Jornal Samambaia - Dezembro de 2017

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jornal laboratório do curso de jornalismo da Universidade Federal de Goiás goiânia, DEZEMBRO, 2017

ideologia número de estudantes adeptos ao liberalismo cresce em universidades

nº 80/ ANO XVII

vivências diálogo sobre assexualidade é ferramenta para quebra de preconceitos

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imigração sul-americanos relatam motivações para viver no brasil

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samambaia Arte: Nathan Duran | Diagramação: Ana Carolina Petry | Edição de Capa: Turma de Jornal Impresso II

FEMINICÍDIO Resultado de cadeia de opressões pg. 8 e 9


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Goiânia, dezembro de 2017

- OPINIÃO -

Tombem os muros!

E D I T O R I A L

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RUMO R

Por Aline Goulart | Diagramação: Ana Carolina Petry

ara além do discurso de esquerda/direita no Brasil, há uma ressignificação do que seria liberdade de expressão, e, sobretudo, uma completa falta de entendimento da política econômica social. A polarização política no País é representada pela redução do crescimento econômico e a pressão da oposição ao impeachment de Dilma Rousseff, criada por uma luta de classes exacerbada, frente às desigualdades e retrocessos sociais. Na atual conjuntura brasileira, não é possível ter o combate à corrupção e o ajuste econômico das elites como alguns queriam. Nesta edição, o Jornal Laboratório SAMAMBAIA traz um debate sobre a polarização na Universidade: os discursos de esquerda e direita na academia. A polarização política reduz a diversidade, não há análise crítica, somente adjetivação. Não há reflexão e nem raciocínio. O que somos sem a capacidade de pensar? Em uma sociedade polarizada, ninguém escuta ninguém. Torna-se uma guerra na qual mulheres, negros, LGBT’s e

crianças perdem a liberdade e a vida. A polarização nega o direito de debate, pois só existe a verdade pronta, e fornece, infelizmente, um discurso para a violência; seja verbal, física ou psicológica. Essas violências são reproduzidas nos estádios de futebol, na convivência com os imigrantes, na falta de legitimidade da Lei do Feminicídio e no engodo de que com política “A” ou “B” a situação vai melhorar. Levantamos um muro da hipocrisia onde, de um lado, moram apenas aqueles que são a favor das nossas opiniões, e, do outro lado, quem sequer tem direito a um ponto de vista. Para um mundo crítico e um jornalismo relevante, não podemos esquecer do principal: de gente, de pessoas, dos trabalhadores e trabalhadoras que sofrem pela esperança de aposentadoria, saúde, educação e segurança neste País. A prática do jornalismo é de interesse público, mas de um público que quer pensar, e não ser massa de manobra para os 1% mais ricos. Precisamos refletir sobre a responsabilidade que cabe a nós e assim construirmos políticas menos polarizadas e mais voltadas para o bem coletivo.

- CRÔNICA -

O que aprendi com o feminismo

“B

ropriating”, “cultura do estupro”, “feminicídio”, “gaslighting”, “manterrupting”, “sororidade” e “mansplaining” são alguns termos importantes do feminismo que aprendi com minhas amigas feministas. Além, claro, de elas jogarem na minha cara atitudes machistas minhas que eu nem sabia que eram. Depois de uns dois anos assistindo a suas aulas na mesa do boteco e no grupo de WhatsApp, chegou o tão esperado momento de levar a palavra das deusas aos amigos machistas. Agora, em outra mesa de boteco, grupo de WhatsApp ou mesmo dentro da minha casa. Entre um copo e outro de cerveja, fumaça de cigarro na cara e todos animados com o lançamento do Destiny 2 no Xbox One, um deles grita segurando o celular no ouvido direito um questionamento: “VOCÊ TÁ LOUCA?”. Alguns segundos depois, ele assina o diagnóstico com uma afirmação: “SIM, VOCÊ TÁ LOUCA!”. Encerrado o telefonema, o mesmo confessa: “Caralho... a Fulana descobriu que eu tô saindo com a Sicrana e que eu já saí com a Beltrana!”. Nesse momento, eu já não aguentava

Por Cesar Fontenelle | Diagramação: Ana Carolina Petry mais guardar todos aqueles termos aprendidos em minha memória cerebral e do celular. Quando dei por mim, eu já tinha soltado: “Fulano, sabia que você acabou de cometer um “gaslighting” com a sua namorada? Você a chamou de ‘louca’, sabendo que ela está certíssima. Você está traindo-a e ela é a louca?”. Já em outra mesa de boteco, um amigo da engenharia insistia em explicar para nossa outra amiga, que é estudante de medicina, o que é sístole e diástole. Oi? Isso mesmo. Em casa, enviei para ele a seguinte mensagem: “Mansplaining: une

‘man’ (homem) e ‘explain’ (explicar) e designa situações em que homens explicam a mulheres algo que elas já sabiam ou que é óbvio. Reflita, amigo”. Sentado no sofá de casa, assistindo ao jornal na televisão, meu pai verbalizou o já desgastado “crime passional” perante a um claro assassinato em função do gênero, motivado pelo ódio. Expliquei a ele que o certo seria chamar aquela tragédia de “feminicídio”, já que a vítima teve seus seios e genitália desfigurados. Ele me prometeu que consideraria minha explicação. Hoje mesmo, eu soube que uma amiga está em um relacionamento abusivo, e sim,

o seu namorado é meu amigo também. Portanto, caminho para o término deste texto sem saber exatamente como o abordarei e contarei que Fulana não é sua propriedade e que o relacionamento deles é abusivo. Sim, minhas amigas feministas me disseram que eu realmente devo alertar meus amigos sobre suas atitudes machistas e que eu não devo passar a mão na cabeça quando, por exemplo, um deles não paga a pensão para o filho de dois anos ou quando trai a namorada e ainda a chama de louca na frente de todos em uma mesa de bar ou, ainda, quando assedia uma garota na balada. No entanto, elas também me mostraram que, infelizmente, meus amigos me escutam por eu ser homem, mas as ignoram quando são elas alertando-os sobre suas atitudes machistas. Por isso, eu digo a você, caro amigo, que não adianta se dizer “o feminista”, apoiar a ocupação na reitoria e a campanha “HeForShe” enquanto passa a mão na cabeça do coleguinha que agrediu a namorada, ou que forçou sexo com a colega na chopada. Além disso, não adianta se auto-intitular feminista quando não ouve o que a amiga tem a dizer e ensinar.

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Ano XVII - Nº 80, Dezembro Ano XVII - Nº 74, Maio de 2017 de 2017 Jornal Laboratório do curso Jornal Laboratório do curso de Jornalismo de Jornalismo Faculdade de Informação Faculdade de Informação e Comunicação e Comunicação Universidade Federal de Goiás Universidade Federal de Goiás

Orlando Afonso Valle do Amaral Orlando Afonso Valle do Amaral reitor reitor Angelita Pereira de Lima Angelita de Lima diretora daPereira faculdade de diretora da faculdade informação informação e comunicação e comunicação Rosana Maria Ribeiro Borges Rosana Maria Ribeiro Borges coordenadora do curso de coordenado do curso de jornalismo jornalismo

Luciene Dias Luciene Dias coordenadora geral coordenadora geral do samambaia do samambaia Luana Borges Raphaela Ferro produtora executiva produtora executiva Salvio Juliano Farias Salvio Juliano Farias editor diagramação editor dede diagramação

Ana Carolina Petry Izabella Mendes monitora monitora Jornal Impresso II Turma de Jornal Impresso II edição executiva edição executiva Jornal Impresso I Turmaprodução de Jornal Impresso I produção Jornal Impresso II Turma deCarolina Laboratório Orientado Ana Petry diagramação diagramação


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Goiânia, dezembro de 2017

- INTERNACIONAL -

IMIGRANTES planejam FICAR EM GOIÂNIA buscam melhores condições de vida no brasil Reportagem Melissa Calaça Edição E Diagramação Aline Goulart

N

a Praça do Trabalhador em Goiânia, trabalham os imigrantes Carlos Palácio e Julie Hernandez. A Feira Hippie funciona todos os dias e no final de semana é ampliada. Em busca de oportunidade de emprego, o casal veio para o Brasil por vontade própria e hoje vendem aparelhos eletrônicos (fones de ouvido, cartões de memória, carregadores de celular e outros). Com o que ganham na feira, Julie e Carlos mandam dinheiro para ajudar a família. Apesar da saudade, eles não pensam em voltar para o país de origem. “Brasil é outro mundo”, exclama Julie, enquanto ri e balança a cabeça. Os feirantes se conheceram na Venezuela, e, depois de o país entrar em uma profunda crise política e econômica, decidiram vir para o Brasil. “Na época, a Venezuela era muito melhor, sabe? Eu tinha dupla nacionalidade e fui estudar e morar lá”, relata Carlos. Passaram por Boa Vista (RR), depois por Manaus (AM), até descerem o Brasil rumo a Goiânia, onde estão há um ano. Carlos já conhecia o Brasil há mais de cinco anos. “Em 2012, cheguei ao Brasil e comecei a trabalhar como camelô na rua. E era bom. Eu ganhava 60, 70 reais por dia…”, lembra. O trajeto de Carlos era peculiar: o colombiano viajava para Manaus, onde ficava por três meses fazendo vendas e depois voltava para a Venezuela. “Chegava, trabalhava, reunia um dinheiro e voltava quando dava os três meses da permissão”, explica Carlos se referindo

Saudade Maria Luiza Urdaneta Scandela, venezuelana que vive em Goiânia desde 2006, conta que a origem dos problemas enfrentados hoje pelo país foi uma guerra econômica entre os empresários da oposição e o governo chavista. “Eu não vou ficar no mimimi do que nos falta. Eu quero saber porque a Venezuela está nessa situação. Quando eu ainda estava no meu país, a oposição falou por televisão a seguinte frase: ‘Nós vamos quebrar o país enquanto Hugo Chávez não sair do poder’. Então eles fecharam suas empresas na Venezuela. O que importa para eles, se eles têm empresas em outros países? Eles Foto: Melissa Calaça

Feiras livres são alternativas de trabalho para imigrantes sul-americanos

Maria Luiza vive em Goiânia para garantir melhor educação para os filhos

colombianos

ao acordo do Mercosul, no qual é possível transitar entre os países integrantes e associados do bloco, isento de passaporte, com permanência máxima de 90 dias. Julie conta que sente muita saudade da família, especialmente de seu filho de 7 anos. Devido a um problema de documentos, ela ainda não conseguiu trazê-lo para o Brasil. No momento, ele está morando com a avó. Em junho, ela voltou para o país de origem para conseguir o passaporte do filho. Depois de três meses em Ciudad Guayana, o documento ainda não tinha ficado pronto. Julie precisou voltar para sua casa brasileira, mas ainda espera a conclusão do processo. Na data em que ela concedeu entrevista ao SAMAMBAIA, no início de setembro, só faziam oito dias que ela tinha voltado ao solo goiano. A feirante revela as dificuldades enfrentadas pelo povo venezuelano: falta comida, as prateleiras dos supermercados estão vazias e toda segundafeira os preços sobem. Os alunos têm aula nas escolas normalmente, mas sem material escolar. Falta trabalho e muitos que estão empregados não recebem salário. A violência também aumentou: nesta última visita à Venezuela, Julie foi assaltada no ônibus. “Levaram tudo”, lembra.

Foto: Melissa Calaça

Venezuelanos e

Venezuela, para mim, é muito mais do que aquele conflito. Fico com muita bronca quando dizem: ‘Você está fugindo daquele país’. Pena que não tenho como voltar

Maria Luiza urdaneta scandela Artesã não iam quebrar, mas iam quebrar a Venezuela”, revolta-se a imigrante. Diferentemente de muitos venezuelanos no Brasil hoje, Maria deixou seu país por motivos familiares e não econômicos ou políticos. “Quando eu saí da Venezuela, eu não queria sair de lá, porque o país estava vivendo um momento muito rico”, relembra. Sua mudança ocorreu por motivos familiares. Maria veio ao Brasil conhecer a família de seu marido, que é brasileiro, e acabou ficando. No entanto, ela nunca deixou de manter contato com seus amigos e familiares venezuelanos, muito menos se desligou emocional e culturalmente de sua pátria. Certa vez, Maria chegou a ter todo seu material confiscado pela Prefeitura de Goiânia por estar vendendo seus itens no Parque Vaca Bra-

va. “Aqui eu sofro duplo preconceito: por ser artesã e por ser venezuelana”, revela. Ela, o marido e os três filhos decidiram permanecer em Goiânia principalmente pelas oportunidades de estudo. “Essa é uma coisa que eu não posso negar: Goiânia, em matéria de estudos para os meus filhos, tem sido importante. Atualmente, estão estudando os três aqui na UFG, e eu sinto muito orgulho disso.” Por outro lado, Maria Luiza desabafa que, devido à situação atual da Venezuela, ela carrega um estigma de fugitiva. “Venezuela, para mim, é muito mais do aquele conflito. Por isso eu fico com muita bronca quando me dizem: ‘Você está fugindo daquele país!’ Pena que eu não tenho como voltar agora.”

Mudanças na legislação No dia 30 de maio de 2017, foi sancionada a nova Lei de Migração, que equipara os direitos do estrangeiro e do brasileiro e faz do Brasil um dos mais avançados na política de imigração, segundo o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Goiás (UFG) Hugo Tomazeti. A nova lei garante ao estrangeiro seu direito à vida, segurança, liberdade, acesso aos serviços públicos de saúde e educação, além de permitir o registro da documentação para entrada no mercado de trabalho e direito à previdência social. A nova lei também proíbe a criminalização em questões migratórias: ninguém mais pode ser preso por estar em situação irregular. Nos últimos anos, os pedidos de refúgio ao Brasil dispararam. Em 2016, foram 3.375. No primeiro semestre deste ano, 5.787.


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Goiânia, dezembro de 2017

- CIDADES -

mercado de trabalho cresce em goiás

desempregados buscarem novas oportunidades

O

REPORTAGEM Jean Dias EDIÇÃO E DIAGRAMAÇÃO Carolinne Alvares

Foto: Reprodução

mercado de trabalho no Estado de Goiás deu sinais de melhora no segundo trimestre deste ano. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam uma taxa de desemprego de 11%. No primeiro trimestre de 2017, o índice era de 12,7%. A população desocupada passou de 449 mil para 400 mil pessoas. Essa foi a primeira queda da taxa de desemprego desde o quarto trimestre de 2014. Antônio Pereira, que sentiu na pele a situação do período de aumento do desemprego, foi um dos que voltou a trabalhar depois de muito tempo parado. “Estava desempregado desde o começo do ano passado, a situação estava difícil. Não teve uma só semana em que deixei de enviar currículo. Apenas no mês passado [setembro] é que foi surgir essa oportunidade”, afirma o garçom. O nível de ocupação do Estado foi estimado em 59%, 0,2 ponto porcentual inferior ao registrado no primeiro trimestre de 2016, mas 2,1 pontos percentuais superiores quando comparado ao trimestre imediatamente anterior. Apesar de boa, a situação está longe de alcançar os números de um passado não

Goiânia Na capital, a situação de melhora da economia também pode ser vista. De acordo com os dados divulgados pelo IBGE, o desemprego, que atingiu níveis altíssimos em 2016, vem sofrendo leves quedas em Goiânia. A taxa de desempregados em 2016 chegou a 9,1%, a maior em 5 anos. Entretanto, já se pode notar uma melhora da cidade em relação ao resto do País. A taxa de desocupação no Brasil fechou em 13% em junho, atingindo 13,8 milhões de pessoas. Em Goiânia, no segundo trimestre do ano, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do IBGE, foi registrada a segunda menor taxa de desemprego do País (8,1%) entre as capitais brasileiras. A cidade goiana ficando atrás apenas de Florianópolis (7,6%). Levando em conta as regiões metropolitanas do País, Goiânia teve a terceira menor taxa (9,6%), perdendo para Florianópolis (7,7%) e Vale do Rio Cuiabá (MT), com 9,6%. Os números são bons, mas ainda são altos se comparados ao mesmo período do ano passado. Apesar de a taxa de desocupação do segundo trimestre de 2017 (8,1%) ter sido melhor do que a do primeiro trimestre do mesmo ano, ela ainda é inferior, se comparada ao mesmo período do ano passado, quando teve a taxa de desocupação estimada em 7,7%.

Estímulo para

tão distante. “Até uns anos atrás, a gente podia quase que escolher onde iria trabalhar. Tinha muito mais oportunidade, diferente de agora, em que é pegar ou pegar o emprego”, lembra Antônio.

Foto: Reprodução

números são

Estava desempregado desde o começo do ano passado. Não teve uma só semana que deixei de enviar currículo, e apenas no mês passado é que foi surgir essa oportunidade ANTÔNIO Pereira Garçom

NOVOS EMPREGOS De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), Goiás teve o segundo melhor saldo de empregos do País, ficando atrás apenas de São Paulo em números absolutos. Foram 293.576 admissões no primeiro semestre de 2017, resultando num saldo positivo de 35.329 novos empregos. Goiânia também seguiu a linha do Estado e foi a quinta cidade que mais criou empregos nesse primeiro semestre de 2017, entre as capitais brasileiras. Foram 3.613 vagas de empregos criadas nesse período. O quadro se mostra melhor que o mesmo período de 2016, quando se apresentou um saldo negativo de 4.109 vagas de emprego. Em uma perceptível demonstração de evolução da economia goiana, o Caged mostra que o setor que teve o melhor saldo na geração de empregos foi o de serviços. O setor teve saldo positivo de 2.519 novas oportunidades de emprego nos dois primeiros trimestres. Na segunda colocação, está o setor de construção civil, com saldo positivo de 1.518 empregos. João Souza é um dos que

completam esses números . “Desde 2015, eu estava sem trabalhar. As empresas estavam querendo pagar muito pouco pelo meu serviço. Muita gente procurando emprego e acaba que fica nessa situação. Estava conseguindo me manter só com bicos. Agora que foi aparecer essa oportunidade boa”, considera o pedreiro. A área de atuação de João é a terceira que mais ofereceu emprego no primeiro semestre de 2017. A melhora em Goiânia é gradativa. A taxa de admissão total na capital foi de 50,94% no período, quase 2% a mais que no mesmo período de 2016, quando foi de 49,01%. Os dados de geração de emprego reforçam o momento positivo da economia goiana. No início do segundo semestre de 2017, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que Goiás liderou o crescimento da produção industrial no País, com 8% na comparação entre março de 2017 e março de 2017. No acumulado do primeiro trimestre, o crescimento é de 6,6% em relação ao mesmo período do ano passado, o que garantiu a Goiás também o primeiro lugar nacional.


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Goiânia, dezembro de 2017

- UNIVERSIDADE -

nova cara do liberalismo universidade uma retomada dos pensamentos conservadores REPORTAGEM Bruno Fiuza EDIÇÃO Letícia Rocha DIAGRAMAÇÃO Ana Carolina Petry

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talecimento da direita ao enfrentamento da realidade. “Quando se começa a trabalhar, a ter que pagar as próprias contas, percebe-se que a igualdade para todos é impossível e injusta”, opina o estudante. Munido de alguns dos ensinamentos ideológicos libertários, João Pedro se filiou, desde abril de 2017, à organização internacional Students For Liberty (SFL). Essa associação, que surgiu nos EUA, tem como objetivo formar a nova geração de líderes com base nos pressupostos liberais. A entrada dele na instituição só pôde ser concluída após o início do curso superior, um dos requisitos da SFL. O objetivo do estudante de ciências econômicas, após o término do curso superior, é se tornar um

Antigamente, a gente sussurrava que era da direita. Hoje, conseguimos assumir sem problemas esse posicionamento João Pedro Moreno Estudante de Ciências Econômicas na UFG

períodos, menos predominante e mais retraída.” Para João Pedro, a explicação para o florescimento das ideias liberais na universidade encontra justificativa na crise política e econômica pela qual o País passa. “O Estado brasileiro que prometia várias coisas não conseguiu cumprir seu papel. As pessoas começaram a procurar formas alternativas de explicação para o que acontecia”, considera. Já Arthur credita o for-

tros de representação estudantil, simbolizados pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) de cada unidade, ainda são espaços ideologicamente de esquerda. Das cinco melhores universidades brasileiras segundo o Ministério da Educação (MEC) Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) -, todas têm seus DCE’s ocupados por chapas com fortes pautas e direcionamentos esquerdistas. Esses espaços são ocupados a partir de disputas democráticas em que os representantes são eleitos pelos alunos das instituições. João Pedro defende que os pensadores liberais ocupem esses espaços. “Embora não queira trabalhar com isso, acho importante que pessoas ganhem mais espaços para nós”, afirma. POLÍTICA

Fonte: Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

s universitários que se posicionam ideologicamente a direita, agora se sentem mais à vontade para manifestar seu posicionamento político. Tal fenômeno reflete um momento recente da história brasileira que é a retomada dos ideais direitistas em todos os âmbitos da sociedade. O estudante de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Goiás (UFG) João Pedro dos Santos Moreno, de 17 anos, que se define como alguém pró-liberdade, ingressou no curso buscando aprofundar seus conhecimentos sobre a teoria libertária, também conhecida como liberal. “Ainda no Ensino Médio, um amigo me mostrou uma alternativa liberal à crise de 1929, desde então venho lendo e me aprofundando. A escolha do curso foi com esse intuito”, relata. Segundo João Pedro, o ambiente acadêmico da universidade pública mudou. “Antigamente, a gente sussurrava que era da direita. Hoje, não. Conseguimos assumir sem problemas esse posicionamento.” O mesmo acontece nas instituições privadas, como, por exemplo, na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). O estudante de engenharia da computação Arthur Ramos, de 20 anos, assume para si uma ideologia à direita. “Acredito que o ideal de igualdade presente na esquerda não faz jus à realidade, me identificando mais com a ideia da direita.” Arthur, porém, relata uma experiência de compreensão diferente em seu ambiente. Ele conta já ter sofrido agressões por se declarar de direita, principalmente em assembleias estudantis. “Já aconteceu de ter muita agressividade quando nos manifestamos em alguns locais, como assembleias de greve. Acho que os estudantes ainda são intolerantes.” Ele entende que a sua universidade é mais neutra do que as públi-

cas, acreditando que isso se deve ao fato de os professores terem menos espaço para manifestarem suas inclinações pessoais. Mesmo alunos que se consideram politicamente neutros acreditam que a universidade pública tem um lastro esquerdista, como é o caso do estudante de Ciências da Computação Lucas Elias Rocha, de 21 anos. Coordenador do curso de Políticas Públicas da Universidade Federal de Goiás, o professor doutor Robert Bonifácio da Silva explica que o momento de crescimento conservador não significa que a direita deixou de existir em algum momento. “Ela sempre esteve presente no Brasil, mas, em alguns períodos, se mostrou mais predominante e evidente e, em outros

ocorre na

membro fixo da instituição, recebendo salário e trabalhando para a consolidação do pensamento liberal no País. Assim como a própria entidade internacional, o movimento direitista não tem se manifestado apenas no espaço acadêmico. REPRESENTATIVIDADE Mesmo com o crescimento da direita nas universidades, os cen-

O avanço da direita se dá em todos os espaços da esfera pública, sendo o parlamento brasileiro um termômetro desse avanço. Essa nova onda pode ser atestada por dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) referentes às eleições de 2014, a última nacional. Nessa eleição, os partidos conservadores abocanharam 43,5% das cadeiras, um aumento expressivo em relação a 2010, quando obtiveram 36,3%. Professores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) analisaram os dados das últimas eleições federais e mapearam o crescimento da, assim chamada, nova direita, nos espaços de representação política. Para esses pesquisadores, a denominação “nova direita” significa um novo espaço dentro do campo ideológico da direita que, conservando o capitalismo como modelo de produção econômica, defende as vantagens das políticas sociais para a superação das desigualdades. A partir dessa classificação os professores constataram que, em 2014, os partidos da nova direita elegeram 85 deputados federais. Um grande avanço em relação a 2010, quando haviam conseguido 13 representantes nessa esfera. A partir de dados do TSE, os pesquisadores construíram um gráfico que demonstra o avanço dessa nova direita no cenário eleitoral no comparativo com outros anos.


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Goiânia, dezembro de 2017

- CIDADES -

Privatização afeta trabalhadores

DISPENSADOS DESDE O INÍCIO DA NOVA GESTÃO REPORTAGEM Jéssica Reis EDIÇÃO Ariel Franco DIAGRAMAÇÃO Jéssica Reis

E

Foto: Jéssica Reis

m novembro de 2016, a Celg-Distribuição (Celg-D), empresa que faz o abastecimento de energia elétrica em Goiás, foi leiloada por R$ 2,187 bilhões. O lance foi dado pela estatal italiana Enel, que assumiu a Celg-D após acordo assinado no dia 14 de fevereiro de 2017. Desde então, segundo dados da assessoria de imprensa do órgão, 780 trabalhadores já foram desligados. A saída desses funcionários descumpre convenção estabelecida entre empresa e sindicato, em que ficou acordado que não haveria demissões. De acordo com o supervisor da área de transformadores da CelgD e um dos dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Urbanas do Estado de Goiás (Stiueg), Ésio Álvares, de 32 anos, a cobrança e as ameaças de demissão tornaram-se comuns assim que a Enel assumiu a administração da empresa. Segundo ele, as demissões foram feitas em três etapas. “Como na primeira e na se-

Funcionário da Celg-Distribuição durante dia de trabalho pela empresa

Trabalhadores da Celg-D vivem instabilidade desde privatização do órgão

DA CELG-D JÁ FORAM

gunda etapa de demissões não reduziu o efetivo para 700 (número que a empresa pretende manter) tivemos uma terceira até chegar ao ponto de começarem a mandar embora sem motivo aparente”, explica o sindicalista. Por meio de sua assessoria, a Enel informou que desenvolveu dois programas de demissão: o Programa de Demissão Incentivada (PDI), um acordo entre a companhia e o Stiueg, que representa os operários da Celg e da Saneago. Pelo PDI, o trabalhador se demite e recebe um incentivo financeiro. Mesmo estando desligado da empresa, seu salário é pago por mais 12 meses. Posteriormente, foi criado o Programa de Demissão Voluntária (PDV), semelhante ao PDI, porém, nesse caso, o salário era reduzido para 75% do valor original. Funcionário da Celg-D, Décio Fernandes, de 54 anos, afirma que a insegurança no emprego é uma preocupação constante. Segundo ele, a Enel não segue um critério nas demissões e mesmo operários responsáveis e disciplinados foram dispensados. Ainda de acordo com ele, para cobrir o serviço de quem foi demitido, a carga horária de trabalho aumentou. “Não há essa de você trabalhar de manhã ou à tarde. Se for madrugada e houver demanda, temos de ir”, conta. O funcionário acrescenta que há prejuízo também quando o trabalho deve ser realizado no interior do Estado. “Se precisarem de servidores lá, temos de deixar a família para ir. Como posso reclamar ou simplesmente não ir se tenho casa

Foto: Jéssica Reis

720 FUNCIONÁRIOS

Não há essa de você trabalhar de manhã ou à tarde. Se for madrugada e houver demanda, temos de ir Décio Fernandes Funcionário da Celg-D

para sustentar e há o risco da demissão?”, considera. Andréa Silva (nome fictício), de 36 anos, é ex-funcionária da Celg-D. A operária conta que sofreu durante meses com pressões psicológicas e rígidas cobranças na rotina de trabalho. De acordo com ela, seu serviço, que era prazeroso, tornou-se problemático por conta da instabilidade no cargo, afetando inclusive, sua vida familiar. “Eu levava os problemas para casa, vivia estressada, era briga o tempo todo com o marido e não aproveitava minhas filhas”, comenta. Descontente e pressionada, Andréa não teve alternativa e entrou no Programa de Demissão Voluntária. “Foi melhor para mim, acabaria morrendo naquele lugar. Em questões de direitos trabalhistas, não me sinto lesada, recebi tudo conforme o combinado, mas aquele era para ser um serviço estável, quem sabe, para o resto da vida, com um bom plano de carreira”, afirma. Além de demissões em massa, dados do Stiueg apontam que houve crescimento de doenças psicológicas. De acordo com o estudo, antes de 2014, cerca de cinco trabalhadores das empresas que o sindicato abrange eram diagnosticados com

depressão por ano. A partir dessa data, que coincide com o surgimento das discussões acerca da privatização, são registrados aproximadamente 80 casos por mês. “Esse estresse e ansiedade de não saber se amanhã teremos emprego deixa alguns profissionais extremamente perturbados. Nós tivemos casos de síndrome do pânico, infarto, aqui na capital, e até mesmo suicídio, em Morrinhos”, informa o sindicalista. RESPOSTA Em resposta às reclamações a respeito das demissões em massa, a Celg-D, por meio de nota, informou que é natural a ocorrência de ajustes pontuais no quadro de funcionários, assim como acontece em qualquer companhia privada. De acordo com a assessoria de imprensa da instituição, as iniciativas foram realizadas “de forma transparente e ofereceram benefícios adicionais aos previstos em lei”. A Celg-D esclarece ainda que desconhece e repudia qualquer prática de assédio moral e informa que há atualmente 70 vagas abertas na empresa para o recrutamento de profissionais, voltados principalmente para áreas técnicas.


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Goiânia, dezembro de 2017

- MOBILIDADE -

obra do brt segue parada Foto: Antônio Ananias

falta de repasse dE verba ATRASA INFRAESTRUTURA que promete benefícios à população REPORTAGEM Antônio Ananias EDIÇÃO E DIAGRAMAÇÃO Ludmila Almeida

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etomada, em maio, pela atual gestão de Iris Rezende (PMDB), após o pagamento de atrasos da contrapartida da gestão passada do ex-prefeito Paulo Garcia (PT), a obra do Bus Rapid Transit (BRT, Trajeto Rápido para Ônibus, em tradução livre) foi novamente paralisada em julho pelo consórcio das empresas EPC e WVG, responsáveis pela obra. Segundo a superintendente Estadual da Caixa Econômica Federal (CEF), Marise Fernandes, a Caixa, como agente financeiro responsável pela liberação dos recursos federais destinados ao pagamento dos serviços, suspendeu os repasses para a obra do BRT após a Controladoria Geral da União (CGU) fazer apontamentos de preços superfaturados de alguns itens executados pela empresa responsável. A Caixa, então, resolveu aguardar um posicionamento do Tribunal de Contas da União (TCU) para normalizar o repasse de R$ 10 milhões. Lançada em 2015 e prevista para ser entregue em março de 2017, por causa das paralisações, o prazo da obra se estende para março de 2019. A prefeitura informou que, até agora, já foram gastos R$ 63 milhões, inicialmente com orçamento de R$ 244 milhões.

Obra incompleta do BRT no Setor Balneário: atrasos prejudicam moradores de vários bairros goianienses

Foto: Antônio Ananias

Com a proposta foram atendidas. de modernizar a mo“A prefeitura solicibilidade do transporte tou urgência na solução A CGU é, em tese, autônoma, mas, coletivo, a obra prevê do imbróglio, a fim de na prática, possui vários indicados do que os 21 quilômetros se evitar prejuízos para o consórcio executor da do projeto em Goiânia presidente Temer que podem estar e os 7 em Aparecida de obra, para a população e combinando meios para justificar a Goiânia recebam mais também para a adminisde 120 mil usuários tração”, pontuou o secreparalisação dos repasses. por dia. Dessa forma, a tário. As inconstâncias O mesmo acontece com a Caixa nos repasses geram cuspopulação terá rápido acesso às regiões Nortos operacionais e encate e Sul da Capital. De recem a obra, segundo acordo com o projeto, ele. “Mesmo com as obras José Nelto o BRT vai oferecer veparadas o custo é de R$ 2 Líder do PMDB na Alego ículos articulados, dismilhões entre encargos tribuídos em 39 platatrabalhistas e aluguéis de formas e seis terminais de integração. maquinários, por exemplo”, explicou nistério das Cidades, constata-se que O prefeito Iris Rezende, durante um representante das empresas. há, no País, 6 mil empreendimencoletiva de imprensa, destacou que a tos parados por falta de repasses da CONSEQUÊNCIAS obra é prioridade de sua gestão quanUnião. Procurada pela reportagem to ao setor de mobilidade. “Estamos do SAMAMBAIA, a CGU nega, no fazendo todos os esforços para retoPelo menos uma vez nos últimos entanto, ter pedido a paralisação do mar a obra para que a população tenha três meses, funcionários do consórBRT. “Não houve pedido de paralisaconforto e rapidez no deslocamento cio responsável pela obra do BRT ção pela CGU, o relatório é preliminar realizaram protesto pelos salários por nossa cidade. Estudos da SMT e ainda é uma fase de apuração. Não dizem que o trabalhador economizaatrasados. No dia 8 de agosto, um identificamos nenhuma ordem de pará 50% de tempo com a utilização do grupo de 70 colaboradores bloqueou ralisação de nenhum dos órgãos”, esserviço”, ressaltou o prefeito. um trecho da Avenida Goiás Norclareceu o superintendente da CGU, Em levantamento no site do Mite, no Jardim Ipê, em Goiânia. Eles Walmir Gomes Dias. alegam que 250 trabalhadores estão “Sabemos que a CGU é, em tese, sem receber há cerca de dois meses autônoma, mas, na prática, possui e não conseguem sair das empresas, vários indicados do presidente Midevido à falta de dinheiro para o pachel Temer (PMDB) que podem esgamento dos trabalhadores. tar combinando meios para justificar A Prefeitura de Goiânia, por a paralisação dos repasses. O mesmo meio da Secretaria de Infraestrutura acontece com a Caixa”, opinou o líder e Obras Públicas (Seinfra), informou do PMDB na Assembleia Legislativa que a responsabilidade pelo pagade Goiás, José Nelto. mento dos funcionários que trabaO secretário Municipal de Infralham no BRT é do consórcio contrataestrutura e Serviços Públicos (Seindo para executar a obra. A Prefeitura fra), Fernando Cozzeti, recebeu com ainda salientou que aguarda parecer surpresa a decisão da Caixa em condo TCU e da CGU, que, segundo a gelar os repasses. “Vale ressaltar que Caixa, são fundamentais para a retoa pseudo divergência encontrada pelo mada dos repasses. Diante disso, gaTribunal de Contas da União não alrante que repassou sua contrapartida teraria, como de fato não alterou, o ao consórcio e foi exatamente após valor global da obra”, esclareceu. Ele esta repactuação que a obra foi retoafirmou, ainda, que todas as solicitaTrabalhadores do BRT durante atividade na Avenida Goiás Norte mada, em maio passado. ções requeridas pelos órgãos federais


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Goiânia, dezembro de 2017

- VIOLÊNCIA CONTRA

GOIÁS OCUPA PÓDIO EM

brasil, de acordo com a oms REPORTAGEM Letícia Ribeiro EDIÇÃO E DIAGRAMAÇÃO Bárbara Luiza

O

Coletivo Rosa Parks estuda e pesquisa gênero, raça, etnia e sexualidade gacia da Mulher se responsabiliza apenas pela prevenção de agressões e proteção de mulheres agredidas. “Quando essa violência evolui à última instância, o homicídio, cabe apenas punição aos agressores e, por

Quando essa violência evolui à última instância, o homicídio, cabe apenas punição aos agressores e, por isso, fica por conta da DIH

DOUGLAS PEDROSA Responsável pela Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios de Goiás (DIH/GO) tado civil, profissão, naturalidade e local de residência, a existência ou não de agressão intencional, assim como a arma do crime e o local. Pedrosa explica que o papel de investigação dos feminicídios em Goiás é atribuído à DIH. A Dele-

Foto: Reprodução

feminicídio, de acordo com a lei aprovada em 9 de março de 2015, é caracterizado como homicídio qualificado por razões de gênero. Psicóloga atuante na Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, Cida Alves descreve o crime como o fim de uma cadeia de violência. “Acontece depois da violência verbal, física e sexual”, aponta. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2014, Goiás foi o 2º estado com a maior taxa de feminicídios no Brasil que, por sua vez, é o 5° nessa estatística em um contexto mundial. A Lei do Feminicído no País vigora desde 2015 e prevê reclusão de 12 a 30 anos. Pode ocorrer aumento de pena quando o crime ocorre contra mulheres grávidas ou mães que deram a luz há apenas 3 meses, menores de 14 anos, maiores de 60 e portadoras de necessidades especiais. Quando ascendentes (pais, avós, bisavós e antecessores) e descendentes (filhos, netos, tataranetos e outras gerações posteriores) presenciam o ato, ocorre agravamento da pena de 1/3 até metade da máxima prevista. As punições englobam tanto homens

isso, fica por conta da DIH”, elucida. Ele afirma não notar aumento no índice de feminicídios após assumir o cargo, em março de 2016. Acrescenta ainda que, a seu ver, os índices gerais de homicídio caíram nesse mesmo ano e em setembro de 2017. INTERSECCIONALIDADE

O crescimento do índice de feDESCARACTERIZAÇÃO minicídios no País se deu principalmente em razão do assassinato Dois casos recentes de feminide mulheres negras e periféricas. cídios divulgados pela mídia em Apesar de não Goiás foram serem vistos de TamiMulheres negras sofrem os com tipificares Paula, ção correta nos de 14 anos, o racismo e o machismo periódicos, o e Mayara estruturantes da Mapa da VioAmaral, de lência mostra 27 anos. A sociedade que houve um possível cauaumento de sa de suas 54% nesses mortes perIODENIS BORGES casos em um manece não Integrante do Coletivo período de 10 dita pela Rosa Parks anos, enquanmídia: o feto a taxa de feminicídio contra muminicídio. Apesar das diferenças lheres brancas caiu 9,8%. de idade e trajetória, elas possuíam Integrante do Coletivo Rosa Paum fator comum que as tornou al-

43 mil mulheres foram assassinadas no Brasil nos últimos 10 anos

rks, que discute gêneros, sexualidade, etnia e feminismos negros, Iodenis Borges opina sobre as prováveis causas desse aumento. “Mulheres negras sofrem o racismo e o machismo estruturantes da sociedade, além de uma hipersexualização herdada dos períodos de colonização”, expõe. As mulheres trans, no entanto, não são sequer levadas em conta nas estatísticas. A lei não as ampara. Borges complementa que é uma tipificação muito recente. “Para uma aplicabilidade coerente com a diversidade brasileira, o Direito carece de um olhar antropológico, sociológico e político, para se embasar melhor”, enfatiza ela. Apesar desse cenário crítico, Borges consegue visualizar avanços. Uma das grandes conquistas, de acordo com ela, foi a publicação do livro “Diretrizes Nacionais Feminicídio”, pela ONU Mulheres. Se trata de um protocolo interamericano voltado para orientar várias instâncias da Justiça ao lidar com esses casos, cujo primeiro país a implementar foi o Brasil.

mata mulheres no

em que mais se

quanto mulheres infringentes. Responsável pela Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios (DIH-GO), o delegado Douglas Pedrosa questiona a divulgação do Mapa da Violência (2015), de autoria de Julio Jacobo Waiselfisz, nos dados referentes a Goiás. Segundo Pedrosa, os inquéritos da Polícia Civil não apontavam motivações para os crimes até 2015. “Se não falavam a relação entre a vítima e o agressor e os motivos-base para justificar a agressão, como o responsável pela elaboração do Mapa da Violência conseguiu fazer essa tipificação?”, indaga. Conforme o Mapa da Violência Mulheres, a fonte utilizada é o Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) e do Ministério da Saúde (MS). A entidade expõe informar-se por meio das Declarações de Óbito (DO) registradas em cartório. Nelas encontram-se idade, sexo, es-

Foto: Reprodução/Facebook

estado é o segundo


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CONTRA A MULHER -

ÍNDICE DE FEMINICÍDIOS Foto: Guilherme Urbano e Hugo Bittencourt/Reprodução

vos: ambas eram mulheres. Nas primeiras notícias a respeito da morte de Tamires, a imprensa local informou que havia um relacionamento amoroso entre o assassino e Tamires. O que foi totalmente refutado posteriormente. Com o assassinato de Mayara não foi diferente. “Quando a suspeita envolvia ‘namorado’, hipersexualizam a imagem dela. Quando a notícia fala que a cena do crime é um motel, minha irmã aparece vulnerável, molhada na praia”, desabafou a irmã da vítima, Pauliane Amaral, em seu perfil no Facebook. Luís Alberto Bastos Barbosa atraiu Mayara para um motel, a estuprou e matou com marteladas na cabeça. Em seguida carbonizou seu corpo e roubou seus pertences. O veredito da Justiça para o caso foi latrocínio. Pouco tempo depois, outro feminicídio ganhou notoriedade em Goiânia e também não foi classificado devidamente. No mês de agosto, um menino de 13 anos matou sua colega Tamires de Paula. O garoto carregava uma faca e tinha em mente duas outras possíveis vítimas, ambas mulheres.

Violão feito de flores, cartazes e ciranda celebrando a vida de Mayara Amaral em frente ao prédio da EMAC/UFG

EMAC SE TORNA PALCO DE ATO EM DEFESA DA MEMÓRIA DE MAYARA

U

m palco em forma de violão taram as comunicadoras sociais insoas indignadas com a atual coberno qual cada nota tocada em dignadas diante da cobertura miditura midiática desse crime é quanseu interior era uma ode à musicista ática do assassinato da musicista. to ao papel da segurança pública. Mayara. A decoração desse palanDe acordo com a psicóloga Além do repasse correto do relato que foi feita com flores, represenCida Alves, uma das organizadopara jornalistas e com a nomeação tando o espaço aberto por ela para ras do evento, há um trabalho de adequada, pede-se penas mais rílongo prazo a ser feito com os fugidas. A advogada Thais Moraes, que novas flores possam desabroturos jornalistas, trazendo temas membro da Comissão Especial de char no meio musical, graças aos seus trabalhos voltados para performances de compositoras violonisCrimes motivados pelo preconceito, tas. Assim começou o tal como o machismo, o racismo e a LGBTfobia, movimento em homedeveriam ter penas mais rígidas nagem a Mayara Amaral, em frente à Escola e investigações mais elaboradas de Música e Artes Cênicas da UFG (EMAC), no dia 16 de agosto. THAÍS MORAES O ato contou com Membro da Comissão Especial de uma grande equipe de Valorização da Mulher da OAB-GO voluntários que realizaram oficinas, apresencomo a violência contra a criança, Valorização da Mulher da OABtações musicais e leituras de duas o adolescente e de gênero para disGO, aponta que “crimes motivados cartas. Uma delas foi escrita e comcussão nas matrizes curriculares. pelo preconceito, tal como o mapartilhada por Pauliane Amaral “A diretora da EMAC, Ana Guiochismo, o racismo e a LGBTfobia, em rede social. A outra foi a Carta mar Rego, contou que, em 20 anos deveriam ter penas mais rígidas e de Desagravo por Justiça a Mayara de pós-graduação, a Mayara foi a investigações mais elaboradas”. Amaral e a todas as mulheres vítiprimeira pesquisadora que tratou A realização do movimento foi mas de feminicídio, de autoria da do tema de compositoras mulhepossível devido à participação da presidente da Associação Mulheres res”, revela Alves. EMAC, do Coletivo Feminista Cana Comunicação, Geralda Ferraz, Outro ponto defendido por pesrol Barbosa, da atuação constante cuja presença e discurso represen-

Foto: Reprodução/Facebook

da psicóloga Cida Alves e da professora da EMAC Natássia Garcia. Se juntaram a elas a Diretora da Faculdade de Informação e Comunicação da UFG, Angelita Lima, e a Deputada Estadual Adriana Accorsi. A equipe unida em prol do evento foi denominada Coletivo Mayara Amaral.

Mayara foi vitimada por feminicídio


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- SAÚDE -

POR UM ATENDIMENTO ESPECIALIZADO CENTRO MÉDICO ESPECÍFICO PARA A TERCEIRA IDADE REPORTAGEM Jhiwslayne Vieira EDIÇÃO Tiago Abreu DIAGRAMAÇÃO Ana Carolina Petry e Tiago Abreu

A

Foto: Jhiwslayne Vieira

Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) possui atendimento específico para a Terceira Idade: o Programa Saúde do Idoso. A partir dele, desenvolve ações para que o processo de envelhecimento dos moradores da capital seja saudável e com autonomia. Contudo, o atendimento não é para todos os idosos que necessitam. A ação é disponível apenas no Centro de Referência em Atenção à Saúde da Pessoa Idosa (Craspi), localizado em Goiânia, no bairro Cidade Jardim. O Craspi presta serviço de acompanhamento ambulatorial, além de promover outras atividades com os idosos. Mas há poucas vagas disponíveis em relação à demanda por esse tipo de serviço. A maior parte dos idosos encontra atendimentos para demandas especializadas

Maria Onofre tem de recorrer à rede privada em algumas ocasiões

Grupos terapêuticos são destaque do atendimento no Craspi

de uma consulta por causa da distância que teria de percorrer. Quando o sujeito idoso não possui auxílio de familiares para o deslocamento, as possibilidades de transporte são ainda mais precárias. Assim, a principal forma de trajeto destes indivíduos é pelas calçadas, por vezes desniveladas, ou pelo transporte público municipal, o qual também enfrenta críticas por suas lotações e falta de segurança. DIFERENÇAS Segundo os indicadores sociodemográficos e de saúde no Brasil de 2009, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 75% de pessoas em terceira idade convivem com doenças crônicas, como hipertensão, diabetes e câncer. Por isso, o uso do Sistema Único de Saúde (SUS) é um hábito na vida de idosos espalhados em diferentes regiões de Goiânia. Alice sonha com o dia em que conseguirá o atendimento no Craspi. “Minha amiga se con-

unidade em que os profissionais têm um olhar diferenciado e voltado para a terceira idade. Um dos nossos fortes são os grupos terapêuticos, os quais trabalhamos a partir da necessidade que nossos profissionais observam nos nossos usuários. Os grupos tera-pêuticos é um dos destaques. Nesses grupos, trabalhamos a partir da ne-cessidade que nossos profissionais ob-servam nos nossos usuários”, explica Kátia Régina Borges, diretora geral do Craspi. Zilda Rodrigues, de 75 anos, começou a se consultar no centro médico desde quando foi inaugurado. “Eu tive uma crise de depressão porque meu marido tinha morrido. Eu participo dos grupos Balanço da Alegria, Turbinando o Cérebro, Alegria de Viver, Ioga e alguns mais. Aqui é a minha razão de viver”, confessa a idosa, que também ressaltou o fato de morar sozinha e, no lugar, ter mais interações sociais. Quem também participa dos grupos é Clarice Vanderlei Rodrigues, de 78 anos. “Eu consul-

Quem carece aguarda a necessidade José Pereira Aposentado, 77 anos

sulta lá e sei que o tratamento é o melhor de Goiânia”, afirma. José Pereira, de 77 anos, é enfático acerca da espera. “Quem carece, aguarda a necessidade”. Belina Amâncio Ribeiro, de 74 anos, é atendida pelo Craspi há quatro anos e avalia positivamente o serviço. “Os médicos cuidam da gente muito bem”, enfatiza. “O centro de referência é uma

VAGAS EM

somente no Sistema Único de Saúde (SUS). Maria de Castro tem 70 anos de idade e é aposentada pelo Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural). “Nós normalmente não temos condições de pagar um tratamento nos hospitais”, afirma ela. A necessidade também é compartilhada por Maria Onofre, de 77 anos. Em consultas emergenciais, a pensionista chega a fazer uso de atendimento na rede privada de saúde. “Meus filhos insistem muito para que eu vá sempre ao médico”, relata. João Cardoso, de 81 anos, aponta lacunas no atendimento clínico público. “Onde eu moro não há médico em todas as áreas, especialmente o geriatra. Não confio no SUS”, confessa o idoso. A pensionista Alice Brehm, de 66 anos, também vê aspectos negativos no serviço. “Às vezes, eu preciso esperar uns dois meses para conseguir a guia dos exames, mas, pelo menos, o médico que me atende aqui no Cais é muito educado”, conta. A burocracia é o principal impasse enfrentado pela população com idade superior a 60 anos em busca de atendimento nos postos de saúde locais. “Eu tenho muita dor nos joelhos e ir de um lugar para o outro para conseguir meus exames é muito cansativo”, conta Maria de Castro, que confessa já ter desistido

Foto: Jhiwslayne Vieira

IDOSOS AGUARDAM

to atualmente com a nutricionista. Também faço atividades como ioga, dança e o trabalho da memória. Eu acho que é muito importante, todo mundo tinha que estar aqui fazendo essas atividades. A convivência, o grupo em si é muito importante. Há passeios, apresentações, é muito bom participar desses grupos”, acrescenta a aposentada.


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- IDENTIDADE -

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VIVÊNCIAS EM CINZA que se definem em ESCALA VARIÁVEL, relacionamentos

REPORTAGEM Lethycia Dias EDIÇÃO E DIAGRAMAÇÃO Bruno Destéfano

“O

mundo gira em torno da sexualidade. Piadas, histórias, conversas, filmes, tudo.” Essa é a percepção da estudante Thaessa Viza, de 28 anos, de Aparecida de Goiânia, pessoa assexual que não compartilha do mesmo contexto de quem vivencia a sexualidade dessa forma. Para ela, o sexo não é necessário e relacionamentos amorosos são possíveis sem ele. Pessoas assexuais são aquelas que não sentem ou sentem raro interesse por sexo. Indivíduos que se identificam com essa orientação sexual compreendem a sexualidade humana como fluida, nada estritamente definido. Em uma escala de variações, explicadas com a metáfora de tons de cinza entre a cor preta e a cor branca, a pessoa pode desde se relacionar sexual-

para aqueles que ainda acreditam ter algum problema. “Assim vamos poder ter mais liberdade de sermos quem somos e, quem sabe, levar outros a descobrirem que também são e que é

ESTIGMA Por um lado, descobrir a existência de uma identidade e abraçála para si é um alívio para pessoas assexuais. Por outro, não significa que não há pressões sociais e questionamentos por parte de quem sente atração sexual conforme se espera. “Isso não existe” e “É por-

Na nossa sociedade, é entendido que quem não pratica relações sexuais não é feliz Giórgia Neiva Antropóloga

mente sem dificuldades até viver sem o sexo propriamente dito (e não se trata de uma opção). Apenas muito recentemente é que as pessoas passaram a se reconhecer como assexuais. Para muitos, o reconhecimento da própria condição ou mesmo o primeiro contato com o termo se dá por meio de fóruns na internet. Como o mais famoso internacionalmente, Rede de Visibilidade e Educação

lata ter beijado meninas no início da adolescência por influência de pessoas próximas. Ao se mudar para outra cidade e deixar os antigos amigos, o cenário mudou. “Eu ainda sentia atração por algumas

Foto: Thaessa Viza

são possíveis sem sexo

Assexual (AVEN), e a Comunidade Assexual, fundada em 2009, no Brasil. Anteriormente a isso, a assexualidade era considerada apenas em campo teórico, segundo a antropóloga e doutoranda na Faculdade de Ciências Sociais da UFG, Giórgia Neiva, que pesquisa a assexualidade. “O tema só passou a ficar mais visibilizado a partir da internet, pelos próprios assexuais”, afirma. Foi por meio do campo virtual que a escritora e também estudante Bruna Sena Gonçalves, de 21 anos, de Brasília, ouviu falar da assexualidade pela primeira vez. Em pesquisas na internet, se deparou com vídeos do programa de TV Gabi Quase Proibida, disponibilizados no canal do YouTube do SBT, em que a jornalista Marília Gabriela conversou com a pesquisadora Elisabete Oliveira sobre assexualidade. Era o que Bruna precisava saber. “Passei a pesquisar mais sobre o assunto e me reconheci como assexual desde então.”

para assexuais,

que você não conheceu a pessoa certa” foram apenas algumas das respostas que Thaessa Viza ouviu ao falar que é assexual. A estudante compreende o estranhamento: “Todos crescem sabendo que é normal uma vida sexual. Quando aparece alguém e fala o contrário do que todos estão acostumados, cria-se uma barreira.” Régis de Oliveira, de 20 anos, que mora em Paracatu (MG), re-

Para Thaessa, admitir-se assexual é uma forma de ter liberdade

garotas, mas nada além disso.” O estudante ainda se mantém reservado quanto à sua condição. “Não saio dizendo por aí que sou assexual, porque poucos conhecem a assexualidade e seria preciso explicar”, justifica. Já Thaessa Viza é categórica ao dar sua opinião. “Todos deveriam falar que são assexuais. Somente assim as pessoas vão tomar conhecimento e entender de fato o que é esse outro lado.” Ela acredita que falar sobre a assexualidade pode proporcionar bons resultados tanto para aqueles que já se assumiram quanto

normal não pensar em sexo.” No entendimento de Giórgia Neiva, o grande pensamento a ser desnaturalizado é algo bastante intrínseco culturalmente. “Na nossa sociedade, é entendido que quem não transa não é feliz.” Junto à mudança da ideia de que o sexo é fundamental em um relacionamento, ainda existe uma luta política: a da despatologização. Segundo a pesquisadora, existe um movimento de assexuais pela retirada do termo assexualidade dos manuais de psiquiatria, que compreende a condição como disfunção ou transtorno.

VARIAÇÕES Uma pessoa assexual pode ser romântica (ser capaz de se apaixonar) ou arromântica; lithromântica (se apaixonar sem esperar ser correspondida); demissexual (com atração sexual condicionada a certo grau de cumplicidade ou relação afetiva com o parceiro); gray-A (com atração sexual variável); e assexual estrita (sem atração sexual).


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- SAÚDE -

jejum em prol da estética tem sido adotada como alternativa de dieta e de desintoxicação REPORTAGEM Thais Monteiro Edição Cesar Fontenelle Diagramação Ana Carolina Petry

O

da e faz o jejum de 12 horas duas vezes por semana. Ao falar sobre sua experiência, Rayanne a define como “uma experiência ímpar”. Ela justifica o sucesso atribuindo a maior vitalidade que ganhou e ao peso que perdeu. “Devemos ter consciência dos nossos limites, tendo em vista que o nosso corpo precisa estar com tudo em perfeito alinhamento. Meu organismo se adaptou a esse estilo de vida” explicou.

culminaram na perda de peso. A microempresária Rayanne Saede é seguidora da dieta há um ano e contou que conheceu a prática por acaso em uma de suas pesquisas na internet. Ela afirmou que perdeu mais de 20 quilos devido à prática. Hoje, ela tem uma dieta balancea-

Isso não é nem um pouco saudável”, alertou a nutricionista. Lourruama também salientou que, quando a pessoa fica muito tempo sem se alimentar, pode haver irritabilidade, além de não chegar

glicose no cérebro, que é a fonte de energia para esse órgão. “Então, a pessoa não vai conseguir pensar, trabalhar e estudar bem”, acrescentou. Sobre o efeito desintoxicante, a profissional disse que o jejum não funciona como uma forma de desintoxicação, se ao término dele, você se alimenta de forma errada. Eficácia

Efeitos colaterais A nutricionista Lorruama Fogaça alerta para riscos aos praticantes do jejum. Alguns efeitos colaterais podem gerar alguns riscos como compulsão alimentar e transtornos psicológicos. “Se uma pessoa fica muito tempo sem se alimentar, quando ela for comer, vai querer comer muito.

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O jejum não funciona como uma forma de desintoxicação, se ao término dele, você se alimenta de forma errada Lorruama Fogaça Nutricionista

Pesquisadores do Instituto do Coração (InCor), em estudo sobre os efeitos do jejum intermitente no metabolismo humano, observaram resultados positivos. Os resultados indicam melhorias no perfil lipídico, redução de respostas inflamatórias, com redução na liberação das proteínas adipocinas inflamatórias e alterações na expressão de genes relacionados com a resposta inflamatória e de outros fatores. Em indivíduos obesos, os pesquisadores, observaram uma melhor adesão ao jejum intermitente em relação a intervenções tradicionais (restrição calórica), além da redução no estresse oxidativo desta população. Dessa maneira, por se tratar de uma intervenção viável e acessível para a maioria dos indivíduos, o estudo ressalta a importância de novos estudos clínicos para testar a eficácia desta intervenção na prevenção e no controle de doenças metabólicas e cardiovasculares. A nutricionista Lorruama ainda explica que, quando uma pessoa faz o jejum intermitente, seu corpo não entende que é uma escolha para emagrecer. “O seu corpo nunca vai pensar em estética. Nosso corpo sempre vai pensar em sobrevivência. Quando um paciente faz uma dieta muito restritiva, ao ingerir algo mais calórico, irá ganhar mais peso mais rápido de uma forma que não ganharia antes”, enfatizou. As profissionais entrevistadas não descartaram a possibilidade de se prescrever a prática do Jejum Intermitente para determinados pacientes, mas todas afirmam que deve ser um caso muito bem analisado. As duas também acreditam em outros meios mais eficazes para atingir o mesmo objetivo como uma reeducação alimentar. “A alimentação deve ser algo natural, não tem que ser forçado, nem que traga preocupação para a pessoa”, afirmou Lorruama.

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jejum intermitente (JI) é a novidade entre os brasileiros que são adeptos de dietas e práticas fitness. Os adeptos utilizam desse ato para perder peso, mas também como forma de desintoxicação. Não comer nada, porém beber água ou chá sem açúcar por 24, 48 ou 72 horas é considerado benéfico ao organismo pelos discípulos do JI. No entanto, profissionais da área pedem cautela. O tema divide opiniões, mesmo assim os seguidores do JI não abrem mão dessa realidade. O movimento é tão grande no País, que há inúmeros sites e grupos nas redes sociais com até 547.961 membros. O principal site, “Jejum Intermitente”, explica que JI “nada mais é do que comer quando se está com fome”. A página também traz dicas de dietas, exercícios, suplementos e relatos motivacionais de perda de peso. No mundo fitness, essa tendência ganha inúmeros seguidores, mas pouco se sabe sobre os efeitos colaterais em longo prazo que uma dieta tão restritiva pode causar. São cinco os métodos de jejum intermitente mais conhecidos. Jejum de 16 horas é o mais comum, consiste em comer em uma janela de oito horas por dia, e não comer nas outras 16 horas; jejum de 24 horas duas vezes na semana; jejum de 36 horas para pessoas que precisam usufruir melhor e por mais tempo do JI; dieta 5:2, que consiste em comer dois dias na semana, apenas 500-600 calorias por dia, nos outros dias a alimentação é normal. Por último, a “dieta do guerreiro”, que consiste em comer durante o dia apenas vegetais e durante a noite fazer uma refeição normal. A nutricionista Victória Guimarães afirma receber muita procura

em seu consultório de pacientes em busca do JI. Ela complementa que, na maioria dos casos, os pacientes acreditam que o jejum vai resolver todos os problemas alimentares e não possui contraindicações. Apesar de essa alternativa ser muito procurada, muitos não sabem de que forma o JI age no organismo. A profissional afirmou que os iniciantes acreditam que somente com ato de ficarem longos períodos sem se alimentar alcançarão os resultados esperados. “O jejum afeta nosso organismo com o princípio básico de diminuir a ingestão calórica, porque ficando esse tempo sem ingestão de alimentos e seguindo o plano alimentar corretamente o resto do dia, você acaba diminuindo a sua ingestão energética e por consequência irá emagrecer”, explicou Victória. Os adeptos ao jejum intermitente falam dos efeitos positivos que

Prática restritiva


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- COMPORTAMENTO -

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crônica das locadoras

dificulta negócios e encerra ERA DOS MAIS nostálgicos REPORTAGEM Izabella Pavetits Edição e Diagramação Victor Lisita

N

o período em que a Video1, primeira videolocadora do Brasil, esteve aberta, entre a década de 1980 até meados de 2010, as locadoras de filme foram um negócio rentável para seus proprietários. Frequentar esses ambientes era um hábito comum entre famílias. Entretanto, tais estabelecimentos começaram a sofrer os primeiros baques na década de 2000 quando a pirataria digital se tornou febre e até a Blockbuster, uma das empresas símbolo em relação à locação, passou a ter prejuízo. Em 2007, a rede de locadoras estadunidense vendeu suas 127 franquias no Brasil para as Lojas Americanas. Com isso, o prenúncio do que aconteceria com locadoras pelo País afora estava feito. Perto de completar seus 26 anos de existência, a Miami Home Vídeo, no Setor Bueno, é uma das últimas locadoras de Goiânia. Segundo o proprietário, Eduardo Fleury, o estabelecimento possui 40 mil títulos para locação, os quais são atualizados mensalmente. O espaço também é especializado em vendas de aparelhos de som e vídeo de alta performance. Um pouco mais afastada da região nobre de Goiânia, a Cinemax Filmes, no Setor Urias Magalhães, também se sustenta com o apoio de outros serviços. Seu dono, o professor de física Elieser Gouveia, afirma que a clientela é fiel, mas não conseguiria se manter sozinha nos dias de hoje. Ainda que a diferença de regiões não retire a necessidade de atrelar a locadora a outras atividades, essa

de filmes físicos

mudança de bairros ocasiona em um contraste de preços. Enquanto a Miami cobra dos filmes no acervo antigo 5 reais para DVDs e 12 reais para Blu-ray, sendo que para lançamentos aumenta para 12 os DVDs e 20 reais os Blu-ray, a locação na Cinemax Filmes possui um valor único de 4 reais, tanto para catálogo quanto para lançamentos. O estilo de vida dos grupos distintos é crucial de tal forma que a locadora do Urias Magalhães possui filmes apenas em DVD. Elieser Gouveia afirma que os filmes em Blu-ray não apresentaram boa recepção entre seu público. O assistente administrativo, Ademar Borges, passava horas dentro de uma locadora, onde conversava sobre cinema, conhecia filmes e pessoas conforme passeava pelas prateleiras lotadas de fitas de VHS e DVDs. A saudade bate forte quando pensa na experiência, entretanto, ele não frequenta mais locadoras. “É muito mais fácil baixar o filme pela internet, adquirir o próprio DVD ou fazer uso de quaisquer uma das outras várias opções disponíveis. É mais fácil, mas, ao mesmo tempo, é difícil. Fácil porque o acesso é mais rápido, mas difícil porque ficou essa saudade.” Segundo a União Brasileira de Vídeo (UBV), havia quase 14 mil locadoras no Brasil entre 2003 e 2005. Em 2009, esse número caiu para 6 mil. Em 2015, eram menos de 4 mil locadoras em todo o país. Uma pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em 2011, investigou quais são, quantas são e onde estão as empresas de pequeno porte no País. Nessa apuração, dentro do setor de serviços é possível encontrar a categoria “Aluguel de fitas de vídeo, DVDs e similares no País”. Há um total de 166 estabelecimentos desse tipo registradas no grupo, elas representam 0,04% do total de empresas de pequeno porte no Brasil e a média do faturamento anual é R$ 489.265,00. São Paulo é o Estado com maior número de locadoras cadastradas pelo Simples Nacional, tendo 70 empresas no ramo. Em Goiás, os dados do Estado não foram analisados pela pesquisa por haver menos de 10

O maior concorrente é a pirataria, é o pessoal que quer assistir filme de graça na internet

Leandro Cardoso Proprietário de duas locadoras em Goiânia

Foto: Izabella Pavetits

Queda na locação

Em Goiás, há menos de 10 empresas registradas como vídeo-locadoras pequenas empresas nessa ocupação. O dado revela uma incoerência com a realidade, pois um passeio pela cidade revelaria mais que o número de estabelecimentos registrados. O fato é uma evidência de que existem locadoras abertas sem seus devidos registros, ou que funcionam com a documentação de outro tipo de empresa, como lan houses ou lojas diversas. PERCALÇOS No início de 2016, os fãs goianienses das locadoras de vídeo sofreram um baque com o anúncio do encerramento das atividades da Cara Vídeo, então localizada no Centro. O estabelecimento de 28 anos atendia um vasto público que variava desde jovens estudantes em busca de documentários até os mais velhos amantes do cinema. Antes de fechar, os donos do local colocaram todo o acervo da loja à venda para que o público pudesse “ter um pedaço da história da locadora em suas próprias casas.” Conhecer produções fora do circuito hollywoodiano e o cinema de países como França, Itália, Índia e Japão foi uma das heranças deixadas pela Cara Vídeo para Almir Júnior, de 50 anos. Como muitos, o cinéfilo lamentou o fechamento da loja. “Ao fechar, comprei uns 30 filmes, gastei R$1.200 com prazer. Mas não foi suficiente para superar a falta. Era um patrimônio de Goiânia.” Com a queda da demanda da locação, foi necessário que Elieser Gouveia investisse em atividades diferentes. Hoje, a Cinemax Filmes também é uma loja de conveniências e, recentemente, começou a oferecer o serviço de locação de

jogos. Ainda assim, a demanda por lançamentos de filmes estadunidenses, os preferidos entre os clientes, existe, então o catálogo é atualizado semanalmente com as novidades desse segmento do Cinema. Como proprietário da Bio Vídeo Locadora, no Celina Park, e da Free Days Videolocadora, no Parque Santa Rita, Leandro Cardoso defende que o principal problema não foi a chegada do serviço de streaming, como a Netflix. “O maior concorrente é a pirataria, é o pessoal que quer assistir filme de graça na internet. O problema é que ninguém pensa que se deixarmos de pagar para consumir o conteúdo que queremos, não terá como ele continuar sendo produzido. Para qualquer negócio continuar, é preciso que ele gere lucro.” Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estima que pelo menos oito em cada dez internautas brasileiros façam downloads ilegais de conteúdo protegido por direitos autorais. “Não sou pessimista, até porque gosto muito da experiência, mas as pessoas não querem mais isso hoje. A preguiça e a comodidade impedem que saiamos de casa”, disse Ademar Borges. Contudo, ele acredita que se surgisse um novo espaço que propiciasse o encontro dos amantes das locadoras, ele poderia sim ter um futuro. Por mais que estas empresas em si estejam desaparecendo, as memórias de passear entre as prateleiras abarrotadas de caixas coloridas, das horas que iam embora facilmente durante uma conversa e da paixão pelo cinema permanecem. Enquanto elas ainda estiverem vivas, de alguma forma, as locadoras também estarão.


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- ESPORTE

TORCEDOR PARA ALÉM Foto: Arquivo Pessoal

grupos apostam em UMA FACE MAIS HARMONIOSA das torcidas de futebol de Goiás REPORTAGEM Lucas Xavier EDIÇÃO E DIAGRAMAÇÃO Adriel Abreu

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Grupo Mulheres Atleticanas, além de apoiar o Dragão, ajuda pessoas carentes

encontros nos estádios, diversas torcidas se formaram para viabilizar suas próprias formas de apoiar os times. Torcedoras Um grupo de amigas se juntou para formar a ala feminina da torcida do Atlético Goianiense. Elas se reuniam para assistir aos jogos do clube e decidiram oficializar a torcida. “Juntamos a amizade e a vontade de mostrar que a torcida é diferente, que não é uma torcida organizada de briga. Como o Atlético não tinha uma parte feminina, de-

cidimos montar um grupo chamado Mulheres Atleticanas”, explica Renata Runcolato, uma das fundadoras do grupo. Na páscoa deste ano, as torcedoras arrecadaram centenas de ovos de páscoa e doaram para uma creche filantrópica de Goiânia. No dia das crianças, as mulheres sediariam um evento para crianças carentes e filhos de atleticanos. “Estamos organizando a locação de brinquedos, preparação de lanches e recreação em geral”, conta Runcolato. Arielly B., uma das integrantes das Princesas do Vila, a torcida de mulheres do Vila Nova, explica que

Foto: Arquivo Pessoal

m 2017, foram registrados 662 times profissionais de futebol no Brasil, de acordo com as federações de futebol de cada estado. Milhares de pessoas se envolvem com esses clubes, dedicando algum tempo do cotidiano para seu time do coração, sejam minutos para a leitura das notícias diárias, horas de vibração no estádio, ou dias de viagem para torcer pela equipe. Buscando a melhor forma de apoiar o time, as torcidas se formam nas arquibancadas do País, com bandeiras, cantos, mosaicos e perfomances próprias. Nos últimos anos, com o aumento dos casos de violência nos estádios, as torcidas organizadas passaram a ser alvo de críticas. No entanto, outras torcidas, mesmo que em menor número, aparecem nas arquibancadas com faixas e bandeiras que trazem outras formas de se organizar para torcer. Em Goiânia, com o auxílio das redes sociais e

Grupo de headbengers se reúne há 10 anos em apoio ao Vila e ao Heavy Metal

o grupo surgiu como uma reação ao preconceito contra as mulheres no futebol. “Esse grupo foi criado para termos mais liberdade para falar sobre futebol. Querendo ou não, ainda existe muito preconceito e decidimos fazer um grupo somente de mulheres para nos reunirmos no estádio, nos bares ou na casa de alguma amiga”, explica Arielly. Fora do estádio Inspirado na história da Galo Metal, do Atlético Mineiro, há 10 anos surgiu o Vila Metal, articulação de vilanovenses que gostam de Heavy Metal. Além de torcer pelo Vila, os metaleiros procuram ingressar na cena cultural alternativa da cidade. “A gente quer criar vínculos sociais como forma de resistência no futebol moderno. Nós defendemos uma política democrática voltada para o lazer, para os vínculos sociais que se criam dentro dos estádios. Para muitos, basta comprar um pacote de canal fechado e assistir aos jogos enquanto consumidor”, argumenta Igor Dias, um dos fundadores da torcida. O grupo é formado por cerca de 30 membros ativos, que são responsáveis por levar faixas nos dias dos jogos, programar confraternizações entre os membros e viagens para jogos do time fora da capital. Apesar de se declararem pacíficos, esses torcedores já foram vítimas de violência ao serem abordados por


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M DAS ARQUIBANCADAS

Foto: Arquivo Pessoal

torcedores de times adversários. “Em dois ou três episódios aconteceu de torcedores estarem andando na rua com a camiseta do Vila Metal e serem abordados por torcedores rivais que pediram as camisetas. Nesses casos, a gente entrega sem resistência”, relata. Em julho de 2016, com a popularização do movimento das torcidas Chopp no Brasil, surgiu o Goró Goiás, torcida que preza pela confraternização e paz nos estádios. “No começo, éramos cerca de 20 torcedores que queriam torcer e beber juntos no estádio. O novo movimento demorou um pouco pra ser aceito, mas a ideia de um movimento que prega a paz, passou a atrair mais simpatizantes”, explica Andressa A., integrante da torcida. São aproximadamente 200 envolvidos, que comparecem aos estádios levando faixas e camisetas. Nas redes sociais, a Goró Goiás acumula cerca de 3 mil seguidores, a maioria homens. A torcida sofre com o baixo número de mulheres, que representam apenas 20% do grupo, mas Andressa valoriza a atuação delas. “Mesmo sendo minoria, as mulheres são bastante ativas no dia-a-dia da Goró.” Nos últimos três anos, as arquibancadas brasileiras contabilizaram um aumento expressivo nas chamadas “torcidas progressistas”, que procuram combater as intolerâncias e injustiças no futebol. O Ferroviário (CE) é conhecido como o pioneiro deste movimento no Brasil por meio da torcida Ultras Resistência Coral, que atua há mais de 10 anos nas arquibancadas do clube cearense. Até março deste ano foram contabilizadas 29 torcidas progressistas no país. O estado de Goiás contabiliza uma dessas torcidas, a Vila Nova Antifascista, que surgiu em julho através das redes sociais. Cerca de 12 torcedores se manifestaram inte-

Esmeraldinos do Goró Goiás apostam na confraternização como forma de apoiar o clube

ressados e, após uma reunião, o grupo foi oficialmente criado. “A partir daí, surgiu a ideia de se constituir um grupo de torcedores que defenda os trabalhadores e as minorias sociais”, explica T.F, integrante do Vila Antifascista. Ainda em fase de estruturação, além de comparecer ao estádio levando bandeiras, faixas e camisetas, a torcida pretende estreitar os laços com os setores mais tradicionais da torcida vilanovense. “A ideia não é criar uma oposição entre a as torcidas, e sim uma influencia entre elas, para tentar tornar a torcida mais progressista”, aponta T.F. Segundo o Vila Antifacista, existe um interesse de alguns torcedores do Goiás em criar uma torcida progressista esmeraldina. Caso se concretize, os vilanovenses afirmam admitir uma postura de aliança com a possível torcida esmeraldina. “Nós buscamos a união entre as torcidas e o combate aos discursos hegemônicos”, complementa T.F.

Juntamos a amizade e a vontade de mostrar que a torcida é diferente, que não é uma torcida organizada de briga. Como o Atlético não tinha uma parte feminina, decidimos montar um grupo chamado Mulheres Atleticanas

Renata Runcolato Torcedora

Manter viva a memória Um dos primeiros clubes da capital, o Goiânia Esporte Clube se tornou um dos mais tradicionais times do Centro-Oeste na década de 1960. Com o fim de investimentos, o clube entrou em decadência e hoje disputa torneios de baixa expressividade. Entretanto, os torcedores do alvinegro goiano não deixaram a paixão morrer. Nicanor Sena Passos criou o Torcedores do Goiânia Esporte Clube, um grupo que conta com mais de 500 membros e tem o objetivo de conservar a história e memória do clube. Segundo Nicanor, o objetivo é que o grupo se oficialize, passando a se configurar como Associação dos Torcedores do Goiânia Esporte Clube. As primeiras ações do grupo estão concentradas na Vila Olímpica, centro de treinamento da equipe e maior patrimônio do clube. A ideia é transformar os muros do local em uma galeria de arte a céu aberto, com ilustrações de grandes ídolos da história do Goiânia, além de outras obras de arte envolvendo o Galo goianiense, como a construção de um grande escudo do clube na Vila.


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FOTOS Tiago Abreu TEXTO Lethycia Dias DESIGN Bárbara Luiza

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O L H A R E S Cem

dias de estiagem Vi uma Goiânia empoeirada, queimada de sol, De céu cinzento enfumaçado sem nuvens Para onde olhamos à procura de chuva: Esperança, quem sabe alívio ao Rio Meia Ponte

Que reduzido à metade sequer parece o mesmo Rio que abastece metade do estado de Goiás. Na estiagem do Cerrado, seca, vermelha, poeirenta, De mais de cem dias sem chuva E umidade do ar abaixo de 20% – nível crítico Goianienses fecham suas torneiras Por economia – que nunca se sabe Ou por fala – dias inteiros sem água. Caem as folhas dos ipês e se inicia a primavera.

Falam de chuva. Esperam por ela. Confiam nela.


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