Todo solidario 637

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IMPRESSO ESPECIAL CONTRATO No 9912233178 ECT/DR/RS FUNDAÇÃO PRODEO DE COMUNICAÇÃO CORREIOS

Porto Alegre, julho de 2013 - 1a quinzena

Ano XVIII - Edição N o 637 - R$ 2,00

A arte de ser feliz passa pela arte de servir Mestre Jesus não veio para ser servido, mas para servir. O segredo da verdadeira felicidade cristã passa por servir e sentir-se útil e não pela cultura do consumo. Se assim fosse, quem tem maior poder de compra seria o mais feliz. E não é assim. Mas, servir supõe comprometimento com um projeto, com um objetivo ou com alguém. Supõe atitude, supõe postura pessoal. Exatamente o que a mentalidade da solteirice descomprometida reinante não quer. Foi esse o recado que o Papa Francisco quis dar no encontro com as Superioras Gerais das Congregações religiosas do mundo inteiro. Páginas centrais www.hmt.com.br

Ícone de Maria da Sabedoria percorre universidades brasileiras Incentivar ações missionárias e atividades de evangelização na comunidade acadêmica é objetivo da visita do ícone de Nossa Senhora da Sabedoria a todas as universidades católicas brasileiras. O ícone já passou pela PUC/ RS e Unilassale. A peregrinação encerrará no Congresso Mundial das Universidades Católicas, que ocorre em julho na PUC-MG. Dali, será levado para a Jornada Mundial da Juventude, no Rio, e posteriormente, enviada a Roma, seu local de origem. A imagem foi abençoada por João Paulo II em 2000 e doada às universidades católicas do mundo. Metade da humanidade não come e a outra não dorme com medo da que não come Josué de Castro, em Geografia da Fome (1984).

Jornal Solidário na internet:

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Comprometer-se, o recado de Francisco

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RTIGOS

Editorial

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ois temas ocupam as páginas centrais desta edição do Solidário: a arte de ser feliz e a solteirice descomprometida, denunciada pelo Papa Francisco. A arte de ser feliz. Conta-se que um rei, infeliz no seu trono, chamou um grupo de vassalos para que fossem encontrar alguém que era feliz. E que trouxessem a camisa dele. O rei acreditava que, vestindo a camisa do homem feliz, ele seria feliz também. Os vassalos foram e procuraram em castelos e casas ricas e não encontraram alguém realmente feliz. Todos se queixavam de algo, a maioria por não possuir mais bens, uns quantos porque suas relações familiares eram frustrantes, alguns poucos porque queriam e não tinham um emprego melhor e que os satisfizesse. Finalmente, encontraram um homem, sentado na soleira de sua casa simples, saudando as pessoas com um sorriso e assobiando conhecida canção. Perguntado se era feliz, ele respondeu: “Bem, a felicidade total não existe; mas, eu tenho o que preciso, uma família onde todos se querem bem, um trabalho que me dá o suficiente e amigos, muitos amigos com os quais passo horas deliciosas. Que mais eu poderia querer para ser feliz!?” Os vassalos do rei pediram, então, que o homem feliz lhes desse sua camisa. Ao que ele respondeu: “Bem (ele sempre começava suas respostas dizendo “bem”...), sinto muito, mas camisa, camisa, eu... não tenho!” Do conto para a realidade. Nosso tempo e a sociedade na qual vivemos continua valorizando, até compulsivamente, o ter, a propriedade, as posses. As mídias repetem isso, de muitas formas, ilustrando seus apelos publicitários com imagens e palavras, exaltando as benesses do poder econômico e a “felicidade” que trás o consumo. As pessoas valem pelo que têm e, portanto, pelo que conseguem consumir. Perde-se nas brumas do passado e parece absolutamente arcaico e superado o pensamento de Shakespeare: “To be or not to be, that´s the question... Ser ou não ser, eis a questão”. Na medida em que alguém ilumina toda a sua atividade com o ser mais e melhor presença junto aos seus e na comunidade, ele está no caminho da felicidade. Ao viver a arte de servir, vai viver, mais e mais, a arte de ser feliz. Mesmo que não tenha um armário com três dúzias de camisas... A solteirice descomprometida. Os dois temas parecem desconexos mas, dentro da perspectiva de que a felicidade está em relação direta com o sentir-se útil, participante, ser servidor na família, no trabalho e na sociedade, estão em profunda sintonia. O Papa Francisco, falando recentemente a 800 superioras gerais do mundo inteiro, saiu-se com uma expressão que, tirada do contexto, parece chocante e, mesmo, ofensiva. Ele disse, com todas as letras, que a religiosa não dever ser uma solteirona, mas mãe. São características da solteirice: o não-compromisso com outras pessoas, com mudanças na realidade, com a luta pelo bem comum. É viver um egoísmo, fechado no seu mundo, fechado sobre si mesmo. Quando o Papa diz que a religiosa tem que ser mãe, não solteirona, ele tinha muito presente o que significa ser mãe: é assumir um compromisso real, muitas vezes sofrido, mas plenificante, com a vida. E a arte de ser feliz passa sempre pela arte de servir. Como o Mestre Jesus, que não veio para ser servido, mas para servir. E é feliz... (attilio@livrariareus.com.br)

CNPJ: 74871807/0001-36

Conselho Deliberativo

Presidente: Agenor Casaril Vice-presidente: Jorge La Rosa Secretário: Marcos Antônio Miola

Voz do Pastor Dom Dadeus Grings

Arcebispo Metropolitano de P. Alegre

A arte de ser feliz

Fundação Pro Deo de Comunicação

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Voluntários Diretoria Executiva

Diretor Executivo: Adriano Eli Vice-Diretor: Martha d’Azevedo Diretores Adjuntos: Carmelita Marroni Abruzzi, Elisabeth Orofino e Ir. Erinida Gheller Secretário: Elói Luiz Claro Tesoureiro: Décio Abruzzi Assistente Eclesiástico: Pe.Attílio Hartmann sj

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A missão da Igreja

Concílio Vaticano II, realizado há 50 anos, mostrou a Igreja por dentro e por fora. Aponta o que ela é em si, definida como mistério que forma o Povo de Deus; e o que faz no mundo, como inculturação na sociedade humana. Podemos apontar seis grandes temas de ação da Igreja no mundo:

A primeira missão da Igreja é evangelizar. Cristo a fundou sobre o alicerce dos Apóstolos para ir pelo mundo inteiro e pregar o Evangelho. Isto significa que ela tem algo importante a comunicar. Garante que o mundo não está perdido, mas salvo por Jesus Cristo. Algo de bom aconteceu que deve ser anunciado a todos, para que possam usufruir destes benesses. Por isso, a Igreja se serve de todos os meios de comunicação para fazer chegar esta Boa Nova à humanidade inteira. A segunda missão chama-se sacramentalização. Não basta anunciar o Evangelho,. A Palavra de Deus não cai na terra sem produzir frutos. A Igreja é o grande sacramento da salvação. Recebeu sete sinais para levar a graça divina aos fieis. Deve, pois, batizar para unir as pessoas a Deus, congregando-as na família eclesial; celebrar a Eucaristia, para as alimentar e reunir em torno do Sacrifício de Cristo; perdoar, em nome de Cristo, os pecados, reconciliando-as com Deus; unido-as em matrimônio para a propagação do gênero humano e para a vida a dois; ordená-las para o ministério; ungi-las para a missão e para a sepultura... A terceira missão a leva a formar comunidades. Ninguém pode ser cristão a sós. Há uma vida a partilhar. A Comunidade paroquial reúne os fieis numa convivência baseada na fé, esperança e no amor.

Conselho Editorial

Presidente: Carlos Adamatti Membros: Paulo Vellinho, Luiz Osvaldo Leite, Renita Allgayer, Beatriz Adamatti e Ângelo Orofino

Diretor-Editor Attílio Hartmann - Reg. 8608 DRT/RS Editora Adjunta Martha d’Azevedo

Constitui, por assim dizer, uma antecipação da glória futura. A quarta missão, que a Igreja desenvolve com esmero, ao longo dos tempos, é a moralização dos costumes. Visa à santidade de seus fieis. É escola de santificação. Por isso, garante que a fé sem obras é morta. Resume a lei de Deus no duplo mandamento: de amar a Deus e ao próximo. Mas desenvolve também amplo tratado, tanto de teologia moral como de doutrina social, orientando, com intensa pregação, os fieis na vida prática, pessoal e social. Não podemos esquecer uma quinta missão, que é a de socorrer os necessitados. Jesus deixou este legado: tudo o que fizerdes ao menor de meus irmãos é a mim que o fazeis. A Igreja se esmerou em montar grandes obras de assistência, desde escolas em todos os níveis até hospitais e pastorais de saúde para ir ao encontro dos doentes, como ainda obras sociais, mostrando que a pastoral social constitui uma profunda evangelização. E acima de tudo, como sexta missão, a Igreja leva cada fiel a aprofundar sua fé em Jesus Cristo ressuscitado, a confirmar sua esperança que proporciona a alegria da peregrinação rumo ao céu; e incentivar a caridade, como vínculo da perfeição, pelo amor ao próximo como Cristo o ama. Quem ama conhece Deus, porque ele é amor.

Redação Jorn. Luiz Carlos Vaz - Reg. 2255 DRT/RS Jorn. Adriano Eli - Reg. 3355 DRT/RS

Revisão Ronald Forster e Pedro M. Schneider (voluntários) Administração Elisabete Lopes de Souza e Norma Regina Franco Lopes Impressão Gazeta do Sul

Rua Duque de Caxias, 805 Centro – CEP 90010-282 Porto Alegre/RS Fone: (51) 3093.3029 – E-mail: solidario@portoweb.com.br Conceitos emitidos por nossos colaboradores são de sua inteira responsabilidade, não expressando necessariamente a opinião deste jornal.


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AMÍLIA &

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OCIEDADE

Por uma verdadeira cultura da tolerância Deonira L. Viganó La Rosa

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Terapeuta de Casal e Família. Mestre em Psicologia

inguém mais tolera nada. A intolerância é a principal razão dos divórcios, das brigas de casais e famílias, dos desentendimentos entre profissionais, políticos, igrejas e nações”, - afirmam, sem pestanejar, jovens e velhos. Esta crença popular não deixa de ter sua razão, já que a tolerância é a virtude necessária para elevar o ser humano à condição de civilidade. A tolerância é indispensável para o exercício das coisas pequenas do cotidiano e expressa mais que respeito, polidez ou piedade. Ela sinaliza a presença de grande sabedoria.

Um exemplo de intolerância

www.conversaafiada.com.br

Os recentes e repetidos assassinatos passionais – ou por motivo banal como fazer barulho no apartamento superior, ou por a pessoa ser homoafetiva –, as prisões e condenações à morte pelo único motivo de pessoas praticarem religião diferente da sua, são o sinal de quanto ainda estamos longe do respeito á liberdade de cada pessoa - naturalmente, quando exercida dentro do que é universalmente considerado ético. Você se deu conta de quanto o dogmatismo, a rigidez, a imaturidade emocional e a intolerância estão por trás destes fatos?

Características de uma pessoa intolerante

A pessoa intolerante tem a tendência a perceber as questões humanas como sendo simples e, por isso, costuma recorrer a soluções do tipo branco ou preto, bom ou mau, certo ou errado, ganhar ou perder. Com isso, deixa escapar um rico leque de nuances, de sons e tons que se encontram entre os extremos. É como se ela perdesse o espetáculo do movimento da vida O intolerante se nega a deixar abertas algumas questões complicadas, difíceis de entender, ou sobre as quais nem os cientistas têm suficientes informações, e exige-lhes o fechamento imediato ou sua “correta” conclusão. Aquele que é intolerante mantém uma agressividade com relação a indivíduos e grupos específicos, à sua maneira de ser, a seu estilo de vida e às suas crenças e convicções. Pesquisadores encontraram que pessoas intolerantes também são dogmáticas, rígidas, de mente fechada, preconceituosas, ansiosas, punitivas, não criativas e agressivas.

E ser tolerante, em que consiste?

Ser tolerante é estar disposto a admitir nos outros uma maneira de ser e de proceder diferente da nossa, é ter uma atitude de aceitação do legítimo pluralismo. Estimular, neste sentido, a tolerância pode contribuir para resolver muitos conflitos e para erradicar muitas violências, na família, na igreja e na sociedade. E como os conflitos e as violências proliferam hoje, devemos pensar que a tolerância é um valor que – necessária e urgentemente – se

A intolerância se manifesta de várias formas e na maioria das vezes deixa marcas

deve promover. Uma pessoa que pratica a tolerância está se imunizando contra o fanatismo (na dimensão pessoal), contra o fundamentalismo (na dimensão religiosa) e contra o totalitarismo (na dimensão de Estado ou de Governo).

A tolerância deve ter limites ou não?

A tolerância tem a sua justa medida. Ninguém pensa de verdade que impor a lei justa e a legítima autoridade teria de considerar-se como uma manifestação de intolerância. "A tolerância pára no limiar do crime”. Nesse sentido, não se pode ser tolerante para com a tortura, o estupro, a pedofilia, a escravidão, o narcotráfico, o terrorismo, a guerra. Parece claro que, se nos deixássemos levar por esses erros, acabaríamos sob a lei do mais forte. Seria impossível estabelecer um sistema de Direito. Seria como a lei da selva. Não haveria forma de viver pacificamente em sociedade. Entretanto, muitas vezes é difícil estabelecer o que é “não tolerável”. Uma pessoa sábia duvida de que seja ela a primeira a saber onde está a verdade, o limite, o bem. Ela está ciente de que a busca da verdade é um processo perene, por isso, respeita as opiniões e práticas dos outros, ainda que sejam diferentes das suas,

ainda que não as aprove expressamente. E sabe que o bem e o mal não se apresentam assim tão claros nos dias de hoje. Para nós, cristãos, a verdade é uma PESSOA – é Jesus –, portanto, ninguém fora dele a possui plenamente - nem a Igreja. Aqueles que pretendem ser “donos da verdade", que não admitem dúvidas, terminam sendo intolerantes em aceitar outros posicionamentos e vão se fechando a tudo o que se apresente diferente ou incompreensível ao seu esquema conceitual. A verdade é Deus, Deus é amor, portanto, a verdade é o amor, é a caridade. E é processual, pois Deus é infinito e sempre tem o novo para nos mostrar. A cada dia podemos descobrir uma nova faceta da verdade. (deoniralucia@gmail. com)


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4 As mãos dos Reis, de Deus e do Mercado Franklin Cunha Médico

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m sua História Médica da Humanidade, Roy Porter conta que Samuel Johnson, o conhecido crítico literário inglês do século 18, foi tocado pela rainha Ana como método de cura da escrofulose. E no dia de sua coroação em 1722, Luis XV tocou com suas mãos mais de 2000 vítimas daquela doença. As mãos reais gozavam de grande prestígio e credibilidade como terapêutica de certas pestilências que endemicamente grassavam em toda a Europa. Antes que Benjamin Franklin (1706-1790) iniciasse suas reflexões sobre raios, todo o mundo acreditava que fossem um fenômeno sobrenatural. Por esta razão, era costume armazenar a pólvora nas igrejas, devido à crença de que a mão de Deus as protegeria das descargas elétricas. Entre 1750 e 1784, 386 igrejas alemãs foram atingidas por raios e morreram nas explosões de pólvora 103 sacristãos e sineiros. Em 1767 caiu um raio numa igreja de Veneza em cuja cripta estavam armazenadas várias toneladas de pólvora. Na terrível explosão morreram durante a missa 3000 fiéis. Como se vê, havia abundantes provas de que a mãos dos reis e a de Deus não curavam os doentes e não protegiam os fieis dos raios. No entanto, como não havia interpretações ou discursos contestatórios sobre aquelas crendices, elas continuavam fazendo vítimas. As experiências com a mão invisível do mercado são muito parecidas com aquelas crendices medievais. Por que, quantas vezes, entre 1973 e 1995, caíram os raios das crises nas economias de muitos países? Onde estava a miraculosa proteção dessa suposta e onipresente mão do mercado? O pensamento mágico, religioso mesmo, em relação a esta ficção econômica é semelhante ao que movia multidões nos séculos passados à procura da proteção das mãos dos reis e das de Deus. E no entanto, Charles Mackay, em 1841 já nos alertava que “o dinheiro também tem sido a causa do delírio das multidões. Nações, antes sóbrias, tornam-se jogadoras desesperadas e arriscam a própria vida num pedaço de papel. Os homens pensam como hordas, ao passo que só recuperam o juízo devagar, e um por um”. Mais recentemente, o Nobel de Economia de 2001, Joseph Stiglitz, avisou que “os felizes anos 90, continham a semente da destruição que causaria a crise econômica atual”. Nem a titulação acadêmica de Stiglitz, professor da Universidade de Columbia, nem seu passado de vice-presidente do Banco Mundial, nem a assessoria qualificada que prestou ao presidente Clinton, foram suficientes para chamar à razão a horda enlouquecida de aventureiros, estafadores e banqueiros que seguiram ensandecidos o mega-investidor Bernard Madoff, o qual prometia altas taxa de juros, mas que na realidade o fazia tendo por base a criação de uma “pirâmide”, vigarice das quais se acreditava que só otários nela “marchassem”. Pois Madoff arrecadou 50 bilhões de dólares com a colaboração experta e esperta até de grandes empresários e bancos internacionais. Enfim, pior do que a crença nas mãos reais e divinas de antigamente, foi a fé de que estavam possuídos certos poderosos economistas na farândola financeira globalizada que, afinal se mostrou não passar de uma gigantesca burla, um jogo de cassino em que todos praticam artimanhas entre si baseadas em grandes e sofisticados embustes financeiros.

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PINIÃO

Clericalismo e perfeccionismo Dom Laurence Freeman, OSB

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Monge beneditino

stive com um jovem diácono pouco antes de sua ordenação presbiteral. Ele estava naturalmente empolgado com a chegada deste marco em sua vida. E estava razoavelmente bem adaptado, como sugeria o problema que havia tido com as autoridades do seminário. Ele me descreveu como alguns outros seminaristas estavam se preparando para seu grande dia. Vários meses antes, fizeram uma gastança para comprar camisas e clergimans e outros acessórios do estado clerical. Estes artigos estavam empilhados de um modo que achei um pouco estranho em um lugar proeminente de seu quarto, onde podiam ser vistos e manuseados facilmente. Não tendo nenhum interesse naquele tipo de identidade clerical e tendo aprendido há muito que "o hábito não faz o monge", achei isso tudo curioso. O clericalismo é um apego excessivo às formas externas e privilégios deste estado de vida. Como o perfeccionismo, seu grande aliado, parece-me um tipo de vírus. Não digo que o padre ou o monge ou a freira devam esconder seu modo de estar no Corpo do Senhor; mas ter esse status não me parece ser razão para ostentá-lo. Nem deve transformar-se num enclave de identidade, numa torre de marfim, contra o mundo. Estou me dando conta de que abordo este assunto sensível primeiro como monge, depois como padre. Basil Hume, monge e cardeal, uma vez descreveu a relação entre os dois muito bem quando fez a ordenação sacerdotal de um monge. Após ter dito as coisas óbvias sobre a dignidade e a responsabilidade do presbiterato, ele disse, quase como uma reconsideração e (assim o senti) fora do roteiro: "É claro que sua ordenação hoje diminui sua vocação monástica, embora lhe propicie excelentes maneiras novas de servir aos irmãos." Aquilo pareceu um momento iluminado de humildade e realismo. A Igreja é lindamente composta de um arco-íris de formas vocacionais. A ideia de que os estados clerical ou monacal são inerentemente superiores ao estado matrimonial ou a qualquer estado laico está se desvanecendo rapidamente, embora tenha reinado uma vez. Como em um monastério celta, onde diferentes modos de vida de buscar a Deus, podiam ser combinados em uma única comunidade, do eremita à família, assim na Igreja como um todo elas se complementam e se corrigem mutuamente. Significativamente, foram os monges que desenvolveram a teologia mais dignificante do casamento na Igreja Medieval, em uma época em que este era visto por muitos como um caminho inferior para seguir a Cristo. O recente fiasco da crítica do Vaticano às religiosas dos Estados Unidos é grandemente sentido como emergente de um clericalismo que perdeu esse sentido de humildade e proporção. Ele fica mais evidente no tom desamoroso que ignora

a surpreendente fidelidade e o auto-sacrifício deste grupo de mulheres católicas norte-americanas por muitas gerações. As freiras norte-americanas podem ser radicais e francas. Como norte-americanas, pode ser que elas ajam, geralmente, de forma unilateral e sejam destemperadas no discurso em comparação com outras culturas, pois, se elas se sentem no direito, simplesmente vão em frente. Isso, sem sombra de dúvida, pode irritar aqueles que veem como seu papel proteger a linha de frente da Igreja contra a inundação do relativismo e do secularismo. Mas elas são nossa comunidade. Os religiosos não são clérigos, especialmente as religiosas. A vida religiosa é uma variação daquela embaraçosa ordem dos profetas que vagueiam pelo Antigo Testamento. Eles incomodavam sacerdotes e reis. Mas tinham a marca de Deus sobre si. "É um profeta como tu que suscitarei do meio dos teus irmãos; porei minhas palavras em sua boca (…) E se alguém deixar de ouvir minhas palavras, as que o profeta tiver proferido em meu nome, eu mesmo lhe pedirei contas." (Dt. 18, 18ss.) Sim, a profecia é uma questão de discernimento. Mas os clérigos devem se precaver contra o perigo de ouvir somente o negativo nos clamores do profeta e reagirem exageradamente e com força. Mesmo quando o tom é áspero e a teleologia não ortodoxa, o espírito de sabedoria e amor pode estar tentando penetrar por entre as fendas clericais. Essas mulheres não são loucas, perigosas ou bagunceiras. São profundamente amadas e respeitadas por católicos e não crentes igualmente. Uma de minhas amigas mais queridas era um freira norte-americana, instruída e sábia, cujas visões eram fortes, proféticas. Disse-me uma vez como tinha passado anos dando aula numa escola de ensino fundamental. Sua ordem trabalhava para o bispo por quase nada. E como não tinham nenhum dinheiro para as próprias acomodações, ela e muitas de suas irmãs tinham que montar suas camas para dormir nas salas de aula à noite. Aqueles que falam palavras proféticas com uma história dessas merecem ser escutados mesmo que – ou especialmente se – o que dizem irrita.

A Santíssima Trindade Antônio Mesquita Galvão

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Doutor em Teologia Moral e escritor*

m domingo depois de Pentecostes, a Igreja comemorou a festa da Santíssima Trindade, o inefável mistério de três pessoas em um só Deus. No Antigo Testamento, encontra-se subjacente a ideia da Trindade, primeiro nos plurais majestáticos usados por Deus, quando ele diz, em mais de uma oportunidade, que “nós vamos fazer...”. Ali se conhecia a pessoa do Deus-Javé, seu Espírito que agia e iluminava, bem como a promessa de um ungido (ungido, em grego é Xristós), que regeria o novo Israel. Quando Jesus sobe aos céus (cf. Mt 28, 19-20), ele deixa, com seus discípulos, amigos e seguidores, a missão de pregar a “boa notícia” e batizar os que nela acreditarem, “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Tal missão perdura até hoje. A cada dia novos missionários são vocacionados a essa obra. A festa atual, portanto, nos recorda a feição amorosa de Deus, que sendo um só se multiplica no mistério pericorético da Trindade, para que cada um dos Três Divinos tenha uma forma de relacionamento conosco. O mistério da pericórese é, portanto, além da relacionalidade interna da Trindade, entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, uma forma de comunicação com o homem, revelando-lhe o mistério, até onde sua limitada inteligência possa alcançar. Deste modo, a Trindade é imanente e econômica. Imanente ela é no mistério relacional trinitário de sua interioridade. Cada uma das três pessoas existe uma para a outra, assim como a Trindade basta a si própria.

No aspecto da “economia da salvação”, a Trindade realiza o plano de Deus que, “de tal forma amou o mundo que deu seu Filho único para que todo o que nele crer não pereça mas tenha a vida eterna”(cf. Jo 3, 16). A Trindade Econômica é eminente salvífica, onde se destaca o Amor do Pai, a Graça de Jesus Cristo e a Comunhão do Espírito Santo (cf. 2Cor 13, 13). A verdade revelada da Santíssima Trindade esteve desde o começo na raiz da fé viva da Igreja, de forma especial na fórmula batismal. Não professamos fé em três deuses, mas em um só e único Deus, em três pessoas. Cada um é Deus pela consubstancialidade. Esse mistério é o centro axial da fé cristã. Assim, o Pai cria, o Filho se encarna e o Espírito procede. Atribuímos ao Pai o plano da salvação, ao Filho a execução desse plano e ao Espírito Santo a santificação do projeto, até o fim dos tempos. Assim, a partir da festa da Trindade Santo, cabem algumas reflexões: Como vejo Deus? Que papel a Santíssima Trindade tem na minha vida?


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DUCAÇÃO &

SICOLOGIA

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Processos de percepção das pessoas Jorge La Rosa

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Professor universitário, doutor em Psicologia

uitas são as variáveis que influem na percepção das pessoas, desde fatores externos como o tipo de roupa e a aparência física, até os internos, como experiências prévias que remontam à infância, ou atuais decorrentes de estado emocional. Isso sem falar nos fatores culturais.

A percepção que temos das pessoas determina, em grande parte, o relacionamento com elas. É variável importante para análise e diagnóstico das interações sociais, e que pode orientar ações para interações cada vez mais gratificantes: a felicidade é mediada pelos relacionamentos, assim como desgraças e infelicidades.

Contexto familiar

As percepções são construídas a partir de processos cognitivos e afetivos, e a primeira influência na construção das estruturas perceptivas ocorre no contexto familiar ou doméstico, ainda no horizonte da inconsciência, nem por isso menos importante. Os cuidados dispensados ao bebê, o atendimento das necessidades de alimentação, higiene, contato físico e afeto são uma base sólida para construir a percepção de que ele é amado e que as pessoas são confiáveis – e por extensão, o próprio mundo. A falha maior ou menor no atendimento dessas necessidades vai ocasionar lacunas em igual grau na percepção de ser amado e da confiabilidade das pessoas. Nada que não possa ser superado mais tarde. Aí temos uma primeira pilastra na construção das estruturas perceptivas e que de alguma maneira influenciarão percepções futuras.

Estados emocionais

O ser humano é como um sistema de vasos comunicantes, embora distintos eles são um todo, e o que ocorre em um influencia os outros. Os estados emocionais influenciam as percepções, e as percepções influenciam os estados emocionais. Se estamos depressivos, o mundo se nos apresenta como cinzento e temos dificuldades de ver o azul do céu, embora ele lá esteja: o problema é do sujeito, não do objeto. Se estamos felizes, vemos o colorido das flores e ouvimos o canto dos pássaros. Algo semelhante se passa na percepção das pessoas: se percebemos alguém como amigo, vemos suas qualidades e enaltecemos suas virtudes – seus defeitos nem os registramos, embora existam. Se, ao contrário, percebemos alguém como desafeto ou adversário político ou ideológico, tendemos a ver nele seus defeitos multiplicados – não percebemos suas qualidades e virtudes, embora elas também existam.

Fatores culturais e situacionais

Nos tempos da guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética, no século passado, ambos viam-se como inimigos, a guerra só não aconteceu porque eles detinham arsenais abarrotados de bombas atômicas. O equilíbrio bélico, em certo sentido, evitou a catástrofe. Hoje, mudadas as coordenadas, ambos são parceiros em diversos projetos. A percepção de um e outro lado mudou, tornou-se mais cordial. No período em que o Brasil esteve sob ditadura militar, muitas pessoas que clamavam por justiça social eram vistas como ameaças à segurança nacional, e em muitos casos, perdiam mandatos políticos, empregos e eram até encarceradas. Hoje, clamar por justiça é apenas fazer ecoar o anúncio do Evangelho e o clamor do Senhor. Atualmente, fator preocupante no Brasil são as percepções que as torcidas organizadas têm dos torcedores de outros times: inimigos! Essas percepções explicam o espancamento e até o homicídio dos adversários. Percepção equivocada, na qual não há espaço para o diferente, e as ações em sequência, criminosas.

Fé e percepção

O Senhor disse que o Reino de Deus é fermento que leveda toda a massa (Lucas 13,21) – entende-se que o Evangelho ajude na educação de nossas percepções. Relembro o encontro do Mestre com o fariseu Simão, que o convidou para cear em sua casa, e o surgimento da prostituta em plena ceia (Lucas 7, 36-50).. A mulher, ao chegar, debruçou-se, chorou, suas lágrimas banharam os pés de Jesus que ela enxugava com seus cabelos e os cobria de beijos; a seguir, derramou o perfume que trouxera. Temos duas percepções do evento: Simão desqualifica Jesus como profeta que parece ignorar a espécie de mulher que aí está. E

depoisdos25.com

Cuidados dispensados ao bebê e afeto são base sólida para construir a percepção de que ele é amado

desqualifica a mulher, reduzindo-a à condição de prostituta: ela é mais do que isso... O Mestre, pleno de amor, mostra para Simão o bem que a mulher fizera. Demonstrou seu grande amor, foi perdoada. O amor cultivado e evoluído é a lente que permite perceber as qualidades positivas do outro, antes de tudo e principalmente, o que é corroborado por São Paulo (Filipenses 1,9): “... que o vosso amor cresça cada vez mais, e que vos ajude a perceber melhor e a compreender as coisas perfeitamente”. O amor ilumina nossas percepções, livra-nos de preconceitos e cegueiras.


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EMA EM FOCO

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Segredo de

or que uns são mais felizes que outros? Por que nem sempre - ou ‘dinheiro não traz felicidade mas a falta dele também não’? O qu ções? Buscar objetivos de acordo com suas características pesso Não superdimensionar suas falhas e de Conceitos de ontem e de hoje

Desde a antiguidade, filósofos e religiosos se dedicaram a definir sua natureza e que tipo de comportamento ou estilo de vida levaria à felicidade plena. A felicidade é o que os antigos gregos chamavam de eudaimonia. Para as emoções associadas à felicidade, os filósofos preferem utilizar a palavra prazer. Para Lao Tsé, filósofo da antiguidade chinesa, a felicidade podia ser atingida tendo, como modelo de nossas ações, a natureza. Já Confúcio, seu contemporâneo, enfatizou o disciplinamento das relações sociais como elemento fundamental para se atingir a felicidade. No budismo, doutrina religiosa surgida no século VI a.C., a felicidade é a liberação do sofrimento. E a suprema felicidade só é obtida pela superação do desejo em todas as suas formas. Para o filósofo grego Aristóteles, que viveu no século IV a.C., a felicidade é uma atividade de acordo com o que há de melhor no homem. Para ele, um homem feliz é um homem virtuoso e que a felicidade é uma atividade da alma de acordo com um princípio racional, isto é, uma atividade de acordo com a virtude. Já para Epicuro, filósofo grego que viveu nos séculos IV e III a.C., a melhor maneira de alcançar a felicidade é através da satisfação dos desejos de uma forma equilibrada, que não perturbe a tranquilidade do indivíduo. Para os estóicos, outra escola filosófica grega, a tranquilidade - atingida através do autocontrole e da aceitação do destino - é o meio de se alcançar a felicidade. Investigadores em psicologia desenvolveram diferentes métodos e instrumentos que levam em conta fatores físicos e psicológicos, tais como envolvimento religioso ou político, estado civil, paternidade, idade, renda, etc. A concepção contemporânea considera a felicidade como a paz de espírito ou um estado durável de emoções positivas.

Felicidade é... servir e sentir-se útil

Existe felicidade maior do que viver? E viver sem ser útil é viver? Felicidade é ser útil e ter o que fazer na vida! Felicidade é servir ao outro. Aristóteles já intuia que a felicidade pode ser atingida pela prática do bem, o que o advento do cristianismo confirmou em plenitude. Jesus Cristo defendeu o amor como o elemento fundamental para se atingir a harmonia em todos os níveis, inclusive no nível da felicidade individual. Jesus não queria ninguém triste. O homem foi criado para a felicidade e a alegria. Por isso, Jesus pregou o amor como o maior mandamento: "Eu vos dou um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros asism como Eu vos amei". Em Mateus 10,7-13, Jesus atribui várias tarefas aos seus primeiros seguidores, pois quis que eles se sentissem úteis "... Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. De graça recebestes, de graça deveis dar". Jesus sabia que amando e se doando ao outro produzia alegria e felicidade.

Viver é ser útil

A alma humana não se contenta com uma vida de acordar e dormir, trabalhar e divertir-se, comer e beber. É pelo sentimento de ser útil que ela se realiza. Viver não é só respirar e sentir o tempo passar. Há que interagir com o que nos cerca: a família, os colegas, todas as pessoas que, por alguma razão, entraram ou passaram em nossas vidas. A sensação de estar vivo, de ser útil e de fazer diferença no mundo compensa qualquer coisa. Estar disponível para ajudar os outros a serem felizes não nos deixa de mãos vazias diante do Senhor no fim da existência. Em Mateus, 25, - que concentra a mensagem central de todo o cristianismo - Jesus relaciona as mais comuns formas de ser útil e servir: "Tive sede e me deste de beber, tive fome e me deste de comer, estive preso e me visitaste, estava sem roupa e me deste para vestir...." Há várias maneiras de se chegar ao fim de um dia e ter-se sentido útil. Como, por exemplo, cumprimentar as pessoas com quem cruzamos com alegria, dar um bom dia ao motorista do ônibus, ao caixa do supermercado, devolver o carrinho no fim das compras do super. Ou, se tiver disponibilidade de tempo livre, alistar-se em serviço voluntário em instituição de caridade, visita a doentes, creches, ong ou similar. Cada um encontra uma maneira de ser útil ao próximo, basta querer. É o meio mais rápido de se sentir feliz. Não é por nada que se diz - e se confirma - que a alegria de dar sempre é maior que a de receber. Que o diga aquela freirinha que serve na periferia ou aquela dona de casa que emprega parte do tempo dela ajudando numa creche. Basta observar-lhes seus rostos radiantes de alegria e paz.


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A S S

ÇÃO OLIDÁRIA OLIDARIEDADE

e felicidade

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até menos vezes - o que é mais rico é menos feliz? Por que se diz que ue é preciso para ser feliz? Ter capacidade de adaptação a novas situaoais? Riqueza em relacionamentos humanos? Ausência de problemas? efeitos? Gostar daquilo que se possui?

Solteirões para a vida

A exortação do Papa Francisco, em maio último, para as 800 madres presentes à Assembleia-geral da União Internacional de Madres Superioras Gerais, é muito mais abrangente. É um convite a todo mundo cristão - padres, freiras e homens e mulheres solteiros ou casados – a que abandonemos a mentalidade de solteirões e solteironas, de fugir de comprometimentos. De não querer abrir-se o para o que nos cerca e agir em favor do próximo. De nos contentarmos em seguir simples rotina egoísta de vidinha burguesa, com café servido às 7h30min, depois ler os jornais e mais tarde o breviário. Ou, como homens e mulheres casados sem filhos ou com filhos já criados, continuar ou voltar a ser solteirões para a vida, sem um compromisso sério com a vida. E de, provavelmente, chegar ao fim do dia com a incômoda sensação de inutilidade. "Desculpem-me se falo assim, mas é importante esta maternidade da vida consagrada, esta fecundidade! Que esta alegria da fecundidade espiritual anime vossa existência, e sejam mães, como a figura da Mãe Maria e da Mãe Igreja", afirmou Francisco. "Mas, por favor, (que seja) uma castidade fecunda, uma castidade que gere filhos espirituais na Igreja. A consagrada é mãe, deve ser mãe, mas não uma 'solteirona", acentuou o Papa.

Viver é comprometer-se

Se de um bom profissional espera-se o 'vestir a camiseta', isto é, comprometimento com o projeto e a proposta da empresa, muito mais se espera de autêntico cristão, seja leigo casado ou solteiro, religioso, padre, freira. Se há quem opta por permanecer solteiro leigo ou para seguir vida religiosa, que seja solteiro apenas em seu estado civil e não com mentalidade de solteirão. "Nós estamos sendo facilmente estimulados para ter uma vida de solteirão ou solteirona. Fazer uma coisinha aqui, outra ali, e mais nada. Não nos toca assumir compromisso sério para o dia a dia, como se dedicar a uma creche ou a uma ONG, a algum trabalho social e solidário", referiu recentemente um religioso consciente. Assim como religiosos, também há homens e mulheres 'solteirões' com a vida. Homens que - pais de filhos encaminhados - voltam a ser solteiros sem paternidade responsável. Ou mulheres que, por comodismo ou vaidade estética, não querem ter filhos ou, no máximo, um. E isso é uma tendência que perpassa a cultura atual e seguida, inclusive, pelas moças do mais retirado interior brasileiro. Não estariam sufocando um instinto materno natural com suas consequências pois a natureza tende para a procriação?

Ser cristão é ter comprometimento com o projeto de Jesus "O mundo de hoje é dos que se comprometem, dos que têm motivação e coragem para defender suas ideias e buscar seus objetivos.” Cleyton Alen Se do bom profissional se espera comprometimento, muito mais de alguém que se assume cristão. Comprometer-se: segundo o dicionário, é assumir uma alta responsabilidade, empenhar a palavra, doar-se causa ou projeto. Não basta só envolver-se, isto é, participar de alguma ação, causa ou situação parcialmente, não atuar de forma concreta na situação, estar na situação superficialmente e apenas participar de alguma ação. Ter compromisso é muito mais: com a religião, com seu esposo ou esposa, com seu patrão, com uma agenda, etc. Todos querem ser considerados, dispor de um "orçamento sem compromisso", relacionamentos sem compromisso, vida sem comprometimento. São as mentalidades de solteirões e solteironas para a vida. O Reino de Deus é ação concreta, doação, renúncia, serviço, compromisso e mão na massa. Cristão comprometido nunca ficará de braços cruzados, indiferente diante do sofrimento alheio.


8 Ser ou parecer?

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Carmelita Marroni Abruzzi

L

Professora universitária e jornalista

ABER VIVER

Perdas

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Visa e Mastercard

Festa católica sem bebida alcoólica

Flávio José Kanter

eitura de peça publicitária em jornal, sobre modelo de um carro, me fez pensar sobre um tema cada vez mais presente em nossas vidas: a publicidade. E levantou outras questões paralelas, excelentes para nós, cristãos do 3º milênio, refletirmos. a morte, - Em que medida nós somos influenciáveis pela propaganda? - Em que medida, nós com nossos desejos, sentimentos e expectativas, influenciamos essa publicidade? - É a publicidade que nos leva a desejar “parecer” ou ela expressa o que já está no coração das pessoas, muitas, hoje, mais preocupadas com a aparência? É uma reflexão para ser feita: estamos mais preocupados com “ser” ou com “parecer”? A resposta a essa pergunta vai pautar nossa vida, nossas ações e nos remete a uma posição sobre valores, valores esses que, na declaração de vários cardeais, estão entre as principais questões a serem enfrentadas pelo Papa. D. Odilo Sherer, arcebispo de São Paulo, p.ex., fala de uma “nova cultura, que poderia ser definida como cultura líquida, sem valores sólidos e consistentes, uma cultura do subjetivismo absoluto, que leva ao relativismo de todos os valores, sejam éticos, antropológicos ou até mesmo religiosos”. (Cf. ‘Veja’, 20/2/13). Nossa opção sobre valores vai se refletir em nosso cotidiano e orientar nossa atitude face à propaganda e à atração de novos modelos, sejam, de carros, móveis, eletro-eletrônicos, vestuário etc: - Resistimos ao novo, por vezes supérfluo, ou queremos estar em dia com novos lançamentos, numa constante preocupação com o “aparecer”? - Priorizamos uma suposta imagem exterior em detrimento das riquezas que deveriam habitar em nosso interior? A resposta a essas questões é eminentemente pessoal e vai orientar a vida de cada um de nós. Não se trata, aqui, de discutir modelos econômicos; todos sabemos que o motor que move nossa sociedade é a necessidade de produzir, de criar novos empregos e consequentemente de consumir. Entretanto, parece que esse contexto está levando o povo a se endividar acima da média considerada segura e não sabemos aonde nos levará tudo isto. Mas não vamos entrar nesse campo da economia. Fiquemos com nosso cotidiano de cristãos que pretendem levar uma vida digna, sim, e com o conforto que a indústria moderna, com seus recursos e tecnologia, põe à nossa disposição, mas sem exageros e sem a constante preocupação com os últimos lançamentos dos diversos setores. E teremos, então, em nossas vidas mais oportunidade para o “ser”, com todas as suas riquezas, em detrimento de uma preocupação com o “parecer”, que, após uma fugaz euforia, nos deixará uma profunda insatisfação e uma grande sensação de vazio. (litamar@ig.com.br)

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Médico

édicos lidam com pessoas que sofrem perdas. Perde-se para para doenças limitantes, para mudanças de fases e ciclos da vida. Perdas dão lugar a ganhos, como a criança perde a infância para ganhar a adolescência. As perdas são vividas de maneiras variadas. Como Freud explicou em Luto e Melancolia, há semelhanças e diferenças entre um e outra, melancolia significando depressão. O luto, ele explica, é uma perda real e externa, em que a pessoa pode sentir tristeza, vazio, solidão, desânimo, insônia. São manifestações idênticas às da depressão, que com o tempo e elaboração permitem voltar ao estado habitual, sem tratamento. Já a depressão, que reflete perda ou conflitos internos inconscientes, se manifesta como o luto, porém continua presente em intensidade variável. Esta pode se beneficiar de tratamento. Pessoas lidam com perdas de maneiras diferentes. Umas negam, agem como se nada houvesse, reprimem os sentimentos impedindo ou retardando sua superação. Outras se revoltam, procuram achar culpados para o ocorrido, não se conformam. A reação mais saudável se dá quando se aceita a perda e a tristeza decorrente, incorporando lembranças e vivências que ficaram, que são o legado do que se perdeu. Vivi recentemente uma perda e o luto consequente. Pertenço a uma organização profissional para cuja administração fui eleito e reeleito várias vezes. Este ano, concorri e perdi. Sempre me pareceu estranho quando falavam em ganhar ou perder eleições. A mim parecia que alguém é ou não eleito, não via um jogo de ganhar e perder. No episódio em que não fui eleito, entendi: senti a perda de funções que exercera por vários anos, senti que o aprendizado e a experiência acumulados deixavam de ser utilizados. Ficou claro que esta era a perda que me entristecia. Este luto se resolve na medida em que vou percebendo que tudo o que essa experiência me acrescentou continua presente e vivo em mim. Isso ficou e me pertence. É como quando se perde uma pessoa. Lembro do relato de um experiente repórter esportivo. Nos muitos anos de reportagem nos vestiários, ele percebeu que o trabalho mais significativo era no vestiário dos perdedores. Era lá que se defrontava com a natureza humana em toda a sua profundidade. Na derrota, sentindo, elaborando e entendendo o que aconteceu, prepara-se o futuro. A euforia e a bravata dos vencedores não ensinam muito, dizia ele. Não há o que mudar. Não se ganha autoconhecimento. Não se cresce. Agora entendo melhor.

Rinaldo Alberton Advogado e coordenador do Dioc. Dízimo

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caminhada de conversão pastoral da Igreja Católica de fazer festa sem bebida alcoólica começou há bastante tempo, sendo que hoje, em muitas Dioceses, já é uma realidade. E não é para menos. As autoridades federais, estaduais e municipais, bem como as entidades médicas e profissionais da saúde, vêm debatendo e tentando restringir a bebida alcoólica como medida preventiva à dependência do álcool e do crack, visto que a maioria dos homicídios, acidentes com morte ou lesões graves ocorrem sob influência de bebida alcoólica. Assim, é sábia e oportuna a manifestação do nosso bispo, Dom Zeno Hastenteufel-NH, apelando às comunidades “para que procurem não mais vender bebida alcoólica em suas festas” (VS, 25/05). As festas fazem parte da vida comunitária e expressam a alegria de estarmos juntos, celebrando a vida e a fé cristã. Todavia, no momento, em que a sociedade civil, através de suas instituições públicas e privadas, toma medidas concretas no combate à dependência do álcool e do crack, nós, como cristãos católicos e líderes pastoralistas, somos chamados a refletir e acolher o pedido do nosso bispo, afastando, de vez, a bebida alcoólica de nossas festas, como medida de proteção à vida, e de prevenção ao vício, à violência e à dependência alcoólica. A alegação do uso da bebida alcoólica nas festas como cultural não se sustenta mais nos dias de hoje, não só em face da lei seca, mas dos malefícios à pessoa e à indução a outras drogas, o que leva à violência, ao sofrimento e à desestruturação familiar. A Paróquia Santa Catarina - SL está a caminho dessa conversão pastoral. É mais uma Paróquia que liberta seus fiéis e a si própria da dependência do consumo da bebida alcoólica. A decisão tomada pelo pároco, à época, foi uma atitude de fé e de coragem, após intensa conscientização dos Conselhos Paroquiais e apoio da Comunidade que deram resposta positiva em todas as festas havidas sem uso da bebida alcoólica, inclusive com crescimento dos recursos financeiros, desmentindo o argumento: “se não tem bebida alcoólica não tem festa”, ou “sem cerveja, há prejuízo financeiro”. O chamamento do bispo Dom Zeno, como guia e pastor, é inspiração do Espírito Santo que nos dá a coragem e a força necessárias para perseverarmos nesse trabalho de conscientização para que todas as Paróquias libertem-se do jugo da bebida alcoólica na Igreja Católica.

Psicosul Clínica

Albano L. Werlang - CRP/07-00660 Marlene Waschburger - CRP/07-15.235 Jôsy Werlang Zanette - CRP/07-15.236 Alcoolismo, depressão, ADI/TIP Psicoterapia de apoio, relax com aparelhos Preparação para concursos, luto/separação, terapia de crianças, avaliação psicológica Vig. José Inácio, 263/113, Centro, P. Alegre 3224-5441 // 9800-1313 // 9748-3003


INFAMES - Se dinheiro não traz felicidade, me dê o seu e seja feliz! xxx Se ferradura desse sorte, burro não puxaria carroça. xxx Meu relógio adiantava tanto, que um dia fui ao velório de um conhecido e o cara ainda estava vivo xxx Dentista casa com manicure. Agora, lutam com unhas e dentes para sobreviver xxx Dois amigos conversam: - Cara, eu odeio ir em festa de casamento! - É mesmo? Por quê? - As minhas tias sempre ficam falando: “O próximo vai ser você! O próximo vai ser você!” - Putz... é fogo! Mas eu conheço um jeito de você fazer elas pararem... - É mesmo? Como? - Começa a fazer a mesma coisa com elas nos funerais! xxx

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SPAÇO LIVRE

Comunidades de comunidade: uma nova paróquia O estudo 104 “Comunidades de comunidade: uma nova paróquia” foi publicado pelas Edições CNBB, após a aprovação do texto durante a 51ª Assembleia Geral Bispos, deste ano, com o objetivo de servir de subsídio para reflexão e aprofundamento da vida paroquial. O texto aponta caminhos para ajudar as paróquias a serem verdadeiras "casas de comunhão e da vivência da Palavra"; como pede o Documento de Aparecida (DA), por “uma Igreja samaritana em estado permanente de missão”. Na apresentação do estudo, o secretário geral da CNBB, Dom Leonardo Steiner, destaca que "como Paulo envia com os irmãos que com ele convivem uma carta às igrejas que estão na Galícia, assim os bispos do Brasil enviam esse texto às igrejas particulares no Brasil. Dom Leonardo diz que o estudo é para ser lido e refletido, "mas também para receber as contribuições necessárias no desejo de sermos uma Igreja que testemunha Aquele que realizou a vontade do Pai" (cf. Gl 1,1-5). Os Regionais e Dioceses devem enviar as contribuições até 15 de outubro de 2013. Assim, o texto será enriquecido e submetido à apreciação dos bispos na próxima Assembleia Geral, de 30 de abril a 9 de maio de 2014, para ser publicado como um documento. No site da CNBB foi criada uma sessão dedicada ao tema "Comunidades de comunidade: uma nova paróquia", onde é possível encontrar artigos dos bispos, contribuições dos Regionais e Dioceses, além de indicações de leitura e metodologia de trabalho. Está disponível, também, a versão para download do estudo 104 e o e-mail para o envio das contribuições. Acesse o link: Nova paróquia Fonte: Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

Seja paciente na estrada para não ser o paciente no hospital. xxx A coisa mais profunda em certos homens é o sono. xxx Evite uma vida sedentária. Beba água.

RESERVE O SEU EXEMPLAR O Livro da Família 2013 e o Familienkalender 2013 estão disponíveis para venda. Faça seu pedido na Livraria Padre Reus, em Porto Alegre. Adquira também na nossa filial, no Santuário Sagrado Coração de Jesus, em São Leopoldo. Fones: 51-3224.0250 e 51-3566.5086 livrariareus@livrariareus.com.br

Sem Fronteiras Martha Alves D´Azevedo

Comissão Comunicação Sem Fronteiras ard on

Humor

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Le

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Aliança do Pacífico

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s tratativas para a formação da Aliança do Pacífico iniciadas há dois anos por México, Chile, Colômbia e Peru passaram, até agora, meio esquecidas entre os países sul-americanos que não fazem parte dela. Agora, dia 23 de maio último, os integrantes da Aliança, reunidos em Cali, na Colômbia, Enrique Peña Nieto, presidente do México, Juan Manuel Santos, da Colômbia, Ollanta Humala, do Peru e Sebastian Piñera, do Chile, celebraram a formalização da Aliança do Pacífico. Com a Aliança, México, Colômbia, Peru e Chile iniciam uma área de livre-comércio ao zerar as tarifas de 90% dos seus produtos de exportação. “A aliança é uma iniciativa de integração, que não pretende competir com outros mecanismos de integração política ou econômica que existam no continente”, declarou Juan Manuel Santos, “presidente pró-tempore” do novo bloco, em pronunciamento dia 23 de maio, à noite. Apesar destas palavras de conciliação, na verdade, o Mercosul e a Unasul (União das Nações Sul Americanas), já caíram de importância na medida em que esse tipo de bloco surge. O Mercosul e a Aliança do Pacífico possuem identidades opostas. Enquanto no Mercosul, visando a integração latino-americana, se fala em incluir países como Equador e Bolívia, a pretensão da Aliança é costurar mais acordos com países desenvolvidos. À Cúpula da Aliança, em maio passado, compareceram como observadores, Espanha, Austrália,Nova Zelândia, Japão, Portugal e Canadá. Tratados de livre-comércio, em média, demoram cinco anos entre a concepção e a entrada em vigor das novas tarifas de importação. O recorde foi batido agora pela Aliança do Pacífico. Entre o anúncio das intenções e a eliminação das tarifas passaram-se somente doze meses. Alguns analistas fazem uma leitura crítica, declarando que, se você observar o mapa da América Latina, do sul chileno ao norte mexicano, terá a impressão de que Chile, Colômbia, Peru e México, unidos no bloco chamado Aliança do Pacífico, tratam de dominar a economia da região pelas bordas, esvaziando o protagonismo do Mercosul e da União das Nações Sul-Americanas, (UNASUL). O senador Pedro Simon, em artigo publicado no jornal Zero Hora, sugere a realização de uma audiência pública com autoridades e a quem mais interessar, para que possamos debater com profundidade a Aliança do Pacífico e suas implicações geoestratégicas, políticas e comerciais, levando em conta, principalmente, o Brasil e o Mercosul. Quando nos negamos a incentivar a ALCA, não deixamos espaço para a criação de outra entidade contrária aos nossos interesses? Quem está por detrás da Aliança do Pacífico? (geralda.alves@ufrgs.br)

Edith de Lima Xavier - 12/07 Vergílio Perius - 14/07 Antônio Parissi - 14/07 Elizabetta W. R. Torresini - 15/07


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COMUNIDADE

Solidário Litúrgico

Catequese Catequese: Pedagogia

30 de junho - 13o Domingo do Tempo Comum - Festa de S.Pedro e S. Paulo Cor: vermelha

1 leitura: Livro dos Atos dos Apóstolos (At) 12, 1-11 Salmo: 33(34),2-3.4-5.6-7.8-9 (R/. 5) 2a leitura: 2a Carta de S. Paulo a Timóteo (2tm)4,6-8.17-18 Evangelho: Mateus (Mt) 16,13-19 Comentário: O movimento por uma humanidade de relações justas e solidárias, inaugurado por Jesus de Nazaré há dois mil anos, continua sendo a grande utopia da salvação. Salvação da humanidade e salvação de cada pessoa, de cada indivíduo, em particular. Esta utopia não se restringe a um tempo e a um povo determinados; ela traz desafios e caminhos diversos e novos para cada tempo, para cada pessoa. Há um dinamismo interno neste movimento animado pelo Espírito do Senhor Jesus. Aqui se poderia aplicar o dito, tão conhecido: “caminheiro, não há caminho; se faz caminho ao andar”. Para seguir a Jesus não há um caminho pronto, perfeitamente traçado, acabado; Jesus sempre será uma busca, um caminhar na fé, que nunca é certeza científica, prova provada, razão matemática, mas uma adesão do coração. E o coração tem razões que a razão desconhece... Mas... quem é mesmo Jesus? Quem é Jesus para a humanidade, quem é Jesus para a

mim? É fácil responder o que a gente fala sobre Jesus, o que a humanidade diz quem ele é. As respostas serão muitas e diversificadas, certamente. Assim foi há dois mil anos: uns dizem que tu és Elias, João Batista, algum profeta. E como há dois mil anos, Jesus quer personalizar sua relação com aqueles que o seguem. E para vocês, quem sou eu (16,15)? Na resposta de Pedro, mesmo sem que ele, Pedro, tivesse toda a consciência da sua resposta, dá a verdadeira dimensão da pessoa de Jesus: O Messias, o Filho de Deus vivo (16,16). Sobre esta afirmação de Pedro Jesus constrói sua comunidade. Jesus é o enviado, o Messias, mas não é qualquer enviado, não é um profeta a mais; ele é o Filho de Deus vivo. A que tipo de prática da fé leva esta afirmação quando vivida concretamente? Certamente, não na crença de um Jesus para consumo, sem exigências, sem paixão, sem cruz, sem compromisso com a utopia de um mundo justo e solidário. O Jesus, afirmado por Pedro como o Messias, é o Servo de Javé, que se fez gente para que toda a gente possa ser feliz. E ser feliz aqui, no caminhar deste mundo, e depois, na Casa do mesmo Pai de Jesus e nosso Pai.

7 de julho - 14o Domingo do Tempo Comum Cor: verde

1a leitura: Livro de Isaias (Is) 66,1014c Salmo: 65(66),1-3a.4-5.6-7a. 16 e 20 (R/. 1) 2a leitura: Carta de S. Paulo aos Gálatas (Gl) 6,14-183,26-29 Evangelho: Lucas (Lc) 10, 1-12.1720 Comentário: Aquele foi um “noviciado” para os discípulos de Jesus: enviados, dois a dois, para anunciar a Boa Nova, o Evangelho novo do Mestre, eles puderam provar a força do Senhor, ao marcarem, na sua passagem, verdadeiros prodígios de curas e conversões. Aqueles discípulos não iam evangelizar com a força das armas, mas levavam a mensagem da paz. “As armas do evangelizador não são eficiência, eficácia humana, razão instrumental, - mas amor, solidariedade, acolhida. Evangelizar não é em primeiro lugar propagar uma doutrina, mas tornar presente a pessoa e o projeto de Jesus de Nazaré” (T. Hugues). E qual era o conteúdo central desta mensagem? “O Reino de Deus está próximo”! Os discípulos já intuíam que, onde existe qualquer gesto de amor, de fraternidade, de solidariedade, aí se torna visível o Reino anunciado repetidamente por Jesus. Contudo, os caminhos do

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anúncio do Evangelho não são atapetados de flores e colchões de espuma; quem assume e anuncia o Evangelho vai sentir cansaço, vai sofrer com incompreensões, desprezo, rejeição, calúnia. Assim foi com Jesus, assim é e será sempre com todos os seus verdadeiros discípulos. Aquela experiência de noviciado, de primícias, vivenciada pelos discípulos, se, por um lado, trouxe aflições e rejeições, trouxe, também, muita alegria, profunda realização. Os discípulos se sentiram sujeitos, protagonistas do anúncio do Reino. Talvez o grande drama de muitos cristãos, hoje, é não se sentirem participantes ativos de evangelização, instrumentos conscientes e operativos da construção do mundo justo e solidário, sonhado pelo Senhor Jesus. Nisto é preciso crescer muito como igreja e como comunidade para que, um dia, todos nós, cristãs e cristãos, qualquer que seja nossa vocação, situação ou profissão, possamos ser, mais e mais, operários na vinha do Senhor, sabendo que a messe é grande, são poucos os operários dispostos a semear as sementes da justiça, da solidariedade, do amor solidário. E colher os frutos de um tempo de paz no mundo dos homens. (attilio@livrariareus.com.br)

da iniciação Marina T. Zamberlan Professora e catequista

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ntes de tudo, tenhamos consciência que é o Cristo quem toma a iniciativa, quem faz o chamado. Sabendo disso, percebemos que a iniciação catequética remonta a cada instante da vida, sem deixar de exigir um engajamento do catequista e a pertinência daquilo que ele vai propor. Requer a liberdade das pessoas, um caminho, uma dinâmica de escolha e uma abertura à diversidade cultural. Trata-se, antes de tudo, de conhecer e respeitar as vivências e questões que cada catequizando traz; trata-se de tornar próprias as esperanças deles e de buscar juntos, em um grupo de compartilhamento e de acompanhamento espiritual, como Deus está se manifestando a cada um dos presentes. Isto vai permitir um avanço na própria busca. O resultado esperado é que Deus possa revelar-se e fazer crescer o desejo sobre o qual cada um constrói sua vida e lhe dá sentido. Nossas existências cotidianas são portadoras de alegrias e também de cuidados, inquietudes, dúvidas, sofrimentos. Todos os acontecimentos que tecem nossas vidas, sejam consoladores ou ameaçadores, devem ser lidos à luz do mistério da morte e ressurreição do Cristo. Deste fato, a palavra “pedagogia” toma um sentido diferente daquele que lhe dá a escola. Não é sinônimo de instrução, de saberes a descobrir e de objetivos fixos a alcançar. Mas, trata-se de um acompanhamento sobre a caminhada do encontro com Cristo, que sem cessar se aproxima, procura a relação com a criatura, chama à conversão e à fé. Temos escrito várias vezes o quanto é importante sentir, ouvir e conversar com os catequizandos, para, a partir de suas experiências, ir iluminando o dia a dia com a palavra e vida de Cristo, à luz do Evangelho. Portanto, estar atento, ser sensível e ouvir o Espírito Santo é tarefa importante do educador da fé. A instrução apenas, desligada da vivência, não consegue surtir o mesmo efeito que este acompanhamento e iluminação da vida cotidiana consegue. Ser fiel às pessoas, à luz do Evangelho, é mais importante do que ser fiel a um programa fixo, a um rito determinado, estes devem ceder sempre que as pessoas necessitarem.

Curso de Canto Litúrgico Pastoral será realizado em Porto Alegre Realizado há mais de 40 anos pelo Regional Sul 3 da CNBB, o Curso de Canto Litúrgico Pastoral reunirá agentes de liturgia e canto para encontro de formação em Porto Alegre, nos dias 5 e 6 de julho. O 43º Canto Litúrgico Pastoral será realizado no Centro de Pastoral da Arquidiocese de Porto Alegre, e contará com Ensaio de Canto Pastoral, com ênfase para cantos do Tempo Comum. Na oportunidade, haverá atividade de técnica vocal. As inscrições estão disponíveis ao custo de R$ 20, na sede do Regional Sul 3 – Av. Cristóvão Colombo, 149/101 com informações disponíveis pelo telefone (51) 3225 8483 ou pelo e-mail: secretaria@cnbbsul3.org.br. Para as pessoas do interior do Estado, o Centro de Pastoral disponibilizará hospedagem. São 80 vagas, com a reserva feita antecipadamente pelo telefone (51) 3222-3988 ou ainda (51) - 3222-9394.


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Paróquia Navegantes acolherá peregrinos da Semana Missionária da JMJ “Acolher é a nossa missão” - Com esta frase, o responsável regional das Equipes de Nossa Senhora, Alfredo Bilo, abriu a reunião da equipe de acolhida dos peregrinos que estarão na Arquidiocese de Porto Alegre para a Semana Missionária, evento que antecede a JMJ Rio2013. O encontro foi realizado no dia 11 de junho, na Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes. Cerca de 30 pessoas, na maioria casais equipistas, participaram do encontro. Quem também esteve presente foi o provedor da Irmandade de Nossa Senhora dos Navegantes e o pároco Pe. Remi Maldaner. O Setor Juventude se fez representar através dos padres Márcio Lacoski, SDB, e José Sauthier. Feita a visita às dependências do Santuário, a conversa versou sobre a logística e

infraestrutura necessária para acolher 1500 peregrinos de sete nações diferentes. “Cabe à Comissão de Acolhida receber os viajantes por via terrestre, na BR 290, ou pelo Aeroporto Salgado Filho e conduzi-los até a Esplanada de Navegantes, onde haverá a recepção, breve momento de oração no Santuário, cadastramento e o “primeiro lanche de confraternização”, destacou Pe. Márcio Lacoski. Logo após, os peregrinos foram orientados para a hospedagem na casa das famílias de diversas paróquias da Arquidiocese. Todos, peregrinos e jovens gaúchos, participarão das Atividades da Semana Missionária em Porto Alegre entre os dias 15 e 20 de julho. Saiba mais em www.prejornadapoa.com Pascom

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RQUIDIOCESE Coordenação: Pe. César Leandro Padilha

Jornalista responsável: Magnus Régis - (magnusregis@hotmail.com) Solicita-se enviar sugestões de matérias e informações das paróquias. Contatos pelo fone (51)32286199 e pascom@arquidiocesepoa.org.br Acompanhe o noticiário da Pascom pelo twitter.com/arquidiocesepoa Facebook: Arquidiocese de Porto Alegre Leonardo Mayer

Setor da Juventude orou pela Jornada Mundial

Jovens participam de vigília de oração pela Jornada da Juventude

O Setor Juventude de Porto Alegre realizou Vigília de Oração pela Jornada Mundial da Juventude, no dia 14 de junho. A Igreja Nossa Senhora das Dores foi o local escolhido pelos jovens que, desde às 19h30min, chegaram ao espaço para participar deste momento celebrativo. A Vigília de Oração foi conduzida pelas Comunidades Shalom e Nos Passos do Mestre (NPM). O encontro dividiu-se em três momentos: Oração, Formação e Adoração. “A primeira parte nos proporcionou a concentração necessária para a intimiAlvorada: A mobilização da Igreja em prol da Jornada Mundial da Juventude foi o tema da sessão extraordinária da Câmara de Vereadores de Alvorada, no dia 7 de junho. Dom Jaime Spengler, bispo auxiliar de Porto Alegre, destacou a força da juventude católica que se organiza para o encontro mundial que será realizado no Rio de Janeiro.

dade da prece. O momento formativo foi orientado (em vídeo) pelo fundador da Comunidade Shallom, Moisés Dias e esteva focado no voluntariado exercido para a JMJ. Na terceira parte a Comunidade NPM convidou os presentes a rodearem o Santíssimo Sacramento e oramos fortemente pela Semana Missionária e pelas Comissões que estão organizando os trabalhos, pelos peregrinos, pelos Grupos filiados ao Setor e pela JMJ”, destacou o Pe. Márcio Lacoski, SDB, que integra a coordenação do Setor Juventude no Vicariato de Porto Alegre.

NOTAS

Retiro para o Clero: Entre os dias 8 e 11 de julho, a Arquidiocese de Porto Alegre promoverá retiro para o Clero no Seminário Menor São José, em Gravataí. O encontro iniciará às 18 horas do domingo e será encerrado às 19 horas da quinta-feira e terá como pregador o Frei João Inácio Müller, OFM. Informações pelo telefone (51) 3228-6199.

Barão do Triunfo: A Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, da cidade de Barão do Triunfo, ganhou um novo padre e diácono. Pe. Adilson Correa da Fonseca foi nomeado pelo arcebispo metropolitano como administrador paroquial, enquanto o diácono Diego da Silva Corrêa também recebeu nomeação. Pe. Adilson e o diácono Diego contarão com o apoio do Pe. Charles Teixeira.

Milhares de fiéis participam da procissão de Santo Antônio, no Partenon Milhares de fiéis participaram da missa campal de encerramento da trezena de Santo Antônio, no bairro Partenon, em Porto Alegre. No pátio externo da igreja matriz, o bispo auxiliar de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler, presidiu a celebração que contou com procissão luminosa e bênção do Santíssimo. Na homilia para os fiéis, Dom Jaime recordou que os santos são exemplos do seguimento de Jesus: “Os Santos são homens e mulheres que, a exemplo de Jesus, passam pelo meio da sociedade, no meio das pessoas, procurando fazer o bem e fazer bem todas as coisas. Antônio foi um homem extraordinário. Já se passam 800 anos de sua morte e o carinho do povo cristão por esta figura é algo extraordinário”, disse. O bispo recordou também a profunda ligação de Santo Antônio com a Palavra de Deus: “Antônio carrega nos braços o livro da Sagrada Escritura, e sobre o livro, a figura do Menino Jesus. A Palavra escrita e a Palavra encarnada, com a qual Santo Antônio cultiva sua intimidade bonita. Antônio guardava de tal forma a Palavra que ele se sentia guardado pela Palavra”, enfatizou. Durante a celebração, também foi recordada a Jornada Mundial da Juventude, o encontro mundial da juventude católica com o Papa Francisco. A procissão em honra a Santo Antônio percorreu as ruas do bairro Partenon. Milhares de fiéis, reunidos em família, acompanharam a caminhada, transformando as ruas num corredor iluminado pelas velas. Mesmo os moradores dos condomínios próximos, que acompanhavam a procissão do alto dos apartamentos, piscavam as luzes de casa numa demonstração de comunhão com os caminhantes. Casas das ruas por onde passou a procissão foram enfeitadas com altares, luzes, fitas e cartazes de “Viva Santo Antônio!”. Ao final, novamente concentrados na Igreja de Santo Antônio, os fiéis receberam a bênção do Santíssimo.

Pascom

Procissão movimentou o bairro inteiro


Porto Alegre, julho de 2013 - 1a quinzena

Jovens gaúchos em contagem regressiva para a Jornada “Os jovens serem apóstolos dos jovens” - Paulo VI.

A eleição do Papa Francisco mobilizou ainda mais os brasileiros para vê-lo em pessoa na Jornada Mundial da Juventude, de 23 a 28 de julho próximo. A arquidiocese da Capital, por exemplo, havia projetado uma caravana com 150 vagas. Depois da eleição de Francisco, precisou aumentar o contingente para 180. Os organizadores calculam que cinco mil jovens do Rio Grande do Sul viajarão para o Rio de Janeiro para participar da Jornada. Segundo os responsáveis, o Papa Francisco motivou até mesmo jovens que não vinham participando das atividades eclesiais. Depois da sua eleição e seus exemplos de humildade, pessoas que estavam afastadas da Igreja começaram a procurar os locais de inscrição que tiveram que ser reabertas para participar do evento. Os organizadores da JMJ Rio - 2013 esperam a participação de mais de dois milhões de pessoas oriundas de todos os continentes.

Pré-jornada

Em todas as dioceses brasileiras vai acontecer, entre 16 e 20 de julho, a Semana Missionária, uma espécie de pré-jornada, com vistas a entrar no espírito do evento central e acolher jovens de outros países. P. Alegre está mobilizada para receber esses visitantes jovens que virão da Argentina e que aqui ficarão hospedados na casa de famílias voluntárias onde já os espera uma agenda diária. Depois do café na casa da família que os acolheu, vão se deslocar até uma determinada paróquia, para a oração da manhã e reflexão. Após o almoço, os participantes farão visitas orientadas a instituições sociais, beneficentes e culturais. Por volta das 19 horas, os jovens se integram em atividade em outra paróquia. Na noite de 19 de julho, participarão da Missa do Envio, na Catedral Metropolitana, concelebrada por Dom Dadeus Grings e pelos bispos argentinos que acompanharão as delegações do país vizinho. A Arquidiocese de S. Maria já organizou oito

ônibus que levarão jovens para o encontro com o Papa no Rio, acompanhados pelo Arcebispo Dom Adelar Rupert e por alguns padres. Naquela região, a pré-jornada receberá duzentas jovens mexicanas, alemãs e chilenas cuja agenda é refazer os passos do diácono João Luiz Pozzobon, cujo processo de beatificação está em andamento. Ficarão hospedadas no Santuário de Schoenstatt.

Agenda do Papa

Francisco desembarcará no Rio na tarde de segunda-feira, 22 de julho, sendo recebido no Aeroporto Internacional do Galeão/Antonio Carlos Jobim pela presidente, pelo arcebispo do Rio, pelo arcebispo de Aparecida e presidente da CNBB, pelo governador do Estado do Rio de Janeiro e pelo prefeito da Cidade. Dia 23 de julho terá agenda privada. Na manhã de quarta, dia 24, irá, de helicóptero, até Aparecida do Norte, S. Paulo, retornando ao Rio, no fim do dia, onde ainda visitará o Hospital São Francisco de Assis que se dedica à recuperação dos dependentes da droga e do álcool. Após, retornará ao Sumaré onde estará hospedado durante a estada no Rio. Dia 25 de julho, terá encontro com o prefeito do Rio que lhe entregará as chaves da Cidade. Ainda de manhã, se dirigirá à Comunidade da Varginha – Manguinhos, uma favela "pacificada". Neste mesmo dia, terá o primeiro encontro com os jovens, numa celebração aberta às 17 horas, na praia de Copacabana. Dia 26 estará na Quinta da

Boa Vista para confessar cinco jovens provenientes dos cinco continentes e, após, já no Palácio São Joaquim, residência do arcebispo do Rio, se encontrará em forma reservada com cinco jovens detentos. O almoço será nesta mesma residência episcopal do qual participarão 12 jovens de várias nacionalidades. No fim do dia, estará novamente na praia de Copacabana para a Via Sacra com os jovens. A agenda do penúltimo dia no Brasil inclui missa na Catedral do Rio, encontro com políticos, empresários e formadores de opinião, no Teatro Municipal, e a grande Vigília de Oração com os Jovens no Campus Fidei de Guaratiba, a partir das 19 horas. Os jovens dormirão no Campus Fidei, esperando a missa do dia seguinte, às 10 horas. Antes do retorno ao Vaticano, às 19 horas, de 28 de julho, ainda terá um encontro com o Comitê de Coordenação do CELAM, Conselho Episcopal Latino-Americano.

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