Jornal NoE Edição 91

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Jornal Laboratorial - Ufes

Edição 91 - Setembro 2018

Entanto

participação das mulheres na política capixaba não está garantida A fraude das cotas de gênero revela a necessidade de discutir e reivindicar a presença efetiva das mulheres no cenário político do Espírito Santo P. 5

atuação da PM na Ufes é criticado pela comunidade acadêmica Entidades representativas questionam a medida firmada entre Ufes, Sesp e Polícia Militar Foto: Julia Lopes

P. 6 FOTO | Data de início da presença da PM na Ufes ainda não foi divulgada

inivisibilidade afeta teatro local A falta de divulgação das peças e a crise econômica atingiram as companhias de teatro capixabas, que lutam para se manter na cena em meio ao descaso. P. 9

POR QUE A POPULAÇÃO DA GRANDE VITÓRIA ENFRENTA TANTOS PROBLEMAS PARA SE DESLOCAR? Apesar de recentes avanços, população ainda enfrenta desafios para realizar atividades do cotidiano

P. 11

crianças com tdah tem tratamento gratuito na ufes O tratamento é realizado todas as sextas-feiras no campus de Goiabeiras sob orientação de 6 monitores de Educação Física P. 5


EDITORIAL

EXPEDIENTE

Por Síntia Mara Ott

EDIÇÃO, ARTE E DIAGRAMAÇÃO Alexandre Barbosa André Carlesso Isadora Wandenkolk Maria Alice de Sá Síntia Mara Ott

REDAÇÃO

Ana Clara Bianchi Jonathas Gomes Júllia Cássia Julia Lopes Lara Favaris Leonardo Miranda Luíz Rossi Maeli Rhayra Maria Clara de Araújo Miranda Perozini Sara de Oliveira Thauane Lima

DIGITAL E MÍDIAS SOCIAIS Andrezza Steck Brunella Rios Gabriela Lúcio Gleiciane Marriel

logo

Gabriel Moraes

PROFESSOR RESPONSÁVEL Rafael Bellan

A cada semestre letivo o projeto de jornalismo laboratorial No Entanto (NoE) ganha novas formas, novas cores, novas notícias, novas reportagens... Porém, em meio a tantas mudanças, a turma desse semestre percebeu que há algo transversal a todas as edições já publicadas e que nunca deve mudar: o olhar crítico sobre os fatos e a construção de narrativas que divergem da superficialidade e do senso-comum. Desejamos, através da premissa exposta, ressaltar o nosso compromisso de fornecer aos leitores do jornal conteúdos de abrangência social, cultural e política. Também buscaremos tratar do que acontece dentro e fora da comunidade acadêmica de forma a ressaltar a importância do diálogo entre essas duas esferas. Também destacamos que nem tudo permanece igual às edições anteriores. Há algumas novidades no projeto gráfico para que você possa usufruir de uma leitura mais dinâmica e de um visual bem moderno. As editorias da atual versão do NoE são Política, Universidade, Saúde, Cidade, Cultura e Esporte. A cada edição haverá uma sessão Especial que comportará uma análise mais profunda e extensa, uma reportagem. Também há abas coloridas nas margens superiores que facilitarão a localização das matérias. Estamos muito empolgados com a oportunidade de conduzir esse jornal laboratorial, pois sabemos que é uma experiência indispensável para nós, estudantes de jornalismo. Igualmente indispensável é você, leitora ou leitor, pois, do contrário, não existiriam razões para tanta dedicação e trabalho em equipe de nossa parte. É, pois, com grande satisfação que assumimos nossos postos de jornalistas, editores, diagramadores, fotojornalistas e repórteres durante essa nova fase do NoE. Esperamos que desfrute de uma boa leitura. Até a próxima edição! Turma de jornalismo 2017/2

NoE nas redes NoE

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NoEntanto Jornal laboratorial do curso de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, da Universidade Federal do Espírito Santo. Produzido pelos alunos do terceiro período.

Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras |Vitória, ES Email: noentanto@gmail.com Telefone: (27) 4009-2603

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No Entanto Setembro, 2018

política

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Candidatas viram “fantasmas” nas eleições A fraude das cotas de gênero revela a necessidade de discutir e reivindicar a presença efetiva das mulheres no cenário político capixaba Por Maria Clara Casagrande de Araújo

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uantas candidatas você conhece? Em contrapartida, quantos candidatos? Apesar da Lei das Eleições (Lei 9.504/1997) prever que 30% das candidaturas sejam advindas do gênero feminino, os partidos e coligações apresentam certa dificuldade em atingir, até mesmo, o mínimo exigido e, com isso, a incidência de candidatas “laranjas” torna-se alta. São chamadas assim por não receberem votos nem recursos, tratam-se de candidatas que estão ali somente para preencher o percentual exigido. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgou que, nas eleições de 2016, dos 16.131 candidatos “fantasmas”, 14.417 eram mulheres. A candidata ao cargo de vice-governadora do Espírito Santo, Jacqueline Moraes, acredita que apenas de duas eleições para cá, tem-se notado um interesse maior por parte das mulheres em adentrar, de fato, o cenário político. Ainda segundo dados divulgados pelo TSE, nas eleições de 2018, o Espírito Santo registrou 829

candidaturas, sendo 258 do gênero feminino, totalizando 31%. Eleita vereadora de Cariacica em 2012, Jacqueline sempre esteve associada à movimentos sociais, especialmente ligados à questões envolvendo a mulher. Durante seu mandato iniciou um trabalho muito forte de erradicação da violência contra a mulher, criando um fórum na cidade de Cariacica com o objetivo de debater o tema, no qual realizava palestras e organizava marchas. “O parlamentar, além de fazer seu papel constitucional de legislar e fiscalizar o Executivo, tem o papel de ressonância, ou seja, de dar voz à comunidade”, declara. Em 2016 aliou-se ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), pelo qual foi convidada a participar da Secretaria de Mulheres. Começou um trabalho dentro do partido sobre o empoderamento e a participação das mulheres na política, lançando a campanha #NãoSejaLaranja, com a intenção de combater a fraude das cotas de gênero.

Foto: Jenifer Cardoso

Jacqueline Moraes fala sobre a importância da sua candidatura ao cargo de vice-governadora do Espírito Santo.

Além de 30% de candidaturas femininas, também foram exigidos 30% da verba e 30% do tempo de propaganda eleitoral para as mulheres. Apesar de representar um incentivo à participação, a ex-vereadora acredita que a lei não foi bem regulamentada, tendo em vista que foi instituída pelo TSE sem passar pelo Congresso, o qual, por sua vez, determinou que a distribuição do fundo fosse feita pelo partido. A decisão do TSE é alvo de críticas, com a justificativa de que anula a autonomia das mulheres na administração da própria disputa. O fato de ficar à cargo dos partidos determinarem a quantia que será repassada à cada candidata gera muitas controvérsias, visto que, os mesmos são compostos, majoritariamente, por homens. Além disso, algumas mulheres sentem-se injustiçadas em receber um valor inferior em relação às outras. Para definir a quantia a ser dada são levados em conta critérios como a quantidade de votos e a representatividade no cenário político.


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UNIVERSIDADE

Espaço na Ufes reaviva a agroecologia no cenário urbano Coletivo de estudantes e voluntários promove práticas sustentáveis e educação ambiental

Por Júllia Cássia

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Foto: Júllia Cássia

om 10 anos de existência, o Coletivo Casa Verde foi criado por estudantes da UFES e pessoas interessadas em estudar e praticar a agroecologia. A proposta do grupo consiste no enfrentamento a um modelo de agricultura baseado na monocultura, no desmatamento e que faz uso de insumos externos que não pertencem e nem são decompostos pelo meio ambiente, como agrotóxicos e pesticidas. Dentre as muitas gerações que passaram pelo coletivo, atualmente 10 membros ativos representam o grupo, composto por estudantes e já formados pela Ufes nos cursos de geografia, oceanografia, educação do campo e biologia. Os que frequentam a universidade há mais tempo provavelmente se lembram de uma casa verde, que nomeou o coletivo, localizada na Lagoa, região do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE), onde se iniciaram as atividades. A partir de 2015, o coletivo ocupou o antigo Laboratório de Ecologia Terrestre/Viveiro, uma área que possui 0,6 hectares e foi o local responsável pela plantação de mudas das milhares de árvores existentes no campus. O viveiro

produzia cerca de 40 mil mudas por ano, mas, apesar da alta produção e atuação, o projeto acabou sendo abandonado. Com isso, o laboratório virou área de concentração de lixo. Três anos se passaram e os voluntários ainda trabalham manualmente para a limpeza e abertura de novas áreas de plantio. Até o momento o coletivo é independente e sem vínculos com a universidade, mas se encontra em andamento o PREA – Projeto de Extensão em Agroecologia, aguardando ser submetido à Pró-r+eitoria de extensão.

Um espaço para práticas sociais Entre as práticas realizadas no local estão: cultivo de plantas medicinais, mudas destinadas a áreas de retomadas onde se encontram grupos indígenas e quilombolas, também trocas e doações para a comunidade em geral e, para quem pode ajudar, são aceitas contribuições para a compra de ferramentas. Uma ajuda a mais que o coletivo recebe é a presença de

alguns detentos em situação de restrição de liberdade que regam a área da jardinagem e contribuem para a manutenção do espaço. A intenção desde o início é que além dos idealizadores, a comunidade externa participe das ações. “O espaço é para além do coletivo, até porque nós não ‘damos conta’ sozinhos de cuidar do local, e tem um potencial de abrigar muitos projetos e muitas atividades”, afirma a representante do coletivo Maria Jessika Delpupio. Por meio de mutirões, oficinas e visitas de escolas ao projeto, os voluntários vão além da aprendizagem prática com o manejo das plantas e fazem com que essa experiência fortaleça o contato das pessoas com a natureza dentro dos espaços urbanos. A representante ainda ressalta que o coletivo trabalha para que, por meio da prática agroecológica, haja o resgate entre a relação do plantio e a colheita, a produção do próprio alimento, viabilizando uma cidade mais justa, economicamente viável, em posse de um alimento de qualidade e principalmente deixando de ser elitista para abranger toda população independente da classe social.

Projetos de extensão são uma forma de potencializar a atuação no espaço


No Entanto Setembro, 2018

UNIVERSIDADE

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Em plena crise de recursos, UFES oferece tratamento gratuito para crianças com TDAH O tratamento é realizado todas as sextas-feiras no campus de Goiabeiras sob orientação de 6 monitores do curso de Educação Física Por Thauane Lima

Foto: Thauane Lima

As crianças com TDAH são supervisionadas pelos professores de educação física

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Centro de Educação Física e Desportos da UFES (CEFPED) realiza, todas as sextas-feiras, das 9 às 11 horas, o projeto “Natação para crianças com TDAH”, que acontece no campus de Goiabeiras. O professor do curso de Educação Física Leonardo Graffius Damasceno, orientado pelo professor Sávio Queiroz, defendeu sua tese de doutorado “Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação em Crianças com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade: Um Estudo com Um Programa de Aprendizagem de Atenção”. A pesquisa se deu a partir de laudos médicos obtidos através de um convênio com a pediatria da HUCAM (Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes), único hospital público do Espírito Santo que faz o diagnóstico firmado em TDAH gratuitamente. A tese foi desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo), com nota 5 de excelência em Psicologia em Desenvolvimento Infantil que, até então, não havia sido contemplada em nenhuma publicação acadêmica no Brasil. A partir dos prontuários da Pediatria da HU-

CAM, o professor Leonardo Damasceno selecinou crianças para participarem da amostra, que integrou parte da pesquisa acadêmica. Na tese, ele argumenta que a natação, apesar de não ser um remédio preventivo para o TDAH, melhora o desempenho da capacidade motora das crianças. Após a defesa de sua tese Damasceno criou o projeto de extensão com o intuito de fornecer um tratamento gratuito para crianças com TDAH, dentro da UFES. Atualmente, o professor conta com seis alunos voluntários do curso de Educação Física que, simultaneamente, desenvolvem pesquisas na área do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). O projeto, hoje, atende cerca de dezenove crianças. Eliane Moreira da Silva, mãe do aluno Yago Yury, relata que percebeu uma mudança no comportamento do filho após o projeto. “Aqui, com as aulas de natação, ele está submetido a regras, ele fica mais responsável, pois quer chegar mais cedo nas aulas”, afirma ela. Silva completa que antes do ínicio do tratamento seu filho era muito agitado e não se concentrava

para estudar, mas que agora já vem apresentando uma melhora no seu desempenho escolar. O pai do aluno João Pedro, Luis Gustavo Marcelino, conta que também notou uma melhoria no temperamento do filho. “No colégio ele está mais tranquilo. É a somatória do tratamento que faz e da prática do judô. O tratamento aqui na UFES tem sido excelente”, ressalta Marcelino. Damasceno enfatiza que as mães são unânimes na afirmaçao do progresso das crianças com a prática da natação.

O que é TDAH? O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno com forte componente genético e está relacionado ao mau funcionamento dos neurotransmissores dopamina e noradrenalina, associados, respectivamente, à atenção e à capacidade de execução das tarefas. O TDAH não tem cura, mas tem tratamento.


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No Entanto Setembro, 2018

ESPECIAL

Ausência de debate é o principal argumento contrário à atuação da PM na ufes Entidades representativas criticam a medida firmada entre Ufes, Sesp e Polícia Militar Por Julia lopes e jonathas gomes

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m convênio entre a Ufes, a Polícia Militar do Espírito Santo (PMES) e a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) foi assinado, no dia 5 de julho deste ano, para a atuação de policiais militares da reserva remunerada nos campi da Universidade. A justificativa à medida é a violência nesses espaços, noticiada recentemente pela mídia capixaba. O convênio não foi debatido entre o Conselho Universitário e outras instâncias da comunidade acadêmica, o que gerou controvérsias sobrWe suas consequências. O professor e presidente da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Espírito Santo (ADUFES), José Antônio da Rocha Pinto, conta que o convênio foi assinado sem diálogo com a comunidade acadêmica e que a expectativa é de que seja revogado. “Temos relatos, vídeos e fotos da repressão que o policial faz com os estudantes na rua e, aqui dentro, é um espaço público onde há diversidade de pensamento”, disse. O professor ainda afirma que há irregularidades no processo, assim como o Diretório Central dos Estudantes da UFES (DCE UFES), que publicou uma nota pública em sua

página no Facebook, em que enfatiza que detalhes do acordo, como os orçamentários, não foram divulgados como informe em reuniões ao Conselho Universitário. Entre os estudantes contrários, a repressão policial a grupos minoritários é um dos pontos citados. As alunas Rayla Corrêa, de Jornalismo, e Carolina Rabello, de Publicidade e Propaganda, relatam o problema ao posicionarem-se em relação à atuação da PM na Ufes. “Como sentir segurança com os mesmos que me criminalizam?”, expressa Corrêa em relação à violência policial contra a população negra, dizendo ainda que na ocupação estudantil de 2016 foi agredida por policiais. Já a estudante Carolina Rabello também critica o corte de gastos com o Restaurante Universitário, que aumentou o preço das refeições de R$ 1,50 para R$ 5,00 neste ano, enquanto o convênio para a atuação da PM na UFES custará quase R$ 5 milhões anualmente, segundo estimativas divulgadas em 5 de julho deste ano. Em nota publicada no dia 8 de agosto no site da Ufes, por iniciativa da reitoria, um grupo de trabalho irá realizar cursos de capacitação em

Direitos Humanos para os policiais da reserva remunerada selecionados para o convênio. O professor e presidente da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Espírito Santo (ADUFES), José Antônio da Rocha Pinto, questiona a efetividade dos cursos. “Baseado na crítica que a comunidade (acadêmica) tem feito ao convênio, apareceu na história que eles (policiais militares da reserva remunerada) teriam um treinamento. Por que um treinamento para o policial? Por que ele não sabe lidar com a comunidade universitária? Só que ele ficou 20, 30 anos agindo com repressão ao movimento estudantil, movimentos populares. Como agora ele vai mudar a formação dele? Temos certeza de que esse treinamento não vai mudar a sua formação”, afirmou. Um vigilante da empresa Plantão Serviços de Vigilância, que não quis se identificar por medo de represálias, afirma que a redução do número de funcionários é um dos motivos para a insegurança dentro da Ufes. “A gente já teve uma vigilância boa. (...) existiam vigilantes nos ICs, Centro de Artes, Biblioteca”, contou.

“Temos certeza de que esse treinamento não vai mudar a formação dele (o policial)”

Foto: Jonathas Gomes

José Antônio da Rocha Pinto, professor e presidente da Adufes.

Sobre o convênio, o funcionário avalia como “devastador” para a sua categoria profissional, além de argumentar que a segurança é melhor com o atual modelo. “Muitos vigilantes ficarão sem emprego. Eu ficarei sem emprego. Imagina um policial que passa em um concurso e depois de anos se aposenta por estresse. Como ele terá uma boa atuação na universidade? Eu creio que não tem como. É um dos pontos positivos de estarmos aqui hoje”, defendeu.

Vigilante, que não quis se identificar, teme pela perda do emprego após início do convênio


No Entanto Semtebro, 2018

especial

Representantes sindicais, DCE e Adufes tentam reunião com a reitoria Críticas em relação à falta de diálogo da reitoria ocasionam protesto dos vigilantes

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pós uma manifestação dos vigilantes na Ufes, no dia 27 de agosto, durante a manhã, ficou acordada uma reunião com a reitoria da Universidade no dia seguinte, 28, às 15h30. A reunião, contudo, não foi realizada pela ausência do reitor da Universidade, Reinaldo Centoducatte. Estiveram presentes representantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE UFES), dos sindicatos Sindseg-GV/ES, Sindivigilantes e Sindesp, do SINTUFES (Sindicato dos Trabalhadores da UFES), da Adufes (Associação dos Docentes da UFES) e da Reitoria - com exceção do reitor. Segundo o coordenador geral do SINTUFES Wellington Pereira, há uma tentativa “incisiva” de diálogo entre os sindicatos que representam os vigilantes e a administração da Universidade. Até o momento do fechamento desta reportagem, não havia uma nova data para a demanda de reunião dos sindicatos, DCE e Adufes

“Como sentir segurança com os mesmos que me criminalizam?”

Foto: Jonathas Gomes

Rayla Corrêa, estudante de jornalismo, em relação à violência policial contra a população negra.

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“Parece-me uma marca autoritária, que não condiz com os princípios de uma universidade pública”, diz professora da pós-graduação em Política Social

falta de diálogo com a comunidade universitária também foi abordada pela professora do Programa de Pós-graduação em Política Social da UFES Lívia de Cássia Godoi Moraes. “Não foi uma decisão democrática, pois não houve amplo debate na universidade. Aqui é o espaço onde estão presentes diversos estudiosos que perpassam a questão da segurança: sociologia da violência, direitos humanos, economia da segurança etc”, aponta. Moraes propõe quatro pontos para uma intervenção a curto, médio e longo prazo na segurança da Universidade.

Iluminação

“Eu, por exemplo, quando dou aulas à noite, faço um caminho muito mais longo do que faço durante o dia em busca dos locais melhores iluminados”.

Criação de atividades de ocupação dos espaços “Ao invés de solicitar que estudantes e servidores não circulem em determinados espaços e horários na universidade, criar atividades de ocupação na universidade, atividades culturais, espaços de sociabili-

dade, inclusive com a comunidade externa. Quanto mais circulação, menor a possibilidade de haver situações que facilitem roubos”.

Valorização de atividades de extensão com a comunidade externa

“De mais longo prazo, acredito ser importante valorizar atividades de extensão que envolvam as comunidades próximas mais vulnerabilizadas, para que entendam a importância da universidade pública e a valorizem. Penso que a Universidade cada vez mais se fechou em si, em um processo de ‘hipervalorização’ da pesquisa, desconectada do tripé ensino-pesquisa-extensão”.

Funcionários concursados na vigilância

“O que é muito difícil após a recente aprovação pelo STF da terceirização irrestrita. Mas o trabalhador concursado tem o sentimento de pertencimento, conhece alunos e servidores, faz cursos de formação (inclusive de machismo, racismo, etc.)”.

Reitor não comparece a reunião agendada com entidades contrárias


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SAÚDE

Situações rotineiras podem ser gatilhos para o desenvolvimento de transtornos mentais Seja na faculdade, na escola, no trabalho ou na família, pressões cotidianas podem propiciar o desenvolvimento de distúrbios e transtornos Por leonardo miranda

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uma época onde tudo é muito rápido e as pessoas, cada vez mais ocupadas, buscam constantemente por estabilidade no emprego, nos estudos ou até mesmo na família, não se fala o necessário sobre a saúde mental. Muitas pessoas encontram-se sujeitas à situações de pressão que, por sua vez, podem causar vários transtornos mentais. A especialista em psicologia Josana Caversan diz que os transtornos possuem diversas causas. Focando nas situações de pressão, ela cita como exemplo a influência da cultura do corpo ideal. A partir dessa e outras situações a pessoa pode vir a apresentar alguns indícios de transtorno como, palpitação, impulsividade, suor frio, entre outros. A psicóloga ressalta que neste momento é muito importante fazer acompanhamento psiquiátrico, psicoterápico e nutricional, além de praticar atividades físicas e separar momentos para o lazer.

Lidando com o diagnóstico A estudante de jornalismo da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo), Heloísa Bergami, 20 anos, diagnosticada com Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) e Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), diz que a pressão familiar contribuiu para o desenvolvimento de seus transtornos. “Eu sempre fui muito cobrada pela minha família para ter um bom rendimento escolar. Acabei internalizando isso e me cobrava muito em tudo”, relata. A estudante ainda diz que só procurou ajuda médica após o primeiro surto e que, antes do diagnóstico, percebia alguns toques e costumes não como problemas, mas como traços de sua própria personalidade. Após a constatação do problema aceitou o fato e buscou tratamento, e percebe que é algo inconsciente e que pode lutar para controlar. Heloísa complementa dizendo que é rodeada por uma família amorosa e por pessoas esclarecidas, que aceitam e lidam bem com a sua condição. Um dos maiores problemas em relação à saúde mental é a banalização sobre o assun-

to. É comum ouvir que esses tipos de doenças são frescuras. A estudante completa que a sociedade só fala sobre isso durante o mês da campanha Setembro Amarelo e esquece que as pessoas que sofrem transtornos, além de depressão, passam por isso todos os dias. Ao notar qualquer sintoma de depressão, ansiedade ou qualquer tipo de confusão mental, deve-se procurar alguma unidade de saúde com atendimento psiquiátrico. Hoje no Brasil existem cerca de 1.620 CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), instituições que substituem os hospitais psiquiátricos (antigos hospícios e manicômios) e seus métodos de tratamento. Os CAPS oferecem diversos tratamentos para transtornos mentais, além de possuírem um leque de profissionais. Em casos de dependência química e de álcool ou necessidade de atendimento infantil existem unidades especializadas para atender a essas demandas.

ASSISTÊNCIA PSICOLÓGICA NA UFES Alunos interessados em buscar apoio psicológico podem se direcionar a sala da assistência estudantil, acima do metropólis, portando a carteirinha estudantil. O agendamento também pode ser feito pelo telefone 4009-2265. Todas as segundas-feiras

às 14h a assistência estudantil também promove debates e conversas com especialistas sobre cuidados com a saúde mental, todos podem participar.

TELEFONES IMPORTANTES CENTRO DE VALORIZAÇÃO DA VIDA CVV - 188 SAMU - 192 DEFESA CIVIL - 199 BOMBEIROS - 193 DIREITOS HUMANOS - 100 CENTRAL DE ATENDIMENTO À MULHER - 180 OUVIDORIA DO SUS - 136 DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA DA UFES - 4009-2265


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CULTURA

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Descaso com o teatro marca a tradição capixaba A falta de divulgação das peças e a crise econômica atingiram as companhias de teatro capixabas, que lutam para se manter na cena em meio ao descaso. Por lara favaris

Foto: Daniela Zorzal

Peça “Uma Viagem no tempo”.

Foto: divulgação

O

s grupos de teatro da grande Vitória enfrentam problemas relacionados à falta de divulgação e os atores acabam fazendo as peças quase sem retorno algum. Os espaços para as apresentações também são uma dificuldade. Muitos locais são impossibilitados de serem utilizados, como o Teatro Carmélia, que está fechado há oito anos ; caros demais para serem alugados, como o teatro da UFES; ou com requisitos difíceis de serem preenchidos nas raras vezes em que abrem editais, como o SESC Glória e o Teatro Carlos Gomes. Em meio à crise, a crença de que o teatro é programa de elite e custa caro é, de certo modo, mantida pela falta de informação sobre a cena local, mesmo esta sendo mais acessível, inclusive trazendo espetáculos gratuitos. A divulgação veiculada pelos jornais, sejam eles impressos, do rádio ou da televisão, priorizam peças nacionais, sendo que a participação de atores globais aumenta consideravelmente o preço do ingresso. Os atores são apresentados ao público e várias promoções para sorteios de ingresso são feitas devido à concorrência, o que não acontece quando a peça é capixaba. O estudante de teatro da FAFI Carlos Rosado sempre tenta divulgar o máximo possível as peças. “Vendo que havia lacunas nas divulgações dos espetáculos, criei um grupo no Facebook ‘Em Cartaz Grande Vitória’, mas administro-o de forma bastante ‘amadora’”, relata. Grande parte da divulgação dos grupos de teatro se dá via plataforma digital, compartilhamentos entre amigos e páginas do Facebook, entretanto, não há muito alcance, principalmente com a diminuição do uso da rede. Nas escolas de teatro, públicas ou particula-

Sesc Glória oferece cursos abertos ao público. res, pode-se dizer que existe incentivo à permanência dos alunos na cena capixaba à medida que eles são inseridos na área e participando dos grupos de teatro locais. “A formação já é o incentivo da permanência, mesmo não sendo um incentivo direto, mas sempre acontece de alguns alunos saírem do estado depois para tentar graduação”, explica Carlos. O professor e produtor de teatro Luiz Carlos Cardoso administra um grupo no Facebook, o Cena Capixaba. O motivo de sua existência é justamente a falta de espaço para divulgação dos espetáculos locais na mídia, visto que constantemente há oficinas, apresentações, ensaios abertos, rodas de conversa, workshops, entre outras atividades. “No blog, colocamos editais, entrevistas e programações com fotos, sempre privilegiando o teatro capixaba”, afirma. Embora a rede social tenha sofrido uma queda de usuários, a página consegue um grande número de visualizações em suas divulgações. Além do incremento da divulgação, os profissionais capixabas procuram fazer outras ações para se manterem ativos, como o grupo Vira Lata, em que

o ator Bruno Silva, formado em teatro pela Universidade de Vila Velha, participa. Para socialização da arte, o grupo realiza apresentações de teatro de rua. Bruno acredita que, mesmo que muita gente fale que para crescer na área do teatro é inevitável ir para o Rio ou São Paulo, é perceptível o crescimento da cena local. “É o próprio ator trabalhar e buscar coisas por aqui a fim de aumentar o prestígio e reconhecimento do nosso estado, e mesmo se for fazer carreira no Rio ou em SP, não abandonar as origens e levar o nome do estado”, ressalta. Vale lembrar que no estado também são ofertados muitos cursos e oficinas, pagos ou gratuitos, para todas as idades e estilos, como por exemplo, a FAFI.

FAFI

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FAFI é uma escola técnica estadual que oferece formação como ator ou como bailarino. Os cursos técnicos têm duração de dois anos e no curso de teatro o foco é em atuação, com disciplinas de interpretação, história do teatro, expressão corporal, voz e prática de montagem. A Fafi também oferece oficinas de curta duração abertas à comunidade, nas áreas de dança, teatro e música e a partir desse ano será oferecido um curso Básico em Teatro para adolescentes a partir de 12 anos.


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cultura

Sucesso de “Podres de Ricos” representa busca por uma Hollywood mais inclusiva Filme com elenco inteiramente asiático encerra sua terceira semana em primeiro lugar na arrecadação Por LUIZ ROSSI

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omédia romântica dirigida por Jon M. Chu permanece em primeiro lugar nos rankings mundiais durante o terceiro fim de semana consecutivo, arrecadando cerca de 130 milhões de dólares (527 milhões de reais). Com um elenco inteiramente asiático, seu sucesso indica a recente busca por uma Hollywood com maior representatividade. O sucesso de “Podres de Ricos” indica um desejo claro por uma Hollywood com maior representatividade, principalmente depois dos boicotes feitos em 2015 sob a hashtag #OscarsSoWhite. Naquele ano, todos os 20 indicados para atores principais e coadjuvantes eram brancos. “Podres de Ricos” não é o primeiro filme que representa essa recente busca por representação das minorias. Os filmes “Corra!” (2017) e “Moonlight: Sob a Luz do Luar” (2016) têm atores negros como personagens principais e receberam os prêmios no Oscar de melhor roteiro original e melhor filme, respectivamente. Além dessas obras, outro destaque é “Pantera Negra”, primeiro filme de super-herói com elenco principal composto inteiramente por atores negros e que arrecadou mais de US$1,3 bilhão. Quando perguntada acerca das intenções da indústria ao investir nas lutas identitárias, a professora de cultura audiovisual da Universidade Federal do Espírito Santo Daniela Zanetti diz que o mercado sempre vai atrás desses públicos, sem deixar de acompanhar as tendências e as questões contemporâneas. Porém não pelo intuito somente de atender essas demandas, mas principalmente como forma de garantir seu lucro. “[O Brasil] parece até que chegou tarde. Quanto mais provinciana e menos desenvolvida a indústria, mais tardiamente essas questões são pautadas. Esperam fazer lá fora para depois fazer aqui”, completa Zanetti. “Só ver o caso da novela das 9 da Globo, “Segundo Sol”, que é filmada na Bahia e que não tem protagonistas negros, sendo que nós temos uma grande parcela de atores e atrizes que poderiam dar conta do papel”, explica. A professora também apresenta a necessidade de formação quanto ao aspecto técnico das produções. “É preciso ocupar não só aqueles papéis do início do cinema, como a montagem, que era só das mulheres porque se associava com a delicadeza da costura e que

virou uma área desvalorizada. Deve-se pensar nas minorias nos espaços de decisão. Que é o caso da direção, do roteiro, direção de fotografia, produção executiva”, completa.

Nem todos os casos são iguais Embora exista o desejo por maior diversidade na indústria cinematográfica, nem todos os casos são recebidos com o mesmo ânimo. O reboot de 2016 de “Os Caça Fantasmas”, por exemplo, recebeu diversas críticas do público após introduzir um elenco principal composto por quatro mulheres. Entre as justificativas para o descontentamento, a maior delas está no sentimento de que o filme teve muito enfoque em uma causa política, deixando de lado a experiência divertida presente na franquia original da década de 80. Em entrevista para o site Vulture.com, o diretor Paul Feig disse que reconhece as críticas e diz se arrepender do caminho tomado pelo filme.

Os clássicos também podem se reinventar (13 vezes depois) Após décadas com personagens semelhantes, algumas obras buscam se reinventar. Esse é o caso da série “Doctor Who”, da BBC, que terá uma mulher como atriz principal pela primeira vez desde que a série foi criada em 1963. Jodie Whittaker será a décima terceira encarnação do personagem “Doctor”. Jodie disse durante a Comic-Con desse ano que uma mulher assumir o papel principal era a direção natural que a série poderia tomar. Embora ainda esteja longe de ser confirmado, outro caso

famoso são os diversos rumores de que o ator Idris Elba, ganhador do Globo de Ouro pelo filme para TV “Luther” (2012), poderia substituir Daniel Craig como James Bond em um futuro 007. Caso a substituição ocorra, será a primeira vez que um ator negro interpreta o famoso personagem nas telonas. Daniel Craig ainda estará no papel de James Bond no próximo filme da série, mas o mesmo já declarou que não quer continuar com o papel. Idris Elba então passaria a ser cotado como o décimo terceiro Bond. Os rumores só ganharam mais peso quando Elba fez um tweet em 12 de Agosto dizendo “My name’s Elba, Idris Elba”, imitando a frase icônica do espião britânico.

“Podres de Ricos” tem lançamento nacional previsto para 25 de Outubro e já tem continuação confirmada.


No Entanto Setembro, 2018

cidade

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Interdição do Terminal Itaparica reacende a crise de mobilidade urbana na grande Vitória Apesar de recentes avanços, população ainda enfrenta desafios para realizar atividades do cotidiano

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o dia 20 de Julho, muitos trabalhadores e estudantes foram surpreendidos pela interdição do Terminal Itaparica, localizado em Vila Velha. Apesar de ter sido inaugurado há pouco tempo, o Terminal foi interditado por apresentar falhas que comprometem sua estrutura. A suspensão das atividades gerou diversos problemas, até mesmo para pessoas que não o utilizavam especificamente, como é o caso do estudante Newton Assis. Ele afirma que não precisava ir até o Terminal de Itaparica, mas utilizava uma linha de ônibus que saía direto de lá. Por causa da interdição, essa linha foi cortada. Newton também relata que o fechamento gerou uma superlotação do terminal que ele utiliza, o Terminal Vila Velha. Todas essas dificuldades reacendem a discussão sobre os problemas de mobilidade urbana na Grande Vitória. A Professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Ufes, Daniella do Amaral Mello Bonatto, destacou diversos problemas de mobilidade enfrentados em Vitória que, segundo ela, não se restringem apenas ao trânsito e aos transportes. “É preciso trabalhar no que gera a demanda pelos deslocamentos”, afirma a professora. A crise de mobilidade envolve também a dinâmica da cidade e a forma que foi construída. Segundo a professora, a expansão urbana dispersa gera problemas como má distribuição das atividades no município. Bonatto relata também que a supervalorização do automóvel fez com que se aumentasse a quantidade de carros nas ruas, causando ainda mais transtornos. Ela diz que isso só poderia ser resolvido se houvesse um transporte coletivo de qualidade que atendesse às necessidades da população. Mas na realidade o que ocorre é o oposto. A estudante Crislaine Lourdes afirma que precisa pegar quatro ônibus por dia para se deslocar até a faculdade e que perde, em média, duas horas no trânsito todos os dias. Ela alega que a interdição do Terminal Itaparica só piorou a situação. “Mudaram os horários do ônibus que eu pegava e agora eu tenho que sair mais cedo de casa para chegar na faculdade no horário”, declara a estudante. Daniella Bonato frisa que outro problema presente em Vitória é a falta de investimento em ciclovias. Segundo a professora, a rede

cicloviária da cidade é insuficiente e concentrada. O estudante do curso de Geografia Pedro Henrique Neves Lôro, de Cariacica, informa que utiliza a bicicleta na maior parte do tempo durante o dia, desde atividades voltadas para o lazer ou até mesmo para se deslocar até a Ufes. Pedro declara sentir falta de ciclovias na Grande Vi- Pontos de ônibus ficam lotados por falta de mobilidade tória. “Acho inadmissível urbana em Vitória. Vitória não ter ciclovia em algumas ruas, como em Maruípe. Essa parte do trajeto é muito perigosa, os carros e os ônibus passam colando nos ciclistas”, queixa-se o estudante. O ciclista Davi Martins, de Vila Velha também utiliza a bicicleta para se deslocar até a Ufes. Ele explica que prefere utilizá-la por ser Por miranda perozini um meio de transporte mais acessível, não poparalisação por tempo indeterminado das luente e mais rápido que o transporte público, atividades no Terminal de Itaparica trouxe mas afirma sentir falta de ciclovias em alguns trajetos como no trecho entre a Prefeitura de consequências que vão muito além da realocação de linhas, atrasos e superlotação. Vitória até a Praça do Papa. Comerciantes que trabalhavam no local Segundo Daniella Bonatto, o mais importante para resolver a crise de mobilidade em uma e preferiram não se identificar, relatam que a região Metropolitana é desencorajar o uso do interdição inesperada do Terminal gerou deautomóvel, estimular o transporte coletivo e semprego e muito desespero. “Achamos que promover uma integração entre os transportes. ficaríamos sem emprego, fomos largados Porém, a professora aponta que essa integra- ao acaso”, diz funcionária que trabalhava lá ção não deve ser feita apenas por meio de ter- há seis meses. Segundo ela, a CETURB/ES minais de ônibus, uma vez que essa alternativa (Companhia Estadual de Transportes Coletivos se restringe a apenas um modo de transporte e de Passageiros do Estado do Espírito Santo) notificou os donos dos quiosques e prometeu aumenta os deslocamentos. Apesar de todos os problemas, Bonatto realocar as lojas e seus funcionários. De acordo com a maioria deles, a realocareitera que nos últimos anos tem-se buscado ção só foi possível nos casos em que donos fazer algumas melhorias na cidade, como a de quiosques possuíam lojas em outros termiimplantação do serviço de bicicleta compartinais. Além da falta de informação, o desemprelhada, a incorporação de novos trechos de cigo gera muita insatisfação, e divide opiniões: clovia, o surgimento do ônibus “Bike GV”, que “Pelo menos não aconteceu algo mais grave, integra Vila Velha e Vitória, a implantação do mas foi ruim para gente”, relatou funcionário. estacionamento rotativo e o início da implanAo ser procurada, a Ceturb garantiu que totação da Linha verde - faixa exclusiva para o dos os trabalhadores seriam realocados para ônibus. “Uma boa mobilidade urbana é deterquiosques em outros Terminais, e que estão minante na qualidade de vida que uma cidade trabalhando para diminuir todo transtorno cauoferece para as pessoas e estas são a razão de sado pela interdição. sua existência”, conclui a professora.

Interdição afeta quiosqueiros

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Foto: Síntia Mara Ott

Por sara de oliveira silva


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No Entanto Setembro, 2018

ESPORTE

Idosos se exercitam em academias sem manutenção Os equipamentos têm trazido um benefício para a comunidade, mas ainda carecem de atenção da prefeitura

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ó em Vitória, mais de 40 academias populares foram construídas pela prefeitura para que mais pessoas tenham acesso à prática constante de exercício físico. Elas ficam, em sua maioria, nas praças e à beira mar e foram pensadas para que os idosos possam incluir esse hábito saudável em suas rotinas de forma gratuita. Hoje, essas academias atendem todas as idades. É comum ver pessoas caminhando e depois terminando os exercícios nos equipamentos dispostos ao ar livre para trabalhar as partes do corpo que não foram exercitadas apenas com a corrida. O sucesso dessas academias ao ar livre se dão pela praticidade e até mesmo por serem gratuitas. “Eu tive depressão e a minha médica me pediu para fazer algum exercício e eu comecei a fazer aqui, o que é um adianto pra mim, porque pagar uma academia é

muito difícil”, disse Maria da Penha, 67 anos, aposentada. Mesmo com tantos benefícios, muitos usuários reclamam da falta de manutenção dos equipamentos. Segundo Lúcia, 49 anos, alguns estão quebrados há meses e que mesmo frequentando a academia regularmente, tem medo de usar um desses equipamentos e acabar se machucando. “Eu vejo algumas crianças brincando aqui e fico até preocupada delas caírem Aparelhos de baixo impacto simulam atividade do cotidiano das e se machucarem nas pontas pessoas de ferro quebradas”, relatou. A Secretaria de Esportes afirmou que as às de inox, conforme o cronograma. “Das 48, academias estão em processo de substituição 19 já possuem a nova estrutura”, confirmou e as antigas estruturas de ferro darão lugar a assessora da secretaria, Lívia Albernaz.

Caminhada é o esporte mais praticado no Brasil Na terra do país de chuteiras é a caminhada ao ar livre que conquistou a cidade, os pés e os corações brasileiros. Mas a prática da atividade física apresenta alguns riscos Por ana clara bianch

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Foto: Arquivo pessoal

ngana-se quem pensa que o futebol é o esporte nacional. A corrida e a caminhada despontam como as atividades mais praticadas pelos brasileiros. Em 2015, o Institu-

O arquiteto Felipe Bosi participando da sua última corrida de rua 2012.

to Brasileiro de Geografia (IBGE) divulgou que a caminhada faz parte da rotina de atividades físicas de mais 50% dos entrevistados pelo censo daquele ano. Em pesquisa parecida, o instituto de pesquisas esportivas Sport Track consultou 10.800 pessoas de várias idades, de ambos os sexos e todas as classes sociais, para saber qual seria o esporte mais praticado do Brasil: 33,2% dos que participaram das entrevistas afirmaram que tinham o costume de praticar corrida de rua/caminhada. Democráticas e inclusivas, tanto a corrida de rua, quanto a caminhada, requerem alguns cuidados básicos. A fisioterapeuta Naine Rocha, 27 anos, orienta que é necessária uma preparação prévia para começar a caminhar ou correr, além do acompanhamento médico. “Existem alguns cuidados que quem está começando a fazer uma atividade física precisa se atentar. Para começar, é necessário usar roupa leve confortável, levar sempre uma garrafa de água e usar um tênis adequado para a prática. Ir no

seu ritmo também é fundamental. O importante é conhecer o seu limite e, com o passar do tempo, aumentar o ritmo da caminhada”, ensina a fisioterapeuta. Felipe Bosi sentiu na pele, aos 22 anos, os efeitos nocivos da prática da corrida em excesso: “Corria uma hora por dia, todos os dias, após meu treino na academia. Durante uma corrida de rua, eu me senti mal. Senti dores no abdômen, mas terminei a corrida. No outro dia, no início do meu treino, na academia, voltei a sentir dores e dormência nos braços. Fui levado ao hospital, e descobri que estava infartando”. O caso de Felipe é o mais alarmante em termos do que a atividade física pode causar quando praticada em excesso ou sem acompanhamento. O mais comum é que o resultado dessa prática surja décadas depois, através de problemas nas articulações e na coluna. Totalmente recuperado do infarto, Felipe pratica hoje atividades físicas com moderação e ainda não abandonou completamente a caminhada.

Foto: Maeli Rhayra

Por maeli rhayra


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