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IMPRESSO ESPECIAL CONTRATO No 9912233178 ECT/DR/RS FUNDAÇÃO PRODEO DE COMUNICAÇÃO CORREIOS

Ano XV - Edição No 561 - R$ 1,50

Porto Alegre, 1o a 15 de maio de 2010

Deficiências Mário Quintana Poeta gaúcho

Deficiente é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive sem ter consciência de que é dono do seu destino. Louco é quem não procura ser feliz com o que possui. Cego é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores. Surdo é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês. Mudo é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia. Paralítico é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda. Diabético é quem não consegue ser doce. Anão é quem não sabe deixar o amor crescer. E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois: Miseráveis são todos que não conseguem falar com Deus. A amizade é um amor que nunca morre.

Trabalho: provação ou bênção? Leo Cinezi/sxc.hu

Para alguns é fardo diário. Para a maioria é privilégio. Para o cristão é bênção. Pois permite a realização da vocação para a qual Deus nos escolhe. Pelo trabalho praticamos a caridade e a solidariedade. Pelo trabalho equilibrado realizamos nossos sonhos de verdadeira felicidade. Páginas centrais

Baixa autoestima é causa de sofrimento Página 3

Homenagem às mães

Divulgação

Herman Brinkman/sxc.hu

Vasant Dave/sxc.hu

Arquivo pessoal

Violência doméstica e normas de convivência

A enfermeira Ana Cristina Claro, 26 anos, residente em Porto Alegre, fala de si, de sua profissão e da arte de cuidar.

Página 5

Mãe, Que ao dar a bênção da vida, entregou a sua... Que ao lutar por seus filhos, esqueceu-se de si mesma... Que ao desejar o sucesso deles, abandonou seus anseios... Que ao vibrar com suas

Jovem tem vez

Página 9

vitórias, esqueceu seu próprio mérito... Que ao receber injustiças, respondeu com seu amor... E que, ao relembrar o passado, só tem um pedido: Deus, proteja meus filhos, por toda a vida! Direção e funcionários do Solidário

O mistério da Ressurreição Voz do Pastor/Página 2

Congresso Eucarístico e os 50 anos de Brasília

Contracapa


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2 EDITORIAL

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Trabalho, quem te inventou!?

o princípio Deus criou o céu e a terra. Deus viu tudo o que havia feito e viu que era muito bom (Gen 1,1.31). A pergunta retórica sobre quem “inventou” o trabalho já está respondida. No simbolismo cheio de significado do Livro do Gênesis, o escritor sagrado identifica o Deus-Faber, o Deus que faz, o Deus que cria, o Deus que trabalha. E olhando sua “obra-prima”, vê que tudo é muito bom e se sente realizado, feliz. Pode parecer uma linguagem demasiado humana falar de Deus como alguém que se realiza no trabalho que faz. Jesus, na plenitude dos tempos, assumindo-se como aquele que veio completar a obra do Pai, explicita esta dimensão quando manda dizer ao rei Herodes que ele, Jesus, trabalha hoje e amanhã e que não será o rei que vai impedi-lo de trabalhar! Ao longo dos tempos, o trabalho foi sendo identificado como algo difícil, duro, aborrecido, algo que se aguenta porque não há outro jeito, até porque é pelo trabalho que se obtém o necessário para viver. O trabalho, como lugar de realização pessoal e social, como desenvolvimento de talentos e potencialidades, como expressão de amor solidário, como um serviço aos demais, como fonte de alegria e felicidade, é coisa de utópicos e sonhadores numa sociedade que vê o trabalho apenas e somente como remuneração por um serviço prestado e possível fonte de lucro. Nada mais. Para quem perde a dimensão do trabalho como principal lugar e espaço de realização da própria vocação humana, o trabalho deve ser tudo o que antes dizíamos: uma quase maldição que se aguenta, um peso que se vai arrastando vida afora porque não “É preciso lembrar a tem outro jeito! gratidão de milhões Outra dimensão, não menos importante e de pessoas benefique é preciso ter presente: não se pode limitar ciadas pelo trabalho ou centralizar o trabalho apenas nas atividades voluntário”. profissionais remuneradas. O trabalho humano tem um sentido muito mais amplo e abrange toda e qualquer atividade. Para muitos poderia parecer demasiado poético ou surreal afirmar que a oração, por exemplo, é uma atividade, é um trabalho. Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus/ Jesuítas, se notabilizou no campo da espiritualidade com seus “Exercícios Espirituais”. E insiste que a oração, a contemplação, são exercícios, são atividades. Finalmente, é preciso lembrar aqui e expressar a gratidão de milhões de pessoas beneficiadas pelo trabalho voluntário, gratuito e solidário, desenvolvido por organizações de todo tipo e por pessoas físicas que, repetindo a palavra do Gênesis, olhando para sua obra, podem também afirmar, felizes e realizadas: “Tudo o que fizemos e fazemos é muito bom”! Esta edição do Solidário relaciona o tema central (páginas 6 e 7) ao Dia do Trabalho que, mais do que um feriado, é um dia para refletir sobre nossas atividades e mensurá-las a partir da importância que elas têm para os demais. Deus viu que tudo o que havia feito era muito bom, porque todo o seu trabalho criador foi para suas criaturas, amadas e queridas como filhas e filhos. Cada um de nós, cada vida humana, é fruto do trabalho de parto de uma mulher/mãe. Quando homenageamos nossas mães, especialmente no seu dia, queremos dizer a todas as mães: obrigado pelo trabalho mais belo, mais importante, mais divino de suas vidas: o trabalho de trazer ao mundo uma vida humana, de tornar possível que seu filho, sua filha possam participar do grande banquete da vida. O Solidário nos leva, ainda, a participar, de alguma forma, nas celebrações do XVI Congresso Eucarístico Nacional, dentro das festividades dos 50 anos de fundação de Brasília. Temos fé que este Congresso seja um momento forte de reafirmação e recuperação do sentido das comunidades eclesiais, que nascem da Eucaristia e devem fazer da Eucaristia a referência central e principal de uma verdadeira evangelização. (attilio@livrariareus.com.br)

Fundação Pro Deo de Comunicação CNPJ: 74871807/0001-36

Conselho Deliberativo

Presidente: José Ernesto Flesch Chaves Vice-presidente: Agenor Casaril

Voluntários Diretoria Executiva

Diretor Executivo: Jorge La Rosa Vice-Diretor: Martha d’Azevedo Diretores Adjuntos: Carmelita Marroni Abruzzi, José Edson Knob e Ir. Erinida Gheller Secretário: Elói Luiz Claro Tesoureiro: Décio Abruzzi Assistente Eclesiástico: Pe.Attílio Hartmann sj

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RTIGOS

O mistério da ressurreição

ela. Toda a Igreja vive, nestes seus 20 ressurreição é, sem dúviséculos de existência, desta verdade e a da, a nota característica do celebra em todas as comunidades através Cristianismo. Trata-se de um de solenes liturgias. E o Espírito Santo mistério, cuja profundidade a razão garante a veracidade desta proclamação. humana não consegue atingir e cujo A ressurreição, característica do significado perpassa a vida cristã. Dom Dadeus Grings Cristianismo, permanece misteriosa. A Sagrada Escritura culmina nela. Arcebispo Metropolitano de Porto Alegre Jesus, após sua morte, aparece e desaSó pode ser entendida a partir dela. parece. Torna-se difícil reconhecê-lo, Lucas coroa sua narração dizendo que exatamente pela alegria exuberante que provoca e pela Jesus, após a ressurreição, apareceu aos discípulos: diversidade de sua nova vida. Os discípulos de Emaús “abriu-lhes o espírito para que compreendessem as o tiveram como companheiro de caminhada, sem recoEscrituras, dizendo: Assim é que está escrito, e assim nhecê-lo, a não ser no gesto sacramental da fração do era necessário que Cristo padecesse, mas que ressurpão. As aparições aos discípulos causaram estranheza. gisse dos mortos ao terceiro dia, e que em seu nome Foi necessário mostrar-lhes os sinais do Crucificado: “as se pregasse a penitência e a remissão dos pecados a mãos e o lado” (Jo 20, 25-27). Jesus não aparece de modo todas as nações”!(Lc 24,46-47). convencional: os discípulos “perturbados e espantados, São Paulo é enfático ao garantir que: “se Cristo pensavam estar vendo um espírito” (Lc 24,37). Mateus não ressuscitou, a nossa pregação é vã e também mostra esta perplexidade até ao arrebatamento final de é vã a vossa fé” (1 Cor 15,14). Isto significa que a Jesus: “Quando o viram, adoraram-no: entretanto, alguns autenticidade da pregação depende da veracidade da hesitavam ainda” (Mt 28,17). ressurreição de Cristo e que a força da fé cristã promaA ressurreição tem uma referência fundamental à na desta consistência. Cabe-nos ver suas implicâncias. cruz e à vida cristã. O binômio morte-ressurreição é inPartimos do fato. Estamos diante de um problema dissociável. A ressurreição nos dá a entender o mistério limite. Como abordá-lo? Se enveredamos por uma da Cruz. São Paulo nos declara sepultados na morte com exegese histórico-documental estamos submetendo Cristo e ressuscitados com Ele. Deste mistério promanam nossas considerações a uma determinada forma de o perdão, a reconciliação, a justificação e a santificação. pesquisa. Situamo-la num contexto já conhecido, Falamos de uma vida nova. deixando, porém, de lado toda a sua originalidade e A ressurreição projeta luz sobre a morte e faz restranscendência. Ficamos na consideração, por assim plandecer a Cruz como sinal de salvação. Dá-lhe comdizer, arqueológica. Se, ao invés, enveredamos pela preensão salvífica. Leva à fé – São Paulo dirá: “eu sei em evidência histórica, sentimos palpitar o querigma. quem acreditei” – reanima a esperança – os discípulos de Não nos basta o sepulcro vazio para atestar que Jesus Emaús voltavam desolados de Jerusalém, porque haviam ressuscitou. Necessitamos de testemunhas. Elas não esperado que Jesus fosse restaurar Israel (Lc 24,41), mas só atestam que viram o ressuscitado, mas o proclavoltam reanimados para lá porque haviam encontrado mam através do seu anúncio e de sua alegria com esta Jesus ressuscitado. verdade, pela qual dão a própria vida, morrendo por

Voz do

PASTOR

A última tábua da Salvação! Ricardo Sá

Membro do Catholic Fraternity Music Ministry

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arece o fim, mas não é! O fato é que Jesus Cristo, mesmo após ter sua vida entregue à morte na cruz, não obstante seus inúmeros feitos como o Filho de Deus que era; após caminhar sobre as águas, ressuscitar mortos, renascer após três dias, subir aos céus e assim dar início à maior e mais profunda revolução na história da humanidade... Após ter Seu corpo exposto à vergonha e chagas, ter Seu peito aberto, Sua fronte coroada de espinhos, sendo submetido à humilhação e ao desprezo... Este homem, ainda assim, considerou seus feitos – por fraqueza nossa – ineficazes. Motivo pelo qual apareceu para a Ir. Faustina Kowalska, na Polônia, em 1931. Nesta oportunidade, Jesus pediu que fosse celebrada a Festa da Misericórdia. Em seu diário, na página 49, a Ir. Faustina registra esse pedido para que Sua “imagem seja benta solenemente no primeiro domingo depois da Páscoa, e esse domingo deve ser a Festa da Misericórdia”. Disse que o perdão total das faltas e dos castigos será concedido àquele que nesse dia se aproximar da Fonte da Vida. “Neste dia, estão abertas as entranhas da minha misericórdia. Que nenhuma alma tenha medo de se aproximar de mim, ainda que seus pecados sejam como o escarlate.”

Conselho Editorial

Presidente: Carlos Adamatti Membros: Paulo Vellinho, Luiz Osvaldo Leite, Renita Allgayer e Beatriz Adamatti

Diretor-Editor Attílio Hartmann - Reg. 8608 DRT/RS Editora Adjunta Martha d’Azevedo

Assim, ao escolher o primeiro domingo depois da Páscoa, Jesus desejou indicar a estreita união entre o mistério pascal da Redenção e o mistério da Misericórdia de Deus. “As almas se perdem apesar da minha amarga paixão. Estou lhes dando a última tábua de salvação, isto é, a Festa da Misericórdia. Se não venerarem a Minha Misericórdia, perecerão por toda a eternidade.” A Festa da Misericórdia destina-se aos pecadores, considerados por Jesus os mais dignos de Suas graças. Sua mensagem tem pressa, pois evoca a brevidade do tempo e a teimosia de quem não quer ou pouco consegue enxergar que a humanidade inteira afunda num mar de desencontros e mal. Suas palavras são repletas de esperança e salvação, concedendo uma intensa luz a quem já se sente cego por causa de seus próprios erros e desorientação. É a imagem de Jesus ressuscitado que traz aos homens a paz pela remissão dos pecados! Assim é Jesus Misericordioso! Suas vestes são brancas, Seu peito está aberto, de onde brotam sangue e água, para a salvação de todos sem distinção. Seus olhos são os mesmos expostos em Seu rosto na exata hora da crucificação; Suas chagas são a mais perfeita identificação com os menores de Seu reino e são plenas indicações de que o caminho é mesmo feito em meio a dores, perda de sangue e entrega. Suas mãos abençoam! São bênçãos para todos, sob a condição de que saibam escolher que o tempo é agora! As graças? São colhidas com o vaso da confiança! Em poucas palavras, o tempo chegou! É tempo de Misericórdia!

Redação Jorn. Luiz Carlos Vaz - Reg. 2255 DRT/RS Jorn. Adriano Eli - Reg. 3355 DRT/RS Revisão Nicolau Waquil, Ronald Forster e Pedro M. Schneider (voluntários) Administração Elisabete Lopes de Souza e Davi Eli Impressão Gazeta do Sul

Rua Duque de Caxias, 805 Centro – CEP 90010-282 Porto Alegre/RS Fone: (51) 3221.5041 – E-mail: solidario@portoweb.com.br Conceitos emitidos por nossos colaboradores são de sua inteira responsabilidade, não expressando necessariamente a opinião deste jornal.


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AMÍLIA &

S

OCIEDADE

3 Divulgação

Baixa autoestima é um dos motivos mais frequentes de sofrimento Rosemeire Zago Psicóloga clínica

É,

sofremos por diversos motivos, mas o que todos querem mesmo é se livrar de tudo aquilo que causa sofrimento. Não há como fazer isso sem um mínimo de trabalho. É preciso identificar pelo que se está sofrendo. Você sabe pelo quê ou por quem está sofrendo? Escreva sobre isso. Depois de anotar tudo que tem lhe causado sofrimento, pense sobre os prováveis motivos e escreva cada um deles.

Seguem alguns exemplos do que causa sofrimento Não ter consciência do próprio valor. O que chamamos de baixa auto-estima. Esse é um dos motivos mais frequentes de conflitos. Quem não tem consciência de seu valor como pessoa pode sentir dificuldades em qualquer outra área. Podendo levar a acreditar que não consegue nada na vida. Comece a pensar o que gerou sentir-se assim. O que pode ter colaborado para não perceber seu valor? Conhece alguém que perdeu o emprego e ficou em depressão ou tentou se suicidar? Pois bem, isso pode ocorrer quando a pessoa só reconhece seu valor perante o cargo que ocupa, o poder que exerce, se perde isso, sente como se todo seu valor fosse perdido. É preciso ter consciência do próprio valor independente do que se tem ou do que se faz, mas valor como ser humano, independente de cargo, conta bancária, poder, status. Apesar de que todos sabem que nossa sociedade valoriza mesmo uma pessoa por aquilo que possui em bens materiais e não pelos seus valores enquanto pessoa. Precisamos aprender a olhar bem dentro de nós mesmos e reconhecer nossos reais valores. Aquilo que temos de bom dentro de nós, como solidariedade, amizade, cumplicidade, amor, com certeza não há dinheiro que compre.

Sintomas de baixa autoestima Dúvida de seu próprio valor; necessidade de agradar e de aprovação; dependência financeira e emocional; insegurança/timidez; não acredita em si mesmo; não se permite errar, perfeccionista; sentimento de inferioridade; dificuldade em crescer profissionalmente; depressão; ansiedade;

medo; raiva; agressividade; não acredita nos outros e nem em si mesmo. Como podemos perceber, muitos fatores considerados como causas de nossos sofrimentos nada mais são do que sintomas da falta de consciência do valor que se tem. Como se livrar desses sintomas? Não, não há receita pronta, há sim muito trabalho, começando a se conhecer cada vez mais.

O autoconhecimento é o melhor caminho para elevar a autoestima ... pois à medida que você se conhece, e começa a agir de modo coerente entre o sentir, pensar e agir, começa também a se respeitar muito mais, não permitindo que o desrespeitem. Com isso, você começa a se admirar e se amar. E aquilo que não gosta em si mesmo, aos poucos pode mudar. Nada é mais libertador do que ter consciência da pessoa maravilhosa que você é! Perceba que seu valor enquanto pessoa não pode e nem deve ser baseado na maneira como foi, ou ainda é tratado, ainda que isso tenha durado toda sua vida. Não permita mais ser desrespeitado ou maltratado. Todos temos potencial e capacidade de desenvolver e mudar aquilo que nos faz sofrer. O que não gostamos ou não gostam em nós, em geral, não faz parte de nossa essência, do verdadeiro eu, mas sim das máscaras que um dia criamos para nos defender. Essa sim, é a verdadeira causa de nossos conflitos. Não, não é nada fácil identificar quais são nossas máscaras, mas isso pode ser obtido. Por exemplo, o orgulho, agressividade, arrogância, não fazem parte da essência do ser humano, são máscaras criadas como defesas e que depois podem se tornar fonte de muitos conflitos. Quanto mais nos tornamos conscientes das máscaras que utilizamos, mais controle obtemos sobre elas.

Complexo de inferioridade Denominação criada por Alfred Adler (1870-1937), médico psiquiatra, para designar sentimentos de insuficiência. Adler afirmava que todas as crianças são profundamente afetadas por um sentimento de inferioridade, que é uma consequência do tamanho da criança e de sua falta de poder perante os adultos. O que desperta em sua alma um desejo de crescer, de ficar tão forte quanto os outros, ou mais forte ainda. Ele sugere que existem três situações na infância que tendem a resultar no complexo de inferioridade: - Inferioridade orgânica : Crianças que sofrem de doenças ou enfermidades com deficiências físicas tendem a se isolar, por um sentimento de inferioridade ou incapacidade de competir com sucesso com outras crianças. - Crianças superprotegidas e mimadas: Essas crianças podem desenvolver um sentimento de insegurança, por não sentirem confiança em suas próprias habilidades, uma vez que os outros sempre fizeram tudo por elas. O que também compromete a autoestima. - Rejeição: Uma criança não desejada e rejeitada não conhece o amor e a cooperação na família. Não sente confiança em suas habilidades e não se sente digna de receber amor e afeto dos outros. Quando adultos, tendem a se tornar frios, duros, ou extremamente carentes e dependentes da aprovação e reconhecimento de outras pessoas.

Não, ainda não terminou... será que conseguimos encontrar tantos motivos que nos fazem felizes como encontramos o que nos faz sofrer?... Vya Estelar


4 Nascer do alto

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entecostes é a grande festa do Espírito. Convite para renascermos do alto. Nascer do alto é algo misterioso. Nicodemos já colocara a questão: “Como é que alguém pode nascer se já é velho? Poderá outra vez entrar no ventre de sua mãe?” (Jo3,4). Para nascer de novo é preciso respeitar o tempo de gestação no Espírito. Para gerar vida no Espírito, qual seria o tempo necessário? Difícil responder, pois a lógica que segue o Espírito é outra. O tempo de Deus é outro. Confesso que sempre tive a sede de nascer do alto. Ser um homem guiado pelo vento do Espírito e não pelos instintos da carne. Mas esta é uma luta desigual entre carne e espírito. Até hoje não compreendi bem o que significa nascer do alto, da água e do Espírito. Tenho a intuição que esta realidade começa lá dentro, no lugar mais escondido, no coração de cada pessoa. É lá que silenciosamente o Espírito atua, sem grandes barulhos de vozes ou ruídos que possam ser ouvidos. Parece estranho, nascer de novo, do alto e do Espírito. Na noite de Pentecostes de 2008, aconteceu algo estranho comigo ao ler uma das cartas do Pe.Fabiano Dalcin, missionário na Igreja irmã em Moçambique. Nela relatava sua experiência de missão e no final fazia um apelo: “Peço também, e é por isso que vos escrevo, que se unam às minhas orações para pedir ao Espírito Santo que ilumine a Igreja do Rio Grande do Sul e os bispos do regional sul 3, a fim de que encontrem meios e pessoas de boa vontade para serem enviados como missionários e mis- “Na noite de Pentesionárias, de modo especial sacerdotes, para costes de 2008 acondarem continuidade a este projeto missionário teceu algo estranho em Moçambique”(Pe.Fabiano, maio de 2008). comigo ao ler uma Naquela noite, relacionei este texto com outros das cartas do Pe. apelos do Espírito. Entre eles o retiro pregado Fabiano Dalcin”. por Dom Jaime Kohl, onde nos falava do projeto Igreja solidária com Moçambique. Neste retiro, já sentira o apelo do Espírito em partir para missão, mas resisti pensando dar este passo mais tarde. Na mesma noite de Pentecostes decidi escrever ao Pe.Camilo Pauletti, missionário que já esteve seis anos em Moçambique.. Já havia compreendido que para partir seria preciso o parto tão difícil e arriscado. Tomei coragem e fui conversar com Dom Dadeus Grings colocando estas inquietações. Simplesmente, ele respondeu: “Quem somos nós para ir contra o Espírito Santo”? Desde aí não olhei mais para traz. O apelo que tanto inquietou tomou seu rumo e me fez atravessar o Atlântico ao encontro do desconhecido. Aquele pentecostes de 2008 foi de fato estranho. Começo acreditar que nada de bom acontece na Igreja e em nossas vidas que não nos seja dado do alto, do Espírito que nos foi concedido pelo Pai em comunhão com o Filho. O parto continua a cada pentecostes e a cada dia. É preciso sempre nascer do alto. Assim diz a epístola aos Romanos: “Nós sabemos que toda criatura geme ainda agora e sofre as dores da maternidade. E não só ela, mas também nós, que possuímos as primícias do Espírito, gememos interiormente, esperando a adoção filial e a libertação do nosso corpo” (Rm8, 22). Comecei a entender também que Pentecostes é o dia do envio. Neste dia está a essência missionária da Igreja. Naquele dia Jesus, reunido com seus discípulos, diz: “Assim como o Pai me enviou, também eu envio. E depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: Recebei o Espírito Santo” (Jô 20,21-22). Continuo suplicando que o Espírito suscite inquietações e apelos no coração da Igreja que nos envia. Estamos agradecidos também pelo apoio financeiro que nos mantém na missão de duas paróquias com 140 comunidades na diocese de Nampula. Somos uma equipe de cinco pessoas, dois padres e três leigos. Estamos confiantes que neste pentecostes o Espírito suscitará com sua força homens e mulheres que se deixem nascerem do alto e partirem onde o próprio Espírito os enviar.

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A Igreja humilhada e martirizada Dom Sinésio Bohn

Pe.Maurício da Silva Jardim Missionário em Moçambique

PINIÃO

Bispo de Samta Cruz do Sul

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serviço da paz entre as religiões, fui de navio de Copenhagen (Dinamarca) a Helsinki (Finlândia), com um grupo de representantes de Igrejas cristãs. Durante a travessia do Mar Báltico, aconteceu que um menino de cerca de cinco anos caiu numa caixa de brinquedos. Eu era a pessoa mais próxima. Instintivamente, segurei a criança. Uma funcionária do barco veio correndo e arrancou o menino de mim, como se ele estivesse em sério perigo. Compreendi naquele dia o poder do preconceito contra os padres católicos. E contudo, graças a mim, o menino não se feriu. Agora a moda é rastrear padres pecadores. Desde que o apóstolo Judas vendeu o Mestre por avareza e desde que Pedro o negou por medo, arrependendo-se depois amargamente, os discípulos de Jesus são flagrados em pecado. Mulheres e homens, casados e solteiros, de todas as raças e condições sociais. Mas quando são revestidos de autoridade ou de ordem sagrada, há maior repercussão e escândalo. É o caso de padres pedófilos, que infelizmente existem. A partir de casos reais, faz-se uma campanha de ódio contra a Igreja católica e contra o Papa Bento XVI. Como a campanha se limita aos católicos, faz-se a pergunta: Quais os objetivos de tanto alarido e tamanho ódio? Jon Juariti, poeta e escritor judeu, indica dois objetivos: primeiro, tirar os católicos do espaço público. A sociedade secularizada tem projetos

de convivência mundial sem Deus, sem interferência religiosa. Segundo, imprensa “amarela” gosta de escândalos para faturar. A massa sorve os escândalos com apetite. Pessoalmente, acrescento mais um objetivo: jogando os católicos contra a própria Igreja, mais facilmente engrossam as fileiras de novos movimentos religiosos. É o proselitismo. Qual a orientação do Papa? Os envolvidos devem ser julgados nos tribunais, conforme as leis do respectivo país. Como, aliás, no caso de outros crimes. Sempre acompanhados por atitudes de misericórdia, conforme Jesus recomendou: “Estive encarcerado e viestes ver-me” (Mt 25,36). Aproveita-se a ocasião para desencadear uma verdadeira perseguição à Igreja Católica, mirando o Papa e os bispos. Conforme o princípio: ferido o pastor, as ovelhas se dispersam. É hora de os católicos ficarem unidos a Cristo, o Senhor da Igreja. Mas unidos também ao sucessor de Pedro, o Papa Bento XVI. E unidos aos bispos, sucessores dos apóstolos. É hora de apoiar os mais de 400 mil padres. Os faltosos não chegam a 1%, segundo o cardeal Dom Cláudio Hummes. “Os demais 99% são homens de Deus, dignos, honestos e incansáveis na doação ao ministério”. Os intelectuais franceses pedem ética da responsabilidade aos meios de comunicação: “O rosto da Igreja que aparece na imprensa não corresponde ao que vivem os cristãos católicos”. Sigamos a recomendação de Jesus: “Vigiai e orai” (Mt 26,41).

O escândalo da pedofilia Dom Demétrio Valentini Bispo de Jales/SP e presidente da Cáritas Brasileira

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m primeiro lugar, a própria Igreja se antecipa em reconhecer e em confessar a gravidade da situação, admitindo inclusive que houve culpa por falta de vigilância em coibir abusos, permitindo que padres pedófilos continuassem exercendo o ministério, favorecendo assim a continuidade dos delitos. Independente da quantidade de casos constatados, mesmo que fosse um só, merece a clara condenação de todos, e se praticado por algum membro do clero católico, o reconhecimento de quanto isto depõe contra a imagem da Igreja. Se há uma consequência positiva, decorrente da discussão levantada no mundo inteiro em torno da pedofilia, é o crescimento da consciência da criminalidade dos atos de abusos sexuais praticados com crianças. Eles constituem crimes que precisam ser denunciados e devem ser condenados. As crianças têm o direito de serem preservadas das distorções sexuais dos adultos, sejam eles quem forem. Esta consciência da necessidade de preservar as crianças da maldade dos adultos precisa avançar muito mais. É toda a sociedade que precisa estar atenta para preservar a inocência das crianças. Nisto toda a sociedade tem culpa em cartório. Se fosse usado o mesmo rigor com que agora se aponta para os padres pedófilos, quantas situações precisariam ser denunciadas nas famílias, na sociedade, sobretudo nos meios de comunicação social, onde não despertou ainda a consciência dos prejuízos causados às crianças pelas situações a que elas ficam expostas. Mas no que se refere diretamente à pedofilia, seria muita hipocrisia achar que ela se limita aos casos praticados por padres católicos. Existe inclusive uma evidente campanha, levada adiante por pessoas interessadas em denegrir a imagem

da Igreja Católica, que está se aproveitando desta situação para tornar ainda mais virulentas as acusações contra ela. Por isto, no Brasil não é nada de estranhar que uma conhecida rede de televisão se esmere agora em ampliar o que é sua razão de ser: acusar continuamente a Igreja Católica, usando para isto todos os meios de que dispõe. Neste sentido, sem fazer dos números uma desculpa, é importante olhar os dados com objetividade. O professor Carlos Alberto di Franco, doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra (difranco@iics.org.br), traz a seguinte constatação: desde 1995, na Alemanha, houve 210.000 denúncias de abusos de pedofilia. Destas denúncias, só trezentas se referem a padres católicos. Isto é, só 0.2% por cento do total. E por que só se insiste em falar da Igreja, tentando inclusive envolver o Papa, acusando-o de responsabilidade por ter aceito um padre pedófilo na sua diocese, no tempo em que era arcebispo de Munique? Por que não se fala dos outros 99,98 por cento dos casos? Se olhamos o clero do Brasil, em sua imensa maioria constituído de beneméritos ministros devotados à sua missão, com os limites humanos de que todos somos revestidos, a proporção é certamente parecida com a análise apresentada pelo prof. Di Franco. Os raros casos de pedofilia constatados no clero brasileiro, por mais deploráveis que sejam, não justificam a hipócrita escandalização, levada em frente por meios de comunicação que trazem evidente a marca da tendenciosidade, que fica desmascarada à luz de qualquer dado objetivo. A Igreja Católica está disposta a uma severa autocrítica de sua própria instituição, diante dos casos reais de pedofilia praticada por membros do seu clero. Ela aceita de bom grado os questionamentos objetivos que podem ser feitos pela sociedade. Mas ela dispensa a hipocrisia de quem generaliza as acusações, escondendo seus interesses escusos, e desvirtuando uma análise objetiva do problema da pedofilia. (www.diocesedejales.org.br)


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Violência doméstica e normas de convivência Juracy C. Marques

Professora universitária, doutora em Psicologia

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orge La Rosa, em seu texto sobre Autonomia e Heteronomia (Solidário, Ed. 558, março de 2010, p. 5), diz: “ Educação é processo para toda a vida e não para um período, assim como aprimoramento profissional, que demanda uma existência. E uma das facetas da educação é a do desenvolvimento moral, com a conquista da autonomia. O que é autonomia? É governar-se a si próprio, segundo motivações interiores, valores incorporados, convicções pessoais – uma meta para a vida. Mas o indivíduo não nasce nessa condição, pelo contrário, nos alvores da existência é extremamente heterônomo – governado a partir de fora: os pais ou quem faz a sua vez ditam as normas de comportamento e as atitudes adequadas para as diversas situações”. Nos primórdios da fase de heteronomia, quando a criança, na maioria das vezes, imita os pais, aprender pequenas regras de cortesia é fundamental. O uso das expressões de cortesia – obrigado, perdão, com licença, por favor – é alicerce para a construção da amabilidade, recheada de tolerância e generosidade, acompanhada pelo sorriso que cativa e educa. É assim que se pode ser e fazer amigos, ao longo das variadas situações conflituosas que a vida em sua crueldade, inevitavelmente, nos surpreende e aterroriza. Ser amigo e estabelecer relações seguras de amizade e confiança, ao longo dos intrincados caminhos da existência exige esforço, reflexão e auto-avaliações que produzem conscientização e, não raro, direcionamentos mais inteligentes, para a resolução de problemas de relacionamento nas inter-relações pessoais.

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DUCAÇÃO &

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SICOLOGIA

www.dtvb.ibilce.unesp.br

aí, as brigas continuaram por mais dois meses, até que ele saiu de casa; estavam casados há cinco anos, sem filhos. Depois de consultar um terapeuta familiar, decidiu ou decidiram (houve uma consulta conjunta do casal) que a situação era insustentável e que o melhor para ambos era a separação. Mais de um mês depois, com evidente sofrimento para ambos, já estavam morando em casas separadas, com um processo de separação amigável em andamento, continuando a ter o suporte do terapeuta, agora em consultas individuais.

As drogas e seus efeitos deletérios

Criança espancada A pediatra Ilma contou-me que, em um atendimento de urgência, observou que sua paciente, uma menina de dois anos, tinha hematomas por todo o corpo, em especial nas nádegas, “felizmente nenhum osso quebrado”, acrescentou. Perguntou à mãe o que tinha acontecido e esta respondeu: “pulou do berço e levou aquele tombo!”. Mas a mãe estava acompanhada de uma outra filha de oito anos que aproveitou, enquanto a mãe ia ao banheiro, para dizer-me: “Não foi tombo, não, foi ela que deu uma surra no bebê, porque ele não parava de chorar e ela estava muito ocupada com tudo que ainda tinha de fazer naquele dia”. Não é o que se espera do decantado amor materno, entretanto, as mães muitas vezes se excedem em sua impaciência e falta de controle emocional, com consequências graves e, obviamente, indesejáveis.

Briga de casal Dona Manuela recebeu, numa manhã de verão, com o mesmo carinho de sempre, inesperada visita do filho que deveria estar trabalhando naquela hora. Estava com a testa sangrando, sua mãe fez, desde logo, um curativo, felizmente não era nada sério. Enquanto assim procedia, na conversa ficou sabendo que, depois de uma discussão acalorada com a mulher, bateu com a cabeça em uma parede para fugir de tapas e tentativas de bofetadas. As desavenças do casal, porém, não ficaram por

Seu Isidoro, um operário da construção civil retornou a sua casa para verificar se os meninos tinham ido para a escola, como estava combinado. Deparou-se com uma cena trágica: Ivo, o irmão mais velho de 15 anos, estava na cozinha, discutindo veementemente com seu irmão menor Ted, 13 anos, que o enfrentava com uma faca na mão, pois queria pegar o dinheiro da mãe para comprar droga. Seu Isidoro, depois de xingamentos e empurrões, conseguiu desarmálo. Ivo imediatamente telefonou para a mãe, pedindo-lhe que viesse para casa, narrando, entre lágrimas, o que estava acontecendo. Vitória, a mãe que coincidentemente é funcionária da DEPAI (Delegacia para Adolescente Infrator), chegou com a polícia, dando voz de prisão ao Ted. Após procedimentos legais, o encaminhou para a FASE (Fundação de Atendimento Socioeducativo), onde permanece, com o acompanhamento dos pais, a fim de recuperar sua saúde mental e emocional; acreditam com fé, esperança e persistência que Ted, ao aumentar seu crescimento em autonomia poderá em um futuro próximo fazer sua inserção na sociedade.

Conquista da autonomia A conquista da autonomia é um processo lento, pleno de desafios; a heteronomia não se esgota na infância e na adolescência. Há avanços e retrocessos que demandam atenção especial, seja da família, seja de profissionais especializados, através de mediações efetivas que possam encaminhar mudanças substanciais em atitudes, valores e comportamentos que levem ao desenvolvimento moral.


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EMA EM FOCO

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Trabalho: bênção ou maldição, tortura ou privilégio?

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palavra trabalho corresponde em latim a “trepalium”: instrumento de tortura. Segundo as religiões judaico-cristãs, o trabalho foi

imposto ao homem como castigo quando ele foi expulso do Éden. E o ‘comerás o teu pão com o suor do teu rosto’ (Gen. 3, 19) é associado a trabalho como um

“Senhor ajuda-me a fazer com que goste do que faço” Quem gosta do que faz não trabalha. “Vida sem trabalho é um quadro sem moldura. Milhões de seres humanos se realizam trabalhando”, diz Pe. Roque Schneider sj. “Escolha um trabalho que você ame e não terá que trabalhar um único dia em sua vida", disse Confúcio. “Quanto mais quero fazer uma coisa menos chamo isso de trabalho"(Richard Bach); "Se não aparecem trabalhos de que você goste, trate de gostar dos que aparecem"(Autor desconhecido); "Dia nenhum é demasiado longo para quem gosta de trabalho"(J. Wanamaker). Todo trabalho é digno, pois é possibilidade de criação, de sensação de utilidade. Mesmo já aposentado de um posto formal de trabalho, a atividade não permite decrepitude mental precoce, decadência física, mental e psíquica e a desconfortável sensação de inutilidade. E nisso o voluntariado tem demonstrado que a alegria de dar algo de si, através do trabalho, é muito mais gratificante que receber. Além do que, trabalhando se evita lucubrações menos dignas da existência humana. Ociosidade e preguiça são as mães de todos os vícios. “Quem trabalha cuida de sua vida; os ociosos cuidam... da vida alheia”. (Pe. Antônio Vieira).

Worklover ou workaholic? Prazer ou obsessão? “... ó minha alma, tens muitos bens em depósito para muitíssimos anos. Descansa, come, bebe e regala-te. Deus, porém, lhe disse: insensato! Nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma. E as coisas que ajuntaste de quem serão? (Lc, 12,19 e 20.) Há os que se deixam seduzir pelas promessas do consumo. E, sofregamente, correm atrás da glória, do sucesso, do dinheiro e da posição social. Pensam que compram felicidade com farta conta bancária, automóvel flamante, palacetes. Deixam de viver, adiam seus sonhos, esquecem da família: só existe o trabalho para acumular patrimônio. São os viciados em trabalho. Não necessariamente satisfeitos, sofrem e descuidam da saúde, abandonam a vida pessoal, apresentam mais estresse e tem mais chances de sofrer doenças cardiovasculares. E muitas vezes, no fim da caminhada, tudo o que acumularam para nas mãos de médicos e farmácias. Onde ficou a alma? Já o feliz no trabalho arranja tempo para o lazer, a família e os amigos. Seu trabalho serve, sim, para pagar as contas, ter razoável conforto. Mas consegue manter equilíbrio e encontra tempo para abrir espaço na agenda para a vida pessoal. Sofre menos de estresse, garantindo saúde mental e física por mais tempo. Biju Joshi/sxc.hu

fardo a ser carregado até o fim da vida. Seria isso ou só isso? A prática do voluntariado, da solidariedade através de ações e gestos concretos na busca da re-

alização do Reino já aqui na terra tem que ser, necessariamente, um peso? A funesta execração a que se pretende reduzir a citação bíblica é aplicável ao trabalho

espontânea e livremente exercido? A gratificação e realização pessoal pelo trabalho deixariam de ser motivo de muita felicidade e uma verdadeira bênção diviDivulgação

Trabalho e emprego

“Um funcionário pelo preço de dois”

O trabalho é mais antigo, pois surgiu com a fabricação de utensílios e ferramentas. O emprego iniciou por volta de 1800 na Revolução Industrial. Trabalho é diferente de emprego. O emprego é um trabalho. Mas não necessariamente o trabalho pode ser um emprego. O trabalhador informal atua sem horário definido, exposto a sol e chuva, sem nenhum direito trabalhista. Geralmente trabalha muito e ganha pouco. Já o empregado formal ‘vende’ sua força de trabalho por algum valor, remuneração que ficou chamada de salário e que no Brasil é protegido pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Mas há gravíssimas distorções de remuneração, com diferenças de mais de 100 vezes entre os menores e os maiores salários. Estão na iniciativa privada. Mas muito mais no serviço público, onde funções essenciais como as de professor, só para citar algum – seja em nível primário, secundário ou universitário – recebem muitíssimo menos que outros funcionários com menor responsabilidade porque tem poder de barganha corporativo e impõem altos salários. Isso sem falar dos ‘atores’ e dos incensados pela sociedade do espetáculo – jogadores de futebol, artistas de cinema, e, por que não, a classe política muitas vezes com pouco formação intelectual, mas com muita esperteza e que se auto-estipula proventos. Formal ou informal, o trabalho confere identidade.

O custo de uma vaga de trabalho forma “É melhor contar com uma pessoa trabalhando com a gente, do que com três trabalhando para a gente". (Bits - Pieces). Só quem está sem nada trabalhar – desempregado - perde as relações sociais. Atualmente, 89% de brasileiros estão trabalhando e 11 por cento são os desempregados, prevalecendo como foco da mídia. O Dia Mundial do Trabalho foi criado em 1889 em Paris. A data foi escolhida em homenagem à greve geral, que aconteceu em 1º de maio de 1886, em Chicago. Deveria se chamar dia do Trabalhador, incluindo todos os que tem atividade, sejam patrões e empregados. O Brasil é o campeão mundial da regulação do trabalho. Cada ponto a mais no índice das leis do trabalho aumenta em 6,7% a informalidade, em 13,74% a fatia do subemprego e em 3% o desemprego. A criação de uma vaga no emprego formal e sua manutenção – mormente no setor de prestação de serviços – somam ônus que transformam o ‘lobo mau’ do empregador também em verdadeira vítima do sistema. Luca Baroncini/sxc.hu

na? Como fica o ‘dominai toda a terra’, (Gen, 1, 28) só possível através do trabalho – que vem antes e abre o primeiro capítulo do primeiro livro da Bíblia?

Bruno Marie/sxc.hu

Gravura de Millet

Divulgação

É a estimativa de custo de Vera Faleiro, gerente da KF Escritório de Contabilidade Ltda, para manter uma vaga de trabalho formal na atividade de prestação de serviços que não é enquadrada no ‘simples’. “Isto é, ao salário de 510 de meu funcionário ainda tenho que acrescentar 501,92”. Solidário – Por que tudo isso? Vera - No meu ponto de vista, a atual legislação trabalhista brasileira pode ser a causadora dos índices de desemprego no País. Não há flexibilização dos contratos de trabalho para adequar os custos da mão-de-obra às oscilações do mercado. Dizer se a lei é justa ou injusta é relativo. Pode ser justa para o empregado no âmbito de seus direitos adquiridos, e injusta por ele se encontrar muitas vezes fora do mercado de trabalho. Mas, certamente, é injusta por gerar um altíssimo ônus ao empreendedor e reflete em remuneração baixa. S – Isso sem falar o custo de abertura e manutenção da empresa! Vera – Sim. Burocracia e taxas sem fim no começo. Mais instalações físicas – espaço, equipamentos, infra-estrutura, etc. E mais: uma cultura desfavorável ao empregador na Justiça trabalhista. O ex-empregado já entra com 50 por cento, no mínimo, de causa ganha. Falta discernimento, misturando empresários honestos com outros verdadeiramente inescrupulosos. S - Voltando ao custo mensal, discrimina as taxas. Vera- Tomando o salário de 510,00 reais, a tributação total pode chegar a 56,24 por cento. Esmiuçando: FGTS 8% - INSS parte da empresa - 20%; rat - de 1 a 3%; terceiros – 5,8%; férias - 8,33%; 1/3 férias - 2,78%; 13º. Salário - 8,33%; mais os benefícios previstos na legislação e/ou convenções coletivas de trabalho, como vale-transporte e vale-refeição que são integralmente pagos aos funcionários, podendo a empresa se reembolsar de uma porcentagem mínima. Somando: tributos, 36,80%, isto é, R$ 187,68 sobre R$ 510,00); direitos (13º. e férias) 19,44%, isto é, R$ 99,14); benefícios: R$ 215,10; Soma, R$ 501,92. Tudo isso é obrigação da empresa. Tem que ter coragem. E tem mais: manutenção da infra-estrutura da empresa: escritório, aluguel, luz, condomínio, água, material de manutenção e de consumo. Vai longe. O prestador de serviço é uma vítima. Já estive dos dois lados. Quando se é empregado acha-se que o empregador tem dinheiro para tudo e sempre. Mesmo com intenção e necessidade de criar mais vagas, é desencorajador. S – E a relação com os funcionários? Vera - Apesar das dificuldades de flexibilização das leis trabalhistas, hoje em dia não tratamos a relação empregado–patrão e sim patrãocolaboradores, pois são colaboradores, que ‘colaboram’ para a viabilização e sustentação dos negócios.


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Refluxo gastroesofágico: uma chatice, mas tem como resolver Segundo o Instituto de Pesquisas Datafolha, 12% dos brasileiros sofrem de refluxo gastroesofágico, o que equivale a 20 milhões de pessoas. O refluxo caracteriza-se pelo retorno do conteúdo ácido do estômago para o esôfago, e causa uma sensação da volta dos alimentos no sentido da boca. De acordo com o gastroenterologista, médico Marcelo

Rezende, chefe da cirurgia geral do Hospital Daher, em Brasília, os casos mais comuns de refluxo acometem pessoas que já nascem com um defeito anatômico, ou quando há um deslocamento da válvula que mantém o estômago fechado. Essa válvula fica na transição do esôfago gástrico e abre-se para a comida descer ao estômago, e depois fechaDivulgação

Refluxo é comum entre os brasileiros

Visa e Mastercard

se para evitar que alimentos e sucos gástricos voltem ao esôfago. Porém, a válvula pode afrouxar-se devido a alguns fatores como: obesidade, hábitos alimentares inadequados, como ingestão de grandes quantidades de alimentos; a ação de comer excessivamente e logo se deitar; consumo excessivo de bebidas alcoólicas, cafeína e cigarro. Os sintomas da doença são: azia, tosse, rouquidão, irritação da garganta e, algumas vezes, asma. O refluxo pode causar também dor no peito, que às vezes é confundida com os sintomas do infarto do miocárdio: “Muitas pessoas com este sintoma procuram os hospitais, certos de que estão tendo um infarto", afirma o médico. Para quem tem um defeito anatômico na válvula, a solução é a cirurgia de refluxo (cardioplastia), que é uma intervenção simples que pode ser feita por vídeocirurgia. Existe também o tratamento com medicamentos que diminuem a produção do ácido gástrico. Segundo o médico Marcelo Rezende, a parede do esôfago não é própria para receber o ácido, pois possui um tecido muito sensível. Em alguns casos, o refluxo gastroesofágico pode evoluir para esofagite (inflamação da mucosa do esôfago), predispondo o paciente ao câncer. “O refluxo pode causar câncer no esôfago, pois ele gera feridas que são agravadas com o passar do tempo. O aconselhável é que o paciente procure um gastroenterologista, assim que perceber os sintomas da doença”, explica o especialista.

Já há vacina contra câncer de pele e rins

JOSY M. WERLANG ZANETTE CRP-07/15.236 Avaliação psicológica

Técnicas variadas Atendemos convênios

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ABER VIVER

Foi desenvolvida por cientistas médicos brasileiros, do Grupo Genoma, ligado ao Hospital Sírio Libanês, de SP, uma vacina contra câncer, de pele e rins, que se mostrou eficaz, tanto no estágio inicial como em fase mais avançada da moléstia. A vacina é fabricada em laboratório utilizando um pequeno pedaço do tumor do próprio paciente. Em 30 dias está pronta e é remetida para o médico oncologista do paciente. O desenvolvimento se deu sob a liderança do médico José Alexandre Barbuto. Informações pelo fone 0800-7737327 (falar com a dra. Ana Carolina ou dra. Karyn) - saite www. vacinacontraocancer.com.br

Dicas de

NUTRIÇÃO Dr. Varo Duarte

Médico nutrólogo e endocrinologista

Relembrando (7) O leite Não vamos abandonar os magníficos ensinamentos do prof. dr. Eugenio Carvalho Júnior. Após uma excursão pelas suas proteinas, vamos fazer um estágio em seus sais minerais . Mas como é sempre melhor Desta vez eu lhes pretendo Possui o nosso organismo Que nos chegam , todo dia, O sódio, o potássio, o cloro Com as funções mais diversas, Hidrogênio, manganês, O fósforo, o magnésio, Cada um deles desempenha Que fica na dependência

Conhecer um pouco mais Falar dos sais minerais. Mais de noventa elementos através dos alimentos. o cálcio, o ferro, e o iodo, Se espalham no corpo todo. O fluor, o nitrogênio, E o maior – o oxigênio Uma importante função De nossa alimentação .

Me permitirei abusar da paciência de vocês, recomendando algumas páginas do livro Alimentos Funcionais, onde encontrarão uma especificação dos alimentos mais ricos em alguns deles. O cálcio é citado em 21 páginas de meu livro. Reproduzirei apenas alguns tópicos sobre o alimento mais importante, o leite e seus derivados. (página 99). O leite é a mais completa fonte nutritiva em qualquer idade. Até os primeiros seis meses de vida, o leite materno é o alimento único e completo. Fonte de cálcio e vitamina D na pirâmide alimentar, tem um grupo reservado só para si. (página 14) Vamos ver o que diz o professor Eugênio. Pelo cálcio, meus amigos Pois ocupa, em Nutrição, Sempre bem unido ao fósforo Mantendo forte o esqueleto Mas circula em nosso sangue Cerca de dez miligramas Quando cai em nosso sangue De cálcio, a musculatura Toma parte destacada Pois o cálcio é um fator Um grama e vinte de cálcio, é a taxa fabulosa Por isto não abandone das crianças, dos adultos

Nós iremos começar um destacado lugar. como se fossem irmãos , conservando os dentes sãos uma fração pequenina – por cento – A que se destina? a fração ionizada se torna contraturada. no seu desenvolvimento, que garante o crescimento. que não faz mal a ninguém que um litro de leite tem. o leite que é alimento do velho – em todo momento.

VOCÊ SABIA... que na época do Império Romano os homens usavam pequenas almofadas aromatizadas debaixo das axilas para diminuir o odor provocado pelo suor. O desodorante( produto a base de sulfato de potássio e sulfato de alumínio, que seria capaz de controlar o suor e diminuir o odor) surgiu nos Estados Unidos no início do século XX.


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SPAÇO LIVRE

JOVEMez tem v

Martha Alves D´Azevedo Comissão Comunicação Sem Fronteiras

“O trabalho do enfermeiro não é apenas técnico, mas, sobretudo, humano”.

Cativeiro na selva

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enfermeira Ana Cristina Claro, 26 anos, residente em Porto Alegre, fala de si, de sua profissão e da arte de cuidar.

*Quem és tu? Sou uma pessoa calma, tranquila. Adoro estar sempre rodeada de amigos. Por que escolheste a enfermagem como profissão? Foi meio estranho até, eu estava no hospital com minha vó, e me identifiquei muito com o trabalho do enfermeiro, a arte de cuidar. Quais as características que julgas importante em enfermeira? Primeiramente, é preciso gostar de cuidar do próximo. Os enfermeiros são profissionais muito importantes no tratamento de enfermidades, pois são eles que acompanham periodicamente o tratamento do paciente. Além disso, o enfermeiro precisa saber que seu trabalho não é apenas técnico, mas, sobretudo, humano. Qual o defeito mais grave de enfermeira? O pior defeito ou erro que uma enfermeira pode cometer é a irresponsabilidade no cuidado ao cliente.

No exercício da enfermagem, o que mais faz sofrer a profissional? A enfermagem constitui-se atualmente numa área de saber útil à sociedade, a partir do desenvolvimento de um conjunto de atividades que são essenciais à vida, mas que ainda não são reconhecidas como deveriam ser. Qual a maior satisfação de uma enfermeira? Buscarmos reconhecimento profissional, a atenção e o bem estar do cliente e a autonomia na realização de determinadas tarefas e no processo decisório. Qual a virtude que mais admiras nas pessoas? Admiro a paciência que as pessoas têm para esperar as coisas acontecerem quando tem que acontecer, e a bondade, porque ser uma pessoa boa hoje em dia é admirável. *O que te torna feliz? Estar com a minha família e com meus amigos.

sargento do Exército colombiano Pablo Emilio Moncayo, prisioneiro das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), há 12 anos e 3 meses, na selva colombiana, foi libertado dia 30 de março último, num esforço conjunto do governo da Colômbia, do governo brasileiro, do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), da Igreja Católica e da senadora colombiana Piedad Córdoba. A localização do prisioneiro era considerada tão secreta que, pelo acordo de libertação, os pilotos brasileiros só receberiam “A presença do canal Telesur sur- um envelope com as coordenadas preendeu a todos precisas depois de ligarem os moos envolvidos na tores. Apesar destas medidas rigomissão”. rosas, um fato inusitado aconteceu. Pouco antes de o helicóptero do Exército brasileiro resgatar Pablo Emilio Moncayo, o canal de televisão multiestatal Telesur, com sede em Caracas, transmitiu imagens de Moncayo andando em círculos e, olhando para o relógio, num ponto perdido no meio da selva colombiana. “Estou a poucas horas de reencontrar minha família”, disse Moncayo olhando para a câmara. A presença da Telesur surpreendeu a todos os envolvidos na missão, pela possibilidade de fracasso do esforço empreendido, e provocou críticas imediatas do governo colombiano. Em nota oficial, o governo declarou que “o canal deve explicações ao país por estar em um ponto do território colombiano, em companhia de guerrilheiros das FARC, fazendo propaganda do grupo terrorista”. Álvaro Uribe, presidente da Colômbia, divulgou um comunicado no qual agradece ao governo brasileiro, ao CICV e à Igreja Católica pela libertação. No texto, Uribe deu as boas-vindas a Moncayo e rechaçou “os sequestradores com a maior firmeza”. Os gestos unilaterais das FARC têm, segundo a senadora colombiana Peidad Córdoba, a intenção de atrair o governo da Colômbia para uma ampla troca de reféns por guerrilheiros presos. Talvez um dia isto possa acontecer...

Tarde/noite de autógrafos Ocorreu recentemente, na Livraria Padre Reus – rua Duque de Caxias, 805 – uma tarde/noite de autógrafos para o lançamento de três obras: “Movimentos Leigos na Arquidiocese de P. Alegre, edição do Vicariato Episcopal da Cultura/CAMAL e Mons. Urbano Zilles; “Crítica da Religião”, também obra do Mons. Urbano Zilles; e “A Nova Época Humana”, de Dom Dadeus Grings, arcebispo metropolitano.

José Carlos Salgado Abreu - 01/05 José I. P. Maciel - 12/05 Yara Pires de Miranda - 15/05


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GREJA &

COMUNIDADE

Importância da dimensão comunitário-compromissal da fé munidades concretas? Será importante pertencer Tamanha é a impora uma comunidade concreta tância destes dois aspeccristã? Qual o papel desta tos – conhecer e optar pertença no processo de sal- que se pode teologivação? Deonira L. Viganó La Rosa camente dizer que a experiência cristã A mobilidade religiosa, isto é, a frenão ocorre se não houver este caminhar quente mudança de religião nos dias atuais, pedagógico até o momento da opção livre faz-nos pensar se é possível haver uma e consciente pela pessoa e mensagem de experiência de Deus sem vínculos comuniJesus Cristo. E, ao optar pela pessoa do tários e mesmo institucionais. Cristo, segundo nosso ponto de vista, É possível fazer a experiência de Deus é imprescindível optar pela pertença a sem que esta experiência seja feita junto a uma comunidade. No sentido estrito de uma comunidade dos discípulos de Jesus comunidade. Cristo? É possível fazer uma experiência Cristo está tão presente na Comunidade Deus sem o compromisso com uma de, quanto na Eucaristia. Não há nenhuma comunidade? diferença de presença, apenas de forma. O aspecto da PERTENÇA, isto é, da Se o(a) catequista não está consciente adesão livre e comprometida a uma comunideste aspecto fundamental, provavelmendade que partilha da mesma experiência, dos te estará formando pessoas apenas de mesmos ideais e das mesmas estratégias, relação vertical com Deus, esquecendo a conduz à questão sobre o tipo de relacioessencial relação com os outros. namento que se estabelece entre as pessoas e com Deus. Como ser cristão e não estar em comunidade - como é da essência da Trindade, e dela somos imagem e semelhança -? Como não meditar e orar em comunidade, não sentir-se membro de uma comunidade? Talvez nossa dúvida permaneça sobre a existência de comunidades nas paróquias, isto é, será que realmente formamos comunidade? Porque juntar um grupo de pessoas não significa necessariamente que elas formem comunidade. E será que nos “movimentos” de Igreja são formadas co-

CATEQUESE ria Solidá

Vida exemplar

Trabalhar sempre e não se deixar estressar

Irmã Conceição

Foi o segredo de Matilde Peruchi, conhecida como Irmã Conceição, da Congregação das Irmãs da Divina Providência, falecida recentemente às vésperas de completar 102 anos. Natural de Urussanga (SC) onde nasceu em 11 de dezembro de 1908, foi admitida na Congregação aos 17 anos, em 1925, na cidade de Florianópolis. Atuou durante 50 anos na enfermagem, atividade em que conheceu o cardeal Vicente Scherer, que a chamava de mãezinha pelo zelo maternal com que se desvelava toda a vez que precisava de cuidados médicos. Irmã Conceição cuidava de seu bem-estar, especialmente nos últimos anos de sua vida em que morou junto ao Hospital Divina Providência, no bairro Glória.

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Solidário

LITÚRGICO 2 de maio – 5o Domingo de Páscoa (branca) 1a leitura: Livro dos Atos dos Apóstolos (At) 14,21b-27 Salmo 144 (145), 8-13 2a leitura: Livro do Apocalipse (Ap) 21,1-5a Evangelho: João (Jo) 13,31-33a.34-35 NB.: Para uma melhor compreensão dos comentários litúrgicos é fundamental que se leia, antes, o respectivo texto bíblico. Comentário: O texto do Evangelho de João deste domingo é bem sintético, breve, não mais de dez/doze linhas; contudo, é esse texto que faz toda a diferença de um novo projeto religioso, uma nova “igreja”: Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros (13,35). Antes, numa linguagem muito própria de João, Jesus fala em “filhinhos meus”. Amizade próxima, carinho, ternura materna: filhinhos. O contexto das palavras de Jesus se situa nos dias que antecedem sua rejeição pública, até mesmo pelos discípulos que o abandonaram, condenação, morte, ressurreição e ascensão aos céus. Antes do “adeus”, Jesus deixa o legado maior do seu amor sempre presente e o sinal que deverá distinguir seus seguidores: o amor uns aos outros. Nos Atos dos Apóstolos é dito, com todas as letras, que este foi o sinal pelo qual os discípulos do Nazareno eram reconhecidos pelos demais judeus, por gregos e romanos: “vede como eles se amam”! Ao longo da história, infelizmente, nem sempre o amor foi o sinal distintivo dos seguidores de Jesus. Muitas vezes, o pecado da vingança, da retaliação, do ódio, da perseguição, das profundas contradições, da hipocrisia, do fanatismo, do “matar em nome de Deus”, de escândalos de todo o tipo, do orgulho, da ganância e da luta pelo poder temporal e econômico deixaram dolorosas marcas, expuseram “muitas rugas e horríveis manchas”! Cristãos, batizados em nome Jesus, desonraram este nome muitas vezes, escandalizando o mundo e a tantos “simples e pequeninos”. O início de um novo século/milênio cristão nos desafia a recuperar aquela igreja dos primeiros tempos e voltar a ser para o mundo e para a sociedade de hoje sinal e presença de um belo projeto religioso que faz do amor solidário sua primeira e principal referência. Somente assim podemos dizer que fazemos parte de uma igreja de Jesus Cristo que dá para o mundo um testemunho de um amor de bem-querer, de ternura, de alegria e de uma sempre nova e ativa esperança.

9 de maio – 6o Domingo de Páscoa (branca) 1a leitura: Livro dos Atos dos Apóstolos (At) 15,1-2.22-29 Salmo 66 (67), 2-8 2a leitura: Livro do Apocalipse (Ap) 21,1014.22-23 Evangelho: João (Jo) 14,23-29 Comentário: Amar é desejar que o amado seja feliz. O amor de Deus, que Jesus traz como um amor absolutamente novo, diferente, que o mundo não dá nem pode dar, é assim: Deus é feliz quando vê sua criatura, seus filhos e filhas, felizes. Esta forma divina de amar, de desejar e querer, sempre e em tudo, que o outro seja feliz, é que traz a verdadeira paz da qual fala Jesus. É um amor-doação, amor-entrega, amor-oblação, amor-comunhão. É o único amor que pode trazer paz e verdadeira felicidade. A maioria das pessoas que diz amar, ama com amor de “Cristãos, ba- apropriação: o amor apropriativo transforma a pessoa tizados em nome amada em objeto, em coisa, em consumo. Jesus de Jesus, deson- adverte seus discípulos sobre o amor apropriativo. raram este nome Eles queriam Jesus para si, ser “donos” da sua pessoa muitas vezes”. e do seu Projeto, e isso aparece claramente em várias passagens da Escritura. Queriam se apropriar de Jesus. Jesus, como o Pai que ele anuncia, e o Espírito que ele promete enviar, não são de ninguém em particular, mas são de todos e para todos. Essa advertência Jesus expressa quando Jesus diz: Se me amásseis, ficaríeis alegres porque vou para o Pai (14,28). Em outras palavras: ficaríeis felizes porque eu serei feliz. Celebramos, neste domingo, o Dia das Mães. A maternidade assumida e vivida no amor-doação é sinal e presença do jeito divino de amar: a felicidade do filho é a felicidade da mãe. Jesus quer que todos os seus discípulos vivam este amor: que sintam alegria e felicidade na alegria e na felicidade de todas as pessoas que entram e passam em suas vidas. Este é um amor novo, ativo, revolucionário, transformador. Num mundo e num tempo em que a maioria faz do amor um espaço de posse, somos convocados a ser testemunhas do amor-doação que fica feliz com a felicidade do outro, seja ele quem for. (attilio@ livrariareus.com.br)


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Evolução integral Benedicto Ismael C. Dutra

a mesma forma que os animais, os humanos também possuem um instinto imitativo, sendo que o homem está mais sujeito às manipulações por se subordinar ao cérebro sem se dar ao trabalho de examinar intuitivamente tudo o que lhe é apresentado. Os animais se imitam entre si, em seus ruídos e movimentos. Também há contágio emocional como no caso de alegria ou medo. Os animais em bando sempre seguem o líder, que age impulsionado pelo instinto, sem premeditação. Com os humanos isso é diferente, pois os líderes humanos, aproveitando-se dos mecanismos do cérebro, iludem as massas que, acomodadas e indolentes, se deixam arrastar por caminhos destrutivos para atender aos propósitos de lideranças mal intencionadas. O vício do fumo, por exemplo, teve um enorme aumento pela imitação dos modelos masculinos e femininos largamente difundidos através do cinema e pela propaganda, pois as imagens foram absorvidas pelo cérebro sem o crivo da intuição para verificar os efeitos nocivos do cigarro. O aumento da violência também está associado ao padrão imitativo. Desorientada, a humanidade se deixa envenenar pelo que lhe é dado a ver ininterruptamente, perdendo o equilíbrio mental e emocional, sendo por isso arrastada pelos tumultos. É evidente que os humanos necessitam controlar e dominar a máquina de pensar para não serem subjugados por ela. Com a progressiva dominação da parte mental, o cérebro vai se tornando uma fera indomável capaz de cometer as mais cruéis atrocidades. A vida se transforma num inferno com os mais brutais acontecimentos. Humanos contra humanos, filhos contra pais e vice-versa. Na falta da evolução integral como meta da humanidade, os seres humanos tendem para uma convivência difícil, enfrentando muitas disputas e rivalidades, cercados de medos e preocupações com a falta de respeito e a consideração mútua. Por causa disso, muitas coisas ficaram retardadas, sem liberdade para prosseguir a marcha da contínua evolução e aperfeiçoamento. Agora estamos enfrentando a era das dificuldades. A falsa compreensão sobre a vida e a origem do homem arrastou a humanidade a um ponto crítico em que passamos a extrair recursos acima da capacidade de reposição da natureza. Então veio a crise, como uma brecada repentina, que está reduzindo a velocidade do crescimento na tentativa de estabelecer um nível que o planeta possa suportar sem entrar em pane. Novamente, surgem graves ameaças de polarização social, surgindo revoltas em vários países, o que poderá se tornar incontrolável. Uma nova educação se faz necessária, visando a promoção do desenvolvimento integral como meta dos pais, professores e da sociedade em geral. Uma educação fundada na realidade natural, sem as sofisticadas teorias distanciadas da vida real, difíceis de serem assimiladas e sem muita utilidade para o estabelecimento de um modo de vida construtivo e benéfico. (bidutra@attglobal.net)

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OMUNIDADE

Diaconato Permanente

Dom Orani João Tempesta

Graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP

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Arcebispo do Rio de Janeiro

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os últimos anos temos visto na Igreja o incremento do ministério do Diácono Permanente. Não resta dúvida de que os padres conciliares foram inspirados para esta restauração. A retomada desse ministério, como uma vocação própria, é uma grande riqueza para nós. Tive a oportunidade de poder vivenciar várias experiências ligadas ao diaconato permanente, seja em minha paróquia, seja iniciando a escola diaconal em minha primeira diocese ou então continuando uma caminhada das mais antigas do Brasil, na arquidiocese anterior a que servi. Percebi a importância e o valor do diaconato permanente, tanto no campo social como na presença evangelizadora da Igreja nos diversos âmbitos e também nas comunidades. Posso testemunhar por minhas experiências a riqueza da vida, da missão e trabalho diaconal o bem que se faz à Igreja. Nem sempre as pessoas compreendem como esse passo que o Concílio Vaticano II nos deu foi profético. Muitos selecionam do Concílio apenas aquilo que querem e não acolhem esse grande dom que nos foi dado. Muitas comunidades no Brasil e no exterior já deram grandes passos nessa direção, enriquecendo a Igreja local com os diversos carismas e dons. Se nos atualizamos com alguns números do Anuário Pontifício, ficamos impressionados com a vida diaconal em algumas dioceses nos Estados Unidos: Nova York conta com 377 diáconos, Los Angeles possui 261, e Boston com 257. Os pastores dessas megalópoles, com todos os seus desafios pastorais e sociais tão grandiosos quanto os nossos, souberam acolher a proposta conciliar e deram passos que hoje marcam o trabalho dessas Igrejas. O importante é que “é preciso superar uma inércia ministerial das Igrejas, acostumadas a ver só um tipo de ministério ordenado na comunidade” (doc. 57 - pg. 22 – Estudos da CNBB - 1988). A ação do Espírito Santo se adiantou às nossas necessidades e missão. Aqui na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro começou uma das primeiras iniciativas para a ordenação de diáconos permanentes ainda com o meu predecessor, cardeal Dom Eugênio, sendo ele também um dos pioneiros na defesa desse ministério. Tive a graça de suceder em Belém e aqui no Rio de Janeiro a arcebispos pioneiros que trilharam esse caminho, e foram fieis ao Concílio, com a organização desse ministério hierárquico. Acredito que seria muito importante uma histó- Cursos ria dessa vocação,

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seus inícios, passos e com mais dados e fatos em nossa Igreja do Rio de Janeiro. A nossa Arquidiocese criou a sua Escola Diaconal, onde os candidatos passam quase 5 anos de intensa formação doutrinal, pastoral e sacramental, de acordo com as horas-aula que são exigidas segundo os documentos que organizam a formação diaconal. Com toda esta história e com o trabalho sendo bem desenvolvido, peço a Deus que nos envie muitas vocações para que possamos incrementar ainda mais, com o diaconato permanente, a nossa missão evangelizadora e catequética nesta grande cidade. Tive a alegria de ordenar, em novembro passado, o mais novo grupo de diáconos permanentes, que vem somar forças com aqueles que já caminham e servem a esta Igreja com generosidade e alegria. A própria comunidade paroquial é fonte de vocações desses homens que estão dispostos a uma doação mais radical e profunda pela causa do Evangelho. É um belo testemunho que temos ao nosso redor com tantas pessoas de diversas situações culturais e sociais se colocarem a serviço do povo de Deus com generosidade e alegria, autorizados pelas esposas e com a alegria dos filhos. Somos chamados a dar testemunho e nos empenharmos numa lógica de comunhão ministerial, onde percebamos que a vida ministerial deve estar completa para que possa transparecer todo o múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo, cabeça e fundamento de toda a vida vocacional na Igreja. E que possamos, assim, perceber toda a riqueza de vocações e de serviços que existem no corpo da Igreja, onde todos estão a serviço de um único Senhor e de um único Evangelho. Todos, sendo diferentes na sua caminhada vocacional, e sendo diferentes no modo de vida na qual assumem os seus propósitos de bem servir à Igreja de Cristo, devem ter o firme propósito de completar em si mesmos o único ministério do Cristo, e do qual emanam todas as vocações. Peço ao Senhor da Messe que nos envie boas e santas vocações diaconais para a nossa Igreja. O cânon 385 nos recorda que: “O bispo diocesano incentive ao máximo as vocações para os diversos ministérios”. Assim, respondo com alegria ao pedido que a Mãe Igreja me pede: promover as vocações em todos os seus ministérios, e, agora, aqui, especialmente, o ministério diaconal.

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Porto Alegre, 1o a 15 de maio de 2010

Foto magazine: Thomas Rhiel/sxc.hu - Foto por-do-sol: Solidário

Contemplar: olhar com o coração

No apressado mundo do consumo, não sobra mais tempo para a entrega a uma paisagem verdejante de um vale ou de uma serra iluminada ao primeiro sol da manhã. Ou para observar uma folha seca de outono pairar no ar e dançar lentamente antes de chegar ao solo. Escutar o som da brisa e do vento ou da onda do mar no seu encontro com a areia ou do passarinho a anunciar o novo dia. Ou para apreciar um quadro no museu, uma escultura na praça, uma sinfonia no teatro ou em casa. A ‘falta de tempo’ dos tempos atuais nos deixou cegos e mudos de coração e nos roubou a verdadeira paz interior, a paz de nos fazer sentir vivos, inteiros. Porque nosso olhar e mente estão divididos entre a vitrine da roupa nova, da jóia, do sapato; entre a prateleira de comidas ou de discos e DVDs ou entre a tela de TV ou computador que anuncia a felicidade com um novo carro, ou uma casa nova.

Casa interior

Congresso Eucarístico e os 50 anos de Brasília Com programações religiosas e civis paralelas e intercaladas, Brasília vive a antevéspera do XVI Congresso Eucarístico Nacional e o Jubileu de Ouro de Fundação da Capital do Brasil. O tema do XVI Cen é “Eucaristia, pão da unidade dos discípulos missionários” e lema “Fica conosco, Senhor!” (cf. Lc 24,29). Terá celebrações eucarísticas, momentos de adoração ao Santíssimo Sacramento, shows, feira católica e atividades culturais. As principais atividades do CEN de Brasília serão realizadas no Ginásio de Esportes Nilson Nelson, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães e na Esplanada dos Ministérios, em um altarmonumento com 150 metros de largura e 23 metros de altura. Um

dos destaques desta edição do CEN é o Simpósio de Teologia e Bioética que acontecerá em 13 e 14 de maio no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. A partir da temática do CEN, os delegados dos simpósios refletirão sobre questões relevantes e atuais do cenário políticosocial brasileiro. Na ocasião, um documento com diretrizes sobre questões relacionadas à vida, desde a concepção até a morte, será lançado. É a segunda vez que Brasília sedia o CEN. A primeira foi em 1970, quando a capital celebrava 10 anos. O evento ocorre a cada cinco anos em capitais brasileiras. Porto Alegre foi sede do III Congresso Eucarístico Nacional em 1948. O XV CEN foi realizado em Florianópolis em maio de 2006.

“Eu repreendo e castigo aqueles que amo. Reanima, pois, o teu zelo, e arrepende-te. Eis que estou à porta e bato: Se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, Eu com ele e ele comigo” (Apo. 3,19-21). Contemplar é entrar na nossa casa interior, já disse alguém. É olhar para dentro de si mesmo para uma verdadeira cura psicológica, proporcionando descanso e paz. S. Inácio de Loyola preconizava três estágios de exercícios espirituais: cogitação (inquietude), meditação e contemplação. A contemplação é o grau mais elevado de oração que nos dá profundidade no relacionamento com o Senhor. É uma oração de expressão psico-afetiva. O mundo de hoje nos atrai para fora, impedindo qualquer atitude de silêncio e introspecção: parece perda de tempo.

“Arte Sacra – Reflexões e Imagens” É o título do livro da artista plástica Clarice Jaeger, que terá lançamento dia 3 de maio próximo, às 19 horas no Museu de Comunicação Social, em Porto Alegre (Andradas esq. Caldas Jr.). A obra reúne retrospecto histórico da arte sacra com oportunas e apropriadas releituras em xilogravura de obras presentes em museus e igrejas de Roma, Veneza, Ravena, Assis, entre outras, produzidas entre os séculos IV e XIII da era cristã. E nas páginas finais, reproduz 16 painéis em cores de trabalhos executados pela autora em diversos lugares do Brasil. O livro é um convite para um pouco de ‘perda de tempo’ para apreciar a arte e à entrega às coisas escondidas que estão dentro da linguagem simbólica, especialmente a que ainda é possível encontrar no interior de algumas de nossas igrejas. Porque, parafraseando Helene Jung – a artista plástica – “verdades eternas só podem ser expressas por meio de imagens”. A obra é uma edição Padre Reus – Livraria e Editora.


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