NO ENTANTO Jornal Laboratório - UFES | edição ABRIL - 2019
atraso da pm GERA CONTROVÉRSIAS Foto: Guilherme Destefane
Adversidade e questionamentos sobre a polícia militar permanecem na comunidade universitária p. 5 Educação
ufes e mpes lançam PROJETO para combater racismo com educação p. 3
Esporte
INICIATIVA transforma o cenário de bairros carentes e revela talentos para o vôlei p. 9
Literatura
Política
menino chamado menino
coordenador da Comissão da Verdade AVALIA a comemoração da Ditadura Militar
POR CAMILA BORGES
p. 11
A CVUfes reafirma que aconteceu um golpe e que houve torturas, perseguições e censura dentro da Universidade p. 6
COMO O DIAGNÓSTICO TARDIO AFETA A VIDA DAS PESSOAS COM CâNCeR? P. 8
Expediente edição, arte e diagramação Beatriz Heleodoro Gabriela Brito Eduardo Carvalho Esther Mendes Hérick Coutinho Marcus Vinícius Reis Newton Assis Rafael Sguerçoni
Redação Aline Almeida Anderson Barollo Andressa Antunes Arthur Chiesa Beatriz Bessa Beatriz Heleodoro Camila Borges Eduarda Moro
digital e mídias sociais Eduardo Carvalho Esther Mendes Gabriela Brito Hérick Coutinho Izabela Toscano João Paulo Rocha João Vitor Castro Luisa Cruz Marcus Vinícius Reis Mylena Ferro Myllena Viana Newton Assis Noélia Lopes Rafael Sguerçoni Teresa Breda
editorial Por Beatriz Heleodoro A edição 97 do Jornal Laboratório No Entanto marca um novo ciclo. Nós, da turma 2018/1, assumimos a responsabilidade de sermos as vozes deste jornal ao longo deste semestre. Escolhemos novas tipografias, mudamos as cores, mantivemos editorias e trouxemos inspirações de outros jornais — mas o nosso objetivo continua sendo o mesmo: dar notícia de qualidade com criticidade. Afinal, é esse “toque No Entanto” que nos encoraja a trazer informações claras e objetivas. Nessa primeira edição, trouxemos as editorias Educação, Sociedade, Política, Saúde, Esporte, Cultura, Literário e Contraponto, cada uma com sua cor – esta última que chegou para mudar. Ao debater as formas como a mídia tradicional aborda certos temas queremos apresentar a você, leitor, um outro lado. A partir destes segmentos, vamos explorar as técnicas que estamos aprendendo em sala de aula na construção de matérias, reportagens, crônicas e charges. Dessa vez, trouxemos para discussão a atuação da Polícia Militar na Ufes, a Comissão da Verdade na nossa universidade, histórias de combate ao câncer e a existência de casas culturais em Vitória, entre outras pautas. Mas o No Entanto não se resume às edições impressas. No site e nas redes sociais, você terá acesso a atualizações frequentes do nosso jornalismo. Seja bem vindo, leitor, contamos com a sua participação para construirmos juntos este jornal. Turma de Jornalismo 2018/1
logo Gabriel Moraes
Professor orientador Rafael Bellan
Noe nas redes facebook.com/jornalnoentanto
No Entanto
Jornal laboratorial produzido pelos alunos do 3º período do curso de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo , da Universidade Federal do Espírito Santo. Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras | Vitória, ES Email: noentanto@gmail.com Telefone: (27) 4009-2603
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Ufes e MPES combatem preconceito nas escolas O projeto é uma parceria entre as duas instituições e visa combater o racismo com educação Por Aline Almeida
Foto: Assessoria de Comunicação MPES.
O
projeto “Formação em Educação das Relações Étnico-Raciais”, uma iniciativa do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) da Ufes em parceria com o Ministério Público do Espírito Santo (MPES), foi lançado na última segunda-feira (15) no auditório do MPES. Ele visa potencializar o estudo das relações étnico-raciais e a aplicabilidade da Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental e médio. “O projeto nasce a partir da necessidade que o MP estadual percebe das violações aos direitos humanos das pessoas negras em todo o país. Tendo isso em vista, o Núcleo de Proteção aos Direitos Humanos (NPDH) do MPES buscou o Neab para um trabalho em conjunto”, afirmou a coordenadora do Núcleo de Proteção aos Direitos Humanos (NPDH) e procuradora de Justiça Catarina Cecin Gazele.
Para a procuradora Cecin Gazele, a formação qualificada é a melhor saída O Neab ficou responsável pela promoção de um curso de capacitação para profissionais da área da educação. De acordo com o núcleo, o curso “Formação em Educação das Relações Étnico-Raciais” fará uma exposição dialogada e apresentação de atividades e estratégias pedagógicas, propiciando vivências e práticas coletivas sobre a História da África e da Cultura Afro-brasileira. O objetivo é que os participantes sejam multiplicadores das ações que serão propostas, efetivando a implementação da Lei Nº 10.639/2003. Para Catarina Cecin Gazele, o preconceito se combate com educação. Ela informou que o assunto será tratado de modo transversal em todas as disciplinas e introduzirá de maneira justa todo legado africano para a formação da cultura brasileira e conhecimentos em geral. “A formação é importante especialmente para educadores e
gestores de escolas. O curso é aberto também para ativistas, estudantes em geral e servidores do Ministério Público”, aponta. Ela defende que é uma iniciativa que trará resultados a longo prazo e que o papel do MPES, além da promoção dessa formação para a aplicabilidade da Lei, é fiscalizar a sua execução.
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Atuação de Policiais na Ufes provoca indagações Atrasos, desemprego e questionamentos ainda rondam a comunidade universitária em 2019 Por Anderson Barollo
Crédito: Anderson Barollo
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assunto Segurança na Ufes ainda perdura pela comunidade universitária e a população capixaba. O convênio que iria ser inaugurado em agosto do ano passado ainda não ocorreu de fato. O número de policiais atuando na universidade até agora é bastante inferior ao que foi acordado com Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp). A decisão tomada pela reitoria da instituição federal em junho de 2018 até então gera questões como o desemprego dos vigilantes, aptidão de reservistas para atuar no campus e a ‘real insegurança’ tanto enfocada pela mídia ainda permanece sem muitas respostas. No início de março (12), uma estudante foi vítima de uma tentativa de enforcamento no Cemuni III. Logo após a ocorrência, houve uma reunião entre a reitoria e representantes do curso de Arquitetura e Urbanismo. Estavam presentes o reitor, o prefeito universitário, dois representantes da polícia militar, um da guarda federal, o chefe de Departamento de Arquitetura, o chefe do Centro de Artes e 4 membros do Centro Acadêmico (CA) do curso. Um dos membros do CA, o estudante Vitor Siqueira disse ao No Entanto que durante a reunião foi informado que so-
mente 20% dos policiais previstos no convênio estão atuando pelo campus de Goiabeiras, enquanto o acordo assinado previa 66 policiais. Segundo Vitor, o CA cobrou a ocupação da cantina do Centro de Artes - desativada desde 2017 - e a presença de vigilantes no local. A prefeitura universitária comunicou no encontro que já corre uma licitação para a ocupação do Centro de Vivência e do Centro de Artes. São seis empresas concorrendo os dois espaços.
ca de 16 reservistas no campus de Goiabeiras. Os dois militares em questão estão no exercício desde o início de março. Segundo eles, o acordo com a Ufes permite a ação ostensiva dentro dos campi. ‘’Temos sim (autorização para atuar com a força), o convênio nos permite [...] Estamos atuando de forma ostensiva, preventiva também, mas ostensiva’’ disse um deles. A polícia ainda relata que não teve contato com o aplicativo Alerta Ufes. Criado em 2017 para intensificar a segurança na univerReservistas sidade, o aplicativo permite ao usuário emitir um alerta pelo Dois policiais que já estão celular acionando o vigilante atuando na universidade disse- mais próximo pela central de viram que, até o momento, a equi- deomonitoramento. pe de segurança conta com cer-
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Em 2016 foi formada uma comissão para discutir a respeito da segurança na universidade. Em contato com a Sintufes (Sindicato dos trabalhadores da Ufes) que integrava a comissão, foi dito que o comitê não teve a devida credibilidade e voz para efetivar suas propostas na época. ‘‘Perto do acordo (convênio) não houve diálogo com a comissão nem com a comunidade universitária (...). Me parece que foi criado um modelo de sensação de insegurança no campus pela grande mídia e o convênio passa a falsa sensação de segurança; quando na verdade nada mudou’’ opina Luar Santana, que faz parte da direção do sindicato.
Fala Comunidade O que você está achando da PM na Ufes?
Foto: Guilherme Destefane
‘‘Péssimo! ficam batendo papo entre eles é abordando os meninos negros’’ - Lívia moraes
Segundo ele, até este mês resVigilantes manifestam o descaso sotaram por volta de 4 a 5 vigilanfrido pela Universidade. tes na universidade. O contrato com a empresa Em contato com a vigilância terceirizada que atua na univer- Plantão (responsável pela vigisidade, um coordenador e dois lância no campi) tinha vencido vigilantes (que não quiseram em agosto do ano passado - peser identificados) questionaram ríodo na qual estava marcado o a real eficiência de um policial ingresso da PM dentro da Unireservista atuar na universidade versidade - no entanto, com o e o descaso com o desemprego atraso da execução do convênio, que o novo acordo impacta para o coordenador vigilante disse que, desde então, foram feitos eles. ‘‘Não pensaram na gente, contratos emergenciais até o que fica aqui 12h sendo cobra- efetivo de número de policiais do, fazendo ronda em pé e que da reserva preencha o espaço tem conta pra pagar no final do universitário. mês; nem universidade nem governo pensaram nisso’’ disse um “Não pensaram na gente, dos vigilantes. ‘‘Começamos com 16 vigi- que fiCA AQUI 12H SENDO lantes a 4 anos atrás. GradualCOBRADO...” mente viemos tendo redução, Vigilante que não quis ser indetificado justamente o período em que o número de ocorrências coA previsão é que em junho meçou a aumentar. Hoje estaesse último contrato ’emergenmos com 7 vigilantes mas esse número ainda vai reduzir’’ de- cial’ se encerre e seus serviços sabafou o coordenador sobre o sejam de fato extintos em Goiacorte sucessivo de integrantes beiras. na equipe.
‘‘Até agora está ótimo’’ - Heloísa Bergami ‘‘Mudou nada, os reservistas só ficam no zap’’ - Isabella Azevedo Cabines de vigilantes cada vez menos preenchidas na Ufes.
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Comissão da Verdade da Ufes critica proposta A CVUfes reafirma a realidade do golpe e aponta que houve sim torturas, perseguições e censura dentro da Universidade
Foto: Eduarda Moro
Por Eduarda moro
Pedro Ernesto também é professor de Arquivologia e do Programa de Pós-graduação em História e está realizando, no momento, pesquisa sobre regimes autoritários.
O
presidente Jair Bolsonaro, em uma sessão no Plenário da Câmara, propôs a comemoração do 55º aniversário da instituição da Ditadura Militar, no dia 31 de março de 2019, domingo. Na sexta-feira (29) anterior ao aniversário, a juíza Ivani Silva da Luz, da 6ª Vara da Justiça Federal em Brasília, proibiu qualquer comemoração em alusão ao golpe. O dia 31, por outro lado, foi marcado por protestos contra e a favor da Ditadura Militar nas ruas e por memes na internet. O No Entanto, nesta edição, entrevistou Pedro Ernesto Fagundes, que foi coordenador da Comissão da Verdade da Ufes. O projeto é a criação da Comis-
são Nacional da Verdade, proposta da ex-presidente Dilma Rousseff e efetivada em 2013, que estimulou a criação de outras Comissões dentro de universidades para investigar violações de direitos humanos durante o regime. Em 2013, a Universidade Federal do Espírito Santo criou a sua Comissão da Verdade, composta por dez pessoas.
O relatório se encontra gratuitamente no qr code abaixo:
NoE: Como foi o processo da produção do relatório final que foi publicado em 2016?
Pedro: De 2014 a 2016, levantamos documentos (cerca de 1500 de páginas de documentos sobre um órgão chamado Assessoria Especial de Segurança e Informação - AESI), entrevistamos quase vinte pessoas, dentre elas professores e ex-estudantes, e elaboramos um relatório final que foi entregue em abril de 2016. Nos dividimos em dois grupos de trabalho: um voltado para as entrevistas e, outro, para a recuperação de documentos e levantamento de dados sobre o cotidiano repressivo.
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7 NoE: Como foi o processo da pro- NoE: Como você encarou a proposdução do relatório final que foi ta do atual presidente de comepublicado em 2016?? morar a instituição do regime em Pedro: De 2014 a 2016, levatamos 1964? documentos (cerca de 1500 de páginas de documentos sobre um órgão chamado Assessoria Especial de Segurança e Informação AESI), entrevistamos quase vinte pessoas, dentre elas professores e ex-estudantes, e elaboramos um relatório final que foi entregue em abril de 2016. Nos dividimos em dois grupos de trabalho: um voltado para as entrevistas e, outro, para a recuperação de documentos e levantamento de dados sobre o cotidiano repressivo.
Pedro: A iniciativa do presidente da República [Jair Bolsonaro] mostra um profundo desconhecimento da História. Existem pesquisas das últimas décadas, que fundamentam que ocorreu um golpe em 1964 e, a partir de entrevistas e documentos, sabe-se que João Goulart tinha amplo apoio da sociedade brasileira e, apesar disso, por uma série de fatores, os militares e setores civis conspiraram contra o presidente, tirando o ilegalmente do poder. O Brasil viveu um período de ditadura.
NoE: Como a comunidade da Ufes lembra do período de 1964 a mea- NoE: O que você pode dizer para as dos dos anos 1980? pessoas que, ainda hoje, depois da Pedro: O AESI começou a funcio- divulgação de fatos e estatísticas, nar a partir de 1971 na Ufes e le- disputam a narrativa histórica? vantava informações sobre tudo - como o nome do paraninfo de uma turma que ia se formar; os livros que circulavam; se a atlética fosse participar de algum torneio fora da Universidade; os jornais mesmo os jornais-murais, muito comuns na época - eram confiscados, censurados e dados sobre a contratação dos professores, que não podiam ter participação em partidos considerados “subversivos”. Então, havia um clima de constante vigilância e existiam pessoas dentro de sala de aula observando como determinados temas eram tratados, pois corriam risco de serem processadas pelo amparo jurídico, o decreto 477, o qual, dentre outras coisas, podia demitir professores ou impedir que alunos se matriculem em outra universidade no período de três anos, caso não “andassem na linha”.
Pedro: Os militares realizaram eleição indireta, através de um
Congresso que havia sido depurado e o poder foi entregue aos militares que, ao invés de ficarem por um período curto, ficaram 21 anos no poder, mudando a Constituição, interferindo no Legislativo e no Supremo Tribunal Federal e com um aparato repressivo que iniciou em 1964 e foi se aprofundando nas décadas seguintes. É impossível falsear a História ou reescrever o passado, portanto, essas iniciativas devem ser discutidas dentro de um debate plural, democrático, com fatos.
NoE: Por que quem ainda não leu deve ler?
Pedro: A História é plural e demanda debate e crítica. O relatório foi feito para dar voz às pessoas que foram reprimidas, que foram presas e torturadas, é importante ouvi-las A CVUfes reafirma que aconteceu um golpe e que houve torturas, perseguições, censura dentro da Universidade.
Manchetes na capa do jornal “Posição”, edição nº 8, publicado no dia 06 de março de 1977, feito em Vitória - ES.
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Diagnóstico tardio dificulta o tratamento de câncer no país Estudos concluem que muitos tipos de câncer podem ser previnidos quando diagnosticados precocemente Por beatriz heleodoro
Apesar de o tratamento ser oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o diagnóstico do câncer ainda é a parte mais difícil para alguns pacientes, sendo comum a longas esperas entre consultas e demora para a realização de exames. A supervisora de loja, Vanessa Chiovato, descobriu que seu pai tinha o Linfoma de Não Hodgkin mais de três meses depois de um diagnóstico equivocado. O que foi avaliado pelos médicos de um pronto atendimento como apenas uma sinusite, era na verdade um tumor. O primeiro contato com o tratamento demorou cerca de 1 mês, para a realização de exames, e só depois de 60 dias é que conseguiria ser feito o retorno ao médico. O diagnóstico pode provocar um grande impacto na vida dos pacientes e o apoio de pessoas próximas pode facilitar esse processo. “Eu acho que é fundamental pra pessoa que ‘tá’ passando por essa situação, às vezes está sozinha, o que acaba prejudicando no tratamento e o emocional”, disse Vanessa.
e deu a ela uma expectativa de vida de só mais dois anos. Lícia mudou de médico, que afirmou que não tinha como prever seu destino e explicou como seria o tratamento: cirurgia e radioterapia. O câncer voltou quatro vezes, após ser tratado pela primeira vez. E em meio a um turbilhão de sentimentos, ela mudou sua visão do que estava passando e começou a valorizar ainda mais o presente e as pessoas à sua volta. Tornou-se voluntária do coral do Hospital Santa Rita, para alegrar todo o tipo de paciente que precisasse de uma demonstração de carinho. Hoje, depois de 15 anos de tratamento, mesmo com as sessões de quimioterapia, Lícia pratica yoga, zumba e participa de um grupo de ciclistas. Ela não sabe se o câncer pode voltar outra vez, mas de uma coisa tem certeza: de que quer viver bem. Reprodução: Instagram
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ma pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) estimou a ocorrência de mais de 500 mil novos casos de câncer no Brasil, em 2018, sendo aproximadamente 300 mil em homens. No Espírito Santo, mais de 11 mil e 500 casos foram estimados para o ano passado e entre os principais tipos estão os de câncer de mama, de cólon e de reto para as mulheres e os de câncer de próstata, de traqueia e de pulmão para os homens. A falta de conhecimento sobre a doença e a crença de que não se pode conviver bem com ela, são os principais fatores que dificultam o tratamento do câncer. No caso dos homens, a falta de realização de exames preventivos e cuidados com a saúde influenciam no diagnóstico tardio da doença, segundo estudos do Observatório de Oncologia. Segundo informações divulgadas no site do Centro de Combate ao Câncer, ”cerca de um terço das mortes por câncer está ligada aos maus hábitos, como consumo do tabaco, álcool em excesso e má alimentação”. As primeiras manifestações do câncer podem vir apenas após anos, logo, se prevenir de fatores de risco, que além de herdados podem ser resultados de hábitos, é de extrema importância.
Histórias que inspiram Há 16 anos, Lícia Borges, descobriu que tinha câncer de mama. Seu primeiro médico disse que por o tratamento ser muito agressivo, ela deveria aproveitar a vida ao máximo,
“Essa doença não me pertence”
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iniciativa social forma atletas na periferia Projeto em Vila Velha usa o esporte como ferramenta de transformação social e revela o mais jovem campeão mundial de volêi de praia da história Por andressa antunes
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cofundador e também profissional de educação física, Robson Rodrigues, a quadra foi revitalizada com orçamento próprio e ainda sem patrocínios. Com a conquista de um local fixo e apropriado para a prática do esporte, o projeto decolou. Com mais de 100 crianças e treinos em quatro dias da semana, logo os resultados começaram a surgir. No entanto, este não é o objetivo único do projeto. “Além de formar atletas, a nossa maior preocupação é formar cidadãos, resgatar através do esporte as crianças que se encontram em situação de vulnerabilidade social”, afirma Rodrigues. A iniciativa tem como base o resgate de valores e prioriza a educação dos participantes, acompanhando o desenvolvimento escolar juntamente com a evolução no voleibol. Hoje, o projeto é uma das grandes potências capixabas na modalidade. Nas categorias infanto e juvenil da seleção capixaba, grande parte das convocações são de atle-
Foto: Nazaré Simões Com a ajuda de empresas patrocinadoras, o centro de treinamento conta com equipamentos e estruturas de nível semi profissional, o que auxilia na formação de atletas qualificados.
tas do Vôlei Vida. “Os times sempre são compostos por pelo menos cinco ou até sete do nosso projeto, somos a base das equipes masculinas e também femininas do nosso estado”, disse a fundadora. Porém, o projeto já revelou também atletas que hoje atuam em outros estados. Atualmente, dois alunos que conheceram o voleibol através do Vôlei Vida atuam na seleção de Minas Gerais, além de terem passado por times de São Paulo, como o SESI e o Ibirapuera. O atacante da seleção de Minas em duas categorias, Filipe Baioco, afirma que o projeto mudou a sua vida: “os treinos me fizeram ter mais disciplina e foco não só no vôlei, mas também na escola e na vida”. Fonte: Reprodução do Instagram
niciado no ano de 2007, um projeto social tem transformado a realidade do bairro de Guaranhuns, em Vila Velha — e também o cenário do voleibol capixaba. O “Vôlei Vida”, que começou com pequenos treinos realizados em frente à casa de sua idealizadora, a profissional de educação física Nazaré Simões, agora acumula títulos e convocações de seus atletas a nível estadual, nacional e até mesmo mundial. Apesar de ter começado em uma rua do bairro e depois ter como sede uma escola das proximidades, o projeto teve seu maior desenvolvimento quando conquistou o espaço da Associação de Moradores do bairro. “Precisávamos de mais espaço para atender uma maior quantidade de crianças, então começamos a batalhar para resgatar o nosso bairro, uma quadra que estava desativada, ocupada indevidamente e aliciada pelo tráfico”, conta Simões. Aos poucos e acompanhada pelo
Capixaba e aluno do projeto desde 2015, André Stein iniciou na quadra e logo foi convocado para a seleção capixaba. Em 2013 ingressou no vôlei de praia e agora acumula diversos títulos, inclusive o de Campeão Mundial de 2017, juntamente com o atleta Evandro Gonçalves, tornando-se o mais jovem da história a conquistar o título.
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Casas Culturais propagam produções capixabas Os espaços funcionam como alternativa para quem atua na capital, abrangendo desde shows à exposições de artistas locais Por ARTHUR CHIESA
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não só para conservar a produção cultural, mas difundi-la a novos públicos. Righetti fala sobre a falta de estímulos que muitos artistas e agentes culturais enfrentam no estado: “A gente sempre trabalhou nessa linha de não só focar em nossos trabalhos, mas também criar uma base, um terreno para que floresçam outros trabalhos culturais [...] e eu sinto muita falta dessa preparação de base no nosso estado”. Para ele, não se trata de proteger e isolar a cultura de interações externas, e sim de encontrar meios para promover a cultura local, seja por políticas de incentivos ou espaços em casas culturais. Ele também acentua sobre a falta de costume do capixaba em consumir produções locais, mesmo com espaços alternativos.
“Nossa maior dificuldade é o público. Não tem público alternativo suficiente em Vitória”. Também é o caso da Casa Cultural e loja Thelema, situada no Centro de Vitória, em que destina o local para atividades como saraus, rodas de debates, lançamentos de livros, momentos de poesia e até pequenos shows musicais, sempre abrangendo as produções locais, apesar de se manter financeiramente com a venda de camisas, artigos de tabacaria e venda de arte de modo geral. Segundo David, proprietário do local, o espaço “é uma loja que, para além disso, pensa em dialogar com a cidade a partir das propostas culturais” tendo que se dividir entre as duas funções para garantir o funcionamento do estabelecimento. Foto: Reprodução do Instagram
consolidação de um público e o amadurecimento profissional são fatores que diferenciam e contam muito para artistas e agentes culturais alternativos, de acordo com sócios e colaboradores de espaços culturais do Centro de Vitória. Para isso, existem as Casas Culturais - locais de interação, conservação e difusão cultural, sobretudo local, que funcionam como verdadeiras vitrines das produções culturais capixabas. Segundo o antropólogo Patrício Guerrero Arias, cultura é fruto da interação social que, gradativamente, constrói símbolos, significados, costumes, ideais etc. que fazem sentido ao menos a um grupo de determinada região. Os reflexos dessas interações podem ser observados na língua, nas roupas, na culinária, nas produções artísticas em geral e em diversas outras formas de expressão. Na capital não é diferente. De acordo com a Secretaria de estado da Cultura (SECULT), a cultura capixaba é formada por uma mistura de costumes e tradições indígenas, africanas, de imigrantes europeus e outras etnias que fazem transparecer a riqueza do cenário tradicional. No entanto, Heitor Righetti, sócio da Casa Subtrópico, diz que pouco se valoriza a produção cultural de agentes capixabas e é justamente a partir dessa demanda que surgem as casas e espaços culturais. Com o intuito de suprir a falta dessa representatividade, esses espaços vêm
Quarta poética com Wilson Coelho, na Thelema.
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CHARGE
é páscoa, taokei?
CRÔNICA
menino chamado menino
E
POR GABRIELA BRITO
contraponto A visão do suicídio na ponte
POR CAMILA BORGES
stava na feira de Jardim da Penha quando tive a ideia de comprar um cacto. Não é uma ideia tão diferente assim, todo mundo parece estar gostando de cactos ultimamente. Criar cactos para o mundo não é tão fácil quanto parece. Surgiu a primeira questão complicada: precisava dar nome às minhas plantas. Dizem por aí que conversar com as plantas faz bem pra elas e pra nós. Será? Não sei, mas como conversar com uma planta sem nome? Todo mundo merece ser nomeado, afirma a Constituição - é um direito das crianças e também dos cactos, que são quase a mesma coisa, como o corvo e a escrivaninha de Alice no País das Maravilhas. Parei embaixo de uma sombra na feira enquanto pensava em um nome decente pro meu cacto, e então foi quando passou uma criança negra carregando um carrinho de mão, onde levava as compras dos feirantes. A mulher que estava do meu lado numa barraca de verduras então gritou “Menino, menino, carrega essas compras pra mim”. Até que é uma cena bastante comum (uma cena tão comum não precisaria gerar tanto incômodo) , a mulher precisando de alguém pra carregar suas compras, e o menino oferecendo seu serviço. Fiquei pensando que aquela mulher poderia ter um filho, mas não são os filhos dessas mulheres que trabalham nas feiras, o dela devia estar em casa jogando videogame. Naquele momento, meu cérebro se deteve no menino chamado menino e, de repente, me esqueci do que ela pediu à ele, se era pra carregar tomates, cebolinhas ou algum peixe fedorento da feira. Os dois foram embora, a mulher com sua bolsa, a criança com um carrinho pesado, e com eles toda a minha vontade de nomear meus cactos. Afinal, se nem aquela criança tinha um nome, por que a minha planta teria?
POR beatriz bessa
Há algum tempo na terceira ponte, principal trajeto que liga a capital Vitória a cidade Vila Velha, a quantidade de pessoas que se dirigem até o local na tentativa de se suicidar tem aumentado consideravelmente, isso faz com que este assunto ganhe notoriedade no jornalismo capixaba. A abordagem feita pela mídia capixaba tem como ponto principal os impactos causados no trânsito, devido às interdições feitas pelas equipes de resgate na tentativa de salvar vidas, não tem levado em conta o lado humano. O suicídio tornou-se mais uma estatística do que um problema que é realmente debatido Isto fica evidente em reportagens como a do Século Diário que disse: “É assustador: 441 tentativas de suicídio na Terceira Ponte desde 2000” ou do site Tribuna Online que fala: “Terceira Ponte já registrou 48 tentativas de suicídio em 2018” enquanto as vitimas são tratadas com total indiferença. Algumas poucas reportagens até abordam a questão da vida, mas de forma pífia e bem distante, mantendo como foco somente o impacto causado na vida da população. Enquanto isso, a questão da saúde mental é completamente ignorada. A Organização Mundial da Saúde (OMS) no Manual de prevenção de suicídio para profissionais da saúde do ano de 2000 aponta que “Primeiro, a maioria das pessoas que cometeu suicídio tem um transtorno mental diagnosticável. Segundo, suicídio e comportamento suicida são mais frequentes em pacientes psiquiátricos”, demonstrando que existe grande possibilidade de evitar traumas e perdas. Vale reforçar o papel dos veículos de mídia em cobrar dos órgãos da saúde ações voltado para pessoas com problemas mentais, resolvendo esta situação previamente e evitando que mais suicídios aconteçam. Falta também ressaltar o trabalho executado pelo Corpo de Bombeiros que se empenha na tentativa de salvar vidas, fazendo o possível para retirar a pessoa do local, e encaminha-la para acompanhamento psicológico. Essa atitude por parte da grande mídia legítima as reações negativas da população, que em situações como as descritas acima lançam palavras de ódio contra as vitimas, considerando-as como fracas e egoístas, enquanto individualistas são elas que levam em conta apenas a problemática do transito.
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