Jornal Samambaia - Maio de 2017

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jornal laboratório do curso de jornalismo da Universidade Federal de Goiás

mercado

A rotina abusiva dos jovens do Telemarketing

goiânia, maio, 2017

nº 77/

política

Câmara dos Vereadores renova com o pé no passado

ANO XVII

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comportamento

Como o uso da maquiagem afeta o cotidiano feminino

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samambaia Foto: Fausto André | Diagramação: Gustavo Henrique

Especialista tira dúvidas sobre eficácia e riscos da pílula anticoncepcional

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samambaia

Goiânia, maio de 2017

- OPINIÃO -

RUMO R

RESPEITO É BOM E ELAS GOSTAM POR Luciana Gomides | DIAGRAMAÇÃO Carolinne Álvares

E D I T O R I A L

O

s números não mentem. Dados apresentados pela Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2016 apontam que as mulheres ocupam 44% dos postos de trabalho brasileiros. Porém... não, os números não mentem. Na Câmara Municipal de Goiânia, apenas 14% dos vereadores eleitos são mulheres, mesmo representando a maioria feminina da população goianiense (52%). Os números continuam não mentindo. O Brasil tem uma denúncia de violência contra a mulher a cada sete minutos. Uma mulher que, quando chega à política, precisa enfrentar a maioria patriarcal sexista e misógina, correndo o risco de se ver em forma de adesivos promíscuos colados nos carros. Uma mulher que ainda precisa ler em revistas de grande circulação os elogios a uma primeira-dama “recatada e do lar” que, honestamente, não a representa. Uma mulher que ainda precisa se submeter aos riscos de fármacos contraceptivos, mas, é julgada ao emitir sua opinião sobre a legalização do aborto.

Felizmente, essa mulher começou a empreender e lutar pelos seus direitos, ocupando espaços para fazer-se ouvir. Passou a enxergar formas de valorizar e destacar sua beleza ao invés de escondê-la. Continuou a garimpar o novo no antigo, encontrando e customizando formas de se vestir e sentir-se bem. Deixou de lado a vergonha em se exibir, em ostentar sua dignidade em frente a uma lente fotográfica. Uniu-se a outras mulheres para ganhar notoriedade, igualdade e valor. Que os números continuem não mentindo. Mas, que ao invés de estatísticas tristes e revoltantes sobre Emillys, Luanas, Eloás, Marias, Joanas, Dilmas e, porque não, Marcelas, violentadas, assediadas, subordinadas e ridicularizadas, tragam essas mesmas “manas” como donas de si mesmas. Que tragam mais mulheres no poder, mais irmãs assumindo o direito sobre o próprio corpo e assumindo seu lugar em pé de igualdade perante aquele que não a concebeu a partir uma costela, mas, nasceu do ventre feminino e lhe deve respeito.

- RESENHA -

VOCÊ SABE EDUCAR CRIANÇAS FEMINISTAS? POR Ana Paula Holzbach DIAGRAMAÇÃO Carolinne Álvares

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himamanda Ngozi Adichie é uma escritora nigeriana, aclamada por suas obras de caráter feminista e conhecida pelo trecho de um de seus discursos inserido na música Flawless, da cantora Beyoncé. Adichie é autora de livros consagrados pela crítica, como Sejamos Todas Feministas (2014) e a obra de ficção Meio Sol Amarelo (2006), ganhador do prêmio Orange Prize. Em sua última publicação, o livro Para Educar Crianças Feministas: Um Manifesto (Companhia das Letras; 2017; 15 reais), Chimamanda fortalece o discurso de gênero sempre presente em seus trabalhos. A obra é escrita em formato de carta, direcionada para sua amiga de infância Ijeawele, dando 15 sugestões de como dar a sua filha uma criação de igualdade entre homens e mulheres. Em pouco mais de 90 páginas, Chi-

mamanda estimula a crítica ao machismo, muitas vezes velado em situações cotidianas. Ela desconstrói, a partir de exemplos simples, como a divisão de setores de lojas de brinquedos entre gênero masculino e feminino, a ideia de que “ser menina” vem acompanhada de tarefas pré-designadas. Em uma leitura direta e fluida, a autora nigeriana trata de temas como estereótipo de gênero, opressão, sexualidade, maternidade e a importância de se reconhecer as diferenças. Ela enaltece, ainda, a relevância de se estabelecer uma boa comunicação com os filhos desde a infância, para a formação de um pensamento crítico. O manifesto traz uma carga de reflexões e ensinamentos básicos sobre o que é feminismo e instrui como combater o olhar domesticado em situações rotineiras e, principalmente, como reverter tal condição. Mais do que uma simples leitura, a obra de Adichie deve sair do papel e ser colocada em prática por todos.

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Ano XVII - Nº 77, Maio de 2017 Jornal Laboratório do curso de Jornalismo Faculdade de Informação e Comunicação Universidade Federal de Goiás

Orlando Afonso Valle do Amaral reitor

Luciene Dias coordenadora geral do samambaia

Izabella Mendes monitora

Angelita Pereira de Lima diretora da faculdade informação e comunicação

Luana Borges produtora executiva

Turma de Jornal Impresso II edição executiva

Salvio Juliano Farias editor de diagramação

Turma de Jornal Impresso I produção

Rosana Maria Ribeiro Borges coordenado do curso de jornalismo

Turma de Laboratório Orientado diagramação


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Goiânia, maio de 2017

- EMPREENDEDORISMO -

UNIVERSITÁRIOS APOSTAM NOS NEGÓCIOS dificuldades em construir a própria empresa REPORTAGEM Juliana Fraança EDIÇÃO Amanda França DIAGRAMAÇÃO Juliana França

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or que esperar até o fim da graduação para colocar em prática a profissão que se escolheu? As principais universidades não estão mais apenas empenhadas em produzir conhecimento e formar profissionais, mas também em contribuir com o desenvolvimento econômico e tecnológico do país. Muitos alunos da UFG, por exemplo, se atentaram para a possibilidade de empreender durante a vida universitária. No ano de 2016, a Universidade Federal de Goiás foi a primeira colocada da região Centro-Oeste no ranking “Universidades Empreendedoras”, organizado pela Brasil Júnior, Rede CsF, Aiesec, Brasa e Enactus. Já na colocação nacional, a UFG ficou com a 16ª posição em todo o Brasil. O objetivo das chamadas universidades empreendedoras é quebrar a barreira cultural que separa o cenário acadêmico do mundo dos negócios e estabelecer uma nova relação entre eles. Empreendedorismo é um termo que foi criado pelo economista Joseph Schumpeter na década de 50, mas que é muito usado atualmente para designar situações nas quais pessoas que buscam independência financeira montam suas próprias empresas. No caso dos estudantes da UFG, trata-se de miniempresas que já despontam como um negócio promissor ou, em alguns casos, de grandes ideias a serem colocadas em prática.

Gustavo Henrique, 18, é estudante de Engenharia Química da UFG e diretor da empresa Nutricandies, além de um empreendedor reconhecido no que faz. Sua ideia surgiu a partir do convívio com a irmã mais nova, que sofria com obesidade desde criança e que gostava muito de comer doces. “A Nutricandies é do segmento de alimentação saudável, possuímos uma plataforma de inovação de fórmulas-bases de creme alimentício de chocolate sintetizado com cacau e vegetais, como cenoura, beterraba e maçã”, explica o jovem empreendedor. Para Gustavo, a empresa surgiu como uma possibilidade de preencher uma lacuna no atual mercado de trabalho. O chocolate nutritivo é usado como insumo na fabricação de novos alimentos e vendido especialmente para indústrias. Hoje, a Nutricandies possui uma

Gustavo Henrique, diretor da empresa Nutricandies

experiências e

MoTIVAÇÃO

Foto: Juliana França

JOVENS CONTAM

Infelizmente nossas universidades não possuem uma formação empreendedora em seus currículos Guilherme Narciso Estudante de Publicidade e Propaganda

loja online e conta com parceiros de Goiânia, Belo Horizonte e Mato Grosso do Sul e espera conseguir novas parcerias para abrir uma loja física. Já Guilherme Narciso, 20, é estudante de Publicidade e Propaganda da UFG e sonha em criar uma espécie de cooperativa de publicidade e propaganda, isto é, uma agência que tenha como princípios a economia solidária e colaborativa. “Minha pretensão é me unir a outras pessoas que possam partilhar desse objetivo para estruturarmos tudo de forma viável e lucrativa. Pretendo consolidar um plano de negócio para dar passos calculados e estratégicos rumo ao sucesso”, conta o estudante. Foto: Divulgação

Produtos Nutricandies sintetizados com cacau e vegetais

DIFICULDADES Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos estudantes que estão começando a entrar no mundo dos negócios é saber quais são as estratégias para sobreviver no mercado, afinal, auxílio de quem conhece do assunto é essencial. “Infelizmente nossas universidades não possuem uma formação empreendedora em seus currículos, ainda temos cursos muito defasados nesse aspecto”, explica Guilherme. Para promover a Nutricandies, em busca de novos parceiros e de mais conhecimento para a empresa, Gustavo e sua equipe viajam muito pelo Brasil, participado de competições e congressos de empreendedorismo. “As maiores dificuldades são em conciliar o meu tempo acadêmico, com meu tempo de empresário”, conta o estudante. Apesar das dificuldades, Gustavo se dedica muito aos estudos. A miniempresa de Gustavo conquistou vários prêmios e ficou entre as seis melhores tecnologias de inovação para o mercado, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. Entretanto para participar de tantas competições, Gustavo e sua equipe precisam viajar bastante. Portanto, além de precisar conciliar a direção da empresa com a graduação, ele precisa ainda bancar os gastos com as viagens.

IMPORTÂNCIA Gustavo Henrique, que mora no interior de Goiás, está todos os dias no campus Samambaia antes das sete horas da manhã aproveitando o tempo livre para estudar. Seu objetivo, já no segundo período do curso, é aprimorar seus conhecimentos para começar novas pesquisas e colocar suas novas ideias em prática. “A experiência de empreender antes de concluir, contribui para nortear qual área seguir em minha formação”, conclui o graduando em Engenharia Química. Em novembro de 2016, a Nutricandies ficou em 1º lugar na Olimpíada de Empreendedorismo Universitário do Centro de Empreendedorismo e Incubação da UFG (CEI). Com isso Gustavo e sua equipe receberam o apoio do CEI e ganharam a incubação do seu negócio sem ônus. “Nós vencemos a competição e ficamos muito felizes com o primeiro lugar, afinal é uma competição que visa estimular o espírito empreendedor em nossa própria universidade”, afirma Gustavo. Para Guilherme, o aluno de Publicidade e Propaganda, a principal característica de um empreendedor é a busca por melhorar seu potencial profissional de forma estratégica. Entretanto, ainda são poucos os profissionais aptos a incentivar o empreendedorismo no meio acadêmico. É necessário melhorar o diálogo entre esses dois mundos. “Afinal, empreender desde cedo é buscar estar um passo à frente na qualificação pessoal no mercado de trabalho”, conclui o estudante.


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Goiânia, maio de 2017

- EMPREENDEDORISMO -

EM BUSCA DA REALIZAÇÃO PROFISSIONAL de trabalho para além da área de formação REPORTAGEM Bruna Alecrim EDIÇÃO Wilton Moraes DIAGRAMAÇÃO Amanda Sales

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oncluir a universidade e seguir carreira na área de formação nem sempre é o caminho para se sentir realizado profissionalmente. Cada dia mais, as pessoas vêm criando coragem de admitir quando sua primeira escolha profissional não as satisfaz e, assim, lançam-se em novas áreas. Essa insatisfação e posterior mudança podem vir por inúmeros motivos, desde o ganho financeiro até a falta de identificação com a profissão. Um exemplo é a confeiteira Marília Calácio, formada em Publicidade e Propaganda. Ela atuou um ano no ramo da publicidade, mas não se sentia realizada na área. Foi quando admitiu que sua verdadeira paixão era a confeitaria. “Estaria triste sendo médica, publicitária ou engenheira. Acredito em dons e propósitos de vida, cada ser hu-

mano nasceu com um. O meu dom está na confeitaria”, conta. Quando questionada se há algum arrependimento por ter feito o curso de Publicidade e Propaganda, Marília diz que não. Apesar de não ter seguido carreira e nem pretender voltar a trabalhar na área, o que aprendeu na faculdade é muito útil na nova profissão. “Me ajuda na divulgação do meu trabalho, principalmente nas mídias digitais”. Ela conta ainda, que aprendeu a reconhecer seu público alvo e a se relacionar melhor com seus clientes. diferencial

ta socialmente, muitas vezes engessa o profissional. Ele se sente na obrigação de se manter em uma profissão somente porque é bom nela e possui reconhecimento. Entretanto, tal ocupação muitas vezes não o faz feliz e tampouco traz crescimento pessoal. “O sucesso não quer dizer que a pessoa vá ter felicidade”, é o que afirma a psicóloga Carla Miceli. A pessoa que muda de área profissional busca algo que se adeque às suas necessidades, sejam elas quais forem, melhor do que em sua antiga profissão. Quando há essa adequação, o profissional visualiza que o curso que fez, e que acabou não dando sequência profissionalmente, não representa um fracasso. “Pelo contrário, de repente foi uma oportunidade, um degrau que o possibilitou a conhecer coisas novas”, explica Carla.

fixar em uma cidade, Goiânia, Renata chegou à conclusão que o salário não valia a pena. Começou a trabalhar com encadernação artística e hoje participa semanalmente da Feira do Cerrado. “A psicologia me escolheu, mas tenho escolhido a encadernação artística e eu acho que foi uma escolha muito feliz, porque eu faço com muito amor”, explica a encadernadora. Assim como Marília, Renata diz que não se arrepende de maneira nenhuma de ter feito o curso de psicologia. “Eu acho que tenho um ponto a mais em comparação aos meus colegas de profissão atual, então creio que foi muito bom”. A encaderna-

possibilidades

Hoje, analisando, acho que foi uma mentira que contei para mim mesma ao longo dos cinco anos, para aguentar até o fim CAMILA BORGES Estudante de Direito Renata Machado é formada em Psicologia e deixou a profissão por causa do trabalho do marido, que exigia que mudassem de cidade frequentemente. Quando decidiram se

FRUSTRAÇÃO

dora completa dizendo que graças à graduação em Psicologia, consegue compreender o mercado e o consumidor mais facilmente. A obrigação pelo sucesso, imposFoto: Bruna Alecrim

Renata Machado expõe encadernação artística em feira aberta

A estudante de Direito, Camila Borges, está no último período de faculdade e já decidiu que não seguirá carreira. Ela conta que desde o primeiro dia percebeu que não era a área em que pretendia atuar, mas que continuou, pois acreditava que o diploma lhe traria mais segurança para tentar coisas novas no futuro. “Hoje, analisando, acho que foi uma mentira que contei para mim mesma ao longo dos cinco anos, para aguentar até o fim”, explica. Camila conta que encontra dificuldades com a família por ter escolhido não seguir carreira no Direito. “É bem difícil para eles aceitarem a minha decisão de não prestar o tão sonhado exame da ordem e não pensar em concursos públicos”. Ela conclui afirmando que ainda não sabe o que vai fazer após a graduação, mas espera que ao longo dos anos a família possa entender e apoiar sua escolha. Para Carla Miceli, “a nossa sociedade não é muito acostumada a mudanças, a lidar com o novo”. A psicóloga ainda explica que as pessoas que se arriscam com coisas novas, saem da ‘zona de conforto’ e tendem a ser mais criticadas. Ela afirma ainda que é preciso ter coragem para se arriscar em novas áreas, independente de diversos fatores, como a criação que a pessoa teve e os valores familiares. Existem famílias que lidam bem com a não ascensão na graduação. Em contrapartida, existem pessoas que se forçam a ficar na área de formação, pois sentem imensa dificuldade em lidar com situações novas e enfrentam dificuldades em arriscar.


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Goiânia, maio de 2017

- TRABALHO -

DO OUTRO LADO DA LINHA emprego LEVA jovens A BUSCAR O TELEMARKETING REPORTAGEM Aline Rodrigues e Emilly Viana Edição Amanda Calazans Diagramação Ana Carolina Petry

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estudante Jhemmylly Estevam não toma refrigerante há dois anos. A dieta, uma das heranças do diagnóstico após a demissão do emprego de operadora de telemarketing, inclui, ainda, trocar a coxinha pelo sanduíche natural. A ex-atendente adquiriu gastrite nervosa enquanto trabalhava na Brasil Center de Telecomunicações, em Goiânia, e afirma que comer durante os 20 minutos de pausa era um dos maiores desafios do trabalho. “Você leva dez minutos na fila só para esquentar a maldita marmita”, acrescenta. A pressão por produtividade no setor é razão não só de desconfortos gástricos mas também de inúmeras doenças ocupacionais, como a Perda Auditiva Induzida por Ruído (Pair). O uso do headset (fone de ouvido utilizado no atendimento) é aponta-

do pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) como um grande causador de danos irreversíveis para a audição. Para a médica clínica Marilene Lucinda, o ideal é que os atendentes façam uma pausa de dez minutos a cada hora trabalhada, mas poucas empresas respeitam a orientação. Em alguns callcenters, não é permitido nem pausas regulares para usar o banheiro ou beber água. “Isso também gera diversas complicações no sistema urinário, como infecções”, pontua. O problema atinge principalmente as mulheres, que representam mais de 70% da categoria. A maior parcela de trabalhadores na área de telemarketing é composta por jovens de 18 a 29 anos: eles são 84% dos mais de 1,5 milhão de operadores no país. “O que me atraiu na época foi que esse tipo de trabalho não requer experiência”, justifica Jhemmylly. A estudante, que recebia um salário mínimo para pagar o cursinho e prestar o vestibular para o curso de Direito, conta que tinha expectativas positivas ao conseguir a vaga. “Seis horas de jornada (de trabalho) parecia a solução para mim, e muitos amigos entraram comigo”, confirma. Patrick Kennedy, ex-operador pela empresa BRTCC (Brasil Telecom Callcenter) e estudante de Filosofia da UFG, também procurava pelo primeiro emprego quando entrou na área. O rapaz de 21 anos se interessou pela vaga de atendente principalmente pela pluralidade de perfis nos callcenters. Nas PAs – sigla que

F.S.LAWLIET

significa “ponto de atendimento”, os locais de operação dos atendentes também conhecidos como “cercadinhos” – da BRTCC, as vozes são diversas. Desde a comunidade LGBT a migrantes das regiões norte e nordeste, é possível ouvir um “Bom dia” carregado de sotaques e trejeitos. Já na iniciação aos protocolos de atendimento, os operadores entendem que o importante não é propriamente resolver os problemas dos clientes,

lícita ao ser feita por empresa especializada. No entanto, em março deste ano o Governo Federal alterou a legislação e aprovou a terceirização irrestrita. O ADEUS Muitos são os “legados” deixados pelo trabalho em telemarketing. A estudante de Direito da PUC Goiás Gabrielly Alves teve tendinite no pulso direito e contraiu problemas de imunidade, já

necessidade dE

Bom empregado é o que engana o cliente a continuar pagando pelo serviço sem usufruir Patrick Kennedy Ex-operador de telemarketing

mas contorná-los com simpatia. Apesar de não exigir experiência anterior, os contratados têm que aprender a usar cinco sistemas ao mesmo tempo e, em algumas manhãs das primeiras semanas do mês, lidar com mais de dez ligações em espera. Ao final do treinamento, os scripts devem estar na ponta da língua e os atendentes com um sorriso na voz, “mesmo que o cliente te ofenda ou te assedie”. Negociações são raras. “Bom empregado é o que engana o cliente a continuar pagando pelo serviço sem usufruir”, revela Patrick Kennedy. A lista negra do Procon do último mês de novembro, com as empresas que mais receberam reclamações no estado, contém seis companhias de telefonia e três bancos. “Ambos são conhecidos por investir muito na contratação de planos e serviços, mas pouco em manutenção e telecomunicações”, aponta a gerente de atendimento ao consumidor do Procon Goiás, Rosânia Nunes. A primeira colocada da lista, a empresa Oi, utiliza o serviço de terceirização da BRTCC para realização de serviços na área, que emprega 30 mil pessoas direta ou indiretamente no estado. Para muitos profissionais da área jurídica, o telemarketing é uma atividade-fim, ligada diretamente ao serviço e, assim, deveria ser realizada pela própria empresa. “Grande parte das reclamações sobre telemarketing em Goiás está relacionada à terceirização ilícita do setor”, declara a gerente do Procon. Já as instituições alegam que a terceirização é

que o local de trabalho não era limpo com frequência. “Não houve assistência para nenhum desses problemas”, denuncia. Já para Patrick Kennedy, o maior dano é moral. “É impossível descansar depois de 180 atendimentos, o que reafirma o rótulo do callcenter como escravismo moderno”, expõe. Segundo Kennedy, o assédio moral, tanto vindo dos supervisores quanto de quem está do outro lado da linha, é constante, principalmente por machismo, LGBTfobia e xenofobia, e o empregado não tem respaldo da empresa. Jhemmylly Estevam conta que, ao contrário de outras empresas, a intimidade do momento da demissão nunca é preservada. As coisas acontecem lá no cercadinho mesmo. O supervisor chega e diz “Pegue suas coisas e devolva a chave do armário”. É a frase de libertação. Como em um ritual, naquele momento nada vem à cabeça: nem contas a pagar nem a mensalidade do cursinho. Só alívio. Os operadores aplaudem de pé. Hoje, ela está no quarto período da graduação, estagia na área de Direito e passa por tratamento psicológico por crise de ansiedade. Apesar de nem mesmo sonhar em trabalhar com telemarketing de novo, o irmão Michael Estevam segue o mesmo destino. Ele também está em seu primeiro emprego na Brasil Center e é responsável pelos custos do curso pré-vestibular. “Hoje é ele que me atende e diz ‘Bom dia, meu nome é Michael, como posso te ajudar?’”.


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Goiânia, maio de 2017

- POLÍTICA -

CASA DO POVO Foto: Reprodução

Análise panorâmica das últimas eleições municipais APONTA desigualdade

Reportagem Rafael Tomazeti Wilton Morais Edição Lucas Botelho Luciana Gomides Diagramação Pedro Ferreira único parlamentar que sequer completou o ensino fundamental. O número de vereadores que se autodeclaram de cor preta resume-se a dois dos 35 eleitos (5.7%). Apesar de parecer pouco, é o retrato da autodeclaração étnica da sociedade goianiense, na qual 5.6% se considera negra. Entretanto, a similaridade dos números não indica a equivalente representação da população negra. Para além do problema do racismo e autodeclaração, as pautas que contemplam esse grupo são escassas na Casa. Apesar da renovação de 63% nas cadeiras do Parlamento goianiense, alguns nomes, como Anselmo Pereira (PSDB) e Milton Mercez (PRP), já estão no oitavo e sétimo mandatos, respectivamente. Também chama atenção o caso de Zander Fábio (PSL), condenado a nove anos e seis meses de prisão em 2015 por peculato e que, mesmo assim foi reeleito para seu segundo mandato. Zander também é réu em processo por esquema de corrupção na extinta Companhia de Obras e Habitação de Goiânia (Comob).

Fontes dos gráficos: Tribunal Superior Eleitoral, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Câmara Municipal de Goiânia

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o dia 2 de outubro de 2016, quase um milhão de eleitores goianienses foram às urnas para escolher seus representantes no poder legislativo da Capital. Dos 35 eleitos, 22 estão em seu primeiro mandato e chegaram à Casa com a promessa de ser a voz daqueles que lhes confiaram o voto. Mas, será que isso traduz na prática? Ao analisar a composição da Câmara de Vereadores no primeiro quadriênio de 2017, nota-se que muitos setores da sociedade carecem de representatividade, especialmente o feminino. Apenas cinco mulheres, o que corresponde a 14% do total de eleitos, terão cadeiras no poder legislativo. Número intrigante, levando em conta que 52% da população goianiense é feminina. Na mais recente legislatura, a Câmara Municipal de Goiânia manterá o padrão das anteriores. Os parlamentares são, majoritariamente, homens brancos, casados, com idade entre 36 e 55 anos e com alto nível de escolaridade, em exceção de Jorge Kajuru (PRP). O político obteve a votação recorde de 37. 796 votos na capital, contudo, é o

Apesar de maioria da população, mulheres são pouco representadas na Câmara da Capital


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Goiânia, maio de 2017

- POLÍTICA -

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Padrão primeira-dama Foto: Lula Marques - AGPT

Foto: Antônio Cruz

ESTRATÉGIAS HETERONORMATIVAS E ASSISTENCIALISTAS voltaM aO cenÁRIO nacional

Reportagem Ludimila Pereira Edição Bruna Alecrim Natália Moura Diagramação Amanda França

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divisão social do trabalho estabeleceu um suposto “papel” de cada sujeito na sociedade. Estabeleceu uma ideia do que é ser homem, aquele que ocupa o espaço público, e o que é ser mulher, aquela que ocupa o espaço privado. O que arquiteta o imaginário de uma mulher do lar, uma dama de bons modos, que serve ao marido e cuida maternalmente de toda a família. Mesmo que representem 7 milhões de votos a mais, as mulheres ainda não têm representação proporcional a esse número no Parlamento. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2014, somente 11% dos cargos em disputa em todo o país ficaram com candidatas. No Congresso, a bancada feminina tinha 51 deputadas (9,94% das 513 cadeiras) e 13 senadoras (16% das 81 vagas). O primeiro-damismo e a participação da mulher na política brasileira se relacionam para naturalizar e nos fazer aceitar a mulher dentro de um “papel” inativo, inferior e de auxiliadora. “O primeiro damismo, e a volta dele ao Brasil, faz parte de todo processo de ódio que levou ao impeachment da presidenta e a queda de eleições de mulheres em cargos públicos e políticos partidários, demonstrando o sexismo arraigado socialmente.” destaca Elis Oliveira. RETROCESSO Pela 36° vez nos deparamos, no Brasil, com a figura de uma primeira-dama branca e de classe alta. Marcela Temer se tornou conhecida ao contrapor a performance da primeira presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, que ocupava lugar de poder máximo federal e rompia a tradicional divisão sexual do trabalho. O que incomodou muitos conservadoristas que a

Dilma Rousseff e Marcela Temer: dois opostos do papel da mulher na política brasileira viam como incapaz de administrar um país por ser mulher. Não se é destinado à primeiradama um cargo oficial e nem salário. Culturalmente, porém, sua imagem vem sendo construída como aquela que se voluntaria a realizar funções na área social, tratando de questões que o presidente “não tem tempo” para realizar. Um papel de assistencialismo, como uma ajuda aos mais necessitados, proporcionado pelo governo, via primeira-dama. “O primeiro-damismo reflete um padrão bastante tradicional e conservador que confere às mulheres atividades tidas como menos importantes que a dos homens, a disseminação de um ideal romântico burguês no qual a mulher deve se dedicar aos cuidados dos outros, apresentar uma aparência de serenidade e aceitação” ressalta Kelly Cristiny, mestranda em educação e feminista. Praticar assistência social vai muito além de uma ajuda imediata, é uma interferência por políticas públicas que visam acompanhar determinados sujeitos a terem acesso aos seus direitos fundamentais e a integração social. O que o tradicionalismo da primeira-dama, como a Marcela Temer, tenta fazer é nada mais do que se apropriar do que já é de direito de todos, e obrigação do Estado, para propagar uma boa imagem do governo como aquele que “ajuda o povo”. Sem histórico com causas sociais, Marcela é reconhecida pela mídia nacional e internacional devido à beleza e à grande diferença de idade com Michel Temer, 43 anos mais velho. A primeira-dama lança em 2016 o programa “Criança Feliz”, com o objetivo de promover assistência médica e psicológica a crianças carentes de 0 a 3 anos.

“Essa medida significa a ruptura com o processo de amadurecimento de um sistema público de proteção social, universal e acessível a todos os cidadãos brasileiros. Cuidar dos pobres volta a ser hobby de primeiras-damas” afirma Ieda Castro, exSecretária Nacional de Assistência Social no governo Dilma Rousseff. Segundo Elis Oliveira, outro problema do primeiro-damismo é o nepotismo. Sendo uma atuação em causas políticas sociais, ela precisa ser designada a um profissional com o devido registro. “Buscamos romper o ‘primeiro-damismo’, convencendo os gestores que a Assistência Social deve ser conduzida por alguém que entenda efetivamente. É preciso profissionalizar a Assistência Social”, defende Ieda Castro na atuação do governo de Dilma. RESISTÊNCIA A antiga primeira–dama, Marisa Letícia durante o mandato de seu esposo, o ex-presidente Lula, preferiu não se envolver em programas sociais e recebeu críticas por isso. Ela representa uma quebra da tradicionalidade de posição inerte e coadjuvante e assume uma participação ativa junto ao governo. Marisa se posiciona de forma diferente do costume e aponta novos rumos longe do reducionismo do “papel de primeira-dama”. Dilma Rousseff também constitui esse percurso de igualdade de gênero no poder legislativo e contrariou a dominação masculina no congresso ao se tornar a primeira presidenta do Brasil eleita democraticamente. Para Ieda Castro, ter Dilma no poder era “garantir a ruptura de toda aquela mentalidade retrógrada. Será um fato inovador romper com a ideia de que mulher só faz caridade e não política pública”.

AUSÊNCIA Se a ausência de mulheres no âmbito político ativo é um fato, maior ausência encontramos quando voltamos nosso olhar as mulheres negras no Brasil. Em 2016, mesmo compondo cerca de um quarto da população, as mulheres negras não chegaram a 1% do total de candidaturas para prefeitura. Das 493.534 candidaturas em todo o Brasil para o cargo de vereador(a), 156.317 candidaturas eram do sexo feminino, mas apenas 14,2% (70.265) eram de mulheres negras. No Brasil, ainda não se tem evidências de primeiras-damas negras, no entanto, em cenário internacional se destaca Michelle Obama, primeira-dama negra dos Estados Unidos da América. Michelle também fugiu do padrão e ampliou sua visibilidade, saindo da sombra do presidente Barack Obama e agindo ativamente junto a ele nas decisões políticas. Embora considerada um ícone de estilo e dona de discursos engajados, Michelle não conseguiu se esquivar do preconceito e das críticas. Logo após a eleição de Donald Trump, o comentário de Pamela Taylor, representante de uma instituição sem fins lucrativos no condado de Clay, viralizou no Facebook ao dizer: “Será revigorante ter uma primeira-dama elegante, bonita e digna na Casa Branca. Estou cansada de ver uma macaca de salto alto”. Com um cenário agravante de ausência de representação da maioria da população no legislativo, a habitual imagem da mulher na política não representa a realidade de diversas mulheres brasileiras. “Principalmente a mulher negra, que tem que lidar com o racismo e machismo diariamente, e que constrói trajetórias e identidades de maneira muito peculiar comparada as mulheres brancas”, conclui Érika. Além de enfrentar a barreira de gênero, as mulheres negras ainda enfrentam o racismo.


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Goiânia, maio de 2017

- SAÚDE -

VANTAGENS E PERIGOS DA P Foto: Ascom - UFG

GINECOLOGISTA TIRA DÚVIDAS SOBRE MÉTODOS ANTICONCEPCIONAIS

SAMAMBAIA: Quais exames podem ser feitos para diminuir esses riscos? FINOTTI: Se a mulher tem um antecedente familiar, ou mesmo pessoal de já ter tido algum evento tromboembólico, justifica o médico fazer uma série de testes hematológicos procurando se ela tem alguma alteração. No entanto, uma paciente que não tem antecedentes, e que não tenha outros fatores de risco para o tromboembolismo, não tem indicação para esses exames. Vale lembrar que o sedentarismo, tabagismo, obesidade, hipertensão e diabetes também são fatores que favorecem o desenvolvimento da doença.

Reportagem Ludmilla Lobo Edição Fausto André Diagramação Gustavo Motta

Marta Franco Finotti, doutora em pesquisa clínica com fármacos

Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. SAMAMBAIA: A pílula ainda é considerada como um dos métodos mais eficientes para prevenir a gravidez? FINOTTI: Existem outros meios reversíveis mais eficazes de prevenir a gravidez, como o DIU. No entanto, a pílula ainda é um dos contraceptivos mais utilizados no mundo por mulheres sexualmente ativas. SAMAMBAIA: Por que muitas mulheres começaram a rejeitar o uso da pílula?

erada como um remédio seguro? FINOTTI: Sim, por evitar a gravidez, a mulher está correndo um risco muito menor de desenvolver o tromboembolismo. Não tem nada que aumente tanto a chance da mulher ter essa doença, quanto o ciclo gravídico puerperal, que é a gravidez e os primeiros 42 dias do período pós-parto. SAMAMBAIA: Os diagnósticos apresentados como consequência do uso da pílula são provocados por uma prédisposição genética? FINOTTI: O tromboembolismo pode

Pare de tomar a pílula, porque ela não deixa nosso filho nascer.” O refrão da música “Uma vida só” do cantor e escritor goiano Odair José, lançada em 1973, mostra que a discussão sobre o uso da pílula anticoncepcional persiste há várias décadas. O remédio contraceptivo é tema de músicas, protestos e controvérsias desde sua legalização em 1960 nos Estados Unidos, e sua comercialização em 1962 no Brasil. Assim, sua eficácia e efeitos colaterais voltaram a ser questionados entre mulheres, médicos, e a indústria farmacêutica. A pílula tradicional, denominada como Contraceptivo Oral Combinado, une dois hormônios sintéticos que reproduzem a ação dos hormônios progesterona e estrogênio, que já existem no organismo feminino em níveis mais baixos. Quando tomada regularmente, de acordo com a indicação do médico ginecologista, a pílula é absorvida pelo intestino, passa para a corrente sanguínea, agindo então na hipófise e nos ovários, impedindo a ovulação. O anticoncepcional também faz com que o muco do colo uterino se torne mais espesso, dificultando a passagem de espermatozoides. Com o passar dos anos, o mercado dos fármacos apresentou outras formas de contraceptivos orais, como a minipílula, que contém apenas a substância química progestágeno (como é chamado o hormônio sintético que imita a progesterona, que é produzida naturalmente). A minipílula é um medicamento seguro para lactantes que queiram evitar uma nova gravidez. Existem pílulas de uso contínuo, sem a pausa para a menstruação, e pílulas de 21 e 28 dias, com pausa para menstruação, com dias definidos de acordo com a cartela. Para entender um pouco mais sobre o uso da pílula e suas consequências, a equipe de reportagem do Jornal Samambaia conversou com a Dra. Marta Franco Finotti, que é ginecologista e doutora em Pesquisa Clínica com Fármacos pela UFG, além de ser Presidente da Comissão Nacional Especializada em Anticoncepção da

iste uma contraindicação do uso em pessoas que já tiveram casos de tromboembolismo na família, ou já tiveram a doença. Essas pacientes precisam de uma investigação mais detalhada para saber qual tipo de contraceptivo não hormonal é o mais indicado.

Os benefícios vão muito além dos riscos, a pílula tem mais de 100 milhões de usuárias por todo o mundo, e ainda é considerado um método contraceptivo muito bom

FINOTTI: Algumas mulheres criaram grupos e divulgaram vídeos na internet como uma espécie de “alerta” sobre o uso do medicamento. Esses vídeos que falavam sobre doenças como o tromboembolismo, criou um pânico entre as usuárias do medicamento. SAMABAIA: A pílula ainda é consid-

acontecer com qualquer pessoa, mas a pessoa que tem pré-disposição hereditária a doença tem um risco maior. Enquanto as pessoas que não tem pré-disposição tem um risco que varia de duas até quatro vezes de ter a doença, os que têm um fator hereditário aumentam em 35 vezes o risco. Nesses casos ex-

SAMAMBAIA: Algumas mulheres utilizam a pílula por motivos que vão além da prevenção da gravidez. Nesses casos a pílula ainda pode ser chamada de “amiga”? FINOTTI: Sim, a pílula anticoncepcional tem muitos benefícios não contraceptivos, como a diminuição sintomas da tensão pré-menstrual, como cólicas, além de proteger a mulher contra várias doenças benignas da mama, como cistos e outras alterações. A pílula também diminui o risco de câncer do endométrio, câncer do intestino, assim como o câncer de ovário. Outro uso da pílula é a prevenção e o tratamento da endometriose. Para as pacientes que têm um sangramento menstrual muito intenso, causando anemia, a pílula ajuda a diminuir a menstruação, além de regular o ciclo menstrual. Em tratamentos de pele, a pílula é utilizada para reduzir a oleosidade, e em consequência ocorre à diminuição da acne. SAMAMBAIA: As pílulas atuais causam ganho de peso ou alteram o comportamento da mulher? FINOTTI: Não, já está comprovado por meio de trabalhos com um grande número de pacientes do mundo inteiro que a pílula não faz ganhar peso. Algumas pacientes obtêm melhoras nos sintomas da TPM utilizando a pílula, outras têm sintomas de alteração de humor, ou podem ter sintomas colaterais, como náuseas ou enjoos por conta do uso da pílula, porém a grande maioria tem consequências favoráveis pelo uso do medicamento. SAMAMBAIA: E quanto às mulheres que querem ganhar massa magra


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- SAÚDE -

PÍLULA ALERTAM USUÁRIAS

SAMAMBAIA: Os benefícios da pílula superam os riscos que a mulher sofre ao utilizar o medicamento? FINOTTI: Os benefícios vão muito

além dos riscos, a pílula tem mais de 100 milhões de usuárias por todo o mundo, e ainda é considerado um método contraceptivo muito bom. No entanto, a paciente deve ser orientada ao utilizar o medicamento, pois o que não pode acontecer é ela usar a pílula que a vizinha toma, ou a pílula que o balconista da farmácia indica, já que a chance dessa mulher ter uma complicação é grande. Por isso a importância da consulta com um médico, que avalia com ela se esse é o melhor método e receita a pílula mais adequada de acordo com a idade, e com os casos em que esse medicamento pode ser associado. Assim, a usuária da pílula terá uma segurança muito grande ao usar a pílula e evitar a gravidez não desejada, que traz muito mais consequências na vida dela. SAMABAIA: Em sua opinião, houve

O MAL REAL DO TROMBOEMBOLISMO O tromboembolismo venoso é a combinação da trombose venosa profunda e embolia pulmonar. A trombose é a formação de coágulos nas veias profundas e a embolia pulmonar é a obstrução de artérias do pulmão por conta desses coágulos. Esta doença é decorrente de uma gama bastante diversa de condições, podendo ser congênitas ou adquiridas. Alguns dos fatores de risco para seu desenvolvimento incluem cirurgias e traumas, a idade, obesidade e câncer. A combinação de doenças, considerada de alto risco, deve ter tratamento único. Caso contrário, pode levar a óbito. Alguns de seus sintomas são acessos de calor e dor, vermelhidão, endurecimento do tecido subcutâneo, eczemas e rigidez na musculatura na região onde o trombo se formou. Seu tratamento se consiste em aliviar os sintomas agudos, evitar o aumento de coágulos e diminuir a morbidade da síndrome pós-trombótica, sendo indicado o uso de medicamentos intravenosos ou por via oral.

um pânico generalizado sobre o uso da pílula por conta do que foi divulgado na internet? FINOTTI: Sim, houve um pânico que só trouxe prejuízo. Muitas pacientes, com medo, pararam de tomar o anticoncepcional, algumas engravidaram e estão sofrendo as consequências de uma gravidez não planejada. Existem outras maneiras de esclarecer a popuFoto: Reprodução

SAMAMBAIA: E a pílula masculina? Tem previsão de quando entrará no mercado? FINOTTI: A pílula masculina vem

O tromboembolismo pode acontecer com qualquer pessoa, mas a pessoa que tem pré-disposição hereditária a doença tem um risco maior

lação sobre os efeitos dos medicamentos, nós [médicos] discutimos esse assunto em congressos, sobre como abordar essas situações, mas nada comparado com esse terror que se criou na internet.

Aplicativo Hora da Pílula (Play Store)

medicamento diferente, ela tem que ligar para o ginecologista para saber se esse medicamento interage com a pílula, diminuindo a ação de um dos dois remédios.

através de dietas hipercalóricas e treinamento de hipertrofia, a pílula pode alterar seus resultados? FINOTTI: A pílula diminui a testosterona circulante, porque ela estimula a produção de uma proteína que se liga de forma muito intensa a esse hormônio, causando sua baixa. No entanto, essa diminuição é muito discreta, pois ela não consegue ter uma interferência na massa muscular de uma mulher que, por exemplo, faz exercícios em academia. Se a paciente, por algum motivo, percebe uma diminuição acentuada na libido por conta dessa ação na testosterona, aí sim ela precisa procurar um método não hormonal.

SAMAMBAIA: Quais cuidados devem ser tomados para evitar a perda dos benefícios da pílula? FINOTTI: A pílula deve ser tomada sempre no mesmo horário, porque o anticoncepcional oral tem uma meiavida, ou seja, um efeito de 24 horas, então quanto mais próximo à mulher tomar daquele horário regular, maior a eficácia do medicamento. Existem aplicativos de celular que emitem um alerta que lembra a usuária de tomar o comprimido no horário programado, e também marca os dias em que a pílula foi tomada. Além de usar regularmente e de não se esquecer de tomar o medicamento, a gente sempre orienta a dupla proteção, que é usar a camisinha, para evitar doenças sexualmente transmissíveis. Outro cuidado importante, é que quando a usuária da pílula for tomar algum antibiótico, ou

sendo pesquisada há um bom tempo. Já foram testadas algumas pílulas masculinas que não tiveram resultado satisfatório porque diminuíram a libido do homem, e com isso esses medicamentos foram abandonados. Existem várias outras pesquisas de vários métodos contraceptivos para o sexo masculino, não só na forma de pílula, mas na forma de gel que dá uma anticoncepção temporária, reversível. Atualmente, no entanto, não existe nenhuma pílula em uso comercial, apenas pesquisas. SAMAMBAIA: Em sua opinião, a pílula masculina seria uma forma de dividir a responsabilidade entre homens e mulheres na prevenção da gravidez? FINOTTI: A responsabilidade tem que ser dividida, mas eu acredito que por conta da nossa cultura, vai demorar um tempo para a mulher confiar que o homem está usando a pílula corretamente. Lógico que isso é algo muito individual de cada casal, mas inicialmente vai demorar para que essa confiança aconteça.


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- OCUPAÇÕES -

Pautas em Choque Tensão em assembleias mostra universidade dividida Reportagem Tiago Abreu Gustavo Motta Edição Larissa Ferraz Diagramação Domingas Inês

Não vai ter PEC, vai ter luta”. Esse foi um dos gritos mais pronunciados nos arredores da Universidade Federal de Goiás (UFG) desde que o processo de ocupações foi deflagrado na instituição, no último ano. Por trás de um lema repleto de convicções, houve várias nuances de dúvidas e incertezas vividas pelos estudantes – a favor e contra as ocupações – durante as assembleias. Naquela altura, as ocupações contra a PEC 241/55 ganharam territórios consideráveis. Movimentos contrários como o Desocupam UFG, se articularam com recursos judiciais e coleta de assinaturas. Ao mesmo tempo, uma assembleia de docentes foi anunciada para discutir um indicativo de greve. Três assembleias foram marcadas para traçar o futuro das ocupações. E parte considerável dos prédios do Campus Samambaia e Colemar Natal e Silva eram pontos do movimento, como, por exemplo, o Instituto de Matemática e Estatística, a Faculdade de Artes Visuais e a Faculdade de Nutrição. Em contrapartida, havia resistência ao movimento de ocupação em prédios específicos, como na Escola de Engenharia e na Faculdade de Medicina, no setor Universitário, ou no Instituto de Informática, no Samambaia, a maioria da comunidade acadêmica foi contrária. Já no campus Aparecida de Goiânia, não houve ocupação pela

falta de segurança no local. EMBATE O reitor da UFG, Orlando Amaral, convocou uma assembleia universitária para discutir os efeitos da PEC 241/55 onde estudantes, docentes e servidores da universidade assistiram a uma palestra do professor Nelson Cardoso Amaral acerca das consequências da PEC no orçamento da União e, consequentemente, na educação pública. Durante a fala do professor Flávio Alves, presidente da Associação dos Docentes da UFG (Adufg), sindicato que representa a categoria, parte do público o vaiou. As vaias vinham de um grupo formado majoritariamente por alunos favoráveis à ocupação. Os estudantes gritavam “pelego”, acusando a Adufg de ser submissa aos interesses do Governo. Em falas favoráveis aos ocupantes, por sua vez, aplausos tomavam o público. O clima de animosidade não se encerrou. Representantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE) tomaram a palavra. Nessa ocasião, contrariando o regimento, que dava a oportunidade de fala a apenas um membro do Diretório, três alunos subiram ao palco. Como a quantidade de representantes era maior do que o esperado, o tempo se esgotou. O clima era de incômodo. Os discursos se estendiam e o reitor pedia rapidez. O pedido foi o estopim da revolta. Os estudantes entraram em discussão direta com Orlando Amaral. “Mas a assembleia é estudantil!”, diziam os alunos. Orlando ponderava, alegando que a participação era prevista para toda a comunidade acadêmica, incluindo estudantes, servidores docentes e técnico-administrativos. “Aqui é uma assembleia universitária”. Após a confusão, o reitor cedeu. A tática era a via conciliadora. Aos estudantes, mais tempo para se pronunciarem. O ambiente estava pesado. Piorou na fala do público. Surgiu, em meio a cerca de 250 pessoas, um aluno vestido com uma camiseta estampada com uma foto do expresidente João Figueiredo, o último dos generais. A indignação foi tamanha. Não era possível que, em pleno regime demo-

crático, uma camiseta com os dizeres “Saudades Figueiredo!” ainda fizesse algum sentido. A rememoração de um período tão tenso da história nacional, o regime militar que durou de 1964 a 1985, mostrava a polaridade acirrada dos discursos: da ultradireita aos anarquistas. A cena foi rememorada por vários estudantes. NECESSIDADE No dia seguinte, uma assembleia estudantil estava programada. Ocorrida na Escola de Música e Artes Cênicas (Emac), houve atraso e preocupação com a segurança dos estudantes. Por isso, foram escolhidas dez pessoas para vigiar o local. Durante o dia, o evento reuniu cerca de cem pessoas, segundo Fábio Júnior, um dos responsáveis pela gestão do DCE, em entrevista à Rádio Universitária. Para contornar esses problemas, uma playlist em streaming no Spotify era executada. A fase ‘racional’ e das devoções religiosas de Tim Maia confluía em outras canções de ode às mulheres, como “Maria, Maria” de Milton Nascimento. A sequência, totalmente brasileira, foi interrompida pelo anúncio de uma nova sessão. Três pessoas responsáveis pelo DCE conduziram o processo e explicitaram, naquele momento, que eram contra a PEC 241/55. O estudante Davi Resende, do curso de Geologia, estava na assembleia. O aluno também visitou a ocupação na Faculdade de Ciências Sociais e afirmou que foi bem recebido e teve dúvidas esclarecidas quanto ao movimento. Uma aluna da Faculdade de Educação, que preferiu não se identificar, apontou que discentes de vários cursos, como Biologia e Química, se uniram para contribuir com a mobilização. “No Instituto de Física, por exemplo, estudantes de outros prédios têm ajudado com doações”. A rodada de falas foi, em maior parte, homogênea. Quando um estudante estrangeiro, contrário ao modo de operação das ocupações, se pronunciou, as respostas foram implacáveis. “O pessoal foi muito mal educado. Mesmo que ele não comparecesse às reuniões, aquele tipo de fala foi desestimulante. Não me pareceu algo correto”, ponderou Davi,

acerca das respostas dadas ao estudante depois de proferir suas opiniões. Uma aluna favorável às ocupações fez uma autocrítica ao movimento, afirmando que faltavam, ali, mais opiniões contrárias. Em seguida, uma representante do DCE foi categórica com a avaliação feita pela colega. “Pessoas como o Davi, que fazem uma pergunta pertinente, a gente discute e conversa. Mas fascista, não! Com fascista a gente não discute, a gente combate!”, ponderou. Davi discordou do argumento da jovem e considera que as pessoas não sabem o que é fascismo. “Opiniões diversas são boas, mesmo que contrárias aos pensamentos pessoais. Pelo que ouvi, o estudante usou uma camisa do Figueiredo, que é uma espécie de provocação. Mas tinha uma pessoa com camisa do Che Guevara na mesa. Porém, isso não é motivo para vaiar alguém. Liberdade é algo que não se deve negar a ninguém”, destacou. O silêncio dos contrários não era gratuito. Um jovem ligado ao Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR) falou por três vezes ao microfone. Embalado por um discurso de resistência contra as reintegrações de posse que poderiam chegar à universidade a qualquer momento, disse que os estudantes deveriam agir. Sua fala foi finalizada por aplausos da maior parte do público. Lucas Oliveira, estudante do curso de Engenharia Civil, até se sentia compelido a falar, mas sentiu que o ambiente não colaborava. “Depois que ele disse aquilo, eu decidi que não falaria mais nada. Como vou lá criticar a ocupação? Como faria isso, sendo que alguém ali acabou de mostrar que não está nem aí para o policial, que só está indo lá para cumprir o seu trabalho?”, questionou. Segundo ele, não surgiram visões contrárias porque os desfavoráveis se sentiam ameaçados. “O pessoal não se manifestou basicamente pela mais primária força de poder: o medo”, afirmou Davi, que citou a reação de incômodo, por parte do público, com o seu questionamento. “A grande força política existente contra a PEC no local era assustadora, além de falas agressivas. Se eu fosse a favor da PEC provavelmente teria sentido muito medo por estar lá”, disse ele. Foto: Lucas Oliveira


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- Política -

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“Ser de esquerda é lutar e defender a democracia” Foto: Ana Carolina Petry

posicionamento e contradições FAZEM PARTE DO MOVIMENTO no Brasil Reportagem Amanda Sales e Ana Carolina Petry Edição Ana Luiza Andrade e Juliana França Diagramação Eduarda Moreira

B

asta um rápido passeio pelas redes sociais para ver debates acalorados sobre políticas nos quais os defeitos do adversário são apontados sem piedade e com requintes de intolerância. Durante o processo de impeachment da presidenta eleita, Dilma Rousseff, internautas destilaram ódio ao Partido dos Trabalhadores (PT) e à própria, que é de esquerda. Nesse cenário, a esquerda é crucificada, e muitas vezes, por crimes que não cometeu. Para entender tamanho ódio, elaboramos uma enquete com o objetivo de descobrir o posicionamento político dos cidadãos e, sobretudo, o que eles sentem em relação à esquerda no Brasil. A pesquisa colheu a opinião de 108 pessoas em Goiânia e região metropolitana. DADOS Na pesquisa realizada, 75% dos entrevistados eram jovens de 15 a 25 anos. Isso significa que eles conhecem um recorte pequeno da esquerda que já passava por esse processo de estigmatização quando nasceram. Significa também que se esses 75% quiserem conhecer verdadeiramente a esquerda, vão precisar se submeter a um procedimento de pesquisa como nos propusemos. As respostas assustaram. Grande parte dos que se declaram contrários ou indiferentes à esquerda mostram posicionamentos radicais que desmerecem não somente qualquer partido ou governo esquerdista, como também aqueles que simpatizam com esse posicionamento político. A principal crítica que afasta as pessoas de partidos que se declaram socialistas/comunistas é a hipocrisia. Segundo seus opositores, os partidos de esquerda se comprometeriam em governar de modo mais limpo, mas acabariam sendo tão corruptos como a direita. Pesquisas provam o contrário. O dossiê “Políticos cassados por corrupção eleitoral”, divulgado para as eleições deste ano, mostra que 21 partidos tiveram políticos envolvidos em casos de corrupção. Destes, apenas dois eram de esquerda.

Mensagens de protesto nas paredes da Faculdade de História e Filosofia

O advogado e membro do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Luiz Carlos Orro, associa essa rejeição a quem não se identifica com os valores da direita e principalmente ao oligopólio dos meios de comunicação, que não veiculam discursos que não corroborem para o acúmulo de capital. Nas classes detentoras dos veículos de comunicação, “impera uma visão de mundo obtusa, arcaica” que sufoca a voz da esquerda. Aliado a esse fator, está uma visão que enxerga que os partidos de esquerda querem manter as mesmas propostas de quando surgiu o marxismo. Durante a pesquisa realizada para essa reportagem, um dos comentários que mais chamou atenção vai na contramão desse pensamento. “Acredito na perspectiva e nas finalidades da esquerda, principalmente quando se veicula seu discurso na forma democrática”. Para os entrevistados, os esquerdistas não querem uma ditadura comunista, mas uma democracia que tome de empréstimo os ideais da esquerda. Esses ideais dizem respeito, sobretudo à formas mais justas de promover igualdade e de lidar com as contradições de um país tão grande como o Brasil. Orro afirma que “ser de esquerda é lutar e defender a democracia em seu sentido mais amplo. Democracia política, mas também democracia econômica, onde todos tenham direito ao trabalho, moradia, educação, saúde, cultura, esporte e lazer”. Muitas pessoas associam a deturpação da ideologia de esquerda às más administrações do PT. De acordo com o cientista político Francisco Tavares, algumas das contradições em que o Partido dos Trabalhadores entrou nas suas últimas administrações podem ter influenciado no desgaste pelo qual o partido tem passado. “Apoio da bancada evangélica e promoção da paridade de gênero; garantia da reforma agrária; discurso de inclusão social e implementação de medidas supressivas de direitos sociais; ou tentativa de obtenção de apoio junto a indígenas e ambientalistas, em meio à construção de obras devastadoras, como Belo Monte,

apenas para obtenção de financiamento eleitoral”, citou Tavares. De acordo com o estudioso, essas ações fazem com que, muitas vezes, o Partido dos Trabalhadores se desvincule da esquerda. Tavares associa essas medidas ao caráter conciliatório do PT e conclui que as mesmas estão relacionadas ao longo processo de desgaste por associação pelo qual a esquerda tem passado. RESISTÊNCIA De acordo com a pesquisa realizada, 36,1% se identificam e se posicionam em relação à esquerda; 30,6% se identificam, mas não se posicionam; já 17,6% repudiam a esquerda. Grande parte das respostas deixou claro a consciência a respeito dos problemas e contradições que envolvem esse posicionamento político. Percebeu-se que o apoio esquerdista não é cego ou ingênuo. O fato é que, mesmo com as complicações, os entrevistados veem na esquerda uma forma de representação humanista, coletiva para a sociedade. Por isso, muitos jovens e movimentos sociais tem enxergado nela uma alternativa para o caos político dominante. Os partidos que mais ganharam filiados nos últimos 15 anos foram o Partido Verde (PV), o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Todos os três são de esquerda, o que nos levou a associar à juventude o processo de resistência. Jeferson Fragoso tem 20 anos, foi militante pela União da Juventude Socialista e recentemente se filiou ao PCdoB. O jovem, como tantos outros, conheceu a militância dentro da universidade. A juventude vê na esquerda um lugar em que as minorias se sentem representadas e podem dialogar de modo igualitário na busca de maior participação social. “A juventude brasileira já enxergou que a velha política do nosso país não é, e nunca foi eficiente. Queremos mais investimentos em educação, saúde, políticas públicas, tecnologia e sabemos que devemos ir às urnas, às ruas, a luta por um país melhor”, ponderou Fragoso.

Além da visão humanista do movimento, a esquerda também trabalha de forma a desenvolver projetos sociais e possui o pensamento na classe trabalhadora. Em geral, as propostas se constroem em defesa da democracia e igualdade social. “Eu estava denunciando essa repressão toda quando me cercaram – uns doze policiais com baionetas, fuzis – me obrigando a entrar no camburão e me levaram para o Departamento de ordem Política e Social (DOPS). Estavam lá vários operários sendo espancados depois de presos e algemados”, relata Orro sobre seu período de militância durante a ditadura militar, aos 21 anos. Hoje, aos 58, ele ainda defende os mesmos ideais, e não titubeia quando reafirma o compromisso da esquerda em lutar contra toda forma de opressão. HISTÓRICO O termo esquerda surgiu em meio ao cenário da Revolução Francesa e designava o lado esquerdo do salão da Assembleia dos Estados Gerais, ao qual se dirigia quem era contra as decisões do rei. Com o tempo, o lado esquerdo e o lado direito foram constituindo, respectivamente, posicionamentos políticos, revolucionários e conservadores. O emblemático termo “esquerda” e seu significado sofreram mudanças ao longo do desenvolvimento político do mundo. Por isso, no cenário atual, a esquerda é mais bem representada se falarmos em uma pluralidade de esquerdas e não associarmos a algo único e estático. O cientista político, Francisco Tavares, diz que se o posicionamento político de esquerda realmente surgiu entre classes não-proprietárias e oprimidas, atualmente é impossível alinhar a esquerda com algum grupo ou classe específico. Afinal, as forças políticas não interagem sozinhas, e segundo o doutor em educação, Antônio da Silva, no artigo Esboço sobre a história da esquerda no Brasil, elas se conectam com os contextos históricos, sociais, políticos, econômicos e culturais de cada época. Em função disso, denominar a esquerda de comunista, socialista, “petralha” e tantos outros nomes que a extrema direita costuma associar, é um tanto quanto equivocado. O primeiro partido de esquerda do Brasil foi o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) fundado em 1922 como um partido de oposição. E, como todo tipo de partido de oposição, foi criticado e desacreditado para evitar que as pessoas apoiassem e se filiassem. O PCdoB seguiu intacto como referência de esquerda até 1956, quando a chegada de outros ideais relacionados ao comunismo abalou a homogeneidade dentro do próprio partido e ele passou por sua primeira cisão. A partir desse desmembramento surge o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e demais grupos de esquerda, que se tornaram cada vez mais comuns e mais fragmentados.


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- COMPORTAMENTO -

BELEZA ALÉM Maquiagem TRANSCENDE ESTÉTICA, envolve SAÚDe E AFETA A AUTOESTIMA Reportagem Cláudia Castro Edição Amanda Sales Diagramação Matheus Cruvinel

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CORREÇÃO Aquele defeitinho que ninguém percebe aquela espinha vermelhinha no queixo que todo mundo já teve, mas que por algum motivo, causa constrangimento, e as olheiras, bem, elas devem ser escondidas sempre. E só de pensar que alguém está observando esses detalhes, já é motivo pra insegurança. É assim que Ana Elisa Ribeiro sente quando sai de casa sem nenhuma maquiagem, como se todos estivessem

Ensaio fotográfico destaca o quanto a estética ofusca a naturalidade feminina

olhando exatamente para “aquela pequena imperfeição que só eu vejo”. É essa busca por uma pele perfeita, pelos cílios mais longos, uma sobrancelha bem desenhada que leva tantas meninas e mulheres a se apegarem tanto aos cosméticos. Para Polyanne Ferreira, maquiadora e professora no SENAC é “quase que impossível pensar em auto-estima e não pensar em maquiagem”. Já Bia Cardin, fotógrafa profissional e também design e editora de imagem, discorda, ela acredita que “as mulheres precisam olhar mais para si mesmas e enxergar a beleza que reside debaixo da maquiagem. Em cada assimetria e marca de expressão tem um encanto único e é importante entender isso porque passamos a nos ver mais bonitas”. Muitas mulheres renunciaram o uso da maquiagem. Dayse Prattes, costumava se maquiar todos os

li mesmo do lado de fora, antes de abrir a porta, já é possível ouvir os burburinhos de conversa e risadas. Logo ao entrar, o cheiro característico de sprays fixador, acetona e um leve odor de cabelo queimado. O barulho do secador se mistura com entusiasmo e esse cenário compõe o estúdio de beleza Luana de Paula. Dentro do estabelecimento, além de Polyanne, Jéssica trabalha no design de sobrancelha de Jane e a Rose fica atrás do balcão, atendendo o telefone e marcando o horário de outras clientes. Tudo isso faz parte da rotina delas e de muitas outras mulheres. É o que diz a pesquisa, do Instituto Data Popular de 2013, que aponta que 32,2 milhões de mulheres vão ao salão mensalmente. Mas o cuidado com a beleza faz parte do cotidiano de muitas mulheres. Em uma enquete realizada das 160 entrevistadas, 80 afirmaram só sair de casa maquiadas, enquanto outras 29 admitiram só saem sem maquiagem se for para algum lugar perto de casa, como a academia ou padaria. Apenas 51 disseram que ficam em público tranquilamente sem maquiagem.

Debaixo de toda maquiagem reside uma beleza esperando para ser descoberta Bia Cardin fotógrafa profissional e editora de imagem

dias, “não saia nem no portão sem maquiagem. No começo de 2015, passei por um período difícil, aí relaxei total, ia prWo trabalho, faculdade e etc sem nada”, conta ela. Mas esse período “relaxado” foi essencial para que ela se aceitasse, “na época eu achava ruim, mas foi totalmente positivo, pois me trouxe essa libertação, e o feminismo também ajudou muito a entender que eu devo usar quando eu quiser e não porque preciso disso para as pessoas me acharem bonita”, finalizou.

EXIGÊNCIA Segundo um estudo da Universidade de Chicago, feito no início de 2016, homens e mulheres considerados bonitos ganham 23% a mais que pessoas de aparência mediana. Os pesquisadores analisaram o salário de 14.600 mulheres e homens e compararam esses dados com as notas dos entrevistadores, que avaliavam o quanto os participantes eram atraentes e bem cuidados. O diferencial é que no quesito beleza e cuidado pessoal, a diferença salarial era maior entre as mulheres,


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- COMPORTAMENTO -

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DA MÁSCARA Foto: Bia Cardin

Jéssica Freitas existem vários pontos em que ela pode ser prejudicial. “Por exemplo a base, ela tampa os poros, não deixa a pele respirar. Isso acarreta em pele oleosa, porque a pele terá que produzir mais sebo, faz aparecer acnes. E podem ser muito alérgicos a determinadas pessoas, e ninguém olha isso”, completa ela. A jovem Lara Junqueira percebeu isso quando começou a se maquiar com muita frequência. Ela relata que “os produtos pioraram muito a minha pele, porque eu não tirava antes de dormir, então foi ficando cada vez pior e aí eu usava ainda mais maquiagem para cobrir”, criando assim, um círculo viciante. A esteticista licenciada e especialista em acne, Daniela Ferri, explicou, no site familia.com.br, as consequências de dormir com maquiagem e como as rugas se formam, segundo ela “uma ruga é a pele dobrada formando uma vala onde costumava existir proteínas embaixo e que não existem mais. A maquiagem contém substâncias que

entopem os poros no segundo em que é aplicada, se ela ficar na pele a noite toda ocorre uma mistura do suor natural da pele com o óleo da maquiagem criando mais substâncias para entrarem nos poros. Então, doramir com a maquiagem causa irritação nos olhos, fazendo você coçá-los. Coçando-os causa inflamação e consequentemente as rugas.”. A esteticista Jéssica Freitas também destaca a importância de observar os componentes dos produtos. Uma pesquisa realizada na Universidade da Califórnia analisou 32 brilhos e batons labiais comumente encontrado nos Estados Unidos e descobriu 24 deles continham metais que podem ser tóxicos à saúde, como chumbo, cádmio, cromo e alumínio. AUTOESTIMA A autoestima é uma peça fundamental para a saúde mental de uma pessoa, e de acordo com uma pesquisa feita pela marca de cosméticos Dove, 92% das mulheres e 60% das meninas brasileiras afirmaram abrir mão de praticar atividades importantes

na vida – como tentar entrar para um time ou clube, ou aproveitar a companhia de amigos ou pessoas queridas – quando se sentem insatisfeitas com a própria aparência. Se utilizada com cuidado e com os tratamentos necessários, a maquiagem se torna um acessório. Lara Junqueira ressalta que “a maquiagem é muito boa, é maravilhosa, tem dias que me maqueio, olho no espelho e penso ‘nossa que mulher linda’, mas eu também preciso me olhar no espelho sem maquiagem e pensar a mesma coisa”. Adriana Raysky diz “não me sinto insegura sem, eu apenas gosto do processo de fazer a maquiagem, de me maquiar, a maquiagem é mais um hobbie do que uma necessidade”. A maquiadora Polyane Ferreira lembra que “nos melhores dias da nossa vida, seja casamento, uma formatura, um baile de 15 anos, a gente quer sempre estar bem maquiada. E eu acho que a escolha de uma boa maquiagem faz toda a diferença no nosso ego”, porém, como bem pontuou Bia, “debaixo de toda a maquiagem, reside uma beleza, a sua beleza, esperando para ser descoberta e explorada”.

PROJETO RESSALTA NATURALIDADE FEMININA

SAÚDE A insegurança não é único efeito colateral do uso frequente da maquiagem. De acordo com a esteticista

acontecer a sessão de fotos. Então apenas com uma conversa sobre a razão de estar ali, a fotógrafa já faz com que as inseguranças das meninas sejam esquecidas. Jaqueline Afonso define o ensaio como “suave, as fotos aconteceram sem pousar e a Bia conseguiu captar todo o meu ser, sem máscaras”. A experiência de se ver sem nenhuma máscara marcou a vida das garotas. Lara Junqueira se sente desconfortável com sua aparência desde a adolescência, ao ponto de, assim como muitas outras meninas, não conseguir sair de casa sem maquiagem. Mas quando conheceu o Elas como são, se desafiou a ficar um mês “de cara limpa”, ela venceu o desafio e aceitou participar do projeto. Ao ver o resultado das fotos Lara se sentiu muito mais confiante de que não precisa da maquiagem para estar bonita.

Foto: Arquivo Pessoal

estar refletia em um ganho maior para as mulheres do que para os homens. A pesquisa destaca ainda que o fenômeno é uma faca de dois gumes para a mulher, se ela pode conseguir ganhar mais com maquiagem e outros artifícios, isso não é só uma opção para ela – é obrigação. A vantagem salarial que era atribuída a beleza sumia, caso a mulher fosse “mal cuidada”, Nos homens, essa relação era bem mais diluída – o fator “beleza” só dependia 50% do cuidado pessoal. Se ser “relaxada” foi algo que libertou Dayse, estar “bem cuidada” é uma pressão que aprisiona muitas outras mulheres.

Foi exatamente por trabalhar corrigindo os rostos e corpos de mulheres para alcançar uma beleza pré estabelecida e surreal que Bia Cardin teve a ideia de criar o projeto “Elas como São”. A proposta é fazer ensaios com mulheres, de todas as idades, sem nenhuma maquiagem ou tratamento de pele pós edição. “Estou sempre trabalhando removendo algo das pessoas, amenizando traços de expressão, gordurinhas e em algum momento eu senti uma profunda necessidade de lidar com algo que fosse real, verdadeiro e que fosse aceito por ser apenas como é”, afirmou Bia. Estar em frente às câmeras pode parecer um pouco desconfortável no início, mas Bia fez questão de deixar as modelos totalmente confortáveis, são elas que escolhem o local onde vai

Fotógrafa Bia Cardin


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Goiânia, maio de 2017

- COTIDIANO -

Brechó não é coisa do passado Foto: Bruna Alecrim

A atitude DE REAPROVEITAR ROUPAS, ALÉM DE ECONÔMICA, CRIA UM NOVO ESTILO DE VIDA

Reportagem Bruna Alecrim Edição Ana Paula Holzbach Diagramação Fausto André

Q

Da direita para a esquerda: Isabella Marques, dona do brechó Capitonê, e sua amiga Sophia Rodrigues

uando falamos em brechó, a primeira imagem que a maioria das pessoas tem é a de um lugar escuro e empoeirado, cheio de roupas velhas e fedidas. Felizmente, nos últimos anos, essa ideia começou a sofrer uma transformação no imaginário coletivo e, aos poucos, os brechós estão sendo olhados com bons olhos. A mudança começou com o surgimento da plataforma virtual ‘Enjoei’. O site permite que qualquer pessoa compre e venda roupas e acessórios. O que o difere de outros sites desse tipo, como o Mercado Livre, é que ele investiu em um design atrativo e se focou no público jovem. A partir daí, o olhar para as roupas usadas começou mudar. É isso que conta a estudante Aline Carvalho. “O Enjoei foi legal, porque me fez desapegar de várias roupas ótimas que eu tinha e não usava”. Hoje, ela conta que não usa mais a plataforma porque prefere comprar e vender em brechós e bazares da cidade. Os brechós estão espalhados pela cidade há anos. O ‘Nova Alternativa’, localizado na Avenida Paranaíba, quase esquina com a Avenida Goiás, existe há cerca de duas décadas. Nília, gerente da loja há um ano, contou que ela mesma teve que desconstruir o preconceito com os brechós. “Eu tinha preconceito também, eu não sabia o que era brechó quando cheguei aqui. Mas a gente cria um amor tão grande que passa a usar só roupas deles”, revela. Assim como as lojas convencionais em galerias e shoppings, os brechós também possuem clientes fiéis.

Eu pensei em aumentar a vida útil dessa roupa, consertando e mostrando para as pessoas que essa peça é interessante Isabella Marques Estudante de Moda

“Tem gente que vem aqui toda semana e quando não temos produtos novos para oferecer, ficam zangadas comigo. Elas falam ‘Não venho mais aqui’, ou ‘Você não compra roupa da minha numeração! ‘”, conta Nília entre risadas. A gerente revela também o perfil de seus clientes: mulheres e pessoas da comunidade LGBT. “Esse pessoal corre do preconceito que sofrem em outras lojas e em casa, e vêm para cá. Eles vestem as roupas e desfilam aqui na

loja. Aqui tem essa liberdade“, explica. Nília relata que outro benefício visto pelas mulheres em comprar ali é o de poder trocar de guarda-roupa por um valor muito mais baixo, “Roupa de marca é mais barato aqui e a gente tem araras com descontos. De 4 peças por R$10,00, passa a ser até 6 peças pelo mesmo preço na promoção”, conta. Para Nília, a vantagem de se comprar em brechós está no preço e no atendimento. “As pessoas chegam aqui e nós não ficamos colocando pressão no cliente, igual nas lojas de shopping”. Ela afirma ainda que, para comprar em brechó tem que ter paciência e tempo. “Se você for procurar coisa boa, coisa interessante, você tem que ter tempo de mexer em todas as araras. Nos shoppings os atendentes não te deixam fazer isso”, explica. Isabella Marques, estudante de moda, é dona do brechó online ‘Capitonê’ há um ano. Ela conta que a ideia surgiu porque tinha uma preocupação muito grande com a quantidade de roupas que existem e a maneira como elas

são tratadas e descartadas. “Eu pensei em aumentar a vida útil dessa roupa, consertando e mostrando para as pessoas que essa peça é interessante“, explica. Atendendo um público majoritariamente feminino entre 18 e 24 anos, Isabella garimpa roupas em bazares beneficentes, em outros brechós, no próprio guardaroupa ou recebe doações de amigos. Antes de serem disponibilizadas no site, as roupas são lavadas e, aquelas que precisam, consertadas ou customizadas. No início do projeto, ela conta que parte do seu trabalho era o de conscientizar as pessoas. “Eu tinha que convencer as pessoas que uma roupa usada é tão boa quanto uma roupa nova, até melhor, porque você não cria mais impacto no mundo e ainda economiza“. Hoje, ela diz que a grande maioria de suas clientes já possui certa afinidade com o conceito de sustentabilidade e evitam comprar em grandes lojas de departamento. Ao ser questionada sobre a quantidade de vendas e clientes, ela afirma “Eu me surpreendi e continuo me surpreendendo, não só com a quantidade de clientes, mas também com o carinho que eu e o projeto recebemos”. De fato, a adaptação a essa nova cultura de reaproveitamento, sustentabilidade e economia tem garantido cada vez mais adeptos e espaço no mercado de roupas e acessórios.


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Goiânia, maio de 2017

- EDUCAÇÃO -

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“MÚSICA É UMA FORMA DE IDENTIFICAÇÃO” Foto: Juliana França

o ensino de conteúdos musicais na formação da personalidade das crianças

Reportagem Juliana França Edição Izabella Mendes Diagramação Stefany Vaz

“B

ang! Dei meu tiro certo em você, deixa que eu faço acontecer, tem que ser assim pra me acompanhar, pra chegar. Então vem...” E assim termina mais uma aula de música no Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (Cepae). Numa manhã fria e chuvosa de quinta-feira, os alunos do 4º ano do ensino fundamental aproveitaram o intervalo para ficar mais tempo na aconchegante sala de música. Telma de Oliveira, que há 22 anos é professora de música no Cepae, afirma que as crianças gostam muito das aulas, por mesclarem teoria e prática. A professora explica que essa é a segunda aula sobre funk, e que os próprios alunos, por meio de uma votação, escolheram a música de Anitta. “Nos anos inicias, eles entram no processo de musicalização e de alfabetização musical, agora começamos a estudar gêneros musicais”, afirma Telma.

Atenção das crianças em aula de música no Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada a Educação (CEPAE)

obrigatoriedade A Lei nº 11.769, sancionada em 18 de agosto de 2008, determina que a música deve ser conteúdo obrigatório em toda a educação básica, tanto em escolas públicas quanto privadas. O objetivo da Lei é desenvolver a sensibilidade, a criatividade e a integração dos alunos. Segundo Telma, as poucas escolas particulares cumprem a Lei, e as

Foto: Juliana França

escolas públicas, municipais e estaduais cumprem na medida do possível, já que existem muitas dificuldades para o cumprimento dessa lei por parte das escolas. “Nós temos aqui uma situação privilegiada, mas as outras escolas não têm isso, muitas vezes não tem nem mesmo uma sala específica de música e o instrumental necessário.” O profissional que trabalha com esse conteúdo precisa não só conhecer música, mas ouvir, tocar, cantar, relacionar-se com ela para alcançar uma vivência musical significativa fugindo das práticas mecânicas e estereotipadas tão comuns no ambiente escolar. Importância Telma explica que a música está muito presente na vida dos alunos, seja em casa, na escola ou na internet. “Então eles ficam mui-

to vulneráveis ao que a mídia divulga e nós precisamos oferecer possibilidades para que eles possam ter argumentos para escolher o que eles querem e o que não querem ouvir”, salienta a professora. Durante a aula a professora ensina às crianças qual importância de se estudar tudo o que está a nossa volta, inclusive a música. “Os vegetais estão a nossa volta, logo, é preciso entender os vegetais, qual a importância deles para nossa vida, como preservá-los e como lidar com esses alimentos que eu encontro diariamente”, exemplificou a professora. A música forma opinião e transforma hábitos. É uma maneira de identificação, não só gestual, ou de costumes, mas de pensamento, do modo de se ver o mundo. E quanto mais se conhece as especificidades dessa área do saber, melhor se lida com os variados gêneros, respeitando inclusive as diferenças.

[..] nós precisamos oferecer possibilidades para que eles possam ter argumentos para escolher o que eles querem e o que não querem ouvir

Telma de Oliveira Professora de música no Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação Professora Telma de Oliveira ministrando aula de educação musical


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Goiânia, maio de 2017

OLHARES

O Pindoba – Núcleo de Pesquisa em Comunicação e Diferença da UFG propôs, no dia internacional da mulher, um ensaio fotográfico com o tema “Mulheres da FIC (Faculdade de Informação e Comunicação)”. As fotos retratam estudantes e funcionárias em momentos de descontração, mostrando através de imagens a resiliência das mulheres ali presentes.

FOTOS: Iasmim Kudo TEXTO: Bruna Alecrim

RESILIÊNCIA (s.f) re-si-li-ên-ci-a; do lat. resilientia. É a capacidade de lidar com seus próprios problemas, encará-los de frente, sem ceder à pressão. É a habilidade de se adaptar às situações, adversidades.


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