DO CURSO DE JORNALISMO
O lado que cada jornalista escolhe Por Júnior Bueno
DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
GOIÂNIA, MAIO DE 2014
nº 066/ ANO XIV
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ARTIGO
Foto CAROL ALMEIDA
JORNAL LABORATÓRIO
CIDADES
ENERGIA QUE PREJUDICA Termoelétrica em zona urbana de Goiânia tira o sossego dos moradores COMPORTAMENTO
HOMEM COM H Saias ganham o guarda-roupa masculino: modismo ou política?
CIDADANIA BOLA NA TRAVE Brasil realiza Copa do Mundo mais cara da história e gera protesto nas ruas pg. 3
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Editores de Capa CIBELE PORTELA, MAGNO OLIVER, MURILO NASCENTE E RAFAEL MIRANDA Designers KAITO CAMPOS E VINÍCIUS DE MORAIS
EDUCAÇÃO
MUDANÇA EM PAUTA NOVAS DIRETRIZES DO MEC DESAFIAM ALUNOS E PROFESSORES DO CURSO DE JORNALISMO pg. 9
GOIÂNIA, MAIO DE 2014
- OPINIÃO -
SOBRE RIOS E MOINHOS DE VENTO
RUMOR Augusto Ramos
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Por AMANDA DAMASCENO, JÚNIOR BUENO E NATHÁLIA BARROS Designer e Ilustrador VINICIUS DE MORAIS
EDITORIAL
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filósofo grego Heráclito diz que ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontram as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou. Mudanças sempre trazem algo de bom, mesmo que decorram de dificuldades. O segredo é se permitir mudar junto. Esta edição marca o início de um novo caminho para o Samambaia. Dessa vez, além da renovação da equipe que acontece todos os semestres, também houve a reformulação da estrutura do jornal. Páginas maiores, coluna sobre cinema, novo ,,,projeto gráfico e editorial, todo esse processo de mudança trouxe uma nova cara para o jornal.
Mesmo assim, tudo continua mutável e vai mudar de acordo com as influências que cada pessoa - repórter, editor, diagramador – traz para o Samambaia e para o curso de Jornalismo, que também está passando por modificações estruturais. A matéria de capa aborda as mudanças que as novas Diretrizes Curriculares geram em todos os cursos de Jornalismo do país. Discutir a maneira de se fazer jornalismo é algo que deve ser feito sempre. Nessa edição nós analisamos o papel do jornalista e em cada matéria fica refletida a preocupação do Samambaia em atender antes de tudo os interesses da população. Um exemplo disso é a reportagem que começa na página quatro. Nela é possível perceber como o jornal se compromete a ouvir as diferentes vozes, não só para cumprir um ritual jornalístico, mas para entender como os protagonistas das notícias se sentem. Compreender que um fato vai além do que se relata, mas afeta todos os envolvidos. A matéria só atinge o leitor se antes tocar os personagens da matéria, os repórteres,
os fotógrafos e os editores. Os demais assuntos abordados nesta edição refletem bem este compromisso, porque é fundamental enxergar os vários ângulos até mesmo pra se mudar de perspectiva. Mesmo sendo o ser humano esta entidade em perpétua formação e por isso mutante, ainda temos princípios importantes para carregarmos, a nossa essência.
O Samambaia mudou, mas ainda mantém a sua essência. Érico Veríssimo disse que “quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento”. Nós esperamos encarar essas mudanças como oportunidades de crescimento e assim construirmos os nossos moinhos.
- CRÔNICA -
O L A D O Q U E C A D A J O R N A L I S TA E S C O L H E Por JÚNIOR BUENO* | Designer VINICIUS DE MORAIS
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o prefácio de Rota 66, Narciso Kalili descreveu o autor do livro, Caco Barcellos, como sendo “um jornalista que tem lado”. Nas palavras dele, o jornalista estava, desde sempre e não sozinho, do lado dos mais fracos, das vítimas, de quem não tinha voz. Essa definição desafia as características que o senso comum preconiza como sendo do bom jornalismo: neutralidade, imparcialidade, ética. Mas ter um lado, não implica – necessariamente – em abrir mão de todas estas coisas. O jornalismo frio, em cima do muro e que não se compromete, hoje habita o terreno das ideias, o muro caiu já faz tempo. No entanto, é triste notar
que o mercado prefira escolher o lado mais forte, calando, tornando invisível e negando o mais fraco. Um caso que ilustra bem essa escolha é o comentário de Rachel Sheherazade, âncora do Jonal do SBT, ao abordar uma notícia em que um adolescente, suspeito de furto, foi amarrado e torturado. A jornalista optou por fazer uma defesa dos agressores, chamados por ela de “cidadãos de bem” num discurso virulento sobre a falta de aparato policial. Considerações morais à parte, é saudável e recomendado que se separe um espaço para a opinião do veículo ou do jornalista. É, inclusive, um dever moral do veículo explicar de que lado está. Este texto que você lê agora, por
exemplo. Sheherazade não pode ser recriminada apenas por ter exercido seu direito de expressão. Porém esse direito não a isenta da responsabilidade pelo que diz, tampouco a autoriza a proferir um discurso que oprime, exclui e atenta contra os direitos humanos. Por outro lado, há quem confunda ter um lado com fazer um jornalismo de militância. Como ciência humana, o jornalismo, sobretudo no Brasil, é uma área muito recente. Ainda patinamos nas noções básicas do que pode ou não fazer um jornalista. Existem muitas definições, e juntas não conseguem dar conta do que é um jornalista. Mas é bom ter em mente o que o jornalista não é. Não é juiz, não é promotor, não
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FIC Ano XIV - Nº 66, Maio de 2014 Jornal Laboratório do curso de Jornalismo Faculdade de Informação e Comunicação Universidade Federal de Goiás
Orlando Afonso Valle do Amaral
Luciene Dias
REITOR
COORDENADORA GERAL DO SAMAMBAIA
Magno Medeiros
EDITOR DE DIAGRAMAÇÃO
DIRETOR DA FACULDADE DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
Edson Luiz Spenthof
COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO
Salvio Peixoto
é advogado, não é sacerdote, não é político, não é justiceiro, não é humorista. Um jornalista por si só não legisla, não executa, tampouco julga. Para nós, jornalistas em formação, é preciso saber que, como dizia Narciso Kalili, “o bom jornalista tem um lado”. Ter um lado implica separar o joio do trigo. Há os jornalistas que escolhem um lado e fazem dele seu norte. Há os que preferem navegar no raso, em nome de uma pretensa neutralidade. E há quem pareça ter escolhido um lado, mas apenas apresenta, em nome da audiência, das vendas, do clique, uma visão cínica do mundo com horizontes que não vão além de seus umbigos.
*Estudante de Jornalismo da UFG.
Alunos da disciplina Laboratório Orientado - Diagramação DIAGRAMAÇÃO
Kaito Campos
Alunos da disciplina Jornal Impresso II EDIÇÃO EXECUTIVA
Marco Faleiro, Kaito Campos e Vinícius de Morais
Alunos da disciplina Jornal Impresso I PRODUÇÃO
MONITOR
PROJETO GRÁFICO
Contato - Campus Samambaia | Goiânia-GO - CEP 74001-970 | Telefone: (62) 3521-1854 - email: samambaiamonitoria@gmail.com | Versão online no issuu.com/jornalsamambaia | Impressão pelo Cegraf/UFG - Tiragem de 500 exemplares
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- CIDADANIA -
PAÍS DO FUTEBOL PASSA A BOLA PARA O GOVERNO PROTESTOS DE RUA MOSTRAM QUE UMA BOA SELEÇÃO BRASILEIRA NÃO É O BASTANTE PARA OS ANSEIOS DA POPULAÇÃO Repórter NICOLE REIS Editor MURILO NASCENTE Designer CAROL ALMEIDA
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ão vai ter Copa. É essa a afirmação disseminada nas redes sociais por milhares de brasileiros que saem às ruas em atos públicos contrários ao maior evento futebolístico mundial. As manifestações, suscitadas por insatisfações sociais diversas, eclodiram com força em junho de 2013. A proximidade do grande acontecimento esportivo fornece novo impulso aos protestos. Os recursos excessivos aplicados pelo governo brasileiro em obras destinadas à Copa constituem um dos alvos da insatisfação. “Hoje alguns começam a entender a necessidade de analisar os gastos estatais a partir de uma perspectiva mais ampla e com participação popular”, afirma o professor de sociologia Nildo Viana. Agora, segundo o professor, a população abre os olhos para a necessidade de maiores reivindicações públicas. Os habitantes do país do futebol passam a bola para o poder público, e anseiam por investimentos em áreas prioritárias como saúde e educação. “Sem dúvida, a paixão
pelo futebol e o seu uso para garantir a ideia de uma ‘identidade nacional’, falsa e fabricada, ajuda a despolitizar a população, promovendo unidade onde existe conflito”, diz o sociólogo. A compreensão dos protestos como reflexos do amadurecimento político do povo brasileiro não constitui ponto de vista unânime. O outro lado desta moeda de análise social está representado pelo posicionamento do jornalista e servidor público, Helvécio Cardoso. De acordo com ele, a população não se mostrava contrária à Copa quando o país candidatou-se a sede. Os protestos se intensificaram, observa o jornalista, impulsionados “apenas pelo espírito de ser do contra ou pelo espírito de manada”. Já Isabel Franke, que cursa o último ano de Ciências Sociais na Unicamp, adverte sobre a importância de que sejam consideradas as manifestações ocorridas anteriormente. A estudante ressalta que os protestos de junho do ano passado foram precedidos por muitos movimentos sociais descontentes com as remoções e despejos nas periferias. Essas desocupações ocorreram em função das obras de infraestrutura para os jogos da Copa. Professora-militante no movimento de cursinhos populares, a graduanda em Ciências Sociais considera que as manifestações tenham um grande potencial de luta e que a expressão de insatisfação contra a Copa sirva de impulso para que outras demandas da população sejam levadas em conta pelas autoridades. Porém, a estudante questiona métodos empregados como forma de protesto e diz que é contraditório pagar por caros ingressos de jogos, para vaiar a presidente. “Será que os privilegiados, que podem entrar no estádio como torcedores e ‘protestar’, querem compartilhar a voz com os mais prejudicados, que têm se organi-
zado em coletivos e lutam para serem ouvidos?”. Ela acha que não. A ingenuidade das manifestações populares é ressaltada pelo professor Aguinaldo Lourenço Filho, servidor da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (Semel), em Goiânia. Segundo ele, os jovens são manipulados com muita facilidade e aqueles com maior poder persuasivo têm arrastado os menos conscientes acerca do panorama nacional. O servidor defende que, caso os manifestantes analisassem com maior profundidade o cenário brasileiro, veriam que nesse momento os efeitos da Copa do Mundo são salutares. DIVERGÊNCIAS Aguinaldo faz uma análise entusiástica das vantagens que a Copa irá proporcionar ao Brasil, alegando que os bônus do evento irão suplantar qualquer ônus verificado. O professor acredita que áreas como saúde, educação e acessibilidade urbana passarão por melhorias, impulsionadas pela necessidade do País, durante a Copa, em apresentar uma imagem positiva às outras nações. Ruy Rocha, presidente da Agência Goiana de Esporte e Lazer, garante que a Copa proporcionará desenvolvimento em áreas diversas, e que a população precisa se unir em apoio ao evento. O presidente alega que o povo está carente de patriotismo. Não é o que pensa Isabel Franke, para quem a Copa é importante apenas para uma minoria, que obterá lucros. O evento será promovido por uma federação mundial, cujos interesses correspondem aos de outros empresários, mas entram em conflito com necessidades e culturas locais. Em contraposição à visão defendida por Aguinaldo e Ruy Rocha, também está Nildo Viana, pessimista em
relação aos benefícios para o País. “Este tipo de investimento na infraestrutura não é o mais adequado para o processo industrial, produtivo, ou mesmo social. O interesse dos poderosos e ricos se sobrepõem à racionalidade e qualquer perspectiva de desenvolvimento nacional e bem estar social”, diz Nildo. Seja quais forem os vereditos acerca da validade de suas ações, os manifestantes não economizam gritos, faixas, mecanismos das redes sociais e força de vontade. Estes movimentos integram, ao mesmo tempo, táticas de luta pacíficas e violentas. O brado da população abrange anseios diversos, e os protestos podem se ver permeados por objetivos difusos e propostas superficiais, o que pode contribuir para enfraquecer as manifestações e atrair a antipatia da sociedade em relação a elas. Em música feita como homenagem ao antropólogo Darcy Ribeiro, o rapper Emicida apresenta uma nação de “um povo que tem como seu maior bem gritar gol”. Seja ou não a verdadeira paixão nacional, o futebol tem se destacado como receptora de recursos financeiros expressivos, mas mantém-se entre os últimos lugares do ranking mundial de educação. A graduanda em Ciências Sociais aponta o descaso público como causa desta disparidade: “Existe pouco investimento em áreas sociais porque não é vantajoso para as elites, tanto financeiras quanto políticas”. Amante do poder expressivo e libertador do futebol, a estudante de Ciências Sociais diz acreditar nos protestos de rua como maneira legítima de contestação e reivindicação por investimentos sociais. “Que a rua seja um lugar de formação política e que façam muito barulho!”, ela torce, dizendo-se esperançosa quanto ao resultados dos movimentos. E eles não cessam, apesar das repreensões.
GOIÂNIA FORA DA COPA E DENTRO DO MOVIMENTO SOCIAL
Foto: Carol A lmeida
Apesar de não estar entre as 12 capitais escolhidas como sedes dos jogos, Goiânia compõe a lista das localidades onde os protestos de rua têm se desenrolado com frequência. “Em comparação com os outros estados,
respeitando a especificidade da Copa do Mundo e Goiânia não ser sede, a mobilização da população goianiense é bastante expressiva, mostrando mais participação e ação do que muitos outros estados”, o sociólogo Nildo Viana confirma. Entre as manifestações que têm agitado a capital goiana, destacam-se as motivadas pela evidente debilidade do sistema de transporte público da cidade. Aguinaldo Lourenço acredita, porém, que o
serviço de transporte e a infraestrutura esportiva não constituíram critério da escolha das sedes. O professor alega que Goiânia estaria em desvantagem porque a capital federal foi elegida, não havendo necessidade que uma cidade próxima a ela também participasse. Quanto à continuidade dos protestos, Nildo afirma: “Essa politização avança e as questões sociais começam a ganhar maior atenção. E quanto mais se envolve e luta, maior é a tendência de crescer essa politização”. Esteja ou não ciente da vantagem da capital goiana, quanto à infraestrutura, em relação a outras cidades, os cidadãos não deixam de apontar os problemas vindicando soluções. (N.R.)
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- CIDADES -
GERADORES DE ENERGIA E DE INC DECIBÉIS ALÉM
(Aneel) e o Estado de Goiás para garantir imediatamente o fim da poluição ambiental causada pelo funcionamento da termoelétrica. Na ação do Ministério Público o promotor de Justiça Juliano de Barros Araújo, do Núcleo de Defesa do Meio Ambiente, pede a suspensão da licença ambiental emitida pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh). Para o promotor a propagação de poluição sonora da usina está acima dos limites estabelecidos por lei. Além disso, a ação pede para que a ONS e a Aneel não determinem o funcionamento da usina até que esteja comprovado em juízo que seu funcionamento não vai causar poluição sonora ou atmosférica. A ação o MP determina que a usina faça adequações acústicas para que não perturbe o sossego e qualidade de vida da polução vizinha. O promotor Juliano de Barros está de licença e quem reponde temporariamente por esse núcleo é o promotor Marcelo Fernandes. Ele explicou que a ação já está ajuizada e o Ministério Público aguarda o posicionamento do poder Judiciário.
DA CONTA DE TERMOELÉTRICA INSTALADA NA ZONA URBANA DE GOIÂNIA TIRAM SOSSEGO DE MORADORES Repórter VINICIUS MARQUES Editora KAMILA MONTEIRO Designer VINICIUS DE MORAIS
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Foto: Vinícius Marques
volta para casa depois de um dia de trabalho não é sinônimo de descanso para a funcionária pública Maria Auxiliadora Pires. Ela tem 62 anos e sempre que desce do ônibus e vai em direção à sua casa já começa a escutar o barulho dos motores da usina. “Esse barulho vem todinho aqui pra casa. É constante. Quando volto pra casa não tenho mais sossego, não tem como cochilar. Eu fecho as janelas, as portas, mas o barulho não tem fim. Eu vou ter é que levantar mais ainda o muro da minha casa pra ver se resolve”, reclama. O motivo da queixa dos moradores é a usina termoelétrica Xavantes, movida a óleo diesel e que funciona ao lado do Residencial Nossa Morada e bairros próximos. Os motores permanecem ligados durante todo o dia, estendendo até a madrugada, sem parar de fazer barulho. Quem também se incomoda com os ruídos emitidos pela usina é o contador Abinadabe Gomes dos Santos. Ele tem 52 anos e mora há quatro anos no bairro, convivendo com o barulho. “E não é só poluição sonora não, também é poluição do combustível que eles usam aí, fora os caminhões que sempre passam por aqui no bairro para abastecer a usina”, afirma.
Geradores de energia funcionam em tempo integral e moradores se queixam. O servidor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Pedro Rodrigues Cruz, 53 anos, mora no Nossa Morada desde 1989 e acompanha toda a situação bem de perto. Ele lembra que a usina foi instalada em 2002 para suprir o sistema energético do país, quando ocorreu o apagão na época do presidente Fernando Henrique Cardoso. Devido o incômodo provocado pela usina, Pedro informou que no ano passado foi feito um abaixo-assinado de 279 moradores que denunciam a propagação de ruídos. “A legislação é muito específica e a usina funciona fora dos limites permitidos”, afirma.
Já em fevereiro, os moradores do Nossa Morada e bairros próximos se reuniram e fizeram um protesto na porta da usina. Na ocasião o Ministério Público (MP) esteve presente e propôs uma ação civil pública ambiental contra a Usina Xavantes, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a Agência Nacional de Energia Elétrica
Sobre a emissão de ruídos acima do permitido, a usina se respalda em um Termo de Compromisso e Ajustamento de Condutas (TAC) no qual permite a emissão de ruídos de até 60 decibéis. Para o diretor jurídico da usina João Mattos, essa ação civil pública foi feita pelo mesmo Ministério Público que propôs o TAC. “O Ministério Público Federal também foi chamado para que opine sobre o que está acontecendo devido essa incongruência do Ministério Público Estadual”, afirma.
BAIXA OBRIGA GOVERNO A
ACIONAR TERMOELÉTRICAS
Foto: Google Maps
Proximidade da Usina e da área residencial aumenta ruído.
RESPALDO
As usinas termoelétricas são usadas para compensar o baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas, como explica o professor Enes Golçalves Marra da Escola de Engenharia Mecânica e de Computação da UFG. Elas são movidas a combustível como gás natural, carvão e óleo diesel, porém é um tipo de geração de energia mais cara e mais agressiva ao meio ambiente. Após a crise energética de 2001, o governo resolveu investir nas usinas termoelétricas para tentar solucionar a falta de abastecimento no País. Elas são instaladas em pontos estratégicos e
fazem parte do Sistema Interligado Nacional (SIN), como ilustra Gonçalves: “Nós temos uma matriz energética aqui no Brasil, então a ONS é um setor interligado. Você pode gerar energia no sul e ela pode ser consumida no centro-oeste.” Para o professor, a escassez das hidrelétricas levou ao acionamento frequente das termoelétricas. Ele avalia que no Brasil existe falta de planejamento a longo prazo em relação ao setor energético. “A demanda não cresceu e não atendeu o crescimento da sociedade”, esclarece. (V.M.)
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CÔMODO Porém, na ação do Ministério Público, o TAC, que autoriza a usina a produzir ruídos acima do que é permitido por lei, foi feito com a Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA). O abaixo-assinado dos moradores levou o MP a instaurar a ação civil pública ambiental. Na ação, estão detalhados os transtornos causados pela usina, além de laudos técnicos que comprovam o desrespeito da legislação ambiental quanto aos níveis de poluição gerados. João Mattos esclarece ainda que o funcionamento da termoelétrica não depende só da falta de chuvas. Ele explica que a ausência delas acarreta no racionamento das hidrelétricas que são as primeiras fontes da matriz energética a serem despacha-
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das. “Quando elas estão com os reservatórios vazios, as termoelétricas são acionadas, mas existem outros fatores como a alta de temperatura quando há uma demanda muito maior pelo consumo de energia”, esclarece. O assessor da termoelétrica, Maurício Ventura, informou que a usina está interligada ao Sistema Interligado Nacional (SIN), despachando toda a capacidade instalada conforme o contrato e que exerce um importante papel para a matriz energética. Ele informou ainda que foram feitas adequações recentes, como instalação de filtros e silenciadores nos geradores e instalação de muros com características acústicas e que a empresa realiza aferições frequentes dos ruídos emitidos.
OPINIÃO
A usina funciona como uma indústria, ela deveria ser afastada da área urbana. Esse lugar é impróprio.
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Contador
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ABINADABI SANTOS
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Eu já tenho 62 anos e estou buscando meus direito do idoso. Eu quero sossego. MARIA AUXILIADORA Funcionária Pública
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Nós não admitimos que a usina funcione no bairro do jeito que está. Isso é inadmissível. Servidor da UFG
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PEDRO CRUZ
Fotos: Vinícius Marques
Foto: Reprodução
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- COMUNIDADE -
ESTUDANTES APRENDEM O ABC DE COMER
PREJUDICA A ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL DE UNIVERSITÁRIOS SOBRECARREGADOS COM ESTUDO E EMPREGO Repórter MORGANA KELLY Editor MARCO FALEIRO Designer JÚNIOR OLIVEIRA
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Fotos: Morgana Kelly
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ara o jovem, conseguir dosar as atividades do cotidiano não é tarefa fácil. Alterações no estilo de vida refletem automaticamente nos hábitos alimentares da população, sendo o ingresso na universidade uma etapa com influência significativa na alimentação dos estudantes. Para a especialista em nutrição, Thaynara Cristina, a maioria dos universitários, que entra nessa nova etapa, tem uma modificação de toda sua rotina, o que resulta em um novo padrão alimentar, que, por muitas vezes, não é o ideal. Para o universitário, sempre surge uma dúvida: como conciliar os horários sem deixar pouco tempo para a alimentação e sem que ela se torne inconstante, já que o estudante procura por alimentos rápidos ou com valores mais consideráveis? O estudante de direito da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (Puc), Luis Fernando, relata: “Às vezes esqueço-me de almoçar. A correria é tanta aqui, que tenho aula até mesmo no horário do almoço”. O universitário conta que precisa conciliar sua grande carga
horária de estudos com o trabalho e, como mora longe da universidade, na maioria das vezes não tem tempo de fazer uma boa alimentação ao sair de casa e nem durante o dia. “Fico com constantes dores de cabeça, porque durante o dia como só ‘besteira’, faço isso para dar conta de tudo”, afirma. A especialista, Thaynara Cristina, afirma que o estudante não pode se esquecer da importância de comer a cada três horas e não pular refeições, seguindo um fracionamento de três refeições, que são o café da manhã, o almoço e o jantar e mais os dois lanches saudáveis no dia. A nutricionista assegura que o cuidado com a alimentação é uma das melhores formas de prevenção de doenças. E um aliado para que a vida dos universitários seja melhor é o exercício físico. A estudante de psicologia da Universidade Federal de Goiás, UFG, Stéfany Brito, diz que por estar no 9º período, começa a se
Correria do dia a dia prejudica a alimentação saudável entre estudantes. ma que, ao ingressar na faculdade, este público adquire maturidade e maior raciocínio crítico, o que deve ser usado a favor da alimentação.
Ao ingressar na faculdade, este público adquire maturidade e maior raciocínio crítico, o que deve ser usado a favor da alimentação. Thaynara Cristina Nutricionista
preocupar com sua alimentação. Na faculdade, insiste em comer frutas, barra de cereais e biscoitos. A estudante afirma que gosta das refeições dos Restaurantes Universitários, que são auxiliados com recursos da UFG. Mediante esse aspecto, a nutricionista, Thaynara Cristina, afir-
Devido a falta de tempo universitários optam por alimentação precária.
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CORRERIA DO DIA A DIA
A nutricionista diz ainda que as consequências da má alimentação inicialmente podem não ser percebidas em nossa saúde, mas já é possível identificar mudanças negativas no perfil nutricional da população brasileira em geral. Ela ressalta ainda que uma alimentação deficiente prejudica o rendimento acadêmico, pois o organismo precisa estar em equilíbrio para desenvolver suas funções da melhor maneira possível. “A alimentação saudável é fundamental para a saúde do corpo e da mente”, adverte Thaynara Cristina.
ALUNOS DEVEM FICAR ATENTOS AO SERVIÇO DE NUTRIÇÃO EM CASA E NA RUA O estudante do 7º período de ciências biológicas, da Universidade Federal de Goiás (UFG), Maycon Pereira, afirma que sente falta de mais auxílio para o aluno na hora da refeição. O aluno afirma que o Restaurante Universitário, que é o restaurante que tem subsídios da UFG, muitas das vezes fica lotado. Esse restaurante, para ele, tem as vantagens de ter uma comida aceitável e com um preço acessível, pois os outros restaurantes que não têm a ajuda da UFG são muito caros. “Muitos donos de restaurantes já repassaram o aumento dos preços dos alimentos, neste ano, aos consumidores”, essa afirmação
é do especialista em economia Alén Rodrigues, que diz também que aqueles que almoçam e fazem suas refeições fora de casa deverão pesquisar, pois existem alguns estabelecimentos que ainda não repassaram o aumento aos consumidores. Para o economista, os alunos que levam lanche ou almoço de casa precisam de algumas dicas importantes, como a substituição de produtos, as compras menores e a pesquisa constante. “Confira as ofertas da semana e, com o folheto nas mãos, saia em busca dos produtos mais baratos, levando apenas o que é necessário”, declara. (M.K.)
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-EDUCAÇÃO-
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ESTUDANTES DA UFG FALAM SOBRE EXPERIÊNCIAS QUE TIVERAM LONGE DE CASA Repórter FERNANDA GARCIA Editora LORENA DE SOUSA Designer ALEX MAIA
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uase sempre é mais interessante partir do que ficar. Isso para quem vai, naturalmente. O sujeito que parte leva o novo que o aguarda. Outra cidade, outras pessoas, outra universidade, outra casa, outras praças. Quem parte pode, na iminência do ato, estar prestes a viver os melhores momentos de sua vida. Foi o que aconteceu com a estudante do 7° período de Jornalismo da Universidade Federal de Goiás (UFG), Giuliane Alves, no ano passado. A aluna, desde seu ingresso na faculdade, desejava vivenciar essa experiência. Ir morar em outro país, embora encantador, parecia ser algo distante. Em sua caixa de entrada de e-mails, Giuliane identificou editais de seleção de intercambistas enviados pela UFG. Ao procurar por programas em que ela preenchesse os pré-requisitos, partir já não era tão inviável assim. “Para mim seria uma oportunidade de viajar e estudar única em minha vida”, disse. Destino: Cancún, México. Giuliane foi selecionada por meio de duas etapas, a primeira sendo provas de espanhol escrita e oral, e a segunda a análise de sua média global. A estudante contou, ainda, que lhe foi concedida uma bolsa-alimentação, além das passagens de avião e do direito de
morar no condomínio de estudantes da universidade que a receberia durante o segundo semestre de 2013, a Universidad del Caribe. Ficou sob sua responsabilidade a obtenção do passaporte e do seguro saúde, que é obrigatório para a participação em qualquer programa de intercâmbio. ADAPTAÇÃO
Quando Giuliane Alves descreve os mexicanos, tem-se a impressão de que a hospitalidade é mais um elemento que une nosso sangue latino-americano. Ela disse que foi muito bem recebida e amparada, apesar de ter sido a única intercambista que não tinha o espanhol como língua nativa na casa de estudantes onde morou com outras cinco alunas. “Senti dificuldade no começo, mas todos sempre tiveram muita paciência. Hoje, posso dizer que o que aprendi na prática em seis meses, eu não aprendi em dois anos de curso”, afirmou. A estudante declarou, ainda, que na casa de estudantes da Universidad del Caribe havia muitos estrangeiros, o que a ajudou a enfrentar os desafios de estar quase sozinha em um país diferente. Ela se recordou que onde morou “ninguém se conhecia, então aos poucos todos se tornaram muito amigos. Como não tínhamos família e nem nossos amigos lá, somente tínhamos uns aos outros, criamos laços de irmandade. Eles eram o apoio que eu tinha”. Em relação à Universidade del Caribe, Giuliane apontou que é uma instituição relativamente nova, com apenas 13 anos de história e cinco cursos. Apesar disso, garantiu que o ensino é excelente e os professores trazem em seus currículos formações em lugares renomados, como, por exemplo, a Universidade de Harvard. A estudante foi bastante ativa nestes seis meses de intercâmbio, permitin-
Foto: Acervo Pessoal
DAS VANTAGENS DE SER INTERCAMBISTA
Giuliane Alves (2ª à esq.) no estádio
do que a troca cultural fosse mútua. Ela participava das aulas de português no Centro de Línguas e montou um programa de rádio esportivo na Rádio UniCaribe. Sobre a experiência de estar em uma cidade tão turística como Cancún, a intercambista se sentiu muito em casa, embora o ritmo goianiense seja tão diferente. Hoje ela desenvolve um trabalho com intuito de relatar suas impressões sobre “o outro lado de Cancún, o que a mídia não mostra”. Giuliane quer voltar para lá “o mais rápido possível!”. A aluna confessou que até moraria em Cancún, mas seu plano agora é vivenciar o que aconteceu em outros lugares. PROCEDIMENTO
A Coordenadoria de Assuntos Internacionais (CAI) da UFG lança, por ano, dois editais de intercâmbio para estudantes de graduação. Os destinos não se restringem apenas às universidades dos 21 países conveniados, mas variam de acordo com o edital. O primeiro passo é analisar o edital e, encaixando-se, providenciar a documentação exigida. Todo programa de intercâmbio requer que o aluno esteja regularmente matriculado e tenha concluído no mínimo 20% da
carga horária total exigida. O rendimento acadêmico também é importante, uma vez que a média global é analisada. Cada edital dispõe de uma lista de do c umentos de futebol Azteca. que o aluno deve providenciar. Além de documentos pessoais, os papéis pedidos incluem um formulário de intercâmbio disponibilizado pela CAI, um comprovante de que o estudante possui conhecimento da língua em que as atividades universitárias se realizarão e seguro saúde. É necessário fazer também um plano de estudos que, segundo o coordenador do curso de Jornalismo da UFG, Edson Spenthof, é elaborado com o auxílio da coordenação. O intercambista poderá se afastar da instituição de origem por até dois semestres letivos consecutivos ou não. Como no caso da estudante Giuliane Alves, é possível morar na casa de estudantes da universidade de destino. Além disso, há concessão de bolsas em muitos programas, a exemplo do Programa de Bolsas Luso-brasileiras Santander Universidades.
PARA SABER MAIS
Programa de Bolsas Luso-Brasileiras Santander Universidades Incrições: até o dia 19 de maio Período do intercâmbio: Segundo semestre de 2014 Número de vagas: seis Benefício: bolsa de R$ 10.888, 35 Mais informações: www.cai.ufg.br
POR DENTRO DAS FRONTEIRAS: PROGRAMA DE MOBILIDADE ESTUDANTIL “Cada lugar possui uma singularidade que só se revela por meio da vivência”. Esta fala é de Bárbara Falcão, estudante de Jornalismo da UFG, que participou do Programa de Mobilidade Estudantil (PME) durante o segundo semestre de 2013. O programa é fruto de um convênio entre as Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) que oferece aos alunos a possibilidade de cursarem até dois semestres letivos em
outra universidade federal brasileira. Apaixonada por capoeira, foi quase inevitável para Bárbara escolher Salvador como sua cidade de destino dentro do programa. A aluna relatou que a experiência na Universidade Federal da Bahia foi especialmente rica, por ter lhe dado a oportunidade de iniciar suas pesquisas para o trabalho de conclusão de curso. Para participar, é preciso preencher um formulário disponibi-
lizado pela Pró-Reitoria de Graduação (Prograd). O interessado precisa ter concluído mais de 20% do curso e ter tido no máximo duas reprovações acumuladas nos dois períodos anteriores ao pedido de mobilidade. Ao contrário do intercâmbio em universidades estrangeiras, o PME permite que o tempo fora da instituição de origem seja contabilizado na carga horária total exigida para a formação. Além
disso, uma parceria entre a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior, a Andifes, e o Banco Santander concede bolsas-auxílio para os estudantes que se increvem no PME. Dentro ou fora das fronteiras brasileiras, a riqueza experimentada ao se viver em outro lugar é a mesma. Em cada canto que não o seu, uma cidade de possibilidades espera o indivíduo que se arrisca a partir. (F.G.)
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- COMUNIDADE -
INSEGURANÇA: PROVIDÊNCIAS E REALIDADE DISCUTEM ASSUNTO NA UFG E QUESTIONAM NECESSIDADE DE EQUIPAMENTOS E CONSCIENTIZAÇÃO DE ENTIDADES E
ESTUDANTES Repórter MORGANA KELLY Editor YAGO RODRIGUES Designer KAITO CAMPOS
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termo segurança deve ser compreendido como um todo e tem extrema importância. Para o especialista em segurança, Ivan Hermano Filho, a segurança em uma universidade é composta não somente de pessoas, que seriam os agentes de segurança, mas sim de equipamentos, processos, procedimentos e sobretudo de prevenção. Para se preparar e
adaptar a equipe de segurança que por natureza deve ser preventiva e ostensiva, é necessário para existência da estabilidade a colaboração da população acadêmica que ali habita, estuda e trabalha. Segundo a especialista em segurança e professora da UFG, Bartira Macedo de Miranda Santos, o Centro de Gestão do Espaço Físico (Cegef) acompanha e administra a execução dos serviços de segurança da empresa terceirizada Guardiã e o esquema de
De acordo com Bartira Macedo, o que falta na segurança da UFG e em todo lugar, são políticas de segurança que não estejam apenas voltadas para soluções instantâneas e fáceis, afinal com
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ESPECIALISTAS
As pessoas não querem ser vigiadas o tempo todo. Não querem estar num big brother. BARTIRA MACEDO
Professora da UFG e especialista em segurança segurança que existe nas cidades de Jataí, Cidade de Goiás e Goiânia, contam com guaritas e guardas armados e desarmados. Trata-se de um serviço terceirizado contratado por meio de licitação que é um procedimento para contratação de serviços ou aquisição de produtos da administração pública. Fotos: Morgana Kelly
Compartilhamento de informações entre os guardas pode garantir estabilidade.
a mesma velocidade em que são implantadas, mostram-se ineficazes. O diretor do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais (IESA) da UFG, João Batista de Deus estuda a cidade e a questão do urbano e ele diz que a universidade estava anteriormente longe da metrópole, mas foi alcançada e por isso, os problemas inerentes a cidade começaram a existir. Como morador do bairro Balneário Meia Ponte, o diretor do IESA afirma que a UFG tem uma vizinhança que se preocupa com as ações que são tomadas para a garantia dessa estabilidade. Batista é alvo constante de reclamações de alunos quanto a roubos e ele fala que é fundamental uma melhoria na iluminação e vigilância. Para ele, uma das soluções seria a vigilância monitorada. Não há aparatos tecnológicos de segurança, como câmeras em todos os locais necessários na universidade. Para implantá-los, seria importante ouvir a comunidade acadêmica. Segundo Bartira Macedo, as câmeras têm pouca importância na prevenção de delitos, pois elas não evitam a fraude apenas podem auxiliar na descoberta
da autoria dos crimes. A Macedo, afirma que as câmeras contam com certa resistência da comunidade acadêmica pois, as pessoas não querem ser vigiadas o tempo todo. Não querem estar num grande big brother. “É preciso tratar a segurança com mais racionalidade”. Com essa afirmação, Bartira diz que as ações comandadas pelo medo, em geral, fomentam mais violência. Segundo a especialista em segurança Bartira Macedo, as ações de humanização das relações interpessoais, que se caracterizam no diálogo, maior interesse uns pelos outro e assim se conheçam, poderiam favorecer a criação de um ambiente mais seguro e fraterno. TESTEMUNHO O colaborador do projeto Faz Arte da UFG, Gustavo Alexandre da Silva Oliveira, presenciou um assalto a mão armada no dia 22 de fevereiro deste ano. O aluno ressaltou que um de seus colegas de classe foi furtado por dois assaltantes que estavam com roupa preta. Posteriormente quando Gustavo já se encontrava no ponto de ônibus, os mesmos assaltantes, que estavam em uma moto, roubaram mochilas e celulares de duas garotas. Os assaltos ocorreram durante a noite e a iluminação precária beneficiou o acontecido. Por fim, sobre o caso relatado por Gustavo, a especialista Bartira Macedo ressalta que não se pode esquecer que a UFG está inserida na cidade e que a violência que ocorre aqui é a mesma que ocorre em outros locais, o que equivale a dizer que as causas da violência no campus são, em parte, os mesmos motivos da violência externa ao campus. Macedo afirma que é preciso estudar a especificidade dessa violência e, então, pensar em estratégias e ações adequadas, pois a segurança nos campi da Universidade Federal de Goiás implica mais em uma questão de ação do que de investimento.
ESPECIALISTA EM SEGURANÇA EXPLICA A PROPOSTA DA POLÍCIA UNIVERSITÁRIA O Congresso Nacional tramita a PEC 38/11 da Deputada Andréia Zito ( PSDB – RJ) que propõe a criação da Polícia Universitária. Tal polícia, com autoridade peculiar ,faria a segurança do campus e contornos com a autonomia, podendo inclusive auxiliar as forças policiais,
como Polícia Militar e Polícia Civil, compartilhando informações relevantes. Para o especialista em segurança Ivan Hermano Filho, a forma de segurança atual na universidade não é a melhor e uma medida a ser discutida é o policiamento, pois, a falta de atuação da Polícia Mili-
tar, no perímetro, é um conceito equivocado e ultrapassado. O campus Professor Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília, (UNB) que possui, no interior de seu campus uma base da PM, fornece viaturas para uma vigilância permanente. A medida adaptou a polícia para atender
a realidade da Universidade sem deixar de priorizar a sociedade em geral fazendo-se presente e acessível a qualquer hora do dia. Para Hermano, os gestores das Universidades e as Polícias Militares dos estados podem afinar as relações e formar parcerias frutíferas com resultados positivos. (M. K.)
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- COMUNIDADE -
JORNALISMO EM PAUTA: SOBRE SENTIR NA PELE A AFLIÇÃO DE CUMPRIR O DEADLINE PROFESSORES DA UFG CORREM CONTRA O TEMPO PARA CUMPRIR NOVAS DIRETRIZES DO MEC Repórter BÁRBARA FALCÃO Editor MARIANA ARAÚJO Designer MARCO FALEIRO
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egalmente, a universidade tem até setembro de 2015 para encerrar o processo de atualização curricular em termos de decisão do novo Projeto Pedagógico do Curso (PPC), porém, a intenção é construir o novo currículo até setembro deste ano, para que em 2015 as novas diretrizes já sejam aplicadas. O passo inicial foi dado no dia 18 de março, quando os professores de Jornalismo da Universidade Federal de Goiás (UFG) se reuniram para iniciar a discussão a respeito do atual currículo e das mudanças que devem ser implantadas. O novo PPC terá como base uma abordagem mais humanista e uma formação mais interdisciplinar. De acordo com a professora e presidente do Núcleo Docente Estruturante (NDE) Angelita Pereira Lima, as exigências das novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) não causarão tanto impacto em termos de organização, ao contrário de 2004, quando o curso sofreu mudanças estruturais, passando do sistema anual para semestral e da grade fechada para a matriz aberta. O objetivo maior da atualização é acabar com a dicotomia entre a teoria e a prática e a principal mudança é que o Jornalismo deixa de ser uma habilitação da Comunicação Social e passa a ser um bacharelado. Outros aspectos
que também sofrerão modificações são relacionados ao estágio, ao Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e às horas necessárias para a formação. Com o objetivo de cumprir a meta dentro do prazo, os professores da UFG estabeleceram fases para a implantação do novo currículo. A primeira, que começou em março, tem como objetivo avaliar a atual matriz para compreender o que funciona e o que não funciona dentro do curso e pensar em soluções. A segunda fase tem início em abril e vai contar com a presença de um integrante da comissão que elaborou as novas diretrizes para debate, esclarecimento de dúvidas e conhecimento dos documentos. A etapa terceira e mais importante, será realizada em abril e maio, com a construção do novo PPC, para que possa se submeter ao Conselho Diretor e ser aprovado nas instâncias. DIVERGÊNCIAS As novas diretrizes valorizam o curso de Jornalismo ao considerá-lo como um pilar da democracia, e esse reconhecimento fortalece, inclusive, a luta pela obrigatoriedade do diploma. No entanto, algumas regras novas ainda são alvo de questionamentos, principalmente em relação ao estágio obrigatório e ao TCC individual. Para o professor Edson Spenthof, coordenador do curso de Jornalismo da UFG, a questão do estágio preocupa, uma vez que quantidade não é sinônimo de qualidade e nem todos os lugares do país tem oferta de vagas para todos. Matheus Filipe, estudante do 3º período, ressalta que acha absurda a ideia de que o TCC deverá ser individual, já que muitos produtos jornalísticos não são feitos dessa forma, como, por exemplo, um jornal ou uma revista. Uma solução que está sendo pensada e que começou a ser discutida pelos professores na reunião é que o produto seja feito de forma coletiva e a reflexão escrita seja feita de forma individual.
PRINCIPAIS MUDANÇAS DO NOVO CURRÍCULO Antigas diretrizes
Novas diretrizes
TCC permitido em grupo
TCC apenas individual
Estágio opcional
Estágio obrigatório
Carga horária de 2700 horas
Carga horária de 3000 horas
Diploma de comunicador social
Diploma de bacharel em
com habilitação em jornalismo
jornalismo
Para Thais Rodrigues, que cursa o 8º período, o estágio obrigatório preocupa, sobretudo, pelo baixo valor das remunerações. A estudante acredita que a quantidade de vagas poderá até aumentar, mas terá como consequência a desvalorização do profissional. SITUAÇÃO “Cursos fundamentais para a democracia”, esse foi o termo utilizado pelo então ministro da Educação Fernando Haddad para referir-se aos cursos de Medicina, Direito, Jornalismo e Pedagogia, responsáveis respectivamente pela saúde, justiça, informação e formação de professores. A partir de tal importância atribuída a esses cursos, sentiu-se a necessidade da atualização das diretrizes curriculares nacionais (DCN) dos mesmos, meta governamental anunciada por Haddad em 2008. Após o anúncio da meta, o ministro confiou ao professor José Marques de Melo a missão de criar uma comis-
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são para discutir as novas diretrizes do curso de jornalismo, comissão essa que foi designada em fevereiro de 2009 e concluiu os trabalhos em setembro, depois de ouvir todos os segmentos da sociedade, tanto fontes quanto produtores de informação. Passaram-se quatro anos até que o Conselho Nacional de Educação examinasse as propostas e homologasse, em setembro de 2013 as novas DCN de jornalismo, estipulando prazo de dois anos para que as instituições se adaptem ao regulamento. O último passo recente foi o fórum realizado pela Federação Brasileira das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação (SOCICOM) no dia 19 de fevereiro. O encontro, que ocorreu na Universidade de São Paulo (USP), reuniu centenas de professores e coordenadores de Jornalismo de todo país para discussão sobre a aplicação das diretrizes. O principal objetivo do encontro foi informar e orientar sobre as novas exigências e alertar para o cumprimento do prazo. Foto: Bárbara Falcão
Docentes do curso de Jornalismo reunidos no Labicom.
RELAÇÕES PÚBLICAS PEGA CARONA Apesar de não ter sido selecionado pelo Ministério da Educação (MEC) para atualizar o currículo, relações públicas reivindicou que o curso também passasse por mudanças. A reivindicação foi vista com bons olhos e as atualizações serão implantadas. Assim como no jornalismo, a principal modificação é que o curso deixa de ser uma habilitação da Comunicação Social e passa a ser um bacharelado. A hora-aula também passa de 50 para 60 minutos, e o estágio não será obrigatório, mas entrará nas atividades complementares.
De acordo com Spenthof, a tendência é que logo a publicidade também se desprenda da habilitação. Para ele, essa independência que os cursos estão conquistando é fundamental para que as formações sejam mais direcionadas e, portanto, mais qualificadas. O coordenador ressaltou a importância de um curso de jornalismo, por exemplo, começar com a pergunta “o que é jornalismo”, ao invés de “o que é publicidade, cinema ou marketing” e isso vale para todos os cursos. (B.F.)
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HUGO: QUASE DOIS ANOS DE TERCEIRIZAÇÃO ACUMULA ELOGIOS E TENTA RESOLVER PROBLEMAS ANTIGOS Repórter JOSÉ ABRÃO Editor THAIS ALVES Designer MARCO FALEIRO
CONTRADIÇÕES O hospital também recebeu um tapa no visual: foi pintado, os pisos foram trocados, assim como algumas paredes e divisórias. Uma das principais mudanças foi separar a entrada principal da emergência. Neste tempo, os pacientes parecem bem satisfeitos com as modificações. Dos seis acompa-
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Se eu for te falar tudo o que eu tenho sobre esse hospital, você vai escrever mais de 100 linhas. Enfermeira do Hugo
Fotos: José Abrão
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esde maio de 2012, o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) é administrado por uma organização social (OS), o Instituto de Gestão e Saúde (Gerir), que também administra três hospitais na Paraíba. Mas o que mudou nestes dois anos? O Hugo é o maior hospital do Estado, ocupando uma área de quase 25 mil m² com 315 leitos. Desde a mudança de administração, a diretoria passaria a ter duas vantagens: primeiro, evitar a burocracia estadual, e, segundo, garantir um repasse maior de verba. Houve um aumento no número de vagas de internação da enfermaria, de 135 para 215 leitos. A UTI também ganhou mais 14 leitos, subindo o número para 58 e realizou no último ano mais de 69 mil consultas médicas, cerca de 10 mil a mais do que em 2012. Outra mudança foi a implantação da Dona Gentileza: funcionários, principalmente as camareiras, foram treinados para lidar com mais educação e gentileza com os pacientes, incluindo os mais exaltados. A lavanderia foi completamente reformada e virou referência, os equipamentos sucateados foram trocados e os estoques de medicamentos e materiais foi restabelecido. Atualmente, o terceiro andar está sendo reformado para abrigar mais 94 leitos de enfermaria e há planos para ampliar a UTI. Até o final de 2014, o hospital planeja estar com 430 leitos.
nhantes e pacientes que conversamos, todos disseram que o hospital melhorou. Destes, três concordaram em se identificar: “Seis anos atrás fui internada aqui. De lá pra cá, mudou demais. Antes era uma espera danada, aquele corredor lotado de gente. Agora o corredor esvaziou, tratam a gente muito bem e separam a emergência, aí não fica aquele montão de gente amontoada”, conta a dona de casa Elaine Ribeiro. Seu irmão está internado após sofrer graves queimaduras em um acidente de carro. A esposa dele, Ivaci Rodrigues, também ficou satisfeita com o atendimento. Ela visitou o hospital há cerca de três anos e reparou na mudança: “Estão de parabéns em tudo, tem psicóloga o tempo todo pra te dar apoio, os funcionários estão sendo muito educados, está muito mais organizado, até almoço eles nos dão agora. Parabéns aos funcionários! Só posso falar coisas boas”. A dona de casa Sidneia Nunes aguardava o irmão que ia sair de uma cirurgia após um acidente, e disse a mesma coisa: “Melhorou bastante. Não tem mais espera, o atendimento está melhor, com mais qualidade. Foi muito bom separar a emergência da entrada e também colocar a psicóloga. Ela ajuda a gente demais. Está tudo muito bem organizado”. Enquanto os pacientes elogiam, não veem as dificuldades pelas quais passam médicos e enfermeiros do Hugo: “rapaz, se eu for te falar tudo o que eu tenho sobre esse hospital, você vai escrever mais de 100 linhas!”, disse uma enfermeira que não quis ser identificada. Segundo ela, problemas com lotação e sobrecarga, recorrentes no Hugo, continuam persistindo. Confrontada com os elogios dos pacientes, ela disse que sua opinião é a mesma da maioria dos funcionários e apresenta os problemas: “A gente fica muito sobrecarregada, é muito paciente pra pouco funcionário. O Hugo é o melhor hospital do Estado. Quem entra, vai ser bem tratado. O problema é quem não consegue vaga, quem tem que aguardar atendimento em maca”. Ela explicou que o Hugo já viu dias melhores: “Pra quem entrou agora, pode parecer muito bom, mas estou aqui desde o início. Naquela época era ótimo. Simples assim, não tinha defeito. Naquela época, minha ala tinha 12 enfermeiras, agora tem cinco. Como
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HOSPITAL
O hospital passou por reformas e nova pintura, inclusive na fachada. que isso é melhora?”. Quem disse algo parecido foi um cirurgião, que também não quis se identificar: “A enfermaria, o 5º andar, realmente estão melhores, mas muita coisa é maquiagem: TV melhor, macas melhores”. Ele reforça o problema da lotação e sobrecarga: “Lotação e internação continua a mesma coisa. É só chegar uma autoridade ou a imprensa que eles tiram todos os pacientes dos corredores”. Ele conta que o centro cirúrgico está melhor equipado, mas materiais básicos, como linha, ainda faltam de
vez em quando. “A sala de recuperação ainda está do mesmo jeito e fica cheia de pacientes, porque não tem vaga na UTI”. Segundo o cirurgião, a única solução realmente seria aumentar o número de funcionários e desviar a quantidade de pacientes para outras unidades, como Huapa e o Hugo 2, que ainda não foi concluído: “O problema do Huapa também é falta de funcionários. Não tem nem um neuro-cirurgião. Todos os casos mais graves acabam sendo trazidos pra cá do mesmo jeito”.
DIRETOR EXPLICA PROBLEMAS Confrontado com os problemas relacionados pelos funcionários, o diretor geral do Hugo, doutor Ciro Ricardo Pires de Castro, respondeu: “naturalmente que temos problemas e que estejam insatisfeitos, é um trabalho em processo”. Quanto a contratações, ele disse que é um processo constante: “vamos continuar contratando”, em 2014 até agora, foram 56 novas contratações: 42 técnicos em enfermagem e 14 enfermeiros. Sobre a lotação, ele disse que será amenizada pela Rede Hugo, incluindo o Hutrin, de Trindade, que será assumido pela Gerir, mesma OS que administra o Hugo: “Esse problema que já foi levado ao conselho e à secretaria”. Outro problema para a lotação que ele aponta é o costume de ir ao Hugo e de encaminhar pacientes para lá que não deviam ser encaminhados: “Muito casos leves, como um dedo quebrado, que são encaminhados pra gente do CAIS que não deviam ser ou pacientes que vem sozinhos”. Tem também a hierarquização: entre um paciente com um ferimento leve e um acidentado de
moto ou baleado, estes têm prioridade: “Nós não vamos negar esses pacientes, de modo algum, mas quando o hospital lota, as pessoas ficam insatisfeitas”. Castro também contou o porquê de firmar a parceria com a OS. Segundo ele, até 1997, o Hugo funcionou bem, aguentava a demanda, mas a cidade era menor, o número de acidentados era menor, principalmente o número de motos. Daí pra frente, a demanda ficou muito grande e o hospital começou a ficar sucateado. Além disso, tinha as licitações: “Acabou a novalgina, acabou a penicilina, podia demorar três anos pra receber algo que era urgente. O Hugo não saía das manchetes, era cobrado pela imprensa, pelos fiscais do Conselho, pelo clamor da sociedade, e com razão”. Ele afirma que com a OS, os estoque foram reabastecidos, não falta material e o hospital está crescendo, mas que a unidade de saúde só foi estabilizada: “Ainda há muito o que ser feito, mas agora estamos estabelecidos e podemos avançar”.
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PREVENÇÃO AO CÂNCER DE ÚTERO MOBILIZA ADESÕES teve parte do útero retirada. “É extremamente importante a vacinação. O DE IMUNIZAÇÃO meu problema quase evoluiu para um câncer. Minha filha não teve nenhum PRETENDE BENEFICIAR efeito colateral e sempre é melhor a prevenção”, relata a mãe. Já a secretária Kátia Palmeira, ao 4,16 MILHÕES seguir orientação médica, comenta DE MENINAS que a filha adolescente foi imunizada na escola: “Sou a favor da vacinação e acho absurda essa história de ser contra Repórter NAYARA URZÊDA porque é para o bem. A ginecologista Editora BRUNA AIDAR recomendou a vacina”. Cláudia Cunha, Designer NICOLE REIS agente de saúde, mãe de Sthephanye de Paula, de 12 anos, lamenta que as campanha de vacinação conmães não conversem com suas filhas e tra o HPV, para meninas de se oponham à campanha, “precisamos 11 a 13 anos, foi realizada de garantir a saúde de nossas meninas e 10 de março até 10 de abril. No períisso passa não só por esclarecimento odo, segundo a Secretaria Municipal como também pela prevenção”. de Saúde, mais de 23 mil meninas Clécia Vecci, gerente de imunizaforam vacinadas. A meta de vacinar ção da Secretaria da Saúde do Estado 80% da população-alvo foi cumpride Goiás, esclarece que a vacinação de da. Segundo o ginecologista Divaladolescentes entre 11 e 13 anos é altado Matos Santana, a vacina contra o mente eficaz, pois essas meninas ainda Papilomavírus Humano é utilizada não estão expostas ao vírus. Isto contrina prevenção de câncer uterino, já bui para a criação de maior número de que o HPV constitui-se como prinanticorpos. Quanto aos efeitos colatecipal responsável por esse tipo de rais, Clécia informa: “Estudos mostraneoplasia. No entanto, “a vacina não ram que a vacina HPV é segura e bem descarta o uso do preservativo e reatolerada, sendo relatados eventos de lização do exame de rotina”, ressalta boa evolução. Caso ocorra algum efeito, Gilma Moreira de Sousa, enfermeira a paciente dever retornar à Unidade de e gestora do Centro de Saúde CâmSaúde em que foi vacinada.” Segundo a pus Samambaia. gerente, a notificação deve ser realizada para que haja o acompanhamento da paciente pela equipe de saúde. Mu l heres em qualquer faixa etária podem se vacinar, inclusive homens, para evitarem lesões precursoras de câncer no pênis e ânus, porém é preciso procurar clínicas particulares, onde o custo pode chegar a R$ Mulheres fora da faixa etária devem procurar rede particular. 1.500. Santana afirma: “As mulheres de todas as idades Dados da Organização Mundial de podem e devem se vacinar, mas até os Saúde apontam que, todos os anos, 500 30 anos é ainda mais importante”. mil mulheres são diagnosticadas com câncer do colo de útero e que, nessa DOSES população, há altos índices de mortalidade. Muitas acabam contraindo ouNo Brasil, existem dois tipos de tras doenças, pois a infecção pelo HVP vacina contra o HPV: a bivalente Cerfavorece o contato em decorrência das varix, produzida pela Glaxo Smith lesões provocadas pela enfermidade. Kline e que oferece proteção contra Suzamar Nardoto levou a filha Thaos tipos 16 e 18; e a que é oferecida lianny, para se vacinar antes mesmo da gratuitamente nas unidades básicas abertura da campanha do Ministério de saúde, a quadrivalente Gardasil, fada Saúde. Suzamar contraiu o vírus e bricada pela Merck Sharp & Dohme, devido às consequências da doença que protege contra os tipos 6, 11, 16
Foto: Reprodução
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Foto: Nayara Urzêda
PROGRAMA NACIONAL
Centro de Saúde Samambaia estende atendimento a meninas no Cepae. e 18 do vírus. Pode haver efeitos colaterais como náuseas, dores de cabeça, inchaço no local da aplicação, mas a responsável pela Gardasil garante que são passageiros. As três doses são administradas por sistema estendido, em que a segunda aplicação será seis meses depois e a ter-
ceira, cinco anos após a primeira dose. A medida foi adotada como recomendação do Grupo Técnico Assessor de Imunizações da Organização Pan-Americana de Saúde (TAG/OPAS) que mostrou que há melhor resposta imunológica com um intervalo maior entre a primeira e segunda dose.
MOVIMENTO CONTRA VACINA Mesmo após intensas declarações de integrantes da Organização Mundial de Saúde (OMS), bem como de especialistas nas áreas de ginecologia e farmacologia, há os que se opõem à vacinação. As alegações são que a vacina causa infertilidade, estímulo precoce da vida sexual feminina, que não há comprovação sobre diminuir os riscos ao câncer do colo de útero e diversos efeitos colaterais, incluindo doenças graves e morte. O perfil no Facebook “Sou Contra a Vacina HPV”, criado pela enfermeira Isma de Souza, já possui mais de mil adeptos. A enfermeira afirma que é desfavorável à vacinação porque os efeitos adversos que aconteceram em outros países têm causado muito sofrimento às que foram imunizadas. Questionada se aceitaria a vacinação, caso houvesse mais estudos de toxidade, Isma comenta: “Eu jamais gostaria de injetar alumínio no corpo de filhas e filhos. Esse é um dos conteúdos utilizados na vacina. Eu sempre irei questionar o conteúdo! O conteúdo é que é a sabotagem da vacina!”. Um dos membros do grupo, o médico ginecologista Cleomenes Simões, se declara misoneísta, termo que designa aqueles que têm medo
do novo, e por isso argumenta: “Na aviação se diz que para o pouso, um pouco mais de pista é sempre bom. Na medicina, um pouco mais de tempo, também. É preciso refletir antes de dar qualquer vacina ou remédio para os nossos filhos”. Cláudia Lobo, uma das mães que integram o movimento contra vacina, apoia o posicionamento do médico. Ela diz que o governo não esclareceu a população sobre os efeitos tampouco forneceu informações detalhadas: “Não aceitei essa história de que as meninas devem tomar a vacina um tempo antes da atividade sexual. E quanto tempo é esse?”. Convulsões e dificuldades em andar, ocorridos no Japão, são relatos frequentes na página contra a vacina. No entanto, os defensores da Gardesil rebatem que a associação da vacina com efeitos colaterais graves é equivocada. Segundo eles, a Gardesil foi considerada a causa de eventos que aconteceriam independentemente da vacinação. A empresa fabricante da vacina, Merck Sharp & Dohme (MSD), em nota publicada, ressalta que não há comprovação de que os casos relatados no Japão estejam relacionados à vacina. (N.U.)
HPV: PAPILOMAVÍRUS HUMANO Onde se vacinar: Postos de saúde e escolas Público-Alvo: Meninas de 11 a 13 anos Como se vacinar: Para que as meninas de 11 a 13 anos sejam vacina das nas escolas é necessário que os pais assinem termo de autorização Doses: O esquema da vacinação se dá em três doses, em que a segunda aplicação será seis meses depois e a terceira, cinco anos após a primeira dose. Forma de Administração: Injeção intramuscular. Objetivo: Prevenção ao câncer uterino.
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ÂNSIA PELA CALMA
MEDITAÇÃO EM BUSCA DE MENTE QUIETA, ESPINHA ERETA E CORAÇÃO TRANQUILO Repórter BÁRBARA FALCÃO Editor MAGNO OLIVER Designer KAITO CAMPOS
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mnamáxiváia, ômnamáxiváia, ômnamáxivaia. Se você é adepto da meditação, provavelmente saberá do que se trata, mas se você não é, não se preocupe, você acaba de ler a pronúncia do mantra Om NamahShivaya, uma prece para ver e viver a realidade. A palavra mantra surgiu da junção de outras duas em sânscrito, “man”, que significa mente, e “tra”, que vem de Trayati, cujo significado é liberação. Assim, por meio dos mantras, acredita-se que é possível libertar a mente. Cássia Castro, estudante de Jornalismo da Universidade Federal de
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Goiás, confessou que recita mantras não apenas meditando, mas várias vezes ao dia. Cássia medita há quase dois anos, diariamente, ou em alguma situação especial, quando o estresse e a ansiedade aumentam. Ela definiu a meditação como seu ponto forte, um refúgio onde procura entender melhor as situações que vive. Há muitas técnicas relacionadas com a meditação.Ela é como o tronco principal de uma árvore de onde surgem vários galhos, como o budismo e suas vertentes, o xamanismo, o yoga, o reiki, entre tantos outros.Apesar das diferenciações, cada vez mais a ciência tem reconhecido o benefício das práticas meditativas para a saúde.O que sabemos é que todaspossuem algo em comum, a busca pela elevação humana, ou como diz a composição de Walter Franco, uma tentativa de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo. SEXTO SENTIDO Meditar é dar uma pausa no mundo externo e voltar-se para dentro, é estar aqui eagora. Somos estimulados de tan-
ONDE MEDITAR
Círculo de Meditação de Goiânia Rua 4, nº 515, Edifício Parthenon Center, 10º andar, Sala 1019, Setor Central. Fone: (62) 3281-8357 (Meditações aos sábados e domingos) grupo Meditação no Parque Parque Vaca Brava e Parque Areião. O grupo se reúne às terças e quintas às 6h no Vaca Brava e aos domingos às 4h30 no Areião. E-mail: meditacaonoparque@hotmail.com Diana Centro de Bem-Estar Endereço: Rua 1.128, nº 527 – Setor Marista. Fone (62) 3241-4096 (Meditações de graça toda segunda-feira)
Foto: Reprodução
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Meditação e natureza muitas vezes formam uma bela combinação.
tas formas todos os dias, tudo é feito para mexer com os nossos sentidos e muitas vezes não sabemos sequer por que estamos sendo estimulados. Esses estímulos estão quase sempre direcionados aos cinco sentidos, que são limitados e, portanto, podem nos enganar. Por isso, a meditação procura transcender as sensações e chegar ao sexto sentido, voltado para dentro, para a intuição e o autoconhecimento. BhagwanShreeRajneesh, hoje conhecido como Osho ou “renunciante”, é um grande inspirador e
influenciador das práticas religiosas e meditativas, a obra com seus ensinamentos possuiu mais de 600 volumes. Em um de seus livros, O homem que amava as gaivotas, Osho diz que o corpo é apenas a primeira camada, e identificar-se com o corpo é identificar-se com o temporal, com o momentâneo. Por isso, é preciso ir além, o que não significa concentrar-se apenas na mente, e sim ir além do corpo e da mente para achar o equilíbrio entre os dois.
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VOCÊ SABIA Existe um Círculo de Meditação em Goiânia, localizado no centro da cidade (conferir endereço no box), o nome da organização é Self-RealizationFellowship (SRF), ela possui várias filiais no mundo inteiro e a sede fica na Califórnia. A SRF baseia-se nos ensinamentos de ParamahansaYogananda, autor do livro Autobiografia de um Iogue e primeiro mestre da Índia a viver no ocidente por um longo período de tempo. Axel Guedes, membro da organização explicou que hierarquicamente todos os participantes são iguais, não existem cargos maiores ou menores e todos os serviços são volu nt ár i o s .
Todo primeiro domingo do mês eles realizam meditação das 9h às 10h, e depois de um intervalo de cinco minutos, dedicam-se à leitura dos ensinamentos do mestre. Guedes afirmou que a meditação ensina de tudo um pouco, como espiritualizar as atividades diárias, como ser ativamente calmo e calmamente ativo ou como perceber a intuição. Mas, segundo ele, os efeitos não são sentidos da noite para o dia, é necessário tempo para colocar em prática a estabilidade emocional e se posicionar diante da vida, de si e dos outros. Guedes disse que ultimamente a procura tem aumentado, porém, na maioria das vezes não passa de simples curiosidade. (B.F.)
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O QUE DIZEM OS HOMENS DE S A I A PEÇA DE VESTUÁRIO
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culo 15 – os romanos antigos, por exemplo – mas que o vestuário VAI MUITO ALÉM, acabou em desuso por causa das vestimentas CERCADA POR militares: “Os militares usavam calças por QUESTÕES POLÍTICAS sua proteção e praticidade e ela acabou Repórter JOSÉ ABRÃO sendo incorporada no Editora MARINA ROMAGNOLI vestuário civil. QuanDesigner JÚNIOR OLIVEIRA do ela aparece hoje em dia, ela é um sinal magine: em 1956, um homem cade resistência”. minha nas tumultuadas ruas do Ela usa Flávio de centro cinzento de São Paulo, enCarvalho e os tropitre uma multidão de homens em tercalistas como exemnos monocromáticos, com uma caplo e o mesmo se misa colorida, minissaia, sandálias e aplica a Herick: “Não meia-arrastão. Parece difícil, mas foi é apenas uma questão exatamente o que fez o artista e perde gênero, que é preformático Flávio de Carvalho, um dos visível, mas vai além, intelectuais do Modernismo brasileiro, transcende a roupa Cantor de MPB Caetano Veloso também adere à saia por motivos políticos. que questionava com este experimene estas questões. Não to o porquê do homem brasileiro sevejo homens passando “Por que cada um não pode usar o guir a moda dos EUA e da Europa. Ao a usar saia, isso não vai acontecer, mas traje deu o nome de “roupa de verão”, é uma forma de política, de resistênque quiser quando bem entender?” um vestuário muito mais adequado ao cia”. De fato, como apresentado pela nosso clima e raízes tropicais.’ professora, os homens vestindo saia Herick Araújo Mais de 50 anos depois e ao londo século 20 e 21 sempre tinham algo go das décadas, homens de saia pona dizer e as pautas são variadas: do Estudante tuaram a sociedade, não exatamente anticolonialismo de Flávio de Carvaque gênero está ligado à vestimenta Quem repete o gesto hoje é o alupor uma simples escolha de modelho, passando por Herick e chegando e deixou isso claro desde o começo: no de Letras Inglês da UFG, Herick lito, mas como variados posicionaao Movimento Gay de Ruanda contra “Alguns amigos homens progressistas Araújo: “Passei a participar de movimentos políticos. Durante o Tropiseu governo. Os homens de saia semelogiaram e achavam que ia usar saias mentos sociais e em alguns congrescalismo, Caetano Veloso resgatou pre têm algo a dizer. masculinas ou kilts, aí eu disse não, sos, Marcha das Vadias, e etc, pegava o gesto de Flávio para questionar a por que tem que ser assim? Coisinha uma saia emprestada para quebrar o mesma coisa e Gilberto Gil vestiu REAÇÕES pra homem e pra mulher? Por que estigma. Aí pensei, por que não usar uma saia africana para reivindicar cada um não pode usar o que quiser Mostramos Herick ou senão a saia na rua?”. No caso de Herick, sua suas raízes e as tradições não ociquando bem entender?”. proposta é de romper com a ideia de sua foto para diversas pessoas de dentais do povo brasileiro. idades e classes sociais diferentes e EXPERIÊNCIA as reações foram parecidas: algumas riam, achavam graça, senão, ficavam Para tanto, Herick decidiu usar um pouco envergonhadas. Fizemos saia todos os dias de março e já capa pergunta: o que você pensaria se tou várias reações que mostram o previsse um homem de saia a resposta conceito ou falta de conhecimento das foi um tipo de dar de ombros. “Pra pessoas: “A maioria das pessoas chega mim um homem de saia não é algo me tratando no feminino, como se eu que me choca, é normal. Ele é uma tivesse me admitido mulher, mas não, eu não assumi um novo gênero, eu me pessoa corajosa” disse a aluna de veidentifico como homem. Ou senão, terinária Marília Martins. chegam já assumindo que eu sou ho“Aqui no Brasil, não vejo como mossexual, por causa da saia”. normal, porque os homens daqui são Ele disse que o preconceito é consmuito machistas. Não tem a ver com truído em cima de estereótipos e que nossa cultura, então sofreria grande ele mesmo precisou de muito tempo preconceito, completamente. Eu, pespara superá-los: “Quando adolescente soalmente, não, eu já vi de tudo nesmesmo eu fazia piadinhas de negros sa vida. Se visse na rua, só acharia ese homossexuais mesmo tendo amigos tranho”, disse a professora de francês negros e homossexuais, até que coKézia Diniz. mecei a lutar contra isso, pra tirar isso de mim”. Para usar a saia, ele também “Eu acho legal lá na Escócia (ridisse que não foi livre de conflitos: “Na sos). Não ficaria chocado, mas acho primeira vez não foi tão difícil porque que não combina, não é comum ver já estava com a cabeça meio formada, isso, mas tudo bem, se ele quiser” dismas quem vê, estranha, não entende,. se Jeovásio Araújo, funcionário púVocê precisa parar e pensar. Só de você blico. “É uma ousadia muito grande. respeitar o próximo pra ele vestir o que Acharia engraçado”, analisou o porquiser, já é um primeiro passo”. teiro Alan Lopes. “É, fica cada um na A professora de Design de Moda sua”, concordou um pouco reticente o da FAV, Rita de Andrade, conta que as Estudande de Letras Herick Araujo propõe romper preconceitos. faxineiro Charles Santos. saias eram usadas por homens até o sé-
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Foto: José Abrão
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- CULTURA -
ADAPTAÇÕES DOMINAM O CINEMA Foto: Reprodução
COM GRANDES SUCESSOS, MEGA PRODUÇÕES OCUPAM QUASE TODAS AS SALAS E REDUZEM ESPAÇO PARA FILMES DIFERENTES E ORIGINAIS Repórter JOSÉ ABRÃO Editora MARIANA ARAÚJO Designer CAROL ALMEIDA
Foto: Denise Guarita
75 milhões, o filme rendeu US$ 296 milhões. Em 2001, Harry Potter e a Pedra Filosofal lucraria mais de US$ 970 milhões, custando US$ 125 milhões, e apenas O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel acumularia mais de US$ 870 milhões sendo US$ 300 milhões o (preço total dos três filmes, filmados simultaneamente). Estava aberta a passagem que atraiu inicialmente os fãs. “Fiquei empolgadíssimo. Era o primeiro filme com equipes e ia ter uns efeitos maneiros. Saí do trabalho, no Centro, e fui direto pro Cine Ritz assistir ao filme. Me diverti muito e comecei a ter certa esperança de que pudéssemos ver novos filmes”, contou Alessandro Guari-
Cartaz Harry Potter e a Pedra Filosofal. Foto: Reprodução
ta, leitor de quadrinhos de super-heróis há 25 anos, quando ver X-men. “Emocionalmente, por mais que eu já estivesse até que bem dentro do mundo de sagas e desenhos e livros e coisas quando lançou A Sociedade do Anel, ver aquele filme no cinema foi uma experiência mais que super fantástica”, conta a aluna de Medicina Bárbara Ghannam (foto), aficionada por livros de fantasia. Hoje em dia, ambos os tipos de adaptação estão dominando as salas. Só este ano serão três filmes de super-heróis: Capitão América: O Soldado Invernal, X-men: Dias de um Futuro Esquecido e Guardiões da Galáxia. Os best-sellers literários não ficam atrás: Divergente, Jogos Vorazes: A Esperança – parte 1 e O Hobbit: Lá e de Volta Outra Vez são algumas das adaptações mais esperadas. Alessandro conta que não esperava que isso fosse acontecer, mas também acha que cansa: “Quando vi o trailer do primeiro Homem-Aranha, era o personagem que eu mais queria ver nas telonas. Agora a coisa banalizou de tal maneira que nem me empolgo mais com as notícias”. Ele nem chegou a assistir a nova versão do personagem, feita em O Espetacular Homem-Aranha, mas disse que vai assistir ao próximo filme Alessandro lê HQs há 25 anos, mas não aprova todas as adaptações. dos Vingadores.
Foto: Reprodução
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e entrássemos numa máquina do tempo para o ano de 1999, algumas coisas no cinema hollywoodiano chamariam a atenção. No ano em que Matrix dominou os cinemas com uma história original impactante e efeitos especiais inacreditáveis, parecia impossível imaginar que em 2014 dois nichos então inexistentes dominariam o mercado de blockbuster americano: as adaptações de livros infanto-juvenis e das histórias em quadrinhos de super-heróis. Basta recaptular em 2000, quando X-men, de Bryan Singer, tentou emplacar o cinema de super-heróis: com um custo de US$
Cena do filme O Senhor dos Anéis
Cartaz do primeiro filme da franquia X-Men.
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CONTINUAÇÕES E PRODUÇÕES REPETITIVAS ESPANTAM FÃS Embora algumas franquias tenham sido muito bem sucedidas, o mesmo não aconteceu para todas. Desventuras em Série, uma série de 12 livros, teve apenas um filme. As Crônicas de Nárnia e Percy Jackson e os Olimpianos, com 7 e 5 livros, tiveram três filmes a primeira e dois filmes a segunda. Já os recentes Cidade dos Ossos: Os Instrumentos Mortais e Divergente se saíram abaixo do esperado nas bilheterias e foram acusados de serem cópias de Jogos Vorazes ou senão simplesmente ruins. “Vira e mexe a coisa desanda, Percy Jackson, sem comentários. Cidade dos Ossos também não achei que ficou bom. Acho que ele ainda é passível de conserto, mas Percy Jackson de jeito nenhum”, avalia Bárbara. Segundo o mestre em cinema pela UFG e editor da revista, Fabrício Cordeiro, tudo segue uma lógica de mercado: “Isso acontece por causa do processo da industrialização da cultura, que parece interminável, incansável e cada vez mais onipresente”. Ele explica que desde que Hollywood iniciou com Star Wars e Tubarão uma lógica de mercado calcada no blockbuster, o que se tem deles é um alto investimento na reprodução de sucessos: “o que significa lançar várias continuações (ou também, muito frequente hoje em dia, os remakes) e outros produtos com a ‘marca’ daquele filme (brinquedos, por exemplo)”.
Segundo o editor, as várias continuações dão segurança aos estúdios, e embora muitos filmes sejam realmente bons, a repetição da fórmula já deu uns tiros n’água. Tanto Bárbara como Alessandro concordam. Como decepção, o leitor de HQs relembra Lanterna Verde: “o filme do Lanterna Verde. O que foi aquilo? Como conseguiram fazer um filme tão ruim de um personagem tão legal?”.
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Fabrício explica que adaptar ambos os estilos no cinema é do interesse dos estúdios pelo público que ele atrai: “Os blockbusters também primam pela redução da idade do público, e por isso essas adaptações de séries literárias buscam em primeiro lugar as franquias infanto-juvenis e as HQs”. Além disso, tais filmes acabariam formando um programa família: vão todos ao cinema assistir ao novo filme, comprando mais ingressos, mais merchandising e ainda dando uma força para a praça de alimentação com o lanche antes ou depois. Porém, esta enxurrada de adaptações ocupa quase todas as salas do cinema e reprime projetos originais, que seriam mais arriscados, mesmo aqueles em gêneros mais mercadológicos, como filmes de ação ou aventura. Fabrício disse que muita coisa é cíclica no cinema, mas não vê uma decadência real para os próximos anos: “é um sério problema que um blockbuster ocupe metade das salas de todo o País. Se é um ciclo, é um ciclo muito poderoso, talvez mais que o star system dos anos 30, 40 e 50”. Além disso, adaptações do gênero que não cabem no cinema estão começando a migrar para a televisão. Arrow, série sobre o Arqueiro Verde, já está indo para sua terceira temporada e já confirmaram Flash, Constantine e Gotham, sobre os heróis da DC Comics. E também temos Game of Thrones, adaptação do best-seller épico, que terá pelo menos oito temporadas para cobrir os enormes tomos escritos por George R.R. Martin. Se estes gêneros vão perder força na telona ou dominar também a TV, é difícil prever: “Existe uma imensa variação de outros filmes da qual o público, a fatia de fato consumidora, sequer sabe da existência. Não vejo um fim muito próximo”, prevê Fabrício. (J.A.)
Isso acontece por causa do processo da industrialização da cultura, que parece interminável, incansável e cada vez mais FABRÍCIO CORDEIRO
Mestre em cinema pela UFG
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onipresente.
CINE
Editor KAITO CAMPOS Designer CYNTHIA COSTA
FULEIRO RoboCop Por José Abrão
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ca – juntamente com o estilo oboCop, o de 1987, não de vida yuppie dos executivos o remake do Padilha, é um filme que caiu em que povoaram a imaginação dos anos 1980 como Jordan ostracismo mais ou menos na metade da década de 1990. Belfort, o Lobo de Wall Street. O filme acompanha MurNinguém mais dava moral para phy, um policial que após ser o Policial do Futuro depois de suas duas continuações pipoca brutalmente assassinado é transformado em um ciborcom roteiros do quadrinista gue como golpe de markeFrank Miller, feitas pra vender ting da prefeitura de Detroit bonequinhos. Foi um acontepara combater o crime fora cimento trágico que um dos de controle e responder à grefilmes mais importantes de ve dos policiais super mal 87 acabou virando um desepagos pela cidade. Funcionánho animado e isso fez muita rios públicos mal pagos vilagente esquecer da importânnizados e substituídos pelo cia e do impacto que ele tinha. poder público? Nossa, como O filme voltou a ganhar um esse filme é fora da realidade! pouco de ar atualmente por Assim surge RoboCop, uma causa do remake, mas se você máquina supostamente quiser assistir terá trasem remorsos e sem balho: o esquecimenemoção, que simto foi tanto que são plesmente faz cumraras as locadoras prir a lei. Polique têm uma cóciais violentos e pia, dando até desumanizados, uma aura meio aposto que essa é cult para o clásnova pra vocês! Ou sico. Sim, clássico, seja, temos um filme e eu direi o porquê. de ação meio brega que Na segunda metade critica em si mesmo o esdos anos 1980, os EUA Foto: Reprodução tilo de vida americano, sua sopassavam por uma de suas faciedade paranoica, seus execuses mais pessimistas, terreno tivos gananciosos e sua polícia fértil para ficções científicas e governo mecânicos e brutais apocalípticas, como O Extercontra a sociedade. Tudo isso minador do Futuro (outro filem um filme de ação, veja você! me que não recebe seu devido Mas claro, RoboCop tamvalor, mas fica pra outra vez). bém não é só cérebro. O filme RoboCop trouxe um direé bem divertido, tem algumas tor holandês, Paul Verhoeven, cenas bem icônicas (“Você tem para lançar um olhar crítico 20 segundos para obedecer!”), sobre a sociedade americana e o visual estético dele é bastano que ela estava se tornando. te oitentista, sua trilha sonoE adivinha se ele não mandou ra é inesquecível e a direção é benzaço. O filme usa uma estémuito bem guiada nas mãos tica trash e meio fascista para do Verhoeven. Esse é um filme criticar o amplo domínio e que você deve mesmo dar uma crescimento das corporações chance. Mas ignore suas continos EUA – e todo o capitalisnuações. De verdade. Mesmo. mo selvagem que isso impli-
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OLHARES OLHARES OLHARES OLHARES
Malabares Pelas Ruas Da Cidade Cada vez mais artistas circenses ocupam o espaço urbano e fazem do sinaleiro o seu picadeiro e dos motoristas o seu público. Alguns vivem só dos malabares, como Raquel Rocha, que tira o sustento das suas apresentações. Dos circos às ruas de Goiânia, quebram a monotonia do trânsito e arrancam sorrisos de quem passa e se diverte com as exibições. Repórter e Fotógrafa BRUNA AIDAR Designers KAITO CAMPOS E NICOLE REIS