Jornal JÁ Porto Alegre - Julho/2017

Page 1

d e

2 0 1 7

desde 1985

PrÊmio

ARI 2016

Foto: Ricardo Stricher/Jornal JÁ

j u L h O

Jornalismo Impresso

1º Lugar

porto alegre

reportagem Geral

O xis vegano que conquistou a praça

Página central

w w w . j o r n a l j a . c o m . b r

Imagens: Reprodução

EXTINÇÃO De Fundações

Procurador renova pedido de suspensão O procurador-geral do Ministério Público de Contas, Geraldo Da Camino, renovou o pedido para suspender o processo de extinção das fundações estaduais. O anúncio foi feito diante de mais de 500 pessoas em audiência pública, no dia 10, na Assembleia Legislativa do RS. A medida cautelar pedida ao Tribunal de Contas do Estado visa impedir que o secretário de Planejamento, Governança e Gestão, Carlos Búrigo, continue agindo no sentido de fechar as instituições, até que o TCE se pronuncie sobre o assunto. Em março e abril, Da Camino pediu duas vezes ao Governo do Estado as justificativas para as extinções. Como a resposta do Executivo Estadual não chegou, o MPC entrou com a primeira cautelar, em maio. O Governo Sartori respondeu junho, mas na avaliação do procurador do MPC, as explicações foram insuficientes. Especialmente em relação à suposta economia que as extinções trariam para o Estado. A medida abrange a Fundação Piratini, Fundação para o Desenvolvimento de Recursos Humanos, Fundação Zoobotânica, Fundação de Economia e Estatí�stica, Metroplan e Cientec. Foto: Marcelo Bertani/Agência ALRS

Geraldo da Camino, procurador do MPC

Ao alto, a situação atual, ao lado com o novo bloco, abaixo, a fachada da avenida. José Bonifácio

HPS busca parceria para construir anexo

A

Secretaria Municipal de Saúde já tem um estudo preliminar para a construção de um novo anexo ao Hospital de Pronto Socorro, o principal hospital de emergência da região metropolitana de Porto Alegre. O diretor geral do HPS, Amarí�lio Macedo, confirmou ao JÁ� que o prefeito Nelson Marchezan deu sinal verde para que o projeto, que estava parado, seja retomado. Segundo Macedo, duas reuniões já foram feitas, uma delas com repre-

sentantes das diversas secretarias envolvidas na questão, outra com o secretário da Saúde, Erno Harzheim, e o prefeito Marchezan. Foi apresentado um croqui com estudo básico de volumetria para construir um novo anexo nos fundos do prédio atual. Os seis imóveis do local já foram desapropriados há mais de cinco anos pela prefeitura. Dois ainda estão ocupados, os demais estão fechados, em más condições. A pergunta de Marchezan foi: “Vai

t v e e f m c u lt u r a

ter dinheiro da iniciativa privada, não é?” Sim, está previsto um prédio de sete pavimentos, que seriam ocupados em parte por instalações do hospital. Dois andares, e quem sabe um sub-solo, seriam destinados a investimentos privados – garagem, mini-shopping, consultórios. Ainda não há um orçamento, nem um cronograma, mas a Secretaria de Parcerias estratégicas já trata do Página 7 assunto.

Mudanças na programação criam clima tenso

Página 6


2

porto alegre

O prefeito Marchezan está certo quando reage à tentativa de seus adversários de cercear suas manifestações pelas redes sociais. Mas ele erra quando diz “dou entrevista para quem eu quero”. E erra crassamente quando faz no Facebook comentários a partir de boatos. Quando age assim, o prefeito está confundindo a pessoa, Nelson Marchezan Júnior, com a autoridade, o prefeito eleito pela população de Porto Alegre. Como Júnior, ele tem todo o direito de falar ou de ouvir quem quiser. Inclusive tem direito de dizer leviandades diante de um celular e jogar nas redes sociais. Como prefeito, ele é um homem público. Ele tem que falar, mas também tem que ouvir, em especial os que o elegeram. E, principalmente, tem que responder. E ele não está fazendo nenhuma concessão, nenhuma condescendência quando fala para um jornalista, seja do Sul 21, seja do JÁ, seja da Zero Hora. Em relação ao JÁ, inclusive, o prefeito está em dívida. Ele ainda não atendeu o nosso pedido de entrevista.

Demolidas duas casas listadas Dois imóveis que estavam listados para entrar no inventário do bairro Petrópolis foram ao chão. Nos terrenos da rua Farias Santos, 220 e 234, só restaram os escombros. A demolição das casas para a construção de um empreendimento da Colla Construções ocorreu graças a uma liminar concedida pela 22ª Câmara Cí�vel do Tribunal de Justiça do RS. É� a primeira vez que uma decisão judicial libera imóveis para modificações desde o iní�cio do inventário foi iniciado em 2014. A preservação do patrimônio arquitetônico divide opiniões no bairro. Para o advogado da construtora, Daniel Ni-

Açorianos

ainda vai entrar com ação indenizatória contra o Municí�pio para cobrir o prejuí�zo com o atraso do empreendimento. Apesar das restrições e possí�veis prejuí�zos econômicos, um grupo de moradores é a favor do inventário. Clivia Morato, proprietária de uma das casas listadas, diz: “Temos interesse em manter a história do bairro, sua paisagem. O bairro já foi bem destruí�do e esse inventário atinge menos de 4% das moradias.” Bairro residencial, de um tempo em que a classe média ascendente sonhava em viver em casas no centro de amplos terrenos ajardinados, Petrópolis é um dos maiores potenciais construtivos de Porto Alegre.

Casas foram demolidas num fim de semana

chele, que também é conselheiro do Plano Diretor, o desmanche das casas foi uma vitória dos proprietários. “Todo o processo foi mal construí�do pela Prefeitura. Não houve comunicação prévia, simplesmente colocaram 400

imóveis na lista.” As duas casas foram adquiridas em 2013, com investimento superior a R$ 3 milhões. De acordo com Nichele, pelo menos mais cinco proprietários possuem ações semelhantes na Justiça. A construtora

Obras retomadas após 6 meses A reforma do Largo dos Açorianos foi retomada. A nova previsão de conclusão é o iní�cio de 2018. O Municí�pio havia suspendido o pagamento à Elmo Eletro Montagens, que parou a obra. O contrato assinado em outubro de 2016 previa a entrega em julho deste ano. A duração prevista é de nove meses, pelo cronograma deve levar mais sete meses. O restauro do Largo dos Açorianos foi orçado em R$ 4,8 milhões. Os recursos são do Fundo Pró-Defesa do Meio Ambiente de Porto Alegre (Fumproamb).

Matheus Chaparini/Jornal JÁ

Calma, Júnior

inventário de Petrópolis

Jornal JÁ

Nota do Editor

JULHO de 2017

Expediente

Lanceiros ganham tempo

O Jornal Já Porto Alegre é uma publicação da Jornal Já Editora

Vinte dias depois de desalojados, os sem teto da Ocupação os Lanceiros Negros tomaram o prédio de um hotel na rua dos Andradas, vazio desde 2015. No local, estão 150 famí�lias. Mas por pouco tempo: a proprietária, Hotel Açores, já conseguiu na Justiça a reintegração de posse do imóvel.

Reportagem: Cleber Dioni Tentardini, Felipe Uhr, Higino Barros, Matheus Chaparini, Patrícia Marini, Tiago Baltz e Walmaro Paz Fotografia: Arquivo Jornal JÁ, Matheus Chaparini, Ricardo Stricher, CMPA, PMPA Edição de arte: CF Design de Comunicação

distribuição gratuita

Desde porto alegre

Redação: Av. Borges de Medeiros, 915, conj. 203, Centro Histórico CEP 90020-025 - PoA/RS Edição fechada às 18h do dia 14 de julho de 2017

3ª edição do Vive Petrópolis

O endereço certo para saborear

seu café desde 1998.

Venha degustar nossa seleção especial de cafés, acompanhado de um delicioso doce ou salgado. Espaço de cultura, saúde e lazer. Segunda à domingo das 9h às 21h Av. José Bonifácio, 731 | (51) 3331-1646 /coletaneapubcafe

Divulgação

Cinema na Caixa d’água Será no domingo, 30 de julho, às 11h, na praça Mafalda Verí�ssimo, a exibição de um documentário inédito sobre o bairro, realizado por alunos da Museologia da UFRGS.

ARTE

Barbearia

Contatos:

(51) 3330-7272

www.jornalja.com.br

jornaljaeditora@gmail.com

jornaljanaweb

jornal_ja

b o m  f i m

lancheria do parque

BOM

Desde 1966

1985

FIM

Desde 1982

Av. Venâncio Aíres, 1071

(51) 3332-4301

Osvaldo Aranha, 1086 - Fone 3311.8321


3

porto alegre

JULHO de 2017

“O futuro é a integração com o Clínicas”

O

cirurgião Amarí�lio Macedo era estudante de medicina quando conheceu o HPS. Estava no quinto ano na UFRGS e foi aprovado como “interno bolsista” para um ano de estágio. “Foi o primeiro dinheiro que ganhei na profissão”. Depois, como residente do Hospital de Clí�nicas, tirou muitos plantões no Pronto Socorro. Em 1995 entrou como médico contratado, condição em que permaneceu até fevereiro deste ano, quando assumiu o cargo de diretor geral. Qual é o futuro de um hospital como o HPS? Em abril, fui com um grupo de médicos gaúchos aos Estados Unidos numa viagem organizada pela Fiergs e o Badesul. Meu interesse era o Centro de Trauma do Hospital Ben Taub, de Houston, dirigido pelo professor Kenneth Mattox, autor da obra mais atual no campo da traumatologia, um dos organizadores do sistema americano. O Ben Taub é um hospital municipal, mas está ligado a uma rede de centros universitários. Esse é o futuro.

E como estamos em relação ao que se faz lá? Em salas de chegada, estamos muito parecidos, a diferença é o sistema de informações e comunicação bastante avançado e, claro, a tecnologia. A diferença é que eles são ricos... Pois é, mas tem uma coisa importante que eles tem lá e que resulta de uma diferença cultural: são as doações. Nas paredes dos hospitais se vê muitas placas com nomes de pessoas que fazem doa-

Divulgação/PMPA

Amarílio Macedo, diretor geral do hps

“Posso dizer que não sou um novato”, brinca ele. Não é, tampouco, um gestor inexperiente: presidiu por oito anos o Hospital de Clí�nicas de Porto Alegre, uma referência nacional como hospital escola, dez vezes maior do que o HPS. A principal marca do seu mandato é o anexo em construção, que vai ampliar em 40% a capacidade do Hospital de Clí�nicas. Ele concedeu esta entrevista ao JÁ� em sua sala, no quinto andar do prédio anexo do HPS.

ções, alguns deixam fortunas, para o hospital, aqui isso é raro. Nós queremos instituir, estimular isso. Há uma semana já colocamos a primeira placa em homenagem ao deputado Carlos Gomes. Em 2013, quando ainda era deputado estadual, ele destinou R$ 2 milhões ao HPS. Parte dos equipamentos da radiologia foram comprados com esse dinheiro. Estamos vendo como ampliar isso.

E a integração com o Clínicas? Esse é um projeto complexo e muito delicado. A discussão vem de longe. Lembro que há mais de cinco anos se falava disso lá no Clí�nicas. O menor obstáculo é a interligação fí�sica entre os serviços. Com a ampliação do Clí�nicas, a emergência vai ficar a 80 metros do HPS. Mesmo assim teria que ser feito um túnel ou uma linha de aeromóvel. E o maior obstáculo? O maior desafio é de ordem polí�tico-burocrática. Embora sejam dois hospitais públicos, o Clí�nicas é federal, uma em-

presa pública que emprega pelo regime da CLT. O HPS é municipal, com funcionários públicos municipais, pelo regime previdenciário. Não é fácil integrar essas duas realidades. Mas o futuro é esse.

Qual é o caminho? Um caminho seria federalizar o HPS, para incorporá-lo ao Clí�nicas. A grande vantagem é que a folha de salários iria para o governo federal. Claro, os servidores não querem, não querem perder o regime previdenciário. Mas não precisa mexer no direito adquirido, faz daqui pra frente. Em 20 anos está todo o mundo igual. A faculdade católica de medicina foi federalizada... Em que estágio está essa ideia? O secretário Erno Harzheim (da Saúde) me deu carta branca para pensar isso. É� complicadí�ssimo, por enquanto estou na fase de imaginar. Até comprei o livrinho do Sartre, L`Imagination.

ARTE

Qual a vantagem da integração? Quase 50% dos que chegam

Amarílio quer parceiros privados para retomar o projeto de construção do anexo

aqui e abrem um boletim não são casos para o HPS. É� um verdadeiro festival de ciladas. Só que o hospital paga caro por esses desvios de função. É� dinheiro, é trabalho que poderia ser aplicado para melhorar os serviços na sua atividade fim, que é o trauma, os casos agudos.

Havia um projeto de expansão física... Esse é outro desafio, o espaço. O prédio original, construí�do há 75 anos, há 20 anos ganhou um anexo de sete andares. Agora está no limite da área disponí�vel. Já foram desapropriados seis imóveis vizinhos. Estamos trabalhando num estudo preliminar para a construção de novo anexo.

O que seria esse novo anexo? Seria um prédio de sete andares, que absorveria toda a parte assistencial, as enfermarias, CTIs, bloco cirúrgico. O predio velho ficaria para a parte administrativa, salas de aula e

ARTE

Av. Venâncio Aires nº 876 Bom Fim - Porto Alegre Fone 51-3332 0063 Av. Sarmento Leite nº 811 Cidade Baixa - Porto Alegre Fone 51-3221 9390

www.bardobeto.com.br bardobeto@terra.com.br

não mexeria na recepção, naquilo que é primeiro mundo.

Em que fase está esse projeto? Já tivemos duas reuniões, uma com o secretário Erno e o prefeito e outra com diretores e secretários de outras áreas. Qual foi a reação do prefeito? A reação do prefeito foi com uma pergunta: “Vai ter dinheiro de iniciativa privada, né?

E vai ter? Sim, a gente imagina uma parceria privada... No novo bloco , terá espaço nos andares inferiores para explorar comercialmente, com garagens, um mini-shopping no térreo, algo que atraia o investidor privado. Em 25 a 30 anos está pago. Por enquanto, então é um plano? Está na fase de concepção, por enquanto só há um estudo de volumetria, também já tive contato com o Bruno Vanuzzi, das Parcerias Estratégicas, estamos trocando informações.

Av. Jerônimo de Ornelas, 349 TELENTREGA

3232.9778 Rua José do Patrocínio, 649

3226.0226 CiadasEmpadas

AGORA COm • preenchimento facial, o ácido da beleza • toxina botolínica • escleroterapia, secagem de vasos

AGENDE umA AVALiAçãO GRATuiTA Dra Mariane de Vargas Quadri

fone: 51 99291.4238

Cartão fidelidade Com parCelamento em até 10 vezes s/juros


4 Fotos: Ricardo Stricher/Jornal JÁ

Praça Marquesa de Sevigné, no entroncamento das ruas Coronel Genuíno, Fernando Machado e Lima e Silva, divisa entre a Cidade Baixa e o Centro Histórico

A

pracinha está encravada na fronteira entre o Centro Histórico e a Cidade Baixa, cercada por um colégio e duas faculdades, alguns bares e restaurantes. Mas não foram estas caracterí�sticas que fizeram dela um ponto de encontro confirmado de Porto Alegre. A Selene incluiu em seu cardápio o xis vegano. Foi aí� que a praça bombou. Há cerca de dois anos, o movimento naquele canto da cidade, que já era crescente, explodiu. De terça a sábado, o movimento noturno

Praça-musa

Através da janela do seu apartamento, o cartunista Uberti fez um livro. “Graça na Praça” foi lançado em 2010 pela L&PM. Durante dois anos, Uberti fez um desenho semanal. O cenário, sempre a antiga praça do triângulo. Pela janela, viu a época da praça mal cuidada e pouco habitada, a reforma e a chegada do movimento. Morador há mais de 30 anos, Uberti tem até uma miniatura do chafariz em sua casa, dentre suas centenas de miniaturas de carros, aviões, trens, armas. Devaneando com o olhar janela afora, imaginou uma cena e desenhou: um piá fantasiado de Batman em cima do chafariz ameaça pular, para diversão dos colegas e desespero da mãe.

Bicicleta, futebol e xis vegano Dois públicos distintos se misturam e criam o novo cenário da praça Marquesa de Sevigné é certo naquele trecho entre a esquina das ruas Fernando Machado e Marechal Floriano e a praça Marquesa de Sevigné. Ou, no roteiro de quem vem do Centro,

do salgado vegano do Dona Laura até um litrão na praça ou uma saideira a raros e honestos seis pilas no tradicional Grand’s Bar. No sentido inverso, pode-se começar

com um xis vegano no MM e encerrar com uma cerveja na calçada no mercadinho. Durante o dia, o cenário ganha mais um atrativo, a trilha sonora da Power Discos,

uma pequena loja de vinis, sempre com porta aberta e boa música. Basicamente dois públicos circulam por ali. No meio da quadra, o Brechó do Futebol foi o pioneiro de uma série de empreendimentos – bar com arquibancada, café, champanharia, almondegaria. Ali se concentra um público interessado no futebol, reduto tricolor. Bebe-se cerveja artesanal. Nas pontas, a confeitaria Dona Laura e o MM Lanches reúnem outra gurizada e os postes e grades se enchem de bicicletas.

Praça do Triângulo

Já com o livro pronto em mãos, viu a cena se concretizar no cenário da praça. Apareceu um guri com a tal da fantasia de super herói correndo em torno da fonte. Porém, no episódio da vida real, o menino foi impedido pelo pai quando tentava subir o primeiro patamar do chafariz. O desenho do episódio é este que ilustra esta matéria.

Uberti lançou livro de desenhos da praça

Aquele pequeno pedaço de terra em formato triangular, delimitado pela rua da Figueira - atual Coronel Genuí�no, rua do Arvoredo - Fernando Machado, e rua da Olaria - Lima e Silva, virou praça há 140 anos. Em 1887, o vereador Leopoldo Masson propôs à Câmara Municipal destinar verba para o ajardinamento. Como contrapartida, os

A praça é o novo ponto de encontro dos jovens da região

moradores deveriam providenciar a instalação de um chafariz. A fonte, que substituiu um bebedouro para cavalos, é a mesma até hoje. Dois anos depois, um abaixo-assinado pedia um nome, que custou a vir. Em um mapa de 1949, ela aparece como Praça do Triângulo. Em 1966, vem o nome oficial: Praça Marquesa de Sévigné.


porto alegre

JULHO de 2017

ARTE

Praça do Xis

Selene Telles Bueno é peça-chave na transformação daquele ambiente. Mudou-se para uma casa junto à praça há dez anos e abriu uma carrocinha de cachorro quente junto ao chafariz. O dog não era exatamente um sucesso de vendas. O xis entrou no cardápio, mas também não salvou a lavoura. Até que um rapaz chamado Matheus, morador da casa do estudante da UFRGS, deu o toque: xis vegano “Eu nem sabia o que que era vegano!”, conta Selene. “O Matheus começou a vir todos os dias e ler trechos de livros sobre veganismo.” Aprendeu fazendo. Começou com um hambúrguer de soja, hoje são 19 variedades. Abóbora é o campeão de vendas, beterraba, a novidade, pinhão, o próximo desafio. Funcionando das onze e meia às onze e meia, o MM é um negócio familiar que garante o sustento de dez pessoas. As

Anuncie no

Y OGA adaptada para TERCEIRA IDADE

Selene criou o hamburguer sem carne e foi sucesso total

opções de carne continuam no cardápio, mas representam não mais do que 10% das vendas. Uma reforma realizada em 2012 também contribuiu para mudar os ares da praça.

Felipe vende espetinho de carne no point dos veganos

Rua do Futebol A ideia começou quando Carlos Caloghero, que vendia camisetas antigas de futebol em casa e pela internet, precisou se mudar para um local maior. Em junho de 2010 nasceu o Brechó de Futebol, juntando loja e bar. Na quadra pouco movimentada, os vizinhos eram uma papelaria e uma lan house que abria de vez em quando. O movimento cresceu, o brechó expandiu e ganhou novos vizinhos. Atualmente, eles ocupam quatro imóveis com um bar, loja e café, e não veem os outros comércios como concorrência, mas uma parceria, onde a clientela de um acaba respingando no estabelecimento do outro.

“Era uma praça morta, suja, cheia de cocô. Tu te sentia mal de estar aqui às sete da noite. À� s oito, tu era assaltado certo.” Do outro lado da praça, um churrasquinho. E carne assada vende no meio desse povo que não come bicho morto? O Felipe garante que sim. “Só ponta de filé, carne boa.” Felipe Garcia é metalúrgico, trabalhou em grandes indústrias, “mas aí� a crise, né...” Há um ano ele começou um negócio, com apoio da vizinha Selene. No primeiro mês, vendia não mais que meia dúzia em uma noite inteira. Com uma clientela fiel, hoje ele afirma que cumpre a meta de cinquenta espetinhos em pouco mais de três horas.

5

3330 7272

porto alegre

MeDitação VeDanta Workshops

www.dayanandayogacenter.com.br

ARTE

Bom Fim: rua Felipe Camarão, 736 - sala 501

(51) 99332-7401

Zona Sul: ipanema

dayanandayogacenter@yahoo.com.br

2 x 10,5 cm

Cliente:(51) Dayananda Yoga Center 3225.5789 / (51) 98402.6118 Formato(s): 2 x 10,5 Rua da República, 429cm | esquina José do Patrocínio Cidade Baixa | email: botekorepublica@gmail.com Dropbox\Diagramacao\Jornal JÁ\2-publicidade\ \Março 2016 Caminho:

2 x 5 cm

Cliente: Boteko República Inserção: maio, junho, julho, agosto, setembro e outub Formato(s): 2 x 5 cm Caminho: Dropbox\Diagramacao\Jornal JÁ Porto Alegre\2-publicidade Em dia de jogo, a calçada vira arquibancada na Fernando Machado

A ligação do Brechó com o Grêmio vem da gênese. Os três sócios - Caloghero e os Andrés, Damiani e Zimmermann - se conheceram bebendo nos bares do entorno do estádio Olí�mpico. No iní�cio do negócio, a maior parte do público era de amigos gremistas. Com o tempo a clien-

tela diversificou. “Se tem jogo bom passando, enche de gente. Não é um bar do Grêmio”, explica Zimmermann. Nas paredes cobertas de imagens, camisetas e mantas de clubes do mundo todo, inclusive flâmula do tí�tulo mundial do Inter e fotos de alguns heróis colorados.


6

porto alegre

JULHO de 2017

fundação piratini

“Tem sentido botar dinheiro público em rádio para elite?” Desde janeiro na presidência da Fundação Piratini, Orestes de Andrade Junior vem fazendo alterações nas programações da rádio FM Cultura e da TVE

Divulgação/TVE

Por que foram feitas mudanças na programação das emissoras? Fiz um levantamento e o departamento jurí�dico informou sobre um problema sério e histórico, que são os desvios de funções. Há mais de 500 ações trabalhistas. Os concursos realizados em 1991 e 2014 foram um tanto equivocados, não preencheram alguns cargos necessários. Nas pontas - a técnica e os apresentadores - temos poucos servidores.

Quantos concursados podem apresentar programas? A Fundação Piratini só tem um apresentador concursado, o Domí�cio Grillo, que apresenta o Radar. Deveria ter mais de uma dezena, porque tem duas dezenas de programas. Mas optamos por trazer três, que possam fazer rádio e tevê. E por que a opção de começar a rádio ao vivo às 7h da manhã, sem servidores? É� uma aposta nossa de programação. A gente acha que às 7 horas já aconteceu

Orestes quer aumentar a audiência e ampliar o público das emissoras

muita coisa, tem que trazer informações. O básico: trânsito, tempo, principais manchetes. E, pela lei, os servidores podem trabalhar apenas depois das 8h.

O Conselho Deliberativo foi consultado sobre as alterações? Nos estatutos da Fundação e do Conselho não consta que os conselheiros precisam ser ouvidos para criar uma nova programação.

As mudanças ocorreram especificamente para acabar com os desvios de funções ou há outras razões? Sim. Tem um segundo motivo. A rádio tem uma das menores audiências da Região Metropolitana, menos audiência do que rádios que nem pegam direito em Porto Alegre, como a da Unisinos. E com ouvintes nas classes mais altas. Cerca de 80% dos ouvintes estão nas classes A e B, e a metade tem mais de 50 anos. Faço uma rádio com dinheiro público, dos gaúchos, para uma elite.

Qual é a fórmula para tornar viáveis a TVE e a FM Cultura? Temos uma receita muito pequena. O custo da Fundação Piratini é de R$ 36,9 milhões por ano e a captação não chega a R$ 1 milhão. Em São Paulo, metade dos recursos da Fundação Padre Anchieta são da iniciativa privada. Isso é um modelo, mas para captar tem que ter audiência.

E com a extinção da Fundação, como ficam as emissoras? A outorga da rádio e da TV ficam no guarda-chuva da Secretaria de Comunicação. Os servidores dizem que não existe rádio e TV pública sem servidores. Em São Paulo a rádio e a TV não têm concursados. Contamos hoje com o apoio da Associação de Amigos da TVE e FM Cultura, que foi reativada ano passado. Assim conseguimos R$ 270 mil em investimentos. Essas parcerias devem ser incrementadas no futuro. Está prevista mudança de sede, sair aqui no morro? Tudo aqui é da EBC. A gente tem um contrato de permuta por programas. Com a extinção teria que ser revisto.

A extinção da Fundação Piratini está autorizada desde dezembro. Ainda não foi efetivada devido a contestações na Justiça. Dos 247 servidores, cerca de 100, admitidos antes de 1988, possuem estabilidade e ficariam à disposição do governo do Estado. Os demais perderiam a estabilidade e o emprego. Enquanto o futuro dos servidores não é decidido, a direção elabora a transição para um novo modelo pretendido pelo governo Sartori. Em abril começaram mudanças na TVE. Agora, a FM Cultura inaugura uma nova era, com

mudança na direção e programação. O Cantos do Sul da Terra e o Sessão Jazz são os únicos programas que seguem com mesmo horário e mesmos apresentadores. Foram anunciados três novos integrantes. O radialista e músico Paulo Inchauspe, ex-Pop Rock, é o novo diretor da FM Cultura. Renato Martins, ex-Band, apresentará os programas Café Cultura, da rádio, e Frente a Frente, da TV. O terceiro é o apresentador Cristiano Sassá, que no passado já apresentou o Radar, na TVE. O novo modelo mexe com ânimos no alto do Morro Santa Teresa. Há uma ten-

Matheus Chaparini/Jornal JÁ

Mudanças na TVE e na FM Cultura criam clima tenso

Movimento de servidores critica mudanças e falta de diálogo

são entre a direção e os funcionários. O repórter Eduardo Osório argumenta que as mudanças não foram construí�das. “Foram três reuniões em 10 dias, onde lutamos para manter algumas coisas,

como o Conversa de Botequim, que perdeu o Henrique Fonseca na apresentação. O Cultura na Mesa continua, mas Lena Kurtz não poderá mais fazer entrevistas. O Estação Cultura foi ao ar pela última vez”, lamenta.

Para um grupo identificado como Movimento dos Servidores em Defesa da TVE e FM Cultura, as alterações nas grades são uma retaliação contra a denúncia feita pelo Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão de que o próprio presidente da Fundação e outros contratados em cargos de confiança, os CCs, estariam desempenhando atividades irregularmente nos estúdios. Os servidores ainda questionam a opinião do presidente sobre a rádio. “Como ele sabe que é elitista, sem estudo? Não assinamos o Ibope, não há pesquisa.”


A

ssim que acabar o recesso, no iní�cio de agosto, os vereadores de Porto Alegre vão decidir sobre um projeto que restringe a possibilidade da constrrução de novas ciclovias na cidade. De autoria do vereador João Carlos Nedel (PP), o PLC (Projeto de Lei Complementar) O21/14 prevê que implantação de ciclovias só podem ocorrer se não forem retiradas faixas para a circulação de carros ou para estacionamento dos mesmos. “Não pode diminuir a pista de rolamento” comentou o parlamentar. O vereador propõe ainda uma revisão do Plano, finalizado em 2009, que prevê mais 400 km de ciclovia na capital gaúcha, hoje com pouco mais de 40 km. Para ele a ciclovia não pode ser uma alternativa de transporte e sim usada para o apoio, ligação aos meios de transporte. Nedel argumenta que o comércio sofre prejuí�zos onde há ciclovias. “Estão matando o pequeno comerciante”, afirma. Pablo Weiss, integrante da Associação de Ciclistas de Porto Alegre contrapõe o projeto e critica o vereador: “está querendo minar

Foto: Ederson Nunes / CMPA

“Não pode diminuir a pista de rolamento“, defende Nedel

a construção das ciclovias”. Weiss argumenta que o código nacional de trânsito prioriza a bicicleta, o que não é feito em Porto Alegre, e que o projeto representa um retrocesso, já que o uso da bicicleta é uma tendência mundial. Pablo também rechaça a justificativa de que as ciclovias estão matando o comércio. Segundo ele, em Nova York, o comércio teve um incremento de 35% onde há ciclovias. O Projeto já está na ordem do dia na Câmara de Vereadores, apto a ser votado. O recesso da Câmara termina dia primeiro de agosto.

Reportagens do JÁ são tema de congresso nacional de jornalistas A série de reportagens Dossiê Cais Mauá, produzida pelo JÁ� ao longo de 2016, foi pauta no congresso nacional da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). A jornalista Naira Hofmeister apresentou o trabalho no evento realizado em São Paulo entre 29 de junho e 1º de julho. Financiado pelos leitores via crowdfunding, o Dossiê permitiu uma cobertura aprofundada sobre a transformação prevista para área do cais. Entre reportagens sobre os mais diversos temas, Naira destacou o interesse crescente, por parte de jornalistas e público, por reportagens sobre o uso do espaço urbano. “A gente acha que é uma coisa local, mas é um assunto que tem uma transcendência. Isso que hoje a gente chama de direito à cidade. É� importante se manter um olhar atento, uma vigilância.

Arquivo pessoal

Restrições a ciclovias na pauta da Câmara Dos 400 km previstos no Plano, Porto Alegre só fez 40

7

porto alegre

JULHO de 2017

Naira Hofmeister, repórter do Dossiê

E poder desenvolver isso com uma profundidade, como o JÁ� propõe, trazendo questões históricas, que podem jogar luz ao momento atual.” Foram apresentados no congresso outros trabalhos sobre projetos de reforma de áreas portuárias, como o do Cais Estelita no Recife e o Porto Maravilha no Rio de Janeiro. Do Rio Grande do Sul, também foi apresentado no congresso o Grupo de Investigação (GDI) criado pelo grupo RBS em 2016. O repórter Carlos Wagner foi homenageado no evento.


8

“A

Agapan é um milagre constante!”. Assim, em tom entusiasmado, o presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, Francisco Milanez, eleito no final de junho, define a entidade. É� a quinta vez que Milanez, arquiteto, biólogo e doutorando em Quí�mica da Vida e Saúde (UFRGS), assume o cargo. Após 45 anos de militância na Agapan, sua prioridade de gestão será ganhar a guerra de informação, travada nas redes sociais contra os inimigos da causa ambiental. Vencida por enquanto, segundo ele, pelos agressores ao meio ambiente. “A Agapan está sempre se renovando, através de seus colaboradores, associados e simpatizantes. É� essa massa crí�tica que nos dá sustentação. Compramos brigas

JULHO de 2017

Foto: Edi Fonseca/Agapan

Milanez defende combate a informações falsas na internet

porto alegre

A partir da esquerda: Heverton, Adriane, Francisco, Leonardo, Miriam, Roberto, Simone e Alfredo

Nova direção da Agapan

Vencer a guerra da informação na web sérias e vencemos contra grupos muito poderosos internacionais. Mas nos últimos dez anos fomos ficando para trás, já que demoramos um pouco a entrar no mundo digital, onde houve uma grande disseminação de sites falsos e organizações criadas para distorcer os fatos.”

Para Milanez, uma forma de assegurar uma atuação mais pro ativa da entidade é ampliar as parcerias com as instituições de ensino. “Tanto o corpo docente como o discente são nossos interlocutores prioritários. E não é só na área ambiental, mas em setores como a

Filosofia, as Artes, havendo campos transdisciplinares de atuação.” Segundo ele, há dois movimentos paralelos na sociedade atual. Um de maior consciência com a necessidade de preservação ao meio ambiente e o outro de ataque a essa posição. A eleição de Donald Trump,

nos Estados Unidos, financiado pelas indústrias bélica e de petróleo, é um sinal que a luta para os defensores da natureza enfrenta adversários poderosos. De qualquer maneira, a causa ambiental sempre foi assim. De grande interesse e grandes grupos financeiros contra um punhado de idealistas e sonhadores, com os pés no chão. Aqui no Estado, por exemplo, o governador Sartori foi recentemente ao Japão oferecer vantagens para atuação de multinacionais da indústria carboní�fera. Desprezando a exploração da energia eólica, onde já temos experiência e um dos parques mais bem-sucedidos do Brasil e a solar, que se tornou novamente competitiva. São coisas assim, inexplicáveis, que movem a lógica dos governantes. Mas vamos continuar atentos, crí�ticos e ativos contra essa lógica de gestão que beneficia os interesses econômicos em detrimento do meio ambiente”, conclui Francisco Milanez.

A VALORIZAÇÃO DA CULTURA DE UM POVO CHEIO DE TRADIÇÃO Patrocinado pela CMPC Celulose Riograndense, o projeto Fábrica de Gaiteiros, criado pelo músico Renato Borghetti, é voltado à educação musical com a gaita de oito baixos. Com sede na Barra do Ribeiro, local onde as gaitas são produzidas, o projeto está presente nas cidades de Guaíba, Barra do Ribeiro, Porto Alegre, Tapes, Butiá, São Gabriel e Bagé e conta com a participação de mais de 300 crianças e adolescentes. Acesse celuloseriograndense. com. br e conheça outros projetos.

PROJETO:

PATROCÍNIO:


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.