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Porto Alegre, 1.º a 15 de setembro de 2008

Ano XIV - Edição No 521 - R$ 1,50

O Brasil nas Olimpíadas: o que faltou? Bispo católico ficou detido durante os jogos de Pequim Giulio Jia Zhiguo, bispo de Zhending, ficou em prisão domiciliar e vigilância contínua durante os jogos olímpicos de Pequim. A prisão ocorreu durante uma celebração de missa - para a qual tinha permissão das autoridades - na Catedral de Wugi, província de Hebei (norte do país). Bispo de uma diocese com 110 mil fiéis e várias dezenas de sacerdotes e freiras, para Mons. Zhiguo estar preso não é novidade. Passou 15 anos na prisão, entre 1963 e 1978. E nos últimos anos foi detido e libertado pelo governo chinês 11 vezes. A última prisão resultou de uma medida decretada pelo Executivo para evitar tensões. Os católicos da China estão divididos entre os que pertencem à Igreja oficial - controlada pelo poder - e a clandestina, em comunhão com Roma, mas não autorizada pelo governo.

Excetuando o futebol masculino, os demais atletas brasileiros estão sendo poupados de criticas por falta de empenho nas olimpíadas de Pequim. Mas reina grande insatisfação com os organizadores da numerosa delegação e os responsáveis pelo esporte olímpico no País que são duramente cobrados pelo insucesso. O que deve ser feito para, daqui a quatro anos, reverter esse quadro?

Páginas centrais

Meio século de pároco

Bem jovem, magrinho, jeitão tímido e humilde. Assim ele se apresentou à comunidade da paróquia no dia sete de setembro de 1958, designado pelo seu bispo D. Vicente Scherer. E foi com essa mesma humildade que conseguiu dar conta de sua primeira missão: concluir a construção da nova igreja, iniciada pelo seu antecessor, prematuramente morto em acidente de trânsito. O novo templo foi inaugurado em 12 de outubro de 1961. Soube e continua sabendo dividir responsabilidades e tarefas com os leigos. Extenso seria o inventário completo de sua presença dinâmica no bairro durante meio século: visitas a enfermos, batizados, primeiras comunhões, confissões, casamentos, ações de benemerência e solidariedade aos mais necessitados. E é com essa mesma disposição jovem, humildade, espírito conciliador e exemplo de oração que lidera e anima toda a vida paroquial que conta com 40 grupos ativos. Assim é Monsenhor Máximo Inácio Benvegnù, há 50 anos pároco da Igreja Nossa Senhora Auxiliadora, em Porto Alegre.

Solidário

Veja anúncio na página 2

O Jornal da Família aceita propaganda de candidatos a cargos eletivos.

Rede de Escolas S. Francisco recebe prêmio internacional A entrega ocorreu durante o V Congresso Iberoamericano em Honra à Qualidade de Ensino, em Guayaquil, Equador. A comenda foi recebida pelo diretor da rede, Pe. José Luiz Schaedler (foto). Página 8

APEDIDO

Votar em NEDEL é a segurança da continuação de um trabalho intenso por temas importantes para você: x x x x x x x x

Princípios e valores cristãos Defesa da família Promoção da saúde Promoção da segurança Promoção do desenvolvimento Promoção do turismo Presença nas comunidades Muito trabalho pela cidade

A FORÇA DAS NOVAS IDÉIAS Comitê: Rua Luciana de Abreu 272 – M.Vento – Fone 3264.9137 - Site: .www.nedel.com.br

CianMagentaAmareloPreto

Jovem tem vez O Solidário inicia nesta edição a destacar o mundo jovem através de entrevistas com representantes desse segmento. Hoje, nossa entrevistada é Larissa C. Simão, 15 anos (foto ao lado) que, na página 2 está revelando suas idéias e opiniões.


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cidadania

Jovem tem vez

Editorial

Esporte, uma opção política

U

ma análise tranqüila, mas objetiva, do desempenho do Brasil nas olimpíadas da China se faz importante e necessária neste momento. Dizer, simplesmente... “é, fomos mal; mas também não somos um país olímpico” e dar-nos por satisfeitos, não é uma atitude digna, nem cidadã. A questão nem é tanto ser ou não ser um país olímpico e competir com a China e os Estados Unidos em número de medalhas, mas sim, resgatar o espírito olímpico e o que significa oferecer condições para que nossos jovens, imbuídos deste espírito, possam exercer a solidariedade em competições abertas e gratuitas em espaços disponibilizados pelo poder público. Aqui se resgata o que os antigos gregos repetiam e praticavam: mens sana in corpore sano... uma mente sadia num corpo sadio. Esta é, também, uma opção política, da boa e verdadeira política, sempre a arte do bem comum. Poucas vezes na história da humanidade se faz tão urgente e necessário oferecer aos jovens espaços onde possam desenvolver suas inatas tendências sociais e relacionais. E nada como a prática esportiva para desenvolver esta tendência natural. O esporte, estimulado nas famílias, nas comunidades e na sociedade, e promovido pelo poder público, é uma exigência de primeira ordem para nosso país. Repetimos e acentuamos: o desenvolvimento do esporte é uma questão de opção política que se realiza pelo incentivo massivo dos esportes amadores e pela multiplicação de praças esportivas. Neste incentivo massivo, os meios de comunicação têm um papel fundamental e um compromisso com a sociedade à qual devem servir. O Solidário, jornal a serviço de uma juventude sadia em famílias sadias, traz o tema nas páginas centrais desta edição. Uma nova Diocese é um acontecimento da Igreja que é preciso ser lembrado. A reportagem do Solidário se deslocou até Montenegro, sede da 18ª Diocese do Rio Grande do Sul, que estará acolhendo seu primeiro bispo no dia 6 de setembro. Assim, esta Diocese, que se desmembra da Arquidiocese de Porto Alegre, dá início às suas atividades como igreja particular autônoma. Dom Paulo Antônio de Conto, filho de Encantado e que vem da Diocese de Criciúma/SC, parece ter por sina e saga ser um organizador de Dioceses: ele foi primeiro bispo da Diocese de Cáceres e, logo, de Criciúma. Duas outras Dioceses estão acolhendo seus novos titulares neste fim de agosto: dia 24, o franciscano Dom Irineu Gassen assumiu a Diocese de Vacaria e Dom Antônio Rossi Keller está assumindo a Diocese de Frederico Westphalen no domingo, 31 de agosto. Com a assunção destes novos bispos, todas as Dioceses do Rio Grande do Sul têm seus titulares (contracapa). Estão se multiplicando iniciativas de párocos que incentivam e disponibilizam aos seus paroquianos a leitura do Solidário. Hoje trazemos a iniciativa do Pe. Erni Recktenwald, da paróquia Santa Catarina, na zona Norte de Porto Alegre (contracapa). O Solidário quer trazer, em todas as edições, um breve relato de cada comunidade paroquial, iniciando com as paróquias de Porto Alegre e, logo, oferecendo espaço também para as paróquias do interior do Estado. attílio@livrariareus.com.br

Fundação Pro Deo de Comunicação Conselho Deliberativo Presidente: Dom Dadeus Grings Vice-presidente: José Ernesto Flesch Chaves Voluntários Diretoria Executiva

Diretor Executivo: Jorge La Rosa Vice-Diretor: Martha d’Azevedo Diretores Adjuntos: Carmelita Marroni Abruzzi e José Edson Knob Secretário: Elói Luiz Claro Tesoureiro: Décio Abruzzi Assistente Eclesiástico: Pe.Attílio Hartmann sj

A partir desta edição, Solidário reserva espaço para o jovem e suas opiniões. Se quiser participar, envie nome e e-mail para jlarosa@terra.com.br , para ser entrevistado(a). Entrevista com Larissa C. Simão, 15 anos. Solidário - Quem és tu? Meu nome é Larissa Carcuchinski Simão, tenho 15 anos, estudo no Colégio Farroupilha e estou no segundo ano do ensino médio. Tenho um irmão que é 11 meses mais velho, chamado Juliano, e o Matheus que é 4 meses mais velho, um primo que mora comigo há 4 anos mas que é mais do que um irmão pra mim. Sou gremista, amo futebol, mas meu esporte mesmo é o handebol. Jogo há 5 anos e não troco esse esporte por nenhum outro. Nos fins de semana, gosto de sair com os meus amigos, ver filmes, ficar no computador, ir a festas e jogar quando há campeonato. S - O que pensas fazer no futuro? Quando acabar a escola pretendo fazer um intercâmbio para aperfeiçoar o meu inglês. Ainda não tenho certeza da profissão que quero seguir, mas sonho em fazer medicina. Depois de decidida profissionalmente, desejo constituir uma família. S - O que mais gostas em teus pais? Meus pais são para mim um grande exemplo. Meu pai e minha mãe sempre foram muito trabalhadores, e o

principal, muito solidários. Eles sempre estiveram prontos para ajudar quem fosse. Tanto é que há quatro anos meus pais se ofereceram para cuidar do meu primo, que não tinha condições de ter uma infância e adolescência dignas. E no ano passado, uma amiga da família veio morar aqui também, por questões econômicas. Eu os admiro muito por serem quem são. S - O que não gostas em teus pais? Tem dias que meus pais chegam estressados em casa, e acabam se irritando muito facilmente com meus irmãos e comigo. Acho que eles, às vezes, são muito brigões e exigem demais da nós três, mas no fundo eu sei que nós também fazemos por merecer. S - Quais são os assuntos que mais conversas com teus/tuas amigos(as)? Converso de tudo um pouco com as minhas amigas. Sobre festas, estudos, notícias, esportes, colégios entre outros. O importante mesmo é poder sempre poder contar com elas e falar sobre qualquer assunto. S - Fala sobre tua religião. Sou católica, mas principalmente pelas convicções dos meus pais. Acredito em Deus e o que ele representa, mas não concordo com tudo que o catolicismo prega. Não valorizo o culto aos santos, por exemplo. Mas, na verdade, o que realmente importa é a fé que tenho em Deus, e suas lições de solidariedade e igualdade.

Pe.Maurício da Silva Jardim

discípulo(a) de Jesus é convidado a tomar a cruz de cada dia. Somos tentados, como o mestre, a descer da cruz. “Se és Filho de Deus desce da cruz”. Escolher caminhos de facilidade, prazer, poder e vida cômoda, será sempre nossa tentação de descer da cruz, fugindo da dor, dos desafios e sofrimentos. Estou tendo esta graça e coragem de acolher uma vida mais simples e desapegada. De compartilhar o que sou com os pobres e abandonados da África. Como já afirmei, vou na coragem dos que já foram. Creio que não irei sozinho. De alguma forma estaremos unidos pela oração, amizade e compromisso com a causa dos mais pobres. Todos que participam um pouco de minha história de vida estão me enviando. Não irei em meu nome, mas em nome da Trindade como diz meu lema de ordenação: “Enviado pelo Trindade, a servir com alegria”. Agradeço a Igreja de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, nas pessoas de Dom Dadeus Grings e Dom Jaime Kohl, do setor missionário da CNBB pelo apoio e prioridade a causa missionária. A minha comunidade de origem de Sapucaia do Sul e a paróquia N.Sra do Caravaggio que acolheu junto comigo este sopro do Espírito. A pastoral de juventude, minha escola missionária. A família, que mesmo sem compreender esta decisão, será junto comigo presença solidária no continente africano.

Vocação e missão

A vocação tem a ver com identidade, aquilo que realmente somos. Podemos acolher ou negar nossa identidade. Acolhendo, vivemos a experiência de dar sentido à vida e negando vivemos o vazio de sentido em buscas equivocadas de felicidade. A vocação missionária é uma espécie de semente lançada em nós no batismo, com todas as potencialidades para dar muitos frutos. É nossa identidade mais profunda. Faz parte de nosso ser. Somos missionários por natureza, mas é ao longo do caminho que vamos identificando mais e mais, o que realmente somos chamados. Em minha experiência, percebi a força do Espírito do Senhor que me convoca e envia em missão a nossa Igreja irmã de Moçambique, África. É um chamado irresistível que exige certa radicalidade. Vai crescendo em mim a consciência de que este apelo vem do Espírito de Deus. Pessoas e situações foram instrumentos que facilitaram o discernimento para descobrir este chamado “ad gentes”. O DVD, produzido pela Rede Vida do Estado e apresentado para os padres no retiro com Dom Jaime me ajudou muito na decisão. Nele uma mulher diz que: “não há verdadeira alegria sem passar pelo sofrimento”. Achei muito profunda esta afirmação. É isto mesmo, sem cruz não há ressurreição. O

Chegou Ano XIV – Nº 521 – 1.º a 15/09/08 Diretor-Editor Attílio Hartmann - Reg. 8608 DRT/RS Editora Adjunta Martha d’Azevedo Revisão Nicolau Waquil, Ronald Forster e Pedro M. Schneider (voluntários) Administração Paulo Oliveira da Rosa, Ir. Erinida Gheller, Izolina Pereira (voluntários), Elisabete Lopes de Souza e Davi Eli Redação Jorn. Luiz Carlos Vaz - Reg. 2255 DRT/RS Jorn. Adriano Eli - Reg. 3355 DRT/RS Impressão: Gazeta do Sul

Rua Duque de Caxias, 805 – Centro – CEP 90010-282 – Porto Alegre/RS Fone: (51) 3221.5041 – E-mail: solidario@portoweb.com.br

LIVRO DA FAMÍLIA 2009 Livraria Padre Reus está oferecendo a edição do Livro da Família/2009. Adquira seu exemplar ou faça seu pedido no endereço abaixo, que teremos a maior alegria em atendê-lo. Também o Familien-Kalendar/2009 está disponível. Lembrando: a Livraria Padre Reus é representante das Edições Loyola para o sul do Brasil.

Livraria Editora Padre Reus

Caixa Postal, 285 - Duque de Caxias, 805 - Cep 90001-970 Porto Alegre/RS - Fone: (51)3224.0250 - Fax: (51)3228.1880 E-mail: livrariareus@livrariareus.com.br Site: http://www.livrariareus.com.br


1.º a 15 de setembro de 2008

família e sociedade

A formação do caráter dos filhos *

Quais objetivos na vida temos para nossos filhos? Que façam uma carreira brilhante? Que formem uma família? Que se destaquem em algum esporte? Que dominem uma arte como a música? Que sejam ricos? Estes objetivos, na verdade, são apenas meios para um objetivo maior: SEREM FELIZES.

Como ajudar os filhos a serem felizes?

Dando oportunidade para que, não só desenvolvam suas habilidades da inteligência, mas também a vontade (o caráter). Caráter é a aquisição de hábitos bons e virtudes que possibilitam à criança implementar (pôr em prática) as decisões positivas e corretas, escolhidas pela inteligência. Queremos formar crianças que queiram ser amigas, queiram estudar, queiram falar a verdade, ou seja, queiram fazer o bem. Crianças de caráter são mais equilibradas e felizes, porque têm força de vontade para se superarem e vencer frustrações e problemas. A educação do caráter é também a melhor prevenção contra drogas.

Inteligência + Caráter = Felicidade

Quando devemos começar a educar o caráter de nossos filhos? Desde o nascimento. A criança começa a absorver e a adquirir hábitos bons desde o nascimento, através do exemplo dos pais e pessoas que convivem com ela. A criança será mais feliz na medida em que conseguir tomar decisões de forma correta. Para isto ela precisa ter inteligência para conhecer as alternativas que levam ao bem e precisa ter caráter para implementar as alternativas escolhidas, isto é, para traduzir na prática, com atos concretos, o que aprendeu de bom. Queremos crianças inteligentes que coloquem seus talentos a serviço dos demais. * Escola Infantil A&D

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Aspectos rejeitados em nossa personalidade Paula Previato Roja

M

Psicóloga

Fotos: Divulgação

uitos aspectos em nossa personalidade são rejeitados por nós mesmos. Rejeitamos a inveja, a cobiça, o orgulho, a vaidade e muitos outros sentimentos que nós mesmos consideramos inadequados. Parte da referência desta inadequação vem de fora, da sociedade, da família, dos amigos, dos padres e tantos outros que nos dizem o que é certo e o que é errado. E eles estão certos, pois precisamos destas referências para construir uma personalidade sadia.

Tudo em nossa vida tem o lado positivo e o lado negativo

Precisamos pensar em algo: tudo em nossa vida tem o lado positivo e o lado negativo. Todos os aspectos de nossa vida e nossas características de personalidade também têm. Por exemplo, vamos falar da inveja. Será ela sempre negativa? Não haveria ali um elemento motivador? Uma parte da inveja que nos leva a conquistar coisas novas em nossa vida? O lado negativo seria aquele destrutivo, em que uma pessoa percebe, em outra, algo que admira e que gostaria muito de obter, mas acredita que não vai conseguir. E não falo aqui apenas de coisas materiais, mas daquelas características subjetivas da personalidade, como a paciência, a educação, ou uma conquista profissional e pessoal. É negativa quando percebemos alguém tentando destruir a conquista do amigo com comentários depreciativos, críticas e, muitas vezes, com atitudes destrutivas. Mas como seria o lado positivo desta inveja? É simples, será que eu não poderia utilizar a conquista do meu amigo como referência para eu alcançar os mesmos objetivos? Será que eu não poderia ver nele uma possibilidade de eu seguir o mesmo caminho? Talvez até em parceria, por que não? O orgulho muitas vezes nos impede de ir até o amigo e conversar com ele sobre sua

conquista e mostrar interesse em fazer igual, pedir sugestões e ajuda. Esses pensamentos ocorrem em geral de forma inconsciente, ficam armazenados em lugar chamado por Jung de “Sombra”. Ali guardamos todos os sentimentos e idéias que consideramos negativos, mas esquecemos que há também o lado positivo em tudo isso. Então, precisamos recuperar estas partes “perdidas” e com isso assimilar o que tem de positivo em cada uma delas. Isso proporcionará grande ganho à nossa personalidade como um todo, pois teremos assim mais recursos para o nosso desenvolvimento pessoal.


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opinião

Supremo desastre

Vencer a qualquer preço Carmelita Marroni Abruzzi

O

Jornalista e professora universitária

desfile das delegações, na abertura da Olimpíada de Pequim, nos trouxe uma curiosa dupla: o atleta de mais de 2m e 20cm de altura e o menino de nove anos, caminhando de mãos dadas. O apresentador nos descrevia a dupla: o atleta nascera da união, ao que parece “estimulada”, de dois atletas gigantes que produziriam um filho também gigante, para levar seu país à vitória, numa certa modalidade de esporte. O menino preso nos escombros do último terremoto conseguiu libertar-se e retornar duas vezes, com o risco de ser soterrado, para salvar seus companheiros; na sua simplicidade, ele disse que era o monitor do grupo e que aquele era seu dever! O fato nos remete a um ponto central: o que é válido fazer, para alcançar a vitória, seja no esporte, no mundo do trabalho ou em nossa vida particular? A que se assiste hoje em dia? No mundo dos esportes, os atletas precisam de muita disciplina, fazem muitas renúncias e, até, sacrificam sua vida afetiva para alcançar a vitória! Leio (Folha de São Paulo, 20/07/08), por exemplo, que a Confederação Brasileira de tênis de mesa pretende enviar à China crianças entre oito e 10 anos de idade para começar o treinamento com vistas à Olimpíada de 2016! Lá, viverão rotina semelhante à das crianças chinesas, que se iniciam nesse esporte, muito cedo, longe de suas famílias. As crianças brasileiras passarão pelo menos um ano longe de seu país. Como se sentirão, essas crianças, jogadas, de repente noutro país, numa cultura desconhecida e tão diferente? E essas crianças nem sequer têm idade ou discernimento para optarem e entenderem bem o que as espera naquela terra longínqua! Como ficará seu desenvolvimento afetivo, seu convívio familiar e a integração a seu grupo social? Valerá a pena sacrificar tudo isto e, até, um possível equilíbrio emocional, em prol de um hipotético e distante título olímpico? Fala-se que os comitês olímpicos começam a se preocupar com técnicas para detectar modificações genéticas, pois se levanta agora a questão de, através delas, aumentar o desempenho do atleta e garantir-lhe invencibilidade. Conhecemos os benefícios do esporte. Sabemos o quanto ele pode favorecer a interação das pessoas com seu grupo e, até, em nível mundial, o que pode significar para a maior integração e conseqüente fraternidade entre os povos. Quando praticado de acordo com normas sadias, o esporte faz bem ao corpo e ao espírito, ajuda na recuperação de pessoas, de crianças e jovens marginalizados. Mas há limites: é preciso analisar até onde vão seus benefícios e onde começa uma competição acirrada, na qual a gente tudo sacrifica para vencer e na qual se esquecem aspectos importantes de realização pessoal. E essa mentalidade se estende a outros setores da vida, em especial ao mundo do trabalho onde, para subir, pisa-se em tudo e ignora-se a quem se machuca. A solidariedade é esquecida, na ambição da conquista. Sempre haverá um espírito de competição, todos queremos melhorar posições e salários; faz parte da natureza humana o querer progredir, superar-se. Entretanto, será que nessa busca não estamos tentando destruir os outros e atropelando tudo à nossa frente? Se desejamos paz e harmonia, num mundo em que a dignidade da pessoa humana seja respeitada, precisamos refletir sobre o que envolve essa questão de “Vencer a qualquer preço” e, pensando na dupla do desfile da delegação chinesa, podemos nos interrogar e responder: - Quem, na realidade, era gigante: o menino que arriscou sua vida para salvar seus companheiros ou o atleta, “construído” para marcar pontos e levar seu país à vitória?

Antônio Mesquita Galvão Filósofo e Doutor em Teologia Moral

P

or volta de 1980, quando morei no nordeste, ocorreu por lá um conjunto de fatos insólitos que passo a dividir com meus leitores. Um padre italiano, Vito Miracapillo, que trabalhava em uma comunidade de Recife se negou a celebrar uma missa no dia 7 de setembro, alegando que o povo não tinha motivo nem liberdade para celebrar. Era um tempo de fétida ditadura, e um deputado pernambucano, Severino Cavalcanti (PDS-PE), se não me engano, pediu a expulsão do religioso por desrespeito à “soberania nacional”. O fato transitou pelas cortes, acabando por se concretizar, após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal). O pedido de anistia do padre ainda tramita até hoje. Ele quer voltar ao Brasil, não como turista, mas definitivamente, e retomar o seu trabalho missionário. Na época, foram entrevistar outro religioso, o padre Reginaldo Velloso, que trabalha no Recife até hoje, para saber o que ele achava da expulsão do colega. Usando de uma linguagem intimorata, Velloso classificou a expulsão de Miracapillo como “um supremo coito venal”. Foi o que bastou para ele ser preso. Na realidade, aquele coito violentou a expectativa de democracia do povo. O incidente, pelo autoritarismo, fez e faz rir muita gente até hoje. Mas este não é o centro do assunto. Eu – como aliás a maioria dos brasileiros – sempre imaginei que o Supremo era a corte judiciária de mais elevada credibilidade, uma das poucas entidades sérias, nas quais anelos de ética e de justiça do povo pudessem repousar e ter segurança de apreciações isentas. Que engano! Recentemente, o STF brindou a nação com algumas ati-

tudes no mínimo desastradas. A primeira delas foi a libertação do banqueiro Daniel Dantas. Acossado pelo clamor geral, ele foi preso duas vezes pela Polícia Federal, prisão esta confirmada por um Juiz Federal. Quem ficou no prejuízo foi o ator global Daniel Dantas, confundido com o homônimo, que anda por aí livre, leve e solto. Não é porque alguém tem dinheiro ou prestígio que deve receber tratamento privilegiado, e sair da prisão rindo de todos. O segundo desastre, assim como o terceiro, é recente. O STF decidiu que os candidatos a cargos eletivos, mesmo aqueles que têm a vida pregressa mais suja que pau de galinheiro, pudessem homologar suas candidaturas. Era a hora de se passar o Brasil a limpo. Se você ficar devendo para o Imposto de Renda seu nome sai na “lista negra”. Se tiver pendências com a justiça pode se candidatar a ser um representante do povo. Quem podia corrigir esse engano era o Congresso, mas a eles não interessa a proibição nem a divulgação dos nomes dos salafrários, pois iria atingir gente da casa. Assim, vai ficar tudo na mesma. O terceiro “engano” correu por conta da liberação do uso de algemas para “alguns” presos. Não, não se assuste: os ladrões de galinha, o faminto que rouba comida no mercado, os menores infratores esses vão continuar sendo algemados e indo no camburão. O “supremo” liberou das algemas apenas o pessoal do “colarinho branco”, os “doutores”, banqueiros e figurões políticos. Embora a Constituição reze que “todos são iguais perante a lei”, alguns são credores das benesses legais. Olhando tudo isto, e plagiando o padre Reginaldo, não é difícil afirmar que a lógica social do país continua sofrendo “supremos coitos venais”, nem o quanto estamos desprotegidos.

De onde viemos?

J.Peirano Maciel

O

Médico

s cientistas, sempre curiosos e afeitos a meter-se em labirintos, questionam e pesquisam sobre o enigma da origem do Universo e sobre nossa própria origem. Como realmente pouco se sabe sobre isso, as teorias são muitas e contraditórias.A explicação do Gênesis de que em seis dias foi criado o mundo e tudo o que existe, provocará, num “bom”cientista, uma também boa risada e uma retirada estratégica da discussão. Contudo, se entre os seis dias citados interpusermos um ou vários milhões de anos, trabalhados por um processo evolutivo ininterrupto e casa vez mais complicado, quem sabe veríamos um sorriso aflorar nos lábios do sábio pesquisador? Não vamos, entretanto, prosseguir nesse caminho. Vamos noutra direção. Mas não perderei a oportunidade de fazer uma pergunta curiosa: por que os cientistas, empenhados nessa pesquisa, não se interessam, ou pouco o fazem, em questionar ‘para onde vamos’? ou ‘quem somos nós’? No contraponto dos fatos, tanto os filósofos, quanto os teólogos, como também qualquer homem consciente,diante dessas perguntas, usam sua inteligência, há milênios, para respondê-las, porque, convenhamos, o sentido da vida está em jogo. Recentemente, uma conhecida revista semanal dizia: a ciência está perto de descobrir a origem de tudo que existe! No início, era uma pequena semente de matéria que explodiu e libertou uma descomunal quantidade de

energia, ocorreu o famoso ‘big bang’, dando início à formação do Universo. Antes do ‘big bang’ ninguém sabe o que existia, e, depois dele, aceita-se que tiveram lugar grandes jorros de partículas que ocuparam trilhões de quilômetros. A respeito dessa cosmogênese, atualmente um grande esforço está sendo efetuado,muito ousado,em uma máquina que alguns chamaram “máquina de brincar de Deus”,o LHC(sigla em inglês para Large Hadron Collider), instalado em Genebra.Os cientistas querem encontrar o”bóson de Higgs”, partícula fundamental que, em tese, dotou todas as outras de massa, logo depois do ‘big bang’ O LHC está instalado a cem metros abaixo da superfície da terra, tem 27 km de circunferência, uma fantástica tecnologia, custou 8 bilhões de dólares e foi construído em 14 anos. É um colossal acelerador de partículas. Em outubro de 2008 entra em funcionamento. Se fracassar na busca do “bóson”, outra teoria deverá ser construída como alternativa ao ‘big bang’. Assim marcha a ciência, com uma teoria sucedendo à outra,num ingente trabalho, de custos altíssimos, a ponto de muitos cientistas se interrogarem: valerá a pena? A nós, não cabe responder. Quem somos nós e para onde vamos? Belas perguntas, de conteúdo profundo, com respostas inúmeras, da filosofia com seus sistemas, da teologia com seus dogmas, das ciências com suas teorias, da vida prática com suas vivências existenciais. Que

o homem seja resultado da evolução darwiniana, com mutações e saltos quânticos, passando antes pelo chimpanzé, é o que quer a moderna biologia. Que temos parentesco material e morfológico com a escala biológica, pelo nosso conteúdo em proteínas, glicídeos, hormônios, H20, cálcio, etc, são fatos incontestáveis. Que matéria e energia são intercambiáveis e universais, parece não haver dúvida. Entretanto, que diferença abismal entre um chimpanzé e um homem. A presença em nós da consciência, que nos diz ‘eu sou, eu quero, eu sou livre’ que nos permite ver, sentir, intuir, julgar, conhecer, falar, propriedades de um ser que, desde o início de sua vida, foi dotado de algo grandioso, chamado espírito. Amar é o destino desse ser único, espírito encarnado, obra daquele que chamamos Deus, criador do universo. A História da espécie humana, tão rica e, ao mesmo tempo, tão complexa, com grandiosos feitos, mas também com grandes tragédias, num contexto de fatos os mais diversos,essa História é o grande testemunho da nossa Liberdade,dom espiritual.Ela nos mostra como o homem pode ser grande, vejam-se as figuras dos Santos, enaltecidos em grande livro por Bérgson. Foram a plenitude do amor. Não olvidemos os grandes artistas, os mestres da música e da poesia. Não esqueçamos os homens comuns, tão crentes e sustentáculos das famílias. Conhecendo, assim, essa insólita criatura, admitiremos que se trata apenas de um chimpanzé evoluído?

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educação e psicologia

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O que pais e professores precisam saber

Atividades da inteligência: o conhecer e o memorizar Jorge La Rosa

Foto: Sanja Gjenero

Professor universitário. Doutor em Psicologia

A informação é a matéria-prima da inteligência. Se não há informação, não há trabalho intelectual. Ela é mediada pelos sentidos: Aristóteles já dizia que não há nada no intelecto que não tenha passado pelos sentidos. Daí o cuidado que se deve ter com as crianças a respeito de sua visão e audição, ao iniciar o ciclo formal de aprendizagem. Às vezes, uma deficiência de aprendizagem pode ser simplesmente uma limitação visual ou auditiva. Sanando-se esta, aquela desaparece. Os professores e pais estarão atentos ao detalhe...

Tipos de informação

A informação pode vir de diversas formas: quando vejo um quadro de Di Cavalcanti, ela vem sob a forma visual; quando escuto uma composição de Tom Jobim, trata-se da forma auditiva; quando observo as notas musicais impressas de determinada melodia, a informação me é dada na forma simbólica; ao ler uma crônica de Drummond ou um texto de Gabriel Marcel a informação aparece na forma semântica, ou seja, as palavras são portadoras de significados; finalmente, não no sentido de esgotar as maneiras de a informação se apresentar, mas para o presente propósito, quando alguém ri gostosamente estou percebendo que essa pessoa está feliz – a informação que ela proporciona é através de seu comportamento, no caso, a risada. A escola, através dos diversos campos de conhecimento, trabalha a informação nas mais variadas formas, e isso proporciona o desenvolvimento cognitivo dos alunos. O que faz a inteligência com a informação? Segundo o autor que nos serve de guia no momento, J. P. Guilford, cinco são as atividades da inteligência relativas à informação.

O conhecer

A primeira atividade ou operação é o conhecimento. Conhecemos a lei da gravidade no campo da física, pela qual os corpos são atraídos para o centro da terra, aprendemos a calcular a área de um triângulo, a formar o plural das palavras, os motivos que levaram Dom Pedro I a proclamar a independência do Brasil e as suas circunstâncias; aprendemos, ainda, o nome de plantas e de árvores, as características dos seres vivos e o que os diferencia dos seres inanimados, enfim, o conhecimento possível não tem limites...

O memorizar

A segunda operação da inteligência é o armazenamento da informação, a cargo da memória. Se não retemos a informação, se o conhecimento adquirido de alguma forma não permanece em nós, então qual a sua serventia? Para que investir tanto na tarefa do conhecer? Houve época em que a memória foi um tanto desvalorizada: era considerada atividade de segunda categoria. Um povo sem memória é um povo sem passado, quer dizer, sem raízes, sem história; uma pessoa sem memória encontra-se na mesma situação, e nos casos mais graves caracteriza enfermidade. O que aconteceu no passado é que se considerava a memória como simples atividade de reprodução do conhecimento, o que se chamava de decoreba, muitas vezes sem a apropriação dos significados daquilo que era retido. A criança tem essa memória de modo extraordinário, em pouco tempo aprende uma canção ou poesia, embora não saiba o significado de muitas palavras nem a mensagem ou conteúdo básico daquilo que decorou. Há outro tipo de memória, aquele que consiste no armazenamento inteligente da informação, e não simplesmente reprodução mecânica. É a informação que é ancorada em outra informação; uma informação solta, sem relações, a médio prazo é perdida, quando não o é no curto prazo: é preciso uma rede de conhecimentos para que nela seja inserida a nova informação, constituindo, então, um sistema ou um todo significante. Este é o tipo de memória que pais e professores devem estimular nos seus filhos/alunos, além de desenvolverem em si mesmos. Por exemplo, ao ensinar a calcular a área de um quadrado, ao invés de dar

simplesmente a fórmula, o professor pedirá aos alunos que desenhem um quadrado de cinco cm de lado, e, após, o dividam traçando linhas verticais e horizontais distantes um cm uma da outra. Em seguida solicitará que eles contem o número de quadradinhos de um cm2 no quadrado maior. Eles encontrarão 25 quadradinhos, o que significa que o quadrado maior tem 25 cm2 de área. O mestre mostrará que tal resultado se encontra também multiplicando-se lado vezes lado ou elevando o lado ao quadrado. O professor, no caso, relacionou a estratégia de calcular a área de um quadrado à atividade prática de dividir o respectivo em quadradinhos menores, e contá-los. É para entender e não esquecer... O professor e os pais inteligentes ancoram a informação nova em informações já existentes no aprendiz, para que ocorra o processo de assimilação do novo conhecimento. Há outros tipos de atividades da inteligência. No artigo, abordamos dois.


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tema em foco

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Olimpíadas de Pequim: as medalhas que não vieram

uinze medalhas das 959 conferidas. Esse o retorno da participação brasileira nas últimas olimpíadas da China e que custou cento e sessenta milhões de reais em verbas públicas e mais de 400 milhões de reais, investidos por empresas de capital misto e privadas. Com uma delegação de 277 atletas e numerosa ‘equipe técnica e burocrática’ toda patrocinada com dinheiro público – para dizer o mínimo – o 23º lugar na classificação geral na 29ª edição das olimpíadas da era moderna, para a maioria dos brasileiros, está muito aquém do esperado. Embora vacilantes em momentos decisivos - faltando apenas o detalhe para a vitória e um posto no pódio - a maioria dos atletas parece que deu o melhor de si nas disputas de habilidade, velocidade, força a estratégia na busca de alguma medalha. Por isso, o alvo das críticas mais contundentes - disfarçadas na grande mídia, mas escancaradas em milhares de manifestações expressas nos vários formatos da internet – são os integrantes do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e, por tabela, os órgãos públicos em todos os níveis de administração responsáveis pela concepção e execução das políticas de educação e prática do esporte olímpico.

Momento político oportuno O que estaria faltando para não ‘morrer na praia’ naquelas modalidades em que o Brasil estava indo bem? Como reverter essa falta tradição em olimpíadas e pouca cultura nacional para o esporte olímpico? Bastaria investir em infra-estrutura e então descobrir e desenvolver talentos naturais? O que esperar para Londres em 2012? O que deve mudar já para, quem sabe, até brilhar nas olimpíadas de 2016 que poderão ser no Brasil? Democratizar oportunidades esportivas para todos seria uma forma inteligente de desviar do caminho das drogas e sanar causas da violência da juventude brasileira em vez de apenas combater as conseqüências? São questões que deveriam estar incluídas nas plataformas de governo e propostas de ação dos milhares de candidatos a vereador e prefeito nas eleições daqui a 30 dias. É nos municípios que iniciam as mudanças de rumo.

Brasil e Olimpíada Rodrigo Ghinato Daoud

L Um país que cai sentado e chora

Porque não somos olímpicos Lauro Quadros

O

Jornalista

Brasil não é só o país da piada pronta. É, também, a pátria do improviso. E nos orgulhamos disto. É bem conhecida aquela do sujeito que assistia ao violonista virtuoso e observou para um amigo: “Ele toca tudo isso e não conhece uma nota!” Como se fosse uma vantagem. Imaginem se o tal violonista conhecesse todas as notas! A reação não surpreende. É bem brasileira. Como aquela outra: “Larga esse livro, guri, e pega uma bola.” Enquanto aqui deixa-se de estudar para praticar esporte. Nos Estados Unidos, ao contrário, universidade e prática esportiva estão combinadas. É bom o exemplo norte-americano para que não se conclua que o totalitarismo e não a democracia viabiliza mais facilmente o sucesso nas competições. Claro que na antiga União Soviética, como na Alemanha Oriental, ou mesmo Cuba, havia o interesse pela propaganda do regime e o Estado se mobilizava na formação de atletas selecionados desde o útero, quase eugenicamente, com perfis adequados para esta ou aquela modalidade. Se este for o preço em troca da liberdade, não vale a pena. Nos dois casos, na democracia ou no totalitarismo, a base de tudo é a educação, tão pouco valorizada aqui no Brasil. Com educação se melhora a saúde, a segurança, tudo. Quem não se choca ao observar o que o povo joga de lixo no Arroio Dilúvio? Isto combina com educação, disciplina, país olímpico? Certa vez, na Suíça, atravessávamos a rua e uma idosa veio ao nosso encontro (ou seria de encontro a nós?) brandindo a sombrinha. Demoramos a entender até ela apontar um toco de cigarro que um de nós jogara no chão. Ele estava ali, fumegante, como o único elemento estranho e poluidor na vastidão do asfalto. Educação, ou a falta de educação. Isto é que faz a diferença. Apesar de tudo, aprendi a amar o Brasil e a desenvolver minha estima por ele. Não temos aqui apenas do que nos envergonhar. Nesta hora do diagnóstico, porém, na busca das razões para mais um fracasso olímpico, que irá se repetir, não há como contemporizar. Somos, ainda, o país da monocultura, o futebol, ou, com um pouco de boa vontade, de alguns esportes coletivos, como o basquete antes ou o vôlei agora. E iniciativas individuais elogiáveis, como Maria Esther Bueno ou Gustavo Kuerten. Ou os abonados da vela. Ou o moço do ouro da natação que precisa passar três anos treinando nos Estados Unidos. Ou na comovente saltadora Mauren Maggi. Ou nos heróis do judô. Ela, sem dinheiro para comprar um quimono, vestiu um de saco de farinha costurado pela mãe. Ele, não dispunha de 1.500 reais para trocar de faixa marrom pela preta durante 11 anos. Falha o Estado? Sim. E a iniciativa privada, também. E é neste cenário melancólico que nos candidatamos a sediar a Olimpíada de 2016. Não conheço contradição maior. A Copa do Mundo de futebol (2014) bom, esta, sim, combina conosco. Mas a Olimpíada... A menos que estejamos invertendo = como não chegamos lá, eles que venham até aqui. E resolve?

James Pizarro

S

Professor universitário aposentado*

ou tomado de profunda melancolia ao contemplar o desempenho do Brasil nas Olimpíadas e constatar nossa colocação no quadro de medalhas...comparar nosso país com os países que estão à nossa frente. Fico triste ao ver que na nossa seleção olímpica de futebol existem jogadores que ganham milhões e milhões de dólares, enquanto representantes do nosso judô choram e são humilhados por não ter dinheiro para pagar o exame de faixa preta. Fico irado ao ver o Galvão Bueno, nas transmissões da Globo, enaltecer delirantemente “o gênio mágico” do “fenômeno” Phelps, nadador norte-americano...e não falar no mesmo tom do nosso nadador Cielo, este sim, um fenômeno. Fenômeno porque treinou seis horas por dia nos três últimos anos, numa cidade do interior dos EUA, sustentado pelos próprios pais e pela generosidade de alguns amigos, pois não recebe um auxílio oficial. Fico depressivo ao contemplar na TV nossas minguadas medalhas de bronze. E fico pensando que, de cada mega-sena e outras loterias oficiais, o governo paga apenas 30 % do arrecadado ao ganhador e propaga que os outros 70 % são destinados a isso ou aquilo, sem que a gente possa fiscalizar com nitidez essa aplicação. Estou por completar 66 anos. E desde pequenino tem sido assim. Lembro do Ademar Ferreira da Silva, nosso bicampeão olímpico do salto tríplice que foi competir tuberculoso! E jamais me sairá da mente o olhar de estupor de Diego Hipólito caindo de bunda no chão no final da sua apresentação, quando por infelicidade e questão de dois segundos deixou de subir ao pódio. E de suas lágrimas pedindo desculpas, quando ele não tem culpa de nada. Das lágrimas de outros atletas brasileiros dizendo que não deu. Pedindo desculpas aos familiares e ao povo. Meus Deus! Será que vou morrer vendo um povo que só chora e pede desculpas? Será que vou morrer num país que se estatela de bunda no chão, enquanto os políticos roubam descadaradamente e as CPIs não dão em nada? Será que vou morrer num país que se contenta com o assistencialismo e o paternalismo oficiais? Até quando, meu Deus!? *Fonte: internet

O Brasil e as Olimpíadas: o espelho de suas contradições Rodrigo Stumpf González

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Cientista político e professor universitário

cada quatro anos vemos a repetição da mesma situação: o Brasil vai às Olimpíadas, cheio de esperanças, com a projeção de vitórias quase certas e retorna com algumas surpresas positivas e muitas decepções. E a mesma pergunta: por que não fazemos parte do seleto grupo das potências olímpicas que contam as medalhas às dezenas e não às unidades? A distribuição das medalhas nas últimas três Olimpíadas nos dá uma resposta: medalhas custam caro, e não apenas as de ouro. Dos dez países melhor colocados no quadro de medalhas, sete se repetem, em diferentes posições, em Sidney, Atenas e Pequim são também potências econômicas, o que garante a capacidade de investimento econômico, tanto de infra-estrutura como de patrocinadores, públicos ou privados, dos atletas de alto rendimento. Neste mundo não há espaço para amadorismo. Os atletas vitoriosos são transformados em milionários, com polpudos contratos de publicidade de marcas esportivas a carros de luxo. Claro que existem as exceções. Cuba mantém um destaque nos esportes muito maior que se poderia prever com seu PIB. O mesmo acontece com algumas ex-repúblicas soviéticas, como a Ucrânia e Bielo-rússia. Mas este é o resultado de décadas de investimento estatal em centro de treinamento e programas de apoio a atletas, cuja recompensa é tornarem-se heróis populares. A contradição brasileira é que aqui convivem lado a lado estes dois mundos. O dos atletas profissionais multimilionários e a dos heróis populares que saem do anonimato no momento de uma conquista baseada na superação dos limites impostos pela realidade social, só que sem o investimento estatal. Mas estes são poucos, como são poucas as medalhas conquistadas. Tornar-se uma potência no esporte não é uma tarefa para uma década, mas para gerações. A China colhe hoje o investimento de vinte, trinta anos atrás. E não foi o resultado de um investimento isolado em alguns atletas escolhidos a dedo pelos patrocinadores. Sem enfrentar os desafios de políticas de saúde e educação para todos não teremos a base necessária para formar noves gerações capazes de competir em igualdade de condições com as grandes potências esportivas. O problema do Brasil não é, portanto, investir para tornar-se um celeiro de atletas fantásticos. Primeiro ele tem de conquistar a justiça social. Se isto for possível, as medalhas virão com o tempo.

Doutorando em Medicina/UFRGS*

üdinghausen, Alemanha, é uma cidadezinha de cerca de 20 mil habitantes. Na escola em que lá estudei, pública, como quase todas naquele país, há um ginásio com três quadras poliesportivas. Nelas, há aparato necessário para se montar a maioria dos aparelhos de ginástica olímpica. Além desta modalidade, ao longo do meu ano estudantil, tive aula de judô e natação. Isso mesmo, natação. As escolas de Lüdinghausen tinham convênio com a única piscina do município, e os alunos freqüentavam o local nas aulas de educação física. Rio Grande, RS, 200 mil habitantes, local onde nasci, 10 vezes maior que Lüdinghausen, não tem nenhum local onde se possa praticar ginástica olímpica. O mais próximo disso são as argolas que existem nas pracinhas de recreação infantil da cidade, ao lado dos balanços e gangorras. Pista atlética para prática de atletismo também não há. Minhas aulas de educação física, em escola particular, eram um recreativo de futebol, quando o professor nos concedia uma bola e nos ordenava a distribuir, nós mesmos, os times. Diante desse quadro, fica fácil perceber o porquê da nossa coleção de fracassos olímpicos a cada quatro anos. Em Atenas, conseguimos parcos cinco ouros: disparado nosso melhor desempenho. Nesta edição, pioramos. Justamente porque dependemos do acaso. Acaso de haver Daianes dos Santos descobertas numa praça. Dos Cielos conseguirem ir treinar nos EUA... Assim como nosso desenvolvimento depende do acaso das crises internacionais, ou da falta delas. O fato é que não temos estrutura para competir. Nossa mídia, a cada Olimpíada, enche-nos de esperança quanto às perspectivas do Brasil, em vez de debater as razões pelas quais não devemos tê-las. O esporte reflete nosso país, sem estrutura para formar cidadãos que possam, por si sós, desenvolver esta nação, e não dependermos de períodos entre crises para vencermos. Por que somos potência no futebol? Porque temos muitos praticantes deste esporte: ele é de fácil acesso. E quando um jovem se destaca na várzea, os clubes se encarregam do resto. Pois façamos isso com todos os nossos jovens! Em vez de gastarmos bilhões organizando uma Olimpíada, construamos ginásios, pistas atléticas etc. nos nossos centros urbanos. Ofereçamos aos nossos alunos, após um turno de período letivo, não terem de ir para casa assistir televisão ou rumar para as drogas, mas a chance – como currículo escolar – de se tornarem nossos futuros atletas. Aí, sim, poderemos nos dar ao luxo de ter esperança no Brasil. Não só nas Olimpíadas, é claro. Voltando à Alemanha: com menos da metade da população do Brasil e com o território um pouco maior que o do Rio Grande do Sul, ficou em quinto nos jogos de Pequim. Com apenas um pedacinho de Alpes no seu extremo sul, conseguiu o primeiro lugar geral nas últimas Olimpíadas de Inverno. E, por lá, o professor de educação física é chamado de senhor e só precisa de um único emprego. *Fonte: internet


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INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SÃO FRANCISCO RECEBE PRÊMIO INTERNACIONAL EM EXCELÊNCIA E QUALIDADE EM EDUCAÇÃO A Rede de Escolas São Francisco, entidade de ensino católica e caráter filantrópico, cuja Mantenedora é a Sociedade Beneficente Educacional São Cristóvão, pertencente a Arquidiocese de Porto Alegre, recebeu através do Instituto de Educação São Francisco, no dia 07 de agosto, o Prêmio Iberoamericano em Excelência Educativa. Os altos índices de corrupção, de carência de Valores, da destruição da família, da frustração profissional e de outros problemas, revelam que os sistemas educativos atuais fracassaram e por isso se faz necessário e primordial iniciar uma verdadeira mudança na Educação. É necessário mudar a concepção da Educação como simples transmissão de conhecimentos, esquecendo de formar o ser humano em todas as dimensões: física, mental e espiritual, integrado na sociedade e responsável pelo meio ambiente. Devemos, portanto, oferecer uma Educação Integral e para toda a vida. Neste sentido o Conselho Iberoamericano identifica e envolve os líderes da Educação Iberoamericana, para compro-

metê-los a trabalhar juntos neste novo projeto. É um espaço para discutir e difundir os novos conceitos e ampliar a participação de todos os agentes envolvidos na Educação de nossos povos. Neste ano foi realizado o V Congresso Iberoamericano, na cidade de Guayaquil no Equador. A Rede de Escolas São

Francisco, através do seu Diretor Geral Pe. José Luiz Schaedler e dos Diretores Pedagógicos do Instituto de Educação São Francisco – Professor Vitor Luiz Hinrichsen e da Escola de Ensino Fundamental São Francisco, Zona Sul – Pe. Alexandre Luiz Griebler, foi escolhida no Rio Grande do Sul para participar deste evento. Mais de 30 países tiveram lá seus representantes. Este evento congrega os melhores na área de Educação por ser um Congresso Iberoamericano em Excelência Educativa.

Grandes Temas foram abordados no Congresso, como: a realização dos ser humano; a educação para valores; escola e família; a educação e espiritualidade; o perdão como manifestação de uma vida plena; valores na educação integral para formar seres humanos felizes, sadios e prósperos; a qualidade dos centros educativos; educação para a felicidade; transformação no ser, pensar e atuar... e outros de fundamental importância que atualmente em nossos sistemas de ensino não aparecem. O Evento Internacional aconteceu nos dias 05 de agosto a 09 de agosto na cidade de Guayaquil, Equador e teve 350 instituições participantes – entre Escolas de Educação Básica, Universidades e outras Instituições ligadas ao Ensino. O Instituto de Educação São Francisco recebeu os prêmios Máximo Galardão – um Troféu em Honra a Excelência Educativa Iberoamericana; o Certificado de Membro de Honra do Conselho Iberoamericano em honra a Qualidade Educativa por ter completado as formalidades para sua incorporação e, também, recebeu o Certificado

Internacional de Excelência Educativa pela importante trajetória e qualidade de ensino na busca da excelência na Educação. As Escolas da Rede São Francisco tem como missão: “educar para o futuro desenvolvendo a capacidade e a espiritualidade humana, num ambiente seguro e acolhedor.” Atua na Educação Infantil, no

Ensino Fundamental, Médio e Técnico, com relevante compromisso social. Próxima aos 50 anos de história, mantém-se fiel ao compromisso de educar homens e mulheres que exerçam seu papel familiar e profissional, visando construir uma sociedade justa e fraterna e com a mística de educar com a Graça de Deus para formar seres humanos felizes, sadios e prósperos.

Prêmio Iberoamericano em Excelência Educativa

PE. JOSÉ LUIZ SCHAEDLER RECEBE PRÊMIO DE DOCTOR HONORIS CAUSA DE IBEROMERICA

O Pe. José Luiz Schaedler, Diretor Geral da Rede de Escolas São Francisco, Instituto de Educação São Francisco, Escola de Ensino Fundamental - Santa Fé, São Francisco - Zona Sul e São Francisco - Cachoeirinha, participou do V Congresso Iberoamericano em Honra a Qualidade de Ensino, em Guayaquil, Equador, que reuniu os Líderes em Educação de todos os países do Continente Americano, Portugal e Espanha, recebeu o título de Doctor Honoris Causa, em virtude de seu destacado profissionalismo, de sua capacidade de dirigir e levar ao aperfeiçoamento a qualidade e excelência educativa em Iberoamérica. O Conselho Iberoamericano em Honra a Qualidade Educativa no uso de suas faculdades que lhes correspondem e amparado nas disposições internacionais vigentes concede o título ao Pe. José Luiz, conforme resolução 279/2008, o outorgamento do Título Honorífico de Doutor Honoris Causa de

Iberoamérica. Para as Escolas São Francisco, pertencentes a Arquidiocese de Porto Alegre, é um incentivo para continuar educando crianças, adolescentes e jovens. Desde o falecimento do Monsenhor Roberto Roncato em 1996, a condução das Escolas passou para o Pe. José Luiz, que já agregou mais duas instituições de ensino, a Escola São Francisco Cachoeirinha, a Escola São Francisco Zona Sul e, além disso, o Curso de Formação Profissional (Técnico) e o Centro Social São Francisco. Pe. Schaedler também é Reitor do Santuário Nossa Senhora de Fátima e Pároco da Paróquia Estudantil. Já recebeu Troféu Clave de Sol – qualidade e tecnologia em Educação no Mercosul em 1999 e 2007; o Título de Líder Comunitário concedido pela Câmara Municipal de Porto Alegre em 2000 e o Prêmio Homens e Mulheres de Ouro – destaque educacional em qualidade e tecnologia em educação concedido pela Associação dos Empresários do RS, SC e PR.

Pe. José Luiz Schaedler

Junto com o Título Doctor Honóris Causa Pe. José Luiz Schaedler recebe também em seção solene e por unanimidade, do Conselho Internacional em Honra a Qualidade de Ensino, o Título Honorífico de Máster em

GESTÃO EDUCATIVA em Iberoamérica, reconhecendo assim suas conquistas profissionais, seu admirável trabalho em favor da Educação e por sua destacada liderança institucional na sua região.


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espaço aberto

Universidade promove Feira das Profissões Conhecer melhor as profissões e os cursos de graduação pode ajudar na difícil escolha que representa o vestibular. Com esse intuito, a PUCRS promove, nos dias 12 e 13 de setembro, a edição

2008 da “Feira das Profissões”. A atividade tem entrada franca e será realizada das 9 às 22 horas, no Centro de Eventos da Universidade, prédio 41 do Campus Central (avenida Ipiranga, 6681 APEDIDO

- Porto Alegre). A Feira das Profissões é coordenada pelo Programa Futuros Calouros, da Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários da Universidade (Prac), e apresentará aos futuros universitários os cursos oferecidos pela PUCRS, por meio de ações que esclarecerão as características de cada um deles, além de proporcionar bate-papo com os professores e estudantes. Dentre as atividades previstas, há o Simulado, que será realizado no dia 13 de setembro (sábado), das 9 às 12 horas. As vagas são limitadas e as inscrições devem ser feitas pelo site www.pucrs.br/eventos/feiradasprofissoes até 8 de setembro. Os inscritos que realizarem a prova do Simulado terão desconto especial de 50% na inscrição para o próximo Vestibular de Verão. A Universidade também oferecerá transporte para todas as escolas da Capital interessadas em visitar a Feira. Informações pelo telefone 33203708de setembro.

Para você, meu amor C.H.

A teu sorriso, abro meu coração. Na tua presença, descubro meus limites. Na tua diferença, descubro um outro lado... Tu és outro e meu coração está em ebulição. Eu acreditava conhecer-te, mas tu ainda me escapas. Eu acreditava ter-te encontrado, mas tu não estás mais lá. Para nós se abre o mundo, os outros, a criança. Por tua presença eu posso renascer. Para nós dois, encontraremos a Esperança, Juntos cresceremos no amor. Eu te amo e quero amar-te para sempre. Que Deus nos guarde neste Amor...

ASSINANTE Ao receber o DOC renove a assinatura. Dê este presente para a sua família.

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Sem fronteiras

Posse de terra na fronteira Martha Alves D´Azevedo

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Comissão Comunicação Sem Fronteiras

oticia divulgada em dezembro de 2007 informava que crescem as áreas em posse de estrangeiros. Entidade ligada às Forças Armadas, o Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (CÉBRES) alertava que se o governo quisesse mesmo identificar e mapear o poderio das Organizações Não Governamentais (ONG), de atuação suspeita na Amazônia, teria de colocar uma lupa potente no crescimento das transações fundiárias na região. Agora, em junho último, uma noticia informa que o Planalto pede levantamento sobre posse de terra na fronteira nacional. Pela Constituição Brasileira, a compra, posse ou uso da terra na fronteira por pessoas de outras nacionalidades, depende do consentimento prévio do governo. Representando 27% do território nacional, as propriedades nesta faixa pertencem à União. Contudo, a posse de terras por estrangeiros está disseminada em todo o país e, de maneira bastante suspeita, nas fronteiras do território nacional. No cadastro de imóveis rurais do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), há 5,5 milhões de hectares registrados em nome de pessoas de outras nacionalidades em todos os Estados brasileiros. Mato Grosso tem a maior área sob controle de não-brasileiros: são 754,7 mil hectares e 1.377 propriedades. São Paulo apresenta o maior número de títulos concedidos a pessoas de outro país: 11.424, totalizando 505,7 mil hectares. O Rio Grande do Sul aparece na 11ª posição entre os Estados, com maior área adquirida por pessoas ou grupos do exterior. São 105,1 mil hectares e 2005 propriedades. O que nestes números representam as terras de fronteira? Quem conhece as fronteiras do Rio Grande do Sul sabe o numero de estrangeiros proprietários de terras e nelas residentes. Podemos então imaginar o que acontece na fronteira do Brasil com a Colômbia, onde 1.500 km estão praticamente sem controle, podendo ser invadidos pelos vizinhos ou por ONGS internacionais, que defendem interesses que naturalmente não são os do Brasil. Segundo Rolf Hackbart, presidente do INCRA, a área realmente sob controle estrangeiro pode ser cinco vezes maior do que apontam os números oficiais.

Visa e Mastercard


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igreja e comunidade

Catequese solidária

Voz do Pastor

Teatro, excelente recurso para

Organizações não-governamentais

transmitir a mensagem cristã* A criatividade, a fantasia, a imaginação, a curiosidade estão (ou deveriam estar) presentes no teatro infantil. Entretanto, este recurso deve ser utilizado na catequese para todas as idades. O teatro é um meio de comunicação muito importante em todas as culturas pelo seu poder de levar a mensagem apresentada à interiorização. Para bem aproveitar o teatro na transmissão da Boa Nova de Jesus, não podemos perder de vista que nada será mais importante do que a própria mensagem. É para que ela chegue, seja assimilada e caia em cada coração, que devemos trabalhar. Se perdermos este objetivo de vista, tudo o mais perde o sentido e será apenas mais uma exibição. Vejamos alguns pontos importantes: Construção do texto : todo teatro parte de um texto que pode ser uma passagem bíblica, um conto infantil adaptado para atingir o objetivo catequético/evangelizador, uma história inventada, etc. Em alguns casos, torna-se necessário o papel do narrador. O importante é não esquecer elementos que caracterizam o teatro infantil e atraem a atenção das crianças, tais como: Dinamismo / Movimento / Participação do público; Diálogos curtos com vocabulário de fácil compreensão; Música/ Sonoplastia; Suspense / Surpresas; Humor; Fantasia / Figurino / Cenário sugestivo; Curta duração. Mesmo não sendo um ator, todo catequista pode (e deve) usar o recurso do teatro. Aqui vão algumas dicas: Desinibição Descontração / Naturalidade / Não temer o ridículo / Sair de si para assumir o outro / etc. Oficina: Você é Maria recebendo a notícia do anjo. / Você é Zaqueu, subindo na árvore. / Você é Golias..., tomando uma pedrada de Davi. / Você é Jonas, sendo engolido pelo peixe. / Todos nós somos as águas na hora da tempestade. / E agora, somos as águas da tempestade acalmada. Improvização Observar as várias possibilidades. / Fazer com o que se tem na hora. / Às vezes, basta um gesto ou um acessório. / Não cair na mesmice. A improvisação requer conhecimento do todo e não pode atrapalhar a continuidade. Expressão corporal Corpo: há inúmeras possibilidades de expressão. / O corpo fala: pelas mãos; pelos ombros; pelas pernas... Basta você começar a treinar! Chama-se “fazer laboratório”. Oficina: Você é um leão!/ Você é um soldado./ Você é um moleque levado! / Você é uma criança muito educada./ Você é um macaco! Você é uma árvore./ Você é um jovem, cheio de ginga. / Você é um velhinho cansado./ Você é uma velhinha irritada. Expressão facial Rosto é cartão de visitas! Denuncia o que sentimos e até o que pensamos. Observar no espelho as várias possibilidades de cada parte (sobrancelhas, olhos, boca, nariz...). Oficina: Cara de assustado; cara de felicidade; cara de desconfiado; cara de muito irritado; cara triste; cara de nojo; cara de desanimado; cara de quem ama Jesus. Expressão vocal Voz: canal por onde passam sentimentos/emoções. / É preciso evitar falas mecanicamente decoradas e procurar passar, pela voz, o sentimento presente: alegria, preocupação, tristeza, medo, segurança, dor... É preciso evitar vozes estridentes, que irritem os ouvidos ou prejudiquem a comunicação da mensagem. Usar pausas, quando necessário, para chamar a atenção, ou altos e baixos; graves e agudos, para variar de homem para mulher; de adulto para criança; procurar imitar a voz dos animais. Construção das Personagens Construir uma personagem é somar todos os pontos acima e aplicá-los ao papel a ser desempenhado. E mais, é procurar caracterizar da melhor forma possível a personagem, através de figurino e/ou acessórios. Obs.: O figurino não deve atrapalhar ou impedir o movimento e a expressão, pois já sabemos que o mais importante é a mensagem. * Resumido de “Catequese Católica”

Dom Dadeus Grings

A

Arcebispo Metropolitano de P. Alegre

tuação desastrada dos atravessadores da sociedade leva a preconizar uma sociedade mais justa e solidária. A primeira tentação é a de fortificar o Estado. Passar para ele toda essa incumbência: saúde, educação, segurança, amparo jurídico etc. O Estado defenderia seus súditos em todos os aspectos. Bastaria melhorar o sistema previdenciário, depurar o modelo educativo, eliminar os atravessadores em todos os ambientes, substituindo-os por agentes credenciados, às expensas do Erário. Seria, em outras palavras, estatizar todas as instituições. O erro desta tentativa, que se demonstrou frustrante nos países socialistas, sempre que foi tentada, está no fato de colocar o indivíduo diante do Estado. Torna o sistema anônimo. Sem rosto. O cliente é apenas um número. Uma peça a ser tratada. Conseqüentemente, torna-se desumano. A emenda pior que o soneto! Lembremos novamente o artificialismo desta solução: o indivíduo é uma abstração. Não existe em si. Ele é membro de uma família. É ali que convive e ali toma suas decisões. Se a família está em crise e perdeu suas funções institucionais, é preciso ampará-la e procurar nela a saída para os problemas sociais. Alguém é considerado abandonado não quando não tem Estado, mas quando não tem ninguém por ele: quando não tem família. Os judeus, por exemplo, prezam tanto a família que, mesmo ficando ‘sem terra, sem chefe, sem lei, sem direitos e sem segurança’ não desarticulam. Conta-se que certa senhora perguntou a uma mãe judia acerca da idade de seus dois filhos, que ela estava levando pela mão. A resposta foi: o advogado, à minha direita, tem três anos, e o médico, da esquerda, tem dois. A família prepara seus filhos para o futuro. Mas como a família moderna é insuficiente e não está mais em condições de exercer as funções institucionais que, tempos atrás, eram suas, criaram-se organizações intermediárias. Elas devem absorver e exercer estas funções, pelo menos em parte. Se elas não surgirem ou se não formos capazes de criar organizações fortes, o ser humano ficará isoladamente diante do Estado todopoderoso, sob a mediação impiedosa de um sem número de atravessadores. Os organismos intermediários, muitos dos quais hoje recebem a sigla de ONGs, devem estar próximo das famílias e seguir seu modelo. São sua extensão. Não podem limitar-se a congregar indivíduos. Devem ser, ao contrário, associações de famílias, para ampará-las e fortalecer as relações primárias. Elenquemos alguns destes organismos, de acordo com as funções

institucionais, que a família patriarcal exercia. É evidente que a função biológica, que está em rápido decréscimo na família, não pode ser transferida para nenhum organismo e muito menos para os laboratórios Transmitir vida humana só pode acontecer e ser permitido dentro da família. Não será mais o critério da natureza; de tanto ousar quanto puder! Toda família deve planejar-se de acordo com suas condições: ter tantos filhos quantos possa sustentar e educar convenientemente. Ali entra, em pleno, a responsabilidade familiar. Gerar filhos fora do matrimônio não pode ser razoavelmente permitido em nenhuma sociedade, não só os motivos religiosos e morais, mas pela própria responsabilidade humana pela vida. A função econômica, devido à complicação dos meios de produção e de movimentação dos bens, não pode mais ser exercida plenamente pela família. Ocupa ali seu lugar a empresa. Também esta deve ser de porte humano, tanto na organização, – lembrando que o operário não é puro funcionário, ou seja, não se reduz a uma função que se exerce, mas é membro de uma família e é pessoa humana, com responsabilidade e dignidade, – como no seu funcionamento. Aqui temos um longo caminho a percorrer para a criação de uma sociedade justa e solidária. Envolve coresponsabilidade, estima mútua, locomoção, envolvimento familiar, distância do lugar de trabalho... Muito se tem feito neste campo. Hoje a relação entre operário e patrão, em linha de princípio, é bem melhor que anos atrás, do tempo da radicalização e da luta de classes. Mas estamos ainda longe de fazer de nossas empresas associações em que prevaleçam os sentimentos humanos. Alonguemos a lista das funções para as escolas, que devem ser a extensão da família e não um albergue de crianças isoladas; para os clubes; para as associações de diverso gênero; para a saúde; para as pastorais, sempre no intuito de amparar as famílias e firmar o relacionamento primário, de amor, de acolhida, de convivência humana. Em síntese: para evitar os atravessadores, que tanto mal fazem à sociedade, muitos procuram fortificar o Estado, passando-lhe os cuidados totais pela saúde, educação, segurança, amparo jurídico... Foi um fracasso, porque está baseado no falso princípio que coloca o indivíduo diante do Estado. Forma um sistema anônimo. Alguém, na verdade, é considerado abandonado não porque não integra o Estado mas porque não tem família. Como a família perdeu suas funções institucionais, viuse a necessidade de criar organizações intermediárias: comunidades locais, cooperativas, empresas, Recebem hoje o nome de ONGs. Não podem apenas congregar indivíduos mas famílias. Assumem parte das funções que antigamente eram dela.

A família humana Dom Sinésio Bohn Bispo de Santa Cruz do Sul

U

m grupo de bispos católicos se queixou em Roma de que a opinião pública tratava a família e o matrimônio com superficialidade, como se fossem instituições sem importância para a felicidade humana. O cardeal Pirônio, então responsável pelos fiéis leigos, respondeu: “É preciso evangelizar as novas gerações. É começar sempre de novo”. A Igreja Católica tenta fazer isto com a Semana da Família. Em 2008, segue o lema da Campanha da Fraternidade: “Família: escolhe, pois, a vida”. O objetivo é levar a família a valorizar a vida desde seu alvorecer, desde a concepção. Pois, no dizer de João Paulo II, “a família é o santuário da vida”. Ninguém tem o direito de eliminar um ser humano inocente. A vida humana só a Deus pertence. O Brasil, graças a um nível melhor de vida e às políticas públicas de saúde, tem um contingente significativo de idosos em rápido aumento. A família se deve preparar a acolher e valorizar as pessoas idosas, muitas

vezes enfermas. A tentação é eliminá-las via eutanásia. A tradição cristã defende a vida desde a concepção até sua morte natural. O ser humano, desde o início, foi criado para o convívio: “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2, 18). Por isso Deus “homem e mulher os criou” (Gn 1, 27). As pessoas procuram viver e agir em companhia de outras. Por isso, em princípio, o futuro da família está garantido. Quando se fala em família, espontaneamente se lembram os filhos. É pai, mãe e os filhos. Por extensão, se fala em família humana; a Igreja como família de Deus; uma ordem religiosa se diz família também; o clero da Diocese se compreende como família, etc. A Semana da Família é tempo de os filhos orar pelos pais e perdoar-lhes as faltas. Pais e filhos melhorar as relações familiares, inclusive entre irmãos e irmãs, segundo o conselho do Apóstolo Paulo: “Suportai-vos uns aos outros na caridade, em toda humildade, doçura e paciência” (Ef 4, 2). Juntos, pais e filhos, são convidados a tornar sua família, seu lar, o melhor lugar do mundo para se viver feliz, em segurança, num ambiente de fé. Será a família como “Igreja doméstica”, onde também Deus mora.


1.º a 15 de setembro de 2008

comunidade e igreja MENSAGEM DA EQUIPE VOCACIONAL

A vocação é para a missão Luiz Evandro Wathier Seminarista da Arquidiocese de Porto Alegre

A

Igreja, no mês de agosto, celebra e ressalta a importância e o valor da vocação na vida do cristão. A vocação é para cada pessoa um dom e chamado de Deus, para a sua própria realização e felicidade; assim, todo vocacionado de Deus possui o dever de colocar-se a serviço da comunidade. O dinamismo do projeto Missão Popular afirma que na Igreja de Cristo todo batizado é missionário, logo, podemos fazer uma comparação de que toda vocação é para missão, pois estão ligados para um serviço de amor a Deus e sua Igreja. A V Conferência do Episcopado Latino Americano e Caribenho de Aparecida, assim como as novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2008 a 2010, reafirma o compromisso de cada Cristão batizado e vocacionado a ser um verdadeiro discípulo missionário de Jesus Cristo. Os fiéis missionários de Cristo devem procurar viver e adaptar-se a conversão pastoral que pede o Documento de Aparecida, onde há uma perspectiva de a Igreja tornar-se missionária, de modo particular na dimensão pastoral, de acolher e ir ao encontro dos fiéis e excluídos (pobres). Para exercer essa missão de Cristo, que é na verdade instaurar o Reino de Deus através da Evangelização, cada cristão vocacionado pode colaborar de maneira generosa, fundamentando sua missão por Jesus Cristo e seu amor, através da oração que concede a graça de Deus e coragem para enfrentar os desafios, e, aliado à Palavra de Deus (Sagrada Escritura), que ensina e orienta para a caridade autêntica deixada por Deus. Sou cristão e vocacionado ao sacerdócio, estudante de Teologia e atualmente faço estágio na Paróquia Santa Rosa de Lima, na zona norte de Porto Alegre, com a função de auxiliar a Diaconia Santa Isabel no chamado “Recanto do Sabiá”. Esse é o nome destinado a uma das vilas mais pobres da capital, pois ainda que esse nome possa soar um tanto poético, é um lugar pouco suave aos olhos, pois o que há é uma realidade de miséria com a mínima possibilidade de dignidade humana, sobretudo para as crianças pobres e carentes, existentes em grande número. Com sinceridade, digo que fui enviado para este estágio para uma maior experiência de vida relacionada à realidade, aliado ao discernimento vocacional de uma vocação urbana adulta, porém, já me sinto um missionário pela causa do Evangelho de Cristo e sua Igreja. Assim, diante da realidade da Igreja e guiado segundo o Documento de Aparecida, que se utiliza do método ver, julgar e agir, cada Cristão pode fazer de sua vida, que também é vocação por bondade divina, uma verdadeira missão de amor e serviço ao próximo e, consequentemente, a Nosso Senhor. Portanto, quem segue Jesus Cristo é chamado na vida e vocação à santidade, e esta não ocorre somente pelas vias da Espiritualidade, como na vida de oração e no exercer do trabalho, que são de extrema necessidade e importância. A santidade pode estar na sutileza de aperfeiçoar o humano em nós por graça de Deus, onde me coloco a serviço da missão de ajudar o irmão sofredor. E, vivenciando o Ano Paulino, recordo-me das palavras de São Paulo que diz: “Para mim, viver é Cristo”. Assim, viver a vocação é continuar a missão de amor de Jesus Cristo.

Agenor Casaril - 03/09 Paulo D’Arrigo Vellinho - 06/09 Dom Dadeus Grings - 07/09

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Solidário Litúrgico 7 de setembro – 23º Domingo do Tempo Comum (

verde)

1.ª leitura: Livro do Profeta Ezequiel (Ez) 33,7-9 Salmo (Sl) 94(95), 1-2.6-7.8-9 (R./8) 2.ª leitura: Carta de Paulo Apóstolo aos Romanos (Rm) 13,8-10 Evangelho: Mateus (Mt) 18,15-20 Comentário: O perdão é um dos principais sinais do cristão que vive sua fé de fato, não apenas de palavra ou de algumas expressões religiosas. Cada cristão, homem ou mulher, é chamado a ser um sacramento do perdão do Pai, em Jesus. Uma das coisas mais dolorosas e escandalosas é ver dois cristãos, batizados na mesma fé, mas que não se saúdam, que se odeiam, que se excluem, que não se perdoam. Ouvir da boca de um cristão “esqueço, mas não perdôo” é um pecado contra o Espírito de Jesus e contra tudo o que ele ensinou e viveu. Estamos às vésperas de eleições municipais e é chocante ver como, a cada eleição, especialmente em localidades menores do interior, as desavenças, calúnias e brigas se repetem a cada nova eleição. E deixam marcas de amargura na mente e no coração dos envolvidos. Motivo? Partidos diferentes, idéias diferentes. E por causa de partidos políticos ou idéias diferentes se tornam inimigos. Mesmo assim, podem ser vistos na mesma missa e na mesma fila da eucaristia, sem nenhum constrangimento. É uma contradição. O texto de Mateus é claro: Se teu irmão pecar contra ti, vai falar com ele. Se não quiser te ouvir, chama mais duas ou três pessoas para que tudo se resolva entre poucos (cf 18,15-16). Perdoar, perdoar sempre, perdoar tudo, perdoar a todos, este é o mais divino sinal de vivência da fé. Porque somente aquelas pessoas batizadas que vivem um perdão radical em sua vida podem chamar-se cristãs. Este perdão radical implica em oferecer o perdão, livre e generosamente, a quem nos machucou, ofendeu ou caluniou e implica pedir perdão, humilde e honestamente, a quem nos ofendeu. Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles (18,20). E a condição para estar reunidos em nome de Jesus é ser alguém que sempre perdoa e pede perdão. Só corações que se perdoam mutuamente têm condições de se reunirem em nome de Jesus.

14 de setembro – 24º Domingo do Tempo Comum (

vermelha)

EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ 1.ª leitura: Livro dos Números (Nm) 21,4b-9 Salmo (Sl) 77(78), 1-2.34-35.36-37.38 (R/. cf 7c) 2.ª leitura: Carta de Paulo Apóstolo aos Filipenses (Fl) 2,6-11 Evangelho: João (Jo) 3,13-17 Comentário: Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele (Jo 3,17). Jesus é o sinal/sacramento histórico do amor do Pai à humanidade. Por razões e sem-razões... por sentidos e não-sentidos a história das instituições que levam o nome de cristãs muitas vezes tem colocado num segundo plano esta dimensão do amor que deveria ser a luz que ilumina e o espírito que anima a todas as suas ações. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros. Como se pode dizer que é cristã uma igreja onde seus membros lutam pelo poder, usando as armas da calúnia, da difamação, de insinuações maldosas e mentirosas? Como se pode chamar de cristã uma igreja onde há censura e, até mesmo, tortura, onde não há igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres? Como se pode chamar de cristã uma igreja onde se faz pressão psicológica para obter contribuições econômicas ou se explora à exaustão a imagem de um Deus vingador? Como se pode chamar de cristã uma igreja que apresenta um Deus com o qual se pode negociar a “salvação” com promessas ou generosas ajudas monetárias? Com Jesus, por Jesus e em Jesus, o Deus cristão nos diz que ele é amor e que, quem crê nele e no Filho que nos enviou, deve fazer do amor a medida de todas as coisas, de todas as atitudes e ações, de toda a sua vida. O Pai quer adoradores livres, alegres, felizes que sigam seu Filho e os ensinamentos que deixou de maneira livre, alegre, feliz. Não com ameaças de inferno, de censura ou tortura, de exploração econômica ou “lavagem cerebral”. Deus é amor, um amor solidário com toda criatura, com toda pessoa humana; somente uma igreja e pessoas que vivam o amor solidário podem chamar-se cristãs, filhas do mesmo Pai que está no céu e na terra com homens e mulheres que o amam e se amam, com amor terno e fraterno. attilio@livrariareus.com.br


Porto Alegre, 1.º a 15 de setembro de 2008

Diocese de Montenegro inicia sua caminhada

D

om Lorenzo Baldisseri, núncio apostólico e representante oficial do Papa no Brasil, entregará o báculo e conduzirá Dom Paulo Antonio de Conto, primeiro bispo de Montenegro, à sua Cátedra. Assim começará a caminhada da tão esperada 18.ª diocese gaúcha. Providências especiais estão sendo tomadas para que todos possam assistir à solenidade, que se inicia às 16 horas de 6 de setembro próximo, pois a igreja S. João Batista - agora Catedral - será pequena para acolher todo o mundo católico dos 32 municípios e 30 paróquias que formam a nova diocese. Dom Paulo Antônio de Conto é gaúcho de Encantado, onde nasceu em 12 de outubro de 1942. Foi ordenado padre em 1968 e bispo em 1991, tendo atuado primeiro na diocese de Cáceres (MT) e nos últimos 10 anos na também nova diocese de Criciúma (SC). Dono de especial carisma, por onde passou cativou e granjeou amigos e seguidores. “Vocês devem estar muito alegres. Nós ficamos tristes, pois ele é especial”, resume o estado de ânimo no dia da indicação, em julho último, para nova missão não esperada pelos fiéis de Criciúma.

Mobilização geral

A organização da nova diocese contou com a participação de toda a população, tanto da cidade de Montenegro como dos municípios integrantes da diocese. “Até dezembro próximo a nova cúria estará completamente concluída. Há 20 meses começamos do zero. Nem terreno havia. E estamos com o prédio em fase de conclusão”, se empolga Pe. Inácio Steffen, pároco da Igreja S. João Batista e coordenador da obra. “Hoje, são mais de 12 mil pessoas físicas e 190 empresas contribuindo para levantar e tocar a obra. Talvez seja a cúria mais bonita e moderna do Brasil, num prédio construído para o fim específico, ao contrário da maioria que buscou e realizou adaptações de outras construções. A cúria de Montenegro tem o que de mais atual existe em termos de infra-estrutura física e técnica, que inclui segurança, comunicações, climatização, aproveitamento de recursos naturais de água da chuva e aquecimento solar. Será uma cúria pensada para o futuro, onde as certidões de batismo ou a contabilidade poderão ser fornecidas on line”, resume Pe. Inácio. O prédio de três andares tem 1.540 metros quadrados de área construída. O andar de baixo se destinará para as atividades públicas, o primeiro andar para atividades semipúblicas e o segundo com caráter privado.

Homogeneidade

Com perfil étnico e tradição religiosa peculiares, tudo leva a crer que a diocese de Montenegro constituirá em igreja particular, modelo no País. Oitenta por

CianMagentaAmareloPreto

Obras da Cúria de Montenegro

Pe. Inácio Steffen

cento dos 350 mil moradores são católicos, 19 por cento luteranos e menos de um por cento de outras práticas religiosas. “Tanto os de origem alemã - 60 por cento - como os de origem lusa ou negra nessa região - 35 por cento - têm muito forte a tradição de colaborar, reunindo-se em mutirão para executar a infra-estrutura essencial. Foi assim que, no passado, construíram as estradas, a igreja, a escola, o hospital, contrataram às suas expensas o médico, o professor. Isso explica o sucesso da campanha para a organização da nova diocese”, explica Pe. Inácio.

Mapa da diocese

São os seguintes os municípios da nova Diocese de Montenegro, desmembrada da Arquidiocese de Porto Alegre: Alto Feliz, Barão, Bom Princípio, Bom Retiro do Sul, Brochier, Capela de Santana, Colinas, Estrela, Fazenda Vilanova, Feliz, Harmonia, Linha Nova, Maratá, Montenegro, Pareci Novo, Paverama, Poço das Antas, Portão, Roca Sales, São José do Hortêncio, São José do Sul, São Pedro da Serra, São Sebastião do Caí, Salvador do Sul, São Vendelino, Tabaí, Taquari, Teutônia, Triunfo, Tupandi, Vale Real e Westfália.

Três novos bispos

Além da posse de Dom Paulo Antônio de Conto, outras duas dioceses, em vacância, ganharam novos titulares nas últimas semanas. Dom Frei Irineu Gassen tomou posse no dia 24 de agosto da diocese de Vacaria e Dom Antônio Rossi Keller tomou posse dia 31 de agosto na de Frederico Westphalen. Gassen e Keller estão em sua primeira missão episcopal. Frei Irineu Gassen é gaúcho de Santa Cruz do Sul com 40 anos de sacerdócio. Sua atividade mais

recente foi de pároco de Daltro Filho. Foi ordenado em 27 de julho na Catedral de S. Cruz do Sul. Pe. Antônio Keller é paulista de Campinas, 30 anos de sacerdócio, foi ordenado bispo em 2 de agosto, em S. Paulo. Além de ter o mesmo nome do Santo, fez sua primeira comunhão no dia de Santo Antônio. O seu último trabalho paroquial foi numa paróquia de Santo Antônio e veio para uma catedral cujo padroeiro é também S. Antônio. Outra coincidência é ter sido coroinha do atual bispo emérito de Frederico, Dom Bruno Maldaner, quando este atuava como padre em São Paulo.

Igreja S. Rosa de Lima

Pe. Erni Recktenwald

Incentivo à boa leitura

É o objetivo do Pe. Erni Antônio Recktenwald, da paróquia Santa Catarina, vila Santa Izabel, zona norte de Porto Alegre, ao comprar e distribuir o jornal Solidário para seus paroquianos. Há 12 anos na paróquia criada há 45 anos, Pe. Erni é animador em sua comunidade, liderando 190 jovens entre 10 e 25 anos, divididos em grupos formados segundo a idade. A paróquia também conta com 23 grupos pastorais. “Infelizmente, isso é pouco divulgado. Prefere-se noticiar o lado negativo que caracteriza todos os aglomerados humanos com perfil de menor poder aquisitivo. Acho que em termos de mobilização de jovens a nossa paróquia ocupa posição de ponta entre as 82 paróquias de Porto Alegre”, diz Pe. Erni.

Olhar abrangente

“É importante que os padres apóiem nossos meios de comunicação católicos, tanto impressos como a mídia eletrônica. O Solidário procura dar um enfoque mais abrangente, uma leitura mais contextualizada dos fatos. Eu sou de uma linha que segue o ‘ora et labora’. Isto é: oração e trabalho. E o Solidário está numa linha que combina, nem tanto comigo, mas com o Evangelho e não enfatiza somente a oração, esquecendo o mundo em volta. Agradam-me as matérias com conteúdo teológico e espiritual. Mas também aprecio as matérias que falam de política, cidadania, saúde, família e psicologia. Trocando idéia com o Pe. José Antônio Heizmann (Paróquia S. Rosa de Lima), penso que um pequeno investimento na compra do Solidário pode representar em belo resultado. Isso incentiva a leitura do povo católico. Os grandes jornais ficam mais no negativo, na criminalidade, no escândalo”.


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