Jornal Samambaia Agosto 2011

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Samambaia Meio ambiente J ornal L aboratório

do curso de

J ornalismo

da

U niversidade F ederal

de

G oiás | G oiânia , J unho , 2011

Diagramação: Larissa Vieira e Frederico Oliveira

Estudos mostram que a flora original do Cerrado é o principal retentor de gases de efeito estufa no Brasil. Plantações e pastagens aprisionam menos carbono e mais calor que a mata nativa >> 8 e 9

CASA DE PRISÃO Detentos da CPP ganham oportunidade de trabalho >> 03

DANÇA DE SALÃO

TRÁFICO

Ritmo a dois atrai público jovem para academias de dança >> 15

Comércio ilegal de animais silvestres ameaça espécies de extinção >> 10


Samambaia >> Goiânia | Junho, 2011

e d i t o r i a l

Combustível, inflação e aumento dos preços Texto: Rômulo Chaul Edição: Laura de Paula A alta dos preços dos combustíveis em todo o Brasil foi a principal causa do aumento do índice de inflação do mês de abril e continuou sendo responsável no mês de maio e junho. O próprio Governo Federal já toma medidas para reduzir o ICMS em cima do etanol e da gasolina na tentativa de conter o aumento da inflação, prevendo já o fim das entressafras. Com o aumento da inflação a população brasileira, de modo geral, já sente o peso no bolso: aumento do preço da passagem de ônibus, dos alimentos e até mesmo de produtos de consumo primário.

O reflexo é imediato e a população já toma iniciativas. Em Goiânia, mobilizações contra o aumento dos combustíveis foram vistas em toda a cidade, com ondas de protesto nas ruas e movimentos de repúdio via internet. Enquanto o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirma que podem ocorrer novos problemas de abastecimento de etanol no País durante a próxima entressafra da cana-de-açúcar e o governo conversa com empresários do setor sucroalcooleiro para projetar o abastecimento de etanol para o próximo ano, quem paga o preço (alto na bomba) é a população. É verdade que ocorreu uma queda no mês passado, mas falta muito. O Brasil é um dos países que mais paga pelo consumo de gasolina. E

R UMOR

somos produtores. Logo, é hora de sabermos quem lucra com esta injustiça e corrigirmos a diferença.

a r t i g o

Mês para esquecermos Texto: Rômulo Chaul Edição: Laura de Paula Tudo bem, o mês que vamos falar aqui já passou. Mas produz acontecimentos que repercutem durante o ano. Maio é popularmente conhecido como mês das mães e também como mês das noivas. Moças vestidas de branco, véu e grinalda entrando na igreja para encontrarem seu príncipe encantando e viverem felizes para sempre, ou até começar o futebol ou acabar a cerveja. É claro que o sonho de casar na igreja toda de branco com seu cavaleiro reluzente era o sonho das moças de antigamente, no tempo de Cora e da repressão do soutien. As meninas de hoje sonham em crescer, ser independente, não precisar do dinheiro do marido, aliás, não precisar nem de marido quanto mais de dinheiro. Querem ser grandes empresárias, juízas, delegadas, presidentas. Casamento e filhos que fiquem para depois, não existe esse negó-

cio de príncipe mesmo. Ou existe? Quando maio começou já se faziam dois dias da lua de mel do casamento do ano. A realização de um sonho de menina em achar o príncipe encantado foi o que conseguiu a plebéia britânica Kate Middleton que se casou no dia 29 de abril com o príncipe William, filho do herdeiro do trono britânico, príncipe Charles, com a falecida princesa Diana. Foi tudo o que se espera de um casamento real: festa enorme, convidados ilustres e capas de jornais e revistas. Muitas capas de jornais e revistas. A excitação dos britânicos pelo casamento é normal e justificável, mas o que esse jornal se pergunta é: não aconteceu mais nada de importante em abril? Revistas importantes de circulação nacional colocaram o fato na capa da revista, a foto da menina plebéia que sobe ao trono inglês através do amor. Na Inglaterra é compreensível, mas

Pietro Bottura

Diagramação: Lara Leão

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qual a relevância do fato no Brasil? Justifica-se da tamanha importância do assunto em detrimento dos outros? Em plena semana de páscoa esse foi o assunto mais importante da pauta nacional brasileira: o casamento do filho do príncipe da Inglaterra. As mortes nas estradas no feriado, as condições das estradas, a alta do preço do combustível, a alta no preço das passagens de ônibus, o protesto dos estudantes, as promessas de campanha, as enchentes em São Paulo, Rio de Janeiro e no sul do País, a situação da Líbia... Nada interessa? Só sabemos que o casamento dos sonhos custou R$ 12 milhões. Mas de que importa tudo isso mesmo se o mundo parou pra ver o casamento dos sonhos de todas as meninas que ainda acreditam em príncipe encantado. Foi o momento da catarse mundial. Todo o mundo parou pra ver um conto de fadas. Agora, em junho, a vida segue, as notícias voltam e a dura realidade atinge o povo.

Samambaia

Ano XII – Nº 50, Junho de 2011 Jornal Laboratório do curso de Jornalismo Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia Universidade Federal de Goiás Reitor Professor Edward Madureira Brasil Diretor da Faculdade Professor Magno Medeiros Coordenador do Curso de Jornalismo Professor Juarez Ferraz de Maia Coordenador Geral do Samambaia Professor Welliton Carlos Editor de Diagramação Professor Sálvio Juliano Monitoria Laura de Paula Silva Diagramação Alunos da disciplina Laboratório Orientado – Diagramação Edição Executiva Alunos da disciplina Jornal Impresso II Reportagens Alunos da disciplina Jornal Impresso I Contato Campus Samambaia - Goiânia/GO - CEP 74001-970 Telefone: (62) 3521-1092. E-mail: samambaiajornal@gmail.com Impressão: Cegraf/UFG Tiragem: 1000 exemplares


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t r a b a l h o

Detentos ganham segunda chance entre empresas privadas e diretoria do

Texto: Lara Leão e Raissa Falcão Edição: Bruna Dias Diagramação: Luciano Castro

C

om o tema “Ressocialização, nós acreditamos!”, a Casa de Prisão Provisória (CPP), do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, emprega, em parceria com a Hering, aproximadamente 300 presos, divididos entres detentos tanto do complexo masculino quanto do feminino. A linha de produção montada na unidade em Goiás etiqueta, dobra e embala 70 mil peças por dia. Segundo o diretor da CPP, Edílson de Brito, a intenção e o objetivo desse projeto é melhorar a qualidade de vida dos presos, possibilitar a qualificação profissional e diminuir o índice de reincidência criminal, que ainda é significativo, com média de 70%. “Nós queremos trazer renda e oportunidades para os detentos, além de qualidade de vida”. Além da Hering, mais de oito empresas, entre elas a Oi e a Telemont, realizam parceria com a CPP. Todos os presos envolvidos no projeto recebem salário de acordo com a produção. Também são analisados fatores como horário, disciplina e controle de qualidade da produção. Em nota oficial, a empresa Hering explica que o padrão de trabalho exigido no presídio é similar ao que eles enfrentarão no mercado de trabalho do lado de fora. “Tudo que é cobrado aos detentos será co-

Nós queremos trazer renda e oportunidades para os detentos, além de qualidade de vida” Edílson de Brito, diretor da CPP

Complexo Prisional

brado em qualquer atividade que vierem a desempenhar após o cumprimento de suas penas”, diz o documento. Bom comportamento Os presos não são selecionados aleatoriamente. A maioria é réu primário ou recebe a oportunidade de trabalho devido ao bom comportamento dentro da prisão. Atendendo a estes requisitos, eles são “convidados” a participar do projeto. Para se adequarem as condições de trabalho, o módulo em que estão detidos possui horários diferentes dos demais. Além disso, no módulo Respeito, os detentos se comprometem a seguir as normas que regem a organização do espaço, limpeza e comportamento. Eles ficam em um local mais arejado e humanizado, podendo participar de cursos, reuniões, trabalhos e atividades de esporte e lazer. Com pausa somente para o almoço, o detento Cammel, 26 anos, preso por tentativa de tráfico, afirma que apesar do horário puxado, até as 18 horas, é muito melhor trabalhar do que ficar desocupado na prisão. A Gerência de Reintegração Social da Superintendência do Sistema de Execução Penal (Susepe) é responsável pelo desenvolvimento e execução das ações que auxiliam na reinserção social do presidiário. Ela também criou o núcleo de seleção dos detentos, que foi implantado no sistema prisional em 2009. Este órgão faz a triagem da população carcerária, encaminhando-os às vagas de emprego de acordo com o interesse, perfil e qualificação. Não existem fórmulas prontas capazes de reverter o quadro atual da criminalidade. A entrada do sentenciado no cárcere é algo crítico para ele. Ao sair da cadeia, o ex-presidiário passa por um momento delicado. A fórmula adotada pela CPP, que procura ressocializar o preso, encarando-o não mais como um criminoso, e, sim, como um reeducando, oferece

de

Aparecida

de

Goiânia

oferece emprego aos presos

ao detento uma perspectiva para retomar o curso de sua vida. O direito ao trabalho é um dos elementos fundamentais para garantir a dignidade do ser humano. Por isso, quando uma pessoa é presa, ela não perde este direito. De acordo com a Lei de Execuções Penais, o trabalho é tanto um direito quanto um dever daqueles que foram condenados e estão nos estabelecimentos prisionais. No entanto, estas atividades não devem se assemelhar a trabalhos forçados, cruéis ou degradantes, como mostram os filmes de ficção. Segundo a Detentos trabalham em confecção dentro da CPP representante da HeInterior ring, Marisa Ferreira, o trabalho destinado aos presos não é uma segunda punição As boas oportunidades também se àquele que já teve a liberdade cerceada. A iniciativa, pelo contrário, pretende rea- estendem para os municípios do interior. bilitar, dar oportunidade e ressocializar Cinquenta detentos dos regimes aberto o preso, auxiliando sua recuperação, e semiabertovão trabalhar em serviços ampliando suas perspectivas e prepa- gerais e administrativos de 25 comarcas rando-o para reconstruir a sua vida em judiciais de Goiás. O convênio entre o sociedade através das oportunidades governo do Estado e o Tribunal de Justiça foi assinado no dia 19 de abril. oferecidas pelo mercado de trabalho.

Educação também é o caminho Além das vagas de trabalho, os detentos também podem dar continuidade aos estudos ou iniciá-los durante o cumprimento das penas. Atualmente, o módulo “Ressocialização, nós acreditamos!” oferece oportunidade de estudo a 1.571 presos que são atendidos desde cursos de alfabetização até graduação

em nível superior. O projeto é realizado através de parcerias do Banco do Brasil, SESI, Faculdade Alfredo Nasser e Secretaria da Educação com a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Aqueles que fazem graduações têm bolsas/convênio e pagam preços diferenciados pelos estudos.

Divulgação

Parceria


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v i o l ê n c i a

Por que os jovens morrem cedo? Em Goiás,

de

1998

a

2008,

Texto: Raíssa Falcão Edição: Thamara Fagury Diagramação: Thamara Fagury

O

homicídio é a principal causa de morte de jovens entre 15 e 24 anos no país, revelam dados do “Mapa da Violência 2011 – Os Jovens do Brasil”, lançado pelo Ministério da Justiça em parceria com o Instituto Sangari. O estudo informa que 62,8% das mortes de jovens ocorreram por homicídios, acidentes com meios de transportes e suicídios. No período analisado, alguns estados reduziram a média de homicídios. É o caso de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, enquanto Pará, Alagoas e Goiás praticamente dobraram os seus números. A pesquisa sugere que essa inversão nos índices dos estados pode ter sido provocada pelo Plano Nacional

a taxa de mortes por homicídios subiu de de Segurança Pública e pelo Fundo Nacional de Segurança. Esses dois projetos canalizaram seus recursos para o equilíbrio da situação nas regiões de maior incidência, o que provocou a migração do número de mortes para locais de menor risco, aumentando os homicídios no Centro-Oeste, por exemplo. Apesar do aumento de homicídios em alguns estados, o mesmo documento aponta que, em 2004, foi detectada queda expressiva nos índices por dois anos consecutivos. Essa baixa significativa é atribuída ao projeto “Campanha do Desarmamento” lançado naquele ano. O estudo ainda aponta que determinados pontos observados em pesquisas anteriores ainda prevalecem, como a quase totalidade das vítimas de homicídios serem do sexo masculino e o fato do número de vitimas negras continuar maior que o número de vítimas de cor branca. No ano de 2008, o jovem Leandro das Chagas comprou uma motocicleta para facilitar a sua função no emprego. O rapaz não usava nenhum tipo de droga e trabalhava com o pai, Francisco das Chagas, nas Centrais de Abastecimento de Goiás (Ceasa). Leandro se envolveu em um acidente de trânsito e morreu aos vinte anos de idade, na madrugada do dia 16 de julho de 2008. O jovem faz parte da estatística. Migração da violência

Francisco das Chagas perdeu seu filho em 2008

A falta de uma política cultural sistemática, a má qualidade dos processos educativos e a dificuldade de acesso à justiça são os motivos do aumento dos índices de homicídios em Goiânia, aponta o professor Dijaci David de Oliveira, especialista em sociologia da violência. Ele afirma que é possível notar no Brasil e no estado de Goiás uma interiorização da violência. Até metade dos

19,6

para

57,7

para cada

100

mil habitantes Fotos: Raíssa Falcão

Leandro das Chagas, morto aos 20 anos, em um acidente de trânsito: parte da estatística anos 1990, os pólos dinâmicos da marginalidade se concentravam nas grandes cidades. A partir de 1999, começa um processo de estagnação nas capitais, e a violência começou a crescer no interior. A situação que, há algum tempo alarmava quase que unicamente a capital goiana e o entorno, hoje é motivo de preocupação também em muitas cidades do interior. O sociólogo afirma que a precariedade das escolas goianas influencia bastante esse dado. “Pesquisa bem recente, de 2009, realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (Inep) demonstrou, por exemplo, que mais de 98% dos jovens das escolas brasileiras cometeram ou cometem alguma atitude preconceituosa. O que falta é uma escola que educa para a cidadania”, diz. Falta incentivo cultural Dyscreto, o diretor da Central Única das favelas de Goiás (Cufa), acredita que a ausência de uma política direcionada à formação de jovens cidadãos é o fator alarmante da atual situação goiana.

Para o rapper, falta investimento. Um dos desafios apresentados pela CufaGoiás diz respeito ao acesso cultural de jovens em condição de risco. A instituição participou da elaboração de propostas para políticas públicas que promovam esse acesso, discutindo estruturação e a integração das escolas com jovens e suas famílias. São estratégias para construção da imagem positiva e auto-estima da juventude que mora em favelas. Entretanto, sem investimentos a ação fica imobilizada.

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A partir de 1999 surge um processo de estagnação nas capitais e a violência começou a crescer no interior


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e n t r e v i s t a

“O jornalista transmite informação e o professor transmite um saber consolidado” Rubens Salomão

Lisa França - Eu entrei com alguns anos de profissão. Já estava trabalhando no jornalismo há 16 anos. Comecei com o impresso na Folha de Goiás e depois no Diário da Manhã. Continuei em Brasília, no jornal O Globo, e depois voltei para Goiânia como correspondente do Jornal do Brasil e, posteriormente, como correspondente da Gazeta Mercantil. Paralelamente a isto, fazia um trabalho na televisão, na TV Brasil Central como jornalista, e em um núcleo de imagem onde fazia documentários. Samambaia - Depois de vários anos, o que de lá fica na memória? Lisa - O que ficou mais em mim depois deste período de aulas foi o contato com os alunos. Essa riqueza que é você poder passar sua experiência e aprender com eles, acompanhar mudanças. O que mais me animava e entusiasmava na universidade era o contato com o aluno.

Carlos Costa

Lisa França: após muitos anos em sala de aula, a dedicação agora é outra Guardo uma lembrança muito boa das amizades construídas ali. Samambaia - O que é jornalismo e como deve ser a formação acadêmica de um jornalista? Lisa - Jornalismo é transmissão de saber e de informação. Acho que tanto o jornalismo como a academia têm muito o que contribuir porque, para o censo comum, o jornalista transmite informação e o professor transmite um saber consolidado, um conhecimento fechado e quadrado. Mesmo quando caiu a exigência do diploma, a procura no vestibular não diminuiu para os cursos de comunicação e nem as empresas contrataram mais jornalistas que não são formados. Os professores têm que questionar, o tempo todo, este saber consolidado. Você não pode só transmitir informação para não ser manipulado pela sua fonte. É preciso um conhecimento prévio, uma reflexão crítica, uma contextualização. Samambaia - Quais serão suas atividades depois da aposentadoria?

Lisa - Agora estou engajada na formação de um núcleo de psicanálise em Goiânia ligado ao Corpo Freudiano (escola de psicanálise) que é ligado à Convergência Internacional. O trabalho do psicanalista é muito solitário e nós precisamos desta interlocução e da crítica constante. Além de publicar. Eu sempre publiquei, sempre escrevi. É uma forma de dar a cara pra bater. Você dá um testemunho do que você pode transmitir, da sua trajetória, mas é também uma forma de colocar em jogo e lançar para a crítica o que você trabalhou .

Redação do Folha de Goiás, com Elton Campos, editor do jornal Eduarda Colares

Jornal Samambaia - Como você chegou a lecionar na Facomb? Depois de vários anos, o que de lá fica na memória?

Encontro Internacional das Nações Indígenas no Pará, durante o protesto Caiapó contra a usina de Belo Monte

Festival de Cinema e Literatura em Portugal, com o premiado cineasta português Lauro Antônio Eduardo Villela

Lisa França é um dos nomes que foram destaque durante anos no corpo docente da Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia da UFG. Em maio de 2011, Lisa lecionou a última aula na universidade e se aposentou. A professora, querida por todos, tem agora novos projetos pela frente e resolveu se dedicar a outra paixão que ela vinha conciliando junto com o ensino do jornalismo, a Psicanálise.

Galeria Rosa Berardo

Entrevista: Rubens Salomão Edição: Wynne Borges Diagramação: Laura de Paula

Samambaia - O que é realização para Lisa França? Lisa - Tenho um sentimento de gratidão muito grande pela vida, pela minha profissão, pelo meu trabalho, porque tudo o que fiz, fiz com muita paixão e amor. Acho que a realização é essa: a gente não pode perder o que a gente tem pra viver, que são as 24 horas. É o momento. Eu sempre consegui, de alguma forma, valorizar muito o meu momento.

Lisa com o jornalista Washington Novaes, sus esposa Virgínia Novaes e o ex-reitor da UFG, Ricardo Buffaiçal


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s a ú d e

Ginástica para a melhor idade Prática de exercícios na terceira idade pode ser alternativa para combater a depressão e retardar os efeitos do envelhecimento Texto: Flávia Gomes Edição: Wynne Borges Diagramação: Alana Sales

A

expectativa de vida da população aumentou, e praticar exercícios físicos regularmente pode ser uma alternativa para quem pretende estar na terceira idade com boa saúde. Envelhecer é um processo natural da vida e, como em qualquer fase, tem as suas peculiaridades. Segundo a fisioterapeuta e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Viviane Lemos Silva Fernandes, várias dimensões devem ser consideradas ao analisar o processo de envelhecimento de um indivíduo. Isso significa que além do aspecto físico (rugas, cabelos brancos e fragilidades motoras, por exemplo), as partes psíquica e social não podem ser deixadas de lado. A maneira como a pessoa viveu ao longo da vida influi diretamente na velhice que ela terá. “A jovialidade conta muito nessa fase da vida. Às vezes encontramos pessoas idosas mais saudáveis do que outras mais jovens”, lembra Viviane Fernandes. Dentro dessa lógica, a fisioterapeuta explica que os exercícios físicos desempenham papel importante no retardamento dos efeitos do envelhecimento biológico, psíquico e social do indivíduo. Atividade física Combate a radicais livres, prevenção de doenças e liberação de neurotransmissores que proporcionam prazer e sensação de bem estar são alguns dos benefícios da prática regular de atividade física. Além disso, a fisioterapeuta afirma que os exercícios oferecem maior oxigenação cerebral, ajudando a memória, e auxiliam a parte óssea no combate à osteoporose.

Proporcionar ao idoso fortalecimento muscular e resistência física, de forma a contribuir na diminuição das quedas e fraturas, são benefícios que a professora de educação física da UniEvangélica, Cristina Gomes Oliveira Teixeira, destaca na prática da musculação na terceira idade. Segundo ela, a atividade auxilia na sustentabilidade física do corpo e no ganho de força dos membros inferiores e superiores, o que aumenta a resistência motora. A professora acrescenta que a prática ajuda na queda da pressão arterial, controla os níveis glicêmicos e abaixa os triglicerídeos (lipídios que circulam na corrente sanguínea e são capazes de alterar o nível de colesterol). Ela destaca que no período de oito a doze semanas qualquer indivíduo é capaz de sentir as adaptações fisiológicas que podem acontecer no organismo com a prática da musculação.

A musculação deve ajudar o idoso a reconquistar a independência, auxiliá-lo na diminuição das dores e aumento do sono durante a noite” Hugo Rios, educador físico

Entretanto, algumas condições são necessárias para a obtenção dos benefícios. “As mudanças somente acontecerão se os exercícios estiverem sendo realizados corretamente e respeitando

a periodicidade de pelo menos três vezes na semana, com cada sessão durando entre 40 e 60 minutos”, explica Cristina.

Flávia Gomes

Cuidados Para Viviane Fernandes, a pessoa deve sentir prazer ao realizar atividades físicas. Por isso ela considera importante uma avaliação que trate da especificidade de cada pessoa. Cristina Teixeira ratifica esse cuidado na escolha de exercícios adequados para o idoso. “Isso significa que não se deve direcio- Antônio Salustiano Correia, 75, não dispensa a musculação nar determinados De acordo com Antônio Salustiano exercícios a um idoso com escoliose”, Correia, 75, sua disposição em atividaexemplifica a professora. Considerar as particularidades do des diárias aumentou após a prática idoso que iniciará uma atividade física de musculação. “Andar muito tempo, é consenso entre os especialistas. De subir escadas se tornaram mais fáceis acordo com o educador físico Hugo desde que comecei uma atividade reRios, os exercícios devem ser direcio- gular de exercícios.” Os benefícios, senados de acordo com a necessidade. gundo ele, foram visíveis. Ele destaca a Segundo ele, o trabalho realizado na diminuição da flacidez e o aumento da academia de musculação visa auxiliar resistência muscular desde que comeo idoso em atividades simples do co- çou há seis anos. Envelhecer é algo a que todos nós tidiano que se tornam difíceis com o passar dos anos, como caminhar, su- estamos sujeitos. Nos resta apenas probir escadas e até mesmo tomar banho curar alternativas para que esse envesozinho. “A musculação deve ajudar o lhecimento ocorra de maneira saudável. idoso a reconquistar a independência, A prática de exercícios físicos é uma auxiliá-lo na diminuição das dores e dessas maneiras para se ter uma melhor idade com qualidade de vida jovem. aumento do sono durante a noite”.


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POLITIQUÊS

por Raisa Ramos

Briga por Goiânia

Edição: Rômulo Chaul Diagramação: Thiago Lobos

Celg A responsabilidade de recuperação da Celg agora está nas mãos do banco Credit Suisse. Esta é a sexta tentativa do Estado de reerguer a companhia. Segundo a previsão de José Eliton (DEM), vice-governador e presidente da Celg, o programa deve levar de 6 meses a 1 ano para ser implantado. No ano de 2000 Marconi fez a primeira tentativa de salvar a Celg. Não obteve sucesso. O valor total da dívida é R$ 6 bilhões.

Por mais que que cada processo eleitoral seja diferente, os rituais são sempre robotizados. Ou seja: o momento atual refere-se às articulações nos bastidores. Alguns políticos já estão se articulando por conta das eleições para prefeituras e câmaras municipais dos Estados. Em Goiânia, políticos já eleitos deram indícios de interesse em comandar a capital. É o caso do senador Demóstenes Torres (DEM), que chamou a atenção do país por conta do seu expressivo saldo eleitoral: mais de 2,1 milhões de votos. O próprio prefeito Paulo Garcia (PT) é outro forte concorrente para 2012. Ele tentará a reeleição. Armando Vergílio (PSD) também é um dos cotados para entrar na briga. Vergílio foi eleito, no ano passado, deputado federal, mas abandonou o cargo para integrar a equipe do governador Marconi Perillo e hoje está à frente da Secretaria de Cidades. Outro secretário, Thiago Peixoto, também ameaça concorrer à prefeitura, o que pode gerar a primeira crise interna do mais recente partido brasileiro. Jovair Arantes (PTB), eleito deputado federal, pode tentar a vaga. O petebista já tem experiência na área. Entre 1993 e 1995, foi vice-prefeito de Goiânia, durante o governo de Darci Accorsi e sempre deixou clara sua intenção de comandar a cidade. O deputado estadual Fábio Sousa, atual presidente do PSDB em Goiânia, já disse que quer entrar na briga. Tem chances de disputar, mas precisa demonstrar perfil religioso que atenda todos os segmentos e não apenas uma igreja.

Bolada Só nos três primeiros meses deste ano, o governo estadual já conseguiu arrecadar quase R$ 3,5 bilhões em impostos. O ICMS foi o principal responsável pelo feito, totalizando, sozinho, aproximadamente R$ 2,5 bilhões.

Rede O Twitter continua sendo o site de relacionamento mais popular entre os políticos. O Facebook ainda não cativou esse público específico.

Trindade George Morais, Flávia Morais, Jânio Darrot e Ricardo Fortunato são nomes mais cotados para a prefeitura da cidade. PSDB quer voltar a ter domínio na terra santa. PDT também.

PSD Com 32 deputados federais, o partido de Kassab já nasce com bancada maior do que as do PTB e PSB.

Uma coisa é certa

E agora, Marconi?

Tricô

Independência

A disputa pela prefeitura de Goiânia em 2012 será bem mais concorrida do que a de 2008. Nas eleições municipais passadas, Iris Rezende (PMDB) ganhou de lavada de seu então principal rival, o pepista Sandes Júnior.

Com Demóstenes Torres (DEM), Thiago Peixoto (PSD), Armando Vergílio (PSD) e Fábio Sousa (PSDB) querendo a cadeira maior do Palácio das Campinas, todos querem saber quem o governador vai apoiar. Ele só bate o martelo depois de ler pesquisas de opinião.

Ultimamente Marconi Perillo tem arrastado asa para cima do prefeito Paulo Garcia, com quem fechou algumas parcerias. Será que o tucano vai surpreender os eleitores e apoiar o petista? Seria uma forma de fazer graça para Dilma Rousseff e sair da geladeira presidencial.

Nos bastidores, todos comentam que o PMDB não está muito confiante na aliança com o PT e que pode lançar candidato próprio. Os principais nonomes cotados são Wagner Siqueira (Waguinho), Bruno Peixoto e Samuel Belchior.


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m e i o

a m b i e n t e

Cerrado brasileiro é aliado no com Preservar

o bioma da

região central do brasil pode ajudar a amenizar o efeito estufa, informam pesquisadores Texto: Vítor Teodoro Edição: Bárbara Zaiden Diagramação: Bárbara Zaiden

U

ma das maiores preocupações do século 21 é a aceleração do aquecimento da Terra devido à atividade humana. O Cerrado deve ser uma das regiões mais afetadas pelas mudanças climáticas, ao passo que sua destruição contribui gravemente para a piora do quadro. A devastação da savana brasileira é responsável por um terço da emissão de gases do efeito estufa no Brasil. A boa notícia, entretanto, é que o bioma também torna-se um importante renovador do ar. Ou seja, preservar pode ser uma opção no combate ao aquecimento global. O Cerrado é o segundo maior ecossistema brasileiro, atrás apenas da Floresta Amazônica. Abriga umas das maiores

Fotos: Kim-Ir-Sen

biodiversidades do planeta, com mais de 1200 espécies animais. Muitas delas são endêmicas, ou seja, só existem na região. O bioma também é o segundo mais afetado pela ocupação humana, superado apenas pela Mata Atlântica, de acordo com a organização não-governamental WWF Brasil. Três das mais importantes bacias hidrográficas da América do Sul (Tocantins-Araguaia, São Francisco e Prata), incluindo as nascentes de alguns de seus afluentes, banham as terras do Cerrado. Efeito estufa

A geógrafa e educadora ambiental Elisvalda Beatriz da Silva, especialista em Cerrado, afirma Cerrado é o segundo bioma brasileiro mais afetado pela ocupação humana que a elevação da temperatura mundial pode promover a ampliação do mudanças climáticas. é o principal sumidouro de carbono do bioma. Num primeiro momento, a savaAlém de o desmatamento liberar dió- Brasil, isto é, ela retém gases de efeito na avançaria sobre a Floresta Amazôni- xido de carbono (CO2), que a vegetação estufa. Plantações e pastagens aprisioca. Entretanto, logo em seguida, o bioma nativa aprisiona, a interferência no solo nam menos carbono e mais calor que a sofreria uma intensa desertificação. Con- diminui a renovação do ar, aumentando mata nativa. forme a pesquisadora, somente a preser- a retenção de calor. Esse processo aconPesa ainda o fato de a maior parte da vação do ecossistema pode amenizar as tece porque a flora original do Cerrado madeira proveniente do desmatamento da região queimar em carvoarias. Pesquisas apontam que 80% do carvão vegetal consumido no Brasil vêm das árvores do Cerrado.

Como preservar o Cerrado Problema

Sugestão

Poucas áreas de conservação definidas por lei

Triplicar a área de preservação legal para 4,5% e fiscalizar as reservas

Isolamento das áreas de proteção

Criar corredores ecológicos ligando as reservas ambientais

Burocracia e corrupção nos órgãos ambientais

Melhorar a remuneração dos servidores, equipar as instituições e treinar os funcionários

Falta de comunicação entre gestores ambientais e o meio científico

Integração entre as unidades de conservação federais, estaduais e municipais; criar comunicação entre meio acadêmico e Estado

Falta de conhecimento sobre o ecossistema

Projetos de educação ambiental e pesquisa ecológica

Agricultura e pecuária Um dos maiores desafios para a preservação ambiental na região central brasileira é a sua vocação para a agropecuária. Segundo o professor Valter Machado da Fonseca, mestre em Educação Ambiental, a qualidade do solo, o clima e o relevo da região são fortes incentivos naturais à expansão da fronteira agrícola. Ele destaca a quantidade total de chuvas, a temperatura amena e a energia solar abundante como atrativos para a monocultura. A mecanização da agricultura facilitada pela topografia e solos profundos e de boa drenagem também estimula o desenvolvimento do agronegócio.


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ombate às mudanças climáticas

Topografia do Cerrado favorece mecanização da agricultura e do agronegócio

Pecuária em regime extensivo utiliza grandes áreas e pressiona fronteira agrícola

Fonseca aponta a mentalidade governamental brasileira como forte empecilho para a preservação do Cerrado. Segundo ele, a partir da expansão para o Oeste, marca do getulismo, cresceu no imaginário social e político a ideia de que a salvação da Amazônia é desmatar o Cerrado. “Transformar o Centro-Oeste numa grande fazenda manteria a floresta tropical a salvo. Isso bastaria”.

Além da decomposição dos dejetos de várias espécies animais, pesa o fato de a maior parte da produção de gado na região ser de regime extensivo, o que utiliza grandes áreas agricultáveis.

O problema se agravou nos anos 1980 e 1990, com a intensificação da monocultura de soja e, nos últimos anos, com o crescimento da indústria sucroalcooleira. Largamente estabelecida no Centro-Oeste do país, a pecuária também é um problema sério. A digestão do gado bovino contribui com a emissão de metano, um dos piores gases do efeito estufa.

Valorização da culinária goiana

Texto: Paula Nogueira Edição: Sarah Marques Valorizar os frutos do Cerrado, por meio da culinária, é uma forma de preservar o ecossistema que é símbolo de Goiás. Há algum tempo, iniciativas coletivas e particulares procuram agregar valor ao pequi, ao jatobá, à guariroba, dentre outros exemplares típicos da região. O festival Brasil Sabor, criado pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), em parceria com o Sebrae e o Ministério do Turismo, ocorre simultaneamente em diversos estados brasileiros. O objetivo é divulgar culinárias regionais. A sexta edição do festival ocorreu em maio e trouxe para Goiás diversos participantes que buscam valorizar os temperos, cores e aromas particulares de suas terras. Para Paulo Soulmucci Júnior, presidente da Abrasel nacional, os benefícios de iniciativas como essa extrapolam os limites geográficos. “A culinária brasileira deixou de ser um fator secundário para se tornar mais um atrativo turístico, um diferencial para o turismo no Brasil.” Os pratos que mais chamaram atenção no festi-

O que resta Além de preservar a fauna, a flora, o

val combinam elementos típicos deste bioma com a alta gastronomia. Um exemplo é o prato Combinado Brasil Japão, oferecido pelo Restaurante Hakone, uma mistura entre sashimi de salmão com pequi e milho verde. De acordo com a dona do estabelecimento, Maria Tereza Veras, seu cardápio oferece pratos que valorizam a fusão da comida japonesa com elementos tipicamente goianos. “O Cerrado tem muito a oferecer à alta culinária. Mas é papel dela ter coragem de inovar, de ousar mais”, afirma. Sustentabilidade Mais importante do que produzir, é preservar. A sustentabilidade está presente em uma iniciativa goiana que deu certo: a sorveteria Frutos do Brasil, conhecida anteriormente como Frutos do Cerrado. A empresa foi criada para aproveitar as frutas nativas na fabricação de picolés e sorvetes, fazendo jus à tendência de mercado que visa explorar a natureza de forma sustentável. De acordo com seu fundador, Clóvis de Almeida, as sementes retiradas das frutas são doadas para a Embrapa e o Ibama, além de ONGs e

relevo e as águas da região, salvar o Cerrado ajuda a humanidade a enfrentar um de seus maiores desafios: as mudanças climáticas. Do total de 1.783.200 km² originais do Cerrado central, restam apenas 356.630 km², segundo a Conservation International. Esse número equivale a 20% da área total. Apenas 1,5% está em áreas de preservação. Divulgação

viveiros particulares que realizam a seleção e o replantio. Uma alternativa de contribuir para que essas espécies de frutos não corram o risco de extinção. Além de preservar a natureza, essas iniciativas beneficiam o consumidor. A biblio- Clóvis de Almeida: frutos do Cerrado viram sorvete tecária Michele Pandini admite que adora o picolé de pequi, o que, às vezes, causa certo estranhamento entre seus amigos de outras cidades. “Isso é opinião de quem nunca experimentou”. Para aqueles que não gostam de pequi, existem outros sabores do Cerrado em sorvetes e picolés: cajá, umbu, cupuaçu e até gabiroba. Não importa o sabor. O bom mesmo é aproveitar o clima característico da região para se refrescar com os frutos típicos ou se deliciar com a alta gastronomia oferecida pela natureza. Mas acima de tudo devemos garantir a preservação do nosso Cerrado.


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m e i o

a m b i e n t e

Fauna brasileira ameaçada das leis e impunidade impede que tráfico de animais diminua Texto: Illa Rachel Edição: Bruna Dias Diagramação: Gilana Nunes

O

Brasil é um dos países com maior riqueza de fauna do mundo. Com um território composto de cinco ecossistemas diferentes, estima-se que o país abrigue aproximadamente 10% de todas as espécies do planeta. Apesar dessa variedade de animais da fauna brasileira gerar a idéia de abundância, o que normalmente se encontra são grupos relativamente pequenos de animais, concentrados em algumas áreas e muitas vezes fragilizados diante dos impactos do desmatamento e da caça. Apesar de muitas organizações se empenharem em preservar esse patrimônio, mais de 208 espécies foram incluidas na lista de ameaçadas de extinção no último ano. De acordo com relatório publicado pela Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais (Renctas) antecedido pela a destruição do habitat, a caça, para subsistência ou comércio, é a segunda maior ameaça à fauna silvestre brasileira. O comércio ilegal de animais silvestres, que inclui a fauna e seus produtos, movimenta de 10 a 20 bilhões de dólares por ano. É a terceira maior atividade ilícita do mundo, atrás apenas do tráfico de armas e drogas. O quadro econômico pouco favorável encontrado no Brasil tem contribuído de maneira significativa para o crescimento da captura de animais da natureza. Dener Giovani, fundador da organização não governamental Renctas, afirma que “a falta de recursos força populações que vivem próximas às matas a vender animais para conseguir dinheiro. Além disso, a fraca fiscalização é garantia de impunidade”. Nesses locais, a idéia predominante é a de que os recursos disponíveis na natureza são infinitos, e suportam qualquer grau de exploração e degradação. Até meados da década de 1950, não ha-

doristas onde são construídos criadouros para fins econômicos e industriais. Já a lei nº. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, ou Lei de Crimes Ambientais, estabeleceu a possibilidade de fiança para Com seu habitat natural destruído, os animais se tornam presas fáceis crimes contra a fauna, além via no Brasil preocupação com assuntos li- de descriminalizar a caça de subsistência, gados à natureza. Mas o agravamento dos isto é, para consumo próprio. Essa norma problemas ambientais, e a maior conscien- permitiu que as penas privativas de libertização das pessoas, fez com que atitudes dade pudessem ser substituídas por penas começassem a ser tomadas. Atualmente, restritivas de direito, tais como prestação de a legislação brasileira contra crimes am- serviço à comunidade, suspensão temporábientais se baseia principalmente nas leis ria de direito, suspensão parcial ou total de atividades, dentre outros. 5.197 /67 e 9.605/98. A caça e o comércio predatório só pasGrandes traficantes saram a ser considerados crimes em 1967, quando foi instaurada a primeira legislaDe acordo do o advogado Carlos Eduarção própria de proteção à fauna silvestre, a Lei Federal nº 5.197. Essa lei declara que do Balzi Gonçalves, apesar de ser um bom todos os animais da fauna silvestre nacio- instrumento à disposição dos juízes, muitas nal, e seus produtos, são propriedade do vezes sua aplicação não é adequada, como Estado, que não podem ser caçados, captu- no caso de grandes traficantes e/ou comérrados, comercializados ou mantidos sob a cio com espécies ameaçadas e de grande valor. A nova Lei de Crimes Ambientais ainda posse de particulares. A partir dessa lei, a fauna silvestre e seus possui lacunas em relação ao combate do habitats naturais passaram a ser proprieda- tráfico, por não prever, por exemplo, o code do Estado, sendo então proibida a sua mércio ilegal por meio da internet. Normalmente as leis contra o meio amutilização, perseguição, destruição, caça ou captura. A agressão contra a fauna passou biente sujeitam o autor do crime à detenção a ser considerada contravenção penal, ou de seis meses a um ano e multas que podem seja crime passível de menor punição. Foi variar de R$ 50 a R$ 5 mil reais. A opinião proibido o exercício da caça profissional, e de Luziano Severino de Carvalho, delegado também a comercialização de espécimes titular da Delegacia Estadual de Proteção da fauna silvestre e seus produtos, exceto ao Meio Ambiente de Goiás (DEMA), é que os provenientes de criadouros legalizados. a lei de crimes ambientais seria suficiente A caça para controle de animais silvestres para punir os envolvidos com o tráfico de considerados “prejudiciais” ao ecossistema animais se ela fosse de fato cumprida. “A lei de crimes ambientais do Brasil é ainda é permitida, desde que obedeça a recomendações estabelecidas por lei. A caça uma das melhores do mundo. O que falta é o amadora é prevista, se esta estiver vincula- ser humano respeitar os animais. Leis não são da à formação de clubes e sociedades ama- suficientes para resolver problemas sociais.”,

afirma o delegado. Existem muitas dificuldades em todas as regiões do país para combater o tráfico de animais. Fiscalizações e controles mais rígidos de aeroportos e fronteiras, bem como severidade na aplicação das leis seriam passos fundamentais para começar a pensar numa virada de jogo. O Ministério do Meio Ambiente tem um projeto de lei que procura equiparar o tráfico de animais silvestres ao tráfico de armas e drogas. Nesse projeto, os envolvidos com o tráfico devem ter condenações equiparadas com tráfico de drogas e armas, recebendo penas de quatro a 15 anos de prisão. A solução para a punição de crimes ambientais parece estar longe de um final feliz, pois se de um lado existem ONG’s e órgãos engajados nessa luta, do outro, há uma maioria da população que ainda não tem consciência da gravidade dessas infrações. É preciso, antes de tudo, promover educação ambiental entre as pessoas, e mostrar que crimes contra a fauna, em qualquer região do país, são prejudiciais para todo o planeta. - De cada dez animais capturados na natureza, nove morrem de sede, fome, frio ou asfixia - Os animais traficados são escondidos em fundos falsos de malas ou caixotes, sem ventilação, e ficam vários dias amarrados e sem alimentação - Os traficantes mutilam os animais: cegam os pássaros e cortam as suas asas, arrancam os dentes e serram as garras dos animais para torná-los menos agressivos - Macacos têm as presas arrancadas e são dopados com altas doses de analgésicos para parecerem mansos - O papagaio é a ave mais vendida no Brasil e no exterior. Araras, periquitos, micos, tartarugas e tucanos também são listados entre os mais comercializados. A Suíça é o maior comprador de jararaca, serpente brasileira que não existe naquele país

Fonte: www.apasfa.org

Falta de rigor na aplicação

everystockphoto.com


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c o m p o r t a m e n t o

Humanização dos pets

Donos impõem hábitos humanos para animais ao reduzir diferenças entre as espécies. Saúde dos cachorros pode ficar prejudicada

Texto: Raisa Ramos Edição: Vinícius Braga Diagramação: Anamaria Rodrigues

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ocê pagaria R$ 3 mil para homenagear seu bichinho de estimação e dar a ele um velório digno? E o alimentaria somente com proteína vegetal, retirando a carne de sua dieta? Ao que parece, práticas desse tipo tem se tornado frequentes e geram discussão: até que ponto é saudável para a sociedade e para os animais esse cuidado exagerado dado aos bichos domésticos? Há pelo menos 12 mil anos, homens e cachorros vivem juntos. Cada vez mais a linha que separa uma espécie da outra se torna mais estreita, ignorando a racionalidade que diferencia os seres. Para o médico do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Goiás (UFG) Apóstolo Ferreira Martins, essa relação de carinho entre homens e animais pode ser benéfica desde que seja dosada. “Tudo o que é excessivo, é prejudicial”, argumenta. Impor ao bichinho originalmente carnívoro uma dieta vegetariana é um exemplo claro dessa prática de “humanização” dos pets. Apesar de ter se

popularizado só agora, este hábito é praticado desde o final dos anos 1960, nos Estados Unidos, e causa polêmica, inclusive entre os adeptos do vegetarianismo. “Gatos e cachorros possuem metabolismos extremamente diferentes do humano e precisam de proteína animal”, afirma o médico veterinário Luciano Marra. Para Apóstolo Ferreira, este tratamento pode não ser benéfico, justamente por interferir nas características naturais do animal. Em decorrência disso, o corpo de um cachorro vegetariano, por exemplo, pode consumir os próprios músculos para gerar energia. Nos gatos, a privação de fontes de proteína animal é ainda pior, podendo desencadear cegueira e problemas cardíacos. Tais exemplos evidenciam os riscos da humanização de bichos domésticos. Apesar da intenção de beneficiar o animal, o dono, na verdade, o prejudica. “Se o homem passa a entender o animal como sendo uma pessoa, ele confunde algumas questões como, por exemplo, a longevidade do bicho, que tem a vida muito mais curta do que a do ser humano”, problematiza Apóstolo. Amor valioso

Veterinário Apóstolo Martins: tudo o que é excessivo, prejudica

De acordo com a Associação dos Fabricantes de Produtos para Animais de Estimação, Anfalpet, em 2010, o mercado de animais de estimação movimentou R$ 11 bilhões. Não precisamos ir longe para comprovar os números. A goiana Beth Alamino confessa que gasta, em média, R$ 500 por mês com seus cinco cães. Contudo, os maiores gastos são destinados

Fotos: Raisa Ramos

Beth Alamino vai frequentemente ao veterinário levar a cadela Clarinha à Clarinha, uma Cocker inglesa. Clarinha tem 4 anos e muitos problemas de saúde. Atenciosa, a dona vai frequentemente ao veterinário, além de não descuidar da medicação, que não é barata. Além disso, cada um dos seus cachorros tem cama, lençóis, cobertores e roupas de frio próprios. Beth assume que trata os bichos como se fossem parte da família e faz questão

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Impor ao bichinho originalmente carnívoro uma dieta vegetariana é um exemplo claro dessa prática de humanização dos pets

de ensinar para seu filho Gustavo, de apenas 2 anos, que “os animaizinhos são nossos amiguinhos”. Apesar do aparente excesso, ela garante que impõe limites. “Os cachorros têm o espaço deles”, afirma. Refúgio emocional De acordo com a psicóloga Meire Farias, este apego pode estar ligado a uma carência afetiva do dono ou até mesmo depressão. “O cachorro é conhecido como o ‘melhor amigo do homem’ porque, independente das nossas ações, ele fica feliz e abana o rabo. Essa atitude é muito bem-vinda a qualquer pessoa, principalmente para as que sofrem de alguma carência afetiva”. Meire reitera que esta relação é conveniente para aqueles que já passaram por traumas emocionais, já que os animais nunca vão rejeitar ou magoar os sentimentos de seu dono. Essa parece ser a maior lição que um animal doméstico nos deixa.


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c o m p o r t a m e n t o

Bisturi é a nova solução dos jovens Adolescentes procuram cirurgias plásticas para lidar com insatisfações no corpo. Cuidados devem ser tomados para evitar arrependimentos. Desejo pode esconder problema psicológico Texto: Bruna Dias Edição: Tchela Borges Diagramação: Layane Palhares e Laura de Paula

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a puberdade, os adolescentes passam por intensas transformações, tanto físicas quanto psicológicas. Tais mudanças acarretam incertezas e insatisfações que, às vezes, fazem o jovem tomar atitudes talvez equivocadas. Uma delas é a cirurgia plástica, que está sendo muito procurada por adolescentes. O último levantamento nacional realizado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) indica que a faixa etária de 12 a 19 anos corresponde a cerca de 6% do total de procedimentos cirúrgicos realizados no Brasil. Outra pesquisa aponta que, nos últimos cinco anos, houve aumento de pelo menos 30% na procura por cirurgias plásticas entre jovens de 12 a 21 anos. Somente em 2009, a SBCP estimou 130 mil crian-

Por ser uma fase de constantes transformações físicas e psicológicas é muito inportante escutar o paciente e saber realmente o que ele deseja” Petrônio Fleury, cirurgião plástico

ças e adolescentes que se submeteram a esse tipo de operação. O cirurgião plástico Petrônio Fleury, membro da SBCP, explica que esse aumento, em parte, se deve ao acesso mais universal a informações médicas disponíveis na internet. Esse fator, aliado à influência de amigos e parentes da mesma idade que obtiveram bons resultados com cirurgias plásticas, incentiva mais jovens a encararem o bisturi dos médicos. Imaturos Estes pacientes imaturos, no entanto, precisam de um tratamento que dispensa mais atenção às suas motivações, problemas, incertezas e às consequências que a cirurgia pode acarretar. “É importante o médico entender que o adolescente se mostra um paciente diferenciado. Por ser uma fase de constantes transformações físicas e psicológicas é muito importante escutar o jovem e saber realmente o que ele deseja”, recomenda Petrônio Fleury. Enquanto nos adultos os procedimentos que antecedem a cirurgia são relativamente curtos, nos adolescentes esse processo pode se estender até a constatação de que a operação não provocará malefícios para o jovem. Os cuidados pós-operatórios devem ser redobrados a fim de garantir que o paciente siga as orientações médicas e permaneça em repouso após a cirurgia. Segundo Petrônio Fleury, os jovens costumam ter expectativas maiores quanto ao resultado. Por isso é importante que o profissional seja sincero com seu paciente e lhe mostre os limites do procedimento, explicando que, na maioria das vezes, a intervenção cirúrgica é irreversível.

Arquivo pessoal

no bisturi para amenizar a baixa auto-estima. A psicóloga explica que, nesse tipo de situação, o médico deve promover o acompanhamento desses traumas, para só então julgar se o procedimento realmente é necessário para o jovem. Perfeição

Além disso, Maria Fernanda considera importante avaliar se a decisão de realizar uma cirurgia ainda tão jovem pode ser resultado de influências do meio em que vive o adolescente, de possíveis traumas ou mesmo de bullying sofrido na escola. Algumas vezes, a imaturidade e a busca incessante pela perfeição física levam os jovens a realizarem atitudes impensadas Petrônio Fleury: opinião dos pais é sempre necessária e a julgar os semelhantes A presença dos pais durante as não pelo que são, mas, sim, pelo que consultas é essencial, principalmente aparentam. Ela frisa ainda que a obsessão do quando o jovem se mostra tímido e não consegue expor sua opinião ou adolescente em parecer o que não é, relatar vontades. Porém, cabe ao mé- ou ser igual ao artista famoso, tamdico ouvir o paciente e saber se ele bém faz o jovem procurar uma cirealmente quer realizar a intervenção rurgia. A psicóloga ressalta que, se o cirúrgica ou se está sendo influen- jovem não estiver preparado para a ciado pelos pais, tanto negativamente transformação, os resultados podem ser devastadores. quan- to positivamente. Nestes casos, Fleury explica que a De acordo com Fleury, a opinião dos pais é essencial na consulta mé- cirurgia estética é a ponta do iceberg dica, mas a decisão final na escolha da de um problema muito mais sério, pois atrás de um paciente que procura uma cirurgia deve ser do paciente. A psicóloga e psicopedagoga Ma- intervenção desnecessária, há uma ria Fernanda Assis alerta que é bem pessoa fragilizada emocionalmente ou mais complexo determinar os efeitos mesmo deprimida que vê na cirurgia de uma cirurgia em uma mente que a solução para todos seus problemas. ainda está em transformação. Além Caberá, então, ao profissional identifido aspecto físico, às vezes o psicológi- car este paciente, negar o tratamento co do paciente e da família também cirúrgico e auxiliá-lo, encaminhando-o necessita de avaliação. Em alguns a profissionais que, primeiro, tratarão casos, os jovens procuram solução de sua saúde mental.


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Quais exames fazer antes da cirurgia? Não importa se a cirurgia é simples ou complexa. A realização de exames é uma etapa fundamental para assegurar o sucesso da operação. Um dos principais é o hemograma, exame de sangue completo que pode detectar infecções ou doenças ainda não identificadas. O HIV é solicitado para diagnosticar AIDS, bem como garantir a segurança da do paciente e da equipe médica. Para identificar o grau de coagulação do sangue ou a presença de algum distúrbio é bom realizar um coagulograma. Algumas pessoas possuem anomalias que aceleram a coagulação sanguínea, enquanto outras pessoas têm problemas para que o sangue coagule na velocidade certa. Isso não chega a impedir a cirurgia, mas pode agravar a recuperação do paciente. Através do sangue também é possível detectar o diabetes e impedir a realização da operação, pois ele pode provocar coágulos, infecções, má cicatrização e acidentes vasculares; por isso antes de fazer a cirurgia, o médico

pode solicitar o exame glicêmico. O eletrocardiograma é rápido e indolor e detecta problemas no coração que podem causar transtornos na operação. Se algo for visualizado no exame, é preciso, antes da cirurgia, se consultar com um cardiologista. Os testes de ureia e creatinina servem para avaliar se as funções renais estão funcionando bem. No caso da lipoaspiração, que infiltra substâncias para inchar a pele, é fundamental que os rins estejam trabalhando para eliminar, no final da cirurgia, tudo o que foi injetado. Caso isso não ocorra, há risco de o paciente sofrer um choque no pós-operatório. O raio X do tórax é pedido para os fumantes, já que a função pulmonar deve ser avaliada para evitar problemas. Alguns exames são específicos e dependem do tipo de procedimento que o paciente vai realizar. Uma cirurgia plástica na área dos olhos por exemplo, deve ser avaliada por um oftamologista. Mulheres que desejam fazer operação nas mamas devem comunicar ao seu ginecologista ou mastologista. Fonte: www.fiquelinda.com.br, com adaptações

Atualmente, as meninas são campeãs na busca por cirurgias estéticas. A maioria delas reage com naturalidade à consulta médica, sendo auxiliadas pelas mães e normalmente influenciadas por amigas que fizeram o mesmo procedimento. Já os meninos têm certo receio e não ficam à vontade na frente dos médicos. Entre as cirurgias plásticas mais procuradas pelas adolescentes no consultório de Fleury estão a prótese mamária, a rinoplastia (plástica no nariz), a otoplastia (correção de orelha de abano), a lipoaspiração e, por último, a cirurgia de redução mamária.

Para os meninos, a cirurgia mais buscada tem sido a ginecomastia (redução da mamária masculina), seguida pela otoplastia e rinoplastia. Mayra Peres, 16 anos, está se preparando para colocar uma prótese mamária. Ainda com temor do pós-operatório, ela resolveu adiar o procedimento até o término desse ano letivo. “Desse ano não passa, já me decidi e coloco 180 ml até dezembro”, afirma a jovem. Apesar de aparentar firmeza quando fala do procedimento, Mayra é reticente quando questionada sobre os motivos de optar pela cirurgia. Ela diz que sempre teve vontade e conta que al-

gumas amigas fizeram a cirurgia e teria ficado perfeito. Mayra já passou por duas consultas avaliativas e garante que está contando os dias para ver o resultado final. Mesmo com todos os benefícios que a cirurgia plástica pode oferecer é bom lembrar que se trata de um procedimento cirúrgico e pode apresentar riscos de morte. O interessado não deve leiloar seu corpo à procura de baixos preços. É importante procurar sempre um profissional certificado pela SBCP, pois casos mal sucedidos como os do ex-médico Marcelo Caron deixam sequelas para a vida toda.

Bruna Dias

Cirurgias mamárias são mais procuradas

Influenciada pelas amigas, a jovem Mayra quer colocar silicone nos seios


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c u l t u r a

Vida das celebridades nos quadrinhos Produtoras

de histórias

em quadrinhos investem em biografias de famosos para ampliar o estilo e alcançar novos públicos Texto: Vítor Santana Edição: Vinicíus Braga Diagramação: Laura de Paula

S

e antes as histórias em quadrinhos eram exclusividade para crianças ou nerds viciados em super heróis, hoje, a realidade é outra. Prova disso é o público que frequenta a Gibiteca Jorge Braga, localizada no prédio da Biblioteca Marieta Teles, na Praça Cívica. “Tem pessoas de todas as idades que vêm ler gibis por aqui, do mendigo ao chique”, afirma Helenir Machado, bibliotecária responsável pelo projeto. Crianças dividem o espaço com funcionários engravatados de escritórios e gabinetes que trabalham perto do local, além de pais que levam seus filhos para conhecerem a gibiteca. Os adultos voltam à infância, reencontram quadrinhos que liam quando mais novos e mergulham novamente na literatura. Apostando nessa democracia de público e estilos de quadrinhos, produtoras como a Bluewater investem cada vez mais em biografias de celebridades no formato de desenhos. A presença de pessoas do “mundo real” nos gibis não é um fenômeno recente. “A ficção se espelha na realidade, sendo um dos fatores que a faz tão atrativa a públicos de todas as idades. Várias figuras célebres do mundo real já foram retratadas nos quadrinhos”, revela Rubem Borges, professor da disciplina Histórias em quadrinhos de super heróis na sociedade contemporânea, ministrada na Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia (Facomb), da Universidade Federal de Goiás. Ele cita como exemplos ex-presidentes norte-americanos (John Kennedy, Ronald Reagan, Bill Clinton,

George W. Bush) e, mais recentemente, Barack Obama, que tiveram passagens em títulos importantes como HomemAranha, Super-Homem, Capitão América e Vingadores. Exclusividade Alguns desenhistas vão mais longe e fazem revistas exclusivas para as celebridades. Entre os exemplos de famosos que ganharam suas versões em desenho estão Johnny Cash, Black Eyed Peas, Lady Gaga, Justin Bieber, Adam West, Oprah Winfrey e Angelina Jolie. O Brasil também não fica de fora desse estilo. As bandas Matanza e Velhas Virgens já tiveram seus músicos transportados para a literatura, vivendo as aventuras cantadas em suas letras. Seriam tais celebridades os novos modelos de super heróis? Talvez possa ser um exagero denominar ídolos dessa forma. Contudo, esta modalidade pode ser mais um dos fatores que contribuem para o sucesso de venda e crítica que o gênero biográfico vem fazendo nos últimos anos. A Bluewater, produtora

A ficção se espelha na realidade, sendo um dos fatores que a faz tão atrativa a públicos de todas as idades” Rubem Borges, professor

da biografia em quadrinhos de Lady Gaga, comemora o esgotamento de duas tiragens dos gibis somente pela internet. A grande vendagem levou a empresa a preparar a terceira edição, com mais detalhes sobre a vida e a carreira da cantora. As histórias em quadrinhos não se limitam apenas a histórias infantis ou

super heróis que tentam salvar o mundo de vilões malignos. “Existem vários outros tipos de quadrinho. MAUS, por exemplo, conta uma história real que ocorre na época do nazismo, mas usando gatos e ratos como personagens”, afirma a pedagoga Josiane Iwamoto. Ela reitera que essa diversidade de estilos é que faz os quadrinhos tão ecléticos, tanto de idade quanto de classes sociais. Incentivo Além da distração, as biografias de famosos estampadas em histórias em quadrinhos incentivam os leitores de gibis a consumirem outras formas de literatura. “Eu acredito que os quadrinhos são um meio muito interessante e propício para se retratar a vida de celebridades e figuras importantes. Acredito inclusive que, em formato de quadrinhos, uma significativa parcela de leitores não apenas se sinta mais atraída, mas também estimulada a ler as biografias”, opina o professor Rubem Borges.

Bieber, Lady Gaga e Cash ganham revistas exclusivas


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c o m p o r t a m e n t o

Dança de salão conquista público jovem Aumento do número de bares e boates onde se pode dançar a dois em Goiânia incentiva mudança de público na prática da modalidade Divulgação

Texto: Gilmara Roberto Edição: Alisson Caetano Diagramação: Larissa Vieira

A

s danças de salão surgiram após o Renascimento e durante muito tempo foram consideradas práticas de um público de meia idade. Hoje, basta visitar uma academia onde se ensinam ritmos de dançar a dois para perceber que o público interessado tem mudado de faixa etária. Ary Demosthenes é proprietário e professor de uma academia de dança de salão em Goiânia e conta que o número de praticantes dessa modalidade tem crescido especialmente entre pessoas com idade entre 15 e 30 anos. Ele aponta que a maioria dos jovens procura a dança de salão para se socializar e para minimizar os problemas relacionados à timidez. O professor atribui o crescimento da prática de dança de salão entre o público jovem à maior divulgação feita por filmes e programas de televisão. “A mídia tem divulgado mais a modalidade, mostrando que dança de salão não é coisa para velhos e que envolve ritmos mais enérgicos, como a salsa, o zouk e o samba de gafieira, que são, hoje, os mais procurados pelo público jovem”. Weder Barbosa, 23 anos, é professor e integrante de uma companhia de dança de salão. “Comecei a dançar porque queria muito aprender e me profissionalizar”, afirma. Como professor, Weder

A dança é mais fácil, mais agradável e menos agressiva que muitos esportes” Isabella Alfaix, adepta da dança

Ary Demosthenes e aluna garantem fôlego e animação durante as aulas: atrativo para quem busca espantar a timidez observa que a procura pela dança de salão entre jovens e idosos é motivada por interesses diferentes. “Os adolescentes tem interesses estéticos e querem dançar bem numa festa. Já os idosos procuram as aulas de dança para estabelecer contatos sociais que foram perdendo ao longo da vida ou mesmo por recomendações de médicos e fisioterapeutas”. Izabella Alfaix, 15 anos, é adepta da dança de salão há um ano. Hoje, a jovem percebe mudanças em sua vida social e em seu comportamento devido às aulas de dança: “Sou uma pessoa tímida e depois que comecei a dançar percebo que fiquei mais desinibida. Além disso, conheci muitas pessoas e sempre saio para dançar”. Em relação a outras atividades físicas, Izabella considera que a dança tem suas vantagens. “É mais fácil, mais agradável e menos agressiva que

muitos esportes”, comenta. História As primeiras manifestações da dança de casais ou dança social, como era chamada na época, surgiram no século XVI após o Renascimento. Naquela época, a dança de salão tinha valor social e era praticada exclusivamente nos salões da nobreza como meios de entretenimento e lazer. Durante esse período, a França se encarregava de importar os tipos de danças que surgiam pelo mundo, exportando-os posteriormente com formas mais estilizadas e elaboradas. As primeiras danças de casais foram o pavane e as “bases dances” ou danças baixas, nas quais os parceiros mal se tocavam ao dançar. No final do século

XVIII, esses ritmos deram lugar à valsa, que virou febre nos salões europeus do século XIX. A partir de 1910, a dança de salão sofreu uma série de transformações ao chegar no continente americano, recebendo influências de ritmos afros e do jazz. No Brasil, a dança de salão chegou no século XIX, com a vinda da suíça Louise Poças Leitão para São Paulo. Nos anos de 1930 e 1940, o tango era o ritmo de dança de salão mais dançado no Brasil, cedendo lugar ao bolero e ao samba nos anos 1950, juntamente com o chachachá e o baião de Luiz Gonzaga. Com o advento das discotecas em 1970 e 1980, a prática de dança de salão no Brasil declinou e só voltou a ser popular com a lambada, no final da década de 1980.


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Invisibilidade Social

o l h a r e s

Texto e edição: Alissom Caetano Fotos:Thamara Fagury Diagramação: Isadora Pícolo

O pior

cego

é aquele que não quer enxergar

A bonança econômica vivida pelo Brasil não é capaz de ocultar a injustiça social. Presenciamos uma desigualdade óbvia, mas nossos olhos são treinados a ignorá-la. São exercícios quase que diários para grande parte da população urbana. Fechamos o vidro do carro para pedintes ou simplesmente afirmamos “hoje não” ou “não tenho nada”. Passamos por moradores de rua camuflados pelo movimento das grandes avenidas e nem ao menos olhamos para aqueles trabalhadores que nada mais pedem do que alguns centavos. Nesse contexto de observação, podemos apontar a grande diferença entre ver e enxergar. Ver é apenas reconhecer uma imagem; enxergar é ter sensibilidade para decifrá-la. Alguma mudança poderá acontecer quando nosso exercício diário passar a ser o de enxergar.


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