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IMPRESSO ESPECIAL CONTRATO No 9912233178 ECT/DR/RS FUNDAÇÃO PRODEO DE COMUNICAÇÃO CORREIOS

Ano XVIII - Edição N o 619 - R$ 2,00

Porto Alegre, outubro de 2012 - 1a quinzena

OUTUBRO, MÊS DAS MISSÕES

O que é ser Igreja missionária hoje?

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ue palavra tem a Igreja para os jovens de hoje? A quem, como discípula, a Igreja e nós, Povo de Deus, devemos escutar? O que é preciso para ser discípulo missionário? Esse é o atual maior desafio da Igreja. O termo foi cunhado na V Reunião do Conselho Episcopal da América Latina, em Aparecida, SP, propondo amplo e franco diálogo com o mundo a partir da realidade concreta. O atual modelo institucional propicia isso? Cardeal Martini, recentemente falecido, queria uma Igreja mais aberta e compreensiva do mundo contemporâneo. Mais reflexões nas páginas 2 (Editorial) e centrais

Preparados para o voto consciente em 7 de outubro?

Contracapa

O jogo entre a família e a realidade social Página 3

Congresso reuniu catequistas de POA Página 11

Faleceu Zélia Caetano Braun

A Rádio Aliança FM, emissora católica de P. Alegre e nossa coirmã, perde uma de suas maiores entusiastas. Irmã do poeta tradicionalista, já falecido, Jayme Caetano Braun, acompanhou a história da Aliança desde antes de sua fundação. Até o agravamento de seu estado de saúde – sofria de leucemia – Zélia Caetano Braun era locutora e apresentadora do Chimarreando com Deus, Amanhecer na Querência e Nova Evangelização, programas voltados à inculturação do Evangelho segundo o linguajar gauchesco. Também criou o Festival Chimarreando com Deus, com 19 exitosas edições. Era propagadora da devoção do Rosário, cuja cruzada criou e divulgou. Natural de S. Luiz Gonzaga, onde nasceu em 23 de setembro de 1935, seu enterro foi dia 18 de setembro último no Cemitério S. Miguel e Almas, precedido de Missa de Corpo Presente.

Saudade é sentir fome com o coração Ditado Gauchesco

Os telefones do Jornal Solidário: (51) 3093.3029 e (51) 3211.2314 e-mail: solidario@portoweb. com.br

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RTIGOS

Editorial

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utubro é o mês das missões. Quem se diz cristão, deve, necessariamente, ser missionário. Melhor: discípulo missionário, como nos lembram os bispos reunidos em Aparecida (maio/2007). Já é tempo de desfazer-nos, corajosamente, das cascas de uma fé de consumo individual e tornar-nos testemunhos/missionários de uma fé que transforma a sociedade. Neste sentido, vou falar de uma pessoa, vou falar de um cardeal que foi discípulo missionário da nossa época. Ele morreu dia 31 de agosto passado, aos 85 anos de idade. Não era mais um cardeal, era, de alguma forma, o cardeal. Um referencial de pastor e guia, de amigo e companheiro, um homem do diálogo, um bispo que sabia falar com os leigos. Falo do cardeal jesuíta Carlo Maria Martini, durante 20 anos, arcebispo de Milão, a maior arquidiocese do mundo. Martini foi o símbolo da igreja do diálogo com o mundo, um príncipe da fé e dos grandes ideais. Representava um dos frutos mais significativos do Concílio Vaticano II e acreditava na renovação da Igreja para uma autêntica fidelidade ao Evangelho de Cristo, sem qualquer compromisso com o poder. Carlo Martini queria uma Igreja mais aberta e compreensiva do mundo contemporâneo. Autor de dezenas de livros e textos, traduzidos em muitas línguas, vários deles em português. Um deles, Em Que Crê Quem Não Crê, é um diálogo com o filósofo, escritor e comunicador Umberto Eco (O Nome da Rosa). As palavras de Martini eram simples, compreensíveis e profundas, preocupadas pelas situações e os problemas do mundo atual. Ele introduziu a escola da palavra em sua diocese para aproximar os leigos das sagradas escrituras através da leitura orante da Bíblia. Em Milão, também criou a Cátedra dos não crentes para encontrar pessoas em busca da verdade. Um diálogo que ele considerava imprescindível. Dizia:"Eu falo, sobretudo, para os não crentes, pessoas que pensam, refletem e têm um profundo sentido de responsabilidade, uma consciência dos valores. Com eles certamente aprendi muito. Trata-se de continuar dialogando para conhecer os desejos profundos do ser humano e, assim, ajudar a cada um a encontrar sua plena autenticidade”. Carlo Maria Martini promoveu o diálogo, entre ateus e crentes e entre diferentes religiões. Foi um viajante incansável, um apóstolo, um Paulo dos tempos modernos. Conheci pessoalmente Carlo Martini num Congresso de comunicadores em Bangkok, Thailandia, e pude sentir todo o carisma que tinha e a atração que exercia sobre as pessoas. Para além das fronteiras rígidas da instituição, Martini queria uma Igreja jovem, pobre e humilde, sempre em diálogo com o diferente e com as diferenças. Homem da esperança, ele alimentou o sonho de pessoas mais livres e mais próximas do povo, como o bispo Romero e os mártires jesuítas de El Salvador, pessoas generosas como o bom samaritano, cercadas por jovens que experimentem coisas novas (páginas centrais desta edição). (Attílio Hartmann, diretor do Solidário - attilio@livrariareus.com.br)

CNPJ: 74871807/0001-36

Conselho Deliberativo

Presidente: Agenor Casaril Vice-presidente: Jorge La Rosa Secretário: Marcos Antônio Miola

Voz do Pastor Dom Dadeus Grings

Arcebispo Metropolitano de P. Alegre

Fé que transforma

Fundação Pro Deo de Comunicação

Outubro de 2012 - 1a quinzena

Voluntários Diretoria Executiva

Diretor Executivo: Adriano Eli Vice-Diretor: Martha d’Azevedo Diretores Adjuntos: Carmelita Marroni Abruzzi, Elisabeth Orofino e Ir. Erinida Gheller Secretário: Elói Luiz Claro Tesoureiro: Décio Abruzzi Assistente Eclesiástico: Pe.Attílio Hartmann sj

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A aliança sinaítica

uando, em 582 A.C., 150 anos depois da destruição da Samaria, Nabucodonosor varreu o reino de Judá do mapa e deportou os últimos habitantes de Jerusalém, deu-se por encerrada a história da aliança davídica. Sem pátria, sem templo, sem sacerdócio, um resto – o resto previsto pelo profeta Isaías, as lideranças de Jerusalém – foi para o exílio. Todas as esperanças haviam-se esvaído, exceto a fé em Javé. Não pensemos que tivesse sobrado uma multidão. A maioria dos judeus foi morta. Outros fugiram. Foi aprisionada apenas a elite, que gira em torno de cinco mil pessoas. Estes refarão a história de Israel.

Tendo desaparecido a teologia da aliança com Davi e seus descendentes, que punham a salvo de qualquer ataque tanto o templo como a cidade de Jerusalém, bem como a própria dinastia davídica – que já não existiam – foi necessário criar outro início e paradigma, para não desarticular totalmente. Então, no exílio babilônico, se engendrou a descrição de outra aliança, de mil anos antes. Situa-se num outro império, junto a outro rio: o Nilo, no Egito, mas com contornos mutuados de uma cultura mesopotâmica. Expõe uma dura escravidão e a consequente libertação, operada por Deus, pela mão de Moisés, seu enviado. O ponto alto desta libertação é, em primeiro lugar, a aliança, feita por e com Deus, no Monte Sinai. Tem como mediador Moisés. Acontece, depois de 40 anos de peregrinação pelo deserto, uma triunfal conquista da terra prometida sob as armas de Josué. Criada durante o exílio da Babilônia, esta narrativa está desligada dos eventos históricos da época. Colheu tradições esparsas. Criou uma nova teologia da aliança, que marcará, daqui para frente, a história do povo eleito. Esta aliança consta de novas e mais sólidas cláusulas. Não se fixa nalgum lugar – refere-se a um povo nômade e sem pátria. Garante proteção por parte de Deus, sob condição da observância de seus mandamentos. A aliança é selada com sangue de animais, sacrificados a Javé. Sinaliza

Conselho Editorial

Presidente: Carlos Adamatti Membros: Paulo Vellinho, Luiz Osvaldo Leite, Renita Allgayer, Beatriz Adamatti e Ângelo Orofino

Diretor-Editor Attílio Hartmann - Reg. 8608 DRT/RS Editora Adjunta Martha d’Azevedo

a consanguinidade ou parentesco entre o povo e seu Deus. Conhecemos uma síntese dos mandamentos no decálogo. Na verdade, porém, a lei, em hebraico “Torah”, foi exarada em cinco livros básicos da fé, que, por isso, em grego, receberam o nome de Pentateuco. O povo do exílio irá inspirar-se nesta Lei e elaborar, a partir dela, sua relação com Deus. Trata-se de um compromisso, selado por uma aliança. Javé é o Deus deste povo e este povo o povo de Javé, independentemente de lugar e de templo. O que distingue, daqui em diante, o povo judeu será esta aliança. Moisés é guindado a fundador da religião judaica. Atribui-se a Ele a “assinatura” da aliança com Deus e, consequentemente, a elaboração do Pentateuco. A aliança sinaítica, porém, alberga, em seu bojo, certa ambiguidade. Junto com Moisés, que poderíamos chamar de místico, coloca Josué, apresentado como guerreiro. No primeiro, temos a religião, por assim dizer, em sua pureza, ao passo que, no segundo, entra a conquista armada de uma terra e o extermínio de povos inteiros. Pergunta-se: quem realiza a aliança com Deus? Moisés, com sua lei, ou Josué, com suas guerras de conquista? Para mostrar a conexão entre ambos, começou-se a transformar o Pentateuco em Hexateuco, incluindo nele, como base da religião mosaica, o livro de Josué. A lei do Sinai e a conquista da Palestina, declarada Terra Santa.

Redação Jorn. Luiz Carlos Vaz - Reg. 2255 DRT/RS Jorn. Adriano Eli - Reg. 3355 DRT/RS

Revisão Ronald Forster e Pedro M. Schneider (voluntários) Administração Elisabete Lopes de Souza e Norma Regina Franco Lopes Impressão Gazeta do Sul

Rua Duque de Caxias, 805 Centro – CEP 90010-282 Porto Alegre/RS Fone: (51) 3093.3029 – E-mail: solidario@portoweb.com.br Conceitos emitidos por nossos colaboradores são de sua inteira responsabilidade, não expressando necessariamente a opinião deste jornal.


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AMÍLIA &

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OCIEDADE

O jogo entre a família e a realidade social Deonira L. Viganó La Rosa Terapeuta de Casal e de Família. Mestre em Psicologia

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ada época tem seu próprio discurso cultural e, portanto, sua particular forma de organização familiar. Refletir sobre o jogo que se observa entre a organização familiar (o micro-social) e o contexto sociocultural (o macro-social) é dever de todos nós. Como as mudanças características de cada época incidem na constituição dinâmica da família, em suas possíveis patologias e na solução das mesmas? Ontanu Mihai/sxc.hu

Como já afirmava Freud, a Psicologia Individual é, ao mesmo tempo e desde o começo, Psicologia Social. A realidade não é conformada por uma externalidade, senão que é construída permanentemente a partir de uma relação externalidade/internalidade, sendo o sujeito receptor e ator permanente desta dialética social. O ser humano, nascido em uma matriz familiar, é inundado pelo entorno cultural da época que lhe toca viver e, simultaneamente, recebe a cultura de seus antepassados, que lhe é transmitida transgeracionalmente.

As famílias

As famílias, por sua vez, veem-se imersas na velocidade das mudanças. Não têm tempo de absorver tudo o que lhe é exigido de fora. Na pósmodernidade, produziu-se um debilitamento da membrana protetora da família. O que está fora penetra "violentamente" por todas as brechas. Por momentos, a família tem que optar entre "atuar segundo o exigido" ou "deter-se, pensar e tratar de metabolizar o recebido". Luta entre fortalecer a membrana protetora a fim de evitar a inundação do exterior, e ao mesmo tempo flexibilizá-la para impedir a própria asfixia. O perigo está em cristalizar um, ou outro. Quando a família renuncia a seus ideais e projetos, pressionada pelo social, é provável que postergue indefinidamente seus anseios. Cabe perguntar:

Benjamin Earwicker/sxc.hu

Até que ponto este jogo entre o interno e o externo modificará ainda mais as novas configurações familiares?

Hoje, o mercado se introduz sorrateiramente nas relações humanas, intrometendo-se no tecido fino das relações cotidianas, influenciando as escolhas, colonizando o mundo da vida e reduzindo os espaços da gratuidade, levando a tudo calcular em função da aparência, da utilidade, do lucro e do poder, ignorando assim a busca dos valores, da felicidade. Até a opção por ter filhos pode ser pensada em função da utilidade destes na velhice dos pais, esquecendo que o amor está intimamente relacionado com a gratuidade. Anteriormente, as mudanças dos sistemas culturais se produziram lentamente, e existia a

possibilidade de uma sedimentação dos mesmos. Hoje, a voracidade destas mudanças não permite ainda elaborá-los. E a família sofre com isso. Muitas vezes, adoece. O que é "enfermo" e o que é "saudável" para a família, cada cultura determina. O valorizado (saudável?) em nosso tempo é a rapidez, a eficiência, a satisfação imediata. Menos valorizado, ainda que reconhecido totalmente, é o tempo para refletir. Estamos vivendo uma época na qual a carência afetiva, o individualismo e o isolamento ocupam um lugar central, ainda que se tente negar.

Apesar de tantas mudanças, a dor e o sofrimento psíquico continuam existindo. Quem sabe se expressem de maneiras diferentes

É importante auscultar os modos atuais de sua manifestação, ampliar nossa compreensão e criar novos métodos para lidar com as atuais organizações familiares e os sofrimentos que padecem. Ao invés de rotular a família, ou idealizá-la, convém escutá-la e tratar de entendê-la e amá-la, imersa nas mudanças socioculturais.

Aceitar nossas limitações e abrir-nos ao intercâmbio entre sociologia, psicanálise, religião, história, etc, ocupando-nos do inter-jogo famíliasociedade, é para nós um desafio iniludível. Nesta tarefa, sentimo-nos comprometidos ? Estamos dispostos a gerar um tempo para pensar a família? (deoniralucia@gmail.com)


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4 Dia da Criança: e a criança? Carmelita Marroni Abruzzi Professora universitária e jornalista

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im, ela é o centro de todas as comemorações e apelos publicitários. No dia a dia, fala-se muito nela, tem todas as atenções da família. Gastam-se páginas inteiras, descrevendo os cuidados com ela... Fala-se em dar-lhe muito amor, carinho e compreensão. Temos leis proibindo as palmadas, conselhos tutelares para protegê-las... No mês da criança, famílias, escolas, clubes, associações de bairros, todos estão envolvidos em organizar festas e brincadeiras, tudo muito alegre e intenso. As crianças ganham presentes, desde balas e chocolates, até caros e sofisticados brinquedos, esses logo postos de lado e pagos em infinitas prestações; enquanto isso, se noticia que as compras deste ano, na data, excederam em tanto por cento as do ano anterior. As emissoras de TV apresentam filmes e programas infantis e por aí seguem os festejos... E a criança, esse ser humano que deve se tornar um adulto maduro e responsável? O que realmente fazemos por ela? Será que consideramos suas verdadeiras necessidades ou a estamos mantendo infantilizada, apesar de todas as eventuais influências que recebe de programas de TV, e de toda a moderna tecnologia, da internet e das redes sociais? Hoje, há uma grande queixa de pais e professores que jovens adultos de 25/30 anos continuam adolescentes. Então, do que necessita essa criança para se tornar um adulto sadio, feliz consigo mesmo, produtivo inserido em seu grupo social? Não é uma pergunta fácil de responder e, ao tentar traçar esse perfil, sempre corremos o risco de esquecer aspectos importantes. Mas podem-se levantar itens que nos ajudem a buscar respostas... Em geral, pensamos logo nos cuidados físicos que uma criança requer, como alimentação balanceada (evitando os fantasmas da obesidade ou da subnutrição), horas de sono, preocupação com sua higiene corporal e do ambiente. Ao lado disso, está a preocupação com a saúde psíquica e emocional da criança, criando um contexto que a ajude a amadurecer. Então, precisamos considerar os interesses específicos das várias faixas etárias, proporcionar brincadeiras e atividades que a levem a interagir com seus grupos e que se transformarão em experiências significativas para o resto de suas vidas. E, aqui, é importante instrumentalizar a criança na utilização da internet, de seus jogos virtuais e das redes sociais; prepará-la para as possibilidades desse uso, para suas vantagens e seus perigos, seja pelo uso excessivo, seja por riscos que seus conteúdos e mensagens trazem. Ao lado desses cuidados, lembrar que a criança é um ser único e como tal respeitá-la, proporcionar-lhe momentos de calma e silêncio para que se encontre e pense; oportunizar-lhe tempo livre para fazer o que gosta; permitir-lhe escolher, confiar nessas escolhas e levá-la a assumir suas responsabilidades: assim, ela crescerá com segurança e confiança em si própria e amadurecerá, não se tornando aquele eterno adolescente que tanto preocupa pais e educadores. Será uma pessoa capaz de enfrentar o novo, o desconhecido e vencer o medo que acompanha essas situações: afinal, a vida nos levará a enfrentar muitos desses momentos decisivos. Acima de tudo, é preciso que crianças e jovens busquem um sentido para sua existência, tracem seus objetivos e os persigam com fé e persistência: um plano orienta nossa vida, canaliza nossos esforços e os orienta para os ideais que traçamos. Se fizermos uma reflexão nessa linha, outubro, o mês da criança, terá um sentido mais profundo e os resultados de seus dias não se esvaziarão como balões coloridos, nem serão fugazes como clarões de fogos de artifício. (litamar@ig.com.br)

Outubro de 2012 - 1a quinzena

PINIÃO

Carlo Maria Martini: luminoso legado Maria Clara Bingemer Professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio

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último dia do mês de agosto deste ano de 2012 trouxe consigo a notícia do falecimento de Carlo Maria Martini, cardeal da Igreja Católica e arcebispo emérito de Milão. O Parkinson que o habitava há muitos anos e o obrigou a voltar de Jerusalém, para onde fora após deixar o comando da diocese, finalmente fechou-lhe os olhos alertas e vigilantes. É difícil descrever uma personalidade de tão alta estatura como o cardeal Martini. Sua biografia é tão rica e de tão largo alcance que todas as palavras parecem pequenas ao tentar retratálo. Sua trajetória na Igreja e na sociedade inclui a entrada na Companhia de Jesus, a ordenação sacerdotal, o duplo doutorado em Teologia e em Sagrada Escritura, o cargo de reitor do Pontifício Instituto Bíblico e da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, a ordenação episcopal à frente da arquidiocese de Milão, o cardinalato. Todo esse brilhante itinerário em cargos da hierarquia eclesiástica e na liderança do conhecimento das ciências sacras e da crítica paleográfica do Novo Testamento é, no entanto, suplantado pelo rastro luminoso de sua atuação de pastor à frente da diocese de Milão. E, depois disso, por todas as reflexões sobre a cultura atual e a vida eclesial que elaborou e comunicou nos seus anos de retiro em Jerusalém e em Roma, onde faleceu. Carlo Maria Martini era um homem lúcido. Sua abertura a Deus e sua profunda fé traduziam-se em sua pessoa e em sua vida por uma capacidade de ler os acontecimentos e os sinais dos tempos com uma sensibilidade e uma percepção inigualáveis. E aquilo que intuía e via com seu olhar contemplativo e profético comunicava-o ao mundo e à Igreja que amava com coragem e transparência. Assim foi que em Milão — lugar onde exerceu seu episcopado — potenciou o diálogo entre ateus e crentes, abrindo para tanto a própria catedral, na qual se deram memoráveis encontros e diálogos organizados pela chamada Cátedra dos não Crentes. De um desses diálogos é fruto o famoso livro em que conversa com Umberto Eco sobre o instigante tema Em que creem os que não creem?. Da mesma forma, dialogou aberta e respeitosamente com outras religiões, sendo tido em altíssima consideração pelas autoridades religiosas presentes em Milão e em outras partes da Itália e da Europa. Peregrino incansável, Martini andou pelo mundo comunicando suas reflexões e despertando consciências com suas questões. Sua presença transmitia ao mesmo tempo uma sólida

fidelidade ao Evangelho e ao Reino de Deus e uma universal abertura a todos os desafios candentes do mundo e da sociedade hodiernos. A nada se furtava o cardeal, com seus luminosos olhos azuis e seu perfil de águia. A tudo olhava de frente, sem temor e com fé humilde e profunda. Tal como o vinho, Martini refinou-se e adquiriu mais qualidade com o passar dos anos. Após retirar-se, aos 75 anos, jamais deixou de comunicar e transmitir aquilo que, na observação da realidade, percebia e na oração e no estudo aprofundava. Foi esse o período em que era possível senti-lo mais livre. Sem ataduras ou freios, falava com liberdade e desassombro sobre questões delicadas de moral e costumes, sobre pontos nodulares da fé e da teologia. E, sobretudo, sobre a Igreja, sobre a vida do povo de Deus que foi sempre a sua grande paixão. Era possível sentir nas palavras do cardeal chegado à maturidade e à sabedoria uma imensa e profunda preocupação com o futuro desta instituição pela qual deu sua vida e que é santa, apesar de seu pecado. Via com dor tantos e tantas se afastando da Igreja. E por eles e elas pulsava seu coração de pastor. Sem descanso falava, refletia, dialogava sobre temas como segundas uniões, diversidade sexual, a vida sacramental dos recasados. Igualmente sobre questões de ética médica, como a interrupção das terapias em doenças terminais, quando já não ajudam a pessoa e prolongam artificialmente a vida. Aqueles que não partilhavam sua fé, mas viviam sua ética, ouviam-no com respeito. Aqueles que partilhavam sua fé, mas se haviam afastado, magoados ou desiludidos com a instituição eclesiástica, admiravam-no e escutavam-no com reverência.Sua morte deixa na Igreja de hoje, tão necessitada de homens dessa têmpera, um vazio impreenchível. Mas seu legado luminoso permite esperar que as novas gerações continuem a escutar sua voz. E a por em prática seus ensinamentos. Junto a João XXIII, Oscar Romero e tantos outros, Martini agora é figura inspiradora para todos nós que acreditamos na humanidade e desejamos ardentemente fazer acontecer no mundo o projeto do Reino de Deus. (Fonte: Jornal do Brasil).

Um alerta para a importância de ouvir Antônio Estevão Algayer Advogado

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écadas atrás, ouvi um conferencista declarar que estaria aumentando o número de falantes e diminuindo o de ouvintes. Embora tal afirmativa não se destinasse à realidade de hoje, traz em seu bojo algo válido para a vida atual. Com o intuito de deixar claro o que pretendo sugerir, baixei às teclas do meu computador uns poucos casos paradigmáticos da importância de ouvir. Inicialmente, citarei três textos bíblicos que dão suporte Interconfessional de Aconselhamento) que pessoas ali atendiao tema: das se sentem confortadas com a oportunidade de encontrar O primeiro é referente à solicitude de Javé, Deus de Israel, alguém que sem pressa ouve o relato de seus problemas de para com o povo da Aliança: “Eu ouvi o clamor do meu povo”. vária ordem. A tais palavras seguiu-se a saga libertadora do povo liderada Isto posto, consigo entender o estranho apostolado do Pe. por Moisés. Trombeta. Esse padre, sentado em banco de praça da cidade O segundo diz respeito a uma visita de Jesus de Nazaré às do Rio de Janeiro, costumava ouvir pessoas que a ele vinham irmãs Marta e Maria. Marta, voltada por inteiro à tarefa de bem expor ansiedades recalcados nos meandros de sua existência. servir o hóspede, demonstrou estranheza pela atitude inerte de O Mahatma Gandhi, ao que fui informado, disse aos Maria, sentada aos pés de Jesus a ouvir a sua palavra. Jesus missionários cristãos da Índia que o sermão da rosa é o perfudeclarou que Maria escolhera a melhor parte, que não lhe seria me. Com a ficção poética do silêncio de uma flor, o hinduísta tirada, voltada que estava a ouvir a palavra de Deus...! Gandhi manifestava o seu pensar de que o testemunho de fé Por último, referirei a decisão de Jesus, em sua passagem autenticamente vivida é mais importante fator de aceitação por Jericó, de hospedar-se na casa de Zaqueu, chefe dos publi- do Evangelho do que uma pregação arrebatada e espetacular. canos e o mais odiado homem da cidade. Na caminhada rumo A título de remate, informo que ouvi uma entrevista teleà casa, Jesus não fez nenhuma referência ao viver e agir de visionada, com o padre jesuíta Pio Buck, o qual, sem embargo Zaqueu. Ouviu em silêncio a confissão de seus desmandos, o de ser homem de ciência, encontrava tempo para dedicar-se à propósito de corrigir-se e de ressarcir em quádruplo os bens pastoral carcerária. De início, achei-o muito sério nas respostas mal havidos. Únicas palavras de Jesus: “Hoje entrou a salvação dadas ao jornalista. Eis que de repente irrompe sala adentro um em tua casa, Zaqueu”. ex-encarcerado. Foi instantânea a mudança na fisionomia do Sabe-se de jovens e adolescentes, acicatados pela curio- padre. Tive a impressão de estar vendo, no abraço entre os dois, sidade de saber o que se passa em outras bandas do planeta, estranha luminosidade, um clarão de alegria que me parecia chegam a permanecer durante horas sentados na frente do ser o rosto de Deus estampado em face humana. computador, fazendo ouvidos moucos a admoestações paternas O Pe. Pio amava os presidiários. Um autor francês, de cujo e portando-se como estranhos do convívio familiar. nome não me recordo, proclamava que “o amor é o princípio Pude constatar em trabalho voluntário no SICA (Serviço de tudo, a razão de tudo, o fim de tudo”.


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DUCAÇÃO &

SICOLOGIA

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“Quero ser feliz” Jorge La Rosa Professor universitário, doutor em Psicologia

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desejo de ser feliz é inerente ao ser humano. Se participa de um jogo na várzea, se vai a um campo de futebol ou a um teatro ou cinema, se vai a uma festa, se busca alimento saboroso, se se aprimora para o exercício de uma profissão, se contrai matrimônio para constituir família, busca a felicidade; esta busca que existe em todas as culturas e tempos.

Por outro lado, encontramos muita infelicidade e tristeza em muitos corações – além de que, todos estão sujeitos ao sofrimento e perdas ao longo da vida: de amigo, de pessoa da família, doença que nos acomete, grande frustração em relação a expectativas alimentadas durante anos, dificuldades econômicas, perda de emprego. Isto sem falar nas pequenas contrariedades e contratempos do dia-a-dia. Como fica a questão da felicidade?

Que é felicidade?

Primeira questão: conceituar felicidade. A felicidade humana não é a perfeita que exclua todo sofrimento, lágrima, contrariedade ou frustração; quem alimenta este sonho será infeliz, é o sonho que se transforma em pesadelo, expectativa que jamais se realizará. É preciso exorcizar o sonho da felicidade perfeita, com humildade e ação de graças aceitar e construir a felicidade possível – a da condição humana. O que é felicidade? Daniel Gilbert, professor da Universidade Harvard, que estuda a felicidade há mais de duas décadas, diz que “Felicidade é simplesmente se sentir bem. Não é algo eterno. Estar feliz ou triste é um ir e vir. Apesar de difíceis, os processos de infelicidade também funcionam como um momento para amadurecer, pensar e repensar atitudes, projetos.” De modo geral, felicidade é bem-estar espiritual ou paz interior. É emoção ou sentimento que vai desde o contentamento até a alegria intensa ou júbilo.

Grau de felicidade ou intensidade

Outro aspecto a considerar são os diferentes graus de felicidade que as pessoas manifestam no seu agir, pensar e falar. As pessoas fruem a felicidade em diferentes graus. Há indivíduos dos quais nos aproximamos e que irradiam, além de paz interior, grande alegria. De seus lábios não saem queixas ou reclamações contra a vida; vivem em permanente ação de graças. Contatos com tais pessoas são profundamente estimulantes, saímos com vontade de viver. Outras pessoas derramam de seus lábios queixas constantes e lamúrias intermináveis, seu falar denota grande tristeza e infelicidade. Desses encontros saímos deprimidos. Entre esses dois horizontes há o meio de campo. Onde, talvez, nos sintamos alocados.

A felicidade é dada?

Outra questão é se a felicidade é dádiva dos deuses, ou de Deus, ou

se é construída. Se é somente dádiva, em vão trabalharemos para encontrá-la. Umas pessoas nasceram para serem felizes, outras nem tanto, resta a conformidade. É a perspectiva da reencarnação, segundo a qual a pessoa deve carregar o seu kharma, purificar-se de pecados de vidas passadas pela infelicidade e sofrimento da vida presente. Nada a reclamar. A perspectiva cristã é diferente. Todas as pessoas e cada uma em particular são imagens de Deus, sumamente feliz, no qual não há sombra de tristeza. O gene da felicidade está em nosso ser – como bem cantou Maria no Magnificat –, e, neste sentido, é dádiva; por outro lado, resta-nos dar-lhe desenvolvimento e maturação, para que chegue à plenitude; neste aspecto é construída, depende de esforço e disciplina, somos chamados a ser plenamente felizes. A felicidade começa aqui e agora, um dia desabrochará no êxtase total. A perspectiva cristã acolhe o desejo de felicidade do ser humano, legitima-o e diz que ele é realizável.

Divulgação

De que depende a felicidade?

Certamente depende de múltiplos fatores, entre os quais de relativa saúde física, psicológica e espiritual. Cultivá-las abre-nos caminho para a felicidade. Depende, também, da realização dos objetivos vitais de cada sujeito: pertencer a um grupo e ter amigos, capacitar-se para o exercício de uma profissão e nela aperfeiçoar-se, colaborando para o bem da sociedade; ter digna remuneração, constituir família se se sentir chamado para esse estado de vida, e outros. Lendo as escrituras sagradas dos cristãos, observamos como a felicidade depende da vivência de valores, e entre estes, por excelência, o amor. Bondade, justiça, generosidade, honestidade são caminhos que tornam o indivíduo feliz. A intimidade com Deus, suprema alegria, é indispensável. Neste sentido, a felicidade é experiência pessoal, interior, duradoura, que não depende tanto de eventos pontuais, mas da medida em que o sujeito é imagem de Deus, suprema felicidade.

A perspectiva cristã legitima o desejo de felicidade do ser humano


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EMA EM FOCO

Outubro de 2012 - 1a quinzena

Outubro, mês

Ser discípulo missi

Somente um excelente discípulo será um excelente missionário. E somente um excelente missionário será um exce vação e afirmação do autêntico cristianismo no mundo atual. E o que é essa excelência? É a pergunta que a Igreja, a serviço como atividade meio – e não fim – para facilitar o alcanc Imagens: Divulgação

Como seria Jesus no século 21?

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O quê e como Jesus pregaria e agiria hoje, na Europa, na América, no Brasil? Aceitaria tanta injustiça? Concordaria com tanta infraestrutura material e burocrática das instituições que regem o convívio da humanidade, inclusive da própria Igreja? Em seu tempo, Jesus – Deus e homem – conhecia todo o contexto religioso e sócio-econômico de sua Palestina. Não por nada ficou 'por aí' durante 30 anos antes de iniciar sua caminhada e pregação. Por isso, sabia muito bem o que estava falando. Quando abria a boca, denunciava com profundo conhecimento de causa. E contrapunha um novo horizonte, apontando para um outro reino 'que não é deste mundo'. A Sua igreja oficial quis calá-lo, pois representava séria ameaça à hierarquia estabelecida. Mas Ele continuava caminhando e pregando com uma nova visão de realidade, contudo sem desfiliar-se de Sua religião. Seu novo modo de ser igreja prescindia de templos, leis e dogmas: onde se encontrava, ali mesmo pregava ao povo que o seguia.

Estar atualizado

Não basta dizer-se discípulo missionário sem mente aberta para a atualidade e para o futuro. “Estamos deixando de falar a linguagem do mundo atual. Cada vez menos gente nos entende. E, por isso, poucos nos escutam”, desabafou recentemente o cardeal Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa (Honduras) e presidente da Cáritas Internacional. “Como entender esta nova humanidade, a nova juventude se não conhecemos a linguagem do mundo atual? Vivemos em novo contexto cultural mediático. O que se move é o mundo das percepções e não das realidades. Como dissemos na Conferência de Aparecida, ‘não haverá nova evangelização sem novos evangelizadores, sem uma autêntica conversão pastoral. Não podemos continuar fazendo mais Cardeal Maradiaga do mesmo. Não se trata simplesmente comunicar ideias, mas favorecer o encontro pessoal com Cristo vivo, uma autêntica experiência de Cristo", completou o religioso durante um retiro espiritual.

Discípulo misionário hoje: alguns apontamentos

Filósofo, historiógrafo Gelson Luiz Mikuszka, cursando mestrado em Teologia na PUCPR (pegelson@hotmail.com), dá algumas indicações. *A tarefa do discípulo missionário é escutar e praticar o que Jesus diz. *É preciso ser consciente das tendências. *Olhar o futuro: já perdemos muito na evangelização por não saber olhar adiante. Discípulo Missionário olha e entende o futuro a partir de duas posturas básicas. A primeira é de autocrítica. Quem conhece o futuro é Deus. *Cristão “antenado” é o que olha para os novos desafios humanos. *Discípulo Missionário erra quando cobra do mundo o repensar dos

A Assembleia de Aparecida expressou desejo de renovação eclesial

paradigmas, mas ele próprio não é sinal. Discipulado é seguimento de Jesus. *Discípulo Missionário é chamado a ter qualidade, não a ser medíocre. *O Discípulo Missionário é instigado a abrir-se a possíveis transformações, sem esquecer sua essência. Precisa saber que tudo começa a partir do Cristo. *Não basta somente crer; precisa-se compreender a fé. *Não adianta “vestir a camisa” de um projeto se não “vestir a camisa” das pessoas desse projeto. *Flexibilidade é peça chave na Evangelização. Flexibilidade não é sinônimo de laxismo ou relativismo. Convicção sim, rigidez não. Quanto mais convicção, mais diálogo. Flexibilidade leva ao diálogo, que leva ao conhecimento e à mudança. Se nos fechamos no rigor e na rigidez matamos a possibilidade de crescimento. *Ser Discípulo Missionário é buscar atitudes de fraternidade, humildade e serviço sem almejar poder. *Discípulo Missionário não olha os outros como concorrentes: vive a diferença na unidade. *Não é mudando as pessoas que se acabam os problemas, e sim a maneira de como tratar essas pessoas. *Precisamos ser Discípulos Missionários em todos os ambientes sociais e nos mais diversos “lugares” da vida pública das nações (cf. CELAM, 2007, n. 548). Somos discípulos de Jesus, mas ainda vivemos como se Jesus estivesse morto. Viver melhor a evangelização não consiste em inventar um novo cristianismo. Mas vivê-lo de modo verdadeiro e em todos os ambientes.

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A S ÇÃO

OLIDÁRIA

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s das missões

ionário é o desafio

elente discípulo. Somente a excelência no seguimento de Jesus – seu exemplo e suas palavras – permitirão a reno, isto é, o Povo de Deus, deveria estar se propondo. É a mesma pergunta que a Instituição, cuja única missão é estar ce dos fins anunciados nos Evangelhos, deveria estar-se fazendo.

Carlo Maria Martini: católico atualizado

Há quem pára no tempo e se empenha para que tros o acompanhem. Suas mentes se esclerosam e enas conseguem viver no passado. Mas também quem está atento aos sinais dos tempos. Assim a o jesuíta Carlo Maria Martini, cardeal papável ra suceder a João Paulo II, mas de cuja indicação dicou, sabendo que dificilmente seria eleito por a posição crítica que perturbava boa parte dos rdeais eleitores. Com sua morte, perde o Vaticano e perde o stianismo. lvez seja do ainda ra ter a real completa mensão do nificado de u exemplo necessáo e inadiál diálogo e ertura. Mas, certo que rompeu as onteiras rídas de sua stituição. seu legado tá dando o e falar. Era Cardeal Martini sinal e tesmunho de uralismo num mundo fechado em ideologias em nflito. Homem de ideias fortes, personalidade tigante e perturbadora dentro de sua própria eja que amava como poucos e, por isso mesmo, o se sentia impedido de expressar suas decepes, como em certa ocasião, em 2008: “Houve um mpo no qual sonhei com uma Igreja na pobreza na humildade... Uma Igreja jovem. Hoje já não nho esses sonhos. Depois de 75 anos, decidi rezar la Igreja”. Seu fortíssimo testamento, publicado em forma entrevista um dia depois de sua morte, não deixa r menos: ”A Igreja ficou 200 anos para trás”. Mas mentava esperança: “Poderemos buscar pessoas e sejam mais livres e mais próximas do povo, mo o bispo Romero e os mártires jesuítas de El lvador. Onde estão entre nós os nossos heróis ra nos inspirar? Por nenhuma razão devemos mitá-los aos vínculos de uma instituição”. E osseguia: “Onde estão as pessoas cheias de gerosidade como o bom samaritano?...Pessoas que ejam perto dos pobres, que estejam cercados por vens e que experimentem coisas novas”.

“Cardeal Martini:

Todos ganhamos muito com o seu legado” Pe José Ivo Follmann sj Vice Reitor da Unisinos

N

o dia do falecimento do cardeal Carlo Maria Martini (31/08/12), o Papa Bento XVI, em sua mensagem, se referiu a ele como um “querido irmão que serviu generosamente ao Evangelho e à Igreja”. Generoso e animado por uma fé vigorosa, Martini traçou um caminho iluminado na Igreja e no mundo de hoje. Soube ser, sobretudo, um homem de diálogo. Segundo o Santo Padre, ele soube ser uma mente muito aberta, nunca se recusando para entabular conversa com qualquer um, respondendo, sempre, generosamente, ao convite do Apóstolo: “Estejam sempre prontos para responder àqueles que vos perguntarem sobre as razões da vossa esperança”. (1 Pe 3:15) O teólogo Faustino Teixeira muito bem caracterizou o testemunho de vida do cardeal Martini, como o de uma “fé que transborda fronteiras”. É de um tremendo simbolismo o fato de o cardeal Martini ter escolhido Jerusalém como sua morada, depois de ter-se tornado emérito como arcebispo de Milão. A cidade de Jerusalém, considerada por Martini como a cidade “do seu primeiro amor”, a cidade onde “Deus toca o mundo”, a cidade “da paz”, na qual também se escancara a dura percepção de que o trabalho em favor da paz envolve, sempre, um “processo doloroso”, tornou-se um espaço simbólico no qual ele se mostra, em sua radicalidade, como homem de um tremendo vigor espiritual. O mesmo espírito que, ao longo de toda a trajetória de Martini, soube elevá-lo acima de querelas mesquinhas, soube também fazer com que enxergasse, com dor, mas com fé, a “cidade da paz”, no meio de um turbilhão de não transparências, tensões, conflitos e ódio entre grupos religiosos. Como jesuíta, quero também testemunhar, pessoalmente, que o companheiro jesuíta Carlo Maria Martini foi e é uma vigorosa luz no meu caminhar. Muito me estimula poder estar dentro de uma opção de vida que foi, também, partilhada por um homem como Martini. É um estímulo e é um tremendo desafio! Creio que posso estender esta minha sensação aos outros meus companheiros jesuítas... Martini continua sendo para nós, jesuítas, um estímulo e um tremendo desafio para sermos, também, mais fiéis à nossa missão de “serviço da fé e promoção da justiça”, sobretudo no que tange ao diálogo cultural, interreligioso e no coração das temáticas mais candentes e de fronteira nos tempos de hoje. Martini foi, sobretudo, um homem de Igreja, no mundo de hoje. Além de grande intelectual, atento a todas as interlocuções e apelos, foi, também, um homem de profundo espírito de caridade pastoral, atento a todas as situações, especialmente, as de maiores dificuldades e, mostrando-se sempre amorosamente próximo aos mais impactados pela pobreza e Pe José Ivo Follmann sj pelo sofrimento. São expressões que com alegria colhemos da linda mensagem do Papa Bento XVI, já mencionada no início. Os meios de comunicação e a grande imprensa dedicaram importantes espaços ao cardeal Martini, apresentando-o como uma das vozes mais progressistas e proeminentes da Igreja Católica. Além de ser um vigoroso e apaixonado estudioso das Sagradas Escrituras, mostrou-se sempre vigilante crítico às posturas pastorais da Igreja, muitas vezes descompassadas com o mundo de hoje. Para os líderes da comunidade judaica, foi um amigo, ponto de referência, homem de cultura, protagonista do diálogo inter-religioso e homem da paz no Médio Oriente. Todos, sem distinções de ninguém, certamente muito ganhamos com o legado da vida do cardeal Martini.


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ABER VIVER

Aprendendo a resolver conflitos Alan Cordeiro

Administrador e consultor em desenvolvimento humano

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abemos que desde que o homem surgiu, observa-se uma série de conflitos em sua vida pessoal e profissional. Muitos estudiosos afirmam que para esse sentimento existir, basta duas ou mais pessoas e pronto: a confusão estará instalada. Com o desenvolvimento do homem, os conflitos também acompanharam tal evolução, pois mudaram não só à intensidade e magnitude, mas também o número de envolvidos.

Na antiga e conhecida gravura do cooperativismo, também o simbolismo da solução de conflitos

Visa e Mastercard

Para gerenciar as situações conflituosas, é preciso usar o bom senso e sensibilidade, pois é imprescindível entender que para cada situação, sempre haverá uma forma positiva para resolver um problema. Observando os diversos trabalhos de desenvolvimento que realizo com grupos de profissionais, nas mais diversas áreas, posso afirmar que as pessoas estão sempre buscando defender suas ideias e ponto de vista como se fossem a única verdade ou opção válida. No momento em que invalidam as informações ex-

Assine O SOLIDÁRIO

ternas apresentadas por outras pessoas, acabam perdendo a oportunidade de adquirir novos aprendizados de comportamentos e, consequentemente, novas formas de lidar com os conflitos. Infelizmente, as pessoas não abrem mão de suas ideias, não apresentam flexibilidade e aparentam estar sempre buscando sua razão com a verdade absoluta segundo suas próprias crenças. É justamente nesse momento em que o outro se comporta exatamente da mesma maneira que o conflito entre ambos surge. Na disputa pelos seus próprios pontos de vista, as pessoas deixam de trabalhar em equipe de forma eficiente, deixam de entregar produtos e serviços em sua máxima qualidade, pois não conseguem aproveitar as qualidades que cada pessoa possui e agregar para um verdadeiro trabalho coletivo. Percebemos, através de ferramentas utilizadas no desenvolvimento em grupo, que

Marciana Maria Bernal - 02/10 Cristina Maria Moriguchi Jeckel - 07/10 Luiz José Varo Duarte e João Dornelles Júnior - 10/10 Arminda Rodrigues Pereira - 12/10 Erinida G. Gheller - 13/10

Albano L. Werlang CRP - 07/00660

TERAPIA DIRETA DO INCONSCIENTE Cura alcoolismo, liberta antepassados, valoriza a dimensão espiritual Vig. José Inácio, 263 - conj. 113 - Centro - POA 32245441 - 99899393

muitas organizações possuem excelentes profissionais, mas que são pouco habilidosos para lidarem com as diferenças e aceitar as ideias contrárias. As pessoas não se complementam, e o pior, acabam gerando conflitos movidos pela emoção e, muitas vezes, tomam decisões erradas. De acordo com Kenneth W. Thomas e Ralph H. Kilmann, em seus estudos sobre conflitos, desde a década de 70 as pessoas lidam de diversas formas diante de situações difíceis. Numa das teses sobre como as pessoas agem em um conflito é possível encontrar cinco estilos diferentes: evitar, conciliar, conceder, colaborar ou competir. O interessante disso tudo é que as pessoas adotam um estilo de comportamento e passam a repetir em todas as áreas de suas vidas. Os estilos mais usados são o de competir ou evitar os conflitos e, quando não demonstram a sensibilidade de utilizar outros comportamentos de acordo com a situação, acabam entrando em uma disputa para estar com a razão e deixam de crescer enquanto pessoas. No meu ponto de vista, o mais importante para qualquer pessoa lidar com conflitos é ter uma boa sensibilidade para usar todos os estilos identificados por Thomas e Kilmann. De acordo com a situação, teremos momentos em nossas vidas em que precisaremos evitar um conflito, mas em outra teremos que nos impor, e assim por diante. Com isso, estaremos aproveitando as situações conflituosas para aprender cada vez mais e sermos pessoas melhores.


Humor

Analfabetismo Ecológico Marcus Eduardo de Oliveira Economista e professor. Mestre pela USP em Integração da América Latina

PERGUNTAS INFAMES E RESPOSTAS MAIS AINDA... - Sabe qual é o cúmulo da rebeldia ? - Morar sozinho e fugir de casa - Por que é que as mulheres não podem ser eletricistas? - Porque demoram 9 meses para dar à luz!

de"

- O que é um "fuio"? - Um "buiaco" na "paie-

- O que você faz quando compra uma moto e não quer ser roubado? - Compra e amarra (Yamaha). O tomate chega ao banco: - A senhora poderia tirar meu extrato? - Por que os guardas andam sempre juntos? - Porque eles são soldados. Duas galinhas conversam: - Ai amiga, ontem estava com uma febre altíssima. - Mas como você sabe? - É que eu botei um ovo cozido! - Conhece a piada do mecânico? - Não tem graxa! P: O Cebolinha estava indo ao cinema com dois pirulitos. Qual o nome do filme? R: Lambo 2

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SPAÇO LIVRE

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e um lado, temos um bilhão de pessoas que passam fome. Desse contigente de famintos, quase 200 milhões são crianças, e destas, mais de 10 milhões morrem, todos os anos, de inanição. Do outro lado, quase 800 grupos corporativos mundiais dominam a cena da intermediação financeira e se regozijam com a "economia da acumulação e da devastação", pouco se importando se, para essa acumulação, são gerados custos ambientais, se o ar é poluído e se as águas são contaminadas. Para essa "turma", detentora do grande e voraz capital, esses passivos ambientais não passam de meras externalidades, ou seja, não são contabilizados nos negócios. Enquanto não mudarmos a forma de produção, respeitando, prioritariamente, os ciclos da natureza, estaremos longe do estado de bem-estar humano real e sustentável e cada vez mais próximos de um crescimento baseado apenas no consumo material que satisfaz uma minoria à medida que dilapida, sobremaneira, o capital natural. É imprescindível combatermos os excessos e entender que progresso humano não pode ser confundido com crescimento material. A Terra não suporta excessos. A crise ecológica, ora vivenciada, que põe a vida de todos em perigo, decorre do erro "patrocinado" por um sistema de economia que, de forma escandalosa, defende um crescimento ilimitado num mundo limitado. Se almejamos obter para nós e para a geração vindoura uma vida mais tranquila e um mundo desenvolvido e equilibrado, urge parar com a diminuição do capital natural. O primeiro passo para isso é criar em todos "consciência ecológica". Essa consciência ecológica passa por eliminar aquilo que Fritjof Capra chama de "analfabetismo ecológico", termo esse que agora vem sendo propagado por Leonardo Boff, alertando que "a maioria das pessoas e, especialmente empresários e gente de governo, vivem na ilusão de que a Terra é uma espécie de baú inesgotável". Esse tipo de consciência se consegue com muita informação transformando isso em conhecimento de causa. Para tanto, desde a base, a partir dos primeiros anos de estudo, é necessário fazer com que nossos alunos entrem em contato com os valores que norteiam as ciências ecológicas. Para isso, temos que desenvolver uma política nacional de educação, uma verdadeira ecoalfabetização, que seja capaz de sensibilizar todos para a importância que representa o sistema ecológico. Nossos alunos precisam ser ensinados que o crescimento econômico deve vir em conjunto com a justiça social e a proteção do meio ambiente. Definitivamente, o homem não pode deixar de ter consciência de que a natureza é a provedora inicial das necessidades humanas. Infelizmente, parece que muitos esquecem que somos parte da natureza e que ela não é composta apenas pelos seres humanos. Todos os seres são interdependentes e formam a comunidade de vida. Pela continuidade da vida com padrões equilibrados e economia justa centrada no paradigma da preservação, conservação e sustentação de toda a vida e, finalmente, pelo fim do "analfabetismo ecológico". Com isso, lá na frente, a vida saberá nos agradecer. (prof.marcuseduardo@bol.com.br - Fonte: http://blogdoprofmarcuseduardo.blogspot.com)

RESERVE O SEU EXEMPLAR O Livro da Família 2013 e o Familienkalender 2013 estarão disponíveis para venda a partir de setembro/2012. Faça seu pedido na Livraria Padre Reus, em Porto Alegre, e também na filial do Santuário Sagrado Coração de Jesus, em São Leopoldo. Fones: 51-3224.0250 e 51-3566.5086 livrariareus@livrariareus.com.br

Sem Fronteiras Martha Alves D´Azevedo

Comissão Comunicação Sem Fronteiras ard on Le

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Corresponsabilidade

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s representantes de 35 países de quatro continentes, reunidos na Rumânia de 22 a 26 de agosto último, na VI Assembleia Ordinária do Foro Internacional da Ação Católica, receberam a mensagem pontifícia que destaca, precisamente, o tema eleito para este encontro internacional: “Leigos de Ação Católica: Corresponsabilidade Eclesial e Social”. Alertando os laicos na corresponsabilidade eclesial e social, o Papa Bento XVI assinala que “nesta fase da história, à luz do magistério social da Igreja”, é cada vez mais necessário oferecer um futuro de esperança à humanidade, guiando o encontro com Cristo. “A corresponsabilidade – afirma o pontífice em sua mensagem – exige uma mudança de mentalidade, citado em especial, o papel dos laicos na Igreja, que devem ser considerados não como colaboradores do clero, e sim, como pessoas realmente “corresponsáveis” do ser e do atuar da Igreja. É importante, portanto, que se consolide um laicato maduro e comprometido, capaz de dar a sua própria contribuição específica à missão eclesial no respeito aos ministérios e às tarefas que cada um tem na vida da Igreja e, sempre em cordial comunhão com os bispos. O Papa exorta aos participantes aprofundar e viver um “espírito de comunhão profunda com a Igreja, característica dos inícios da Comunidade cristã”. Pede a eles que sintam como seu “o compromisso de trabalhar pela missão da Igreja: com a oração, com o estudo, com a participação ativa na vida eclesial, com uma “olhada” atenta e positiva para o mundo, na contínua busca dos sinais dos tempos e, que não se cansem de aperfeiçoar cada vez mais por meio da formação sua peculiar formação de fiéis leigos “chamados a ser testemunhos valentes e credíveis em todos os âmbitos da sociedade, para que o Evangelho seja luz que leva esperança nas situações problemáticas, de dificuldades, de escuridão, que os homens de hoje encontram no caminho da vida”. Bento XVI os recorda também, que suas associações de Ação Católica “podem orgulhar-se de uma larga e fecunda história, escrita por valentes testemunhos de Cristo e do Evangelho, alguns dos quais foram reconhecidos pela Igreja como beatos e santos”. Por isto, lhes faz uma chamada à santidade e à uma vida transparente, “ guiada pelo evangelho e iluminada pelo encontro com Cristo, amado e seguido sem temor”. E, conclui exortando-os a assumir e compartilhar “as opções pastorais das dioceses e das paróquias favorecendo ocasiões de encontro e de sincera colaboração com os outros integrantes da comunidade eclesial, criando relações de estima e comunhão com os sacerdotes por uma comunidade viva, ministerial e missionária, assim como a cultivar “relações pessoais autênticas com todos, começando pela família”, oferecendo sua disponibilidade “a participação a todos os níveis da vida social, cultural e política, tendo sempre como objetivo o bem comum”. OCLAC (Organização Católica Latino Americana de Comunicação) - Mutirão da Comunicação


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GREJA &

COMUNIDADE

Solidário Litúrgico

Catequese

Formando a consciência

30 de setembro - 26o Domingo do Tempo Comum Cor: verde

1a leitura: Livro dos Números (Nm) 11,25-29 Salmo: 18(19),8.10.12-13.14(R/.8a e 9b) 2a leitura: Carta de São Tiago (Tg) 5,1-6 Evangelho: Marcos 9,38-43.45.47-48 Para melhor compreensão dos comentários litúrgicos leia, antes, os respectivos textos bíblicos. Comentário:.Venho ao Líbano como um peregrino de paz, como um amigo de Deus e como um amigo dos homens. “Salàmi õ tïkum”: a paz vos deixo, minha paz vos dou (Jo 14,27). Venho também, simbolicamente, ao encontro de todos os países do Oriente Médio como um peregrino de paz e amigo de todos os habitantes desta região, qualquer que seja sua pertença religiosa e sua fé. Cristo diz a eles e a todos: dou-vos a minha paz. Suas alegrias e sofrimentos estão continuamente presentes na minha oração e peço a Deus que os acompanhe e os alivie. Posso assegurar-lhes que rezo particularmente por todos os que sofrem nesta região e que são muitos. A imagem de São Marón (santo sírio) me recorda o que vós viveis e o que suportais (Bento XVI, na sua recente viagem ao Líbano, setembro/2012). Esta mensagem do Papa tem, hoje, o

aval e teria a assinatura de Jesus, há dois mil anos, com toda a certeza. O Evangelho deste domingo é claro: quando os discípulos querem impedir a pessoas que não eram do seu grupo a falar em nome de Jesus, pois queriam ser os únicos a falar em seu nome e serem os “administradores exclusivos” do seu poder, eles receberam uma histórica lição de ecumenismo e inter-religiosidade: Não, não, não lhes proíbam de falar de mim e expulsar demônios em meu nome, pois ninguém faz milagres em meu nome e, depois, fala mal de mim. Quem não é contra nós, é a nosso favor (cf 9,39-40). Quando será que vamos compreender essa palavra: “Quem não é contra nós, é a nosso favor?” Toda fé religiosa que se fecha sobre seus dogmas e leis institucionais e os quer impor aos demais é seita fundamentalista que não receberia o aval nem a aprovação de Jesus. A fé de quem crê em Cristo deve sempre levar a atitudes de paz e concórdia, em abertura ao perdão e à reconciliação, em dom de ternura e amor que contribua para um mundo mais justo e solidário. Independente de raça, cor, país e, principalmente, independente de crença religiosa. Somos todos filhas e filhos do mesmo Pai que é Amor e quer o bem de todas as suas criaturas.

7 de outubro - 27o Domingo do Tempo Comum Cor: verde

1a leitura: Livro do Gênesis (Gn) 2,18-24 Salmo: 127(128),1-2.3.4-5.6(R/.cf 5) 2a leitura: Carta de S. Paulo aos Hebreus (Hb) 2,9-11 Evangelho: Marcos 10,2-16 Comentário: Como tantas passagens bíblicas, o Evangelho deste domingo nos coloca diante de um tema muito controvertido e que está embutido na frase: Não separe o homem aquilo que Deus uniu (10,9). No caso do casamento, nem sempre um casamento realizado validamente é necessariamente unido por Deus. O casamento é um projeto de amor que os noivos/esposos vão construindo, dia após dia, ao longo de toda a sua vida, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, como diz a fórmula do matrimônio. Não é um ato mágico, mas é processo, é construção, é desejo, é vontade de realizar. Quando os noivos/esposos colocam, neste projeto, honestidade, respeito, atitude e muito amor, aí sim, a graça de Deus vai abençoar sua união e nem a morte os conseguirá separar. No texto do Evangelho, Jesus quer resgatar a dignidade e participação social da mulher e da criança: a mulher, tida apenas como um objeto de prazer para o homem e de procriação para a sociedade; a criança,

economicamente dependente, sem contribuir para o status social do homem. Por isso, para a cultura da época, “justificada” pela religião, mulher e criança eram marginalizadas e classificadas quase como “um mal necessário”, sem direitos, nem dignidade. As coisas mudaram, mas nem tanto. Se olharmos, honestamente, para nossa sociedade, mulher e criança ainda sofrem de marginalização e exclusão, ainda não vivem uma igualdade real com o homem, com o “masculino”. “Feminino” e infância ainda são sinônimos de prazer, de fraqueza, de “inutilidade” prática para a sociedade de consumo. Ainda se separam as pessoas por categorias, masculino/feminino, criança/ adulto. Neste início de outubro, os brasileiros são convocados para eleger seus representantes. Embora mais desejo que certeza, é importante lembrar: a dignidade do voto consciente, que visa ao bem comum de toda a sociedade, não passa pelos interesses pessoais, do partido ou de grupos. Votar bem é votar em pessoas que, na prática de suas vidas, não fazem distinção de pessoas e “não separam o que Deus uniu”: a dignidade essencial e divina de toda pessoa, mulher, homem, criança, jovem... (attilio@ livrariareus.com.br)

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desde a mais tenra idade Marina T. Zamberlan Professora

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e você quer colaborar para mudar a nossa sociedade e para diminuir os crimes, você deve investir na formação da consciência, e este trabalho deve começar na mais tenra idade. Claro que é principalmente em casa que a criança deve receber esta formação, mas a escola e a Igreja também têm esta responsabilidade.

De que forma se dá a formação da nossa consciência moral?

Segundo Piaget, pode-se observar quatro etapas : 1ª Etapa - Anomia = sem lei, sem regras. É a etapa do comportamento puramente instintivo, que se orienta pelo prazer ou pela dor. Nesta fase, a criança não relaciona seus comportamentos com normas morais. No adulto, por exemplo, a pessoa que age puramente pelo prazer que lhe proporciona o que está fazendo, sem qualquer senso de responsabilidade e respeito, nem por si, nem pelo outro ou pelo patrimônio público (um pichador ou um aluno que destrói ou risca uma classe, por exemplo). 2ª Etapa - Heteronomia = lei estabelecida por outros. Nesta fase, a criança obedece às ordens para receber recompensa ou para evitar castigo. Num adulto, pode-se dizer daquela pessoa que observa as leis apenas para não ser punido, mas não porque tem um conceito interiorizado e aceito como verdadeiro e necessário (Exemplo: um aluno não joga lixo, não destrói o patrimônio escolar, só por medo da punição e não por uma convicção própria de que isso está errado). 3ª Etapa - Socionomia = lei interiorizada pelo convívio social. Seria a fase em que os critérios morais da criança vão se firmando por meio de suas relações com outras crianças. Ela vai interiorizando as noções de responsabilidade, obrigação, respeito e justiça. Ou seja, começa a não fazer aos outros o que não gostaria que fizessem a ela. Age buscando a aprovação e evitando a censura dos outros. Seria o caso daquela pessoa que age preocupada consigo mesma, sobretudo com o que os outros pensam dela . 4ª Etapa - Autonomia = lei própria. Nesta fase, a criança, o jovem ou o adulto já interiorizaram as normas morais e passam a comportar-se de acordo com elas. Passam a entender a noção de propriedade, ou seja, compreendem que apropriar-se do que não é deles é errado, é roubo. Por exemplo, está chegando a esta fase um aluno que orienta a sua ação pelas normas estabelecidas, mas também por seus próprios princípios internos de conduta . Esta é a etapa mais elevada do comportamento moral: consiste na internalização da norma, é o autoconvencimento de que a regra é boa e deve ser seguida para o bem próprio e alheio, mesmo que não haja alguém vendo ou controlando. Formar pessoas autônomas é o grande desafio da educação. Cabe aos pais, catequistas e professores propor questionamentos e atividades que colaborem para que a criança ou jovem alcancem, gradativamente, a consciência autônoma, isto é, ajam por convicção, em coerência com os princípios da reciprocidade, da justiça e da solidariedade.


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SPAÇO DA

Congresso de Iniciação Cristã reuniu mais de 300 catequistas de P. Alegre Mais de 300 catequistas das paróquias do Vicariatos de Porto Alegre participaram do II Congresso de Iniciação à Vida Cristã, realizado no Centro de Pastoral durante todo o domingo, dia 16 de setembro. O evento contou com a assessoria da Irmã Maria Aparecida Barboza, ICM, que integra a Comissão Bíblico-catequética da CNBB. Neste ano, o tema do encontro foi “Encantados com Cristo”. O Congresso foi marcado pela interação entre os participantes e a palestrante. Irmã Maria Aparecida trabalhou o tema a partir de uma releitura mistagógica do encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, ou seja, de um “caminho” percorrido pelo cristão em seu processo de evangelização. Para a religiosa, o Vicariato de Porto Alegre já tem uma caminhada de iniciação cristã e o encontro oportunizou um contato com um 'avançar' neste processo. Para ilustrar o tema proposto, duas leituras evangélicas foram utilizadas: o encontro de Jesus com a Samaritana e o encontro com Zaqueu. Com essas passagens a intenção, segundo a Irmã, é dizer que “os catequistas são ministros da Palavra e, por isso, devem estar primeiro encantados por Jesus, convertidos para

fazer do seu ministério uma missão leve, levando o Cristo aos adultos, crianças e adolescentes”, disse. Irmã Maria Aparecida destacou também que a realidade das comunidades também pede especial atenção para os adultos para que sejam inseridos na iniciação cristã. A religiosa lembrou ainda que é preciso melhorar a caminhada catequética para que não se faça desta rica vivência apenas preparação para sacramentos: “Mesmo com 30 anos de catequese renovada no seu jeito de evangelizar, nós ainda anunciamos de forma fragmentada, em preparação para os sacramentos separados. Hoje, com essa nova proposta de reiniciar esse encontro com Jesus, a catequese se volta para essa nova dimensão: É uma luz que desponta. É um novo horizonte nesse avançar catequético, partido de uma catequese mistagógica, bíblica, vivencial e litúrgica. Os catequistas estão entusiasmados”, finalizou. Mistagogia - ‘Mistagogia' é composta de duas partes: ‘mist' + ‘agogia'. ‘Mist' vem de ‘mistério' e ‘agogia' tem a ver com ‘conduzir', ‘guiar'. Podemos traduzir: a ação de guiar para dentro do mistério.

Catequistas das paróquias do Vicariatos de P. Alegre participaram do II Congresso de Iniciação à Vida Cristã

Bênção marca a inauguração da ampliação do Lar Sacerdotal em Gravataí Um espaço para o descanso de quem muito já trabalhou e para o cuidado da saúde – Assim pode ser definido o Lar Sacerdotal, uma casa de acolhida, localizada ao lado do Seminário São José, em Gravataí, que acolhe os padres idosos ou em processo de tratamento de saúde. O espaço foi reformado, ampliado e teve sua inauguração e bênção realizada no dia 10 de setembro. A celebração de bênção das dependências abriu a Assembleia da Associação Fraterno Auxílio. Padres da Dioceses de Porto Alegre, Montenegro e Osório participaram do ato, além de colaboradores e moradores do local. Com a bênção, foi entregue aos presbíteros um espaço de acolhida revitalizado com 497 m2, abrigando 19 quartos, sala de convivência, capela, enfermaria e refeitório. O projeto de ampliação foi aprovado ainda em 2011 e a obra concluída em 2012. Pe. Darley Kummer, presidente da Associação Fraterno Auxílio, destacou que o Lar Sacerdotal é um ambiente de apoio ao clero em suas necessidades: “Nosso coração está aqui no

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RQUIDIOCESE

presente em vista do futuro para que os nossos padres sintam nosso companheirismo. Façamos deste espaço um ambiente de alegria e esperança”, disse. O arcebispo metropolitano de Porto Alegre, Dom Dadeus Grings, referiu-se ao Lar como uma “antecâmara do céu”, uma vez que o espaço acolhe os presbíteros que já se dedicaram ao serviço Pastoral e, agora, aproveitam o tempo para o descanso e intenso cultivo da espiritualidade. Dom Dadeus agradeceu à direção da Casa e a Associação Fraterno Auxílio pelos esforços empreendidos na ampliação e dinamização do local. Após oração, foi procedida a bênção das novas instalações. Dom Dadeus e Dom Paulo fizeram a aspersão por todos os espaços do Lar. Lar Sacerdotal - O Lar Sacerdotal é gerido pela Associação Fraterno Auxílio e é destinada ao acolhimento dos padres e bispos eméritos das Dioceses de Porto Alegre, Montenegro e Osório. O espaço também acolhe os padres que passam por tratamento de saúde e necessitam de atenção especial.

Coordenação: Pe. César Leandro Padilha

Jornalista responsável: Magnus Régis - (magnusregis@hotmail.com) Solicita-se enviar sugestões de matérias e informações das paróquias. Contatos pelo fone (51)32286199 e pascom@arquidiocesepoa.org.br Acompanhe o noticiário da Pascom pelo twitter.com/arquidiocesepoa Facebook: Arquidiocese de Porto Alegre Imagens: Pascom

Aniversário do arcebispo

Dom Dadeus Grings celebrou 76 anos A comunidade católica celebrou o aniversário de 76 anos do arcebispo metropolitano, Dom Dadeus Grings. Uma Celebração Eucarística foi realizada na noite do dia 7 de setembro na Catedral Metropolitana. Padres, religiosos, fiéis, autoridades e lideranças políticas participaram da missa. Em nome da cidade de Porto Alegre, o prefeito municipal, José Fortunati, dirigiu sua homenagem ao arcebispo: "Temos a graça de têlo como nosso dirigente espiritual e que tem desenvolvido esse trabalho fantástico não apenas em porto Alegre, mas no Rio Grande do Sul. Quero, em nome da cidade de Porto Alegre, desejar-lhe saúde e energia para que o senhor possa continuar, com sua sabedoria, orientando a todos nós”, disse. Após a missa, o arcebispo foi hoenageado com um jantar na cripta da Catedral.

NOTAS Adormeceu em Cristo - Com pesar, a Arquidiocese de Porto Alegre recebeu a notícia do falecimento de Zélia Caetano Braum, comunicadora da Rádio Aliança de Porto Alegre, ocorrido no dia 17 de setembro, em decorrência de complicação do seu estado de saúde. Zélia apresentava os programas “Chimarreando com Deus”, “Nova Evangelização” e “Amanhecer na Querência”. Prestou relevante serviço de evangelização por meio dos espaços que ocupou. Fez tudo com doação total e com um amor inesgotável. Dai-lhe, Senhor, o descanso eterno. Amém! Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão - A Celebração Palavra e o Culto Eucarístico foi tema do encontro do Curso para Novos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão do Vicariato de Porto Alegre, realizado no sábado, dia 15 de setembro, no Centro de Pastoral. O seminarista Talis Pagot abordou o tema por meio de uma palestra e destacou que “o estudo da estrutura de uma Celebração da Palavra, destacando seus aspectos práticos, "é importante para os futuros ministros porque este será o seu dia a dia nas muitas capelas e comunidades que têm a Celebração da Palavra como o encontro dominical”, afirmou.


Porto Alegre, outubro de 2012 - 1a quinzena

Sete de outubro

Preparados para o voto consciente?

Certamente, peca-se mais por omissão e não por ações. Omissão na caridade, omissão na solidariedade, omissão no amor. E, provavelmente, muitos católicos e cristãos pecarão por omissão no dia da eleição: votando em branco, anulando o voto ou apenas votando por votar. E aí, como fica o ato de confissão da missa – o confiteor? Basta simplesmente pedir perdão ‘por atos e omissões’ e ficará tudo bem? Votar é um dever cívico. Mas, mais ainda, um dever cristão. Por isso, urge preparar-se para esse importante dia da cidadania que não admite o voto inconsciente. Voto não é mercadoria. Votar é ter a convicção de que se faz a escolha certa, baseado em plano de governo sensato, coerente e com os pés no chão. É saber que o dia da eleição é apenas o início de um processo e que o título eleitoral vale mais ainda depois.

Educação política

Não adianta a indiferença eleitoral e depois reclamar dos eleitos. Voto não tem preço: tem consequência. Mas dificilmente a formação política consta em currículos escolares. Não se passam noções sobre como fazer escolhas criteriosas de candidatos dispostos e preparados para nos representar nos poderes legislativo e executivo. Raramente o eleitor sabe de seu papel na sociedade ou está consciente de que tem direito a ser sujeito e não objeto da história, pois é assim que muitos candidatos o tratam. Nem todos os políticos são iguais: há bem intencionados. Escolher um mau prefeito ou vereador pode se traduzir em piora de qualidade de vida na cidade. Acima de tudo, o candidato deve ter um passado limpo. Como saber? Não bastam os programas eleitorais nas emissoras de rádio e tv: parecem ser todos iguais. Infelizmente, são quase as únicas fontes que se tem. Mas nada impede que se confronte projetos e ideias do candidato em quem se pretende votar com a realidade econômica dos cofres públicos. Ou se em mandatos anteriores cumpriu o que prometeu. Dá um pouco de trabalho, mas vale a pena.

Despedida do presidente da Coca Cola "Imagine a vida como um jogo em que você esteja fazendo malabarismos com cinco bolas no ar. Estas são: seu Trabalho – sua Família – sua Saúde – seus Amigos e sua Vida Espiritual, e você terá de mantê-las todas no ar. Logo você vai perceber que o Trabalho é como uma bola de borracha. Se soltá-la ela rebate e volta. Mas as outras quatro bolas: Família, Saúde, Amigos e Espírito, são frágeis como vidros. Se você soltar qualquer uma destas, ela ficará irremediavelmente lascada, marcada, com arranhões, ou mesmo quebradas, vale dizer, nunca mais será a mesma. Deve entender isto: tem que apreciar e se esforçar para conseguir cuidar do mais valioso. Trabalhe eficientemente no horário regular do escritório e deixe o trabalho no horário. Gaste o tempo requerido à sua família e aos seus amigos. Faça exercício, coma e descanse adequadamente. E, sobretudo... Cresça na sua vida interior, no espiritual, que é o mais transcendental, porque é eterno. Shakespeare dizia: "Sempre me sinto feliz, sabes por quê? Porque não espero nada de ninguém. Esperar sempre dói. Os problemas não são eternos, sempre têm solução. O único que não se resolve é a morte. A vida é curta, por isso, ame-a! Viva intensamente e recorde: Antes de falar... Escute! Antes de escrever... Pense! Antes de criticar... Examine! Antes de ferir... Sente! Antes de orar... Perdoe! Antes de gastar... Ganhe! Antes de render... Tente de novo! ANTES DE MORRER... VIVA!"

Imagens: Divulgação

Cinquentenário do Instituto S. Francisco

Arquivo pessoal

Sessão Solene na Câmara de Vereadores de P. Alegre, dia 11 de setembro último, marcou os 50 anos do Instituto S. Francisco. “A base da educação se dá na família, mas a escola tem papel importante e fundamental quando amplia e complementa estes valores. O São Francisco educa para o futuro, desenvolvendo a capacidade e a espiritualidade humana em um ambiente seguro e acolhedor, buscando manter pais e professores integrados na educação dos seus filhos", afirmou João Carlos Nedel, proponente da homenagem. A Rede de Escolas S. Francisco – Matriz, Zona Sul, Santa Família, Santa Fé e Cachoeirinha tem 2.600 estudantes, dos quais, 300 com bolsas integrais e 200 com meia bolsa. “Gostaríamos de fazer mais", disse, na ocasião, Vitor Luiz Hinrichsen, diretor pedagógico e representante do Instituto.

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