Jornal SôFoca 2019.1

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UM OUTRO OLHAR SOBRE O SUS Transplantes, reabilitações, próteses, tratamentos oncológicos: tudo é oferecido pelo Sistema Único de Saúde, que abrange 85% da população do estado de Mato Grosso. O especial desta edição mapeia alguns tratamentos disponíveis em Cuiabá. p.8

EDIÇÃO 2019/1 | DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

AGROTÓXICOS NA ÁGUA CAUSAM DOENÇAS CONGÊNITAS E CÂNCER EM MT, AFIRMA CIENTISTA

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ADULTOS NÃO SE VACINAM A vacina Tríplice viral teve apenas 4,7% da meta alcançada em 25 anos entre brasileiros de 20 a 59 anos. p.5

FÉ E SAÚDE

ALIMENTOS ORGÂNICOS NA CAPITAL

Benzedeiras e agentes da fé ajudam pessoas a fortalecer o psicológico durante tratamento de enfermidades. p.12

Em meio à grande oferta de produtos convencionais, o mercado orgânico se mantém com dificuldades, através da agricultura familiar do interior do estado. p.10


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SÔFOCA

EDITORIAL

Falar de saúde como se cuida dela Os cuidados com a saúde começam antes mesmo do período da gestação. Muitos optam pelo controle familiar até planejar a hora certa de aumentar a família. Então, recorrem a métodos contraceptivos para evitar ou espaçar a chegada de um filho. Para evitar os anticoncepcionais, algumas mulheres preferem usar outros meios para conhecer o seu corpo, seu período fértil e menstrual, como o Método de Ovulação Billings. Diferente de períodos como a gravidez, a infância e a terceira idade, na vida adulta, os números de vacinação caem. Entre 20 e 59 anos, a taxa de cobertura das campanhas diminui e muitos não atualizam o cartão. Um dos motivos, que se torna um grande inimigo da população e que também é alimentado por ela, são as fake news. Uma das mensagens mais propagadas dizia que as vacinas causavam autismo. Outras que circularam prometiam a cura para todos os tipos de câncer, por meio da Fosfoetanolamina, o que fez com que muita gente abandonasse o tratamento convencional. O Ministério da Saúde desenvolveu um aplicativo que checa algumas das mais informações transmitidas pelas correntes de mensagens, como no caso das vacinas. Nesta edição do Jornal SôFoca, falamos sobre saúde. Saúde para além das filas cheias e demora nos hospitais. Os acidentes de trânsito são a principal causa desse problema. O tempo médio para que um paciente realize um procedimento pelo SUS em Mato Grosso é de seis meses, o mesmo tempo que uma pessoa com necessidade de um novo órgão normalmente espera pelos exames que garantem a compatibilidade com o órgão do doador. A doação de órgãos no Brasil é um sistema que é totalmente e unicamente oferecido pela rede pública. E funciona, como vários outros

tratamentos de referência. Passearemos pelos quintais que cultivam frutas, verduras, legumes e cereais que têm alimentado o mercado orgânico no estado, em oposição às grandes empresas que utilizam agrotóxicos e pesticidas, produtos que contaminam o Rio Cuiabá, que estampa a capa desta edição. Neste ano, foi aprovado pelo governo federal um novo conjunto de agrotóxicos, que antes eram proibidos, para uso nas plantações. Esta edição traz uma entrevista com Wanderlei Pignati, médico, professor doutor da Universidade Federal de Mato Grosso e pesquisador dos impactos dos agrotóxicos na saúde. Pignati nos conta sobre os perigos do uso de agroquímicos nas plantações em terras mato-grossenses. Visitamos as casas das famosas benzedeiras, que há anos são procuradas para tratamentos e propõem soluções por intermédio da fé. Pelos palcos e formas de atuação, conversamos com pessoas que utilizam o teatro para tratamento da ansiedade e outros transtornos psíquicos, que têm se tornado cada vez mais comuns entre jovens. Em Mato Grosso, a prática de esportes sofre adaptações. Durante o tempo seco, atletas devem tomar os cuidados necessários para não prejudicar a saúde e o rendimento profissional. Esta edição do SôFoca abrange a vida e a saúde, de forma a conversar sobre um assunto que dispensa comentários sobre sua importância. O tema saúde merece atenção não porque não se fale dele, mas por necessidade, pelo comprometimento com a vida humana. Boa leitura!

Expediente Edição: 2019/1

Universidade Federal de Mato Grosso Reitora Myrian Thereza de Moura Serra Chefe de Departamento Cristóvão Domingos de Almeida Coordenador de Curso Thiago Cury Luiz Professora Responsável Tamires Ferreira Coêlho Professores Colaboradores Thiago Cury Luiz Vinícius Souza

Beatriz Passos Gabriel Barros Glauber Vacarias Letícia Corrêa Lucas Ribeiro Marcos Salesse Matheus Morais Mayara Campos Pedro Mutzenberg Raynna Nicolas Thays Amorim

Editora-chefe Lariça Luzia Editora de Ciência e Sociedade Marina Beatriz Editora de Cidades Francisca Vilar Editor de Cultura Yan Lucas Editora de Diversidade Thays Amorim Editora de Economia Aline Maciel Editor de Entrevista & Opinião; Esporte e Política Pedro Augusto Editores Colaboradores José Lucas Salvani Karina Stein Editora de Mídias Sociais Camila Rondon

Fotografia Aline Maciel Anny Carvalho Dualys Francisco Gustavo Giustti Izabelle Borges Juliana Cargnelutti Layse Ávila Luísa Rodrigues Maycon Esquer Natália Veloso Pedro Mutzenberg Pietra Buelli Thays Amorim Victor Arias Yan Lucas

Reportagem e Diagramação Aline Maciel Francisca Vilar Lariça Luzia Marina Beatriz Pedro Augusto Thays Amorim Yan Lucas Charge Fernanda Fidelis Planejamento Gráfico Angélica Callejas

Fotografia Instagram Anny Carvalho Bruna Lima Davi Vittorazzi Dualys Francisco Flávio Amorim Izabelle Borges Layse Ávila Luísa Rodrigues Mayara Campos Maycon Esquer Pedro Mutzenberg Pietra Buelli Rodrigo Costa Produção Publicitária TOCA - Agência Experimental

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ciência & sociedade

Fake news sobre saúde: curas virtuais, problemas reais Especialista garante que as notícias falsas interferem nos hábitos de vida e impactam na adesão aos tratamentos convencionais Aline Maciel

População deve ficar atenta ao que circula nas redes sociais | Foto: Anny Carvalho

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 70% da população brasileira tem acesso à internet. Cerca de 146 milhões de pessoas estão conectadas diariamente a uma rede mundial de informações e notícias. No meio desse emaranhado surgem algumas notícias falsas infectadas pelo “vírus da meia verdade”, as fake news. Algumas delas podem ser letais, como é o caso das fake news sobre saúde. Dentre as muitas notícias falsas sobre saúde espalhadas na internet nos últimos anos, a pílula que prometia curar todos os tipos de câncer é uma das mais famosas no Brasil. A divulgação da Fosfoetanolamina como a solução para a doença foi excessivamente propagada em 2016, por diversos meios de comunicação. Uma pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) revela a ineficácia da substância, mas o assunto Fosfoetanolamina continua repercutindo na mídia. O caso teve um grande impacto nos pacientes e instituições de saúde. José de Moura Leite Netto, assessor de imprensa do Hospital

A.C.Camargo, que trata pacientes com câncer em São Paulo, conta quais foram as implicações para o hospital e seus pacientes. “O maior impacto vivenciado nessas instituições foi muitos terem decidido apostar nessa fórmula mágica e aí abandonaram ou negligenciaram o tratamento preconizado para eles, que são baseados em protocolos sérios”.

convencionais, baseados em evidência científica”. As fake news sobre vacinação e a onda do movimento antivacina são resultados disso. A volta do sarampo é outra complicação causada pelos boatos sobre saúde. A doença havia sido erradicada nas Américas em 2016, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mas voltou ao cenário nacional em 2018, com casos em diferentes regiões do Brasil. A única forma de prevenção contra o sarampo é a e a baixa taxa de “Na pós-verda- vacinação imunização é apontada pelo de o que menos Ministério da Saúde como o motivo para o reimporta é a ver- principal torno da doença. dade em si, onde Roldão Barros, jornalise pesquisador em saúde, a especulação se ta acredita que as fake news sobressai sobre o contribuem para “o insucesso de políticas públicas para fato concreto” a saúde, o aumento do estigRubens da Costa ma em determinadas doenças e até mesmo o retorno daquelas já erradicadas, colocando novamente em risco a população saudável”. Moura ainda acrescenParece verdade, mas não é ta que as fake news “interferem nos hábitos de vida, O aumento das notícias impactando em temas como falsas está ligado a outro prevenção, diagnóstico e fenômeno contemporâneo, na adesão aos tratamentos a pós-verdade. Fake news

são notícias que se parecem muito com acontecimentos e fatos reais, sua característica principal é mexer com as emoções de quem as lê. Já a pós-verdade é um fenômeno que lida com várias “verdades”, logo, não existe uma verdade absoluta, o que abre espaço para as meias verdades, achismos individuais e opiniões sem fundamento ganharem força.

Rubens da Costa Filho, bibliotecário-chefe da Biblioteca da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisador da área, explica o conceito. “Na pós-verdade o que menos importa é a verdade em si, onde a especulação se sobressai sobre o fato concreto. A manipulação de dados e fatos é outra característica intrínseca a esse fenômeno, o que antes poderia se chamar de ‘meias verdades’”. As fake news são o principal produto da pós-verdade, porque são construídas a partir de pedaços de informações verdadeiras, baseadas em especulações e montadas de maneira que pareçam reais e causem apelo emocional junto a uma população que está mais suscetível a acreditar apenas naquilo que lhe convém. Rubens da Costa acrescenta que o sensacionalismo e a negação do conhecimento científico são os eixos da pós-verdade que mais influenciam nas notícias sobre saúde. A soma desses dois fatores é a principal base para os movimentos antivacina e todas as outras mentiras sobre saúde espalhadas pela internet.

Como se vacinar contra o vírus da Fake News Até mesmo profissionais do jornalismo podem cair em fake news. Com base nas informações apuradas pelo SôFoca, abaixo você encontra dicas para ficar vacinado contra as fake news. Tente sempre verificar se a notícia possui fontes confiáveis e reconhecidas, veja se quem está falando realmente conhece sobre aquela área. Por exemplo, duvide de uma declaração bombástica da Xuxa sobre saúde: a área dela é o entretenimento. Se a fonte for um médico, com registro válido no Conselho Regional de Medicina (CRM), é mais provável que aquela informação seja verdadeira. Verifique se existe alguma pesquisa sobre o assunto que tenha sido publicada por alguma instituição respeitada. Desconfie sempre de remédios e soluções milagrosas para doenças incuráveis, mesmo que as notícias prometam a cura para o câncer, como o caso da Fosfoetanolamina. Principalmente, esteja sempre atento, pois, nem tudo que está na internet é verdade.


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Celulares aproximam pacientes e profissionais de saúde Aline Maciel No Brasil, são 220 milhões de smartphones para 207 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). Por comodidade, distância ou agilidade, os celulares se tornaram ferramentas para a aproximação entre profissionais de saúde e pacientes. Jonatas Sanches, funcionário público, faz tratamento para ansiedade. Para ele, a tecnologia é uma grande aliada do processo terapêutico. “No momento que estou com um pico de ansiedade, eu consigo mandar um áudio para ela [psicóloga] e através daquele áudio, em análise, a gente consegue verificar e descobrir qual é a causa e buscar o tratamento. [...] Acaba que a gente tem mais intimidade, mais amizade, consegue ter uma transferência melhor”. Nayara Brum é psicóloga e adepta do uso profissional dos smartphones. Por meio do aparelho celular, ela atende pacientes brasileiros que moram nos Estados Unidos e no Japão. Mesmo à distância, a psicóloga afirma que se preocupa em seguir as normas da profissão, regulamentadas pelo Conse-

lho Regional de Psicologia de Mato Grosso (CRP-MT). “Acho que o profissional tem que manter a ética acima de todas as coisas, o compromisso com a sua profissão e com o paciente, atendendo em um lugar silencioso e sigiloso”, afirma Brum. Ainda que os smartphones sirvam de ponte facilitadora na relação entre profissionais de saúde e pacientes, existem ocasiões em que ele pode se tornar um empecilho. Como a relação entre profissional e paciente se estreita, acontecem casos em que os horários do profissional de saúde não são respeitados e os pacientes se tornam invasivos. O nutricionista Hugo Drescher concorda com o uso de celulares no contato com os pacientes, mas faz algumas ressalvas quanto à utilização dos aparelhos. “Desde que se respeite a individualidade de cada um. É legal entendermos que algumas práticas e condutas são individuais. Sendo assim, não se aplicam a todo mundo”, diz. O profissional ainda acrescenta que usa esses instrumentos apenas com aqueles pacientes que têm mais afinidade com a

tecnologia e estão dispostos a usá-la. Já para a nutricionista Catherine Almeida, existem muitas vantagens no uso da tecnologia, como a facilidade e a fidelidade. “Tenho um aplicativo onde meus pacientes podem acompanhar todo o plano alimentar, [receber] arquivos que orientam quanto à dieta, além dos lembretes que eles recebem para beber água”, afirma. Ana Rachel Fonseca é biomédica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisa a relação entre apps e saúde. Ela explica que os aplicativos ser-

nhecimento. Com base em anotações do que a mulher está sentindo na vulva e dos aspectos da secreção vaginal, é possível identificar as etapas no ciclo reprodutivo. A prática possui algumas restrições. “O Billings mostra que a mulher está no período fértil e não deve manter relações enquanto o muco estiver presente. Nem todas as mulheres têm a disciplina de não manter relações. Como ela está sob forte efeito do estrogênio, há um aumento do apetite sexual e muitas mulheres têm relação e aí a gravidez pode acontecer”, explica Ademar Rodrigues, ginecologista. O médico destaca que essa prática é indicada apenas

para mulheres que têm disciplina e possuem ciclos considerados normais. Uma característica desse método que o diferencia das demais práticas de planejamento familiar é que ele é muito procurado por quem deseja ter filhos. O principal objetivo do MOB “não é ser usado como contraceptivo, mas sim para conseguir uma gravidez, espaçar uma da outra e monitorar a saúde reprodutiva da mulher”, afirma a instrutora do método e bióloga Helen Aguiar, que atua como voluntária há um ano para ajudar mulheres e casais a conhecerem a própria fertilidade. Liliane Teixeira é adepta do Billings desde que era

vem de facilitadores para o acesso às informações online e que, geralmente, a linguagem utilizada pelos aplicativos é mais clara e compreensível para os pacientes do que a usada pelos profissionais de saúde. “A utilização adequada deles [apps], muitas vezes prescrita pelos próprios médicos, encoraja a população a participar ativamente da gestão de sua própria saúde, fortalecendo assim a relação médico-paciente de forma que decisões clínicas sejam tomadas de maneira compartilhada, tornando o paciente um sujeito fortemen-

te empoderado”, relata. Além de auxiliar no tratamento dos pacientes, os aplicativos disponíveis nos smartphones também contribuem para o desempenho e o trabalho dos próprios profissionais da saúde, visto que existe uma gama diversificada de apps sobre saúde que são fontes importantes de informações para esses profissionais. “Muitas situações clínicas são melhor monitoradas, gerenciadas e até mesmo evitadas com ajuda da tecnologia móvel”, declara a pesquisadora.

Aplicativos voltados para a saúde nos smartphones | Foto: Layse Ávila

Mulheres aderem a método que acompanha período fértil Aline Maciel As taxas de fecundidade no Brasil diminuíram nos últimos anos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), passaram de 2,5 filhos em 2000 para 1,7 filhos por mulher em 2015. Essa diminuição é motivada por diferentes fatores, um deles é o aumento do uso de métodos contraceptivos e práticas de planejamento familiar. Uma prática que ganha força em Cuiabá é o Método de Ovulação Billings (MOB). O Billings não se trata de um método contraceptivo, não impede a ovulação e a fecundação, porém pode ser usado para prevenção de gravidez. A técnica usa como princípio o autoco-

noiva, ela e o marido são católicos e o usaram para engravidar. Tal estratégia é a única prática aceita pela igreja católica. Um dos maiores benefícios para Teixeira é o aumento da cumplicidade entre o casal. “Os dois têm que estar de acordo com esse método. Se ambos não estiverem de acordo, não tem como fazer, porque ele [o marido] também vai saber como funciona, vai me ajudar nas anotações”. Geovana Hagata, enfermeira e instrutora de Billings, conta que também usou o Billings para engravidar, mas que começou a usá-lo primeiramente com o objetivo de não engravidar, além de ter tido problemas

anteriormente com outras técnicas. A instrutora aponta como principais benefícios da prática: ser gratuito, não necessitar de nenhum dispositivo artificial, não há efeitos colaterais e melhorar o diálogo entre o casal. No entanto, por se tratar de uma prática de anotações diárias que afeta o comportamento das mulheres, muitas não se adaptam e acabam desistindo de usá-la. É o caso da estudante Lariça Souza, que passou pelo período de sensibilização e conhecimento do método, mas parou de usar. “Eu parei no segundo dia. Para mim, as anotações eram difíceis, então optei por parar”.


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Cidades

Adultos entre 20 e 59 anos não tomam vacinas necessárias Yan Lucas Entre os 20 e os 59 anos, a taxa de vacinação é baixa no Brasil todo, segundo dados do Ministério da Saúde. A procura por vacinas entre idosos e crianças é grande e sempre alcança as metas das campanhas. Em Mato Grosso, os profissionais responsáveis pela imunização garantem que existem vacinas e campanhas para adultos, mas há baixa procura. É o que acontece com Bruna Pereira (31) e sua filha Raquel (4). Bruna garante que acompanha o cartão de vacinação da filha, mas, quando se trata do próprio cuidado, admite: “não tenho mais meu cartão, até meus 14 anos era minha mãe quem levava”.

A perda do cartão de vacinação é um dos motivos que colaboram para a falta de procura por parte dos adultos. É o que garante Sandra Horn, técnica de imunização da Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá. A secretaria tomou providências. “Nós começamos um sistema agora que, quando a pessoa vai se vacinar, já é registrado junto ao cartão do SUS. Quando se perde o cartão de vacinação e a pessoa procura a unidade de saúde, ela pode tomar a vacina pela segunda vez sem saber e isso sobrecarrega, porque tem a dose certa, e os profissionais ficam sem saber o que fazer”, conta. Entre 20 e 59 anos, as va-

cinas necessárias são: contra Hepatite B e Febre Amarela; a Tríplice Viral, que previne rubéola, caxumba e sarampo; a Duplo Adulto, com atuação contra difteria e tétano; e a Pneumocócica 23 Valente, que combate doenças causadas pela bactéria Pneumococo, como pneumonia e meningite. Thiago Rodrigues, médico e pesquisador pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), esclarece que deixar de tomar a vacina é um risco que a população corre, pois não prejudica apenas a própria saúde, mas também a de outros. “Não se vacinar não é somente uma irresponsabilidade consigo ou seus dependentes, mas

sim com a sua comunidade, com a vida dos demais”,Segundo o Ministério da Saúde, apenas a vacina que previne Febre Amarela ultrapassou 50% da meta proposta nos últimos 25 anos. A cobertura das outras quatro não chega sequer à metade. A vacina menos procurada é a Tríplice Viral, com apenas 4,7% de cobertura. Wander Gomes (24) não atualiza sua vacinação há cerca de cinco anos e conta que também não tem mais o cartão. Ele relata o transtorno em algumas situações de epidemias, em que não se imunizou por não haver mais vacinas. “Há alguns anos fui tentar me vacinar contra a H1N1, mas não havia mais. Este ano aconteceu o mesmo”, conta. A ausência de procura pelas vacinas necessárias favorece as epidemias e a demanda em períodos de surtos sempre aumenta, de

acordo com Sandra Horn. “O Brasil trabalha com prevenção, é um dos únicos países a conceder vacinas para a população de forma gratuita, mas a população só procura em casos extremos e a demanda é muito grande, sempre acaba”, comenta. Em tempos de disseminação de fake news e de movimentos anti-vacinação, Horn garante que, em Cuiabá, há campanhas não só nos postos de saúde. “Também realizamos atividades extras, em lugares como quartéis, órgãos públicos, comércios e escolas”, conta. Thiago Rodrigues ressalta a importância da prevenção: “não fossem as vacinas, todas as últimas gerações não estariam aqui. As vacinas nos salvaram. Essa é a maior verdade sobre elas”.

do e oferecer procedimentos, tratamentos e condições melhores, as clínicas e centros especializados de Cuiabá estão sempre cheios. As unidades que oferecem pronto atendimento dividem suas enfermarias e unidades de terapia intensiva entre pacientes em tratamento de casos específicos e cirurgias para pessoas acidentadas no trânsito, em estado grave ou não. Além das internações, os hospitais atendem outros casos, menos graves, causados por acidentes que, apenas no PSMC, somam mais de 4.700 ocorrências, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Isso faz com que os hospitais excedam sua capacidade, gerando filas para exames e cirurgias, superlotação que leva pacientes aos corredores, como relatou Paula. O gestor da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob) da capital, Antenor Figueiredo, fala da atuação em parceria com a SMS. “A Secretaria de Mobilidade anda alinhada com a Secretaria de Saúde. Temos

o ‘Conselho Paz no Trânsito’, onde fazemos ações para a diminuição no número de acidentes e temos bons resultados”, afirma. Dados da Semob demonstram a queda na taxa de mortalidade no trânsito em Cuiabá, mas os acidentes sem vítimas fatais seguem com números altos e custam muito ao Sistema Único de Saúde (SUS). Só em 2018, as internações causadas por acidentes na capital mato-grossense custaram mais de R$ 4 milhões aos cofres públicos, segundo o Ministério da Saúde. Letícia Lara (20) está esperando há dois anos para realizar um ecocardiograma. Devido a dores no peito, teve de pagar na rede particular. Sua mãe, Mariluce Lara (48), realizou há três anos um cateterismo e, desde então, aguarda uma consulta com cardiologista pela rede pública. Paula conseguiu uma vaga em outro hospital para realizar a cirurgia. Letícia e Mariluce seguem aguardando o contato da Central de Regulação de Vagas do SUS.

Acidentes de trânsito aumentam tempo de espera no SUS e custam 5,5 milhões aos cofres públicos do estado de MT Yan Lucas Em junho de 2019, o governo federal apresentou à Câmara dos Deputados um projeto de lei que altera a fiscalização e estabelece punições mais brandas a infrações. Cadeirinhas para crianças a partir sete anos não seriam mais obrigatórias e multas para motociclistas seriam reduzidas. Isso pode refletir no aumento de acidentes e acarretar mais atendimentos nas unidades públicas de saúde. Dados do Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgados em maio de 2019 mostram que Mato Grosso registrou mais de cinco mil internações em 2018 apenas com acidentes de trânsito, quase três mil só em hospitais públicos da capital. As internações por acidentes custaram cerca de R$5,5 milhões aos cofres públicos. Paula Siqueira (26) foi transferida de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) ao Pronto Socorro Municipal de Cuiabá (PSMC) devido a uma inflamação por pedras na vesícula. Ela soube que ficaria muito tempo no PSMC, porque a unidade

Acidentes lotam hospitais públicos | Foto: Aline Maciel

estava lotada. Essa situação se repete em Mato Grosso e é causada por um fator comum: o grande número de acidentes de trânsito. Paula aprendeu a trocar sozinha o soro e o remédio que recebia na veia. Quando sentia dores, tinha de ir atrás de atendimento, pois dividia o serviço dos enfermeiros com outros pacientes em situação mais crítica. “Não há mais pacientes nos corredores, mas quando chegam ocorrências das ambulâncias, colocam para esperar nos corredores. Você vê pessoas acidentadas, baleadas. É um choque!”, diz. Após o diagnóstico, pre-

cisava ser transferida para outro hospital que fizesse o procedimento, já que o PSMC atende apenas urgências. Mesmo para a transferência a situação era ruim. “O médico me disse que ia tentar fazer a transferência, mas que iria demorar de um a dois meses, pois tinham pessoas na espera há mais tempo”, conta Paula. Centenas de pacientes esperam por vagas para realizar algum procedimento cirúrgico, mas, todos os dias, inúmeros acidentados no trânsito ocupam leitos de hospitais públicos em Cuiabá e região. Por ser a capital do esta-


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E n t r e v i s ta & O p i n i ã o

Com água contaminada, população mato-grossense é a maior consumidora de agrotóxicos em todo o Brasil

“Não tem um tratamento eficaz que retire 100% dos produtos químicos e deixe só H2O na água”, afirma Wanderlei Pignati Thays Amorim Referência nacional em pesquisas na área de vigilância da saúde, Wanderlei Pignati é médico, doutor em Saúde Pública e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). O docente é membro do Núcleo de Estudos Ambientais e Saúde do Trabalhador (NEAST), que estuda o impacto dos agrotóxicos na saúde e no ambiente. Resíduos de agrotóxicos no leite materno, consumo de agrotóxicos e o perfil epidemiológico do câncer em Mato Grosso são alguns dos temas estudados pelo pesquisador. Em entrevista ao SôFoca, Pignati discute a contaminação da água nos municípios de Mato Grosso, a influência do agronegócio no Brasil e seus impactos em Cuiabá, a legislação atual de potabilidade da água e as diferenças em relação a outros países, como os da União Europeia (UE). SôFoca: O Núcleo de Estudos Ambientais e Saúde do Trabalhador pesquisa o impacto dos agrotóxicos em Mato Grosso. Existe um monitoramento em áreas específicas?

Wanderlei Pignati: O NEAST é composto por um grupo de professores, tanto da saúde coletiva como professores da biologia, da química, da nutrição, da agronomia. É um grupo multidisciplinar. Eu sou médico, discuto bastante as doenças causadas por esses agrotóxicos e temos uma equipe que analisa. A gente tem as grandes fazendas, Mato Grosso (MT) é um dos maiores produtores de soja do Brasil, maior produtor de milho, algodão (70% do algodão do Brasil é produzido em Mato Grosso), e girassol. Nós somos o maior produtor de gado. O pasto também usa agrotóxicos. Nós somos os maiores consumidores de agrotóxicos do Brasil. No ano de 2016 para 2017, que são os dados que a gente tem, o Brasil usou 1 bilhão

de litros de agrotóxicos nas principais lavouras, que são: soja, milho, algodão e cana de açúcar. Mato Grosso utilizou cerca de 230 milhões de litros. É um volume muito grande. A gente faz a pesquisa, quem monitora é o Ministério da Saúde, através do Sisagua (Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano) e que controla cerca de 30 municípios aqui

somem agrotóxico, que vai desde soja, milho, algodão e cana. Se você pegar só esses quatro, eles já consomem 80% dos agrotóxicos do Brasil. Quando pega o Mato Grosso e faz uma avaliação espacial, onde mais se produz esses cultivos é justamente nas cinco regiões mais produtoras do Mato Grosso, que é a região de Lucas do Rio Verde, Sinop, Sorriso, Nova Mutum e Rondo-

nosso estado.

SF: Uma dissertação sob sua orientação abordou a poluição da água de poços artesianos e da chuva por agrotóxicos em municípios da Bacia do Rio Juruena, em Mato Grosso. Quais os impactos que essa água contaminada por agrotóxicos pode ter sobre a população? WP: O impacto dessa

Contaminações por agrotóxicos de grandes plantações afetam Rio Cuiabá | Foto: Juliana Cargnelutti

em Mato Grosso, mas nós temos 141 [municípios]. O Brasil controla cerca de dois mil, mas nós temos cinco mil municípios. A gente faz algumas pesquisas, até para checar se realmente esses dados estão acima ou abaixo do que o Ministério divulga de maneira genérica. SF: Um artigo seu publicado em 2017 sobre a distribuição espacial dos agrotóxicos afirma que existe uma relação entre os agrotóxicos e a incidência de doenças em cidades contaminadas pelo agronegócio, como Lucas do Rio Verde. Como se dá essa relação? WP: A gente trabalhou todos os municípios do Brasil, em relação a 20 produtos agrícolas que mais con-

nópolis. Nessas regiões onde mais se produz, onde mais se usa agrotóxicos, é onde mais tem as incidências de intoxicação aguda, tem mais incidência de câncer infanto-juvenil – que está aumentando muito, câncer até a idade de 18 anos está aumentando muito no Brasil, muito mais no Mato Grosso – e malformação congênita. Em alguns municípios de Mato Grosso, a cada mil nascidos vivos, chega a ter 40 com malformação congênita, enquanto a média no Brasil é quatro a cada mil nascidos vivos. O câncer infanto-juvenil é, da mesma maneira, nesse nível. A gente faz uma correlação estatística que serve como confirmação epidemiológica indireta, tudo isso é validado com cálculos. Isso é bastante preocupante aqui no

contaminação é bastante preocupante. O pessoal fala que está dentro do nível permitido, mas em relação à legislação internacional, principalmente da União Europeia, uma boa parte, mais da metade, está acima. O glifosato, que é o agrotóxico mais usado, na legislação [brasileira] você pode ter até 500 microgramas na água. Na União Europeia é 0,1. Isso significa que o nosso nível [permitido] é 5 mil vezes maior. É assim com todos os agrotóxicos aqui no Brasil. Por que eles baixaram tanto o nível lá na União Europeia e por que a maioria dos agrotóxicos que a gente usa aqui no Brasil são proibidos lá? Porque eles causam problemas à saúde! Não no consumo, rapidamente, você vai ter problemas hoje,

mas em um consumo de vários anos, várias décadas, você consumindo microgramas por dia. Então, é essa intoxicação crônica que vai dar câncer, malformação, distúrbios endócrinos, distúrbios neurológicos, e isso está aumentando dia a dia em Mato Grosso e nessas regiões citadas anteriormente. O glifosato causa uma desregulação endócrina, uma baixa da imunidade e, com isso, as células que a gente chama de defeituosas, que nós produzimos muito todo dia, não são captadas e destruídas pelo sistema imunológico. Nós temos uma potencialização dos cânceres, principalmente do infanto-juvenil. SF: Por que existe essa diferença tão discrepante do Brasil em relação à União Europeia?

“Por que a maioria dos agrotóxicos que a gente usa aqui no Brasil são proibidos na União Europeia?”

WP: Porque aqui no Brasil você tem uma pressão muito grande das indústrias de agrotóxicos, da indústria química, uma das indústrias mais poderosas do mundo, do agronegócio, dos grandes fazendeiros, em cima dos legisladores. Você tem uma bancada muito forte desse pessoal que está ligado ou à indústria química ou ao agronegócio, e você vai fazendo legislações e pressões em cima do Ministério da Saúde cada vez mais, e aí se vai aceitando. Qual o objetivo das indústrias químicas, entre elas a de agrotóxico e fertilizante químico, ou dos grandes fazendeiros do


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Brasil e do Mato Grosso? O lucro. Eles não estão preocupados com a questão da saúde humana, nem do [meio] ambiente. Essa diferença na União Europeia é porque lá tem um movimento muito forte, que acata as pesquisas dos cientistas que dizem que os agrotóxicos causam câncer, [Mal de] Parkinson, malformação. Reconhecem o trabalho dos cientistas. Aqui, não, pelo contrário: os empresários, junto com os fazendeiros e o agronegócio, não acatam, eles atacam as nossas pesquisas e não produzem outras para dizer o contrário. As metodologias estão todas nos nossos artigos. Façam, para ver se agrotóxico não causa câncer, malformação!

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te da torneira. Existe algum processo que consiga eliminar completamente as substâncias tóxicas da água?

WP: Não. Esse tipo de tratamento que está sendo feito aqui em Cuiabá, e na maioria dos municípios do Brasil e de Mato Grosso, é como se fosse tratar uma piscina. Você coloca um produto para decantar (processo de purificação), depois você retira esse produto decantado. A maior parte dos produtos químicos, não somente o agrotóxico, fica solúvel na água. Não tem um tratamento eficiente e eficaz que retire 100% dos produtos químicos e deixe só H2O na água. Tem um monte de agrotóxicos novos, que se usam aqui em Mato SF: Vários meios de co- Grosso, que a Águas Cuiabá municação repercutiram os dados sobre a água contaminada por agrotóxicos em quase 30 municípios de Mato Grosso. Qual a situação de Cuiabá e do rio “Em alguns muCuiabá? WP: São duas questões. Onde é que nasce o rio Cuiabá? Ele nasce justamente no meio das plantações de soja, milho, algodão, cana e pastagem ali da região de Nobres, e depois vai descendo. Em volta dele tem um monte de plantação, na região de Rosário Oeste, e vem descendo para Cuiabá. Ele chega aqui com bastante contaminação de agrotóxico. A Universidade [UFMT] tem feito a análise, a gente participa de uma pesquisa coordenada pelo Ministério Público Estadual. E qual o permitido, qual o limite? Tem agrotóxico? Tem. Quem que usou? São os grandes fazendeiros que usam, vai para a água, e como esse tipo de tratamento para a água não é eficaz para retirar todos os agrotóxicos – retira alguns, mas não retira todos -, uma boa parte vai sair no nosso corpo, que a gente vai beber. As companhias de água vêm discutindo, inclusive a Águas Cuiabá fala que está abaixo do permitido. Mas alguns deles estão acima do permitido na UE. Lá, é permitido [ter] até 5 agrotóxicos na água. Aqui são 27.

nicípios de Mato Grosso, a cada mil nascidos vivos, chega a ter 40 com malformação congênita”

não está analisando. O que a legislação fala é que tem que analisar, no mínimo, 27 tipos de agrotóxicos. E os outros? Se a gente tem mais de 500 princípios ativos registrados aqui no Brasil e o Mato Grosso usa quase todos eles, cadê a análise dos outros? Mas quando você fala “potável”, tem que colocar o limite máximo permitido disso tudo. E comparar com outras legislações. Mesmo assim, se existe e está abaixo, por que tem que ter agrotóxico na água? Essa eficácia de retirar os produtos químicos não é 100%.

SF: Desde janeiro, o governo de Jair Bolsonaro liberou 290 novos agrotóxicos no país. Essa liberação pode piorar ainda mais a situação do estado SF: Segundo o site da de Mato Grosso? Águas Cuiabá, a água pode WP: Essa situação pode ser consumida diretamen-

piorar porque essas liberações estão acontecendo somente pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A Lei Federal nº 7.802/89 diz que tem que ter um parecer do Ministério da Agricultura, do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério da Saúde. Esses três ministérios juntos vão dizer se esse agrotóxico pode ser liberado ou não. Tem que ver se ele causa mal à saúde, ao meio ambiente, se mata peixe, minhoca, sapo... se mata bactérias e fungos que estão no solo. E as outras consequências? Essa questão de ir liberando é porque nós estamos recebendo pressão do agronegócio, pressão da indústria química, pressão do parlamento, pressão do governo, tanto estadual quanto federal, que estão coordenados por essas indústrias, por esse conjunto. O executivo e o legislativo estão atrelados ao agronegócio, às indústrias. E isso não só em Mato Grosso, mas também no Brasil. Isso faz com que tudo seja em função do lucro, a saúde e o meio ambiente ficam secundários. SF: Quais políticas públicas poderiam ser adotadas para minimizar os efeitos da liberação dessas substâncias?

WP: Política pública já tem, que foi entregue ao governo 3 anos atrás [2016], o Programa Nacional para a Redução do Uso de Agrotóxicos (Pronara). Existe um documento feito pela Associação Brasileira de Saúde Pública (Abrasp), Fiocruz, Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) e várias outras entidades que foi transformado em um Projeto de Lei, o PL Pronara. É possível produzir em grande escala dentro do orgânico, não só frutas e verduras. Hoje, o Brasil é um dos grandes produtores, a partir do Movimento Sem Terra do Rio Grande do Sul, de arroz orgânico. O Brasil é o maior produtor de açúcar e álcool orgânico do mundo, e é produzido em Sertãozinho, no interior de São Paulo. Eu visitei, tem uma fazenda de 17 mil hectares de cana e

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tem 20 anos que não se usa nenhuma gota de fertilizante químico, de agrotóxico. Mato Grosso já foi um grande produtor de soja orgânica em Tangará da Serra, só que, com a contaminação do entorno, das sojas transgênicas e do agrotóxico, o fazendeiro abandonou. Uma outra medida das políticas públicas é justamente o registro dos agrotóxicos. Por que registrar os agrotóxicos que são proibidos lá na UE aqui no Brasil? Outra medida é informação, participação e controle social. Todo ano tem que informar a população, para ela saber o que está comendo e bebendo. O controle social é importante junto disso. Porque vigilância da saúde, sem esse controle e a participação da sociedade de maneira democrática - e parece que esse governo não gosta de democracia -, é difícil. Por último, é a formação e capacitação nas universidades. A maioria das escolas de agronomia e engenharia florestal ensinam só essa parte do

agronegócio. Não tem outras alternativas? Tem outras alternativas, que funcionam bem e que a UE comprou. Lá está bastante desenvolvida essa questão da agroecologia. Também dentro das faculdade de medicina, biologia, enfermagem, de nutrição, tem que ter uma atenção maior em relação à questão da qualidade dos alimentos, da qualidade da água, ou da qualidade da vida. E eu digo, de qualidade da água, que eu acho que é primordial, porque 70% do nosso corpo é feito de água. Se a água está contaminada, seja abaixo ou acima, é uma água doente. E ela vai nos adoecer de maneira aguda, se for uma dose muito grande. O problema são pequenas doses, microgramas durante anos, que vão nos adoecendo.

Águas Cuiabá diz que água pode ser consumida diretamente da torneira sem riscos ao consumidor | Foto: Juliana Cargnelutti


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O lado do SUS que é referência em MT 85% da população mato-grossense depende do Sistema Único de Saúde, que possui tratamentos especializados e serviços exclusivos da rede pública Yan Lucas Em Mato Grosso, 85% da população é dependente do Sistema Único de Saúde (SUS) para a realização de consultas, exames, internações, cirurgias e tratamentos, além da necessidade de todos de serviços exclusivos do SUS, como o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), ou as agências reguladoras ligadas ao Sistema, como é o caso da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A alta demanda por serviços frequentemente ocasiona filas. Há pacientes que chegam a esperar anos por um procedimento. Desde de 2014, o estado tem acumulado mais de 100 mil pacientes apenas para consultas, segundo a Coordenadoria da Central de Vagas de Cuiabá, todos ainda sem atendimento. Entretanto, há também serviços somente disponibilizados pela rede pública, em que pacientes são regularmente atendidos e assistidos, como o transplante de órgãos e a oferta de próteses e tratamentos ortopédicos, por exemplo. Por ser a capital, Cuiabá recebe pacientes do todo o estado para tratamentos e procedimentos que só são oferecidos aqui. Apesar dos obstáculos enfrentados pela população, principalmente nas Unidades Básicas de Saúde, nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e no Pronto Socorro Municipal, o SUS oferece tratamentos específicos e de alta complexidade para determinados casos, além da recuperação de traumas físicos ou mentais em que os pacientes atestam a eficácia e o bom atendimento. De procedimentos preventivos ao câncer, passando por remédios para fungos rurais, até próteses fabricadas por impressoras 3D, há serviços oferecidos pelo SUS que atendem a po-

pulação, que muitas vezes não tem conhecimento disso. O Jornal SôFoca mapeou alguns projetos ofertados à população e que abrangem o estado todo. 1.400 transplantes de córnea em sete anos

De 2011 a 2018, as equipes médicas responsáveis por transplantes de córnea em Mato Grosso realizaram mais de 1.400 procedimentos, 212 apenas no ano passado, de acordo com o Registro Brasileiro de Transplantes. Tal procedimento é um dos serviços que só é oferecido pela rede pública, mesmo o paciente tendo iniciado seu diagnóstico em um centro privado de atendimento.

sistência Farmacêutica, de acordo com o que é oferecido pelo estado. Mato Grosso oferece já há algum tempo o transplante de córneas e, recentemente, passou a trabalhar com transplante de rins. Quando surge um paciente com a necessidade de outro órgão, a Central, por meio de parceria com a Coordenadoria de Tratamento Fora de Domicílio, encaminha o paciente a outro estado do Brasil que realize o transplante. O trabalho da Central de Transplantes consiste em acompanhar o procedimento de cada paciente e captar doadores. Esta última função exige um esforço intenso por parte dos profissionais: são 24 horas por dia mapeando hospitais e

“A identificação de doadores, o procedimento de retirada dos órgãos, a logística e transporte até chegar no ciclo do transplante, tudo isso é integralmente financiado pelo SUS”. Fabíola Molina

“O Brasil está entre os poucos países que financiam todo o ciclo do transplante: o pré, o intra e o pós”, é o que garante Fabiana Molina, coordenadora da Central de Transplantes do estado de Mato Grosso, uma das unidades que executam o programa federal que cuida dessa área. O ciclo do transplante consiste na preparação para o procedimento, na identificação de um doador, na cirurgia e no acompanhamento posterior com medicamentos entregues pelo Serviço de Referência de As-

confirmando números de óbitos para possíveis órgãos a serem doados. Após a autorização dos familiares e uma avaliação certificando a disponibilidade dos órgãos, a captação acontece. Mesmo que Mato Grosso ofereça apenas transplantes de rins e córneas, a captação de outros órgãos acontece com a articulação do Ministério da Saúde, tendo em vista centrais de outros estados do Brasil. Para cada paciente existe um tempo de espera diferente, já que tudo depende

do processo de compatibilidade e da especificidade do órgão a ser recebido. A demora acontece, geralmente, devido à falta de doadores. Maioria dos 108 mil pacientes do Hospital do Câncer em 2018 foi atendida pelo SUS

Considerado de “porte A” entre os Centros de Alta Complexidade em Oncologia, que se torna referência em atendimento, o Hospital do Câncer de Mato Grosso (HCan) atendeu mais de 108 mil pacientes apenas em 2018, em sua maioria, pelo Sistema Único de Saúde. A partir do SUS, o paciente pode receber o diagnóstico de câncer e iniciar o tratamento no HCan. O hospital oferece tratamentos oncológicos para adultos e crianças, independentemente de onde seja identificado o tumor, além de exames, radioterapia e quimioterapia. Hoje, o HCan funciona recebendo verba do Ministério da Saúde, mas também por meio de parcerias e campanhas filantrópicas, atendendo pacientes de todo o estado, de outras regiões do Brasil e até de outros países, como a Bolívia. É o que relata a coordenadora de Serviço Social do hospital, Josenyth Arantes: “eles [pacientes bolivianos] entram por Cáceres, fazem o cadastro a partir do cartão SUS e vêm tratar conosco”. Através do SUS, o paciente diagnosticado com cân-

cer recebe, de acordo com a necessidade prescrita pelos médicos, tratamentos de quimio e radioterapia, além da practerapia, que é para cânceres mais específicos, como os de estômago, mama e próstata, por exemplo. Diagnosticado com leucemia linfoide aguda (LLA) em 2014, quando tinha 4 anos, Lohan Dutra iniciou o tratamento no HCan por meio do SUS. Hoje com 9 anos, ele ainda se trata, já que diversas vezes o câncer retornou mesmo após a radio e a quimioterapia. A mãe de Lohan, Cenir Caroline Dutra, conta que, apesar da luta com os vários retornos da LLA ao organismo, o hospital cumpre com sua parte sem dePacientes realizam fisioterapia no CRIDAC | Foto: Natália Veloso


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política

Casa Terapêutica é um dos tratamentos oferecidos pelo SUS em MT | Foto: Yan Lucas

mora: “agora ele está fazendo quimioterapia, sempre estamos aqui para consultas também. O tratamento oferecido é bom”, relata. Um paciente com câncer não recebe apenas o tratamento específico, mas é acompanhado por médicos especializados em outras áreas que podem ser afetadas. O HCan dispõe de cirurgias para a retirada de tumores em adultos e crianças. Para os menores, o procedimento começou a ser oferecido há pouco tempo. A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica, recém-construída e equipada, ainda aguarda autorizações para passar a funcionar. O hospital também dispõe de uma equipe de tratamento bucomaxilofacial, que constrói próteses para pacientes que tiveram parte do rosto obstruído com a retirada de tumores, ou que perderam os dentes devido à radioterapia. A cirurgiã-dentista Maria Carmen Volpato recebeu uma Medalha Pannain, que é o maior prêmio da odontologia nacional, pelo trabalho desenvolvido no Hospital do Câncer de Mato Grosso. Júlio Müller é um dos poucos no país a diagnosticar e tratar contra fungo rural

O Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM), vinculado à Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), conta com uma rede de projetos propostos por pesqui-

sadores que atuam na área de atendimento pelo Sistema Único de Saúde, impactando diretamente a população que procura os serviços do hospital.

“É um grande orgulho para a UFMT, porque foram investimentos em pesquisas através dos pacientes do Hospital Universitário. São pesquisas que visam o atendimento ao público pelo SUS”. Rosane Hahn

Uma das pesquisas foi desenvolvida por Rosane Hahn, formada em Farmácia Bioquímica e doutora em Microbiologia. O Laboratório de Micologia, dentro do Laboratório de Investigação da UFMT, oferece, em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde, diagnósticos de infecção pelo fungo Paracoccidioides braziliensis, que desenvolve no organismo uma doença que pode se assemelhar à tuberculose e,

pacientes em processo de tratamento, o Centro foca em pessoas que necessitam de reabilitação em deficiências físicas, auditivas e intelectuais, sejam elas definitivas ou temporárias, de recém-nascidos a idosos. No CRIDAC, é possível receber o diagnóstico, o acompanhamento e o tratamento. Uma das pacientes é Silvana Felício, que faz sessões de fisioterapia nos membros superiores devido a um agravante em caso de câncer de mama. A fisioterapeuta Evellin Del Monico, relata que precisou se esforçar para que Silvana se exercitasse, pois era de necessidade da radioterapia que ela levantasse os braços. Silvana afirma que o tratamento ali teve seu diferencial: “apesar das limitações que temos, pra quem é assistido em todos os setores é perfeito. Sou muito grata ao SUS”. A estrutura do CRIDAC é dividida em setores e oficinas. Há fisioterapia e tratamentos que visam pessoas que passaram por traumas e acidentes, ou pacientes diagnosticados com doenças como paralisia cerebral, miopatias e neuropatias, síndromes genéticas, doenças degenerativas, lesões medulares, AVC’s, Parkinson, Esclerose lateral amiotrófica (ELA), mielites transversas, entre outras. Há tratamentos ainda novos no estado, como a Casa Terapêutica, onde o paciente que trata de um problema físico se acostuma a transi-

tar por uma casa adaptada a suas necessidades. A unidade também confecciona, utilizando impressoras 3D, próteses pensadas e desenhadas por profissionais para pacientes que perderam parte dos membros. O CRIDAC também dispõe de oficinas artesanais onde são confeccionadas botas ortopédicas, tanto para crianças quanto para adultos. Há também sessões de arteterapia, onde pacientes que tiveram dificuldades intelectuais e mentais diante do tratamento, aprendem a cantar, tocar violão, desenhar e construir mosaicos e peças de decoração com materiais de papelaria. Rafael Alves (38) e Débora Delatori (37) são pacientes que passam por tratamentos para a recuperação física: ela sofreu um AVC e teve o movimento de metade do corpo reduzido; ele sofreu um acidente de moto e teve traumatismo craniano. Ambos fazem fisioterapia, mas também passam pelas sessões de arteterapia, onde se tornaram amigos. O Centro ainda faz concessões de cadeiras de rodas, andadores, muletas e outros aparatos de necessidade dos pacientes. “Todos os serviços e materiais são disponibilizados aos pacientes [exclusivamente] pelo SUS”, garante Patrícia Dourado Neves, fisioterapeuta e diretora do CRIDAC.

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em certos casos, à leishmaniose e ao câncer de pele. Este fungo contamina, em sua maioria, trabalhadores rurais, já que a forma de contraí-lo é respirando o ar próximo ao manuseio de terra. “O trabalhador inala o fungo revolvendo a terra e ele penetra os pulmões, levando infecções que progridem até doenças”, explica Hahn. No Júlio Müller, a pesquisadora e sua equipe desenvolveram um antígeno com um novo fungo, o Paracoccidioides lutzii, podendo assim tratar os casos que são comuns no estado por conta da alta produção agrícola em Mato Grosso. A parceria entre UFMT e Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso (SES) ainda garante a notificação compulsória estadual dos casos identificados e confirmados. Esses pacientes, devidamente notificados, recebem do Ministério Nos últimos três anos e no primeiro semestre de 2019, da Saúde o remédio desen- foram aprovadas ao todo 13 leis em âmbito estadual que volvido, totalmente gratuito abrangem atendimentos ofertados pelo SUS. Confira: e pelo SUS. “Só Mato Grosso oferece, em todo o Centro-Oeste, o LEIS APROVADAS EM MT GARANTINDO exame de sorologia para miATENDIMENTO PELO SUS - 2016 A 2019 coses, que monitora a evolução da doença. Desde 2016, já foram notificados cerca de ANO PROJETO DE LEI 180 casos”, declara Hahn. Reabilitação, tratamento e fabricação de próteses

Em dezembro de 2018, foi inaugurada a nova sede do Centro de Reabilitação Integral Dom Aquino Corrêa (CRIDAC). Com capacidade para atender cerca de 3 mil


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economia

A comercialização de orgânicos no “celeiro” do país Em Cuiabá, demanda por alimentos orgânicos aumenta, mas a oferta de produtos ainda é considerada baixa Marina Beatriz Durante os oito meses de vigência do Governo Bolsonaro, foram liberados 290 agrotóxicos: 51 deles foram aprovados no dia 22 de julho, o maior ritmo de liberação de pesticidas já registrado. Diante desse cenário, a demanda por alimentos orgânicos, que já vinha crescendo desde 2018, tem aumentado no país. Mato Grosso, no entanto, ainda tem dificuldades relacionadas à comercialização desse tipo de alimento. Em Cuiabá, capital da região conhecida como “celeiro do país” devido ao seu grande desenvolvimento no agronegócio, a oferta de alimentos que estão livres de agrotóxicos e pesticidas químicos ainda é baixa. Essa falta de oferta motivou Rock Hans, ex-proprietário da Sociedade Orgânica, que funcionava através de cestas, entregues semanalmente aos clientes que assinavam um plano mensal. Os fornecedores dos alimentos eram regionais, de cidades como Poconé (100 km de Cuiabá) e Chapada dos Guimarães (64 km de Cuiabá), o que, segundo Hans, foi a maior dificuldade da empresa, fazendo-a encerrar suas atividades. “A nossa região não produz tudo que todo mundo gosta de comer. Às vezes produz muito quiabo, muito jiló ou um produto específico e não produz vários outros”, relata. Os assinantes das cestas acabavam recebendo produtos que não gostavam ou em grande quantidade, já que a variedade era pouca e a quantidade dos produtos era abundante. “O nosso produto era acessível, mas a gente tinha dificuldade pelo modelo de negócio que adotamos. Por isso surgiu a ideia agora de fazer o supermercado. Dessa forma, a pessoa que consome compra a quantidade que ela quiser e o que ela quiser, sem aquela questão de receber um produto que não gosta”, completa. Hans, por enquanto, atende as fei-

Comercialização de orgânicos na Eco Feira | Foto: Dualys Francisco

ras de Cuiabá com produtos orgânicos, que agora são trazidos de outras regiões do país, e pretende continuar atendendo esse nicho. A ECO FEIRA

“União” foi a palavra usada pelos produtores de orgânicos Lilian de Souza e Elson Elvis para descrever o assentamento Agroana Giral, situado em Poconé, e sua produção de orgânicos. Quem frequenta a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) já deve ter observado uma pequena feira de frutas, verduras e hortaliças na guarita principal durante as sextas-feiras. A chamada Eco Feira surgiu por conta do trabalho de conclusão de curso de dois alunos sobre a agricultura familiar na baixada cuiabana. A pesquisa mostrava a dificuldade enfrentada pelos produtores da comunidade Agroana: a comercialização. O projeto venceu o Prêmio Santander Universidade Solidária em 2013, que possibilitou a criação de uma horta no assentamento. A feira, ligada ao projeto

de extensão Recopsol, da Faculdade de Economia, tem como objetivo, além de atender a oferta de comercialização, proporcionar geração de renda sustentável. Alexandro Ribeiro, professor e coordenador do projeto, afirma que a feira “tem que atender o aspecto social, que é a condição de vida desses agricultores; a condição cultural, ou seja, de respeitar o conhecimento deles e daquilo que eles sabem fazer; e o aspecto ambiental. Com isso sendo atendido chega o aspecto econômico. Essa geração de renda é sustentável”. O Projeto também conta com os “Parceiros de Quintal”, que produzem frutas em suas casas e não têm onde vender. Através de uma visita ao quintal, para verificar como aquela fruta é produzida, é criada uma parceria com o projeto e produtores de quintal passam a fornecer as frutas para serem vendidas na Eco Feira. Para Elson, uma das maiores dificuldades na produção de orgânicos são as pragas e animais como grilo, percevejo e as aves. “Não matamos esses animais, a gente

planta muito pra sobrar um pouco, fazemos umas armadilhas, como espantalho… Nós trabalhamos junto com os animais”, conta. Além disso, para espantá-los usam a chamada “calda natural”, com produtos como fumo, pimenta malagueta, urina de vaca, mamona, álcool e sabão neutro, que não fazem mal ao organismo e eliminam 20% das pragas. Já na comercialização, uma das maiores dificuldades, segundo o coordenador do projeto, é enfrentar o modelo já instaurado na capital, no qual se traz produtos de outras regiões. “Hoje quem entrega produto aqui são grandes empresas. Essas empresas têm financiamento, têm um sistema de logística quase que perfeito, sendo que o produto vem do Sul e do Sudeste e é distribuído aqui dentro e atende os supermercados”, alega. A falta de assistência técnica especializada e de financiamento adequado também coloca barreiras para a comercialização de produtos orgânicos regionais, o que, segundo Ribeiro, é um problema estrutural.

Atualmente, no Brasil, o produto orgânico é cerca de 30% mais caro que o convencional, devido à opção pela agricultura familiar. Segundo Alexandro, enquanto em uma horta convencional, com a utilização de agrotóxicos, dois trabalhadores e máquinas são suficientes para produzir em monocultura, na orgânica são necessários seis, para os quais os direitos trabalhistas devem ser cumpridos. Segundo Telma Amorgiana, doutoranda em Educação e consumidora da Eco Feira desde o começo de 2019, pagar um pouco a mais por produtos orgânicos vale a pena. Ela, de origem moçambicana, afirma que tem receio de consumir os produtos convencionais do Brasil, pois é um dos países que mais utiliza agrotóxicos e, inclusive, acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). “Eu penso que sempre vale a pena, pela saúde. Não há dinheiro que possa comprar saúde. Enquanto eu puder, prefiro sempre escolher um alimento orgânico”, defende.


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Demanda vegana provoca mudanças em restaurantes Estabelecimentos da capital mato-grossense se adaptam para atender quem diminuiu ou abandonou o consumo de carne Marina Beatriz A diminuição do consumo de carne tem ocorrido em escala mundial. Segundo pesquisa da Forbes realizada em 2018, para 70% da população, a abdicação do consumo de carne é uma realidade. No Brasil, 14% da população tem optado pela diminuição ou abandono do consumo de carne, de acordo com pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) em 2018. Apesar de não haver o número exato de pessoas que têm se tornado veganas, ou seja, que não consomem e nem adquirem produtos derivados de animais, essa mudança de hábitos traz mudanças para o mercado. Na capital mato-grossense alguns restaurantes têm adequado seus pratos para acolher a população vegana. Muitas empresas se preocupam em atender esse público e apresentá-lo a uma variedade de produtos, principalmente quando tratamos de alimentos. Em um estabelecimento do centro de Cuiabá, apesar de oferecerem opções com carne, seus pratos principais são vegetarianos ou veganos.

Aqueles que optam por comer a versão denominada “carnista” tendem a pagar um valor mais alto. Alexandre Servi, proprietário do restaurante, afirma que esse posicionamento em relação ao cardápio é só uma parte do que é chamado de “consumo consciente”. “Trabalhamos em prol da horizontalidade e isso inclui os insumos, preparos, manuseios, processos e todas as relações que possam existir dentro da empresa”, conta. Além disso, para debater as questões que envolvem o consumo consciente, o estabelecimento promove atividades que incluem rodas de conversa e oficinas. Alexandre diz que não pretende voltar seu cardápio somente a pratos vegetarianos e veganos. “Feliz o dia em que carne não seja a regra, mas, no máximo, a exceção. Por enquanto, aparentemente para acompanhar uma agenda cultural/ criativa tão vasta, é ainda necessário trabalhar em conjunto com as demandas”. Mesmo que a necessidade de ofertar alimentos variados para os veganos tenha aumentado, a procura

Opção de prato vegano | Foto: Thays Amorim

ainda é predominantemente por alimentos com carne. O estado de Mato Grosso, aliás, tem o maior rebanho bovino do país, representando 13,8% da produção nacional, de acordo com o Instituto Brasileiro de Estatística de Geografia (IBGE). O receio de Alexandre em investir em um restaurante que atenda somente ao nicho vegano pode ser sentido por qualquer empresário do ramo. Segundo o economista Henrique Costa, os riscos econômicos de se investir em um estabelecimento dedicado a um ramo específico, ainda que fazendo adaptações no restaurante já existente, são: concorrência, que pode diminuir o preço ou oferecer outros produtos; a estrutura de custos e os custos marginais, visto que o investimento pode não gerar um lucro imediato; e custos adicionais que uma adaptação pode gerar.

“Feliz o dia em que carne não seja a regra, mas, no máximo, a exceção” Alexandre Cervi

Rayanna Sagioratto, proprietária de um café voltado para alimentação saudável, realizou essa adaptação em seu estabelecimento e afirma que cerca de 35% dos seus clientes são veganos. Adepta da campanha da “Segunda sem carne”, ela oferece 10% de desconto nos produtos veganos, o que aumenta a procura por esses alimentos, e ministra cursos para a produção de alimentos veganos, como bolos e tortas. A adesão às aulas, todavia, não foi muito grande. Em Cuiabá, o primeiro restaurante voltado intei-

Sobremesa vegana | Foto: Thays Amorim

ramente para o público vegano surgiu em meados de 2016. Wanessa Rodrigues, uma das proprietárias, alega que o investimento no restaurante foi um grande acontecimento em sua vida. “Sou vegana desde os 10 anos de idade e o João [namorado e também proprietário do restaurante] desde os 22 anos. Começamos a trabalhar juntos com a alimentação vegana e vimos que era necessário um local maior”, relata Wanessa. Ela ainda afirma que, quando era apenas consumidora, não existia um local ao qual recorresse para comprar esses alimentos específicos. Laura Soares, vegana desde 2017 e estudante de Engenharia Civil, afirma que, apesar da oferta ter aumentado, ainda tem dificuldades para encontrar alimentos e restaurantes veganos na capital. Alice Rodrigues, vegetariana há 4 anos e vegana há 6 meses, diz que as opções de restaurantes veganos e de pratos adaptados são os maiores obstáculos para o estilo de vida. Segundo Laura, ainda há um problema envolvendo o preço desses alimentos. “Os produtos [veganos] vendidos aqui são muito caros! Já vi muitos pratos que só vão vegetais serem mais caros do que os pratos com carne

e leite, sendo que, proporcionalmente, carne é mais cara que legumes, folhas e frutas”. Para Alice, a questão da comida vegana ser mais cara do que a convencional não passa de um mito. Para que pratos possam ser produzidos sem nenhum derivado animal, muitas vezes é necessária a utilização de produtos industrializados, como o leite de amêndoas por exemplo. Uma caixa de leite convencional de um litro custa em média R$3, já o leite de amêndoas tem um valor mais alto, podendo chegar a R$20. Essa diferença de custo tem influência no preço do produto final, como um bolo ou uma sobremesa. A questão de custo é uma variável levada em consideração quando se pensa em veganismo. Instagramers como o “vegano periférico” mostram que o estilo de vida vegano é acessível. Através de pratos caseiros e simples, ele explica que tem como ser vegano e gastar pouco. “O nosso trampo é compartilhar como é ser de origem sabotada e conseguir manter um estilo de vida que é visto pela maioria como elitizado e inalcançável para os mais pobres”, aponta em uma de suas publicações.


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O papel da fé na busca pela cura de doenças em MT Benzedeiras e intercessoras são procuradas, mas médica alerta para pacientes não abandonarem tratamentos convencionais Lariça Luzia “Ela fazia a oração e, quando terminava, parava a dor de dente da pessoa”, conta a aposentada de 78 anos Albertina Felix, que desde criança procura benzedeiras e intercessoras para cura de doenças na família. As filhas e netas de Albertina também recorrem a estas práticas quando estão doentes, assim como muitos habitantes da Baixada Cuiabana, mas, antes de ir às benzedeiras, elas procuram um profissional de saúde. Presente na população brasileira há séculos e repassada de geração para geração, a busca por benzedeiras é comum em todo o estado, mas a médica Heloísa Valentim alerta ao jornal SôFoca que este não deve ser o único caminho a ser seguido. A prática, de acordo com Valentim, pode ser benéfica porque contribui para a saúde mental dos pacientes, dando-lhes esperanças quanto a um “desfecho positivo do tratamento”, mas ela, assim como muitos médicos, ressalta que é preciso tomar cuidado e não chegar ao ponto de abandonar os tratamentos médicos convencionais prescritos. A busca por estes métodos curativos é quase inevitável, então os médicos precisam estar atentos a seus pacientes, perguntando sempre que possível se estão se medicando com al-

A intercessora Nacila reza pela cura das enfermidades de Aynna | Foto: Pedro Mutzenberg

gum chá caseiro, por exemplo. É possível tanto potencializar quanto minimizar o efeito do tratamento convencional com o uso de chás e remédios alternativos. Apesar do receio, a médica ainda recomenda a busca pela fé em alguns casos. “Oriento sempre para aqueles pacientes muito apegados à fé que participem de rodas de oração, especialmente para o tratamento de doenças mentais”, relata. Atualmente intercessora, pessoa que pede algo por

meio da oração, Nacila Pereira se apoia em Deus para a efetivação de suas rezas. Com o desejo de ajuda às pessoas por meio de seu dom, ela contou ao jornal SôFoca que a procura é alta. “No momento em que faz a oração a gente eleva o pensamento em Deus, porque é Ele que vai fazer e eu sou apenas a serva do senhor que tenho a oportunidade de ajudar. Quantas pessoas vêm me procurar sofridas, desesperadas e já foram até desenganadas da doença?!”,

afirma a intercessora. Já Odete Souza, conhecida entre os populares como Nelina, aprendeu a benzer com suas tias e agora ensina sua nora, Tânia Barbosa. A benzedeira garante que “depois da terceira vez a pessoa já fica boa” e que “algumas pessoas vêm ainda me procurar para benzer”. Nelina benze contra quebrante, supostamente decorrente de mau-olhado, que tem como sintomas moleza por todo o corpo e falta de apetite. A benzedeira também intervém para curar Nacila se apoia em Deus para a efetivação de suas rezas | Foto: Pedro Mutzenberg ou melhorar dores causadas por mau jeito, quando a pessoa machuca alguma parte do corpo. Nelina e sua vizinha Julia Pereira, também benzedeira, usam agulha e um paninho para o ritual. “Eu costuro um pano para benzer de mau jeito, pego a agulha e costuro três vezes e vou falando ‘eu cozo’ e a pessoa machucada responde ‘carne quebrada, osso rendido e nervo desconjuntado’. Depois disso, eu faço algumas orações para Deus ajudar a curar”, explica Nelina. O método usado por Nacila é diferente. Ela faz a oração pela pessoa doente

rezando pai nosso, salve rainha e pode também rezar o terço. Associada à Legião de Maria, grupo de leigos católicos evangelizadores, a intercessora visita os doentes e ensina outras pessoas a rezar o terço e a pedir a Deus pelas pessoas enfermas. Todas as semanas a intercessora leva água para o padre abençoar, de modo que ela possa aspergir na pessoa que está recebendo a oração. O SôFoca observou de perto Nacila rezar por sua vizinha Aynna Vitória Chaves, de apenas 7 anos. Sua mãe, Jaqueline Felix, 24, sempre a leva quando está doente ou com virose para que Nacila possa fazer orações por ela. Albertina Felix ensinou Jaqueline, sua neta, a procurar a fé para ajudar a curar as enfermidades. Hoje, ela passa para Aynna o que aprendeu com a avó sobre a importância da fé. Depois de procurar um médico, é Nacila que eleva seus braços e pede a Deus que ajude a curar todos os males do corpo, cuidando de gerações de uma família inteira.


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Jovens aliam teatro e saúde na luta contra a ansiedade Pesquisadores, profissionais e atores destacam potencial das artes cênicas para enfrentar problemas fora dos palcos Pedro Augusto

Prática do teatro pode proporcionar foco e acolhimento | Foto: Maycon Esquer

O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), frequentemente chamado apenas de ansiedade, é uma doença psíquica epidêmica no Brasil. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país com a maior número de casos da doença em todo o mundo, com 18,6 milhões de pessoas convivendo com o TAG, classificado pela Associação Americana de Psiquiatria como “ansiedade e preocupação excessivas, ocorrendo na maioria dos dias por pelo menos seis meses, com diversos eventos ou atividades”. Após conviver com a doença por um longo período, pessoas em Cuiabá relatam ter encontrado um aliado: o teatro. O ator, pesquisador e professor de teatro Sandro Lucose diz que é extremamente comum a procura pelas aulas de teatro entre seus alunos do ensino médio, não por desejo de atuar profissionalmente, mas para trabalhar questões psíquicas que considerem problemáticas, como timidez excessiva ou mesmo ansiedade. Ele diz que o objetivo de suas aulas de iniciação teatral é fazer com que os alunos aprendam mais sobre si mesmos e desenvolvam estratégias para se expressar melhor. Samara Thibes, graduanda em Psicologia pela Universidade Federal de Mato

Grosso (UFMT) e participante do grupo de teatro Cena Livre, projeto de extensão realizado pela universidade, relata que sempre teve dificuldade excessiva em se expressar e que, por isso, buscou o teatro na universidade. “Para mim foi uma terapia. Sempre tive dificuldade em me expressar e melhorei muito. Me enxerguei melhor, me descobri mais. Me sinto realizada”, afirma.

“Se você está em cena, tem que estar conectado com aquele momento, não pode estar pensando nas coisas de fora”. Fabíola Karen

A estudante relaciona o que vive no teatro com fundamentos de seus estudos na Psicologia. Ela diz que o teatro e a arte em geral têm papel terapêutico e se relacionam com as bases da Psicologia Humanista. Samara

diz que, para este ramo da psicologia, é fundamental o processo do “florescimento”, ou seja, de se descobrir, para o desenvolvimento da pessoa humana. Segundo ela, o teatro proporciona essa experiência tanto ao ator quanto ao espectador. De acordo com Thaísa Soares Silva, psicóloga e pesquisadora, o teatro pode sim trazer benefícios a quem sofre com o TAG, mas não é uma terapia em si. “Se a prática for agradável para a pessoa, pode funcionar como ferramenta que favorece um encontro consigo e com o outro, auxiliando a pessoa a desenvolver habilidades que ajudem a lidar com a questão da ansiedade. Por outro lado, se a pessoa não se sente confortável com o teatro, a exposição que ele traz pode, inclusive, piorar quadros de ansiedade”, explica. “O teatro é arte e a arte não tem uma funcionalidade pré concebida, mas a arte possibilita uma relação com o campo do inconsciente e com a atribuição de sentidos a experiências vividas”, afirma Thaísa. Para ela, ao se abrir a essa possibilidade de uma melhor relação entre consciente e inconsciente é que uma pessoa pode encontrar na arte um efeito benéfico à saúde mental. Estudante de Artes Cênicas na MT Escola de Teatro, ligada à Universidade do Es-

tado de Mato Grosso (Unemat), Fabíola Karen e Silva convive com a doença desde 2007. “Ansiedade, para mim, é não parar de pensar em nenhum momento, meu cérebro está em constante ação. Isso acontece um pouco com todo mundo, mas a pessoa que tem ansiedade não consegue afastar esse pensamento, é como um aprisionamento”, relata. Ela vai a consultas periódicas com um neurologista e com um psiquiatra e fazia uso de medicamentos até três anos atrás, quando teve indicação médica para suspender a medicação. Ela associa sua melhora também ao seu início no teatro naquele mesmo ano: “o ano em que entrei para o teatro [2016] foi o primeiro ano que consegui tirar o remédio”, conta Fabíola. De acordo com a atriz, quando começou o teatro, a atuação a levou a romper barreiras que tinha, como quanto ao contato físico com outras pessoas. Fabíola já havia feito teatro na escola quando era criança e voltou a atuar no grupo Cena Livre durante sua graduação em Publicidade e Propaganda. Nos exercícios do grupo, ela explica que precisava abdicar do controle, confiar nos outros e se abrir, práticas que ela associa à diminuição da ansiedade. A atriz fala também sobre a redução de suas crises de pânico, frequentes durante todo o tempo em que conviveu com o transtorno de ansiedade, até sofrerem uma drástica redução e se tornarem consideravelmente raras desde que está nos palcos. “Durante as crises de pânico, você fica inútil, e isso diminuiu muito desde que eu comecei a fazer teatro. Consigo contar na mão quantas vezes, durante esses três anos, tive uma crise de pânico, o que antes era bem frequente”, relembra. Os estudos teatrais incluem a teoria do “aqui-agora”, considerada fundamental para o exercício da função de ator. Segundo a

teoria, quem está em cena deve estar completamente conectado ao que está fazendo naquele momento, sem se distrair com pensamentos externos ao palco. “No teatro, a gente tem que estar ali por inteiro, tanto ator quanto público, e se colocar no lugar do outro. Isso já ajuda no amadurecimento humano e tem efeito terapêutico”, conclui Samara.

“O teatro ensaia as pessoas para a vida real”. Sandro Lucose

Segundo Fabíola, colocar em prática a teoria do aqui-agora colaborou não apenas em sua atuação, mas também em seu cotidiano fora dos palcos. “Essa necessidade de você se distanciar e olhar isso de fora faz com que você observe sua própria vida também depois, ver as situações que você está passando também de fora, é uma forma de levar alguns dos conhecimentos do teatro para o dia-a-dia”. Para Sandro Lucose, não há dúvida sobre o papel do teatro para o melhor desenvolvimento do ser humano. “Por mais que as pessoas às vezes não tenham pretensões artísticas, o teatro faz com que elas achem seus caminhos. Elas aprendem a se colocar, a ser críticos, autocríticos e a fazer escolhas. O teatro ensaia as pessoas para a vida real”, afirma. Fabíola diz que fazer teatro foi fundamental para a melhoria de sua saúde mental. “Faço teatro porque não consigo não fazer. Já vi o mundo sem a Fabíola atriz e não é muito bom. O mundo é melhor quando eu estou fazendo teatro”.


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Futebol de 5 aumenta qualidade de vida de mato-grossenses com deficiência visual Atletas do estado se destacam e acumulam vitórias em campeonatos nacionais e regionais

Thays Amorim O futebol de 5 é a prática esportiva adaptada para pessoas com deficiência visual. A Seleção Brasileira é a única pentacampeã mundial da Copa do Mundo de Futebol de 5, promovida pela Federação Internacional de Desporto para Cegos (IBSA). Apesar do título e de ser a única seleção a possuir quatro medalhas de ouro nos Jogos Paralímpicos, o futebol de 5 sofre um problema comunicacional. Os últimos Jogos, realizados no Rio de Janeiro em 2016, tiveram pouca cobertura pelos canais televisivos. Os campeonatos regionais e o nacional também passam pelo mesmo problema. Na internet, não existem informações atuais sobre o Campeonato Brasileiro do futebol de 5, nem sobre a Série A, categoria atual do time da capital mato-grossense. O esporte não difere muito do futsal para pessoas videntes. Algumas especificidades são o guizo na bola, para que os atletas se localizem pelo som, e barreiras laterais que cercam o campo, que também é menor. Em Cuiabá, a prática ainda é oferecida somente pela Associação Mato-grossense dos Cegos (AMC). A maior cobertura do futebol de 5 fica a cargo das próprias associações. Os campeonatos regionais e o Campeonato Brasileiro da série A são transmitidos por rádios via internet, pelas próprias associações dos cegos de outros estados. Atualmente, apenas um canal fechado de televisão transmite o campeonato nacional. Sem esses meios de comunicação, não seria possível acompanhar o esporte. Até para se informar sobre outros esportes existe uma dificuldade. Luciano Campos (45), diretor de esportes da AMC, ressalta a importância de trabalhar outras narrativas inclusivas. “Eu assisto futebol, ouço a narração, mas não sei de que forma aconteceu aque-

Luciano exibe troféu | Foto: Izabelle Borges

le lance, aquele gol, se é um escanteio, como ele driblou. Nós não temos essas informações. De repente, fica todo mundo quieto na televisão. O cego fica ali, ele não acompanha. Ele quer saber o que está acontecendo no jogo”, critica.

“O esporte traz para nós, cegos, uma nova vida, uma liberdade”. Luciano Campos

Campos comenta ainda sobre o preconceito que existe. “Você fica cego e o que a sociedade pensa? Naquela pessoa que vai estar em casa, no quarto, trancada, sem se mover. O esporte traz para nós, cegos, uma nova vida, uma liberdade, para que a gente tenha um desempenho na sociedade, na vida, e um futuro melhor”, afirma. A AMC oferece outros dois esportes de alto rendimento, atletismo e goalball (esporte de arremesso com as mãos criado para cegos),

voltados para atletas profissionais. Para esses esportes, existe uma triagem prévia. Medalhistas do atletismo como Lucas Prado (velocista com três medalhas de ouro em Pequim) iniciaram sua carreira em Mato Grosso. Um dos atletas profissionais mais antigos do futebol de 5 em Cuiabá, Luciano Siqueira, tem uma rotina pesada de treinos. Toda segunda, quarta e sexta, ele treina no

campo cedido por um centro universitário de Várzea Grande, que também oferece uma bolsa de atleta divulgador aos jogadores. As terças e quintas são divididas entre a natação e o treino na academia. Aos 43 anos, Luciano afirma que começou no time cuiabano Mixto Dente de Leite (categoria de 10 a 11 anos) e foi obrigado a parar quando perdeu a visão. “Eu já jogava quando eu enxergava, e quando eu soube que cegos jogavam também, eu me interessei mais”, explica o atleta que começou no atletismo e depois migrou para o futebol. Desde 1998, o futebol de 5 faz parte da vida de Luciano. Ele cita com orgulho os títulos conquistados pelo time: tricampeão do Campeonato Brasileiro, mais de 10 vezes campeão regional, duas vezes vice-campeão nacional e ainda o terceiro lugar nacional. Outro jogador da equipe é Joelson Antônio Pereira (35). O esportista também começou no atletismo, em

2008. Em 2015, Joelson foi convidado para completar o time de futebol de 5 e se manteve no esporte. Ele e o irmão Joede Antônio Pereira (37), que também joga, moravam em um sítio em Várzea Grande, até que a AMC fez contato com os jovens e os convidou pessoalmente para integrar a equipe. Joelson conta que a sua história no esporte ofereceu um recomeço, conhecendo instituições que oferecem inclusão às pessoas com deficiência visual: “Para mim, foi muito bom. Foi através do esporte que eu comecei a estudar. Antes de começar a fazer esporte eu e meu irmão não estudávamos”, relembra o atleta. “Eu nunca tinha tido contato com a sala de aula. A gente morava no sítio e não tinha acesso ao estudo, a gente não conhecia a AMC, não conhecia o Instituto dos Cegos. Eu conhecia pela televisão. O futebol de 5 era bem conhecido na época, tinha sido tricampeão brasileiro, tinha o pessoal na seleção. Sempre passava matérias na televisão sobre esportes paralímpicos aqui [Mato Grosso]. Mas não conhecia, foi através desse contato que começamos a estudar, em 2011”, conta Joelson.


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Atletas adaptam rotina para manter rendimento durante tempo seco

c o n t r aregras

Falta de cuidado pode provocar desidratação e superaquecimento do corpo Thays Amorim Vôlei de praia, corrida de rua e futebol: esses são alguns dos esportes de alto rendimento que mais exigem de seus atletas no tempo seco. Sobretudo entre os meses de julho e setembro, Cuiabá passa por um período crítico, com diversos focos de calor e pouca umidade relativa do ar. Os efeitos no corpo são diversos, desde problemas respiratórios a irritações no nariz, olhos, garganta e pele. Existem algumas restrições para a prática de exercícios físicos durante os períodos secos. Ainda que o calor de Cuiabá seja rotineiro aos seus habitantes, essa época do ano exige um cuidado maior e cada método adotado é válido. A bombeira militar Venância Taiz de Camargo (35) diz que toma café e suplementos para dar energia antes do treino diário. “Comecei a fazer atividades físicas no curso de formação para ser bombeira, mas peguei gosto mesmo após me formar e conhecer a fundo os benefícios da prática de atividade física. Faço musculação, corro e nado”, conta a Sargento Taiz. Exercitar-se sem o preparo ou acompanhamento adequado pode acarretar riscos redobrados, principalmente para quem pratica esportes ao ar livre. A Sgt. Taiz está há mais de 15 anos no Cor-

po de Bombeiros Militar de Mato Grosso e atualmente é instrutora na academia de musculação do 1º Batalhão de Bombeiros Militar, o maior do estado. Ela explica o processo físico pelo qual o corpo humano passa para que exista um equilíbrio: “o atleta necessita da sudorese [suor] abundante para equilibrar a temperatura corporal durante os exercícios físicos. Com a baixa umidade ambiental, corre o risco de desidratar e ter uma hipertermia. Tudo isso sem falar da queda de performance. O tempo seco provoca dificuldade de respiração durante a realização de esportes praticados ao ar livre”. Quem também sente as dificuldades do exercício físico durante essa época é Maxwell da Silva Santos (40). O economista, que começou a correr aos 10 anos, possui uma intensa rotina de treinos. De cinco a seis dias da semana, seu treino alterna entre corridas longas, de 12 a 18km, e curtas, de 8 a 10km. Maxwell já correu em mais de 100 corridas de rua. “Não é muito viável a gente fazer qualquer atividade física depois das 10h e antes das 17h. Como o nosso clima é tropical, entre 5h e 9h, mesmo com o sol, você consegue ter uma quantidade de oxigênio confortável para atividades de longa dura-

ção”, revela o atleta. Em outubro de 2019, Cuiabá sedia a 2ª etapa do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia Open. Além de ser um esporte de alto rendimento, a modalidade é praticada ao ar livre e com exposição direta ao sol. A atenção com os atletas precisa ser redobrada em lugares quentes, com baixa umidade do ar, para que não haja uma queda na performance ou problemas de saúde. Daniel Soares Gonçalves, vice-diretor da Federação Brasileira de Atletismo do Estado do Rio de Janeiro (FARJ) e fisiologista e preparador físico do clube de futebol Vasco da Gama, afirma que o problema não é somente a perda de líquidos: “com o aumento de transpiração, há uma maior perda de líquidos e consequentemente de eletrólitos (sais minerais). O atleta tem que estar muito atento às questões de hidratação, não só da hidratação de água, mas também da reposição desses sais”. Com atuação no futebol desde 1998, com passagem por clubes como Flamengo e Criciúma, Gonçalves explica seu método de atuação: “primeiro, um estudo das condições climáticas prévio, para podermos montar nossa rotina de treino, nosso planejamento. Segundo, no local da competição, fazer men-

suração desses índices, de temperatura, umidade e velocidade do vento em tempo real, nos treinamentos. Para que a gente consiga ter uma noção do impacto negativo do clima nos atletas”. Daniel também já foi o fisiologista responsável pela dupla de vôlei de praia Evandro e Bruno Schmidt. Ele afirma que não existe diferença durante a preparação para os efeitos do ar seco, mas sim durante a atividade, citando exemplos de como várias modalidades funcionam. “O MMA é uma atividade mais curta, mais explosiva, o atleta requer muita força, muita potência, uma resistência de força muita elevada. Já futebol é uma atividade predominantemente de resistência, apesar de ser determinantemente de potência”, explica. Os incidentes por conta das condições climáticas também podem fazer com que o atleta não jogue ou tenha perda de rendimento. O fisiologista explica ainda que “é bem natural ter incidente, principalmente pré-jogo”. As condições também influenciam nesse caso. É necessário que o desportista passe a noite anterior em um ambiente umidificado. Em lugares sem umidificadores, as técnicas de deixar toalhas molhadas também são válidas para melhorar a qualidade do ar.

GAME É VÍCIO? Thays Amorim Quando eu e meu irmão mais velho passávamos horas a fio jogando GunBound, um jogo online de estratégia e artilharia para computadores, chegando a 10 horas seguidas durante a infância e adolescência, aquilo me parecia muito mais como um desafio do que um problema. Isso poderia ser classificado como vício? De acordo com minha mãe, sim. Não existe um consenso científico, entretanto. As relações estabelecidas por alguns autores da psicologia e psiquiatria na área sobre tratamento de drogas influenciam na definição de vício existente. Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), realizada pelo pesquisador Guilherme Pinho Meneses, questiona o que os games e o crack teriam em comum para utilizarem do mesmo método de diagnóstico e tratamento. Meneses acredita ainda que o engajamento do jogador com o jogo tem relação com o fato de as pessoas estarem passando mais tempo com os jogos - não que antigamente isso não acontecesse. As novas formas de interação, narrativas transmidiáticas, contato virtual entre outros gamers e personagens complexos são alguns dos fatores que “grudam” gamers como Gabriel Philipe, estudante de Rádio e TV na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), por até incríveis 28 horas seguidas, computadas pela plataforma Steam. O meu vício em GunBound durou pouco na época. O jogo tinha um gráfico pouco apelativo e o seu espaço foi tomado por outra descoberta adolescente, que mamãe insistia em também chamar de “vício”: o rock n’ roll. Há de se levar em conta o que pode ser categorizado, de fato, como dependência física ou psíquica.


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DIVERSIDADE

Mães enfrentam problemas no início da amamentação Fissuras, inchaço, inflamação e sangramento são algumas das dificuldades, além de aspectos psicológicos e emocionais Francisca Vilar e Lariça Luzia A partir do nascimento do bebê, a mãe já começa amamentar. Nessa fase, adaptar-se é um desafio para a mulher e para a criança. A produção de leite depende de fatores como sucção do bebê, alimentação da lactante, além de aspectos psicológicos e emocionais. Segundo a consultora

de amamentação e doula Adriana Ramos (39), “a dor acontece quando não tem uma posição certa ou a pega do bebê não está correta e vai ocasionar fissura, machucando o peito da mãe. Essa é uma das causas de desmame precoce”. Segundo a pediatra Mirella Prates, o leite materno

é essencial para o desenvolvimento neuromotor e traz benefícios para o sistema imunológico. “A criança que tem a amamentação interrompida fica mais exposta a doenças, diminui sua proteção imunológica em vários aspectos, além de perder o momento de estabilização de vínculo entre mãe e filho”. A falta de informação e Amamentação fortalece laço entre mãe e bebê | Foto: Luísa Rodrigues comunicação entre o médico e a mãe também pode ser prejudicial. “O pediatra não orientou e nem falou sobre amamentação”, conta Gabrielly Costa (20), mãe de João Vicente, (3 meses). Depois do nascimento do filho, ela demorou cerca de três dias para produzir leite. “Todos me diziam para deixar o bebê sugar que iria sair, só que machucou muito [o bico do peito] e eu não queria mais amamentar”, conta. Ana Luise (24), mãe de Analu (1 ano e 4 meses), também teve dificuldade. “Eu sentia muita dor, às vezes a minha neném chorava

para mamar e eu chorava porque eu não queria dar mamar. Meu peito rachou, sangrou, ficou inchado e eu quase tive mastite [inflamação na mama]”. Analu perdeu muito peso após o nascimento. Ela mamava pouco e adormecia sem satisfazer a fome. A equipe médica só percebeu isso no quinto dia. “O que me deixou mais triste foi que todos que passavam por mim falavam que estava tudo certo, mas eu que não dava peito para minha filha, sendo que ela ficava o dia inteiro pendurada em mim, mesmo eu sentindo dor”, relata. Quando Ana Luise voltou a trabalhar, teve que fazer adequações. “Eu usava sutiã de amamentação e absorvente de seio. Até tive que comprar roupa porque vazou leite e ficou com mau cheiro, sem falar no inchaço e dor nas costas”. Aos 6 meses Analu começou a introdução alimentar e, aos 11, a lactação já era o

alimento secundário. “Eu armazenei leite em potinhos e ofereci leite em pó, mas ela não quis, foi preciso preparar vitaminas e dar no copo”, explica a mãe que, quando saiu do trabalho, insistiu em fazer da amamentação alimento principal novamente. As dores de Luana Prado (22) começaram porque a boca de Heitor (4 meses) era muito pequena, prejudicando a pega. “Ele quase foi pra UTI [Unidade de Terapia Intensiva] neonatal porque pegava o peito errado e não saía leite”, relata. Luana conta que, durante a gestação, tinha medo de como seria amamentar, pois era comum ouvir comentários negativos sobre a amamentação. “As pessoas acham que fica fácil depois de um tempo, mas não fica, o que acontece é que o corpo se acostuma e a gente sabe que não é só alimentar o filho, é ter um vínculo que nenhuma outra pessoa pode ter a não ser a mãe”, finaliza.

Autistas sofrem com dificuldades para diagnosticar síndrome e poucos espaços de inclusão em Cuiabá Transtorno não é idêntico para todas as pessoas e pais relatam os desafios no cotidiano, da infância à vida adulta Francisca Vilar O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma síndrome difícil de ser diagnosticada, pois não apresenta características físicas evidentes, porém compromete a interação social, a comunicação verbal e não verbal e o comportamento restrito e repetitivo do indivíduo. De acordo com a quinta edição do Manual de Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V na sigla em inglês), o TEA é classificado como leve, moderado ou severo considerando o nível de dependência e/ou necessidade de suporte. Lorenzo Bezerra tem 8 anos e mora com a mãe, Juliana Fortes (50). Aos 4 anos ele foi diagnosticado como autista leve. “O Lorenzo gritava, quebrava as coisas e as

pessoas me culpavam porque diziam que eu não sabia educá-lo”, relata Juliana. Desde que o menino recebeu o diagnóstico, a mãe passou a buscar assistência e inclusão para o filho. “Quando o laudo médico chegou, eu já tinha brigado com a família porque, até então, a louca era eu por insistir nisso. Ninguém entendia o que era o autismo, as informações ainda são muito vagas”, afirma Juliana. Eliane Colinowski (56), conhecida por Branca, é mãe de Dimitry, um adulto autista que não gosta de revelar a idade. Ela conta que o diagnóstico foi dado quando o filho estava no ensino médio. A família morava em Cuiabá, porém, diante da dificuldade de conseguir um

laudo especializado na capital, buscou atendimento especializado em Sorocaba (SP). “Receber o laudo tardiamente prejudicou o Dimitry, porque, até então, ele era visto como uma pessoa ‘normal’, mas com comportamentos particulares. Ele sofreu bullying na escola a ponto de não querer ir pra faculdade de jeito algum”, explica Branca. A dificuldade de conseguir o diagnóstico se dá porque a síndrome não é igual para todas as pessoas. O grau é definido pelo DSM-V, mas, na prática, é muito além disso. O indivíduo deve ser acompanhado por uma equipe multidisciplinar. No entanto, a síndrome é um mistério para a medicina, por isso, conseguir suporte

especializado é um desafio. Uma criança pode andar, comer e ser alfabetizada, mas talvez não fale, então o diagnóstico é aproximado e oscilante. O caso de Dimitry é um exemplo disso. Ele foi diagnosticado como autista leve, mas evoluiu para o moderado e já possui características do severo. Dimitry faz parte dos 30% de autistas com o desenvolvimento intelectual avançado. Ele aprendeu vários idiomas sozinho, mas a sua grande paixão é o automobilismo. “Eu vou ser o primeiro autista piloto de carro”, diz. Richard Malek (44) é pai de Gabriel (7), diagnosticado autista clássico severo. Ele conta que é difícil encontrar material atualizado

e eficaz sobre TEA. “Eu procurava na internet e só achava terapias, remédios, mas não tem cura. Então passei a procurar como se brinca com o autista porque, com um ano e oito meses, eu não brincava com o meu filho”, relata. O caso de Gabriel foi mais fácil de ser diagnosticado, pois o grau de dependência é maior. Os pais relatam que a preocupação com os filhos é constante. “Depois que você recebe o diagnóstico, você fica ansioso pelo agora e pelo depois, porque você se preocupa com como está sendo e como vai ser futuramente, se o seu filho vai ser respeitado e aceito”, explica Bethânia do Vale (51), mãe de um jovem adulto diagnosticado como autista leve.


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