No Entanto - 81ª Edição

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Edição 81 - Dezembro de 2017

Jornal-Laboratório Universidade Federal do Espírito Santo

Dois anos após Mariana, a Vale se envolve em novo escândalo ambiental Mulheres marcham contra a violência PÁG14 Foto: Reprodução / Folha de S. Paulo

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Ufes adota novo método de validação da autodeclaração etnicorracial PÁG4 Motoristas de aplicativo falam sobre as dificuldades no dia-a-dia PÁG3 Estudantes buscam saídas para a pressão acadêmica PÁG10

Grupo de estudos da Ufes é responsável por projeto que pretende retomar a rearborização do campus de Goiabeiras PÁG16

Esportes pouco comuns no Brasil ganham cada vez mais espaço no Espírito Santo

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Editorial No Entanto Jornal Laboratorial produzido pelos alunos do 3º período de Comunicação Social - Jornalismo da Ufes para a matéria Laboratório de Jornalismo Impresso Equipe Antonio Eduardo Nogueira, Álvaro Guaresqui, Carla Bianca Nigro, Felipe Khoury, Giovanni Werneck, Giulia dos Reis, Heitor Mielke, Isabella de Paula, José Renato Campos, Kelly Mesquita, Klayton de Melo, Lavynia Lorenção, Ludiana Zucolotto, Lydia Lourenço, Marcela Lovatti, Marcos Paulo Federici, Marcus Vinícius de Souza, Maria Clara Stecca, Maria Fernanda Conti, Marina Coutinho, Matheus Souza e Vitor Pinheiro.

Editores Klayton de Melo, Lavynia Lorenção, Marcela Lovatti e Marcus Vinícius de Souza.

Na 81ª edição do No Entanto, a publicação continua a trazer matérias utilizando diferentes perspectivas, polêmicas e publicações descontraídas, envolvendo tanto o ambiente universitário como fora dele. Agora, nosso jornal se propõe a gerar debate e promover reflexões acerca dos assuntos relacionados aos movimentos sociais, além de algumas questões ambientais. É abordado também curiosidades sobre novas teorias que permeiam a sociedade, e matérias relacionadas com à nossa universidade. Nas matérias em destaque, discutiremos as polêmicas envolvendo a corporação Samarco/Vale sobre as tragédias ambientais que ocupam a realidade da empresa e também os discursos sobre a resistência negra dentro da Universidade e as mobilizações no combate à violência contra a mulher. Ainda nesta edição, mostraremos os desafios encontrados por atletas de esportes não-convencionais e como atividades extras podem aliviar o estresse dos estudantes universitários. Ademais, será discutido sobre as condições de trabalho dos motoristas de UBER, as curiosidades relacionadas com o revisionismo histórico, e também a prática de agricultura urbana. Apesar dos atrasos e as dificuldades encontradas para falar sobre temas polêmicos, o No Entanto se propõe a trazer novos vieses para assuntos diversificados, com o compromisso de não apenas produzir informação, mas contestar diferentes ângulos da notícia. A turma.

Diagramação Álvaro Guaresqui, Giovanni Werneck, Kelly Mesquita, Lavynia Lorenção e Matheus Souza Logo Gabriel Moraes Professor orientador Rafael Bellan

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No Entanto Edição 81 - Dezembro de 2017 política

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Senado aprova lei que regulamenta o trabalho de motoristas de uber Serviço divide opiniões em relação às condições de trabalho dono do veículo e instalar um kit gás no seu carro, realmente dá dinheiro, mas tem que rodar muito”. “A relação entre motoristas e cliente é ótima, no tempo em que trabalhei, conquistei muitos. Porém, para mim não valia a pena continuar com o trabalho porque meu carro era alugado”, afirma. Já o também ex-motorista do aplicativo Uber e funcionário público, Ramon Lopes, não vê a profissão da mesma forma. Ramon afirma que não gostou da experiência, pelo ponto de vista financeiro e principalmente pela questão de segurança. “Não vale a pena! Eu tive um faturamento e, dentro deste faturamento, 50% é só de combustível. Com Foto: Vitor Pinheiro a gasolina cara e a falta de segurança não vale a pena. Meu pneu furou na favela e tive uma arma apontada Heitor Mielke, na cabeça, no final das contas ainda fiquei com um Marcus Vinícius de Souza e Vitor Pinheiro saldo negativo com o Uber” desabafa. Segundo ele, a nova lei não mudará em nada as condições de trao dia 31 de outubro, o Senado aprovou com al- balho. terações, por 46 votos a favor, 10 contrários e A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), que vouma abstenção, a lei que regulamenta os aplica- tou a favor do projeto, disse que a intenção do partido tivos de transportes individuais de passageiros (PLC não é extinguir o Uber, mas somente a regulamenta28/2017), como Uber, 99 e Cabify. A lei cria estatutos ção do serviço para proteção dos direitos dos trabae exige que as organizações responsáveis tenham mais lhadores e usuários. responsabilidades em relação aos seus trabalhadores. Desde a chegada desse tipo de serviço no Brasil, no Saiba o que foi aprovado: dia 15 de maio de 2014, em São Paulo, houve muita I - Cobrança de tributos municipais para os mopolêmica, tanto por parte dos usuários como por parte toristas; dos trabalhadores, conflito entre taxistas e motoristas II — Contratação de seguro de Acidentes Pessode Uber, e protestos contra e a favor aos aplicativos. ais aos Passageiros (APP) e DPVAT; Além disso, há discussões sobre as condições de traIII — O motorista agora vai ter que contribuir com o INSS, e deve possuir Carteira Nacional de Habibalho dos motoristas, que arcam com todos os custos litação na categoria B ou superior; do carro, incluindo gasolina, manutenção e possíveis II — Conduzir veículo que atenda aos requisitos de danos ao veículo. Em contrapartida, a empresa não idade máxima; tem nenhuma responsabilidade nem vínculo empreIII — Possuir e portar autorização específica emitigatício com seus prestadores de serviço da pelo poder público municipal ou do Distrito Federal do local da prestação do serviço autorizado; O auxiliar Administrativo, e ex- Uber, Gabriel RoIV — Emitir e manter o Certificado de Registro e veta enxerga o aplicativo com bons olhos e ressalta Licenciamento de Veículo (CRLV) no Município da que com certo esforço é possível levar o serviço no prestação do serviço, obrigatoriamente em seu aplicativo como única profissão, apesar de não dirigir nome, como proprietário, com registro e emplapara o uber desde setembro desse ano. camento do veículo na categoria aluguel. “Se o motorista realmente tiver disposição, ser

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Estudantes negros resistem à cultura racista no ambiente universitário Foto: Maria Clara Stecca

Alunos que apoiavam suspeitos de fraude nas cotas raciais se voltaram contra estudantes negros que denunciavam os casos Giulia dos Reis, Lydia Lourenço e Maria Clara Stecca

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os últimos meses, alunos de Ciências Sociais da Ufes foram vítimas de piadas racistas por parte de colegas do curso. Os casos de preconceito foram motivados pelo apoio de estudantes a uma ingressante à universidade por meio de fraude na cota racial. A estudante de Ciências Sociais e voluntária do programa “Afro-diáspora” Tamyres Batista afirma que os casos de preconceito racial são constantes na universidade, mas esses episódios ganharam relevância por terem ocorrido após a detecção de uma aluna que ocupava ilegalmente um lugar destinado à reserva de vagas. Após denúncias por partes de estudantes negros do curso, a jovem relata que inúmeros perfis como o “Racistinha Fazendeiro” foram criados no Twitter fazendo piadas discriminatórias e amea-

ças aos alunos que denunciaram a fraude. Devido à amplitude do episódio, o departamento de Ciências Sociais emitiu uma nota de repúdio a tais ações e se posicionou em apoio às vítimas do racismo. Tamyres entende que não exista uma solução única para erradicar tais práticas institucionalizadas “Acho que o primeiro passo seria a universidade se assumir como racista, como uma instituição branca, para assim poder redimensionar políticas de ações afirmativas através da escuta dos problemas dos estudantes negros e possibilitar suas permanências na instituição”, enfatiza. O campus ainda reflete práticas de preconceito existentes em nossa sociedade. Para a estudante de arquivologia, Victória Helena Aguiar, o preconceito racial é um assunto delicado por muitas pessoas se recusarem a assumir sua existência e discuti-lo. “Quem diz que não existe racismo no Brasil,

com certeza absoluta não é preto, e se tratando dos casos discriminatórios por parte dos professores, a Ufes simplesmente se cala e finge que nada acontece”, denúncia. Na Ufes, o sistema de cotas raciais está em vigor desde 2012, sendo que a medida de ingresso por meio dessa categoria era inicialmente a autodeclaração do candidato. Entretanto, esse método abria brechas para fraudes e em 2016, após inúmeras denúncias do Coletivo Negrada ao MPF-ES, a universidade tem repensando novas medidas de seleção. Em 2017 foi criada uma comissão de validação das auto declarações dos candidatos no momento da matrícula, porém, com os recentes casos de fraude, a Ufes adotará no próximo ano uma nova forma de confirmação. No ano de 2018 será exigido foto do candidato anexo ao documento de autodeclaração que deverá ser entregue no período de pré-matrícula e, em


No Entanto Edição 81 - Dezembro de 2017 sociedade

Gênero, Cultura e União Apesar do preconceito atingir a homens e mulheres, a figura feminina ainda é a mais vulnerável, pois inclui duas minorias: a cor e o gênero. Para Victória, ser uma mulher negra dentro de uma universidade é um privilégio, considerando que muitas mulheres negras não têm oportunidade de acesso ao ensino superior, apesar disso a mulher negra continua sendo invi-

Foto: Lydia Lourenço

casos suspeitos, os candidatos serão convocados para entrevistas com a comissão. Apesar dos problemas com alunos que ocupam indevidamente vagas destinadas aos candidatos negros, pardos e indígenas, a reserva de vagas contribuiu para que muitos indivíduos dessas minorias sociais tivessem acesso ao ensino superior. Além de visar a diminuição da desigualdade no acesso à educação provocada pelo racismo, essa medida que reforça a ideia de identidade, ajuda no reconhecimento do indivíduo acerca de sua etnia e cor. De 2012 a 2016, o número de brasileiros que se autodeclaram pretos aumentou em 14,9 % segundo dados divulgados no último dia 24 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em 2016, 8,2 % da população se considerou preta. Assim como o número de autodeclaração, o contingente de pretos e pardos nas universidades também subiu. O percentual de estudantes negros no ensino superior é de 45,5%, no entanto, boa parte dessa população se encontra em instituições privadas. Em 2014 o Ministério da Educação verificou que em 2013, 52 % dos beneficiários do Prouni eram negros, sendo que dessa taxa, 62,2% correspondiam a mulheres negras.

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sível, sem voz e representação. “Todo dia uma luta de resistência diferente em estar dentro de um ambiente composto majoritariamente por homens brancos que ainda insistem em tomar decisões por mim e querem impor o que é melhor, sem ter a minha vivência”, relata. A jovem complementa que uma das formas de resistir é através da aceitação de suas raízes e da beleza negra, que é conquistada através das práticas culturais. Por essa razão, no dia 29 de novembro foi ofertada pelo Centro Acadêmico do Serviço Social, uma oficina de tranças tradicionais. Apesar da promoção da cultura ser uma forma de resistir ao preconceito racial, tais práticas não são suficientes para afirmar a identidade negra dentro das instituições pública. O passo mais importante é fazer com que as pessoas se conscientizem e aceitem sua cor e condição social. A fim de unir diversos co-

letivos e entidades da negritude, está se formando uma Frente Negra na instituição, que muitos estudantes membros desses grupos enxergam como uma esperança de fortalecer o movimento e conseguir melhores condições de permanência na universidade. O Programa Universidade para Todos (ProUni) oferece bolsas de estudo integrais e parciais em instituições particulares de ensino. As integrais são para estudantes com renda bruta familiar, por pessoa, de até um salário mínimo e meio. As bolsas parciais são para candidatos com renda bruta familiar igual ou inferior a três salários mínimos por pessoa. Desde que foi criado, o ProUni formou 400 mil estudantes e ofertou 1,27 milhão de bolsas, sendo 635 mil destinadas aos negros. No ano de 2014,7,6% dos estudantes do ensino superior da rede pública era de pessoas que ganhavam até R$192 em média per capita.


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Revisionismo histórico: teorias que afirmam que a Terra pode ser plana

Discussões sobre o terraplanismo questionam a veracidade de fatos históricos Maria Fernanda Conti e Marina Coutinho

provação da tese que defendem, sob uma abordagem filosófica e magine o planeta Terra no formato com instrumentos do cientificismo. de um disco achatado e, ao seu re- A visão dos terraplanistas dor, uma “manta” que é defendida como o Sistema Solar. Pode parecer “Após ser questionado difícil, contudo o movimento do ter- por um amigo, comecei a raplanismo propõe este questiona- me perguntar se o que ele mento e procura explicar, de outra dizia realmente era mamaneira, a formação do nosso Uni- luquice. Mas vi que não verso. Defendem, assim, a ideia de era bem assim”, afirma um globo terrestre achatado e com o Ralph Clarence, administraformato diferente daquele circulado dor de um fórum virtual chamado pelas agências espaciais. “Terra Plana para Terraplanistas”. Através da facilitação dos meios Segundo ele, várias explicações são de comunicação de massa, pela in- erradas e passadas para a sociedade ternet e também por algumas redes como uma verdade absoluta. “Para sociais, eles se encontram e promo- compreender a Terra plana você vem discussões para buscar com- não pode se limitar na explicação

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da ciência, mas sim em fatores observáveis”. Para os defensores dessa ideia, a comprovação é devido ao fato do horizonte (de acordo com nossos sentidos visuais) sempre estar ao nível dos olhos, independente da altitude. E, ao observar o céu, temos a visão singela de uma curvatura em cima desse campo então tido como plano. Outro exemplo citado foi o eclipse lunar que ocorreu no dia 21 de agosto desse ano: conforme eles, o caminho percorrido pelo planeta no eclipse total não faz sentido, se for levado em consideração a rotação terrestre.


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O heliocentrismo, teoria de que o Sol está no centro do Sistema Solar e que os planetas giram em torno dele, também é questionado. A existência do espaço sideral e até mesmo da gravidade são contrariados, segundo os terraplanistas, a gravidade não existe e é substituída pela densidade dos corpos. Argumentos contrários através da observação Em oposição ao que defendem os terraplanistas, Josué Nunes, estudante de Publicidade e Propaganda, diz que não acredita na teoria. “Hoje, grande parte do desenvolvimento humano que temos se dá pelo fato de que o acesso a informação se tornou algo mais fácil”. E critica: “A quantidade de cabeças pensando sobre um problema facilita a sua resolução - mas também

propicia a criação de muitos outros, como é o caso da Terra Plana”. Frente às teorias científicas documentadas, não são poucas as evidências de que a Terra é esférica. Como exemplo mais famoso, hipoteticamente pega-se um veleiro grande no alto mar: quando se afasta do porto até desaparecer, é possível ver o casco da embarcação sumir primeiro, e só depois o mastro e as velas. Isso indica que ele está se deslocando pela curvatura do planeta, e não apenas sofrendo interferência da distância. Também existem alguns locais na Terra, segundo os cientistas, em que é possível observar a distância da cidade mais próxima através de uma curvatura. Tal fenômeno não aconteceria se o planeta fosse, de fato, plano. “É incrível como o ser humano sente a necessidade de encontrar uma verdade escondida. Com certeza à

OUTRAS TEORIAS DO REVISIONISMO HISTÓRICO

HOLOCAUSTO Depois da Segunda Guerra Mundial, encontraram-se evidências concretas e claras do genocídio dos judeus; mas, mesmo após o fim da guerra, sistematicamente alguns alemães (historiadores ou não) negavam a existência das câmaras de gás e das práticas de perseguição. Tentaram também contar de forma diferente a história do Holocausto com uma ideologia em defesa da Alemanha. Este é um tipo particular de revisionismo, chamado Negacionismo Histórico - ou seja, negação

de uma verdade mais consensual historicamente construída. “DITA BRANDA” Segundo essa teoria, a Ditadura Militar brasileira não teria sido tão traumática quanto as experiências ditatoriais em outros países da América Latina e do mundo. É um exemplo citado pelo historiador e professor Julio Bentivoglio, em que defende a contradição do argumento diante de tantas evidências sociais e cotidianas das torturas vivenciadas na época.

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frente teremos outras teorias conspiratórias e muitas pessoas que acreditam nelas”, conclui Josué. A revisão do passado Esse movimento é apenas um dos casos de uma gama de reinterpretações de fatos históricos e científicos que passam por um processo de revisão. Ao olhar sobre o passado através de perspectivas diferentes, conseguimos ter narrativas distintas que enfatizam certos acontecimentos, e com isso, obtemos discursos que mostram lados diferentes da mesma história. De acordo com o professor e historiador Julio Bentivoglio, a história é reescrita constantemente, e ao perceber o passado com novos olhares torna-se comum e natural rever algumas verdades. Segundo ele, “a história não tem uma versão ou uma narrativa única. Temos diferentes olhares, que analisam, estudam, com perspectivas contrárias sobre o que é o passado”. Em relação ao terraplanismo, o historiador afirma que por mais que essas interpretações sejam tidas como uma forma de ignorância, elas parecem atender à uma certa lógica e intenção. “Precisamos pensar que na circulação dessas informações e desinformações, há uma crença e que de algum modo elas têm uma origem e um fundamento”, pondera. Júlio defende que pode-se tirar uma grande lição do revisionismo. “Devemos ter um comprometimento ético com a História, para construir uma harmonia entre os seres humanos e para que nos faça compreender o que tornamos historicamente”, afirma. Diz também que, para combater os revisionismos “sem pé nem cabeça”, é necessário o investimento em ensino escolar, junto de uma valorização dos professores de História.


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Vale: até onde vai a impunidade?

Foto: Leonardo Merçon - Reprodução / TV Ufes.

Desastres ambientais ainda são uma característica atribuída a uma das maiores empresas de mineração de ferro do mundo Giovanni Werneck, Isabella de Paula, Lavynia Lorenção e Matheus de Souza

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o dia 1º de dezembro outro desastre ambiental envolvendo a empresa Vale ganhou forma em Praia Mole, terminal entre Vitória e Serra. Menos de um mês após o rompimento da barragem de Mariana/MG, envolvendo a Samarco/Vale, completar dois anos, um vazamento de grandes proporções de minério de ferro da empresa atingiu o mar. A tragédia ambiental que aconteceu em 5 de novembro de 2015 na cidade de Mariana, em Minas Gerais ocorreu devido ao rompimento de uma estrutura, da barragem de Fundão, que levou lama cheia de rejeito de minério da Samarco ao Rio Doce. A grande quantidade de

lama percorreu cerca de 663km até chegar ao município de Regência/ ES. No total, 19 pessoas morreram no acontecimento. Dois anos após o ocorrido a população dos locais próximos às margens do rio ainda sofrem com as consequências. Pescadores que tinham o rio como forma de sustento, hoje enxergam-se sem perspectivas de vida enfrentando obstáculos como o alcoolismo, o vício e a depressão. Não há conhecimento total sobre a gravidade do impacto ambiental causado, além disso partes dos rejeitos ainda são vistos flutuando e sendo carregados pelas águas, tornando-as, também, impróprias para consumo. Diante desse cenário trágico é estranho pensar que a mesma empresa responsável por causá-lo ainda envolva-se em outro caso parecido,

mesmo que de menores proporções. O Instituto de Meio Ambiente do Espírito Santo (IEMA) afirmou que a composição dos rejeitos que vazaram no mar de Praia Mole é similar à que estava presente na lama da barragem que rompeu em Mariana, como minério de ferro, calcário, bentonita, entre outros. Em nota, a Vale diz que o material é inofensivo e que liberar esses rejeitos no mar é uma ação prevista por órgão ambientais. O ambientalista presidente da ONG Juntos SOS ES Ambiental, Eraylton Moreschi Júnior, cobra do governo do Estado que a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), que já atua no primeiro desastre, participe da investigação desse novo. “E agora, o secretário estadual de Meio Ambiente, Aladim Cerqueira, vai liberar a nova Licença de Operação para a poluidora por


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mais dez anos ou vai cancelar a licença que está vencida há mais de uma década?”, questiona em entrevista ao site Século Diário, diante de “mais um crime da Vale”. De acordo com o Jornal Tempo Novo, da Serra, informações publicadas apontam que não é a primeira vez isso ocorre no município. Em outubro de 2014 houve a contaminação da lagoa Pau Brasil em Hélio Ferra, alcançando posteriormente a praia de Camburi através do córrego de mesmo nome. Na época, a Prefeitura da Serra multou a empresa em 4 milhões de reais, porém, o valor ainda não foi pago. Caso o inquérito policial solicitado pelo Ministério Federal do Espírito Santo (MPF/ES) for vigorado, o acontecido em Praia

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Foto: Divulgação / Vale.

Mole será caracterizado como crime ambiental. Ainda assim, fatos como esses, demonstram que a mineradora Vale, e suas empresas

agregadas, nada temem dos órgãos ambientais do Estado e que mais problemas ambientais serão relatados no futuro.

A mesma instituição que investiga é aquela que faz parcerias

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urante reunião sediada na própria universidade, o reitor da Ufes, Reinaldo Centoducatte, bem como o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, e o gerente-executivo de Tecnologia e Informação da Vale, Luiz Mello, assinaram o chamado Protocolo de Intenções no dia 05 de outubro. Esse protocolo visa estabelecer um Centro de Estudos Climáticos Avançados com infraestrutura no campus de Goiabeiras. Mediada pela FAPES (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo), o acordo prevê um grande fomento à área de Climatologia. Segundo José Antônio Buffon, diretor-presidente do FAPES em entrevista à Secretaria de Comunicação do Governo do Estado que, “a climatologia é uma das áreas mais proeminentes da fronteira científica na atualidade.

Estamos vivendo um processo preocupante de mudança climática, que impactará todas as dimensões da sociedade.” Buffon ressaltou que as mudanças climáticas estão afetando a agricultura e o gerenciamento costeiro no estado. Cada parceiro no projeto contribuirá com determinado recurso. A Ufes disponibilizará o espaço físico, a FAPES divulgará editais contemplando bolsas de estudo e a Vale investirá para trazer o engenheiro eletrônico e pesquisador Carlos Nobre, PhD pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology), para coordenar a implantação do Centro. O projeto terá início no primeiro semestre de 2018, e, no entanto, já divide a opinião de professores da universidade sobre sua natureza, sejam de frente contrária ou favorável. A pesquisadora Cristi-

na Losekann, coordenadora chefe do relatório dos impactos socioambientais após o rompimento da barragem de rejeitos em Mariana, MG, se posiciona contrária ao projeto. No primeiro semestre de 2017, a professora organizou uma exposição chamada “Delizes Monumentais e Sonhos Intranquilos” focada nas consequências do desastre de Mariana, seja para o meio ambiente, seja para a população; Porém, muitos dos que buscam a implantação do Centro de Estudos da Vale na Ufes também fizeram as análises dos impactos do desastre e serão financiados pela própria empresa. Dentre eles, o professor Alex Cardoso Bastos, que encabeçou o relatório parcial de análises na foz do Rio Doce. Procurado para explicitar a visível contradição, Bastos não retornou contato.


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Atividades extras melhoram desempenho universitário

Foto: Klayton de Melo

Com uma rotina exaustiva no ambiente da Universidade, estudantes se sentem cansados e desgastados mentalmente José Renato Campos, Klayton de Melo e Marcela Lovatti

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entrada na Universidade leva os estudantes a mudarem drasticamente a rotina com a qual estão acostumados. Esse ingresso pode influenciar seu comportamento a partir do momento em que ocorre uma sobrecarga de atividades no curso, privação de sono e, até mesmo, incertezas decorrentes da sua escolha profissional. Longe de casa e dos pais, os jovens que iniciam a faculdade com sentimento de vitória, liberdade e autossuficiência, precisam aprender a conviver também com frustrações e situações difíceis. Reprovação em disciplinas e perda

de colegas ou rompimento de relacionamentos, ocasionam alguns gatilhos emocionais que podem ser árduos de se controlar. A psicóloga Renata Gastmann Mendonça acredita que o estresse causado pela entrada na Universidade ocorre devido à exigências internas e externas. “Uma pressão do ambiente universitário pode configurar em um excesso de perfeccionismo, de fazer o melhor e de ser o melhor. A Universidade traz muitas responsabilidades diferentes do ensino médio”, aponta. Além do estresse, outras consequências podem ser desenvolvidas devido a tensão infringida sobre os estudantes ao embarcarem nesse novo cotidiano, como

conta a estudante do 4º período de publicidade e propaganda, Júlia Reis: “Toda essa pressão que a Universidade nos impõe, pode acabar fazendo com que os estudantes desenvolvam ansiedade, depressão, além de alguns problemas crônicos, como dor de cabeça e problemas de pele”, diz. Os primeiros momentos dentro da Universidade podem ser críticos porque é nessa fase de maior independência que o estilo de vida está sendo consolidado e novos comportamentos acabam sendo incorporados pelos estudantes. Para a professora de Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Sheilla Vilella, os estudantes acabam muito focados na rotina


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Foto: Raul Cristino

acadêmica e esquecem de tirar um tempo para si. “A rotina de estudos, as horas dedicadas aos trabalhos, projetos de extensão e pesquisas inerentes à graduação, podem contribuir para a exaustão física e mental dos universitários”, afirma. Atividades como sair com os amigos, praticar exercícios físicos ou até mesmo participar de alguns grupos dentro ou fora da Universidade, são formas de entreter e esquecer um pouco a pressão que a rotina acadêmica traz. Um exemplo é o de Júlia, que participa do Circo do Céu durante a semana. “Lá é o momento que eu tenho para liberar energia, distrair e relaxar. Consigo esquecer qualquer pressão, independente do dia ruim que eu possa ter tido”, conta. Outro estudante que participa de atividades extra-acadêmicas, porém, dentro da própria Universidade, é o aluno do 3° período de publicidade e propaganda Igor Oliveira, que faz parte do coral

da Ufes e acredita que qualquer atividade que te distraia da rotina acadêmica é importante. “Às vezes você está com a cabeça lotada e, no meu caso, quando chego no ensaio, consigo conversar com uma galera, cantar e extravasar. Consequentemente saio desse ambiente monopolizado que é a faculdade”, conclui. De acordo com Renata, é importante que os jovens reservem um tempo para relaxar, e não apenas pressionem a si mesmos. “Tendo em vista que o excesso de informações ou tarefas podem causar uma fadiga mental, é importante que eles descansem, até mesmo para aumentar a eficácia do aprendizado”, afirma. A profissional explica que ter um sono de qualidade é uma maneira de garantir descontração. E, portanto, as pessoas que não possuem esse descanso acabam tornando-se mais estressadas. Em Vitória existem praias e calçadões que permitem a prática re-

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gular de caminhadas ou de jogos esportivos. Além de, na própria Universidade Federal do Espírito Santo, serem oferecidas atividades gratuitas para a comunidade estudantil. Atlética de Comunicação Social (AAACS) - Ufes Desde o início dos cursos de Comunicação Social - Jornalismo e Publicidade e Propaganda -, não houve uma demanda grande para a criação de uma Atlética. Porém, no ano de 2017, um grupo de alunos se reuniu com a intenção de fundar essa agremiação e trazer para o curso uma nova possibilidade de descontração e participação entre os estudantes. Para o presidente da Atlética Robson Silva, essa agremiação é mais do que apenas uma maneira de levar os alunos a praticarem algum esporte. “A Atlética deve ser representativa para os estudantes. Nós queremos trazê-los para participar das questões do curso em si, não só as questões esportivas”. Ele ainda completa: “Nós podemos desenvolver projetos culturais que integrem as comunidades próximas da Universidade e, assim, incentivar a participação geral dos universitários em questões extra-acadêmicas”. Em relação à possibilidade de a Atlética ser uma forma de evitar o estresse dentro do curso, Robson acredita que ela pode fazer mais do que isso. “A Atlética não deve se limitar aos estudantes que já praticam esportes e usam-no como distração, ela deve trazer os estudantes que não tem esse contato e incentivar, por exemplo, um cuidado maior com a saúde desses indivíduos”, explica. A Atlética de Comunicação Social foi fundada oficialmente, em 17 de novembro, após votação que legitimou a Chapa Resiste AAACS, para o mandato de um ano.


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Baseball, Rugby e Futebol Americano ganham espaço no cenário esportivo Conheça as equipes do estado que praticam essas modalidades Álvaro Guaresqui, Felipe Khoury e Kelly Lacerda Foto: Divulgação

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ocê sabe o que é home run, touchdown e try? Não faz a menor ideia? Essas expressões são nomes de algumas pontuações do baseball, futebol americano e rugby, respectivamente, que, apesar de serem esportes praticados há algum tempo no Espírito Santo, ainda não são muito conhecidos pelos capixabas. Surgido nos Estados Unidos, o baseball chegou ao estado trazido pelos japoneses, e hoje conta com três times, o Vitória Baseball -, primeiro time capixaba, o Vitória Marlins e o Vitória Vikings, todos eles eles sediados em Vitória. Embora o esporte esteja presente no Espírito Santo há 29 anos, apenas em 2017 foi criada a primeira Liga Capixaba, o que atrasou em muito a participação dos times do estado nos principais eventos de destaque nacional. O Vitória Baseball, é bicampeão do Campeonato Brasileiro Amador de Baseball (2008 e 2016) e campeão do Campeonato Capixaba (2017). Já o Vitória Marlins é o vice-campeão do Campeonato Capixaba. O jogador do Vitória Marlins Hector Caliman Mejia espera que no próximo ano haja um aumento no número de participantes do esporte no Espírito Santo.“Estão vindo mais pessoas, elas estão mais interessadas. Eu espero que continue crescendo como cresceu bastante esse ano”, explica o atleta. Para quem quiser conhecer melhor o baseball, e até mesmo praticar, Hector faz um convite. “Quem tiver interesse pode vir, a gente recebe, a gente ensina do zero. Não precisa vir com conhecimen-

to, tem que vir com vontade”, enfatiza. Outra modalidade que tenta se firmar em terras capixabas é o futebol americano. Apesar do nome, futebol, ser muito familiar para os brasileiros, nesse jogo as regras são bem diferentes do futebol tradicional conhecido no país. No futebol americano a bola é oval e a maior parte das jogadas é realizada com as mãos, sendo restrita as jogadas com os pés. O Espírito Santo conta com dois times, o Tritões e o Espírito Santo Black Knights. O Tritões, a equipe mais antiga do estado, fundada em 2004 nas areias da Praia da Costa, coleciona títulos e conquistas, sendo a mais recente, o oitavo lugar na Superliga de Futebol Americano, em 2016. Formado por atletas da Grande Vitória, Colatina e Aracruz, o Espírito Santo Black Knights, é o caçula, tendo sido fundado a menos de dois anos e já estreou com o pé direito no, mês passado, contra a equipe mineira Brumadinho Templars. A vitória trouxe ânimo e confiança para a equipe, e segundo o diretor de Marketing do ES Black Knights, Emerson Tononi, o objetivo do time para o próximo ano é disputar a liga nacional. Apesar do crescimento dos times

masculinos de baseball e futebol americano, no Espírito Santo, ainda não há participação feminina expressiva nas modalidades. Entretanto, o jogador do Vitória Marlins, Julliano Barcellos, relata que mesmo sem time de baseball específico para a categoria feminina, existem jogadoras que treinam e até mesmo disputam campeonatos com os times masculinos. “É bem legal a raça delas em campo, a vontade de jogar é algo assim, que todo mundo comenta”, relata o jogador. O rugby, outro esporte nada convencional para os brasileiros, também está começando a conquistar os capixabas. O Vitória Rugby Club, conta com um time masculino, que já existe há dez anos, e outro feminino, criado há pelo ou menos oito. Por ser um jogo de contato e praticado com uma bola oval, o rugby, muitas vezes é confundido com o futebol americano, porém existem muitas diferenças entre os dois. No rugby, por exemplo, os passes com a mão, são permitidos apenas para os lados ou para trás, enquanto no futebol americano, são permitidos passes para frente desde que o jogador esteja atrás da linha de “scrimmage”.


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Giovanna Lazaroni Valli, capitã da equipe feminina, diz que conheceu o esporte através de uma amiga que jogava na Ufes, e o que mais chamou sua atenção na modalidade foram os

valores pregados. “Me apaixonei pelo rugby, e todos os valores que ele prega, dentro e fora do campo”, conta a capitã, que destaca que o respeito aos colegas de time, aos adversários, e ao árbitro são

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essenciais durante as partidas. “Quando termina o jogo, todo mundo se abraça e faz uma confraternização, chamada de terceiro tempo”, relata.

Times procuram alternativas para superar a falta de apoio e patrocínio

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ificuldades financeiras, estruturais e falta de apoio são os principais problemas que as equipes capixabas enfrentam. Para driblar os obstáculos, e conseguirem seguir nos campeonatos, elas recorrem à criatividade e à persistência para arrecadar dinheiro a fim de bancar as viagens para competições e a compra de equipamentos. Como as equipes de baseball no estado não possuem qualquer tipo de patrocínio, os atletas fazem rifas e vendem doces, mas o valor arrecadado, nem sempre cobre todos os custos, sendo necessário os atletas retirarem dinheiro do próprio bolso para comple-

mentar. Apesar disso, Mejia acredita que vale a pena. “Para quem gosta muito do que faz, é sempre um prazer, então a gente não considera que tem um custo, é um desenvolvimento pessoal”, constata. Entretanto, não é somente a dificuldade financeira que dificulta o desenvolvimento do esporte. Julliano destaca que a falta de estrutura do campo da Pedra da Cebola, local em que o time treina, também é um agravante. Segundo ele, as irregularidades do campo são o principal problema, o que pode inclusive, ocasionar lesões nos atletas. Algumas equipes de futebol americano e rugby possuem patro-

ENTENDA UM POUCO MAIS CADA ESPORTE: Baseball O principal objetivo do jogo é rebater a bola, arremessada pelo adversário, com um taco e correr pelas quatro bases do campo até chegar à última, marcando um ponto. Cada time é formado por nove jogadores e uma partida é disputada em nove etapas (innings). No baseball não existe tempo fixo para as partidas e nem empate, ao final das nove etapas, não havendo vencedor, serão realizadas etapas extras até o desempate. Futebol americano: O jogo é disputado por dois times, com 11 jogadores cada. O time que tem a posse de bola (time de ataque) tenta avançar pelo campo através de jogadas de curta duração, os “downs”, com corridas e passes até cruzar a linha de gol

e chegar na “end zone” do adversário, marcando o “touchdown”. O jogo acontece em quatro quartos de quinze minutos, cada. Rugby: A versão mais tradicional do esporte é disputada por duas equipes de quinze jogadores. A olímpica, por sua vez, é disputada por duas equipes de sete jogadores, sendo a mais popular no Brasil e, também,a praticada no Espírito Santo. Cada partida, na modalidade olímpica, tem duração de quatorze minutos, sendo divididos em dois tempos de sete. O principal objetivo do jogo é levar a bola para trás da linha de gol do campo adversário, e apoiá-la no chão. No jogo só é permitido passar a bola com as mãos para os lados ou para trás, para passar a bola para frente, os jogadores devem usar os pés.

cínio, mas apenas na forma de apoio com serviços, sem ajuda financeira, o que os leva também a procurar soluções alternativas para arrecadar fundos. A equipe de rugby feminino, vende palha italiana, água nos locais de realização de provas, como o ENEM e já chegou até a pedir dinheiro nos sinais de trânsito da capital. “A gente corre atrás mesmo. Graças a Deus as pessoas, principalmente no sinal, ajudam muito. É assim que a gente vem se mantendo”, conta Giovanna. Já o Tritões, para ajudar a cobrir as despesas da participação dos playoffs da 1ª divisão do Brasileiro de Futebol Americano, apelou para uma vaquinha virtual. O objetivo, porém, não foi alcançado e a equipe conseguiu arrecadar apenas dez por cento do valor previsto. HORÁRIOS E LOCAIS DE TREINOS Rugby - Os treinos acontecem na Pedra da Cebola. Equipe feminina - segunda e quinta, 19h; sábado às 8h30. Equipe masculina - segunda e quarta, 19h30; sábado às 15h. Baseball - Os treinos acontecem na Pedra da Cebola, aos domingos das 7h30 às 13h00. Futebol americano - Os treinos da equipe Tritões acontecem no estádio Kléber Andrade, em Cariacica. Já o Espírito Santo Black Knights treina aos domingos, de 9h às 12h, parque da Pedra da Cebola, em Vitória.


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Feministas protestam contra alto índice de feminicídio Militantes realizam protestos na UFES e no Centro de Vitória, exigindo ações do Estado.

Foto: Cedida pelo fórum das mulheres

Carla Bianca Nigro

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movimento “Afasta de mim este cale-se: não a violência contra à mulher no ES” reuniu cerca de cem estudantes protestando contra a violência feminina dentro da UFES. A manifestação foi realizada dia 23 de novembro e teve adesão dos cursos de Gemologia, Direito, Serviço Social e Artes. Mesmo diante da chuva, as manifestantes não diminuíram sua marcha, pelo contrário, a chuva virou grito deguerra: “Deixa chover, deixa molhar. Contra o machismo, eu não paro de lutar”. A marcha partiu da cantina do CCJE, às 11h20, passando pelo Prédio Rosa da Gemologia, indo até o ED 7, IC’s, Reitoria, Restaurante Universitário (R.U.), biblioteca e terminou às 12h30 em frente à diretoria do CCJE. Mulheres que não estavam participando se uniram à voz da multidão entoan-

do palavras de ordem como “A nossa luta é todo dia, somos mulheres e não mercadorias!”, “Segura. Segura seu machista. AAmérica Latina vai ser toda feminista” e “A nossa luta é por respeito, mulher não é só bunda e peito.” Segundo a organizadora e estudante de serviço social Ana Júlia Carvalho, a passeata é resultado da indignação diante da habitualidade de casos de assédio e abuso na UFES, induzidos pela cultura machista e misógina, e da falta de políticas de enfrentamento sérias. Isso dificulta a vida de estudantes, principalmente as de menor poder aquisitivo e/ou negras. Ela recorda de caso ocorrido ano passado, no qual a resposta da Universidade foi cortar as árvores do campus, medida considerada insuficiente e capaz de prejudicar demandas feministas. A proposta da mobilização foi convidar alunos, professores, técnicos e o reitor para estabelecer um diálogo com as estudantes. E, a partir disso, construir

de maneira compartilhada uma proposta democrática em favor da segurança das mulheres na universidade. Ao longo do trajeto foram realizadas paradas, em pontos estratégicos, onde foi declamado jogral, performance coletiva na qual uma pessoa discursa e a multidão repete. O jogral convocou a sociedade a refletir sobre números que marcam a violência contra a mulher: “Feminicídios aumentaram 21% em relação ao ano de 2016. O Espírito Santo ocupa o quinto lugar no ranking nacional de violência contra a mulher. Feminicídios representam 10% dos assassinatos notificados. O ES lidera o ranking de mortes violentas de mulheres negras. Estudos apontam que somente 10% dos casos de violência sexual chegam a ser registrados”. enquanto o jogral era realizado, a organização mostrou-se insatisfeita com a falta de respostas da reitoria da universidade.


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Fórum de mulheres ocupa a escadaria do Palácio Anchieta

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Fórum De Mulheres ES, organização social feminista, realizou em 24 de novembro uma manifestação pela eliminação de todos os tipos de violência contra mulheres. O ato “Nenhuma a menos! É pela vida das mulheres!” ocorreu no Centro de Vitória em dois horários, às 9h na Praça Costa Pereira e às 17h em frente ao Palácio Anchieta. Segundo a militante e assistente social Emily Marques, em um Estado que não sai do ranking nacional de violência contra a mulher é imperativo demonstrar que elas estão mobilizadas e não aceitam a violência imposta em seus corpos e vidas, por esse motivo, o Fórum se organiza para periodicamente atuar nos dias 8 de Março e 25 de Novembro, ambos dias internacionais de luta pelo direito das mulheres, representando que a luta não é só local. “Não sabíamos a quantidade de pessoas que estariam presentes. Mas cada uma ali representou a nossa dor e não relegou essas mulheres ao esquecimento”, afirmou Emily. A assistente social ressaltou que muitas mulheres apoiam a causa mas não conseguem se engajar na luta devido às múltiplas funções impostas a elas, diariamente, como por exemplo, serem “donas de casa” e trabalhadoras integrais ao mesmo tempo. Além disso destacou a dificuldade em mobilizar movimentos sociais capixabas. Nas demandas das feministas estavam: os altos altos índices de violência no Estado, sucateamento dos equipamentos públi-

cos nas Delegacias Especializadas no Atendimento à mulher, patriarcado, ações ineficazes do Estado, e, principalmente, exigiam políticas efetivas de proteção das mulheres. A PEC 181 que criminaliza o aborto, mesmo em casos de estupro, foi diversas vezes criticada durante o evento. De manhã elas emprestaram, durante 30 minutos, megafone de um pastor – personalidade conhecida da Praça Costa Pereira - revezando para protestar essas denúncias. À noite foi realizada vigília pelas 106 mulheres mortas no Espírito Santo nesse ano, segundo dados da Secretaria do Estado do Espírito Santo. A entrada do Palácio Anchieta, símbolo do governo do Estado, foi ocupada por faixas, saltos e velas em memória das vítimas. O evento

Ilustração: Marcela Ferreira Durantes as manifestações ocorridas na Ufes, ilustrações e cartazes, foram colados nos prédios da universidade, como ato de protesto. As ilustrações acima foram

começou às 18h, com a sexagenária Euzabeth Ferreira, militante, cantando “O abre alas que as mulheres querem passar”. As militantes fizeram uma roda de conversa, nas escadarias, onde relataram sua história e seu relacionamento com o feminismo. Muitas foram às lágrimas ao contar casos de machismo em casa, estupro e assassinatos de amigas e parentes. S.R. , uma das militantes que preferiu não se identificar, chorou ao relatar seu caso. Sua tia há pouco tempo, descobriu da morte da prima através do jornal Balanço Geral. Por causa disso, era muito difícil para ela estar ali, mesmo assim ela estava e continuaria na luta. “Eu já nasci lutando. Por que eu sou mulher e, além disso, negra” declarou.

Ilustração: Mariana Calais feitas pelas alunas Marcela Ferreira e Mariana Calais especialmente para o evento, a pedido da professora Bruna Wandekoken , como trabalho de sua disciplina de cor.


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No Entanto Edição 81 - Dezembro de 2017 meio ambiente

Coletivo Casa Verde inicia Grupo de Estudos na Ufes Foto: Marcos Paulo Federici

Primeira reunião teve número de participantes maior que o esperado Marcos Paulo Federici

grupo. “O GE surge da necessidade de estudar a agroecologia e a permacultura principalmente com um eve início no último dia 22, na Universidade Fe- olhar mais urbano. Pensando em agricultura urbana, deral do Espírito Santo (Ufes), um Grupo de Estu- educação ambiental e principalmente na produção de dos sobre Agroecologia e Permacultura. O Grupo alimento.”, comenta. é uma realização do Coletivo Casa Verde, que visa proA intenção do Coletivo é expandir o Grupo de Estumover debates e proporcionar a troca de conhecimentos. dos para fora da sala de aula, para que seja também um A ideia é que o grupo auxilie o Coletivo na bus- grupo de intervenção em agroecologia e permacultura. ca por pessoas, principalmente da Presente no primeiro dia de reuPermacultura é Grande Vitória, interessadas em nião, a aluna de Geografia da Ufes um sistema de discutir, aprender e propagandear Karoline Sperandio destaca por design para a os temas abordados que decidiu participar do grupo. criação de am“Me interessei pois já tinha curiobientes humanos sustentáO Coletivo sidade sobre o tema e foi uma oporveis e produtivos em equilíbrio tunidade que encontrei de convere harmonia com a natureza. O Coletivo Casa Verde surgiu em sar sobre e compreender melhor o 2009, dentro da Ufes, visando en- - Bill Mollison assunto, ouvindo também opiniões Pesquisador austender as relações entre o campo e a traliano conhecide outras pessoas” conta. cidade. Como principal interesse eles do como pai da Ela acredita que a prática da permacultura) buscam discutir e praticar agricultura agroecologia é uma forma de estaurbana agroecológica e educação ambelecermos uma relação com a terbiental. Entre as ações do Coletivo estão debates, mu- ra. tirões, seminários, além de oficinas. Ele é responsável Além de Karoline, cerca de trinta pessoas de ditambém pela retomada do projeto de rearborização do ferentes cursos e faculdades participaram do pricampus de Vitória. meiro encontro. O Grupo de Estudos é aberto ao O membro do Casa Verde e aluno de Geografia da público e acontece quinzenalmente, às quartas-feiUfes, Lucas Sangi, explica o que motivou o início do ras, no prédio do IC2, na Ufes, das 18h às 20h.

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