Jornal Laboratorial - Ufes
Edição 92 - Outubro 2018
Entanto
ALUNAS da ufes rELATAM ASSÉDIO DE PROFESSORES e temem retaliação pela denúncia As universitárias espalharam cartazes pelo campus apresentando frases abusivas ditas pelos professores P. 3
Mulheres vão às ruas contra o fascismo
Foto: Síntia Mara Ott
P. 13
como funciona o Outubro rosa no sus? Entenda como é a vida das mulheres que dependem do Sistema Único de Saúde
Foto: Jonathas Gomes
time capixaba resiste à homofobia no futebol
P. 10
CANDIDATOS A GOVERNADOR PARTICIPAM DE DEBATE NA UFES
O local estava lotado, mas não contou com a presença dos Candidatos Renato Casagrande (PSB), Rose de Freitas (Podemos) e Manato (PSL) P. 14
EDUCAÇÃO É AFETADA PELA TERCEIRIZAÇÃO da atividade-fim
Entenda como decisão do STF, pode afetar a relação entre professor e aluno e compreenda as diferenças entre terceirização, atividade- meio e atividade-fim
P. 8
P. 4
Foto: Julia Lopes
Os protestos ocorreram em 114 cidades brasileiras
EDITORIAL
EXPEDIENTE EDIÇÃO
Miranda Perozini Sara de Oliveira Thauane Lima
arte e DIAGRAMAÇÃO Isadora Wandenkolk Maria Alice de Sá Sara de Oliveira Síntia Mara Ott Thauane Lima
REDAÇÃO
Jonathas Gomes Júllia Cássia Julia Lopes Lara Favaris Leonardo Miranda Luíz Rossi Maeli Rhayra Andrezza Steck Brunella Rios Gabriela Lúcio Gleiciane Marriel
DIGITAL E MÍDIAS SOCIAIS Alexandre Barbosa André Carlesso Isadora Wandenkolk Maria Alice de Sá Síntia Mara Ott
MONITORIA
Caro leitor, esta edição está voltada para o momento que estamos vivendo em nosso país. Nesse período tão importante, mas cheio de incertezas, todos estão com os olhos voltados para a política, mas o que de fato é política? O que é ser político? Entendemos que essa palavra não está relacionada somente a esse evento que acontece de quatro em quatro anos, mas a ações e projetos que visam o bem de toda a sociedade. Segundo o dicionário, Política tem a ver com organização de uma nação. Em um país organizado, pessoas não morrem na fila esperando pelo atendimento público. Em um país organizado a educação não é tratada como lixo. Em um país organizado, oportunidades para homens e mulheres não são desiguais. Diante disso, concluímos que política é isso: lutar para que esses e outros direitos se cumpram. Neste domingo, podemos fazer valer essa luta escolhendo representantes que realmente entendam o significado dessa palavra. Mas não acaba aí. É preciso que esse esclarecimento ocorra em todas as esferas da sociedade. É por isso que nesta edição abordamos temas como terceirização, homofobia no futebol, atuação de mulheres na ciência, entre outros. Sim, você tem o direito de discordar. A democracia nos permite fazer isso. Porém, nessa onda de relativização, em que tudo se conclui com “é a minha opinião”, não relativizamos alguns princípios. O respeito não é relativo, os nossos direitos enquanto seres humanos não são relativos. A luta contra o ódio não é relativa. Você verá que isso está presente em cada editoria: Universidade, sociedade, ciência, esporte, reportagem especial, saúde, cultura e política. Em cada uma delas estão presentes discussões que afetam diretamente a população brasileira e precisam estar pautadas em nossas conversas para que possamos analisá-las de forma crítica e consciente. E ao ler essas matérias é isso que queremos, uma conversa. Leia, debata, concorde, discorde, contra- argumente, mas acima de tudo, pense. Boa leitura e até a próxima edição! Turma de jornalismo 2017/2
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UNIVERSIDADE
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Assédio de professores RECEBEM poucas denúncias Apesar de existir, o processo de denúncia expõe a vítima e não oferece apoio necessário à situação, o que impede que muitas delas denunciem seus assediadores Por Brunella rios
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Fotos: Brunella Rios
o último mês, estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo se depararam com diversos cartazes espalhados pelo campus, que denunciavam casos de assédio envolvendo professores dentro da universidade. Alguns desses cartazes reproduziam frases de alunas nessa situação, enquanto outros tinham até mesmo o nome dos acusados. Segundo uma pesquisa do instituto Avon em parceria com o Data Popular, 56% das estudantes já sofreram algum tipo de assédio no ambiente universitário. O assédio é caracterizado por comportamentos que incomodam, constrangem, humilham ou perseguem uma pessoa ou um grupo específico. Esse tipo de conduta pode ser classificado em diferentes tipos: assédio sexual, moral, verbal, psicológico ou virtual. Quando pensado na universidade, o assédio é, na maioria das vezes, relacionado a atitudes vindas dos estudantes. Entretanto, ele também é cometido por professores, dentro e fora das salas de aula. Um dos grandes agravantes dessa situação, além do medo da retaliação, é a maneira que é conduzido o processo de denúncia adotado pelas universidades e, muitas vezes, a resistência em cumprir as medidas de punição para com os assediadores. Uma estudante de educação física da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), de 21 anos, diz já ter sofrido com esse tipo de situação por parte de um professor durante a aula. Após ter escutado que seu short estaria chamando muita atenção, a aluna rebateu a atitude do educador, que ameaçou abrir um processo administrativo contra ela.
Coagida, não denunciou a atitude, porque teria outras matérias com aquele mesmo professor no próximo período e não queria ficar marcada. Para ela, a universidade poderia escutar mais os alunos: ‘’A conversa é sempre a mesma: espera ele aposentar’’, relata. Outra situação de assédio aconteceu com uma estudante de publicidade e propaganda, de 20 anos, também da Ufes. Ela recebia constantemente mensagens e e-mails de um professor sobre assuntos que não eram acadêmicos, o que a incomodava. A aluna se sentiu impotente e paralisada perante a situação e isso a impediu de fazer qualquer coisa que demonstrasse seu desconforto. Segundo ela, os canais de denúncia dentro da universidade deveriam ser mais simples e menos expositores, pois sentiu medo de denunciar o ocorrido e ser retalhada pelo professor que poderia lhe dar aulas novamente mais tarde. A Ouvidoria da Mulher é o órgão responsável por receber as denúncias de assédio e violência contra a mulher dentro da Ufes. Segundo o Regimento Geral da universidade, essas denúncias devem ser encaminhadas ao diretor do Centro ao qual o denunciado é vinculado e, caso ele entenda que houve indícios de assédio, pode solicitar a instauração de uma sindicância investigativa, que resulta em arquivamento ou abertura de um Processo Administrativo Disciplinar. Um dos problemas desse procedimento está na falta de preparo dos diretores dos Centros para lidar com situações de assédio. Isso resulta, muitas vezes, na omissão e impunidade dos acusados e, consequentemente, na sensação de impotência por
Cartazes produzidos por alunos denunciam cenas de abusos no ambiente universitário.
parte da vítima, como aconteceu com a estudante de educação física, que foi orientada a espera o professor aposentar. Além disso, a exposição das vítimas e a falta de apoio durante e após o processo de denúncia, impede que muitas delas tomem a decisão de delatar seus assediadores. A retaliação e a possibilidade de conviver novamente com eles em sala de aula, assim como foi relatado por ambas as alunas, são algumas das consequências desse processo, que reflete a ausência de cuidados da universidade para com as vítimas.
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SOCIEDADE
TERCEIRIZAÇÃO DA ATIVIDADE-FIM PRECARIZA A EDUCAÇÃO Concursos públicos poderão ser extintos e a relação do professor com o aluno ficará mais distante
Foto: Júllia Cássia
Por Júllia Cássia
Decisão do STF gera incertezas acerca da qualidade do ensino.
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epois de muito tramitar no Senado, o Superior Tribunal Federal (STF) tornou constitucional, no dia 30 de agosto, a terceirização da atividade-fim, ou seja, o serviço principal que identifica o objetivo pelo qual uma empresa ou setor público está atuando. Na prática, o compromisso dos educadores será com os contratos empresariais que estão vinculados e não diretamente com a instituição de ensino, o que tornaria desnecessário a abertura de novos concursos públicos. Salvo algumas exceções, a mudança não ocorre, por exemplo, em áreas estratégicas e que envolvam posições institucionais como a de coordenação, controle e supervisão ou que estejam relacionadas ao poder da polícia. Na educação, o professor é quem
corresponde à atividade-fim das escolas e universidades. Significa então que a partir dessa nova legislação será permitida a contratação de professores mediados por empresas privadas prestadoras desse serviço, que os desvincularia dos locais de ensino, visto que agora é a empresa quem decide por quanto tempo o professor irá lecionar, aumentando a rotatividade. A socióloga do trabalho Lívia de Cássia G. Moraes alerta para uma espécie de relação ‘coisificada’, onde o professor é encarado como uma mercadoria usada por um tempo favorável, perdendo-se então a relação de troca entre educador e educando. “A própria palavra formação, ligada à educação, prevê um longo período entre professor e aluno para além das questões da sala de aula”, reforça Lívia.
Umas das principais justificativas para a implantação da terceirização é que a empresa, tendo como foco a atividade-fim, tem a capacidade de disponibilizar profissionais destinados a uma função específica e logo a expertise seria um diferencial. O diretor da Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE) e especialista em educação Eduardo Augusto Moscon declara que essa visão é equivocada por causar seletividade, “porque você cria profissionais que vão atuar só para dar as aulas sem se preocuparem com o conjunto da atividade pedagógica. Isso não se aplica a educação”. Além disso, a gestão do ensino público conta com secretarias de educação e equipes pedagógicas com profissionais
SAIBA MAIS Algumas etapas do processo antes da aprovação: - O projeto da terceirização inicialmente foi um resgate a proposta construída ainda no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1998. - Em 2002 ocorreu a aprovação da mesma no Senado, aguardando então passar pelo Plenário da Câmara e pelo presidente Michel Temer.
- No dia 30 de agosto desse ano, o Superior Tribunal Federal (STF) tornou constitucional a terceirização da atividade-fim em empresas. - Por fim, no dia 21 de setembro, Temer assinou o Decreto nº 9.507/2018 que abrange a terceirização para setores públicos. O Projeto de Lei entrará em vigor 120 dias após a publicação do decreto no Diário Oficial da União
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SOCIEDADE capacitados e que atuam há anos no âmbito educacional, acrescenta o diretor. O planejamento que um professor necessita antes de dar as aulas também poderá ficar comprometido ao ser solicitado a ministrar diversas disciplinas, com numerosos conteúdos e em variadas instituições de ensino. Fica fácil assimilar essa realidade com a medida legal da função do Professor Eventual que já ocorre atualmente em São Paulo (SP). Nessa modalidade um professor é solicitado para substituir uma eventual ausência. Por vivência própria dessa experiência, a socióloga Lívia Moraes afirma que o contato feito com ela era de aproximadamente 15 minutos antes da aula e o que inicialmente era para serem apenas duas disciplinas, passou a ser convocada para substituir as mais diferentes áreas, com intuito apenas de preencher o horário vago dos alunos. “O preparo da aula fica inviável e o ensino-aprendizagem entra em déficit”, reafirma ela. A qualidade da educação mediada também levanta questões importantes quanto à busca pela produtividade, característica de serviços
privados. Aplicada à sala de aula, essa espécie de meta pode ser simbolizada e definida com apenas números e índices, como o mapa do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), notas tiradas em exames nacionais e outras formas de avaliação de aproveitamento do aluno. O especialista
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em educação ainda ressalta a amplitude da relação escolar por envolver duas perspectivas: o ensinar e o cuidar, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Diante disso, de acordo com o especialista considerar a nota um elemento chave exclui a realidade de estudantes que estão fora dessa contagem.
“Quando você trabalha a educação como um serviço e não como um direito, você empobrece o processo”, adverte Eduardo.
Quem paga a conta?
As condições de trabalho que os terceirizados são submetidos também despertam outro alerta. Um estudo feito pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) aponta que a remuneração dos terceirizados é cerca de 24% menor – fora da região Sudeste o percentual cai mais ainda –; a rotatividade dos funcionários é duas vezes maior; de dez acidentes de trabalho, oito, em média são terceirizados e a jornada é de 12 horas a mais por mês do que se estivessem contratados diretamente. Diante desse cenário, a socióloga Lívia Moraes ainda ressalta o quanto a classe dos
professores antes mesmo da terceirização vem sendo deslegitimada e por meio de seus sindicatos se empenham pela busca de seus direitos escassos. A análise desses dados reflete o perfil de um educador que opta por trabalhar em vários turnos para manter uma remuneração digna, acarretando inviabilidades para o planejamento da aula - elemento chave para um ensino eficaz e atingindo até mesmo o trabalhador em áreas que vão além da profissional. “A gente precisa de uma mudança em termos de políticas educacionais”, salienta Lívia.
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CIÊNCIA
Mulheres ainda enfrentam desafios na ciência
Seguir carreira científica é o sonho de muitas mulheres, mas seus potenciais às vezes são desprezados exatamente por causa do seu sexo Por Lara favaris
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m um ambiente majoritariamente masculino, muitas mulheres vão com a cara e a coragem e buscam seus lugares para realizarem seus sonhos. Mesmo enfrentando preconceito e sendo desacreditadas, elas representam 60% do total de graduandos no Brasil e 41% na área das ciências, número ainda menor ao analisar os cursos de engenharia, em que só 29,3% delas estão presentes, segundo pesquisa do Inep. Ainda que com números relativamente baixos, os motivos para comemorar permanecem, já que em 2000, a média de graduandas era de apenas 22,1%.
A estudante de engenharia elétrica da Universidade Federal do Espírito Santo Fádua Cozac, conta que desde quando fazia curso técnico no Instituto Federal do Espírito Santo, sua sala nunca teve mais do que sete meninas. Embora não se sinta diferente por ser mulher nesse meio, ela conta que já viveu algumas experiências ruins durante o curso e no decorrer de sua vida profissional, “um professor de laboratório de automação achou que eu não estava entendendo nada já no primeiro dia de aula só por eu e minha dupla sermos garotas. Ele não teve esse tratamento com nenhum outro aluno na sala, acabou que só nós duas conseguimos terminar a experiência na aula, aí ele parou com isso”; ela ainda conta que em um processo seletivo, a entrevistadora ficava perguntando se a mãe dela a deixaria ir para o trabalho e se ela aguentaria, já que era um trabalho em um ambiente muito masculino. Apesar das dificuldades, Fádua não se deixa abalar: “me sinto muito bem por ser reconhecida como uma boa aluna, porque me esforço muito, assim como todos, e não aceito ter meu esforço menosprezado”. Os cursos de engenharia representam muito bem esse panorama de exclusão da mulher, desde sua estrutura até suas “tradições”, que incluem hinos extremamente machistas que passam exatamente a mensagem de que esse é um local de homens e mulheres não deveriam estar nele. As alunas relatam que sempre acabam sendo vítimas, presenciam ou ouvem falar de casos de assédio tanto por parte dos
Foto: Lara Favaris
“Mulheres representam 60% dos graduandos Apenas 29,3% são engenheiras”
Mulheres ainda são minoria no Centro Tecnológico das universidades. professores quanto dos colegas de classe, que chegam a dizer que as mulheres passam em matérias difíceis porque fizeram agrados aos professores, ou que eles pegam mais leve com elas por serem mulheres.
“me sinto muito bem por ser reconhecida como uma boa aluna, porque me esforço muito assim como todos e não aceito ter meu esforço menosprezado” Profissão de Mulher
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CIÊNCIA Outro problema relacionado às mulheres na graduação é a divisão socialmente criada da graduação entre cursos para homens e cursos para mulheres. Ainda é persistente a ideia de que cursos da engenharia são cursos de homens, já cursos como pedagogia ou até farmácia, são considerados cursos de mulher, por serem ditos fáceis e exigirem menos esforço. A visão patriarcal ainda perdura sobre muitas famílias, e a ideia da mulher exclusivamente como dona de casa também contribui para a manutenção de tais ideais de desigualdade, assim, tudo bem ela ser dona de casa, mas a opinião muda quando a mulher quer construir uma. Paula Ribeiro estudante de Farmácia na UFES, não concorda com esse estereótipo de que as mulheres são maioria só em cursos “fáceis”, segundo ela, a maioria dos alunos em sua sala são mulheres, e a atuação do farmacêutico, assim como nos outros cursos da área da saúde, exige muita responsabilidade e cautela pois lidam com a saúde física das pessoas, “falar que um curso é fácil por ter mais mulheres é antiquado tendo visto que não existe nenhuma comprovação científica que mostre alguma desigualdade entre o intelecto das mulheres e o dos homens”. A produção científica depende muito das mulheres. Dentre todos os países, Brasil e Portugal têm os maiores percentuais de participação feminina na produção científica: 49%, considerando o período entre 2011 e 2015. No caso brasileiro, houve um crescimento significativo na comparação com 1996-2000, quando 38% da pesquisa do país era feita por mulheres, o que foi divulgado de acordo com o estudo Gender in the Global Research Landscape (Gênero no Cenário Global de Pesquisa, em tradução livre), que mede o desempenho da pesquisa e representação de gênero em 12 países ou regiões geográficas (somente a Comunidade Europeia tem 28 países) e 27 disciplinas. “O Brasil evoluiu bem em termos de presença feminina na pesquisa científica. Nos primeiros cinco anos pesquisados, já havia uma participação importante e nesse últimos cinco a participação feminina pulou para 49%, colocando o Brasil em primeiro lugar junto com Portugal”, disse na divulgação da pesquisa o vice-presidente de Relações Acadêmicas para a América Latina da Elsevier, Dante Cid. As mulheres sempre foram de suma importância em grandes feitos científicos e hoje. Marie Curie, pioneira nas pesquisas sobre radioatividade, Katharine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson, cientistas que auxiliaram a che-
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gada do homem à lua junto com a NASA e que tiveram suas histórias contadas no filme “Estrelas Além do Tempo”, indicado à várias estatuetas do Oscar, Ada Lovelace, a primeira programadora, e muitas outras são exemplos de mulheres que conquistaram espaços majoritariamente masculinos e que inspiram a figura feminina a lutar pela mudança, bem como está sendo feita hoje.
RESISTÊNCIA NO CENTRO TECNOLÓGICO (CT)
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o Instagram, o perfil recém criado OUVI NO CT, serve de voz para essas mulheres que enfrentam assédio todos os dias. As organizadoras contam que a partir de um grupo no WhatsApp surgiu a ideia do perfil, já que muitas meninas começaram a compartilhar casos de assédio e machismo que haviam vivido, inclusive dentro do CT, no grupo, “decidimos fazer algo sobre isso, compartilhar esses casos e incentivar denúncias”, compartilha a organizadora que não se identificou. Elas ainda contam que há um tempo, um grupo de meninas já havia tido a ideia de espalhar cartazes pela UFES para expor esses casos, mas eles foram depredados, “a saída que encontramos foi criar o instagram e disponibilizar um meio anônimo das meninas contarem suas histórias.”, conta. A página, criada a menos de uma semana já conta com mais de 600 seguidores.
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ESPORTE
homens gays lutam contra homofobia no futebol Brasil aparece como sexto país mais multado por gritos homofóbicos em eliminatórias da Copa do Mundo de 2018 Por jonathas gomes
Fotos: Jonathas Gomes
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Ô cruzeirense, toma cuidado, o Bolsonaro vai matar ‘viado’”. Este canto foi proferido por parte da torcida do Atlético-MG, em um jogo contra o Cruzeiro, no dia 16 de setembro, no Mineirão. O acontecimento reacendeu a discussão sobre um preconceito ainda presente no futebol: a homofobia. O problema persiste como um desafio às entidades representativas desse esporte e interfere na presença de homens gays nesse espaço, seja em campo ou nas arquibancadas. De acordo com dados divulgados pela Folha de S. Paulo, em janeiro deste ano, o Brasil foi o sexto país mais multado pela Fifa (Federação Internacional de Futebol) por gritos homofóbicos nas eliminatórias da Copa do Mundo de 2018. O cenário demonstra um ambiente ostensivo à diversidade sexual nos jogos de futebol. Willian Cavalcante, piloto de navio, joga no Capixabas Futebol Clube, o primeiro time de futebol declaradamente voltado para a comunidade LGBTQ+ do Espírito Santo, e confirma o receio em expressar demonstrações afetivas como torcedor em jogos oficiais de futebol. “Não me sinto confortável para expressar algum tipo de relação homoafetiva em estádios, seja de carinho ou abraço. Livre, nos sentimos, mas não nos sentimos protegidos”, diz. Para muitos, a homofobia no futebol já começa nas aulas de educação física da escola, antes mesmo da participação, como torcedores, em jogos oficiais em grandes estádios. É o que conta Cavalcante, que viveu o problema durante sua vida escolar. “Vivi homofobia nas aulas de educação física, assim como em outras aulas. Depois que me formei, veio uma
A luta contra a homofobia nos esportes é um dos papéis mais importantes exercidos pelo Capixabas F.C. para o jogador Daniel Monjardim. “Mostramos que qualquer um pode jogar bola se quiser”, diz.
onda muito forte de discussão sobre bullying. No momento em que eu estava na escola, não tinha muito isso”, analisa o piloto de navio. O posicionamento dos professores é lembrado pelo rapaz, ainda que, em sua visão, eles não saibam de todos os casos. “Eu gostaria que os professores intervissem diretamente nos casos em que possuem consciência disso, que a voz dos alunos fosse ouvida”, defende. O ator Daniel Monjardim, também jogador do Capixabas Futebol Clube, defende posicionamentos mais definidos de times e entidades representativas do futebol sobre o assunto. “Acredito que quanto mais for debatida (a homofobia no futebol), mais resultados positivos teremos em relação à conscientização da população a respeito da causa LGBTQ+”, diz. O ator ainda pontua a escolha da Rússia como sede da Copa do Mundo de 2018 como um “descaso” com demandas do movimento. Nesse país,
Vila Velha sediou o primeiro torneio entre times de futebol LGBTQ+ do Sudeste
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Copa Sudeste, primeiro torneio entre times de futebol LGBTQ+ da região, aconteceu no dia 29 de setembro, às 10h, no Society Green Ball, em Vila Velha. O evento reuniu 8 times, sendo três deles de São Paulo (Unicorns, Futeboys F.C. e Bulls Football SP), três de Minas Gerais (Manotauros F.C., Alcateia F.C. e Bharbixas), um do Rio de Janeiro (BeesCats Soccer Boys) e o Capixabas Futebol Clube, representante do Espírito Santo. O BeesCats (RJ) foi o vencedor da primeira edição da Copa. O evento recebeu doação volun-
tária de alimentos não-perecíveis. O campeonato é motivo de orgulho para os jogadores, especialmente para os do Capixabas Futebol Clube. “Nosso time está entre um dos mais novos do Brasil e estamos muito orgulhosos que, mesmo assim, somos muito organizados e responsáveis. Estamos tendo condições de criar e sediar uma copa que não existia. Nós estamos orgulhosos de todos os jogadores”, comemora o jogador Willian Cavalcante. A socialização entre os times é celebrada como um dos principais benefícios do torneio.
em 2013, foi aprovada a “lei da propaganda gay”, que proíbe a distribuição a menores de idade de conteúdos que defendam os direitos LGBTQ+ ou equiparem relacionamentos heterossexuais a homossexuais.
William Cavalcante conta que percebia um “certo preconceito” já aos 8 anos, quando começou a jogar futebol na escola infantil do Cruzeiro F.C.
Felipe Oliveira, integrante da organização do Alcateias Futebol Clube (MG), defende a importância da relação proporcionada pelo evento para os jogadores. “A Copa Sudeste é uma excelente maneira de promover a interação entre pessoas de diversas localidades que estão com um mesmo intuito de demonstrar o esporte no meio LGBT e quebrar paradigmas antigos que envolvem preconceitos relacionados à comunidade gay no futebol”.
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SAÚDE
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Criança autista conta com apoio familiar para superar dificuldades do dia a dia Preocupações com o futuro existem, mas nada que impeça a família de levar uma vida saudável e feliz com os filhos Por Leonardo miranda
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e acordo com o DSM-5 (O Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5.ª Edição), o autismo se configura como um transtorno neurológico que compromete a capacidade de se comunicar e interagir. Mudanças e adaptações são necessárias não só na vida e rotina do autista, mas também na dos familiares. Porém, há um equívoco ao pensar que essas pessoas não podem levar uma vida absolutamente comum. Maria Tereza, 38 anos, é mãe gêmeos, uma menina e um menino, sendo Rafael, de três anos, um deles. Ela diz que após o nascimento dos gêmeos, começou a perceber algumas diferenças comportamentais entre eles, o que a fez suspeitar e procurar um neurologista. Dentre essas comparações, ela cita a facilidade da irmã em apontar algumas coisas e ele não, e também o olhar meio “vago” e “perdido” do Rafael quando alguém da família tentava interagir com ele. O caso do Rafael se enquadra dentro do grau mais leve de autismo. Pediatra com mais de 25 anos de experiência, a Drª Beatriz Beltrame diz que é possível perceber esse quadro através de sintomas que se encaixam na comunicação, socialização e comportamento. Não conseguir falar corretamente, dar uso indevido às palavras, não olhar nos olhos e padrão repetitivo de movimentos são alguns exemplos. A mãe diz que consegue entender os desejos do filho através de sinais e movimentos não verbais e relata que quando ele quer alguma coisa, a pega pela mão e a leva até o lugar ou objeto. “Tem algumas coisas que você não consegue entender, mas consegui me adaptar e não vejo grande diferença na rotina entre meus
Atividades psicoterápicas auxiliam crianças autistas a desenvolverem habilidades.
dois filhos”, diz. Maria conta que a rotina dos filhos é bem parecida, os dois frequentam a escola, entretanto, às segundas Rafael passa por uma bateria de terapia e às terças pela manhã frequenta a APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). A mãe ainda ressalta que toda a família sempre agiu de forma natural e amorosa. De acordo com a Drª. Beatriz, o tratamento para o autismo mais leve pode ser realizado através de psicoterapia, que auxilia o autista a desenvolver algumas habilidades e a interagir melhor com os outros. A maioria dos autistas precisa de ajuda na realização de algumas tarefas diárias, mas é possível adquirir independência para a realização da maioria delas,
dependendo do grau de comprometimento com o tratamento. Em relação à sociedade, Maria Tereza diz que ainda não a vê preparada para receber um pessoa autista com o carinho necessário. Completa falando que tem consciência de que o Rafael pode ser alvo de bullying futuramente, mas como mãe, acredita que seu papel é conscientizar e mostrar o amor que tem pelo seu filho para as pessoas, demonstrando que a vida de um autista pode ser absolutamente comum. “Quando eu fui matricular o Rafael na escola eu expliquei para os professores e coordenadores a situação. Se eu desejo uma sociedade legal para meu filho, eu preciso ser fonte de conscientização”.
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No Entanto Setembro, 2018
ESPECIAL
CAMPANHAS para combater o CâNCER DE MAMA DOMINAM O MÊS DE OUTUBRO Redes de saúde oferecem prevenção e tratamentos gratuitos no Espírito Santo
Foto: Luiz Gustavo Rossi
Por Andrezza Steck e Gabriela Rodrigues.
UFES hasteia a bandeira em apoio ao Outubro Rosa no primeiro dia do mês.
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câncer de mama, é o tipo mais comum entre as mulheres, de acordo com a Secretaria do Estado da Saúde (SESA), com taxa de mortalidade em 11,95 para cada grupo de 100 mil pacientes. Especialistas apontam que as heranças genéticas, o avanço da idade e mudanças drásticas e inesperadas da produção hormonal são alguns fatores que desencadeiam a doença. A ginecologista e doutora em Doenças e Infecções pela Ufes Neide Boltrini, explica que os procedimentos de prevenção ainda não são feitos regularmente pelas mulheres pelo tabu que envolve o exame genealógico, pela falta de conhecimento da importância de fazê-los ou pela falta de acessibilidade médica . Aponta que os entraves para o tratamento também provocam a precarização dos métodos diagnósticos que não possuem
sensibilidade alta em pacientes mais jovens. Mesmo apresentando problemas estruturais, o Sistema Único de Saúde (SUS) é de extrema importância para o combate dessa enfermidade: “A maioria da população de mulheres do Brasil não tem plano de saúde ou renda para fazer seus exames na rede privada. Nos últimos anos, devido à crise econômica brasileira, houve uma migração ainda maior para a rede do SUS. O SUS é de suma importância na prevenção de doenças no Brasil”, declara ela. Maria de Lourdes Rocha, 55, conta que foi em uma consulta de rotina realizada na rede pública e descobriu o tumor. Quando perguntada sobre a qualidade do atendimento, declarou que “Utilizar o SUS foi tranquilo. Depois do diagnóstico, tudo foi acontecendo naturalmente.” O tratamento foi feito no hospital Santa Rita. Mas nem todas têm a mesma causa. Outro
caso relatado mostra uma deficiência no atendimento. Zélia Aparecida, 49, conta que precisou realizar exames de mamografia e ultrassom com emergência no ano passado e, mesmo assim, a espera ultrapassou o prazo de dois meses. Frente aos dados alarmantes de mortalidade e considerando que o sucesso do tratamento está diretamente ligado ao diagnóstico precoce, está a importância do Outubro Rosa, mês internacionalmente dedicado à conscientização e prevenção do câncer de mama. No estado, o movimento é coordenado pela Afeec (Associação Feminina de Educação e Combate ao Câncer) - Hospital Santa Rita de Cássia em parceria com o poder público e a rede privada. Como em todos os anos, as programações se iniciam no primeiro dia de Outubro.
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especial
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o rosa está presente o ano inteiro na ufes
Foto:Bruna Gonçalves
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m mês para conscientizar, um ano inteiro para se prevenir. É com esse pensamento que o projeto Saúde da Mulher, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) realiza consultas, exames gratuitos e palestra para alunas da universidade. O projeto disponibiliza o total de 200 vagas para as alunas cadastradas no Programa de Assistência Estudantil da Ufes, sendo o cadastro dividido em duas vezes no semestre. O programa é realizado pelo Departamento de Projetos e Acompanhamento ao Estudante (DPAE) em parceria com o Departamento de Atenção à Saúde (DAS). Além do acompanhamento é promovida uma ação educativa com uma médica ginecologista. Diretor do DPAE, o professor Luiz Alexandre da Rocha explica a estrutura do projeto que oferece mais que consultas. “É a ideia de prevenção e autocuidado. O corpo feminino é um tabu em tudo que diz respeito ao cuidado e sexualidade. Então é preciso que a primeira a cuidar do próprio corpo seja a mulher. Essa palestra, formação educativa, ajuda tanto no próprio conhecimento do corpo da mulher e de preservação dele”, afirmou. O objetivo do programa Saúde da Mulher é
Projeto Saúde da Mulher oferece 200 vagas para alunas da Ufes. oferecer o que a campanha do Outubro Rosa prega: a prevenção. Porém o ano inteiro, até a conclusão do curso. Por meio da educação, as mulheres são conscientizadas da importância do autocuidado e são incentivadas a criarem o hábito de ir ao médico e realizarem exames regularmente. “Consciência corporal, consciência da sexualidade e cuidado com o corpo. Nós
vamos prevenir o desenvolvimento de certas doenças que são evitáveis e que podem levar a situações piores, como câncer e outras patologias que hoje têm cura, mas que o diagnóstico deve ser realizado cedo”, disse Luiz Alexandre. A próxima ação será no dia sete de novembro e as inscrições são realizadas no portal do aluno da Ufes, (aluno.ufes.br).
projeto resgata a autoestima de mulheres com câncer
A
pós ser diagnosticada com câncer de mama pela segunda vez, Lene Resieri, 48, resolveu tirar do papel um projeto que almejava há um tempo: ajudar mulheres como ela na luta contra o câncer. Assim surgiu a Seja Mais Simples, uma organização capixaba sem fins lucrativos que auxilia pacientes diagnosticadas com a doença. Lene, que mora no Norte do Estado, destaca a importância da campanha Outubro Rosa, mas afirma que o projeto, é mais que
conscientização. “O único objetivo, é o resgate da autoestima dessas mulheres através do carinho, apoio e união de quem já passou por esta experiência”. E continua: “o mês de Outubro é o mês que há uma mobilização maior de campanhas de conscientização sobre a importância da prevenção do câncer de mama, mas infelizmente passado este mês, a sociedade não mais fala mais sobre o assunto”, concluiu. Para seguir nesse modelo de prevenção contínua e valorização da autoestima, o
Seja mais Simples realiza durante todo o ano palestras, workshops e ações que reúnam suas integrantes para se fortalecerem. Os encontros são realizados em Vitória e na região norte do Espírito Santo. Para os interessados, o projeto possui um blog e perfis nas redes sociais onde são divulgados depoimentos e conteúdos das ações realizadas, além de matérias que ajudam as pacientes e seus familiares a terem uma vida mais simples.
QUAL É A ORIGEM DO OUTUBRO ROSA? O Outubro Rosa tem como objetivo conscientizar e informar a sociedade sobre a importância dos exames preventivos e diagnóstico do câncer de mama. Essa ação teve início nos anos 90 nos Estados Unidos com uma corrida na cidade de Nova York. Hoje, o movimento é uma campanha internacional, com programação de diversas atividades durante todo o mês de outubro. Em 2017, o Governo do Espírito Santo ofere-
ceu palestras e atividades físicas em diversas cidades do estado, além de mutirão para realização de exames preventivos. Devido a campanha, a busca pelo diagnóstico aumentou, assim como a busca pelo tratamento. Dados divulgado pelo Governo Federal, em 2014, mostram que foram realizados 10,5 milhões de procedimentos radioterápicos e 2,8 milhões de sessões de quimioterapia relativos à saúde feminina.
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cultura
INCÊNDIO EM MUSEU NACIONAL DESPERTA DEBATE A busca por memórias têm revelado a importância dos lugares que podem guardar toda a história de uma nação POR Gleiciane Marriel sa do Museu Solar Monjardim, que fica localizado em Jucutuquara, Vitória, a característica principal desses bens é o fato de serem insubstituíveis: “O que se perdeu, se perdeu. Não volta mais. Da mesma forma, perder patrimônios imateriais como, por exemplo, saberes populares, também significa uma extinção definitiva de conhecimento e de identidade”.
Confira e visite os principais museus da Grande Vitória e sinta a emoção de reviver essas heranças: Casa da Memória Rua Luciano das Neves, 14, Prainha, Vila Velha. (27) 3139-1923 Museu vale Pátio da Antiga Estação Pedro Nolasco, Argolas, Vila Velha. (27) 3333-2484 O Museu Solar Monjardim, em Vitória, comporta mais de duas mil peças, entre mobílias, peças de arte sacra e utensílios domésticos e reconstrói uma residência rural de família abastada no século XIX
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o dia 2 de Setembro, na Zona Norte do Rio de Janeiro, um incêndio ocasionou a perda de um acervo com mais de 20 milhões de itens históricos do Museu Nacional, incluindo coleções da área de Etnologia que expunha objetos da cultura indígena, afro-brasileira e do pacífico. Em nota, a equipe do museu se pronunciou com pesar sobre a tentativa de resgatar “peças importantes para a história do Brasil e do mundo”. Esse incidente levantou reflexões sobre a valorização do patrimônio material e imaterial, inclusive em Vitória. Para o professor e pesquisador na área de patrimônio cultural e histórico Marcos Rabelo essas heranças influenciam na construção social. “A perda do patrimônio cultural nos fará repetir incessantemente os mesmos erros que um dia tínhamos deixado pra trás.
Uma sociedade sem memória vive destruindo e reconstruindo a mesma casa em tempos diferentes” comenta o professor. A repercussão do ocorrido no Museu Nacional, despertou a atenção da sociedade para a importância do patrimônio histórico. Segundo in-
formações do Museu Solar Monjardim, o número de visitas vem aumentando progressivamente desde o início do ano. De 200 a 300 visitantes que recebia ao mês, em meados de 2017, hoje são entre 800 a 1100 visitantes mensalmente. Mesmo com o crescimento do interesse por parte da população, a preservação dessas culturas continua em defasagem. “Infelizmente o Patrimônio Cultural não tem sido prioridade na formação da sociedade, muito menos dentro do plano de gestão dos governos, que retiram as verbas direcionadas para essas importantes instituições”, concluiu o professor. De acordo com a plataforma Museusbr, banco de dados do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), o Espírito Santo conta com aproximadamente 76 museus, localizados em diversas regiões do estado. Somente na Grande Vitória, são mais de 20 museus que guardam as tradições e culturas do povo capixaba. Além de espaço de conhecimento, onde é possível se situar na história e entender como o mundo se desenvolveu, os museus se tornaram lugares de resistência. Povos mantiveram suas culturas e mostraram a importância que tiveram na formação de toda a estrutura que, é vivenciada atualmente. Para André Sesquim, assessor de impren-
Museu Solar Monjardim Rua Paulino Muller, Jucutuquara, Vitória. (27) 3223-6609 Museu de Arte do Espírito Santo Dionísio Del Santo Avenida Jerônimo Monteiro, 631, Centro, Vitória. (27) 3335-2332 Museu Histórico de Ilha das Caieiras | Manoel Passos Lyrio | Museu do Pescador Rua Felicidade Correia dos Santos, Ilha das Caieiras, Vitória. (27) 3323-9993 Galeria de Arte Casarão Rua Getúlio Vargas, Centro de Viana. (27) 3255-1346 Museu Capixaba do Negro Avenida República, 121, Centro de Vitória. (27) 3026-1989 Casa da Cultura Dr. Mauro Mattos Pereira Rodovia Josil Agostini, 162, Centro de Fundão. (27) 3267-2282 Galeria de Arte e Pesquisa na UFES: Endereço: Avenida Fernando Ferrari, 514, Campus de Goiabeiras, Vitória. Casa do Congo Mestre Antônio Rosa: Rua Cassiano Castelo, Serra Sede. (27) 3251-5870
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política
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#ELENÃO: Mulheres ganham as ruas de Vitória em movimento contra jAIR Bolsonaro Movimento que começou nas redes sociais vai às ruas uma semana antes das eleições POR Julia lopes
Fotos: Sergio Cardoso
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Milhares de mulheres fazem história, no maior ato feminino do estado. Na capital capixaba, a estudante de Direito e líder do Fórum Estadual da Juventude Negra do Espírito Santo – FEJUNES, Isabele Silva, de 21 anos, diz que Bolsonaro é basicamente contra tudo que ela é: “mulher, preta e periférica”. Isabele explica que a vitória de uma pessoa que é contra tudo que ela é reforça seu extermínio que já é diário. “Imagina eu, mulher preta, tendo Bolsonaro como presidente? Quantos dias de mandato dele eu vou viver? porque eu creio que não são muitos, e os meus companheiros menos ainda”, afirma a estudante ao ser questionada sobre o motivo pelo qual o presidenciável não deve ser eleito. O ato contou com a participação de 114 cidades. As mulheres, que representam cerca
de 52% do eleitorado brasileiro, segundo pesquisa do Tribunal Superior Eleitoral, ganharam voz no Brasil inteiro. A importância do protesto para as Eleições de 2018, segundo G.S. é a união feminina. “É você ter várias mulheres unidas, de vários lugares e composições políticas em prol de uma única causa: combater o fascismo no Brasil”, ressalta a professora. Além disso, ela destaca que o movimento não é uma questão pessoal contra a figura do Bolsonaro, e sim sobre tudo que ele representa e vem disseminando. “Ele traz pra nós essa pegada fascista, o preconceito contra as minorias e a violência, vencer o Bolsonaro nas urnas é poder dizer que não é através desse tipo de atitude e de política que o Brasil irá mudar “, explica.
Fotos: Julia Lopes
ato “Mulheres contra Bolsonaro” reuniu no último sábado, 29 de setembro, milhares de mulheres em 27 estados pelo Brasil. Em Vitória-ES, a manifestação contra o candidato à presidência, Jair Bolsonaro, aconteceu na Praça do Papa. O movimento teve início nas redes sociais por meio de eventos no facebook e disseminou o uso da hashtag #ELENÃO, compartilhada 398 mil vezes, segundo dados do Instagram, por contas de diversas partes do país. A rejeição do eleitorado feminino ao candidato Jair Bolsonaro vem crescendo a cada dia, o grupo “Mulheres unidas contra Bolsonaro” no Facebook, conta com mais de um milhão e meio de membros, e é descrito como “Destinado à união das mulheres de todo o Brasil contra o avanço e fortalecimento do machismo, misoginia e outros tipos de preconceitos representados pelo candidato Jair Bolsonaro e seus eleitores”. Além desse grupo, difundiu-se o uso da hashtag #ELENÃO, que teve grande repercussão nos perfis de figuras famosas, abrindo o espaço para as mulheres do país todo dizerem os motivos pelos quais o Bolsonaro não deveria ganhar as eleições. G.S., professora da rede pública, 26 anos, diz que a repercussão da campanha #ELENÃO foi uma realização histórica, por reunir tantas mulheres em um ato que engloba vários outros movimentos. “Isto é um marco, estamos fazendo história nesse espaço” afirma uma das líderes do movimento em Vitória, ES. À partir das redes sociais o ato ganhou as ruas do Brasil e Eleitoras do país inteiro juntaram-se para gritar #ELENÃO, reivindicar seus direitos enquanto mulheres, e posicionar-se contra o fascismo, a violência e os preconceitos pregados pelo presidenciável em suas polêmicas declarações.
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política
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Debate para Governador na UFES é marcado por ausência dos líderes nas pesquisas
Segundo última pesquisa do IBOPE, os três candidatos presentes somavam apenas 5% das intenções de voto POR Luiz Rossi e maeli rhayra
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a noite da última sexta feira, dia 28, foi realizado o debate para o cargo de Governador na Universidade Federal do Espírito Santo, no Cine Metrópolis. Mesmo com o local lotado, o debate não contou com a presença dos Candidatos Renato Casagrande (PSB), Rose de Freitas (Podemos) e Manato (PSL). Estavam presentes Andre Moreira (PSOL), Professor Aridelmo Teixeira (PTB) e Jackeline Rocha (PT). Segundo os dados da última pesquisa realizada pelo IBOPE em 08 de Setembro, Casagrande se encontra isolado em primeiro lugar, com 59% das intenções de voto. Rose de Freitas (11%) e Manato (6%) alcançam uma distante segunda e terceira colocação. Os candidatos do PTB (3%), PSOL (1%) e PT (1%), que estavam presentes no Em sua fala, o candidato André Moreira (PSOL) criticou atuação do atual governo. debate, somam 5% das intenções de voto. Um ponto de interesse nas perguntas foi mente violenta com as camadas mais pobres. O debate foi dividido em cinco blocos, sendo dois deles reservados para as apre- para a área de educação. Jackeline Rocha, Quando questionado acerca da possibilidade sentações e considerações finais de cada do PT, se mostrou favorável a uma possível de internação compulsória para moradores candidato. Entre os blocos destinados para universidade estadual para o Espírito Santo, de rua, o candidato do PSOL caracterizou a perguntas, houve espaço tanto para ques- enquanto o Professor Aridelmo, do PTB, de- mesma como “antidemocrática e ineficaz”. tões da plateia, quanto para perguntas clarou não possuir planos para o Ensino Surealizadas entre os próprios candidatos. perior, uma vez que seu projeto educacional Durante os dois primeiros blocos, as tem foco na creche e no Ensino Fundamental. Entre as perguntas feitas pelos eleitores, houperguntas destinadas ao candidato AriEntre as críticas dadas ao debate, a mais redelmo Teixeira foram respondidas por sua ve também um destaque para questões relaciovice Jessica Polese, uma vez que o mes- nadas aos moradores de rua, que foram feitas corrente foi a ausência de candidatos de maior mo encontrava-se em trânsito e só che- em três momentos distintos. Quanto ao aumen- peso, em especial Renato Casagrande, que está perto de se eleger logo no primeiro turno, gou ao local no início do terceiro bloco. to do consumo de drogas, tanto o candidato do segundo as pesquisas de intenção de voto.“É Em um questionamento sobre formas PSOL quanto a candidata do PT apontaram que triste ver que o Casagrande não veio, parece que de superar a crise econômica e o aumento o uso de drogas não é o único fator contribuinele não quer se desgastar na campanha”, diz do desemprego, a candidata a Vice Jessica te para o aumento de pessoas desabrigadas. João Pedro, aluno do curso de Letras da UFES. A candidata Jackeline criticou a reforma trabaPolese deu como solução o investimento Outra ausência importante foi a candidata nas pequenas empresas, além de aumentar lhista e o golpe sofrido pela ex-presidenta Dilma Rose de Freitas, do Podemos, que se encona formação na área técnica e superior. Tais Rousseff, e os apontou como responsáveis pelo tra no segundo lugar nas pesquisas e estava investimentos foram rebatidos pelo can- aumento do desemprego e da inadimplência, além confirmada até o início do debate. Ela não comdidato do PSOL, Andre Moreira, devido a de declarar a necessidade de expansão de políti- pareceu devido a incompatibilidade da agenda. aprovação da PEC 241, que estabelece um cas de acolhimento para o cidadão desabrigado. Os participantes diversas vezes tiveram Andre Moreira afirmou que aumentar o poli- que interromper suas respostas, seja devido teto nos gastos federais. Inclusive criticando a ausência dos candidatos Carlos Manato, ciamento não é a solução para o combate às dro- a necessidade de reformular perguntas feitas que votou a favor da PEC, e de Renato Ca- gas, e defendeu a necessidade de alteração na pelo público e que não estavam claras, ou por sagrande, cujo partido também votou a favor. forma de abordagem da polícia, que é frequente- provocações da plateia durante as respostas.
Ausências e interrupções prejudicam debate
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UNIVERSIDADE
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Semana da Comunicação 2018 discute o papel da mídia nas eleições O evento ainda levantou questões sobre a influência da tecnologia no resultado das urnas POR maeli rhayra
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Semana de Comunicação 2018 (Secom) teve como tema “Eleições além do voto” reuniu estudantes, pesquisadores e profissionais de diversas vertentes para discutir o papel da comunicação no processo político-eleitoral. O evento aconteceu entre os dias 24 e 28 de Setembro, na UFES, organizado pelo Centro Acadêmico de Comunicação Social e pelo Centro Acadêmico de Cinema e Audiovisual, com o apoio do Departamento de Comunicação Social (Depcom) e da Secretaria de Cultura da UFES. A Secom teve como programação diversos debates como “Eleições e internet”, e “Porque votamos como votamos”. Também aconteceram mostras de filmes e de trabalhos desenvolvidos pelos próprios estudantes da universidade. O objetivo da semana foi estimular o debate relacionado ao papel do comunicador dentro de um período eleitoral, tanto como cidadão, como formadores de opinião, ou até mesmo como quem cobre o evento, a partir do entendimento de que qualquer movimento pode mudar toda configuração das câmaras brasileiras. Segundo Israel Zuqui, um dos organizadores do evento, o resultado de tudo isso culmina em discussões proveitosas, na participação e integração de todos os períodos e habilitações, e incentivo os alunos a entenderem outros papéis do comunicador no mercado e como cidadão. “A semana foi muito boa pra ampliar ainda mais a minha visão sobre política, me fez ter certeza que uma campanha bem investida, e com bastante tempo nas grandes mídias, influencia muito nas escolhas dos candidatos”, disse Maria Eliza, estudante de Publicidade e Propaganda. A ideia do evento é discutir com a sociedade e com outros cursos, para além dos cursos de comunicação. “[Falar sobre eleições] é abrangente e conversa com a sociedade em geral, além de ser uma proposta de crescimento do evento em si, com a participação de outras faculdades e universidades”, disse Israel.
#QUARTA
No terceiro dia o tema foi: “Eleições e internet” e “Fake News”
#Segunda
No primeiro dia da Semana de comunicação foi dia de saber: Por que votamos como votamos? A mesa foi composta por Vinicius Valfré, Fernando Carreiro e Rita Abreu.
#terça
No segundo dia tivemos dois temas: “Jingles e
a música que convence” e “Entendendo o Sistema Eleitoral”
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UNIVERSIDADE
#quinta
No quarto dia os alunos tiveram a oportunidade de apresentar seus trabalhos e ininistrar oficinas.
#Sexta
No último dia, pela manhã ocorreu a mesa sobre “Minorias e representação política” e a noite aconteceu o debate com os candidatos ao gorverno do estado.
Fotos produzidas pelos alunos do terceiro período de Jornalismo para a disciplina de Fotojornalismo. Professor: Vírgílio Libardi