurança na web. “Durante a palestra descobrimos um pouco mais sobre a visão dos pais para a tecnologia. Muitos deles acham que já que os filhos sabem tanto, eles não precisam ensinar mais nada. Independente do avanço das tecnologias, ainda cabe aos pais ensinarem valores morais e éticos aos seus filhos”, conta Marisa. Denunciar? Nem pensar... Poucos casos chegam ao conhecimento da mídia, mas a quantidade de mulheres e meninas vítimas da pornografia de vingança é enorme. Segundo a advogada especialista em direito digital e idealizadora do Movimento Família Mais Segura na Internet, Patrícia Peck, apesar do aumento no número de denúncias, os casos de revenge porn ainda são pouco notificados. “Apesar do aumento da denúncia, ela representa menos de 20% dos episódios. Em 80% dos casos, as pessoas têm vergonha do que aconteceu”, afirma. Patrícia alerta que, ao ser vítima de vazamento de fotos íntimas, a pessoa relembrará o caso por muito tempo. “Antigamente, mudava de escola, de cidade. Hoje em dia não adianta mudar de escola, de cidade, aquele conteúdo vai atrás da família aonde ela for”. * Nome fictício Por Michelle Oliveira Fotos de Juliano Oliveira e Leodair Nascente

Como denunciar

Disque 100 As denúncias de violações íntimas via internet podem ser feitas pelo Disque Direitos Humanos (Disque 100) e pelo aplicativo Proteja Brasil, disponível em tablets e smartphones, que mostra onde encontrar serviços de proteção integral dos direitos das crianças e adolescentes. Se for necessário fazer um boletim de ocorrência, é preciso ter em mãos todas as provas possíveis contra o agressor. Nome completo, telefone, endereço e imagens. Tudo conta a favor de quem sofreu essa violação de intimidade. É sempre bom alertar: cuidado com quem você compartilha fotos e vídeos. Os limites entre público e privado estão cada vez menores, portanto seja prudente com o uso das redes sociais.

VIOLÊNCIA | “Ele começou a me ameaçar. Várias vezes ele foi na saída da escola tentar bater em mim ou no meu namorado”

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CIDADANIA

Jiu-jitsu e inclusão social

Projeto Lutador Cidadão resgata crianças em situação de vulnerabilidade social

A

história de Anderson Marcos de Lima, um garoto de 12 anos que vive com os irmãos e a vó, é de superação. Faz três anos que ele se dedica, diariamente, ao jiu-jitsu. O garoto conta, sorrindo, que desde que começou a lutar tem se concentrado mais na aula e tornou-se mais disciplinado. “Ajudo nas tarefas em casa e cuido dos seus irmãos”, relata o jovem. Na academia, Anderson Marcos é o mais ‘enturmado’ e está sempre disposto a ajudar os colegas que estão aprendendo os novos golpes. O sonho de Anderson é um dia se tornar um lutador profissional. E, com apenas 12 anos, ele já vem conquistando campeonatos importantes, como a Copa Gaúcha de Porto Alegre onde obteve a 3° colocação e o Campeonato Municipal de São Leopoldo, que ocorreu no Ginásio Municipal, onde conquistou o disputado primeiro lugar. Anderson faz parte do projeto Lutador Cidadão, idealizado por Mohamad Jehad Ali Tayeh na academia Sul Jiu-Jitsu, em São Leopoldo. O objetivo é a inclusão e a conscientização social através da arte marcial. “Os meninos têm o Jiu-jitsu

como ferramenta de inclusão social e Elas contam com o apoio da academia e exercício de cidadania”, afirma o profes- de seus padrinhos. A maioria das crianças sor, ao salientar a importância do esporte vêm da Cruz Vermelha de São Leopoldo para a autoestima das crianças. Além da e passaram por alguma dificuldade ou prática da luta, o projeto também viabi- alguma situação de vulnerabilidade social, liza parcerias com outros profissionais e mas, hoje, estão superando esse passado voluntários, que fornecem atendimento com a ajuda dos professores e colegas odontológico, médico, de aula. aulas de reforço escoO professor MohaOs meninos lar, iniciação na língua mad, incentiva muito têm o jiu-jitsu inglesa, alimentação, seus alunos nos estudos e acredita que roupas, material esco- como ferramenta a prática de esportes lar e palestras educa- de inclusão social e, principalmente, do tivas. Cada aluno tem e exercício de jiu-jitsu ajuda na conum padrinho voluncentração durante as tário para pagar suas cidadania” aulas. Muito próximo despesas e aulas du- MOHAMAD JEHAD ALI TAYEH de seus alunos, eles rante o período de um Idealizador do projeto procuram fazer ativiano. “No nosso projeto, Lutador Cidadão dades diferenciadas e todas as parcerias são importantes e fazem a diferença na vida fora da academia. Recentemente, fizeram uma viagem para Santa Catarina, onde dessas crianças”, salienta o professor. se divertiram em aulas de surf e muitos Como uma família jogos na beira da praia. O mestre, como é chamado pelos alunos, tem a responAtualmente, a academia contabiliza sabilidade de educar e mostrar para eles um total de 30 crianças, entre meninos o quanto é importante a construção de e meninas que são integrados no projeto. um cidadão de bem.

Estimulando a autoconfiança e a autoestima O jiu-jitsu desenvolve habilidades e capacidades específicas, prepara os jovens para uma convivência harmônica em seu ambiente social e estimula o interesse pela competição sadia. Além disso, a modalidade ensina um sistema completo de autodefesa e a criança adquire autoconfiança. O jiu-jitsu também ensina como enfrentar com tranquilidade e inteligência momentos de tensão, mostrando a importância de valores sociais positivos, como respeito, honestidade, humildade e dignidade. Ajuda a criança a conviver com os outros e tratá-los com respeito. O esporte também auxilia fisicamente, contribui para o controle muscular, o aperfeiçoamento dos reflexos, o desenvolvimento do raciocínio, o equilíbrio mental, o reforço do caráter e da moral, o fortalecimento da autoconfiança e do respeito pelos companheiros. Texto e foto de Amanda Cunha

DISCIPLINA | A história de Anderson é de superação. O garoto de 12 anos dedica-se ao jiu-jitsu diariamente

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CIDADANIA

VAMOS JUNTAS? | A página no Facebook do movimento, criado pela jornalista Babi Souza, já contabiliza mais de 200 mil curtidas

É preciso falar sobre abuso União e informação para avançar no combate à violência contra a mulher

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arina*, 21 anos, esperava por Bruna*, da mesma idade, que estava tomando banho, na sala da casa de veraneio da família da amiga. Sozinha com o pai de Bruna, Marina vivenciou uma das piores situações de sua vida. O homem iniciou a conversa dizendo que estava solteiro e que procurava uma menina como Marina. Depois de elogiá-la incansavelmente, o pai de Bruna a convidou para ir até o quarto, várias vezes. Sem saber o que fazer, Marina foi esperar pela amiga no quarto dela. Depois do assédio sofrido, Marina tem receio de ficar sozinha inclusive com homens mais próximos a ela. Até hoje ninguém sabe do acontecido. Nem a amiga Bruna. Mas a violência contra a mulher não se restringe ao âmbito familiar nem é praticada somente por pessoas próximas. Milhares de mulheres são vítimas de abuso nas ruas todos os dias. Desde a cantada até o ato de passar a mão no corpo da vítima, muitas não sabem, mas isso é assédio moral e sexual. E são esses acontecimentos que amedrontam aquelas que só desejam ter o direito de ir e vir de forma segura. Pensando nisso, a jornalista Babi Sou-

za criou o movimento Vamos juntas?, que de Políticas para as Mulheres da Preteve grande repercussão e já contabiliza sidência da República (SPM-PR), 43% mais de 200 mil curtidas em sua página das mulheres em situação de violência no Facebook. A ideia de Babi é incentivar sofrem agressões todos os dias. Para 35%, mulheres a andarem juntas para se senti- a agressão é semanal. rem mais seguras. “Além de ser um vamos De acordo com a escrivã da Delegacia juntas literalmente, acabou tornando-se Especializada no Atendimento à Mulher um movimento que leva a ideia do va- (DEAM), de Novo Hamburgo, que prefemos juntas a mudar a riu não se identificar, nossa realidade como as ocorrências mais Muitas mulheres, nos tornanfrequentes são de leregistram a do mais empoderadas e são corporal, ameaça seguras”, diz Babi. Em ocorrência, mas e injúria. Questionada breve o Vamos juntas? voltam para retirá-la. sobre o encorajamentambém estará dispo- A dependência dos to das mulheres para nível em forma de aplique denunciem o viocativo com a finalidade parceiros é um dos lentador, ela lamenta: de ajudar as mulheres a principais motivos” “Muitas mulheres vêm encontrar umas as ouregistrar a ocorrência da Delegacia Especializada tras para seguirem jun- Escrivã no calor do momento, no Atendimento à Mulher tas até seus destinos. mas, no dia seguinte, Evitando, assim, se exporem sozinhas voltam para retirá-la. A dependência a situações em que possam ocorrer esse financeira e emocional dos parceiros é tipo de assédio. um dos principais motivos”, salienta a Mas, apesar de toda essa mobilização, escrivã. A DEAM registra todos os tias agressões contra mulheres continuam pos de violência doméstica. Quando o se tornando cada vez mais frequentes. agressor não tem laços com a vítima ou Segundo o balanço dos atendimentos a violência ocorre na rua, a queixa deve realizados no último ano pela Central ser registrada na delegacia comum mais de Atendimento à Mulher, da Secretaria próxima. Além disso, as mulheres que

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necessitarem podem ser encaminhadas a atendimento psicológico e jurídico, através de um convênio da Delegacia com a Universidade Feevale. Muitos passos já foram dados na direção da proteção da mulher e da condenação dos agressores. A criação da Lei Maria da Penha, em 2006, foi um deles. Essa Lei instaurou mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher e diz, no terceiro artigo, que “serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária”. Porém, muito ainda precisa ser feito. Enquanto isso, homens e mulheres precisam ter em mente que cantada não é elogio; tapa de amor dói, sim; e que nada, absolutamente nada, pode acontecer se a mulher não permitir. *Os nomes foram alterados para preservar a identidade dos envolvidos no caso. Por Amanda Dilly Escher Foto Dieine Andrade


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ACESSIBILIDADE

Respeito às diferenças

Campus São Leopoldo da Unisinos é adaptado para pessoas com necessidades especiais O direito do deficiente visual Dos 117 estudantes da Unisinos que possuem alguma deficiência, quatro são completamente cegos e cerca de 20 alunos têm baixa visão. Para os alunos com deficiência visual a lei assinada por Paulo Renato Souza em 2 de dezembro de 1999, da portaria nº 1.679, exige compromisso formal da instituição. Adriana Alves, coordenadora do Laboratório Adaptado de Informática da Unisinos (LAI) relata que a universidade e o laboratório estão aptos para atender da melhor forma possível os alunos com deficiência visual. O LAI possui materiais como: n

Impressora Braille (que imprime frente e verso); n Computador adaptado para alunos com deficiências na área da visão; n Salas contendo computadores com softwares especializados: NVDA e Virtual Vision sintetizadores de voz e Zoom texto ampliador de tela; n Escâneres com programas especializados para transcrição de texto. A coordenadora também explica que esses softwares especiais para alunos com baixa visão, podem ser instalados em qualquer máquina das salas de informática onde o aluno tenha aula. Além disso, os prazos para devolução de livros na biblioteca é mais longo e a cota de impressões é dobrada. Adriana ressalta que, além do material disponível no LAI para efetuar trabalhos, consultas e provas, esses alunos também recebem o apoio acadêmico.

FACILIDADE | Impressão em Braille é uma das opções oferecidas aos deficientes visuais pelo Laboratório Adaptado de Informática da Unisinos

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campus, desde o seu primeiro contato, que é o vestibular, até a conclusão do curso. São elas:

aminhando com o braço apoia- com necessidades especiais o aprendizado ao ombro de Jaime Maga- do e os direitos de um cidadão comum, lhães, Anderson Dilken, que é visando eliminar todas as formas de completamente cego, é guiado discriminação. Dilken e Magalhães afircom facilidade pela Unisinos, com aju- mam que não se sentem excluídos ou da do amigo que tem baixa visão. Os vítimas de algum preconceito. Sentemalunos de comunicação da universidade se, apenas, diferentes. Nada os impede são apenas dois, dentre os 30 mil alu- de ter uma boa relação com os colegas. nos da Unisinos, que são portadores “Acredito que seja, sim, diferente. Por de necessidade especial. O exemplo, os colegas têm que campus de São Leopoldo, vir me cumprimentar e falar A Unisinos atualmente, conta com 117 comigo para eu saber que estudantes que possuem diz não ao eles estão presentes. Mas, alguma deficiência. quando há algum trabalho preconceito Segundo Magalhães, em grupo a gente sempre e sim à que cursa Jornalismo, a consegue colegas legais”, estrutura oferecida pela inclusão social confessa Magalhães. universidade faz com que A Unisinos conta, desde ele leve sua vida acadêmica normal- 1999, com um diferencial para promomente. “Sempre procurei fazer com ver a inclusão, é o chamado Sistema que a universidade entendesse a mi- de Gestão Ergonômica. Uma equipe nha dificuldade, e eles sempre tenta- multidisciplinar com compromisso de ram atender a gente da melhor forma avaliar as condições de acesso no campossível”, relata Jaime, referindo-se pus e proporcionar melhorias na vida das pessoas com necessidades espetambém ao seu amigo Dilken. A universidade segue as normas da ciais. Algumas das ações desenvolvidas Constituição Brasileira de 1988 e a Lei de pelo comitê e pela universidade são Diretrizes e Bases da Educação (LDB, Lei principalmente para os alunos terem 9.394/96), garantindo a todas as pessoas acessibilidade nas salas de aula ou pelo

Estacionamentos exclusivos; Rampas de acesso; l Sanitários apropriados; l Elevadores e degraus móveis de acesso às salas de aula; l Guardas que dão segurança, prestam colaboração e orientam quando for necessário; l Cadeiras e mesas adaptáveis; l Laboratório Adaptado de Informática (LAI) para deficientes Visuais; l Tradutor Intérprete para alunos com Deficiência Auditiva. l l

Adriana Alves é coordenadora do LAI, onde trabalha há dez anos, e conta que para melhor atender um aluno com deficiência o primeiro contato acontece através da inscrição no vestibular. “Para alunos de baixa visão solicitamos uma prova ampliada, com o tamanho de fonte que os estudantes precisam. Para os cegos, temos as opções da prova oral, em Braille ou no próprio laboratório usando o software adaptado”, explica

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a coordenadora. Para os estudantes, além da universidade atender os alunos especiais da melhor forma possível, os grandes responsáveis pelo acompanhamento são os professores. “Eles se preocupam com o que a gente precisa, nos questionam sobre o que pode melhorar, como podem trabalhar em sala de aula. São os professores que estão convivendo conosco no dia a dia”, esclarece Dilkin. A coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unisinos Maura Corcini Lopes explica que o papel da universidade é possibilitar uma formação diferenciada. “É preciso produzir conhecimento capaz de gerar desacomodação e provocar um novo olhar para as pessoas com deficiência”, destaca Maura. Com a frase “Todos nós temos características singulares. E essas singularidades muitas vezes se traduzem em diferenças” a Unisinos valida o incentivo à acessibilidade, dizendo não ao preconceito e sim à inclusão social. Por Nagane Raquel Frey Foto de Bruno Alencastro


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EDUCAÇÃO

Festival de Curtas Estudantil

Projeto visa incentivar a sétima arte na rede de ensino público de São Leopoldo

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O curso de Realização Audiovisual da ma nova oportunidade de aprendizado vem sendo disponibiliza- Universidade do Vale do Rio dos Sinos da aos alunos da rede municipal (Unisinos) e a UFPEL têm contribuído para de ensino de São Leopoldo, o a formação dos professores que aplicam São Léo Em Cine. O projeto conta com o projeto nas 30 escolas participantes da um Festival de Vídeo Estudantil. A ideia rede municipal de ensino. O Festival de Vídeo Estudantil conta surgiu durante visitação à Faculdade de com o apoio do CinesysCinema e Audiovisual tem Cinema de São da Universidade FedePara nós, da Leopoldo, que disporal de Pelotas (UFPEL). Cinesystem, nibilizou duas salas de O São Léo Em Cine cinema nos dias 2 e 3 de tem contribuído na é uma grande dezembro, das 8 às 12 construção de uma edu- satisfação poder horas, para exibição dos cação inovadora com o contribuir para esse curtas para professores, uso das tecnologias e alunos, familiares e auganhou destaque não projeto educacional” toridades convidadas. somente no processo RICARDO DE MORAES A premiação ocorre no de ensino dos alunos Gerente dia 15 de dezembro, e da rede, mas também junto à sociedade no que se refere à apre- as categorias serão definidas em conjunto com a Unisinos e a UFPEL que, depois da ciação da sétima arte. O professor e doutor em Educação, apresentação dos curtas, selecionarão os Josias Pereira, propôs uma parceria com indicados para apreciação do júri técnico a Secretaria Municipal de Educação de e artístico. Serão vídeos de animação e São Leopoldo (Smed) para a produção ficção. O local da cerimônia para a entrega de curtas-metragens por alunos desde a dos troféus ainda será definido “Para nós, da Cinesystem, é uma grande Educação Infantil até a Educação de Jovens satisfação poder contribuir com um proe Adultos.

Guaíba promove prêmio educacional A Câmara de Vereadores de Guaíba realiza, no dia 9 de dezembro, a cerimônia de entrega da primeira edição do Prêmio Educador do Ano. O prêmio visa valorizar e divulgar experiências educativas de qualidade, executadas por professores, diretores, coordenadores, supervisores, monitores e servidores de escolas do município de Guaíba. Concorrem ao prêmio professores que atuem em escolas municipais, estaduais da rede pública e particulares, com trabalhos desenvolvidos durante 2014 e o primeiro semestre de 2015, relatando experiências educativas, conteúdos curriculares e metodologias desenvolvidas em sala de aula. Também será definido o Prêmio Educador do Ano Mérito Especial, concedido a um profissional da educação que tenha se aposentado nos últimos 12 meses, antes da concessão da homenagem,

indicado pela Secretaria Municipal de Educação. “A ideia de criar uma premiação especialmente para o município de Guaíba e destacar os profissionais dentro da área da educação é justamente para que a gente incentive e valorize os bons profissionais que temos”, afirmou a vereadora Claudia Jardim. Em outubro, a Comissão Avaliadora tornou público os indicados ao prêmio, que será concedido em sessão solene na Câmara Municipal. A Comissão é formada por educadores da 12ª Coordenadoria Regional de Educação, Secretaria Municipal de Educação, Conselho Municipal de Educação, CPERS e Sindicato Municipal dos Professores. Ela terá a missão de avaliar os projetos indicados a receberem o prêmio. Por Matheus Miranda

SÉTIMA ARTE | Progama envolve crianças e jovens da rede pública de ensino

jeto educacional tão importante como este”, declarou Ricardo de Morais, gerente do Cinesystem São Leopoldo. Recentemente, o São Leo Em Cine apresentou seus trabalhos no Quarto Seminário de Acessibilidade em Novo Hamburgo, no Primeiro Fórum de Meio Ambiente Henrique Prieto, em São Leopoldo, e par-

Radar e educação coibem acidentes Ao introduzir mudanças no trânsito para tentar diminuir o elevado número de acidentes na cidade, os fiscais, conhecidos como “azuizinhos”, se inseriram, primeiro, numa campanha educativa, sem punir os infratores, mas informando-os a respeito das alterações. Passada essa etapa, começaram a usar o radar móvel. A Fiscalização de Trânsito começou no ano passado, quando foram registradas 3,4 mil infrações. A partir deste ano, as multas são para valer. A Secretaria Municipal de Segurança e Mobilidade Urbana (SMSMU) espera que os motoristas dirijam com mais consciência. De acordo com o secretário municipal da SMSMU, Arno Leonhardt, a cidade assistia a um grande número de colisões. Em 2013, foram 888 ocorrências; este ano caíram, até aqui, para 389. As novas mudanças, por mais que não tenham agradado a todos, tiveram um ótimo resultado. Se os acidentes caíram, o número de multas e defesas prévias passaram de 200 para 479, a maioria por falta de conhecimento das novas regras e por falta de visualização das placas. A motorista Cláudia Cardoso aprova a utilização do radar móvel para coibir excessos de velocidade, pois dirigir de maneira consciente é essencial para a preservação da vida, sutenta. Por Angel Thomaz Camargo

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ticipou do Terceiro Festival Internacional de Cinema Estudantil (CinEst), de Santa Maria, no qual arrematou quatro prêmios de curtas estudantis de escolas municipais. Por Juliane Kerschner Foto de Martin Stolzenberg Malka

Engenheiros põem a mão na massa Alunos da graduação em Engenharia Mecânica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul Rio-grandense IFSul, campus Sapucaia do Sul, participam da III Competição de Pontes de Espaguete, que será realizada nos dias 10 e 12 de novembro. A competição integra a quarta edição do Seminário de Inovação e Tecnologia do IFSul - INOVTEC. O objetivo da tarefa, que vai ser desenvolvida pelas turmas de Mecânica dos Sólidos I e II e Resistência dos Materiais, é fazer com que os estudantes enxerguem na prática os cálculos matemáticos de diversas disciplinas do curso. A competição consiste em criar uma ponte feita de espaguete ou massa de macarrão utilizando apenas cola liquida para fixação da maquete. A estrutura que aguentar maior car-

ga sairá vencedora. Os estudantes construiram um suporte de no mínimo 1 mil milímetros de comprimento e 75 milímetros de largura, que deve aguentar pelo menos 40kg. Cada grupo, de cinco participantes, pode usar no máximo dois quilos de massa. Os cálculos básicos da estrutura da ponte devem ser entregues impressos. INOVTEC promove, por meio de palestras e apresentações, a troca de experiências entre fabricantes de equipamentos, representantes de empresas industriais, representantes de fornecedores, pesquisadores, estudantes e demais interessados em aprimoramento, troca e reciclagem de conhecimentos, com foco em inovações tecnológicas nas áreas de metal-mecânicos e plásticos. Por Luísa Boéssio


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EDUCAÇÃO

Reformulando conceitos

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Escola Ayni propõe um novo olhar sobre o processo de ensino e aprendizagem

nquanto um fala os outros escutam: essa é a regra. Porém, conversando com uma das almas mais puras que já pude conhecer, nem se eu quisesse conseguiria quebrar o ditado. Passei por um choque de sabedoria enorme. E antes que você tente adivinhar a situação eu já vou avisando que não conversei com um senhor, sentado no banco da praça, dando pipoca aos pombos. Trata-se de um jovem de apenas 34 anos. Aprendi com ele que idade não é fator determinante para nada. Basta querer, fazer e viver. “Basta olhar para o céu, olhar para dentro de si mesmo e entender que saímos da imensidão e viemos para cá realizar uma missão”. Thiago Berto, guaporense, chegou naquele momento da vida pelo qual todos os jovens um dia vão passar. Ele se perguntou: “O que eu estou fazendo no mundo? ”. Uma história dramática poderia ser facilmente contada, mas ele expõe seu passado com ar de sabedoria. História de vida Aos 12 anos perdeu a mãe e, desde então, passou a conviver com o pai, que era alcóolatra. A partir daí, até os 16 anos, cuidou das duas irmãs mais novas. Thiago foi expulso de casa nesse período. Juntou esperança, R$ 150, muita coragem e partiu à capital do Estado para trabalhar em uma empresa de Sistemas de Rede. Aos 19 anos, Thiago fundou sua própria empresa em segurança da informação onde trabalhou e adquiriu dinheiro durante 10 anos. “A gente vive numa ilusão que o dinheiro vale mais do que tudo”, reflete. Então, desiludido, foi em busca da felicidade. Com 30 anos, Thiago já tinha feito de tudo: casado, tido filhos e enterrado seus pais. Mas não fazia ideia da grande aventura em que iria se meter. “A vida não pode se resumir em acordar cedo para ganhar dinheiro”, ele pensou certo dia. A tal felicidade foi garimpada durante três anos, nos 75 países que ele visitou. Thiago fez um mochilão, daqueles que todo mundo pensou, ou ainda vai pensar em fazer. Viajou de carona, a pé, de avião, barco, carro... Na última parte da aventura ele foi do Alasca ao Uruguai em uma motocicleta. Durante a andança, em Cusco, no Peru, Thiago encantou-se com a Aldea Yanapay, onde encontrou a motivação para criar a Escola Ayni. Daí em diante o sonho começou a se tornar realidade. “A parte mais difícil foi se conectar com o meu interior, minha essência. Depois ficou tudo fácil”, ele garante. Voltou para o Brasil querendo propor um modelo de educação alternativa. O projeto está sendo concretizado, em Guaporé. Thiago troca

ideia com educadores do mundo todo e virou referência no país.

uma visão afetiva de autoconhecimento e desenvolvimento. “Nós nos desconectamos muito da essência e acabamos nos Potencialidades naturais tornando personagens moldados pelos padrões que nos passam”, ressalta. A Cidade Escola Ayni visa despertar O que a escola Ayni propõe não é um necessidades naturais do ser humano, novo modelo de educação, mas um procescomo o afeto, o limite so de olhar para dentro Basta olhar e o respeito. A conde si e ver um novo ser. cepção de espaço não Esse novo ser honra o céu, olhar lembra nem um pouco uma criança e vê nela as escolas tradicionais para dentro de si e uma sementinha cheia o que, para Júnior Ar- entender que saímos de potencialidades. O ruda, acadêmico de da imensidão e método não conduz, Pedagogia, é maravinão induz, apenas perlhoso. “Isso possibili- viemos realizar mite que a criança seja ta a interação do edu- uma missão” seu próprio mestre e cando com si próprio, siga o caminho que lhe THIAGO BERTO com os outros e com o Idealizador da Cidade Escola Ayni convém. A escola Ayni atenderá as crianças no mundo, envolto a uma atmosfera natural, sustentável e trans- turno oposto ao curricular. O foco não é formadora”, diz. A estrutura de ensino ensinar matemática, português, mas sim baseia-se nas intenções estudantis do que a natureza é a mãe do ser, a quem próprio aluno, considerando-o autônomo devemos respeitar e amar. As salas serão e respeitando seus níveis de desenvolvi- temáticas e os alunos terão a liberdade de mento, bem como trabalhando com seus escolher aquela em que desejam ter aula. A psicóloga Marina Pozzer concorda dons e potencialidades. Isso tudo, claro, sem deixar os conteúdos curriculares de com o fato de que os pais não podem lado, mas ressaltando a importância de depositar as suas ansiedades sobre os

GARIMPANDO A FELICIDADE | Durante a aventura, Thiago usou uma motocicleta como meio de transporte do Uruguai ao Alasca

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filhos. Para ela, cada criança deve decidir o que quer fazer no futuro. “Os pais sempre terão que orientar a criança, mas jamais serem invasivos nas escolhas dos filhos. Eles só devem mostrar caminhos”, afirmou a psicóloga. O pedagogo Vagner Peruzzo diz que a proposta já cumpriu o seu objetivo só por sensibilizar as ações pedagógicas: “Confesso que, o ato de pensar a educação a partir do olhar para dentro do ser, é o que mais me chama atenção em meio à proposta da Ayni, uma vez que olhar para dentro é valorizar cada um dos quereres do homem, cada um dos seus sonhos”, ressalta. A Ayni é um convite para refletir sobre a condução das relações de ensino e aprendizagem. “Os adultos estão longe dos valores bonitos, por consequência do meio competitivo e violento em que vivem”, afirma Thiago. Para aliviar essa sensação é preciso que nós, como adultos, façamos uma faxina, uma reflexão sobre quem nós realmente somos e, então, propor uma nova educação se torna muito simples. Por Mainara Torcheto Foto Arquivo pessoal


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EDUCAÇÃO

A construção da cidadania

Uma história que superou as dificuldades pessoais através da conquista educacional

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a hora do pátio as turmas se encontram para brincar e, entre as crianças do fundamental, logo se avista de mãos dadas, João Pedro e Maria Eduarda. Eles não estudam na mesma classe, mas possuem uma forte amizade, marcada pela cumplicidade e o respeito. O diagnóstico de autismo veio quando João tinha um ano e dois meses. A família procurou o primeiro médico após o menino começar a apresentar comportamentos diferentes. O tratamento iniciou depois da descoberta. João possui um baixo grau de autismo o que não compromete todo o seu desenvolvimento. As preocupações surgiram na questão da educação. “No início tivemos receio da recepção que ele teria em uma escola, porque, mesmo com pouco comprometimento, a gente não sabia se ele ia se desenvolver bem”, comenta Daiane Cardoso Moraes, mãe do menino. Nas escolas que João frequentou nunca houve rejeição. Em seu trajeto escolar, ele passou por um colégio particular e outras duas escolas do município de São Leopoldo, onde a família reside. As crianças com necessidades educacionais especiais frequentam a sala de aula regular, e têm direito a uma professora auxiliar. Contudo, nem todas têm “a mesma sorte que o João”, como diz a mãe do menino. Desde que ingressou na educação infantil, a pedagoga auxiliar Jussara Cita da Cunha acompanha João Pedro. A oportunidade de trabalhar no turno da manhã apareceu para ela de repente e, apesar de não possuir formação específica em educação inclusiva, Jussara aceitou o desafio. “No primeiro dia em que o vi, quando ele chegou à escola, ele nem me olhou, demorou dez dias para o João me olhar. Mas eu gostei demais dele. Por isso no dia seguinte fui buscar conhecimento para saber como eu ia lidar com ele”, relembra Jussara. As professoras auxiliares cedidas pelo município geralmente não possuem formação específica. Além disso, ainda há carência de profissionais habilitados para trabalharem nessa área. Jussara costuma buscar informações na internet, faz diversas leituras e participa de cursos, por conta própria, para aprimorar seu trabalho. “Eu estou me formando sozinha. A inclusão chegou e caiu de paraquedas dentro das escolas, simplesmente assim. Os professores tiveram que se adaptar, mas acima de tudo é preciso gostar, eu quero acompanhar o João enquanto eu puder”, enfatiza Jussara. Hoje, João Pedro, com sete anos, é aluno da escola Municipal de Ensino Fundamental Gusmão Britto. A professora Ana Cândida Oliveira comenta que a turma compreende muito bem as

Uma escola marcada necessidades educacionais especiais do pela diversidade João. “É um processo bem natural, eles se preocupam, avisam se ele está correndo A educação inclusiva iniciou na escola algum perigo e me alertam. Eles seguem a rotina deles, mas aceitam e respeitam Gusmão no ano 2000, atualmente a instituição possui 968 alunos do primeiro ao nono ano, a rotina do João”, complementa Ana. As atividades em sala de aula são as dentre eles 20 alunos com laudo de necessimesmas para toda a classe, a diferen- dades educacionais especiais. “A questão da ça é a maneira como Jussara trabalha inclusão contribuí para que a gente passe a repensar todos os espacom João. Ela repete Eu estou me ços da escola, como posas palavras da profesformando sibilidade de evolução, sora e faz os exercícios independentemente de oralmente. “O João co- sozinha. A inclusão o aluno ter necessidades meçou a se desenvolver educacionais especiais melhor, tanto na escola caiu de paraquedas ou não”, comenta Adriacomo pessoa, desde o dentro das escolas. na Demenegui Scherer, acompanhamento com a Os professores supervisora da Escola Jussara. Ela conseguiu, Gusmão Britto. aos poucos, aumentar tiveram que se As escolas ainda o tempo dele nas ativi- adaptar” enfrentam dificuldadades, ele se destaca na JUSSARA CITA DA CUNHA des para se adaptar. Nos leitura, sabe palavras em Professora auxiliar anos iniciais do Ensino inglês e tem uma memorização muito boa”, ressalta Daiane, Fundamental é mais fácil fazer a inclusão, porque o olhar do professor é mais direcionado orgulhosa dos resultados da inclusão. Para Jussara, que acompanha João para a singularidade de cada aluno. Nos anos há três anos, o mais importante além finais, do sexto ao nono ano, as turmas passam de aprender a ler e escrever é estar em a ter mais professores, trabalham disciplinas contato com as outras crianças. “Eu específicas, muitas vezes sem tempo de fazer quero prepará-lo para vida, pois se um ajustes para trabalhar as possibilidades, hadia eu não estiver aqui, ele vai saber se bilidades e competências que o aluno com virar na escola, poderá ir na biblioteca necessidades educacionais especiais necessita. sozinho, fazer sua rotina”, diz a profesTexto e foto de Mariana Dambrós sora auxiliar.

Educação especial No Brasil, o Plano Nacional de Educação (PNE 2011-2020) estabelece a nova função da Educação Especial como modalidade de ensino que transcorre todos os segmentos da educação, desde a infantil até o ensino superior. Além de ser um direito, a educação inclusiva tem como objetivo abranger a diversidade no âmbito escolar. “Uma das grandes barreiras da inclusão é a forma como nós nos tornamos sujeitos. Ou seja, somos formados numa sociedade e numa escola que valoriza o binarismo: o eficiente e o deficiente, o normal e o anormal, o certo e o errado, o branco e o negro. O segundo termo sempre subjugado ao primeiro. Portanto, a forma como nos constituímos precisa ser problematizada a fim de olharmos de outro modo para o próximo, a partir da ideia de que existe diferença. Não para ser corrigida e igualada, mas para ser reconhecida como diferença”, diz a Prof.ª Dr.ª Rejane Ramos Klein, coordenadora do curso de graduação em Pedagogia da Unisinos.

DEDICAÇÃO | O afeto da professora auxiliar Jussara faz a diferença no ambiente escolar de João

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ENSAIO FOT

Flanando co

O

graduando em Fotografia José Luiz Dias misturou os ensinamentos todos de um semestre inteiro e passou a clicar menos, prestando mais atenção no que vê. Para fazer as fotos do ensaio abaixo, realizado em Porto Alegre, o fotógrafo lançou mão da técnica Pinhole, que é o processo da captura fotográfica através de um recipiente qualquer, como uma lata ou uma caixa vedada à luz, contendo no seu interior, filmes ou papéis fotossensíveis. No caso deste ensaio, originalmente realizado durante uma disciplina

Autorretrato – Dupla exposição

Bicicleta de bambu – Redenção

Monumento ao Expedicionário – Redenção

Catedral Metropolitana

Cinema Capitólio

Pôr do sol do Guaíba

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TOGRÁFICO

om pinhole acadêmica, Zé Luiz se utilizou de uma caixa de fósforo como câmera fotográfica e filme colorido. Algumas fotografias pinholes que seguem, incluindo autorretrato pinhole e fotos do filho também fizeram parte de um fotolivro. “Meu fotolivro (impresso) é uma espécie de álbum de família, sobre nossos passeios. Vai ficar para a posteridade lá em casa”, afirma o fotógrafo. Confira! Por Beatriz Sallet Fotos de José Luiz Dias

Praça Leonardo Macedônia

Praça Província de Shiga (Praça Japão)

Pôr do sol do Guaíba

Travessa dos Venezianos

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RELACIONAMENTO

POLIAMOR | O psicólogo Carlos Boechat revela que esse modelo é praticado por aqueles que conseguem romper com as estruturas tradicionais e monogâmicas

A desconstrução de paradigmas Como o poliamor é visto por pessoas inseridas neste meio

O

mundo possui as mais diversas formas de amor. Em algumas culturas, é comum o relacionamento entre mais de duas pessoas, mas, na maioria deles, apenas o homem tem a possibilidade de ter mais parceiras. Quando as mulheres aceitam esse tipo de relação ainda sofrem com a discriminação. Os relacionamentos não monogâmicos geram muita polêmica quando entram em debate. Contudo, aos poucos a sociedade está mais receptiva para conhecer essa forma de se relacionar ou, simplesmente, respeitar quem adota essa opção. O psicólogo e sexólogo Carlos Boechat conta que no relacionamento não monogâmico, também conhecido como relação aberta, a fidelidade sexual não tem o mesmo valor que na relação monogâmica. Ele relata que os parceiros podem ter relações sexuais e/ou afetivas com outras pessoas e ter o consentimento do parceiro, o que pode acontecer com ou sem aviso prévio, dependendo da situação. Boechat diz que o amor e a monogamia são construções sociais. Ele explica usando como exemplo a cultura muçulmana, na qual a monogamia é observada só pela mulher, e não pelo homem. Sobre amar apenas uma

pessoa, o psicólogo observa que é, sim pos- as abandonar; e a indagação de como ser sível, da mesma forma que se pode amar tão bom quanto a terceira pessoa. mais do que uma. “A monogamia, por ser uma construção social, é um repressor da Vivendo o poliamor afetividade e da sexualidade. Através do valor moral da monogamia, consegue-se conter O estudante Nícolas Vaz, 20 anos, conos impulsos e os desejos sexuais e afetivos. ta que até alguns meses atrás afirmava com Várias sociedades têm punições brandas e toda convicção ser adepto do poliamor, severas para o rompimento da monogamia”, mas hoje está disposto a se relacionar completa Boechat. monogamicamente. O psicólogo revela Vaz conta que seu priA monogamia, que o poliamor é prameiro relacionamento por ser uma ticado por aqueles que foi monogâmico; o seconseguem romper com construção social, gundo, iniciou aberto e as estruturas tradicio- é um repressor da terminou fechado; já o nais e monogâmicas, terceiro, foi totalmente afetividade e da mas ressalta que é nelivre, mas acabou por cessária a reciprocida- sexualidade” causa de alguns prode na relação. Contudo, CARLOS BOECHAT blemas. “Sempre tive alerta, a mulher sofrerá Psicólogo e sexólogo esse negócio dentro avaliações depreciativas de mim, de pensar que sobre essa conduta afetiva e sexual, pois não fazia muito sentido e pensar que seria ainda se vive numa cultura machista. massa ser diferente”, confessa. Os questionamentos mais comuns das O ciúme da primeira relação incomopessoas que se reconhecem não mono- dava muito o estudante, que nunca foi ciugâmicas, conforme Boechat, é se serão mento. Para ele, o ciúme vem da posse e da aceitas pela família, pelos amigos – ou insegurança. Vaz conta que os dois casos precisarão ter amizades também poliamo- são muito diferentes. O da possessividade rosas; se o companheiro ou companheira é negativo e deve ser desconstruído e acase apaixonar por outra pessoa da relação e bado. Já o da insegurança é complexo, pois

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em muitas situações as pessoas que estão inseridas neste meio são socialmente fora dos padrões e oprimidas pela sociedade. “Ciúme, no geral, é uma coisa prejudicial, mas tu tens que entender de onde ele vem para trabalhar isso”, completa. Segundo o estudante, existe muita confusão sobre como é viver um relacionamento aberto. “É comum as pessoas acharem que quem pratica poliamor só quer pegar todo mundo e não ter comprometimento”, diz ele, destacando que é apenas um jeito diferente de se relacionar. O jovem informa que os relacionamentos não monogâmicos só são discutidos em certos círculos, como o meio acadêmico, a internet e em grupos de militância. Para Nícolas, é mais difícil para a mulher estar inserida nesse tipo de relacionamento. “Elas são ensinadas a estar com apenas um homem e depender dele para ter valor. Já o homem, na mesma situação, é chamado apenas de garanhão”, compara o estudante. Para ele, o lado bom do poliamor é a facilidade de viver uma relação completamente honesta, enquanto muitos relacionamentos monogâmicos são vividos com a repressão de desejos. Texto e foto de Fernanda Salla


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GERAL

Resistência à era digital

Bancas de revista ainda têm espaço permanente no cotidiano do leitor

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ntes elas eram muito comuns. filhas, Jéssica e Melanie, também trabaExistiam em todas as esqui- lham no local. Mesmo sendo moradores nas, nos parques, perto dos do Partenon, eles passam de segunda a mercados. Hoje, raramente sexta-feira com os “vizinhos” do Moinhos são contempladas e geralmente são de Vento. antigas, existindo pelo menos desde a A presença de bancas de revista aindécada passada. da é grande na região, para a alegria do As bancas de revistas, mesmo raras, jornaleiro Wilibaldo, que ainda preserainda existem. Ultimamente vivem mais va a banca mesmo com o faturamento da publicidade afixada tendo diminuído tannas casinhas estreitas to nos últimos anos. Tem coisas que localizadas em lugares “A gente dá um jeito, ainda saem só públicos. Em bairros vende bebidas, cigardomiciliares, quase no impresso, não ros, outros produtos, nem existem, afinal, adianta, não tem nada daí acaba atraindo o quem repara nelas Mas incrivelcomo pegar um jornal pessoal. mesmo? O mundo mente ainda é a revista anda olhando demais na mão e folhear” o carro chefe aqui do para telas de pequenas MELANIE TOMAS ponto”, afirma. polegadas. As pessoas Funcionária de banca de revistas Para Jéssica Tomas, estão distraídas e muifilha mais velha do Wili, to informadas pelo que as redes sociais 30 anos, o entretenimento nas horas vagas disponibilizam. está no celular e não nas revistas que a roSendo tão fácil conferir as notícias deiam. “Eu leio quando eu vejo que chega digitais, pouco é lembrado como era fo- uma revista com algo que me interessa, lhear um jornal pela manhã. Mas para o mas como não acompanho novela, não Wilibaldo Tomas, mais conhecido como costumo ler as que mais saem”, comenta. Wili na região do Parcão, em Porto AleA saída maior se dá pelas revistas segre, a banca ainda é sua fonte de renda. manais, com fofoca de famosos e resumos Digamos que da família toda, pois suas de novelas. E também o jornal, que mes-

mo com notícias velhas em comparação com a rapidez da internet, ainda conquista os que passam na esquina entre as ruas 24 de outubro e Dr. Timoteo e dão uma rápida olhada nas manchetes. “Tem coisas que ainda saem só no impresso, não adianta, não tem nada como pegar um jornal na mão e folhear”, diz Melanie Tomas, que passa a semana acompanhando o ritmo da banca.

Tecnologia x Impressos Os moradores da região já são velhos conhecidos na área, como Paulo Rocha, proprietário de um restaurante no bairro e frequentador assíduo das bancas no Moinhos de Vento. Antigo vendedor de jornais em Santa Catarina, ele sabe que a situação atual não é fácil. “Aqui é um bom lugar, porque muito do que vejo são os lugares fechando, o celular acaba te dando tudo que necessita, todas as informações, e muito mais rápido”, diz o empresário. “São 32 anos na região. Alguns moradores se tornaram grandes amigos, mas ainda há muita gente nova que, ao passar pela rua, acaba vendo algo que interessa e acaba chegando. Deixo algumas

revistas infantis expostas mais à frente. Acho importante para as crianças terem contato com os livros e as revistinhas”, diz o Wilibaldo. Proprietário de uma banca de revistas também na Rua 24 de Outubro, Adriano Rosa diz que a região tem um poder aquisitivo grande, mesmo com a tecnologia temos muita procura por revistas especializadas. “Também é um local de grande circulação de pessoas, o que ajuda nas vendas”, explica. Para a Maria Rocha, que trabalha na limpeza de um condomínio próximo, nada se compara a pegar uma revista no final do dia e ter o que ler enquanto o ônibus fica parado no trânsito. “Tenho celular. Acesso sempre a internet. Nas redes sociais, mas cansa. Quem é mais velho gosta mesmo é de folhar e ver notícias em revistas, os mais novos é que vivem grudados na internet”, diz a cliente da banca de Adriano. Dificuldade em manter as bancas

A insegurança na região chegou às bancas de revistas. “ O que tem acontecido muito no bairro são roubos. Várias vezes já vi pedestres pedindo ajuda por roubo de celulares e carteiras”, diz Wilibaldo. Segundo ele, a banca chegou a ser arrombada três vezes em 22 dias no mês de agosto, algo que nunca havia acontecido no bairro antes. Para Adriano Rosa, a explicação está nos produtos alternativos que o Sindicato dos Jornaleiros libera para a venda nas bancas, como bebidas, cigarros e guloseimas. Eles atraem os bandidos por conta do fácil repasse e nem sequer as grades os inibem. “Já tentaram arrombar, mas então tive gastos com alarme e mais grades de proteção, porque esse é o nosso sustento, e mesmo sendo um bairro nobre a segurança tem falhado, assim fica difícil continuar”, diz o VENDAS | Jornaleiros empresário que está no apostam no comércio de outros produtos para atrair local há seis anos. clientes às bancas Segundo o Sindicato dos Vendedores de Jornais e Revistas, são aproximadamente 190 bancas em Porto Alegre, mas esse número chegou a ser de 230 em meados de 2005, afirma Elaine, representante da entidade. Mesmo com a possibilidade de um fim às bancas, Wili diz que não será verdade, “sempre haverá pessoas que irão preferir o papel, não adianta. Vejo crianças ainda interessadas na leitura em impressos e em livros de desenhos, é isso que nos motiva para continuar no futuro”. Por Cláudia Paes Foto de Rafael Marques

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TRABALHO

Lar, doce lar, e escritório

Praticidade e autonomia são as facilidades de quem trabalha em home office

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m novo modelo de trabalho que valoriza a qualidade de vida, flexibilidade de horários, autonomia e que permite compartilhar o ambiente doméstico com o profissional. O home office, que tem recebido cada vez mais adeptos entre aqueles que estão cansados do modelo tradicional de trabalho, incentiva a liberdade e também a inovação. Além disso, ele pode ser uma alternativa para quem perde muito tempo no trânsito das grandes cidades durante o deslocamento até o emprego. Inicialmente, a adaptação a este estilo de vida pode ser um pouco complicada, visto que disciplina e responsabilidade são as chaves para o sucesso do home office. Porém, depois de alcançadas, rendem bons frutos. De acordo com pesquisas publicadas recentemente por empresas do setor de recursos humanos, cerca de 37% dos brasileiros já trabalham em home office. A perspectiva é de que, até 2020, 50% dos empregados do mundo inteiro trabalhem nesse modelo. Empreendendo em casa Manuela Colla é jornalista e durante anos trabalhou no mercado da comunicação, mas cansada da rotina engessada, decidiu sair do emprego e abrir a própria agência de conteúdo, juntamente com uma sócia. A experiência em home office proporcionou mais qualidade de vida e liberdade. “Tenho tempo de ir ao pilates, fazer coisas à noite e ir fazer manicure quando quero, contanto que eu fique mais uma hora trabalhando à noite. Acredito que esse “jogo” de horários é o que me encanta mais”, revela a jornalista. No entanto, ter autonomia exige disciplina e responsabilidade, uma vez que trabalhar no ambiente de casa pode gerar uma série de distrações. Manuela prefere acordar cedo para trabalhar e ter o período da tarde para cuidar da vida pessoal. O importante, segundo ela, é ter foco. “Quando sento no escritório, é para trabalhar mesmo. Acho que esse esquema de 8h de trabalho diárias está com os dias contados. Acho desnecessário e desgastante. Em home office, me sinto na minha total capacidade de trabalho. E sem dor. Quer coisa melhor que isso?” A questão do horário é o ponto chave do home office. De acordo com o psicólogo Edio Kessler, o que importa é gerar resultados dentro do prazo estabelecidos. “A forma e o tempo que vai ser usado para isso depende da pessoa”, salienta Kessler. Nem tudo são flores Monique Henrich, de 24 anos, formouse recentemente em arquitetura e, para iniciar a carreira, decidiu trabalhar em home office para ter espaço e regras pró-

ORGANIZAÇÃO | Manuela prefere acordar cedo para trabalhar a fim de ter tempo livre à tarde prias. “Na casa onde moro há um espaço guem se adaptar a este modo de trabalho. de trabalho com todos os itens que seriam A falta de colegas de trabalho ao redor e do necessários para dar início a minha carrei- ambiente de uma empresa torna são fatores ra profissional. Organizei para que ficasse que dificultam o trabalho em home office. ainda mais cômodo para mim e, então, fiz deste cantinho o meu home office”, diz Adaptação ao ambiente Monique. Porém, a questão da disciplide trabalho caseiro na ainda é um desafio. A dificuldade de controlar o horário de trabalho faz com Matérias a respeito do tema ainda são que ela trabalhe demais, o que torna o dia escassas na internet. Reportagens sem seguinte menos produmuito embasamento tivo. “É muito difícil se são comuns na web e Quase nunca policiar neste quesito não saciam a curiositenho final quando sei que tenho dade da maioria das muito trabalho a fazer, de semana, não pessoas que querem se acaba sendo exaustivo tiro férias há anos, informar sobre o ase atrapalhando o rendisunto. Por isso, duas mas não me sinto mento do dia seguinte”, jornalistas que trabacansada. Vale a ressalta. lham em home office A família também pena.” decidiram criar o site precisa se acostumar a “Adoro Home Office”. ter alguém trabalhan- MANUELA COLLA O objetivo é produzir Jornalista do em home office. É material de qualidade, preciso criar uma nova cultura dentro dar dicas e postar entrevistas com outros de casa. “Com certeza implica um com- profissionais que trabalham no ambiente prometimento e disciplina da família de de casa. Juliana Franzon é uma das idequem trabalha no ambiente de casa. Os alizadoras do projeto e, trabalhando em hábitos familiares precisam mudar para home office há cerca de dois anos, ela não comprometer as atividades profissio- acredita que o assunto precisa ser difunnais de quem trabalha em home office”, dido. “Às vezes, nas empresas, parece um diz o psicólogo Edio Kessler. tabu. A pessoa fala que poderia ter um Casos como o de Monique são comuns, home office e já vem um olhar como se a uma vez que nem todas as pessoas conse- pessoa não quisesse trabalhar, como se a

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pessoa quisesse ficar em casa assistindo TV, e não é isso”, comenta. Marcia Breda começou a trabalhar no ambiente de casa em março deste ano e ainda está se adaptando à nova rotina. No site, ela conta um pouco sobre essa adaptação. “Eu comecei a pensar sobre isso e, então, comecei a procurar alguns clientes pra trabalhar de freela e dividir esse tempo pra chegar no momento que eu pudesse abrir mão do salário fixo da agência e ficar trabalhando só no home office”, diz Márcia. E para quem ainda tem dúvidas em relação a migrar para o home office, Marcia dá uma dica: “A gente sempre diz: não larga o teu emprego agora, não chuta o balde, não precisa sair pedindo demissão, porque não é assim tão fácil. Tu tens que te organizar pra abrir uma empresa, pra poder dar nota, não dá pra ficar sendo informal o tempo inteiro.” E se isso ainda não foi o suficiente, Manuela completa: “Empreendam. Por favor, façam isso por vocês. Não é fácil. Não tenho quase nunca final de semana e não tiro férias há três anos. Mas, na boa, não me sinto esgotada ou sobrecarregada. Vale à pena e, se você tiver clientes bacanas, pode negociar férias com eles de quinze, vinte dias. Trabalhando pra vocês mesmos”. Por Jéssica Zang Foto Arquivo pessoal


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ECONOMIA

Brechós movimentam economia Sustentabilidade, qualidade e moda atraem pessoas que buscam roupas e acessórios

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em só o baixo custo faz o suces- 90. Nesse período observou-se que era so nos brechós. O pensamento preciso ir muito além do crescimento ecológico e de qualidade tam- econômico e que era necessário penbém está presente na hora da sar mais nos sistemas sociais e amcompra. Com a ideia de uma economia bientais. Dessa forma, surgiu o termo mais sustentável, barata e de qualidade, economia ou desenvolvimento susteno consumidor busca peças de vestuário tável que está baseado em um tripé econômico, social e em brechós. ambiental, explica a O TAG de LUX, O consumidor professora e coordeque existe há quatro não compra nadora do curso de anos em Novo HamCiência Econômicas burgo, foi criado pela apenas por ser um da Unisinos, Gisele Quiropraxista Dallen produto mais barato, Spricigo. “O consuFragoso Cardoso com midor não compra esse objetivo. Segundo mas porque esse é apenas por ser um Eliane Rohten, que tra- sustentável” produto mais barabalha no TAG, as peças GISELE SPRICIGO to, mas porque esse vêm por indicações de Coordenadora do curso de Ciências é sustentável”, frisa. clientes e outras peças Econômicas da Unisinos O tabu e o preconsão garimpadas em São Paulo. “É uma maneira de valorizar ceito de que brechós só vendem roupas a moda e a mão brasileira, além de buscar usadas vem sendo quebrados. Eliane diz outras marcas e adquirir peças de quali- que algumas pessoas ainda perguntam dade por um valor acessível, ao mesmo quando entram no brechó “é roupa usatempo que se reutilizam peças paradas da? ”, mas que isso vem diminuindo. “ Isso não é o importante, pois quando se no guarda roupa”, enfatiza. O conceito de desenvolvimento sus- vai em uma loja em que dez já provaram tentável surgiu na década de 80 para uma mesma peça, essa já foi usada dez

Empresas diminuem carga horária As taxas de desemprego no Brasil são as mais altas desde 2012. Uma medida encontrada entre empresas e governo foi a redução de carga horária dos funcionários para evitar demissões. Em julho deste ano foi aprovado projeto federal para que as empresas reduzam até 30% as horas trabalhadas e o salário do trabalhador seja reajustado em proporção. Expectativa é preservar mais de 50 mil empregos de ganhos médios de 2,2 mil mensais. A empresa gaúcha Marcopolo é um exemplo das que aderiu à redução. Segundo a assessoria de imprensa da metalúrgica, o motivo se deve à queda na demanda do mercado brasileiro. Cerca de 30% a menos, em relação a 2014. Os funcionários folgam seis dias por mês. Entre março a maio, as horas perdidas foram para o banco de horas e

deverão ser recuperadas. Porém, desde junho, é descontado 50% do salário, em relação às horas não trabalhadas do funcionário e os outros 50% são pagos pela empresa. Sérgio Müller, 34 anos e oito dedicados à Marcopolo, relata a falta de serviço dentro da empresa. “Ano passado fazíamos hora extra de segunda a sexta-feira. Virou o ano e não fiz mais nenhuma”, entristece-se. O soldador acredita não haver pontos negativos em reduzir as horas trabalhadas, destacando o fato de estar empregado. O economista Rafael Scopel afirma que a indústria é a mais afetada com a crise, por concentrar grandes estoques. Segundo ele, a redução de carga horária é a melhor saída, pois quando a crise passar, a empresa não precisa contratar funcionários inexperientes. Por Sandra Elisa Jotz

INOVAÇÃO | Moda sustentável é tendência no mercado vezes”, lembra. A estudante de Relações Públicas e cliente há um ano e meio do TAG de LUX, Daniela Gatelli diz que compra roupas em brechós é como se fosse comprar em uma loja de roupa normal. “Busco

Mercado criativo é opção para a crise Em um cenário de recessão, surgem ideias criativas para contornar a crise. São negócios alternativos como o Brick de Desapegos, criado por Sara Cadore e Natalia Guasso em 2011, que ocorre mensalmente no Bar Ocidente em Porto Alegre. Reunindo 80 expositores, o evento conta com produtos e serviços focados em inovação e sustentabilidade. “O consumidor busca outras coisas além do produto, quer uma experiência de compra, uma conexão que agregue valor ao item”, declara Sara. Tecnologia e uma boa divulgação ajudam a criar parcerias. Entidades como o Sebrae, o Observatório de Economia Criativa da UFRGS e o Inovapoa oferecem capacitação para quem pretende seguir na área. A universidade tem papel relevante no cenário, pois cria mecanismos de pesquisa e desenvolve conexões com o mercado, afirma Leandro Valiati, economista e pesquisador de Economia da Cultura. Rodrigo Bercini, estudante de economia da UFRGS e estagiário na Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (SDECT), afirma que as regiões Sul e Sudeste são as mais favoráveis para esses negócios. O Rio Grande do Sul possui em média 25 mil empresas no ramo, que representam 2,3% do PIB do estado e geram 74 mil empregos formais. Por Elisa Ponciano

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algum achado, uma marca mais legal que eu não tenho dinheiro para comprar na loja”, acrescenta. Por Graziele Iaronka Foto de Daniela Gatelli

Jovens procuram emprego mais cedo Hoje em dia os jovens entram mais cedo no mercado de trabalho. Antes mesmo de sair da escola, eles estão à procura do primeiro emprego. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de empregados entre15 a 24 anos no Brasil, para os homens, é de 68,2% e para mulheres, 48,5%. De acordo com Centro de Integração Empresa Escola (CIEE), a jornada de estágio para estudantes do Ensino Médio e técnico não pode passar de 20 horas semanais, já para estudantes que participam do programa de aprendizagem, a jornada pode ser de até 40 horas semanais. A estagiária Rayane Oliveira, 17 anos, diz que estava precisando de dinheiro e resolveu procurar um emprego. “Estou à procura desde meus 15 anos, no começo encontrei dificuldade, mas logo conquistei meu primeiro emprego ” conta.

Com a lei da aprendizagem, os jovens podem começar a trabalhar a partir dos 14 anos. As tarefas devem intercalar o serviço prático com o aprendizado teórico, que é desenvolvido para capacitá-los. O contrato de aprendiz dura dois anos. A carteira de trabalho é assinada, e o estudante recebe o 13° salário, e todos os direitos trabalhistas estão garantidos. Em relação ao estágio, a idade mínima para ingresso é de 16 anos, sem idade limite, basta estar frequentado uma escola ou universidade. A procura de recursos para ajudar os pais é um dos fatores para procura. De acordo com o IBGE a taxa de desemprego no Brasil chega a 8,1%. O desemprego abala a estrutura familiar da casa, fazendo que todos integrantes da família corram atrás para poder pagar as contas. Por Thais Ramirez


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ECONOMIA

Impostos encarecem alimentos A alta das taxas no ramo alimentício faz consumidores recuarem no gasto com comida

A

queda nas vendas em ba- chocolate, salgados em geral, sofreres e restaurantes univer- ram uma ampliação de 23,4% nos sitários é visível neste ano. preços. Consumidores reclamam da Com a crise e o aumento elevada nos valores e, muitas vezes, dos impostos, alunos e professores passam fome para não gastar. “Deixo preferem trazer ou fazer lanche em muitas vezes de comer algo a mais por casa para evitar gastos. A mudança causa do preço. Tomar um café da tarde custa, nos dias de hábito se dá pela de hoje, em torno de necessidade e pela Deixo muitas R$10 é um absurdo! elevada nos valores vezes de comer ”, relata a aluna Andas mercadorias. dressa Puliesi. O notável aumen- por causa do preço. Dono de um ecoto dos preços assusta O café da tarde custa nomato na faculdade os consumidores do em torno de R$ 10, é Cesuca, em Cachoeiramo alimentício. rinha, Airton RicarPara quem estava um absurdo!” do afirma que inovar acostumado a fazer ANDRESSA PULIESI é a chave para conr e f e i ç õ e s f o r a d e Estudante tinuar chamando a casa, o orçamento começou a ficar mais pesado. O au- clientela. “Fomos obrigados a aumenmento de 1,21% na inflação fez com tar os preços para poder dar contique o preço dos alimentos, bebidas nuidade nas vendas. O que salvou um e ingredientes disparasse. O cresci- pouco neste ano, foi uma nova ação mento geral nas categorias gera um de marketing, novas especialidades percentual entre 20 e 40% de sobre- na casa como sopas, pratos quentes e eventos. Está difícil viver esta crise, preço em diversos produtos. Segundo o site Impostômetro, os mas vamos nos virando para poder produtos como água mineral, café, manter o estabelecimento sempre

Streaming amplia oferta de músicas Segundo pesquisa da empresa brasileira Opinion Box, feita com usuarios da internet, todas as pessoas que começaram a usar serviços como Sporfy, Rdio, SoundCloud, Dezeer, Pandora e outros deixaram de baixar músicas ilegalmente. A distribuição online de músicas está criando uma nova forma de economia na indústria fonográfica e artística. Nathan Almeida, integrante da banda Olivettes, começou a usar recentemente ferramentas de distribuição online para divulgar as músicas do grupo: “Nós temos um material muito bom, de qualidade, para começar a chamar a atenção. Mesmo assim, ganhar espaço é difícil. O que está nos ajudando é colocar as músicas na internet”, conta. A banda está no Soundcloud, serviço escolhido por ser gratuito e ter um fácil compartilhamento com outras mídias sociais. Ícaro Estivalet, músico e integrante da Banda

Samsara Voyer, também participa da cena independente do Estado: ”Tem menos artistas ganhando muito dinheiro, que ainda têm contrato com gravadoras. Mas, olhando de uma outra forma, tem mais pessoas vivendo de arte, de música mesmo. Com esses serviços de streaming, deixam para quem quer ouvir e depois ganham grana nos shows e afins. O importante mesmo é que o mercado mudou”, explica. Nathan também fala sobre as oportunidades com essas ferramentas: “Músico sempre ganhou dinheiro com shows, mais do que com CD. E é nisso que a gente entende o papel dessas tecnologias novas, não são necessariamente uma forma de ganhar dinheiro vendendo música, mas com essas oportunidades de fazer shows e festivais, aparecer em programas de TV, coisas do tipo”, diz. Por Aryel Martins

QUEDA | Devido ao aumento de preços, movimento em restaurantes caiu

aberto. ”, declarou. No Brasil, já foram arrecadados mais de R$1,5 trilhão em impostos. Agora, com o aumento do ICMS os custos podem aumentar ainda mais, com alta de 4,87% em um orçamento familiar. A mudança de comportamento foi geral,

Novo shopping de Canoas inicia obras Iniciou no último mês de setembro as obras do novo shopping de Canoas. O Park Shopping Canoas é idealizado pela mesma empresa que construiu o Barra Shopping Sul, sendo então o primeiro projeto fora da cidade de Porto Alegre. A empresa é responsável por centros comerciais em diversas cidades do país e até mesmo no exterior. A expectativa é que o empreendimento seja um grande centro comercial e atraia consumidores, não apenas de Canoas, mas do Vale dos Sinos, Gravataí e cidades próximas. A região tem cerca 2,5 milhões de habitantes. O shopping estará localizado no bairro Marechal Rondon, próximo ao Parque Municipal Getúlio Vargas, região de Canoas que estava carente de centros comerciais, portanto o planejamento é que a obra revitalize a economia da região. De acordo com informações divulgadas no site da Multiplan, responsável pelo projeto, o local terá 258 lojas, sete megalojas, 2.5 vagas de estacionamento, cinco salas de cinema, um supermercado e uma academia. A área também terá ligação com a futura linha do aeromóvel, que será construído em Canoas. Além de ser vantajoso comercialmente e que estimule a economia, a intenção é que a obra também traga benefícios para a comunidade. De acordo com dados divulgados, o projeto irá gerar 2 mil empregos diretos e 3 mil indiretos, a ainda cerca de 1 mil na construção do local. A data prevista para entrega da obra é de abril de 2017. Por Fernando Campos

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muitas famílias orientam os estudantes a não gastarem com alimentos fora de casa, receitam levar o próprio lanche ou esperar o retorno ao domicilio. Por Guilherme RIcardo Foto de Guilherme Ricardo

Especialista avalia crise brasileira O momento econômico brasileiro não é favorável. De acordo com o pesquisador e doutor em Economia, André Azevedo, a crise deve-se a fenômenos mundiais simultâneos. A valorização do dólar é um deles, pois a economia norte-americana cresce cada dia mais, e, de outro lado, o real desvaloriza devido ao fraco desempenho do Brasil. Segundo o especialista, a política interna de um país afeta sua economia, tanto para o bem, como para o mal. Decisões políticas de sistemas sólidos – com poucos partidos de posições ideológicas definidas – tendem a apresentar estabilidade, especialmente quando o partido que está no poder tem apoio do Legislativo. Azevedo explica que sistemas políticos fragmentados – com muitos partidos sem clara definição ideológica – aumentam as chances de

situações como a vivida no Brasil atualmente. Com sistemas políticos fragmentados e diversas ideologias, os interesses se tornam opostos. Com a não aprovação das medidas de austeridade fiscal no Congresso, comenta Azevedo, o governo terá dificuldades para reduzir o déficit, o que eleva as incertezas quanto à capacidade de quitar dívidas. O cenário para a economia não é animador, de acordo com Azevedo, a mesma deve apresentar queda no PIB em torno de 3%, a maior desde 1990. O doutor em Economia, Divanildo Triches, afirma a perspectiva: “é bastante ruim com queda de produção do país e aumento do desemprego. Primeiro ponto de partida é a solução da crise política, que não parece se dar tão logo ”. Por Bruna de Oliveira Soares


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ECONOMIA

Uma nova realidade empresarial

N

Obrigações fiscais devem forçar a informatização das pequenas empresas

ina Rosa da Motta é empresá- exemplo para essa realidade. Uma inria na cidade de Montenegro dústria faz uma calça, emite uma nota há 25 anos. Ela é dona de uma eletrônica para o atacadista e paga seus loja que vende e aluga trajes impostos. O atacadista vende essa calça, de festas e tem como funcionárias uma fazendo uma nota eletrônica para a loja de costureira e a caixa. Cada saída de merca- Nina, e paga seus impostos. Tudo isso está doria do estabelecimento é anotada pela sendo claramente visto pelo fisco, que não caixa em um caderno, com o valor em precisa ir longe para encontrar também dinheiro que entra no caixa anotado em as empresas fornecedoras das linhas, do outro caderno. Há três anos, a empresa tecido, da agulha e da máquina que fizeadquiriu uma máquina para passar car- ram a calça, todas emitindo suas notas. O tão, e esta é responsável atacadista que fez a nota pelo único procedimento para Nina já deve indicar financeiro informatizado A principal ideia se a calça está indo para da loja. O restante aconte- do projeto é um consumidor final ou ce somente nos cadernos, informatizar a para algum revendedor. que vão se acumulando, O fisco sabe, então, que depois de usados, até que relação entre fisco essa calça será revendida. e contribuinte, se decida descartá-los. Nina vende a calça, mas A loja de Nina não é evitando a apenas anota no caderno a única a operar assim. a sua venda. O caderno Muitas pequenas em- sonegação vai para o depósito. Sem presas ainda funcionam emissão de nota, para a utilizando ferramentas de controle finan- receita, essa calça vai ficar eternamente no ceiro manuais, sem nenhuma informa- estoque da loja, que não pagou nenhum tização. No geral são empresas antigas, imposto sobre essa operação. com proprietários de mais idade e/ou Fica evidente aqui que qualquer tipo menos instrução (ou atualização), que de sonegação fiscal fica muito clara, funcionam do mesmo jeito desde o dia tamanho o controle do fisco sobre o em que inauguraram. As notas fiscais contribuinte. A Nota Fiscal de Consuemitidas por esses estabelecimentos, midor Eletrônica – nova obrigação do atualmente, são manuais e, na maioria projeto – vem aí para substituir as notas dos casos, tiradas somente se solicitadas manuais dessas pequenas empresas, pelo cliente. Sem emissão de nota, não informatizando, também, essa etapa do há pagamento de imposto. Sem emissão de nota, não há faturamento “oficial” da empresa perante o fisco.

processo de movimentação de mercadorias. Para se manter aberta, a loja de Nina deve aderir ao novo sistema até 2018. Uma realidade complicada para ela, e muitos outros empresários, que mal sabem ligar um computador. “Eu tenho pouca noção. Entro, no máximo, no Facebook, mas não sei mexer muita coisa [...] o jeito é contratar alguém que faça”, revela a empresária diante da nova obrigação. Ela vê dificuldade nesse controle, mas compreende a importância do programa. Documento eletrônico passa a ser obrigatório A Nota Fiscal de Consumidor Eletrônica, como todas as obrigações do programa da Receita, foi sendo introduzida gradativamente por faixas de faturamento e já pode ser encontrada em grandes lojas do varejo. Nesse documento eletrônico constarão os produtos comercializados e os dados do vendedor e do comprador. No site da Secretaria Estadual, ele poderá ser consultado para mais informações como, por exemplo, os impostos incidentes. Para Lucia Elena da Motta, dona de escritório contábil há 20 anos em Montenegro, não tem como o contribuinte escapar dessa realidade. A contadora, que já fez contabilidade de empresas usando máquina de escrever, acompa-

Pequenos empresários devem estar preparados Essa realidade está prestes a mudar. Visando um maior controle das operações dos contribuintes, foi instituído, já em 2007, o Sistema Público de Escrituração Digital. Como parte do Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Lula, o sistema atingiu inicialmente as grandes empresas – “peixes grandes” que dão maior impacto tributário à Receita. Seus reflexos nos pequenos empresários, como Nina, devem acontecer a partir de 2018. A principal ideia do projeto, como um todo, é informatizar a relação entre fisco e contribuinte, evitando sonegação e aumentando a arrecadação dos cofres públicos. Ele abrange uma série de obrigações, como a Nota Fiscal Eletrônica e o SPED Contábil. Por meio delas, são enviados digitalmente à base de dados das Receitas Federal e Estadual, por exemplo, movimentações de mercadorias, entradas de caixa, ocorrências com funcionários, inventário, operações com cartões, enfim, tudo o que for pertinente para ser analisado, confrontado e, se for o caso, levar à autuação do contribuinte. Pegamos a empresa de Nina como

QUASE TUDO MANUAL | Na loja de Nina, aberta há 25 anos, o único procedimento financeiro informatizado é a maquininha de passar cartão

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nhou de perto toda a mudança tributária do país. Ela indica que a nova obrigação vem sendo comentada desde 2014 e que cabe ao empresário se adequar ou deixar de ser empresário. Lucia reconhece a possibilidade de algumas empresas fecharem diante da dificuldade da utilização dos meios eletrônicos. “Eu penso que pode acontecer com aquele empresário de longa data, já até aposentado [...] Se a pessoa ver que a adaptação irá gerar uma despesa maior que o que ela pode ganhar, talvez haja a desistência, mas acredito que não irá acontecer muito”, comenta. Sem entrar no mérito da justiça ou da injustiça da carga tributária do país, é fato que a obrigação está aí para ser obedecida. Quem lucra com essa situação (além do governo) são os desenvolvedores dos sistemas de gestão, que vêm se multiplicando no mercado nos últimos anos para atender as demandas dos empresários. A questão para as empresas é se habilitar às normas ou ser engolida por um mar de autuações e penalidades pelo não cumprimento da lei. Cabe ao pequeno empreendedor, que quer continuar no ramo, correr para entrar em 2018 com, pelo menos, um computador, um programa emissor do documento e uma pessoa apta a operar a ferramenta. Texto e foto de Denis Machado


BABÉLIA | Novembro de 2015

TECNOLOGIA

Mulheres programando o futuro Preconceito com o gênero feminino afasta jovens das faculdades de tecnologia

“I

sso não é coisa de menina!”. A expressão pode ser uma das responsáveis por desencorajar milhões de jovens brasileiras que a cada ano chegam em menor número às faculdades de tecnologia da informação e comunicação. Segundo dados do relatório Progresso das Mulheres no Mundo 2015-2016, divulgado pela ONU Mulheres, apenas 20% dos estudantes dos cursos de Tecnologia da Informação e Comunicação são mulheres. O número é inferior ao dos anos 80, quando elas ingressaram massivamente no mercado de trabalho. Thais Hamilton é uma das exceções. Com 25 anos, a consultora em desenvolvimento é formada em Sistemas da Informação e atua na área desde o primeiro ano da faculdade. “Quando criança, gostava muito de montar, desmontar coisas e ver como tudo funcionava. Acabei ganhando um computador muito cedo, e ficando encantada. Com 10 anos escolhi trabalhar com isso”. Apesar do interesse ter surgido de forma natural, Thais conta que existe muito preconceito com as mulheres dentro das universidades entre os colegas da área. “Já sofri descriminação, já me falaram várias vezes que mulher não “servia” para programar. E na faculdade ouvia coisas horríveis e piadas sobre mulheres em TI”. Segundo a experiência dela, o que mais afasta as meninas do ramo é o preconceito pelos padrões estabelecidos do “ser mulher”. “Os estereótipos e a falta de incentivo na infância acabam as afastando. São poucas as gurias que são incentivadas a ter brinquedos que façam gostar de ciências e tecnologia”. Um estudo recente realizado pelo psicólogo Andrew Meltzoff, especialista em desenvolvimento infantil e co-diretor do Instituto de Aprendizado e Ciências do Cérebro da Universidade de Washington, mostra que as meninas já chegam à escola com a ideia de que a matemática não é para elas. “Há uma expectativa social ampla de que matemática não é para garotas, elas começam a internalizar isso. Elas podem escolher jogos matemáticos com menos frequência, ou serem menos persistentes em problemas matemáticos difíceis, porque elas acham que “meninas não são boas em matemática” ou “matemática não é para mim”, disse o especialista em entrevista ao portal G1. Para ele, é importante que as mulheres estejam produzindo na área tecnológica. “Se desencorajamos muitas estudantes a permanecer neste campo, nos prejudicamos como so-

ciedade. Ao trazer mais mulheres e uma empresa que é mais acolhedora minorias sub representadas no campo, que as outras”. podemos melhorar os tipos de jogos O mercado de trabalho é desigual. criados, os tipos de software”, afirma. Na América Latina, 47% das empresas Para viabilizar que mais mulheres não têm uma única mulher no conselho tenham interesse pela área, inciati- administrativo, segundo pesquisa reavas pelo mundo têm lizada pela Corporase voltado à capacitaOs estereótipos te Women Directors ção no debate sobre International. A fale a falta de tecnologia. No Brasil, ta de reconhecimeno evento global Rails incentivo na infância to também afasta G i r l s o c o r r e d e s d e acabam afastando-as. muitas estudantes 2012. Thais particido caminho da TI. pou como couching São poucas gurias Segundo o diretor no evento, ajudando que são incentivadas técnico do Dieese, meninas a entender a ter brinquedos Clemente Ganz Lúa lógica da progracio, “a mulher tem mação. “Trabalho na que façam gostar de salários que chegam T-Works, empresa que ciências e tecnologia” a ser de 25% a 30% realiza o Rails em Pormenores do que o THAÍS HAMILTON to Alegre. Aqui dentro Desenvolvedora de sistemas do homem”, disse os colegas fazem muito em entrevista à Ráesforço para deixar o ambiente mais dio Brasil Atual. Apesar de ganharem seguro para as mulheres”. Mais de 60 menos, elas trabalham mais. Em todas pessoas participaram das atividades as regiões do Brasil, fazem quase duas que duraram 12h ao todo, sendo o vezes e meia mais trabalho doméstico, domingo voltado para a criação de que não é dividido entre os sexos. um projeto através da programação. Apesar do senso comum afirmar que Segundo Thais, uma das organizadoras “a área de exatas não é para mulheres”, do projeto, a ideia é promover ferra- na tecnologia elas são pioneiras. A mentas para meninas e mulheres cons- programação foi inventada por uma truírem suas próprias ideias através mulher, Ada Lovelace. A Condessa de do software de programação Ruby on Lovelace, como era conhecida, teve Rails. “Eu tenho sorte de trabalhar em incentivo da mãe que era cientista.

DE OLHO NO FUTURO | Em Porto Alegre, evento reúne meninas e mulheres para aprender a programar

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O estímulo para que mais mulheres aprendam e exerçam funções na área é essencial para garantir a igualdade de acesso a informação nas gerações futuras de usuários e usuárias da web. Para a doutora Sue Black, fundadora da British Computer Society Womem e do aplicativo para ensinar mães a programar, Tech Mums, a rede de empoderamento é o que pode fazer a diferença. “Ao impactar uma mulher, você não muda a vida apenas de uma pessoa. Por meio dela, você influencia uma rede de outras mulheres, de outras pessoas”, disse Black quando esteve no Brasil este ano em São Paulo, em evento promovido pelo Womem inTechnology - Pioneers of Britain and Brazil. Texto e foto de Gabriela Wenzel

Saiba mais sobre o Rails Girls Ficou interessada ou interessado em participar do evento? Pode se candidatar quem tem conhecimento em TI, para fazer voluntariado e ajudar outras pessoas a aprender sobre programação, ou participar como aprendiz. O período de inscrições e as formas de seleção estão no site www.railsgirls. com/portoalegre.


BABÉLIA | 22 de Maio de 2015

MEIO AMBIENTE

Canoas transforma lixões em praças As novas áreas de lazer são revitalizadas com plantio de árvores e uso de materiais recicláveis

M

oradores do bairro Rio Branco, em Canoas, ganharam uma nova opção de lazer no último dia 6 de outubro. A subprefeitura da região transformou um antigo lixão de 300m² em praça. O local, que antes servia de descarte irregular de lixo, recebeu o plantio de árvores frutíferas nativas e uma nova iluminação. A praça é simples. Além das 80 árvores plantadas ela conta com alguns bancos. Para Márcia Rocha, representante da Associação de Moradores do bairro, o mais importante era se desafazer do lugar que apresentava riscos à saúde. “O cheio era in- brinquedos, para que as crianças suportável, afora que as crianças possam melhor aproveitá-la”. Até tinham contato com aquele lixo o final do primeiro semestre do todo. Era muito ano que vem, ao perigoso”, lemmenos uma nova O próximo bra. Ela destaca deverá ser passo é comprar praça que a responconstruída nos s a b i l i d a d e d e brinquedos, para que mesmos moldes, cuidar do novo garante Claudias crianças possam ambiente é dos no. melhor aproveitar a moradores. Realizada em O subprefeito nova praça” parceria com as da região, José secretarias de Carlos Claudi- JOSÉ CARLOS CLAUDINO Meio Ambiente no, aponta que Subprefeito do bairro Rio Branco e Serviços Urbaoutras obras nos, a revitalizapodem ocorrer no bairro. “Te- ção de lixões pela prefeitura é uma mos como objetivo deixar a praça meta que vem sendo praticada mais atrativa para a comunida- nos últimos anos. Bairros como de. O próximo passo é comprar Fátima, São José, Guajuviras e

LAZER | O próximo passo é a compra de brinquedos

Mathias Velho já receberam projetos semelhantes. Em todas as recuperações foram utilizados materiais recicláveis, como dormentes de trilhos e pneus. O próximo bairro que terá o seu lixão transformado em praça será o Harmonia. As obras, que iniciaram ainda em setembro, estão em fase de finalização. O local receberá um projeto paisagístico para evitar ocupações e descarte de lixos irregulares. Segundo os órgãos responsáveis, mais de 100 lugares já foram recuperados desde 2009. Texto e foto de Khael Santos

Indefinida a privatização do Zoo Está tramitando na Secretaria do Planejamento, Mobilidade e Desenvolvimento do Estado do Rio Grande do Sul (SEPLAN) o processo de concessão do Zoo de Sapucaia do Sul à iniciativa privada. A medida dependerá do processo de extinção da Fundação Zoobotânica, administradora do Parque. A SEPLAN planejava assinar o contrato de concessão em um ano, mas ainda não tem prazo definido para a conclusão do processo. A assessora de comunicação do órgão, Fabíola Bach, afirma que o governo do Estado não tem uma decisão oficial sobre a concessão do parque, mas acredita que a privatização irá trazer melhorias, ao

fazer investimentos para focar em ações de preservação. “Vamos apresentar em breve a modelagem financeira das situações propostas, que serão avaliadas por um comitê técnico”, informou Fabíola. O zoo, localizado a 28 km de Porto Alegre, tem uma área total de 780 hectares com grande valor ecológico na Região Metropolitana. Em uma parte da área são cultivadas lavouras livres de agrotóxicos, que rendem mais de 1 mil quilos de pasto para os animais. O parque conta com 78 funcionários, entre eles veterinários e engenheiros agrônomos, responsáveis pela saúde, bem-estar e nutrição

dos animais. “Os animais são muito bem tratados, com alimentação e medicamento”, diz Raquel Von Honendoers, médica veterinária do parque. Raquel afirma que o processo de privatização não irá trazer melhorias ao zoo. A veterinária acredita que se isso acontecer, a população sentirá o impacto no bolso pois os ingressos irão aumentar diminuindo o número de visitantes, e por consequência a renda do Parque será menor. Atualmente o Zoo é visitado por mais de 700 mil pessoas por ano. Por Camila Moraes

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Prefeitura busca o fim das cheias Após as chuvas que causaram alagamentos no município de Esteio, equipes de limpeza da Secretaria Municipal de Obras Viárias e Serviços Urbanos (SMOVSU) retiraram mais de 300 metros cúbicos de entulhos e terra nos bairros mais atingidos pelas cheias. O movimento “Esteio Superando as Enchentes”, criado pela prefeitura com o apoio da população, transferiu em outubro 24 famílias, que tinham suas casas à beira do rio, e as realocaram em área elevada

do bairro Três Marias. Moradores de bairros Tamandaré, São José e Três Marias reclamam a conclusão de obra iniciada em 2013, e ainda não concluída, que servirá como espécie de dique para a cidade. O titular da SMOVSU, José Luiz da Silva, adiantou que essa construção deverá estar concluída até o final do ano. “Estamos fazendo de tudo para que essa obra acabe o mais rápido possível”, garantiu. Por Thaís Almeida

Nova Petrópolis tem 40 praças Conhecida como Jardim da Serra Gaúcha, a cidade de Nova Petrópolis, com 20,5 mil habitantes e a 96 Km de Porto Alegre, conta com mais de 40 praças e parques de diferentes tamanhos. A prefeitura trata de deixá-las sempre floridas e bem cuidadas, pois elas “fazem a cara da cidade”, disse o secretário de Agricultura e Meio Ambiente, André Dall ´Agnol. A Secretaria de Obras e Serviços Públicos conta com equipe especializada que a cada mês faz o replantio de dez mil mudas de flores, informou o titular da Secretaria de Obras e Serviços Públicos, Oraci de Freitas. A área que mais se destaca é a Praça da Independência, no centro. A cidade atrai, a cada ano, milhares de turistas procedentes de todas as partes do país. Por Débora Voltz

Horto doa plantas em Cachoeirinha Todas as terças-feiras, das 8h às 17h, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) da cidade de Cachoeirinha promove a doação de mudas de diversas espécies de plantas no Horto Municipal. O local, apesar de pouco divulgado pela prefeitura, está situado no bairro Jardim Betânia desde 1989 e abriga cerca de 50 mil mudas de plantas nativas, frutíferas, exóticas, medicinais e ornamentais, sendo algumas já raras na natureza. O propósito das doações é despertar o

interesse da comunidade por questões ambientais e conscientizar a população sobre a importância de conservar o meio ambiente. “Incorporar os moradores na natureza é necessário para valorizarmos esse berçário de espécimes vegetais que é o Horto. Afinal, o local é o principal espaço natural da nossa cidade”, afirmou João Paulo Scaramussa, coordenador do Horto Municipal de Cachoeirinha. Por Rafaela Trajano


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AVENTURA

Espaço na van

Grupo de amigos percorreu em um mês 12 estados brasileiros em uma Kombi 1993

U

m veículo utilitário alemão, criado em 1950, com o propósito de transportar carga ou um maior número de passageiros. A Kombi, modelo da Volkswagen, tornou-se, a partir da década de 1960, um dos principais símbolos da contracultura hippie, movimento originado nos Estados Unidos, que contestava os valores tradicionais da sociedade norte-americana. Os hippies customizavam os veículos com cores fortes e os utilizam em festivais de música ao ar livre. Assim como um grupo de amigos, residentes da região metropolitana de Porto Alegre, que comprou uma Kombi 1993, há cerca de dois anos. Rossano Mansan, Wagner Santos e Vinícius Schmitt se conheceram durante o ensino médio e técnico, em uma escola de Novo Hamburgo e, desde então, viajam juntos para o litoral. Não demorou muito para surgir a ideia de partirem para festivais de música fora do estado. “Viajar é algo que existe no nosso grupo de amigos desde muito tempo, é uma necessidade, um vício. Uma viagem de 30 dias é a extensão dessa vontade de conhecer novos lugares e pessoas”, comentou Schmitt. Com tamanha vontade e tantas experiências na bagagem, organizar uma viagem de 30 dias, entre 4 de julho a 3 de agosto, pelo Brasil, parecia fácil. E realmente foi.

Mas faltando dois meses para a partida, marcada para julho de 2015, apenas Mansan, Santos e Schmitt estavam confirmados na Kombi. Os três, além de sincronizarem as férias do trabalho, alinharam o período de folga com o recesso das universidades.

e teve a oportunidade de descobrir 12 estados, em 30 dias. “Eu conheci o grupo da Kombi enquanto ajudava na organização do Fractal Mini Festival na região de Lajeado. Logo depois ficamos amigos e, enquanto conversávamos, surgiu o assunto da viagem. Achei o máximo a Sempre cabe ideia de viajar pelo Brasil todo em uma mais um Kombi colorida,” afirmou Martignago. Já Ellen e Souza, souberam da viagem As namoradas de Wagner Santos e por meio da página “Difériasnacombi”, na Vinícius Schmitt, Caren Souza e Luiza rede social fundada por Mark Zuckerberg. Wottrich, decidiram, faltando um mês “Eu vi o post da página sobre a viagem para a viagem, que também seriam par- pelo Brasil em 30 dias, fiquei interessado e ceiras de aventura. Em junho, mês pré- comentei no post que gostaria de ir. O Viviagem, quatro novos nícius e o Rossano me integrantes apareceadicionaram em seus Qualquer um ram para lotar o veíperfis e começamos, poderia viajar culo: Alan Martignago, então, a trocar ideias Paulo Fernandes, Ellen com a gente, por apenas pelo Facebook, Tabarkiewicz e Dou- isso anunciamos a pois ainda faltava um glas Souza. “Qualquer viagem por onde mês para a viagem. Falum poderia viajar com tando duas semanas, a gente, por isso anun- passamos e, também, nos conhecemos pessociamos essa viagem pelo Facebook.” almente”, disse Souza. por onde passamos e, O ponto de partida WAGNER SANTOS principalmente, pela Militar da viagem foi a cidade página da Kombi no de Sapucaia do Sul. No Facebook”, salientou Santos. dia 3 de julho os aventureiros embarcaMartignago e Fernandes conheceram ram com mochilas, barracas, utensílios de o grupo de amigos em eventos de shows cozinha e muitos instrumentos musicais. musicais. Alan Martignago nunca tinha Ao partirem, a única certeza deles era com ultrapassado as fronteiras da região Sul relação a alguns locais que pretendiam

DESAFIO | Mais de 10,7 mil quilômetros foram percorridos pela Kombi colorida, em 30 dias, passando por 12 estados brasileiros

conhecer: Foz do Iguaçu, no Paraná; a Chapada Diamantina, na Bahia, além de passar pelo litoral para conhecer as belezas naturais brasileiras. “Baseado nisso, montamos um pré-roteiro. Ao longo do caminho fomos definindo onde dormiríamos, comeríamos e para onde iríamos no dia seguinte. Tudo com o consenso dos nove, escolhendo democraticamente”, recordou Mansan. Além disso, os viajantes da Kombi se revezavam na direção. Na ponta do lápis Se o roteiro da viagem não estava planejado por completo, o lado financeiro estava. Antes de colocarem os pés, ou melhor, os pneus da Kombi na estrada, um levantamento de gastos foi feito pelos viajantes. O grupo sabia que as principais despesas seriam com alimentação e combustível para o veículo. Com isso, foi feita uma pesquisa sobre os preços da gasolina nas cidades pelas quais eles passariam de acordo com o préroteiro e, assim, calcularam o valor médio de gastos, somando ainda uma porcentagem para os pedágios. Já o investimento nas refeições foi baseado em um cardápio diário e também na busca pelos menores preços. No total, somando todas as despesas durante o mês da viagem, cada passageiro gastou, aproximadamente, R$ 850,00. Mas nem tudo foi fácil na aventura. Em direção à Bahia, passando pelo estado do Tocantins, a Kombi apresentou problemas mecânicos. Os viajantes tiveram que utilizar uma corda, somando a força física para levar o carro até a oficina mais próxima. Coincidência ou não, o local era de proprietários gaúchos, que deram de presente aos viajantes o conserto da Kombi. Por mais que alguns contratempos tenham acontecido durante a viagem, Schmitt recomenda que todos possam vivenciar uma experiência como essa, ou pelo menos parecida. “Vão e façam. É preciso correr atrás, buscar e, principalmente, ir atrás dos sonhos”, finaliza o técnico em eletrotécnica, lembrando que sempre haverá, para os sonhadores, um espaço na Kombi. Álbum de fotos O saldo desta longa viagem, percorrida pelo Brasil em uma Kombi, durante 30 dias, foi positivo para os nove viajantes, que desbravaram 12 estados brasileiros com a ajuda de alguns objetos de localização. Os momentos vividos dentro do modelo alemão estão registrados na memória de cada um, e também nas fotografias e postagens nas redes sociais. Para realizar uma aventura como essa é preciso determinação e espaço na Kombi. Por Júlia Ramona Fotos Arquivo Pessoal

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BABÉLIA | Novembro de 2015

SAÚDE

UPA de Alvorada não tem recursos Prédio está construído mas não tem equipamentos devido à falta de verba estadual

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om atraso de oito meses, a Uni- UPA, conseguiremos inaugurar este dade de Pronto Atendimento ano”, garante Marenilda. De acordo com o médico Alberto (UPA), de Alvorada, ainda não foi inaugurada. O prédio está Strauss, como condicionamento do construído e cercado, porém está va- Ministério da Saúde, a unidade deve zio. A Secretaria Municipal da Saúde funcionar sete dias por semana, 24 (SMS) acredita que até o final de 2015 horas por dia. Mas existe receio por parte da secretária a unidade esteja funde que, por contencionando. Se o Estado ção de despesas, seja A secretária Mapagar pelo restringido o horário renilda Bortoli afirde atendimento. “Alma que o Estado está menos a quantia guns municípios estão com uma dívida de devida à UPA, pensando em limitar R$ 1,5 milhões refeconseguiremos o atendimento em 12 rente a recursos que horas, por causa de não foram repassa- inaugurar este ano” custos. Mas não é dos para construção MARENILDA BORTOLI nada certo”, declara. do pronto atendi- Secretária de Saúde Alguns equipamento. A informação é de que a licitação está em andamento mentos já foram arrecadados, por parpara verba ser depositada e, finalmen- ticipação de programas do Governo te, equipar a UPA. Estadual, como um ecógrafo e ventiFora a dívida, o Governo do Estado ladores mecânicos. A licitação para não deposita recursos há cinco meses. compra dos equipamentos que faltam Ao total, o valor acumulado desde já está encaminhada, só falta receber o 2014 com a SMS de Alvorada chega repasse. Com a abertura da UPA, atrás em quase R$10 milhões. “Se o Estado do Ginásio Municipal Tancredo Neves, pagar pelo menos a quantia devida a o pronto atendimento, que hoje é no

Crossfit lesiona até 74% de praticantes A moda do crossfit leva pessoas despreparadas que buscam corpos definidos e resultados rápidos aos boxes de treinamento. As lesões durante a prática estão preocupando especialistas. Uma pesquisa publicada pelo periódico “The Journal of Strength and Conditioning Research”, mostra que cerca de 74% dos participantes do estudo sofreram alguma lesão após o treino de crossfit. Depois de praticar durante seis meses, William Rech, personal trainer, desenvolveu hérnia inguinal. Além disso, teve deslocamento abdominal, que resultou em uma cirurgia e um mês sem esforços físicos. O personal trainer afirma que os treinos eram muito intensos e repetitivos. “Acredito que o risco de lesão deveria ser alertado, mas no box que eu praticava, era pregado muito mais

o espirito de competição, do que de alerta e cautela”, completa. Por ser um esporte que traz resultado rápido, detalhes em sua execução são omitidos. O exagero na prática e os tempos de descanso que não são respeitados causam as lesões, de acordo com a professora de Educação Física e personal trainer Luciane Citadin. Ao mesmo tempo, os treinadores do esporte acreditam que as lesões são apenas geradas por boxes que não estão licenciados e não têm professores especializados. Mesmo que William afirme que seu box havia um professor acompanhando o tempo todo os exercícios, a prática é que parece estar ocasionando lesões, e não o fato de os boxes serem ou não licenciados. Tanto que, alunos de academias autorizadas estão sendo machucados. Por Natália Collor

DESCASO | Unidade mantém postos fechados por dívida do Governo

PAM 8, passará para unidade. A UPA, que terá uma equipe nova e terceirizada, servirá de intermédio entre as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e as urgências hospitalares, consequentemente diminuindo as filas nos prontossocorros dos hospitais. Além da UPA, está prevista a inau-

Novo exame revela câncer de mama O câncer de mama atinge cerca de 1 milhão de mulheres por ano, segundo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a cada ano a estimativa sobe. Recentemente um novo exame de sangue está em teste para identificar de forma eficaz a regressão da doença. O estudo acompanhou 55 mulheres que já tiveram a doença, entre elas, 12 foram diagnosticadas pelo novo exame. A vantagem do exame é a descoberta precoce, o que ajuda no tratamento, diminuindo o risco de vida. Apesar dos cientistas afirmarem que pode demorar anos para ele estar disponível ao público, a esperança é grande. A doença é causada por alterações genéticas e pode ser impulsionada por inúmeros fatores. Ela também pode se manifestar nos homens e geralmente está relacionada com o histórico da família. De acordo com a Mastologista Sirlei Costa, qualquer mulher acima de 40 anos tem que fazer o exame anualmente, assim como ter uma alimentação balanceada, comendo frutas, verduras e grãos, alimentos de origem vegetal, o que ajudam na prevenção. Sirlei também comenta que cerca de 60 a 70% dos casos são diagnosticados com estagio 3 ou 4, que significa o nódulo estar com mais de 5cm e já pode ter invadido outros órgãos. Por Tamara Klein Stucky

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guração de mais três UBSs em Alvorada (Jardim Algarve, São Francisco e Nova Alvorada). A equipe de médicos da SMS contará com mais um grupo, totalizando 30 equipes, até dezembro. Por Ellen Renner Foto de Matheu Pfluck

Projeto aquático une pais e filhos A secretaria de Saúde de Campo Bom criou o projeto Hidromami, que leva para piscina pais e bebês de dois a seis meses, a fim de fortalecer o laço afetivo da relação. O projeto é gratuito e ocorre no Centro Aquático Frederico Silveira Nantes, de outubro a abril. O Hidromami conta com equipe multiprofissional. As atividades trabalham medos, amamentação, banho, entre outros. A atitude tranquiliza os pais e estabelece uma relação de confiança e seguridade com o bebê. Segundo a coordenadora do projeto Alda Brust, o Hidromami reduziu os atendimentos dos bebês na emergência. ‘’Algumas mães levavam o bebê ao hospital por

qualquer choro, que é um tema abordado em todas as edições”, relata. A pediatra Simone Martens diz que a motricidade, interação e comunicação com o ambiente são alguns dos benefícios para o bebê. Para o secretário de saúde Jerri Moraes, o Hidromami é um projeto de prevenção. “Uma criança pode morrer por algo simples como a amamentação, o Hidromami trabalha esses cuidados”, enfatiza. Para participar do projeto é necessário morar em Campo Bom. As inscrições ocorrem no centro aquático. É exigido o encaminhamento do pediatra. Por Eduarda Moraes Foto Divulgação


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SAÚDE

Natação incentiva recuperação muscular A natação se diferencia de qualquer outra atividade. O esporte aquático traz diversos benefícios, tais como a recuperação da musculatura. Ou seja, ela ajuda pessoas com lesões decorrentes do cotidiano. O professor de natação Élio Becker afirma que a agua é uma excelente recuperadora, fortalecendo a musculatura, sem nenhum tipo de impacto. A água facilita na execução de movimentos e diminui o risco de doenças ósseas. Além

disso a atividade exige mais gasto de energia, auxiliando na respiração e na circulação sanguínea. O coração e os pulmões também são beneficiados. Claudie Chagas, 48 anos, pratica a natação há dois meses. E tinha problemas com a labirintite. “ Depois que comecei a praticar natação, a fazer exercícios que envolvem meu sistema nervoso, melhorei muito. Hoje remédios são quase desnecessários, ” concluiu. Por Bruna Flach

Ação alerta sobre câncer de próstata Comemorado no dia 17, o dia mundial da prevenção do câncer de próstata, deu o ponta pé para que a campanha Novembro Azul surgisse. No Brasil, foi lançada pelo Instituto Lado a Lado Pela Vida. Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), em 2014, cerca de 69 mil novos casos de câncer de próstata foram diagnosticados e, muitos deles, devido às ações da campanha. Quando questionado sobre exame de toque retal, o médico, Dr. Gelson de Castro, afirma: “Felizmente, com o passar do tempo, vem diminuindo o preconceito com o exame, necessário para todos os homens após os 50 anos”. Sobre o Novembro Azul, Dr. Castro diz que as ações são extremamente importantes. Ainda comenta que, é bastante comum aumentar o movimento de pacientes à procura de avaliação prostática. O slogan para 2015 é “Cuidar da saúde também é coisa de homem” e o instituto LALPV já tem um calendário completo de grandes atividades. Por Eduarda Couto da Silva

Yoga previne problemas cardíacos De acordo com um estudo realizado pela Erasmus University Medical Center, na Holanda, a yoga protege o coração de riscos de doenças cardíacas, como por exemplo colesterol e pressão arterial alterada. O estudo, realizado com cerca de três mil voluntários, apontou também que a prática serve como calmante. O exercício surgiu há milhares de anos na Índia, e tem como filosofia básica propiciar aos seus adeptos uma revolução na

saúde mental e física, através do trabalho de respiração e músculos. A professora Sabrina Spier, capacitada em yoga, afirma que a pratica dessa atividade proporciona inúmeros benefícios, auxiliando em diversos aspectos. Pouco foi descoberto, mas estudos sobre os efeitos da yoga continuam sendo realizados, principalmente na influência emocional que a prática exerce sobre os usuários.

Alimentação crua ajuda a emagrecer Alimentos ao natural são ricos em nutrientes e ajudam a prevenir doenças

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alimentação crudívora, ou alimentação viva, é baseada em alimentos crus e pode ser uma aliada para quem quer emagrecer ou ter uma vida mais saudável. Nela não entram ingredientes cozidos, processados ou refinados. Por ser uma dieta rica em nutrientes, faz com que as pessoas se sintam saciadas por mais tempo e comam menos. A alimentação crua pode ajudar a prevenir câncer, diabetes e depressão. Segundo a nutricionista Melissa Suarez, os alimentos aguentam a mesma temperatura que nossa mão. Se você encosta no alimento e não aguenta o calor, ele já perdeu os nutrientes. O ideal é que o aquecimento não passe de 47º C. Na dieta, não entram farinha branca, açúcar, carnes, ovos e leite. Estão permitidos frutas, verduras e sementes. Quem segue essa dieta normalmente é vegano e não consome produtos de origem animal. Porém, há linhas da alimentação viva que utilizam 30% dos alimentos cozidos e outros adeptos comem derivados de animais, como leite cru ou sashimi. Apesar de a dieta pertencer ao veganismo, há muitos veganos que não consomem apenas alimentos crus. A estudante Thelma Kaminski é vegana, mas come mais coisas cozidas do que cruas. Para ela, essa dieta é radical. “Eu ia achar estranho, não me imagino comendo coisas cruas, a não ser salada, amendoim ou castanhas”, comenta. Os crudívoros, apesar de comerem em menor quantidade, não

Alimentos ao natural são ricos em nutrientes e ajudam a prevenir doenças

precisam fazer mais refeições que o normal. O indicado são cinco ou seis refeições diárias. Para quem quer começar uma alimentação viva, o primeiro passo é prestar atenção na temperatura dos alimentos e experimentar os verdadeiros sabores e texturas. Por Gabriela Stähler Foto de Patrick Moore (Freeimages)

Alimentos estimulam o cérebro A alimentação têm influência sobre o corpo e cérebro. A boa alimentação é insubstituível e tem benefícios que nenhuma outra medicação traz. Os nutrientes são o combustível de todos os mecanismos envolvidos na memória, responsável pela aprendizagem. A médica nutróloga e clínica geral Analía Argüello diz que a digestão dos carboidratos é a maneira mais eficiente de obter glicose, que é a fonte de energia das funções orgânicas e o cérebro é altamente dependente de glicose para funcionar, a glicose

Por Roseane de Almeida

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baixa diminui a concentração. Bebidas como o chá verde e café possuem antioxidantes e cafeína, que estimula a dopamina, uma substância química liberada pelo cérebro para melhor a memória. O guaraná cerebral não necessariamente melhora a memória, funciona somente como energético. Alimentos com Omega3 são os mais recomendados para melhorar a memória. Dentre os benefícios então a prevenção de demência senil, diminuição de risco cardiovascular e minimiza a incidência de vários

tipos de câncer. Segundo a nutricionista Moara Pierotto, mesmo sem ter tempo, é importante atenção especial à alimentação. Ela mantém o organismo em equilíbrio e o sistema imunológico em bom funcionamento, evitando cansaço e a fadiga. Hidratação é essência, assim como o consumo de água é fundamental para o bom funcionamento cerebral e a falta dela está relacionada a dores de cabeça, lapsos de memória e fadiga. Por Sara Erhart


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SAÚDE

Amamentação a longo prazo

Mães enfrentam o preconceito e deixam que os próprios filhos decidam o momento de parar

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ntre afagos no sofá percebe-se o carinho entre mãe e filha. O cafuné surge quando um chorinho começa. A mãe, Juliana Magnus, 35 anos, afasta a blusa e oferece o peito para a filha. São em momentos assim que se resumem os dias em que a guarda municipal está em casa, onde o “ba” é dado sem pestanejar para Lívia, de dois anos e cinco meses. O que hoje ocorre de maneira espontânea, antes, no dia em que a bebê nasceu, não foi nada fácil. Lívia deu um susto na mamãe de primeira viagem. No início, ela rejeitou o peito e até a fórmula láctea, para desespero de Juliana. “Eu e meu marido decidimos que ela ia mamar até quando quisesse, caso pegasse o peito”, afirma. Juliana é uma das mães que é ativa quando o assunto é amamentação e está sempre pesquisando, questionando, incentivando e sendo incentivada. Para ela, o peito é sinônimo de saúde e sempre teve um pé atrás com as fórmulas, pois não tem todas as propriedades necessárias para saúde do bebê. A partir dos cincos meses, começou a introduzir frutas e sucos de maneira ponderada, uma forma de prevenir possíveis alergias. Juliana voltou ao trabalho, que acabou se tornando uma maratona. Trabalhando na Guarda Municipal de Cachoeirinha na hora do almoço, voltava para casa e alimentava Lívia. O medo de a filha desmamar era algo que a assombrava e fazia a mãe se preparar psicologicamente. “Não é só ela que precisa. Quando uma mãe começa a amamentar, a gente precisa, a gente quer. A dependência é tanto dela quanto minha. Ia me esforçar para levar até um ano, mas não precisou”, analisa. A mamadeira é outra vilã para as mães que querem continuar amamentando, pois a diferença dos bicos podem dar confusão na crianças, fazendo com que o desmame ocorra cedo demais. Juliana tinha esse medo também, assim como vários outros, mas só agora com dois anos que Lívia resolveu experimentar. “Ela nunca foi muito fã. Comecei com um ano a dar suco na mamadeira, mas ela sempre preferiu o peito. Até pelo fato do nosso vínculo ser muito forte. Se ela cai, se machuca e tá dodói, é o peito que ela pede, é o bazinho dela que conforta”, frisa. Nem tudo tem um lado bom Os olhares tortos e a falta de médicos que apoiam a atitude de amamentar até a criança crescer é muito maior para as mães que querem continuar amamentando. Juliana diz que tudo é muito lindo até os seis meses, mas que depois disso

que a amamentação deve acontecer de forma natural e prazerosa tanto para a mãe quanto para o filho. O maior problema, no entanto, é a sociedade e a falta de apoio de quem cerca. “Não problema psicológico da mãe, mas sim uma pressão de todos na sua volta para que ela pare de amamentar. Muitas vezes há confusão com aspectos sexuais por não considerarem como algo natural quando a criança cresce e não é mais bebê, principalmente quando já se iniciou outros tipos de alimento”, explica. Além disso, segundo Patrícia, o relacionamento estreito pode favorecer um bom desenvolvimento da criança a formação da personalidade. Essa relação estreita também servirá para relações futuras. “A criança que sabe que é amada, que tem uma relação de segurança e um bom apego, terá mais facilidade para se relacionar com as outras pessoas e com o ambiente em que vive”, explica. A mãe é considerada como a primeira fonte de satisfação tanto física como emocional para o bebê. Com isso, explica Patrícia, a amamentação pode ser vista como um momento de desenvolvimento de vínculo em que, independentemente da idade, ocorrem trocas de afeto, olhares e comunicação. “Algo que se perde quando se é alimentado por mamadeira, pois é algo que qualquer pessoa pode fazer”, ressalta. Leite materno é vida

“Amamentação prolongada não é um problema”

A nutricionista Ana Luísa Munoz, que também é doula e consultora em aleitamento materno, afirma que a amamentação deve ser exclusiva, ou seja, somente leite materno, sem água, chás e outros líquidos, até o sexto mês de vida. E, se possível, prolongado até dois anos ou mais. “Depois dos dois anos de vida do bebê o leite materno ainda apresenta grande valor nutricional, rico em vitaminas e sais minerais e ainda em propriedades imunológicas que o protegem”, explica. O leite materno é uma substância viva que se adapta às necessidades de cada criança. Porém, Ana Luísa diz que não se pode fixar somente nos aspectos nutricionais da amamentação prolongada. “Existem benefícios psicoemocionais que fazem esta criança se sentir amada e segura, tendo uma maior segurança para se desenvolver”, afirma.

A psicóloga e mestre em psicologia clínica Patrícia Wolff Muller explica

Por Thayná Bandasz Foto de Brenda Nesello

BEM-ESTAR | Enquanto Lívia quiser, Juliana ainda irá amamentar

Mesmo com críticas, Juliana não deixa de amamentar. O importante é a saúde e o bem-estar da filha. A exemplo disso é que a criança dificilmente fica gripada, graças ao sistema imunológico que é fortalecido graças ao leite materno. Durante à noite, ela usa a mamadeira, mas às vezes ainda quer mamar no peito. Juliana conta que vem produzindo menos leite, pois aos poucos Lívia vai deixando de lado. “Eu vou continuar, pois mal nunca vai fazer. Não vou tirar, vou deixar que ela decida quando deve”, esclarece.

Eu vou continuar, pois mal nunca vai fazer. Não vou tirar, vou deixar que ela decida quando deve” JULIANA MAGNUS Guarda municipal

já olham com espanto e se tiver mais de um ano então, a mãe é uma “criminosa”. “Já vi gente comentando que achava horrível, bagaceiro, feio. Quando uma mãe resolve contradizer uma sociedade ela passa por várias dificuldades, tu é testada diariamente”, explica.

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BABÉLIA | Novembro de 2015

SAÚDE

INTERAÇÃO | Cibele e Benício durante a aula de Pilates Baby. “Logo na primeira aula notei que ele ficou bem calminho”, diz a mãe

Os benefícios do Pilates Baby Exercício fortalece a musculatura das mães e o laço afetivo com os filhos

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ogo depois do nascimento dos filhos a correria do dia a dia dificulta a prática de exercícios físicos por parte das mamães. Uma alternativa que vem tomando conta dos centros de treinamento é a prática do Pilates Baby. O exercício é praticado pela mãe e o bebê juntos e traz benefícios para ambos. Para o bebê, a sensação é de bem-estar e relaxamento, além disso, estimula a flexibilidade de forma natural e o desenvolvimento psicomotor é impulsionado. As mamães têm uma melhora postural e a recuperação dos músculos da pélvis e do abdômen, a flexibilidade aumenta, o tônus e a força muscular se recuperam, combate o estresse, sem contar a forma física que retorna mais rápido. Em Canoas, o Pilates Baby só é encontrado no Centro de Treinamento Unique. Daiani Monteiro, professora de pilates e fisioterapeuta, conta que a ideia de dar aula envolvendo mães e filhos surgiu depois do nascimento de seu filho. “Depois que ganhei o Bernardo procurei algum exercício que eu pudesse fazer com ele. Foi aí que encontrei o Pilates Baby, lá em Porto Alegre. Comecei a frequentar as aulas

e resolvi trazer a ideia para Canoas. os pequenos ainda têm paciência para Como sou fisioterapeuta e tenho curso ficar acompanhando as mães. A outra de pilates foi mais fácil, eu modifiquei turma é dos dez aos 24 meses, onde os alguns exercícios e adaptei para as mi- exercícios são mais ativos e eles podem nhas alunas. Aqui em Canoas foi uma participar mais. inovação e tem dado muito certo. Os Se engana quem pensa que as maexercícios são realizados em dupla. A mães não levam os “pequerruchos” para mãe utiliza o bebê como sobrecarga para treinar. “O Benício tinha um mês e fortalecer os músculos. A aula se torna meio, quando eu entrei no pilates. Eu divertida, é uma grande estava muito entediada brincadeira”, falou a fiem casa e fui convidada A interação sioterapeuta. para participar. Fiz uma entre mãe e Os alongamentos e aula e gostei. Vi que ele filho é uma os exercícios são obserficou bem calminho. Eu vados atentamente pela gosto e tenho o hábito das maiores professora. As aulas têm, de fazer atividade físivantagens do em média, 50 minutos de ca. Acho que se ele ficar Pilates Baby duração, com sequências com essas memórias vai de 5 ou 10 séries, intercaser muito bom para ele”, lando uns minutos para descanso. Os comentou Cibele Ludgren. exercícios para as mães são os mesmos, Além da dificuldade e do cansaço tanto para aquelas que fizeram parto que o próprio exercício causa, é difícil normal ou cesárea, mas depende da achar concentração depois que o bebê liberação do obstetra. Os bebês não cansa, principalmente a partir dos seis têm idade mínima para participar, mas meses quando eles perdem a paciência. precisam da autorização do pediatra – O jeito é levantar, balançar, brincar e, alguns liberam depois dos três meses, principalmente, conversar. A interação quando já fizeram as primeiras vaci- entre mãe e filho é uma das maiores nas. Geralmente, a turma tem bebês vantagens do Pilates Baby. do primeiro ao décimo mês, quando Outra mamãe que adorou os resulta-

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dos é a Pamela Garcia, 29 anos. “Fiquei muito admirada principalmente com o desenvolvimento do Théo. Ele já senta sozinho e foi com a ajuda dos exercícios específicos e dos alongamentos. Além de ter ajudado muito ele na hora de evacuar. Ele adora participar das aulas, já vai bem faceiro. Interage com os outros bebês e eu troco experiências com as outras mães. Está sendo ótimo para nós”, salienta Pamela. E quem disse que os bebês também não fazem exercícios? As mãos e as pernas ganham séries especiais. Termos como: abelhinha, pedalinho, abre e fecha, borboletinha são utilizados para chamar a atenção dos pequenos. Assim como Théo, a maioria dos bebês não têm nenhuma contraindicação para fazer os exercícios. O costume de praticar atividades físicas deve começar desde cedo e o Pilates Baby é uma ótima atividade, com benefícios para as mães e os pequenos que são incomparáveis. E é entre uma mamada e outra, choros e trocas de fraldas que as mamães conseguem se exercitar. Por Daniela Passos Foto de Luana Helena


BABÉLIA | 22 de Maio de 2015

TRÂNSITO

Canoas pode ter trem rebaixado Projeto prevê que execução da obra levará cinco anos, mas trará benefícios

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ocê já imaginou morar numa cidade dividida? Não, não é Berlim na Guerra Fria, repartida pelo muro que marcou o século XX. Essa é a situação de Canoas, que é separada pela BR-116. Não bastasse isso, sua parte central está ramificada em três devido à linha do Trensurb e da própria rodovia. Desde 2009 a prefeitura busca solucionar a questão. Encomendou junto à empresa Bourscheid Engenharia e Meio Ambiente um projeto, ao custo de R$ 5,9 milhões, para rebaixar os trilhos do trem e reintegrar a cidade. A ideia é redesenhar um trecho de dois quilômetros. As obras devem temos outras prioridades”, disse. ocorrer entre as ruas Araçá (próxiDe acordo com os idealizadores, mo ao Instituto Pró-Universidade a obra completa levará quase cinco Canoense - IPUC) até as imedia- anos para ser concluída. Segunções do Canoas do Násser Souza Shopping. Nessa Muhd, ex-gestor Nós havemos área, o trem será de Unidade de de voltar subterrâneo, e na Planejamento superfície, além para ver o muro da Secretaria Mude vias, serão nicipal de Transcriadas áreas de derrubado e a portes e Mobililazer. dade, o trânsito população unida” Para a esserá desviado por tudante de En- MARCO MAIA rotas alternativas genharia Am- Deputado Federal durante a execubiental, Tamara ção do projeto. O Kucmanski, 24 anos, é uma medida trem, que transporta aproximadapara chamar a atenção. “Acho que mente 200 mil pessoas por dia, não isso é manchete, é Ibope. Temos deverá ser afetado. outras prioridades. Eu adoraria tudo O motorista Ronaldo Guedes, o que está no projeto, mas realmente 37 anos, acredita que o projeto será

REBAIXAMENTO | Projeto quer reunificar centro de Canoas

bom, pois “vai gerar mais opções para se deslocar até o centro. Por mais que a obra leve tempo, acredito que isso não será problema pelos benefícios que teremos”, completou. Na época da assinatura do projeto, Marco Maia, deputado federal (PT-RS) e ex-presidente da Trensurb, salientou a grandiosidade da obra. “Nós havemos de voltar para ver o muro derrubado e a população de Canoas unida”, disse. O projeto está estimado em R$ 450 milhões, que ainda não foram liberados pelo governo federal. Por Saimon Bianchini Foto Reprodução/ SECOM

Novo ICMS não afetará tarifa de coletivos A Diretoria de Mobilidade Urbana de São Leopoldo assegura que não haverá novo ajuste na tarifa dos ônibus urbanos em função do aumento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, (ICMS), que entrará em vigo em 2016. Desde o dia 6 de setembro, o valor da tarifa do ônibus de São Leopoldo passou para R$ 3,10 para quem utiliza o cartão de Passe Antecipado e o Cartão de Vale Transporte. Para quem paga na hora o valor é de R$ 3,20. Os critérios de reajuste da tarifa são aspectos previstos legalmente no contrato de concessão de execução do serviço público de

transporte coletivo. “O aumento deve atender a todas as necessidades do sistema, como renovação de frota, salários, cobrir custos operacionais e retorno do investimento”, comenta Adriane Xavier Osório, presidente do Conselho Municipal de Tráfego (CMT). Segundo a empresa Coleo, responsável pelo Bilhete Eletrônico (BEM), cerca de 60% dos habitantes de São Leopoldo (aproximadamente 135.312 pessoas) possuem o cartão. Alguns oferecem descontos na passagem, como o Cartão Escolar, através do qual o usuário paga metade do bilhete, o Passe Livre de 60 até 64 anos e o de 65 anos ou mais, para usuários que

são isentos de cobrança. A empresa ainda tem o pacote de serviços para portadores de necessidades especiais, Vale Transporte e Passe Antecipado. Os usuários que não utilizam o benefício escolar estão indignados com o aumento da tarifa, pois acaba sendo uma despesa a mais no final do mês. “A passagem está tão cara que estou pensando em ir trabalhar de bicicleta, assim economizo o dinheiro da passagem, chego mais rápido no serviço e ainda pratico exercício físico”, diz Estela Nascimento, 30, vendedora. Por Eduardo Zanotti

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Após cinco meses, nada mudou O processo de impeachment que levou à cassação do então prefeito de Montenegro, Paulo Azeredo, completou em outubro cinco meses e até agora nenhuma medida foi tomada para a melhoria da segurança dos ciclistas da cidade. A ciclovia, construída em janeiro deste ano, custou aos cofres do município cerca de R$ 80 mil. Uma semana depois de sua construção ela foi desfeita, dividiu a opinião dos moradores da cidade e levou à cassação de Azeredo. Os comerciantes não gostaram das mudanças

provocadas pela ciclovia na Rua Capitão Cruz. Segundo Deise Maris, proprietária de loja de lingerie, enquanto a faixa preferencial dividia a rua, “o caos tomou conta da cidade”. Sem a ciclovia, as bicicletas se misturam com os carros, segundo Patryck Moraes, que pedala cerda de 3km para chegar ao trabalho “É um desafio todos os dias”. O secretário municipal de Viação e Serviços Urbanos, Carlos Einar de Mello, não quis se pronunciar sobre o assunto. Por Estevão Dornelles

Menos tempo nos ônibus de Canoas Após quase dois anos da implantação da Faixa Exclusiva para ônibus, a empresa Sogal, operadora das linhas municipais, registrou em média uma diminuição de seis minutos no tempo de percurso dos ônibus coletivos. “Chego no centro muito rápido agora, aprovei a mudança”, salientou a cozinheira Ana Santana. Nos próximos dias, o tempo de deslocamento dos coletivos pela cidade deve diminuir mais 15 minutos. Em função do ganho de tempo, os horários dos coletivos ganharam em frequência, com aumento de 5%, proporcionando mais opções ao usuários. Por Jaime Zanata

Transporte público gera discussões Usuários do transporte coletivo de Gravataí reclamam das condições oferecidas pela empresa detentora do serviço do município. Segundo eles, os preços são elevados e os motoristas não observam os limites de velocidade. A usuária Elsa Camargo, professora, 54 anos, utiliza o serviço todos os dias, da sua casa até a escola. “Muitas vezes os ônibus passam atrasados na parada, lotados demais”. O preço da passagem, hoje em R$ 3,35, que subiu recentemente, também

preocupa a educadora. O motorista Jucelino dos Santos, 53 anos, explicou que o preço da passagem é baseado nos cálculos da Metroplan, que orça a quilometragem percorrida nos trechos das viagens. “A empresa tem acordo de dez anos com a prefeitura, podendo ou não ser renovado“, explicou. Aumentar a frequência de ônibus nas linhas urbanas diminuiria as reclamações, opinaram usuários. Por Fernanda Camargo


BABÉLIA | Novembro de 2015

CULTURA

Alvorada tem produção de cinema “O Maníaco do Facebook“ entra em cartaz em janeiro no Cine Santander Cultural

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lvorada se prepara para entrar acabou acontecendo com sucesso. “Conmais uma vez nas telonas. A seguimos um público de 25 mil pessoas Alvoroço Filmes, produto- no lançamento do nosso primeiro longa ra independente da cidade, ‘Dá 1 Tempo!’, que foi exibido na praça lançará o quarto longa-metragem, in- municipal”. Hoje ele se orgulha dos resultados titulado “O Maníaco do Facebook”, que aborda de maneira criativa o vício por alcançados. Foi indicado para participar da conceituada redes sociais. A coméMostra de Tiradentes dia, que conta com a A ideia nasceu (MG), ganhou o prêparticipação do ator de uma junção mio de melhor curta Werner Schünemann, com o “Traz papel” no entrará em exibição do meu sonho de 7º Cine Favela (SP). em janeiro de 2016 no fazer cinema com a teve a participação Cine Santander Cultunecessidade de fazer Eespecial da atriz Luana ral, em Porto Alegre. Piovani no filme “Eu Há quem diga que algo cultural em odeio o Orkut”, que a cidade só é lembrada Alvorada” alcançou quase 3 mipela violência. Pensanlhões de visualizações do nisso, o roteirista EVANDRO BERLESI Roteirista e cineasta no Youtube. e cineasta Evandro Evandro acredita na importância da Berlesi, 38 anos, criou o projeto Alvoroço em 2008, que traz uma iniciativa de Alvoroço para o cenário cultural e artístico caráter social. “A ideia nasceu de uma de Alvorada, pois em todas produções são junção do meu sonho de fazer cinema usados atores, músicos, técnicos e cenácom a necessidade de fazer algo cultural rios locais. O teste de seleção de elenco é em Alvorada”, explica. Produzir filmes livre para qualquer pessoa, com ou sem totalmente “alvoradenses” poderia gerar experiência em atuação, e eles mesmos mídia positiva para o município, o que oferecem oficinas gratuitas de interpre-

Vale Cultura tem pouca adesão no RS Benefício passou a vigorar em 2013, o Vale Cultura ainda é desconhecido por alguns e lamentado por trabalhadores do setor privado no Rio Grande do Sul. O benefício é para empregados que recebem até 5 salários mínimos ao mês. Com um valor mensal de R$ 50,00, Pode ser gasto em produtos ou serviços culturais, como teatros, cinemas, shows, CDs, DVDs, livros dentre outros. O valor é cumulativo. Para o estudante William Evangelista, empregado no setor privado, é importante para compra de livros para os estudos, também comenta que o valor é deduzido do imposto de renda das empresas cadastradas no programa. Mas não parece ser o suficiente para chamar a atenção das empresas. “Não compreendo o fato em não estar em evidência este assunto.” diz Evangelista.

Para Marieta Medeiros, Gerente de Recursos Humanos de uma multinacional, onde Evangelista trabalha, relata que a empresa tem mais de 32 mil colaboradores sendo que pode ser deduzido somente 1% no imposto de renda da empresa. Porém, a multinacional já patrocina eventos esportivos e culturais, pois tem a contrapartida de expor as marcas para o público em shows e eventos que participa. “É uma relação de troca, porque a empresa ajuda com recurso financeiro e obtém ganho em publicidade de suas marcas” fala Marieta. A falta de divulgação por parte do Governo Federal gera o desconhecimento dos profissionais do setor privado. O benefício é responsável por trazer cultura para as pessoas e, assim, aumentar o nível de instrução desses profissionais.

AÇÃO | Equipe de filmagem em gravação na praça municipal

tação. Mesmo evidenciando que o projeto é aprovado pela população e só tem a contribuir com a cidade, eles não conseguem apoio da prefeitura desde 2013. Apesar das dificuldades, ele segue acreditando. “Faço filmes porque tenho a necessidade de transformar em imagem minhas histórias. Na minha opinião,

Projeto encanta usuários do trem Os usuários que utilizam o trem tiveram uma surpresa em agosto. Foram instaladas caixas customizadas com diversos livros nas estações: São Pedro, Canoas, Mathias Velho, Esteio, Sapucaia do Sul, São Leopoldo, Fenac e Novo Hamburgo. O projeto foi batizado de “Livros Livres”, no qual podem escolher um livro e levá-lo para casa. Quando termina a leitura, pode devolvê-lo para outro leitor. Segundo o gerente de Comunicação da Trensurb, Jânio Ayres, o projeto busca dar mais visibilidade à Biblioteca Livros sobre Trilhos e facilitar o acesso ao acervo. A inspiração veio de uma ação semelhante feita na rodoviária de Porto Alegre. “Somouse isso aos registros de alguns usuários que falavam nesse tema, via Central de Atendimento”, relata Jânio. Será monitorada a participação para quem sabe ampliar em todo o sistema. O estudante e morador de Esteio Alexi Gabriel Machado, 17 anos, que conheceu o projeto na estação Novo Hamburgo, relatou que parou pois chamou atenção a iniciativa da empresa. Ayres comenta que, além da responsabilidade com o transporte de pessoas, a Trensurb também tem como objetivo melhorar a sociedade. “O projeto atua exatamente na busca do bem-estar da comunidade”. Por Jéssica Mendes dos Santos

Por Rodrigo Furtado da Silva

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o que faz o público gostar de um filme são um bom roteiro e atores convincentes. O público só quer uma história boa. Esta é a minha filosofia como cineasta sem orçamento”, relata. Por Jéssica Kosczepa Foto Divulgação

Cosplayers sofrem abusos em eventos Para muitos ir a um evento de anime e cultura pop significa diversão e tirar fotos com cosplayers de seus personagens favoritos. O segundo maior evento do estado, o AnimeBuzz, da Ninja Produtora, tem público superior a 10 mil participantes, o que dificulta a segurança do local para lidar com os casos de abuso. “Eu estava caminhando, com meu cosplay de Daphne, personagem do desenho Scooby Doo, no evento deste ano. Quando um rapaz, e mais duas pessoas pediram para tirar uma foto comigo e comentaram do cosplay. Então o rapaz pediu que eu lhe desse um beijo no rosto. Eu neguei, porém ele explicou que queria pois gostava da personagem, então fiz. Ele me segurou e roubou um beijo na boca e saiu rindo. Fiquei surpresa, com repulsa e assustada por estar sozinha com pessoas que

julgavam isso normal”. Relata Débora Brito, 27 anos, de Viamão sobre o fato ocorrido no Evento AnimeBuzz, que ocorreu no Colégio da Brigada Militar de Porto Alegre. Leonardo Pereira, organizador da Ninja Produtora comenta “ A Ninja Produtora treina a equipe de segurança para ficarem atentos, mas nem sempre conseguimos identificar a pessoa que faz isso para tomar as providencias corretas. Quem sofrer esse tipo de abuso deve informar ao segurança mais próximo para impedirmos o abusador de voltar ao evento.” Mesmo com os abusos ocorridos, ela afirma que não desistirá do hobby e espera que haja uma conscientização quanto ao respeito merecido pelas cosplayers, que são consideradas as principais atrações dos eventos. Por Verônica Torres Luize


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CULTURA

Gravataí promove motivação ao folclore Projeto organizado por secretaria visa atender 64 escolas da rede municipal

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m busca de repassar a importância cultural do folclore às crianças, a Secretaria de Educação de Gravataí (SMED) desenvolve nas escolas da rede municipal o Projeto Lendas Brasileiras em Itinerância. A iniciativa, que conta com a parceria da Dana e do Clube Literário, envolveu cerca de 7 mil alunos. Coordenadora do projeto de bibliotecas escolares da SMED, Ester Polli explica que, para a realização do evento - que conta com apresentações de teatro, música e exposições de painéis com imagens das lendas folclóricas -, o órgão procura pela direção e supervisão de cada escola. Criado pela Fundação Municipal de Arte e Cultura, o projeto envolve a participação de diversos educandos. Ester conta que o projeto visitou 20 escolas da rede municipal e revela os objetivos a longo prazo. “Hoje contamos com 64 instituições municipais. Nós temos uma meta, que é contemplar todas elas e, a partir disso, estender as atividades voltadas ao teatro e à dança. Ainda há mais uns dois anos pela frente”. Para Adriana Santos, chefe da divisão de programas e projetos educacionais da SMED, o trabalho promove a interação e o incentivo à cultura e à escrita. “Trabalhamos vários fundamentos da criança neste projeto. Às vezes, você descobre talentos. Interagimos, ao mesmo tempo, edu-

Criado em abril, o projeto O que é um RP incentiva e traz pontos positivos da profissão de Relações Públicas. Para Erica Hiwatashi, coordenadora do curso na Unisinos, ser RP é saber pesquisar, planejar, pensar estrategicamente, ou seja, realizar soluções para que a comunicação de uma pessoa ou organização melhore. Em 2015, a profissão completou 101 anos. A maioria de profissionais e estudantes busca o reconhecimento por meio de

movimentos digitais, e o projeto “O que é um RP” é um deles. O projeto realizou durante o Unisinos Conecta, uma oficina chamada “Fazendo acontecer nas mídias sociais”. Em agosto, no portal do Publicitei, a postagem ficou entre os cinco posts mais lidos do mês. “Temos um blog como um dos maiores parceiros. É um conteúdo pontual e sempre acima do esperado”, enfatiza Alexandre Ribeiro. Por Morgana Freire

Cinco anos de TEDxUnisinos CONCENTRAÇÃO | Estudantes de escolas municipais aprendem sobre cultura e escrita

Trabalhamos vários fundamentos da criança neste projeto. Às vezes, você descobre talentos” ADRIANA SANTOS

Funcionária pública

cação e cultura”. Embora seja voltado exclusivamente às escolas públicas de Gravataí, a ação, segundo Ester, foi procurada por professores de outras cidades. Devido à demanda de logística, o projeto mantém a média de dois colégios por mês. “Estamos em trabalho bem árduo com as bibliotecárias. O objetivo é que elas atuem como articuladoras culturais, e que não sejam meras trocadoras de livros”, conclui Adriana. Por Leonardo Ozório Foto Divulgação

Opus oficializa normas para meia-entrada No fim de agosto, a Opus Promoções publicou nas redes sociais um aviso sobre as exigências para o benefício de meia-entrada a estudantes nos locais que gerencia. O desconto será concedido quando apresentada a Carteira de Identificação Estudantil emitida pela UNE, UBES, UEE ou UGES, além de uniões municipais de estudantes secundaristas. Antes da publicação, os estudantes tinham dúvidas sobre como proceder para comprovação. É o caso de Marcos Kronbauer, estudante de Nutrição na Unisinos. “Além da carteira da universidade, sempre busquei levar comprovante de matrícula”, conta.

Estudantes criam incentivo aos RPs

Ele compareceu em setembro no show do cantor Duca Leindecker, no Teatro Feevale. Para comprovação, apresentou documento provisório da UNE. A situação ocorre quando a solicitação da carteira e o pagamento já foram realizados, mas o prazo para emissão do documento não foi concluído. Entretanto, antes de a divulgação ter sido realizada, estudantes passaram por momentos de desentendimento. Marina Miorim e Lucas Guedes estiveram no Teatro Feevale no dia 22 de agosto para o show dos cantores Victor e Leo. Marina, Relações Públicas na Unisinos, e Guedes, Produção Fonográfica na Uni-

sinos, adquiriram ingressos de meia-entrada na bilheteria física, com a apresentação do atestado de matrícula. Segundo eles, no momento da compra, foram orientados a apresentar o mesmo documento no evento. “Chegamos no dia, nós e outras pessoas que compraram ingresso de estudante foram barradas porque não tinham o cartão”, comentou ela. A divulgação sobre a necessidade da carteira ocorreu algumas horas antes do evento iniciar. Eles explicaram que providenciarão o documento necessário, mas que isto não anula o fato passado. Por Rossana Pires

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Durante setembro e outubro, a Unisinos organizou a quinta edição do TEDxUnisinos. O tema da conferência foi Ideas for Everyday. Ao longo de cinco anos, o evento reuniu milhares de espectadores, mais de 70 palestrantes e diversas histórias com o objetivo de espalhar ideias. Os principais responsáveis pelo sucesso do evento são o diretor de graduação da Unisinos, Gustavo Borba, e a professora Gabriela Gonçalves, dos cursos de Comunicação da Unisinos. “A melhor parte é poder conectar a comunidade, trazer experiências renovadoras e unir as pessoas para que transformem suas localidades”, afirma Borba. Por Camila Prestes

Unisinos ajuda na escolha profissional Todos os anos, a Unisinos realiza o evento Conecta. Durante um dia, o campus São Leopoldo oferece oficinas e atividades relacionadas aos cursos de graduação. Para estudantes que escolhem a profissão, o evento ajuda a tirar dúvidas. Franciele de Souza Ulian, 17 anos, participou em setembro. Para ela, vivenciar um júri simulado foi suficiente para despertar o interesse pelo Direito. O evento foi um marco na vida de Angel Thomaz Camargo, 22 anos, aluna de Relações Públicas. Ela participou em

2009, quando conheceu a futura profissão. A organização é um grande desafio, segundo Karen Fernanda Stein Teixeira, integrante da equipe Conecta. A cada ano, o número de participantes aumenta, e cresce a responsabilidade de planeja-lo bem. Para a professora e coordenadora de eventos Taís Motta, o maior desafio é alinhar as necessidades com as expectativas. A experiência, é muito produtiva e o resultado é compensador. Por Micaela Magedanz


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CULTURA

De volta aos palcos

Lourival e Arturzinho mostram que talento não envelhece na peça “O Quarto Sinal”

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uem pensa que ao chegar aos 87 anos de idade é hora de pendurar as chuteiras, errou feio. O ator Lourival Pereira está apto para calçá-las e entrar em campo, ou melhor, em cena. O precursor do teatro hamburguense retornou aos palcos, sim, aos 87, dando show de interpretação e talento. E se nessa idade não é tarde, aos 72, menos ainda. É que Lourival divide a cena com outro talento do teatro da cidade: Arturzinho Oliveira. A dupla de veteranos dos palcos estreou na peça O Quarto Sinal em junho deste ano e, desde lá, fazem tremer os palcos por onde passam. O espetáculo foi escrito especialmente para eles por Fábio Ferraz e é dirigido por Elisa Machado. As 16 páginas de texto causaram um frio na barriga, mas não abateram a vontade, a determinação e o desejo de atuar – novamente – de Lourival e Arturzinho. ‘’Nos convencemos de que a história tem que continuar.’’ De forma simples e direta, as palavras de Lourival revelam emoção. Ele, que interpreta na peça um ator acompanhado de velhas lembranças, descobre que o teatro onde atuava será demolido e, então, vai para lá, para morrer com ele. O outro personagem, interpretado pelo colega e amigo Artur – tanto na peça, como na vida – tenta convencê-lo de que não adianta nada o sofrimento, tentando resgatá-lo e levá-lo de volta ao asilo. “Quando o olho de ambos brilha, sabemos que estamos na mesma energia”, argumenta. No encontro, os dois veteranos do teatro abordam conversas que retratam momentos que passaram naquele palco. Além das situações surpreendentes que a velhice e suas mudanças podem trazer. A amizade, a irmandade e a cumplicidade dos dois veteranos dos palcos são qualidades respeitadas pelo público, assim como a dupla valoriza muito seus espectadores e se emociona junto com eles. “Trabalhar com o Lourival é uma satisfação, pois temos o respaldo de uma vida inteira um com o outro, somos amigos, irmãos e, agora, colegas”, observa Artur. “Cada ensaio com ele é um prazer maior e uma certeza de que estamos fazendo o certo”, explica Lourival. Assistir ao ensaio dessa dupla é ter uma aula de teatro que nos ensina uma grande verdade: talento não envelhece.

ainda dá nervoso ao entrar em cena? tidos e ao mesmo tempo inquietantes, Ah, os dois concordam: dá, e muito. “Eu a velhice e suas mudanças. “Tínhamos sonhava em voltar ao palco, e a emo- essa ideia de mostrar problemas que ção é uma coisa indescritível, porque a pessoa de idade sofre, o que sente, eu achava que não ia dar certo, e, de e que muita gente não sabe”, adianta repente, vimos que deu certo”, conta Lourival. O autor da peça, Fábio FerLourival. “O Lourival é um presente. raz, conta que, para escrevê-la, teve Quando ele falou pela primeira vez so- consultoria especial da dupla. “Perbre essa ideia, há uns guntei a eles sobre a Eu sonhava cinco anos, estávamos vida, e também pensei com um problema e como estaria quando em voltar ao outro, safenas e tal”, tivesse com a idade palco, e a emoção diz Arturzinho. “Coideles”, conta o diretor sas de velho”, inter- é indescritível, não hamburguense. “Ser rompe Lourival. “E ele tem como explicar e convidado por eles, disse: antes de morrer meu nome ligado de repente vimos que ter nós temos que fazer ao deles nesse retorno um trabalho juntos”, deu certo” é gratificante”, diz o lembra Artur. “Aí surautor. Trabalhar com LOURIVAL PEREIRA giu o Fábio, que nós Ator a dupla também é siconhecíamos, e o Lounal de orgulho para a rival falou com ele e ele se prontificou editora Elisa Machado. “A cada ensaio a escrever. E no ano passado chegou eles me surpreendiam, e a cada enesse texto. Nos emocionamos quando saio, mais empolgada eu ficava. É uma lemos. Aliás, foram emoções a cada honra muito grande dirigir os dois.” ensaio”, conta Arturzinho. Nas palavras de Elisa, poder dirigir a peça foi uma das melhores coisas que Tema é inspirado na dupla aconteceram em sua vida. “Eu me via e ainda me vejo encantada com os dois Na peça, um veterano ator descobre atuando e com a história que O Quarto que o teatro onde atuava será demolido Sinal passa. Tínhamos que fazer um e vai até lá para morrer com ele. O outro espetáculo simples para ir a qualquer colega ator tenta “resgatá-lo” e, nesse lugar. Conseguimos buscar no simples encontro, abordam em diálogos diver- o incrível”, analisa.

A emoção de retornar O olhar de ansiedade e a alegria de voltar a interpretar é visível nos dois. São 16 páginas de texto bem guardadas na memória, após quase um ano de ensaios. E com tanto tempo de carreira,

CUMPLICIDADE | Lourival e Arturzinho fazem da concentração um momento emocionante e divertido para o público que os assiste. A irmandade dos amigos e também colegas de palco é vista nitidamente em cima dos palcos

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Família de artistas e o reconhecimento Se faz parte da genética ou não, ninguém sabe, mas um dos filhos de Lourival representa um dos grandes nomes do humor gaúcho. Cris Pereira faz grande sucesso não só pela região como pelo Brasil todo, com a interpretação de personagens conhecidos, como o Jorge, da borracharia. Quando O Quarto Sinal começou a tomar forma, a alegria de Cris foi indescritível. “Assim como o seu Lourival queria dividir o mesmo palco com Cris, o desejo se criava em seu filho também. Mas como a rotina é muito corrida e a cada dia ele está em uma cidade diferente, fica complicado a organização de um espetáculo, pois é necessário tempo e dedicação”, explica a diretora Elisa Machado. “Nos palcos vemos um homem experiente e talentoso. Nos bastidores um pai respeitado e admirado. Ele é meu colo, minha inspiração, meu mentor, meu aplauso, meu velho, meu pai”, ressalta Cris, emocionado, revelando todo o reconhecimento e admiração por Lourival, e o desejo, sempre presente, de dividir o mesmo palco com seu herói. Por Carolina Zeni Foto de Juarez Machado


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CULTURA

O mundo dos fandoms

Da subcultura para expressão cultural de uma geração transmidiática

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isto de fora, o comportamento pode parecer um pouco exagerado, mas não se engane, há muito mais para se ver e entender quando se trata do assunto fãs. A clássica imagem de milhares de adolescentes chorando de forma descontrolada já não abrange e, provavelmente, nunca abrangeu a realidade dos fandoms. A denominação refere-se a um grupo de pessoas que possuí em comum a empatia por certo assunto ou indivíduo. Geralmente no âmbito da música, cinema, séries, literatura, anime, jogos, entre outros. Deriva da junção de dois termos ingleses. A palavra fan, que significa fã, e a palavra kingdom, que significa reino. O conceito é antigo, surgiu no século XIX com um grande grupo de admiradores da série literária Sherlock Holmes. Com a popularização do rádio e da televisão, no século seguinte, artistas e bandas tornaram-se a nova admiração coletiva. Surgindo assim, na década de 1960, um dos fandoms mais duradouros e o primeiro a causar grande impacto social, a Beatlemania (fãs dos Beatles). Já nos anos 1970, foi a vez das produções cinematográficas do gênero de ficção científica, como Star Wars e Star Trek, reunirem uma grande parcela da população. Os fandoms saíram da subcultura e se tornaram um fenômeno que marca o consumo de produção cultural, tornando-se presente na juventude. Todavia, com o passar do tempo, a falta de conhecimento sobre o assunto gerou a criação de estereótipos que até hoje permanecem. Para desmistificar esse universo e explicar um pouco sobre o mundo dos fãs, entrevistei cinco jovens de diferentes fandoms. Andrei Santos, estudante de jornalismo, 24 anos, fã de Super-Heróis e Potterhead (fã da série literária Harry Potter). Marcelle Klein Draghetti, estudante, 15 anos, fã de bandas de punk/ rock e séries literárias. Eduarda Trott Spohn, estudante, 16 anos, Directioner (fã da banda One Direction) e Lovatic (fã da cantora Demi Lovato). Larissa Barbieri Tassinari, estudante de jornalismo, 23 anos, fã de k-pop (assunto no qual realizou seu Trabalho de Conclusão de Curso). E Eduarda Luiza Hanauer, estudante, 16 anos que participa de multifandoms (múltiplos fandoms). Os fãs e a sociedade Paixão e união são as palavras que definem o universo dos fandoms. A maioria dos seres humanos tende a se apaixonar por algo que os cativa. Podemos ver isso nas comunidades que se unem por um sentimento em comum. Como no fute-

UNIÃO | Para a lovatic e directioner Eduarda Spohn a internet e as relações virtuais são uma continuidade das relações off-line dos fandoms

bol, onde os torcedores apreciam algo por algo que está presente em nosso em conjunto e dedicam parte da vida ao dia-a-dia e que espelha os nossos gostos. “time do coração”. “Todos possuem um “A sociedade criou os seus ídolos, então ídolo, mesmo que inconscientemente”, deveria saber conviver com o fato de que complementa Eduarda Hanauer. eles serão admirados por muitas outras Na visão de Marcelle, uma grande pessoas”, complementa Hanauer. parcela da população ainda avalia os fãs de forma errônea. A generalização de A cultura virtual comportamento transfere incorretamente os erros de caráter de um indivíduo “Se não fosse a internet, os fandoms para características negativas de um não teriam a metade da dimensão que grande grupo. “Se tu és um fã ao extremo, têm na atualidade”, comentou Andrei, o errado não é o ser ao afirmar que o munTodos fã, mas sim o extredo digital tem grande mo”, diz Larissa. “A importância no crescipossuem um conduta do fã só é mento desses grupos. ídolo, mesmo que considerada extreAs redes sociais são as ma quando a inten- inconscientemente” protagonistas, pois se sidade ultrapassa o tornaram um local de EDUARDA HANAUER limite do saudável”, Estudante encontro, não apenas como elucida a psipelas possibilidades de cóloga Sheila Possa Silveira interação entre fãs, mas, também, pela Segundo a psicóloga, ter ídolos faz interação com os ídolos. parte do desenvolvimento normal do Cada uma possui uma função e uma sujeito. Na infância, possuímos nossa forma de interação diferenciada. As prifamília como um modelo de identifica- meiras redes de grande compartilhamento ção, mas, em certo momento da vida, foram os já extintos Orkut, com as comucomeça a busca por independência de nidades, e o MSN, com os grupos de conidentidade. Para esta construção o sujei- versação. Atualmente, o Facebook substitui to procura outros modelos com os quais de forma mais avançada a necessidade se identifique. Na maioria dos casos, de interação em grande grupo, e a disseesses modelos são elementos da pro- minação de informações dos fandoms. dução cultural transmitida pela mídia. No momento, o Twitter e o Tumblr são Nada mais natural do que a admiração as principais redes utilizadas pelos fan-

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doms. O Twitter possibilita proximidade com os ídolos e a criação das hashtags e fã-clubes. O Tumblr pode ser classificado como o meio onde os fãs possuem maior liberdade de expressão, pois ali eles podem compor os chamados fanarts, que são artes produzidas pelos próprios fãs, com base na cultura do fandom. Para Eduarda Spohn, o que torna o relacionamento dos fandoms nas redes sociais tão especial é o fato de todos se respeitarem e estarem unidos por um mesmo sentimento. “Saber que alguém gosta do mesmo que você é maravilhoso”, acrescenta Eduarda Spohn. É com o uso das redes de forma transmidiática, ou seja, transferindo e trocando informações em múltiplas plataformas de comunicação, que os fãs se relacionam de forma completa. Todas as produções se convergem, independentemente de seu formato. O impresso, o audiovisual e as produções sonoras estão presentes e vão além de suas plataformas de origem. As barreiras do mundo off-line desaparecem. As amizades virtuais firmam-se de forma tão real, quanto os laços da vida social presencial. Atribuindo ao mundo e às relações novos significados. É assim que a cultura dos fandoms se expande e influencia essa geração digital. Texto e foto de Amanda Victória Büneker


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CULTURA

O sangue pela arte

Movimento feminista inspira meninas a criarem pinturas com sangue menstrual

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ma nova geração do movimento feminista vem crescendo nos últimos tempos, e pode ser reconhecida através de diferentes manifestações artísticas e culturais veiculadas, principalmente, pela internet. Um tipo de manifestação muito inusitada surgiu através de um grupo de jovens que se destacou no ambiente virtual. São meninas que utilizam o sangue da própria menstruação para desenhar e criar obras artísticas, com referência à temática feminista. A ideia surgiu em fóruns e grupos de meninas, que ganharam força nos últimos anos. Amanda Barros, uma das artistas plásticas que experimentou a técnica do uso de sangue menstrual, diz que as discussões feministas inspiraram ela a se arriscar nesse tipo de pintura: “O feminismo me ajudou bastante a tomar a iniciativa de postar o desenho e de não ter vergonha de fazer isso e mostrar para o mundo, sem medo, essa forma diferente de produção”, afirma a jovem. Amanda conta que já havia utilizado diversos materiais diferentes para desenhar, como shoyu, café, esmalte, maquiagem, entre outros. Ela sempre gostou de usar técnicas diferentes, de arriscar outros estilos. Mas o sangue, para ela, tem um significado especial. “Eu acho que ele representa o feminino. Para ser feita, a pintura tem um tempo especial, para coletar o material. Ninguém que vai utilizar o mesmo sangue que o meu”, diz Amanda. “Além de ser único, é uma maneira forte de mostrar que não se deve ter vergonha da menstruação, desse ciclo natural”, salienta. Para ela, esse tipo de expressão ajuda as mulheres a

busque formas de se aproximar do seu corpo, e consigam se sentir mais à vontade com o que são, com a sua natureza.

aceitar melhor o seu próprio corpo, como algo mais natural. Em nossa cultura, os homens têm facilidade de aceitar e exaltar o corpo, enquanto as mulheres sempre tiveram maior dificuldade. Questões de tabu, culturais e comportamentais da sociedade definiram este perfil. Amanda e as outras meninas que defendem o movimento neofeminista desejam que a mulher

Coleta higiênica Você pode achar estranho, nojento, desnecessário. Mas o fato é que o processo é cuidadoso. A coleta do sangue

menstrual para realizar esse tipo de desenho é, no mínimo, curiosa. Para conseguir uma quantidade razoável de sangue para a realização da pintura, as meninas usam um coletor menstrual. Trata-se de um copo de silicone que é introduzido na vagina durante o período menstrual para reter o sangue. Ele é econômico e ecologicamente correto, e seu uso tem crescido entre as mulheres nos últimos anos. O ginecologista Leandro Netto, explica melhor o funcionamento dos coletores: “O copo menstrual tornou-se uma opção mais higiênica e segura em relação aos absorventes tradicionais, não ressecando a vagina e nem abafando, inibindo o crescimento de fungos e bactérias. Também se tornou uma alternativa para as mulheres alérgicas, além de ser de fácil higiene”, ressalta o ginecologista. Inspirações Diversas garotas se arriscaram nesse tipo de arte, mostrando que o corpo feminino pode deixar de ser um grande tabu. Amanda conta que a artista norte-americana Vanessa Tiegs, tem obras que serviram de inspiração. Vanessa criou a série de ilustrações Menstrala, com 88 pinturas usando o sangue menstrual como único material. Os desenhos, que misturam a delicadeza do traço da artista com a rusticidade do fato de serem pintadas com sangue, ganharam projeção mundial através da repercussão na internet, além de exposições em galerias de arte nos Estados Unidos. Os desenhos corajosos de Vanessa foram referenciados em diversas revistas acadêmicas internacionais e em filmes e documentários internacionais educacionais. Quem tiver a curiosidade de saber como ficam as obras com este material tão peculiar, pode conferir as pinturas com menstruação feitas por Vanessa Tiegs no site: vanessatiegs.com/creations/menstrala/

Além de ser único, é uma maneira forte de mostrar que não se deve ter vergonha da menstruação, desse ciclo natural”

MATERIAL INUSITADO | Amanda utiliza a menstruação para criar suas obras

AMANDA BARROS Ilustradora

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Por Franciele Arnold Imagem Reprodução


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ESPORTE

Conquista fora dos tatames

A vida dentro de um esporte pouco valorizado e as dificuldades de quem o pratica

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o Brasil, disciplina, respeito e educação são lemas do jiu-jitsu, uma arte marcial japonesa que tem como objetivo dominar oponentes. Entretanto, todos estão sendo dominados pela falta de auxílio aos praticantes. Atletas inseridos neste meio passam desapercebidos porque a modalidade não é muito conhecida, mas é muito praticada pelos guerreiros de kinomo, que não apenas enfrentam adversários dentro dos tatames, mas também confrontam com a falta de incentivo no esporte de prática milenar. É o caso de Vinicius Ferreira, 26 anos, bicampeão brasileiro pela Confederação Brasileira de Jui-jitsu (CBJJ) na categoria faixa branca. Iniciou a trajetória no judô em 1994, aos quatro anos. Em 2008, conheceu o jui-jitsu, passando a se dedicar exclusivamente a esse esporte, logo nos seus dois primeiros anos na nova categoria conquistou os títulos nacionais. Dificuldades no esporte O que um campeão brasileiro precisa para viver do esporte? Tudo! As conquistas, as derrotas, as lesões. No caso de Vinicius, o patrocínio é obtido pelo próprio esportista, por isso, ele nunca deixou de estudar. Além de ser faixa marrom em jiu-jitsu, o atleta tem formação técnica no Senai e em outras escolas. Assim, ele pode trabalhar durante o dia e treinar à noite. De 2011 a 2012, o atleta passou por lesões na clavícula e nos ligamentos. Sua volta às competições em alto nível foi a partir do ano passado e, em 2015, conquistou o bronze Mundial disputado em São Paulo. Para Vinicius, a sobrevivência dentro do esporte é algo impossível. A falta de interesse e a pouca divulgação dentro do cenário nacional acabam afastando qualquer tipo de patrocínio e, em alguns momentos, ele deixa de participar de competições importantes, como por exemplo a seletiva de Abu Dhabi a qual ele conseguiu a classificação após vencer torneio disputado no Rio de Janeiro. “Seria uma grande ajuda conquista receber ajuda com viagens, pagamento de inscrições de campeonato, e despesas com hospedagem no tempo que passo fora. Eu não tenho mais essa ambição de viver exclusivamente do esporte”, comentou Vinicius. Quando perguntado se gostaria de viver do jiu-jitsu ele foi categórico. “Todo esportista quando começa uma pratica e se dedica a ela, pensa em viver disso. Após muitas promessas, esse tipo de sonho acaba. Tem muita gente boa que não alcança nenhum ganho financeiro”, completou Vinicius. Com treinos frequentes e agora na

DEDICAÇÃO | O professor Marcio Mendonça (deitado) ensina a arte do jiu-jitsu de risco fizeram com que Marcio criasse situações, mesmo que provocado reagir nunca é o certo”, falou. um projeto social. Entre os alunos mensais, existem praJovens entre 13 e 18 anos, moradores de bairros de Novo Hamburgo, onde os ticantes entre quatro e 55 anos. Entre índices de criminalidade e o descaso das eles, Marcio reconhece alguns talentos na autoridades são facilmente identificados, equipe. No último mundial, dos 20 atletas são alvos do projeto. Eles entram na sua que viajaram com ele, três voltaram para vida por indicação. Pessoas vêm até ele casa com o título mais importante em para contar histórias de meninos e meni- suas categorias. Nestes últimos anos, os esportes de nas que estão passando por dificuldades ou entrando em um mundo sem volta. combates cresceram e de forma rápida a expansão em acade“Eles chegam aqui almias de bairros podem gumas vezes contrariaApós muitas ser vista com o númedos, mas é só começar promessas, esse ros de praticantes, que nesta rotina que logo levam a prática a sétipo de sonho acaba. entram no esporte muitas vezes a partir rio”, afirma Marcio. Tem muita gente de recomendações meE não é só isso. Até boa que não alcança dicas ajudando no conmesmo o professor, trole e diminuição do quando entrou para nenhum ganho peso visando a saúde karatê, achava que financeiro” e o bem estar, outros seria uma forma de desejam ter uma vida “bater” nos meninos VINICIUS FERREIRA Atleta de jiu-jitsu como atleta profissioque aprontavam com nal. ele. A partir daquele Promessas e talentos no judô, MMA, momento, não se criou um “lutador de rua”, mas o ensinamento do esporte que taekwondo, jui-jitsu, boxe e muay thai estão espalhados pelo Brasil, apenas estornou o que é hoje em dia. Por isso, ele tenta repassar o que perando uma oportunidade para transaprendeu para criar não só atletas, mas formar o país numa potência nas lutas também seres humanos respeitosos. no contexto mundial. “Todo mundo que está aqui dentro não Por Diego de Mello sai brigando por aí, porque o esporte Foto de Tamiris Dietrich traz consigo um autocontrole de todas as

faixa marrom, ele continua na luta diária desenvolvendo cada vez mais sua performance nos tatames, para continuar suas disputas não só por medalhas, mas também com a divulgação do esporte para que um dia seja mais forte e com maior apoio. De atleta a mestre Enquanto isso, na outra ponta da pirâmide, está Marcio Mendonça, 40 anos, professor e proprietário da academia Equipe A Jui-jitsu MMA, que teve a primeira sede em Novo Hamburgo. Hoje tem filiais em São Leopoldo, Sapucaia, Sapiranga, Campo Bom, Ivoti e Estância Velha. Com oito anos ele foi apresentado ao karatê, onde permaneceu até os 31. Neste período, fez parte da seleção brasileira onde colecionou títulos regionais e brasileiros. Quando completou 31 anos, conheceu o jiu-jitsu. “Me apaixonei assim que comecei a praticar e decidi que era isso que eu ia fazer pelo resto da minha vida”, disse Marcio. A dedicação e o amor são repassados e ele tenta propagar a importância do esporte na vida das pessoas. Questões como a inclusão social e a possibilidade de dar uma primeira oportunidade a crianças de comunidades em situação

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ESPORTES

Uma torcida sem time

A Ceramáquina sobrevive mesmo sem clube para torcer e aposta em jogos juvenis e infantis

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o olhar o bloco cinzento levemente pintado de verde e amarelo do estádio Antonio Vieira Ramos, Eduardo Noronha, líder da torcida Ceramáquina suspira: “Que tristeza de ver este estádio vazio”. O Vieirão, como o estádio do Cerâmica é popularmente chamado, recebeu jogos da equipe profissional até o final de 2014, quando o projeto fracassou na tentativa de obter o acesso à primeira divisão. Logo que o clube deixou de ter participações nas competições, dispensou todos os jogadores e o departamento de futebol. O impacto foi grande na torcida. “Foi uma tristeza geral. Tínhamos um planejamento, íamos a todos os jogos, inclusive fora de casa. No Vieirão, tentávamos fazer sempre uma festa, um descontrole, mas o público era pequeno, e o time foi caindo até não existir mais,” destaca Ana Paula Ellwanger, membro da torcida. A cidade de Gravataí, por mais que não apoiasse o time, já estava acostumada com os jogos aos domingos, e também se mostrou espantada com o fechamento. “Me pegou de surpresa, era sempre bom ter a tua cidade envolvida nas divisões da Federação Gaúcha. Inclusive fui a muitos jogos da série A, por mais cara

que fosse, ajudava o clube,” informou o nha, líder da torcida. torcedor Arthur de Jesus. A participação da torcida organizada Com a proximidade que existe entre nos jogos era bastante contestada. O clube a Região Metropolitana e a Capital do nem sempre estava disposto a assumir Estado, todos em Gravataí optam por algum tipo de responsabilidade com ela, dois times, Grêmio ou Inter. O assessor ou de até mesmo beneficiá-la; “A banda do clube à época, Nataniel Correa, relata sempre teve acesso livre ao clube. A prea dificuldades do Cerâmica em angariar sença, muitas vezes em jogos menores, era novos torcedores: “Sempre realizamos permitida em setores da arquibancada que promoções, das mais variadas, para atrair os demais torcedores não podiam estar. a torcida ao Vieirão. Utilizamos as redes Além disto, os membros tinham acesso sociais, carro de som, outdoors e outras aos atletas e dirigentes”, informa Correa. formas de divulgação para chamar a população aos jogos. Tínhamos constante Ações voluntárias da torcida dificuldade para isto, mas, em alguns jogos, obtivemos êxito,” explica Nataniel. Com o fim repentino do time, a torcida Mesmo assim, a torcida organizada ficou perdida por um tempo, não sabia se se fazia presente. Ela passou por algumas prosseguia com uma simples amizade ou metarmofoses antes de se acabava de vez. Foi Já que o se tomar a Ceramáquiaí que o líder Eduardo na. “Antes de eu assutomou a frente do proprofissional mir, a torcida tinha jeto. “Agora nós vamos não existe mais, passado por alguns aos jogos das categoagora nós vamos aos rias juvenis, juniores outros momentos. Mas não vingava. Não tinha jogos das categorias e infantil. Qualquer um pessoal de fé. Agora partida oficial que o juvenis, juniores e nós participamos com clube disputa com esinfantil” cerca de 20 pessoas. tas categorias, levamos É muito gratificante”, as barras, bandeirola e EDUARDO NORONHA revela Eduardo Noronossos instrumentos. Líder de torcida

Nos especializamos muito no sopro, fazemos um som legal”, destaca Noronha. O Cerâmica Atlético Clube foi fundado em 19 de abril de 1950 pelos funcionários da Cerâmica de Gravataí. Para presidente do clube Décio Becker, que sempre tentou manter o clube nas principais divisões do Rio Grande do Sul, não foi uma decisão fácil. “O clube foi amador durante a maior parte de sua história, tendo se tornado profissional em 2007 sob a minha gestão. Foi uma honra profissionalizar este clube, e colocar entre os grandes do nosso Estado. Fracassamos no objetivo de retornar e a decisão de fechar por motivos financeiros foi dura”, avalia o presidente. Em julho deste ano, durante um período de chuvas intensas em Gravataí, a torcida fez a primeira ação voluntária, eles arrecadaram mais de 500 peças entre agasalhos,160 quilos de alimentos, cobertores e um colchão. “Sempre tivemos a preocupação em ativar esse lado das ações sociais na torcida. Porém, somente neste ano conseguimos nos organizar nesta parte,e mostrar que a torcida ainda é forte e unida, mostrando sempre o orgulho de ser tricolor’’, revela Ana Paula. Texto e foto de Saulo Bartz

CERAMÁQUINA | Torcida unida por uma paixão

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ESPORTE

Futebol do interior pede socorro Clubes do interior têm cada vez menos chances de êxito no futebol

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o mundo todo, alguns clubes de futebol recebem investimentos altíssimos. Alguns sendo até mesmo propriedade particular de magnatas apaixonados pelo esporte. É nesse meio que clubes com menor expressão e com baixo apelo popular tentam sobreviver, mas nem todos conseguem manter um nível razoável. Raros exemplos, como o Santo André e o Paulista de Jundiaí, que conseguiram ser campeões da Copa do Brasil derrotando clubes tradicionais como Flamengo e Fluminense, respectivamente. Ou Paysandu e São Caetano que conseguiram chegar à final da Copa Libertadores da América. Hoje, a situação é diferente. A verba que a Federação Gaúcha de Futebol (FGF) repassa para os clubes gira em torno dos dez milhões de reais. Esse dinheiro é dividido em duas etapas. A primeira é mais simples. Metade desse valor é dividido em duas partes que são repassadas para Grêmio e Inter. Os outros cinco milhões são distribuídos entre as 14 equipes que completam o campeonato gaúcho. Brindes para sócios Segundo Milton Vaz, presidente do E.C. São José, o clube conta com um quadro social de seiscentos torcedores, número insignificante perto dos mais de 100 mil que Grêmio e Inter possuem, cada um. O clube, localizado em Porto Alegre, oferece aos sócios dois ingressos por mês, auxílio funerário, seguro de vida, sorteio de prêmios toda semana, além de sorteio de ingressos quando ocorrem shows no estádio Passo D’Areia, pertencente ao São José. O valor cobrado pela mensalidade é de R$90,00. No ano passado a receita do clube atingiu R$ 1,5 milhão. Mas, após o pagamento de todos os encargos, o déficit chegou a R$ 300 mil. Uma maneira que o clube encontrou de reduzir gastos sem afetar a qualidade e o funcionamento da equipe foi a implantação do gramado sintético, que dispensa o processo de manutenção. Outra reclamação do dirigente referese à distribuição do patrocínio do Banrisul. Enquanto a dupla Grenal recebe um valor de, aproximadamente, R$ 1 milhão pela disputa do estadual, o São José recebe somente R$ 20 mil. “Isso afeta diretamente na qualidade do campeonato, pois com um orçamento tão baixo não é possível formar uma equipe competitiva”, afirma Vaz. O presidente destaca que o primeiro objetivo do clube é não ser rebaixado no campeonato estadual, pois, assim, garante cota cheia da televisão. Pela disputa do campeonato gaúcho, cada clube recebe R$ 1 milhão da RBS TV. Após o alcance do primeiro objetivo, o clube visa buscar vaga na série D do Campeonato Brasileiro e na Copa do Brasil, as vagas em tais com-

POLÊMICA | Para diminuir as despesas, o São José colocou gramado sintético em seu estádio Mobarack defende a ideia de criar segue atrair a torcida exclusiva. O grande exemplo disso é o número de sócios, cerca uma cota proporcional entre os clubes, de 200 torcedores contribuem mensal- de acordo com as competições em que eles estão participando. Para mente para o funcionaele, os clubes que dispumento do clube. Porém, a Em 2016, o tam apenas o campeonato situação atual não colabocampeonato gaúcho e fecham as portas ra para que isso aconteça. no segundo semestre são Sem estádio próprio, a gaúcho contará prejudiciais ao futebol do equipe manda seus jogos com apenas interior, pois inflacionam no estádio Vierão, localiquatorze times. os salários dos jogadores, zado em Gravataí, e peralém de não contribuir tencente ao Cerâmica. O E, para 2017, o com o desenvolvimento que dificulta a fidelização planejamento é da comunidade local. A do torcedor. reduzir para falta de interesse em atrair Para 2016, o campeoo público para o campo é nato gaúcho contará com apenas doze um problema grave que apenas quatorze times e, para 2017, o planejamento é reduzir para ele detecta. Quando a dupla Grenal joga apenas doze. Isso, segundo Dorneles, é no interior do estado, ao invés de atrair o prejudicial para a projeção e formação público com ingressos mais acessíveis, o valor do ingresso é inflacionado e o serviço de atletas. prestado não é qualificado. Assim, se reforça a cultura de acompanhar os jogos pela Falta de televisão, já que o valor a ser pago pelas comprometimento entradas pode ser utilizado para contratar Para Renan Mobarack, gerente de fute- canais a cabo. Ter objetivos traçados, profissionalizar bol que atua no interior do estado, parte dos problemas do futebol é a falta de objetivida- as gestões e atrair mais público para os de dos dirigentes, que, na maioria das vezes, gramados, esses são alguns desafios para os não estão preparados profissionalmente dirigentes. Para nós, resta torcer e incentivar para gerir um clube. Segundo ele, é preciso melhorias nesse esporte tão apaixonante. estipular metas cabíveis à capacidade do Por Anderson Huber clube e dar tempo para que os objetivos Foto de Adriano de Carvalho sejam alcançados.

petições são distribuídas para o campeão do interior. A outra forma de inserção nas divisões nacionais é a Copa RS, que dá vaga na Copa do Brasil. Passado de glórias A situação também não é boa para o E.C. Cruzeiro, clube que nos anos quarenta foi o primeiro time gaúcho a fazer excursões pela Europa e Ásia, e o primeiro a conquistar títulos internacionais representando o estado. O “Leão da Montanha” – alcunha empregada ao clube – foi o pioneiro das categorias de base no Estado, começando as atividades de formação de jogadores em 1917. Segundo Francisco Dorneles, presidente do Cruzeiro, por conta das dívidas acumuladas ao longo dos anos o Clube vendeu sua sede e estádio. Com parte do dinheiro, comprou uma área de terra no pólo industrial de Cachoerinha, onde está sendo construído um estádio.“Foi o local onde encontramos as melhores condições de preço e também a receptividade da comunidade em geral, como os moradores da cidade e os governantes locais”, ressalta, ao destacar que faltam apenas obras de engenharia fina. Para finalizar esses serviços será preciso vender mais algumas áreas pertencentes ao clube. O presidente diz que o clube tem um forte potencial de crescimento, pois con-

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ESPORTE

Kung Way of Fu

Muito além de uma arte marcial, o Kung-Fu também é um estilo de vida

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ntre as décadas de 60 e 70, ganharam força filmes de ação onde guerreiros orientais encaravam, entre gritos, socos, chutes e voos acrobáticos, um número grandioso de oponentes. O vencedor, quase sempre sem nenhum dano físico ou sem demonstrar qualquer sinal de cansaço, retirava-se para meditação, como se nada tivesse acontecido. Algumas pessoas, assombradas com este desempenho e controle, se dirigiam a uma academia para tentar desvendar esta misteriosa técnica. No Ocidente, os anos 70 foram marcados pelo surgimento de produtos culturais relacionados à representação do KungFu: filmes e séries televisivas, histórias em quadrinhos, músicas e publicações populares. A presença desses produtos levou pesquisadores a identificarem a arte marcial chinesa como fenômeno transcultural, ou seja, que já deixou os limites de uma cultura nacional e foi apropriado (e realimentado) por fontes culturais diversas. Dois produtos marcaram essa influência da mídia: Bruce Lee reinventou as artes marciais graças aos seus métodos e performances originais – tanto que criou um estilo próprio de luta, o Jeet Kune Doo, que mistura diversas modalidades de artes marciais e filosofia oriental. O segundo grande produto foi a série televisiva intitulada “Kung-Fu”, exibida no Brasil em 1975. O professor Luciano Breyer Cabistani conheceu o Kung-Fu quando criança, através de filmes e de amigos. Aos 19 anos, começou a praticar e, hoje, aos 34 anos, leciona na Escola Marcial Chinesa Sério Queiróz. Além do condicionamento físico e da flexibilidade, o Kung-Fu melhorou sua paciência, concentração e disciplina. “A pessoa pode não utilizar as técnicas do kung-fu a vida inteira, mas aspectos como a atenção, respeito e a cordialidade permanecem para sempre”, ressalta Cabistani. Em Porto Alegre, o Centro Cultural Chinês é o ponto de encontro entre os gaúchos e a cultura chinesa. Além disso, também existe ali a Escola Marcial Chinesa, tendo como mestre Sério Queiróz, que possui mais de 40 anos de treinamento e dedicação, sendo 32 anos como instrutor. “A arte marcial trata de fluidez, de lidar com as coisas de forma harmônica e só através de um aspecto de entendimento pessoal é que se consegue contribuir para que o mundo se torne melhor, mais harmônico e mais pacífico”, diz Queiróz. Tudo é Kung-Fu. De maneira simplificada, o termo “Kung-Fu” é aplicado às artes marciais chinesas e significa “trabalho duro”. Mas, muito além disso, referese também a tudo que se faz através da habilidade desenvolvida até um nível de

perfeição, por meio de um trabalho longo, contexto como um “pai”. persistente, árduo, de entendimento, de O respeito também está presente na compreensão e de realização. saudação, chamada de Kinlai, feita entre O Kung-Fu é uma arte milenar, di- os alunos e mestres e dirigida também recionada ao bem-estar físico, mental ao altar central. A palma da mão aberta e espiritual. Normalmente, ocorre uma intercepta o punho cerrado. Isso está ideia errônea de que o Kung-Fu emprega relacionado ao Taoísmo, onde a mão o uso da violência. Pelo contrário, o treino fechada significa a força física, o princípio das artes marciais serve, precisamente, ativo da energia yang e o caráter animal; para dissipar tendências agressivas. enquanto a mão espalmada representa A Garra de Águia do Norte (Ying Zhao o domínio das faculdades internas, o Chuan) é o estilo ensinaprincípio passivo da do no Centro Cultural energia yin, o caráO Kung-Fu Chinês. Combinando ter espiritual do ser é uma arte velocidade e força com humano. graça e beleza, através milenar, direcionada Desde a antiguide movimentos fluídos ao bem-estar físico, dade, o Kung-Fu e circulares, permite a vem sofrendo variadefinição, tonificação e mental e espiritual.” ções, incorporando fortalecimento de todo SÉRGIO QUEIRÓZ influência das transo corpo. A utilização Mestre em Kung-Fu formações culturais de socos, golpes com a no decorrer tempo, palma da mão, chutes e rasteiras são o que resultou na existência de inúcaracterísticos do estilo, bem como saltos meros estilos. O Kung-Fu pode ser e acrobacias. considerado o “avô” do Jiu-jitsu, do Na escola, se aprende o respeito ao Judô moderno, do Aikidô e de várias tatame, ao próximo, aos instrutores e à formas de Karatê praticadas no mundo. sociedade em que se vive. Todos os estu- Mas apesar dessas diversas mudanças, dantes têm responsabilidade no cuidado os aspectos fundamentais do Kung-Fu com a academia, agindo como se fosse mantiveram-se constantes. sua casa. Afinal, na tradição chinesa, os Tente comparar os movimentos de membros de uma escola são denominados Karatê com os movimentos de Kung-Fu. “irmãos” e “irmãs”. O mestre é visto neste As diferenças são notórias: enquanto o

karateca move-se deliberadamente, utilizando força, cada movimento é único e distinto do outro. Por outro lado, o Kung-Fu tem movimentos suaves, nos quais a fluidez permite uma sequência lógica e harmoniosa. Os primeiros relatos sobre a arte marcial chinesa remontam da dinastia Xia, que data de 2100 A.C.. Sendo a China composta de 56 etnias diferentes, historiadores acreditam que várias técnicas marciais foram criadas para auxiliá-las na sua sobrevivência. Os confrontos entre os diversos grupos obrigavam os guerreiros a se aprimorarem cada vez mais com intensos treinamentos e a idealização de várias técnicas diferentes para que, assim, pudessem surpreender seus adversários. Estes constantes confrontos, que se arrastaram durante toda a história da China, forçaram as artes marciais chinesas a evoluírem e se tornarem altamente eficientes. Para esta evolução, também contribuíram outros fatores, como a incorporação da filosofia e da medicina às técnicas marciais, valorizando, assim, a conduta moral de seus praticantes e a preservação da saúde – tornando o Kung-Fu não apenas uma técnica de luta, mas um caminho de vida. Texto e foto de Dyessica Abadi

COMECE JÁ | Para quem deseja saber um pouco mais sobre o Kung-Fu, a Escola Marcial Chinesa Sério Queiróz oferece aulas introdutórias gratuitas

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São Leopoldo | Novembro de 2015

BABELIA

Edição 24

ENSAIO FOTOGRÁFICO

Moenda da Canção

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Moenda da Canção é um festival musical que ocorre anualmente em Santo Antônio da Patrulha. É um festival com espaço para a liberdade de expressão e para o ecletismo, aberto para todos os ritmos e melodias. Em sua 29ª edição da Moenda e 5ª Moenda Instrumental, realizadas nos dias 14, 15 e 16 de agosto último, as fotos que seguem, do fotógrafo Maicon Santos, graduando em Fotografia, na Unisinos, retratam o dia da abertura do evento. Neste dia (01/08), a abertura contou com Marcelo Caminha e banda, logo após teve a apresentação das músicas concorrentes e o encerramento, com Cassio Farias e Chimarruts. Texto e fotos de Maicon Santos


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