Samambaia J ornal L aboratório
do curso de
J ornalismo
da
U niversidade F ederal
de
G oiás | G oiânia ,
setembro ,
2011
Murillo Velasco
LICITAÇÕES Desde a criação das licitações como modelo para contratar empresas prestadoras de serviços aos órgãos governamentais, várias irregularidades foram encontrados nos processos. Recentemente, as obras na ferrovia Norte-Sul e as compras de brinquedos para o novo Parque Mutirama foram acusadas de superfaturamento
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Problemas Jurássicos
Escultura no parque dos dinossauros, Mutirama
Diagramação: Steffen Kühne, com adaptações
Laura de Paula
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ALIMENTAÇÃO Alimentos orgânicos ganham espaço no prato dos goianos
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INTERNACIONAL Guerra contra o narcotráfico gera onda de violência no México
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CULTURA Após 10 anos, Rock in Rio volta a ocorrer na cidade de origem
COMPORTAMENTO Público universitário lidera consumo de bebidas alcoólicas
MEIO AMBIENTE Níveis de poluição em Goiânia preocupam especialistas
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Samambaia >> Goiânia | Setembro, 2011
R UMOR
e d i t o r i a l
Layane Palhares
Mau exemplo que vem de cima Texto: Alana Moura Edição: Laura de Paula Sabe-se que toda obra pública, bem como qualquer compra, contrato, até mesmo propaganda do governo deve seguir normas federais. A necessidade de aquisição ou condições para realizar projetos são alguns dos pré-requisitos da Lei 8.666, que regulamenta a administração de licitações no país. Sabe-se também que, no Brasil, obras públicas são muito utilizadas como meios de superfaturamento por parte dos gestores. Interessante quando se pensa sobre o mau uso de licitações, no caso de obras públicas, é que os recursos que permitem sua realização não surgem milagrosamente nos cofres do estado. As altas taxas de impostos pagas pela população são a fonte para os gastos governamentais. Dinheiro do bolso de
milhões de Josés e Marias que, a cada quatro anos, elegem estes administradores, o que agrega à função do gestor público ainda mais responsabilidade. Acostumar-se aos inúmeros escândalos de corrupção no país não significa conformar-se a esta realidade ou ser apático a ela. Como eleitora, a população espera qualidade no governo que elegeu. Não é um pedido ou um favor a ser feito, mas obrigação com o povo. É dar a César o que é de César, sem mais nem menos. Denúncias de superfaturamento, bem como lavagem de dinheiro, denotam uma falha com a própria política em si. Aquele que se compromete em empreitadas audaciosas apenas para angariar votos deve mostrar-se capaz, também, de gerir o que não é seu. Porque os cofres públicos não são bancos particulares – apesar de muitos usarem-os como tal. Não se pode culpar a política em si,
mas refletir o tipo de administração – e administrador – que a sociedade necessita. A responsabilidade, vale lembrar, é tanto deles, governantes, quanto de todos os eleitores brasileiros.
O papel da imprensa na cobertura esportiva O Brasil será foco de notícias esportivas nos próximos anos. Além de toda a tradição em vários esportes, o país será sede da Copa do Mundo em 2014 e das Olimpíadas em 2016. Ao mesmo tempo os meios de comunicação brasileiros estarão também em evidência e, por isso, nós, jornalistas, temos um papel muito importante nos próximos anos: fiscalizar os gastos públicos para a realização destes eventos. Diversos jornais do país já noticiam há algum tempo o atraso nas obras para a Copa do Mundo e as consequências disso nos cofres do governo. O brasileiro sente que realizar a maior competição futebolística do mundo não é nada barato, por isso nós já começamos a questio-
Ano XII – Nº 51, Setembro de 2011 Jornal Laboratório do curso de Jornalismo Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia Universidade Federal de Goiás Reitor Professor Edward Madureira Brasil
a r t i g o
Texto: Vinícius Moura Edição: Stephani Echalar
Samambaia
nar os papéis de órgãos internacionais como a Federação Internacional de Futebol (FIFA). Com a Medida Provisória que proíbe órgãos reguladores do governo de divulgarem os valores das licitações para obras dos estádios da Copa do Mundo, fica claro que manchetes sobre superfaturamento em obras incomodam muito os organizadores. O que contraria totalmente o discurso do então presidente Luis Inácio Lula da Silva de que dinheiro público não seria gasto em construções de arenas. Por sua vez, a presidente Dilma Rousseff já mudou a fala. Para ela, vale mais investir pesado na Copa e Olimpíadas, mesmo com consequentes atrasos, do que o Brasil ser considerado incapaz de realizar grandes eventos. Enquanto muitos absurdos acontecem neste meio, veículos de comuni-
cação parceiros da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do Comitê Organizador Local da Copa (COL) escondem denúncias de corrupção de Ricardo Teixeira e chamam de antipatriotas os críticos que denunciam o dinheiro do contribuinte sendo aplicado em futuros “elefantes brancos”. Vários jornalistas estão sendo perseguidos nesta guerra que inclui ataques aos absurdos da Copa. Tal fato não é de assustar em um país onde deputado toma gravador de repórter e veículos parceiros da CBF têm total acesso à Seleção enquanto outras emissoras são barradas sem justificativa. É preciso que o jornalismo esportivo seja, nos próximos anos, mais do que cobertura de esporte. Ele deve ter forte caráter político e investigativo em prol do povo brasileiro.
Diagramação: Laura de Paula
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Diretor da Faculdade Professor Magno Medeiros Coordenador do Curso de Jornalismo Professor Juarez Ferraz de Maia Coordenador Geral do Samambaia Professor Welliton Carlos Editor de Diagramação Professor Sálvio Juliano Monitoria Laura de Paula Silva Diagramação Alunos da disciplina Laboratório Orientado – Diagramação Edição Executiva Alunos da disciplina Jornal Impresso II Reportagens Alunos da disciplina Jornal Impresso I Contato Campus Samambaia - Goiânia/GO - CEP 74001-970 Telefone: (62) 3521-1092. E-mail: samambaiajornal@gmail.com Impressão: Cegraf/UFG Tiragem: 1000 exemplares
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c o m p o r t a m e n t o
Universitários consomem mais álcool realizado pela
Texto: Gilmara Roberto Edição: Bárbara Zaiden Diagramação: Bárbara Zaiden
A
Universidade de São Paulo (USP) publicou no fim de 2010 o primeiro Levantamento Nacional Sobre o Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários das 27 capitais brasileiras. Ao comparar jovens universitários à população em geral com idade entre 12 a 65 anos, identificou-se que o consumo de álcool é maior entre os estudantes, bem como o uso de drogas ilícitas, que é quase seis vezes mais comum entre este público. No que diz respeito à combinação de álcool e direção, os líderes em consumo são universitários de instituições privadas, da área de exatas da região Centro-Oeste do país. A pesquisa é uma parceria entre o grupo interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas da Faculdade de Medicina da USP e a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad). Entre as constatações mais relevantes está a de que 49% dos universitários entrevistados já experimentaram alguma droga ilícita pelo menos uma vez na vida. O uso dessas substâncias foi maior entre os estudantes de instituições privadas e com mais de 35 anos. No que se refere ao desenvolvimento de dependência química, o estudo apontou que o risco de desenvolver dependência de maconha é maior entre os homens. Já as mulheres estão mais suscetíveis à dependência de anfetamínicos e tranquilizantes. O coordenador do programa sobre dependência química do Departamento de Saúde Mental e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da UFG, Paulo
Universidade
de
São Paulo
traça retrato do consumo de drogas entre jovens brasileiros
“
A satisfação pode estar muito mais na distração de beber do que nos efeitos causados pelo álcool” Paulo Gontijo, professor
Gontijo, explica que a dependência química desenvolve-se a partir de um padrão de consumo baseado no uso repetido da substância e no aumento das doses, o que futuramente gera crises de abstinência. Tânia Maria da Silva Ferreira, presidente da Comissão dos Estudos sobre Drogas na UFG, considera que o tratamento do consumo de dependentes é especialmente difícil porque mexe com as questões de
prazer a que cada um se submete. “Sentir prazer com o uso da substância está inscrito lá no DNA. E isso é singular: cada sujeito sente o prazer dele e só ele pode falar desse prazer”, afirma.
Júlia Mariano
Levantamento
Prazeres alternativos Tânia Maria acredita que o tratamento da dependência ou do consumo moderado de álcool deve se basear na busca de prazeres alternativos. Ou seja, os pacientes em fase de readaptação deveriam se envolver em outras atividades de diversão e meios de socialização, como, por exemplo, o esporte. Vera Lúcia Morselli, professora da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), considera crucial o fato de que atualmente a sociedade cobra cada vez mais das pessoas para que tenham sucesso, bem-estar, felicidade e, ao mesmo tempo, as proíbe de sofrer e sentir dor. “Esse é um momento em que as pessoas não têm segurança e clareza suficiente sobre quais são os
Tânia Maria: pacientes em fase de readapatação devem buscar prazeres alternativos seus papéis. A bebida e as drogas atuam no sentido de oferecer a elas algo que não acreditam serem capazes de encontrar em nenhum outro lugar”.
Uso abusivo do álcool preocupa mais que dependência Ao contrário do que se pensa, não existe um “beber saudável”. A preocupação de estudiosos do consumo de drogas está centrada na dependência química e no diagnóstico do uso abusivo de álcool. O consumo excessivo de bebidas tem gerado mais vítimas e problemas sociais do que o vício em drogas. O usuário abusivo de álcool não é um dependente químico. Esse indivíduo que consome álcool abusivamente tem uma atividade orgânica cerebral incompatível com a presença do álcool. Quando essa substância atinge o sistema nervoso central, o cérebro do sujeito entra em colapso. Ele passa a apresentar baixo desempenho nas relações sociais e a desempenhar um comportamento altamente antissocial, usando de agressividade e violência.
Segundo Paulo Gontijo, o usuário abusivo é o tipo de indivíduo mais agressivo em casa, no trabalho e no trânsito. “O comportamento antissocial faz com que ele enfrente a sociedade de forma violenta. O dependente químico é diferente, pois ele se anula diante da sociedade”. Como em outras drogas, a dependência do álcool é desenvolvida com o uso repetido da substância; depois aumenta-se a quantidade de bebidas. Diferentemente dos dependentes químicos, o usuário abusivo não sofre as crises de abstinência. De acordo com Paulo Gontijo, para o usuário abusivo, o ato de beber faz mais falta do que a bebida em si, por isso a dependência não se desenvolve. Afinal, a satisfação muitas vezes está na distração de beber e não propriamente nos efeitos do álcool sobre o organismo do doente.
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c o n s u m i s m o
Cada
vez mais pessoas se
rendem ao consumismo compulsivo.
Para especialistas, mercado virtual potencializa essa característica da
sociedade contemporânea Texto: Flávia Gomes Edição: Bárbara Zaiden Diagramação: Layane Palhares
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oupas, calçados, perfumaria, livraria, produtos eletrônicos, lojas inteiras separadas do cliente por um clique. Não é difícil perceber que a internet realmente mudou as relações de consumo. A distância, que antes podia ser uma desculpa para não comprar, passou a ser um problema para aqueles que se rendem facilmente aos preços supostamente baixos e sedutores das lojas online e dos sites de compras coletivas. Isso faz com que as dívidas cresçam e o desejo de comprar parece nunca ter fim. Os atuais sites de compras coletivas movimentam valores milionários. O site Peixe Urbano estima que esse tipo de mercado tenha faturado, no Brasil, cerca de R$100 milhões em 2010, número que deve ultrapassar a casa de R$1 bilhão este ano. Enquanto os consumidores ganham descontos “incríveis”, como incentivo para descobrirem e experimentarem o que suas cidades têm de melhor, os estabelecimentos locais ganham uma ação de marketing extremamente eficiente. O objetivo é a divulgação da marca, a garantia de uma alta quantidade de novos clientes e a oportunidade de fidelizá-los. Por traz das ofertas inacreditáveis, facilidade no pagamento e comodidade na efetivação da compra, estão milhares de pessoas que, em meio a tantas ofertas, se perdem na hora de comprar em busca de satisfazer um desejo imediato: consumir.
Fotos: Flávia Gomes
Felicidade perecível Comprar pela internet facilitou as relações de consumo para o estudante Maykol Vespucci. Ele afirma que não se considera um consumidor compulsivo, mas tem consciência de que compra mais do que precisa. “Não preciso da maioria dos produtos que compro, mas mesmo assim eu gasto dinheiro com eles. Só depois eu vejo que não foi uma boa ideia”. Influências De acordo com professora da Faculdade de Educação da UFG, a psicóloga Juliana de Castro Chaves, a análise do indivíduo que compra por compulsão não pode ser descolada da sociedade que o constitui e na qual ele se insere. Isso significa que os desejos de compra vem, na maioria das vezes, por influências externas, seja da mídia ou da cultura do meio. Ela explica que as mercadorias trazem promessas que envolvem desejos, sonhos e expectativas, estabelecendo uma relação em que o consumidor, com sua ação de compra, acredita que será responsável pelo seu destino, pela mudança de seu “estilo de vida”. A partir daí forma-se o ciclo vicioso entre a frustração e a busca da felicidade no ato de comprar.
Livros, calçados, eletroeletrônicos e filmes são os mais procurados na hora de gastar Além disso, o consumismo não é somente uma questão cultural. Segundo a psicóloga Sílvia Zanolla, também professora da Faculdade de Educação, a compulsão em comprar deve ser encarada como um problema político e social. No caso das compras compulsivas realizadas virtualmente, a internet atua apenas como um espaço a mais para um problema já existente na sociedade. “Consumismo compulsivo não é de agora. Encontramos essa relação de dependência entre o sujeito com a mercadoria no cinema, no teatro ou até mesmo no livro didático. A internet apenas potencializa”, explica a professora.
pras. “A primeira coisa que faço quando recebo dinheiro é pensar em maneiras de gastá-lo. Eu gosto de comprar. Se compro online então, fico ansioso e contando os dias para o recebimento dos produtos”. O estudante admite que, apesar de planejar as compras, não consegue poupar dinheiro e confessa que já comprou diversos itens que pouco ou nunca utilizou. “Às vezes nem penso antes de comprar. Eu acho que ter em mãos produtos pelos quais me interesso é melhor do que deixar o dinheiro na conta bancária”, declara.
Motivações pessoais
Sílvia Zanolla, psicóloga: criação da pessoa interfere na relação de compra
Para Sílvia, o consumismo é resultado de valores que foram assimilados no decorrer da vida. Ela acrescenta que desde a infância é possível identificar a relação da criança com o consumismo. Para isso, bastar observar como a família lida com o dinheiro e com os produtos adquiridos. “A influência do ambiente é fundamental. A nossa relação com a mercadoria está ligada à nossa formação e às nossas motivações pessoais”, afirma Silvia Zanolla. Satisfação pessoal é uma das justificativas encontradas pelo estudante Maykol Vespucci para realizar com-
Maykol Vespucci, estudante de jornalismo, admite que compra além do necessário
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a l i m e n t a ç ã o
Orgânicos atraem novos apreciadores Alimentos produzidos sem agrotóxicos, antes consumidos por público segmentado, ganham mais prestígio nas refeições dos goianas Mariza Fernandes
Texto: Mariza Fernandes Edição: Amanda Azevedo Diagramação: Thamara Fagury
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rande parte da economia brasileira é baseada na produção agrícola convencional, mas Goiás tem dado espaço para novos hábitos de produção e consumo de alimentos. A preocupação com a saúde e as questões sócio-ambientais são fatores cada vez mais importantes para os goianos. Eles têm sido rigorosos ao escolherem o que vai para a mesa. A estudante Naiara de Oliveira, 18, passou a consumir orgânicos quando mudou para a casa da tia, Márcia Nara, vice-presidente da Cooperativa Goiás Orgânico. “Antes eu tomava muitos remédios, pois tenho alergia a agrotóxicos. Depois que passei a consumir orgânicos não tive mais crises”, conta. Alimentos orgânicos, produzidos de forma sustentável, mediante manejo e proteção dos recursos naturais, não possuem produtos químicos que são agressivos ao meio ambiente e nocivos à saúde. Enquanto a agricultura convencional pode causar problemas ambientais como contaminação de lençóis freáticos, rios e oceanos, a agricultura orgânica prioriza qualidade ao invés de quantidade. Essa diferença faz com que as consequências no ambiente sejam mais brandas, por isso não há danos à fertilidade do solo e nem interferência negativa na vida dos animais e seres humanos. O diretor de comunicação da Associação para o Desenvolvimento da Agricultura Orgânica em Goiás (Adao-Go), Adib Francisco, ressalta ainda outras características dos orgânicos. “Eles apresentam mais nutrientes, são menos aquosos e mais saudáveis”, diz. Começo A agricultura orgânica chegou em Goiás no fim da década de 1970, quando ocorreu o primeiro curso de agricultura
Populares escolhem alimento orgânico em feira da Capital: consumo torna-se acessível alternativa no estado. O evento teve a participação da pesquisadora Ana Maria Primavesi, responsável pela disseminação da agricultura sustentável no Brasil. Ainda que esse tipo de agricultura seja conhecida há mais de 30 anos pelos goianos, o interesse do consumidor pelos orgânicos é recente. É o que Wilson Mozena, agrônomo e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), relata. “Atualmente, as pessoas se preocupam mais com a qualidade do que consomem. As experiências mostram que a agricultura orgânica veio para ficar”. Custo alto Apesar do consumo de orgânicos ter aumentado em Goiás nos últimos anos, a maioria das pessoas ainda prefere os convencionais. Um dos motivos é a falta de informação sobre produtos orgânicos. Por exemplo, estes alimentos costumam custar mais caro: entre 20% e 30% a mais que os produzidos segundo o padrão técnico moderno. “Vários fatores devem ser considerados, como os gastos para iniciar a produção e o preparo do solo.
Além disso, existe a lei da oferta e da demanda. A produção de orgânicos ainda é pequena em relação às necessidades do consumidor. Devemos medir o valor real desses produtos, levando em conta que eles possuem um custo sócio-ambiental bem menor em relação aos convencionais”, diz Adib Francisco. A produtora Rose Franco conhece bem as barreiras enfrentadas por quem opta pelos alimentos mais saudáveis. Ela vende produtos como pães e roscas caseiras, feitos à base de orgânicos. “Compro o trigo direto do produtor e môo em casa, mas outros ingredientes são difíceis de encontrar. A uva-passa orgânica, por exemplo, só é vendida em um supermercado e custa muito mais que a convencional, por isso o produto final também tem um custo maior”, conta Rose, que vende seus produtos na feira de produtos orgânicos do Mercado Popular, organizada pela Adao-Go. Feiras Entre os consumidores, uma das principais dificuldades é descobrir em
que locais e horários acontecem as feiras de produtos orgânicos em Goiânia, pois a divulgação é pequena. “Eu consumo orgânicos há mais ou menos dois anos, mas não regularmente porque nem sempre sei onde vão ocorrer as feiras”, diz o estudante Igor Cirilo. Atualmente, já existem feiras com dias fixos, como a do Mercado Popular e algumas organizadas por lojas de produtos naturais. Para quem deseja conhecer os orgânicos de perto, vale a pena visitar uma delas, conversar com os produtores e perceber a diferença que faz comprar e consumir um produto orgânico. “Conheça quem está produzindo, vá até o local de produção. Isso faz parte do consumo consciente e evita que o produto necessite passar por muitos lugares para chegar até você”, aconselha o presidente da Adao-Go, Mariano Parejo.
Onde comprar Feira Agroecológica Mercado Municipal: Rua 74, 329, Centro Sábados: 7h30 às 11h Fone: 3524 1111 Feira da Adufg Associação dos Docentes da UFG (Adufg) 9ª Avenida, 193, Vila Nova Terças-feira: 16h às 19h Fone: 3202 1280 Feira na Johrei Center Rua 87, 341, Marista Quintas-feira: 17h às 20h Fone: 3241 3532 Shopping Cidade Jardim Av. N. Macedo, Qd.49, Cidade Jardim Sábados: 8h às 14/Terças-feira: 8h às 13h Fone: 3576 3606 Cerrado Alimentos Orgânicos Rua 15, 461, Centro Terças e quintas-feiras: 16h às 19h Fone: 3213 4388
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POLITIQUÊS
Edição: Laura de Paula Diagramação: Thiago Lobos
por Vitor Teodoro
Passado o primeiro semestre dos governos federal e estadual, algumas análises das administrações Dilma Rousseff e Marconi Perillo podem ser feitas. Em Goiás, o tucano continua sofrendo com a crise fiscal. O governador arregaçou as mangas, mas as contas não fecham. O déficit no orçamento do estado continua na casa dos 50 milhões de reais mensais. Quanto à crise na Celg, o Estado fechou um convênio com o banco Credit Suisse para a recuperação da empresa. Outro destaque no retorno de Marconi ao poder foi o XIII FICA – Festival de Cinema e Vídeo Ambiental, na Cidade de Goiás. Criado no primeiro mandato do tucano (1999), o Festival foi reformatado pela administração Alcides Rodrigues, que diminuiu a importância das atrações paralelas do festival. A intenção era focar o evento no cinema e na temática ambiental, com a criação do Fórum Ambiental. Marconi ressuscitou as atrações musicais durante os dias de mostra, aumentando suas proporções com o show internacional do cantor francês Manu Chao. No Governo Federal, a presidente
Niemeyer Um dos maiores “elefantes brancos” de Goiânia, o Centro Cultural Oscar Niemeyer, continua em obras. Inaugurado às pressas e incompleto em março de 2005 – no último dia do segundo mandato de Marconi Perillo – nunca foi efetivamente utilizado. Meses após a entrega da obra, foram identificadas falhas estruturais graves que levaram à sua interdição. Foi um dos principais motivos da ruptura entre o governador e seu antecessor, Alcides Rodrigues.
Fotos: Divulgação
Primeiras avaliações começou sua administração deixando claro que era a sucessora de Lula, não sua continuidade irrestrita. Dilma Rousseff trocou, já nos primeiros dias de mandato, a maior parte do ministério. Manteve nomes caros à cúpula petista, como Guido Mântega, mas imprimiu seu estilo na Esplanada. Firme em suas posições, cedeu a pressões, mas sem admitir todas as exigências do PMDB de seu vice, Michel Temer. No setor econômico, Dilma herdou uma máquina gastadora – que ajudou a elegê-la e a fermentar os índices de inflação. Teve de cortar na própria carne e reduzir gastos. Já no quinto mês de seu mandato, enfrentou sua primeira crise política. Antônio Palocci, que ressurgiu no governo como ministro chefe da Casa Civil, se envolveu em um escândalo. O patrimônio de Palocci foi multiplicado por vinte durante seus quatro anos como deputado federal. Ele afirma ter enriquecido com consultorias econômicas. Em seguida, Dilma imprimiu uma “faxina” nos ministérios, uma moralização da administração federal que levou a pique três ministros.
Paulo Garcia Miniescândalo após miniescândalo, o prefeito de Goiânia perde apoio a cada manchete. A adesão do ex-prefeito Iris Rezende à campanha de sua reeleição em 2011, que era dada como certa até pouco tempo, está cada vez mais distante. Há quem diga que o PMDB procura candidato próprio.
Paulo Garcia 2 Além dos escândalos recorrentes envolvendo a prefeitura, o trânsito da capital pesa contra o petista. Para piorar o que já estava ruim, a prefeitura realizou interdições e desvios em diversos pontos da cidade. Simultaneamente. O fechamento da Marginal Botafogo é o que mais irrita os motoristas/eleitores.
Celg Passada a pirotecnia em torno do acordo de recuperação da Celg, com o Credit Suisse, continuam as negociações para a federalização da Companhia Energética de Goiás. A Celg atual é fruto da incompetência dos nossos governantes. De todos, diga-se de passagem.
Deputadas Marina Santanna (PT) teve atuação discreta no primeiro semestre. Em sua temporada no Congresso, a deputada apresentou um mandato apagado. Será que está em estágio de adaptação? E Flávia Morais (PDT)? Esteve realmente no plenário? Aliás, quem (homem ou mulher) apresentou algo relevante?
Marina Silva A ex-ministra e ex-presidenciável Marina Silva também caiu no esquecimento. Mesmo durante as discussões sobre a reforma do Código Florestal, Marina ficou em segundo plano. Foi lembrada apenas numa “comitiva de ex-ministros do meio ambiente” que se reuniu com a presidente Dilma Rousseff.
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a m b i e n t e
Poluição do ar atinge níveis críticos Texto: Illa Rachel Edição: Sarah Marques Diagramação: Danielly Mariano
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oiânia é a segunda cidade do mundo com mais área verde por habitante, com 94m2/hab. Tanto espaço verde, no entanto, não impediu que a cidade atingisse níveis preocupantes de poluição do ar. Estudos realizados pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e órgãos ambientais indicam que há grandes quantidades de poluentes no ar que se respira aqui. Veículos automotores são os principais vilões nessa história. Teste realizado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) para medição dos gases emitidos pelos automóveis reprovou mais da metade da frota. Além da grande quantidade de veículos – hoje, são mais de um milhão circulando pelas ruas de Goiânia –, muitos não estão regulados, o que aumenta a emissão dos poluentes. Motocicletas também contribuem – e muito – para o aumento da poluição ambiental. Como a maioria desses veículos não tem catalisador, a saída de gases é intensa. Ao contrário do que se imagina, carros a álcool foram reprovados no teste realizado pela Semarh, principalmente porque eles não passam por regulação frequente. Carros à diesel e à gasolina tiveram quase metade da frota reprovada, deixando a cidade em alerta. Para piorar, as características climáticas da região não ajudam quando o assunto é poluição. Segundo o professor de Química da UFG, Nelson Antoniosi, a temporada de seca aumenta a concentração das partículas no ar e, consequentemente, aumenta os poluentes inalados. Análise Preocupado com o aumento crescente da poluição, o Laboratório de Mé-
Química
da
UFG
coleta dados da atmosfera goianiense para identificar grau de poluição
todos de Extração e Separação (Lames), da UFG, realizou em 2007 uma análise da qualidade do ar em 29 pontos de Goiânia. Através da elaboração de um novo método, os dados coletados mos-
detêm grande quantidade de poluentes, como monóxido e dióxido de carbono, além de chumbo e outros elementos. O que chama a atenção no estudo é a maneira como os dados foram obti-
“O Sisco pode ser um substituto para os atuais equipamentos de análise da qualidade do ar, pouco viáveis. Além disso, o resultado que o Sisco oferece é mais próximo da realidade do que os dados recebidos pelos equipamentos tradicionais, que sugam constantemente o ar, podendo sugar uma quantidade de poluentes que não condiz com a realidade do local”, explica Carlos Brait. Por ser um método barato, de simples instalação, o Sisco pode ser usado em todo o mundo, coletando dados para análise da qualidade do ar em diversos municípios. O doutorando em Ciências Ambientais, Aldo Muro Júnior, está desenvolvendo um projeto para avaliar a quantidade de poluentes orgânicos presentes no ar. Segundo Antoniosi, o estudo amplo e de longo prazo permitirá estabelecer níveis de poluentes aceitáveis na atmosfera. Carlos Siqueira
nova metodologia, equipe de
Carlos Brait
Com
Sistema artificial desenvolvido na UFG indica o acúmulo de poluentes no ar traram quais os pontos mais poluídos da cidade. Terminais de ônibus, como o da Praça da Bíblia e a Praça Cívica,
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Teste realizado pela Semarh para medição dos gases emitidos pelos automóveis reprovou mais da metade da frota
dos. A partir da observação de pombos, Carlos Henrique Hoff Brait e Nelson Antoniosi decidiram criar um sistema artificial que reproduzisse o acúmulo de poluentes nas penas das aves, uma vez que as penas retratam uma imagem do ambiente por estarem expostas aos metais do ar. Assim, a equipe do Lames desenvolveu o “Sistema in situ de coleta de poluentes”, conhecido como Sisco, constituído por uma haste de ferro, um bastidor utilizado para bordar e um filtro embebido em uma cera semelhante à das penas dos pombos. Após 15 dias de coleta, os Siscos foram recolhidos e analisados em laboratório para avaliar a presença de metais tóxicos aderidos à cera.
Nelson Antoniosi: tempo seco aumenta concentração de partículas poluentes
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a d m i n i s t r a ç ã o
p ú b l i c a
Licitações recheadas de problemas importantes estão sob
investigação em
Goiás. A
maioria das irregularidades está relacionada a crimes em processos licitatórios
Divulgação
Texto: Murillo Velasco Edição: Lara Leão Diagramação: Laura de Paula
N
os últimos meses duas grandes obras foram alvo de denúncias de que estariam com compras superfaturadas e irregularidades no processo licitatório. A primeira delas envolve a construção da maior ferrovia do Brasil, a Norte-Sul, operada pela estatal Valec, que teve licitação suspensa após denúncias de superfaturamento. A segunda é a licitação de compras de brinquedos do Parque Mutirama, em Goiânia, alvo de denúncias políticas de que também es-
tariam superfaturadas. Estes dois casos não são isolados. Em todas as esferas dos governos é possível perceber falhas nos processos licitatórios. A Constituição Federal de 1988 estabelece regras – conhecidas como concorrência pública ou licitação – para processos de obras, serviços e compras por parte do poder público. O objetivo dessas normas é assegurar que haja igualdade e transparência a todos os envolvidos no processo e garantir a vitória da empresa que tiver o melhor produto, com o menor preço. Porém, as coisas nem sempre são feitas como manda a lei. Vanilda Alves foi secretária de Administração e Recursos Humanos da Prefeitura de Goiânia durante a gestão do ex-prefeito Pedro Wilson Guimarães (2001 - 2004). Na época, ela participou de uma comissão responsável pelas concorrências do governo municipal. “A licitação é pública porque há a obrigação de se dar publicidade, o que resulta em um evento democrático”, explica a ex-secretária. De acordo com Vanilda, talvez a maior dificuldade durante uma licitação seja elaborar o edital de forma a permitir a maior concorrência possível, a fim de se obter o melhor negócio para a instituição quanto ao objeto e ao preço. Uma das formas de dar transparência ao processo de licitação e diminuir falhas é realizar pregões eletrônicos. Vanilda Alves fez parte da elaboração do primeiro pregão eletrônico na Prefeitura de Goiânia. “O procedimento ainda era novidade e a expectativa grande. Licitamos computadores para todas as escolas da Secretaria Municipal de Educação e conseguimos uma economia de aproximadamente meio milhão de reais. Isto porque o evento foi extremamente público, divulgado na internet, houve um número enorme de participantes“, conta.
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A licitação ou concorrência pública é feita para processos de obras, serviços e compras por parte do poder público
são do contrato e, geralmente, a maioria dos trabalhadores empregados na obra é demitida. É o caso da ferrovia Norte-Sul que, há 5 anos, empregava milhares de operários em Goiás, e hoje, após a suspensão do contrato com a Valec, teve trabalhadores demitidos. O operário Francisco Figueiredo foi um dos dispensados pela firma. Para ele, deveria existir alguma forma de proteger o trabalhador da obra, já que não tem culpa das falhas administrativas da empresa. O contrato do Ministério dos TransArquivo pessoal
Obras
Desemprego
Obras da Ferrovia Norte-Sul: após crise no Ministério dos Transportes, o contrato com a empresa Valec, responsável pelas obras, foi suspenso por suspeita de superfaturamento
Um lado pouco lembrado quando se fala em problemas com licitações é o desemprego. Ao se comprovar que uma licitação está irregular, ocorre a suspen-
Vanilda Alves: por ser pública, a licitação é um evento democrático
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portes com a Valec foi suspenso no dia 5 de julho deste ano, após denúncias de superfaturamento e desvio de R$ 48 milhões de verbas públicas. Se somados os danos com o desemprego gerado, o impacto nos cofres públicos seria maior. Problemas à parte, o processo de concorrência ainda é uma forma de garantir a
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Fotos: Murillo Velasco
democratização do serviço público. O ponto crucial das licitações são os interesses de determinados grupos privados que deturpam o verdadeiro sentido do processo. As licitações enfrentam problemas desde sua introdução na estrutura legislativa do país. Problemas que não têm prazo para acabar.
Legislativo investiga irregularidade em obra
Placa indica compra dos novos brinquedos e prazo de execução das obras. O contrato com a empresa responsável está sob revisão
Em abril, a Prefeitura de Goiânia lançou as obras de reforma e ampliação do Parque Mutirama. Com as mudanças, ele supostamente se tornará o maior parque temático público do país. Devido à grandiosidade da obra, várias especulações políticas surgiram. Vereadores questionaram, por exemplo, o valor a ser pago pela Prefeitura na compra de novos brinquedos para o parque. Dentre eles, uma montanha-russa de R$ 2,7 milhões, que teria pertencido a um parque temático de São Paulo. Para o vereador Elias Vaz (PSol), um dos protagonistas das denúncias, o preço da montanha-russa está acima da média do mercado. Ele diz ter feito uma pesquisa que indica diferenças de preços de até 1.600%. Por sua vez, o prefeito Paulo Garcia desqualificou a pesquisa de Elias Vaz,
Escultura no parque dos dinossauros, Mutirama: segundo vereadores, licitação para compra de novos brinquedos ferem princípios da moralidade e legalidade dizendo que não é séria uma impressão de internet sem averiguações técnicas. Caso seja comprovado que os brinquedos estão acima do valor de mercado, a licitação pública será anulada. O fato ainda não foi completamente apurado. Segundo nota do Tribunal de
Contas dos Municípios (TCM), o único problema encontrado até agora está relacionado aos prazos. De acordo com a secretária de licitação do TCM, Maria do Carmo de Jesus, os contratos deram entrada no Tribunal sete meses após o estipulado por lei.
Desapropriação não ampara trabalhadores Toda obra pública exige a reorganização de espaços que nem sempre são públicos. Quando o projeto de uma grande obra esbarra em uma propriedade particular, a Prefeitura entra com o pedido de desapropriação do imóvel. Foi o que aconteceu com um posto de gasolina, no final da Avenida Araguaia, para atender ao projeto do Complexo do Parque Mutirama. O proporietário do posto de gasolina, Aroldo Muniz, conta que o imóvel foi desapropriado por meio de decreto, no final de 2010. Segundo ele, a desapropriação foi alegada pela falta de licença de funcionamento do estabelecimento. A área onde hoje é o posto de gasolina será um dos acessos ao túnel da Aveni-
da Araguaia. Muniz alega não ter sido devidamente indenizado. Francisco Correia, que trabalhava há 20 anos no local, foi demitido após a desapropriação. Para o frentista, a obra é um abuso e não pode passar por cima dos direitos de trabalhar. Por isso, ele e um grupo de ex-funcionários protestaram, colocando faixas ao redor do posto, que já não funciona mais. O processo de desapropriação de imóveis é uma medida administrativa amparada por lei, mas muitas vezes injusta. O poder público interfere na organização dos espaços privados da cidade e se obriga a indenizar os envolvidos. Mas não faz nada para quem perde o emprego.
Francisco Correia (à direita), funcionário do posto de combustível há 20 anos, ao lado de Jamil Macedo, também demitido do posto, protestam contra desapropriação
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e c o n o m i a
Locadoras entram em decadência Comercialização indiscriminada de CDs e DVDs piratas contribui para o declínio das empresas. Muitas já fecharam as portas Texto: Carolina Umbelino Edição: Bárbara Zaiden Diagramação: Isadora Pícolo
A
utilização de obras – sejam elas escritas, musicais ou audiovisuais – protegidas por direitos autorais sem a devida autorização é crime. Isso significa que a cópia de filmes, exposição e venda são caracterizadas como práticas ilegais. Nesta categoria também se inclui o download de arquivos pela internet, mesmo que para uso particular. Anualmente, o Brasil perde cerca de R$198 milhões com o comércio ilegal de filmes piratas. E as videolocadoras são as mais prejudicadas. Nesse processo de decadência, estabelecimentos que estavam no mercado há mais de 20 anos fecharam as filiais enquanto outros ainda tentam manter as portas abertas. Antônio Luis Pinto Oliveira, proprietário da Vide-vídeo Locadora, afirma que, em 2005, o faturamento mensal de sua empresa chegava a R$ 11 mil. Hoje, os lucros não passam de R$ 2.600 e a expecta-
tiva é que continue caindo. Segundo ele, o fato é atribuído em 60% ao comércio pirata, além das facilidades da internet. Há cerca de cinco anos era difícil fazer cópias de filmes devido à existência do VHS. Para isso, eram necessários dois aparelhos de vídeo e muito tempo. Atualmente, qualquer computador com gravadora de DVD e acesso à internet permite destravar os discos protegidos de cópia e piratear as obras. Custos Os DVDs custam, em média, R$120 quando saem dos cinemas e são disponibilizados para as locadoras. Mesmo que eles fossem locados todos os dias – o que não acontece – seriam necessários, no mínimo, dois meses para que o custo fosse coberto. Com isso, o número de cópias adquiridas por comerciantes caiu de quinze para duas. “Mesmo os filmes que fizeram grande sucesso nos cinemas e terão uma boa procura não rendem o suficiente”, afirma
“
A pirataria é uma forma de contravenção que está praticamente legalizada” Edvaine Moribayashi, dono de videolocadora
Apesar disso, Vênis é otimista e tem esperança na recuperação do mercado, principalmente com a chegada da tecnologia Blue-ray. “As locações voltarão a aumentar assim como aconteceu quando houve a troca do VHS pelo DVD”, afirma. Entretanto, ela também enfatiza a necessidade de mais colaboração da Prefeitura e da Divisão de Fiscalização e Postura no combate ao que define como “uma grande máfia, em que os comerciantes são os menores problemas”.
Oliveira, que já chegou a empregar 12 funcionários e, hoje, conta com apenas três. Para ele, a falta de fiscalização por parte do poder público e de consciência da população são os principais agravantes da situação. Vênis Araújo é proprietária de um dos únicos estabelecimentos do ramo que ainda possuem filiais, a Planet Vídeo. Segundo ela, o movimento diminuiu 50% desde que entrou para o negócio, há cinco anos.
Banalização
Ao contrário de Vênis e Antônio, Edvaine Moribayashi, dono da Hot Park Vídeo-locadora, acredita que a queda no movimento aconteceu não só pela pirataria, mas também pela perda de interesse. Para ele, houve a banalização do ato de assistir filmes. Afinal, há uma grande procura por comodidade e não pela qualidade na hora de adquirir um exemplar. Além disso, existem outras formas de entretenimento acessíveis, como a TV a cabo e a internet. Atualmente, Ed vaine trabalha soNa concorrência com as locadoras procurados e os clientes são fiéis. mente com a ajuda A diarista Geane Gonçalves é conestão os ambulantes. Eles vendem da família e não tem lançamentos ou até mesmo filmes que sumidora de filmes piratas. Ela conta esperanças com a ainda estão disponíveis no cinema que há alguns anos costumava locar chegada do Blue-ray. filmes duas vezes por semana. Mas pelo mesmo preço de uma locação. Segundo ele, o cliente O vendedor ambulante Sérgio com o tempo, os piratas foram ganhanque já se habituou ao Henrique Silva conta que trabalha no do espaço em sua casa. “Hoje os filme filme pirata, de baixa ramo há aproximadamente três anos piratas custam o preço de uma locação, qualidade, não vai e meio, quando “pegou o ponto” com então, acabo preferindo comprar para pagar a mais por alta outro vendedor que estava no local há poder assistir quantas vezes quiser”, definição”. Assim explica oito anos. como os outros emGeane diz que não desistiu das Sérgio afirma que devido à falta de presários, ele critica opções de trabalho recorreu ao mer- locações, mas agora faz opção pelo a falta de fiscalização cado informal. Começou vendendo bi- serviço com uma frequência menor das autoridades que juterias e, agora, vende também filmes – apenas uma vez por mês. “Queria permitem esta “forpiratas – o que tem ajudado a comple- conseguir comprar filmes originais, ma de contravenção mentar o faturamento da barraca. Se- que eu até prefiro, mas não posso que está praticamenGeane Gonçalves: “Não posso pagar o preço do filme original” gundo ele, os filmes são cada vez mais pagar o preço”. te legalizada”.
Valor mais justo atrai clientes
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Parcelar nem sempre é bom negócio hora de comprar um carro, é melhor esperar mais para pagar à vista do que financiar o veículo em várias vezes
Texto: Raisa Ramos Edição: Tchela Borges Diagramação: Lara Leão
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lguns sortudos, quando passam no vestibular, ganham de presente dos pais um carro zero quilômetro como forma de prêmio pelo esforço nos estudos. Quem não tem essa sorte, precisa arrumar emprego e começar a ganhar seu próprio dinheiro para investir em um automóvel. Quando esse momento chega, várias dúvidas passam pela cabeça: é melhor comprar veículo usado ou novo? Financiado ou à vista? Com entrada ou sem entrada? As concessionárias, atualmente, têm facilitado muito a vida dos compradores. O interessado em adquirir um automóvel pode tranquilamente entrar na loja e sair de carro zero, mesmo que não tenha dinheiro para dar como entrada. O valor do veículo pode ser parcelado em até 60 meses e essa opção de compra é uma das mais populares (e caras).
50% do valor do veículo. Mesmo assim, os juros serão altos. “O ideal é pagar à vista. Se a pessoa não tem condições, é melhor começar por baixo. Compre uma bicicleta, depois troque por uma moto, depois por um carro pequeno usado até chegar no veículo zero quilômetro”, ensina o economista. Na maioria dos casos, financiamento sem nada de entrada duplica o valor do veículo no fim das contas. Para ilustrar bem a situação, foram pesquisados preços de vários modelos populares em diversas concessionárias conhecidas pelos goianos. Em uma re-
diferença é expressiva. O modelo Gol também tem o valor quase duplicado. À vista, um simples custa R$ 23.990, enquanto o financiado sai por R$ 44.900. Assim, o consumidor paga mais de R$ 20 mil em juros, escondidos em 60 parcelas de R$ 740. Ot Vitoy lembra ainda que o comprador, depois de adquirir o veículo, tem várias despesas pela frente, além da parcela do financiamento. “Combustível, que está cada dia mais caro, IPVA, manutenção, seguro e outras coisas”. O engenheiro eletricista Kunihi Suga sabe disso e há quatro meses está fazenRaisa Ramos
Na
Leilões Outra opção é recorrer a leilões, como fez a repórter Carollina Almeida para adquirir o primeiro carro. Esse sistema acontece quando alguém compra carro financiado e não consegue pagar as parcelas, então o banco toma o veículo e o coloca à leilão. Ot Vitoy considera a opção arriscada: “É preciso entender de mecânica. Uma pessoa que não conseguia pagar as parcelas, provavelmente
“
O ideal é pagar à vista. Se a pessoa não tem condições, é melhor começar por baixo”
Financiamento A jornalista Flávia Rocha optou por esse tipo de negócio. “Comprei meu carro em 2008, financiado sem entrada e dividido em 60 vezes”, conta. Foi assim que ela saiu da concessionária com um Fiat Pálio zero quilômetro, de quatro portas, vidro elétrico e travas. Numa revendedora Fiat de Goiânia, esse carro custa a partir de R$ 27 mil. A versão completa, com ar-condicionado, direção hidráulica e som, pode chegar a R$ 32 mil. Flávia, que já pagou 39 parcelas, ainda tem quase dois anos pela frente até quitar o valor do financiamento. O economista Ot Vitoy adverte para os perigos de financiar um veículo sem dar uma entrada substancial. “Comprar carro financiado não é uma boa escolha. Os juros embutidos nas parcelas são muito altos”, alerta. Para dar diferença nas parcelas, o consumidor deve pagar, no mínimo,
Vitoy. “Carro antes era patrimônio. Hoje não é mais”, afirma o economista.
Ot Vitoy, economista
Flávia Rocha optou pelo financiamento para adquirir o desejado carro zero vendedora Ford, o Ka, completo e à vista, sai por R$ 28.990. Financiado, sem entrada, em 60 vezes, o valor sobe para R$ 53.400. Com esse dinheiro, seria possível comprar um Ford Focus, carro considerado bem mais luxuoso. Ainda na mesma loja, o modelo Fiesta, um dos mais vendidos, salta de R$ 32.990 à vista para R$ 60 mil parcelados em cinco anos, o que equivale a dois carros Fox. A
do poupança para comprar seu primeiro carro. Kunihi, que hoje anda de bicicleta, tem planos de comprar um carro usado à vista, com mais de 10 anos de uso, para não precisar pagar IPVA. “Depois de comprar, vou continuar juntando dinheiro até conseguir comprar um veículo novo. O bom é que vou poder usar o carro velho na entrada do novo”, conta. Essa é a atitude ideal, segundo Ot
não tinha dinheiro para as manutenções e reparos. Geralmente quem compra em leilão é dono de oficina, que desmonta o carro e revende as peças”, explica. Mesmo assim, Carollina acha que fez bom negócio. “O carro é usado e nunca me deu problema. E como comprei em leilão, por um preço bem em conta, acredito que quando for vender, vou perder muito menos dinheiro do que se estivesse vendendo um carro que comprei zero”. Já a jornalista Flávia Rocha tem outra opinião sobre o veículo adquirido. “O meu carro desvalorizou muito. Poderia ter olhado melhor ou comprado um carro com um pouco mais de luxo, com ar condicionado e direção hidráulica, pois o que eu pago hoje daria para bancar o outro modelo”.
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Resultados presidente
da política do
Felipe Calderón
contra o tráfico de drogas são ineficientes para acabar com problema.
No
meio de
conflitos, população fica desamparada Texto: Stephani Echalar Edição: Sarah Abdala Diagramação: Frederico Oliveira
E
m 2006, o México escolheu Felipe Calderón como o novo presidente do país sob a promessa de combater o tráfico de drogas e diminuir a violência que atingia o Estado. Desde o início da gestão, Calderón tomou iniciativas contra o narcotráfico. As duas ações com mais repercussão ocorreram em 2007, quando a “Guerra ao Narco” ganhou forças militares. Naquele ano, o presidente colocou o exército nas ruas para ajudar o contingente policial na luta contra traficantes. Na época, o chefe do governo mexicano se aproximou dos Estados Unidos e, juntos, elaboraram a Iniciativa Mérida – um acordo bilateral de combate ao tráfico. Cinco anos depois, os saldos da Guerra de Calderón colocam em risco a reputação do presidente e a vida dos mexicanos. Ana Rosa Alba, cuja família foi vítima de sequestros por narcotraficantes, afirma que a população está insatisfeita com o presidente. “Felipe Calderón está mal com os mexicanos. Fala que aplica milhões de dólares contra o narco, mas sabemos que não é verdade.” O governo do México reconheceu que, desde o início da guerra até o começo deste ano, 34.612 pessoas – entre policiais, soldados, indivíduos envolvidos com o tráfico e civis – morreram. Os números que trabalham a favor de Calderón são menores: em quatro anos de luta, 125 chefes foram presos.
As autoridades mexicanas também informam que mais de 5 mil assassinos foram detidos. Em 2010, três grandes líderes do tráfico foram capturados: Arturo Beltrán Levya, Ignacio Coronel e Edgar Valdez Villareal. Mas isso não foi suficiente para conter a onda de violência no país. Erros Para justificar sua política de enfrentamento, Calderón se baseou em três argumentos principais: o aumento do consumo interno de drogas, o crescimento da violência, e a alegação de que os cartéis do tráfico estavam se tornando muito poderosos a ponto de competir com o Estado pelo território. Em um artigo publicado em janeiro deste ano na revista “Nueva Sociedad”, o cientista político César Morales Oyarvide bus-
>>
O exército está preparado para lutar, não para fazer a segurança diária. O envolvimento das forças armadas elevou o nível de violência, e o número de práticas contra os direitos humanos
ca mostrar falhas nesses argumentos. Em seu trabalho, Oyarvide afirma que o aumento do consumo interno de drogas não seria uma boa justificativa, pois mesmo com a elevação do
Divulgação
Com exército nas ruas, governo mex número de usuários, o México continuou sendo um dos países com menor porcentagem de envolvimento de drogas na população. Os novos consumidores seriam reflexos apenas do crescimento da população do país. Ainda segundo Oyarvide, os níveis de violência no MéxiMexicanos manifestam contra onda de violência que afeta o país co antes de 2006 estavam em queda, e a insegurança sentida minar os efeitos nocivos que o tráfico pela população dizia respeito a crimes gera, focando na educação e prevencom caráter econômico, como roubos e ção com relação às drogas. Claro que assaltos, e não ao narcotráfico. Os car- tratando o problema das drogas como téis também não estariam disputando o saúde pública, a demanda e a consterritório com o Estado, pois substituí- cientização dos usuários é influencia-lo não é a intenção dos traficantes. da, fazendo assim com que o consumo A presença de soldados nas ruas ao diminua e ao mesmo tempo a comerlado dos policiais mudou a maneira de cialização também seja impactada.” enfrentar os criminosos. O exército está preparado para lutar, não para fazer a Duas guerras segurança diária. O envolvimento das forças armadas elevou o nível de vioO tráfico de drogas do México aos lência e o número de práticas contra os Estados Unidos e Europa é comandadireitos humanos. O Estado usou toda do, em território mexicano, por sete sua força para derrotar os criminosos e, grandes organizações ou cartéis (ver em resposta, recebeu toda a força dos box), cada um com seu líder principal. cartéis, que dão mostras quase diárias Desde 2006, o objetivo das ações milido seu poder. tares tem sido encontrar e capturar esEstudiosos da situação mexicana ses líderes. atual apontam que um dos problemas Autoridades mexicanas prevêem da estratégia de Calderón é não tratar o que a estrutura dessas organizações tráfico como um assunto de segurança tem grande dependência administrapública e, com isso, trabalhar a preven- tiva dos líderes dos grupos. Tal visão ção e a educação. é contestada por analistas, como José Artur Olivieri, mestre em Ciência Luis Velasco, autor do estudo “Drogas, Política pela London School of Eco- seguridad y cambio político em Méxinomics and Political Science (LSE) e co”, segundo o qual os cartéis não são pesquisador colaborador do Centro tão organizados ou rígidos. De acordo de Estratégia, Inteligência e Relações com essa visão, um líder abatido ou Internacionais (CEIRI), aponta para o preso seria substituído por outro mais Samambaia algumas das vantagens novo e mais violento. dessa abordagem. “Seria uma estraNo México existem duas guerras tégia adotada que permitiria que o sendo travadas: uma entre os grupos problema fosse encarado por órgãos de traficantes, e outra entre o Estado e públicos específicos, onde políticas se- os traficantes. No meio dos conflitos, a riam desenvolvidas e desenhadas para população fica desamparada.
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exicano tenta combater narcotráfico
Estados Unidos apresenta mercado amplo A Iniciativa Mérida, firmada em outubro de 2007, aproximou os Estados Unidos e o México no combate ao tráfico de drogas. Com a ação, o México recebeu aparelhos modernos capazes de rastrear o tráfico de drogas e o contingente policial obteve treinamento e capacitação. Nos Estados Unidos, ao invés de uma guerra declarada, o combate está baseado em serviços de inteligência e, lá, o problema é visto como uma questão social. No entanto, a distribuição e o consumo de entorpecentes no país permanecem altos, dando continuidade à demanda que o tráfico de drogas do México tenta abastecer.
Além de não conseguir diminuir o mercado interno, os Estados Unidos tomam – de maneira independente – ações que prejudicam o acordo bilateral. Em alguns estados, como a Califórnia, por exemplo, a legalização das drogas está sendo discutida. A facilidade para se obter armamentos no país norte americano também atrapalha o México. Mais da metade das armas que estão nas mãos do tráfico vieram de lá. Em nenhum momento se pensou nos efeitos que isso teria no combate mexicano aos traficantes. A diferença nas realidades dos dois países coloca em dúvida a eficácia da
Iniciativa Mérida e traz à discussão a necessidade de criar medidas que realmente unam os vizinhos na luta contra o avanço do narcotráfico. Uma das ações seria regionalizar o combate, como disse Artur Olivieri. “A melhor forma para que esse impacto não fosse sentido, seria envolver diretamente órgãos ou secretarias locais dos estados e municípios e não ficar somente na esfera federal. Acredito que uma possibilidade para diminuir esse impacto seria trabalhar diretamente na origem e no destino do problema e não somente fazer um acordo bilateral de segurança entre os dois países.” Válidos ou não, os argumentos que serviram para começar a guerra não podem mais sustentá-la. Os resultados da estratégia de Calderón estampam diariamente capas de jornais com a violência que atinge o México.
“
Felipe Calderón está mal com os mexicanos. Fala que aplica milhões de dólares contra o narco, mas sabemos que não é verdade” Ana Rosa Alba, mexicana
Civis são vítimas de sequestradores Álbum de família
Editoria de Arte
Carlos Gabriel Ortiz: sequestrado em 2008 O número de homicídios e sequestros é muito alto. Na cidade de Aguascalientes, capital do estado que leva o mesmo nome, a família Alba, como tantas outras, foi vítima dos sequestros do narcotráfico. Há 15 anos, Gabriel Alba Perez foi capturado e levado para uma montanha, onde ficou por mais de duas semanas. Segundo Gabriel, o dinheiro do resgate seria destinado à compra de armas e às famílias dos sequestradores. Em 2008, a família voltou a ser alvo dos traficantes. Carlos Gabriel Ortiz, 23 anos, neto de Gabriel Alba Perez foi sequestrado com um amigo quando saíam de uma festa. A segunda ocorrência deixou a família mais assustada. “Muitos familiares meus foram aos Estados Unidos e a outros estados do México com medo. Os sicários (assassinos) ameaçavam a minha família, sabiam o nome de todos, o que faziam”, disse Ana Rosa. O aumento desenfreado da violência – em 2010 o número de assassinatos subiu 63%, e mais da metade deles se concentrou em apenas três estados: Chihauhua, Sinaloa e Tamaulipas, no norte do país – causou a reação da sociedade. Uma dessas expressões é o blog “Nuestra aparente rendición”, criado pela escritora Lolita Bosch. A página reúne textos de artistas, intelectuais, estudantes, entre outros. Nesse blog foi divulgada recentemente uma grande marcha contra a situação do país. Foram 51 passeatas, dentro e fora do México, chamando a atenção de toda a população para sair da indiferença e cobrar ações do governo.
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Lances
por Guilherme Gonçalves
Esportivos
Edição: Tchela Borges Diagramação: Laura de Paula
Rodrigo Cabral
Prêmios por bajulação É de se estranhar que Goiânia tenha sido anunciada como uma das sedes de Copa América de 2015 com quatro anos de antecedência. Os dirigentes Ricardo Teixeira e André Pitta se utilizaram do amistoso entre Brasil e Holanda, em junho, para divulgar a informação, em nome da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e da Federação Goiana de Futebol (FGF). A indicação causou surpresa, ainda que já fosse ventilada antes de sua oficialização. O anúncio foi feito em um momento estratégico. O reencontro entre as duas seleções – e todo seu clima de revanchismo forjado – no estádio Serra Dourada atraiu olhares para a capital goiana. Além disso, é evidente que houve interesses políticos. Após a exclusão da Copa de 2014, o governo estadual bajulou, sem êxito, a CBF até os últimos instantes na tentativa de herdar a vaga de Natal entre as cidades representantes. A entidade máxima do futebol brasileiro sabe que seria um ato ingênuo revogar a condição de sede da cidade potiguar e entregá-la a Goiânia de uma hora para outra. Por mais que as obras em Natal estejam atrasadas, transferir a sede para Goiânia seria começar igualmente do
zero. Aliás, nenhuma cidade sede pode se gabar de estar rigorosamente em dia com os prazos previamente estabelecidos. As reformas do Maracanã, no Rio de Janeiro, e do Mineirão, em Minas Gerais, são apenas dois exemplos de atraso no processo de preparação para o Mundial. Todavia, o apoio irrestrito de uma unidade federativa não poderia passar em branco. Ricardo Teixeira sabe retribuir bem as gentilezas de seus aliados. Optou por agradar o novo curral eleitoral com dois prêmios de consolação. O supracitado amistoso e a divulgada participação na competição continental. É claro que Goiânia lucra positivamente em receber tais eventos. O que é questionado, no entanto, é como esse resultado foi obtido. Qual foi o preço? Subserviência? Vistas grossas? Bico calado? A gestão Ricardo Teixeira jamais pagou tanto por esse tipo de coisa. Bom para quem quer se vender. O fato a se acompanhar de perto e exigir explicações constantes é que as autoridades locais terão mais de quatro anos para arquitetarem cada detalhe da Copa América em Goiânia. E isso deixa mais preocupação que alívio.
Reforma no Serra Dourada
E antes disso?
Obras paradas
Novo autódromo vem aí?
A recente reforma no Serra Dourada, em junho, para receber o amistoso entre Brasil e Holanda foi realizada com a verba de R$ 2 milhões cedida pelo governo estadual. A Prefeitura de Goiânia e a Agência Goiana de Esporte e Lazer (Agel) conduziram as obras ao lado da administração do próprio estádio. Ainda que feita às pressas e com brechas no processo licitatório, o resultado e a avaliação final, ao menos em termos de funcionabilidade, foi positivo.
Já a reforma pela qual o estádio passou nos primeiros meses de 2010 ainda é uma incógnita que jamais foi explicada. Na ocasião, o governo estadual liberou R$ 5 milhões, verba que equivale a mais que o dobro da utilizada na última reforma, e muito pouco se fez. As obras previam troca da parte elétrica, reformas nos vestiários e banheiros públicos, compra de pára-raios e a completa troca do gramado. Apenas esse último item foi realizado.
É importante ressaltar que a sociedade goiana até hoje lida com as indefinições em relação à construção do Centro de Excelência, no Setor Central, localizado no antigo Estádio Olímpico. Idealizado em 1999, sua construção está paralisada há anos por conta de problemas jurídicos que envolvem a Agência Goiana de Transporte e Obras (Agetop) e a construtora responsável. Já foram gastos cerca de R$ 12 milhões e o projeto ainda não saiu do papel.
No início de maio, o governo do estado, por meio da Agel e da Agetop, assinou documentos que liberaram os estudos para a construção de um novo autódromo internacional em Goiânia. O projeto prevê que a área do atual autódromo seja vendida para a iniciativa privada e uma nova pista seja construída em um grande terreno da antiga Emater, próximo a Senador Canedo. O orçamento inicial estima gastos entre R$ 150 e 180 milhões.
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c u l t u r a
O rock de volta ao seu lugar Após 10
anos,
Rock
acontece
na
cidade
tudo
começou.
in
Rio
onde
Bandas
e
atrações internacionais sem qualidade marcam o esperado festival Texto: Myla Alves Edição: Vanessa Martins Diagramação: Laura de Paula
tembro, data em que se apresentam ban� das como Capital Inicial, Snow Patrol, Nação Zumbi e a mais esperada por ele, Red Hot Chili Peppers. “Foi a primeira banda de rock que eu gostei e me rela� cionei quando tinha uns 11 anos. Seria horrível perder o show deles”, explica. João Alexandre está ansioso. “Sinto um pouco de ansiedade para chegar lá e também um pouco de medo de não ser tão épico quanto falam, mas é uma
Opinião
N
os dias 23, 24, 25 e 30 de se� tembro e 01 e 02 de outubro, a cidade do Rio de Janeiro vai receber a décima edição do festival Rock in Rio. A primeira também aconteceu na cidade, em janeiro de 1985. O festival traz, em sua programação, atrações nacionais e internacionais. O Rock in Rio já foi realizado quatro vezes em Portugal ������������������������������ – �������������������������� a última delas no ano pas� sado –, duas vezes na Espanha e três no Brasil – em 1985, 1991 e no ano de 2001. Mais de cinco milhões de pessoas e 656 bandas já participaram dos eventos. São mais de 780 horas de música, trans� mitidas para mais de um bilhão de es� pectadores em 80 países. Para este ano, a organização espera um público de 720 mil pessoas para assistir mais de 100 atrações durante os seis dias de apresen� tações. A expectativa é de que o festival movimente 376 milhões de dólares. Os ingressos começaram a ser vendi� dos no dia 7 de maio pela internet no site oficial do evento e no portal ingresso. com e em alguns quiosques instalados em shoppings da capital carioca. Em quatro dias, todas as entradas estavam esgotadas. Diferente dos ingressos indi� viduais para cada dia de apresentações, o público que adquiriu o Rock in Rio Card pôde escolher até o dia 31 de maio qual dia de festival iria aproveitar. O universitário de jornalismo João Alexandre Scartezini só conseguiu com� prar o card depois que os ingressos es� gotaram porque uma amiga desistiu de ir ao evento. Ele optou pelo dia 24 de se�
ficar atento para algumas dicas como não levar objetos de valor, mochilas ou bolsas grandes, usar roupas e calçados confortáveis, beber bastante água e se alimen� tar bem para aguentar todas as horas de atrações, além de chegar cedo para evitar filas. Para obter mais informações sobre o festival, acesse o site www.rockinrio. com.br.
por Raisa Ramos
João Alexandre Scartezini vai assistir o show de uma das bandas que mais gosta grande oportunidade para ver bandas que quase nunca vêm ao Brasil.” Onde ficar Muitas pessoas compraram os in� gressos, mas ainda não sabem onde vão se hospedar. Uma dica dos internautas cariocas anfitriões do evento são os al� bergues, que custam mais barato do que os hotéis. Alguns deles ainda incluem no pacote o translado até a Cidade do Rock, na Barra da Tijuca, local onde os shows vão acontecer. A Secretaria de Turismo do Rio de Janeiro, Riotur, acredita que 92% de todas as vagas de hospedagem estejam ocupadas durante o festival. A expecta� tiva do órgão é de que 300 mil pessoas das que formam o público do Rock in Rio sejam turistas. Quanto à estrutura, a cidade não deve ter problemas para receber os visi� tantes, já que no Carnaval, época com maior número de turistas, cerca de um milhão de pessoas viajam para o Rio. Quem for participar do festival deve
Em vez de Rock in Rio, vá no SWU Depois de 10 anos fora do Brasil, o Rock in Rio 2011 teve seus milhares de ingressos esgotados em menos de quatro dias de vendas, tanto via web quanto nos postos autorizados. A fal� ta que o festival fez para os brasileiros foi muita, daí a reação surpreendente. Apesar da grandiosidade do even� to, houve reclamação em relação as atrações principais, que poderiam ter sido melhores, principalmente depois da realização do Planeta Terra e SWU, que impressionou pelos grandes no� mes trazidos ao país e das promessas para sua segunda edição. O palco alternativo do Rock in Rio, entretanto, batizado Palco Sunset, chamou mais atenção dos apaixona� dos por música do que o próprio Palco Mundo, o principal do evento. Fazendo encontros entre novas e velhas gerações, o Sunset dará ao público o privilégio de presenciar, por exemplo, Tulipa Ruiz e Nação Zumbi juntos, Milton Nascimento com Esperanza Spalding, Céu e João Donato, Cidadão Instigado e a revigo� rada Júpiter Maçã, Mutantes e Tom
Zé, entre outras parcerias que deixam qualquer um de boca aberta. As esperadas, e um pouco frustra� das, atrações internacionais já estão todas fechadas. Katy Perry (que já confirmou show em São Paulo para o dia 25 de setembro, dois dias depois de sua apresentação em terras cari� ocas), Rihanna e Elton John (vindo diretamente dos anos 1970!) enca� beçam o primeiro dia; Snow Patrol (tão 2004...) e Red Hot Chilli Peppers são esperados no dia seguinte; para o terceiro, Slipknot, Motörhead (que tocou na capital brasileira em abril e quase não teve público considerável) e Metallica. O segundo fim de semana do fes� tival vai trazer Lenny Kravitz (Lenny quem?), Shakira (bocejo), Maná (meu Deus! Só piora...), Jay-Z (perdido en� tre pop mexicano e rock britânico), Coldplay, Evanescense (lembra não? Aquela banda que você curtia quando tinha 11 anos e de gosto duvidoso), System of a Down e Guns N’Roses, entre outros. Uma opção melhor é esperar o SWU, que ocorre em São Paulo, em novembro. Ele traz outras atrações, como Peter Gabriel, Black Eyed Peas, Damian Marley, Snoop Dog, Mega� death, Sonic Youth, Faith no More, Michael Franti, Down e vários outros. De qualquer forma, este segundo se� mestre do ano, no que diz respeito à música, será bastante movimentado. Ponto para o Brasil.
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o l h a r e s
Os transtornos passam, os benefícios ficam
As fotografias expostas no “Olhares” dessa edição mostram as obras que acontecem no campus Samambaia. Essas reformas representam o desenvolvimento da universidade, cada vez mais necessário. Já foi comprovado que em todo o Brasil o número de vagas para estudantes de graduação saltou de 527,7 mil para 696,7 mil, ou seja, são 169 mil vagas a mais. Além disso, a expectativa Texto e Edição: Thamara Fagury é que até 2012 as universidades públicas de todo o país Fotos: Vítor Teodoro e Illa Rachel disponibilizem mais 56 mil vagas. Diagramação: Larissa Vieira E na Universidade Federal de Goiás (UFG) não é diferente. A quantidade de estudantes está aumentando e a necessidade de novos prédios e instalações é urgente.