Babélia 26

Page 1

UNISINOS | NOVEMBRO 2016 | SÃO LEOPOLDO/RS | EDIÇÃO 26 Gustavo Bauer

Moradores do “Adão Miroti” lutam pela regularização Em Canela, a Prefeitura contesta loteamento existente desde a década de 1980 e preocupa comunidade com mais de 240 pessoas Página 3

Praça de todos

Associação de moradores de Alvorada organiza projetos de revitalização, feiras e grupos em redes sociais para promover o uso de espaços públicos pela comunidade local. Página 4

FEMINISTAS

Grupo combate a discriminação no mercado cervejeiro e a publicidade machista. Critica a invisibilidade do consumo feminino de cerveja e criou uma marca para mulheres. Página 5

LUANA FARIAS

ESPORTE

O futebol americano, prática pouco difundida no país, ganha adeptos. Em Gravataí, seis amigos resolveram abrir clube, o Spartans, que selecionou atletas para integrarem o time. Página 16

ENSAIO

Contra-capa


PÁGINA 2

IMAGEM

O propósito da elegância e elitização da arte da dança contrasta com a essência do seu praticar: varrer a poeira da alma humana para longe do cotidiano, inovar, transbordar sentimento e dedicar-se ao extremo, criando marcas visíveis e ocultas. (Texto e foto de Daniel Fraga)

Universidade do Vale do Rio dos Sinos São Leopoldo e Porto Alegre/RS Linha Direta: E-mail: Reitor: Vice-reitor: Pró-reitor Acadêmico: Diretor de Graduação: Gerente de Bacharelados: Coord. Curso de Jornalismo:

(51) 3591 1122 unisinos@unisinos.br Marcelo Aquino José Ivo Folmann Pedro Gilberto Gomes Gustavo Borba Vinicius Souza Edelberto Behs

Jornal produzido semestralmente pelos alunos do Curso de Jornalismo da Unisinos - São Leopoldo/RS Textos: alunos das disciplinas de Jornalismo Impresso I e II, Redação Jornalística I e II e Redação para Relações Públicas II. Orientação: professores Edelberto Behs, Everton Cardoso e Pedro Osório. Projeto gráfico: alunos Bárbara Bengua, Mainara Torchetto e Milena Riboli, da Turma 2016/1 da disciplina de Planejamento Gráfico. Orientação: professor Everton Cardoso. Diagramação: Agência Experimental de Comunicação (Agexcom). Diagramação: Mariana Matté. Supervisão: Marcelo Garcia.

2

Editorial Movimentos para quebrar marasmos

A

cidade gaúcha de Montenegro, junto com outros 237 municípios brasileiros, dá um belo exemplo de engajamento na busca de soluções locais para o diagnóstico de problemas globais. Em 2000, a Organização das Nações Unidas (ONU), com o apoio de 191 nações, firmou oito metas prioritárias definidas como Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Algumas dessas metas propõem acabar com a fome e a miséria, oferecer educação básica de qualidade para todos, reduzir a mortalidade infantil, combater doenças, garantir qualidade de vida, respeitar o meio ambiente, e promover a igualdade entre os sexos. Essas metas tinham prazo: chegar ao fim de 2015 com resultados significativos. Por uma gama de motivos, sem esquecer que o fim último do capitalismo está voltado ao imperativo categórico do lucro e driblar a ganância humana é um jogo eterno, o propósito dos ODMs, embora haja registros de avanços em muitos

desses itens, não foi alcançado. Então, a batalha continua e Montenegro não ficou de braços cruzados. No município produtor de cítricos, artistas, artesãos e estudantes pintaram laranjas ao longo de 14 Km de vias públicas, colocando no interior das frutas um lembrete dos objetivos do milênio, para que nenhum deles caia no esquecimento das autoridades e da população. É impressionante que em pleno século XXI mulheres tenham que combater machismos em quase todos os quadrantes da atividade econômica, da publicidade a salários. Trata-se de uma das metas do milênio que ainda está longe de atingir o seu propósito. É revoltante que depois de uma série de ganhos o Brasil se veja diante da Proposta de Emenda à Constituição (PEC 241) que cobra a conta dos menos favorecidos da pirâmide social para assegurar privilégios de rentistas e garantir, assim, o pagamento dos juros da dívida pública. É assombroso que a nação aceite esse quadro desolador na maior resignação. Uma luz, porém, aparece no fim do túnel: são estudantes secundaristas, sujeitos do movimento de ocupação das escolas que manifestam inconformidade e exemplos como o de Montenegro. Que sirvam de encorajamento para a fervura geral da santa indignação. UNISINOS | NOVEMBRO 2016 | SÃO LEOPOLDO


Habitação

Loteamento causa impasse em Canela Com irregularidades há quatro décadas, loteamento motiva desentendimento entre a Prefeitura e mais de 100 famílias que residem no local FOTOS Gustavo Bauer

Gustavo Bauer

M

orando em uma área verde que pertence à Prefeitura de Canela, cerca de 240 pessoas temem perder suas residências. Localizado no bairro Distrito Industrial, o loteamento popularmente conhecido como “Adão Miroti” é motivo de polêmica. Os moradores garantem ter adquirido lotes, pedindo assim a regularização de suas moradias. Já o Município quer desocupar o espaço público, sob a justificativa de que aquela área é invadida. Os moradores reconhecem estar em uma área que não é deles, mas rechaçam serem chamados de invasores. Eles declaram abertamente o desejo da regularização das suas moradias, para assim também terem direito a energia elétrica própria e saneamento básico. Hoje um único poço artesiano atende todas as famílias. Já a energia é fornecida de forma irregular por uma indústria moveleira vizinha à área, que cobra uma taxa de R$ 30,00 de cada família. Até o momento a indústria não sofreu penalizações pela ação. De acordo com a representante dos moradores, Rose Kirch, 42 anos, a situação acalmou após a suspensão do último mandado de reintegração, expedido em junho pela Prefeitura de Canela. O motivo da suspensão foi a falta de um plano de habitação para a realocação das famílias, que em caso de ficarem sem residências, não teriam para onde ir. “Em reunião com o Prefeito Cléo Port, ele nos prometeu que iria buscar por meios legais a regularização. Porém, não tivemos mais nenhuma informação depois disso”, declarou Rose. Aposentado como funcionário público municipal, Adão de Oliveira, vulgo “Adão Miroti”, 68 anos, diz ter sido colocado como vigilante da área. A colocação teria sido a mando do ex-prefeito Günther Schlieper (PMDB), em sua primeira gestão (1976-1979). O funcionário ficou como responsável pelo local, e ao passar dos anos iniciou a comercializar terrenos a valores acessíveis, atraindo assim cada vez mais moradores. Miroti foi processado pela prefeitura algumas vezes, mas, segundo ele, foi inocentado. A justificativa para isso é que em nenhum dos casos a venda foi documentada, ocorrendo somente verbalmente. Já os moradores nunca o processaram, entendendo que o aposentado não agiu de má fé em nenhum dos casos.

MUNICÍPIO alega que área é invadida A Prefeitura de Canela se manifestou sobre o assunto através de sua Assessoria de Comunicação. Segundo ela, é uma obrigação do Município defender o patrimônio público, e neste caso trata-se de uma invasão de um imóvel com a posterior comercialização ilegal de lotes. Com

Cerca de 240 pessoas vivem no loteamento, que não possui rede de saneamento nem energia elétrica regular

“O Município diz ser uma área pública para explicar uma desocupação desorganizada” Márcio Castro Alves Advogado essa justificativa, a Prefeitura entende que não há possibilidade legal para a regularização das moradias. Outro agravante destacado é que esta é uma Área de Preservação Permanente (APP), constituindo assim um crime ambiental. “O Município continuará trabalhando para que seja preservada a dignidade humana e a qualidade de vida dos cidadãos canelenses, interceptando e bloqueando o crescimento de invasões ilegais. No momento, aguardamos o posicionamento do Ministério Público e do Poder Judiciário para as tomadas de providências, visto que o Município já fez o que estava ao seu alcance”, declarou o prefeito Cléo Port (PP). Trabalhando na defesa dos moradores, o advogado Márcio Castro Alves diz ter buscado informações sobre o passado da área. Segundo ele, até 1979 o local pertencia a uma imobiliária de nome Saiqui Ltda., que teria feito uma parceria com a Prefeitura de Canela para criar

UNISINOS | NOVEMBRO 2016 | SÃO LEOPOLDO

Adão ajudou a viabilizar a ocupação

ali uma extensão do distrito industrial. Dessa forma, ele entende que, por ter sido uma área privada, cabem ali vários casos de usucapião, pois desde aquele tempo a área já era ocupada. “Acredito que a imobiliária queria vender os lotes para as futuras indústrias que se instalariam lá. No entanto, décadas passaram e a prefeitura nada investiu no local. Ela pode simplesmente ter registrado algumas áreas anos depois e aí se disse dona, provavelmente para alegar que a área era pública, não podendo ser usucapida”, opinou o advogado.

A lei municipal que dita o tema é a de nº 520, do dia 27 de dezembro de 1979, sancionada pelo então prefeito Günther Schlieper. Outra dúvida levantada pelo advogado é se a área realmente seria de preservação, como diz o prefeito. Quanto às possibilidades futuras, Castro Alves acredita em mais ações de reintegração de posse vindas da prefeitura. “Poderá vir uma nova ação, mas estamos preparados para isso. Ou o prefeito senta para discutir e se inteirar sobre o assunto, ou então a prefeitura não vai parar de atacar”, completou. 3


CIDADANIA

ASSOCIAÇÃO DE MORADORES REVITALIZA SETE PRAÇAS Projetos como o Amicão, o Conselheiro de Quadra e eventos para angariar fundo são realizados por movimento comunitário de Alvorada

IVAN JÚNIOR

E

m Alvorada, sete praças foram revitalizadas com recursos de um grupo de moradores e o projeto Conselheiro de Quadra, que identifica um morador por quadra para ser o delegado daquela área, também ocorre. O grupo tem atuado há um ano e meio com base na organização do bairro através do movimento comunitário, como explica o presidente da Associação de Moradores do Algarve/Porto Verde (AMAPV), Ricardo Dias. Outra campanha desenvolvida é o Amicão, que realiza a adoção de animais e doação de rações para distribuição aos protetores cadastrados no projeto. O grupo teve início após uma passeata pela paz realizada em

março de 2015 e que contou com a participação de cerca de 4 mil pessoas, conforme relata Ricardo Dias. Na ocasião, os moradores começaram a discutir a criação da associação. “Reunimos alguns grupos, dialogamos, montamos o estatuto baseado todo na legalidade de uma outra associação que tinha antigamente e foi criando corpo”, elucida.

os vizinhos, conhecendo a história de cada um. Isso é o que faz valer a pena”, justifica. Moradora da região há mais

de 20 anos, Rosângela Vargas, que não participa das ações desenvolvidas pelo grupo, frisa a importância de integrar o grupo Divulgação

PRÓXIMOS PASSOS

PARTE DE UM COLETIVO Grupos na rede social whatsapp segmentados por praças auxiliam na comunicação e organização das atividades da AMAPV, que conta com cerca de 1200 colaboradores. Um dos participantes do grupo é Wagner Guites. “O que motiva mesmo é essa parte de comunidade, de estar junto, estar interagindo, conhecendo

do bairro. “A associação é uma maneira de as pessoas se unirem e criarem alguma coisa pela comunidade em que vivem.” Para Rosângela, o movimento tem a mesma força que a política, porém tem mais credibilidade.

Festa junina que reuniu cerca de 2 mil pessoas em junho

Tornar o bairro digital é um dos projetos do grupo de moradores por meio de uma parceria com a Prefeitura, que possui o programa internet social cuja função é fornecer wi-fi em locais públicos. Segundo Ricardo Dias, a ideia é fornecer a internet em praças da região. Outra ação da associação é o Dog Parque, que será um espaço reservado em praças para os cães dos moradores. Neste ano, ocorreu uma festa junina para arrecadação de fundos para tornar o projeto possível.

Grupo de jovens aprendizes faz projeto destinado a cães de rua

Iniciativa busca a inclusão de crianças especiais na fotografia

Projeto voluntário organiza brinquedoteca no Hospital de Osório

Em Porto Alegre, uma turma de jovens aprendizes começa um projeto para doação de ração para cães de moradores de rua. Segundo o jovem aprendiz da empresa Eixo Sul Emerson Coutinho, a turma se sensibilizou ao se deparar com o sacrifício que os moradores de rua fazem para manter a saúde de seus animais. Assim, a pequena turma foi orientada para que o projeto, intitulado Fora da Casinha, ganhasse vida. A professora Marcela Cristina da Rocha, proponente da causa, conta ainda que houve discussão sobre o foco do projeto, mas os alunos conseguiram planejar com muita competência. Após a arrecadação de dinheiro e a compra do alimento, o grupo partiu para a distribuição. “O maior problema que encontramos foi, infelizmente, o deslocamento que os moradores de rua fazem todo dia. Não encontramos muitos dos quais já tínhamos visto pedindo ajuda para seus cães”, afirma o jovem aprendiz e líder do projeto, Matheus Fontoura. Não são só cães de moradores de rua que ganham doação. Parte dos 40 quilos de ração que foram arrecadados foi doada para uma casa de passagem, na cidade de Alvorada, chamada Adote. A turma de jovens aprendizes conseguiu providenciar, com sua doação, cerca de dois dias de ração para os cães. “A maior dificuldade da protetora é não saber se vai ter ração para eles no dia seguinte, e o frequente abandono de animais doentes em frente à sua casa”, relata a estudante e voluntária Ândrea de Assis.

Com o objetivo de incluir socialmente crianças especiais, a fotógrafa Tamara Wagner criou o projeto Borboletas. Há dois anos o projeto tem o intuito de aproximar famílias e proporcionar diversão aos filhos por meio de ensaios fotográficos, para que essas vidas sejam vistas com outros olhos pela sociedade. Formada em publicidade e propaganda, Tamara atua como fotógrafa há cinco anos, mas foi em 2015 que o ARQUIVO PESSOAL projeto tomou rumo. “A iniciativa é importante porque, na medida em que eu ocupo os parques para realizar os ensaios, eu mostro que as crianças podem estar ali também”, afirma. A doméstica Cristiane dos Santos Moura, que é mãe da Giovana, de nove anos, acompanha o trabalho desde o início. Para ela, a iniciaTamara tiva se tornou importante para as famílias, pela amizade e união que criaram por meio dos encontros. “Tanto nós mães quanto as crianças, a maior felicidade é ver a inclusão acontecer e vê-los sendo tratados como crianças normais, amadas e respeitadas”, relata. Por meio do Adote uma borboletinha, as crianças são presenteadas com um ensaio fotográfico, apadrinhadas por voluntários. A crediarista Débora Goulart Rangel é mãe da Lavínia, de cinco anos, que foi apadrinhada. “Isso nos dá alegria, força e nos tira o peso quando ficamos envolvidos só com a doença, hospital e terapias. Mesmo que nossos filhos tenham passado por situações difíceis, conseguimos vê-los felizes”, ressalta.

Campanha comunitária Desapegar para divertir cria brinquedoteca do Hospital São Vicente de Paulo, em Osório. A mobilização arrecadou brinquedos e livros para a ala pediátrica da entidade. A ação faz parte do Projeto Voluntariado, que envolve alunos e professores do IFRS – Campus Osório. A coordenadora da atividade, Cátia Eli Gemelli, destaca o engajamento dos estudantes como um fator importante para o trabalho. “Essa é a diferença: a comunidade do campus responde. Toda vez que a gente faz uma campanha, recebe muito mais do que espera”, relata. Para o hospital, o voluntariado recolheu brinquedos específicos – laváveis e sem peças pequenas – para atender os pacientes e seus familiares. A auxiliar de produção Enilda Souza Gonçalves acompanhou a neta, que estava internada devido a uma infecção urinária. “Ela adorou os livros de colorir. Quis brincar desde que chegou aqui”, relata. Atualmente, o projeto conta com 180 estudantes que se revezam nas atividades. O bolsista Renan Machado Germano acredita que as ações voluntárias ajudam na carreira acadêmica e na vida. “Quando você se inscreve para participar, você se constrói de forma pessoal também”, reflete ele. O grupo ainda desenvolve ações no lar de idosos Cantinho do Céu, na aldeia indígena Sol Nascente e em escolas do município. Todas as parcerias são desenvolvidas a longo prazo, já que o objetivo é a construção de vínculos sólidos com a comunidade local.

Tainah Gil Camargo

Nínive Girardi

Marcelo Janssen Neri da Silva

4

UNISINOS | NOVEMBRO 2016 | SÃO LEOPOLDO


FEMINISMO

Lugar de mulher é onde ela quiser A luta de mulheres pela aceitação no mercado cervejeiro encabeçada pelo Grupo ELA, criado para chamar a atenção sobre o machismo no setor Juliane Kerschner

A

luta de mulheres para aceitação no mercado cervejeiro Cerveja é coisa de homem? Se depender do projeto do grupo ELA, não é e nunca será. O projeto é formado por 65 mulheres que atuam no mercado de cervejas artesanais do país e em maio de 2016 se uniram para chamar a atenção sobre o machismo no setor. A criação do grupo serviu para enaltecer o trabalho da mulher no meio e denunciar ações machistas por parte da indústria cervejeira e da sociedade em geral. Motivadas pela forma negativa como a mulher é tratada na indústria, querem que a relação entre a cerveja e a mulher comece a ser vista de outra forma. O mercado cervejeiro é conhecido por ser extremamente machista, a começar pela publicidade. A maioria dos anúncios é feito em bares com apenas homens bebendo e belas mulheres servindo-lhes a cerveja. Elas nunca aparecem apreciando a bebida, nunca aproveitando um happy hour com cerveja ao lado das amigas. Como se mulher não pudesse gostar de cerveja. O grupo ELA surgiu após um rótulo da cerveja Urbana, localizada em São Paulo, associar a imagem de uma mulher com um corpo curvilíneo ao termo gordelícia , termo pejorativo que se refere a mulheres fora do padrão corporal imposto pela sociedade. A partir disso, as participantes do grupo resolveram criar uma cerveja com o rótulo produzido exclusivo e inteiramente por mulheres para mulheres. As 65 mulheres elaboraram o nome, o rótulo e o mais importante, a cerveja, produzida na Cervejaria Dádiva, de Várzea Paulista (SP). Além de o projeto abrir portas no mercado de trabalho cervejeiro para as mulheres e combater o machismo, o lucro da produção será encaminhado a entidades que acolhem mulheres vítimas de violência, assim gerando mais espaço para a discussão deste problema social.

“...2016 e vaga só para sexo masculino, isto é lamentável, para não dizer péssimo” Giulia Bettio Estudante de Alimentos na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Apaixonada por cerveja, Giulia começou a explorar este amor no blog “Harmonizou?”, criado e comandado por ela desde 2015. No blog, a estudante promove o encontro ideal entra gastronomia e cerveja, a partir da análise sensorial e o estudo dos gostos, sabores e experiências gastronômicas. “O blog nasceu da ideia de organizar jantares uma vez por mês, orientados e com harmonização de cervejas, além de sempre disponibilizar dicas

de harmonização e receitas fáceis e práticas de reproduzir”, explica Giulia. No início deste ano, a jovem produziu sua primeira cerveja, a Sunshine Weiss, para consumo próprio e dos amigos, planejando futuramente trabalhar em um lançamento para o mercado. Atualmente Giulia é estagiária de produção na Cervejaria Maniba, de Novo Hamburgo “O estágio permitiu que eu saísse do ambiente caseiro para o industrial e tem me proporcionado um aprendizado novo a cada dia”, informa. A estudante trabalha com outras mulheres e sente que o mercado cervejeiro está se modificando, apesar de ainda o considerar machista “Preconceito mesmo, propriamente dito, não sofri ainda. O que acontece quase sempre é aquele preconceito velado, sabe? Aquela olhadinha de, mas como assim é uma mulher que veio entregar o barril? Certo que ela nem deve saber o que está fazendo”, declara a estudante. Segunda Giulia uma cervejaria da Região Metropolitana anunciou no Facebook que estavam procurando um funcionário. “Até aí tudo bem, requisitos e tal, mas parei os olhos em ‘sexo masculino’. Quer dizer, estamos em

2016 e vaga só para sexo masculino, isto é lamentável, para não dizer péssimo”. Após o anúncio, o grupo ELA cobrou um posicionamento da empresa que excluiu o post e informou que a vaga era destinada ao sexo masculino devido ao trabalho intenso que é realizado com barris de 30 e 50 litros. Natália Matt é outra jovem que tem buscado espaço no mercado da cerveja artesanal gaúcha. A estudante de 22 anos, de Sapucaia do Sul, cursa engenharia química no campus de Porto Alegre da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC) e teve seu primeiro contato com o universo cervejeiro em 2015. “Estou concluindo o curso e procurando estágio. Encontrei oportunidade na Cervejaria PortoAlegrense, situada na capital como o próprio nome sugere. Atualmente já não trabalho mais no local, mas tenho interesse de continuar se possível nesse mercado”, declara Natália. “Acho que para alguns ainda seja um mercado visto como masculino, entretanto, na cervejaria onde trabalhei sempre fui tratada com respeito, independente do sexo”, acrescenta. Além disso, a estudante afirma que em nenhum momento ACERVO / ELA sentiu preconceito ao desempenhar suas funções na cervejaria “Apesar de nunca ter sofrido preconceito, no início do estágio eu era a única mulher a integrar a equipe, depois de um tempo foi contratada uma segunda mulher”, informa Natália. Apesar da participação feminina no mercado de trabalho brasileiro ter evoluído nos últimos anos, as mulheres estão longe de conhecer a igualdade, segundo um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em 2014. De acordo com a pesquisa, a atuação das mulheres no mercado de trabalho formal cresceu nos últimos dez anos, passando de 50,1% para 54,6%. Porém os homens estão 20 pontos percentuais à frente, com 75,7%. Afinal, como dizem as integrantes do Grupo ELA, lugar de mulher é onde ela quiser.

busca por espaço no mercado cervejeiro Seguindo os passos do grupo ELA, uma jovem gaúcha está em busca de um espaço no mercado cervejeiro. Giulia Bettio, 21 anos, graduanda do curso de Tecnologia UNISINOS | NOVEMBRO 2016 | SÃO LEOPOLDO

Cerveja produzida pelo Grupo ELA, com rótulo confeccionado inteiramente por mulheres para mulheres 5


EDUCAÇÃO

Gincana Escolar incentiva alunos de Portão a estudar O aspecto lúdico da educação é uma peça fundamental para se obter bons resultados no processo de ensino de maneira mais prazerosa

Mariana Machado Lourenço

A

Escola Técnica de Portão criou uma gincana anual entre turmas de primeiro, segundo e terceiro ano do Ensino Médio, com o intuito de trazer um momento de divertimento para os alunos, com atividades pedagógicas, charadas e jogos como futebol, vôlei, cabo de guerra, entre diferentes equipes. O colégio adotou esse modo diferente para incentivar os alunos a estudar e participar de atividades escolares, podendo eles conhecer melhor seus professores e até mesmo interagir mais com a turma. “Este momento que a ETEP nos proporciona faz com que os professores e alunos fiquem mais próximos, pois todos participam.

É tão divertido que dá vontade de sempre estar na escola!”, animase Julia Taube, aluna do 2º ano. Como a escola tem um grande número de alunos, é possível que uma turma compita com a outra. Algumas atividades da gincana são propostas em um telão no intervalo das aulas, os alunos então recebem um tempo para dividirem as tarefas em¬ sala de aula e cada um fica responsável por trazer a charada resolvida no prazo determinado. Já os jogos entre equipes ocorrem em um horário extra, fora do horário de aula.

ção, a vontade de ganhar. Fora que estar na escola com amigos e professores à noite é algo diferente, totalmente fora da rotina”. Para que os alunos se interessem pelas atividades, algumas disciplinas dão pontos extras por participação na gincana. O

brincar, o jogo, e a atividade lúdica quando planejados e organizados com a intenção clara de exercício pedagógico, motivam o aluno a aprender interagindo com os outros. O lúdico está em todas as atividades que despertam o prazer. Para a professora

Giane Scarpatto, a forma lúdica de ensinar contribui muito para os alunos, auxiliando não só na aprendizagem, mas também no desenvolvimento social e pessoal dos jovens. Facilita, assim, o processo de comunicação, expressão e construção do pensamento. Ao final da gincana, como Sabrina Lopes bonificação, a equipe vencedora ganha dinheiro para fazer algum passeio de final de ano ou comemorar a vitória da maneira que desejar.

Incentivo aos estudos Atividade da Gincana no Centro de Atividades Lothar Kern

Sabrina Lopes, aluna do 1º ano do Ensino Médio da escola, conta: “As atividades que acontecem em horário diferente são as que mais gostamos, pela competi-

Paradesporto é parte da educação para crianças especiais em Canoas

Centro pedagógico ensina educação ambiental em Novo Hamburgo

Universitários que estagiam em escolas públicas auxiliando alunos com deficiências se deparam com obstáculos na educação e no aprendizado de crianças. A estagiária Nicole Suarez, estudante de Psicologia, trabalha na escola Clodovir Moog. Segundo ela, há muitas dificuldades no auxílio às crianças, pois não pode ocorrer sempre. Isso dificulta bastante seu trabalho. “Muitas vezes eu não consigo suprir o que as crianças precisam, e obrigatoriamente tem que ser feito dentro de sala de aula. O aluno perde o ensino para aprender outra matéria”, diz. A estudante Natalia, de 16 anos, também da escola situada em São Leopoldo que é auxiliada por Nicole, concorda e diz que deveria ter aulas especialmente para estudantes com deficiência. Na opinião dela, há dificuldades de aprendizado com o resto dos seus colegas e, de outra maneira, ela poderia se concentrar mais. Nicole ainda afirma que uma hora especialmente com Natalia iria ensinar mais que quatro horas dentro da sala de aula com o resto dos colegas. Já a supervisora da escola Otilia Rieth, Clárice Taube, afirma que o trabalho dos estagiários é importante para a inclusão dos alunos, mas que em alguns casos infelizmente as crianças não se sentem parte da turma. Ela complementa que o ensino das crianças portadoras de deficiência é dificultado quando o aluno não se sente acolhido e não consegue seguir o ritmo das aulas.

Para a dona de casa Vanessa da Silva, mãe do aluno de 14 anos Bruno da Silva, a natação melhora a parte motora dos alunos. “Ajuda a evitar o isolamento deles, principalmente para o meu filho, que sofre com atraso mental. Isso é notado na família por todos”, diz. O projeto de natação para portadores de necessidades especiais tem como objetivo ajudar na inclusão social de cada um deles em Canoas. Um grupo de alunos participa da atividade no centro esportivo da universidade La Salle, localizada no centro do município. O projeto acontece há cerca de dois meses na fundação La Salle em Canoas, de acordo com o professor de Educação Física Vinicius Schoeneberg. “Nada é mais natural do que inserir a natação no âmbito de práticas esportivas desta população”, conta. O ponto de vista das mães dos alunos também é muito importante, pois de certa forma são elas que vivem diariamente cuidando de seus filhos portadores de necessidades. É o que atesta a dona de casa Dulce Flores de Lima, mãe do aluno de 19 anos Douglas de Lima. “A natação ajuda meu filho, que sofre com artrite de Colins e com atraso mental, a fazer novas amizades pelo simples fato de ele ser isolado”, diz. O professor Vinicius termina dizendo que o projeto pretende preencher uma lacuna existente em nossa sociedade: o paradesporto. “É muito interessante proporcionar este espaço para o desenvolvimento de novas habilidades destes jovens”, avalia.

Um Relógio do Corpo Humano, um jardim aromático com ervas, hortas e uma extensa área verde. Estes são alguns dos recursos que o Centro de Educação Ambiental Ernest Sarllet (CEAES) oferece aos estudantes da rede de ensino de Novo Hamburgo. Localizado no bairro rural Lomba Grande, o CEAES também conta com o Arroio Wallahai, que cruza o terreno do local, e ainda os animais criados e a rica fauna e flora nativas. De acordo com a Coordenadora do espaço pedagógico, Fabiane Melo, a ideia inicial é fazer com que o estudante vivencie, junto ao meio natural, experiências que a zona urbana não permite. “A criança aprende a importância de amar e conhecer os benefícios da convivência com a natureza, como cultivar uma vida saudável”, diz. Conforme a professora do CEAES Gladimar Venter, o que move esse trabalho é a vontade. Segundo ela, o resultado da educação ambiental nos alunos é uma mudança significativa, que pode levar algum tempo. Gladimar conta que, nas comunidades, já presenciou várias mudanças de ações por parte dos estudantes. Para a pedagoga Denise Dias, que visitou o espaço durante seu estágio, o CEAES oportuniza experiências diferenciadas, uma vez que muitas crianças moram em apartamentos, por exemplo, e não têm a chance de vivenciar o meio ambiente. O Centro atende todas as escolas das redes municipal, estadual e particular do município. Além disso, também recebe outros grupos que tenham interesse em conhecer o lugar.

André Martins

Lucas Lanzoni

6

Marcelo Terraza

Universitários buscam auxiliar alunos portadores de deficiência

Guilherme Pech UNISINOS | NOVEMBRO 2016 | SÃO LEOPOLDO


PRISIONEIRAS

crianDO FILHOS dentro do cárcere No Brasil, 48 unidades prisionais possuem berçário ou centro de referência materno infantil, sendo 33 em unidades femininas e oito em mistas Thanise Mello

Thanise Mello

I

naugurada em 2011, a Penitenciária Feminina de Guaíba comporta a Unidade Materno Infantil (UMI), setor onde recém-nascidos e crianças que ainda são amamentadas permanecem no cárcere com as mães. Especialistas alertam que é melhor a criança perder a liberdade do que a mãe, principalmente no primeiro ano de vida. “Eu tô feliz! É a primeira vez que ele vai ver uma árvore, um cachorro. Foram seis meses sem ver o mundo”, diz Ana, mãe de Kaleb. Mas reflete: “Se bem que o mundo não é tão bom assim”. Ana e Kaleb aguardam a progressão para o regime semiaberto. Presa aos 18 anos, imatura demais para entender o sistema, ela preferiu fugir das penitenciárias por onde passou. Já cumpriu 16 anos dos 31 anos da pena a que foi condenada. Hoje, presa em Guaíba com o primeiro filho homem, acredita que liberdade é poder voltar no tempo e iniciar uma vida nova ao lado das outras duas filhas, em Tramandaí, no litoral. Para a assistente social Kátia Leite, ser mãe dentro de penitenciária é ser mãe em dobro. Grande parte da população carcerária feminina não cometeu crimes violentos, mas acaba penalizada com a mesma rigidez de quem cometeu crimes hediondos. As apenadas, em sua maioria, serviram de “mulas” para traficantes ou entraram no tráfico de drogas para complementar a renda familiar. Pesquisas do Ministério da Justiça atestam que, de 2000 a 2014, houve um aumento de 567% no número de presas. Superou o crescimento geral da população carcerária que foi de 119% no período. No Estado, o índice cresceu 41%, cinco vezes mais do que o dos homens. O Brasil tem a quinta maior população feminina, atrás de Estados Unidos, China, Rússia e Tailândia.

começando a vida na prisão Quando grávidas, as presas são conduzidas para a Penitenciária Feminina Madre Pelletier, em Porto Alegre, devido à situação precária dos órgãos de saúde em Guaíba, que conta apenas com um serviço de pronto atendimento. Os primeiros 40 dias da criança transcorrem na Capital. Se não houver problemas de saúde, são encaminhadas a Guaíba. Completados os seis meses de idade das crianças, mães presidiárias podem voltar ao Madre Pelletier. A partir dessa fase de vida, a criança passa por uma ressocialização com a família da apenada, podendo passar finais de semana fora da penitenciária. É quando ela passa a conhecer o mundo fora da estrutura do presídio. A ideia, segundo a psicóloga da Penitenciária de Guaíba, Paula Carvalho, é que durante a saída

Em média, 30% das presas brasileiras aguardam condenação. No Rio Grande do Sul, o índice chega aos 34% sejam descobertos novos espaços, onde recebe tiva com a filha de três meses. O pai da criança estímulos para interagir socialmente. aguarda sentença em regime fechado. Na UMI, presas mães contam com coziApós a separação da mãe e da criannha, refeitório, lavanderia, banheiro, pequeno ça, as presas voltam à rotina no cárcere. As pátio e sala com TV. Os alojamentos abrigam crianças, depois de completarem um ano até 12 vagas. “É como se fosse a casa da gen- no presídio, saem em definitivo, e as visitas te, só que, em vez de portas, tem grades”, deixam de ser frequentes. Antes, tempo e diz Elisângela, que aguarda a audiência para gastos com viagens não eram empecilhos para decidir a data de saída da filha Larissa. ver as presas. Agora, são dificuldades. Os filhos das detentas têm direito a conVice-diretora e coordenadora da UMI sultas pediátricas uma desde 2015, Rosa vez na semana e outra Maria Silveira da Sila cada 15 dias, junto va conta que todas da assistência social as crianças afastadas e psicológica da peda unidade tiveram nitenciária. Contam as guardas repassadas com orientações e às famílias, nenhuma prevenções vinculafoi para adoção. Rosa das ao Primeira InMaria conta, ainda, fância Melhor(PIM), que as festas de um programa que atende ano se parecem com famílias em situação festas de despedidas. Ana de risco e vulnerabiO momento demarca Mãe de Kaleb lidade social, fortaleo limite de convivêncendo competências cia maternal no cárpara educar e cuidar das crianças. cere, lembrado com carinho pelas mães. “Dá pra ver que ela sente falta da família. Seja na memória, seja em fotografias. Ela já saiu duas vezes. Na primeira, pra colocar A Penitenciária Feminina de Guaíba abriga brinco; na segunda, pra passear”, observa Ane. 327 apenadas. É o maior número de detentas A detenta saiu com o marido e foi presa. Os desde a inauguração. Para a psicóloga Paula, dois foram pegos pela Polícia Federal com dro- se o artigo 318 do Código de Processo Penal gas no carro. Mãe de mais uma menina de dois fosse respeitado, esse número diminuiria. Pela anos, Ane já completa 50 dias de prisão preven- norma, em casos de prisão preventiva, gestantes

UNISINOS | NOVEMBRO 2016 | SÃO LEOPOLDO

“É a primeira vez que ele vai ver uma árvore, um cachorro. Foram seis meses sem ver o mundo”

e mães com filhos até os 12 anos de idade ou menor de 16 com deficiência, poderiam cumprir prisão domiciliar. As suspeitas devem utilizar tornozeleiras eletrônicas, evitando assim a destruição dos vínculos familiares e diminuindo os custos do Estado.

Retrato das penitenciárias Pouco se sabe sobre as prisões femininas no Brasil. Somente em 2015 foi lançado o sistema de informações e estatísticas do Sistema Penitenciário Brasileiro, o Infopen Mulheres, reunindo dados sobre os estabelecimentos penais e a população prisional dos últimos 15 anos. O machismo parece ter reflexos no sistema prisional. Geralmente os homens são libertados antes das mulheres, e a mulher se culpa duas vezes mais: por ter cometido um crime e por ter abandonado os filhos, observa Paula. Segundo especialistas, detentas sofrem com a falta de tratamentos específicos de saúde e higiene pessoal. “Homens e mulheres ganham um rolo de papel higiênico por mês. Elas deveriam ganhar dois”, exemplifica Rosa Maria. Para as servidoras, outro problema que precisa ser revisto é a localização de alguns presídios, construídos longe de centros urbanos e comerciais. A ida para Guaíba é uma espécie de castigo para as detentas, pois pode causar o abandono da família pelos custos do deslocamento, afirma Kátia. 7


SAÚDE

FÚRIA DA NATUREZA GERA ESTADO DE EMERGÊNCIA Apesar da destruição e dos danos materiais, postos de Tupandi não alteraram a rotina de atendimento

Lianna Kelly

C

om as chuvas de outubro na região do Vale do Caí, a elevação dos cinco metros acima do leito normal do arroio São Salvador gerou estragos na cidade de Tupandi (a 84 Km da capital).O maior prejuízo registrado ocorreu na rua Doutor Seitenfus. No local, nas proximidades da Academia Vitaly, a parte antiga da ponte, duplicada recentemente, foi arrancada pela correnteza do arroio. O prefeito Hélio Müller encaminhou à Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil decreto de Situação de Emergência no município. Mesmo com os estragos causados pelas cheias, a procura por socorro médico e medicamentos no posto de saúde não aumentou. Os bairros mais atingidos foram a

várzea, onde cinco famílias ficaram desalojadas, e o centro. No interior da cidade foram registrados vários problemas de deslizamentos, com destaque para o Morro Zimmer, onde o acesso ficou interditado por algumas horas. Outro deslizamento, de proporções menores, ocorreu na estrada que dá acesso ao município de Salvador do Sul. A agente administrativa da Secretaria da Saúde, Natália Schuster, informou que em média são realizados 500 atendimentos por semana nos postos municipais. O fluxo permaneceu o mesmo durante a enchente, que inundou partes da cidade nos dias 17 e 18 de outubro. Nos casos de enchentes, doenças como hepatites e leptospirose podem se propagar e atingir a população. “Jamais as pessoas devem caminhar em regiões alagadas sem estar protegidas por roupas im-

permeáveis e botas de borracha. Além de doenças, há o risco de cortes por vidro ou galhos submersos”, destacou Natália. O que mais preocupa as autoridades sanitárias é o lixo, que represa as águas, transformando-se em viveiros para insetos nocivos. Segundo a

agente de zoonoses Aurea Matte, a vigilância sanitária está atenta, orientando os munícipes e monitorando a aglomeração de entulhos. “Como no município é raro ter enchentes, não temos um trabalho específico em relação a esse assunto. As visitas e monitoramento que normalmente DIVULGAÇÃO

Ponte da rua Doutor Seitenfus foi arrancada pela correnteza

fazemos estão focados nos mosquitos e no lixo”, explicou. Gabriele Werle, moradora de Tupandi, comentou que durante o tempo que reside no município não havia presenciado um fenômeno como este. Destacou que a cidade oferece uma boa estrutura em relação à saúde, mas alertou que em certos bairros a quantidade de lixo espalhado ainda é preocupante. O volume de chuva nesses dias foi o mais elevado no município de Tupandi desde 1986. Dados divulgados pelo Jornal Primeira Hora, de Bom Princípio, cidade vizinha, em pouco mais de 24 horas a precipitação pluviométrica passou dos 215 milímetros, quando a média mensal é de 179 milímetros. De acordo com o relatório preliminar da Defesa Civil de Tupandi, os danos causados pelas chuvas podem chegar a R$ 300 mil aos cofres públicos.

Teleagendamentos vão acabar com filas do SUS em bairros de Gravataí

Programa MedCasa, de Esteio, agrada idosos, deficientes e cuidadores

Município de Campo Bom perde ICMS e prefeitura faz cortes e elimina programas

As filas nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Gravataí, tradicional problema enfrentado pelos usuários da rede pública de saúde, estão com os dias contados. Desde 12 de setembro, o município colocou em prática, de maneira gradual, o teleagendamento de consultas médicas nos postos dos bairros Cohab A, Morada do Vale I, São Geraldo, São Judas Tadeu e Vila Branca. Nos próximos meses, outros seis bairros, que ainda serão escolhidos pela Secretaria Municipal de Saúde, receberão o serviço. Neste primeiro momento, as consultas deverão ser marcadas apenas pelo telefone 0800.500.2022, entre as 8h e 17h. A retirada de fichas nos postos de saúde, que ocorria durante a madrugada, foi reduzida nos bairros onde o teleagendamento já está funcionando. A população gostou da novidade. “Era um grande problema ter que pegar ficha no frio, ficar na frente do posto sem nenhum tipo de segurança. Acho que demorou, mas veio em boa hora”, avaliou a aposentada Isaura de Matos, 72 anos. A extinção da retirada das fichas nas UBS ainda não acabou porque o teleagendamento, neste momento de implantação, só realiza a marcação de consultas para atendimento em clínica geral. As demais especialidades e serviços seguem com os encaminhamentos presenciais. “Começamos apenas com agendas por telefone para os clínicos gerais até estabilizarmos todas as condições técnicas para a ampliação desses serviços”, afirmou o secretário municipal de Saúde de Gravataí, Laone Pinedo.

O programa Medicamento em Casa (MedCasa), de Esteio, entrega medicamentos nas residências de pessoas com dificuldades motoras e de idade avançada. Em menos de dez meses de funcionamento, 300 pacientes foram cadastrados nessa iniciativa da prefeitura local, que já realizou 1.029 entregas no município. Com o intuito de facilitar a vida dos moradores, o carro do MedCasa rodou, nesses dez meses, 824 Km por ruas de Esteio. Dona Jovina, residente do bairro Bom Jesus e uma das contempladas do programa, exaltou o MedCasa. “O programa vem ajudando muito as pessoas que não têm condições de ir até a farmácia municipal. Estou muito feliz com esse avanço da prefeitura, disse. Mesmo com menos de um ano de funcionamento, o MedCasa recebeu prêmio na categoria Assistência Farmacêutica, na Mostra Estadual de Experiências Exitosas no SUS dos municípios do Rio Grande do Sul em 2016. O funcionário da Secretaria Municipal de Saúde, Patrick Machado, ressaltou o sucesso que o programa vem fazendo em Esteio. “Muitas pessoas reclamavam de não conseguir ir até a Farmácia Municipal para retirar os medicamentos, e o MedCasa veio para facilitar a vida delas”, disse. Têm direito a usufruir do MedCasa pessoas acamadas permanentemente, usuários de oxigenoterapia, idosos com mais de 80 anos, deficientes físicos e psíquicos. Para realizar o cadastro, a pessoa deve ir até uma Unidade Básica de Saúde, preencher o formulário do programa, solicitar um atestado de profissional da área da saúde que comprove a necessidade da entrega de medicação em casa. A documentação deve ser encaminhada à Farmácia Básica Municipal.

Desde o dia 10 de outubro campo-bonenses usuários de programas oferecidos pela estratégia da família estão sem atendimento devido à decisão da prefeitura de realizar cortes para enxugar gastos. Trabalhadores, doentes acamados em suas residências e pessoas que necessitem um especialista ou exames em outras cidades agora estão à espera de autorização, sem a certeza de que serão atendidos. O prefeito Faisal Karan, em reportagem divulgada pelo jornal A Gazeta de Campo Bom no dia 8 de outubro, esclareceu que os cortes são necessários para que obras em andamento e outros projetos sejam entregues antes do fim da gestão. A queda de 27% do ICMS e a diminuição de repasses federais ao município, aliado aos atrasos do governo estadual nas verbas para a saúde, pediram ajustes financeiros. A enfermeira especialista em saúde da família, Renata Gardini, trabalha na Unidade de saúde do bairro Ipiranga/Aurora e relata que os serviços já existiam há pelo menos dez anos. No bairro há 3,7 mil moradores e 1,5 mil pessoas foram afetadas com as medidas restritivas da prefeitura. As equipes de profissionais passaram a fazer visitas domiciliares a pé aos casos muito graves, e pediram transporte para lugares de difícil acesso. Os profissionais da saúde sofrerão redução de salários devido à menor jornada de trabalho. “Apesar das dificuldades as pessoas se adaptarão” disse Renata.

WILLIAN ALVES DOS SANTOS

Karen M. Souza

Thais Soprana

8

UNISINOS | NOVEMBRO 2016 | SÃO LEOPOLDO


CIÊNCIA

POR ONDE COMEÇA UM PESQUISADOR? Iniciação Científica é a primeira etapa para o desenvolvimento da ciência no Brasil, processo indispensável para o país retomar crescimento Victor Thiesen

E

spaço reservado dentro dos Programas de Pós-Graduação das universidades para formar novos pesquisadores, a Iniciação Científica (IC) contribui para a evolução do Brasil. O apoio é vital, pois nosso país está em um processo de desindustrialização precoce: paralelo aos choques econômicos nos anos 80 e abertura comercial nos 90, o afastamento de políticas desenvolvimentistas nos faz recuar às ênfases no setor primário neste início de século XXI. Os pilares do progresso estão desarticulados. No entanto, prevalecem incentivos ao desenvolvimento científico. Em uma universidade privada como a Unisinos, são concedidas bolsas de iniciação científica pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Também são oferecidas bolsas de incentivo pela instituição de ensino e pela Fundação de Amparo à Pesquisa relativa a cada Estado. O benefício das bolsas varia entre R$200,00 e R$400,00 e o aluno disponibiliza 20 horas por semana. Outra possibilidade é se voluntariar por 12 horas semanais. O espaço aproxima o estudante de métodos de investigação, da linguagem científica e de publicações. A atividade é supervisionada por um professor orien-

tador. É obrigatória a participação nos eventos de apresentação de trabalho, como Mostras e Salões de IC anuais. Esse tipo de evento serve para compartilhamento de conhecimento por parte dos bolsistas. O aluno faz parte do grupo de pesquisa do seu orientador, e colabora executando tarefas que dão corpo à pesquisa. Coordenador do PPG de Comunicação da Unisinos, o professor Gustavo Fischer ressalta a liberdade dos docentes para desenvolverem com os alunos dinâmicas que acharem mais produtivas. “Tem professores que gostam que esse bolsista vá ao campo, para rua, coletar dados; para biblioteca fazer levantamento bibliográfico; tem professores que gostam que os alunos estejam perto dele, trabalhando no gabinete, fazendo desk research [levantamento de material], estando um pouco mais próximo”, explica. No cotidiano, “campo” é relativo à área do conhecimento. Nas disciplinas teóricas, pode significar permanecer sentado. Em outras, isso é diferente. Por exemplo Juliana Oliveski, estudante de Engenharia Ambiental e ex-bolsista, foi até o Rio Gravataí com seu grupo de pesquisa fazer análise da qualidade da água da bacia deste rio “em parâmetros físico-químicos e microbiológicos”. Ao contrário, Roberto Caloni, estudante do Jornalismo e bolsista de IC, relata que faz quase tudo no computador: leituras, levantamentos de dados, elaboração de um artigo. JULIANA OLIVESKI

Ex-bolsista Juliana (dir.) faz análise de qualidade da água do Rio Gravataí UNISINOS | NOVEMBRO 2016 | SÃO LEOPOLDO

Independente da área é certo que o bolsista vai ter contato com materiais complexos que às vezes não se tem tempo de discutir na graduação. “Esse cara está exposto a textos às vezes mais difíceis, teve que participar de debates com alunos de mestrado, doutorado, com professor”, diz Fischer. “Muitas vezes isso reflete na qualidade dos trabalhos que ele vai desenvolver em outros espaços. Eu acredito que não só nos espaços acadêmicos”, conclui. Em decorrência das tendências mundiais, a Unisinos se posiciona estrategicamente com ênfase nas áreas tecnológicas. Atualmente são cinco Institutos Tecnológicos atuando em um sistema de pesquisa-desenvolvimento que visa impactar diretamente a região num raio de 100km, segundo a

A pesquisa aproxima o estudante de métodos de investigação, da linguagem científica, e de publicações

Diretora Adjunta da Unidade Acadêmica de Pesquisa e Pós Graduação, Dorotea Kersch. Por isso na universidade as bolsas nas áreas tecnológicas estão mais populares. Professora Ana Paula da Rosa, pesquisadora do PPG-Comunicação da Unisinos, contou sua experiência com uma bolsista de ensino médio. O desafio foi grande pois além da novidade daquilo que é científico, o jornalismo e a universidade também eram novidades para a adolescente. “Apesar desses detalhes, começamos com leituras, com a proposta de observar casos jornalísticos e foi uma surpresa: eu aprendi mais do que ela [Beth, bolsista do ensino médio]. Muitas coisas sobre memes, Facebook foi a Beth que me ensinou. Ela tem uma rapidez em interpretar as imagens, o que foi ótimo, pois pude ir discutindo e desenvolvendo uma forma de lhe passar as questões teóricas”, relatou. Portanto, a relação não é de transmissão linear de conhecimento do professor para o aluno. Construir conhecimento não termina com a leitura de um texto acadêmico. Existe, efetivamente, retorno desta atividade. Para os PPGs, o bolsista de Iniciação também é recurso humano e contribui para melhorar o status da universidade. Para o país, colabora com o desenvolvimento da ciência. Estudantes da Unisinos que se interessarem pela Iniciação Científica, devem procurar a secretaria da escola de seu curso para se inscrever. Victor Thiesen

Roberto Caloni realiza suas funções de bolsista basicamente pelo computador 9


TRÂNSITO

Painel ELETRÔNICO informa redução de acidentes Secretaria de Segurança justifica aos cidadãos leopoldenses gasto público com a instalação dos controladores de velocidade

Aline Abrussi Schmidt

A

Secretaria Municipal de Segurança e Defesa Comunitária de São Leopoldo (Sesdec) colocou um painel eletrônico que informa o levantamento estatístico sobre o índice de acidentalidade em 23 locais da cidade. O equipamento apresenta informações equivalentes a um ano de monitoramento das 49 faixas abrangidas pelos controladores de velocidade instalados no município. O gasto público com os radares, que começaram a funcionar em 2014, foi de R$ 11 milhões, de acordo com informação divulgada pelo portal ClicRBS. Com o painel eletrônico, a administração está prestando contas à população do resultado da instalação

dos controladores, justificando a necessidade do investimento, declarou o secretário Municipal de Segurança, Nilton di Petri.

dentes no entorno dos locais onde foram instalados os controladores. Os motoristas que trafegam pelas vias de São Leo-

poldo estão mais conscientes no trânsito em função da onerosidade das multas, opinou. Diminuição de acidentes, ecoAline Abrussi Schmidt

MEDIDA ELOGIADA NAS REDES SOCIAIS O painel eletrônico é móvel e disponibilizado de forma rotativa ao lado dos controladores de velocidade. Segundo Nilton, o equipamento não tem custo para o município. Ele é contemplado no contrato 99/2014-Pregão 08/2013, disponível no Portal da Transparência da Prefeitura. O secretário afirmou que o equipamento ficará continuamente na cidade. O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano do Vale dos Sinos (Setup), Marco Aurélio Zang, percebeu uma redução de aci-

Equipamento móvel presta contas da segurança no trânsito

Câmeras facilitam a captação de infrações em São Leopoldo A Guarda Civil Municipal (GCM) recebeu uma nova incumbência: o controle de 60 câmaras Speed Dornes de controle de trânsito dentre os 109 pontos de captação espalhados por ruas e avenidas de São Leopoldo. Esse equipamento é monitorado por operadores de dentro da sala de controle do órgão, que podem aproximar as imagens e, assim, facilitar a identificação do infrator. “Todas as nossas câmeras estão sempre em manutenção preventiva e corretiva, para que não ocorram erros na análise feita pelos guardas”, afirmou o comandante da GCM, Renato Wendorff Júnior. Quando o sistema identifica irregularidade num veículo, uma sirene toca e os operadores conseguem realizar a visualização do local por onde o carro está passando e assim tomar as devidas providências. Essa tecnologia, inaugurada em 2008, é pioneira e única no Estado do Rio Grande do Sul. Ela permite o funcionamento das câmaras 24 horas por dia, auxi-

liando o trabalho dos policiais. “As câmeras são úteis para identificar carros roubados e também no combate à criminalidade” informou Vilson Junior Caetano, representante do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de São Leopoldo. Toda essa segurança está conectada através do Sistema Integrado de Monitoramento (SIM). A GCM, a Brigada Militar e a

Natália Machado Soares

Sala de controle e monitoramento das câmeras Natália Machado Soares

10

SAMU também possuem uma rede de informações ativas através do mesmo ambiente de monitoramento e frequência de rádio para que, entre eles, exista apenas uma comunicação, agilizando as ações de policiamento. A GCM é o órgão responsável pela ronda escolar, fiscalização e proteção do meio ambiente e atividades de prevenção de acidentes.

nomia na área da saúde - uma vez que, minimizando a gravidade do acidente, baixa a permanência da vítima no hospital - e redução dos danos materiais são alguns dos resultados positivos da instalação dos controladores, citados por Nilton. Ele afirmou que a Secretaria recebeu muitos elogios nas páginas do Facebook da Guarda Civil e da Prefeitura Municipal de São Leopoldo, nas Ouvidorias Municipal e da Secretaria de Segurança. De acordo com o site da prefeitura, em 2014, o levantamento realizado pelo 25º Batalhão de Policia Militar apresentou um total de 818 acidentes envolvendo vítimas no trânsito da cidade. Já em 2015, foram 579 ocorrências, o que representa uma redução de 29%. O comparativo dos números de atropelamentos também diminuiu de 101 em 2014, para 69 em 2015.

Programa Parada Segura traz proteção a usuárias e idosos de Sapucaia do Sul Embora aprovado em maio de 2014, na administração do ex prefeito Vilmar Ballin, somente agora o Parada Segura se materializa no transporte público de Sapucaia do Sul. Previsto em lei, o programa possibilita o desembarque de mulheres e idosos fora dos pontos de parada dos ônibus e micro-ônibus após às 22h. A lei prevê a colocação de adesivos no interior de todos os veículos de transporte urbano do município contendo informações sobre o direito de usuárias e idosos. Os adesivos começaram a aparecer em ônibus e micro-ônibus há cinco meses, motivo pelo qual o programa é pouco conhecido no município. Funcionários da Real recebem treinamento de gestão e são orientados a observarem a Parada Segura. O técnico de segurança do trabalho da Real Rodovias, Renan Pereira, assegurou que a empresa na qual trabalha preocupa-se com a segurança dos usuários, pois trata-se de uma questão de bom senso. Admitiu, contudo, que nem todos os motoristas aprovaram a medida. Se eles deixarem o passageiro na parada após às 22h e algo acontecer com ele, a responsabilidade cai em cima do funcionário. “As pessoas não sabem disso”, alertou. Zanda Trescastro, 67 anos, utiliza o transporte público. O perigo, disse, está em todo lugar, opina. “A lei é ótima, pois descer mais perto de casa pode evitar assaltos. Às vezes, assaltantes ficam em pontos de ônibus só esperando alguém desembarcar”, afirmou. Em 2014, quando a lei foi criada, Sapucaia do Sul estava em quarto lugar dentre as cinco cidades com o maior número de roubos no Estado, de acordo com divulgação da Zero Hora, com base no relatório da Secretaria de Segurança Pública (SSP). De janeiro deste ano até o fim do primeiro semestre, Sapucaia registrou 1.283 casos de roubos, conforme indicadores da SSP. Tamires de Souza UNISINOS | NOVEMBRO 2016 | SÃO LEOPOLDO


INFRAESTRUTURA

Canoas e ciclovia: história sem fim Proposta da campanha de reeleição da atual administração da cidade, a execução do projeto da ciclovia municipal apresenta falhas Vitor Brandão

“I

mplantar uma rede cicloviária eficaz e capaz de promover a integração modal”. Assim está escrito na descrição do Plano Diretor Cicloviário da Prefeitura de Canoas. Em vigor desde julho de 2015, quando o prefeito Jairo Jorge promoveu debates com ciclistas para entender a demanda, e chegando aos últimos meses do atual mandato, a execução do projeto ainda se encontra abaixo do esperado. Segundo dados da Secretaria Municipal de Transporte e Mobilidade o município possui 9 km de ciclovias, divididos em três locais desconexos entre si. Já deixando a desejar no principal ponto da proposta, que previa 15 km, os locais onde foram construídos os trechos exclusivos para ciclistas ainda não se justificaram. Não se trata de localizações próximas ao centro ou que conectam pontos de grande fluxo os quais poderiam ser aproveitados pela população. Das três pistas existentes no município, a primeira a ser inaugurada foi a da Rua República, com cerca de 1,6 km, ligando os bairros Harmonia e Mathias Velho. Ela é a ciclovia mais movimentada por trabalhadores, famílias e crianças e acaba servindo para a prática de esportes, como a corrida.

dar utilidade à obra, quando na verdade era a obra que deveria nos ser útil”, afirma o aposentado Leocídio Dicinini, de 55 anos. Naquela tarde, o aposentado passava a lazer com sua bicicleta pela Avenida Farroupilha e se disse muito decepcionado com o tamanho da pista. “É um mini trecho. Assim nem tem porque utilizar”, disse. Júlio Braga é professor e militante

lazer ou transporte público? Situado no limite do município com Nova Santa Rita, o segundo trecho se encontra em uma localização considerada isolada, tendo em vista que não há residências ou comércio no entorno. Os ciclistas que passam pelo local optam por pedalar no canto da rua, sem utilizar o trecho destinado para as bicicletas. O motivo se dá pois em certa parte a pista não está pintada ou sinalizada e tem o tamanho reduzido quase pela metade por conta da passagem de um valão. No local, não há prática de lazer ou grande fluxo justamente por ser um local distante dos bairros. O mais recente projeto, inaugurado no início de 2016, é o da Avenida Farroupilha - uma ciclovia de cerca de 300 metros. O trecho é o menor dos três, porém está localizado em uma parte que possui mais movimento quando comparado aos anteriores, por ser próximo à área de construção do novo shopping center. Há, inclusive, uma possível extensão do trajeto por mais alguns quilômetros até o Bairro Igara, previsto para esse ano ainda em outro projeto da Prefeitura. Por conta da pequena extensão dos trechos, os ciclistas ainda se mostram insatisfeitos. “Nós pedalamos por aqui para UNISINOS | NOVEMBRO 2016 | SÃO LEOPOLDO

do movimento de cicloativismo “Massa Crítica” de Canoas, que tem como objetivo incentivar a prática da pedalada, tanto para quem está iniciando, quanto para quem já é habituado. Ele participou de reuniões na Prefeitura, onde foram apresentados os projetos do Plano Diretor Cicloviário. “Muito pouco entregue até hoje”, diz Braga. O ciclista sugere que Vitor Brandão

“Como a comunidade dos skatistas se organizou melhor do que nós, acabaram dando mais atenção para eles” Júlio Braga Militante do cicloativismo

por conta da geografia da cidade, sem muitas elevações nas vias, uma ciclofaixa poderia ser facilmente instalada na Avenida Guilherme Schell, com estacionamento para bicicletas nas estações de trem. “Tendo um espaço para pedalar junto ao muro do trem, já se poderia atravessar a cidade inteira de bicicleta”, afirma. Ele ainda conclui: “As estações da Trensurb de Novo Hamburgo possuem esse estacionamento, o que poderia ser adaptado às seis estações de Canoas”. Braga afirma que havia uma verba da Prefeitura destinada para a ciclovia do município a qual acabou sendo utilizada para a construção do Skate Park, no Parque Eduardo Gomes. Ele admite que por conta da pouca mobilização dos ciclistas canoenses, foi dado prioridade a essa outra demanda. “Como a comunidade dos skatistas se organizou melhor do que nós, acabaram dando mais atenção pra eles”, afirma. Em 2012, na campanha de Jairo Jorge, os 15 km de mobilidade cicloviária eram um projeto e a pista de skate, que seria construída no Centro Olímpico Municipal e acabou tendo o destino alterado, outro. Início da pista da Com as localizações dos Avenida Farroupilha, trechos no município, acade aproximadamente bamos induzidos a concluir 300m de extensão que as finalidades de uma ciclovia se limitam ao passeio. O objetivo do espaço é que ele seja um modal de transporte público - uma alternativa tal qual o ônibus, o trem e o carro: opções para o deslocamento do dia-a-dia. Júlio Braga admite que falta nas associações de ciclistas da cidade um pouco mais de pessoas com o perfil trabalhador, que vejam a bicicleta dessa forma. “Tem isso no pessoal que participa (das associações), com esse conceito de lazer mesmo, não como uma ferramenta de locomoção para o trabalho, por exemplo”. 11


MEIO AMBIENTE

Discussão ambiental trava iniciativa da Eletrosul Implementação de rede de alta tensão pode ser nociva à agricultura familiar, flora e fauna de ponto turístico da região do Vale do Rio dos Sinos PROVÁVEIS DEGRADAÇÕES

Bruna Bertoldi

A

rede de alta tensão da Eletrosul, que poderá passar pelo município de Sapiranga, vem causando discussões ambientais nas cidades que fazem parte do projeto. No município, foi sancionada a Lei 5.900, para impedir que a rede seja instalada no Morro Ferrabrás. De acordo com o diretor do Departamento de Meio Ambiente do município de Sapiranga, Alex Trombini, a possibilidade de a rede passar pela cidade é remota. E a lei foi criada para embargar o projeto, pois como são realizados leilões para essas linhas de transmissão, a empresa que fica responsável não prevê mudanças no projeto inicial.

Para o biólogo e diretor -presidente do Núcleo Sócio Ambiental Araçá-piranga, Luis Fernando Stumpf, os danos que uma rede como essa trazem ao local são irreversíveis: dentre eles, destacam-se os choques elétricos na vegetação e nos animais, prejuízos à agricultura familiar do local, além de mudanças visuais. Há dois pontos importantes apresentados pelo biólogo. Em primeiro lugar, o fato de estar localizada no Morro Ferrabrás uma pequena parte – ainda existente – da mata atlântica na região, com árvores raras e de grande porte. Luiz Fernando lembra que, para não haver transtorno com o corte na transmissão, a vegetação que passa local deve

ser de pequeno porte. O segundo ponto importante é a instalação e manutenção da rede. E para essas ações na rede têm que ser abertos novos

caminhos para que carros e caminhões consigam chegar, pois a localidade não tem essa estrutura. Isso traria as mudanças visuais e ecológicas irreversíveis. Bruna Bertoldi

Para ambos, uma nova alternativa de trajeto seria próxima à rodovia RS 239 e o leito do Rio dos Sinos – já que contêm uma vegetação mais rasteira e menor número de agricultores e animais. Além disso, fica em uma área mais plana e que pode ser ligada em rede já existente que vai para Gravataí. Segundo Alex Trombini, a Eletrosul alegou que não poderia mudar a rota uma vez que a rede passaria por cima da RS 239 e o DAER (Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem) não permitiria.

Visibilidade sobre o Morro Ferrabrás que pode ser afetado

Estudante cria vaso que evita perda de água e combate dengue

Agricultores rurais gaúchos investem em gestão sustentável

A doméstica Nadir Garcia olha com ansiedade o nível do arroio Barnabé que está localizado à frente de sua casa, na rua que leva o nome do córrego, em Gravataí. O fluxo de água é um dos principais da cidade que desaguam no rio Gravataí e há 7 anos entrou em ação o plano de revitalização de sua orla. Foram remanejadas diversas pessoas que moravam à sua margem e foram construídas ciclovias no trecho do bairro Bom Sucesso, perto da foz. Há um ano e meio, porém, as ciclovias vêm sofrendo erosões cada vez maiores. Em diversos trechos viraram buracos enormes. Nadir relata que desabamentos menores sempre acontecem e os maiores aparecem de um dia para o outro. “Uma hora a ciclovia está normal e no outro dia tem um buracão”, diz. A dona de casa Elaine Souza conta que seu pátio, um dos poucos do bairro a continuarem na margem, está começando a diminuir, principalmente quando chove. “A cada chuva a gente já sabe que é certo que vai cair um pedaço do pátio, uma hora não vamos ter mais”, prevê. Para o estoquista André Castro, também morador da rua Arroio Barnabé, a situação do fluxo é grave. “Aqui passa ônibus, passa carro. Com esses buracos crescendo, e se uma hora der um acidente grave? Tinham que dar um jeito.” Segundo dados fornecidos pelo biólogo e presidente da Fundação Municipal do Meio Ambiente, Jackson Müller, o arroio tem desmoronamentos em toda sua orla. Ele, entretanto, não se pronuncia com relação aos cuidados necessários com o Barnabé.

Vasos de plantas que utilizam apenas a quantidade necessária de água, evitando a perda excessiva: essa foi a ideia do estudante de Publicidade e Propaganda Guilherme Utz para criar a Raiz, empresa localizada em Novo Hamburgo. O produto conta com um depósito vedado na parte inferior do vaso que, através de um sistema de capilaridade (similar ao utilizado nos lampiões), leva água até as raízes da planta. Segundo Guilherme, a preocupação com o desperdício é apenas uma das propostas: “O produto acaba tendo vários apelos. Não escorre água, é prático e não precisa molhar todos os dias”. O reservatório precisa ser reabastecido uma vez a cada uma ou duas semanas, dependendo de alguns fatores – como o tamanho do vaso, da planta, a quantidade de adubo utilizada, etc. Além da preocupação ambiental, o vaso é projetado de uma maneira que dispensa o “pratinho”, utilizado para evitar que a água escorra. Não há acúmulo de água, o que impossibilita que o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, coloque seus ovos. A inovação feita pelo estudante ajuda a controlar o uso da água pelo menos em plantas caseiras. Assim como Guilherme, a professora de biologia Tatiana Chini diz que a quantidade de água varia de acordo com alguns fatores, mas afirma que se deve molhar as plantas pelo menos duas vezes por semana. Esse problema acaba sendo evitado pela tecnologia empregada nos vasos da empresa.

Propriedades rurais de agricultura familiar no Rio Grande do Sul estão recebendo auxílio da Emater/RS -Ascar para gerar maior produção com menor custo. Porém, o agricultor que recorrer ao serviço necessita de um grande investimento inicial, o que dificulta o acesso para pequenos produtores rurais. O agricultor Frederico Borges confia no plano: “Fizemos um investimento grande nisso, mas acredito que seja a melhor forma de melhorar a renda no futuro”. Frederico recebeu a apresentação do projeto em setembro e já o está aplicando na propriedade. Seu foco é na produção leiteira e na ovinocultura. Já o produtor Valci Peixoto achou a ideia muito bonita, mas um pouco fora da realidade dos pequenos agricultores. “No nosso caso, seria muito dinheiro investido em coisas muito tecnológicas para nossas terras”, diz. Valci investe na produção de arroz e de leite em sua propriedade. “Aqui a produção está dando só para o sustento mesmo, não sobra dinheiro”, desabafa. Aprovado em junho desse ano, o programa Gestão Sustentável da Agricultura Familiar é promovido pela Emater/RS-Ascar, junto à Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo. O extensionista Célio Alberto Colle diz que esse é um programa para gerar melhorias econômicas, sociais e ambientais. “O maior objetivo é oferecer ao produtor melhores formas de produção e acesso a políticas públicas”, acrescenta.

Caren Rodrigues

Rodrigo Pereira

Victória Lima

12

DIVULGAÇÃO

Moradores de Gravataí sofrem com erosões na orla do Arroio Barnabé

UNISINOS | NOVEMBRO 2016 | SÃO LEOPOLDO


Felipe da Silva

TRANSPORTE

Universitários se sacrificam gastando em passagens para não perder o semestre letivo na Unisinos

Passe Livre está com problemas Mais de 100 mil universitários são beneficiados pelo sistema no Estado, mas há falhas na entrega de passagens desde o início do ano Felipe da Silva

A

União Estadual dos Estudantes do Rio Grande do Sul (UEE -RS) e a Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (METROPLAN) não estão entregando passagens para 50 alunos participantes do Passe Livre Estudantil na cidade de Parobé. Já transcorreram mais de 60 dias nos quais os alunos não receberam passagens para o segundo semestre deste ano. Desde o primeiro semestre os estudantes estão enfrentando problemas com a falta de distribuição, sem que nenhum órgão envolvido assuma a responsabilidade pelo caso. “O problema é que não tem como resolvermos, pois a UEE não está atendendo telefone, o site está desatualizado e eles não respondem os e-mails. Toda a semana a Metroplan entrega novos lotes de passagens aqui, mas não temos a previsão dos alunos que serão atendidos”, explica o secretário de Mobilidade Urbana de Parobé, Luiz Carlos Machado. Ele ainda destacou ter comparecido na UEE, cuja sede fica em Porto Alegre, todas as semanas levando uma lista com os alunos inscritos no programa que ainda não receberam o benefício. Sem ser atendido, a visita tem sido a única alternativa de Machado para pressionar a entidade. A UEE é a responsável por receber as documentações e aprovar o benefício. Ques-

tionada sobre os problemas na execução do geralmente levava um mês para a distribuição. programa, Silvia Borges, que é funcioná- Entretanto, os acadêmicos jamais ficaram tanria da UEE, respondeu: “O problema das to tempo sem o benefício como agora. passagens não é com a gente. Quando há como ficam os algum problema de documentação indicaestudantes sem mos entrar em contato com a Metroplan são passagens eles que analisam a documentação”. Na Metroplan, órgão responsável por Usuário do serviço desde o início do encaminhar as passagens para impressão, um atendente que não quis se identificar ano, o universitário Fábio Marian, portaexplicou a situação de modo praticamente dor de deficiência auditiva, descreveu as imensas dificuldaigual ao atendente da des de frequentar a UEE, referindo-se à Universidade sem as não emissão das paspassagens. “Para mim sagens. “Não emitiao natural já é difícil mos as passagens, pois ir estudar, ainda mais provavelmente houve sem as passagens, já problemas com os doperdi várias aulas por cumentos. Indicamos não poder compareentrar em contato cer a Universidade”. com a UEE para reEle ainda descreveu solver o problema”. o tempo de espera Em vigor desde Jaison Volnir sem receber o serviço 2013, o Passe Livre Estudante e que pretende encaEstudantil beneficia minhar uma reclamilhares de estudantes no Brasil. No ano passado, a Metroplan mação: “Já são quase 80 dias e até agora repassava as passagens para a empresa Citral, nada. Minha última saída é pedir para responsável pelo transporte universitário da que minha namorada me ajude a encamicidade. Até então, a UEE apenas cuidava nhar uma reclamação para algum serviço do recolhimento dos documentos, havendo dos encarregados pela passagem”. O universitário, Jaison Volnir, usuário raramente uma participação sua no circuito, somente no caso de ocorrer algum problema. desde o início do programa no município Era um processo mais demorado que o atual, de Parobé, em 2014, revela as dificuldades

UNISINOS | NOVEMBRO 2016 | SÃO LEOPOLDO

“Muitos colegas acabam não indo para aula, por não terem condições de adquirir os bilhetes”

encontradas no benefício desde o ano de 2016. “Neste ano existe esta contradição. Os passes acabam atrasando e nós estudantes somos jogados de uma entidade para a outra. Somos obrigados a comprar passagens sendo que em muitas vezes não temos condições para isso. Muitos colegas acabam não indo para aula, por não terem condições de adquirir os bilhetes. O prejuízo sem dúvidas é grande não somente no bolso, mas também na aprendizagem”. Outra questão para Volnir é a maneira do benefício ser executado, sendo que não há fiscalização praticamente. “Hoje pelo menos aqui em Parobé não há fiscalização do programa. A solução seria colocar catracas eletrônicas, nas quais a Citral devia colocar desde o final de 2013, estamos em 2016 e nada. Além disso pagamos uma taxa para ter um cartão, que não tem utilidade nenhuma. Com o dinheiro das passagens caindo direto nos cartões, não haveria o transtorno de solicitar impressão de passagens”. Após receber várias reclamações dos estudantes, a UEE recentemente disponibilizou um portal de SAC gratuito para que os acadêmicos possam realizar uma reclamação referente a falta de entrega de passagens. O serviço é feito por telefone no 08005104774 e pretende acabar com os atrasos dos recebimentos deste semestre. O serviço ainda pretende para o próximo semestre garantir uma maior agilidade no atendimento dos universitários, em caso de novo incômodo. 13


TURISMO

Ivoti tem maior núcleo de enxaimel da América O espaço tem opções culturais, gastronômicas e espaços ao ar livre para aproveitar a tarde e conhecer um pouco mais sobre a colonização alemã

Juliana Borgmann

A

dois quilômetros do centro da cidade de Ivoti fica o Núcleo de Casas Enxaimel, que é o maior da América Latina. Além disso, é uma ótima opção para passar uma tarde ao ar livre, aproveitando a natureza e as atrações culturais do local. A partir do ano de 1829, a região passou a receber diversas famílias imigrantes germânicas, que se distribuíram pela região. Segundo registros históricos, em 1830 começaram a ser erguidas as casas que hoje pertencem ao núcleo. “Esta região foi o primeiro ponto comercial da cidade, com armazéns, marcenarias, escolas, carpintaria, cachaçaria, a única construção que não foi feita aqui é a igreja, que foi erguida no morro,

Juliana Borgmann

onde hoje é o centro de Ivoti”, conta a coordenadora do museu, Silvane Karling. Em razão dessa distância, ainda conforme Silvane, a cidade começou a ser erguida nas proximidades da igreja. A coordenadora do museu relembra o nome popular da região, que é chama de “Buraco do Diabo”. Segundo ela, existe uma lenda sobre a região. Na época da colonização, existia ali um assassino, que tinha o apelido de “diabo”.

O turismo As casas presentes no núcleo enxaimel passaram por reformas e abrigam museus de ambiência, nos quais se mantêm o espaço original das residências, como eram na época da colonização alemã. Além disso, a região também abriga um restaurante de comidas típicas, a casa do

artesão e a Secretaria de Cultura e Turismo. “O movimento de turistas é grande, mesmo durante a semana. O município valoriza muito esta região e

realiza, periodicamente, feiras coloniais, feira do livro, festa das flores”, relembra Silvane. A entrada é franca e possui diversos espaços ao ar livre.

Secretaria de turismo de Ivoti no Núcleo Enxaimel

A comerciária Celita Ramos afirma que sempre passou pela região, mas que é a primeira vez que foi ao núcleo enxaimel. “É um ótimo lugar para tomar um chimarrão e conhecer um pouco mais sobre a cultura alemã”, conta. A cidade de Ivoti está localizada a cinquenta quilômetros da capital Porto Alegre e é conhecida como a cidade das flores.

São Chico pode ser uma ótima escolha de passeio para o verão

Falta de inovação pode ser causa da queda nas visitas do Zoológico

Grupo informal resgata relatos sobre a história de Porto Alegre

A cidade de São Francisco de Paula, localizada na Serra Gaúcha, é conhecida pela tranquilidade e por suas belezas naturais. O Lago São Bernardo é um dos pontos turísticos mais cobiçados do município, independente da época do ano. “Eu vim de excursão com minha família. O que nos motivou a conhecer São Chico foram o lago e o Parque da Cachoeira, que vimos em fotos na internet. Achamos incrível”, diz a técnica de enfermagem Solange Moura. O Parque da Cachoeira, localizado no caminho para Canela, é abundante em natureza. “A primeira vez que vim para São Chico não saí para conhecer os pontos turísticos da cidade. Nesta segunda vez, já conheci o Parque da Cachoeira. Fiquei apaixonada. Disse a meu esposo que estou vendo um terreno para passarmos a temporada de verão em vez de ir para a praia”, diz a professora aposentada Cleri Hortz. Mesmo que a praia ainda seja preferência no verão, há quem tenha casa para passar os finais de semana sossegados em meio à natureza. Exemplo disso é a professora aposentada Rosemarie Schaeffler Cardoso, que tem a sua nos Alpes de São Francisco de Paula, onde veraneia com seus familiares. O trajeto mais próximo para quem sai da Capital a caminho de São Francisco de Paula é a RS-020. São cerca de 120 quilômetros. Uma rota alternativa para quem gosta de viajar pela serra é ir pela BR-116 e chegar à cidade depois de passar por Canela.

Sendo a única atração turística que se diferencia em Sapucaia do Sul, o Zoológico sofre com a falta de visitantes. Isso acarreta no baixo valor de investimentos e faturamento. Segundo o administrador do parque, Marco Antonio Squeff, a renda anual que arrecada seria suficiente apenas para pagar as despesas de manutenção. Ao visitar o parque, nota-se que o número de pessoas caiu muito. Escolas que faziam muitas visitas ao local também não estão mais frequentando por diversos motivos. “Não há novas atrações, novos bichos e a qualidade da infraestrutura está baixa; os recintos são velhos, os animais são velhos e com isso os visitantes não acham WIKIPEDIA o zoológico um lugar atrativo para ir visitar”, diz Guilherme Batista, um dos colaboradores do local. Mas a administração não fica parada: “Estamos fazendo um trabalho com os próprios servidores. São dois projetos: Zoo Melhor e o Zoo Ação. Foram feitos vídeos veiculados através das mídias sociais, site da Fundação Zoobotânica e do site do Zoológico. Também decoramos o zoo e comemoramos o aniversário de animais nascidos em setembro”, conta Marco Antonio Squeff. O Parque Zoológico se localiza em Sapucaia do Sul e é aberto à visitação de terça a domingo, das 8h30 às 17h. O valor dos ingressos é de R$ 10 para adultos; crianças, estudantes e idosos pagam R$5. Os valores para carros, ônibus e motos vão de R$20 a R$317.

O Free Walk PoA surgiu a partir do amor que o engenheiro civil André Flores possuía pela capital. Para agradecer os encantos que PoA oferece, ele e a equipe há quatro anos contam as histórias, às vezes inusitadas, da região. Os encontros para aprender sobre o Centro Histórico são sempre aos sábados, às 11h, no Chalé da Praça XV, e com frequência são marcados grupos para visitar outros bairros conhecidos. No meio das ruas movimentadas do centro, a voluntária Almog Griner, durante uma na caminhada, fala sobre a primeira minissaia de PoA, por exemplo, e sobre o trabalho. “Sou de Natal, e quando vim para cá me apaixonei pela região. A forma que encontrei de retribuir a capital é repassar a outras pessoas o que temos de mais belo, como os lugares legais e cafés”, conta. O presidente do projeto, Bernardo Pereira, fala orgulhoso sobre a dimensão que a iniciativa tomou nos últimos anos. “Começamos fazendo passeios quinzenais. Depois de um ano, tivemos o maior grupo da história, com 120 pessoas”, celebra sobre o projeto que lhe exige, no mínimo, dois sábados disponíveis no mês. Entre os participantes do passeio, a jornalista Michele Fattuti, que mora no exterior com o marido Zach O’Bea, revela que tem muito carinho pela terra. “Quero conhecer mais sobre a capital e apresentar ela ao Zach”, diz. Já o estudante Gabriel Magnavita, de Salvador, conta que pretende voltar ao estado outras vezes. “A experiência é singular, temos a oportunidade de conhecer fatos que passariam despercebidos”, diz.

Helen Appelt

Pedro Martins

Maria Carolina de Melo

14

UNISINOS | NOVEMBRO 2016 | SÃO LEOPOLDO


INTERNET

Rádios Web crescem no estado Serviço que surgiu no final do século passado, sem muita burocracia e baixo custo vem crescendo desde 2010, muitas vezes apostando no futebol Arquivo / Rádio Estação Web

Rafael Erthal

A

partir da segunda década do século XXI, com o avanço das plataformas multimídia, as rádios web tiveram um crescimento, apesar de terem surgido já no final do século passado. Atualmente existem diversas rádios para todas as segmentações, como, por exemplo a Rádio Web UFPA, voltada para a política, Via Web Rádio, com músicas sertaneja e a Rádio Web Porto Alegre, com notícias da cidade.

EMISSORA PRÓPRIA A Rádio Estação Web foi criada em julho de 2010, na cidade de Canoas, RS. Ela atua na área esportiva, tendo iniciado com programas esportivos. Hoje, com mais estrutura, realiza transmissões esportivas de futebol. Já transmitiu Do Passo da Areia, Beira Rio e Arena do Grêmio, além de transmitirem outros esportes como futebol americano, vôlei, basquete e handebol. Carlos Jornada é seu narrador. Rogério Barbosa, criador da Rádio Estação Web e jornalista no Grupo RBS, fala que “Já havia trabalhado em emissoras convencionais, quando tive a ideia de criar meu próprio veículo de comunicação. Fui agregando colegas e o projeto foi acontecendo”. A estrutura da maioria das rádios web é modesta. A Estação Web conta com um pequeno estúdio na própria residência de Rogério. A Rádio Estação tem uma audiência considerada satisfatória para quem está começando, chegando a atingir um público superior a mil ouvintes com sua programação diária, e até mil e quinhentos durante as jornadas esportivas. Por conta desse número ainda não ser expressivo, a Rádio não gera remuneração para os seus integrantes. A Rádio Estação Web conta com 23 integrantes, além dos seis que compõem a equipe das jornadas esportivas.

LEGISLAÇÃO RESTRITA Segundo o site Hoost, que atua como plataforma online para Rádios Web, as rádios de internet ainda são diferentes dos demais serviços de comunicação. O (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) ECAD, é encarregado de regulamentar a verba dos direitos autorais de conteúdos terceirizados, geralmente músicas, que são disponibilizados em qualquer meio de comunicação público. Este é o único órgão que está previsto na lei, vinculado às Rádios Webs. O repórter e plantonista da Rádio Web

Carlos Jornada e Rogério Barbosa, atrás. Entre eles, o editor da revista Goool, José Aveline Neto, que visitava a equipe Galera de Porto Alegre, Luiz Felipe Amo- muito menor comparada às rádios AM e rin, é um dos poucos que já consegue se FM, pois não há legislação específica. É um sustentar financeirameio muito recente, mente trabalhando porém tende a cressomente na Rádio cer. Um dos maiores Web. Segundo ele, a problemas enfrentamédia de audiência dos é a própria interda Rádio Galera fica net. “A conexão aqui na margem de 80 mil no Brasil é muito preouvintes por mês. cária e o custo é muiUm fator importanto alto. Ainda não te para isso, é o fato temos um público da Rádio contar com consolidado. Há papatrocínios, como o íses como a Noruega das Lojas Multisom, por exemplo, onde PublivarOn, Microa internet funciona Luis Felipe Amorin Cervejaria Irmãos com mais eficiência Repórter da Rádio Galera da Web Ferraro, Sinos Fios comparando com o e o Grupo Solidez. Brasil, , as rádios web “A legislação é mais na questão traba- estão muito mais avançadas quanto à púlhista, e não de funcionamento. Não é blico e publicidade”, afirma Rogério. tão complicada quanto a de uma Fm, e APOSTA NO GRÊMIO nesse caso é mais fácil deixar a rádio no ar o tempo todo. Acredito que esse núcleo de A Rádio Pachola, outro exemplo Rádio Web está cada vez mais forte no mercado”, afirma Luis Felipe Amorin, repórter de rádio web, situada na cidade de Porto Alegre, surgiu a partir de uma conversa e plantonista na Rádio Web Galera. A burocracia para uma rádio online é entre os amigos Samuel Dani e Gabriel

UNISINOS | NOVEMBRO 2016 | SÃO LEOPOLDO

“A Rádio Galera superou suas expectativas e alcançou a marca de 1 milhão de ouvintes durante o ano de 2015”

Lauxen, ambos integrantes da Rádio. Os dois estavam motivados a desenvolver um meio de propagar notícias do seu Clube de coração, o Grêmio. A partir daí, criaram uma página no Facebook, e posteriormente a Rádio Web. O conteúdo é sobre futebol, e exclusivamente dedicado ao Grêmio, além do programa Papo Pachola, com bandas locais, geralmente do pagode e sertanejo. Suas publicações no Facebook foram adquirindo um número considerável de visualizações, chegando a mais de 500 curtidas em alguns casos, até tornar-se um meio de comunicação. “As Rádios Webs estão diretamente ligadas às redes sociais, pelo fato de ser o seu principal método de divulgação. As postagens no Facebook ajudam a atrair mais público. Iniciamos o projeto da rádio em uma conversa descontraída entre amigos. Vimos uma oportunidade de expandir nosso conteúdo, e acabamos alcançando ouvintes na Rússia, China e Califórnia, através de muita interação com o público, como sorteios de camisetas do Grêmio”, fala Samuel Dani, criador e repórter da Rádio Web Pachola. 15


ESPORTE

TIME DO SPARTANS SELECIONA NOVOS ATLETAS PARA 2017 Com objetivo de disputar competição da federação, equipe amadora de futebol americano realizou testes dos candidatos em campo de escola pública de Gravataí

Filipe Foschiera

T

ime de futebol americano de Gravataí realizou seletiva de novos jogadores para a próxima temporada. O Spartans utilizou o campo da Escola Santa Rita de Cássia para peneirar talentos do esporte no sábado, 22 de outubro. O evento contou com a presença da comunidade, curiosa com a novidade. Além de selecionar novos atletas, organizadores ensinaram os fundamentos do esporte para crianças. Em resumo, o time que tem a posse de bola tenta avançar em jogadas curtas, conhecidas como downs. Se conseguir levar a bola até o final do campo, marca um touchdown e conquista seis pontos. São 11 atletas em campo para cada equipe que podem entrar e sair da partida quantas vezes o técnico quiser. Em Gravataí, o Spartans iniciou suas atividades em fevereiro deste ano, porém ainda sem o nome. Seis amigos se reuniram para praticar o esporte que conheciam somente pela televisão. No

campo da escola, mesmo local da seletiva, o número de adeptos foi crescendo e, em abril, a equipe ganhou nome e escudo.

AGILIDADE E IMPULSO As seletivas procuram descobrir novos atletas com potencial para o esporte. Vice-presidente do clube e treinador do ataque, Rafael Borahel, destaca que os aspectos avaliados na seletiva, como em qualquer outro time, são exclusivamente físicos. Aspirantes a atletas passam por testes pré-definidos, em que atributos como agilidade, impulsão e explosão são avaliados. “Como o esporte não é tão praticado no Brasil, avaliar atributos técnicos acerca do esporte é inviável”, explica. A equipe se mantém com os recursos obtidos na contribuição assistencial dos jogadores e também com verbas de patrocinadores. Com esse dinheiro são comprados os materiais de treino, bolas, cones e confeccionados os uniformes. Além disso, conforme Rafael, a verba é utilizada para arcar com os custos administrativos e jurí-

dicos da equipe, como o registro do CNPJ e demais taxas. O principal objetivo do clube para este primeiro ano de vida é comprar todos os equipamentos de proteção necessários para disputar algum

campeonato oficial no segundo semestre de 2017. “Como atuamos na NO-PADS (categoria sem utilização dos equipamentos de proteção) não podemos disputar os campeonatos organizados pela federação estadual. robertha knop

Técnico Rafael Borahel (E) observa os treinos físicos dos candidatos

Logo, no momento estamos apenas disputando amistosos contra outras equipes que atuam nesta mesma categoria“, destaca Rafael. O presidente do Gravataí Spartans, Wagner Silveira, explica que, pelo planejamento normal, são feitas duas seletivas por ano, já que a rotatividade de jogadores é muito grande. Ele destaca a importância da atividade para a equipe recém-criada: “É importante porque divulga e alavanca o esporte entre os fãs e possíveis patrocinadores.” Além da seletiva, que peneirou novos talentos para a próxima temporada, o clube realizou uma ação com 14 crianças da comunidade. O número de participantes da atividade, que é realizada todo sábado no mesmo local, é relativamente alto para um esporte desconhecido no Brasil. “O objetivo é apresentar não somente para as crianças, mas para a comunidade em geral, um esporte novo, em que o coletivo sempre vencerá o individualismo. Um esporte em que você precisa ter disciplina e comprometimento, pois tais características não são relevantes apenas para o esporte, elas são importantes para a vida”, finaliza Rafael.

Escolas competem em Sapucaia do Sul Thiago Gomes Borba

Começou a etapa final dos Jogos Escolares do Município de Sapucaia do Sul (Jemusa) de 2016. As últimas modalidades da 28ª edição iniciaram no dia 1º de novembro, com o vôlei, e vão até o dia 16 de dezembro, com o handebol. Participam do Jemusa escolas municipais, estaduais, federais e particulares da cidade. As equipes são divididas em três categorias: mirim, com alunos de 10,11 e 12 anos; infantil, 13 e 14 anos; e juvenil, inserindo atletas de 15, 16 e 17 anos, tanto no feminino quanto no masculino. “É uma experiência bem divertida e emocionante assistir as outras equipes jogarem”, diz Laura Tomasi de Andrade, 11 anos, do 6º ano da Escola Nossa Senhora 16

de Fátima. “No geral, é muito empolgante”, acrescenta a atleta que, neste ano, já competiu no basquete e no futsal, e disputará ainda handebol e vôlei. Tatiane Tomasi de Andrade, mãe de Laura, completa: “Acredito que o Jemusa incentive o esporte, a disciplina e o espírito de equipe. Desperta a vontade de competir e as lideranças. Enfim, várias coisas boas que, se na dosagem certa, somente trazem benefícios”. Os jogos fazem a criança se posicionar, se identificar com algum esporte, cobram responsabilidade de treinar e de buscar resultados. “É muito bom”, conclui a mãe da aluna. O desempenho escolar é um grande problema para a participação dos alunos. “Em sua maioria, os que têm maior aptidão para o esporte são aqueles com dificuldade na sala de aula, tanto de

aprendizagem, quanto no comportamento”, diz a coordenadora de Práticas Desportivas da Secretaria Municipal de Educação, professora Valquíria Carneiro. Professores utilizam o evento como estímulo para reverter e melhorar esses aspectos, aponta. Em relação ao desempenho escolar, a educadora acredita que não há diferença nas notas obtidas pelos alunos atletas. “O que temos são alunos que se comprometem a melhorar o rendimento e o comportamento”, assinala. A competição de xadrez será no dia 16 de novembro na Escola Municipal Alberto Santos Dumont. O vôlei vai até o dia 9 de novembro, já o handebol ocorrerá nos dias 30 de novembro, 1º, 2, 5 e 6 de dezembro. Ambas modalidades serão disputadas nas Escolas Municipais Alfredo Juliano e Prefeito João Freitas Filho.

Thiago Gomes Borba

Prática do esporte incentiva o desempenho escolar de alunos UNISINOS | NOVEMBRO 2016 | SÃO LEOPOLDO


AMBIENTE Clarice Santos

Crédito fotógrafo

Alunos da Escola Estadual Técnica São João Batista e membros da Associação Montenegrina de Artistas (Amarti) contribuíram para os objetivos da ONU

Cidade gaúcha adotou metas da ONU Descubra de que forma as laranjas podem contribuir para salvar o Planeta e conscientizar a sociedade para a sustentabilidade Clarice Santos

I

magine que você está andando pelas ruas de uma cidade e de repente depara-se com o desenho de uma laranja gigante estampado no chão. Ao andar mais um pouco percebe que a imagem vai se multiplicando por cerca de 14km de extensão. Ou imagine que nessas mesmas vias públicas pode estender o braço e colher uma laranja na própria laranjeira. Em Montenegro, na região do Vale do Caí no Rio Grande do Sul, ambas as situações são possíveis. Trata-se do Projeto Laranjas dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), instituídos em 2000 pela Organização das Nações Unidas (ONU). Uma mobilização social, envolvendo artistas plásticos, artesãos e estudantes, promoveu a pintura de uma série de laranjas em vários espaços públicos da cidade. Dentro de cada imagem existe uma mensagem relacionada aos ODS. Além disso, os moradores da cidade plantaram laranjeiras nas calçadas das residências.

Cidade das Artes também produz laranjas O município faz parte das 238 cidades brasileiras que assumiram o compromisso dos ODS, ou seja, se comprometeram a promover iniciativas que levem ao alcance dos objetivos. Os ODS consistem em orientações detalhadas

de medidas a serem adotadas no dia a dia e está aliando dois de seus mais importantes que, no futuro, trarão resultados benéficos produtos para divulgar os objetivos: a Arte e para a sociedade. Ao todo são propostas 17 a Laranja. Montenegro possui uma Fundação metas de desenvolvimento sustentável, buscan- de Artes, que forma artistas das diferentes áreas do envolver o maior (Música, Dança, Teanúmero possível de tro e Artes Plásticas) e pessoas em ações que, um campus da UERa longo prazo, possam GS (Universidade do melhorar a qualidade Estado do Rio Grande de vida no Planeta. do Sul) também deOs Objetivos de dicado aos cursos de Desenvolvimento graduação em artes. Sustentável propõem Por conta disto receque até 2030 a popubeu o título de Cidade lação mundial consiga das Artes. Além disso, alcançar as metas do existem no município projeto. Entre as prinmais de dez escolas cipais metas estão a erparticulares no ensino radicação da pobreza e de música, e também da fome, água limpa e iniciativas pontuais em potável, igualdade de educandários municigênero e saúde, atrapais e estaduais que foDiego Gazola vés de hábitos de vida mentam o ensino das Empreendedor social saudáveis e consumo artes. A fruta é um dos de alimentos livre principais produtos de agrotóxicos. Ainda aponta a adoção de produzidos na zona rural de Montenegro, serviços médicos adequados para atender a sendo que a safra de 2016 chegou a 200 mil população . Contudo, estes objetivos só po- toneladas, colocando o município entre os derão ser atingidos se houver mobilização dez principais produtores do cítrico. das sociedades. Os montenegrinos mostraA comunidade, representada por escolas, ram que estão fazendo a sua parte. universidades e associações artísticas, está enNo Projeto Laranja dos ODS o município gajada no trabalho com o objetivo de adotar

UNISINOS | NOVEMBRO 2016 | SÃO LEOPOLDO

“Por meio de pinturas no solo de locais como praças e parques da cidade, as “Laranjas dos ODS” marcaram um caminho a ser percorrido a pé ou de bicicleta”

as medidas propostas pelos ODS e passar a ideia adiante. A presidente da Associação Montenegrina de Artistas (Amarti), uma das entidades integrantes da ação, Arlete Oliveira de Souza, acredita que o projeto serve de inspiração para tornar a sociedade mais consciente sobre seus atos. “Essa intervenção é um presente que Montenegro ganhou. Com esse trabalho podemos incentivar os artistas locais a fazer coisas pela cidade. Esses Objetivos são fundamentais para Montenegro dar uma arrancada, usando a Arte para educar o povo”, conclui a artesã. O idealizador da iniciativa é Diego Gazola, 34 anos, vencedor do concurso Ciclo da Sustentabilidade - Edição Ciclo Verde. O Concurso é uma iniciativa da LANXESS, empresa produtora de borracha, criado para apoiar o desenvolvimento socioambiental das comunidades onde atua. Gazola conquistou a disputa com o projeto Gotas de ODS . Segundo ele, a intenção da iniciativa é fazer a comunidade redescobrir os espaços públicos de sua cidade e refletir sobre os 17 objetivos. Além disso, ele busca o comprometimento do poder público municipal para o desenvolvimento de outras iniciativas que abranjam os ODS. “A nossa intenção é que Montenegro seja signatário de uma carta compromisso de utilização desses ODS na elaboração de políticas públicas para os próximos quatro anos”, conclui Diego. 17


GERAL

Kombi distribui alimentos PARA OS moradores de rua Grupo de voluntários de Bom Princípio se mobiliza em prol da solidariedade indo toda a quinta-feira a Porto Alegre fazer doações e trocar experiências

Camila Tempas

A

Kombi do Bem surgiu a partir da ideia e da necessidade de praticar o bem. Paulo Hallal, médico e um dos idealizadores do projeto, conta que a proposta manifestou-se a partir de uma conversa com o seu filho. “Nessa conversa surgiu a ideia da gente começar a fazer um trabalho com os moradores de rua em Porto Alegre. Isso foi numa segunda-feira, e na quinta-feira, 14 de agosto de 2014, a gente fez o primeiro trabalho. No início éramos eu, meus dois filhos e os amigos deles”, explica Paulo. Hoje, o projeto conta com a participação de 120 colaboradores. As doações de alimentos, roupas e cobertas são feitas pelos próprios voluntários e por vários munícipes de Bom Princípio e região, que se mostram

Lucas Hallal

dispostos a ajudar. A distribuição dos donativos é feita toda a quinta-feira, por um grupo de seis à oito pessoa que se revezam nas viagens, para dar a oportunidade à todos os voluntários de participarem dessa experiência.

O valor da gratidão O agradecimento é o que mais permeia todo o trabalho de envolvimento da Kombi. A empresária e voluntária Camila Bulsing Schott diz que “O sentimento maior é de gratidão. Gratidão de ajudar alguém que esteja com fome, frio, ou que simplesmente queira ser chamado pelo nome, recuperar a dignidade, conversar e abraçar um amigo”. Acostumados a não serem reconhecidos pela sociedade, os moradores de rua se mostram muito gratos quando tratados com dignidade e humanismo. Paulo conta que “quando tu te permi-

Moradores doam alimentos e roupas a moradores de rua tes falar com um ou com outro mais demoradamente, eles falam das suas dores, da dor de ter saído da sua família, de não conseguir se desvincular com a questão da droga ou do álcool”. Alguns já conseguiram voltar a ter um lar por meio da ajuda dos voluntários.

Ampliação do projeto Inicialmente atendendo apenas moradores de rua da região metropolitana, hoje, a Kombi sustenta a creche Casa da Sopa,

localizada em um bairro de Viamão, que conta com 80 crianças. Também oferta ajuda para a Creche da Vó Georgina, em Porto Alegre, e distribui cestas básicas para 60 famílias, todo mês. Além disso, são realizados diversos eventos, voltados para famílias carentes, e um brechó, que supre um pouco os gastos que o grupo tem. A Kombi do bem quer dar mais oportunidades para mais pessoas poderem se engajar nesse projeto. A ideia de Paulo, é que, no futuro, Bom Princípio, cidade onde surgiu o grupo, seja conhecida como a cidade do bem. “Eu sei que isso é um futuro que demora”, reconhece. “A nossa intenção é realmente contaminar a cidade com o bem. Fazer com que todos, ou grande maioria, esteja mobilizado nas ações voluntárias, de assistência. Mudar o panorama das pessoas que tem mais necessidade”, conclui.

Bombeiros voluntários contam suas experiências e motivações

Milhagens aéreas podem servir como auxílio para servidores

Hamburgo Velho é sinônimo cultural e turístico na região

Trinta bombeiros voluntários estão formados e preparados para salvar vidas na região. O condutor e socorrista Vinícius Borges fala sobre seus motivos para participar do projeto: “Para mim foi a experiência de vida que é adquirida nesse ambiente”. Vinícius também conta que sempre participou desse meio, pois participou do curso de Bombeiro Mirim quando criança. A cuidadora Vera Pinheiro dos Santos, que foi bombeira voluntária por dez anos, sete em Novo Hamburgo e três em Hamburgo Velho, conta como isso afeta a vida da pessoa: “Ser bombeiro voluntário muda todo o teu modo de pensar e de viver”. Também relata que foi voluntária pelo desejo de ajudar e salvar outras pessoas. Sobre os acontecimentos que vivenciou na corporação, Vera fala o momento que mais a marcou: “Foi a primeira vítima que perdi, porque fui treinada pra salvar, era o que me dava gás, e quando perdi a vítima fiquei pensando que não fiz o suficiente”. Segundo o soldado Rodrigo Franco de Melo, responsável pela seleção dos voluntários, a formação ocorreu em três finais de semana. “Foram abordadas questões como atendimento pré-hospitalar, combate a incêndio, salvamento terrestre e em altura, com aulas práticas e teóricas”. Durante a seleção dos candidatos foram feitos exames de aptidão e por fim uma entrevista individual. Agora esses novos voluntários reforçam os contingentes de Estância Velha, Campo Bom, Ivoti e Dois Irmãos.

“É uma economia para o município”, conta o vereador Celso Fioreze (PSDB) sobre o projeto de lei que prevê o uso de milhas para funcionários municipais em Gramado. “O executivo costuma viajar muito para Brasília para buscar recursos, são muitos projetos, então ele tem essas milhagens que, quando você compra passagens, adquire para depois poder viajar também. Então, o que acontecia? Caía no CPF do passageiro, do prefeito”, explica. Segundo Celso, por meio da proposta, as milhas aéreas seriam destinadas a servidores públicos que buscam cursos profissionalizantes em outras cidades, como nas áreas da saúde e educação, ou prograPablo Barrios mas de inclusão social por meio do esporte. O vereador Evandro Moschem (PMDB) esclarece o programa de sua autoria: “Não há porque o poder público deixar de receber o bônus oferecido pelas empresas, já que é o pagador exclusivo da passagem aérea, em vez de financiar indiretamente privilégios para os agentes públicos que por sua vez terminam utilizando particularmente este bônus.” O plano chegou a ser considerado inconstitucional pelo ponto de vista jurídico, pois sua origem deveria partir do Poder Executivo. “Na verdade, ela é uma lei que nós não deveríamos ter aprovado, e nós aprovamos pelo mérito que ela tem na função pública”, justifica Celso. O projeto de lei que institui o Banco de Registro de Milhagens, aprovado por unanimidade na Câmara de Vereadores de Gramado, percorre agora o Executivo.

O berço da imigração alemã de Novo Hamburgo é conhecido por sua influência histórica e arquitetônica na região. Além de museus, Hamburgo Velho conta há pouco mais de um ano com uma festa que visa à ocupação de espaços públicos para o lazer da comunidade: o Festeja Hamburgo Velho. O evento é realizado mensalmente por um grupo de empreendedores voluntários e conta com o apoio da Prefeitura Municipal. Todos os produtos comercializados no local são artesanais ou reutilizados. O lugar escolhido para a ação é a conhecida Praça da Matriz. Além dos expositores de diversos segmentos como brechós e artesanato, o Festeja conta com atrações culturais, gastronomia e atividades para todas as idades. A produtora cultural Luana Khodjaoghlanian destaca o objetivo da iniciativa: “Nossa intenção é oferecer uma opção cultural permanente na cidade, como forma de exaltar também os produtores e a economia local”. A festa traz à tona a ocupação e valorização de locais públicos da cidade. A estudante Nahara Eckhar frequenta o Festeja desde as primeiras edições e comemora a ideia. “Eventos como este valorizam o local e fazem com que ele fique mais movimentado”, salienta. O jornalista Felipe Kuhn Braun, autor de livros sobre a imigração alemã no sul do país, destaca o quanto Hamburgo Velho é importante para a região. “Novo Hamburgo tem uma ‘joia’ cultural e arquitetônica que deve ser valorizada. O turismo na cidade tem um grande potencial se for fomentado”, ressalta.

Gabriel Nunes

Roberta Alano

Jéssica Santos

18

UNISINOS | NOVEMBRO 2016 | SÃO LEOPOLDO


DROGAS

Uma oportunidade de recomeçar Organização não governamental, na região metropolitana, auxilia na recuperação de dependentes químicos e na sua inserção na sociedade Thamyres Thomazini

A

vontade de superação e o desejo de mudar de vida motivam muitos usuários de drogas a buscar ajuda. É possível ter apoio em ONGs e instituições que se dedicam a cuidar de dependentes químicos em fase de recuperação ou daqueles que já venceram o vício. Na cidade de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, o Grupo de Inclusão Social e Tratamento de Drogas e Álcool (Giseda), é uma delas e tem sua base na religião evangélica. Esta organização não governamental existe há 11 anos e desenvolve um trabalho de recuperação de dependentes químicos. É um lugar onde existem pessoas dispostas a ajudá-los a superar o vício e incluí-los novamente na sociedade. A instituição se mantém com vendas de doces fabricados pelos pacientes, com o apoio de empresas parceiras e doações da comunidade. Além disso, o grupo possui um sítio, que é usado tanto para ferramenta de recuperação, ensinando novas atividades aos alunos, quanto para plantio dos alimentos comercializados.

De acordo com Victor Leão, psicólogo logo do tratamento. Além disso, ele conta e um dos fundadores do Giseda, apesar que a abordagem aos usuários é complicada, de diversas dificuldades já enfrentadas os pois a maioria não quer deixar seus hábitos. voluntários estão motivados a continu- Há, por exemplo, um grande desprezo pela ar, pois acreditam que é sempre possível obediência às regras e horários da ONG. dar a volta por cima. “Por mais difícil que “Contamos com o auxílio de psicólogos seja trabalhar nesta e nutricionistas voárea, é recompensaluntários, também dor quando consigo com empresas que fazer a diferença na nos possibilitam vida de alguém. Para oferecer terapia mim é o senso da ocupacional, mas contribuição para acima de tudo nosqual nasci, uma sa filosofia é baseada espécie de missão em Deus que veio de vida. Continuo para resgatar o que afirmando nas pase havia perdido”, lestras, em escolas disse Victor. e empresas, que por O programa de mais profundo que reabilitação na coVictor Leão seja o poço, semmunidade desenvolFundador do Giseda pre haverá uma vido no Giseda tem saída para quem duração mínima de q u e r s a i r d e l e” , d e c l a ro u . 12 meses e é dividido em quatro fases. Na Victor relata que os principais problemas primeira fase é trabalhada a motivação, enfrentados são o preconceito da sociedade, onde o acolhido deve aceitar a transforo pouco incentivo financeiro e a falta de mação. A segunda fase é o treinamento de motivação para os que buscam e desistem uma nova forma de vida e aplicação destes

“Continuo afirmando: por mais profundo que seja o poço, sempre haverá uma saída para quem quer sair dele”

ACERVO / GISEDA

conceitos nas práticas diárias. Após isso, é ensinada a importância da convivência com outras pessoas, o desenvolvimento de atitudes saudáveis e o enfrentamento das dificuldades. Na quarta e última fase da reabilitação é avaliado se o interno alcançou estabilidade emocional, social, espiritual, obtendo a necessária independência para retornar ao convívio da sociedade. A instituição conta com a ajuda de voluntários, entre eles dependentes já recuperados. Diogo Souza dos Santos, de 32 anos, é um exemplo disso. Ele conta que começou a ser dependente químico aos 12 anos, usava crack, cocaína, cola, álcool e cigarros. Na busca constante em alimentar o vício chegou a correr risco de vida diversas vezes e teve sua família destruída. Após muita luta para livrar-se da dependência e sem encontrar alternativas resolveu buscar ajuda. Souza é montador e motorista e trabalha há cinco anos no Giseda palestrando sobre as drogas pelas quais um dia já foi escravizado. Ele acredita ser melhor para falar com os internos por ter passado pela mesma situação. Para o futuro espera fazer mais pessoas reconhecerem que nem tudo está perdido e há recuperação para a dependência química. “Dediquei minha vida, meu tempo, trabalhando nesta instituição, porque há solução”, declarou.

Drogas: um problema mundial O uso de drogas é um problema que afeta a todos, diretamente ou indiretamente. Segundo dados divulgados no Relatório Mundial sobre Drogas da Organização das Nações Unidas em 2014, cerca de 5% da população mundial entre 15 e 64 anos, o que corresponde a uma média de 243 milhões de pessoas, usam drogas ilícitas. Na América Latina, a violência e o crime organizado, associados ao tráfico de drogas, são alguns dos problemas mais graves enfrentados pelos países. Um levantamento da Secretaria Nacional Antidrogas, do Ministério da Justiça, revelou que 32% dos universitários da região sul já usaram maconha em algum momento da vida. Trata-se de um dado muito preocupante, pois especialistas acreditam ser porta de entrada para outras substâncias.

Grupo de alunos do Giseda reunidos no sítio da organização para compartilhar suas trajetórias de vida UNISINOS | NOVEMBRO 2016 | SÃO LEOPOLDO

19


ADOÇÃO

Entidade sofre para manter animais Associação Amigo Bicho de Canela há 10 anos passa por desafios e necessidades diariamente para manter os cães que estão sob sua guarda Darciane Moreira

L

ocalizada a 6 km do Centro da cidade de Canela, a Associação Amigo Bicho, sofre com a falta de envolvimento da comunidade e do Poder Executivo, sendo mantida basicamente por voluntários. São grandes as despesas com aluguel e manutenção do sítio onde estão os cães. “Materiais como telhas, madeira, cerca, são sempre necessários, pois eles destroem o espaço onde estão, mordendo, arranhando” explica Valdeci Oliveira, caseiro do sítio e cuidador dos cães. No dia 26 de setembro de 2016 a Amigo Bicho completou dez anos de fundação. No início, a associação abrigava cães e gatos, porém, há mais de três anos, o “gatil” foi extinto por falta de estrutura física e amparo médico. “Com exceção da exclusão do gatil, nunca houve regressão. Mas a evolução no aspecto de melhoria, infelizmente é devagar e pouca. E o número de animais que chegam ao abrigo é sempre maior do que aqueles que foram adotados” conta Maicon Miglioranza, empresário varejista e secretário da Associação Amigo Bicho. Por semana, cerca de oito cães são recolhidos. A maioria maltratada. Porém, há semanas em que nenhum cão, nem mesmo filhotes quando estão disponíveis, são adotados. E por isso, frequentemente a Associação acaba organizando feiras de adoções para tentar atrair a atenção da comu-

“A castração é a forma mais rápida e eficaz para terminar com o abandono e aumento da população dos animais de rua” Débora Lopes Voluntária nidade para a realidade dos animais e para a importância de adotar e cuidar adequadamente de um animal abandonado. São nos eventos que a maioria das rações usadas para alimentar os cães são arrecadadas. Ainda há empresas e pessoas físicas que colaboram espontaneamente com valores mensais. Isso tem permitido o pagamento do aluguel e dois funcionários. Cerca de 140kg de ração são consumidos ao dia. Além disso, são distribuídas cuidadosamente, cerca de 10Kg de rações conforme prescrição médica veterinária, para filhotes, e as destinadas a dietas especiais para cães idosos ou com problemas de saúde. Instituída como personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucra-

tivos, a Amigo Bicho está passando por um processo de adaptação burocrática para se transformar em ONG (organização não governamental), de direito público. Isso possibilitará o acesso a verbas destinadas a organizações não governamentais, ampliando o auxílio aos animais que estão sob sua guarda. Desde sua fundação, a Associação procura conscientizar as pessoas sobre a importância de castrarem seus animais de estimação. “A castração é a forma mais eficaz para terminar com o abandono e aumento da população dos animais de rua. Recolher os animais é uma situação extrema, ou seja, somente quando realmente é necessário é que retiramos o animal da rua e levamos para o sítio. Como por exemplo, se o animal é maltratado ou foi atropelado” explica Débora Lopes, arquiteta urbanista e voluntária da Associação Amigo Bicho. No canil cerca de 5% dos cães possuem alguma deficiência causada por maus tratos. “Temos um cachorro chamado Lula que foi adotado cinco ou seis vezes. Mas foi devolvido sob a alegação de que é muito temperamental ou porque estraga o pátio. As pessoas demoram a compreender que os animais podem levar muito tempo para se adaptar, ainda mais quando são velhos”, explica Kerolin, auxiliar veterinária e voluntária. “Por melhor que cuidemos dos cães, o ideal seria eles terem um lar, famílias que os adotassem”, fala emocionada Débora.

Como COLABORAR COM DOAÇÕES Além de ração, a Associação aceita doação de valores, para serem investidos em rações especiais e medicações que os animais devem receber. Aceitam também matérias de construção para fazer novos canis permitindo maior conforto e segurança aos cães, além de fazer manutenção dos espaços existentes. Porém, é possível fazer o “apadrinhento” dos animais. A voluntária Kerolin explica como funciona o apadrinhamento de um animal: “Se você tem vontade de ter um animal e por algum motivo não pode ter, através do apadrinhamento é possível ‘adotar’ um cachorro. É como se fosse da pessoa, mas ele fica na Associação, sob os nossos cuidados e junto com outros cães”. Exemplo de doação é o que o escocês Alistair Caclean faz há cerca de um ano. Alistair frequenta o sítio quase todos os sábados apenas para passear com os animais. “Os cães maiores principalmente têm tendência a serem estressados, pois eles precisam ser mais ativos e ficam muito parados dentro dos canis. São esses geralmente que priorizo na hora de levar para um passeio” conta Alistair. A Associação Amigo Bicho está localizada à Estrada Linha Caçador, nº 1500, Bairro Tiririca, em Canela/RS. Interessados em doar ou adotar, podem entrar em contato através do telefone 54 9657.3361, pelo email canelaamigobicho@gmail.com, ou ainda pela página do facebook: facebook.com/amigo.decanela.

FOTOS Darciane Moreira

Lula foi adotado várias vezes e devolvido a Associação por ser “temperamental” 20

Nos canis da Amigo Bicho há vários tipos de cães esperando que alguém os adote UNISINOS | NOVEMBRO 2016 | SÃO LEOPOLDO


SOLIDARIEDADE

Há sempre um cão precisando de carinho Um ato de amor que além de trazer muitas alegrias gera grandes responsabilidades Bruna Flach

Bruna Flach

O

abandono de animais cada vez é mais frequente no Brasil, tanto que em uma pesquisa feita pela OMS (Organização Mundial da saúde) revelou isso. Em maio de 2015 a OMS constatou que o Brasil possui aproximadamente 30 milhões de animais vivendo nas ruas, sendo que 20 milhões são cães. Em Porto Alegre são 500 mil cachorros que não possuem lar de acordo com a Secretaria Especial dos Direitos Animais (SEDA). “As pessoas hesitam na hora de adotar, seja por questões financeiras, por características dos animais, até a falta de tempo para cuidar. Zelar pelos animais não é coisa fácil, eles merecem carinho e atenção, e muitas pessoas não sabem dessa real importância”, declarou Paola Rodrigues, 25, Protetora dos animais. Ana Luiza Matos, 19, adotou há um ano uma cachorrinha que havia sido maltratada por seu antigo dono. A jovem conta que quando o adotou, o animal estava muito frágil, magro e amedrontado, só depois de um período se adaptou. Ana Luiza ainda disse: “No início nunca pensei que amaria tanto um cão adotado, mas foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, ver a felicidade dele ao receber amor é algo inexplicável”. Susana Franco, 54, faz parte da ONG média um é adotado. “Às vezes são adotados Bichinhos Carentes, que ajuda os animais dois, três, mas tem dias que não adotam desde 2005, ressaltou que adotar é um ato nenhum. É triste isso” concluiu. de carinho, gera responsabilidade e de certa Além do canil municipal que recebe forma nos faz pessoas melhores. Ela ainda o auxilio da prefeitura da cidade, existem fala que é fácil não querer mais um cãozinho atualmente diversas ONGs que dedicam e passar a responsabilidade para o outro, seu tempo à causa animal sem nenhum auabandonando-o. “O xílio de órgãos públianimal vai fazer buracos. Nina Haywood, co no pátio, vai roer 28, que faz parte da o chinelo, vai fazer ONG P.A.T.A desbagunça, mas apenas tacou alguns problefará se não o edumas relacionados ao carmos.” Declarou. comportamento e O abandono e ao recolhimento dos maus-tratos aos anianimais encontrados mais é crime, e pode na rua. “Apresentam ser denunciada sedeformações pelos gundo Art. 32, da acidentes ou até mesSusana Franco lei federal n°.9.605 mo pelos maus trade 1998 podendo Membro da ONG Bichinhos Carentes tos, são verminados e ser punido com três desnutridos, quando meses até um ano de cadeia ou multa. O são recolhidos apresentam um comportacódigo penal prevê o crime de abandono de mento agressivo, ficam trêmulos devido animais para aqueles que deixarem animais aos diversos traumas que possuem.” em propriedade alheia sem consentimento, Muitas pessoas que adotam, exigem cae também àqueles que maltratarem. racterísticas específicas, querendo um animal Suzana disse que o número de cães es- de vitrine, para marketing pessoal, e não por perando por adoção é grande. Só na Bichi- amor com o novo mascote. Declara Vera Gonnhos Carentes mais de 100 cães esperam ser zales, 37, voluntaria nos projetos animais. Ela adotados, e a cada feira de adoção que fazem ainda acrescenta que nas ruas existem muitos na praça 9 de maio, em Estância Velha, em animais sem raça definida, largados a própria

Feira de adoção incentiva o ato de carinho e ensina a dar valor aos animais

“É fácil não querer mais um cãozinho e passar a responsabilidade para o outro, abandonando-o”

UNISINOS | NOVEMBRO 2016 | SÃO LEOPOLDO

sorte, muitos doentes, mas todos eles merecem ser tratados com amor e respeito. Como modo de prevenção foi criado o modelo de adoção responsável, que serve de auxilio junto com a lei contra os maus-tratos animais. A adoção responsável é um contrato no qual o responsável pela adoção se responsabiliza pelos cuidados ao animal, declarando estar ciente de que não pode abandonar e maltratar.

Ao escolher adotar um animal, e não comprar - pois a venda é um ato de exploração - você também estará contribuindo para diminuir a superpopulação e consequentemente os maus-tratos. Isso que destacam as autoridades responsáveis pelo controle de animais. A adoção de animais também colabora e incentiva as pessoas responsáveis por esses atos de bondade, que não recebem nada em troca. 21


ALERTA

Morte de ator destaca perigos de rios Acidentes em ambientes de água doce tornam o Brasil o terceiro país no mundo e o primeiro na América do Sul em mortes causadas por afogamentos Luiza Machado

Henrique Bergmann

N

o último dia 15 de setembro, o Brasil recebeu a notícia da morte do ator Domingos Montagner, causada por afogamento no Rio São Francisco, no Sergipe. Domingos estava de folga das gravações da novela Velho Chico, da Rede Globo, quando decidiu tomar um banho no rio que dá nome a novela. Em um dos mergulhos o ator não conseguiu voltar à superfície, ficando preso em pedras a 30 metros de profundidade. Além de causar comoção nacional, a morte de Domingos serviu para destacar sobre os perigos que locais de água doce proporcionam para as pessoas que aproveitam esses locais para banho ou pescarias. Muitas vezes mais perigosos do que os ocorridos nos mares, os acidentes em rios são menos divulgados em relação aos que ocorrem nas praias das cidades litorâneas brasileiras. Pois a maioria dos rios é localizada nas cidades interioranas do Brasil. Segundo dados de 2013 fornecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), foram calculados 6030 casos de afogamentos em águas naturais no Brasil. Fazendo com seja o terceiro país com mais episódios de afogamento em águas naturais no mundo, ficando atrás apenas do Japão e da Rússia. Mas colocando-se em primeiro colocado na América do Sul. Das 17 mortes por afogamentos que acontecem diariamente no Brasil, Segundo números fornecidos pela Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa), 75% dos acidentes ocorrem em ambientes de água doce. Enquanto 15% em praias oceânicas, 8,5% em águas não naturais, como piscinas, e 1,5% durante transporte com embarcações. A Sobrasa funciona como um conselho dos profissionais atuantes na área do salvamento aquático, os conhecidos salva-vidas. Estima-se, com base nos dados da Sobrasa, que são gastos 6 bilhões e 300 milhões de reais com acidentes de afogamentos, divididos em custos diretos e indiretos: atendimento pré-hospitalar, gastos com o Sistema Único de Saúde (SUS) ou o Sistema de Saúde Suplementar (SSS) são custos diretos. Estimativa de perda de produtividade associada à internação ou recuperação alta hospitalar e gastos dos familiares com enterro, translado e tempos dos familiares envolvidos nos casos de óbito são considerados custos indiretos. As informações da Sobrasa e da OMS apontam as regiões Sudeste e Nordeste como as com maior número de casos no ano de 2013, com 1917 e 1829, respectivamente. Regiões banhadas principalmente pelo Rio 22

Rio São Francisco, local das gravações da novela Velho Chico e do acidente com Domingos Montagner São Francisco e o Rio Paraná. A região sul aparece nesse ranking como a segunda com menos episódios, com 846 afogamentos registrados, banhado especialmente também pelo Rio Paraná e pelo Rio Uruguai.

Salva-vidas cobrem 5% de área no Brasil Mas qual seria a explicação para esses tipos de acidentes acontecerem em sua grande maioria nos ambientes de água doce ao invés dos de água salgada? Umas das respostas é o pequeno número de salvavidas atuando no país. Ainda segundo dados da Sobrasa, esses profissionais conseguem cobrir apenas 5% das áreas com águas naturais do Brasil, se concentrando em locais turísticos e mais frequentados, como as praias localizadas no litoral. Deixando outros lugares, como os rios, lagos e lagoas, sem nenhum tipo de segurança. O Rio Grande do Sul é um exemplo disso, na sua Operação Golfinho. Segundo a Brigada Militar, na edição de 2016 a operação contou com 1103 salva-vidas divi-

didos em 329 guaritas, sendo que 71 delas que podem causar esses acidentes”. estavam localizadas nos lugares de água doce Conforme Silva, os efeitos que a água das cidades interioranas do estado. doce causa em nosso organismo são difeMesmo o Brasil sendo, segundo a Orga- rentes dos efeitos causados pelos mares: nização de Alimento e Agricultura das Na- “Uma diferença é o que cada água, salções Unidas (FAO), gada ou doce, causa o país que possui a no nosso organismo.” maior parte de água Segundo ele, a água doce existente no doce tem mais sememundo, tendo 12% lhanças com o sando total de água do gue do que a salgaplaneta. Além de ter da. Quando entra na um litoral com 7.367 corrente sanguínea mil km de extensão. com maior facilidade Outra razão para torna o afogamento essas ocorrências semais rápido. riam as características O biólogo ainfísicas e geográficas da lembra como a diferentes da água falta de sinalização Organização Mundial de Saúde doce e dos seus locais faz com que esse para a água salgada. É número de casos o que o biólogo Ferde afogamento aunando Silva explica: “Processos de correntes mente. E concorda que a pequena quanou correnteza, desconhecimento dos leitos tidade de salva-vidas no Brasil tamde rios, bem como o que pode estar em bém contribui para esses dados. baixo da água estão entre os fatores iniciais

Brasil registrou 6030 casos de afogamentos em 2013, sendo que 75% deles ocorreram em locais de água doce

UNISINOS | NOVEMBRO 2016 | SÃO LEOPOLDO


UNISINOS | NOVEMBRO 2016

SÃO LEOPOLDO/RS | EDIÇÃO 26

ENSAIO Uma viagem de histórias no Padre Cacique

B

asta você entrar e perceber que a alegria prevalece no prédio com mais de 100 anos de histórias para contar. Apenas alguns passos foram suficientes para que meu dia fosse contemplado com muitos sorrisos e olhares curiosos. Localizado em Porto Alegre, atualmente há mais de 150 moradores vivendo aos cuidados de voluntários dedicados a proporcionar bem estar e carinho para estas pessoas que, em 80% dos casos, não possui laço familiar algum. Fundado no final do século XIIII pelo padre baiano Joaquim Cacique de Barros, o asilo sempre foi uma instituição não governamental que se mantém através de doações, ajuda financeira de famílias e até da aposentadoria dos próprios idosos. A estrutura é constituída de quartos individuais, banheiros amplos, piscina, refeitório, sala de jogos, contando também com um cinema que - juntando com todos sorrisos e o jardim cheio de flores - harmonizam o lugar historicamente rico. Os dias de visitas são em quartas, sábados e domingos, das 13h às 17h. Luana Farias (Texto e fotos)


UNISINOS | NOVEMBRO 2016

SÃO LEOPOLDO/RS | EDIÇÃO 26

ENSAIO Uma viagem de histórias no Padre Cacique

B

asta você entrar e perceber que a alegria prevalece no prédio com mais de 100 anos de histórias para contar. Apenas alguns passos foram suficientes para que meu dia fosse contemplado com muitos sorrisos e olhares curiosos. Localizado em Porto Alegre, atualmente há mais de 150 moradores vivendo aos cuidados de voluntários dedicados a proporcionar bem estar e carinho para estas pessoas que, em 80% dos casos, não possui laço familiar algum. Fundado no final do século XIIII pelo padre baiano Joaquim Cacique de Barros, o asilo sempre foi uma instituição não governamental que se mantém através de doações, ajuda financeira de famílias e até da aposentadoria dos próprios idosos. A estrutura é constituída de quartos individuais, banheiros amplos, piscina, refeitório, sala de jogos, contando também com um cinema que - juntando com todos sorrisos e o jardim cheio de flores - harmonizam o lugar historicamente rico. Os dias de visitas são em quartas, sábados e domingos, das 13h às 17h. Luana Farias (Texto e fotos)


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.