Espírita Tribuna
Deixai Vir a Mim as Criancinhas
“(...) Deixai que venham a mim as criancinhas e não as impeçais, porquanto o reino dos céus é para os que se lhes assemelham.” (Marcos, 10:14)
Ano XXXIII - Nº 181 setembro/outubro - 2014 Preço: R$ 4,00
Eleição Democrática AZAMOR CIRNE João Pessoa - PB
N
o dia 5 de outubro, o Brasil realizou mais uma eleição, para presidente, vice-presidente, senador, governador e deputados federais e estaduais. O voto é uma arma secreta, obrigatório, por lei. Ele nos dá o direito de escolhermos os candidatos que julgamos os mais capacitados e idôneos, para os desempenhos dos mandatos que lhes forem confiados e assegurados pela Constituição. A cerimônia de posse dos eleitos se reveste da mais contagiante emoção, como seja a confiança depositada naqueles que
se comprometeram a cumprir a Ordem Constitucional; zelar e aperfeiçoar a administração da máquina pública, inclusive, no sentido dos salutares anseios populares, objetivando as reformas sociais a que a Nação está destinada, mais cedo ou mais tarde, pela inexorável “Lei do Progresso”. Aliás, como bem acentua Allan Kardec, no Capítulo VIII, de “O Livro dos Espíritos”, nas questões 781 e 781-a: Pergunta: O homem tem poderes para deter a marcha do progresso? Resposta: Não, mas de entravá-la, algumas vezes.
Pergunta: O que pensar dos homens que tentam deter a marcha do progresso e fazer retroceder a Humanidade? Resposta: Pobres seres que Deus castigará. Serão levados pela torrente que pretendem deter. Em seguida, vem um esclarecimento, muito a propósito, expresso pelo Codificador, que procuramos resumir, sem lhe tirar o sentido: "(...) É uma força viva que leis retardatárias podem pretender estagnar, mas não sufocar. Quando essas leis se tornam incompatíveis com o progresso, ele as abate, com todos os tentam mantê-las; (...) a justiça
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divina quer o bem de todos, e não a vigência das leis feitas pelo o forte em detrimento do fraco." Embora se possa ser político-militante e espírita, sou, apenas, espírita, assim como, esta Revista o é, há 35 anos; no entanto, somos livres para expressar os nossos pensamentos, quando se trata de oferecer reflexões sobre assuntos que interessam à Humanidade. Aliás, político todos nós somos, de uma maneira ou de outra − bom ou mau, nas relações, nos negócios, etc. Por certo, um dos maiores problemas, a que estará sujeito o governo recém-eleito será o de aperfeiçoar o combate à violência, que se processa em vários setores da sociedade. Referimo-nos, apenas, àquela que está presente nos assaltos, roubos, estupros, assassinatos, etc., causando tantos receios e insegurança. Por isso, achamos por bem lembrarmos o que Kardec nos revela, na questão 796 da citada obra: “Uma sociedade depravada, certamente, precisa de leis severas. Infelizmente, essas leis mais se destinam a punir o mal, depois de feito, do que a lhe secar a fonte. Só a educação poderá reformar os homens, que, então, não precisarão de leis tão rigorosas.”
Assim, na condição de um simples eleitor brasileiro, desejamos contribuir com o nosso ponto de vista, sobre a violência, inspirado na sentença acima, que expressa, tão bem, a “Lei de Causa e Efeito”, apontando para as duas frentes da luta: combate e prevenção. 1-Combate: Enfrentar, constantemente, o crime organizado, selecionando e aparelhando, modernamente, o contingente policial e o emprego da tática, sem descurar da segurança dos agentes da lei. 2-Presídios-Escola: Estabelecer unidades, onde os apenados receberão educação escolar, profissional e moral. 3- Prevenção - Crianças e adolescentes abandonados deverão ser encaminhados a instituições especializadas, de conformidade com as faixas etárias, onde encontrarão, além da alimentação necessária, os cuidados com a higiene e a saúde e oferecidos os estudos e técnicas profissionais, preparando-as para o emprego, em que serão aproveitadas as qualificações decorrentes do aprendizado recebido. Quantos empregos surgirão, com a implantação de tal reforma de base? Oremos a Deus!
Sumário
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Eleição Democrática Perdão Radical Reencarnado Harmonização psíquica A Prática do Bem Painel Espírita Espiritismo e família Crianças do Século XXI Adultos Mirins - Uma visão panorâmica das influências da violência na infância Infância material e maturidade espiritual O Centenário de Herculano Pires III Jornada Médico-Espírita Paraibana Lições da vida União homoafetiva e a lei natural de justiça
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De Irmão para Irmão
Ao conviver com pessoas difíceis: Deixai Vir a Mim as Criancinhas As curas de Jesus continuam Flexibilidade Mental Rir é um Santo Remédio! O Dirigente Espírita A tentação como teste “O Pecado contra o Espírito Santo”: o que significa? Melancolia Irmã Dulce: reencarnação da Princesa Isabel?
Expediente Fundada em 01 de janeiro de 1981 Fundador: Azamor Henriques Cirne de Azevedo
TRIBUNA ESPÍRITA
Revista de divulgação do Espiritismo, de propriedade do Centro Espírita Leopoldo Cirne Ano XXXIII - Nº 181 - setembro/outubro - 2014 Diretor Administrativo e Financeiro: Severino de Souza Pereira (ssp.21@hotmail.com) Editor: Hélio Nóbrega Zenaide Jornalista Responsável: Lívia Cirne de Azevedo Pereira DRT-PB 2693 Secretaria Geral: Maria do Socorro Moreira Franco Revisão: José Arivaldo Frazão Assessoria: Uyrapoan Velozo Castelo Branco Colaboradores: Alessandro Viana, Azamor Henriques Cirne de Azevedo, Carlos Romero, Deolindo Amorim Divaldo Pereira Franco, Elmanoel G. Bento Lima, Fátima Araújo, Flávio Mendonça, Geraldo Campetti Sobrinho, Guilherme Travassos Sarinho, Gustavo Machado, Hélio Nóbrega Zenaide, Igor Mateus, Leonardo Machado, Mauro Luiz Aldrigue, Marcus Sodré, Pedro Camilo, Octávio Caúmo Serrano, Raimundo R. Espelho, Raul Teixeira, Rita Foelker, Severino Celestino da Silva, Walkíria Araújo. Diagramação: Ceiça Rocha (ceicarocha@gmail.com) Impressão: Gráfica JB (Fone: 83 3015-7200) ASSINATURA BRASIL ANUAL: R$ 25,00 TRIANUAL: R$ 70,00 EXTERIOR: US$ 20,00 CONTRIBUINTE ou DOADOR: R$....? ANUNCIANTE: a combinar TRIBUNA ESPÍRITA Rua Prefeito José de Carvalho, 179 Jardim 13 de Maio – Cep. 58.025-430 João Pessoa – Paraíba – Brasil Fone: (83) 3224-9557 e 96333500 e-mail: jornaltribunaespirita@gmail.com Nota da Redação Os Artigos publicados são de inteira responsabilidade dos seus autores. setembro/outubro • Tribuna Espírita • 2014 3
Perdão Radical A
s sublimes lições não paravam de iluminar as consciências dos discípulos interessados no conhecimento da Verdade. Cada momento em companhia do Mestre amado revestia-se de um aprendizado inolvidável. Jamais, houvera alguém que pudesse, como ele o fazia, cantar a beleza da sabedoria, com a linguagem singela de um lírio alvinitente em pleno chavascal. As suas palavras eram como pérolas reluzentes que formavam colares luminosos na consciência dos ouvintes. Ele nunca se repetia. Com as mesmas palavras, entretecia variações incomuns em torno dos temas do cotidiano, oferecendo soluções simples, às vezes profundas, com a mesma naturalidade com que se referia ao Pai, o seu Abba. Ressoavam, nos refolhos das almas, o canto incomparável do Sermão da Montanha, que se lhes tornara o novo norte, para o avanço no rumo da augusta plenitude. Cada bem-aventurança era portadora de um novo conteúdo, como sendo a diretriz soberana do amor em relação ao futuro da Humanidade. Ninguém ficava à margem, nenhum sentimento era esquecido e a fonte de inexaurível sabedoria continuava a fluir a água lustral dos ensinamentos imortais. Ele parecia ter pressa de preparar os amigos, embora não fosse apressado. Eram tantas as necessidades humanas, que não era possível desperdiçar o tempo em cogitações da banalidade e emprego das horas, em pequenezes habituais do comportamento! Mais de uma vez, ele falara sobre a emoção do amor e a bênção do perdão, sendo, porém, enfático em todas elas. O perdão é, sempre, melhor para aquele que o concede. Para que não ficasse esquecido entre as preocupações que assaltavam os amigos na sua labuta diária, ele voltava ao tema com novas composições. Já lhes dissera que se fazia indispensável perdoar setenta vezes sete vezes, o que significa perdoar incessantemente, ininterruptamente... Naquela oportunidade impar, complementou o ensinamento, referindo-se à conduta pessoal de cada criatura: Portanto, se estiveres apresentando a tua oferta no altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai conciliar-te primeiro com seu irmão e, depois, vem apresentar a tua oferta... Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz e o juiz te entregue ao oficial e te encerrem na prisão. Em verdade, te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil. (Mateus 5:23 a 26) Tratava-se da aplicação da misericórdia nos relacionamentos, de modo a manter-se a consciência de paz. Nesse sentido, a compaixão, em relação aos erros alheios, assumia papel de preponderância, mas os amigos aturdidos compreendiam que lhes era muito difícil a mudança de conduta, habituados ao desforço em relação àqueles que os prejudicavam. 4 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2014
Assim pensando, após a exposição do Senhor, Tiago perguntou-lhe, recordando-se da severidade da Lei Antiga: − Como é possível, Mestre, permitir-se que o agressor fique impune, após a prática do seu ato perverso? O iluminado olhou-o, com imensa ternura, por saber que ele era cumpridor dos deveres, severo em relação a si mesmo; portanto, exigente no que diz respeito ao comportamento dos outros e compreendeu-lhe a inquietação. Após um breve silêncio, ante o zimbório celeste recamado de estrelas que lucilavam ao longe, respondeu, benigno: − As águas do rio limpam as margens e o leito por onde correm, transformando e decompondo o lixo e a imundice, em rico adubo mais adiante, levados pela correnteza. Assim, também, o amor de misericórdia, transforma a agressão em benção para a vítima, auxiliando o inimigo a purificar-se, ao longo do percurso evolutivo. Quando se perdoa, isto não implica anuência com o erro, com o crime, com o descalabro do outro. Não se trata de desconhecer a atitude infeliz, mas objetiva não retaliar o outro, não aguardar oportunidade para nele desforçar-se. Não devolver o mal que se sofre, é o inicio do ato de perdoar. Compreender, porém, que o outro, o agressor, é infeliz, que ele se compraz em malsinar porque é atormentado, constitui a melhor reflexão para o perdão radical, o perdão sem reservas. Ninguém tem o direito de oferecer ao Pai suas orações e dádivas de devotamento, se tem fechado o coração para o seu próximo, aquele que, na sua desdita, derrama fel sobre os outros e cobre a senda que percorrerá no futuro com os espinhos da própria insanidade. Ter adversário é fenômeno normal na trajetória de todas as criaturas; no entanto, deve-se evitar ser-lhe, também, inamistoso, igualando-se em fraqueza moral e desdita interior. Quem assim se comporta, também sofrerá julgamento da autoridade, a quem seja apresentada queixa, e essa poderá exigir-lhe o ressarcimento do mal, até o último e mínimo ultraje.
É o que ocorre com qualquer ofensor ou ofendido magoado. É obrigado a refazer o caminho, sob a jurisdição divina, até quitar-se de todas as mazelas e débitos morais. O interrogante, no entanto, insistiu: − Como, então, fica a justiça, diante daquele que lhe desrespeita os códigos austeros? O amigo compassivo compreendeu a inquietação do companheiro e elucidou: − A questão da justiça não pertence ao ofendido, mas aos legisladores que aplicarão a penalidade corretora que se enquadre nos códigos legais. E, quando isso não ocorre, a sabedoria divina impõe-se ao calceta, que carrega na consciência o delito, fazendo-o ressarcir os danos com a sua cooperação ou sofrendo os efeitos do mal que praticou, imputando-se sofrimentos reparadores. Ninguém consegue fugir à consciência, indefinidamente, porque, sempre, há um despertar para a realidade transcendental. − Mas, Mestre, nesse caso, todos os crimes de qualquer porte devem ser perdoados e esquecidos? – Instou, inquieto. Serenamente, Jesus retorquiu: − Não há crimes imperdoáveis. Há, sim, mágoas exageradas. Quem não tem condutas reprocháveis ao longo da existência, por mais austero seja em relação a si mesmo, observando os códigos da justiça e da religião? Quantas vezes, em momentos de infelicidade e de ira, pessoas boas e generosas, devotadas ao Pai e ao dever, rebelam-se e agem incorretamente? Será justo desconhecer-lhes toda uma trajetória de dignidade, por um momento de alucinação, de torpor mental, pela ira asselvajada que lhe tomou a consciência? É necessário, portanto, perdoar-se todas as formas de
agressão, entregando-as ao amor do Pai Incomparável, a tomar, nas mãos, a lei e a justiça, aplicando-as conforme o desconforto de que se é objeto. Assim fazendo-se, torna-se digno de, também, ser perdoado. Esse é o sublime comportamento do amor, em forma de benignidade para com o próximo, o irmão da retaguarda evolutiva. Depois do silencio que se abateu, natural, no círculo de amigos, ele adiu gentilmente: − Convém recordar-se, igualmente, que todos necessitam do perdão, para as suas ações infelizes, desse modo, devendo perdoar-se, purificar a mente, permitir-se o direito de errar, compreendendo a sua humanidade e fraqueza, mas não permanecendo no deslize moral, nem se comprazendo em ficar na situação a que foi arrojada. O autoperdão é conquista do amor que se renova e compreende que se está em processo de renovação e de autoiluminação. Assim, portanto, rogando-se ao Pai o perdão pelos próprios delitos, amplia-se o pensamento e alcança-se o agressor digno de ser perdoado, também. A noite prosseguia, rica de suaves perfumes e incrustada dos diamantes estelares, e registrou a lição imorredoura do perdão a todas as ofensas. Amélia Rodrigues (Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, no Lar de Amandine e Dominique Chéron, na manhã de 5 de junho de 2014, em Vitry-sur-Seine, França.)
Reencarnado GERALDO CAMPETTI Brasília-DF
Último sábado de outubro. Era manhã. Folheava o jornal do dia, quando me deparei, no Caderno C, com as “Diretas”, aquele jogo de cruzadas. Sempre, gostei de fazer, embora, ainda, me custe grande tempo concluir todas as questões, quando dou “conta do recado” Chamou-me a atenção, certo desafio, cujo enunciado – ipsis litteris – era este: “Reassumido (o Espírito) a forma material”. A resposta, todo espírita sabe. Mas, o melhor, ainda, é que não precisa necessariamente ser espírita, para conseguir resolver o desafio. Como ali posto, qualquer pessoa de mediano conhecimento poderia resolver o enigma. Essa situação inusitada fez-me refletir, com alegria: os conceitos do Espiritismo, aos poucos, estão ganhando
espaço e se popularizando, na sociedade brasileira! Isso é um bom sinal! Naturalmente, o estudioso do Espiritismo poderia argumentar que a maneira mais acertada, conforme esclarecimentos de “O Livro dos Espíritos”, seria o de se propor o enunciado, assim: “retornado (o Espírito) a um novo corpo físico”. Mas, detalhes à parte, o conceito é transmitido e se torna acessível a todo mundo. Daqui a pouco, as pessoas estarão adotando a terminologia espírita, sem se darem conta.
Como os princípios do Espiritismo são fundamentados nas leis naturais, nada mais compreensível que seu vocabulário específico, também, seja, natural e, gradativamente, incorporado ao linguajar cotidiano de todos. Quanto tempo levará, para que isso ocorra? Não importa. O mais importante é que você está reencarnado e eu, também. Ou seja, “reassumida a forma material” ou “retornado a um novo corpo físico”, todos temos nova oportunidade de falar a linguagem do bem, com a conjugação do verbo amar, no dia-a-dia de nossas vidas.
setembro/outubro • Tribuna Espírita • 2014 5
Harmonização psíquica FÁTIMA ARAÚJO João Pessoa-PB
A
harmonização psíquica permite à pessoa raciocinar sobre a importância do seu comportamento, tolerância e humildade diante do próximo, para que possa ser mais feliz ou, pelo menos, mais integrada neste mundo sujeito a transformações rápidas e constantes. O ser humano que se empenha em buscar a paz interior, mesmo que viva sob o peso de grandes responsabilidades, doenças, dificuldades ou estresse, aprende a encarar a vida de frente, sem medos ou angústias que tanto têm desarmonizado as pessoas. A harmonização psíquica é um trabalho de toda hora, de todos os dias; é como se a pessoa vivesse o tempo todo se policiando, para não perder o equilíbrio e manter a paz interior. Como ensina Emmanuel, na obra “Fonte Viva”, pela psicografia de Chico Xavier: “Refugia-te no templo à parte, dentro de tua alma, porque, somente aí, encontrarás as verdadeiras noções da paz e da justiça, do amor e da felicidade reais, a que o Senhor te destinou”. Conseguimos atingir esse estágio de moderação, com atitudes de religiosidade e boa vontade, bem como, com a prática da prece e da irradiação mental, costumes que devem estar associados à aquisição de hábitos de vida saudáveis. É importante, ainda, aprendermos a ver nossos pares, como um todo coletivo, em que cada um possa contribuir para o seu próprio equilíbrio e para a harmonia geral. No caso de precisarmos de ajuda, devemos ser humildes, para solicitarmos esse suporte e, se o próximo precisar de nós, estar disponíveis, sempre, para auxiliá-lo no que estiver ao nosso alcance. Harmonização psíquica é o mesmo que harmonia, no sentido da paz. O Espiritismo enaltece esse bem, como a capacidade de se obter serenidade ou equilíbrio espiritual. Falar em paz ou quietude, para quem vive num mundo atribulado como o nosso, pode parecer utopia, ilusão. De fato, a vida não é fácil, aqui; uma vez que habitamos um mundo de expiações e pro6 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2014
vas, principalmente quando desconhecemos a causa do sofrimento, nos desesperando com a dor e, assim, aumentando o mal-estar. Só que, na Doutrina Espírita, aprendemos a encarar a dor com mais ânimo, por entendermos sua razão de ser, seu papel, nos trâmites da escalada evolutiva. Joanna de Ângelis, no livro “Liberta-te do Mal”, psicografado por Divaldo Franco, sugere a harmonização, na “busca da saúde integral, que deve constituir um dos objetivos básicos da existência planetária, dentro da proposta relevante da iluminação interior”. É a pessoa não cultivar viciações, não se exceder em nada, para não adoecer, para manter a saúde física e espiritual. Deve-se, ainda, evitar leituras e outros conteúdos nefastos, pensamentos e sentimentos mesquinhos que adoecem e desequilibram, atrapalham e atrasam a evolução do ser. A Doutrina Espírita, que faz a releitura do Evangelho e é a religião cósmica do amor, ensina que, para vivermos harmonizados, precisamos também praticar o desapego, porque estamos aqui, mas não somos daqui. Não somos donos de nada; tudo nos é dado por empréstimo, pois, no dia em que voltarmos à pátria espiritual, levaremos, apenas, o inventário de nossas ações. Nesse ponto, Joanna, em “O Homem Integral”, ensina que “(...) Reservar espaços mentais para o desapego das coisas, das pessoas e das posições é uma terapia saudável e necessária, para o trânsito feliz ao mundo real”. Precisamos, ainda, nos desapegar do passado que, às vezes, não conseguimos esquecer. Não viemos ao mundo, para encarar paixões, tormentos, inquietação, conflitos – componentes causadores de degradação, que devemos evitar, para consumarmos nossa evolução. Estamos, aqui, para cumprir uma missão, resgatar débitos de vidas anteriores, evoluir, para nos harmonizar, enfim. E não nos esqueçamos de observar, bem, as lições que podem ser de grande valia!
A Prática do Bem FLÁVIO MENDONÇA João Pessoa-PB
Porque àquele que tem, se dará, e terá em abundância; mas àquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado. (Mateus 13:12)
N
uma perspectiva comum e estreita, muitas pessoas ficam sem compreender o porquê Jesus teria ensinado que o abastado ganharia mais, e que o pobre perderia até o pouco que tem. Seria, sem dúvida, uma grande injustiça, se a lei se impusesse dessa forma. Todavia, nessa passagem, Jesus se referia ao entendimento das conquistas espirituais. Aqui, o Mestre nos traz algo bem mais elevado do que podemos imaginar, numa visão
ainda materialista. É que toda conquista do Espírito é efetiva e passa a ser seu patrimônio. Senão, vejamos um exemplo simples do nosso cotidiano: Imaginemos um atleta. Ele pratica, todos os dias, a sua atividade a fim de aprimorá-la. Pois bem, à medida que isso acontece, ele realmente vai se superando até atingir seu objetivo, no caso, as conquistas esportivas. Podemos, então, estabelecer que o esforço que desempenha o faz, cada vez mais, aprimorado, enquanto, se não o fizesse, perderia até o que conquistou, com os esforços passados. Os músculos atrofiariam, o condicionamento físico já não seria o mesmo, a disposição física e mental estagnaria. Enfim, fracassaria no seu desenvolvimento. Podemos, então, compreender que, da mesma forma, a prática do bem que aprimora o Espírito e os esforços, nas conquistas espirituais, que elevam a alma, são elementos perenes, que neces-
sitam de constante renovação, estímulo e perseverança. O homem não prescinde desses elementos, para seu crescimento espiritual. Não pensemos que todas as conquistas já foram realizadas, nesta condição terrena. Há muitos esforços a desempenhar, para que possamos viver a plenitude desejada. Expressamos, muitas vezes, inconscientemente, condicionamentos multimilenares, aos quais necessitamos de muitos esforços, para transformar. Isso requer muita determinação e, acima de tudo, compreensão das leis que regem o progresso humano. No entanto, devemos lembrar que muitas conquistas foram realizadas, no campo espiritual, hajam vistas as condições transatas, em que já vivemos, onde predominava o primarismo da consciência, regido somente pelo instinto, em detrimento da razão conquistada pelo estágio atual. Muitos já conquistaram condições sublimes da alma, mas, nunca, sem o trabalho que esposaram, durante sua caminhada evolutiva. A prática do bem aprimora o homem, para torna-lo bom. Abandonar a prática do bem é permitir-se estacionar, no meio do caminho. Jesus nos ensina isso, na máxima acima, no início do texto. Kardec estabelece o mesmo, quando diz: “Fora da Caridade não há salvação”. Reflitamos, amigos, sobre quais serão nossas escolhas, doravante! O autor é empresário e participa de atividades espíritas em Recife-PE.
Painel Espírita
Meninos espirituais Na apreciação dos companheiros de luta, que nos integram o quadro de trabalho diário, é útil não haja choque, quando, inesperadamente, surgirem falhas e fraquezas. Antes da emissão de qualquer juízo, é conveniente conhecer o quilate dos valores espirituais em exame. Jamais, prescindamos da compreensão, ante os que se desviam do caminho reto. A estrada percorrida pelo homem experiente está cheia de crianças dessa natureza. Deus cerca os passos do sá-
ELMANOEL G. BENTO LIMA João Pessoa - PB bio, com as expressões da ignorância, a fim de que a sombra receba luz e para que essa mesma luz seja glorificada. Nesse intercâmbio substancialmente divino, o ignorante aprende e o sábio cresce. Os discípulos de boa vontade necessitam da sincera atitude de observação e tolerância. É natural que se regozijem com o alimento rico e substancioso, com que lhes é nutrida a alma. No entanto, não desprezem outros irmãos, cujo organismo espiritual, ainda, não tolera, senão, o leite simples dos primeiros conhecimentos. Toda criança é frágil e ninguém deve
condená-la por isso. Se tua mente pode librar no voo mais alto, não te esqueças dos que ficaram no ninho onde nasceste e onde estiveste longo tempo, completando a plumagem. Diante dos teus olhos deslumbrados, alonga-se o infinito. Eles estarão contigo, um dia, e, porque a união integral esteja tardando, não os abandones ao acaso, nem lhes recuses o leite que mamam e de que ainda necessitam. [Fonte: transcrição do item 51 do livro “Caminho, Verdade e Vida”, do Espírito Emmanuel, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, FEB]
setembro/outubro • Tribuna Espírita • 2014 7
Espiritismo e família GUILHERME TRAVASSOS SARINHO (*) João Pessoa-PB
“A família é, antes de tudo, um laboratório de experiências reparadoras, na qual a felicidade e a dor se alternam, programando a paz futura”. Joanna de Ângelis (Espírito) Divaldo Franco.
A
Doutrina Espírita tem uma visão muito clara da importância da família como instituição para o crescimento moral e espiritual, tanto do ponto de vista individual, quanto coletivo. A família organizada é, com certeza, a base para uma sociedade organizada. “Tal pai, tal filho”, diz, sabiamente, um provérbio popular. Acrescentamos que, com raras exceções, uma vez que o Espírito, que anima o corpo, é autônomo, é senhor dos seus atos. Porém, via de regra, o Espírito do filho sofre a influência dos pais. Até, porque o lar é uma escola, cuja educação se inicia no berço, com os pais-professores. Bons professores, bons alunos, diz a lógica. A nossa Doutrina, é uma doutrina reencarnacionista, bem diferente das religiões cristãs tradicionais e da dialética do materialismo, quer ele seja de Karl Marx ou de Friedrich Engels. Desse modo, o Espiritismo ensina que não há efeito sem causa e que todo erro tem correção, tem conserto; que não há erro sem perdão e que não há castigo eterno. Mas, sobretudo, ensina sobre a importância da família e do lar, para o crescimento espiritual; a finalidade de estarmos reencarnados neste planeta, que, no momento atual, ainda, “é de provas e expiações”. Mostra que os liames familiares são sagrados, são eternos, não só pelos laços sanguíneos, como, mais ainda, pelos espirituais, entrelaçados, ao longo dos séculos, por afeição ou por ódio e/ou desavenças passadas. O lar não é, somente, a casa, a estrutura material, que agasalha, conforta e
8 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2014
aquece; mas, sim, uma obra edificada nos valores e princípios morais e imateriais, onde os pais devem despertar, nos filhos, a consciência para as realizações superiores da vida. Os laços bem unidos das famílias são de vital importância, para que os sociais se mantenham harmoniosos. Na resposta à Questão nº 774 de “O Livro dos Espíritos”, consta: (...) “Os laços sociais são necessários ao progresso e os de família mais apertados tornam os primeiros. Eis por que os segundos constituem uma lei da Natureza”. A família é um grupamento espiritual; são Espíritos que se comprometeram, quando no plano espiritual, a reencarnar, juntos, por amor, simpatia, afeto, e grandes laços de amizades, tecidos, ao longo dos milênios, ou, ainda, por mútuos desajustes e débitos contraídos, e que se propuseram corrigir, através de nova convivência, quando o perdão e a tolerância iriam propiciar novas oportunidades de evolução espiritual. O Espírito Joanna de Ângelis, através da psicografia de Divaldo Franco, no pequeno-grande livro “Vida Feliz” diz: “Os filhos são empréstimos divinos para a construção do futuro ditoso”. Os pais devem transmitir aos filhos, a importância do lar e dos laços familiares, como célula geradora de agasalho, de segurança, de apoio mútuo, de harmonia, de amor e de equilíbrio doméstico. A família é a célula mater do organismo social. “Por isso, toda vez que a família se desestrutura, a sociedade cambaleia, a cultura degenera, a civi-
lização se corrompe”, nos diz, com mestria, a citada entidade espiritual, no prefácio do livro “S.O.S. Família”. Daí, a grande responsabilidade dos genitores, na formação dos filhos, dentro e fora do lar. Eles não são, só, heróis para os filhos, mas exemplos a serem seguidos. Mais uma vez, recorrendo à primeira das obras citadas, temos, da autora espiritual: “Os hábitos adquiridos no lar permanecem por toda a existência e se transferem para além do corpo”. Têm, portanto, que encarar o compromisso moral-social assumido, para que seus rebentos, sejam eles, adotados, ou consanguíneos, mas, também, com o acordo firmado entre si, além do plano terreno. Os pais têm que ser para a prole, não só protetores, mas também provedores e professores. Os pais devem ter em mente, que os filhos precisam de genitores presentes e conscientes e não pais ausentes, mesmo estando dentro do lar, gerando “filhos órfãos de pais vivos”. Os pais devem ser amigos e confidentes dos filhos, independente do sexo ou da idade dos mesmos, e, para tal, devem criar entre eles, a confiança, que é dada pelo exemplo. A responsabilidade do casal é muito grande, não só, devido ao compromisso moral e social que têm para com os filhos, sejam eles, adotados − que são filhos espirituais − ou consanguíneos, mas, também, ao acordo firmado entre si, além do plano terreno. Têm, portanto, que ser para a prole, não só protetores, mas também provedores e professores. Devem ter em mente, que os filhos preci-
sam de genitores presentes e conscientes e não ausentes, mesmo estando dentro do lar, gerando “filhos órfãos de pais vivos”. Devem ser, ainda, amigos e confidentes de sua prole, independente de sexo ou de idade; e, para tal, criar em seus rebentos, a confiança, que é dada pelo exemplo. Que a missão paterna não termina quando os filhos crescem e se tornam adolescentes ou adultos, deve lhes ser demonstrado, porquanto, pais verdadeiros são os que cuidam dos filhos, com desvelo, porém, sem exageros em qualquer época de suas vidas. Os pais, conscientes da sua missão, na atual reencarnação em família, devem ter o mesmo apreço, o mesmo carinho, o mesmo desvelo, para os filhos, quer adolescentes ou adultos, solteiros ou casados (neste caso, extensivos aos netos), do mesmo modo de quando eram rebentos imaturos, débeis e frágeis. Não se pode esquecer que os pais devem saber que, do mesmo modo que os caracteres físicos são passados aos filhos, pela hereditariedade dos cruzamentos genéticos, os genes espirituais, conectados à malha de energias sutis do perispírito, transferem as características morais ao espírito encarnado nos filhos; é a herança dos princípios éticos, nobres e morais acumulados no arquétipo espiritual de acordo com o aprendizado e a evolução de cada ser, tanto no plano espiritual, quanto em encarnações pregressas. Assim, vemos o mais das vezes, diferenças na moralidade, retidão de caráter, decência e honestidade entre pais e filhos, a despeito da educação recebida no lar. Cada um, nesse caso, dá o que tem, ou dá, conforme as posses evolutivas do Espírito. A amizade e o amor (assim com o ódio) transcendem o plano material. Só que o amor e amizade entre famílias, são eternos, imbatíveis, indestrutíveis, imutáveis e espirituais; e isto torna os pais, os melhores amigos dos filhos. Já, os sentimentos negativos, podem ser mudados, substituídos por bons sentimentos, de acordo com a evolução de cada família, dentro do lar. Daí, a enorme responsabilidade dos pais, na criação e educação dos filhos. Mais uma vez o pequeno-grande livro ensina aos pais: “Tudo quanto invistas no lar, retornará conforme a aplicação feita. Faze do teu lar a oficina onde a felicidade habita”. Quem investe em educar os filhos, não só culturalmente, mas moral e espiritualmente, está investindo, em si próprio, na sociedade, como também, no futuro da Humanidade. Deixar filhos equilibrados, honestos, íntegros, probos e honrados, é deixar um legado divino para as gerações futuras. (*) O autor é Médico, Mestre Maçom, Escritor e Membro do Centro Espírita “Leopoldo Cirne” – João Pessoa-PB.
Crianças do Século XXI A
s crianças de hoje surpreendem pela sua incrível capacidade de lidar com engenhocas tecnológicas. Assustam adultos de mais de trinta anos que sentem algum desconforto frente ao computador, a botões e máquinas eletrônicas sofisticadas. Os garotos da atualidade assistem em tempo real ao que ocorre em locais distantes de onde se encontram e estão habituados a conquistas científicas. Tudo isso leva pais a se considerarem ultrapassados, endeusando os filhos ou considerando-os verdadeiros gênios. Por mais que ajam com certa autonomia, as crianças de hoje, como as de ontem, têm necessidade dos adultos para lhes dizer o que fazer e o que não fazer. Os pequenos gênios fazem birra, esperneiam e até fazem greve para conseguirem o que desejam. Precisam de um basta que interrompa sua diversão com o game quando a hora é a da refeição, do banho ou da escola. Necessitam receber não para regular a sua rotina e sua saúde. Precisam de disciplina. E disciplina se faz com limites. É um erro tratar as crianças simplesmente como cérebros ansiosos por mais e mais conhecimentos. Elas necessitam de experiências afetivas, motivo pelo qual não podem dispensar as brincadeiras com outras crianças. Assim como elas precisam da imposição dos limites pelos adultos, necessitam dos conflitos com seus amiguinhos para aprenderem a se relacionar com pessoas e coisas. O mundo necessita de homens capazes de amar, de respeitar o semelhante, de reconhecer as diferenças, de pensar, muito mais do que de gênios sem moral,
frios e calculistas. A ciência, sem sentimento, tem causado males e tragédias. Preocupemo-nos, pois, em atender a busca afetiva dos nossos filhos. Permitamos que eles convivam com outras crianças, que criem brincadeiras, usando a sua criatividade. Busquemos ensinar-lhes, através da experiência diária, os benefícios do afeto verdadeiro, abraçando-os, beijando-os, valorizando seus pequenos gestos, ouvindo-os com atenção. A criança aprende o que vivencia. O lar é a primeira e fundamental escola. É nele que se forma o homem de bem que ampliará os horizontes do amor, nos dias futuros. Ou o tirano genioso que pensa que o mundo deve girar ao seu redor e somente por sua causa. * * * Mesmo a criança considerada um gênio precisa de cuidados elementares para crescer emocionalmente. Para se tornar, de fato, uma pessoa com capacidade de criar, produzir e desfrutar junto com os outros, a criança precisa de afeto. As crianças de hoje não amadurecem emocionalmente mais rápido do que as de antigamente. Elas continuam a ter medo do desconhecido, a se alegrarem com pequenas coisas, a se sentirem infinitamente tristes pela perda de um animal de estimação. São todas experiências importantes para a formação e o aprendizado emocional do ser humano, devendo ser valorizadas em todos os seus detalhes. Redação do Momento Espírita com base em artigo intitulado Cérebros e corações para o Século XXI, do jornal Gazeta do povo de 2 de janeiro de 1999. setembro/outubro • Tribuna Espírita • 2014 9
Adultos Mirins
Uma visão panorâmica das influências da violência na infância MARCOS PATERRA João Pessoa-PB
S
ob abordagem interacionista esse artigo analisa o Homem como um “Ser Biopsicossocial”, sujeito as influencias sociais e culturais, que o induzem de maneira subliminar a agir de forma preconceituosa a diversos contextos; sob essa ótica abordamos as diversas perspectivas das causas precursoras da violência contra crianças, e de forma charneira cruzamos a “biopsicossociologia” e a suas relações “Somatopsíquicas” que refletem diretamente em fenômenos psicossociais. Muitas vezes nos questionamos porque existem pessoas que tratam de forma tão brutal as crianças, conforme outro artigo de minha autoria, (2010) “Trabalho Infantil no Brasil” o abuso de crianças é praticado há muito tempo: “[...] O problema é cultural sim, mas vem desde quando as caravelas vindas de Portugal para colonizar a ainda chamada “Terra de Santa Cruz”. Esses navios traziam homens, algumas mulheres e crianças que eram para lhes servir como grumetes, pajens, ou “órfãos do rei” (meninas pobres dos orfanatos, para se casar com os colonizadores portugueses); essas crianças sofriam, eram abusadas sexualmente, tinham dias inteiros de trabalhos pesados e perigosos, quando os navios sofriam ataques de piratas, eram com frequência assassinadas ou escravizadas, sendo prostituídas e exauridas até
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desfalecerem, quando ocorria algum naufrágio, as crianças eram sempre esquecidas e às vezes lançadas ao mar para não ocuparem espaço nos barcos salva-vidas.” Conforme o autor no século XIX na Revolução Industrial as mulheres trabalhavam como escravas e nascia assim à criança operária, potencial vítima das transformações econômicas, sociais e familiares impulsionadas pela referida revolução. A sua mão de obra era aproveitada e assumia-se muitas vezes como fundamental na manutenção econômica do agregado familiar. “No Brasil, as crianças eram tratadas como animais domésticos, após completarem aproximadamente cinco anos de idade, eram inseridas no contexto do trabalho escravo, quando milagrosamente sobreviviam, pois as mães trabalhavam excessivamente durante a gravidez em más condições de alimentação e higiene. As crianças negras, filhos dos escravos, só eram “me-
nos mal tratadas” quando o dono dos escravos tinha poucos escravos e situação econômica mais precária, vivendo do trabalho dos seus escravos, vendo por tanto lucro no nascimento de mais um escravo “uma benção de Deus”. É constatado que no tocante a educação uma parcela da “sociedade” era excluída, não possuía qualquer valor. [...] Os adultos se relacionavam com as crianças sem discriminações, falavam vulgaridades, realizavam brincadeiras grosseiras, todos os tipos de assuntos eram discutidos na sua frente, inclusive a participação em jogos sexuais. Isto ocorria porque não acreditavam na possibilidade da existência de uma inocência pueril, ou na diferença de características entre adultos e crianças.” (PATERRA. 2010) Em verdade o trato com brutalidade/abuso para com as crianças remota de muito tempo antes, onde enfatizamos o fato de que as crianças eram tratadas como adultas a partir dos sete
anos e só passaram a ser vistas como crianças/adolescentes depois do século XVII, nesse ponto verificamos de que Jean Jacques Rousseau1 foi um visionário e mostra-nos como a criança é facilmente influenciada com a frase: “A criança tem um modo singular de entender e de ver o mundo”2, e é devido a esse “Modo singular” que devemos ter maior cuidado com o que nossos filhos veem ou escutam. “A natureza quer que as crianças sejam crianças antes de serem homens. Se quisermos perturbar essa ordem, produziremos frutos prematuros que não terão nem madureza nem sabor, e não tardarão a se corromper; teremos doutores infantis e crianças velhas. A infância tem maneiras de ver, de pensar, de sentir que lhe são próprias.” (ROUSSEAU. P.74. 2004)3. Avaliando nessa perspectiva, não é difícil perceber que culturalmente as crianças foram tratadas de maneira preconceituosa e transmitiram esse costume de geração em geração. Vygotsky4 (2002) através da teoria do desenvolvimento proximal, demonstra a necessidade do ser humano em interagir com o outro para aprender e desenvolver suas habilidades, considerando o papel da instrução um fator positivo, no qual a criança aprende conceitos socialmente adquiridos de experiências passadas e passarão a trabalhar com essas situações de forma consciente. Se uma transformação social pode alterar o funcionamento cognitivo e pode reduzir o preconceito e conflitos sociais, então esses processos psicológicos são de natureza social. Devem ser analisados e trabalhados através de fatores sociais. Sob esse prisma, percebemos como as influencias culturais e sociais no decorrer da história moldou de forma direta e indireta as atitudes comportamentais de homens e mulheres, dobre tudo com relação ao preconceito. As sociólogas Felícia Madeira e Eliana Rodrigues (1998), no artigo “Recado dos jovens,” enfatizam que a história, a tradição e a cultura contribuem para a expressão dos valores dos jovens, pois apesar das diferenças existentes entre eles e independentemente de condição socioeconômica, esse grupo etário apresenta e cultiva identidade própria. Rousseau em seu tratado pedagógico da educação natural constrói de forma autêntica e natural, que é importante educar e respeitar a criança em seu mundo e que os valores morais e éticos devem ser construídos na ne-
cessidade e no cuidado que o adulto deve fornecer durante a infância. Assim é importante perceber que a infância precisa ter um acompanhamento não de repressão ou de imposição do mercado, mas sim de liberdade bem regrada logo na infância. A violência contra as crianças é constituída devido a equívocos de pensamentos formados durante centenas de gerações na cultura e sociedade, como consequência as crianças de forma reflexa tendem a ser violentas e confusas onde dentre seus sentimentos infantis e compromissos de adultos tornam-se adolescentes problemáticos. A criação humana ultrapassa muitas vezes a realidade dos fatos, refletindo estados interiores variados e de enorme valor para a construção de nosso patrimônio cultural.
A criança tem um modo singular de entender e de ver o mundo
Sob esse prisma e em um olhar espírita, destacamos que somos reencarnantes, vivemos dentre os selvagens da pré história onde não havia afeto familiar, fomos pertencentes as massas que ignorava a infância e tratava as crianças como adultos, e portanto carregamos essas informações latentes em nosso períspirito e muitas vezes ainda confusos com as mudanças culturais agimos de impulso, onde atrelados na ignorância espiritual, deixamos extravasar o ser presos a paradigmas do passado que carregamos dentro de nós. Percebemos, portanto que a construção de nosso “Ser Cognoscente”5 esta vinculada diretamente a cultura social e familiar formando assim paradigmas que alimentam nossos preconceitos os quais são expostos muitas vezes em forma de violência.
Em a Gênese6 Kardec nos diz: “[...] se o mal existe, tem uma causa, umas o homem pode evitar e outras independem de sua vontade[...];Porem , os mais numerosos são aqueles que o homem criou para si , por seus próprios vícios , aqueles que provem do seu orgulho, de sua cobiça, de seus excessos em todas as coisas.”7 E nos esclarece na questão 754 de “O Livro dos Espíritos”8: A crueldade não derivará da carência de senso moral? “Dize que o senso moral não está desenvolvido, mas não que está ausente; porque ele existe, em princípio, em todos os homens; é esse senso moral que os transforma mais tarde em seres bons e humanos. Ele existe no selvagem como o princípio do aroma no botão de uma flor que ainda não se abriu.” A violência esta enraizada em um processo de má educação a nível histórico, e se faz necessário que se torne viável e eficaz a Declaração de Direitos humanos, que aborda de forma sublime esse assunto: “(...) a educação contribui também para: a) criar uma cultura universal dos direitos humanos; b) exercitar o respeito, a tolerância, a promoção e a valorização das diversidades (étnico-racial, religiosa, cultural, geracional, territorial, físico-individual, de gênero, de orientação sexual, de nacionalidade, de opção política, dentre outras) e a solidariedade entre povos e nações; c) assegurar a todas as pessoas o acesso à participação efetiva em uma sociedade livre.” (PMDH, 2005, p. 25)9. Só assim nossos netos, bisnetos... Nós! No amanhã viveremos sem violência. ________________________________________ 1. Jean Jacques Rousseau (1712-1778) - filósofo, escritor, teórico político e um compositor musical autodidata. 2. ROUSSEAU, Jean Jacques. Emilio ou da Educação. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil S.A. 1992. Disponível em: http://educar.no.sapo.pt/teorias. htm Acesso em: 10/03/2014. 3. ROUSSEAU, Jean Jacques. Ensaios Pedagógicos. Bragança Paulista - SP: Editora Comenius, 2004. 4. Lev Semionovich Vygotsky (1896-1934) - professor e pesquisador russo, autor de dois livros básicos: Pensamento e Linguagem e A Formação Social da Mente se tornaram um marco nos estudos do desenvolvimento humano. 5. Ser Cognoscente, é quando se aprende na interação com o meio e com os outros construindo sua identidade para alcançar o conhecimento e a autonomia. 6. KARDEC, Allan. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo, Ed. FEB. Rio de Janeiro. 2007. 7. Allan Kardec - Livro “A Gênese” Capitulo III 8. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Introdução, Ed. FEB. Rio de Janeiro 1999 9. BRASIL. Declaração e Programa de ação da Conferencia Mundial sobre os Direitos Humanos. Viena, 1993.
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Infância material e maturidade espiritual RITA FOELKER Jundiai-SP
U
ma das decorrências da compreensão da imortalidade e das múltiplas existências do Espírito é a noção de que à idade cronológica das crianças nem sempre corresponderá o mesmo grau de desenvolvimento emocional, cognitivo e moral. Fruto de diferentes experiências pregressas e de diferentes níveis de aproveitamento das mesmas, o que se pode observar é que algumas almas reencarnadas apresentam, desde tenra idade, sinais de um inquestionável adiantamento intelectual, mostrando talento para a música ou as artes, por exemplo, enquanto outras trazem paciência, resignação e compreensão profunda de seu papel na existência e, outras ainda, dão provas de perspicácia e lucidez além do esperado, reveladas em situações e diálogos diversos. O tema foi abordado em nosso Grupo “Filosofia Espírita para Crianças” na internet esses dias, com observações muito interessantes de diversos companheiros, as estão trazendo à reflexão do leitor. Nossa primeira intenção foi indagar como é possível perceber a maturidade (ou imaturidade) espiritual de uma criança, ou como identificar a amplitude da bagagem espiritual oculta sob a frágil constituição material do organismo infantil. As várias sugestões se referiram, em última análise, às atitudes. E, realmente, as atitudes são a melhor expressão de nossa evolução espiritual, pois aquilo que
fazermos é que nos retrata moralmente e, não, o que simplesmente pensamos, por mais elevado que seja. Consideramos então, que existem atitudes que são forçadas e artificiais, enquanto outras são naturais. O risco de confusões é grande. A maturidade espiritual vem acompanhada de uma naturalidade, espontaneidade e, frequentemente, de uma leveza nas atitudes. Nada é forçado, sisudo, tenso. Cobranças e perfeccionismo dos pais, cujo desejo de ter um filho especial ou evoluído e leva a forçar certos comportamentos, nada disso se refere a progresso verdadeiro. Aqui entram dois conceitos piagetianos, que podem ser lembrados: heteronomia e autonomia. No primeiro caso, o outro define as normas de conduta. Na autonomia, cada um define suas próprias normas.
Os Espíritos mais amadurecidos são mais autônomos, e fazem o que fazem porque brota de suas almas. Já a mera "aparência de maturidade" surge diante de certas pessoas e em certas situações, mas não se sustenta o tempo todo. E, nesse caso, o educando age diferente quando longe do olhar dos que cobram ou exigem perfeição. Uma outra tentação decorrente da admiração que o desenvolvimento dessas crianças causa nos educadores é a de encará-las como “adultos miniaturizados”, o que se constitui num sério equívoco. Trata-se de uma criança da matéria que encarna um Espírito adiantado e, não, de um adulto. A maturidade espiritual é um conjunto de fatores: morais, intelectuais, emocionais, sociais, físico-energéticos, e leva em conta todo o espectro das inteligências múltiplas. Seria um estado de evolução, de certa forma, global, embora não exatamente uniforme. No entanto, às vezes, somente um desses fatores se destaca, enquanto os demais pedem orientação e aprimoramento. Por isso, sempre é necessário notar qual é o caso da criança em questão, para não mascarar suas fragilidades e tentar justificar seus comportamentos que revelam necessidade de melhoria nessa vida. Porque, caso contrário, podemos ficar tão fascinados com os talentos, que esquecemos de prestar atenção às suas fragilidades e de cumprir nosso papel de educadores. Fonte: feal.com.br/artigo
“A maturidade começa a manifestar-se quando sentimos que nossa preocupação é maior pelos demais que por nós mesmos.” Albert Einstein 12 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2014
O Centenário de Herculano Pires RAYMUNDO R. ESPELHO Campinas/SP
O
professor José Herculano Pires foi um dos maiores divulgadores do Espiritismo, em nosso país. Um fenômeno na comunicação, o jornalista e escritor, que nasceu em Avaré-SP, em 1914, abriu as portas das residências brasileiras para os temas espíritas, até então, tidos como tabu: vida após a morte, comunicação dos Espíritos, reencarnação e muitos outros. Foi, também, o responsável pela apresentação, em 1971, na extinta TV Tupi, do programa “Pinga-Fogo”, que teve a histórica participação do médium Francisco Cândido Xavier. A programação, que se estendia madrugada adentro, marcou a história da audiência televisiva e foi a mola propulsora, para o despertar de muitas pessoas para o Espiritismo. Herculano Pires, como ativo jornalista e administrador, trabalhava nessa época, e permaneceu, por mais de 40 anos, no “Diário de São Paulo”, que fazia parte do grande conglomerado Diários Associados, mantenedor da TV Tupi, TV Cultura, Diário da Tarde e outros órgãos de comunicação. No “Diário de São Paulo”, Herculano manteve coluna, onde escrevia sobre temas espíritas, despertando muito interesse dos leitores. Ao ser exibido o programa “PingaFogo”, o jornal “Correio Fraterno”, do qual participei da fundação, já estava em seu quarto ano de circulação. Aquela apresentação, na TV, despertou, também, na imprensa espírita, que contava com poucos jornais em circulação, ainda mais, interesse pela divulgação. De minha parte, passei a assistir, com maior assiduidade, a palestras, seminários; eventos diversos, e Herculano Pires, com toda sua capacidade, era a nossa referência, em São Paulo. Com cerca de oitenta livros publicados, sua profundidade filosófica e facilidade de explicar, de maneira clara, aspectos da doutrina, ajudou a formar aqueles que viriam a ser os dirigentes de muitas Casas Espíritas
Estes e outras centenas de pensamentos de Herculano Pires fazem parte do livro “O pensamento de Herculano Pires”, por nós lançado no Simpósio Herculano Pires - 100 anos, em São Paulo, no dia 20 de setembro de 2014. O evento contou com a realização de mesa redonda, coordenada pela oradora e filha do homenageado, Heloísa Pires, e com convidados, como o economista Marco Milani que abordou "Herculano Pires, o filósofo", o jornalista Wilson Garcia, que enfocou "Herculano Pires, o jornalista" e o pesquisador Paulo Henrique de Figueiredo, que trouxe importantes aspectos sobre "Herculano Pires, a coerência doutrinária". Cerca de duzentos participantes, dentre os quais representantes do movimento espírita de São Paulo, familiares e pessoas do convívio do poeta, jornalista, filósofo e escritor, prestigiaram o evento.
"Herculano sempre foi muito sensato. Não cansava de recomendar a cautela diante das novidades que surgiam em torno da doutrina." – lembra Espelho.
que estão, até hoje, cumprindo o seu papel na divulgação. Herculano, também, foi um excelente tradutor, tendo traduzindo as obras básicas da Codificação, sempre, da preferência dos companheiros que nos cercam. Deixamos registradas, para o prezado leitor deste conceituado periódico, “Tribuna Espírita” duas de suas inúmeras frases:
No encontro foi também lançado o documentário Herculano Pires: um convite para o futuro, de Edson Audi, que reúne depoimentos de estudiosos do espiritismo do Brasil e do exterior, como Nena Galves, Jussara Korngold (EUA), Júlia Nezu, Dora Incontri, Audálio Dantas, Paulo Henrique de Figueiredo, Wilson Garcia e Heloisa Pires.
“O mandamento central dos Evangelhos e, por isso mesmo, o mais complexo e o mais difícil, é o de amar ao próximo como a nós mesmos e a Deus sobre todas as coisas. Amar ao próximo não parece muito difícil; mas; amá-lo como a nós mesmos é quase uma temeridade”. (Educação para a Morte, Ed. Correio Fraterno)
“A doutrinação de Espíritos sofredores ou inferiores não é uma ilusão, mas uma realidade amplamente constatada. Perguntam algumas pessoas que poder possuímos, para doutrinar Espíritos. O poder natural que Deus concede a todos os homens que souberem cultivar a fraternidade e as boas intenções.” (O Finito e o Infinito, Ed. Correio Fraterno) setembro/outubro • Tribuna Espírita • 2014 13
III Jornada MédicoEspírita Paraibana
A
III Jornada Médico-Espírita Paraibana foi realizada, nos dias 23 e 24 de agosto pretérito, no Teatro Paulo Pontes, Espaço Cultural, em João Pessoa, com a discussão do tema central “Neurociência e Espiritualidade - Interface entre o Cérebro e as Emoções”, com diversos palestrantes de destaque, no Movimento do Espiritismo Científico brasileiro e internacional, como os doutores Carlos Roberto (PB), Francisco Cajazeiras (CE), Islan Nascimento (PB) Jorge Daher (GO), e Rossandro Klinjey (PB). Os palestrantes apresentaram as mais recentes discussões, sobre os avanços da Ciência e suas relações com os escritos espíritas, psicografados por Chico Xavier, na coleção André Luiz, na década de 40 e que, agora, estão sendo confirmados, cientificamente, além de diversos outros enfoques desse binômio Espiritualidade e Ciência. Durante a Jornada, aconteceram dois evento paralelos: o lançamento do livro “Cirurgias Espirituais, como Prática Terapêutica”, de autoria da escritora Raimunda Neves Couras, e o “IIIº EASE - Encontro Acadêmico de Saúde e Espiritualidade da Paraíba”, coordenado pelos acadêmicos Vitor Sarmento e Amanda Oliveira, onde foi discutido o pensamento, sob a visão de Kardec e André Luiz Essa programação foi idealizada/realizada, numa parceria entre a AME-Associação MédicoEspírita da Paraíba, e da AMEC-Associação Médico-Espírita de Campina Grande, sob as presidências do Dr. Islan Nascimento e 14 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2014
do Dr. Carlos Roberto, respectivamente. Tais iniciativas contaram com a exemplar organização e fundamental apoio da equipe da Federação Espírita Paraibana, em todos os setores de suas realizações. Na abertura, o Dr. Islan convidou os presentes a se associarem à AME, esclarecendo não ser necessário, para tanto, o exercício profissional na área da Saúde, mas que se tenha a vontade firme de ajudar e trabalhar, na evolução e reforma intima, de cada um, através do estudo e vivência da Doutrina Espírita.
O auditório do teatro apresentava a esperada frequência de público, para quem foram apresentados sugestivos temas, como: Neurociência; Psicobiologia; envelhecimento; espiritualidade; pensamento, integração mente e célula; ondas mentais, na saúde e na doença; dentre outros assuntos, explanados, com linguagem de fácil entendimento, sem perderem a profundidade necessária à discussão. A comunidade espírita paraibana aguarda, pressurosa, novos eventos, sob a organização da AME Paraíba.
Lições da vida DEOLINDO AMORIM Caruaru-PE
C
onta-se muita coisa a respeito de D. Pedro II, quer no domínio corrente do anedotário, quer no domínio sério da apreciação histórica. Certas passagens, que viviam de boca-em-boca, como então se dizia, devem correr, naturalmente, por conta das “conversas” que se perdem no ar, como acontece com os homens notáveis, pois não há documentação, mas, simplesmente, uma tradição oral. O que se sabe, e há provas históricas, é que ele ajudou muita gente a estudar, tirando de seus vencimentos de Chefe de Estado. Também, se sabe, pois é notório, que Pedro II tinha verdadeira paixão pelos problemas do ensino. Tão grande era seu interesse pela instrução pública e pelo desenvolvimento da educação que, às vezes, ia assistir às provas no colégio que tem o seu nome, no Rio, o venerando Colégio Pedro II, assim denominado, mais tarde, em homenagem ao último monarca brasileiro. Quando esteve na Bahia, no ano de 1859, por ocasião de uma viagem ao norte do Brasil, durante os dias em que ficou em Salvador, fez questão de visitar colégios, seminários e a Faculdade de Medicina. Queria ver, de perto, como estava o ensino, na velha Província. E, como era crítico! Anotava tudo, até mesmo o deslize de uma frase mal construída, o simples “cochilo”, na citação de uma data... Dessa viagem ficou um livro, aliás, bem volumoso, por ele próprio, escrito, sob o título: “Diário da viagem ao norte do Brasil”. (A Universidade da Bahia publicou excelente edição, em 1959, comemorativa do centenário da viagem imperial). Quando entrava, em sala de aula, preocupado em observar como os professores ensinavam, desprezava o protocolo e ficava, realmente, na condição de curioso que quer ver e anotar. E quanta opinião interessante deixou Pedro II, no livro de viagem... prestava atenção a tudo, durante as aulas, e registrava as suas impressões, no caderno, com todo o rigor. Muitos estudiosos conhecem a vida de Pedro II, pelo prisma político; outros, o conhecem, como erudito, enquanto outros, apenas, sabem que era um homem muito generoso, apesar dos altos e baixos da condição humana. Mas, nem todos sabem que Pedro II era muito crítico. Pelos contatos que teve, com professores, em Salvador, emitiu juízos muito severos, senão causticantes. A respeito de um professor de latim, por exemplo, escreveu isto: “...parece-me muito medíocre e a aula
é, inteiramente, inútil”. Visitou o Convento dos Carmelitas Descalços e acompanhou mais de uma aula, fez justiça à didática dos professores que lhe pareceram bons, mas não deixou de observar, logo adiante, sobre outro professor do seminário: “o que rege, interinamente, a cadeira de Geografia é medíocre, e os estudantes pouco sabem”. Deixou diversas anotações, sobre o que viu e ouviu, em aulas da Faculdade de Medicina. De um dos lentes (como se chamavam, antigamente), o que ensinava Botânica, o Imperador disse, textualmente, que era difuso e verboso... Esteve no Liceu Provincial e, também, tomou notas. Certo professor, apenas, lhe pareceu grande falador, ainda, que tenha talento. E, assim, por diante. Que lápis implacável!... Claro, que elogiou, algumas vezes. No dia do Te Deum, revestido de solenidade, segundo o estilo da época, ainda assim, não deixou de fazer duas observações críticas: achou que “a música foi péssima” e, com referência ao sermão de gala, chamou-o de monótono, com elogios demais (sic). Vejamos bem: um sermão que desagradou, por ser, demasiadamente, elogioso. O excesso de elogios corre o risco de cair no ridículo. Afinal, que tem tudo isso com a Doutrina Espírita? Por que tratar de assuntos desta natureza, em revista espírita? Justamente porque a Doutrina nos permite compreender a situação do homem, na Terra, em qualquer posição social. Seja, na condição de mendigo, seja, na condição de rei ou imperador, o homem é um Espírito em experiência. Por isso mesmo, e com a visão ampla da própria Doutrina Espírita, devemos ver o homem com suas limitações e suas grandezas, seu lado positivo e seu lado negativo, interagindo, sempre, no processo evolutivo. Nossa personalidade é muito complexa. Por isso mesmo, nunca se deve fazer de uma criatura humana um “modelo de virtudes”, nem, tampouco, um “poço de ruindade”. As apreciações extremadas ou muito unilaterais prejudicam o bom senso. Até mesmo, a admiração pessoal, quando realmente justificável, deve exteriorizar-se com moderação, nunca, em manifestações de endeusamento ou exaltação transbordante. É o que as lições da vida nos ensinam. Voltemos ao caso de Pedro II. Como homem público, foi, muitas vezes, combatido e teve, certamente, as suas reações contundentes. E quem, neste mundo, poderia estar isento de tais contratempos, em escala
maior ou menor? Era muito crítico, principalmente, em matéria de ensino - convém repetir - mas, logo, se identificam dois traços, muito positivos, nesse procedimento: o zelo pela instrução, que ele colocava, em pauta, como assunto fundamental ou prioritário, e a generosidade, com que distribuía auxílios, pessoalmente, para estudantes pobres. E, não estaria, aí, um sentido de missão? E não era por sentimento de caridade, que demonstrava tanto desprendimento, em benefício dos que necessitavam de instrução? Diz o "O Evangelho Segundo o Espiritismo": “...os deveres da caridade alcançam todas as posições sociais, desde o menor até o maior”. Na posição, em que esteve, durante quase meio século de reinado, nunca deixou de se interessar pelos que precisavam estudar, mas não tinham meios. É bom lembrar que a primeira mulher brasileira, que se formou em Medicina, foi ajudada, financeiramente, por donativos de Pedro II. Chamava-se Maria Augusta Generoso Estrela e, colou grau, a 29 de março de 1881. Formou-se, nos Estados Unidos, porque o ensino médico, no Brasil daquele tempo, ainda, não admitia o elemento feminino. E a Dra. Maria Augusta, ao desembarcar no Rio, com o seu diploma, levada pelo nobre sentimento de gratidão, procurou, logo, o imperador, para agradecer o grande benefício, como registra Alberto Silva, em “Arquivos” II do Instituto Baiano de História da Medicina. Seis anos depois, tivemos a primeira médica, formada no Brasil, Dra. Rita Lobato, natural do Rio Grande do Sul, diplomada pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 1887. Finalmente, o aspecto caritativo da ação de Pedro II se reflete, naturalmente, no plano espiritual. O mesmo Pedro que, muitas e muitas vezes, se guiava, mais, pelo coração, como homem e como Chefe de Estado, sejam quais forem os momentos de contradição humana, recebeu uma comissão de espíritas, na última década de seu reinado. Lá, estiveram três espíritas da Corte: Pinheiro Guedes, Ângelo Torteroli e Siqueira Dias. Embora não tivesse demonstrado interesse pela Doutrina, segundo o relato da entrevista, no órgão da “Sociedade Acadêmica Deus Cristo e Caridade”, pois nada conhecia do assunto, o certo é que aceitou um diálogo, no Paço Imperial. A Comissão ofereceu-lhe, contudo, alguns números da Revista da Sociedade Acadêmica. Não foi uma visita de cortesia, mas uma reclamação, ainda que, em termos delicados, pois os espíritas queriam as garantias da lei, para se reunirem e propagarem a Doutrina. Pedro II era um homem liberal e, por isso, aceitou a exposição dos espíritas. Lia muito, tinha curiosidade intelectual a respeito de quase tudo; porém, ainda, não tinha leitura espírita. Hoje, afinal, no outro plano da vida, através de comunicações repassadas de brandura, está vendo a realidade, por outro prisma. (“Desobsessão” - Porto Alegre/RS – março de 1983)
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União homoafetiva e a lei natural de justiça GUSTAVO MACHADO Recife-PE
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o mês de maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal, nos autos da Ação Direta de Inconstitucionalidade n.º 4277 e da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 132, por julgamento unânime, reconheceu a constitucionalidade da união estável homoafetiva. Vale dizer, em apertada síntese, a referida decisão, a qual tem efeitos vinculantes e eficácia contra todos, reconheceu a união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar. Respeitando os entendimentos em contrário, manifestamos a nossa integral concordância com a decisão do STF. Com efeito, os princípios da cidadania e da dignidade da pessoa humana (art. 1º, II e III, CF), o princípio republicano da igualdade (art. 5º, CF), bem assim a previsão no artigo 3º, inciso IV, da Carta Magna, como objetivo fundamental a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, seco, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, fundamentam e reforçam, com toda a pujança, a referida decisão. Ora, em um Estado Democrático de Direito, como é o Brasil, não basta assegurar a igualdade meramente formal dos indivíduos (Estado de Direito), mas, sobretudo, a igualdade substancial, de modo a concretizar, no mundo dos fatos, finalidades no sentido de uma sociedade livre, justa e solidária, bem assim da promoção do bem de todos, sem qualquer exclusão. Daí porque, o professor Gustavo Ferreira Santos leciona que “Apesar do papel que desempenha o 16 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2014
princípio da maioria em um Estado Democrático, uma comunidade política na qual as decisões são em quaisquer situações consideradas válidas, é possível que se apresente como um Estado não democrático. Para o constitucionalismo atual, mais do que um critério formal, que absolutiza a decisão da maioria, a democracia revela uma feição material, garantidora, dentre outras coisas, de um espaço protegido à atuação da minoria”1. Nesse diapasão, a decisão do STF sob comentário vem, pois, reforçar este Estado Democrático. Em nosso sentir, esse julgado reflete à luz da Doutrina Espírita a realização de Justiça. Em livro dos Espíritos, questão 875, tem-se a seguinte pergunta: “Como se pode definir a justiça? A justiça consiste em cada um respeitar os direitos dos demais"2. Já na questão 876, tem-se a seguinte indagação: “Posto de parte o direito que a lei humana consagra, qual a base da justiça, segundo a lei natural? Disse Cristo: Queira cada uma para os outros o que quereria para si mesmo. No coração do homem imprimiu Deus a regra da verdadeira justiça, fazendo que cada um deseje ver respeitados os seus direitos. Na incerteza de como deva proceder com o seu semelhante, em dada circunstância, trate o homem de saber como quereria que com ele procedessem, em circunstância idêntica. Guia mais seguro do que a própria consciência não lhe podia Deus haver dado”3. Nessa toada, e considerando, ainda, que todos nós somos, em essência espiri-
tual, iguais (questões 115 e 803 de O Livro dos Espíritos), entendemos que não deve importar ao Estado Brasileiro que este ou aquele concorde com a orientação e/ou identidade sexual de tal ou qual pessoa. Pensamos que não se deve buscar explicação/justificação da união homoafetiva para fins de seu reconhecimento como entidade familiar, tanto quanto não se deve em relação à união entre pessoas de sexos diferentes. Deve-se, sim, respeitar e assegurar direitos iguais para todo ser humano, promovendo-se, pois, o bem de todos, sem qualquer caráter excludente. Logo, a República Brasileira ao reconhecer a união homoafetiva como entidade familiar, ao revés do que afirmam alguns no sentido de que se está violando à família, está-se, em verdade, realizando justiça, tal qual a definição expressa nas aludidas questões de O Livro dos Espíritos, reforçando o conceito e o sentido valorativo da família, já que legitimando e validando, pela perspectiva constitucional, inúmeros lares que são constituídos por casais do mesmo sexo, assegurando-lhes diversos direitos decorrentes dessa relação. ___________________________________________ 1 SANTOS, Gustavo Ferreira. Neoconstitucionalis-mo, poder judiciário e direitos fundamentais. Curitiba: Juruá, 2011, p. 44/45. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 86 ed. Questão 780. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2005, p. 453. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 86 ed. Questão 780. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2005, p. 453.
De Irmão para Irmão HÉLIO NÓBREGA ZENAIDE João Pessoa-PB
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omos todos irmãos... E somos muitos, pelo Caminho. Cada qual, com a sua vida, num roteiro comum e destino certo. Pelo percurso, os encontros acontecem... O próximo, mais próximo de nós, pode ser um conhecido ou um desconhecido. Pode estar muito próximo e, ao mesmo tempo, a uma distância significativa da nossa pessoa. E, há encontros que nos surpreendem... Não sabemos, ao certo, o que tem este ou aquele irmão, por quem nos sentimos atraídos ou a quem rejeitamos, sem maiores explicações. De uma forma ou de outra, a atração e a rejeição fazem parte das nossas relações. Compartilhamos e experimentamos essas forças que têm origem em nós mesmos e, ainda, nos surpreendemos
pelo bem ou mal estar que nos causam. Quando um irmão do Caminho nos atrai, prende a nossa atenção. Admiramos os gestos e palavras. Na comunicação, afabilidade e doçura. Habilidade, no trato, e energia salutar. Numa atração mútua, a reciprocidade, em manifestações dessa natureza, surte seus efeitos benéficos para ambos. Agora, quando a reação é de rejeição, mesmo que numa manifestação silenciosa, alcançamos o outro de alguma forma. Na rejeição, emitimos uma energia diferenciada. O pior é que se evita o outro, como se, assim, fosse possível evitar esse mal-estar. Piora, se as circunstâncias obrigam a uma convivência. É, quando se recorre à indiferença e a ela se somam outras atitudes, desde que a distância seja mantida.
Quando o alvo somos nós, dá para perceber que essa energia diferenciada nos alcança. Numa rejeição mútua, nos recusamos um ao outro. Um ignora a existência do outro. Aparentemente, fica por isso mesmo, mas não é assim. Isso, porque, nós infringimos a Lei Maior. Falta amor, para superar as nossas diferenças. Partindo dos nossos sentimentos, para situações reais ou possíveis de acontecer, temos como nos situar, perante a Lei Maior. Se nos descobrimos fora da Lei Maior, temos como nos ajustar. O amor a Deus, sobre todas as coisas, e ao próximo, como a nós mesmos, nos redime de muitas faltas. O amor cristão deve ser a manifestação natural de irmão para irmão, a Caminho com Jesus. Deus, nosso Pai, nos abençoe.
Ao conviver com pessoas difíceis: ALESSANDRO VIANA Itapetininga/SP
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iz o Espírito Camilo, no capítulo denominado “Sofrimento e Cristalização” na obra “Educação e Vivências”, psicografada por Raul Teixeira, que não é fácil a tarefa de transformar o psiquismo de alguém, porque, muitas vezes, estaremos diante de Espíritos que há vários séculos estão mantendo uma conduta irregular, divorciadas do bem e da verdade, de forma que nem o sofrimento será capaz de romper imediatamente essa cristalização no erro. Assim sendo, teremos que exercitar a compaixão ao nos depararmos com pessoas difíceis, agressivas, maldosas, levianas, libidinosas, materialistas, porque compreendemos que elas estão num patamar evoluti-
vo inferior, e, por isso, deveremos ofertar a elas o melhor de nós para ajudá-las, sem de modo nenhum perdermos o equilíbrio emocional. Essas pessoas poderão estar em nossa família, nos ambientes de trabalho e nos relacionamentos sociais, portanto, nossa tarefa será de semeadura, cientes de que a terapia do tempo, através da reencarnação, produzirá seus efeitos benéficos e progressivos. Não deveremos violentar a liberdade
de consciência de outrem, de tal sorte que os nossos exemplos e as orientações verbais serão apenas propostas, pois não impõem a transformação moral, tratando-se antes de um convite para que a pessoa reflita e, por livre e espontânea vontade, opte por se mudar para o bem. Frise-se que os gestos de afeto são de suma importância para o acolhimento desses indivíduos, haja vista que o Espírito Joanna de Ângelis nos ensina que “nenhum investimento de amor é perdido” por marcar profundamente o Espírito ainda rebelde que, mais cedo ou mais tarde, acabará por render-se ao amor que nos plenifica e nos traz sentido existencial. Cuidado para que não sejamos nós as pessoas difíceis, de caráter instável e intransigente, a tumultuar os relacionamentos à nossa volta.
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Deixai Vir a Mim as Criancinhas IGOR MATEUS Natal-RN
“(...) Deixai que venham a mim as criancinhas e não as impeçais, porquanto o reino dos céus é para os que se lhes assemelham.” (Marcos, 10:14)
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inda, estamos distantes de compreender toda a grandeza da mensagem do Cristo, nem, tampouco, podemos nos afirmar capazes de sondar a profundidade de seu pensamento. Cada vez que nos propomos a refletir sobre suas palavras, descobrimos tesouros escondidos de compreensão e entendimento. Podemos, por exemplo, buscar o enfoque da Evangelização Infanto-Juvenil, vendo, no convite do Cristo, uma solicitação para que as crianças possam ser encaminhadas, pelos pais ou responsáveis, ao estudo do Evangelho, desde cedo. Nesse sentido, relembremos a orientação do Espírito André Luiz, na sua obra, “Conduta Espírita”: “Os pais espíritas podem e devem matricular os filhos nas escolas de moral espírita cristã, para que os companheiros recém-desencarnados possam iniciar com segurança a nova experiência terrena. Os pais respondem, espiritualmente, como cicerones dos que ressurgem no educandário da carne.” Isso, para introduzir o tema e lembrar que, conforme nos orienta a Doutrina Espírita, nossos filhos são Espíritos jovens, se observarmos sob a ótica limitada da vida presente; mas, tão ou mais antigos do que nós, ao ter como referência mais abrangente a eternidade. Filhos esses que a Misericórdia Divina coloca sob a nossa tutela, cobrando-nos o dever de encaminharmos esses seres 18 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2014
de volta ao aconchego do Pai Maior. Há, inclusive, quem afirme, desavisadamente, que a mensagem do Cristo perde, em beleza, quando se considera a reencarnação, exatamente porque o Espírito que anima o corpo de uma criança pode ser mais antigo! É um erro e, aliás, esse é um dos pontos que o Evangelho aborda: “A partir do nascimento, suas ideias tomam gradualmente impulso, à medida que os órgãos se desenvolvem, pelo que se pode dizer que, no curso dos primeiros anos, o Espírito é verdadeiramente criança, por se acharem ainda adormecidas as ideias que lhe formam o fundo do caráter. Durante o tempo em que seus instintos se conservam amodorrados, ele é mais maleável e, por isso mesmo, mais acessível às impressões capazes de lhe modificarem a natureza e de fazê-lo progredir, o que torna mais fácil a tarefa que incumbe aos pais.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VIII, item 4) Dessa leitura, depreendemos que, ao reencarnar, podemos dizer que o Espírito se torna criança, uma vez que, somente aos poucos, vai se desenvolven-
do física e espiritualmente. Não deixa, por ser Espírito reencarnado, de, nessa fase, envergar a túnica da inocência, da candura, da doçura... “O Espírito reveste, pois, por algum tempo, a roupagem da inocência. E Jesus está com a verdade, quando, apesar da anterioridade da alma, toma a criança como símbolo da pureza e da simplicidade.” (Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VIII, item 4) Procurando, no entanto, aprofundar a nossa análise, vemos, nas palavras do Mestre, um grande convite, e interpretamos a sua mensagem, como um chamamento para que resgatemos dentro de nós esse lado infantil, com tudo o que ele simboliza de bom: a pureza e a simplicidade da qual as crianças são o símbolo, conforme a mensagem do Evangelho retrata. Resgatar sentimentos como a alegria genuína, o sorriso franco, de graça e sem motivo, a capacidade de perdoar, porque a criança não costuma guardar mágoas! Fica de mal, mas, logo em seguida, faz as pazes! Então, se é verdade que nós, adultos, somos (e devemos, realmente, ser)
exemplo para as crianças, é verdade, também, que elas são exemplo para nós! Principalmente, nos dias de hoje, já que, com a evolução do planeta Terra, estão vindo mais preparadas. Inundam as redes sociais; recentemente, inúmeros casos de crianças, dando verdadeiras lições de moral em seus pais. Com elas, então, temos muito a ensinar e muito a aprender. E o interessante é observar que, quando somos crianças, nos apressamos em crescer, tornarmo-nos adultos, logo, em sermos independentes, donos do mundo. É tão comum ver as crianças dizendo: - Quando eu crescer... E, aí, ocorre que, quando crescemos, e somos absorvidos pelas atividades e preocupações do cotidiano, muitas vezes, desejamos voltar a ser criança! Mais interessante ainda, é saber, através do Espiritismo que, ao reencarnarmos, voltaremos a ser. E, é assim que, na ótica da reencarnação, todos nos igualamos, ainda, como crianças, não do ponto de vista físico, porém, do ponto de vista espiritual! Todos estamos, ainda, na infância, nesse processo evolutivo a que, indistintamente, estamos submetidos, do átomo ao arcanjo... Quanto, ainda, temos que percorrer nessa senda evolutiva, desde a simplicidade e a ignorância até a Perfeição! SOMOS TODOS AINDA CRIANÇAS, mas, a exemplo dos pequeninos, desejosos de crescer, progredir, evoluir, conhecer, aprender, sempre e cada vez mais. E, como crianças, o convite de Jesus torna-se, então, muito mais abrangente: O “Deixai vir a mim as criancinhas” passar a valer, para cada um de nós, para você, querido leitor, e também para mim que, humildemente, escrevo estas despretensiosas linhas. O Mestre de Nazaré permanece, com os braços estendidos em nossa direção, aguardando-nos a todos, crianças espirituais que, ainda, somos. Ah, Senhor! Ao escutar o inesquecível chamado que ecoa em nossos corações, há mais de 2000 anos, corremos como crianças que, ainda, somos, na direção dos teus braços de Irmão Maior! Acolhe-nos em teu colo, Mestre querido de nossas almas. Ainda, nos sentimos tão pequenos e frágeis, mas contigo, brilha em nós a esperança de um dia alcançarmos a maturidade espiritual. Compreende as nossas fragilidades, as nossas limitações, os tropeços que, ainda, damos em nossa caminhada. Somos seres, ainda, tão inseguros que tropeçamos e caímos na senda que a ti conduz. Socorre-nos, Divino Amigo. Com o teu amparo, aprenderemos; a cada dia, desenvolveremos aptidões e qualidades, e cresceremos mais seguros, para, sempre, buscar-te, amar-te e servir-te, por toda a eternidade. Que assim seja!
As curas de Jesus continuam MAURO LUIZ ALDRIGUE João Pessoa-PB
"(...).e, logo Jesus, conhecendo que a virtude de si mesmo saíra, voltou-se para a multidão e disse: Quem tocou nas minhas vestes? E disseram-lhe os seus discípulos: Vês que a multidão te aperta, e dizes: Quem me tocou? E Ele olhava em redor, para ver a que isso fizera. Então, a mulher, que sabia o que lhe tinha acontecido, temendo e tremendo, aproximou-se, e prostrou-se diante dele e disse-lhe toda a verdade. E Ele lhe disse: Filha, a tua fé te salvou; vai e sê curada deste teu mal" (Marcos, 5:30 a 34).
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ste ensinamento de Jesus, conhecido como a cura da mulher hemorroíssa, nos convida a uma reflexão mais aprofundada dos ensinamentos do Mestre. A cura, em si, demonstra o poder inerente à evolução espiritual de Jesus que, mesmo sem sua atenção direta e sua vontade objetiva, atende a demanda da mulher que lhe procura. Assim, mostra-nos, de uma maneira muito concreta, de que ele não precisa estar presente para proporcionar a cura de nossos males. Os seus exemplos e seus ensinamentos são, por si sós, os mecanismos que podemos atingir para tornarmos sadios, bastando estar na condição de merecedores desse objetivo. A compreensão da condição que ele exemplifica com a expressão a tua fé te salvou; vai e sê curada deste mal, apresenta-se, como devemos estar ou alcançar para receber dele a sua virtude. Para tocá-lo, para ter a fé de cura é necessária, não, a crença em Jesus, mas a fidelidade em seus ensinamentos. Ter fé, e fé racional, é se conduzir na vida como um discípulo que cumpre com os preceitos do Mestre. Na forma resumida de sua filosofia, amar a Deus e ao próximo, como a si mesmo, dando-nos o exemplo de nos amarmos como eu vou amei (ou amo). A mulher experimentou aquilo que, hoje, podemos, também, receber
de Jesus, que é o seu movimento fluídico, sua energia viva, sua irradiação de amor, para realizar o alcance de cura. Quando os Espíritos afirmam que basta a aproximação de uma entidade elevada, para tocar uma multidão de aflitos, Jesus nos deixa esta compreensão, com o ensinamento da cura desta mulher, testemunhada pelo seu relato de anos de sofrimento. Como cada um de nós tem que vencer os anos que, ainda, nos mantém na ignorância das leis divinas, este caminho que Jesus nos deixou é o porto seguro, para a nossa verdadeira saúde e para vencermos a nossa ignorância. Destaca-se, também, que nos alcança, não somente naqueles sofrimentos visíveis, como os dos cegos, paralíticos, obsedados que curou, mas também, naquilo que, somente no indivíduo, é conhecido e que lhe causa dificuldades de equilíbrio, de paz e de felicidade. Jesus queria provar que o verdadeiro poder é o daquele que faz o bem, com o objetivo de ser útil. Aliviando os sofrimentos de muitos, buscava as criaturas, pelo coração, para alcançar a razão, no decorrer dos tempos. Por isso que, compreendendo, cada vez mais, os ensinamentos de Jesus, temos a certeza de que ele continua a nos oferecer a verdadeira cura de nossos males, que é o da nossa ignorância, do nosso egoísmo e do nosso orgulho.
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Flexibilidade Mental LEONARDO MACHADO Recife-PE
“Aprendamos a repreender com doçura e, quando for necessário, aprendamos a discutir sem excitação, a julgar todas as coisas, com benevolência e moderação”. Léon Denis 1 Duas amigas conversavam. – Eu não consigo aceitar! – reclamava Maria. – Mas, você precisa perceber que ela pode ter tido os motivos dela. Vocês eram tão amigas. Não vale a pena acabar longos anos de afeto, desta forma, somente porque ela escorregou. É verdade que o que ela propôs não foi correto. Colocaria você e a sua profissão em uma situação difícil. – ponderava Joana. – Mas, ela sabe que eu não posso dar atestado médico para a neta dela, somente, porque a menina brincou a noite toda, não estudou e, daí, ficou com medo de fazer a prova. Fazendo isto, ela, que é avó, está ensinando a neta a mentir. Além do mais, sendo minha amiga, ela sabia que atestado médico é para casos de doença e não pode ser dado, retroativamente. – Tudo o que você fala é verdade. É, por questões aparentemente pequenas como esta, que o Brasil não vai para frente. E, também, é verdade que precisaríamos de mais pessoas corretas como você. Mas, o que eu estou querendo dizer é que você deve passar por cima disto, considerando os longos anos de amizade que vocês nutrem. Penso que, da mesma forma que, nos tribunais divino e humano existem os atenuantes e os agravantes, você deve... – Agravar a falta dela, em me propor isto! Afinal, ela é minha amiga e me conhece! Sabe do meu jeito! Feriu a mi-
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nha honra! – precipitada, não deixou Maria que Joana terminasse. – Compreendo. Por outro lado, você pode usar estes longos anos de afeto entre vocês, como atenuante da pena. Ou seja, a sentença está dada: Ela está errada. Mas, a pena pode ser em liberdade; isto é, continuar a amizade com você! – arrematou a amiga. Contrafeita, porém convencida com o argumento de Joana, Maria, neste caminho, trilhou os passos da decisão. ******* A honestidade é um ingrediente necessário, para o bem-estar mental. É, na realidade, “a essência do homem moral” (Denis, 1908, p.256) 2. Com ela, mais facilmente, se produz uma consciência tranquila. Precisamos utilizá-la conosco, com o próximo e com a Sociedade. Sem isto, certamente, criaremos consequências nefastas, mais cedo ou mais tarde, para nós ou para o mundo. Não foi à toa que Jesus propôs que o nosso falar e a nossa postura deveriam ser claras. Um sim deveria ser um sim. Um não deveria ser um não. Verdadei-
ramente. Sem dubiedades. Sem meiostermos, porque o que passasse disto viria, sem clareza, porque, contaminado pela malignidade da mentira 3. Nos tempos atuais de tanta corrupção, necessitamos, urgentemente, deste ensinamento. Contudo, temos encontrado muitas pessoas que, por trás disto, escondem a própria rigidez mental. Mas, como explica Pascal, a rigidez mata os bons sentimentos: “Se os homens se amassem com mútuo amor, mais bem praticada seria a caridade; mas, para isso, mister fora vos esforçásseis por largar essa couraça que vos cobre os corações, a fim de se tornarem eles mais sensíveis aos sofrimentos alheios. A rigidez mata os bons sentimentos; o Cristo, jamais, se escusava; não repelia aquele que o buscava, fosse quem fosse: socorria, assim, a mulher adúltera, como o criminoso; nunca temeu que a sua reputação sofresse por isso.” (Kardec, 1864, p.211) 4 Desta maneira, precisamos de honestidade e clareza; mas, também, necessitamos de flexibilidade mental para lidar com as situações, sobretudo, nos rela-
cionamentos interpessoais e com nós mesmos. Do contrário, seremos muito severos uns com os outros. Por isto, escreveu José: “A indulgência jamais se ocupa com os maus atos de outrem, a menos que seja para prestar um serviço; mas, mesmo neste caso, tem o cuidado de os atenuar tanto quanto possível. Não faz observações chocantes, não tem nos lábios censuras; apenas conselhos e, as mais das vezes, velados.” (Kardec, 1864, p.195).5 Por exemplo, no caso em questão, a médica, realmente, deveria ter feito o que ela fez − ou seja, não dar o atestado. Entretanto, por causa disto, ela não precisaria cortar a amizade, esquecendo toda uma convivência anterior. Isto, porque precisamos ter flexibilidade mental e não flexibilidade moral. É, nesta perspectiva, que Humberto de Campos, escrevendo bela página sobre Jesus, anotou que Tiago e João estavam espantados como o Cristo conseguia, “como ninguém, advogar a causa dos infelizes e identificar atenuantes para as faltas alheias, guardando o respeito que sempre consagrou à ordem”. Desta forma, desejando saber a opinião do Mestre sobre um ladrão ardiloso e confesso, levaram até ele a questão, obtendo o seguinte ensinamento: “se a prática do mal exige tanta inteligência e serviço de um homem, calculemos a nossa necessidade de compreensão, devotamento e perseverança no sacrifício que nos reclama a execução do verdadeiro bem” (Irmão X/Chico Xavier, 2013, p. 149-151). 6 Desta maneira, embora difícil, vale a pena refletires nisto: – Como poderei encontrar a equação que me torne flexível, psiquicamente, sem me deixar ser escorregadio moralmente? “O verdadeiro homem de bem (...) é indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que também necessita de indulgência e tem presente esta sentença do Cristo: ‘Atire a primeira pedra aquele que se achar sem pecado’. Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheios, nem, ainda, em evidenciá-los. Se a isso se vê obrigado, procura sempre o bem que possa atenuar o mal.” Allan Kardec 7
_______________________________ 1 Em Depois da morte, parte quinta, capítulo XLVIII. 2 Em O problem do ser, do destino e da dor, parte quinta, capítulo XLIII. 3 Mateus 5:37. 4 Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XI, ponto 12. 5 Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo X, ponto 16. 6 Em Luz acima, capítulo 35 “Inesperada observação”. 7 Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVII, ponto 3.
Rir é um Santo Remédio! MARCUS SODRÉ João Pessoa-PB
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s pessoas que gostam de sorrir e praticam este hábito, no dia a dia, sempre estão a estimular positivamente o seu sistema imunológico, porque desencadeiam reações orgânico-endocrínicas responsáveis pela liberação de endorfinas, causando uma sensação de bem-estar ao organismo. Nosso sistema imunológico apresenta um complexo de reações e atividades e estamos descobrindo, aos poucos, os seus segredos, como se trilhássemos um labirinto cheio de surpresas, desafios e descobertas, que reage a diversos estímulos, tanto positivamente bem, como negativamente, e, a cada passo, aprendemos como melhorar a nossa qualidade de vida, tornando-a mais aprazível e produtiva. Embora não seja fácil encarar a definição de doença, o sistema bio-psico-social se apresenta como uma boa opção, ou seja, uma doença deve ser vista sob diferentes pontos de vista, de acordo com os diferentes fatores que a influenciam (Myers, 2008), pois o conceito de doença é complexo e multifacetado (Perrez & Baumann, 2005), por onde devemos procurar identificar os processos, para evitar ou retardar nossos adoecimentos. As doenças têm causas múltiplas e nós temos participação ativa, em sua grande maioria! O surgimento de uma doença não é
algo que cai do céu sobre nossas cabeças e, sim, existe uma história da qual fazemos parte, diretamente! Vários estudos, em universidades e centros de pesquisa de renome, demonstram que, neste mundo difícil, no qual estamos inseridos, um dos grandes parceiros na reativação ou recuperação de nossa saúde é aquele apelo ao otimismo, à serenidade no enfrentamento dos obstáculos que todos encontramos, mais cedo ou tarde, em nossa caminhada planetária e à humildade de reconhecer precisarmos aprender muito, tanto individualmente, como coletivamente. Quando sorrimos, nossa mente e cérebro enviam estímulos eletroquímicos que aceleram a circulação sanguínea, aumentando o pulso e a oxigenação celular, desencadeando uma onda de equilíbrio, liberação endorfinas, prazer e relaxamento, que contribui para a reorganização das defesas do sistema imunológico. “Minha ignorância, meus apegos, meu desejo, meus ódios! Eis, aí, na verdade, meus inimigos!”(14º Dalai Lama) Pratique essa atividade de sorrir para a vida, que a vida irá sorrir para nós! Nota da Redação: O autor é Médico Otorrinolaringologista, articulista espírita e Diretor da AME-PB.
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O Dirigente Espírita OCTÁVIO CAÚMO SERRANO João Pessoa/PB
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olheando nossos preciosos guardados, alusivos à Doutrina Espírita e ao Evangelho de Jesus, encontramos um artigo do confrade Geraldo José de Souza, escrito em “O Reformador” de novembro de 1996, página 343, a quem pedimos licença para reproduzir tópicos. Os alertas oferecidos pelo articulista àquela época valem perfeitamente para os nossos dias. Diz ele que “os responsáveis pelas instituições espíritas devem vigiar para que comemorações por datas especiais, ou qualquer outra, não descambem para as festas mundanas.” Diz que “a Casa Espírita é recinto sagrado onde os mentores amigos dedicam tempo e recurso para mantê-la em condições de aliviar dores, consolar e socorrer aflitos dos dois planos da vida. Atitudes levianas podem destruir ou prejudicar aquilo que é esforço de muitos e obra de gerações.” É natural, diz ele, “que um ou outro confrade ainda não amadurecido na Doutrina, faça propostas de promover danças com músicas profanas, uso de bebidas, de rifas, jogos e bingos; mas que os responsáveis aprovem é inconcebível.” E ele complementa, enfaticamente: “pouco importa que as promoções objetivem angariar fundos destinados a ações beneficentes que se realizam na Casa Espírita ou em qualquer local em nome da instituição; sempre preferível realizar menos com fidelidade ao Evangelho.” Em nossos livros “Pontos de Vista” e “Modo de Ver”, da “Casa Editora O Clarim”, temos matérias nesse sentido, resultantes de observação durante certos eventos realizados nos Centros. No primeiro, o capítulo 16 com o título “Chás, Shows, Bazares e Bingos”; no “Modo de Ver”, “Perigos que rondam os Centros”. Em janeiro de 1992, na mesma revista da FEB, “O Re-
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formador”, há mensagem de Bezerra de Menezes, nestes termos: “Para o Centro Espírita, se deslocam Espíritos com acentuado desequilíbrio e outros com o propósito de aprender; outros são levados pelos protetores desencarnados para ser doutrinados e aí eles permanecem para prosseguir no tratamento de reequilíbrio espiritual ou no aprendizado. Detendo-se aí, observam-nos o procedimento, a conversação e os pensamentos.” O Centro assemelha-se a um SPA espiritual, onde os Espíritos necessitados ficam internados. Num segundo artigo da mesma revista, o Espírito Ignácio Bittencourt dita à médium Yvonne do Amaral Pereira orientações à mocidade espírita, publicado em agosto e outubro de 1959. “Não creio seja lícito consentires que alguém leve para o Centro que diriges a profanação das festas mundanas, dele fazendo, não mais um receptáculo de inspirações divinas, como devem ser os Centros Espíritas bem orientados, mas uma plateia heterogênea onde a mediocridade da arte apresentada fará atrair os pândegos e paspalhos do Invisível, em vez dos abnegados obreiros de Jesus.” Sob o tema “A Educação Espírita e a Visão Integral do Homem”, José Raul Teixeira, em 3 de outubro de 1995, em Brasília, durante o Primeiro Congresso Espírita Mundial, disse, referindo-se ao modismo humano de copiar o que fazem os ídolos, sem pensar nas consequências: “Por que é que nós temos de trazer o mundo social para dentro do Centro Espírita, em vez de levar os ensinamentos do Centro Espírita para o mundo lá fora? Quem está na direção, por favor, assuma que está na direção; não queira agradar todo mundo, não queira fazer gentileza com chapéu alheio. A Doutrina não nos pertence. A Doutrina é dos Espíritos. Nós vamos dar conta disso.”
Para dar maior ênfase às suas orientações, continua o confrade Raul: “o administrador terá de dar conta da sua administração; pensemos nisso; e, se não suportamos o ter que dizer sim e o ter que dizer não, na hora certa, não assumamos direção alguma por vaidade pessoal; é importantíssimo que, quem tome conta, aprenda a dar conta. Como cristão verdadeiro, o espírita deveria cumprir o que propôs Jesus; transformar-se no sal da Terra; e o sal, onde quer que esteja, destaca o sabor da vida, o sabor das coisas; ele preserva as coisas da putrefação. É este que seria o nosso trabalho, enquanto educandos integrais, nesta vida em que nos achamos.” O que observamos no Movimento Espírita é muita indisciplina. As reuniões não têm hora para começar nem terminar; pessoas entram no decorrer dos trabalhos, beijam-se, abraçam-se, sem respeitar sequer o palestrante; levantam, saem do salão, vão beber água, ao banheiro, brincam com crianças que estão ali, indevida e desnecessariamente, e ficam num insistente corre-corre pelo auditório. Muitos ali estão apenas para receber um passe e, se lhes perguntar sobre o tema do dia, não saberão responder. Tudo isso sob o olhar complacente do dirigente do Centro que não impõe as menores regras de conduta que caracterizam um verda-
deiro cristão ou até mesmo uma pessoa educada. Decotes que chegam quase à cintura, costas de fora, shorts exagerados, trajes próprios de piquenique ou jogo de futebol, mas inadequados para o que se recomenda no Centro Espírita ou qualquer templo religioso. Mas o dirigente não chama à atenção, porque lhe soa como falta de caridade e, também, porque fica feliz com a casa cheia, mesmo que cheia de problemas, cheia de pessoas sem o menor respeito pelo ambiente solene que caracteriza o local. Com o tempo, a cobertura espiritual desaparece e o Centro somente funciona na terra; a matriz do plano divino já está de portas fechadas! A Casa que deveria servir ao Evangelho, passa a ser um grupo a serviço da obsessão. O dirigente espírita é o zelador da doutrina no Centro. Dirigir, chefiar, é uma tarefa árdua e destinada aos competentes e corajosos. Quem não reunir tais qualidades, passe o bastão para outro e fará menos estragos do que continuando um trabalho para o qual não tem preparo. Vença a própria vaidade. Isto é também um gesto de coragem! “Conhece-te a ti mesmo, já dizia um sábio da antiguidade”, orienta-nos a questão 919 de “O Livro dos Espíritos”. Boa sorte, senhores presidentes de instituições espíritas!
A tentação como teste CARLOS ROMERO João Pessoa-PB
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im, tentação é teste. Como se livrar dela? E o quem vem a ser a tentação? Que tal esta definição: “arrastamento irresistível à prática de um ato”? Quem não foi tentado, neste mundo? Até Jesus, segundo informa o Evangelho, foi tentado pelo Demônio, em pleno deserto. Não sabemos se tal fato foi verídico ou, se tudo não passou de uma parábola. Mas, segundo a Bíblia, cuja exegese não deve ser ao pé da letra, Eva, a mulher de Adão, foi tentada, pela serpente, a comer o fruto proibido, simbolizado numa maçã. Uma maçã que se transformou num “abacaxi”. Deixemos a linguagem simbólica da Bíblia e vamos a outras tentações. Para começar, vejamos estas: o dinheiro, o poder e o sexo – três poderosas forças que movem a Humanidade. O dinheiro é como água salgada. Quanto mais você bebe, mais sede tem. Um milionário, quase nunca, dirá: “Tenho dinheiro bastante; agora, vou ajudar os outros com minha fortuna”. Difícil encontrar um rico, assim. Continuemos. Existe, também, a tentação da comida, da vaidade, do
orgulho, do álcool e do fumo. Mas, só existe tentação, se dentro de nós houver o que o apóstolo Tiago chamou de concupiscência. Não havendo concupiscência, não haverá tentação. E o que é concupiscência? Ora, concupiscência é a sede, é a fome, é o desejo, é a falta. Para quem está saciado, a comida não é mais uma tentação... Portanto, repitamos: só há tentação, quando há concupiscência, quando há atração. Aqui no jardim, por exemplo, vejo as borboletas sendo atraídas pelas flores; a lagartixa, buscando o sol. E qual o remédio para evitarmos a tentação? Houve um médico que deu uma receita maravilhosa. Um médico sem diploma, mas que fez muitas curas. E, decerto, você já adivinhou: Jesus! A receita não fala em medicamento. A receita é muito simples, e não tem efeitos colaterais: “Orai e vigiai para não entrardes em tentação”. Estejamos, portanto, atentos sobre nós mesmos. Muito cuidado, com a tentação da maledicência; isto é, viver falando mal dos outros. Saibamos usar e não abusar das coisas. O
abuso da saúde é a doença, o abuso do necessário é o supérfluo, o abuso do direito é o egoísmo. Assim, ensinou Emmanuel, o iluminado guia de Chico Xavier. E, na oração ensinada por Jesus, o “Pai Nosso”, está este pedido a Deus: “Não nos deixeis cair em tentação”. Não há coisa melhor do que vencer uma tentação. A tentação é excelente teste. Forte é quem a vence. Há muitas outras tentações, desde a ociosidade ao excesso de trabalho, aqueles que fazem do trabalho uma droga, uma maneira de esquecer os problemas, de esquecer a si mesmo, os chamados “workaholics”. Concluindo, diríamos, que o maior abuso é o desperdício do tempo. Esse tempo que não se vê; esse tempo que não espera, esse tempo que não volta. Um grande pensador disse que o tempo é como o solo; isto é, a terra. Se você nada planta, nela, nada nasce... E o pior é o remorso que, um dia, virá. O remorso do tempo perdido...
setembro/outubro • Tribuna Espírita • 2014 23
“O Pecado contra o Espírito Santo”: o que significa? SEVERINO CELESTINO DA SILVA João Pessoa-PB
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xiste uma preocupação constante, em minhas pesquisas, com relação aos Evangelhos. Isto se prende ao fato de que, sempre, encontrei conceitos e informações diferentes e divergentes acerca dos ensinamentos de Jesus. Sempre, me vêm à mente, quando estou diante de um texto dos Evangelhos, as seguintes dúvidas levantadas por Bart Erhman, professor e pesquisador americano: a) O que foi mudado, ao longo do tempo, na Bíblia. b) Os erros das adaptações e traduções. c) Os interesses da Igreja, nas diversas épocas. Todos os que buscam e vivem de suas fontes espirituais, têm sofrido, através da história e dos milênios, a influência de tradutores, dos concílios e de idiomas diversos, além das interpolações e adaptação à conveniência religiosa de muitos. Isto resulta em entendimentos errôneos da mensagem espiritual que recebemos para roteiro de nossa vida. As maiores consequências se encontram nos Evangelhos que sofreram alterações, por traduções inadequadas, adições e interpolações diversas. Isto não significa que os Evangelhos estejam perdidos ou que não sirvam em suas mensagens espirituais, mas que devemos analisar a sua mensagem, sempre, sob o crivo da razão, da lógica e do bom senso. Não tenho, com estas observações, o objetivo de 24 Tribuna Espírita • setembro/outubro • 2014
destruir ou diminuir a minha Fé ou a Fé do leitor. Acredito, plenamente, na Bíblia e nos Evangelhos; no entanto, nem sempre aceito as declarações de textos mal traduzidos ou corrompidos por interesses pessoais. Kardec afirma no capítulo primeiro de a Gênese, sua quinta obra, que “Neste século de emancipação intelectual e de liberdade de consciência, as Escrituras não são mais a arca santa na qual ninguém ousava tocar os dedos, sem o risco de ser fulminado e que o direito de exame pertence a todo mundo.” A história está, aí, para que todos confiram o que foi feito dos textos sagrados, a partir do Concílio de Niceia, no ano 325, onde muitas questões foram adicionadas e outras foram retiradas, para atender a interesses diversos. A questão do batismo e do Espírito Santo, como pessoa da Trindade, surgiu aí. O batismo, ainda hoje, é muito valorizado, por diversas correntes religiosas cristãs, embora Jesus nunca tenha batizado. Sua preocupação era que não errássemos mais, depois de conhecê-lo. Por isso, devemos valorizar as obras e o nosso interior e não o ritual exterior. Nosso compromisso deve ser com a nossa mudança. Lembre-se que Jesus nunca batizou, conforme o Evangelho de João 4:2, seus discípulos batizavam, mas ele, não. O nosso assunto a ser abordado, neste artigo, é, exatamente, em torno deste conceito de que “O Pecado con-
tra o Espírito Santo”, não tem PERDÃO. Mt. 12:31. Necessitamos analisar o assunto, com racionalidade, e partindo de sua origem, ou seja, do Judaísmo que é de onde provém tudo. Iniciamos, informando que, no Judaísmo, não existe Trindade e o monoteísmo é afirmado, claramente, no livro do Deuteronômio, onde encontramos a citação: “Ouve, ó Israel: Iahvé é nosso Deus, Iahvé é o ‘Único’. (Dt. 6:4). Portanto, segundo este versículo, Deus é único e o monoteísmo é a base do Judaísmo. Esclarecendo, afirmamos que o “Espírito Santo” não é um personagem pertencente a uma trindade, como muitos aceitam e entendem, atualmente. Este conceito foi uma criação do Concílio de Niceia. O Espírito Santo, em hebraico Ruach Ha-Kodesh, não representa uma terceira pessoa, mas algo que está intimamente relacionado com o “hálito” de Deus. Como o alento da vida é dado pelo Criador e, como todas as criaturas vivas respiram, tem-se como certo que elas são animadas pelo “Espírito de Deus”, na condição, ou na forma de NESHAMÁ. O Espírito de Deus, no conceito original, em Gn. 2:7, representa o elemento que emana do próprio Deus, para dar vida ao nosso corpo (matéria) inerte. Assim, esclarece Moisés, que Deus insuflou, em “NÓS”, o NESHAMAT CHAIM (sopro de vidas). Este
“neshamat chaim” sopro de vidas, nos torna alma vivente. Ele é a centelha Divina que todos NÓS possuímos. É o que se convencionou chamar de Espírito Divino em nós, ou Espírito Santo. O autor do livro de Jó cita, no Capítulo 33:4, o que ocorreu na criação falando que: “O Espírito de Deus me fez, e o alento do Deus todo poderoso me deu a vida”. No Êxodo 20:5 e 6, encontramos a informação de que Iahvé é um Deus zeloso que sanciona a iniquidade dos pais, sobre os filhos, na terceira e quarta geração e, também, age com amor até a milésima geração. (tradução nossa). Este mesmo texto é repetido no Êxodo 34:6 e 7. Se Deus age, com amor até a milésima geração, como não perdoaria os nossos delitos? Jesus, por acaso, desconheceria essas citações do Êxodo? Claro que não! Jesus, realmente, falaria sobre a inexistência de Perdão? Onde ficaria a sua revelação de que não se perderia nenhuma das ovelhas que o Pai lhe confiou? Jesus corrobora com estas citações do Êxodo e acrescenta, em João 10: 27 e 28: “As minhas ovelhas escutam minha voz, eu as conheço e elas me seguem; eu lhes dou a vida eterna e elas, jamais, perecerão, e ninguém as arrebatará de minha mão”. Em Mateus 18:12-14, Jesus demonstra, de uma forma didática e clara, como somos importantes para Deus e, ainda, como Ele nos perdoa e se alegra com a nossa conquista espiritual. Confira no texto que segue. “Que vos parece? Se um homem possui cem ovelhas e uma delas se extravia, não deixa ele as noventa e nove nos montes para ir à procura da extraviada? Se consegue achá-la, em verdade vos digo, terá maior alegria com ela do que com as noventa e nove que não se extraviaram. Assim também, não é da vontade de vosso Pai, que está nos céus, que um destes pequeninos se perca.” (...) Eu vim para que “todos” tenham vida. (João 10:10). Lembre-se: TODOS, indistintamente, independente de religião, nação ou crença. Esta informação de Jesus está reforçando que Deus age, com AMOR, até a milésima geração. E Jesus não desconhecia o texto do profeta Ezequiel 33. No profeta Ezequiel, Cap. 33:11, existe a certeza da misericórdia Divina afirmando, através do profeta, a sua bondade para com todos nós. “Dize-lhes: Por minha vida, oráculo do Senhor Iahvé; certamente não tenho prazer na morte do ímpio; mas antes, na sua conversão, em que ele se converta do seu caminho e viva.” Diante de todas estas informações, resta-nos buscar entender o que, real-
mente, significa o “pecado” contra o Espírito Santo. O Pecado contra o Espírito Santo seria o erro contra a verdade da vida do próprio Espírito criador existente em nós. Seria algo contra nós, mesmos, e não contra Deus. Seria, o que podemos chamar de “suicídio” do Espírito Divino, colocado por Deus em todos nós. Seria o deixa que os “Mortos” enterrem seus “Mortos”. Encontramos, de forma racional e compatível com estes conceitos, os esclarecimentos de Emmanuel, na obra “O Consolador”:
“As minhas ovelhas escutam minha voz, eu as conheço e elas me seguem; eu lhes dou a vida eterna e elas, jamais, perecerão, e ninguém as arrebatará de minha mão”.
303 – Qual o sentido do ensinamento evangélico: - “Todos os pecados ser-vos -ão perdoados, menos os que cometerdes conta o Espírito Santo?”. ( Mateus 12:31 ). “A aquisição do conhecimento espiritual, com a perfeita noção de nossos deveres, desperta em nosso íntimo a centelha do espírito divino, que se encontra no âmago de todas as criaturas. Nesse instante, descerra-se à nossa visão profunda o santuário da luz de Deus, dentro de nós mesmos, consolidando e orientando as nossas mais legítimas no-
ções de responsabilidade na vida. Enquanto o homem se desvia ou fraqueja, distante dessa iluminação, seu erro justifica-se, de alguma sorte, pela ignorância ou pela cegueira. Todavia, a falta cometida com a plena consciência do dever, depois da bênção do conhecimento interior, guardada no coração e no raciocínio, essa significa o “pecado contra o Espírito Santo”, porque a alma humana estará, então, contra si mesma, repudiando as suas divinas possibilidades. É lógico, portanto, que esses erros são os mais graves da vida, porque consistem no desprezo dos homens pela expressão de Deus, que habita neles”. Neste caso, Emmanuel foi direto à questão do significado com relação ao Espírito Divino que Deus colocou em NÓS, segundo o Gênesis 2:7. É, com relação a este, que nós devemos cultivar e buscar evoluir, no caminho preparado por Deus para TODOS NÓS. Não seremos condenados por Deus, mas pela nossa própria consciência que não perdoará o delito que se instala em nossa alma ou espírito. A justiça de Deus está na consciência do homem. Questão 621 de “O Livro dos Espíritos”. Enquanto a nossa consciência não for restabelecida, na paz interior que buscamos, não conseguiremos nos perdoar. Apressa-te na reconciliação com o teu adversário, enquanto estás a caminho com ele... (Mt. 5:25) O arrependimento e a busca da reparação do erro cometido será a nossa saída. Isto poderá ser conseguido, depois do nosso despertar, neste mundo, ou no mundo vindouro. Confiemos e busquemos Jesus. Ele nos espera.
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julho/agosto • Tribuna Espírita • 2014 25
Melancolia WALKÍRIA LÚCIA DE A. CAVALCANTI João Pessoa-PB
“A aquisição de tudo quanto parece constituir meta, vitória existencial, subitamente cede lugar ao tédio, ao amolentamento da vontade, ao desânimo, com indiscutíveis prejuízos para a sociedade. A princípio, apresenta-se em forma de tristeza pertinaz que se faz acompanhar por um séquito de ferrenhos adversários da paz, exaltando as emoções ou amortecendo-as, anulando os interesses pela permanência dos objetivos essenciais, dando lugar à melancolia que se instala perniciosa, convertendo-se em grave depressão.” (Livro “Entrega-te a Deus”, cap. 8 ‘Pandemia Obsessiva’, Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Franco)
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or vezes, uma tristeza se apodera de nós. Começamos por reavaliar a vida e começamos por observar quais situações gostaríamos de mudar. Passamos a eleger pontos de mudança e aspirar por uma vida melhor, diferente da qual estamos vivendo, no momento. O Globo Repórter, do dia 11/07/2014, tratou sobre a cidade de Icaria/Grécia e os segredos da longevidade na ilha. O que mais nos chamou a atenção foi uma senhora de 104 anos, logo no início da reportagem, dona Ioanna. Ao ser perguntado, qual o segredo de viver tantos anos, responde: “Meninos, vocês têm que guerrear! Não se deixar vencer por qualquer coisa. Quando algo puxar você para atrás, vão em frente. Em tantos anos, eu não passei por um caminho de flores, mas sim, de espinhos, medos, fome. Vi poucas e pequenas flores, nestes meus 100 anos”, conta a tecelã. No mesmo momento, lembrei-me da questão 730 de “O Livro dos Espíritos”, a qual está inclusa no capítulo VI - Lei de Destruição. Analisando algumas questões do capítulo, verificamos que o que chamamos de destruição nada mais é do que a transformação e que Deus nos dá o instinto de conservação, o qual serve, como instrumento de superação das provas. Que, em vez de termos desencorajamento, em virtude dos dissabores, deveríamos nos rejubilar, por transpormos tais barreiras. “O Livro dos Espíritos” comple-
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menta, afirmando que o homem acaba por colocar o mérito, somente sobre si, esquecendo-se de agradecer a Deus, e que Ele, sempre, coloca ao lado do mal o remédio. Está senhora, à qual nos referimos, anteriormente, traz-nos a mesma ideia em sua fala. Então, quando sentirmos esse banzo, essa tristeza, que nos convida a ficar na cama e fugirmos do contato social, devemos nos esforçar, por inverter o processo. Alguns ponderam e nós concordamos que este processo serve, como um momento de avaliação de quem nós somos e do que estamos fazendo. Mas, ele não deve ser tão profundo, ao ponto de nos paralisar, nem tão demorado, ao ponto de nos retardar os passos. Quando este processo se perpetua, por semanas, levando a criatura a não querer se alimentar e aos outros quadros já descritos, estamos diante da depressão, com nuanças de obsessão. Solicitando ajuda e acompanhamento médico. Deixamos transparecer que estamos bem, sem estarmos, muitas vezes. Normalmente, a criatura humana carrega dramas profundos que, em decorrência de um desses momentos de baixa psicológica, faz com que o sofrimento seja agravado ou, pelo menos, não atenuado, em virtude de acreditar-se não merecedor de ajuda. Em outros casos, a criatura não deseja que suas mazelas sejam tornadas públicas. Enquanto alguns gostam de se colocarem na situação de vítimas, outros sofrem calados,
por não quererem parecer menos fortes do que transmitem. Preferem não ter testemunhas, para sua dor. A criatura tem a falsa impressão de que, se não falar sobre o assunto, tudo irá ser resolvido, sem maiores dissabores. A melancolia é um sinal de alerta, sobre algo errado que estamos vivendo, e que não estamos gostando do que está acontecendo. Se não pararmos para analisar, começaremos por atropelar, atropelando-nos. A Doutrina Espírita é libertadora, mas isto não significa que não haverá conflitos internos, nesta mudança essencial, em busca da perfeição espiritual. Tal processo não acontece, do dia para noite e, ao mesmo tempo, não podemos construir algo novo, sem transformar o velho, nem que seja, para servir de escombros na nova base da construção. Vivemos um eterno transmutar de sensações, atribuindo, somente aos Espíritos, mas que, algumas vezes, não passam de expressão de como estamos nos sentindo, intimamente, e não temos coragem de explanar. Quando queremos fazer um trabalho, analisamos todos os pontos. Como serão a execução, as probabilidades de dar certo, o tempo que deverá ser empregado; enfim, tudo que será empecilho ou alavanca para o sucesso. Mas, às vezes, esquecemos-nos de fazer isto, com relação à empreitada maior que é estar encarnado. Vivemos, como de atropelo, esperando que os Espíritos, mais especificamente, o nosso anjo da guarda, nos resolva tudo. Já aprendemos, que não poderá e não será desta forma. Somos artífices de nós mesmos. Então, quando tais sinais de melancolia começarem a se apoderar de nós, perguntemos-nos: o que está de errado, em minha vida? Com o que, ou com quem, estou desconte? Porque, mesmo chegando ao patamar mais alto que ambicionava, não consigo sentir-me feliz? A resposta encontrada deverá ser compreendida e trabalha. Não podemos viver de sobressalto e nem, tão pouco, esperando sempre a vontade do outro, pois, assim, será ele que viverá a nossa vida e não nós. Estar encarnado é uma dádiva, uma possibilidade única, no sentido de que o momento presente não se repetirá e não poderemos voltar, no tempo, para modificar atos passados. Poderemos e iremos, diante das consequências de nossos atos, fazer um novo presente e desenhar um novo futuro.
Irmã Dulce: reencarnação da Princesa Isabel? PEDRO CAMILO Paulo Afonso-BA
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urante um evento doutrinário, encontrei um amigo que há muito tempo não via e com quem travei diálogo revelador. Disse-me ele que, estando em certo Estado brasileiro, confrades de uma Casa Espírita diziam receber o auxílio do Espírito Irmã Dulce e que, graças a essa convivência, descobriram algo curioso: a freira baiana seria a reencarnação da Princesa Isabel. Segundo eles, ao chegar ao Além, Isabel sentiu a consciência apertar ao perceber que, nada obstante tivesse assinado a Lei, nada fez para ajudar os milhares de negros e negras que foram “libertados”. Por isso, teria pedido a Jesus para renascer no Brasil, no lugar onde houvesse a maior quantidade de negros pobres, para servi-los e ajudá-los. Graças a isso, renasceu na Bahia, tornando-se a “Irmã Dulce dos Pobres”, o “Anjo Bom” que todos conhecemos e aprendemos a admirar. A história seria linda e emocionante, se não fosse falsa! Depois de ouvir o relato, busquei os dados na internet sobre os anos de morte da Princesa Isabel e de nascimento da Irmã Dulce. E qual o resultado? Bem, aquela desencarnou em novembro de 1921, na França, enquanto esta renasceu em maio de 1914. Obviamente, não podem ser o mesmo Espírito, pois uma desencarnou, quando a outra já contava sete anos de idade! Aparentemente, os enredos se encaixam muito bem. A falta de atenção com os negros, de uma, compensada na vida de esquecimento de si mesma e altruísmo, da outra. Contudo, somente na aparência, haja vista que um olhar mais atento revela,
para logo, a incongruência e impossibilidade do relato ser verdadeiro. E, muitas histórias como esta, belas e bem encadeadas, devem existir por aí, seduzindo muita gente crédula e desprevenida. A médium Yvonne Pereira, também, se preocupava com essas “revelações”, conforme se lê no livro “Recordações da Mediunidade”: Baseando-nos nos próprios códigos do Espiritismo, com eles acreditamos que tais revelações, com exceções raríssimas, são sempre duvidosas e nenhum de nós deverá dar a elas grande apreço, porque os mistificadores do Invisível, frequentemente, se divertem à custa de espíritas curiosos e invigilantes, servindo-se de tais revelações, ao passo que, por sua vez, o médium poderá deixar influenciar-se pelas excitações da própria imaginação e dizer, como sendo da parte de um instrutor espiritual, o que a sua própria mente criou [...] Nas palavras de Yvonne, a ação de Espíritos mistificadores, a vã curiosidade e a nossa invigilância respondem por tais ocorrências, pois ficamos vulneráveis e expostos a esses absurdos. Além disso, também, o médium carece de atenção, pois sua própria imaginação poderá traí-lo, fazendo-o supor, como revelação, aquilo que só existe, como fantasia, em sua mente. Trata-se, pois, de um reflexo da falta de estudo das nossas relações com o Invisível e dos intricados mecanismos da mediunidade que, bem compreendidos, garantem-nos tranquilidade, para não sermos vítimas de mistificações tão grosseiras. E o que Allan Kardec faria, caso se de-
parasse com tal revelação? Sem qualquer pretensão, penso que, de início, verificaria as datas de nascimento de uma e desencarnação da outra, conforme fizemos; em seguida, avaliaria o caráter do Espírito comunicante; depois, a coerência das possíveis semelhanças; por último, usaria seu próprio sentir, eivado de bom-senso, para julgar da conveniência e da importância de levar a público tais informações. Kardec bem sabia, como devemos guardar cuidado com o quê os Espíritos dizem, ostentem ou não nomes conhecidos. Afinal, também na sua época, a mistificação e a fascinação eram males terríveis que ele mesmo combatia, como exemplifica em “O Livro dos Médiuns”: [...] que ninguém nunca se deixe deslumbrar pelos nomes que os Espíritos tomam para dar aparência de veracidade às suas palavras; desconfiar das teorias e sistemas científicos ousados; enfim, de tudo o que se afaste do objetivo moral das manifestações. Encheríamos um volume dos mais curiosos, se houvéramos de referir todas as mistificações de que temos tido conhecimento. Aceitar tais revelações, sem um mínimo de reflexão e estudo, é expor-se ao ridículo, prestando um desserviço à Causa Espírita e à Causa Cristã. Mais uma vez, penso em como temos lidado com as questões espirituais de forma ingênua, crédula, irreflexiva e irresponsável. Espiritismo é doutrina de razão, de bom senso e lucidez, qualidades demonstradas e ensinadas por Kardec. Até quando, ficaremos reféns do deslumbramento e da ignorância?
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