Ed_614_Jornal Solidario_2a_quinz_jul_2012

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IMPRESSO ESPECIAL CONTRATO No 9912233178 ECT/DR/RS FUNDAÇÃO PRODEO DE COMUNICAÇÃO CORREIOS

Porto Alegre, julho de 2012 - 2a quinzena

Ano XVIII - Edição N o 614 - R$ 2,00 Divulgação

Salvar o Planeta questão de atitude Porto Alegre verde?

A Ciência alerta: nossa Casa está no caminho da exaustão. Contudo, não é ela que está a perigo: é a humanidade. A Terra se recompõe, nem que leve um milhão de anos. Mas, as condições ambientais para vida complexa sobre ela estão comprometidas. Por isso, já não é o dinheiro, mas a adesão individual, a atitude pessoal, o pequeno gesto concreto, de cada um dos sete bilhões de seres humanos, que podem reverter o quadro. A mudança está na sociedade. Comecemos a cumprir o dever de casa: não jogar sujeira na rua, separar o lixo reciclável, não desperdiçar água, reaproveitar móveis, papéis e alimentos, exercitar um consumo responsável. Páginas 2 (Editorial), 5, centrais e 9

Propala-se que a Capital tem 14,78 metros quadrados de vegetação para cada habitante, contando apenas as áreas municipais, como parques e praças. Contabilizadas regiões estaduais, federais e privadas, essa relação sobe para 50 metros quadrados por pessoa, ante 12 metros quadrados da meta da Organização Mundial da Saúde (OMS). Apesar de considerada uma das cidades mais arborizadas do país, a maior crítica está sobre a forma subjetiva como o número é avaliado, já que a área verde total é somada e simplesmente dividida pelo número de moradores. Biólogos alertam que se não forem construídos novos parques como o Marinha do Brasil ou o Parcão com a mesma frequência com que se constroem prédios, esses indicadores estarão logo obsoletos.

Leitor assinante

Dom José Gislon é o novo bispo de Erexim

Ao receber o doc, renove a assinatura: é presente para sua família. No Banrisul, a renovação pode ser feita mesmo após o vencimento. E se não receber o jornal, reclame, trata-se de serviço terceirizado. Fones: (51) 3211.2314 e (51) 30.93.3029.

Atual definidor geral da Ordem dos Frades Capuchinhos, em Roma, Itália, Dom Gislon (foto) substitui a Dom Girônimo Zanandréa, que pediu renúncia do posto, aceita pela Vaticano. O novo bispo diocesano de Erexim é natural de Gustavo Richard (SC).

"Nós não podemos ser felizes em um planeta infeliz, destroçado". Antônio M. Galvão

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RTIGOS

Editorial

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ão lamente a escuridão porque falta luz; acenda uma vela! A absoluta maioria dos que participaram presencialmente da Rio+20 ou acompanharam o evento pelos meios de comunicação ficou com um gosto amargo na boca: um fracasso! Uma minoria mais centrada não ficou particularmente decepcionada, porque não criou nem alimentou maiores expectativas. Nem poderia ser diferente: a maioria dos protagonistas do evento não estava mesmo disposta a posições e decisões mais radicais, capazes de mudar o preocupante quadro da devastação do planeta. Fundamentalmente, por interesses econômicos, dentro de uma geopolítica que comanda e coordena o que se pode e o que não se pode fazer para não interferir no atual quadro produtivo mundial. Produtivo, mas altamente devastador. Os “apocalípticos” anunciam o fim da humanidade; os “integrados” (Umberto Eco) buscam possíveis saídas para que nossa Casa Comum possa continuar habitável pelo “bicho homem”. Fiel à sua filosofia de “dizer sempre a palavra que aponta uma estrela, jamais aquela que aumenta a escuridão”, o Solidário traz, nesta edição, um trabalho do diretor da Fundação Pro Deo de Comunicação e um dos seus jornalistas, Adriano Eli, que recupera os principais aspectos do que aconteceu na Rio+20. Sem alinhar-se aos que aumentam a escuridão, mesmo assinalando alguns dos aspectos mais decepcionantes do evento, Eli deixa claro que este encontro não pode ser visto e analisado como um ponto de chegada ou uma posição definida e definitiva para o problema da salvação da Terra, mas um momento forte de conscientização que pode (deve) levar a novas posturas e atitudes, principalmente em nível pessoal. E assinala que um dos aspectos mais positivos foi a presença jovem no evento, sinal de esperança de um tempo novo, onde homens e mulheres mais solidários possam habitar num planeta onde há lugar para todos viverem dignamente. Por alguns números é possível avaliar o que foi a Rio+20: 50 mil participantes, cinco mil pessoas trabalhando no evento, 193 delegações de países, seis mil encontros nos nove dias da Conferência, 692 compromissos voluntários para o desenvolvimento sustentável registrados por governos, empresas, grupos da sociedade civil e de universidades, 1.500 voluntários, entre eles, muitos jovens, selecionados em escolas técnicas, estudantes de escolas públicas, universitários e profissionais de todo o Brasil. Não lamente a escuridão porque falta luz; acenda uma vela. E a vela a ser acendida na mente e no coração de cada pessoa é uma nova atitude pessoal, capaz de criar novos hábitos no seu cotidiano e, unindo-se a milhares de velas acesas no mundo inteiro, mude as estruturas injustas e gere uma imensa luz a iluminar um outro planeta possível, morada bonita de toda a humanidade. (attilio@ livrariareus.com.br)

CNPJ: 74871807/0001-36

Conselho Deliberativo

Presidente: Agenor Casaril Vice-presidente: Jorge La Rosa Secretário: Marcos Antônio Miola

Voz do Pastor Dom Dadeus Grings

Arcebispo Metropolitano de P. Alegre

Esperança de um tempo novo

Fundação Pro Deo de Comunicação

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Voluntários Diretoria Executiva

Diretor Executivo: Adriano Eli Vice-Diretor: Martha d’Azevedo Diretores Adjuntos: Carmelita Marroni Abruzzi, Elisabeth Orofino e Ir. Erinida Gheller Secretário: Elói Luiz Claro Tesoureiro: Décio Abruzzi Assistente Eclesiástico: Pe.Attílio Hartmann sj

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As divisões da humanidade

humanidade não se divide, primariamente, em indivíduos, mas em famílias. O indivíduo humano, por mais real que possa parecer, não é senão uma abstração. É visto isolado de sua realidade existencial. Deste modo, não consegue viver. Na verdade, ele é fundamentalmente família, com amplo parentesco. Depois é comunidade e, por fim, sociedade.

No contexto cultural, o ser humano vem sendo classificado pelo gênero: masculino e feminino. Homem e mulher. Para distingui-los basta ver a compleição física que caracteriza o homem e a mulher, com funções específicas inconfundíveis. A cultura elabora ulteriormente estas características, de modo a não deixar dúvidas. Destaca-as pelo vestuário, pelo perfume, pelo corte de cabelo, pelo sapato, pelas atividades domésticas... A distinção masculino-feminino, infelizmente começa a ser questionada. Chega a ser eliminada pela tendência unissex e pela homossexualidade. Chegará o dia em que não se distinguirá mais o gênero? Será isto vantagem para a humanidade? Ficará toda ela homogeneizada? Não é, certamente, esta a tendência natural e, muito menos, o plano do Criador. Por isso, não é por aí que a pessoa se realiza. Homem e mulher são relações complementares. Criam uma sociedade extremamente diferenciada e rica. Não apenas bipolar, mas multirrelacional: de esposo e esposa; de pai e filha; de mãe e filho; de irmãos e irmãs, de avós e netas; de primos e primas... Eliminar esta riqueza seria o fim da humanidade. No plano ético, costuma-se dividir os seres humanos em bons e maus. Englobem os comportamentos. Quem pratica o mal chama-se malfeitor, e o que faz o bem é benfeitor. Como ninguém é totalmente bom nem totalmente mau, cada um tem algo de um e de outro. Portanto, jamais, aqui na terra, se conseguirá acabar com os maus nem a uma unanimidade em torno do bem. Quanto aos hábitos, temos distinção dos fumantes e não fumantes com

Conselho Editorial

Presidente: Carlos Adamatti Membros: Paulo Vellinho, Luiz Osvaldo Leite, Renita Allgayer, Beatriz Adamatti e Ângelo Orofino

Diretor-Editor Attílio Hartmann - Reg. 8608 DRT/RS Editora Adjunta Martha d’Azevedo

tratamento diferenciado. Para se viajar era preciso enquadrar-se numa destas categorias. Os fumantes começaram a constituir perigo para os demais, a ponto de serem confinados e discriminados. Sinto-me feliz por não pertencer a esta categoria! No plano do esporte não há dúvida quanto a uma clara distinção entre gremistas e colorados. Alguém quererá suprimir esta discriminação ou eliminar estas torcidas? Lembremos ainda a divisão de raças, caracterizadas pela cor: negra e branca. Trata-se de uma distinção visível, que nem sempre leva a uma convivência pacífica. Será necessário eliminá-la no plano da cor ou do preconceito, ou será preciso aprender a conviver com ela? Em linha semelhante se encontra a distinção entre nativos e adventícios. No tempo de migrações acentuadas, esta distinção se torna problemática, corroborada especialmente pela xenofobia. Mas logo se pergunta: nativos pessoais ou ancestrais? Imigrantes atuais ou dos antepassados? Como criar convivência entre as pessoas que se distinguem pela origem? Não é preciso lembrar as distinções ideológicas que foram fatídicas entre comunistas e capitalistas; as distinções religiosas entre crentes e descrentes; entre trabalhadores rurais e trabalhadores urbanos... A pergunta é se estas distinções devem ser respeitadas ou superadas? A convivência humana, na verdade, é feita por meio delas e as acata, respeitando as diferenças. A paz está exatamente na harmonia dos diversos, que assim formam uma sinfonia.

Redação Jorn. Luiz Carlos Vaz - Reg. 2255 DRT/RS Jorn. Adriano Eli - Reg. 3355 DRT/RS

Revisão Ronald Forster e Pedro M. Schneider (voluntários) Administração Elisabete Lopes de Souza e Norma Regina Franco Lopes Impressão Gazeta do Sul

Rua Duque de Caxias, 805 Centro – CEP 90010-282 Porto Alegre/RS Fone: (51) 3093.3029 – E-mail: solidario@portoweb.com.br Conceitos emitidos por nossos colaboradores são de sua inteira responsabilidade, não expressando necessariamente a opinião deste jornal.


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AMÍLIA &

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OCIEDADE

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As palmadas e as nossas imperfeições João David Cavallazzi Mendonça Psicólogo

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enhum pai é perfeito. Pais são humanos, e humanos não são robôs. Têm emoções, perdem a paciência, ficam cansados, frustram-se, sentem-se perdidos algumas vezes e não possuem respostas para todas as circunstâncias. Ser pai e ser mãe é um processo de constante aprendizado.

Inicio o texto com estas ideias para conversar com você sobre o uso da palmada na educação dos filhos, conversa motivada pela lei contra a punição física que foi aprovada em dezembro pela Câmara dos Deputados. Apesar da controvérsia em torno da sua aplicação, proponho uma reflexão baseada no princípio que está por trás desta lei: A punição física como meio inadequado de educação. Palmadas, tapinhas na bunda, chineladas têm sido práticas "pedagógicas" culturalmente enraizadas em nosso país, sendo inclusive associadas à noção de disciplina, como se o ato de bater numa criança sustentasse em si próprio um poder mágico para instaurar autoridade e correção de conduta. Porém, estudos têm demonstrado que o uso da palmada promove um impacto negativo no processo de desenvolvimento psicológico da criança, e muitos pais e educadores ficarão surpresos ao saber que a sua intenção pedagógica tem em si um efeito inversamente proporcional. A palmada pode resolver um problema imediato, mas cria um problema maior que vai se estendendo silenciosamente, moldando a identidade e a personalidade da criança. A ideia da palmada associada à disciplina desconsidera o fato de que há muitas outras maneiras de se disciplinar uma criança sem erguer uma vara, um chinelo ou uma mão sobre ela. "Disciplina" não é sinônimo de "punição física", assim como "dar limites" não tem o mesmo significado de "bater". Negar-se a usar a política da palmada não é negar-se a educar, a disciplinar ou a impor limites tão necessários na formação da criança, muito menos colocar em risco a posição de autoridade parental. É, ao contrário, a tentativa de constituir uma configuração relacional que seja diferente do modo vigente em nosso mundo já tão repleto de maus tratos, opressão e injustiça.

É fácil? Não, não é nada fácil

Certamente, o caminho sem palmadas e varinhas é bem mais difícil. Exige dos pais muito mais tempo, paciência, sabedoria, auto-controle, e especialmente o exercício de seus próprios limites para não "perder as estribeiras". Afinal, como um pai pode ensinar limites a um filho, se ele mesmo não consegue controlar os seus próprios limites em um momento de contrariedade? A educação pela paz é muito

fermaecoruja.blogspot.com.br

mais que uma regra de conduta; é uma postura. Se é uma postura, quando nos conduzimos de maneira equivocada, podemos percebê-la e imediatamente retomar o rumo. Se num lampejo de imperfeição, comum a todos nós pais, e dominados pela irritação ou fúria, apelamos para algum tipo de punição física, é possível restabelecer a consciência de que este não é o modo preferível de nos relacionarmos com nossos filhos. Se errarmos, restará a nós o desafio de levantar a cabeça e continuar lutando para manter nossa postura de não violência, especialmente porque queremos o bem de nossas crianças. Afinal de contas, a sociedade já conseguiu proibir os escravos de apanhar, já criou leis rigorosas para defender as mulheres, já não bate mais nos seus "lou-

cos", já criou instituições de defesas dos índios, já considera crime a tortura de prisioneiros, já luta contra o mau trato aos animais. Apenas as crianças ainda apanham com o consentimento social. Não é estranho isso?


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PINIÃO

Mata Atlântica

Uma brecha no celibato obrigatório

Cláudio Carlos Fröhlich*

Antônio Allgayer

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egundo dados INPE, a Mata Atlântica pede socorro. Da cobertura inicial só restam em torno de oito por cento. Dia 27 de maio, comemorou-se o Dia Nacional da Mata Atlântica. Por isso, e por causa da oportuna reportagem do nosso penúltimo Solidário (“Que planeta deixaremos para nossos filhos e netos?”), vou contar, resumidamente, a historinha dum sítio na Estrada das Quirinas, fundos do Morro São Pedro da Restinga, município de Porto Alegre. Nasci no “mato”. Na época (1933), o mundo moderno ainda não chegara por lá. Acordava no cantar do galo e da passarada. Quando na roça, o sino da capela tocava perto do meio dia: hora do almoço. Não é de se estranhar, pois, quando a família veio do interior para a capital (início dos anos 70), meu desejo maior, depois de alojar a família e de achar colégio para os filhos, foi o de comprar uma área rural ao redor da capital. Mas enquanto não desse, aos sábados visitava o sítio dos amigos Antônio e Renita Allgayer nos morros da Glória. Amante e defensor da natureza, Algayer tratava de plantar árvores nativas numa pirambeira em meio a enormes pedras de basalto. Em 1976 adquiri o sonhado torrão no endereço por primeiro mencionado. Num sábado, em companhia dum colega da Fazenda, Telmo Klöckner, fomos conhecer a área (2,30 ha.) Seríamos condôminos. Metade para cada um. Durante a semana, à noite, perdia o sono desenhando mapas, onde localizar o pomar, a horta e a futura casinha. Nenhum palmo do mato, que ficava num declive acentuado, seria derrubado. O condômino prontamente concordou. Então, mais ou menos 1,50 ha. de mata nativa estaria salva. Um conhecido da Vila Monte Carlo foi contratado para construir uma casinha, na verdade, uma meia-água. No primeiro pé-de-vento o telhado foi parar à beira do capoeirão. Um vira-lata de cor gris, extraviado, cuidou da casinha. A família batizou-o de “lobo”. Adonou-se e mudou-se de vez. Postava-se bem defronte à porta da meia-água e dela nenhum estranho passava. O rancho, por isso e para proteger a porta, ganhou um puxadinho. As atividades do sítio, a não ser aquelas do berço, fui aprendendo aos poucos: pedreiro, carpinteiro, pintor, eletricista, jardineiro, horticultor etc. No mesmo inverno de 76, depois de plantar o início do pomar, cuidei de atender à minha paixão: árvores nativas. Onde adquiri-las? O amigo Allgayer deu-me a dica: Estação Experimental de Silvicultura de Santa Maria. E o transporte? Eles mandam de trem, foi a resposta do meu antigo professor de português do seminário. E de fato, umas semanas após, as mudas (cedro, louro, cangerana, grápia, canafístula e gabreúva) estavam na estação central da viação férrea, na Capital. No sábado seguinte fui plantá-las. Todas vingaram. Depois, o sítio foi enriquecido por outras espécies: angico, sete-capote, pau-ferrro, ipê-roxo, goiabeira, nespereira, uvênia (essas três para alegria dos bugios e jacus), tipuanas, guapuruvus, batinga e várias outras O amigo Antenor Cassini (nascido em Caxias) ajudou a enriquecer o pomar (parreira) e a horta (radici). A meia-água foi ganhando puxadinhos, primeiro para os lados, depois para cima. Os arredores, sombra de arvoredo, churrasqueira e redes, porque ninguém é de ferro. Para preservar o fim social do sítio, franciscanos, franciscanas, MFC, Cáritas Regional, muitos amigos formaram família e sentiram-se em casa no sítio, que leva por padroeiro São Francisco, (numa linda estátua feita pela filha Mariane). São Francisco mereceu um lugar de destaque num capitelzinho seguindo um modelo dos Alpes da Suiça, com os dizeres laudate si mi Signore. *Amigo do Solidário

Advogado

1.

Supõe-se que vários apóstolos eram casados. Simão, filho de Jonas, foi apelidado por Jesus de Pedra, Rocha, palavra derivada do grego pétra, ou Cefas, de kepha no dialeto siro-hebraico da época, significando duro-como-pedra.. Eis que Pedro veio a ser o primeiro e único papa diretamente escolhido por Jesus. Casado, pescador, impetuoso e repentista, sem instrução formal (At 4,13). Um grande líder...! Jesus o designou como pedra de alicerce da sua Igreja. 2. São Paulo, em carta a Timóteo, declara quais os predicados que deveriam caracterizar um bispo: “...o epíscopo deve ser irrepreensível, esposo de uma só mulher, sóbrio, ponderado, de maneiras corretas, hospitaleiro, capaz de ensinar...”...”E que saiba governar a própria casa, pois alguém que não soubesse governar bem a própria casa, como cuidaria de uma Igreja de Deus?” 3. O matrimônio é um grande sacramento, pelo qual os cônjuges de ambos os sexos agem como co-criadores de Deus na propagação da humanidade redimida. 4. Um esboço histórico: Houve, no decorrer da história da Igreja, dois bispos com o mesmo nome de Irineu. Ambos sofreram o martírio e somente um deles foi canonizado. O primeiro Irineu foi um asiático eleito bispo de Lião, em 178 e morto em 2O2, em meio à saga de sangue dos mártires dos dois primeiros séculos. Para mais informações sugiro a leitura do livro “Os Papas e o Papado de Pedro a Bento XVI”, edição atualizada de livro que traduzi para a Editora Vozes com o título Léxico dos Papas. Nele se mencionam obras de Santo Irineu “Contra Hereges”. E se faz referência à lista de nomes dos bispos de Roma de Pedro até os papas do tempo de vida do autor. O segundo Irineu consta da magnífica obra em dez volumes de Daniel-Rops, da Academia Francesa, sob o título “A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires”. Vou transcrever em português o que ali é dito: “Vejamos em Sírmio, no Danúbio, o caso de um bispo muito jovem. Belo, dotado de todos os predicados, tendo pela frente uma carreira brilhante, Irineu é feliz na vida, Casado, pai de vários filhos, (lembremo-nos que o celibato não era ainda obrigatório), conhece o valor e a doçura da vida. Quando é preso, seus pais e filhos pedem-lhe que apostate e a multidão grita-lhe: “Tem piedade de tua juventude!”. Nada o demove. Enquanto o torturam no cavalete, o governador repete-lhe:

“Sacrifica! Sacrifica!’. E no meio de um horrível sofrimento, o jovem príncipe da Igreja tem forças para responder com superior ironia: “Sacrificar? Pois estou sacrificando ao Deus que é o meu e a quem tudo sacrifiquei!” Aconteceu em 3O3, na mais sangrenta das perseguições do governo de Diocleciano.. 5. Eis que surge na Igreja um papa surpreendente. Teólogo renomado, Bento XVI usou desde a sua primeira encíclica uma linguagem promissora de novos tempos. Ater-me-ei ao que diz respeito ao celibato como exigência para a ordenação de presbíteros e bispos. Desse papa temos várias demonstrações de coragem inovadora. Orou numa mesquita islâmica. Promove o diálogo inter-religioso. E, o que é de ressaltar, o papa Ratzinger fez convite expresso aos bispos e presbíteros anglicanos que queiram reintegrar-se na Igreja de seus remotos ancestrais, sem desdouro do sacramento do matrimônio. Assim, a Inglaterra, cuja rainha guarda o título de “Defensor Fidei”, Defensor da Fé, outorgado por Roma ao rei Henrique VIII, estará sabendo do convite do papa dirigido aos membros do clero anglicano, a integrar-se na Igreja que somos. O grandioso gesto papal de acolher no seio da Igreja-mãe presbíteros e bispos casados torna irrecusável um segundo passo: estender-se aos de dentro o que se enseja aos de fora. Seria a recondução de presbíteros revestidos do múnus de caráter indelével, afastados de suas funções por vários motivos, inclusive o de terem optado por receber validamente o sacramento do matrimônio. Honra seja feita ao celibato assumido por Teresa de Calcutá, Francisco de Assis, e incontáveis outras pessoas de vida consagrada. A medida proposta configuraria um retorno à prática da Igreja dos Apóstolos, dos Mártires e das Catacumbas, disposta a admitir homens casados como Pedro a funções ligadas às necessidades espirituais do povo de Deus e fidelidade ao Cristo da nossa fé.

Consumo, finanças e educação Carmelita Marroni Abruzzi Professora universitária e jornalista

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ombardeado pela mídia, o povo está sendo estimulado, de todas as formas, a consumir: é o imposto de carros e da linha branca que baixou, são as supostas facilidades das inúmeras prestações, sem juros ou juros baixos(!), é a “maravilha” dos novos modelos, seja de carros, de eletrodomésticos ou as últimas descobertas da informática e da tecnologia digital. E as pessoas compram...Substituem eletrodomésticos por outros mais modernos, ou trocam de carro, porque o considera símbolo de status social ou porque o vizinho comprou um novo... E endividam-se, endividam-se... e comprometem seu orçamento com prestações muito acima do que manda o bom senso e a matemática. As manchetes dos jornais estão aí, algumas vezes até contraditórias, pelo menos para nós, leigos: “Contra a crise, a União incentiva o consumo” (J. do Comércio, 26/05/12). “14 milhões de famílias já comprometem um terço da renda mensal com dívidas (E. de São Paulo, 25/05/12)”. “Dívidas vão retardar o consumo para 2013” (J. do Comércio, 19/06/12). Os bancos oferecem refinanciamento das dívidas a juros mais baixos, para que as pessoas recuperem o crédito e continuem a gastar. Um banco oficial sugere que seus clientes refinanciem seu imóvel já quitado! Enquanto isso, empresário da área de revenda de automóveis teme que a facilidade de crédito para comprá-los, transforme-se em uma bolha, como ocorreu com os imóveis nos EE.UU, trazendo graves consequências para a economia brasileira. O povo, soterrado sob tantas ofertas mirabolantes e tantas notícias que variam a cada dia, como faz? Ouve que o PIB (Produto Interno Bruto) ora cresceu, ora não alcançará o esperado nos próximos anos, ouve que taxas de emprego/desemprego ora sobem, ora baixam e as bolsas de valores ora despencam, ora fecham em alta, fala-se no aumento da projeção de vendas para tal ou qual

data e assim por diante. E nós, o que fazemos? Precisamos morar, comer, vestir, educar nossos filhos, necessitamos de lazer, de vida cultural! Assim, vamos continuar consumindo, é claro, e, no mundo de hoje, nossa interdependência com os setores de produção e de serviço é total. Parece que só temos uma saída e essa passa pela educação/reeducação de todos: crianças, jovens e adultos. Esse caminho passa pelos currículos escolares, que deveriam enfatizar mais essa área, e, independente de disciplinas específicas, poderiam incluir esse tema em várias matérias a serem trabalhadas. Porém, as crianças precisam aprender desde pequenas a valorizar o dinheiro e seu uso e a distinguir o essencial do supérfluo. Mas essas atitudes somente se introjetarão na criança, se os exemplos partirem dos pais. E, por isso, se fala também em reeducação: é preciso que pais, que não receberam essa orientação na sua infância, mudem de atitude: não é fácil com a sedução da publicidade e das ofertas de crédito fácil. Não temos outro caminho: ou aprendemos a organizar nossas finanças, vacinamo-nos contra a propaganda ou poderemos cair num “fosso” do qual será difícil sair. Na angústia de saldar nossos compromissos, perdemos a alegria de viver, tornamo-nos estressados, deprimidos, criamos um clima negativo que contagiará o grupo ao nosso redor. E esse contexto restringirá nossos propósitos de alcançar a chamada “qualidade de vida”, que todos almejamos. (litamar@ig.com.br)


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DUCAÇÃO &

SICOLOGIA

RIO+20 Ecologia e desenvolvimento sustentável

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Juracy C. Marques

Professora universitária, doutora em Psicologia

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RIO+20 propõe-se a avaliar o que ocorreu no Planeta, nestes vinte anos, depois da Conferência de Chefes de Estado ECO1992, que também se realizou no Rio de Janeiro. Ambas são conferências promovidas pela ONU (Organização das Nações Unidas) com o objetivo de aumentar a conscientização das populações sobre as questões ecológicas e ambientais. Em 1992, a ênfase era a sustentabilidade, massificando o conceito que passou a ser usado em várias conotações, por exemplo, uso inteligente dos recursos naturais – oceanos, rios, florestas, biodiversidade ou de modo mais amplo, inclusão social e gestão sustentável ou de forma mais restrita, Energia e Educação corporativa.

Apresenta-se com sete prioridades: 1) Emprego via Economia Verde; 2) Acesso à Energia Limpa, convocando inovações; 3) Cidades sustentáveis; baixar o consumo e diminuir o lixo; 4) Segurança alimentar, produção local em oposição às cadeias globais industrializadas, para combater a fome no mundo; 5) Acesso à água, instalações sanitárias como um direito humano; 6) Gestão sustentável dos oceanos para evitar pesca predatória, perda da biodiversidade e extinção das espécies; 7) Prevenção de catástrofes naturais, não poluindo rios e o ar, bem como a derrubada de árvores, para um controle mínimo das mudanças climáticas. Instituiu um pré-evento, no Forte de Copacabana, com palestras e painéis organizados por ambientalistas. Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente e senadora, participou do primeiro painel Da Ignorância à Sabedoria. Teceu críticas, pois reduziu o debate a uma discussão sobre economia, desenvolvimento social e governança, separados da ecologia, subtraindo os sistemas ambientais. Surgiram algumas ideias criativas para a preservação do planeta, relativas à chamada economia verde com uma Comissão Interplanetária de Acompanhamento (Zero Hora, 20/06/2012). Vamos destacar apenas dois assuntos, por considerálos emergentes nas intrincadas complexidades dos temas em suas amplas abrangências: 1) Mudanças Climáticas; 2) Biodiversidade e Extinção das Espécies.

Mudanças climáticas

É óbvio que estamos vivendo uma mudança drástica das instabilidades e mudanças climáticas. Entretanto, há um forte embate entre os cientistas quanto às suas possíveis explicações, tornando o tema altamente polêmico. Para alguns, isto se deve à ação do homem relacionada à emissão de CO2 (Gás Carbônico) pela queima de combustíveis fósseis. Para outros, o efeito estufa relaciona-se

ao vapor da água que produz variações naturais do clima. A temperatura da Terra pode aumentar entre 1,8 e 4 graus, acarretando enchentes, secas, incêndios florestais, derretendo geleiras e levando ao aumento do nível dos oceanos. Todavia, não há como fazer medições fidedignas e já houve períodos mais quentes do que agora. O aumento do nível dos oceanos, com o desaparecimento de ilhas e cidades costeiras pode ocorrer, mas esta oscilação verifica-se desde o fim da última glaciação, há 12 mil anos. O derretimento das geleiras dos polos poderá afetar a disponibilidade de água doce, prejudicando o ciclo de vida de animais e plantas. Não obstante, este é um fenômeno da natureza, pois as geleiras se contraem ou expandem de acordo com as forças vitais que as sustentam (Veja, 13/06/2012).

Biodiversidade e extinção das espécies

A entomotologista Marlene Zuk, professora de Biologia da Universidade da Califórnia, Riverside, publicou Sex on six legs (2011), com informações valiosas sobre as pesquisas sobre insetos. Ressalta como elas modificam nossa visão do mundo quan-

Formigas e outros insetos têm demonstrado formas de organização, inteligência e habilidades nos seus intrincados caminhos para assegurar sua sobrevivência

do conhecemos essas pequenas criaturas em sua complexidade. Para começar, insetos são os mais numerosos de todas as espécies. Mais de 218 mil das espécies conhecidas, incluindo 80% das espécies de plantas relativas à alimentação, dependem da polimerização produzida pelos insetos para sua reprodução. Além da mosca drosófila, fundamental nos estudos de genética, desde seus primórdios, as abelhas, formigas e vespas têm demonstrado formas de organização, inteligência e habilidades nos seus intrincados caminhos para assegurar sua sobrevivência. Usam sofisticadas maneiras de divisão de trabalho, associacionismo e cooperação que contribuem, para diagnóstico e cura de doenças dos seres humanos. Com seu cérebro tão pequeno e simples e sua vida relativamente curta, possibilitam grandes e decisivas descobertas. Por exemplo, permitiu concluir que, em todo comportamento, além do instinto e da aprendizagem há um componente que provém do organismo, seja hormônio, como a serotonina que circula no sangue, ou uma sinalização elétrica que provém do cérebro.


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Julho de 2012 - 2a quinzena

Só nós podem

arem de derrubar florestas! Parem de lançar fumo e fuligem no ar! Parem de jogar lixo, sujeira e venen É o mínimo. Não se preocupem comigo: sobrevivi a grandes catástrofes naturais durante esses quatro anos. Preocupem-se com vocês, oh insanos! Cuidem mais e melhor de sua ‘única casa’. Do contrário, é v (Da Carta Aberta da Terra para a Humanidade - Reda

E o lema da Campanha da Fraternidade de 2011 também não deixou por menos: “A criação geme em dores de parto”. Pois somente um imediato mutirão universal é capaz de estancar a irreversível degradação das condições de vida sobre a Terra. Só assim ainda é possível evitar nossa própria destruição.

Questão de atitude

De pouco ou nada adiantaria uma ‘carta final’ da Rio+20 com decisões fortes. Pois seriam decisões vindas “de cima”. O que é combinado em gabinetes de chefes se torna fogo fátuo, é logo esquecido, se não contar com o aval da base, das camadas de baixo. A Terra, sim, “geme em dores de parto”. E cabe a cada um de nós a garantia de manutenção de condições de vida sobre ela. Apenas e, primeiramente, a nossa atitude pessoal e individual de cada dia, é capaz de mudar algo. Já foi revelado em pesquisas que a maioria de nós sabe como ajudar na manutenção do equilíbrio ecológico, mas age de forma contrária. Sabe como tratar o lixo que produz em vez de lançá-lo na rua de onde a chuva o levará para entupir bueiros. Sabe que atirar lixo não orgânico nos rios e na praia de mar mata peixes e outros seres aquáticos por sufocação por que “pensam” que é alimento. Sabe que cinco minutos de chuveiro também permitem um bom banho e assim se economiza água e luz. Mas age de forma oposta. Sabe que as chaminés das fábricas avolumam, cada vez mais, o dióxido de carbono na atmosfera, rompendo a já frágil “tela” de ozônio que controla a temperatura na superfície onde moramos. Mas teima-se em despejar fumaça e “veneno” no ar para azeitar a máquina da produção descartável e com obsolescência programada para alimentar a fera do consumo inconsequente. Todos sabemos que o automóvel-nosso-de-cada-dia, além de transformar a cidade um inferno, envenena o ar já pouco respirável. Mas insistimos em usá-lo para o nosso deslocamento solitário em vez de optar pelo transporte coletivo. Sabemos que o desmatamento indiscriminado está aniquilando – de forma acelerada – a capacidade de renovação do ar. Mas cada vez a Floresta Amazônica é menor. E a Mata Atlântica já nem existe. Cinco mil pessoas trabalhando no evento diariamente, 193 delegações de países presentes, 50 mil participantes, seis mil encontros nos nove dias de conferência, mais de 513 bilhões de dólares mobilizados em compromissos para o desenvolviRio+20, um passo à frente? Sim. Embora os expressivos mento sustentável, incluindo áreas como energia, transportes, números (ver box ao lado) que justifica a expressão de a moneconomia verde, redução de desastres, desertificação, água, tanha ter parido um rato. Embora o muito blá-blá-blá, reuniões florestas e agricultura, 692 compromissos voluntários para de cúpula, uma carta de intenções débil e que ficou apenas nas o desenvolvimento sustentável registrados por governos, intenções. Embora os pífios resultados imediatos e o pouco caso empresas, grupos da sociedade civil, universidades e outros, de importantes chefes de estado, o mundo poderá ser melhor 1.500 voluntários no Riocentro, entre eles, os jovens, seledepois deste evento. cionados a partir de escolas técnicas, estudantes de escolas Por quê? O fracasso dará às pessoas mais energia para se públicas do Rio de Janeiro, estudantes universitários e profismobilizar e lutar pelo planeta. Se os governos não têm conscisionais de todo o Brasil, cinquenta ônibus transportando para ência de quão doente o planeta está, certamente não poderão ser o Riocentro os participantes para os eventos oficiais, cinquenta os gestores das nações que dirão que futuro queremos, notadaexposições de diversos países no Parque dos Atletas. Durante mente esse que está escrito no documento final. As conclusões nove dias, a taxa de ocupação dos hotéis no Rio foi de 95%. negativas quase unânimes da Rio+20 em milhares de páginas de jornais, centenas de horas de espaços em televisão e rádio, intermináveis textos nas redes sociais e em sites de internet só fizeram a humanidade toda ter maior consciência do seu entorno. A plenamente justificada frustração imediata mostrou que cada vez mais gente está cada vez mais consciente da necessidade imediata de medidas para conter a degradação ambiental. Por isso, a Rio+20 não deverá de ser considerada um ponto de chegada. E, sim, um ponto de partida do caminho em busca do estancamento da exaustão da Terra. Mesmo com suas críticas e fracassos, o evento brasileiro fez eco nos quatro cantos do planeta e colocou a palavra sustentabilidade em forte evidência, com a cobertura de mais de dois mil jornalistas do mundo todo.

Rio+20 em números

Rio+20, um passo à frente?

Diário


Julho de 2012 - 2a quinzena

A S ÇÃO

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OLIDÁRIA

mos salvar a Terra

no das fábricas nos rios e no mar! Para continuar a ser bom viver aqui, há que ter ar respirável e águas limpas. o bilhões e meio de anos. E aqui estou: sempre me recupero em ‘pouco’ tempo, talvez 50, 500 mil, um milhão de vocês que desaparecerão por falta de condições. Levem isso muito a sério. Enquanto é tempo! Assinado: Terra”. ação do Jornal Solidário – ed. 581 março de 2011). dirigindoseguro.com.br

Gokhan Okur/sxc.hu

Mobilidade urbana: solução só com “troca de chip” Os transtornos de trânsito urbano já não mais se restringem aos grandes centros, onde ocasionam até centenas de quilômetros de engarrafamentos, a exemplo do que acontece diariamente em São Paulo. O modelo de produção e consumo atual exige estarmos sempre correndo, estarmos sempre atrasados ao início do expediente ou do compromisso marcado, mesmo que saiamos mais cedo de casa, enfrentando congestionamentos, trens e ônibus lotados e convivendo com o lamentável balanço diário de mortes na guerra do trânsito. São Paulo é um dos maiores exemplos de excesso de veículos nas ruas, com uma frota de 6,9 milhões versus uma população de 11,2 milhões de habitantes. Já mesmo cidades pequenas como opção de vida pacata tranquila está deixando de ser realidade, por conta do bem de consumo mais cobiçado e estimulado por políticas públicas de renúncia fiscal como “forma de salvar a economia”.

Oficial da Prefeitura de Santos/SP

Soluções?

metropolitana.com.br

Muito se falou durante a Rio+20 sobre possíveis soluções para a locomoção nas cidades. Apontaram-se soluções para as megalópoles que logo ali adiante já não mais satisfazem: construção de corredores exclusivos, compartilhamento do carro, transporte coletivo de qualidade e quantidade, – seja por trilhos ou sobre pneus – com menor consumo de combustível e menos poluição, reorganização das jornadas de trabalho (as idas – e retornos – ao trabalho representam 45% do total de deslocamento feitos diariamente nas cidades), compartilhamento do carro, ciclovias ou ciclofaixas para o uso de bicicletas – como já acontece no revolucionário sistema de ciclovias em Bogotá, capital da Colômbia, que hoje conta com mais de 400 quilômetros de ciclovias, reduzindo as viagens de carro de 70 por cento para 23 por cento. E, como medida mais radical, acena-se com restrições ao uso de transporte individual, medida que deverá ser gradativamente implantada obrigando a uma mudança radical de cultura.

Solução!

abaco-arquitetura.com.br

Em Washington, segundo informações, parece estar nascendo uma solução mais duradoura. Além de acerto entre governo e iniciativa privada para a flexibilização dos horários e locais de trabalho, em muitas empresas o funcionário vai ao escritório só quando a comunicação via internet não basta. Com certeza, esse é um caminho de futuro. Por que, além de multiplicar os corredores de ônibus, implantar gestão inteligente no transporte coletivo, implantar mais e mais linhas de metrô, também não se pense seriamente – não em ampliar rodovias – mas implementar “amplas” infovias e estimular seu uso e prática, também no modelo de produção e consumo? Por que ter que se deslocar diariamente ao emprego para produzir conteúdo, saber, informação? Por que ter que ir à loja para fazer a compra se pode fazê-lo sem sair de casa pelo e-comércio?

Ser em vez de ter

Isto é, um saudável retorno anterior ao modelo atual. Em que produção e consumo se equilibrem racionalmente. Em que a relação com a natureza se estabeleça de forma equilibrada. Em que, num prazo muito urgente, a humanidade privilegie o ser em vez do ter. Em que se privilegie a vida muito acima e além do apenas produzir e consumir. Mas para tal, há que se trocar o “chip” do chefe, do patrão. Há que se trocar o “chip” do empregado e colaborador. Há que se trocar o “chip” da humanidade, permitindo que volte a ser mais humana


S

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Julho de 2012 - 2a quinzena

ABER VIVER

Comunicação PUCRS

Programa de Cirurgia de Epilepsia no Hospital da PUC já tem 20 anos Crises convulsivas e quedas imprevisíveis. Comprometimento e interferência na qualidade de vida. Dificuldade no desenvolvimento das atividades profissionais, nos relacionamentos afetivos e sociais. Envolvimento e preocupação de toda a família. Essa é a realidade do paciente com epilepsia que, na verdade, não é uma doença e, sim, a manifestação de uma disfunção no cérebro. No Brasil, cerca de 1% da população apresenta o sintoma. No Estado, o percentual se aproxima de 2%. Quando o paciente não reage satisfatoriamente à medicação, há possibilidade de realizar cirurgia e ter uma melhora significativa nos sintomas. 20 anos O Programa de Cirurgia de Epilepsia do Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) completa 20 anos em 2012, tendo realizado mais de duas mil cirurgias em pessoas de todo o Brasil e de países como Portugal, Chile, Paraguai, Uruguai, Honduras e EUA. É o centro pioneiro dedicado a esse tipo de operação na região Sul, referência no País e na América Latina, sendo reconhecido pelo Ministério

da Saúde como Centro de Excelência. Cerca de quatro mil investigações foram realizadas. A maioria dos procedimentos é feita pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A equipe, atualmente coordenada pelo neurocirurgião Eliseu Paglioli Neto e o neurologista André Palmini, conta também com neuropsicólogos, neurorradiologistas e neuropediatras. Confiança na equipe Nestor Calbo Ramos, 57 anos, foi o primeiro operado no HSL, em janeiro de 1992. O torneiro-mecânico sofria, havia mais de dez anos, de convulsões graves e frequentes, além de crises de ausência. Mesmo com doses altas de medicação, não apresentava melhora. "Eu nunca podia sair sozinho, a qualquer momento poderia ter uma crise", lembra. Até que foi encaminhado ao HSL e começou a consultar com o neurologista André Palmini. "Estava confiante na equipe e me submeti à cirurgia. Não havia mais nenhuma tentativa a ser feita. Para mim foi uma grande descoberta e agora levo uma vida normal", comemora. O Programa de Cirurgia de Epilepsia do Hospital

Adalberto A. Bortoluzzi - 18/07 Alberto Ferdinando Chaves Schlottgen - 18/07 Laury Garcia Job - 18/07

São Lucas foi idealizado em 1991 pelo neurologista Jaderson Costa da Costa, que coordenava as atividades do Serviço de Neurologia, e Eduardo Paglioli, responsável pela área de Neurocirurgia na época. Paglioli lembra que o avanço da neuroimagem, com o surgimento da ressonância magnética, acrescentou subsídios muito importantes para identificar e avaliar cérebros doentes. No início dos trabalhos do Programa, o único recurso era o eletroencefalograma. Cerca de 30% dos doentes têm epilepsia refratária - a que não cede mesmo com uso de vários medicamentos. Um dos principais objetivos é investigar possíveis candidatos ao tratamento cirúrgico. Avaliação precoce O neurocirurgião Eliseu Paglioli Neto afirma que muitos casos são reflexos de traumas, tumores e malformações congênitas. A mais frequente nos adultos compromete o lobo temporal e afeta o comportamento, emoções e memória - representa 70% dos pacientes. André Palmini revela que, para cada três famílias, um parente em primeiro ou segundo grau apresenta o sintoma. Um terço dos epilépticos não controlam as crises completamente com medicação. Desses, metade tem boas chances de realizar a cirurgia. Na última década, tem-se como verificar precocemente condições favoráveis por meio de avaliações e exames.

Cirurgia é alternativa no tratamento da epilepsia

Dois lagos, duas filosofias, uma vida Dom Hélio Adelar Rubert Arcebispo de Santa Maria

N

a Terra Santa, existem dois lagos alimentados pela mesma f onte: o Rio Jordão. Ficam situados a alguns quil ô m e t ro s d e d i s t â n c i a u m d o o u t ro. Mas ambos possuem características bem distintas entre si. Um é o Lago de Genesaré, também conhecido como Mar da Galileia ou Lago de Tiberíades. O outro é o chamado “Mar Morto”. O primeiro é azul, cheio de vida e de contrastes, de calma e de ondas. Nas suas margens, refletem-se as flores amarelas dos seus prados. O Mar Morto é uma lagoa densa e de água salgada, em que não há vida. A água que vem do rio, ali fica estagnada. O que é que faz destes dois lagos, alimentados pelo mesmo rio, lagos tão diferentes? Simplesmente isto: O Lago de Genesaré transmite generosamente o que recebe. A sua água, quando ali chega, parte de imediato para remediar a seca dos campos. Sacia a sede dos homens e dos animais. É uma água altruísta. A água do Mar Morto estagnase. Adormece. É salgada. Pesada. Mata. É uma água egoísta, estagnada,

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aparentemente inútil. Com as pessoas, passa-se o mesmo. Recebem a vida da mesma fonte. As que vivem com generosidade, dando-se e oferecendo-se aos outros, geram vida e fazem viver. As pessoas que, com egoísmo, recebem, guardam e não dão, são como água estagnada, que morre e causa a morte à sua volta. Muitas pessoas se parecem com o Mar Morto: só recebem, acumulam, não se dão e assim constroem uma vida amarga, desgraçada e infeliz. São extremamente salgadas; intragáveis. Mas podem mudar e se transformar em sal que também é necessário. Há outras, porém, que dão e se oferecem a si mesmas com generosidade e sem nada esperar como recompensa… Estas são as pessoas mais felizes do mundo. Quanto menos partilhamos, mais pobres nos tornamos. Quanto mais nós damos, mais recebemos. O que acumula apenas para si, chama desesperadamente pela infelicidade e esta vem ter com ele. Recebe de graça e não reparte. Acumula só para si e apodrece. Ao contrário, o que reparte, planta, soma, colhe, refloresce. Somente em Deus espera e a seu tempo acontece. Pode até perder aqui… Mas colherá na eternidade… Quem partilha, abre a porta para a felicidade... Esta comparação dos dois lagos, de autor desconhecido, encontrei na internet. Repasso, pois parece ser muito boa. Naturalmente, não julgamos que Deus tenha criado o Mar Morto como negativo. Vale a comparação como uma analogia para nossos relacionamentos e aprendizagem na vida.


Humor COMO ESTÁ O PACIENTE DO 302? - Bom dia, é da recepção? Gostaria de falar com quem me desse informações sobre um paciente. Quero saber se está melhor ou se piorou... - Qual é o nome do paciente? - Chama-se Celso e está no quarto 302. - Um momento, vou transferir para o setor de enfermagem. - Bom dia, sou a enfermeira Lourdes. O que deseja? - Gostaria de saber as condições clínicas do paciente Celsom do quarto 302, por favor. - - Um minuto, vou localizar o médico de plantão. - Aqui é o doutor Carlos, plantonista. Em que posso ajudar? - Olá, doutor. Precisaria que alguém me informasse sobre a saúde do Celso, que está internado há três semanas no quarto 302... - Ok, meu senhor, vou consultar o prontuário do paciente. Um instante só! Hummmm! Aqui está: ele se alimentou bem hoje, a pressão arterial e pulso estão estáveis, responde bem à medicação prescrita e vai ser retirado do monitor cardíaco até amanhã. Continuando bem, o médico responsável assinará a alta em três dias. - Ahh, graças a Deus! São notícias maravilhosas! Que alegria! - Pelo seu entusiasmo, deve ser alguém muito próximo, certamente da família! - Não, não... eu sou o Celso telefonando aqui do 302! É que todo mundo entra e sai deste quarto e ninguém me diz nada! Eu só queria saber como estou...

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SPAÇO LIVRE

Rio+20: Fim do Começo, ou Começo do Fim? Eduardo Felipe Matias

Sem Fronteiras Martha Alves D´Azevedo

Comissão Comunicação Sem Fronteiras ard on Le

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Julho de 2012 - 2a quinzena

Doutor em Direito Internacional*

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Rio+20 terminou e o sentimento final é uma mistura de indignada frustração e esperança em parte auto-alimentada, em parte real.

Indignada frustração porque, como já era esperado, nenhuma decisão importante foi tomada pelos governos, nenhum compromisso relevante foi assumido. Que governos eleitos não percebam a urgência de agir é algo que diz muito a respeito dos nossos governantes, mas diz muito também sobre nós mesmos. É desanimador. Principalmente porque os governos têm um papel fundamental na promoção da sustentabilidade, apesar de todas as mudanças que fizeram deles apenas mais um dos diversos níveis de poder da governança global. Não podemos nos esquecer, no entanto, que só os Estados podem impor impostos sobre o carbono, dar incentivos fiscais aos first-movers, entre tantas outras políticas públicas que, se adotadas, dariam forte impulso ao ciclo virtuoso da sustentabilidade. Esperança, em parte auto-alimentada, porque é preciso acreditar para seguir em frente e continuar na luta, mesmo quando o desafio parece grande demais e as probabilidades de que as coisas deem errado, assustadoras. Esperança também em parte real, porque atores hoje muito relevantes estão fazendo a sua parte e se mobilizando para que outros também o façam. Isso ficou comprovado pela forte reação da sociedade civil ao documento aprovado na conferência e por mais alguns eventos hoje realizados por entidades empresariais, como o CEBDS, que apresentou a sua Visão 2050 para o Brasil, e o Instituto Ethos, que convocou a União Global pela Sustentabilidade. Essa onda tem grande poder de transformação. Ela ficou um pouco mais volumosa no Rio, e promete seguir avançando. Talvez seja uma ilusão achar que ela será suficiente para preencher a lacuna que a falta de capacidade dos Estados de chegarem a uma decisão nessa Rio+20 irá deixar. Talvez não. Mas como Marina Silva lembrou no lançamento da União Global pela Sustentabilidade, os governos chutaram a bola de volta para a sociedade civil e as empresas. Não nos resta outra opção senão seguir jogando. Os governos querem nos fazer acreditar que a Rio+20 é o fim do começo. Do começo do caminho rumo ao desenvolvimento sustentável. Mas somos nós que vamos ter que suar a camisa, para que ela não tenha sido o começo do fim. Do nosso fim. *Autor do livro "A Humanidade e suas Fronteiras - do Estado Soberano à Sociedade Global (Ed. Paz e Terra, 2005), vencedor do Prêmio Jabuti de 2006 na categoria Economia, Negócios, Administração e Direito

RESERVE O SEU EXEMPLAR O Livro da Família 2012 está à venda na Livraria Padre Reus e também na filial dentro do Santuário Sagrado Coração de Jesus, em São Leopoldo. Faça o seu pedido pelos fones: 51-3224.0250 e 51-3566.5086 ou através do e-mail: livrariareus@li-

vrariareus.com.br

Profissão cuidador

U

ma profissão nova , mas extremamente necessária para a faixa etária que mais cresce no país, a de idosos, é a de Cuidador. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), projeta para o ano 2050 o crescimento da população de idosos para um total de 63 milhões de pessoas. O Brasil, que há alguns anos atrás era conhecido como um país de jovens,caminha rapidamente para tornar-se um país de idosos. Em 1980, o país tinha 10 idosos para cada 100 jovens. Em 2050, prevê-se que serão 172 idosos para cada 100 jovens, já que a expectativa de vida da população brasileira, que era de 43,3 anos na década de 1950, subiu para 72,5 anos em 2007, segundo o IBGE, e hoje, possivelmente, esteja próxima dos 80 anos. O que esta estatística representa para o futuro do país? Segundo o Ministério de Saúde, existem hoje aproximadamente 3,8 milhões de idosos no país com algum grau de dependência. O país está preparado para dar a estes idosos, que colaboraram para o crescimento geral da nação, o atendimento necessário para que possam ter uma velhice tranquila? Uma nova profissão surgiu e vem se desenvolvendo rapidamente: o cuidador de idosos. Com a família toda trabalhando, o idoso, com alguma ou grande limitação, necessita alguém que se ocupe em lhe dar toda a assistência de que necessita. Há alguns anos atrás, as famílias eram maiores e sempre havia uma tia ou sobrinha solteira que se dedicava ao cuidado dos parentes, com uma dedicação e bondade muitas vezes não reconhecidas. Hoje, não existem mais na ociosidade, pois todos estão no mercado de trabalho. O Ministério da Saúde lançou, recentemente, o “Guia do Cuidador do Idoso”, que traz noções práticas de como atendê-los adequadamente. O cuidador aprende a suprir as necessidades do idoso, ter uma postura de calma e paciência para dar atenção e a lidar com as doenças típicas do envelhecimento. O geriatra Emilio Moriguchi revela que o Japão, país que envelhece com velocidade recorde, já está importando profissionais das Filipinas (o país é referência em cuidados e respeito com seus idosos), para suprir sua demanda interna. As mudanças ocorrem cada vez mais rápido, para melhor ou para pior, e devemos estar preparados para enfrentá-las da melhor maneira possível. (geralda.alves@ufrgs.br)


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I

C

GREJA &

Julho de 2012 - 2a quinzena

COMUNIDADE

Solidário Litúrgico

Catequese

15 de julho - 15o Domingo do Tempo Comum Cor: verde

1a leitura: Livro da Profecia de Amós (Am) 7,12-15 Salmo: 84(85), 9ab-10.11-12.13-14 (R/.8) 2a leitura: Carta de S. Paulo aos Efésios (Ef) 3,1-14 Evangelho: Marcos (Mc) 6,7-13 Para uma melhor compreensão dos comentários litúrgicos leia, antes, os respectivos textos bíblicos. Comentário: Uma pergunta que precisa ser repetida e repetida e repetida para que ressoe em nosso íntimo e, quem sabe!? nos faça rever a vivência de nossa fé. A pergunta: minha fé em Jesus é apenas para “consumo interno”, individual, intimista, gozosa ou precisa “explodir” e incidir na sociedade para transformá-la? Da resposta honesta e sincera a esta pergunta pode vir uma ação de graças pelo bem que minha vida significa para a comunidade e para a sociedade ou um silêncio constrangedor que pode tornar-se purificador. Nunca é demais lembrar: todo o cristão é discípulo-missionário a serviço do Reino anunciado e querido por Jesus. Neste serviço do Reino não há hierarquia, ninguém é mais importante, ninguém é menos importante. Pela própria vocação batismal, todos são igualmente importantes. Há carismas e missões diferentes, mas há “um só batismo” que confere, a todo cristão, a mesma dignidade e igual responsabilidade no anúncio e na vivência do Reino. No Evangelho deste domingo vemos como Jesus envia seus discípulos – dois a dois – a pregar e livrar as pessoas de “espíritos imundos”. Dois detalhes que chamam a atenção: primeiro, os discípulos vão em duplas; isso quer dizer que a missão cristã é sempre comunitária. Fé e “evangelização” individualistas são uma patologia que estão muito em moda, ultimamente. Segundo: Jesus alerta seus discípulos para que não se locupletem e sobrecarreguem de coisas, que não levem nem pão, nem sacola, nem dinheiro, nem duas mudas de roupas; somente sandálias nos pés e um cajado na mão (cf 6,8-9). Neste tempo em que se classificam as pessoas em mais ou menos importantes pela quantidade de bens que podem mostrar, esta recomendação de Jesus vem na contramão da nossa sociedade de consumo compulsivo e excludente. Talvez seja o “pecado” do acúmulo compulsivo de bens o principal “espírito imundo” a ser expulsado pelos verdadeiros discípulos-missionários deste nosso tempo. Missão difícil, na contra-mão de tudo o que a sociedade neoliberal e consumista afirma como grandes valores e fonte de felicidade. Na contra-mão, como o foi a pregação de Jesus há dois mil anos...

22 de julho - 16o Domingo do Tempo Comum Cor: verde

1a leitura: Livro do Livro do profeta Jeremias (Jr) 23,1-6 Salmo: 22(23),1-3a.3b-4.5.6 (R/.1.6a) 2a leitura: 2a Carta de S. Paulo aos Efésios (Ef) 2,13-18 Evangelho: Marcos (Mc) 6,30-34 Comentário: A palavra central do Evangelho deste domingo é de uma gritante atualidade: Jesus viu uma multidão que o buscava e teve compaixão porque toda aquela gente era como ovelhas sem pastor (cf 6,34). E o que levava todo aquele povo a buscar Jesus, mesmo em condições as mais difíceis e adversas? Com certeza não foi, em primeiro lugar, a doutrina, nem os milagres, mas o fato de Jesus irradiar compaixão, de demonstrar, de uma maneira concreta, o amor compassivo de Deus. Jesus não teve “pena” do povo, não teve “dó” dos sofridos. Teve “compaixão”, literalmente, sofria junto, e tinha uma empatia pelos sofredores, que se transformava numa solidariedade afetiva e efetiva. Este traço da personalidade de Jesus desafia as Igrejas e os seus ministros hoje, para que não sejam burocratas do sagrado, mas irradiadores da compaixão do Pai. Infelizmente, a frieza humana frequentemente marca as nossas atitudes, pregações e cuidado pastoral (Tomaz Hughes svd). O comentário do padre Hughes é um alerta que eu sou obrigado a confirmar e assinar. Um grande jornal de Porto Alegre estampou, recentemente, uma estatística que mostra o decréscimo dos católicos no Brasil. Arredondando os números: em 1940, os católicos eram 96% da população; em 2010, são algo mais de 60%. Será que nós, padres, não estamos nos tornando, mais e mais, “burocratas pastorais” e não somos sinais vivos do amor compassivo de Deus, não sentimos verdadeira compaixão pelas pessoas? E os muitos irmãos e irmãs que abandonam nossas comunidades, será que não buscam em outras expressões religiosas ou espiritualidades aquilo que não encontram em nossas comunidades, isto é, buscam reconhecimento, querem ser “chamados pelo nome”, acolhidos como pessoas, buscam compaixão!? Talvez seja este um dos maiores desafios dos “pastores” e de nossas comunidades: iluminar sua fé e pastoreio por uma verdadeira e terna compaixão com as pessoas, especialmente com as pessoas mais sofridas. Uma comunidade cristã só é cristã se for e viver como o Mestre em compaixão, Jesus Cristo. (attilio@livrariareus.com.br)

Qual é a função da família na caminhada da fé de uma criança? Marina Zamberlan Professora

A

família é o local por excelência para despertar e sustentar a fé cristã e a vivência da espiritualidade de seus membros.

É dever dos pais convidar a criança a dar os primeiros passos que a conduzirão à fé. Eles a guiarão pelo testemunho de seus valores humanos e religiosos e pela palavra esclarecedora. Mas, para ajudar seu filho ou filha a crescer na fé de seu batismo, os pais não estão sós. Esta missão também pertence à família ampliada, aos avós, aos padrinhos e aos outros membros que devem acompanhar a criança na caminhada de sua vida espiritual, ajudando-a a expressar no gesto e na palavra, como na ação, sua experiência de fé. E ainda, ao apoiar-se no testemunho de toda uma comunidade cristã, a criança e os outros membros da família se firmarão no caminho cristão e se sentirão convocados a engajar-se na tarefa da evangelização. É no colo do pai e da mãe, do avô e da avó, dos padrinhos, que a criança desperta em seu interior a compreensão de Deus, de Jesus, dos valores cristãos da compaixão, da mansidão, do respeito, da verdade, da ética, da bondade e do amor ao outro. É vendo como agem seus pais que ela entende qual o caminho a seguir. Catequistas devem sempre envolver a família no seu trabalho, pois ela é a primeira e principal catequista.

Prêmio Comenda Porto do Sol ao Pe. José Luiz Schaedler

A entrega ocorreu dia 22 de junho último na Câmara de Vereadores de P. Alegre. A comenda é entregue a pessoas físicas ou jurídicas com reconhecida atuação na comunidade em áreas do conhecimento humano: educação, comunicação, economia, saúde, esporte, ciência, meio ambiente, tecnologia, cultura, religião, trabalho comunitário e direitos humanos. Pe. Schaedler é diretor da Rede de Escolas São Francisco, situada na zona norte de P. Alegre.


Julho de 2012 - 2a quinzena

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A

SPAÇO DA

RQUIDIOCESE

Jovens participam do 3o Encontro de Líderes das Escolas Católicas da Arquidiocese No dia 20 de junho, cerca de 350 jovens líderes de escolas católicas se reuniram no Colégio Salesiano Dom Bosco para o 3o Encontro de Lideranças Juvenis das Escolas Católicas da Arquidiocese de Porto Alegre, que neste ano teve como lema “Juventude, um sonho de paz”. O objetivo do encontro foi discutir três eixos: saúde pública, corrupção e educação, refletindo sobre as diversas faces da corrupção e a sua consequência para as políticas sociais. Na abertura do evento, o arcebispo Dom Dadeus Grings deu as boas-vindas a todos e salientou a importância de se realizar encontros como este, trazendo reflexões sobre a vida. “Não é possível sabermos até quando viveremos, a certeza que temos é que se vivermos de bem com a vida, viveremos mais. Devemos viver intensamente um dia após o outro”, salientou Grings. Após a abertura, Pedro Francisco da Silva Filho, chefe de Gabinete do deputado Miki Breier, ministrou palestra sobre Políticas Públicas e Juventude, ressaltando a importância da participação efetiva dos jovens na luta pela elaboração de leis referentes aos seus temas de interesse. “Não podemos ficar fechados em nosso mundinho, não basta ter consciência social, só consciência não traz mudanças. É preciso se unir, se organizar e discutir os problemas para que as soluções aconteçam. As leis surgem a partir da organização social”, salientou Silva Filho. O palestrante exemplificou com a lei de proibição de venda de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol: “Essa

lei surgiu a partir do pedido popular e trouxe resultados, as ocorrências de violências nos estádios diminuíram”, acrescentou. Durante a tarde, os jovens se uniram em grupos conforme as zonas de suas escolas e discutiram ideias sobre Saúde Pública e Educação para serem levadas a uma audiência pública sobre o tema que se realizará no dia 17 de outubro na Assembleia Legislativa de Porto Alegre. Os jovens trouxeram diversas propostas ao encontro, entre elas: acesso ao atendimento psicológico, terapêutico e psiquiátrico na saúde pública; investimento em remuneração e qualificação dos professores do Ensino Fundamental e Médio; investimento na infraestrutura de escolas públicas; criação de um órgão medidor dos investimentos realizados pelo governo nas escolas; interiorização da saúde pública com a implantação de hospitais por zonas e reajuste salarial dos políticos conforme o reajuste salarial dos professores. Para finalizar o dia intenso de trabalho, o animador vocacional da Arquidiocese, Pe. Tom, conduziu a oração de encerramento em clima de alegria. O Encontro foi organizado por professores e religiosos de diferentes zonas das escolas católicas, sob a coordenação do salesiano cooperador Luiz Marcos Schatzmann, do Colégio Dom Bosco e do professor César Ritter, do Instituto São Francisco. As escolas participantes integram a Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC).

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Coordenação: Pe. César Leandro Padilha

Jornalista responsável: Magnus Régis - (magnusregis@hotmail.com) Solicita-se enviar sugestões de matérias e informações das paróquias. Contatos pelo fone (51)32286199 e pascom@arquidiocesepoa.org.br Acompanhe o noticiário da Pascom pelo twitter.com/arquidiocesepoa Facebook: Arquidiocese de Porto Alegre Imagens: PASCOM

Vereador Nedel foi o autor da proposição

Movimento de Cursilho recebeu homenagem na Câmara Municipal de P. Alegre A Câmara de Vereadores de Porto Alegre prestou homenagem pela passagem dos 50 anos do Movimento de Cursilhos de Cristandade no Brasil. O evento aconteceu no dia 18 de junho e foi uma iniciativa do vereador João Carlos Nedel, ele também um cursilhista. Estiveram presentes o Pe. César Leandro Padilha, assessor eclesiástico do MCC na Arquidiocese de Porto Alegre, a sra. Clarice Gavasso, coordenadora arquidiocesana do MCC, e diversos cursilhistas de Porto Alegre e dos demais Vicariatos. Chamou atenção a presença de um participante do primeiro cursilho realizado em Porto Alegre, no ano 1970. Durante a cerimônia, o Pe. César Leandro apresentou o momento atual do MCC na Arquidiocese e como está acontecendo a celebração do jubileu. Ao final da cerimônia, o vereador João Carlos Nedel fez a entrega de uma placa denominando uma rua de Porto Alegre com o nome do cursilhista Nestor José Nitschke. A placa foi entregue à sua viúva, Lurdes Nietzche.

NOTAS * Encontro Interdiocesano de Assistentes Sociais: A Diocese de Montenegro sediou o primeiro encontro do Serviço Social das Arquidioceses de Porto de Porto Alegre, Montenegro e Novo Hamburgo. As assistentes sociais Marta Bangel, Glória de Paula Lisiane Crapanzani e a estagiária Núbia Borba representaram a Arquidiocese de Porto Alegre no encontro. O Encontro teve o objetivo de viabilizar a troca de experiências referente ao processo de reordenamentodas ações sociais de cada Diocese, em conformidade com a Politica de Assistência Social . * Capacitação para grupos de convivência de idosos: Prossegue o processo de capacitação oferecido pela Assistência Social da Arquidiocese de Porto Alegre. No dia 21 de junho, agentes de 13 paróquia participaram de formação destinado aos coordenadores dos grupos de convivência e fortalecimento de vínculos para idosos. A capacitação teve como foco específico os grupos de convivência que estão inscritos ou em processo de inscrição junto aos conselhos municipais de Assistência Social. Estes grupos de convivência desenvolvem atividades como trabalhos manuais, palestras socioeducativas, ginástica, dança e, em comunidades em situações de vulnerabilidade social, promovem a distribuição de cestas básicas.

* Padres das equipes de Nossa Senhora: O Movimento das Equipes de Nossa Senhora reuniu no dia 20 de junho, cerca de 20 sacerdotes, que vivendo seu ministério presbiteral, acompanham as Equipes como Conselheiros Espirituais. O encontro aconteceu na Casa Emaus, da Congregação das Irmãs Filhas do Amor Divino. Além dos casais equipistas, contou com o testemunho da Irmã Nilza, que é conselheira espiritual de uma ENS formada exclusivamente por pessoas viúvas e pessoas sós. As Equipes de Nossa Senhora são um movimento de espiritualidade conjugal católico, leigo e constituído por casais que buscam no sacramento do matrimônio um ideal de vivência cristã. * PASCOM Área Alvorada: Foram apresentados os novos agentes de comunicação que atuarão nas Paróquias atendidas pela PASCOM - Área Alvorada, em reunião realizada no dia 20 de junho, na sede da pastoral, na Diaconia Madre Teresa de Calcutá. No dia 17 de julho, a partir das 20h, será realizada Oficina de Fotografia com a apresentação de técnicas gerais, enquadramento, resolução, uso do flash, entre outros temas. Outra ação prevista da PASCOM é a apresentação da proposta da pastoral aos casais do ECC, na Paróquia Santo Antônio, no dia 26 de julho, a partir das 20 horas.

Pastoral da Criança também participou

Campanha do Agasalho beneficia Diaconia Madre Teresa de Calcutá Ação desenvolvida pela empresa SOUL (Sociedade Ônibus União Ltda.) arrecadou aproximadamente 22 mil peças de roupas na Campanha do Agasalho 2012. A iniciativa contou com a parceria da Diaconia Madre Teresa de Calcutá e da Pastoral da Criança, que farão a distribuição das doações. Para celebrar o balanço positivo da campanha, uma reunião foi realizada da sede da empresa com as entidades responsáveis pela distribuição. Grande parte das doações beneficiará famílias atendidas pelos projetos sociais da Diaconia e da Pastoral da Criança. Em mensagem publicada no site, a Diaconia Madre Teresa publicou nota de agradecimento à empresa SOUL e aos doadores da campanha: “Gostaríamos de agradecer e pedir que Deus derrame suas bênçãos sobre os diretores da SOUL, seus colaboradores e todos aqueles que de uma maneira ou de outra ajudaram nesta campanha”.


Porto Alegre, julho de 2012 - 2a quinzena

Vale a pena viver a vida até o fim

A passagem do dia de Santa Ana e São Joaquim, pais de Maria, mãe de Jesus, em 26 de julho, lembra nossas avós e nossos avôs, os quatro pais ‘doces’ que nos afagaram na infância. E, muitos de nós, hoje seguem seu exemplo com seus netos e netas. Em que pese o mercado de produção e consumo já nos ter posto na lista de ‘inutilidade’, está em nós mostrar que continuamos vivos e assim queremos ser vistos até o fim. Que apenas temos juventude acumulada e podemos fazer sentido para os que nos cercam. Sentir-se velho está na cabeça: não existe idade para sonhar, para realizar projetos, para sentir-se protagonista, partícipe, útil e necessário. Que ser velho não é

sinônimo de inatividade, de inutilidade. Velhice não é o fim do ciclo existencial. Só se é inativo depois da morte. E assim mesmo só aqui na terra: lá no céu, vamos trabalhar sem hora marcada, sem o caótico trânsito, sem remuneração. No céu seremos todos diáconos, voluntários, adeptos da plena gratuidade de que a vida de Jesus Nazareno foi melhor exemplo. Não vale, pois, a pena sobrecarregarmos nosso cotidiano com preocupações desnecessárias. Que sejamos vovós e vovôs felizes e alegres como foram – e são – nossos vovós e vovôs. São os votos da Direção e Funcionários do jornal Solidário – o Jornal da Família. Imagem: criação de Ir. Zuleides Andrade

A Velhice

Ana conta que seu filho pequeno – com a curiosidade de quem ouviu uma nova palavra mas ainda não entendeu seu significado – perguntou-lhe: – Mamãe, o que é velhice? Na fração de segundo antes da resposta, Ana fez uma verdadeira viagem ao passado. Lembrouse dos momentos de luta, das dificuldades, das decepções. Sentiu todo peso da idade e da responsabilidade em seus ombros. Tornou a olhar para o filho que, sorrindo, aguardava uma resposta. – Olhe para meu rosto, filho, disse ela. Isso é a velhice. E imaginou o garoto vendo as rugas, e a tristeza em seus olhos. Qual não foi sua surpresa quando, depois de alguns instantes, o menino respondeu: – Mamãe! Como a velhice é bonita! (Autor desconhecido).

Testamento de uma avó "Queridos netos: A Vó não sabe brincar com vocês, porque só sei brincar de passado e vocês só sabem brincar de futuro. E ainda estarei brincando de recordação quando vocês começarem a brincar de esperança. Mas, antes que eu me torne apenas um retrato na parede, uma referência dos meus entes queridos ou até uma lágrima de minha filha, quero lhes dizer uma coisa que considero muito importante para os seus momentos de dúvida. Porque eles ocorrerão e todos serão preciosos. Quero lhes dizer, queridos netos, o que vale a pena. Vale a pena conhecer pessoas, sofrer ingratidões, chorar algumas decepções e – apesar de tudo isto (ou por causa de tudo isto) – ir renovando todos os dias sua fé na bondade essencial da criatura humana e o seu deslumbramento diante da vida. Vale a pena verificar que não há trabalho que não traga recompensa, que não há livro que não traga ensinamento, que os amigos têm mais para dar que os inimigos para tirar, que, se formos bons observadores, aprenderemos tanto com a obra do sábio quanto a vida do ignorante. Vale a pena ver que toda a amargura nos deixa reflexão, toda tristeza nos deixa a experiência e toda alegria nos enche a alma de paz. Vale a pena casar e ter filhos. Filhos que nos escravizam com seu amor e nos concedem a felicidade de tê-los junto a nós e vê-los crescer. Filhos que, ao crescerem um pouco, já discutem conosco, acham que sabem bem mais que nós (e às vezes sabem mesmo) e nós aprendemos com eles. Vale a pena viver estes assombrosos tempos modernos em que os milagres acontecem ao virar de um botão, em que se pode telefonar da terra para a lua, lançar sondas espaciais, máquinas pensantes, à fronteira de outros mundos. E descobrir que toda essa maravilha tecnológica não consegue, entretanto, atrasar ou adiantar a chegada da primavera. Vale a pena viver, mesmo com todas as limitações a que o ser humano está sujeito, quando lembramos que o surdo vê a luz do sol, que o cego ouve a música das coisas, que o mendigo sonha com as estrelas, que não precisamos de todos os sentidos para participar do esplendor da criação. Vale a pena, mesmo sabendo que vocês verão coisas que eu nunca vi, assim como vejo coisas que meus pais não viram, e meus pais viram coisas que meus avós não viram. Vale a pena até mesmo envelhecer como eu e ter netos como vocês, que me devolveram a infância e a juventude. Vale a pena, mesmo que eu parta e suas lembranças de mim se tornem vagas. Mas quando outros disserem coisas boas de seus avós, espero que vocês possam dizer de mim simplesmente isto: "Minha avó foi aquela que me disse que valia a pena....E não é que ela tinha razão?" (Autor desconhecido).


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