NO ENTANTO Jornal Laboratório - UFES | edição maio - 2019
aplicação das grades nas janelas Esporte Mesmo com leis do RU gera polêmica na ufes
Foto: Gabriela Brito
Polêmica sobre falta de uma saída de emergência no Restaurante Universitário (RU) é gerada no Campus Goiabeiras da Ufes
de incentivo, futebol feminino avança lentamente p. 12 Economia
queda no pib do trimestre preocupa especialistas p. 9
Janelas gradeadas no Restaurante Universitário da UFES causam questionamentos nos universitários.
Foto: Marcus Vinícius Reis
Cultura
Mercado da moda se expande na grande vitória p. 13 Crônica: “Dia inútil”
por Izabela Toscano
contraponto: mídia e preconceito social
sOCIEDADE
Pessoas com deficiência sofrem com mobilidade urbana no ct p. 6
Educação
ibge aponta aumento na alfabetização de p. 12 crianças com deficiência p. 15
saúde é um dos pilares para o vegetarianismo p. 7
p. 3
Expediente edição, arte e diagramação Beatriz Heleodoro Gabriela Brito Eduardo Carvalho Esther Mendes Hérick Coutinho Marcus Vinícius Reis Newton Assis Rafael Sguerçoni
Redação Esther Mendes Gabriela Brito Hérick Coutinho Izabela Toscano João Paulo Rocha João Vitor Castro Luisa Cruz Marcus Vinícius Reis
digital e mídias sociais Aline Almeida Anderson Barollo Andressa Antunes Arthur Chiesa Beatriz Bessa Beatriz Heleodoro Camila Borges Eduarda Moro Eduardo Carvalho Isadora Fadini Mylena Ferro Myllena Viana Newton Assis Noélia Lopes Rafael Sguerçoni Teresa Breda
logo Gabriel Moraes
Professor orientador Rafael Bellan
editorial O Jornal No Entanto traz em sua 99ª edição as editorias de Saúde, Educação, Sociedade, Economia, Cultura, Esportes, Contraponto e Literatura. A capa desta edição mostra o debate sobre a falta de segurança nas grades do Restaurante Universitário da UFES, incluindo dados de pesquisa entre os alunos. As pautas abordadas serão o vegetarianismo, a situação da educação de alunos com deficiências, acessibilidade no Centro Tecnológico da UFES - Goiabeiras e a queda da expectativa econômica. O espaço cultural da edição apresenta o mercado de moda capixaba e o estilo de vida dos bazares e uma crônica sobre a beleza dos dias vazios. Já a editoria de esportes traz as mulheres no contexto futebolístico e sua representatividade. A seção de contraponto expõe a discrepância na linguagem usada pela grande mídia ao noticiar crimes cometidos por pessoas de diferentes classes sociais. Nas redes e no site, as principais pautas foram sobre as manifestações que tomaram as ruas do país nos dias 15 e 26 de maio. Nossa equipe esteve presente fazendo a cobertura através de fotos, vídeos e stories no Instagram. Esperamos que apreciem a leitura de mais uma edição construída pela redação do Jornal No Entanto. Turma de Jornalismo 2018/1
Noe nas redes facebook.com/jornalnoentanto @jornalnoentanto
No Entanto
Jornal laboratorial produzido pelos alunos do 3º período do curso de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo , da Universidade Federal do Espírito Santo. Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras | Vitória, ES Email: noentanto@gmail.com Telefone: (27) 4009-2603
@noentantojornal
No Entanto Maio, 2019
3
Trabalho em equipe contribui para inclusão de crianças com deficiência no meio escolar Dados do IBGE apontam aumento na alfabetização de crianças com deficiência
Foto: Arquivo pessoal
Por luisa cruz ribeiro
Benjamin, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista, em momento de leitura e aprendizado
D
e acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, das mais de 45 milhões de crianças com pelo menos uma das deficiências investigadas, pouco mais de 7 milhões frequentavam escola ou creche. A cartilha do censo do IBGE de 2010 mostra que a taxa de escolarização de pessoas com deficiência entre 06 e 14 anos, na região Sudeste, era de 95%, percentual próximo ao de pessoas sem deficiência, com as mesmas características etárias (97%). “Ainda pretendemos chegar ao 100% de crianças com deficiências matriculadas. Nosso estado [Espírito Santo] é o que mais avançou em termos de inclusão, e para isso houve muito estudo
por parte dos profissionais envolvidos e também lutas por políticas públicas”, ressalta a mestre em Educação Helen Malta. Os profissionais de acompanhamento e cuidados, junto com o corpo docente, são responsáveis pelo acompanhamento da criança. “É uma tríade. É o acesso, a permanência e uma educação de qualidade social”. Comenta a Professora de Educação Especial do curso de Pedagogia (UFES), sobre a importância do trabalho em conjunto para a permanência do aluno com deficiência em sala de aula. A doméstica Rosana Benevides, mãe de Luiz Felipe, diagnosticado com deficiência intelectual e física, destaca a função que o profissional especializado exerceu no desenvolvimento do
filho. “Ele buscou maneiras diferentes de trabalhar em sala de aula. Procurava saber as dificuldades e foi elaborando vários tipos de trabalho para que meu filho pudesse alcançar a turma”. Segundo a mãe, o profissional foi fundamental não só na área da escola, mas também no processo de coordenação motora e no comportamento de Luiz Felipe. Junto com a equipe de educação especial, trabalham os cuidadores. Eles acompanham as crianças em suas necessidades básicas. Porém, a cuidadora Eloisa Damacena destaca as dificuldades enfrentadas pela categoria. Além da desvalorização, em algumas escolas de ensino infantil não existe a presença do estagiário ou professor de educação especial, sendo o cuidador o responsável pelo atendimento pedagógico do aluno. “Tem escolas que tem, escola que não tem. Para auxiliar na parte pedagógica, um cuidador fica fazendo papel de estagiário e de cuidador”, relata. A fotógrafa Camila Filgueira, mãe de Benjamin, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) aponta que o preconceito é vivenciado diariamente pelas famílias de pessoas com deficiência. “O preconceito
4
No Entanto Maio, 2019
Foto: Arquivo pessoal
Luiz Felipe na Sala de Recurso Multifuncional produzindo uma maquete para a disciplina de Geografia
Crédito: Luisa Cruz Ribeiro
muitas vezes é velado, outras é bem nítido. Vejo o preconceito como uma terrível e devastadora patologia da nossa sociedade”, conta. Ela também destacou a conscientização como forma de combatê-lo. “Espero que todo o nosso movimento em prol da disseminação de informações, contribua para que o preconceito dê lugar a conscientização, ao respeito às diferenças”. O censo de 2000 apontava 72% de crianças com deficiência alfabetizadas no Brasil. Relativo ao censo de 2010, o percentual era de 81%. “Nas escolas não vivenciamos nenhuma forma de preconceito, muito pelo contrário, elas são acolhidas por todos. Os alunos com deficiências estão cada dia mais sendo matriculados nas escolas regulares, e isso para nós que somos da área, é um avanço muito grande”, ressalta Malta.
5
No Entanto Maio, 2019
Alunos debatem instalação de grades nas janelas do ru Polêmica sobre falta de uma saída de emergência no Restaurante Universitário é gerada no Campus de Goiabeiras da Ufes Por gabriela brito
G
Crédito: Gabriela Brito
rades foram colocadas nas janelas do Restaurante Universitário (RU) do Campus de Goiabeiras da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em dezembro, no período de férias do ano letivo. A medida evidenciou a falta de uma saída de emergência e gerou discussão entre os usuários do restaurante. Em uma enquete realizada pelo No Entanto onde 50 alunos de todo o Campus Goiabeiras, que frequentam o RU em média 4 vezes por semana, foram entrevistados, concluiu-se que 56% são contrários à instalação das grades nas janelas. A principal reclamação dos alunos é em relação a forma que a medida foi tomada. Independente de ser uma prioridade financeira, 76% dos alunos achou equivocado a instalação das grades sem o diálogo prévio com o corpo discente, e alguns apontaram a medida como um
Enquete realizada no Campus de Goiabeiras da Ufes
ato antidemocrático. Segundo o membro do conselho universitário Guilherme Cogo, que também atua na pasta de formação política e movimentos sociais do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Ufes, ao levarem o tema ao conselho universitário, obtiveram a resposta de que as grades foram colocadas em razão dos funcionários do RU, que se sentiam ameaçados pelas pessoas que pulavam a janela do estabelecimento. Cogo disse que o corpo discente não foi ouvido, pois a decisão não passou pelo conselho universitário. Segundo ele, o DCE concorda que existiam outras prioridades financeiras, como a própria diminuição do valor do restaurante. “Nós vemos como prioridade a questão do acesso e permanência do estudante, seja pelo valor das bolsas ou pelo valor do Restaurante Universitário”, ele completa. Além disso, 54% relataram que já se sentiram inseguros no RU e a preocupação com a ausência de saídas de emergência mostrou-se unânime. De acordo com Cogo, a questão da segurança é um dos maiores pontos críticos. “Num cenário hipotético, se acontecer alguma coisa lá dentro, seja incêndio ou alguma confusão, não tem um lugar para escapar”, aponta. Segundo ele, essa é uma
questão preocupante. A equipe do No Entanto tentou contactar um órgão institucional responsável pela instalação das grades, mas não obteve respostas. A questão da segurança Segundo a Norma Técnica 10/2013 (NT 10/2013), disponível no site do Corpo de Bombeiros do Espírito Santo, as larguras mínimas ideais para saídas de emergência, em qualquer caso, devem ser de 1,10 m, correspondendo a duas unidades de passagem de 55 cm. De acordo com o bombeiro Erich Pêgo, as normas técnicas e regulamentadoras devem ser obedecidas pelos estabelecimentos.
Acesse a NT 10/2013 no LINK ABAIXO
Entretanto, isso não é o que acontece no RU. A principal saída é uma porta giratória, onde cabe apenas uma pessoa passando por vez. Segundo os estudantes, essa porta tem o costume de congestionar cotidianamente, e nesses casos é aberta outra porta, que possui 91cm de largura.
No Entanto Maio, 2019
6
Pessoas com deficiência apontam que há falhas na Infraestrutura do Centro Tecnológico Alunos da Ufes sofrem com prédios antigos, banheiros inacessíveis e passarelas irregulares Por Herick Salomão
A
necessidade de acessibilidade é uma pauta cada vez mais presente na nossa sociedade. Medidas voltadas para a inclusão e acolhimento de pessoas com mobilidade reduzida ou/e cadeirantes vêm sendo adotadas nos mais diversos locais, inclusive a Ufes, para respeitar e auxiliar na manutenção dos direitos básicos de ir e vir de cada um, como por exemplo o de estudar. No Centro Tecnológico da UFES campus Goiabeiras, que possui atualmente 25 espaços que englobam laboratórios, departamentos de engenharias, lanchonete, etc, muitos problemas em relação a acessibilidade e mobilidade podem ser encontrados. O CT 2 – Prédio da Engenharia Elétrica, por exemplo, que possui térreo e 1° andar, mas nenhum elevador em suas dependências, não possui nenhum aluno com mobilidade reduzida, mas tal limitação física impede de certo modo, que cadeirantes frequentem o departamento. Ao visitar o prédio nota-se escadas mal niveladas, banheiros fora das normas de adequação, bebedouros acima da altura indicada, buracos nas rampas. O CT 3 - departamento de Engenharia Mecânica, possui apenas o térreo, tem rampas nas
suas entradas, mas elas possuem desníveis, e o banheiro não possui adequação para cadeirantes utilizarem, visto que a porta é padrão. O aluno de Engenharia Mecânica, Deivison Diego Bergamini Santos, que possui mobilidade reduzida devido a um acidente, relata que enfrenta dificuldades de locomoção por causa das escadas dos prédios. O aluno também cita que quando foi fazer uma matéria de “Ótica” (matéria oferecida pelo CT2) ficava muito cansado por ter que subir escadas, ele que usa muletas para se locomover e tem que andar de forma tranquila devido a sequelas do seu acidente. Ao ser questionado sobre as políticas de acessibilidade do campus, Deivison fala que se sente muito bem atendido e que recebia um auxílio, Tainá Gomes, aluna do departamento de letras na Ufes, é cadeirante e relata que recebeu grande apoio da Instituição, como a cadeira de rodas que utiliza no campus e uma monitora
para acompanha-la. Emocionada, ela conta que seu dia a dia é repleto de pequenas vitórias por causa sua limitação e que se sente muito agradecida pela Universidade por ter feito rampas e passarelas lisas, visto que as antigas “são quase impossíveis de andar com a cadeira de rodas”. Douglas Ferrari, coordenador do Núcleo de Acessibilidade da UFES, cita que o núcleo visa fazer conjunturas em parcerias com a Prefeitura Universitária, ele também relata que a meta do Naufes é também formar profissionais, “dando a eles autonomia, independência e auto expectativa”, ele ressalta que o papel da universidade é emancipar de certo modo esses alunos. O campus possui atualmente 250 alunos portadores de deficiência que recebem atendimento social do Naufes e suporte acadêmico. Procurados pela nossa equipe a diretoria do Centro Tecnológico não se pronunciou sobre a situação dos prédios citados.
Estado da passarela próxima ao Centro Tecnológico III
No Entanto Maio, 2019
7
Saúde é um dos pilares para o avanço do vegetarianismo entre a população Cuidados com a saúde estão levando os brasileiros abolir as carnes de suas refeições Por esther mendes
U
Foto: Arquivo pessoal
Segundo o médico especializado em alimentação natural Jean Wolters as proteínas animais são acompanhadas de toxinas que, quando evitadas na alimentação vegetariana, fazem bem à saúde. Ele esclarece que quando comemos carne acabamos ingerindo os hormônios injetados, antibióticos para engordar e toxinas liberadas na sensação da morte dos animais os quais acabam gerando efeitos em nosso corpo. O especialista garante que as pessoas que adotam a alimentação vegetariana possuem mais vitalidade e energia. No entanto, deixa claro que no começo o corpo sentirá as diferenças. “Nessa mudança de alimentação onívora para vegetariana o corpo sente a diferença porque a carne possui muitas toxinas que são estimulantes. Então, vai
sentir fraqueza, mas isso dura umas semanas e já passa”, explicou Muitas pessoas tomam decisão própria em abolir as proteínas animais porque se informam através de leituras sobre alimentação vegetariana e, por isso, também acabam não fazendo um acompanhamento médico. Wolters ressalta que é necessário haver cuidados, como ingestão de alimentos naturais, integrais e crus, tendo atenção em consumir o máximo de produtos livre de agrotóxicos. “Os agrotóxicos reduzem drasticamente o valor nutricional do alimento”, alertou
Crédito: Esther Mendes
ma pesquisa feita pelo IBOPE em 2018 revela que a alimentação vegetariana tem crescido entre os brasileiros em um 14%, não somente pela preocupação com o meio ambiente e respeito aos animais, mas também por zelo à saúde. Muitos passaram a adotar essa dieta baseada em vídeos ou textos dispostos na internet. Por isso é necessário atenção e cuidados para que uma medida que deveria trazer benefícios a saúde não acabe trazendo maiores problemas.
Uma refeição vegetariana apetitosa, saborosa e diversificada é importante para que não haja desânimo em prosseguir com a dieta
8
No Entanto Abril, 2019
Foto: Arquivo pessoal
Neuzeli adotou o vegetarianismo para melhorar sua saúde
A
técnica de enfermagem Neuzeli Pereira, de 53 anos, decidiu abolir as proteínas animais de suas refeições após perceber que a ausência das carnes, ao contrário dos tratamentos com medicação que não traziam resultados, estava fazendo muito bem a sua saúde, que estava precária.
Neuzeli: “Minha saúde tem sido muito boa depois disso” das as minhas taxas abaixavam”, afirmou. Depois de um período sem comer nada derivado de animais (também deixou de comer ovos e leites) retornou ao médico e verificou que sua saúde havia melhorado drasticamente. Além de se sentir muito bem, a quantidade de comprimidos diminui a 1 por dia dos 21 que tomava. Segundo a nutricionista Ana Cristina Lozzer a alimentação vegetariana pode oferecer riscos no que diz respeito a falta de ingestão de alguns nutrientes que estão presentes em proteínas animais. “As principais deficiências são de vitaminas (B12, B2,D) e minerais (cálcio, certo e zinco)”, explicou. Mas, com uma avaliação da ingestão alimentar e exame sanguíneo para acompanhar as taxas desses nutrien-
tes, diz ser possível adotar essa dieta. “Cada pessoa responde de uma forma na alimentação e no organismo. Então, deve ser avaliado individualmente mesmo” ressaltou. Crédito: Esther Mendes
Em 2012, Neuzeli descobriu que possuía hipertensão, problemas com o colesterol, glicose elevada, grau dois de esteatose hepática e infecções urinárias, além de obesidade e dores nas pernas. Diante disso, consultou um especialista que a receitou 21 comprimidos diferentes e três doses de insulina por dia. Porém, em três anos, poucos foram os resultados. “Tudo o que eu fazia, eu ficava muito frustrada porque não melhorava, cada vez que ia na médica ela passava mais medicação para mim. E aí eu resolvi mudar”, revelou Foi em 2015 que ela começou a mudar a sua alimentação. Com caminhadas regulares, diminuiu carboidratos, aboliu os refrigerantes, sucos artificiais e embutidos. Até o final de 2017, sua saúde já havia começado a melhorar, e a quantidade de medicamentos começado a diminuir. Em janeiro de 2018, após assistir um documentário, resolveu fazer uma dieta radical, na qual se resumia em tomar sucos detox durante um mês, em consequência, não poderia comer carne. Após o fim do jejum decidiu não voltar a comer proteína animal. “Fui vendo que to-
9
No Entanto Maio, 2019
Analistas apontam para piora do quadro econômico após relatório do banco central Prévia do PIB indica queda do crescimento no primeiro trimestre, acompanhada de alta no dólar e aumento do desemprego Por João vitor castro
Crédito: João Vitor Castro
N
o último dia 14, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) indicou retração de 0,68% no PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre. O relatório é considerado uma “prévia” do PIB, e o resultado real será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do dia 30 de maio. Para os economistas Pedro Henrique Scaramussa, assessor de investimentos e sócio da Vértice Investimentos, e Rafael Moraes, professor do departamento de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo, a queda nas expectativas para a economia brasileira se deve sobretudo às incertezas quanto ao futuro, que tornam os empresários mais resistentes a retomarem investimentos. “Por outro lado, a redução dos investimentos públicos desde 2016 também reduz os incentivos à retomada dos investimentos privados. As políticas de corte de gastos levam à redução da renda real da economia e da demanda esperada, tornando mais interessante a alocação de ativos na esfera financeira que no setor produtivo”, aponta o professor. Moraes acredita que os refle-
O Banco Central também divulgou o relatório “Focus”, segundo o qual analistas reduziram pela 12ª vez seguida a estimativa de expansão da economia em 2019
xos desse cenário de incertezas podem refletir na manutenção da alta taxa de desemprego e da baixa arrecadação fiscal, que levará a mais cortes de gastos em setores vitais para o desenvolvimento do país. “Em curto prazo já estamos sentindo os efeitos: dificuldade de geração de emprego e renda. A médio e longo prazo há também o agravamento do problema fiscal que emperra o crescimento. Se isso não for solucionado entraremos em um estado fiscal gravíssimo e um cenário econômico desastroso”, completa Scaramussa. Na mesma semana o dólar chegou a R$ 4,12 e fechou em R$ 4,10, maior valor desde se-
tembro. No ano passou a acumular alta de 5,81%. A projeção para a taxa de câmbio no fim de 2019 subiu de R$ 3,75 para R$ 3,80. Segundo o professor da Ufes, as oscilações do câmbio ocorrem devido a fatores internos e externos, tais como a especulação no mercado de moedas e as disputas comerciais entre Estados Unidos e China. Moraes explica que embora um câmbio instável prejudique a todos, a desvalorização do real é benéfica para a indústria nacional, pois eleva o preço dos concorrentes importados. Após a alta da moeda americana, o Banco Central realizou leilões de linha (venda de
10
No Entanto Maio, 2019
Foto: Arquivo/ Banco Central
dólares com compromisso de recompra) no valor de até US$ 3,75 bilhões para abrandar a alta. Para Moraes, essas operações de rolagem podem resolver o problema momentaneamente, mas exigem grande volume de recursos e não se sustentam caso persista a pressão contra o real. Outras taxas tiveram variações no primeiro trimestre. O desemprego subiu de 11,6% no último trimestre de 2018 para 12,7%, atingindo 13,2 milhões de brasileiros. A expectativa de investimento estrangeiro para 2019 caiu de US$ 83,29 bilhões para US$ 82,00 bilhões. Já a expectativa de inflação subiu de 4,04% para 4,07%, ainda dentro da meta central do governo, de 4,25%. O professor de Economia explica que o aumento do desemprego em comparação com o semestre anterior se deve a “questões sazonais”. “Todo início de ano ocorre demissão de trabalhadores contratados temporariamente no final do ano anterior”, esclarece Moraes, que admite que o desemprego segue alto e não dá sinais de uma redução veloz e consistente nos próximos meses. A relação entre a expectativa de queda no PIB e o aumento do desemprego, segundo Scaramussa, é próxima. “Menos emprego significa menos renda e um PIB menor; o contrário também é verdadeiro”, aponta o economista. Moraes acredita também que a confirmação da redução de crescimento econômico do país
Relatório do Banco Central é resultado de levantamento com mais de cem instituições financeiras.
pode levar a um cenário não apenas de aumento do desemprego, como também da informalidade e uma piora no perfil das ocupações, “com salários mais precários e redução da renda média do trabalhador”. O professor reitera que, embora o pior momento já tenha passado, o Brasil ainda não retornou ao patamar pré-crise, nem quanto ao nível da atividade econômica, nem quanto ao número de desempregados. Scaramussa aponta também os impactos da retração sobre a classe empresarial, que segundo ele, não consegue fazer os negócios crescerem, tendo que demitir e reduzir o tamanho, fazendo com que muitos negócios acabem “morrendo”. “Os empresários do setor financeiro não parecem ser fortemente atingidos pela crise. Já os do setor produtivo, especialmente, os responsáveis por pequenas e médias empresas, tendem a ser mais atingidos pelas incertezas e baixo dinamismo
da economia”, completa Moraes. O comerciante Alessandro Sodré, sócio da Casa Kill, afirma não acreditar em melhora do quadro econômico. “O otimismo se dá quando você põe o pé para fora da cama de manhã, acredita e, como formador de opinião, tem que passar isso para o seu funcionário, que você acredita que vai fazer, que ‘não, vai melhorar, a gente acredita numa melhora’, mas no fundo eu não acredito mais na mudança, eu não acredito que aconteça nenhuma melhora. Não agora”, completa Sodré. Sodré reclama também do impacto gerado pela tributação, e concorda com Moraes que a economia informal deve crescer muito, com a tendência de fechar mais lojas.
“nÃO HÁ OTIMISMO” Alessandro Sodré, comerciante
No Entanto Maio, 2019
11
Reforma pode não ser a resposta Por João vitor castro
“Uma melhor condução política e diálogo com o Congresso é fundamental para aprovar as reformas e sair desse quadro ruim” Pedro Henrique Scaramussa, economista.
Moraes, professor de Economia da Ufes, discorda e defende que o investimento público é fundamental para a recuperação, gerando renda e demanda para estimular a retomada dos investimentos privados e ampliar a arrecadação de impostos, possibilitando o reequilíbrio das contas públicas.
“Brasil carece de investimentos em infraestrutura, saneamento, educação e saúde” Rafael Moraes, professor de Economia da Ufes
“Nada garante que, ainda que aprovadas as reformas, a economia volte a crescer. Pelo contrário, as reformas previstas, todas de corte liberal, buscam reduzir o papel do Estado na economia, levando provavelmente a uma retração do PIB”, contrapõe o professor, que finaliza defendendo que o Brasil “carece de investimentos em infraestrutura, saneamento, educação e saúde. Investir nesses setores parece ser a melhor opção para iniciar a recuperação da economia”.
Crédito: João Vitor Castro
O
s economistas Pedro Henrique Scaramussa e Rafael Moraes concordam que a inabilidade do governo em se articular e a falta de diálogo com o Congresso têm contribuído para a redução do otimismo e do nível de confiança do mercado, que vê de forma negativa a demora na aprovação das reformas liberais, como a previdenciária. Para Scaramussa, sócio da Vértice Investimentos, os resultados econômicos do trimestre deixam como recado para o governo Bolsonaro a urgência da agenda de reformas. “Uma melhor condução política e diálogo com o Congresso é fundamental para aprovar as reformas e sair desse quadro ruim”, defende o economista, que acredita ser esse um ponto chave para a resolução do quadro fiscal, trazendo mais previsibilidade, atraindo mais investimentos e gerando emprego e renda.
No Entanto Abril, 2019
12
Mulheres conseguem espaço no futebol, mas dificuldades ainda persistem no meio Alguns avanços já foram feitos, mas ainda sim a falta de incentivo faz com que fique mais difícil a entrada de mulheres em categorias profissionais no cenário de futebol Por izabela toscano
Foto: Izabela Toscano
de que as próprias equipes tiveram que arcar com a arbitragem, o que fez com que apenas três times participassem do torneio. Episódios como esses são comuns e diminuem a representatividade feminina no esporte.
“Eles são muito machistas, não tocam a bola pra gente”. Maria, 9 anos. Da esquerda para a direita: Maria, 9 anos; Chrislany, 9 anos; Sury, 7 anos.
E
m 1979 a Antiga Confederação Brasileira de Desportos autorizou que mulheres jogassem futebol. Passados 40 anos, o futebol feminino ainda luta em busca de investimento desde as categorias de base até o alto nível. Muitas jogadoras precisam de subterfúgios para se manter no esporte se apoiando em um segundo emprego não podendo se dedicar inteiramente ao time.
Nas categorias de base, a dificuldade está em encontrar escolinhas que atendam unicamente ao público feminino. A escolinha de futsal “Águias” localizada em Nova Almeida, Serra, conta com 65 crianças de 5 a 15 anos. Cinco delas são meninas. Sury, 7 anos, entrou na escolinha incentivada pelo pai e percebe que tem que se impor mais em quadra para desarmar os adversários e se mostrar presente para os companheiros de time. Ela diz que gostaria de treinar em times com mais meninas. Já Maria, 9 anos, não recebe tanto incentivo dos
pais, mas vai aos treinos desde 2016 e afirma que o maior incômodo é não receber a devida atenção dos meninos do time: “eles são muito machistas, não tocam a bola para a gente”. Quando chegam a categorias mais avançadas as dificuldades continuam. O treinador da escolinha, que também treina times femininos de categoria adulta, Arthur Ribeiro, fala que por causa da falta de investimento do governo ou de iniciativas privadas, as próprias jogadoras têm que se mobilizar para montar campeonatos informais que chegam a contar com mais de vinte times competindo. “Recurso tem, o que não tem é as pessoas que estão no poder olhar para essas mulheres que estão querendo jogar bola e não incentivar elas”. No ano de 2018, por exemplo, aconteceram inúmeros contratempos no campeonato estadual de futebol feminino a começar pelo fato
AVANÇOS Algumas leis de incentivo foram criadas para tentar reverter a desigualdade existente entre as categorias feminina e masculina não necessariamente só no futebol. A conmebol desde o início desde ano exige que todos os times da série A do campeonato brasileiro tenham um time feminino adulto e de base. Em novembro de 2018, devido ao movimento das atletas do boryboard tendo Neymara Carvalho como porta-voz, o então governador da época sancionou a lei que equipara as premiações de ambas às categorias em todo o território capixaba. Em 6 de junho desde ano começa a copa do mundo de futebol feminino e terá a maior cobertura televisionada que já teve em todas as edições, dando um pouco mais de visibilidade ao futebol feminino.
13
No Entanto Abril, 2019
Mercado da Moda se expande na Grande Vitória
Com a ascensão do segmento fashion no Espírito Santo, os bazares também se popularizam no estado Por marcus vinícius reis Foto: Marcus Vinícius Reis
A
cultura da moda capixaba está se profissionalizando a cada dia, com marcas chegando a ter projeção nacional, como a Konyk, se destacando pela diversidade de padrões e estilos. A moda é um fenômeno social temporário, a disseminação de um padrão ou estilo pelo mercado consumidor. Na Grande Vitória, tal mercado vem crescendo e atraindo mais pessoas para essa indústria. Segundo a especialista em design e produção de moda Maura Endringer, estamos num processo de transformação do mercado de trajes produzidos no estado, em que cursos de graduação e técnicos elevam o padrão das roupas. “Os aventureiros e amadores perdem espaço a cada dia para esse profissional da moda, que possui formação adequada e específica para atuar no setor”. Ela também afirma que assim a produção regional é percebida e consumida de uma nova forma, trazendo uma identidade para o que é fashion na Grande Vitória. Se amadurecendo cada dia mais, a moda capixaba está crescendo e valorizando pequenos produtores de roupas com eventos e feiras específicas como o Vitória Moda, maior evento fashion que traz passarelas de estilistas do estado, que ajudam a consolidar a força de um produto do Espírito Santo e leva muitas marcas capixabas a terem projeção nacional, elevando o nome do estado e suas peculiaridades. A moda oferece uma pluralidade de opções, podendo ser tanto
“A tendência é um ciclo, as roupas sempre voltam. Comprando em bazar, você sempre vai estar na moda.” Laura Conce, técnica em moda.
democrática quanto elitista. Com a segmentação do mercado de moda é possível oferecer produtos para todas as classes sociais. Contudo há quem seja contra esse capitalismo da moda, vivenciando um estilo de compra que vai além do mundo fashion. A POPULARIZAÇÃO DOS BAZARES Segundo a técnica em moda Laura Conce, consumir em bazares é uma questão ideológica. “A indústria da moda produz muito lixo pois as roupas são feitas para serem descartáveis.” Além disso, ela aponta que roupas produzidas em lojas de departamento por exemplo, são produzidas em locais em que as pessoas trabalham em situações análogas a escravidão. Marcas norte-americanas muito famosas fabricam suas roupas em países como Índia, em que as pessoas se submetem a esse tipo de trabalho para ter o que comer. Quem só compra em bazar sempre evita fomentar essa indústria.
Laura diz também que as roupas de bazar são de qualidade ímpar, coisa que não se encontra em lojas de departamento. “Nessas fast-fashion as roupas são produzidas para serem descartáveis. Você usa duas, três vezes a roupa já está desbotada.” Já em bazares, as roupas costumam ser de qualidade, pois já foram usadas antes de chegarem ao bazar e acabam durando muito tempo. Outro atrativo dos bazares é o preço. Peças que custariam caro em lojas regulares, chegam a custar apenas uma moeda em bazares, esses são os famosos achados. Existem cestas em que você encontra roupas sendo vendidas por um real. Além disso, existem também os bazares beneficentes que parte ou todo lucro é revertido a instituições como asilos e orfanatos, uma vez que todas as roupas que estão sendo vendidas foram doadas. As roupas que não são vendidas são doadas diretamente a famílias carentes.
14
No Entanto Maio, 2019
Grande mídia propaga preconceito social Grande mídia costuma agir de maneira preconceituosa ao reportar casos de crimes Por João Paulo Rocha
E
m uma rápida pesquisa na internet sobre certos tipos de crime que são cometidos, é possível enxergar uma nítida diferenciação por parte da grande mídia em relação a forma como são reportados esses crimes, dependendo da classe social de quem os comete. Uma matéria do G1 publicada no dia 15 de maio que tem como objetivo noticiar a prisão por tráfico de drogas de estudantes de medicina de Presidente Prudente, SP, não tem as mesmas características de uma notícia sobre o mesmo crime cometido por jovens do Morro da Conquista, ES, publicado no mesmo site no dia 23 de janeiro. Na primeira o jornal utiliza os termos “estudante” e “estudantes de medicina” para se referir aos jovens apreendidos, enquanto na outra matéria o termo “traficante” é usado sem nenhum problema para designar os rapazes. Desde o título da matéria até as fotos escolhidas para ilustrar o fato, todo o material é diferente e totalmente tendencioso. As imagens e termos utilizados demonstram um certo preconceito por parte dos veículos midiáticos. A maior parte das reportagens que noticiam crimes cometidos na periferia tem em destaque as “fotos de cadeia”
dos suspeitos, ou as fotografias da apreensão, dentro de viaturas, com algemas nos pulsos, mas sempre reforçando o estigma de “bandido”, o que de certa forma gera uma posição de desumanização de quem está ali representado. Em contrapartida, quando o suspeito é de classe média ou alta a imagem representada é completamente diferente, são colocadas fotos pessoais, de redes sociais, representando a pessoa de maneira muito mais “humana” que no outro caso. Estas escolhas criam estereótipos na cabeça das pessoas, levando quem lê a ter uma visão de que todos que tenham as mesmas características de quem aparece nas notícias são transgressores da lei. Os termos utilizados também reforçam estes estereótipos, os títulos das notícias que circulam pelos jornais já explicitam isto. Para os jovens periféricos são usados com um exagero quase que obsessivo termos como “bandido”, “criminoso”, “traficante”, entre outros. O mesmo não acontece se o preso em questão for um médico, engenheiro, advogado, ou o que quer que seja se este for membro da elite. Estas notícias que circulam de maneira irresponsável nos mais variados veículos midiáticos que são lidos por gran-
de parte da população acabam servindo como uma forma de aumentar o preconceito social contra uma determinada parte da sociedade que sofre com os estigmas que pairam sobre suas cabeças. Preconceito também na TV Os noticiários televisivos não ficam longe disso, nos jornais “populares”, que atingem a maior parte da população, termos como “bandido” e “vagabundo” continuam sendo usados. O Balanço Geral, exibido diariamente pela TV Record exemplifica bem tudo o que foi falado até agora. O jornal que mais parece um programa “humorístico” é líder de audiência e de preconceito. Nele o apresentador, o deputado federal Amaro Neto trata de maneira irônica e nada profissional os suspeitos de crimes que são noticiados por ele, utilizando de termos pejorativos e piadas de muito mau gosto. Quando o suspeito por alguma transgressão tem poder aquisitivo maior o tratamento é um tanto diferente, o comportamento de Amaro coninua cômico, entretanto os termos são mais leves, já que chamar alguém de “playboy” não tem o mesmo peso que chamar de “vagabundo”.
15
No Entanto Maio, 2019
Charge chuvas:
POR GABRIELA BRITO
CRÔNICA “UM DIA INÚTIL”
J
á dizia Chico Buarque “tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu”. É como se ainda vivesse, mas não estivesse ali. Quê? Tem dias que a gente não vive, só passa por ele. Se alguém te perguntar no fim da tarde, você não vai saber responder, porque na sua cabeça ele nem existiu. Faz sentido? Um dia assim nosso corpo tira para ser esquecido. As faculdades motoras diminuem e você será digno de menção honrosa se conseguir sair da cama pela manhã. Você não vai tirar o pijama, as roupas continuarão sujas e sairá da sua boca apenas
POR IZABELA TOsCANO a quantidade exata de caracteres necessária para se comunicar com o entregador do lanche que você pediu, porque, obviamente, e num dia como esses nem se sabe direito onde a cozinha está ou para que ela serve. Não digo que seja um dia triste, é um dia à toa. “Mente vazia é oficina do diabo”, dizem por ai... às vezes mente vazia é só vazia mesmo. As pessoas não precisam estar a mil o tempo todo. Celulares precisam de um tempo parados para recarregarem as energias. Agora eu parei para pensar naqueles celulares que acabam explodindo quando, em seu tempo de descanso,
um ansioso o incomoda para atualizar seu feed do Instagram e esquenta o aparelho plugado na tomada… adorei a analogia... Dias inúteis são vazios de rotina e de sentido, mas não de vida. Precisam ser mais valorizados. Em meio a tanto caos que nós mesmos construímos sabe-se lá por quê, é quase uma dádiva ter um dia inútil onde a única coisa que você efetivamente vai fazer é molhar a plantinha do parapeito da sua varanda. Acho que já deu para perceber que essa crônica surgiu de um dia inútil. Dê-me licença, pois agora vou molhar meu pé de acerola.
Jornalnoentanto.wordpress.com