Jornal NoEntanto Edição 96

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Jornal Laboratorial - Ufes

Edição 96 - Novembro 2018

Entanto

Partos traumáticos podem influenciar no desenvolvimento de depressão pós-parto. No mundo todo, cerca de 10% das mulheres grávidas e 13% das mulheres que acabaram de dar à luz experimentam algum transtorno mental, segundo informações da Organização Mundial da Saúde P.9

Consciência negra: os símbolos mudaram? O mês que relembra a luta por igualdade a mais de 130 anos atrás evidencia mudanças e contribui, hoje, com movimentos de resistência P. 6 FOTO | REPRODUÇÃO

Projeto de lei Escola sem Partido sofre rejeição por boa parte dos brasileiros

ASSOCIAÇÃO CAPIXABA INSPIRA O VOLUNTARIADO NO ESTADO

Aumenta a preferência por motoristas mulheres em aplicativos de transporte

Apesar disso, aprovação é consedida em cidades do Paraná e de São Paulo.

ACACCI conta com a força do trabalho voluntário para ajudar o tratramento de crianças com câncer

Usuárias ficam mais felizes e seguras, mas motoristas dizem não notar diferenças entre homens e mulheres no ramo.

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EXPEDIENTE

REDAÇÃO

Andrezza Steck Brunella Rios Gabriela Lúcio Gleiciane Marriel Maria Clara de Araújo Miranda Perozini Thauane Lima

DIAGRAMAÇÃO

Miranda Perozini

EDIÇÃO

Andrezza Steck

DIGITAL E MÍDIAS SOCIAIS Jonathas Gomes Alexandre Barbosa André Calesso Isadora Wandenkolk Maria Alice de Sá Sara Oliveira

ESTAGIárIA

Caro leitor,

EDITORIAL

Quando iniciamos o semestre, nossa primeira edição prometeu à vocês, leitores, um olhar crítico e uma exploração dos fatos não realizada pela mídia tradicional. Essa inquietação nos motivou como futuros jornalistas e esperamos que tenha incentivado, você, como cidadão. Ao longo deste segundo semestre publicamos matérias com as seguintes temáticas: a possível criminalização de movimentos sociais; a luta pelo direito à moradia e das mulheres por igualdade na ciência; a falta de incentivo à produção cultural capixaba, a crescente onda do conservadorismo no país e o descaso com a história de Vitória que desmorona junto com os antigos prédios no centro da cidade. Na última edição de 2018, realizada pela turma 2017/2, em homenagem ao mês da Consciência Negra, trouxemos uma reportagem especial sobre os desafios enfrentados pela majoritária população negra no Brasil, na luta diária contra o preconceito, a violência e pela igualdade de direitos. No caderno de Educação trouxemos uma matéria sobre Escola sem Partido, uma proposta contraditória que visa a não ‘doutrinação’ nas escolas, mas que ela própria está carregada por uma ideologia. Em Cidades, questionamos o simbolismo da criação de um aplicativo para motoristas e passageiras mulheres, que mascara o machismo e reforça a segregação de gênero na sociedade contemporânea. Já no caderno de Saúde, mostramos as dificuldades da depressão pós-parto. Além das matérias como, trabalho voluntário, Cine Metrópolis e feminismo na música capixaba. É com muito orgulho, portanto,, que fechamos 2018 com sentimento de dever cumprido. Apesar das adversidades enfrentadas em um longo e complexo ano, gostaríamos de reafirmar a importância das Ciências Humanas para uma sociedade, que -infelizmente- muitas vezes são ignoradas por estereótipos criados para deslegitima-las. Porém, é em tempos obscuros que mais necessitamos de estudos como História, Sociologia, Filosofia, Arte e claro, o Jornalismo. Pois, é por meio destas ciências que aprendemos a interpretar, questionar e debater nosso cotidiano. E para finalizar, lembre-se: “Ninguém solta a mão de ninguém”. Tenham uma boa leitura e boas festas!

Nathalia Esteves

logo

Equipe 2017/2

NoE nas redes

Gabriel Moraes

PROFESSOR RESPONSÁVEL Rafael Bellan

NoE

jornalnoentanto.wordpress.com facebook.com/jornalnoentanto @noentantojornal @jornalnoentanto

NoEntanto Jornal laboratorial do curso de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, da Universidade Federal do Espírito Santo. Produzido pelos alunos do terceiro período.


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EDUCAÇÃO

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efeitos da escola sem partido já podem ser sentidos na universidade Cidades como Cascavel (PR) e Jundiaí (SP) aprovaram as propostas. Porém, até então, nenhuma capital adotou o projeto. Por maria clara casagrande

Foto: Maria Clara Casagrande

NOVO MINISTRO DA EDUCAÇÃO

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movimento Escola sem Partido s/ urgiu em 2004 através da iniciativa do então procurador pelo estado de São Paulo, Miguel Nagib. Em 2014 ele foi convidado pelo então Deputado Estadual do Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro, para escrever um projeto de lei para ser apresentado à Assembleia Legislativa. No mesmo ano, Carlos Bolsonaro, irmão do Deputado e vereador no Rio de Janeiro lançou o Projeto de Lei 864/2014 para avaliação da Câmara Municipal. Segundo o site oficial da Escola sem Partido, o projeto baseia-se em três objetivos principais: Descontaminação e desmonopolização política e ideológica das escolas; Respeito à integridade intelectual e moral dos estudantes; Respeito ao direito dos pais de dar aos seus filhos a educação moral que esteja de acordo com suas próprias convicções. Defensores do movimento acreditam que os professores realizam doutrinação política. Para o especialista em administração pública, Getúlio Loureiro, essa lei irá coibir a discussão politica, ou seja, a discussão de

tudo que diz respeito aos relacionamentos sociais. “A essência de uma lei que limite a livre expressão pode levar a imbecilização das pessoas, não só dos estudantes, dos cidadãos de uma forma geral, mas também da mídia.”, explica. A professora do departamento de educação da UFES, Gilda Cardoso, relatou o episódio de repressão sofrido durante a 3º edição do Seminário “Federalismo e Políticas Educacionais”, cujo tema era "Para onde vai a democracia? O Brasil após 30 anos da Constituição de 1988t;. A docente contou que tiveram seus cartazes vandalizados e rasgados porque continha em destaque a pergunta: “Para onde vai a democracia?”. O episódio revela que os conflitos ideológicos estão presentes nos corredores da Universidade. A liberdade de pensamento está diretamente ligada ao conceito de liberdade de cátedra, o qual é explicado por Getúlio. “O conceito de liberdade de cátedra representa justamente essa possibilidade de nós temos de exercitar o livre pensamento, a expressão das ideias e, acima de tudo, por respeitar a

Após ser duramente criticado pela bancada evangélica, principal apoiadora da sua candidatura, Jair Bolsonaro mudou sua indicação para o cargo de ministro da educação, substituindo o moderado Mozart Neves Ramos pelo defensor do projeto Escola sem Partido, Ricardo Vélez Rodríguez. O novo ministro da educação acredita que a ditadura militar no Brasil é “um fato a ser comemorado”. liberdade de expressão, respeitar também aqueles que estão dentro da sala de aula e que pensam de forma diferente.” A criação e desdobramento deste projeto de lei revela a dicotomia existente no Brasil entre aqueles que defendem piamente a liberdade de expressão e setores que a restringem ao seio familiar.


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CIDADE

Mulheres ganham espaço como motoristas de aplicativo Seja como renda fixa ou complementar, elas conquistaram a preferência da clientela feminina, que defende a opção de escolher o gênero do motorista Por Miranda perozini

Foto: Reprodução / Lady Driver

3 APLICATIVOS DE TRANSPORTE PARA MULHERES LadyDriver: Lançado em

Mais de 200 mulheres já utilizam aplicativos exclusivos na Grande Vitória

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pesar de da Trabalhar como motorista de aplicativo têm sido uma escolha crescente no cenário de crise econômica, e as mulheres não ficaram de fora. Ganhando cada vez mais espaço no mercado, elas são preferência e sinal de segurança para muitas passageiras do sexo feminino. Motorista de Uber há 18 meses, Morgana Durante conta que seu trabalho como motorista complementa sua renda e é ideal para administrar melhor o seu tempo, já que a carga horária é flexível. Para Marcela Costa Oliveira, de 37 anos, o trabalho foi a principal alternativa para fugir do desemprego. “Trabalhei temporariamente em 2016, e depois de anos sem emprego, decidi voltar, é vantajoso para mim”, comenta. Para Morgana e Marcela, não existe diferença de gênero na relação passageiromotorista, mas para Juliany Ávila, estudante de 19 anos, a diferença entre homens e mulheres e a preferência por um em detrimento do outro é clara. “A diferença entre homens e mulheres é um grito mudo. Entre muitos casos de violência, tenho medo de virar estatística. Prefiro andar com mulheres, dá uma sensação de alívio”, explica. Iara Coffler (18), estudante e usuária da

Uber, também prefere andar com mulheres, e diz que a insegurança e o medo estão sempre presentes ao andar com motoristas do sexo masculino. Marcela conta que o conforto e até mesmo certa curiosidade é expressa pelas passageiras ao entrarem no carro. “Muitas ficam eufóricas e expressam satisfação em ver uma mulher ocupando esse espaço, além de dizer que se sentem mais seguras.”

EXCLUSIVIDADE FEMININA A preferência pelas mulheres nos setores de transporte não gerou a opção de escolha de gênero nos principais aplicativos como a Uber, por exemplo, mas movimentou muitos na criação de outros para pessoas do sexo feminino, com passageiras e motoristas exclusivamente mulheres. Com a finalidade de diminuir os casos de assédio sexual e promover a segurança e o conforto das mulheres, o aplicativo FemiDriver chegou em Vitória em março deste ano, e já tem adeptos, com mais de 100 motoristas cadastradas, segundo a administração do serviço.

julho deste ano, o aplicativo foi criado após a CEO Gabriela Correa ter sido vítima de assédio por um taxista. Por enquanto, a ferramenta se encontra disponível apenas em São Paulo, capital, e Guarulhos e conta com 8 mil motoristas cadastradas. A previsão é expandir o serviço para as outras capitais em breve.

Taxi Rosa: Disponível apenas

no Rio de Janeiro, o Táxi Rosa é compatível com os sistemas iOS e Android. Para diferenciar os táxis “rosas” daqueles dirigidos por homens, um adesivo rosa na parte traseira dos carros identifica que aqueles têm taxistas mulheres atrás do volante.

FemiDriver: Preocupadas

com os casos de estupros e assédios no transporte coletivo o aplicativo promove a segurança e está disponível na Grande Vitória e em Recife.


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CIDADE

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Conheça as histórias de quem faz voluntariado na ACACCI A ACACCI conta com cerca de 200 voluntários que constituem a equipe Por thauane lima

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Foto: Thauane Lima

Associação Capixaba Contra o Câncer Infantil, a ACACCI há 30 anos conta com a ajuda de 200 voluntários que contribuem para o funcionamento do associação fazendo a diferença na vida das crianças e adolescentes. Muitos brasileiros trabalham e não ganham como remuneração nem um salário, mas sim um abraço, ou até mesmo um sorriso estampado no rosto de quem recebe os serviços prestados. Essa é a rotina de quem atua como voluntários e dedica parte do dia para auxiliar os pacientes em tratamento oncológico. O desejo de poder compartilhar as suas experiências pessoais com outras mães e crianças com câncer fizeram Iracy Miranda colocar o altruísmo em prática na ACACCI. “Por que eu quis ser voluntária? Eu vim aqui por livre e espontânea vontade. Eu ficava muito sozinha em casa, cuidando de meu gato e do meu marido. Eu atuo na triagem e no bazar da ACACCI. O trabalho me permite ficar mais sociável com a pessoas”, argumenta Miranda, que tem 54 anos, é formada em Ciências Contábeis e dona de casa. Há pessoas que, em um momento da vida,decidem abrir mão de si mesmas em prol o outro. “Aqui na ACACCI você aprende a dar mais valor à vida. Os benefícios são muitos, porque você se sente útil. convive com uma equipe muito organizada, que se preocupa com o cuidado com as crianças”, comenta Angelina Margarida Palazzio, 57anos, empresária e voluntária. Foi por meio de uma reportagem capixaba que uma carioca, que já queria muito fazer o trabalho voluntário, se aproximou da ACACCI. “Você muda muito como ser humano. O trabalho voluntário me fez desenvolver a empatia pelo outro. Você produz voluntariamente e, na consciência, desenvolve sentimentos. Eu acredito que você precisa de fatores externos para desenvolver esse sentimento, principalmente a empatia de se colocar no lugar do outro”, afirma Cintia da Silva Ribeiro,45, professora.

ACACCI conta com centros especializados para o atendimento de crianças com Câncer em Vitória (ES) Foi trabalhando como monitora e voluntária das olimpíadas na Universidade Federal Fluminense (UFF), que a Tamires Santos desenvolveu sua a proatividade e autonomia. Nesse período, ela descobriu o programa de intercâmbio americano Au Pair um dos requisitos para ingressar no programa é fazer o voluntariado com crianças, alcançando a carga horária de 300 horas.“Eu acho que todo voluntariado como que eu fiz, muda você de alguma forma. Você está em casa meio triste, desanimada com a vida,quando você põe o pé dentro daquela brinquedoteca e vê a alegria das crianças, na situação que elas se encontram é muito gratificante”, analisa a publicitária. A coordenadora de voluntariado na ACACCI, Isabela Vasconcelos busca aprimorar cada dia, a integração

entre os voluntários e as famílias. Os voluntários são protagonistas da instituição, porque buscam alcançar o objetivo que é o bem estar das crianças e adolescentes. Nós recebemos as pessoas de várias formas. Tem gente que quer conhecer o espaço e acaba perguntando sobre o programa de voluntariado. E há pessoas que se cadastram pelo site e telefone da instituição na aba de voluntariado”, afirma assistente social. O setor de voluntariado da ACACCI tem toda uma estrutura para receber os voluntários. Todas as atividades desenvolvidas por eles são anotadas em um “Diário do Voluntariado”, em que eles escrevem diariamente como foi o seu dia na instituição. Todas as doações da ACACCI são revertidas para o baza,r que é uma forma da instituição arcar com os custos.


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SOCIEDADE

A Resignificação de um movimento A luta de negros que, sem esquecer o passado, mudaram a forma de resistência Por gleiciane marriel Foto: Coletivo Helenira

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m 21 novembro é comemorado o dia nacional da consciência negra. Para a ONU a data que foi marcado em homenagem a morte de Zumbi dos Palmares é um convite para relembrar a luta pela libertação dos escravos e para a reflexão sobre os avanços e desafios da população negra no Brasil. Zumbi foi líder símbolo de resistência contra autoridades que eram a favor da escravidão no Brasil, ele foi o último a controlar a maior comunidade do período colonial que servia de refúgio para povo negro em Pernambuco: o Quilombo dos Palmares. O professor e mestre em História social de relações políticas Jefferson Ferreira Alvarenga explica que historicamente os quilombos eram comunidades constituídas por negros que fugiam da escravidão, mas também eram ocupadas por outras etnias, como mestiços, indígenas e brancos pobres. “Alguns quilombos chegavam a ter comércio com cidades próximas, eles tentavam reproduzir a estrutura política, social e econômica das sociedades africanas da época”, comenta. Os lugares de resistência e refúgio existem até hoje, mas eles mudaram conforme a estrutura social vigente, assim como a mudança no pensamento social. O professor afirma que existem quilombos até mesmo nas áreas urbanas “Na atualidade os quilombos existem com descendentes de escravos e ex-escravos, com uma estrutura social, política e econômica diferente da inicial a constituição dos quilombos”. Um exemplo é o Quilombo

A união é quem move esses grupos na busca por direitos e igualdade.

Raça e Classe, um movimento nacional que existe para fortalecimento e direitos que a população negra ainda busca. Na época da escravidão os direitos dos negros eram praticamente inexistentes. Eles serviam principalmente de mão de obra e eram comercializados entre os senhorios, que eram os donos e proprietários das terras. O professor explica que “ a constituição de 1824 manteve a escravidão e privilegiou o domínio do

senhor sobre o escravo, como afirma a historiadora Vilma Ferreira, o escravo era uma ‘coisa’ ou objeto”, diz. Grasielly Cardoso integrante do quilombo diz que eles acreditam ser impossível conquistar todos os espaços que, segundo o termo usado por ela, os casagrande - que hoje é usado para significar as pessoas de classes econômicas mais altas - ocupam, pois alguns espaços as minorias sempre serão ideologicamente afastadas. “A resistência é contra a falta de


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SOCIEDADE

direitos, a desigualdade, os dados que evidenciam a criminalização dos negros, a falta de acesso ao ensino e tudo o que impede a gente de viver. Não queremos apenas sobreviver, nós queremos viver”, comenta Grasielly. Cento e trinta anos depois da abolição da escravatura, com a Lei Áurea, a desigualdade ainda é notada, dados expressam o que é vivenciado por vários negros, como diz Grasielly: “O negro luta todo dia, nossos jovens são os que mais morrem, o acesso ao ensino continua sendo um privilégio...

mas vamos continuar lutando pelos nossos direitos. Temos que entender que não viemos dos escravos, mas sim de negros escravizados, e eles já persistiam por nós”, comenta. O dia nacional da consciência negra traz como modelo Zumbi dos Palmares, mas para quem participa desses movimentos os símbolos de resistência e luta não mudaram, eles se ressignificaram “Nossos ancestrais, nós e aqueles que ainda irão vir, todos são exemplos e grandes símbolos de resistência. “No Morro da Piedade, por

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exemplo, temos o Izaias, que leva o conhecimento para o nosso povo dentro das comunidades, é porta voz entre a PM e os atos que queremos realizar. Temos também o Edson Bonfim, do interior de Salvador na Bahia, ele faz parte do parte do quilombo raça e cor e foi o primeiro de sua família a se formar, com 54 anos. Grasielly afirma que essa é a resistência do povo negro hoje, buscar por direitos que mesmo tanto tempo após o fim da escravatura, ainda não possuem.

AS ESTATÍSTICAS APONTAM

De acordo com dados do IBGE obtidos pelo G1, os trabalhadores negros ganham cerca de R$ 1,2 mil a menos que os brancos em média. Os dados são do 4º trimestre de 2017 e fazem parte da Pnad Trimestral, que disponibiliza informações desde 2012.

Em 2016 a taxa de homicídios de negros foi duas vezes e meia superior à de não negros 16,0% contra 40,2%; Entre 2006 e 2016, a taxa de homicídios de negros cresceu 23,1%; No mesmo período, a taxa entre os não negros teve uma redução de 6,8%;

Entre as pessoas de 15 anos ou mais de cor branca, 4,0% eram analfabetas, enquanto que entre as de cor preta ou parda a taxa foi 9,3%. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, Educação 2017.

Em 2016, 1.835 crianças de 5 a 7 anos trabalhavam, 35,8% eram Brancas e 63,8% eram Pretas e Pardas. Os dados são do pnad contínua.


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universidade

Metrópoles facilita acesso à cultura aos capixabas Cinema da Ufes oferece programação com 90% de obras nacionais, além de mostras e festivais com proposta de formar público crítico e desenvolver produção alternativa Por andrezza steck Foto: Andrezza Steck

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espaço da universidade é conhecido pelas muitas salas de aulas abarrotadas de carteiras. Com mais de 50 filmes exibidos em 2018, o Cine Metrópolis é também uma sala de aprendizado que ensina cultura e arte para comunidade interna e externa da Ufes, por meio de uma programação diversa com filmes fora do eixo comercial. Para o Secretário de Cultura da Ufes, Rogério Borges, o Cine Metrópolis é um espaço de experimentação para produzir conteúdos sem restrições, e de aprendizado com filmes brasileiros e estrangeiros alternativos, produções capixabas e produções de alunos do curso de Audiovisual. Ele lembra que sua origem é fundamental para memória nacional política e cultural. “O cinema dentro da universidade têm dois pontos de importância: primeiro a sua origem que foi no período da Ditadura, na abertura política no final dos anos 70 e a formação de novos grupos de cineclubismo, que se iniciou o processo de cinema alternativo no Espírito Santo. E atualmente é também relevante pelo curso de cinema”, explica Borges. Coordenadora do curso de Cinema e Audiovisual da Ufes, Gabriela Alves classifica o cinema como uma forma de expressão tão importante como a música, pinturas ou outras artes. “A sociedade através do trabalho artístico [produção audiovisual] pode, tanto do ponto de vista estético quanto social, promover um debate que muitas vezes não encontra espaço em outros linhas ou de outras produções como a mídia”, afirma a docente. A estudante de cinema Daiana Rocha apresentou como projeto de conclusão de curso o curta-metragem Braços Vazios, uma denúncia do cotidiano violento vivido pela população negra no Brasil. Além de ser exibido no Metrópolis, o filme foi selecionado em mais de 15 festivais pelo Brasil e ganhador de 2 prêmios. O curta foi produzido a partir do apoio financeiro e coletivo de amigos e família e contou com a ajuda técnica de alunos e ex-alunos do próprio curso de audiovisual e com os equipamentos emprestados de amigos e da universidade. “Eu costumo falar que o filme é muito mais documentário do que ficção, porque praticamente tudo que está contido ali eu tirei dos depoimentos e a partir disto eu fui construindo a narrativa do filme. E todos os momentos são inspirados no que ouvi”, disse a estudante. O espaço garante a construção de novas

Cinema da Ufes oferece programação semanal de produções alternativas formas de debates e possibilita a divulgação de trabalhos alternativos para toda comunidade capixaba: “é muito bacana poder levar sua família para ver seu filme em uma tela de cinema mesmo. Já participei de várias mostras, feitas pelos alunos onde exibimos nossas produções e sempre lotava”, comenta Rocha. Fora a programação com estreias semanais formuladas pela equipe de servidores, o Cine Metrópolis planeja mostras, festivais e parcerias para promover sua programação plural e alternativa, mantendo o plano de formar um público consciente e crítico às produções audiovisuais em geral. É o caso do Cinema em Rede, uma iniciativa da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) em parceria com o Ministério da Cultura (MinC) e o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), que promove um circuito de exibição audiovisual nas universidades e instituições federais de todo Brasil, com festivais em rede, mostras temáticas e debates interativos com realizadores. E o projeto de extensão Cine Escola Metrópolis, que visa analisar e debater obras audiovisuais com alunos no ensino básico de 5 a 17 anos, graduandos e profissionais da área de educação das escolas públicas municipais e estaduais da Grande Vitória e do interior do Espírito Santo.

DE CINECLUBE À METRÓPOLIS O Cine Metrópolis surgiu em 1974, com o Cineclube Universitário, um grupo de estudantes que exibiam sessões de filmes improvisadas dentro de uma sala de aula. Com a parceria da administração, anos depois, o projeto foi crescendo e a partir de 1979, a organização do movimento cineclubista no Espírito Santo que pretendia consolidar uma rede alternativa e democrática de cinema. Em 1992 é reaberto sob o nome de Metrópolis Cineclube e em julho de 1994, 20 anos depois de sua origem, é inaugurada a sala do cinema, como se conhece hoje. A ‘sala de aula’ com capacidade para 240 lugares foi a sede do audiovisual do Estado, antes da chegada de cinemas comerciais recepcionando mostras e festivais de cinema importantes no Espírito Santo, como o Vitória Cine Vídeo, Mostra Produção Independente da ABD Capixaba; Anima Mundi Itinerante; Mostravídeo Itaú Cultural e o Dia Internacional da Animação.


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saúde

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Uma em cada quatro mulheres sofre de depressão pósparto no Brasil Dados são de uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz. Além de causas biológicas, o desenvolvimento da doença pode estar relacionado á romantização da maternidade. Por brunella RIOS

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psiquiátricos, tem como causa fatores biológicos, psicológicos e sociais, mas um de seus principais responsáveis são as grandes alterações hormonais durante a gravidez e no período pós-parto. Além disso, de acordo com o médico, algumas mulheres são mais vulneráveis ao problema. “Pacientes predispostas a depressão e com baixo suporte sócio familiar tem uma chance maior de vir a desenvolver depressão pós-parto”, afirma. A romantização da maternidade também pode contribuir para o desenvolvimento da DPP. Isso acontece porque muitas mulheres acabam idealizando as experiências dessa nova fase e se frustram ao passar por dificuldades que muitas vezes não são faladas durante a gestação. De acordo com o ginecologista e obstetra Paulo Batistuta Novaes, essas frustrações podem começar na hora do parto. “Partos traumáticos, que não constituíram uma boa experiência para mãe se associam mais frequentemente à depressão. Além disso, a frustração por viver uma experiência muito diferente da desejada, como ter uma cesariana

tendo planejado um parto normal, por exemplo, também pode contribuir para o problema”, revela. Assim como a maioria dos transtornos psiquiátricos, a depressão pós-parto é mais comum do que se imagina e ainda é considerado um tabu, o que impede muitas mulheres de procurar ajuda. Além disso, segundo Campos, o estigma e o preconceito em relação às doenças mentais e ao psiquiatra também dificultam o diagnóstico. “Alguns poucos casos de mães com depressão durante a gravidez ou com DPP, procuram diretamente atendimento com o psiquiatra. Essa demora em procurar tratamento especializado pode agravar a doença”, conta. Depois do diagnóstico, o tratamento é o próximo passo para a cura da doença. Segundo Neves, além da medicação indicada pelo psiquiatra, é importante que a família ajude nos cuidados com o bebê e entenda as dificuldades enfrentadas pela mulher durante essa fase, tornando-a menos dolorosa e difícil.

Foto: Reprodução

segunda gestação de Marília Fernandes Pepino, aos 37 anos, foi uma surpresa. Apesar das constantes contrações, que a deixaram de repouso obrigatório a partir do quinto mês, Victória nasceu saudável, mas as preocupações não acabaram por aí. Os cuidados com a recém-nascida ultrapassavam o normal, o sentimento de tristeza e ansiedade não foram embora com o passar dos dias e ela já não sentia mais vontade de sair de casa. Ao perceberem os sintomas da filha, os pais de Marília a levaram ao médico e a advogada foi diagnosticada com depressão pós-parto (DPP). De acordo com uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz, uma em cada quatro mulheres sofre de depressão pós-parto no Brasil. Esse transtorno é caracterizado por um quadro de instabilidade emocional que perdura na mãe por mais de 15 dias após o parto e alguns de seus sintomas incluem tristeza profunda, insônia, ansiedade e excesso ou ausência e cuidados com o bebê. Segundo o psiquiatra Valdir Ribeiro Campos, a DPP, assim como a maioria dos transtornos

13% das mulheres que acabaram de dar à luz experimentam algum transtorno mental, segundo a OMS


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CULTURA

CANTORA DE VITÓRIA FAZ SUCESSO COM MÚSICA QUE DENUNCIA O MACHISMO Vídeo-clipe da artista Gabriela Brown viraliza na internet e já ultrapassa 77 mil visualizações no Youtube. Por gabriela lúcio

Foto: Reprodução / Facebook

da função da música para as relações sociais devido à diferentes tipos de relacionamento e a representação da música em cada um deles. Apesar desses significados variarem de pessoa para pessoa, Vermes afirma que a música ajuda na formação de um coletivo. “Sendo um traço identitário tão forte e importante, entendo que a música seja também uma ponte possível entre as diferenças.”

CLIPES E ALCANCE DE VISUALIZAÇÕES DE GABRIELA BROWN NO YOUTUBE Gabi Brown mistura música e feminismo para conscientizar mulheres

Não vou/ Não vou/ Se me pedir pra atirar pro alto/ Se me pedir para descer do salto/ Não vou tirar o batom/ Abaixar meu som/ Dizer que ta bom/ Não vou.” É assim que se inicia a música ‘Bonito É o Quê?’ da cantora Gabriela Brown, 22, uma jovem de Vitória que viralizou nas redes sociais há dois anos, que já participou da audição do programa “X Factor” na Rede Bandeirantes e já foi listada na edição sete de O Melhor da Música Capixaba. O vídeo-clipe em questão já conta com mais de 77 mil visualizações no Youtube. A composição faz uma crítica ao machismo, revelando o comportamento de uma mulher que se recusa à subordinação em afazeres cotidianos, como no trecho “parei naquele posto mal cuidado/ pus minha própria gasolina/ deixei o moço dizer que aquilo não é trabalho pra uma mina”. A cantora comenta que o sucesso do single é principalmente ligado ao seu público ser em maioria feminino, que se identifica de imediato com o tema debatido. “Mas, eu vou te falar, é

pouco homem que fica no público depois das coisas que falo. Os que ficam são ótimos, sabe?”, acrescenta ela. Quando perguntada se já se sentiu prejudicada em sua carreira por ser mulher, Gabriela conta que sim. “De uma forma muito velada, sabe? Com a presunção de que não sei o que tô falando. Reajo à situação tendo que me esforçar o dobro para provar que eu sei do que eu tô falando e sei do que eu tô fazendo”, afirma a cantora. Em relação à receber um cachê maior por ser mulher, ela revela que conhece casos assim mas que nunca passou por essa situação. “Com o relação ao meu cachê, eu não tenho muito do que reclamar porque quando você tem um certo nome, você cobra o cachê que você acha justo. Então, eu acho que acontece sim com outros artistas mas no meu caso não consegui perceber, não”, explica Brown. Segundo a professora de música e doutora em Comunicação e Semiótica Viviana Vermes, é difícil dar uma resposta precisa a respeito

MEU CARNAVAL: 11,866 views BONITO É O QUÊ?77,547 visualizações

ANTI MARÉ - 41,499 visualizações

CRUSH (COVER) 1,555 visualizações

DANGEROUS WOMAN (cover) 2,400 visualizações


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