No Entanto - 77ª edição

Page 1

Edição 77 - Agosto de 2017

Jornal Laboratorial Universidade Federal do Espírito Santo

Atletas capixabas perto do sonho Olímpico no Japão PÁG 14

PÁG 08 Policiais debatem desmilitarização da PM

Casos de violência contra profissionais da imprensa crescem no Brasil PÁG 04 4h20: Hora de BALADA: quebrar o tabu agora

PÁG 07

homens e mulheres pagam igual PÁG 11

PÁG 03

Comunidade muçulmana ganha mais espaço no Espírito Santo


EDITORIAL No Entanto Jornal Laboratorial produzido pelos alunos do 3º período de Comunicação Social - Jornalismo da Ufes para a matéria Laboratório de Jornalismo Impresso Equipe Ana Carolina Favalessa, Andressa Ventura, Beatriz de Paula, Cecília Miliorelli, Daniel Santiago, Isabella Bellumat, Kennedy Pezzin, Marcus Vinícos Freire, Mariana Cristina, Nicolas Alves, Reinaldo Fonseca e Vinícius Viana. Editores Beatriz de Paula e Vinicius Viana

Diagramação Marcus Vinicios Freire e Vinicius Viana Logo Gabriel Moraes Professor orientador Rafael Bellan

Na ultima edição do Jornal No Entanto organizada pela turma de Comunicação Social – Jornalismo 2016/1, discutiremos temas que repercutiram durante o primeiro semestre de 2017 e ainda se colocam como tabus no meio social. Apesar das dificuldades enfrentadas para a produção desse veículo laboratorial, acreditamos que obtivemos êxito em levar informações de conteúdo em um modelo de linha editorial diferente do padrão jornalístico impresso popularmente conhecido. Com a produção desse jornal, conseguimos desenvolver práticas a partir de teorias já aprendidas em sala de aula, em uma experiência enriquecedora que irá acrescentar positivamente em todo o conhecimento dos alunos da turma 2016/1. O objetivo desse veículo foi constituir um modelo que fugisse da mídia convencional e senso comum, a partir de pautas que promovessem reflexões e discussões sobre assuntos socialmente não debatidos. O No Entanto a partir desse segundo semestre de 2017 será idealizado pela turma de Comunicação Social 2016/2. No mais, acreditamos que elaboramos um veículo capaz de entregar aos nossos leitores uma leitura enriquecedora. No momento, só podemos dizer que iremos todos sentir saudade. A turma.

Sigam-nos no Facebook! Para sugestões de pauta, críticas e dúvidas, entrem em contato: fb.com/JornalNoEntanto


No Entanto Edição 77 - Agosto de 2017

RELIGIÃO

3

Fé Islâmica no Espirito Santo ganha visibilidade Desde 2014, a comunidade Muçulmana se reúne para orar na capela universitária, localizado no Centro de Vivência da Ufes.

Nicolas Alves Foto: Nicolas Rodrigues

A

comunidade muçulmana, embora pequena, já se faz presente no Espírito Santo e atrai a atenção dos capixabas. Recentemente ela ganhou um espaço para oração na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e abriu as portas para o jornal No Entanto, com o objetivo de mostrar mais sobre a Fé e avaliar o momento em que vive a religião no país e no mundo. Hadi A. Khalifa é o organizador da comunidade na Grande Vitória. Natural da Líbia, ele veio para o Brasil há quase 30 anos e é professor de Engenharia Elétrica da Faculdade Novo Milênio, mas também leciona árabe em um curso de extensão na Ufes. Considerado um dia santo para os muçulmanos, na sexta-feira, eles se reúnem no Centro de Vivência da Universidade, para oração e ouvir uma pregação sobre tolerância no Islam, feita por Khalifa, em árabe e português. Sob um tapete, eles devem se prostrar em direção a Meca, a cidade sagrada para os muçulmanos, para adorar a Allah, Deus em Árabe. Os muçulmanos devem orar cinco vezes ao dia, durante a semana. Todavia, o lugar não é considerado uma mesquita. “Ficamos sabendo que este espaço é oferecido como um ponto ecumênico para diversos grupos religiosos. Realizamos uma solicitação pedindo para cederem este espaço. Então, toda sexta feira, a partir das 13h às 16h, nos encontramos e fazemos nossa oração e confraternização”, conta Hadi. No Brasil, de acordo com Hadi,

há aproximadamente 2,5 milhões de muçulmanos entre descendentes e convertidos. No Espírito Santo, está na faixa de 150 a 170 muçulmanos. “No estado, temos irmãos do Paquistão, Índia, Bangladesh, Egito e Síria. A maior parte deles pertence à corrente Sunita, parte maioritária dos que professam a Fé Islâmica. Temos um irmão Xiita vindo do Iraque, porém ele não se congrega conosco”, conta Hadi. “Os Xiitas interpretam o Islam de outra forma. Para nós Sunitas, só podemos seguir a maneira que o Profeta Muhammad interpretou”, explica Khalifa. Onda imigratória, refugiados e preconceito Perguntado a Hadi sobre a crise migratória, ele aponta os desvios da fé como a principal causa. “Os princípios Islâmicos são de tolerância e acolhimento. O que acontece na Síria atualmente é uma vergonha para toda a humanidade. Como o mundo permite um Ditador, como há na Síria (Bashal Al Assad) continuar no poder? Mais de 13 milhões de Sírios já deixaram o país e se refugiaram ao redor do mundo”. Sobre a convivência com outras religiões, Hadi Khalifa diz que vi vem em paz com as outras comunidades religiosas. Mas ao pergun-

tar sobre as divergências entre Judeus, Cristãos e Muçulmanos, ele afirma que há um interesse politico por parte dos líderes, então não há intenção de paz. “Não queremos viver com ódio e rancor, queremos isso longe”, complementa. Anna Christina da Silva Pereira, responsável pela parte jurídica e pelo zelo do local, conheceu o Islam quando fez uma viagem ao Egito em 2015 assim como os hábitos, costumes e as leis. Ela se encantou pela religião, o que a levou a se converter em seguida. Com o Hijab, uma vestimenta típica da mulher muçulmana, em volta de sua cabeça, Anna conta que há um equívoco sobre a religião: “Antes das pessoas criticarem, é preciso saber sobre. A bíblia é mais rígida que o alcorão. As pessoas pensam mal sobre o Islam porque o conhecem pela televisão”, afirma Anna que acredita no crescimento da religião no país e no convívio pacífico. Hadi encerra afirmando que “existe preconceito, mas não é tão evidente como na Europa”. De acordo com ele, ocorrem brincadeiras, mas nada muito ofensivo. “Tentamos mostrar o outro lado, não temos raiva de ninguém, convivemos pacificamente com outras religiões”, afirma o organizador.


Violência contra jornalistas e ataques à liberdade de expressão aumentam no Brasil Pesquisa revela que o país se encontra entre os dez mais perigosos do mundo para a profissão

A

O caso ganhou destaque nas mídias do estado. Por rede social, Vinicius preferiu não conceder entrevista para ficar fora dos holofotes e não se expor. Em relatório anual sobre violações à liberdade de expressão, divulgado pela Abert, dos casos registrados no ano passado 6,93% estão relacionados à censura. E no relatório também consta que 4,04% de casos registrados resultaram em prisões. O levantamento da Abert mostra que em comparação de 2015 para 2016 houve um aumento de 62,26% das agressões sem vítimas fatais contra representantes da mídia. No total de casos não letais, em 2015 foram 106 vítimas, enquanto que em 2016 esse número aumentou para 172 casos.

Para o presidente da Abert, Pau lo Tonet Camargo, a falta de conhecimento sobre a função social dos profissionais da imprensa auxilia no aumento da violência contra a categoria. “A intolerância e a falta de conhecimento do real papel da imprensa foram, mais que nunca, responsáveis pelo aumento das agressões físicas e hostilidades contra jornalistas que estavam em campo atrás de notícias de interesse público”, afirma. De acordo com a Abert, a única maneira de combater os crimes contra os profissionais da imprensa é acabar com a impunidade. “É a certeza da ausência de punição que estimula os agressores a violar a lei na tentativa de calar e amedrontar os profissionais”, expõe o relatório.

Reprodução

MARIANA CRISTINA violência contra profissionais da imprensa cresceu 65% em 2016, comparado com o ano anterior. Os dados foram divulgados em fevereiro deste ano pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert). Casos como ameaças, agressões físicas, censuras e ofensas tiveram um aumento significativo. O assunto ganhou destaque local no último mês devido à prisão de um jornalista que filmava uma abordagem policial. O repórter do Metro Jornal Espírito Santo, Vinicius Arruda, foi preso após filmar a ação de policiais militares no bairro Jardim da Penha, em Vitória. O jornalista estava indo para o seu local de trabalho quando viu uma abordagem policial e decidiu filmar com o celular da empresa. Os policiais questionaram o ato, e mesmo o jornalista se identificando, foi levado ao Departamento de Polícia Judiciária (DPJ) de Vitória. Ele somente descobriu que estava sendo preso ao chegar à delegacia. Vinicius Arruda foi detido por desobediência, e ficou durante sete horas no DPJ. Apenas depois de dar seu depoimento e assinar um termo circunstanciado, o jornalista foi liberado.

Jornalista Vinicius Arruda foi detido ao filmar abordagem policial.

Foto: Mariana Cristina

4

No Entanto Edição 77 - Agosto de 2017


No Entanto Edição 77 - Agosto de 2017

VIOLÊNCIA

Fonte: Relatório Anual – 2016 ‘Violações à Liberdade de Expressão’ da Abert.

Brasil entre os mais perigosos Segundo a Repórteres Sem Fronteiras (RSF), uma organização não governamental (ONG), que tem por objetivo defender a liberdade de imprensa no mundo, pelo menos 74 profissionais representantes da mídia foram assassinados em 21 países no ano passado. Desse número, a grande maioria foi morta devido a represálias sofridas por cumprir a missão de informar. Outra ONG formada por jornalistas de diferentes nacionalidades, a Press Emblem Campaign (PEC), que atua como consultora especial da ONU, colocou o Brasil em décimo lugar entre os países mais perigosos de 2016, ficando atrás de países como Iraque, Síria, Paquistão e Turquia. Com dados atualizados, a PEC disponibilizou em seu site que, até o momento da publicação desta reportagem, 55 jornalistas e outros profissionais da mídia foram mortos no mundo somente neste ano.

listas vem aumentando. Fatores como agressão, censuras e ameaças aconteceram com uma maiorfrequência nos últimos anos. Em conversa com o No Entanto a jornalista e doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da USP Claudia Nonato que realizou uma pesquisa em 2016 sobre agressão, ameaça e morte de jornalistas, acredita que os casos de violência contra os profissionais da imprensa que ocorrem hoje têm a ver com o avanço das tecnologias, que possibilitaram o acesso de qualquer pessoa a blogs, portais e sites, que divulgam a informação sem a intermediação de um grande veículo de comunicação. Para Nonato, o sistema judiciário também contribui para essa questão da violência. “O sistema judiciário é hoje o grande limitador, por punir os jornalistas, mesmo sem a existência de uma legislação específica para a imprensa. Estamos sem E st amos s em o res- o respaldo dos meios de comunicap a ldo dos meios de ção, do governo e da lei”, enfatiza. A doutora acredita que a impucomunic aç ão, do nidade e as poucas investigações gover no e d a lei fazem com que a violência contra jornalistas cresça. “As investigaClaudia Nonato ções não avançam, sobretudo em localidades distantes das grandes Impunidade contribui com aumento capitais, porque normalmente de casos de violência contra jornalistas essa violência não é denunciaCada vez mais o número de da, por conta do medo que esses casos de violência contra jorna-

5

profissionais têm de sofrerem represálias, seja de autoridades, da polícia, da justiça”, diz Nonato. A pesquisadora afirma que para acabar com os casos de violência contra esses profissionais, há a necessidade de denunciar, de fazer chegar à grande mídia e mostrar o motivo pelo qual esses jornalistas foram violados. Assim pode haver uma cobrança da sociedade junto às autoridades responsáveis. Defesa de jornalista detido acusa policiais de ataque à liberdade de expressão O advogado de defesa Rodrigo horta, que cuida do caso de Vinicius Arruda, jornalista detido que filmava uma abordagem policial, afirma que a liberdade de imprensa e de expressão foram infringidas pelos PMs. De acordo com Horta “a captação da informação foi cerceada naquele momento, e o ataque a essa liberdade de expressão se tornaram evidentes”, diz. O coordenador geral do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Espírito Santo (Sindjornalistas), Douglas Dantas, disse em entrevista ao No Entanto que o fato ocorrido com o jornalista Vinicius Arruda é um grave atentado à liberdade de imprensa. Dantas lamentou que casos como esse aconteçam frequentemente. “Infelizmente tivemos mensagens de outros profissionais que passaram por situações semelhantes, de agentes de segurança tentando intimidar a atuação da imprensa, mas sem levar os jornalistas à delegacia”, conta o sindicalista. Douglas Dantas afirmou que jornalistas nessas situações devem buscar imediatamente o Sindicato e à direção da empresa no qual atua para que os mesmos possam resguardá -lo perante a legislação brasileira.


6

No Entanto Edição 77 - Agosto de 2017

Reprodução

Inteiração entre visitantes e profissionais do ramo: algo difícil de se ver no passado

Expressão e identidade: a tatuagem no corpo humano REINALDO FONSECA pintura corporal sempre buscou representar algum aspecto cultural ou fato social, por meio das pessoas que as fazem e possuem. Desde a sua criação, no período entre 4000 e 2000 a.C, várias significações foram atribuídas às tatuagens: tornar-se sacerdote, rei, celebrar a vida. Mas agora, no século XXI, ela engloba novas categorias. O significado a partir das pinturas parece estar tornando-se mais raro. A tatuagem está passando por uma ressignificação, em que o importante não é representar algo, mas se representar. É a partir dos desenhos que a individualidade é expressa e o indivíduo passa a se destacar dos demais. Entre os jovens, é mais nítido o envolvimento crescente com esse tipo de arte. Cada vez mais, são vistos garotas e garotos querendo ser tatuados, querendo tatuar e se aprofundar mais nesse campo. O contato deles não só com os desenhos, mas com os profissionais da área tornou-se mais frequente com a popularização e a desvinculação da prática do status de tabu,

A

não sendo à toa a promoção de eventos que divulguem o trabalho de tatuadores, como a Expo Tatto, que ocorre em Vitória, e reúne profissionais de todo o mundo para mostrar suas habilidades. Ao ser questionada sobre o porquê de se tatuar e se utilizar como espaço para desenhos, Julia Valli, estudante de Arquitetura, da Ufes, rebate a sacralização corpórea e expõe a felicidade ao ver mais pessoas adentrando nesse mundo. “Acho que meu corpo não é alguma coisa eterna ou sagrada e intocável que não possa ter algo permanentemente estampado nele. Eu tenho adorado ver pessoas da minha faixa etária, que resolvem aprender a tatuar e se aventurar por esse meio”, diz a estudante. Com o tempo, outra conquista vem sendo alcançada: a carga pejorativa associada à tatuagem está desaparecendo. O que antes na sociedade ocidental era uma profanação ao corpo do ser humano, passa a ser enxergado como uma carga artística impossível de ser ignorada. Gabriela Jucá, aluna do curso

Foto: Reinaldo Fonseca

Em uma mudança de mentalidade jovens apresentam novos pensamentos sobre a tatuagem

“Seria muito sobre redescobrir meu próprio corpo e minha pele”, comenta Julia sobre as artes em seu corpo.

de Letras, da Ufes, ressalta a mudança de pensamento das pessoas em relação ao assunto, sobretudo, mais velhos, e como nunca sofreu preconceito pelo fato de ter várias imagens estampadas em si. “Eu nunca sofri nenhum preconceito por ter tatuagem, na verdade, pelo contrário, recebo muitos elogios de pessoas mais velhas. Fico muito feliz com isso, pois mostra de fato como as pessoas estão mudando”, afirma a estudante.


No Entanto Edição 77 - Agosto de 2017

COMPORTAMENTO

7

Drogas, para além do senso comum

Foto: Ana Carolina Favalessa

Psicóloga comenta sobre influência midiática, usuário relata acerca de fins espirituais e farmacêutica aborda uso medicinal.

ANA CAROLINA FAVALESSA

D

rogas normalmente são assuntos proibidos. Diante do crescente debate acerca da legalização, seus benefícios e controvérsias, temas sobre esse tabu social são cada vez mais frequentes. Os fatos de ter raízes históricas, de a mídia reforçá-lo, de certos tipos de entorpecentes serem utilizados para tratamentos epiléticos e fins espirituais fazem parte dessa discussão. Segundo a psicóloga Larissa Cabral, na época da escravidão os africanos usavam drogas tanto para recreação como para finalidades medicinais, a fim de apaziguarem a dor dos castigos que levavam. Os resquícios históricos permanecem e até hoje a sociedade mantém a ideia de que drogas estão associadas apenas às classes mais baixas, sendo isso muitas vezes reforçado pela mídia. “Dessa forma, você vai sempre associar o pobre que está na periferia ao crime e ao tráfico. Por exemplo, se encontrassem um menino com certa quantidade de drogas dentro da favela da Rocinha, anunciariam o sujeito como ‘usuário de droga, drogado ou maconheiro’. Contudo, se fosse um garoto da classe média alta morador de Copacabana ou do Leblon seria ‘jovem encontrado portando drogas’”. Para ela, que já atuou com dependentes químicos, o debate sobre drogas envolve também o álcool, por

também ser um tipo de droga, mas com acesso livre e não visto como um problema; e o vício, já que quanto maior o uso, maiores as chances de tornar-se um dependente. Uma fonte anônima usuária de entorpecentes para fins recreativos, regularmente a maconha, relata que faz uso para relaxar, assim como bebe cerveja com os amigos. Além disso, menciona sobre o lado espiritual de algumas drogas, como o Chá do Santo Daime, ou ayahuasca. “É como se você ficasse em uma sensação perfeita para refletir sobre a sua vida e a em geral”, acrescenta. A farmacêutica Ediane Dionizio comenta sobre o uso da cannabis para fins medicinais. Segundo ela, pelo fato de a Anvisa não ter legislação que permita a utilização no Brasil, alguns pacientes com crises epiléticas frequentes conseguiram importar medicamentos à base de cannabis por ações judiciais. Apesar de a psicóloga acreditar que o país não tem preparo político e social para legalizar as drogas de forma geral, acredita que é um caminho e que a legalização medicinal já deveria ter ocorrido há muito tempo. Para ela, nessa situação haveria outro tipo de controle e para ele o país está preparado. Larissa ainda conclui que a quebra desse tabu é por meio da informação. “É preciso questionar o que é droga, o que não é e para que ela serve”, finaliza.


8

No Entanto Edição 77 - Agosto de 2017

CIDADES

Discussões sobre a desmilitarização da PM ganham força

Foto: Beatriz de Paula

Fim de estrutura baseada no exército tem apoio de muitos policiais

BEATRIZ DE PAULA E DANIEL SANTIAGO

A

paralisação da Polícia Militar (PM) ocorrida no Espírito Santo em fevereiro deste ano, e as manifestações em Brasília contrárias ao governo, ocorridas em maio, acenderam debates acerca de uma possível desmilitarização da polícia militar. O problema é que muitos que a defendem ou que dela discordam não sabem ao certo no que ela consiste. “Falar em desmilitarizar quer dizer que o policial militar deve ser um servidor público e não um cara feito para ir à guerra”, afirma o soldado da Polícia Militar do Espírito Santo (PMES), Bruno*. “A polícia se espelha no exército e para trabalhar na rua você não precisa seguir esses padrões”, completa. Mas para os soldados entrevista-

dos, o estado não está interessado em uma polícia que seja desmilitarizada, pois com o apoio da PM, as manifestações, como as contra o governo, poderiam ganhar força, o que prejudicaria o estado. Além disso, Bruno* acredita que, depois do movimento de fevereiro, o governo percebeu que não tem pleno controle da polícia militar. Ele aponta também que boa parte dos policiais que circulam na Grande Vitória atualmente não conhece a região por serem do interior. “Muitos policiais foram misturados e a intenção é essa mesmo – ‘vamos misturar os camaradas que eles não conseguem se articular de novo’”, argumenta. Ele acrescenta que o governo quer embrutecer mais ainda o sis-

tema. “Ele quer tornar o regulamento mais rígido, para que você não faça nenhum movimento desse tipo, nem sequer questione uma ordem”, complementa. Em conversa com o No Entanto, um dos pontos questionados pelos policiais foi o fato de a PM atualmente possuir duas portas de entrada. Enquanto os oficiais, de maneira geral, ocupam cargos administrativos, atuando no planejamento e na fiscalização das tropas, as praças atuam na execução das atividades nas ruas. Para Pedro*, soldado, existe uma desigualdade muito grande entre oficiais e praças na PMES. “É como se existisse outra polícia, muito melhor para eles e outra precária para nós praças. Aqueles que


No Entanto Edição 77 - Agosto de 2017

CIDADES

Movimento paredista Em fevereiro de 2017, a Polícia Militar do Espírito Santo não circulou pelas ruas do estado durante 21 dias. Segundo os policiais, a principal motivação da paralisação foi salarial. “Somos a polícia que mais reduziu o índice de criminalidade. Cadê o reconhecimento? Temos o pior salário do Brasil. Fomos e ainda somos tratados como recurso material. É complicado”, reclama o também soldado José*. Em comparação com as de outros estados, a Polícia Militar do Espírito Santo foi a quinta que mais reduziu o índice de homicídios em 2015, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Além disso, de acordo com Bruno*, o envolvimento dos policiais daqui com corrupção é bem menor. “A quantida-

de de retorno que a gente dá pra sociedade é muito grande”, afirma. O tenente Anthony Moraes Costa, assessor de imprensa da Polícia Militar do Espírito Santo (PMES), afirma que a reivindicação é justa, mas que ocorreu de forma ilegal, visto que a polícia militar não possui direito de realizar greve. E se a situação da violência era ruim com a PM, ficou pior sem ela. “Enquanto classe trabalhadora eu fui a favor da paralisação, porque a gente sabe que a classe dos policiais é uma das mais prejudicadas quanto aos seus direitos. Mas tem a condição da segurança, que acabou me deixando contra também”, conta Israel Zuqui, estudante de Comunicação Social – Jornalismo. A mais prejudicada pela falta de policiamento nas ruas foi a própria população, que teve de reavaliar a importância da figura da polícia nas ruas. “Embora a polícia não seja uma instituição perfeita, capaz de responder a todos os anseios da sociedade, é necessária, não da pra viver sem ela”, afirma Bruno*.

sem atacar o patrimônio público. Uma das funções da polícia militar é manter a ordem pública, então no instante que a manifestação se torna violenta, precisamos intervir”. Além disso, o Tenente explica que as manifestações não podem ferir os direitos dos cidadãos. “Se a manifestação está fechando uma via, a Companhia Independente de Missões Especiais (Cimesp) recebe ordens, geralmente do governo, para desobstruí-la. Inicialmente por meio da conversa, depois com o uso de gás lacrimogêneo para dispersão, e por último com balas de borracha”, explica. “A Cimesp possui uma tropa especial e preparada que tem como objetivo o controle de distúrbios civis, o que inclui manifestações e rebeliões em presídios, por exemplo. O treinamento das tropas é feito para que ocorra a atuação sempre de forma técnica e dentro da legalidade”, complementa o Tenente Anthony. Por outro lado, a estudante de Comunicação Social – Jornalismo Isadora Fadini esteve nas manifestações contra a votação da PEC 155, no ano passado, e contra a reforma da previdência, em maio deste ano. Ela conta que na grande maioria dos protestos e greves em que participou, tanto aqui no Espírito Santo, quanto na capital do país, o cenário era o mesmo. “Nem conseguimos concluir nossas passeatas, pois fomos recebidos com bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta, balas de Protestos borracha e o que mais estivesse As maiores reclamações dos ma- ao alcance dos policiais”, relata. nifestantes no Brasil são a brutalidade policial e a falta de abertura para diálogo. O Tenente Anthony *Os nomes dos soldados da Polícia explica que tudo é uma questão Militar citados nesta reportagem fode nível de força: “todos podem se ram substituídos por nomes fictícios manifestar, mas de forma ordeira e para a preservação dos indivíduos. Foto: Beatriz de Paula

são mais humanos e tratam bem os subordinados são hostilizados pelos demais, principalmente os oficiais mais graduados”, afirma. Para Bruno*, o policial, ao entrar como soldado, entenderá como é a rotina de um e quando chegar a um nível mais alto da hierarquia, será mais humano com seus subordinados. “Quando você já entra pra comandar e não tem o contato com o mundo aqui fora, cria um distanciamento da realidade e dá as ordens de uma maneira mais ríspida”, comenta Bruno*. Além disso, o policial de folga, além de responder criminalmente na justiça comum, responde também na Justiça Militar e no Regulamento Disciplinar dos Militares Estaduais (RDME). “A sua vida fora da farda também é toda condicionada pelo Regulamento. A polícia militar deveria regulamentar a minha vida profissional, não a minha vida pessoal”, diz Bruno*.

9


SOCIEDADE

Criminalização do funk em debate Para o cantor Jefinho a proposta é uma afronta às comunidades Marcus Vinicios Freire stá em tramitação na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado Federal, a polêmica Sugestão Legislativa (SUG) nº 17/2017, que prevê a criminalização do funk. A proposta já tem mais de 30 mil assinaturas a favor. No entanto, a sugestão divide opiniões. O projeto de autoria do paulista Marcelo Alonso, chegou ao Senado Federal por meio do portal e-Cidadania – qualquer cidadão brasileiro pode fazer uma proposta pelo site. A proposta foi publicada no dia 24 de janeiro deste ano e no dia 16 de maio alcançou os 20 mil votos necessários para conseguir um relator e poder ser articulada na casa. O cantor de funk Jefinho Faraó acha a proposta uma ofensa às comunidades e acredita que as pessoas devem conhecer mais sobre o funk e todos os seus gêneros, e não generalizar, como faz a proposta.“O que mais aparece na mídia é o putaria, que a galera generali za, se você observar o funk tem outra linha, tem um funk mais consciente”, afirma Jefinho. “Essa proibição (proposta) é uma afronta para as comunidades, o próprio movimento de baile Mandela (baile funk que costuma acontecer nas comunidades), ele é uma revolta. Mas essa medida pode até ser boa, pois vai popularizar ainda mais o funk”, enfatiza Faraó.

E

O rapper Sagaz, que também vê a medida como uma ofensa, contextualiza com a história do país que sempre teve movimentos de criminalização. “Há alguns anos, no programa infantil da Xuxa, passavam mulheres seminuas, cantando músicas com um teor até mais pesado que o funk, e isso era naturalizado. Como pode em um país que era normal, como foi no período da ditadura, por exemplo, que mais incentivou a pornochanchada, hoje tentar criminalizar esses movimentos culturais? Mas, se for olha na base, tudo gira em torno disso, do incentivo dos governantes, então, temos que melhorar esse debate”, explica Sagaz. “Não é proibindo que a gente vai conseguir coisa alguma”, conclui. De acordo com o Especialista em Ciências Criminais Vitor Bassi Serpa, a Sugestão Legislativa seria inconstitucional. “Tendo em vista que a Constituição Brasileira garante a liberdade de expressão, a livre manifestação de pensamento e ainda a livre expressão da atividade artística, a meu ver a SL nº 17/2017 seria inconstitucional por querer criminalizar indiscriminadamente o ‘funk”, afirma Vitor. “Do meu ponto de vista não resta dúvida de que o ‘funk’ é sim uma manifestação cultural enquanto forma de expressão humana”, frisa o criminalista. Contudo, o especialista faz ressalvas em relação à liberdade de expressão. “Na verdade, a liber-

dade garantida pela constituição não é absoluta, e o seu limite deve ser observado até que não interfira na liberdade do outro, respeitando as normas legais vigentes, tanto no âmbito constitucional, quanto legal”, explica. Vitor observa que a partir do momento em que o funk, ou qualquer outra manifestação, faça apologia ao crime, ao criminoso ou qualquer ato ilegal, essa manifestação deixa de ser simplesmente cultural. Opiniões diferentes A proposta gera muitas divergências entre as pessoas. Para a estudante Sara Brigitte, o funk deixou de ser cultura e passou a ser imoralidade, porque segundo ela as músicas são provocativas e difamadoras. “Esse novo estilo de funk faz com que não vejamos mais como cultura, mas sim músicas que intimidam mulheres com letras absurdas. Cultura são coisas que fazem o mundo melhor. Cultura eram os funks de antigamente que contavam histórias e que incentivava o bem”, comenta Brigitte. Já para o jornalista Victor Muniz, as letras de funk são apenas um reflexo da sociedade. Ele é contra a medida de criminalização do funk. “Eu acho que o funk é um meio de cultura das classes menos favorecidas. É um lazer. O funk reflete o que eles vivenciam. Se eles não estivessem abandonados pelo Estado, não estariam assim”, afirma Victor.

Reprodução

10

No Entanto Edição 77 - Agosto de 2017


No Entanto Edição 77 - Agosto de 2017

SOCIEDADE

11

Decisão judicial determina que boates não podem diferir preços entre os sexos

Foto:Vinícius Viana

Cobrar diferente entre homens e mulheres é considerada uma prática comercial abusiva

VINÍCIUS VIANA

É

muito comum nas noites em bares e boates mulheres pagarem mais barato por ingressos e consumação. Essa prática constitui um intenso debate aflorado no inicio do mês de julho quando o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, decidiu que cobrar valores de ingresso diferentes para homens e mulheres é ilegal. Enquanto alguns acreditam ser uma forma de justiça social por mulheres ganharem menos do que os homens, o órgão que faz parte da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), afirma em nota técnica às associações representativas desses setores, que a diferenciação de preços entre homens e mulheres é uma "afronta ao princípio da dignidade da pessoa humana", assim como "uma prática comercial abusiva" responsável por utilizar a mulher como "um objeto de marketing para atrair o sexo oposto aos eventos". A estudante de artes da Ufes Anne Caroline, 19, afirma que a prática desvaloriza a mulher e até mesmo o ambiente. Segundo elas, a mulher é utilizada como um objeto de atrativo de homens e isso constitui uma prática machista. “A mulher paga menos como se fosse um objeto de atrativo para os homens. Não tem

como você fornecer uma igualdade entre os gêneros através somente de um preço de balada” afirma Anne. O gerente da boate Why Club, Aleque Sandro de Oliveira, não concorda com a decisão judicial. “Acredito que isso diminui um pouco a presença de mulheres. Elas sempre têm menos dinheiro. O que eu vejo do dia a dia das boates é que algumas meninas, às vezes não tem dinheiro nem pra pagar a entrada. Elas vêm confiando nos homens” e conclui afirmando que não há previsão da casa de shows parar de cobrar preços diferentes entre homens e mulheres. Já de acordo com a estudante de Artes da Ufes, Maria Theresa, 19, a abolição de preços diferentes não vai alterar a presença do sexo feminino nas boates, caso o local ainda se faça interessante ao seu público. “Eu acho até uma desvalorização da própria festa que não se sustenta sozinha e precisa objetificar a mulher para chamar atenção. Se o local for um espaço interessante e que respeita o lugar da mulher elas vão continuar indo independente do preço”. Estabelecimentos que repetirem esse ato estarão sujeitos às sanções previstas no artigo 56 do Código de Defesa do Consumidor. A decisão passar a valer a partir de agosto desse ano.


12

No Entanto Edição 77 - Agosto de 2017

CULTURA

Maratonas do conhecimento

Para os concurseiros um plano de estudo eficiente e equilibrado é o necessário para alcançar os objetivos. CECILIA MILIORELLI

Foto: Cecília Miliorelli

O

portal de notícias do site JC Concursos publicou no inicio do mês de julho um artigo comparando a rotina de alunos concurseiros com a de atletas. Segundo a publicação a atividade intelectual é similar a exercícios físicos pela energia que o corpo gasta realizando essas atividades. Administrar bem o tempo é um desafio para aqueles que almejam um cargo de ampla concorrência nesses concursos. O advogado Ramon Lopes, que atua como servidor público na Prefeitura Municipal de Vitória, conta que possui horários bem definidos quando está se preparando para uma prova importante. “Acordo as 6h40, vou para a academia, malho até às 8h, de 8h10 às 10h estudo, vou para o trabalho e retomo os estudos das 20h a 12h.” Ramon conta que já sofreu com alopecia areata e psioriase recorrentes de um abuso físico e psicológico da rotina intensa. De acordo com a psicóloga Thaís Alves Vieira, as consequências para a saúde mental e física da elaboração de um plano de estudos que não seja eficiente são diversas. “Muitos candidatos acreditam que terão melhor rendimento diminuindo as horas de sono para estudar, causando uma sobrecarga física e mental. Ao contrário do desejado, isso pode acarretar uma perda no rendimento dos estudos, dificultando a aprendizagem. Neste caso, ansiedade, insônia, alterações de apetite e de peso, dores musculares, baixa imunidade são sintomas muito comuns”, explica Vieira.

Ela alerta para os riscos de montar um plano de estudos que dispensa o tempo gasto para realização de outras atividades diárias que são essenciais ao bem-estar físico e mental e que podem influenciar de forma positiva na aprendizagem. Utilizando-se de estratégias como dividir corretamente o tempo de estudo para cada matéria. A especialista reitera que o exame psicológico não é aplicado em todos os concursos. Geralmente ele ocorre posteriormente a provas para medir conhecimentos gerais e específicos e deve estar previsto na legislação regulamentadora do cargo. Um exemplo são os concursos para carreiras policiais. Uma opção para recém formados O estudante de jornalismo da Universidade Federal do Espírito Santo e publicitário, Gustavo Ferreira, relata suas recentes experiências no ‘universo concurseiro’: O que você achou do artigo que foi publicado semana pas-

sada na JC Concursos comparando a atividade de concurseiros com atletas esportivos? Achei interessante a comparação, penso que somos atletas em tudo na vida, né? Pra tudo é necessário foco e preparação. Estudar para concurso era um plano seu desde o início, ou você acabou escolhendo esse mercado depois do término da faculdade? Estudar pra concurso passou a ser meu objetivo depois que finalizei a faculdade, fiquei desempregado e não conseguia nenhum emprego no mercado, acabou que só tinha restado essa opção. O que você considera uma rotina saudável de estudos? Eu considero como rotina saudável quando você não deixa de sair com os amigos por causa dos estudos, faz uma atiividade, dorme no horário todos os dias e se alimenta bem, para ter energia para continuar estudando.


No Entanto Edição 77 - Agosto de 2017

CULTURA

13

Jovens estão lendo menos livros

Foto: Andressa Ventura

Queda nos índices de leitura na faixa etária dos 14 aos 24 anos pode estar associada à revolução digital

ANDRESSA VENTURA

N

o ano de 2011, a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, elaborada pela Fundação Pró-Livro em parceria com o Ibope Inteligência, revelou que crianças, jovens e adolescentes estão lendo menos livros. De acordo com os dados, entre os adolescentes (14 a 17 anos), a média registrada, nesse ano, foi de 5,9 livros por pessoa. Em 2007, porém, a mesma marca era de 6,6. Entre os jovens (18 a 24 anos), o índice, que era de 6,1 livros por jovem, diminui para 5,3. A causa ainda é desconhecida, mas pesquisas apontam uma queda nos níveis de atenção do ser humano após o surgimento da era digital. De acordo com a pesquisa, os docentes são os principais incentivadores da leitura, reforçando ainda mais a importância do campo educacional na manutenção desse hábito. Para o jornalista e professor de Língua Portuguesa, Girley Vieira, o papel da escola é fundamen-

tal para a mudança no quadro de redução da leitura entre os jovens. Segundo Girley, o modelo de leitura oferecido pelas escolas não está conectado à juventude deste século. "Os jovens de hoje não se desconectam, não há mais separação entre o virtual e o real. A vida se passa nos aplicativos. A escola precisa acompanhar a evolução da sociedade a qual pretende transformar”. Ainda com base na pesquisa, 70% dos jovens e adolescentes leem motivados apenas por exigências acadêmicas. Para o escritor Adalberto Lima, o ramo literário também precisa de uma reformulação. “Alguns editores ainda vivem naquele tempo em que se dita o que se vai ler. O público hoje é bem diferente de 20 ou 30 anos atrás” afirma Adalberto. O hábito regular da leitura contém diversos benefícios. Entre eles inclui-se a expansão do vocabulário, a aquisição do conhecimento, a melhora na memorização e o aumento da concentração. O

professor de história, Guilherme Gouvêa, diz ser clara a distinção de um aluno que muito pratica a leitura. “É possível identificar um aluno que lê muito pelo vocabulário, é o mais perceptível” opina o professor. Além disso, ele afirma que um aluno com o hábito regular de leitura possui uma maior capacidade interpretativa e é mais crítico em relação ao que se propõe em sala de aula. Recentemente, uma pesquisa desenvolvida pela Microsoft estabeleceu que o tempo de concentração das pessoas é de apenas 8s, e a estimativa é que ocorra uma redução progressiva dessa contagem com os avanços tecnológicos. No entanto, a tecnologia se tornou grande aliada da leitura com o surgimento dos livros digitais. Para Adalberto Lima, esse avanço amplia o acesso à leitura, visto que os e-books podem ser facilmente encontrados na rede e por preços mais acessíveis que os livros convencionais.


No Entanto Edição 77 - Agosto de 2017

ESPORTES

14

Caratecas capixabas buscam o sonho Olímpico

Fotos: Arquivo Pessoal

Sem apoio suficiente, o treinamento de atletas olímpicos é prejudicado

ISABELLA BELLUMAT Kumite é a modalidade de luta do Caratê, e o Kata é a luta imaginária. Essas são duas das muitas novidades que vão aparecer nos Jogos Olímpicos em 2020 no Japão. É por esse motivo que a atleta Tamillis Campi da Seleção Brasileira de Caratê está treinando como nunca antes. “Estou treinando como se as olimpíadas fossem amanhã. Sabendo que está difícil, estou treinando bem mais” A carateca precisa dividir seus treinos com a faculdade de Engenharia. “As férias estão sendo um alívio. A faculdade me dá patrocínio, se não tivesse esse apoio, não teria jeito”, diz a atleta. Não só a Tamillis, mas Bruno Conde também treina pela Seleção e conta a maior dificuldade de ser um atleta profissional. “Para um iniciante é mais difícil evoluir sem patrícios e para ganhar a bolsa atleta já precisa ter títulos”, explica. O dinheiro tem sido uma questão importante para os dois. Ambos recebem a bolsa atleta, mas quan-

O

do o quesito é juntar pontos para o ranking mundial, só o auxílio não é suficiente. “O maior obstáculo é o patrocínio. Eu preciso participar de muitos campeonatos para pontuar, e sem outros patrocínios as viagens não são possíveis” revela Tamillis. Para conseguir a vaga olímpica, os competidores precisam estar entre os 10 colocados no mundial, e só conseguem pontos participando de campeonatos. Só neste ano a carateca participou de uma seletiva em Manaus, Pan-americano no Caribe, e junto com Bruno participou do Sul-americano na Bolívia. Nas próximas semanas Tamillis vai embarcar para o Uruguai e Argentina. A treinadora da Seleção Capixaba de Katar Feminino, Lígia Fonseca, acha que só a bolsa não é suficiente. “Os atletas não treinam somente o esporte, mas também o Cross Fit para o condicionamento. Isso demanda uma boa alimentação devido ao desgaste, e para isso precisa de um nutricionista. Tudo isso envolve muito dinheiro”, completa.

Aconteceu no dia 22 de Julho a competição Pré-Olímpica de Caratê no Ginásio da UFES. Daniel Lopes, Bruno Conde, Rogers Gomes, Tamillis Campi, Érika Keylla e Raylaine Sara foram os atletas que conseguiram uma vaga para disputar o Pré-olímpico nacional em São Paulo.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.