Ed 629

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IMPRESSO ESPECIAL CONTRATO No 9912233178 ECT/DR/RS FUNDAÇÃO PRODEO DE COMUNICAÇÃO CORREIOS

Porto Alegre, março de 2013 - 1a quinzena

Ano XVIII - Edição N o 629 - R$ 2,00

Campanha da Fraternidade apoia projetos sociais em todo Brasil

Sede vacante Cadeira vazia no Vaticano à espera de um novo ocupante, depois da inesperada e inusitada renúncia de Bento XVI. A fumaça branca, seguida do habemus papam, são esperados por todo os católicos. E podem ocorrer antes da Páscoa.

Em 2012 foram arrecadados mais de R$ 13 milhões, dos quais 40 por cento – R$ 5.449.723,13 – foram aplicados em 245 projetos em todo o País, através do Fundo Nacional de Solidariedade, coordenado pela Cáritas Brasileira. Os outros 60 por cento do total da coleta, que é feita no Domingo de Ramos, revertem para os Fundos Diocesanos de Solidariedade que os aplica em apoio a projetos sociais da própria comunidade diocesana.

Chacina no trânsito

Cadeira papal de Leão XIII, usada por Bento XVI na maioria das suas audiências públlicas.

Contracapa dominusvobis.blogspot.br

Quaresma: tempo de conversão Arquidiocese de Campo Grande

Sois pó e em pó vos haveis de converter, diz o padre ao aplicar, em forma de cruz, as cinzas na cabeça dos fiéis no primeiro dia da Quaresma. O ritual é um dos mais simbólicos, pois lembra-nos da fragilidade da vida. Viemos do pó, somos pó e ao pó da terra voltaremos. De nada adianta acumular bens materiais, pois não podemos levá-los na bagagem da última viagem. Para esta viagem, só podemos levar as boas ações e a solidariedade que tivermos praticado. Páginas centrais

Todos os dias ocorrem, pelo menos, 723 acidentes nas rodovias pavimentadas do Brasil, segundo o SOS Estradas. E causa a morte de 35 pessoas, deixando 417 feridos, dos quais 30 morrem em decorrência do acidente. Ao ano, isso significa 12.775 mortos e 152.200 feridos, dos quais morrem mais 11.000. As causas: alcoolismo, imprudência e estradas em mau estado. Até quando?

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RTIGOS

Voz do Pastor Dom Dadeus Grings

Editorial

Arcebispo Metropolitano de P. Alegre

O único meio de viver

Passageiros da história

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ara alguns gostos pode parecer “tratamento de choque” quando a Igreja, na Quarta-feira de Cinzas, lembra que o homem, numa linguagem figurativa, vem do pó e volta ao pó. Talvez também por isso não se use, na celebração das cinzas, a antiga fórmula - lembra-te, homem, que és pó e ao pó hás de voltar – para “amenizá-la” na frase proposta pelos textos litúrgicos disponíveis: Converte-te e crê no Evangelho. Permanece o sentido que o tempo da Quaresma, anualmente repetido como preparação da festa maior da cristandade, a Páscoa, nos quer passar: somos apenas passageiros da história, inquilinos deste minúsculo planeta, finitos por natureza, mortais por definição. É uma verdade incontestável, que tantos esquecem ou não querem lembrar: tudo o que um dia nasce, um dia morre; nada e ninguém tem aqui morada permanente. Diante desta verdade, dois caminhos, duas alternativas, duas atitudes, duas maneiras de viver a vida: ou criar absolutos, como se fosse aqui nossa morada definitiva e única, tentando excluir a verdade “morte” da sua vida ou, então, relativizar o tempo de nossa história, tudo o que somos e possuímos, apontando para um horizonte mais amplo, um tempo e uma vida depois da morte. Pode repugnar a muitos a ideia da morte, mas sua realidade é a verdade mais verdadeira para toda pessoa. Paradoxal, talvez, mas muito pertinente o que diz Santo Agostinho, refletindo sobre a morte e como, na morte, todas as diferenças desaparecem: Abri aquelas sepulturas e vede qual é ali o senhor e qual o servo; qual é o pobre e qual o rico? Distingui-me ali, se podeis, o valente do fraco, o formoso do feio, o rei coroado de ouro do escravo carregado de ferros? O grande e o pequeno, o rico e o pobre, o sábio e o ignorante, o senhor e o escravo, o príncipe e o cavador, o alemão e o etíope, todos ali são da mesma cor. Apesar de todas as diferenças em vida, construída por muitos, endeusada por tantos, na morte somos todos, definitivamente, iguais. Além do tema da relatividade das coisas da vida e a certeza da morte (páginas centrais), trazemos uma importante entrevista com o Pe. Marcelino Sivinski relacionada com o tema da Quaresma e este ano especial com foco no jovem. E, na última página, diferentes opiniões e colocações sobre a surpreendente renúncia de Bento XVI que leva a uma pergunta que não pode calar, neste momento: para onde caminha a Igreja!? Sem medo do futuro, com fé e oração, somos levados a apostar numa Igreja, sinal e sacramento de salvação e sentido para muitos... para a humanidade. (attilio@livrariareus. com.br)

Fundação Pro Deo de Comunicação CNPJ: 74871807/0001-36

Conselho Deliberativo

Presidente: Agenor Casaril Vice-presidente: Jorge La Rosa Secretário: Marcos Antônio Miola

Março de 2013 - 1a quinzena

Voluntários Diretoria Executiva

Diretor Executivo: Adriano Eli Vice-Diretor: Martha d’Azevedo Diretores Adjuntos: Carmelita Marroni Abruzzi, Elisabeth Orofino e Ir. Erinida Gheller Secretário: Elói Luiz Claro Tesoureiro: Décio Abruzzi Assistente Eclesiástico: Pe.Attílio Hartmann sj

muitos anos é envelhecer

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vida é como o vinho. O tempo aprimora o que é bom e azeda o que é ruim. O desenvolvimento humano se resume em quatro relações que devem ser aprimoradas: consigo mesmo, com os outros, com o mundo e com Deus. Realizar-se é, pela própria raiz da palavra, tornar-se real. Isso significa que somos tudo em potência. Temos uma capacidade de passar da potência para o ato, ou, o que é o mesmo, passar do virtual ao real.

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ossa trajetória terrestre pode-se enquadrar no cálculo dos juros compostos. Não trabalhamos apenas com nossa capacidade inata, como que a calcular em juros simples nossa atividade. Nascemos desprovidos de quase tudo ou, dito de modo positivo, viemos ao mundo com uma abertura ativa de assimilação que, aos poucos, vai complexificando. Começamos a tomar consciência de nós mesmos, de nosso ser e de nosso agir, de nossas relações e de nossas metas. Percebemos os limites dentro dos quais nos cabe atuar. Por isso se chega a dizer que a vida é uma invenção. Cada um inventa seu modo de ser pela maneira que deseja para si. eria ingênuo quem pensasse que sua capacidade lhe basta. Fecharse sobre si mesmo é empobrecer e acabar morrendo de inanição. Precisamos conquistar algo na vida para torná-la aceitável e real. Infelizmente, nem sempre conseguimos atingir os verdadeiros valores. Estamos mais voltados para os bens finitos do que para os infinitos, que deveríamos colocar ao alcance de nossa mente. Há sempre duas perguntas a fazer: onde estamos e onde deveríamos estar? ser retrata a atualidade e indica o estágio da vida em que nos encontramos. É resultado do passado, como conquista e herança, mas também antecipa, com esperança, o futuro. São Paulo caracteriza o cristão como alegre pela esperança. Fazemos o cômputo das realizações e das esperanças. Isso cons-

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Conselho Editorial

Presidente: Carlos Adamatti Membros: Paulo Vellinho, Luiz Osvaldo Leite, Renita Allgayer, Beatriz Adamatti e Ângelo Orofino

Diretor-Editor Attílio Hartmann - Reg. 8608 DRT/RS Editora Adjunta Martha d’Azevedo

titui nosso presente. É o que nos torna reais, expresso por duas palavras complementares: atualizado e realizado. Não são sinônimos. Estar atualizado é estar em dia. Não estar frustrado é sentir-se realizado. Ser real, como pessoa, é estar bem relacionado, consigo mesmo, com os outros, com o mundo e com Deus. Consigo pela consciência, numa plena auto-estima, pela aceitação do próprio passado, nas diversas fases da vida, pela vivência do presente, com o corpo, a sexualidade equilibrada, a capacidade intelectiva e volitiva desenvolvida. Mas sempre em evolução, até o fim da vida. em depois a relação com os outros como constitutiva de nosso ser. Integra nossa realização. Viver é conviver. O Evangelho sugere fazer amigos com os bens materiais, para que a vida tenha futuro. O maior tesouro que podemos amealhar na vida são as amizades. Amigos se conquistam a dura pena. Amizades se fazem em extensão e em profundidade. egue-se a relação com o mundo. E por fim, com Deus, princípio e fim de todas as coisas. Perpassa e dá sentido à relação consigo, com os outros e com o mundo. Mas é diferente. Transcende o imediato. Só pela fé se chega a ela. É mais íntima do que eu mesmo. Está em tudo. Chamamo-lo por isso Bem Supremo. Se encontramos algum bem em nós, nos outros e no mundo, o referimos a Ele e o vemos nele. Ele dá consistência a tudo. Só Ele realiza, isto é, torna plenamente reais as coisas e as pessoas.

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Redação Jorn. Luiz Carlos Vaz - Reg. 2255 DRT/RS Jorn. Adriano Eli - Reg. 3355 DRT/RS

Revisão Ronald Forster e Pedro M. Schneider (voluntários) Administração Elisabete Lopes de Souza e Norma Regina Franco Lopes Impressão Gazeta do Sul

Rua Duque de Caxias, 805 Centro – CEP 90010-282 Porto Alegre/RS Fone: (51) 3093.3029 – E-mail: solidario@portoweb.com.br Conceitos emitidos por nossos colaboradores são de sua inteira responsabilidade, não expressando necessariamente a opinião deste jornal.


Março de 2013 - 1a quinzena

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AMÍLIA &

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OCIEDADE

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Casamento: A aprendizagem do prazer Deonira L. Viganó La Rosa Terapeuta de Casal e de Família. Mestre em Psicologia

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aber criar ou recriar momentos de prazer é essencial ao ser humano. Ter prazer é o meio pelo qual o ser humano experimenta e nutre seu desejo de viver e, reciprocamente, é seu desejo de viver que lhe permite criar prazeres. Esta interação constitui a história de cada um com a vida e o prazer. Cada qual carrega consigo sua história, sua cultura familiar e religiosa, suas experiências, as quais são responsáveis por modelar nele sua capacidade de dar-se e de dar prazer. Em especial, o modo como cada um se relacionou e se relaciona com o próprio corpo atua como um inibidor ou um facilitador das experiências de prazer, já que o prazer é da ordem do sentir corporal. Harrison Keely/sxc.hu

A busca do prazer no casamento

O meio mais natural, senão o mais fácil, de mostrar o amor, no casamento, é criar de prazer juntos e permanecer enamorados. Pode um cônjuge dizer ao outro Eu te amo, mas teu prazer me é indiferente? Eu te amo, mas não tenho mais desejo de dar-te prazer? Eu te amo, mas meu prazer não depende de ti? Quando o casal não consegue encontrar junto o prazer, ele está em perigo. Se os desprazeres ultrapassam os prazeres, podemos dizer que o motor que move o casal está com falta de combustível. O prazer do qual estamos falando não é apenas o prazer sexual. Embora as relações sexuais sejam a fonte e a expressão privilegiadas do prazer, todos os outros prazeres podem ter a função específica de fazer explodir a conivência profunda do casal. Esses momentos de prazer, encontrados nos projetos conjuntos do casal, na realização de seus sonhos, nos momentos de lazer, na superação conjunta das dificuldades, nutrem o desejo de viver e são o combustível de que falávamos antes. Por tudo isso, fica combinado, é preciso cuidar do prazer! Quando ele lhe é dado com facilidade, aproveite! Quando o período é sombrio e as dificuldades se acumulam, procure-o com esperança e perseverança, seu casamento tem necessidade dele para viver.

E o sacrifício tem lugar na vida de um casal?

Uma renúncia ao prazer, aos desejos e impulsos naturais, tem sentido quando feita para o bem, próprio ou de outrem. O parceiro muitas vezes será a motivação e a inspiração para o sacrifício, mas ele não é o seu determinante. Aquele que o faz quer obter algo melhor e mais rico, a médio e longo prazo, por isso sacrifica o que é prazer a curto prazo. Este tipo de sacrifício é obviamente desejável numa vida comum prazerosa. Mas a renúncia que lesiona a própria individualidade e fere os próprios limites é indesejável e traz

Momentos de prazer, encontrados nos projetos conjuntos do casal, na realização de seus sonhos, nos momentos de lazer, na superação conjunta das dificuldades, nutrem o desejo de viver dos parceiros

consequências danosas para o relacionamento, porque uma das partes sente que a outra lhe deve algo e pode cobrar o que desejar sem respeitar as possibilidades do outro. Para que um casamento seja de fato uma união verdadeira de corpos e almas, será necessário que os cônjuges tenham a liberdade de escolha reafirmada ao longo do casamento, no qual as renúncias jamais resultem em lesões à vida de cada um. O casal deve ter bem presente que sacrifícios têm sentido quando deles se extrai o bem e o crescimento da própria vida. Os sacrifícios que violentam e desrespeitam os próprios limites trazem prejuízos e lesões, em nada construtivos. Embora seja certo que encontraremos em todo casal um número significativo de diferenças que exigem sacrifícios, para bem administrá-las também é necessário que exista um número grande de igualdades. Não só de oposições se faz um vínculo de casal, pois, com tudo difícil e sacrificado, a vida se tornaria um inferno. Quase nada aconteceria com facilidade e prazer, um teria sempre de fazer um

esforço para encontrar-se com o outro e raramente aconteceria gostarem das mesmas coisas. Enfim, a vida em comum seria composta de muitos sacrifícios, renúncias e desencontros e, nestas condições, dificilmente as diferenças poderiam ser vividas de maneira criativa. Num relacionamento de casal é preciso que em muitos aspectos as coisas sejam prazerosas, leves e fáceis, e os cônjuges concordem sem esforço, valorizem ou gostem espontaneamente de muitas coisas em comum e que existam atividades pelas quais os dois se interessem e onde se encontrem como bons companheiros. Como tudo o que é vivo, a relação conjugal sadia deve ter os momentos de encontro e os de confronto, nos quais as vivências das polaridades e diferenças possam trazer transformações. Se do sacrifício não resultam transformações, para que o sacrifício? O casal que vive com prazer o companheirismo, com certeza terá mais facilidade para administrar o sofrimento quando este se fizer sentir e não puder ser evitado.


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4 Programas policiais ou violentos Luiz F.Gomes Jurista

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oda a humanidade antiga está cheia do respeito ‘Ao espectador’, porque este mundo estava feito para os olhos e não podia conceber-se a felicidade sem espetáculos e sem festas. Até o grande castigo, repito, era uma festa” (Nietzsche, A genealogia da moral, p. 68). Por que o castigo era (na pré-história) e ainda hoje é uma festa? Porque ele retrata uma vingança, que é prazerosa. O cérebro humano está sempre predisposto (programado) para três coisas: sobrevivência (busca por alimentos), procriação (sexo) e diversão (jogos e o prazer da vingança). Muita gente, para não dizer a quase totalidade dos telespectadores, adora ver programas midiáticos policiais (às vezes policialescos) ou violentos não para ver sangue, não para, no final, se sentir aliviado porque toda aquela desgraça não aconteceu com ele. Não é nada disso ou não é somente isso. Por que, então? Para ver se, no final, o culpado vai ser devidamente punido e qual vai ser o castigo. A relação culpa-castigo é muito ancestral. A ideia de que todo culpado ou devedor que não cumpre sua promessa tem que ser punido vem da pré-história. Todas as vezes que nos deparamos com um criminoso (ou devedor que não cumpre a promessa) surge o sentimento de vingança, que leva à necessidade, antes de tudo psicológica, de aplicação de um castigo. E que esse castigo seja o mais intenso possível, o mais doloroso que se possa. Por quê? Porque o homem animal tem que gravar na sua memória o castigo (doloroso) para aprender a não fazer o errado, para não ser malvado, para não danificar terceiros. O castigo funciona como instrumento de “domesticação” da besta humana. E “como é que se pode imprimir no animal homem, nesta inteligência de momento, obtusa e turva, nesta encarnação do esquecimento, algo com caracteres tão fundos, que sempre permaneçam presentes? Este problema tão antigo, como se pode imaginar, não se resolveu por meio de respostas suaves; talvez na pré-história do homem não haja nada mais terrível que a sua mnemotécnica” (Nietzsche, A genealogia da moral, p. 60). E o que se entende por mnemotécnica? Nietzsche (p. 60) responde: ‘Imprime-se algo por meio de fogo para que fique na memória somente o que sempre dói’, este é um axioma da mais antiga psicologia, e infelizmente o que mais durou (agregaríamos: e o que mais dura). É esse duro castigo (como fruto da vingança), que deve gerar dor, o possível fio condutor que leva muita gente a seguir os programas midiáticos policiais ou violentos. Para ver esse castigo (vingança) o telespectador é capaz de esperar horas e horas (às vezes dias, semanas ou meses). O ato da violência serve para revolvimento das nossas emoções, como reforço das nossas convicções morais tendentes à necessidade do castigo. As mídias, como ninguém, sabem explorar essas reações emotivas ou vingativas, que são atávicas.

Março de 2013 - 1a quinzena

PINIÃO

As pessoas são construídas na família Antônio Mesquita Galvão Doutor em Teologia Moral. Especialista na temática familiar*

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comum escutar que a família é construída a partir das pessoas, pais, filhos, avós, netos, sobrinhos, etc., ligados por laços históricos, culturais, de parentesco sanguíneo ou não. Esta afirmação tem fundamento até certo ponto, pois não existe família sem pessoas. No entanto, é salutar observarmos que é a partir da família biológica, ou melhor, de sua otimização, que vai começar a construção e o crescimento das pessoas. Tudo se inicia pela constatação de que a família, muitas vezes, é composta de pessoas tão desiguais, com características psicossociais sociais díspares. O casal, por exemplo, ao criar uma família, reúne duas pessoas que têm histórias diferentes. Nesse particular a família – embora exceções – reúne aspectos constitutivos, como o afetivo, o relacional, o sociológico, o psicológico, o econômico, o cultural e o romântico. Uma família se compõe, entre outros fatores, do afetivo, do biológico e do relacional. Quando o poeta afirmou que dentre as coisas que catalisaram sua vida foi o aconchego do lar paterno, ele recordou a força de uma formação psicossocial que se organiza a partir da família bem estruturada, capaz de construir pessoas com base no amor, no respeito e na liberdade. Isto não é utopia, pois o inverso é verdadeiro, onde pessoas sem estrutura são fruto de famílias incapazes de qualquer tipo de construção afetiva. Pode haver diferenças, mas a regra geral é esta. O verbo que move a construção das pessoas é amar, que, como falar, caminhar e trabalhar precisa ser começado, desenvolvido. Trata-se de um verbo ativo que não admite passividade ou acomodação. De fato, amor não é só sentimento, como dizem alguns: “Eu só vou amar quando começar a sentir...”. Não! Deve-se buscar o amor a partir do primeiro passo. Se

eu não começo a amar nunca vou sentir nada. O amar traz à construção de uma família a compreensão, o apoio, a confiança, a liberdade. Eu e minha mulher sempre dizemos que a gente “se suporta” um ao outro, não no sentido de aturar, mas de “dar suporte” nas diversas circunstâncias de nossa vida. Para que a construção seja sólida, como uma “casa sobre a rocha”, é preciso o interesse e o perdão. Não se trata de uma atitude leviana e comodista. Perdoar, do latim per donare (dar para), é dar alguma coisa a quem precisa. Se alguém me ofende se torna meu devedor. Quando eu perdôo uma pessoa, a dívida fica quitada. A “matéria prima” do perdão é o erro do outro. Porque erramos Deus nos dá seu perdão. Nesse particular, perdoar se subdivide em vários atos, como vontade, generosidade e consciência. Na busca da construção das pessoas a partir do contexto familiar é importante sempre reconstruir (se). *O autor escreveu vários livros, dentre eles “Quer casar comigo?” (Paulinas), “A família modelo” (Loyola), “A casa sobre a rocha” (Vozes) e “Vivência e convivência” (Recado)

Reflexões sobre tragédias Wladimir Pomar Escritor e analista político

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uando acontecem tragédias, como a de Santa Maria, na qual mais de duas centenas de jovens perderam suas vidas, o senso comum é o de buscar as responsabilidades individuais. Parece haver um sentimento arraigado de que, embora as vidas perdidas jamais sejam resgatadas, penalidades sobre os indivíduos diretamente responsáveis ao menos demonstrariam a existência de justiça e mitigariam parte da dor dos parentes, amigos e conhecidos. Esse sentimento é alimentado pelas reportagens e comentários de muitas personalidades e autoridades. Poucos suscitam a discussão sobre o senso, também comum, propalado insistentemente pela publicidade, de que a propriedade privada é melhor, mais responsável e menos onerosa do que a propriedade pública. E de que governos e autoridades públicas não deveriam se imiscuir nas atividades empresariais. Parecem esquecer que empresários privados, pressionados pela competitividade, buscam sempre materiais e equipamentos menos custosos. Entre um forro de material bem mais barato, mesmo que contenha elementos tóxicos, e um forro mais caro, livre de tais elementos, ele comprará o primeiro, porque esse é um dos inúmeros fatores que contribuem para a sua rentabilidade. Portanto, para a sua continuidade como empresário privado. Se examinarmos cada item que contribuiu para essa tragédia e para as inúmeras outras ocorridas em qualquer lugar do mundo, vamos encontrar diversos elos formando cadeias, relativamente longas. Elas incluem os empresários que montaram o negócio de alto risco, os empresários que venderam os materiais e equipamentos de segunda categoria para eles e os empresários que produziram tais materiais. A cada uma dessas cadeias de responsabilidade privada podemos relacionar inúmeros elos e cadeias do poder público. Desde os que deveriam fiscalizar a aplicação das normas, os que fornecem os alvarás de funcionamento e os que permitem a produção e a venda de equipamentos e materiais de risco, até os que elaboram as normas, regulamentos e leis que deveriam prever os riscos e impor restrições e exigências à produção, venda e instalação de equipamentos e materiais pouco seguros. É essa cadeia diluída de responsabilidades que pode criar, eventualmente, a absurda probabilidade legal de que

os proprietários do salão de eventos e os músicos da banda pirotécnica não estivessem infringindo qualquer norma jurídica. Talvez o excesso de público seja o único crime passível de imputação. Do ponto de vista prático, é evidente que todos eles já vinham, há muito, praticando ações de alto risco, que ameaçavam a vida dos frequentadores de seus shows e baladas. A tragédia estava, portanto, programada, porque todas as condições para sua materialização estavam dadas. Nesse sentido, nada muito diferente do que ocorreu com o desabamento de três prédios na cidade do Rio de Janeiro, com o deslizamento de encostas na região serrana de Teresópolis, e com outras tragédias que se repetem periodicamente. Seria possível listar uma série de situações potencialmente trágicas. Apesar disso, essas questões não parecem merecer a atenção devida. A legislação continua incompleta e atrasada, não municiando nem modernizando o poder público para enfrentar nem mesmo os velhos riscos, quanto mais os novos. Assim, em homenagem aos jovens engolfados pela tragédia gaúcha, talvez o povo brasileiro não devesse se contentar apenas com a punição dos indivíduos diretamente responsáveis, ou com a elaboração de normas mais duras para o funcionamento de casas noturnas. Talvez seja o momento de exigir, além da reforma política que extinga o financiamento privado de campanhas eleitorais, uma das raízes das lacunas no controle dos riscos de funcionamento das empresas privadas, uma reforma mais séria da legislação brasileira sobre o uso do solo agrícola e urbano, e sobre todos os pontos que apresentam riscos evidentes para a população. (Fonte: www.correiocidadania.com.br)


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DUCAÇÃO &

SICOLOGIA

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Disfarce, hipocrisia e sinceridade Juracy C. Marques Professora universitária, doutora em Psicologia

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inter-relacionamento humano se reveste de extrema complexidade, nunca temos certeza se conseguimos entender em sua plenitude o que o outro quis nos dizer. Há uma cegueira psicológica nos entrelaçamentos dos fluxos de comunicação, talvez porque as pessoas estão mais focadas no que vão dizer e não naquilo que seu interlocutor está dizendo. Isto ocorre, com mais clareza quando se quer disfarçar, pretendendo ser o que não se é ou querendo ocultar alguma informação que poderia vir a comprometer nossa autoestima ou aquilo que desejamos que os outros pensem de nós. Aí se estabelece um caldo de cultura propício ao disfarce e à hipocrisia, enredado em mecanismos de defesa que se apresentam em variadas nuances de difícil interpretação. A sinceridade é comprometida e faz uma fuga do palco da conversação, por pecar contra a simplicidade e a pureza de coração. No sermão das Bem-Aventuranças (Mateus 5: 1-13), Cristo, do alto de sua infinita sabedoria, nos aponta o caminho para a sinceridade que é sempre a simplicidade de dizer o que se pensa no momento apropriado, de acordo com nossos sentimentos e as circunstâncias nas quais estamos inseridos. Divulgação

Disfarces

Vários tipos de disfarces vêm sendo estudados desde a 1a Guerra Mundial com a finalidade de confundir o inimigo, pintar os navios e submarinos em diferentes cores ou usar uniformes militares com as cores do ambiente em que se travam as batalhas, imitando florestas no Pacífico que tem muitas ilhas ou em diferentes tons de azuis nas águas do Atlântico. Nas últimas décadas, entretanto, os estudos de disfarces têm se concentrado em borboletas, moscas e outros insetos, descobrindo como eles se transvestem do que não são para evitar o ataque de predadores. Clark e Watson decodificaram o genoma humano – DNA e Dupla Hélice – em 1960. Desde então, os genomas de insetos vêm sendo traçados, a fim de descobrir quais genes contribuem para o disfarce e quais possíveis implicações eles podem ter para os humanos em atividades que requerem estratégias de disfarce para seu sucesso, nos mundos dos negócios ou da política ou até mesmo nos relacionamentos interpessoais conflituosos (Peter Forbes, Dazzled and Deceived: mimicry and camouflage, New Haven and London: Yale University Press, 2009).

afirmações. Faz remarcações de consultas, muda muitas vezes de telefone e endereço. Parece fugir dela mesma, ficam evidentes assinalamentos de baixa autoestima. Quer recuperar sua sinceridade, ao menos, para com ela mesma.

Hipocrisia

Sinceridade

A mãe de Rita tinha características dissimuladoras de autodefesa. Como o camaleão, que passa por uma variedade cromática, adquirindo tonalidades diferentes de acordo com o ambiente dos predadores. Rita era lésbica, filha única e mãe solteira. Não conheceu seu pai e ninguém de sua estirpe. A mãe de Rita teve várias internações psiquiátricas (Terezinha Rech, Segredos familiares: Uma complexa trama relacional, Porto Alegre: Imprensa Livre, 2007). Está tentando um tratamento psicológico para parecer uma pessoa melhor para sua filha, mas o processo de desvelamento é confuso, difícil e lento. Isto se explica, pelo menos em parte, pela desvalorização da figura masculina que só proporciona sêmen e dinheiro, segundo uma de suas

No sermão das Bem-Aventuranças, Cristo nos aponta o caminho para a sinceridade que é sempre a simplicidade de dizer o que se pensa no momento apropriado

Ao estudar disfarce e hipocrisia nos movimentamos nos intrincados meandros de comunicação entre grupos e pessoas, em busca de relacionamentos que se constroem sob a égide da confiança,

responsabilidade social, lealdade, fé e esperança. Por isso, as Bem-Aventuranças são paradigmáticas. Constituem-se em uma fonte que Jesus Cristo, através dos Evangelhos, torna disponível: Abençoados são os que têm sede e fome de justiça; os que têm pureza de coração, os que são benevolentes e pacienciosos, os que espalham alegria ao seu redor e são misericordiosos. Somente a fé que nos convida a seguir Jesus, permite que possamos alcançar sinceridade, vivendo a vida como ela é, sem disfarces, hipocrisias e falsidades.


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Março de 2013 - 1a quinzena

Sois pó e em pó vos

ode haver loucura mais rematada, pode haver cegueira mais cega que me empregar tod afligir-me, matar-me pelo que forçosamente hei de deixar, e do que hei de lograr ou per cia para a outra vida? Tanto medo, tanto receio da morte temporal, e da eterna nenhum t gueses, Ro

arquidioce

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enhum sacramental da Igreja é mais paradigmático e com simbolismo mais forte do que a imposição das cinzas em forma de cruz na cabeça dos fiéis na Quarta-feira de Cinzas. Não é, pois, por acaso que o período mais grave do ano litúrgico cristão comece por esse ato ao mesmo tempo tão singelo e tão sério. Também não é por nada que a Quaresma recorda os 40 dias do retiro de Jesus no deserto após o que estava fragilizado e sofreu o duro teste de insistentes tentações do diabo. E que superou galhardamente. E, também não é por acaso que a Igreja sugere esse período como um tempo de reflexão, tempo de revisão de vida e tempo de conversão. Conversão para Deus e conversão para o nosso semelhantes, feito à imagem e semelhança de Deus. Memento homo quia pulvis es et in pulverem reverteris, diz o celebrante, enquanto passa a cinza na cabeça de cada um. Lembra-te homem que és cinza e pó e voltarás a ser cinza e pó.

Apenas Deus é absoluto Cuida a ilustre desvanecida que é de ouro, e todo esse resplendor, em caindo, há de ser pó, e pó de terra. Cuida o rico inchado que é de prata, e toda essa riqueza em caindo há de ser pó, e pó de terra. Cuida o robusto que é de bronze, cuida o valente que é de ferro, um confiado, outro arrogante, e toda essa fortaleza, e toda essa valentia em caindo há de ser pó, e pó de terra. (Pe. Antônio Vieira, ibidem). Lembra-te, homem, que estás aqui apenas de passagem, que a vida que te foi dada é precária. Lembra-te que no caixão cabe apenas teu corpo e nada mais. Lembra-te que de nada vale acumular bens, dinheiro, ouros, riquezas: tudo isso ficará aqui e também será pó e cinzas com o passar do tempo. Ter várias propriedades, casas, automóveis, muito dinheiro no banco? Para quê, se isso não contabiliza para a eternidade? Sim, homem, podes e deves trabalhar para ter vida digna e propiciá-la aos teus: para isso te foram dados os talentos que deves explorar. Mas para que absolutizar o que é transitório e de nada servirá na vida eterna? Absoluto é somente Deus e a eternidade de tua alma. É para salvá-la que cá estás no mundo. Pratique, pois, o bem que é a única bagagem que te acompanhará na última viagem.

Vanitas, vanitatis. Omnia vanitas Vaidade! Tudo é vaidade! As civilizações, as culturas, as gerações, tudo vira pó sob o império do tempo que, imóvel, a tudo vê passar. Nem ouro, nem prata, nem bronze, nem rocha resistem. Nada é eterno aqui neste mundo. “Abri aquelas sepulturas, diz Agostinho, e vede qual é ali o senhor e qual o servo; qual é ali o pobre e qual o rico? Distingui-me ali, se podeis, o valente do fraco, o formoso do feio, o rei coroado

de ouro do escravo de Argel carregado de ferros o pequeno, o rico e o pobre, o sábio e o ignoran o escravo, o príncipe e o cavador, o alemão e o ali são da mesma cor. Passa Santo Agostinho d à nossa Roma, e pergunta assim: onde estão os manos? Onde estão aqueles imperadores e capi que desde o Capitólio mandavam o mundo? Q Césares e dos Pampeus, dos Mários e dos Silas e dos Emílios? Os Augustos, os Cláudios, os Vespasianos, os Titos, os Trajanos, que é deles? todos eles outra memória, mais que os poucos ve sepulturas”. (Pe. Vieira, ibidem).

Ainda é tempo

Não sabemos o dia nem o lugar. Mas ela vem p distintamente. Não sabemos o lugar na fila. Mas vem a fila andando. Sempre andando! Um dia chegará a vivenciar o evento mais forte de nossa vida que é fatal com a morte e começar a vida na eternidade chegar de mãos vazias. Convém estarmos bem prepa plo das cinco virgens prudentes, para quem a porta não se feche como foi para as cinco virgens néscias janua (Mat 25, 10). “Cristãos e senhores meus, po de Deus ainda estamos em tempo. É certo que todo para aquele passo, é infalível que todos havemos d dos nos havemos de ver naquele terrível momento, muito cedo. Julgue cada um de nós, se será melhor agora, ou deixar o arrependimento para quando nã nem seja arrependimento. Deus nos avisa, Deus nos d não deixemos passar esta inspiração, que não sabe última. Se então havemos de desejar em vão começ comecêmo-la agora. (Pe.Vieira, ibidem).


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haveis de converter

do na vida que há de acabar, e não tratar da vida que há de durar para sempre? Cansar-me, rder para sempre, não fazer nenhum caso! Tantas diligências para esta vida, nenhuma diligêntemor?- (Pe. Antônio Vieira, discurso de Quarta-feira de Cinzas na Igreja S. Antônio dos Portuoma, 1672).

esedecampogrande.org.br

s? O grande e nte, o senhor e o etíope, todos da sua África s cônsules roitães famosos, Que se fez dos s, dos Cipiões s Tibérios, os ? Não resta de ersos das suas

para todos, inmos a cada dia a nossa vez de ter o encontro e. Convém não arados, a exemse abriu e que s ‘et clausa est or misericórdia os caminhamos de chegar, e toe pode ser que arrepender-se ão tenha lugar, dá estas vozes; emos se será a çar outra vida,

A Quaresma e o jovem

O jovem e a Quaresma no tempo que se chama hoje

A Quaresma – mas não só ela – é tempo propício para refletir e revisar objetivos e finalidades do grande espetáculo de estar vivo. Tempo de sair de si para ir ao encontro do outro e caminhar a seu lado. Ao lado da esposa ou do esposo, ao lado do filho ou da filha. Ao lado do irmão ou da irmã. Ao lado do colega de trabalho, ao lado do amigo e da amiga no lazer. Tempo de entender o outro a partir do outro. Sem impor autoridade. Tempo de exercício e prática do verdadeiro amor solidário. Tempo de advertir, tempo de admoestar. Com firmeza, sim! Mas com ternura. Poderia ser esse o jeito adequado para fazer o jovem ouvir os mais velhos e fazê-lo refletir sobre o que realmente vale a pena? Qual é a conversão para os jovens de hoje? Que tipo de conversão deve ser oferecido ao jovem de hoje? Como passar a Boa Nova quando há tantos outros estímulos e valores acenados pelas tecnologias e informação? Que técnica de sedução e convencimento poder-lhe-á ser oferecido para que o ‘crê e vive o evangelho’ faça sentido para ele. Quaresma, tempo de conversão para qual projeto, algo que para ele – jovem – faça algum sentido diante de tantos outros e novos deuses endeusados e apelos que lhe são oferecidos no seu cotidiano?

Marcelino Sivinski Vigário paroquial*

Amanhecer de uma Quarta-feira de Cinzas, numa cidade de médio porte, desse imenso e querido país, chamado Brasil, considerado católico e profundamente religioso. Os últimos foliões voltam para as suas casas. A cidade dorme o sono da ressaca. Os primeiros ônibus circulam semivazios pelas ruas largas e agora cheias de latas, papéis, restos de comida e serpentinas. Pedido de uma entrevista: Que sentido tem o sacramental do ‘memento homo’ da Quarta-feira de Cinzas para o jovem de hoje? Como transformar esse sacramental em sacramento e em conversão? O que significa conversão hoje? Poder-se-ia afirmar que os jovens que, na tragédia da boate de S. Maria, deram suas vidas ao salvar outras vidas do incêndio podiam entrar na lista de mártires, no sentido evangélico de dar sua vida pela vida de outros? Seriam essas, também verdadeiras conversões? Saio pensativo e caminho lentamente. A antiga igreja, no centro urbano, abre-se. Entram os primeiros fiéis e inicia a santa missa. As pessoas entoam cânticos de penitência. Procuram viver o sentido da liturgia multissecular. Ibar, jovem médico, chega ao hospital e assume o seu posto. É o segundo ano de trabalho depois de seis longos e duros anos de estudo. Amor à profissão. Dedicação à saúde. Cuidado com a vida das pessoas. Sente-se feliz e realizado. Garis saem rápidos para recolher o lixo e deixar as ruas limpas para a população que logo mais retornará à rotina do dia-a-dia. Abrem-se os primeiros bares. Os jovens garçons oferecem sanduíches e preparam torradas aos apressados Marcelino Sivinski trabalhadores. Secretárias domésticas entram nas casas para fazer os serviços do lar, lavagem da louça, preparação da refeição, lavar a roupa... Poucos dessa primeira hora de uma Quarta-feira de Cinzas passam numa igreja para receber as cinzas. Deus está presente na igreja, na oração e no nosso trabalho. É no trabalho que Ele gosta de marcar e realizar encontros com seus filhos, sem perguntar se temos religião, se fomos batizados ou se rezamos o terço todos os dias. O trabalho é a liturgia vivida na vida. No serviço ao bem comum e na renúncia aos interesses pessoais está presente a ação amorosa de Deus. Realiza-se o Reino e a salvação. Alguns, em nome de milhões, vão à celebração de cinzas para reforçar essa entrega em favor dos irmãos. Entrega que nasce e se fortalece na morte e ressurreição de Jesus Cristo. Importa o serviço em favor das pessoas. Aí acontece o verdadeiro martírio cristão. Mártir é todo aquele que testemunha e realiza esse serviço solidário. Quaresma é a atitude permanente de conversão e abertura aos outros. É cultivar esse sentido da vida e vivê-lo unido a Jesus Cristo. Fé, carinho de Deus, é aceitar o convite do Senhor da vida de colaborar com Ele na construção de uma sociedade com espaços e direitos para todos, sem discriminações nem privilégios. A Igreja é a comunidade que vive e se alimenta nessa dimensão da vida, enraizada na prática do Cristo morto e ressuscitado. Reúne-se para celebrar, ouvir os ensinamentos da Palavra das Escrituras, multiplicar o serviço solidário, proposto pelo nosso Deus, revelado em Jesus Cristo e na vida de tantos santos e mártires, na maioria anônimos, como os jovens que entregaram as suas vidas nos incidentes tristes e lamentáveis de Santa Maria. *Paróquia Santa Bárbara - Encruzilhada do Sul


8 Uma droga chamada açúcar

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Não é de hoje. Já em 1975 o jornalista W. Dufty causou polêmica ao publicar um livro onde aponta o açúcar como uma verdadeira droga – que vicia – comparando os danos desta substância com os ocasionados pelo álcool, a cocaína e a heroína. De lá para cá, os estudos e advertências dos cientistas aumentaram, mas não foram suficientes para frear o consumo deste produto pelos habitantes do globo. Os refrigerantes, frequentemente, são mais baratos que o leite e mesmo a água. Os pais não têm escrúpulos em fornecer refrigerantes, chocolates, balas, mamadeiras, bicos e sucos adoçados, a seus filhos. Os que, por ventura, resolvem não dar açúcar ao filho até, pelo menos, os dois anos de idade, encontram grande resistência e críticas por parte de avós e de seus pares. É uma ladainha, um coro de “coitadinho”!!! Os governos resistem a controlar o uso do açúcar, pressionados pela poderosa indústria da alimentação. A professora titular da faculdade de Odontologia da UFRGS, Sonia Slavutzky, conhece de perto a dificuldade em manter pesquisa que mostre os efeitos do açúcar na saúde humana. A pesquisadora relata que um estudo feito na Suécia concluiu, após 7 anos acompanhando pessoas de um asilo, que três doses diárias de açúcar não causam cáries nas pessoas. Entretanto, não houve nenhuma preocupação e nem medida para identificar o aparecimento de diabetes e obesidade, que poderiam ser gerados por esta ingestão diária de açúcar. E tem mais: Sônia relata que, ao se aprofundar sobre este estudo, descobriu que ele havia sido pago pelo governo da Suécia, sim, mas também havia sido patrocinado pela indústria do açúcar e do chocolate daquele país. Em torno de 1980, “A coca-cola, por exemplo, pagou US$ 1,5 milhão para a Associação de Odontologia Americana afirmar que refrigerante não faz mal para os dentes. Muitos dentistas no Brasil ainda são influenciados por estas conclusões. Por estas e outras ainda hoje é difícil conseguir verba para pesquisar mais e publicar os grandes danos do açúcar à saúde. O mesmo se pode dizer do sal. Nadia Jasmine/sxc.hu

Março de 2013 - 1a quinzena

ABER VIVER Konstanty Paluchowski/sxc.hu

Necessidade de tomar muito líquido é um mito

É o que afirma o nefrologista Antônio Carlos Seguro, do Hospital de Clínicas de São Paulo. “Décadas atrás não tinha este mito de tomar muita água. Mais água não fará seu rim funcionar melhor. Pessoas que têm alimentação adequada não precisam se preocupar com o risco de desidratação”. Segundo Seguro, a ingestão programada de água só é útil para pessoas com pedras nos rins, ou que tiveram infecção urinária. Aí sim, é interessante ingerir dois, ou mais, litros de água por dia. Também é importante oferecer água a pessoas idosas, pois seu mecanismo de sede fica alterado. Veja como funciona o mecanismo de hidratação do corpo: 1- Quando perdemos água pelo suor, o sangue se torna viscoso e concentrado, então, 2 - o hipotálamo identifica essas alterações do sangue, e para preservar a quantidade de água, estimula a sensação de sede. 3 - A água ingerida vai rapidamente ao intestino, onde é absorvida e vai para a corrente sanguínea, e 4 - o sangue volta à sua concentração normal, facilitando o transporte de nutrientes como glicose e oxigênio, essenciais ao funcionamento dos músculos. 5 Durante a atividade física, os músculos produzem calor pela queima de energia, o que aquece o organismo. 6 - Para evitar o superaquecimento, o hipotálamo libera parte da água do sangue para se transformar em suor, que evapora, controlando a temperatura corporal. Aí recomeça o ciclo:1 - A perda de água pelo suor torna o sangue concentrado e viscoso, e 2 - o hipotálamo estimula a sede - e segue o ciclo , como já dissemos no início. Água de menos pode aumentar a temperatura corporal, porque com menos suor o organismo não faz trocas suficientes com o ambiente Faz com que o volume sanguíneo diminua, dificultando o trabalho cardíaco e o transporte de oxigênio para os músculos. Água demais inibe a ação do hormônio antidiurético, estimulando a produção de urina e a eliminação de líquidos. Dilui a concentração corporal de sódio, o que pode resultar em estado de hiponatremia (baixa concentração de sódio no sangue). Pode causar confusão mental e, em casos extremos, convulsão. (Fonte: caderno Equilíbrio – Folha de São Paulo, 04/09/2012)

Colágeno deve ser reposto com alimentação ou suplementos O colágeno é uma proteína que exerce papel fundamental no organismo humano. Sua função principal é a formação de fibras que dão sustentação à pele. Além disso, o colágeno é também responsável por manter as células unidas e fortes, ajudando a compor ossos, cartilagens, ligamentos e tendões. Com o passar do tempo, principalmente a partir dos 30 anos, o organismo diminui a produção de colágeno. A perda é de 1% ao ano, em termos gerais. A deficiência do colágeno causa a diminuição da elasticidade da pele, o aparecimento de rugas e o aumento da fragilidade articular e óssea – afirmam os nutricionistas. Alimentos de origem animal, como as carnes, são excelentes fontes de colágeno. Mas, a partir dos 30 anos, seria importante suplementar esta proteína. Entretanto, importa saber que para sintetizar o colágeno são necessárias vitaminas como a C, a E, além de selênio e zinco. Por isso, a alimentação deve ser rica em frutas cítricas e oleaginosas como castanhas, além de azeite extra-virgem. O colágeno hidrolisado é reconhecido como ingrediente alimentício pelo Ministério da Saúde. Há uma série de produtos disponíveis no mercado, em cápsulas ou outros. A novidade é o Verisol, um peptídeo de colágeno específico para a pele que age de dentro para fora, segundo nutricionistas afirmam à ZeroHora, caderno Vida, de 24 de novembro de 2012. sabetudo.net

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Albano L. Werlang - CRP/07-00660 Marlene Waschburger - CRP/07-15.235 Jôsy Werlang Zanette - CRP/07-15.236

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Colágeno ajuda a manter células unidas e fortes


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Março de 2013 - 1a quinzena

SPAÇO LIVRE

Fazer amigos, hoje

Humor

J.Peirano Maciel Médico

... O amor é como a gasolina da vida. Custa caro, acaba rápido e pode ser substituída pelo álcool. ... Eu sempre quis ter o corpo de um atleta. Graças ao Ronaldo isso já é possível. .... Troque seu coração por um fígado, assim você se apaixona menos e bebe mais. ... Os ursos polares adoram o frio. Os bipolares às vezes adoram, às vezes não... ... Gostaria de saber o que esse Jeová fez de errado pra ter tantas testemunhas assim... ...Calculei meu IMC (Índice de Massa Corporal) e constatei que minha altura está 20 cm abaixo da ideal. ...Se você se lembra de quantas bebeu ontem, então você não bebeu o bastante ...Se vegetarianos amam tanto assim os animais, por que eles comem toda comida dos pobrezinhos? Circulando na Internet

F

azer amigos,ontem e anteontem, para não dizer” faz muito tempo”, sempre foi uma prática que todos desejavam,para construir amizades sólidas,às vezes nascidas na escola,entre vizinhos, parentes, e de inúmeras outras formas. Tinham origem em contatos pessoais,naturais,intersubjetivos. Uma tendência salutar e profundamente humana. Ora, hoje em dia, com tudo se modificando, quase sempre para pior, aquele encontro de pessoas, mesmo considerando que, nesta vida, os amigos verdadeiros nunca são muitos, o que observamos são sucedâneos totalmente desfigurados que, aos poucos,vão tomando conta dos contatos interpessoais.Vejamos, como exemplo entre muitos, o que ocorre no chamado Facebook virtual.Trata-se,antes de tudo, de fenômeno criado por jovens e que rapidamente se transformou num bilionário negócio,cujo mecanismo financeiro não se consegue entender corretamente.Figura na Bolsa de Valores como grande empresa. Amigo leitor, pois a última invenção do Face foi o chamado “Bang with friendes”(BWF-“Quer transar comigo?”). Vejamos em que consiste esse modelo de relacionamento. O Facebook é uma grande rede de “amigos”, um universo de correspondentes, avaliado em 1 bilhão no mundo inteiro.São pessoas de várias idades, mas geralmente jovens, cada um com sua ficha-conta,contendo nome completo,idade,sexo, atividade, foto recente, opiniões, crenças, preferências, etc. Os criadores do BWF são três universitários da Califórnia, que preferem permanecer anônimos para não despertar” reações moralistas da sociedade”. Antes se cuidava, no Facebook, de facilitar encontros para namoro ou coisa semelhante. Mas o trio, frustrado com os resultados, decidiu partir para ir direto ao relacionamento sexual. Grande aceitação. Cada um pode escolher, entre seus amigos, os que gostariam de tais encontros. Obtidas as respostas,escolheria e agendaria o encontro. Isto para casais heterossexuais ou homo. Os primeiros em aderir ao BANG foram os alemães (19%), depois os norte-americanos (18%), os brasileiros (8%). Estes valores são computados entre os 500 mil que se cadastraram no BWF nos treze dias seguintes ao seu lançamento, todos fazendo parte do bilhão de membros do Facebook. Expressões usadas por essas criaturas: "Já está tudo combinado"; "sexo casual, mas com amizade"; "sem risco de rejeição". Outros "aplicativos" estão no Facebook e outros "Serviços", cuja especificação aqui não cabe. Sabemos que a Internet é um labirinto de conteúdos, bons alguns, regulares outros, péssimos muitos outros, e que grande influência exerce hoje nas consciências. Leitor amigo, será possível separar em qualidade e deter essa avalanche de informações que crescem todos os dias?

9 O ensino da liturgia para uma Igreja a caminho do Reino De 28 a 31 de janeiro ocorreu em Porto Alegre a 24a Assembleia da ASLI – Associação dos Liturgistas do Brasil. Há mais de vinte anos, professores de liturgia e agentes da pastoral litúrgica de todo o Brasil reúnem-se, durante uma semana, para estudar, avaliar e procurar caminhos para a formação litúrgica do povo, dos seminaristas e dos presbíteros, sempre à luz dos ensinamentos do Concílio Vaticano II. Na perspectiva da celebração dos 50 anos da Constituição sobre a Sagrada Liturgia (SC), os participantes do evento examinaram o tema "como garantir que o ensino da liturgia reaviva e desenvolva uma formação que contemple as suas intuições e a sua teologia". O documento conciliar insiste muito na necessidade de promover a formação litúrgica de todo o povo de Deus para que se chegue a uma participação plena, consciente e ativa na celebração litúrgica (Cf. SC 14-20). Ressalta ainda que se dê prioridade para a formação dos professores de liturgia, do clero, dos candidatos à vida consagrada e do ministério ordenado e de todos os fiéis leigos. Com a presença de mais de sessenta liturgistas, os resultados foram para além dos esperados, destacando-se as seguintes conclusões: - Retomar e aprofundar o estudo da Constituição sobre a Sagrada Liturgia, dando continuidade à pesquisa iniciada em 2011; - Atualização contínua nos conteúdos e uma mudança permanente nos métodos. Não se pode ficar fechado em doutrinas e esquemas antigos. - Conversão e mudança de atitude para dialogar com o diferente. As pessoas que trabalham com a liturgia precisam estar abertas para ‘construir desconstruíndo'. - Professor não é só aquele se especializa numa determinada área do saber, mas permanece aberto para outras áreas da teologia e da conjuntura eclesial em geral.A provocação da interdisciplinariedade deve ser um desafio permanente. - Participação ativa e sempre mais consciente da assembleia, povo sacerdotal. - Auto-avaliação para melhorar e aprender. ASLI

RESERVE O SEU EXEMPLAR O Livro da Família 2013 e o Familienkalender 2013 estão disponíveis para venda. Faça seu pedido na Livraria Padre Reus, em Porto Alegre. Adquira também na nossa filial, no Santuário Sagrado Coração de Jesus, em São Leopoldo.

Após a assembleia em P. Alegre, no dia 3 de fevereiro, em Itaici, SP, foi eleita a nova diretoria da ASLI. Pe. Carlos Gustavo Haas, da Arquidiocese de Porto Alegre, é o novo presidente da entidade. Vice-presidente, Pe. Ivo Ferreira Amorim, vigário-geral da arquidiocese de Vitória/ES; Secretário: Frei Faustino Paludo, professor de liturgia da ESTEF, Porto Alegre/ RS e Tesoureiro: Pe. Márcio Leitão, professor de liturgia da PUCSP.

Fones: 51-3224.0250 e 51-3566.5086 livrariareus@livrariareus.com.br

Marlena Biondi - 07/03


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GREJA &

COMUNIDADE

Catequese

Solidário Litúrgico

A “disciplina” nos

10 de março - 4o Domingo da Quaresma Cor: roxa

1a leitura: Livro de Josué (Js) 5,9a.10-12 Salmo: 33(34), 2-3.4-5.6-7 (R/.9a) 2a leitura: 2a Carta de S. Paulo aos Coríntios (2Cor) 5,17-21 Evangelho: Lucas (Lc) 15,1-3.11-32 Comentário: A passagem do texto de Lucas deste 4o domingo da Quaresma nos traz a imagem do Deus de Jesus que ama e quer bem a quem erra, por maior que seja seu erro ou o pecado que tenha cometido. A parábola do filho pródigo revela este Deus, cheio de misericórdia: o filho, que abandona o pai sem importar-se com seu sofrimento, que gasta sua herança em festas com falsos amigos e prostitutas e, quando está na miséria, na suprema humilhação de cuidador de porcos, volta, arrependido, à casa paterna e é acolhido de braços abertos e coração alegre e festivo pelo pai. Jesus, em todos os seus gestos e atos de misericórdia, tinha sempre presente a figura do Pai desta parábola, por isso mesmo, chamada de “rainha das parábolas”, referência central do amor misericordioso de Deus. O outro filho, o que cumpria todos os preceitos do pai e nunca se afastara da casa paterna, reclama, decepcionado e cheio de

inveja pelo tratamento dado ao seu irmão “aventureiro”, e não quer participar da festa do reencontro e, muito menos, abraçar o irmão, perdoando-o, também, por seu malfeito. Este filho é a imagem de todos aqueles que cumprem os preceitos prescritos, mas não têm misericórdia, não amam com amor solidário; por isso, de nada valem os sacrifícios que fazem, as preces que recitam, as celebrações que assistem, as normas institucionais que cumprem. Decididamente, este filho e todos os que com ele se parecem, vivem, ainda, no tempo antigo do “olho por olho, dente por dente” e precisam, urgentemente, converterse para o tempo novo de Jesus, onde toda a lei se sintetiza na lei do amor solidário, que sempre ama e acolhe o outro a partir do outro, da sua realidade, da sua necessidade, do seu lado bom e dos seus erros e pecados também. Ser discípulo missionário de Jesus exige do cristão que seja como o pai da parábola do Filho Pródigo: esquecendo o malfeito, ele precisa acolher com amor misericordioso a quem fez o mal. Como o Pai de Jesus, odiando o pecado e o mal, acolher e amar o pecador. “Para que se converta e viva”.

17 de março - 5o Domingo da Quaresma Cor: roxa

1a leitura: Livro de Isaias (Is) 43,16-21 Salmo: 125(126), 1-2ab.2cd-3.4-5.6 (R/.3) 2a leitura: Carta de S. Paulo aos Filipenses (Fl) 3,8-14 Evangelho: João (Jo) 8,1-11 Comentário: “Atire a primeira pedra quem não tem pecado. Se o seu telhado for de vidro tome cuidadinho. Não jogue pedra no telhado de nenhum vizinho, que é feito de vidro, também seu telhado”. É letra de antiga canção, inspirada na passagem do Evangelho deste domingo: um grupo de fariseus e mestres da lei, sempre querendo colocar Jesus numa “saia justa” para poder acusá-lo e condená-lo, trazem uma mulher que havia sido pega em adultério, o que era um pecado merecedor da morte pela lei judaica. Jesus olha firme nos olhos dos seus detratores e apenas diz: Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra (8,7). A tendência da maioria das pessoas é acusar sem provas e condenar sem piedade nem misericórdia os outros; bem mais honesto seria se olhassem, primeiro, para si mesmas e reconhecesem que seu telhado tem muitas telhas de vidro! E talvez repetiriam o gesto dos mestres da

Março de 2013 - 1a quinzena

lei e dos fariseus, deixando cair as pedras assassinas, dando meia-volta e saindo, cabisbaixos, para suas casas para pedir perdão a Deus pelos próprios pecados... Acusar e condenar alguém que errou é sempre mais fácil e pode até proporcionar aquele “gostinho” de satisfação pela humilhação que se impingiu ao outro. Mas, quando escolhemos o mais difícil, buscando compreender alguém que errou e o perdoamos, nos tornamos presença do próprio amor misericordioso de Deus. Aqui se poderia lembrar outro dito popular: “Errar é humano, perdoar é divino”. Voltando ao texto de João deste domingo, quando os acusadores, envergonhados e contritos, se haviam retirado, Jesus fica sozinho com a mulher. E acontece um curto diálogo libertador: Mulher, ninguém te condenou!? Ninguém, Senhor. Nem eu te condeno; vai em paz, volta para tua casa, tua família, teu trabalho e, para teu bem, não voltes a pecar” (cf 7,10-11). A incompreensão, o ódio, a inveja fecham o coração, acusam e matam; o amor misericordioso abre o coração, estende a mão e acolhe quem errou. Para que se liberte, se arrependa e viva. (attilio@livrariareus.com.br)

encontros de catequese Álvaro Ginel (Traduzido da Revista “Catequistas”)

P

ara muitos catequistas, a disciplina durante a sessão de catequese é um grave problema.“Não estão quietos. Não há quem os aguente. Não se concentram”. Temos que reconhecer que este aspecto se converte para muitos catequistas num problema preocupante. Os catequistas sentem que não têm autoridade. Como consequência, realizam pouco do que tinham preparado. Em alguns casos, existem catequistas que abandonam a catequese porque é “mais difícil do que imaginavam”. O abandono pode implicar uma experiência negativa de animação. Outros catequistas não se preocupam e a sessão de catequese convertese num tempo de jogo, onde se pronunciam “palavras religiosas” sem ambiente apropriado para acolhê-las... Compreender a situação Temos de fazer um esforço para compreender a situação: a) O horário da catequese. Geralmente não estão colocados os encontros nos melhores momentos do dia. Pesa o cansaço da jornada escolar ou é difícil a concentração porque o sábado é “dia de descanso”; a catequese parece que estraga o descanso. b) A situação familiar. Cada criança é uma história bela condicionada pela educação que recebe em casa e pelo carinho e atenção que lhe são prestados. Hoje temos dois extremos: a ausência de carinho e a super-proteção que convertem a criança numa “ditadora” que faz o que quer e não está habituada a pôr um limite aos seus caprichos. c) Outros fatores. Outros fatores influenciam na disciplina, como sejam: os amigos, o local, o tempo para o jogo e a diversão, a disciplina vivida na família, o colégio... O catequista pode ser o responsável Falar de disciplina é falar também do catequista educador. Não podemos deitar todas as bolas ao campo contrário e dizer que “são eles os que têm a culpa, os que são mal-educados...” O catequista tem muito que ver nisto da disciplina. Se o grupo “percebe ou intui” que o animador tem falta de personalidade, que está perdido, que não sabe sair-se bem das dificuldades normais... então o grupo se aproveita para fazê-lo saber e sentir. E a maneira de dizer ao animador que “vêm nele pouca consistência, pouco formação, pouco profundidade” é comportando-se mal. Dito mais simples: existe indisciplina cuja raiz é o próprio animador. Quem sabe, comprometeu-se a uma coisa que o supera. É absolutamente importante que descubras se a indisciplina do grupo é uma palavra que te estão dizendo os membros do grupo. Uma palavra para que sejas mais humano, mais profundo, mais coerente, ou para que te prepares melhor... Ordinariamente, onde o grupo intui que existe “um mestre”, “um que sabe e entende”, costuma portar-se bem. Um exemplo: põe a ensaiar uma canção uma pessoa que não domina o violão e não saiba bem a canção. Verás que ali ninguém se entende. Depois, faze que ensaie o mesmo canto e com o mesmo grupo uma pessoa que cante bem e que toque bem o violão. Tu mesmo verás a diferença e entenderás o que te quero dizer.


Março de 2013 - 1a quinzena

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SPAÇO DA

RQUIDIOCESE

Dom Dadeus Grings: Decisão de Bento XVI aconteceu com lucidez e coragem

A notícia da renúncia do Papa Bento XVI foi comentada pelo arcebispo metropolitano de Porto Alegre, Dom Dadeus Grings, durante entrevista coletiva concedida na segunda-feira, dia 11 de fevereiro, na Cúria Metropolitana. O arcebispo classificou a ação do pontífice como um ato de lucidez. O arcebispo de Porto Alegre disse que tomou conhecimento da renuncia do Papa através da imprensa e declarou-se surpreso com a decisão do Santo Padre. Para Dom Dadeus, a decisão aconteceu com lucidez e coragem. “Bento XVI mostra para o mundo onde estão os verdadeiros valores. Quando no mundo, as pessoas aspiram ser mais, aspiram o poder, a glória, o Papa estava no ápice e renuncia. Nesse momento ele renuncia e se retira. Nós amamos a Igreja e temos essa confiança ili-

mitada de que o Espírito Santo dirige a Igreja e se serve das pessoas e dos acontecimentos para nos orientar. A Igreja é de Jesus Cristo e Ele garantiu: Estarei convosco até o final dos tempos”, finalizou. Sobre a eleição de um novo Pontífice, o metropolita revelou esperar um Papa com perfil de Pastor: “Acredito que o próximo Papa vai ser um Pastor que vai ao encontro do mundo inteiro como João Paulo II, para levar a Boa Nova. Só a presença do Papa empolga multidões e nós temos uma mensagem que é maior do que o Papa, é Jesus Cristo”, disse. Dom Dadeus destacou que o futuro Papa deve estar atento aos novos métodos de comunicação como as redes sociais e indicou ainda que também é desafio do novo Vigário de Cristo dar “passos decisivos na unidade dos cristãos”.

Leia os comentários do arcebispo Decisão do Papa "A Igreja preza pela liberdade, então depende da pessoa que vai fazer sua renúncia. Foi o que o Papa hoje fez diante da surpresa do mundo. Não se esperava porque é o pai que fica até o fim da vida. Ele renunciando, é claro que se abre uma perspectiva nova." Papa é o representante de Cristo "Este ano temos o encontro do Rio de Janeiro, um compromisso que o Papa tinha assumido. É um encontro com o Papa. Evidente que se o Papa não está, fracassa o encontro. E ele começou sentir que chegando até julho não teria muitas condições para uma viagem internacional dessas, então, ele achou melhor deixar isso para o sucessor, que não pode ser apenas um delegado. Na Igreja, nós prezamos muito a pessoa do Papa como representante de Cristo. Ele renunciando, haverá um sucessor. É um compromisso muito grande, um testemunho diante do mundo." Perfil do novo Papa "Acredito que voltaremos a ter um Papa pastor. Um Papa que vai ter esse contato com o mundo, com este tempo novo, através dos meios de comunicação, com a internet que trouxe uma mudança profunda na vida humana. Dentro dessa nova perspectiva, o Papa vai entrar neste novo modo de ser e de viver da humanidade de hoje."

Desafio do Novo Pontífice "Um dos desafios é ver a Igreja unida. Desde o Concílio se buscou em fazer um diálogo ecumênico. Jesus Cristo deu como norma: ‘Que todos sejam um’. Isso não acontece e contradiz a Vontade de Cristo. É um desafio e, hoje, se caminha para esta unidade. Esperamos que, com o novo Papa, nós possamos dar um passo decisivo na unidade dos cristãos." Legado de Bento XVI "Um grande teólogo e seus pronunciamentos foram muito necessários. Ele veio no tempo certo. Seus pronunciamentos marcam a Igreja e também seus ensinamentos sobre este novo tempo."

Dom Dadeus falou à imprensa

Missa assinala o envio de seminarista para missão na África

Bruno Eskopinski

A Igreja do Rio Grande do Sul envia mais um missionário para a ação evangelizadora na África. No domingo, dia 17 de fevereiro, o seminarista da Arquidiocese de Porto Alegre, Bruno Eskopinski, foi enviado para a missão em Moçambique, durante celebração eucarística na Paróquia Sagrada Família, em Gravataí. O arcebispo metropolitano, Dom Dadeus Grings, presidiu a missa para uma Igreja lotada de fiéis. Bruno Eskopinski está no terceiro ano do curso de teologia. Pelo processo de formação, realiza durante um ano, o estágio curricular ou, como é mais conhecido, o Ano Pastoral. Por decisão própria, o seminarista

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Coordenação: Pe. César Leandro Padilha

Jornalista responsável: Magnus Régis - (magnusregis@hotmail.com) Solicita-se enviar sugestões de matérias e informações das paróquias. Contatos pelo fone (51)32286199 e pascom@arquidiocesepoa.org.br Acompanhe o noticiário da Pascom pelo twitter.com/arquidiocesepoa Facebook: Arquidiocese de Porto Alegre Imagens: Pascom

Ato no legislativo marca o lançamento da Campanha da Fraternidade 2013 no RS Celebrando 50 edições, a Campanha da Fraternidade é mais uma vez realizada pela Igreja Católica no Brasil. Em 2013, o tema será “Fraternidade e Juventude” e o lema “Eisme aqui, envia-me, Senhor”. Junto com Igreja no Brasil, a Igreja do Rio Grande do Sul também abriu a CF 2013. Um ato solene na Assembleia Legislativa marcou este momento. Antes do Ato de Lançamento, o Grande Expediente do legislativo gaúcho foi dedicado à apresentação da CF. A deputada Marisa Formolo (PT) foi a proponente do tema. Encerrado o grande expediente, aconteceu o ato de lançamento oficial, realizado no plenarinho da casa. O Ato Oficial de lançamento foi iniciado com um momento de reflexão sobre a temática da campanha. Participaram deste momento o arcebispo metropolitano de Porto Alegre, Dom Dadeus Grings, o bispo auxiliar de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler, a coordenadora do Serviço de Evangelização da Juventude do RS, Irmã Zenilde Fontes, o doutor em educação, especialista em juventude e diretor da Faculdade Dom Bosco, Pe. Marcos Sandrini, SDB, e o psicólogo / representante do Projeto Eaí?Tchê, Rodrigo Souza. Para os debatedores, a Campanha da Fraternidade provocará reflexões diante de um contexto de sociedade que não tem compaixão e que não acolhe o jovem com todo seu potencial transformador. A CF quer fomentar a organização da juventude como força viva na sociedade, capaz de apresentar e provocar transformações na sociedade atual, de criar redes de solidariedade e apresentar a pessoa de Jesus Cristo para encantar as juventudes. Também foi ressaltado que a Campanha da Fraternidade, embora seja proposta pela Igreja Católica do Brasil, lança apelos para a Igreja e a Sociedade em todo o mundo, que são colocadas frente a frente com problemas como a violência, desemprego, falta de ensino de qualidade e crise de sentido. A CF aponta caminhos como o cuidado dos jovens mais necessitados e a articulação da juventude em busca de políticas públicas que garantam a dignidade e vida plena. Bruno solicitou o envio para Moçambique, onde estão missionários gaúchos mantidos, através do projeto Missionário da CNBB Regional Sul 3. Em mensagem direcionada à comunidade, Bruno Eskopinski enfatizou seu envio como uma resposta ao chamado de Deus. O seminarista disse que não irá só, que se apoiará no incentivo e oração das pessoas que o incentivam: “Não vou sozinho. Cada um de vocês, hoje, se torna missionário comigo. Mesmo que tenhamos um ano de distancia física, levo cada um de vocês comigo para a África. Lá cada pessoa que eu fizer sorrir, ajudar, cada pessoa que eu tocar, que eu amar serão vocês a sorrir, a amar, a ajudar e serem ajudados comigo. Estamos juntos e nunca sozinhos” Bispo auxiliar de Porto Alegre e vigário episcopal para a Região de Gravataí, Dom Jaime Spengler, lembrou ao seminarista o significado da experiência de sair de si, de sua terra, para ir ao encontro do diferente, em nome de Reino de Deus.


Porto Alegre, março de 2013 - 1a quinzena

Nuntio vobis gaudium magnum:  habemos Papam

Anuncio-vos uma grande alegria: temos Papa

Este comunicado, feito do alto da varanda da Basílica de S. Pedro pelo primeiro dos diáconos, é, com certeza, o mais esperado pelo universo de um bilhão e cem milhões de católicos dos quatro cantos da terra. E que deve acontecer nas próximas semanas. Bento XVI surpreendeu o mundo, dia 11 de fevereiro último, uma segunda-feira de carnaval, comunicando sua renúncia do cargo a partir de 28 de fevereiro, às 18 horas, horário do Vaticano. Um novo Papa deverá ser escolhido pelos 117 cardeais aptos a votar por estarem com menos de 80 anos.

Divulgação

Sucessão papal

Passado o primeiro impacto, dá para se afirmar que as articulações pela sua sucessão já se iniciaram. O conclave que escolherá o próximo chefe máximo da maior organização religiosa do mundo de todos os tempos só iniciará dia 15 de março próximo. Mas poderá ser antecipado, segundo fontes oficiais “para viabilizar que as cerimônias da Semana Santa já sejam presididas pelo novo Papa”. Quem será ele? Que Papa se faz necessário hoje, e para que Igreja? O que está por trás da inesperada e inédita renúncia do Bento XVI?

Um novo Papa ou um Papa novo?

Ato de coragem, gesto de humildade

São as principais adjetivações de autoridades, teólogos e formadores de opinião de todo o mundo sobre a renúncia de Bento XVI ao cargo máximo da Igreja, depois de sete anos e 10 meses de mandato. Coragem em declinar de um cargo, sabendo que quebrou um paradigma na história da Igreja. Até onde se sabe, houve apenas um precedente de renúncia espontânea, ocorrida há seis séculos, porque o eleito – Celestino V, um velho monge beneditino, de nome Pietro Angeleri (ou Pietro Morrone) – não se julgava em condições de exercer o mandato, deixando o cargo sete meses após a eleição. É gesto de profunda humildade, reconhecendo seus limites humanos e sabendo reconhecer a hora de parar. A renúncia de Bento XVI para voltar a ser apenas o Cardeal Ratzinger pode ser considerada um divisor de águas na história da Igreja. E, certamente, em que pese a pecha – muitas vezes injusta – de ser um con-

saço físico, mental e espiritual para continuar à frente da Igreja e dirigi-la à altura. Não poucos se perguntaram: o Papa está enfermo, muito cansado ou ficou sem forças diante de tantos problemas que estava enfrentando? Vaticanistas e experts, desde logo, aventaram outras causas, não explicitadas no anúncio oficial, mas deixadas transparecer em palavras do próprio Papa. Já na Quarta-feira de Cinzas, dia 13 de fevereiro, criticou as divisões do corpo eclesiástico que "desfiguram o rosto da Igreja". No fim de semana subsequente, pediu a superação de "individualismos e rivalidades". Vaticanistas consideram que lutas de poder e intrigas influenciaram na decisão do Pontífice. "O verdadeiro discípulo não serve a si mesmo ou ao público, mas ao Senhor – frisou, insistindo na importância da unidade da Igreja. E denunciou "a hipocrisia religiosa, o comportamento dos que querem aparentar, as atitudes que buscam os aplausos e a aprovação". Bento XVI enfrentou vários escândalos durante seu pontificado, como pedofilia de padres, sabotagem de documentos secretos e outros. E ordenou medidas saneadoras rígidas e eficazes. Mas, suas ordens foram retardadas ou engavetas por súditos, segundo se especula.

Bento XVI: doença, cansaço, as razões da renúncia?

servador, um pontificado muito teórico, professoral, tradicional, seu último gesto foi revolucionário e poderá abrir novos horizontes para a Igreja que não mais será a mesma, pois seus sucessores herdarão uma corajosa e inusitada liberdade.

Razões alegadas e os motivos não revelados

Milhares de comentários, centenas de reportagens, incontáveis opiniões e especulações foram publicadas nos dias subsequentes à renúncia. No discurso em latim, lido durante consistório de Cardeais, o Papa alegou can-

Com certeza, a fé cristã não está em crise. Milhões e milhões de fiéis seguem os exemplos e os passos de Jesus à sua maneira. Todavia, na Instituição parece que os sinais dos tempos não estão sendo percebidos ou lhes são feitas vistas grossas. As demandas de agora ainda carecem de discursos atualizados. Há um perceptível esvaziamento e envelhecimento de participantes e praticantes do catolicismo oficial. Apenas pouquíssimos jovens frequentam as celebrações e atividades paroquiais. A pergunta que se impõe: como apresentar Jesus, que discurso a Igreja tem ou deveria ter para atrair e renovar-se? Como atualizar – o desejado 'aggiornamento' proposto por João XXIII no início do Vaticano II – a Instituição para, de fato, expandir a Boa Nova a todos? Por isso, mais que um novo Papa, deseja-se um Papa novo, arejado. Um pastor que conheça melhor suas ovelhas e a vida cotidiana das pessoas comuns, que se preocupe mais com as verdades do coração do que com as verdades do intelecto, da razão.


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