Tribuna Espírita 184

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Espírita Tribuna

Ano XXXIV - Nº 184 março/abril - 2015 Preço: R$ 5,00

Nessa edição:

O Espírita e os Problemas Políticos Atuais

O Coma e os Distúrbios da Consciência Aspectos científicos e espirituais


Investir nos dois mundos AZAMOR CIRNE João Pessoa-PB

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Homem vive inserido numa sociedade competitiva, em meio a desigualdades, onde uns possuem em excesso, sem se dar contas de que a outros tudo falta. Os que tem dinheiro disponível tratam de protege-lo, e procuram investir de maneira a que se mantenha pelo menos estável, resguardando-o do “fenômeno” da inflação. O certo, porem, é que de uma maneira geral, todos procuram investir as suas reservas, cada vez mais e melhor, numa fonte segura que lhes propicie as mais vantajosas rendas. Dinheiro não pode ficar parado um dia que se “evapora”. Os empresários, comerciantes, banqueiros todos estão empenhados na busca dos lucros dos seus negócios, como reza a cartilha do mundo capitalista. É verdade que o capital empregado nas atividades trabalhadoras significa o progresso, assegurando a economia e proporcionando o sustento familiar. Investir, portanto, ainda é o melhor negócio, propalam os grandes agenciadores das Bolsas, dos mercados financeiros. Todos querem investir porque é a alternativa do momento. Mas, nessa corrida encetada para assegurar a rentabilidade do capital, parece que o homem deixou de investir em si próprio, como deveria fazer; e por ignorância, ou mesmo porque relute em faze-lo, relegou a transcendentalidade que lhe integra o ser estrutural. Esqueceu do eu espiritual que ele é. Como não vê nenhum resultado financeiro nesta operação, não deseja empatar o seu capital de forma “ociosa”, nessa “coisa”. Porém, ao fugir deste lance, quem deixou de ganhar foi ele mesmo, que por 2 Tribuna Espírita • março/abril • 2015

isso, continua aflito, sobressaltado, desentendido e violento. No entanto, todo aquele que encara a vida, numa visão ampla, sob os dois grandes aspectos – material e espiritual – formula um melhor conceito sobre o modo de existência. Sabe que existe uma outra realidade que escapa aos sentidos, mas não a percepção transcendental, agora revelada de forma clara e precisa, pelo Espiritismo. É o outro mundo de que falou Jesus. É o mundo espiritual demonstrado pelos espíritos em todas as épocas e em todos os lugares do globo. Allan Kardec, o Codificador do Espiritismo observou que este “é a ciência que trata da origem, natureza e destino dos espíritos após a morte; e das comunicações com os vivos”. Eles são as almas das pessoas que aqui viveram, que vêm dizer através de testemunhos irrefutáveis, o que acontece na outra dimensão, e, quais são as penas e gozos que aguardam todos que partem para lá. Riqueza e pobreza são pesadas provas da vida e, tanto uma como outra, são difíceis de ser vencidas, dizem os amigos orientadores da espiritualidade, na questão 815, desta magistral obra que é “O Livro dos Espíritos”, que completa 158 anos no dia 18 de abril deste. Em seguida, na outra questão proposta (816), acentuam que “quando mais o homem for rico e poderoso, mais obrigações tem a cumprir, maiores são os meios de que dispõe para fazer o bem ou o mal.” Quer dizer, portanto, que uns estão a carecer, enquanto outros estão para dar, para ajudar. Não foi assim que o Mestre, há mais de dois mil anos, ensinou quando disse: “A quem muito foi dado, muito será pedido.”

As fontes do BEM estão por toda parte, a oferecer mais do que uma opção, uma alternativa de cunho espiritualista, às nossas decisões de investir. A qualquer hora Em qualquer lugar Qualquer um pode De qualquer maneira disponível Fazer qualquer bem A qualquer pessoa. Todavia na imensa SEARA ESPÍRITUAL, onde não existe profissionalismo religioso; onde os recursos financeiros não procedem de outros países e nem são enviados para lá; onde todos trabalham consciente e espontaneamente por amor ao ideal que abraçaram, está a carecer dos investimentos de quem possa e queira, contudo, de forma incondicional, para que se mantenham e ampliem muitas das suas atividades. Estas são as mais diversas, desde aquelas de órbita interna, como a assistência espiritual e material, até as outras da área externa, na faixa da comunicação, como o livro, a TV, o rádio, a internet e o jornal. Investir nos negócios é fazer circular o dinheiro, como sangue nas veias; é revitalizar o organismo econômico que deverá representar trabalho e bem-estar. Investir nas obras do Bem é participar da transformação moral do planeta, para que nele se instale o Reino da Fraternidade Universal. O bem é um investimento seguro, sem risco, é a única riqueza que se transfere para a conta do seu portador, desta para outra vida.


O CELC - Centro Espírita Leopoldo Cirne com nova diretoria. No dia vinte e oito de fevereiro, às dezesseis horas, em sua sede no bairro Jardim 13 de maio (João Pessoa/PB), foram realizadas a eleição e posse da nova Diretoria Executiva e do Conselho Fiscal, triênio 2015/2018, do Centro Espírita Leopoldo Cirne, para mais uma etapa de trabalho na grande seara do Mestre Jesus. Na mesma ocasião, foi aclamado Presidente de Honra, o seu ex-presidente, o Sr. Azamor Henriques Cirne de Azevedo, em reconhecimento aos relevantes serviços que vem prestando à instituição desde muitos anos. O CELC , instituição mantenedora deste periódico, completará 74 anos de plena atividades em setembro deste ano.

A Diretoria Executiva ficou assim formada: Presidente: Vicente Augusto Loureiro Gayoso de Souza; Vice-presidente: Jussara Cirne de Azevedo Pereira; 1º Tesoureiro: Severino de Souza Pereira; 2º Tesoureiro: Genilda Bezerra Cavalcanti da Nóbrega; 1º Secretário: Mauro Luiz Aldrigue; 2º Secretário: Maria do Socorro Moreira Franco e Diretor de Patrimônio: Marco Antonio Motta Alves. O Conselho Fiscal será composto como membros titulares: José Arivaldo Frazão, Zélio Lima de Brito e Hélio Nóbrega Zenaide e como suplentes: Hugo Gomes de Souza, Mércio Almeida Lima e Rosa Amélia Cavalcanti.

Expediente Fundada em 01 de janeiro de 1981 Fundador: Azamor Henriques Cirne de Azevedo

TRIBUNA ESPÍRITA Revista de divulgação do Espiritismo, de propriedade do Centro Espírita Leopoldo Cirne Ano XXXIV - Nº 184 - março/abril - 2015 Diretor Administrativo e Financeiro: Severino de Souza Pereira (ssp.21@hotmail.com) Editor: Hélio Nóbrega Zenaide Jornalista Responsável: Lívia Cirne de Azevedo Pereira DRT-PB 2693 Secretaria Geral: Maria do Socorro Moreira Franco Revisão: José Arivaldo Frazão Assessoria: Uyrapoan Velozo Castelo Branco Colaboradores: Azamor Henriques Cirne de Azevedo, Elmanoel G. Bento Lima, Edilmo Vieira de Carvalho, Flávio Mendonça, Frederico Menezes, Guilherme Travassos Sarinho, Hélio Nóbrega Zenaide, Igor Mateus, Marcos Panterra, Mauro Luiz Aldrigue, Octávio Caúmo Serrano, Pedro Camilo, Raimundo Espelho, Walkíria Araújo.

Sumário

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Investir nos dois mundos CELC - Centro Espírita Leopoldo Cirne com nova diretoria. Amor sem correntes O Crime e a Pena Doutora Marlene Nobre (Um exemplo de vida para todos nós) Fatalidade

A Justiça Divina, na Visão Espírita Este povo se aproxima de mim com...

Reflexões de um Espírita Médico Alex Carrel Política Divina O Espírita e os Problemas Políticos atuais

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Diagramação: Ceiça Rocha (ceicarocha@gmail.com)

MIEP – Movimento de Integração Espírita na Paraíba SUCESSO ABSOLUTO Amar, além... O Sacrifício mais Agradável a Deus Fé Aproveitando o tempo

O Coma e os Distúrbios da Consciência - Aspectos científicos e espirituais Justiça

Impressão: Gráfica JB (Fone: 83 3015-7200) ASSINATURA BRASIL ANUAL: R$ 30,00 TRIANUAL: R$ 80,00 EXTERIOR: US$ 30,00 CONTRIBUINTE ou DOADOR: R$....? ANUNCIANTE: a combinar TRIBUNA ESPÍRITA Rua Prefeito José de Carvalho, 179 Jardim 13 de Maio – Cep. 58.025-430 João Pessoa – Paraíba – Brasil Fone: (83) 3224-9557 e 9633-3500

A Força do Amor

e-mail: jornaltribunaespirita@gmail.com Um livro que precisa ser lido Esquizofrenia: a linha tênue entre a Loucura e a Mediunidade Os Três Franciscos

Nota da Redação Os Artigos publicados são de inteira responsabilidade dos seus autores. janeiro/fevereiro • Tribuna Espírita • 2015 3


Amor sem correntes E

m seu livro, “O Profeta”, Kalil Gibran fala do matrimonio com grande sabedoria. Vamos comentar algumas frases a fim de retirar delas ensinamentos úteis. Referindo-se ao casal, diz Gibran: Amai-vos, um ao outro, mas não façais do amor um grilhão. Desconhecendo ou ignorando essa importante orientação, muitos casais transformam o amor em verdadeiras cadeias para ambas as partes. O amor deve ser espontâneo. Não pode ser motivo de brigas e exigências descabidas. O amor compreende. Não deve se constituir em grilhões que prendem e infelicitam. Por vezes, em nome do amor, nós queremos que nosso companheiro ou companheira faça somente o que desejamos. Só corta o cabelo quando permitimos. Só pode usar as roupas que aprovamos. Só sai se for em nossa companhia e não pode violar as regras estabelecidas pelo nosso egoísmo, para evitar brigas. Isso não é amor, é prisão. Amar sem escravizar, eis o grande desafio. E o profeta aconselha: Dai de vosso pão um ao outro, mas não comais do mesmo pedaço. Isto significa dizer que devemos compartilhar, ser gentil, dar do nosso pedaço, mas sem exigir nada em troca. É comum depois da gentileza vir a cobrança. Fazemos um favor e esperamos logo alguma recompensa. Pretendemos tirar alguma vantagem. Dividir o pão, sim, mas não comer do mesmo pedaço. Isso quer dizer deixar ao outro o direito que lhe cabe do pedaço. E Gibran continua: Cantai e dançai juntos, e sede alegres, mas deixai cada um de vós estar sozinho. É importante compartilhar, mas saber respeitar a individualidade um do outro, sem invadir a intimidade da pessoa amada. Há pessoas que, se pudessem, controlariam até mesmo o pensamento do seu par, a ponto de torná-lo a sua própria sombra.

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Isso não é amor, é extremado desejo de posse. Mais uma vez Kalil Gibran aconselha: Vivei juntos, mas não vos aconchegueis em demasia, pois as colunas do templo erguem-se separadamente, e o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro. Grande ensinamento podemos retirar daí, pois a comparação é perfeita. Viver juntos, mas cada um respeitar o espaço do outro. O lar é um templo que deve ser sustentado por duas colunas: cada uma na sua posição para que realmente haja apoio. Se as colunas se aconchegam em demasia, o templo pode desabar. Por isso o profeta recomenda: Vivei juntos mas não vos aconchegueis em demasia. O amor tem por objetivo a união e não a fusão dos seres. Não se pode querer viver a vida do outro, controlar os gostos e até mesmo os desgostos da pessoa com quem nos casamos. É preciso que cada um cresça e permita o crescimento do outro, sem fazer sombra um para o outro. Se os casais observassem esses pequenos mas eficientes conselhos, certamente teriam uma convivência mais harmônica e mais agradável. * * * O verdadeiro amor é aquele que compreende, perdoa, renuncia. Em nome do amor devemos estender a mão para oferecer apoio e não para acorrentar. Quem ama propicia segurança, confiança e afeto. Lembre-se de que a pessoa com quem você convive não lhe pertence. É uma alma em busca do próprio aperfeiçoamento, tanto quanto você. Lembre-se também que beijos e abraços só têm valor se não forem cobrados. E, por fim, guarde a recomendação: Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor um grilhão. Redação do Momento Espírita com base em palestra proferida por Raul Teixeira e no cap. O matrimônio, do livro O Profeta, de Gibran Kalil Gibran, ed. Acigi. Disponível no livro Momento Espírita, v. 2, ed. FEP. Em 4.4.2013


O Crime e a Pena OCTÁVIO CAÚMO SERRANO João Pessoa-PB

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m nossos estudos das quintas-feiras, quando analisamos, durante hora e meia, “O Livro dos Espíritos” e “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, foi-nos perguntado, se o mandante de um crime é tão culpado quanto o criminoso. Nossa resposta foi não! O mandante do crime é muito mais culpado; no mínimo, duplamente. Primeiro, por ter idealizado o delito de maneira intencional. Como Deus considera mais a intenção do que o ato, ele é culpado. Depois, é culpado, também, por ter sido covarde e não empunhar, ele mesmo, um artefato, imaginando esconder-se no anonimato para conseguir seus intentos, fazendo de arma do seu crime um infeliz miserável que não sabe cuidar de sua vida, porque talvez desconheça as implicações do futuro. O mandante vai responder pelo crime encomendado e por ter acrescentado débitos na vida do verdadeiro autor, além de todos os demais crimes que advirão, posteriormente, quando o assassino de aluguel decida aumentar seus ganhos, por habituar-se a esta facilidade brutal. Para entendermos, ainda mais, podemos comparar aos cartéis do tráfico. O poderoso chefão, idealizador e incentivador desse comércio desumano, financia o plantio, a industrialização e a distribuição das drogas, formando uma imensa cadeia de delinquentes conscientes, enquanto ele é quem mais ganha e menos se expõe. Considera-se um gênio; um esperto! Ele terá, na relação dos seus crimes, os delitos de cada um dos seus comandados, nos mais diferentes escalões. A partir dos grandes subchefes, passando pelos distribuidores das vielas ou favelas e chegando ao consumidor que, muitas vezes é, também, traficante e acaba por cometer outros tipos de crimes (roubos, furtos, assaltos, sequestros, etc.) até chegar ao reduto doméstico, onde lesa pais, irmãos, avós, vendendo objetos da família para saldar dívidas do vício. Estes, quase sempre, terminam sua

vida muito cedo, nas mãos da polícia ou banidos pelos credores do vício. O grande e principal culpado, que acumula crimes incontáveis, é o chamado poderoso. Do tipo Don Pablo Escobar de quem dizem o seguinte: Pablo Emilio Escobar Gaviria (Rionegro, 1 de dezembro de 1949 – Medellín, 2 de dezembro de 1993) conquistou fama mundial, como o senhor da droga colombiano, tornando-se um dos homens mais ricos do mundo, graças ao tráfico de cocaína nos Estados Unidos e outros países. Membros dos governos norte-americano e colombiano, repórteres de jornais e o público em geral o consideram o mais brutal, impiedoso, ambicioso e poderoso traficante da história. Que são os “mulas”, diante dele? Quando falamos em tráfico de drogas, o termo “mula” se refere ao indivíduo que, conscientemente ou não, transporta químicos, em seu corpo, geralmente para outros países. Em casos mais extremos, pela ingestão da droga, encapsulada ou em forma de pacotes, embrulhados em plásticos. Para os grandes traficantes, utilizar este tipo de “mão de obra” é vantajoso, por afastá-los da fiscalização, pois envolvem pessoas que, geralmente, não levantam suspeitas e pelo fato de que, caso uma mula seja presa, os “prejuízos financeiros” são menores. Sem falar dos indivíduos que a ingerem e correm sérios riscos de saúde, considerando

a grande probabilidade de uma ou mais cápsulas se romperem no organismo deles. Em diversos casos, a morte instantânea encerra este fato. Noutro tipo de vício, para exemplificar, houve Alphonsus Gabriel Capone, ou simplesmente Al Capone, (Brooklyn, 17 de janeiro de 1899 — Palm Beach, 25 de janeiro de 1947) foi um gângster ítalo-americano que liderou um grupo criminoso dedicado ao contrabando e venda de bebidas entre outras atividades ilegais, durante a Lei Seca que vigorou, nos Estados Unidos, nas décadas de 20 e 30 do século passado. Considerado, por muitos, como o maior gângster dos Estados Unidos. Muitos outros exemplos envolvem líderes do mal que terão duros resgates pela frente, inclusive, ter de amparar muitos dos que destruiram que virão como seus filhos, seus pais ou seus senhores. Sem contar com lesões que deverão portar em seu corpo, especialmente na mente, já que são grandes inteligências usadas para o mal. Diríamos que, aqui, se enquadram os senhores que mantinham, sob seu jugo, os negros na escravidão, cerceando-lhes a liberdade, o estudo, o progresso e o direito de pensar. Pena que, ainda, exista coisa semelhante nos dias atuais, mesmo que veladamente. Mas, ninguém ficará sem punição. Concluindo, vê-se que o mandante, o idealizador e organizador do crime é, sempre, o mais culpado; mais que o próprio criminoso, embora este tenha também suas dívidas a resgatar, porque somos todos donos do livre arbítrio e não há desculpa, para o envolvimento no erro, por mais miserável que seja a vida de uma pessoa. Ainda, há meios honestos de sobrevivência, para todos; só precisa ser corajoso para lutar e superar as dificuldades! Mas ninguém desanime. O bem é mais forte e sempre aparece. Ainda agora, vimos que as manifestações dos ecologistas, a atuação do Green Peace e outras ONGs, estão dando resultado. Chegam notícias que o buraco na camada de ozônio está diminuindo e que, até 2025, poderá estar fechado, evitando o efeito estufa, com degelos anormais que aumentam o nível dos mares e causam inundações. O novo mundo está sendo reformado, de maneira acelerada. Confiemos que Deus não perdeu o controle. Tudo é preciso acontecer, para conhecermos o verdadeiro valor. Toda reforma causa transtorno, antes que a casa fique renovada e bonita. A Terra está nesse caminho. Em breve, sentiremos orgulho deste planeta e da nossa humanidade. Confia e segue! março/abril • Tribuna Espírita • 2015 5


Doutora Marlene Nobre (Um exemplo de vida para todos nós) CARLOS ROBERTO DE S. OLIVEIRA (*) Campina Grande-PB

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aros amigos e irmãos, existem pessoas que passam pela terra e deixam uma marca tão grande, que as palavras são insuficientes para descrevê-la. Doutora Marlene Nobre é uma dessas pessoas. O seu trabalho e o seu exemplo de vida foram e serão, para muitos, um referencial a ser seguido, devido à enorme influência positiva que tem proporcionado, na vida de todos. Essa influência vai do Movimento Espírita, da Associação Médico-Espírita até à vida pessoal de alguns que tiveram a oportunidade de conhecê-la, em sua intimidade. Sua autoridade moral inquestionável ratificava o que dizia e pregava. No Movimento Espírita, jamais, conheci uma pessoa tão sensata em suas colocações e posições. Sua fidelidade a Kardec, Chico Xavier, Emmanuel e André Luiz era indiscutível. Honrar os compromissos assumidos com Jesus, junto com Doutor Bezerra de Menezes, era uma prioridade em sua vida; principalmente, na tarefa incansável de fortalecer o braço científico da Doutrina Espírita, através da reaproximação da ciência com a espiritualidade. Nesse campo, ciência e espiritualidade, foi trabalhadora que não conheceu limites para atuação. Desde a fundação da Ame-São Paulo, em 1968, onde foi cofundadora, lutou para expandir o ideal médico-espírita no Brasil, através da criação da AME-Brasil, e, no mundo, pela fundação da “AME-Internacional”. Sua dedicação à causa médico-espírita tornou-a a maior expoente, no mundo, sobre esse assunto. Estimulando, organizando e participando de eventos, no Brasil, EUA, Portugal, França, Alemanha, Holanda, Inglaterra, Itália, Luxemburgo, Bélgica, Polônia, Viena e outros países, proporcionou uma contribuição incalculável à união do conhecimento científico com a religiosidade e espiritualidade, ajudando a entender o ser humano, numa abordagem multidimensional; ou seja, corpo-mente-espírito. Além disso, apoiou e incentivou a implantação do conhecimento espírita, nas Universidades e Faculdades de Me6 Tribuna Espírita • março/abril • 2015

dicina, através da abertura de disciplinas ou cursos de extensão universitária, numa proposta futurista de expansão do Espiritismo. Também, escreveu diversos livros, gravou inúmeros programas e entrevistas sobre o tema “saúde e espiritualidade”; fundou creches, etc., deixando um legado grandioso e difícil de ser seguido; mas, ao mesmo tempo, estimulante para aqueles que desejam continuar com o seu trabalho. Entre muitos exemplos que ela nos deixou, ressalto sua humildade, perseverança, determinação, conhecimento e capacidade de liderança. Conseguiu agregar médicosespíritas e outros, como uma grande família, a qual chamamos de “Família AME”. Suas expressões, “VAMUKIVAMU” e “JESUS ESTÁ NO LEME” ficarão, para sempre, gravadas em nossas memórias, como estímulo ao trabalho e confiança na orientação espiritual. Enquanto sua saúde física permitia, ela fazia questão de participar de todos os eventos das “AMEs”; mesmo como ouvinte. Procurava assistir todas as pa-

lestras e, numa atitude de humildade e simplicidade, dizia-me que era por respeito e consideração aos outros oradores. São atitudes nobres, de um nobre Espírito que, não por acaso, tinha NOBRE, em seu nome. Todos nós, das “AMEs” temos uma história pessoal para contar, sobre a convivência com a Doutora Marlene. Conheci a “Doutora” (era assim que a chamávamos, carinhosamente), no ano de 1993, na cidade de Natal-RN, quando desejávamos fundar a AME-Campina Grande. Falei dos nossos propósitos e, desde aquele dia, suas palavras de incentivo demonstraram suas intenções, em relação à divulgação do ideal médico-espírita. Em 1997, através de um telefonema, convidou-me, pela primeira vez, para participar de um “Mednesp”. Senti, pela sua voz, a ligação que teríamos e, desde aquele dia, ela se tornou, para mim e para outros, uma mentora, em nossa tarefa espiritual a se cumprir nesta encarnação. Posso afirmar que conhecê-la mudou,


não somente a minha vida, como a da minha família. Tínhamos e temos um profundo respeito e carinho por ela, bem como agradecimento, por tudo o que nos proporcionou, em esclarecimentos e oportunidades de trabalho. Viajamos, muitas vezes, juntos com outros companheiros de ideal. Nossos encontros doutrinários, no Brasil, e nossos périplos internacionais foram marcantes, principalmente, pela oportunidade de conhecê-la e desfrutar de sua intimidade, como pessoa humana e preocupada com todos. Foram viagens descontraídas, alegres e que, hoje, nos proporcionam agradáveis lembranças. Cada viagem era, para nós, um momento novo de revelação, aprendizado, reflexão e estímulo, para seguirmos adiante em nossa caminhada. Para cada um, ela tinha um conselho, uma advertência carinhosa ou, algumas vezes, o silêncio, em respei-

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to ao livre-arbítrio do interlocutor. Quando a Doutora Marlene abria veredas científicas, para divulgação do ideal médico-espírita, no Brasil e no exterior, e nos convidava a participar, também estava criando verdadeiros e reais caminhos de trabalho pessoal, para que cada um de nós tivesse valiosas oportunidades de redenção, em nossas vidas, e construíssemos o caminho da própria libertação. Na organização dos eventos internacionais, ela sabia onde cada um de nós deveria estar, de acordo com o nosso passado, tendências, perfil e necessidades educativas. Será, sempre, uma mãe espiritual para nós. Temos a certeza que, brevemente, estará, do plano espiritual, retomando o comando do movimento médico-espírita e nos inspirando, com o seu pensamento lúcido, firme e sensato.

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Devemos, muito, a ela por tudo isso. A ela, nosso eterno carinho e nossa eterna gratidão. Doutora Marlene, sabíamos que, um dia, chegaria o dia de vossa partida para pátria espiritual, mas não imaginávamos que seria agora. Ficou um vazio do vosso magnetismo, em nossos corações. Um misto de tristeza e alegria nos envolve. A tristeza pela partida repentina e a alegria pelo vosso retorno vitorioso, na certeza que os ideais de imortalidade que o Cristo nos deixou, e que a senhora ajudou a fortalecer, serão sustentáculos valiosos para suprir vossa ausência física e fortalecer a nossa fé, a fim de que possamos honrar o vosso legado e o benefício de vos ter conhecido. Um carinhoso beijo, um carinhoso abraço. Até logo, até breve. (*) Associação Médico-Espírita de Campina Grande/PB

ELMANOEL G. BENTO LIMA João Pessoa - PB

Fatalidade

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onforme está dicionarizado, esse vocábulo (do lat. fatalitate) encerra, sempre, um sentido de causa fatal, de sorte inevitável, destino ruim, acontecimento funesto, desgraça, consequência deplorável, acaso infeliz. Segundo esclarece “O Livro dos Espíritos” (Questões 851 e outras adiante citadas), de Allan Kardec, “a fatalidade nos acontecimentos da vida não existe senão pela escolha do próprio Espírito de, em se encarnando, suportar tal ou tal prova. Ao fazer a escolha, ele traça uma espécie de destino que é a consequência mesma da posição em que se encontra; isto, dito em relação às provas físicas, porque, para o que é prova moral e tentações, o Espírito, conservando seu livre arbítrio sobre o bem e sobre o mal, é, sempre, senhor de ceder ou de resistir. Embora um bom Espírito, vendo-o fraquejar, pode, até, vir em sua ajuda; porém, não pode influir sobre ele, de maneira a dominar-lhe a vontade. Já, um Espírito mau; isto é, inferior, mostrando-lhe, exageradamente, um perigo físico, pode abalá-lo e assustá-lo. Mas, nem por isso, a vontade do Espírito encarnado não fica menos livre de todos os entraves.” Naqueles casos em que “certas pessoas não escapam de um perigo mor-

tal, senão, para cair num outro, até parecendo que elas não poderiam escapar à morte”. A Questão 853, do livro anteriormente citado, informa que, no verdadeiro sentido da palavra, não há de fatal, senão, o instante da morte. Quando esse momento chega, seja por um meio ou por outro, ninguém pode se livrar dele. Contudo, qualquer que seja o perigo que nos ameace, não morremos, antes da hora ser chegada, e disso temos inúmeros exemplos. Mas, quando é chegado o momento de partir, nada poderá impedir esse desfecho. Deus sabe, de antemão, de que gênero será a morte do homem e, muitas vezes, seu Espírito também o sabe, porque isso lhe foi revelado, quando escolheu esta ou aquela existência, como também (Questão 856) ele sabe que o gênero de vida por ele escolhido o expõe a morrer, mais de uma maneira, que de outra. Além disso, ele, ainda, sabe quais as lutas que terá de sustentar para o evitar. E que, se Deus o permitir, não sucumbirá.” Apesar de tudo isso, há pessoas destemidas, ousadas, desafiadoras, cuja confiança, em si, supera qualquer temor em por em risco sua própria vida. É o caso de certos desportistas − alpinistas, pilotos de corrida automobilísti-

ca ou de acrobacia com aviões, motocicletas etc. − ou do suicida passivo que brinca de roleta-russa, confiando, nos 16,6% - 20%. só, de possibilidade fatal. Na questão seguinte (857), ao tratar desse ponto, os Espíritos esclarecem que, “com muita frequência, o homem tem o pressentimento do seu fim, como o pode ter o de que, ainda, não morrerá. Esse pressentimento lhe é dado por seus Espíritos protetores, que desejam adverti-lo, para que esteja pronto a partir, ou reerguerem a sua coragem, nos momentos em que se faz necessário. Também, lhe pode vir da intuição da existência por ele escolhida, ou da missão que aceitou e sabe que deverá cumprir. Caso haja dúvida, invoque seu Espírito protetor, ou ore a Deus, para que lhe envie um mensageiro, um de nós” (Questão 523). Por fim, devemos, sempre, estar atentos em considerar que as “advertências de nossos Espíritos protetores têm, por objetivo único, a conduta moral ou, também, a conduta a ter nas coisas da vida particular. E, ainda, (Questão 524), eles procuram fazer-nos viver o melhor possível, mas nós. muitas vezes, não consideramos as advertências e nos tornamos infelizes, por nossa culpa, por nossa imprudência.”

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A Justiça Divina, na Visão Espírita EDILMO VIEIRA DE CARVALHO João Pessoa-PB

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o Espiritismo, a concepção da Justiça Divina perpassa por entendimentos que refletem a própria natureza da Doutrina dos Espíritos. “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”. Esta é a afirmação constante na questão número 1 de “O Livro dos Espíritos”. A causa primária; a origem de tudo o que há; o mantenedor, em inteligência suprema, do microcosmo ao macrocosmo, do infinitamente pequeno ao infinitamente grande, da unidade energética; o plasma divino, o elemento primordial, que vibram e vivem constelações e sóis, mundos e seres, como peixes no oceano. O ser inteligente, que denominamos de Espírito, é o princípio inteligente do Universo; é uma chama, um clarão, ou uma centelha etérea, que evolui, desde o átomo primitivo, até o arcanjo que, também, começou por ser átomo. Este ser interage com a matéria, organizando-a em seu percurso de evolução, ao longo de bilhões de anos. Em sua origem de ser inteligente, inicia o seu domínio sobre a matéria com força fraca; sendo, nessa relação, dominador e dependente; age sobre a matéria e sofre a ação desta. À medida que vai se desenvolvendo em inteligência, vai desenvolvendo, gradativamente, a sua capacidade de organizar a matéria. As experiências se somam; o aprendizado se faz em automatismo, em áreas com as da funcionalidade orgânica dos corpos do ser. Quando atinge o estágio humano, inicia o desenvolvimen8 Tribuna Espírita • março/abril • 2015

to do aprendizado sobre a sua natureza, sobre a Inteligência Suprema e, paulatinamente, vai adquirindo, cada vez mais, consciência, permitindo agir sobre o ambiente, construindo o seu livre arbítrio. De modo consciente, aprende a dominar a si e a matéria que lhe serve na organização de seus corpos. Quando alcança o estágio de Espírito puro, é pelo fato de ter conquistado o domínio pleno sobre a matéria e sobre si mesmo. No período humano de conquistas, realiza a tarefa de educar a si mesmo, promovendo, lentamente, a sua interação com a Inteligência Suprema. Quando atinge o estágio de Inteligência Divina, que são os “Devas” da teologia hindu ou os Arcanjos da interpretação de variados templos religiosos, atinge comunhão indescritível, com o próprio Senhor Supremo e, ao influxo deste, realiza tarefas, em plano maior, de construção dos sistemas da imensidade, na condição de agente orientador da Criação Excelsa. A educação do ser inteligente é o princípio que norteia a comunhão com a Inteligência Suprema. Ao conseguir acessar recursos de sua estrutura mental, inicia a sua escalada de ser consciente de si mesmo, no Universo. Até este período, transitou pelos estágios da evolução, tendo, como inteligência preponderante, o instinto. A partir de então, fará o grande exercício de administrar a inteligência baseado na consciência de si mesmo. Os recursos que residem, na sede da

inteligência, na mente, possui o poder, em potencial, da Inteligência Suprema. Tomar conhecimento de si mesmo e administrar este poder não é fácil. Vamos, lentamente, descobrindo, nos ensaios da vida, que o uso do poder da inteligência gera frutos ou abusos, gera luz ou sombra. O uso gera efeitos, sobre o próprio autor e sobre os que estão em sua volta; deste modo, gera aprendizado para todos os envolvidos. Lentamente, aprendemos a aplicar intensidade ao uso da inteligência associada aos efeitos desta aplicação. De acordo com os efeitos, teremos satisfação e desejo de ampliar, ou teremos danos e inevitáveis restaurações. O programa de ampliação e o de restauração, sempre, são realizados de comum acordo com os instrutores maiores, aqueles seres que já palmilharam, na senda da evolução, e que já possuem vasto conhecimento e a mais ampla experiência, no traquejo da energia sublime que estamos, na qualidade de aprendizes, a utilizar. Na escalada evolutiva, o ser inteligente, utilizando os recursos residentes na sede de sua inteligência, constitui órgãos que lhes são úteis, na sua interação consigo mesmo, e com os de seu relacionamento. A depender da aplicação que faz desses recursos que alimentam a vida inteligente, aperfeiçoa ou estagna os órgãos, fornecendo-lhes vitalidade, sublimando, ou desgasta estes, comprometendo o seu funcionamento essencial. O divino processo de evolução autoconsciente, sempre, está a realizar, em cooperação com os seres sublimados, o avanço dos que já aprenderam a brilhar e o reajuste, pelo recomeço dos que, ainda, não sabem a perfeita aplicação da energia da Inteligência Suprema, em si mesmo.


O Espírito traz, em si mesmo, o cabedal de suas conquistas. O aferidor destas é a intensidade de luz que emite. Ampliar a intensidade de luz é conquistar a harmonia com os princípios regentes no Universo; manter a intensidade é não ter efetuado novas conquistas; reduzir a intensidade é ter causado prejuízo na contabilidade divina escrita em si mesmo. O livro da vida, que é a mente do ser inteligente, registra a dinâmica imposta a si mesmo, ao longo das experiências e mutações do ser. Portanto, não há como esconder o que foi feito, o que foi pensado; pois que, além de registrar em si mesmo, o Espírito mantém vínculo essencial com o seu Criador, que é a fonte inesgotável de energia para a sua inteligência, para a sua vida. A relação do ser inteligente é consigo e com o seu mantenedor. É um ser solitário, por excelência. Porém, direcionando a energia divina, que recebe, instante a instante, para o ambiente externo a si; aplicando, de modo preciso a benefício do próximo, faz, de si mes-

mo, condutor de energia e luz. Quando retém a energia divina e a utiliza, somente em benefício próprio, promove a sua estagnação e, como a água estagnada, também fica estragada. Desse modo, se torna visível o entendimento de que cada um colhe, exatamente, o que plantou. Na escalada, em direção ao estado de Espírito Puro, não há, segundo a visão espírita, punição de Deus ou de quer que seja; há, sim, processo educativo, em que, o que acerta avança e o que erra recebe nova oportunidade de acertar, quantas vezes sejam necessárias. Para percebermos que, sempre, somos convidados ao aperfeiçoamento, quando resistimos ao avanço, conquistamos um elemento valioso de progresso: a dor. Administrar a dor, com serenidade, é conquistar os novos elementos de que tanto necessita o Espírito, para avançar. No plano material, quando o corpo biológico fala através da dor, o ser inteligente está recebendo o convite, para que, no império do exercício sereno de

Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. (Mateus 15:8)

FLÁVIO MENDONÇA Recife-PE

J

á nos perguntamos o quanto essa máxima diz respeito aos nossos próprios atos? O quanto isso é verdadeiro e tem a ver conosco? Jesus, orientador por excelência, aproveitava todos os instantes para ensinar seu evangelho de amor, seu roteiro de luz, para que a Humanidade, não só dos tempos de sua vinda, mas de todos os tempos, onde o homem, Espírito imortal, pudesse aprender, através das

reflexões que estes ensinamentos ensejavam e ainda ensejam. Por vezes, imaginamos que essa orientação se dirigia aos hipócritas da sua época; porém, se observarmos com mais zelo, quantas vezes nos referimos a Jesus com os lábios, mas carregando no coração sentimentos antagônicos com os seus ensinamentos? Quantas vezes nos distanciamos do seu roteiro, mesmo fazendo parte de correntes religiosas e

sua vontade, faça a reestruturação da área por ele maculada. Oportunidades e oportunidades são concedidas para a corrigenda, através dos sucessivos estados de encarnação, onde o providencial bloqueio da memória faz conviverem os rivais, em clima de construção do amor, onde são refeitos os laços de fraternidade e de cooperação. Após cada reencarnação, quando o Espírito entrega o corpo biológico ao solo, retorna ao seu estado original, o de vida nos mundos dos Espíritos. Aí, terá a colheita da semeadura, realizada durante a reencarnação. Em havendo êxito na restauração ou na aplicação dos princípios ensinados por Jesus, objeto de sua programação reencarnatória, se sentirá feliz. Se não houve êxito, sofrerá, por não ter vencido; sofrerá, pela falta de serenidade, de paz e de harmonia; sentirá vergonha, pelo defeito íntimo não vencido. A Justiça Divina é a da Educação e da oportunidade de aprender a refletir a luz do Supremo Senhor.

filosóficas que, em princípio, esposam o dever no bem? Certamente, fazemos isso por negligenciar nossa atenção, cedendo às conveniências sociais ou, mesmo, aos condicionamentos profundos, arraigados a nossa natureza ainda primária. É fato, nossos hábitos de homens velhos, muitas vezes, falam mais alto dentro de nós, e repetimos palavras bonitas, bons sermões; no entanto, com o coração distantes do Evangelho. Quando o mestre sugere que oremos e vigiemos é, justamente, para que o “homem velho”, com seus velhos vícios seja sepultado nos porões do passado, dando forma ao novo ser, Espírito renovado, em nova carapaça carnal, não obstante, também, em cada escolha no caminho evolutivo. Fiquemos atentos, sempre. É preciso cuidar da renovação interior, para que esse “homem novo” cresça, definitivamente para alto da montanha espiritual. A busca do entendimento de si mesmo, percebendo-se, através do autoconhecimento, é o único meio de enxergar os vícios que temos e substituí-los por virtudes. Nesse mister, a prática do amor, a caridade viva é a única possibilidade de levar esse homem ao que Jesus chamou de Reino dos Céus. Procuremos, portanto, amar a Jesus, com atitudes evangelizadas, não nos permitindo nos limitar as belas palavras vãs. Que Jesus seja nosso guia e modelo!

março/abril • Tribuna Espírita • 2015 9


Reflexões de um Espírita Médico GUILHERME TRAVASSOS SARINHO João Pessoa-PB

Chico Xavier

N

ão seja egoísta. O egoísmo é um dos grandes males do caráter humano. O egoísta é um ser primário, na moralidade. É um ser ingrato, interesseiro, individualista, personalista, calculista, egocêntrico. Deveria morar, solitário, em uma ilha desabitada. Via de regra, é um aproveitador e explorador da sociedade. Comete injustiças, para se beneficiar; é um ser perturbado, espiritualmente. Helena Petrovna Blavatsky, filósofa e teósofa russa,

10 Tribuna Espírita • março/abril • 2015

há mais de um século, dizia: “O egoísmo é um edifício humano, cujas janelas e portas estão escancaradas para toda espécie de iniquidades que entra na alma”. O egoísta é um doente da alma, normalmente odiado, antipatizado, perturbado e solitário, no meio da multidão. O ser humano não nasceu para ser egoísta. A finalidade do homem, na Terra, é ser bondoso, caridoso, altruísta, abnegado e generoso, pois esta é base da evolução, como ser espiritual. A Doutrina Espírita, através do insigne Allan Kardec, explicita muito bem: “O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade é a fonte de todas as virtudes”. (O Livro dos Espíritos, Questão 917, Notas explicativas, “in fine”.) Segundo a Física Quântica, o tempo, talvez, nem exista. Mas não o jogue fora. Aprenda a valoriza-lo, em todos os momentos. Use-o, com sabedoria, sem, no entanto, dele se tornar escravo. Aprenda a dar valor ao milagre das horas. Há tempo, para tudo: trabalho, aprendizado, meditação, repouso, diversão, ajuda ao próximo. O tempo perdido é como as águas de um rio: depois que passa, não mais retorna. Ninguém se banha, duas vezes, nas mesmas águas de um rio, já ensinava, há mais de dois mil anos, o filósofo grego Heráclito de Éfeso. Não seja ocioso e não perca o seu tempo. Aproveite-o, bem, enquanto pode, e não deixe o que, hoje, planejou fazer, para

amanhã. O amanhã, talvez, nunca chegue. Não valorize, demais, as coisas materiais, as coisas terrenas. Na medida certa, elas são úteis e necessárias, mas não trabalhe e viva, só, em função delas. Viva, em função de você mesmo, de sua família, de seus amigos. Viva, para si e para eles. Valorize, mais, o amor e a amizade, no seu conceito maior: o amor fraternal que tudo vige e tudo supera. As coisas materiais, mundanas, são transitórias. Só o amor e os bons atos, praticados na vida, seguem, conosco, no post-mortem para a dimensão espiritual. Faça, do seu lar, a base de onde você possa reabastecer de energias saudáveis as “baterias” do corpo e do espírito, para retornar, com alento, ao trabalho, e faça, do trabalho, uma terapia de vida, de liberação do estresse, de onde você possa retornar ao lar, com alegria e ânimo, consciente do dever cumprido. Ninguém sofre, sem merecer. Pode-se, até, sofrer, sem conhecer a causa do sofrimento, mas, não sem merecer. A Natureza é perfeição e Deus, o Senhor dos Mundos é fonte de amor e justiça. A doença que se manifesta, hoje, sob qualquer faceta, em alguém, é ganho do presente (vida atual) ou do passado (vidas pretéritas). Ninguém paga o que não deve; mas, ao contrário, pagará o débito, até o último ceitil, ensinava, há dois mil anos, o Mestre de Nazaré (


Mateus 5:26 e Lucas 12:59 ). A Doutrina dos Espíritos, codificada pelo incomparável professor Alan Kardec, no século dezenove, esclarece, muito bem. É uma Lei Universal. “Lei de Causa e Efeito”, também conhecida, como “Lei da Causalidade”. É a sexta lei da milenar “Sabedoria Hermética” e um dos postulados da Doutrina Espírita, que ensina: “Todo efeito tem uma causa. Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente. O poder da causa inteligente está na razão da grandeza do efeito”.(“Revue Esprit”, Paris, jan/1858). O amor é a estrutura-base do Universo. Tudo, nele, está alicerçado no amor. Deus, em seu conjunto, em sua totalidade, é Amor. Por isso, o amor é tão forte, tão poderoso, tão imbatível. O amor vence o ódio, a desarmonia, a violência, as guerras. Une os homens e leva à paz. Infelizmente, ainda hoje, há gente de todos os níveis sócio-culturais que não atingiu o patamar mínimo da espiritualização, da iluminação, do amor ao próximo e vive digladiando-se, dentro e fora do lar, nas furnas do primarismo do espírito, como se, ainda, estivesse na antiga Roma dos Césares, nas Legiões Romanas, nas intrigas palacianas, nas lutas de gládio do Coliseu. Milhões há, mundo afora, em pleno século vinte e um, que não conseguem crescer moralmente, espiritualmente, que vivem, ainda, nas trevas e não conseguem ver a luz e nem aprenderam o significado do amor amplo, fraterno, cósmico. Na estrada da evolução, ninguém fica, definitivamente, para traz. Um dia, os atrasados, os desgarrados, também, chegarão para verem o esplendor da Luz e assimilarão o amor que estrutura o Universo. Até, a Roma do gládio, da crucificação, das feras sedentas de sangue, das atrocidades, evoluiu. O próprio nome, Roma, é amor, ao contrário. Não se prenda ao passado. No Universo, tudo vive e se renova. Tudo é dinamismo, tudo é evolução. Abra a sua mente ao progresso, às ideias novas e renovadoras. Tudo, na Natureza, é estruturado na mudança. Use o passado, como experiência de vida, como aprendizado e deixe a vida seguir seu curso. Siga, adiante, se renove, se atualize e se modifique, para melhor. Eduque-se. Aprenda a atender as pessoas do seu ciclo de amizade, do seu relacionamento, do seu trabalho, com polidez, com gentileza, com atenção. Você, só, tem a ganhar. Evite os atendimentos ríspidos, grosseiros, estressantes, porque provocam descargas súbitas de hormônios que, só, causam doenças. O atendimento cortês, educado, amigável, mantém o seu corpo e o ambiente, em harmonia, e torna você uma figura simpática, querida e amiga. Como médico, há muitos anos, aprendi que é muito menos estressante atender bem, do que atender mal. Na convivência harmoniosa, todos ganham e o primeiro beneficiado é você.

Alex Carrel HÉLIO NÓBREGA ZENAIDE João Pessoa-PB

O

Dr. Alex Carrel, Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia, ao ser convidado para dirigir o Departamento de Pesquisa da Fundação Rockefeller, decidiu realizar uma pesquisa sobre o poder da oração na cura dos doentes. Os resultados da pesquisa foram comentados no seu livro “La Prière” (A Oração), traduzido para o português pelo professor Eduardo Pinheiro e editado pela Livraria Tavares Martins, de Porto, Portugal. Ele informa que a pesquisa comprovou que a oração provoca efeitos psico-fisiológicos nos doentes: “A oração atua sobre o espírito e sobre o corpo, por uma forma que parece depender da sua qualidade, da sua intensidade e da sua frequência”. “Quando a oração é habitual e verdadeiramente fervorosa, a sua influência torna-se mais manifesta, e podemos compará-la à de uma glândula de secreção interna, como, por exemplo, a tiróide ou a suprarrenal. Consiste numa espécie de transformação mental e orgânica, transformação essa que se opera por uma forma progressiva. Dir-se-ia que, no mais profundo da consciência, se acende uma chama. O homem vê-se, tal qual é. Põe a descoberto o seu egoísmo, a sua cupidez, os seus juízos errados e o seu orgulho. E, então, verga-se ao cumprimento do dever moral, procurando adquirir humildade intelectual. Assim, se abre perante ele o reino da graça. Pouco a pouco, vai-se produzindo um apaziguamento interior, uma harmonia de atividades nervosas e morais, uma maior resignação perante a pobreza, a calúnia e as canseiras, bem como a capacidade de suportar, sem enfraquecimento, a perda dos seus, a dor, a doença e a morte. Por tal motivo, o médico que vê o seu doente orar deve se regozijar com isso, pois a calma

proveniente da oração é uma poderosa ajuda para a terapêutica”. “A oração, segundo parece, eleva os homens acima da estatura mental que lhes pertence, de harmonia com a sua hereditariedade e a sua educação. Esse contacto com Deus impregna-os de paz. E a paz irradia deles. E levam a paz para toda a parte para onde vão. Infelizmente, não há, hoje em dia, senão um número ínfimo de indivíduos que sabem orar, de uma maneira eficiente”. O Dr. Alexis Carrel, através da equipe médica da pesquisa, comprovou, claramente, que a oração tem efeitos curativos: “A oração tem, por vezes, um efeito que podemos chamar, de explosivo. Há doentes que têm sido curados, quase instantaneamente, de afecções tais, como o lúpus facial, câncer, infecções renais, tuberculose pulmonar, tuberculose óssea, tuberculose peritoneal, etc.” “Este conjunto de fenômenos nos conduz, para um mundo novo, cuja exploração não foi ainda iniciada, mas que há de ser fértil em surpresas. O que sabemos já, por forma segura, é que a oração produz efeitos palpáveis”. Afirma Alexis Carrel que os remédios surtem melhor efeito, e de modo mais rápido, nos doentes que têm fé e oram. E que os processos de cicratização, nos doentes que a têm e oram, são muito mais velozes. “É, pela oração, que o homem vai até Deus e que Deus entra nele”. “O homem tem necessidade de Deus, como tem necessidade de água, de alimento, de oxigênio”. Se você tem alguma enfermidade, mesmo estando entregue aos cuidados dos médicos, ajude-se a si mesmo e ajude aos médicos: converse com Deus. Deus, Nosso Pai, nos abençoe.

março/abril • Tribuna Espírita • 2015 11


Política Divina “Eu, porém, entre vós, sou como aquele que serve.” -

Jesus. (Lucas, 22:27.)

O

discípulo sincero do Evangelho não necessita respirar o clima da política administrativa do mundo para cumprir o ministério que lhe é cometido. O Governador da Terra, entre nós, para atender aos objetivos da política do amor, representou, antes de tudo, os interesses de Deus junto do coração humano, sem necessidade de portarias e decretos, respeitáveis embora. Administrou servindo, elevou os demais, humilhando a si mesmo. Não vestiu o traje do sacerdote, nem a toga do magistrado. Amou profundamente os semelhantes e, nessa tarefa sublime, testemunhou a sua grandeza celestial. Que seria das organizações cris12 Tribuna Espírita • março/abril • 2015

tãs, se o apostolado que lhes diz respeito estivesse subordinado a reis e ministros, câmaras e parlamentos transitórios? Se desejas penetrar, efetivamente, o templo da verdade e da fé viva, da paz e do amor, com Jesus, não olvides as plataformas do Evangelho Redentor. Ama a Deus sobre todas as coisas, com todo o teu coração e entendimento. Ama o próximo como a ti mesmo. Cessa o egoísmo da animalidade primitiva. Faze o bem aos que te fazem mal. Abençoa os que te perseguem e caluniam. Ora pela paz dos que te ferem. Bendize os que te contrariam o coração inclinado ao passado inferior. Reparte as alegrias de teu espírito e os dons de tua vida com os menos afortunados e mais pobres do caminho. Dissipa as trevas, fazendo brilhar a tua luz. Revela o amor que acalma as tempestades do ódio.

Mantém viva a chama da esperança, onde sopra o frio do desalento. Levanta os caídos. Sê a muleta benfeitora dos que se arrastam sob aleijões morais. Combate a ignorância, acendendo lâmpadas de auxílio fraterno, sem golpes de crítica e sem gritos de condenação. Ama, compreende e perdoa sempre. Dependerás, acaso, de decretos humanos para meter mãos à obra? Lembra-te, meu amigo, de que os administradores do mundo são, na maioria das vezes, veneráveis prepostos da Sabedoria Imortal, amparando os potenciais econômicos, passageiros e perecíveis do mundo; todavia, não te esqueças das recomendações traçadas no Código da Vida Eterna, na execução das quais devemos edificar o Reino Divino, dentro de nós mesmos. Do livro “Vinha de Luz”, pelo Espírito Emmanuel (psicografado por Francisco Cândido Xavier), editado pela FEB.


O Espírita e os Problemas Políticos Atuais

PEDRO CAMILO Salvador-BA

C

omeçarei o texto esclarecendo que, nas últimas eleições, não votei nem em Aécio, nem em Dilma. Aliás, eu sequer votei, tendo em vista que, tanto no primeiro, quanto no segundo turno, estive impedido de comparecer ao local de votação por estar em viagem. E, caso tivesse votado, não o faria em qualquer dos dois. Entretanto, para além de opção política ou de qualquer partidarismo, na condição de espírita e cidadão, não posso fechar os olhos para os fatos sociais, políticos e econômicos que assolam nosso país. Denúncias de corrupção, desvios de verbas públicas, manifestações populares e movimentação no meio virtual têm preenchido a pauta no nosso dia-a-dia, razão pela qual precisamos refletir sobre eles. É, perfeitamente, legítimo e, porque não dizer, inevitável, que o espírita participe da vida política de seu país, estado ou município. A condição de espírita, longe de liberar-nos das necessidades da vida física, mais nos torna responsáveis diante delas, por compreendermos que “vida na matéria”/“vida fora da matéria” são dois aspectos de uma mesma realidade – a do Espírito imortal, que pré-existe ao corpo e sobrevive à sua morte e que, sendo um ser responsável, carrega consigo o que é e o que realiza e realizou, em seu próprio benefício e em benefício da coletividade. Assim, tudo é espiritual, mudando, tão somente, a forma de manifestação. Nesse sentido, precisamos refletir sobre a maneira como devemos exercer esse papel de cidadãos, se as luzes que o conhecimento espiritual devem mudar,

não somente, o nosso modo de ver, mas também o de compreender e lidar com as problemáticas sociais. Certamente, temos todo o direito – e o dever – de sentir indignação, diante das injustiças, das violações e do que avaliarmos como impróprio, indo às ruas pedir mudanças, clamando por transformações nas redes sociais ou nas rodas de amigos, bem como no meio profissional ou no próprio lar. Contudo, devemos nos preservar do clima de ódio, de desesperança e de julgamento sumário que vem se abatendo sobre grande parte de nossos compatriotas. O Espiritismo nos ensina a compreender e amar (ao menos tentar) aqueles que se encontram distantes da “verdade”. Fazemos esse exercício com os familiares, os colegas de trabalho, os “amigos” distanciados e, mesmo, com os obsessores mais empedernidos. Por que agiremos de modo diferente, com os que ocupam cargos políticos? Ensina-nos, ainda, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, que a fé é “mãe da esperança e da caridade”. Como, então, justificarmos discursos que lançam descrença e descrédito em um futuro melhor, mais digno e mais humano, de mais respeito e solidariedade? O “não julgueis” da recomendação do Cristo deve ser entendido, também, como alerta, para não nos precipitarmos diante daquilo que, nada obstante todo alarde, não foi suficientemente discutido e provado, segundo as leis humanas. E, ainda conforme as leis humanas, cabe a elas e às Instituições Públicas o poder de persecução criminal e aplicação das devidas

sanções, em sendo o caso, e às Leis Divinas alcançar os que, só aparentemente, permaneçam impunes. Ou não é exatamente esse o discurso com que recebemos os mais odientos obsessores com que topamos nos misteres mediúnicos? Para não ser compreendido de forma errada, volto às afirmações iniciais: temos todo o direito – e o dever – de estar indignados, de pugnarmos por mudanças e de manifestarmos nossos sentimentos, quanto às questões sociais, políticas e econômicas que nos assolam. Todavia, o dever de cristãos nos traz o dever de não esquecer o respeito que devemos ter pelo outro, sobretudo por aqueles que, democraticamente, ainda que contra a nossa opção, ocupam cargos públicos e levam, consigo, a grave responsabilidade de conduzir os rumos da nossa nação. Daí porque é preciso pensar a forma que se tem dado a tanta insatisfação. Deixar-se mergulhar no sentimento de ódio, além de não resolver o problema, cria, para si e para a coletividade, uma onda de energias e vibrações negativas, cuja repercussão pode significar mais desequilíbrio e mais desarmonia, íntima e social. O papel do espírita deve ser proativo, no sentido de questionar, discutir, agir e produzir o melhor, mas, também, o de dar sustentação a governantes e governados, através da prece, do desejo sincero de mudança, da fé em dias melhores e do compromisso ético de sermos, nós mesmos, melhores do que somos, praticando a pauta que tanto reclamamos de nossos dirigentes políticos: a honestidade e o amor ao próximo.

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MIEP – Movimento de Integração Espírita na Paraíba SUCESSO ABSOLUTO

E

spíritas de Campina Grande se congratulam pelo sucesso da 42ª edição do Movimento de Integração Espírita na Paraíba (MIEP), evento religioso mais antigo realizado no período de carnaval. Um evento que caminha, inovando a cada ano, obtendo sucesso de público e de satisfação de seus participantes. Iniciou no ano de 1974, como inspiração de um jovem acadêmico de medicina, Alexandre Magno Pimentel, que concretizou a ideia na companhia de Paulo Robson, Ana Florindo, Silvio Nery, Antônio de Lima, José Nicolau de Araujo, apoiados pelo presidente da então Liga Espírita Campinense, hoje, AME-CG, quando, na oportunidade, buscavam uma alternativa de ocupação para o período das festividades do carnaval, já que, naquela época, a cidade ficava muito agitada. O primeiro MIEP aconteceu, no “Centro Espírita Varões do Senhor”, com incentivos morais e financeiros dos Srs. Luiz Tavares, Chico e Creuza, da UFE. Estes, que idealizaram o MIEP, não deslumbravam a importância de um evento, que se iniciou singelo, mas de grande magnitude, como farol que leva luz aos timoneiros da escuridão, na busca de uma praia serena e frutífera da paz interior, 14 Tribuna Espírita • março/abril • 2015

Mesa de Abertura

balizados no Evangelho do Mestre Jesus e esclarecimentos pelos princípios da Doutrina Espírita, como projeto espiritual a iluminar almas sedentas de felicidade. Organizado pela AME-CG - Associação Municipal de Espiritismo de Campina Grande, sob a tutela da Coordenadoria Espírita da Borborema e da Federação Espírita Paraibana, o MIEP se efetiva, com

o apoio direto e operacional das instituições espíritas da cidade. O Encontro foi realizado no Colégio Estadual da Prata, com uma programação extensa e diversificada que durou cinco dias, desde a sexta feira (13 fev) até a terça (17). Sua abertura (veja foto) se fez com um seminário do maior tribuno espírita da atualidade, Divaldo Pereira Franco


Divaldo Franco e Ivanildo Fernandes (segundo plano)

Pedro Camilo

Delegação do C. E. Leopoldo Cirne (João Pessoa-PB)

Alberto Almeida

que, por quase três horas, versou sobre o tema: “Vida, Desafios e Soluções”. Antes da apresentação de Divaldo, houve uma cerimonia especial da Câmara Municipal de Campina Grande, na qual os edis campinenses entregaram o título de cidadão campinense ao nobre tribuno. A proposição para a homenagem foi do vereador Joseildo Alves (Ga-

Marcel Mariano

lego do Leite, PMN), que usou, como argumento, o fato de Divaldo ter ajudado Campina Grande a se projetar no cenário nacional, como polo de eventos religiosos, através de reiteradas vindas à cidade e, também, por ter apoiado a fundação da “Nova Consciência”, proferindo, na ocasião, a conferência de abertura. O vereador destacou que “Campina

tem uma importante contribuição a dar ao paradigma de tolerância religiosa que se busca internacionalmente. A cidade acolhe, há mais de vinte anos, eventos religiosos de várias denominações e Sr. Divaldo nunca se negou a vir à cidade, seja para falar aos espíritas, seja para falar na “Nova Consciência”, sem fazer discriminação alguma; ao contrário, promovendo a paz e a tolerância”. O evento transcorreu, nos demais dias, com diversos seminários e palestras públicas, proferidas por diversos expositores de renome nacional, dentre eles destacam-se: o professor Luiz Cláudio Costa (DF), atual Ministro interino da Educação e Cultura, o terapeuta Alberto Almeida (PA), internacionalmente conhecido por seus livros sobre o perdão e sobre as relações afetivas; André Luiz Peixinho (BA), médico, psicólogo, filósofo e presidente da Federação Espírita da Bahia; Denise Lino de Araújo (PB), professora da UFCG, evangelizadora e presidente da Sociedade Espírita Joanna de Ângelis; Geraldo Campetti Sobrinho (DF), coordenador de publicações e diretor da FEB; o médico e psiquiatra e psicoterapeuta Leonardo Machado (PE), Marcel Mariano (BA), expositor da Federação Espírita da Bahia; Pedro Camilo (BA) escritor, médium e trabalhador do Núcleo Espírita Telles de Menezes e, ainda, Sandra Maria Borba, da Federação Espírita do RN. O encerramento na terça-feira (dia 17), ficou por conta de André Luiz Peixinho, com o tema “Jesus e a felicidade perfeita do Reino dos Céus”, com o ginásio completamente lotado. A programação, constou, ainda, de atividades para crianças e jovens, com o “Espaço Adolescente” e o “Miepinho”, as quais colaboraram para se ter maior abrangência de público em todas as faixas etárias, formando um verdadeiro banquete espiritual. Naquela atmosfera de festa espiritual, Divaldo Franco confirmou sua participação para a edição de 2016, na qual fará a palestra de abertura do próximo MIEP; na sexta feita, e no sábado pela manhã, um seminário. Para o 43º MIEP, que ocorrerá de 05 a 09 de fevereiro de 2016, foi definido, como tema central, “Brasil − Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, em alusão à obra de Humberto de Campos e Chico Xavier. Estão confirmadas as presenças de Divaldo Franco, Haroldo Dutra Dias, Frederico Menezes, Severino Celestino, Juselma Maria Coelho, Pedro Camilo, Simão Pedro, André Luiz Peixinho, Luiz Hu Rivas e Rossandro Klinjey. Se você desejar, adquira os DVDs das palestras e seminários deste ano e dos anteriores. Veja como fazer, no site da AME www.ame.miep.com.br e, ainda, confira a programação e mais detalhes do MIEP 2016, a partir do mês de junho próximo. março/abril • Tribuna Espírita • 2015 15


Amar, além... IGOR MATEUS Natal-RN

A

mor, eis o grande desafio das nossas vidas, e a razão maior de estarmos reunidos nesse orbe terrestre. O sentido da Vida. A nossa grande busca. Podemos entender a nossa jornada evolutiva, como uma jornada para a aquisição deste sublime sentimento e da sua vivência em plenitude: viver o amor em um nível crístico, conforme exemplificado pelo nosso grande Mestre, Jesus de Nazaré. Ele é o nosso professor; nós somos os alunos, matriculados na “Escola da Vida”, nesse processo de aprendizado, esforçando-nos, a cada dia na conjugação do Verbo Divino: Eu amo? Tu amas? Ele ama? E nós, amamos? Acontece que, quais crianças na escola, titubeamos; erramos, durante o nosso processo de aprendizado, confundimos... E, isso é, perfeitamente, natural, especialmente quando consideramos o nosso nível de infância espiritual, aliado ao desafio da lição a ser apreendida? E, amar, como já dissemos, ainda se nos apresenta, por isso mesmo, como um grande desafio. Isso, porque o nosso modo de amar, ainda, é recheado pelas nossas imperfeições. Amamos aqueles que nos amam. Por esses, somos capazes de entregar a nossa própria vida, se preciso for. Porém, amar em plenitude, amar, nesse nível crístico, é fazer mais; é ir muito além. Para passar, com louvor, na disciplina do amor, precisamos nos superar! E o Mestre dos mestres, tal como fazem os grandes professores, durante o seu messianato terreno, já nos lançava o desafio: “Ouvistes que foi dito: ‘Amarás o teu

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próximo’ e ‘Odiarás o teu inimigo’. Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para que vos torneis filhos do vosso Pai, [que está] nos céus, já que seu sol desponta sobre maus e bons, e cai chuva sobre justos e injustos. Pois, se amais os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem o mesmo os publicanos? E se saudais somente os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem também os gentios o mesmo? Portanto, sede vós perfeitos, como é perfeito vosso Pai Celestial. ” (Mateus, 5:43 a 48) Amar os inimigos. Nossa! Mal conseguimos amar, verdadeiramente, os nossos amigos, os nossos entes queridos. Como dissemos, ainda, confundimos tanto esse nobre sentimento, com paixão, com posse, com exclusivismo... Como ir além e estender a nossa devoção àqueles que, ainda, não conseguem nos retribuir da mesma maneira, sendo, portanto, incapazes de nos amar de retorno? Uma resposta lógica a que a Doutrina Espírita nos conduz, com os seus ensinamentos, é: Porque são esses os ditos nossos inimigos, nossos desafetos, nossos adversários, aqueles que mais necessitam de nosso amor. Às vezes, o ódio nada mais significa que um grito desesperado de alguém que, de uma maneira meio equivocada, nos clama: AME-ME! O espírita, esclarecido pelas luzes do Consolador Prometido por Jesus, e pelos muitos “professores de reforço do Além”, tem muitos mais motivos de

indulgência, para com os inimigos. O mestre lionês, Allan Kardec, no capítulo XII, item 5 de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, nos diz: “Ainda outros motivos tem o espírita para ser indulgente com os seus inimigos. Sabe ele, primeiramente, que a maldade não é um estado permanente dos homens: que ela decorre de uma imperfeição temporária e que, assim como a criança se corrige dos seus defeitos, o homem mau reconhecerá um dia os seus erros e se tornará bom.” Outra razão, apontada pelo Espiritismo, para nos incentivar a prática da lição de Jesus é o fato de sabermos que a vida é muito mais que uma simples existência terrestre, e que essas “inimizades” não se acabam com a morte do corpo físico, mas, muito ao contrário, perpetuam-se no além-túmulo, gerando conflitos e processos obsessivos de variadas espécies, reclamando reajuste mútuo de seus protagonistas. E esses ditos “obsessores” não sãos em nadas diferentes de nós. Na grande maioria das vezes, o algoz do presente nada mais é do que uma vítima do passado; alguém que amou e não foi correspondido e que, agora, nos cobra, com juros, os efeitos da ausência desse amor. De modo, que as palavras do Cristo permanecem ecoando em nossas mentes e corações, advertindo-nos: “(...) assim como vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros. ” (João, 13:34 a 35)


Afirma, então, o Codificador, no mesmo capítulo anteriormente mencionado do Evangelho, e no item seguinte: “Pode-se, portanto, contar inimigos assim entre os encarnados, como entre os desencarnados. Os inimigos do mundo invisível manifestam sua malevolência pelas obsessões e subjugações com que tanta gente se vê a braços e que representam um gênero de provações, as quais, como as outras, concorrem para o adiantamento do ser (...)” Isso mesmo, leitor amigo, provas que a escola da vida nos oferece, para que internalizemos as inesquecíveis lições do Mestre de Nazaré, e que, com os esclarecimentos espíritas, reforçam a nossa necessidade de amar mais e mais, e ir além, para estender esse amor, principalmente, àqueles que mais necessitam dele. Somente assim, passaremos com louvor na disciplina do Amor! Enquanto não decidirmos colocar em prática a desafiadora recomendação de amar os nossos inimigos, não somente, estaremos adiando o nosso progresso, bem como, o dos nossos próprios desafetos, encarnados ou desencarnados, perpetuando, com isso, os sentimentos do ódio, da discórdia e do desejo de vingança, que nada mais representam, senão a ausência do amor, a escuridão que se instala, pela carência da luz. E, na condição de desencarnados, esses chamados “inimigos do passado” estarão em condição de vantagem, uma vez dissociados das limitações que o corpo físico impõe, tornando-se obsessores que funcionarão, conforme nos esclarece o Evangelho, como “instrumentos da Justiça de Deus”, a nos lembrar, de uma maneira dolorosa, o quanto ainda precisamos nos melhorar e aprender a amar. Mas, um dia, nem que seja constrangidos pelo cansaço de sofrer e padecer sob o guante da dor purificadora, ouviremos a voz compassiva e doce do Divino Rabi da Galiléia a ecoar, dentro de nós, convidando-nos: “Reconciliai-vos o mais depressa possível com o vosso adversário (...)” (Mateus, 5:25) Isto, porque o amor é o nosso grande destino, a grande fatalidade do Universo. Dia virá, em que amaremos, no quilate do Amor que Jesus Cristo tem por cada um de nós, e depende, só de nós, fazer com que esse futuro chegue, o mais depressa possível, sendo os melhores alunos que pudermos ser, e nos dedicando, ao máximo, no aprendizado das lições do Evangelho, que se tornam mais abrangentes e belas, a partir das luzes desta maravilhosa Doutrina Espírita. O Espiritismo, nada mais, é do que a revivescência da própria mensagem de Jesus, cuja essência do ensino é um convite cotidiano a que nos amemos, cada vez mais e mais, e além...

O Sacrifício mais Agradável a Deus MAURO LUIZ ALDRIGUE João Pessoa-PB

“Portanto, se estás fazendo a tua oferta diante do altar, e te lembrares aí que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali a tua oferta diante do altar, e vai te reconciliar, primeiro com teu irmão, e, depois, virás fazer a tua oferta.” (Mateus, V: 23 e 24)

A

lçar o olhar para além da vida material é a dimensão que se demonstra aos seres humanos, para a compreensão de sua verdadeira vida. A ciência vem trazendo desafios às mentes mais brilhantes da humanidade, em todas as épocas, para compreender as relações, as leis, os fenômenos que envolvem o homem e a natureza, e tem oferecido vastos conhecimentos de como o ser humano pode usufruir de sua estrutura e natureza, para melhorar o seu conforto e bem-estar. Ainda hoje, estamos sendo desafiados pelas necessidades básicas da vida: a água, a energia e o alimento. O que dizer dos cerca de 800 milhões de seres humanos que estarão à beira da desencarnação, por falta de alimento? O que dizer de milhões que não dispõem de água e de água de qualidade? Para todos estes, isto é um sacrifício? Seria um sacrifício agradável? Agradável a Deus? Então, há sacrifícios de seres humanos que não conhecem Deus e, também, não dispõem dos bens básicos às suas vidas? Como justificar esse tipo de qualidade de vida, distribuído pela Terra? Seria assim, simplesmente, abster-se de elementos essenciais, por um período

ou por toda a vida, que estaríamos sendo gratos e agradando a Deus? Sabendo-se que a vida não é, somente, a vida material e que, mesmo com todo o sacrifício a que o ser humano está submetido, em maior ou menor grau, invitando todos os seus esforços e conhecimentos, acumulados durante milênios, para construir uma vida saudável e feliz; ainda assim, esse não é o sacrifício que é agradável a Deus. Ainda que procure, nas hostes religiosas, o empenho de suas ações, visando compreender as Leis Divinas, está, na essência do ser, o alcance de sua superação, para demonstrar e oferecer à vida a superação de suas mazelas. Não é, através de qualquer sacrifício material, que se reparará um mal endereçado a outro ser humano; mas sim, aquele que superar os próprios ressentimentos, o exercício do perdão aos outros: “reconcilia-te, primeiro, com teu irmão...” e reparar o mal executado. O verdadeiro cristão não oferece prendas materiais, promessas, conchavos com a Divindade; pois, que espiritualizou o sacrifício. Oferecendo sua alma a Deus, deve apresentá-la purificada. Ao entrar no templo do Senhor, deve deixar, lá fora, todo sentimento de ódio e de animosidade, todo mau pensamento contra seu irmão, é o que Jesus ensina: “(...) deixa, ali, a tua oferta diante do altar, e vai te reconciliar, primeiro, com teu irmão...”, − se queres ser agradável a Deus. Este é o sacrifício que aquece a alma, acomoda os sentimentos, pacifica a mente e fortalece o coração; porquanto, ao restabelecer o equilíbrio fraterno, favorece a compreensão da justiça, da misericórdia e do verdadeiro sentimento cristão!

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Fé WALKÍRIA LÚCIA DE A. CAVALCANTI João Pessoa-PB

“Quando ele veio ao encontro do povo, um homem se lhe aproximou e, lançando-se de joelhos a seus pés, disse: Senhor, tem piedade do meu filho, que é lunático e sofre muito, pois cai muitas vezes no fogo e muitas vezes na água. Apresentei-o aos teus discípulos, mas eles não o puderam curar. Jesus respondeu. dizendo: Ó raça incrédula e depravada, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-me aqui esse menino. - E tendo Jesus ameaçado o demônio, este saiu do menino, que no mesmo instante ficou são. Os discípulos vieram então ter com Jesus em particular e lhe perguntaram: Por que não pudemos nós outros expulsar esse demônio? – Respondeu-lhes Jesus: Por causa da vossa incredulidade. Pois em verdade vos digo, se tivésseis a fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta montanha: Transporta-te daí para ali e ela se transportaria, e nada vos seria impossível.” ( MATEUS, cap. XVII, vv. 14 a 20.) A princípio, iremos definir a fé como a paciência que sabe esperar. Pois faz que a criatura tenha confiança em Deus e nas Suas Leis. Não, uma confiança inoperante, mas uma confiança que dá tranquilidade e esperança, acreditando que as Leis Divinas se cumprem. Além de o próprio “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. XIX, temos, como ponto de apoio para análise temática, o livro “Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda”, da autora espiritual Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Franco. A fé se expressa, mediante a confiança que o Espírito adquire em torno de algo. Pode se apresentar natural, adquirida ou procedendo de vivências transatas. Natural, se expressa de forma espontânea, simples, destituída de reflexão ou de exigência racional, característica normal do ser humano. Adquirida, é conquista do pensamento que elabora razões para estabelecer os seus parâmetros e manifestar-se. Procedendo

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de vivências transatas, quando o Espírito enfrentou situações e circunstâncias que foram experienciadas, deixando os resultados dos métodos utilizados para superá-las. Kardec destaca, na parte final do item 7 do citado capítulo do “ESE: “Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade.” Nós, seres humanos, não nos constituímos, somente, de um conjunto organizado de carne; possuímos um Espírito que pré-existe e sobrevive à encarnação atual. A criatura humana não se contenta mais, com artigos de fé sem explicação. Procuramos desenvolver o conhecimento; mas que este esteja alicerçado em bases verdadeiras, corretas. Que, antes de sermos tocados no sentimento, sejamos tocados na razão; por isso, que a fé cega não deve fazer parte da vida daqueles que se dispõem a abraçar a Doutrina Espírita, como doutrina salvadora de almas. E, aqui, o termo salvadora não está sendo utilizado no aspecto de salvação sem esforço; mas, de encontro consigo mesmo e visão real de quem somos; para, a partir daí, conseguirmos utilizar as ferramentas que existem em nós e avançarmos rumo à perfeição. “O homem de fé reconhece o limite das próprias forças e não se aventura em empresas que lhe podem comprometer a resistência, levando-o à falência moral. Por isso, há um limite entre a fé e a ação, que deve ser tido em conta, quando da tomada de decisão ante o que fazer ou deixar de realizá-lo.” É muito interessante a forma como o Joanna de Ângelis aborda o assunto. Verifica-se que a demonstração de fé nada tem a ver com práticas exteriores. Deixar de comer pão irá ajudar a afinar a silhueta, mas não transformará a criatura em uma pessoa de fé. Não é crítica, com relação a quem faz isso, mas uma análise de um comportamento que não nos convêm adotar. Também, os sacrifícios que, na antigui-

dade, eram humanos; depois, passaram a ser de animais, até chegarem a flores e frutos, o que, ainda, é um pensamento distorcido. O sacrifício que mais agrada a Deus é de aplacarmos o orgulho e a vaidade, ainda, tão fortes em nós. A fé raciocinada faz com que caminhemos, com segurança, diante das situações do dia-a-dia, sem fraquejarmos ou, sem antes, desistirmos da empreitada empreendida. Fazermos algo uma vez, denota esforço; mas, a empolgação nos impulsiona, também. Fazer, sempre, todos os dias, representa a avaliação judiciosa do que é melhor para nós. Quando fazemos o mal ao nosso próximo, estamos, em realidade, fazendo mal às Leis Divinas, através do outro; por isso, que a nossa vinculação de reajuste é com as leis e não com o ofendido. O que acontece é que a relação de ódio e remorso que nos une, em tal situação, se cristaliza, de tal forma, que nos vinculamos a outra criatura e acabamos por estabelecer uniões no pós-desencarne, permitindo, assim, um reajuste com as leis, através daquele a quem fizemos mal. Tudo se encadeia, perfeitamente. A fé é muito mais racional do que se imagina. O Evangelho nos diz: “(...) entende-se como fé a confiança que se tem na realização de uma coisa, a certeza de atingir determinado fim. Ela dá uma espécie de lucidez que permite se veja, em pensamento, a meta que se quer alcançar e os meios de chegar lá, de sorte que aquele que a possui caminha, por assim dizer, com absoluta segurança.(...)” Quando temos confiança em Deus, em suas leis, sabemos racionalizar os fatos e achar a melhor saída. Como temos a certeza de que ninguém foge ao cumprimento de Suas leis, e a própria experiência nos mostra que a sucessão dos fatos levará ao objetivo almejado, lembrando a fé que tem origem em vidas transatas, vemos, com calma, os fatos transcorrerem e esperamos, com paciência, a hora certa de acontecerem. Voltando àquela passagem de Mateus exposta no início, o Mestre Jesus fica defronte a um pai que vê seu filho sofrendo de pungente obsessão, na qual o espírito o submete às mais tristes situações, para levá-lo à loucura e ao desencarne. Esta situação, segundo Joanna de Ângelis, ocorre, logo após a transfiguração no Monte Tabor, em que Moisés e Elias se materializam na presença dos apóstolos. Então, Jesus e os apóstolos vinham imbuídos de tal situação e veem um pai que pedia ajuda para seu filho. Isto tocou, profundamente, o Mestre. Jesus, com a facilidade de conhecer o ser humano, não só, no que ele falava, mas principalmente, no que silenciava, compadeceu-se do jovem e daquela criatura que o envolvia nas trevas. O jovem havia cometido erros, no passado, que o vinculavam àquela criatura e esta, com o desejo de desforra,


levava-o a situações vexatórias. “Aturdido na sua insânia, não raciocinava, nem se apiedava daquele que lhe sofria a vindita, incidindo no mesmo erro de que fora vítima anteriormente.” É muito interessante o desejo da desforra, na criatura. Quando somos atingidos, temos, como primeiro impulso, o desejo de revide e, quando estamos conseguindo fazer com que tal situação chegue a seu ápice, não nos apiedamos do outro, mas somos capazes de fazer campanhas contra morte das baleias no Oceano Ártico. E muito interessante este estado de cegueira moral, em que nos encontramos, quando não raciocinamos e temos fé em Deus. O jovem, ao ser tocado pelo amor imensurável

do Mestre, arrependeu-se do que fez no passado, sendo este o primeiro passo para se libertar do mal feito. Isto fez com que ele se deslindasse do perseguidor, deixando de ser o seu hospedeiro. Ele, agora, iria trabalhar com o seu lado sombra; não, com a sombra do outro. A explicação que Joanna nos dá, sobre o fato de os apóstolos não terem conseguido afastar tal entidade é porque “ (...) para cada Espírito em sofrimento, a terapia é específica, porque não são todos da mesma classe moral, do mesmo estágio evolutivo, necessitando de variada gama de recursos para chegar-se até cada qual.” E ela conclui com relação ao fato: “Faltava-lhes fé, profundidade de confiança, para conseguirem os bons

resultados da empresa, em detrimento do esbravejamento estúrdio, da gritaria exterior a que se haviam entregado.” Nas situações mais adversas, as criaturas mais calmas são aquelas que granjeiam mais simpatia e conseguem resolver a situação, com mais facilidade. Não podemos e não devemos nos assemelhar ao bruto, já que reclamamos do seu comportamento. A presença insofismável do Mestre produziu tal estado de coisas que fez com que o Espírito se sentisse profundamente tocado. Não era a força das palavras, mas a força da moralidade e do amor do Mestre que tocou a todos, ali, presente. Não foram, só, os três vinculados à situação que foram ajudados; mas, todos os presentes.

Aproveitando o Tempo U

ma das coisas mais perturbadoras que eu conheço é a compreensão do tempo. O que é o agora, o ontem, o amanhã? Qual a visão de Deus acerca do tempo que Ele mesmo criou? Quase todos nós estamos habituados a viver o presente, antevendo o gozo dos dias que virão; dos nossos projetos; dos nossos sonhos imaginários, convivendo simultaneamente com os nossos momentos atuais... Muita coisa sequer aconteceu, e já está interferindo no nosso dia a dia... O amanhã martirizando o hoje, ou produzindo alegrias e expectativas, principalmente, quando planejamos uma viagem, por exemplo. Vendo as bonecas sem braço; os carrinhos sem roda, desprezamos nossos brinquedos e os substituímos por outros mais novos... Queremos e aspiramos novidades, esquecidos de que somos de ontem e, nem por isso, devemos diminuir o valor da experiência adquirida. Para mim, só há dois tempos: o antes e o depois; o passado e o futuro. Ninguém consegue deter o agora. E, se o momento atual é tão fugaz, por que desperdiçamos tanta energia, tentando vivê-lo, quando o que importa, mesmo, é o amanhã de paz e luz para o Espírito? O que estamos nós, fazendo para construir o ninho de amor, que aquecerá a nossa alma? As aves do céu levam gravetinhos no bico e, paulatinamente, edificam os seus castelos... Com quais tijolos estamos erguendo as paredes de nossa morada espiritual? Sabemos todos, que é, juntando os tijolinhos, que levantamos o grande edifício que nos identificará como construtores do bem. Sabemos que, para manter em perfeito funcionamento as engrenagens do nosso corpo físico, carecemos zelar por ele, para que não lhe falte equilíbrio alimentar, higiene pessoal, saúde... Sabemos, ainda, que ligado ao corpo material carregamos em nosso ego, um corpo etéreo, sutil, imperceptível ao nosso olhar comum, mas que, indiscutivelmente, necessita, também, de cuidados paralelos. É estar, ao mesmo tempo, com um olho no gato e outro

no peixe, como dizem... Porque é preciso cuidar da matéria, sem esquecer a alma. Regulemos o nosso relógio biológico, para que forneçamos, minuto a minuto, alimento para os dois corpos. Ajudando um, sem esquecer o outro. Façamos um inventário de nossas ações e verifiquemos, se estamos empanturrando um e subnutrindo o outro... Minuto a minuto, carreguemos, no bico, as luzes da alma, para iluminar o nosso porvir; para povoar o nosso amanhã com o que realizamos – aparentemente − no presente, porque, à medida que vamos concluindo etapas, elas vão se tornando passado. Façamos o bem, sem descanso, e o tempo de Deus coroará nossos dias. Desperdicemos as oportunidades e veremos o amanhã se tornar presente, infernizando nossas vidas, por dias e dias... Eu sei que nosso Pai criou o tempo e que, para qualquer mortal, tentar defini-Lo é impraticável... Mesmo assim, passou pela minha mente e pelo meu coração a seguinte definição: O tempo é a manjedoura sublime, onde Deus acalanta seus filhos. Nazaré (*) (*) Nazaré Lima de Brito. (Mensagem mediúnica recebida, por Zaneles, em 10.03.2015, na Associação Espírita Leopoldo Machado, em Campina Grande-PB) Nota da Redação: A autora da mensagem, em sua última encarnação, foi genitora do irmão Zaneles.

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O Coma e os Distúrbios da Consciência

Aspectos científicos e espirituais CARLOS ROBERTO DE S. OLIVEIRA (*) Campina Grande-PB

INTRODUÇÃO Nos últimos anos, as técnicas de ressuscitação cardiopulmonar levaram a um aumento considerável, no número de pacientes que sobrevivem a lesões cerebrais graves. Alguns pacientes se recuperam, nos primeiros dias após o acidente, enquanto outros morrem, rapidamente. Outros, no entanto, recuperam a consciência, mais lentamente, passando por diferentes estágios, antes de, total ou parcialmente, recuperarem a consciência. Os principais estados de alteração da consciência que envolvem dilemas éticos são: Coma, Estado Vegetativo Persistente, Estado de Consciência Mínima, Síndrome do Encarceramento (Locked-in) e Morte Encefálica. A palavra “Coma” vem do grego Kõma, que significa sono profundo. É um estado em que o indivíduo não demonstra conhecimento de si próprio e do ambiente, apresentando ausência ou extrema diminuição do nível de alerta comportamental, não respondendo aos estímulos externos e internos, e com os olhos fechados. (1) No Estado Vegetativo, o paciente abre e fecha os olhos, evidenciando ciclos de sono e vigília; porém, continua sem nenhuma evidência de percepção de si próprio e do ambiente, assim como não apresenta resposta proposital aos estímulos visuais, auditivos, táteis e nocivos. Após mais de um ano (nos casos de traumas) ou seis meses (outra causas), são considerados Estados Vegetativos Persistentes. No Estado de Consciência Mínima, o indivíduo é incapaz de estabelecer uma comunicação eficaz; mas, pode verbalizar e gesticular, alcançar e agarrar objetos, seguir objetos móveis e localizar sons. Esses pacientes podem recuperar, completamente, a consciência. Na Síndrome do Encarceramento, o indivíduo apresenta paralisia dos quatro membros e de alguns pares cranianos. Esses pacientes são capazes de se comunicar por movimentos oculares, denotando preservação completa das funções cognitivas. A Morte Encefálica é caracterizada pela perda irreversível de todos os reflexos do tronco cerebral e da demonstração de interrupção contínua da função cerebral e respiração, num paciente em estado de coma persistente (Laureys e Fins 2008 ).(2) Deve haver uma evidente causa do Coma, descartando os casos de hipotermia (baixa temperatura), distúrbios de intoxicação por drogas, eletrólitos e endócrinos. A ausência de atividade elétrica cerebral, por eletroencefalograma (EEG) ou a ausência de fluxo sanguíneo cerebral, pode, também, servir como testes de confirmação (Laureys et al. 2004a ).(3) 20 Tribuna Espírita • março/abril • 2015

Os pacientes, em estados alterados de consciência, apresentam grandes desafios relativos diagnóstico, prognóstico e cuidados diários. De fato, detectar sinais de consciência não é sempre fácil e, em alguns casos, eles podem passar despercebidos. COMPONENTES DA CONSCIÊNCIA Em uma abordagem clínica, a consciência envolve dois componentes principais: O primeiro: Nível ou Excitação, demonstrado pelo estado de vigília e sono, é observado, olhando-se a presença de abertura dos olhos. Em nível neuroanatômico, a excitação é sustentada, principalmente, pelo tronco cerebral (que é a região entre o cérebro e a medula espinhal) e o tálamo. O segundo componente: Conteúdo ou Conscientização, caracterizado por percepção de si próprio e do meio (Zeman 2001) (4), refere-se à percepção consciente que inclui cognição, experiências do passado e do presente, e intenções. Em nível clínico, a conscientização é, principalmente, inferida pelo comando seguinte: (Por exemplo: “apertar minha mão», «fechar os olhos»). Em nível neuroanatômico, a conscientização é sustentada pelo córtex cerebral, que é um manto fino, de massa cinzenta, que cobre a superfície de cada hemisfério cerebral e, principalmente, por meio de uma ampla rede frontoparietal. Consciência pode ser dividida em conscientização do meio ambiente e conscientização de si. A conscientização do ambiente pode ser definida, como a percepção consciente do seu ambiente através das modalidades sensoriais (por exemplo, percepção visual, auditiva, olfativa ou somestésica). A conscientização de si mesmo é um processo mental que não requer a mediação dos sentidos e não está relacionado a estímulos externos para a sua presença; também, se refere ao conhecimento da nossa própria história social e cultural e de nossos membros da família. Para estar consciente, é preciso estar acordado; mas, quando acordados, não necessariamente, somos conscientes. A consciência depende da interação entre a atividade do córtex cerebral, tronco cerebral e tálamo. Quando um desses sistemas é interrompido, a consciência fica prejudicada. (5) Se existe uma condição, em vida, considerada semelhante à morte, é o estado de coma. Nesse vazio, não haveria espaço para sentimentos, emoções, sonhos ou pensamentos. Nos últimos anos, a criação de aparelhos que flagram o cérebro em plena atividade, como os exames de neuroimagem, por Ressonância Magnética Funcional, (RMf), Eletroencefalograma (EEG) e os avanços na compreensão do funcionamento cerebral vêm


revolucionando os conhecimentos sobre o coma. Hoje, a maioria das pessoas consegue sair do estado de vazio absoluto e abre a possibilidade de recuperação de pacientes em estado vegetativo. Um estudo publicado, recentemente, na revista científica americana “The New England Journal of Medicine”, trouxe uma notícia impressionante. Sob a coordenação do neurocientista Adrian Owen, da Universidade de Cambridge, pesquisadores ingleses e belgas, esses últimos da Universidade de Liège, testemunharam a reação de um rapaz de 22 anos, em estado vegetativo, a estímulos verbais, demonstrando que pessoas, em Estado Vegetativo Persistente, podem estar conscientes, (6) evoluindo para um Estado de Consciência Mínima. Esses pacientes poderiam, principalmente através do estímulo à neuroplasticidade cerebral, recuperar, completamente, a consciência. (7) O uso de RMf e EEG, para detectar consciência e começar a comunicação com alguns pacientes sem outra forma de reatividade, abre caminho, no futuro, para o desenvolvimento de verdadeiras interfaces cérebro-computador, que transmitiriam pensamentos do paciente ao mundo externo. (8) ASPECTOS ESPIRITUAIS Os aspectos espirituais relacionados ao “Coma” e outros distúrbios da consciência estão vinculados a vários fatores: lei de causa e efeito; natureza da morte e da desencarnação; processo saúde e doença; circunstâncias relacionadas com a terminação da vida; com a finalidade do sofrimento em nossas vidas e com o nível de evolução do Espírito. Perguntado ao Espírito André Luiz, no livro “Evolução em Dois Mundos”, onde, no estado comatoso, se encontra o psicossoma do enfermo? Junto ao corpo ou afastado dele? André Luiz esclarece que: “No estado de coma, o aprisionamento do corpo espiritual ao arcabouço físico, ou a parcial liberação dele, depende da situação mental dele.” (9) Portanto, é o grau de evolução espiritual − com as provas e expiações que o Espírito precisa enfrentar, refletindo suas necessidades educativas e evolutivas − que determina sua posição mental na vida e, por sua vez, o manterá preso ou liberto, parcialmente, do corpo físico. Emmanuel, guia espiritual do médium Francisco Cândido Xavier, nos diz que “as longas moléstias são abençoados cursos preparatórios, para que nos libertemos de muitos caprichos e muitos hábitos que pertencem à vida física, mas sem significação na vida maior” (10), uma vez que, “não nos adianta solicitar a morte prematura, a pretexto de sermos fracos para carregar os benefícios do sofrimento; porque, deixar o trabalho, antes de completá-lo, nada mais seria que agravar os problemas próprios, porquanto, chegaremos, sempre, à convicção de que a mor-

te não existe, como sendo o fim de nossas preocupações e responsabilidades”. (11) QUAL O PAPEL DA FAMÍLIA? O que a família pode fazer, nestes casos? Muito. Diríamos que a família tem uma importância muito grande, na recuperação dos pacientes com alterações no nível de consciência. Ela pode oferecer apoio nos cuidados básicos: conforto e carinho, solidariedade, estímulo à comunicação, visitas frequentes e muito Amor. Estudos demonstram que o contato verbal, como conversar com os pacientes neste estado, chamá-los pelo nome, ajudá -los a acreditar na vida, trazer notícias dos familiares, etc., acelera a sua recuperação. (12) Da mesma forma, o contato não verbal, como o toque e o carinho, tanto dos profissionais como dos familiares, diminui o ritmo cardíaco dos pacientes, principalmente, quando seguram sua mão. Por último, a Espiritualidade surge, como fator de alta importância, tanto para os pacientes, como para os familiares. Estes, através de suas crenças e fé em Deus, buscam forças, para melhor compreenderem a situação e encontrarem uma forma de superar e estabelecer uma expectativa de melhora do quadro, emergindo a esperança; não só como cura, mas também, como forma de adaptação ante estes momentos de dor, angústia e sofrimento. Ao enfrentarmos essas situações aflitivas da vida, a mensagem de Amor que Jesus legou para humanidade, quando disse: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e aflitos, e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28); hoje, ampliada pela revelação espírita, aumenta nossas esperanças, ao nos proporcionar esclarecimentos sobre a fina-

lidade educativa da dor e do sofrimento, diminuindo as angústias deste momento e fortalecendo, em nossas mentes e corações, a certeza da imortalidade da alma e a continuação da vida após a morte. Referências: Rabello GD. Coma e estados alterados de consciência. In: Nitrini R, Bacheschi LA. A neurologia que todo médico deve saber. São Paulo: Atheneu; 2003. p. 143-69. Laureys S, Fins JJ (2008) Are we equal in death? Avoiding diagnostic error in brain death. Neurology 70(4):e14–e15. Laureys S, Owen AM, Schiff ND (2004a) Brain function in coma, vegetative state, and related disorders. Lancet Neurol 3(9):537–546. Zeman A (2001) Consciousness. Brain 124(Pt 7):1263–1289 Laureys S, Faymonville ME, Luxen A et al (2000b) Restoration of thalamocortical connectivity after recovery from persistent vegetative state. Lancet 355(9217):1790–1791. Monti MM, Vanhaudenhuyse A, Coleman MR, Boly M, Pickard JD, Tshibanda L, Owen AM,Laureys S. Willful modulation of brain activity in disorders of consciousness. N Engl J Med.2010 Feb 18;362(7):579–89. Epub 2010 Feb 3. Voss HU, Uluc AM, Dyke JP et al (2006) Possible axonal regrowth in late recovery from the minimally conscious state. J Clin Invest 116(7):2005– 2011. Detecting Consciousness: A Unique Role for Neuroimaging Adrian M. Owen, Annu. Rev. Psychol. January 2013. 64:109–33. Vieira W, Luiz A (Espírito). Células e corpo espiritual. In: Xavier FC, Vieira W, Luiz A (Espírito). Evolução em Dois Mundos. 7a ed. Rio de Janeiro: FEB; 1983. Capítulo XIX; p.215. Emmanuel/F.C. Xavier, Entrevistas, p. 26. Xavier, F. Cândido. Lições de Sabedoria, p.126. Puginna ACG, Silva MJP, Araújo MT. Mensagens dos familiares de pacientes em estado de coma: a esperança como elemento comum. Rev Acta Paul Enferm. 2008;21(2): 249-55. (*) O autor é Médico, Presidente da Associação Médico-Espírita de Campina Grande, membro da AME-Internacional e membro do Comitê de Ética da AME-Brasil. março/abril • Tribuna Espírita • 2015 21


Justiça U

m dia, ouvimos do Homem de Nazaré uma daquelas acepções que se tornariam antológicas. Disse-nos Ele que a nossa justiça deveria ser superior à justiça dos escribas e dos fariseus. Quando paramos para pensar nessa proposta de Cristo ou nessa determinação do Mestre temos que convir que a justiça que aqueles homens praticavam era uma justiça de conveniência. Para os amigos, tudo, para os inimigos, a lei. A partir daí começamos a verificar hoje qual é o nosso entendimento de justiça. O que significa justiça? A justiça é o ato de dar a cada um o que cada um merece. Isso seria a justiça. Então, a justiça se apoia na lei do mérito, na lei do merecimento. Mas, quando olhamos a nossa sociedade e a justiça que se vive no mundo de hoje, está bem distante da lei do mérito. Porque, em verdade, a justiça dificilmente será bem administrada, quando estiver nas mãos de criaturas ainda imperfeitas. Todo indivíduo imperfeito terá uma visão distorcida da justiça, terá uma visão imperfeita da justiça. É desse modo que nos daremos conta de que, no

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mundo em que estamos, por mais esforços façam os agentes da justiça, haverá sempre esse elemento humano intermediando as suas decisões em prol da justiça. Sem dúvida, existem agentes da justiça honestíssimos, digníssimos, mas que não podem evitar a sua dimensão humana. Enquanto há outros agentes da justiça perfeitamente mundanos. Aqueles que estão ali por causa da posição, do que ganham em termos de prestígio, em termos de ouro, em termos de dinheiro. É o mundo. Quando pensamos nessa justiça que confere a cada um aquilo que cada um merece, temos que admitir que ainda estamos distantes no mundo, do exercício de uma justiça que seja superior à dos escribas e dos fariseus. Nós próprios, as pessoas da sociedade, temos uma visão equivocada do que seja justiça. Sempre estamos em busca da justiça que nos favoreça, mas nunca da justiça que favoreça ao outro. É por isso que quando uma pessoa bate no carro do outro, foge, mas quando alguém bate no seu carro, ela quer que espere a polícia chegar para fotografar, por causa dos seus direitos. Quando ela bate, ela foge, maquia o lugar, desfaz a cena do episódio.


Começamos a perceber como o Muitas coisas que o juiz encarnaça para conosco; queremos os direinosso conceito de justiça é deturpado. do, que o juiz humano não consegue tos, mas não exercitamos a prática da Se os filhos dos outros cometerem captar, não consegue ver, só o olhar da justiça, quando se trata de beneficiar crimes, pedimos pena de morte, priDivindade pode ver. os outros. são perpétua. Jamais um juiz humano entenderá, Quantas vezes colocamos, nas nosSe os nossos familiares, se os de fato, as reais motivações que levasas festas, no apartamento, nas casas, nossos filhos cometerem o mesmo ram ou que levam uma criatura comea nossa música no maior volume, com equívoco, arranjamos um advogado ter um crime, um desatino. todos os decibéis, não nos importanespúrio, pagamos-lhe bem para que Todas as respostas que temos, nesdo se há crianças recém-nascidas, se ele inocente o nosso culpado e incrise sentido, são as respostas exteriores, há idosos cansados, doentes ou, simmine qualquer inocente que passe aquilo que a gente pode ver. plesmente, se as pessoas não querem pelo caminho. Foi a pobreza, foi a fome, foi o deouvir o nosso barulho. Tendo consciência do que fazemos, semprego, foi o desespero. Mas as raNosso critério de direito está muito isso se chama venalidade, isso se chazões profundas, a bagagem que esse equivocado. ma leviandade, que nós denominamos Espírito traz, as marcas que essa alma Nosso critério de democracia é de justiça. carrega em si, nenhum juiz humano equivocadíssimo porque temos um E quem se presta a esse papel? consegue ver. Só o Pai da vida, somenconceito de democracia que só serve É pior ainda porque se formou para te o Senhor Supremo pode saber. para nós, que é contra os outros, quandefender a justiça, fez um juramento Então, muitas vezes, quando as do a democracia propõe o direito de em nome da justiça, no entanto criaturas clamam por justiça, estão todos, a justiça para todos. desejava penetrar no palácio onde a clamando por vingança, porque toda Se não respeito a minha vizinhanjustiça impera a fim de abrir fendas na justiça que age fora das bases do amor ça quando desejo dar a minha festa, parede da justiça, por onde a injustiça se torna crueldade. A justiça sem amor estou tratando com a injustiça social. pudesse penetrar. é vingança social. Como é que eu cobro das autoridades Dessa forma, a nossa ideia de jusDaí, a nossa necessidade de entenjustiça para mim? tiça na Terra precisa se ajustar às prodermos bem o que vem a ser justiça. É com isto que nós começamos a postas do equilíbrio pensar como têm e do bem. sido equivocadas A justiça que siras nossas posturas va para nós é a jusdiante da vida, no Elas querem justiça contra os outros, tiça que servirá para capítulo que se os outros. refere à justiça. mas não vivenciam o princípio básico Por isso Cristo, Vale a pena penda justiça: Fazer ao outro o que o ouaquele que propusar que, quando o nha que a nossa jusCristo propôs que tro merece. Dar às pessoas aquilo que tiça fosse superior à nós não julgásseas pessoas merecem. dos fariseus hipócrimos porque, com a tas, nos ensinou que mesma medida com com a mesma meque julgássemos dida com que meseríamos julgados, díssemos os outros, ficamos pensando seríamos também na responsabilidamedidos, e então estabeleceu: Não julTodas essas pessoas que clamam de do magistrado, daquele que tem o gueis, para as nossas vidas. por justiça contra os outros exercem dever profissional de julgar, de sena injustiça. tenciar. * * * Fazem greves por melhores salários Se ele não tiver luz por dentro, se É comum encontrarmos as pessoas, para si, por exemplo, mas não melhoele não tiver lucidez na alma, amor de modo geral, nos episódios mais ram o salário dos seus empregados. no coração, ele será um verdugo da diversos do cotidiano, a exigir justiça São pessoas injustas. sociedade porque estará punindo as da lei, a exigir justiça dos agentes da Reclamam que a cidade está depessoas em nome do seu sentimento justiça. sorganizada, mas atiram papéis, lixo de mágoa, de revolta ou de sua displiÉ curioso, porque perguntamos: da janela do carro, dos ônibus, na via cência. Qual é a motivação dessas pessoas pública, para onerar a cidade e impor Não é por outra razão que o Evanpara pedir justiça? Por que é que elas que alguém vá limpar a sua sujidade. gelho do Reino nos diz que quem com estão pedindo justiça contra os outros? Estacionam seu carro sobre calçaferro fere, com ferro será ferido, repreMuitas vezes, a criatura quer uma das por onde as pessoas deveriam passentando a lei de Talião, o dente por justiça que ela veja, uma justiça da sar e essas pessoas têm que disputar a dente, olho por olho. qual ela possa se ufanar, que ela possa rua com os outros carros que passam. Só em Cristo encontramos a progargalhar do justiçado. Nesse caso, já Elas querem justiça contra os ouposta do amor. E, quando amamos, até não há justiça, aí existe vingança. tros, mas não vivenciam o princípio a nossa avaliação e o nosso juízo, são Eu quero que ele pague. Mas esse já básico da justiça: Fazer ao outro o que macios. não é um problema nosso, esse é um o outro merece. Dar às pessoas aquilo Do Programa Vida e Valores, apresentado por problema na Terra, da justiça humana. que as pessoas merecem. Raul Teixeira, sob coordenação da FEP. Exibido pela E na vida em geral das Leis de Deus? Desejamos considerações da justiNET, Canal 20, Curitiba, no dia 5 de julho de 2009. janeiro/fevereiro • Tribuna Espírita • 2015 23


A Força do Amor D

uas situações enfrentam-se e expressam a mesma emoção. A primeira diz respeito às necessidades econômicas responsáveis por aflições inimagináveis, chegando, às vezes, ao clímax do desespero. A segunda refere-se à abundância, ao excesso de recursos que tornam a existência difícil de ser suportada e proporcionam o vazio existencial. Certamente, a provação da pobreza constitui exercício para o crescimento moral, em seu processo de recuperação, como decorrência do mau uso das altas concessões de que proporciona conforto e prazer. Faz-se um desafio vigoroso para a sua correta aplicação, por ensejar o progresso da sociedade e a diminuição de muitos sofrimentos terrestres, que defluem da miséria, da ausência de condições mínimas para uma existência produtiva. Seja uma, ou seja, a outra postura, o poder do “agora” se apresenta como de alta significação, porque, em um minuto, pode-se mudar completamente a trajetória existencial, tanto para o bem, quanto para o mal. Uma decisão repentina altera uma programação anterior, respondendo por novas consequências da conduta, nesse momento adotada. O “agora” é o porvir do ontem que chegou ao tempo que, logo mais, será o passado que armazena as experiências vivenciadas. Viver intensamente o “agora” é uma atitude de sabedoria que não pode ser postergada, o que equivale a experienciar as lições da vida, sob o ponto de vista da ética e da moral, mediante projetos e compromissos de autoiluminação, conquistando, aos poucos, as áreas sombrias da personalidade, ao tempo em que sejam superados os fatores de perturbação da conduta. Ao considerar-se a transitoriedade do tempo, o “agora” não mais se repetirá, nas mesmas circunstâncias e com idênticas possibilidades... As águas de um rio, jamais, retornarão ao mesmo leito, face ao tempo que transcorre e, quando se transforma em vapor e chuva caindo na região, as circunstâncias são outras. No que diz respeito ao poder do “agora”, procura refletir a necessidade de tornar um hábito saudável o que deves fazer, a fim de que as surpresas do momento nunca te encontrem distraído, a ponto de perderes o 24 Tribuna Espírita • março/abril • 2015

ensejo de crescer interiormente. * No caleidoscópio dos seus atos, encontrarás informações para que tenhas um agora iluminado por bênçãos que te poderão facilitar; também, se encontram injunções penosas que te exigem equilíbrio e harmonia. Não ajas com precipitação, a fim de que acumules mais dificuldades para o amanhã. Cada atividade no seu momento próprio, cada passo, com segurança, após o anterior. A escada do progresso é infinita. O individuo lúcido está desperto, para todas as oportunidades que enfrenta. A sua consciência está vigilante, para retirar, sempre, os melhores resultados, inclusive, quando visitado estejas, pelo mal, lograres o aproveitamento do que seja mais proveitoso. Cada “agora” é dádiva da vida, para corrigir, reestruturar, edificar. Mesmo que permaneças indiferente, o “agora” te sinaliza momento de ação. Num instante, podes entesourar alegrias e valores relevantes, assim como, noutro, podes pôr a perder todos os tesouros que acumulaste. Faze, então, dos teus “agoras”, um rosário de feitos que te ofereçam poderes

espirituais, para o logro da evolução. Num momento de vacilação, Pedro negou Jesus, por três vezes. Noutro momento, Judas teve a dimensão exata do seu crime hediondo e, arrependendo-se, tentou impedir-lhe a execução, tardiamente, porém, porque já havia passado o significativo agora. Tuas decisões de um instante refletir-se-ão nos acontecimentos porvindouros. Não poderás retroceder, para anulá-los, mas poderás iniciar novos cometimentos, com os olhos postos no porvir. Habitua-te, desse modo, a agir com serenidade em cada momento, de modo a percorreres o curso da tua reencarnação, com sabedoria e probidade... O Evangelho de Jesus conclama o discípulo sincero ao trabalho de autolapidação moral, agora; porque, depois, pode ser tarde demais. Quando o arqueiro dispara a flecha não lhe pode deter o curso. Todos são arqueiros da evolução, disparando dardos que podem servir de estacas fincadas no solo, como segurança ou armas de destruição de vidas. Nunca subestimes, portanto, o poder do agora. O tempo é resultado dos “agoras” que se unem sem solução de continuidade. * Jesus convidou-te: Vinde, hoje, trabalhar na minha vinha. Se aceitaste o chamado, nada esperes e atende-o; se te deténs, esperando, já desperdiças valioso tempo e, se não o aceitas, voltarás ao caminho, posteriormente, em situação deplorável e dolorosa. Aproveita e atende ao chamado. Agora, é o teu momento de autoiluminação. Acende a luz do amor, no íntimo; coloca o combustível da ação e sê feliz, desde agora. Joanna de Ângelis (Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na reunião mediúnica da noite de 15 de dezembro de 2014, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador-BA.)


Um livro que precisa ser lido FREDERICO MENEZES Recife-PE

C

omemoram-se, no Movimento Espírita, os 150 anos da obra “O Céu e o Inferno”, de Allan Kardec. Inspirada na quarta parte de “O Livro dos Espíritos”, que trata do funcionamento da justiça divina, representa um estudo fascinante e lógico sobre a vida futura e as diversas condições das almas na sociedade espiritual. A diversidade dessas condições explicita o estudo efetuado pelo Codificador, desde seus primeiros contatos com o fenômeno mediúnico na residência da família Plannemaison. O livro tem, como primeiro capítulo, um magistral estudo filosófico que Allan Kardec realiza sobre “o porvir e o nada”. Ponderações, argumentações impecáveis desfilam com poderosa capacidade de síntese, abrindo as portas da mente para reflexões profundas e belas. A questão que sempre atormentou pensadores, em todas as épocas da Humanidade sobre a imortalidade, uma possível vida futura e suas reais condições de manifestações, se apresentam nas páginas do livro, estabelecendo segura compreensão da visão dos Espíritos sobre o tema. Mas, nos deslumbram as páginas em que o Codificador evoca os Espíritos das mais diferentes condições morais, a fim de que se conheça como vivem, como se expressa a justiça soberana e onde a consciência se apresenta, com seu poder de libertação ou aprisionamento, de aprovação ou condenação, de paraíso ou inferno pessoal, conquanto transitório. Espíritos felizes, em seus belos e expressivos ensinamentos; almas atormentadas, em seus cárceres de remorso; corações endurecidos ou crimes que parecem se revitalizar a partir de seus gritos repetitivos na intimidade do

ser, tudo nos é apresentado com um colorido e uma profundidade própria do vigor intelectual do Codificador. Vejo o livro “O Céu e o Inferno”, como sendo um prolongamento da obra primeira e trata de diversos elementos que constituem os princípios basilares do Espiritismo, como a mediunidade, imortalidade e causa e efeito, embora esta última resplandeça, norteando uma mais ampla compreensão de como esta lei se manifesta a partir daquilo que fazemos a nós mesmos. O poder das escolhas, delineado no livre arbítrio de cada um de nós, é a chave para entender o funcionamento da grande Lei e das possibilidades maravilhosas de que somos possuidores para reverter situações, modificar caminhos, alterar rumos. O Espírito que somos pode mo-

dificar seu destino. A plenitude, a perfeição relativa é o destino fatal de todos os corações. A permanência em sítios infernais e dolorosos, seja na carne ou no mundo espiritual, no entanto, é sempre transitória, ficando seu termo atrelado à mudança de valores e de rumo, pelo arrependimento e pelo esforço sincero em refazer os atos, substituindo o mal pelo bem. Na extraordinária obra “Céu e o Inferno”, mais que nunca, resplandece a sublime certeza de que o “amor cobre a multidão de pecados”.

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Esquizofrenia: a linha tênue entre a Loucura e a Mediunidade MARCOS PATERRA João Pessoa-PB

E

m nossa caminhada pelo Movimento Espírita, muitas vezes escutamos história de que a o médium e o esquizofrênico são muito parecidos; ambos escutam vozes, ambos veem seres do invisível e ambos são induzidos ou orientados por esses seres; no entanto, o esquizofrênico imagina tudo isso e o médium, não. Bem, quanto a essas aparências, podemos citar Bezerra de Menezes no livro “A Loucura Sob Novo Prisma” no cap. “Obsessão” : “Quem vê um louco vê um obsidiado, tanto que até hoje se tem confundido um com o outro. O mesmo olhar desvairado, a mesma apatia fisionômica, ora a excitação até a fúria, ora a prostração até ao indiferentismo, sempre a incoerência das ideias. Se um tem momentos lúcidos, o outro igualmente os tem; se um pode cair no idiotismo, o outro também”(Bezerra. P. 140. 2007).1 A palavra “Esquizofrenia” foi cunhada, em alemão, pelo psiquiatra Eugene Bleurer,2 em 1910, como “schizofrenie”, do grego “skhizein”, “separar, partir”, mais “phren”, “mente, cérebro”; ou seja, ao pé da letra seria: “Cérebro Partido”; e podemos afirmar que: Cerca de 1,5% da população sofre de esquizofrenia; Início entre os 15 e 25 anos, raramente antes dos 15 anos e depois dos 50 anos de idade; 50% em gêmeos monozigóticos e de 10 a 15% em gêmeos dizigóticos; 50% se os dois pais sofrerem de esquizofrenia; 15% se apenas um dos pais sofrer do transtorno; Suas causas, ainda, não são totalmente desvendas, todavia, em estudos recentes, James Watson3 lança a hipótese de que existe uma correlação entre autismo, esquizofrenia e inteligência. Para esse pesquisador, os genes da alta cognição se relacionam com as doenças mentais como autismo e esquizofrenia.4 Watson apresentou sua tese, no 74º Simpósic Cold Spring 26 Tribuna Espírita • março/abril • 2015

Habor, sobre Biologia Quantitativa, afirmando sua hipótese, depois que sequenciou o genoma humano, o que levou à descoberta de que tinha mutações em genes ligados ao reparo do DNA. “BRCA 1 e BRCA 2 (genes de alta cognição) que atuam, corrigindo danos causados, durante a replicação do DNA.” 5 “Desse modo, as pessoas com essas mutações tendem a ter filhos especiais.” Disse o pesquisador que tem um filho esquizofrênico. 6 No Brasil, no século XX, tanto a Psiquiatria como o Espiritismo estavam em busca de legitimação, de seu espaço cultural, científico e institucional, dentro da sociedade brasileira. Estavam ligados às classes urbanas intelectualizadas e defendiam diferentes visões e abordagens terapêuticas relacionadas à questão da mente e da loucura. As diferenciações entre médiuns e esquizofrênicos começaram a ser notadas, na década de 50, quando houve uma mudança de mentalidade, e essas manifestações passaram a ser vistas, como sendo não patológicas, quando vivenciadas dentro de uma religião. Os critérios utilizados, atualmente, para o diagnóstico da esquizofrenia, têm como base o CID – 10 que coloca a presença de sintomas característicos, por uma porção significativa de tempo, durante o período de um mês (ou menos, se tratado com sucesso), como: delírios; alucinação; discurso desorganizado; comportamento desorganizado ou catatônico; sintomas negativos; isto é, embotamento afetivo e outros. Sobre esses sintomas foi elaborada uma pesquisa, em 24 médiuns, pelo SCAN, um tipo de entrevista psiquiátrica padrão e pelo DDIS (Dissociative Disorders Interview Schedule). A escala DDIS investiga a presença de 11 sintomas de primeira ordem, para o diagnóstico de esquizofrenia. Os médiuns apresentaram, em média, quatro deles, mas, a presença dos sintomas


não indicou a existência de nenhuma doença mental. O relatório, também, diz: “Além disso, eles também apresentaram uma boa adequação social e demonstraram ter uma saúde mental melhor que a da população em geral”. Não houve correlação, entre frequência de atividade mediúnica e problemas mentais ou desajuste social. “A loucura é, pois, um efeito consecutivo, cuja causa primária é uma predisposição orgânica, que torna o cérebro mais ou menos acessível a certas impressões; e isto é tão real que encontrareis pessoas que pensam excessivamente e não ficam loucas, ao passo que outras enlouquecem sob o influxo da menor excitação.” (Kardec. 1995) 7 Diversos estudos sobre a Esquizofrenia nos mostram tratar-se de doença cármica e que, portanto, há consequências físicas. A Doutrina Espírita ensina que somos mentores do nosso próprio destino (o acaso não existe). Quando nascemos com alguma deformidade, em verdade, ela já existia, antes, em espírito, porque a criamos dentro de nós, em determinada vivência física. O Espírito é responsável, por tudo que pensa e faz subordinado à Lei de Causa e Efeito; assim, se tivermos algo a expiar, a distonia arquivada, em nosso períspirito, propiciará a escolha compatível ao novo encarne. Conforme Jorge Andréa, “na esquizofrenia, a sintomatologia mais comum consiste na redução do relacionamento interpessoal, com alucinações auditivas. Esses delírios são considerados originários nos próprios campos psíquicos do paciente, podendo existir, também, a possibilidade de autêntica fenomenologia mediúnica, associada por entidades desequilibradas em intercâmbio obsessivo”8.(ANDRÉA, p. 36.) O indivíduo esquizofrênico representa alguém necessitado de muita atenção, carinho e amor, vindo ao mundo físico, em uma reencarnação essencialmente expiatória, totalmente desprovido do controle de suas emoções, com prejuízo acentuado na imaginação e interação social, e, cabe a nós, que somos um pouco mais informados sobre esse mal, amparar e orientar, os enfermos e suas famílias. 1 BEZERRA DE MENEZES, Adolfo. A Loucura sob novo Prisma. RJ: FEB, 2007. 2 Eugene Bleuler (1957 – 1039)- Psiquiatra Suíço, precursor as pesquisas sobre a esquizofrenia. 3 James Watson -Premio Nobel e um dos descobridores da estrutura do DNA. 4 JAMES WATSON, FRANCIS CRICK E M. WILKINS – descrição da estrutura da molécula de DNA. 1953 5 Comentário de Dr. Mauricio Aranha(Psiquiatra Florence da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Sócio do Instituto e fundador da ANERJ “Associação de Neurologistas do Estado do Rio de Janeiro ) em artigo publicado pela ICC “Instituto de Ciências Cognitivas 6 ARANHA, Mauricio. Artigo: Algumas Considerações sobre Inteligências Múltiplas , publicado pela ICC “ Instituto de Ciências Cognitivas” 7 KARDEC, Allan. O Que é o Espiritismo? Rio de Janeiro. FEB, 1995. 8 ANDRÉA, Jorge. Contexto Espiritual nos Processos Mediúnicos e Obsessivos in jornal - A REENCARNAÇÃO - Nº 425 p.34/37. Ed FERGS. Porto Alegre/RS.

Os Três Franciscos RAYMUNDO ESPELHO Campinas-SP

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osso desejo é registrar, em poucas linhas, os feitos de três “Franciscos” que se destacam dos demais que vivem neste mundo de Deus e que muito amam e cada um, dentro de suas possibilidades, também, se desincumbem de seus afazeres. I − São Francisco de Assis − 11821226 − Conhecido como o protetor dos animais. Foi um jovem muito rico e adepto dos prazeres da vida; entretanto, muito cedo, renunciou à riqueza, como a tudo, e passou a dedicar-se aos pobres. Foi um frade católico que nasceu, para essa vida, em Assis, na Itália. Escreveu inúmeras frases, textos e pensamentos. Registramos a seguir duas delas: “ Todas as coisas da criação são filhas de Deus e irmãs do homem”. E esta:”Deus quer que ajudemos os animais, se necessitarem de ajuda. Toda criatura em desgraça tem o mesmo direito de ser protegida”. Foi esse frade religioso que fundou a ordem dos Franciscanos. II− Papa Francisco nasceu, em Buenos Aires, na Argentina, em 17 de dezembro de 1936. Foi o primeiro Papa que nasceu na América Latina e, também, o primeiro jesuíta. É o 266º papa da Igreja Católica e atual chefe do Estado do Vaticano. Escreveu e publicou o livro “Entre o Céu e a Terra”. (título igual a um psicografado por Francisco Cândido Xavier.) Sua primeira viagem internacional, como papa, foi ao Brasil, onde visitou o Rio de Janeiro e Aparecida, no Vale do Paraíba, considerada a capital espiritual do Brasil.

Frases dele: “Ah, como eu quero uma Igreja pobre para os pobres. (discurso, em 16 de março de 2013). “O dinheiro tem de servir, não governar”. “Vivemos na religião mais desigual do mundo”. III − Francisco Cândido Xavier – (1910 – 2012) − “Chico Xavier: Um beijo de Amor Celeste na face do Brasil”. (“Folha de São Bernardo” - Semanário de grande penetração no ABC paulista) Iniciamos, registrando, com a informação de que Chico Xavier, como preferia ser chamado, reencarnou, para a presente vida em Pedro Leopoldo-MG, no dia 02 de Abril de 1910, e desencanou no dia 30 de junho de 2012, em Uberaba, no mesmo Estado, onde residiu, nas últimas décadas, com uma vida “franciscana” e, em consequência, muito útil para seus semelhantes, principalmente os mais carentes de mãos fraternas e palavras edificantes, pois, também, era um grande filantropo. O médium mineiro teve seu corpo físico levado para a sepultura, como desejava, em um dia onde poucos tomassem conhecimento, para não terem o trabalho de comparecerem ao translado de seu corpo. Tudo aconteceu, no dia 30 de junho de 2012, exatamente, na data em que a Seleção Brasileira de Futebol tornou-se hexacampeã mundial. Tudo conforme ele desejava e pedia para acontecer. Independente de seus desejos, compareceram ao cotejo fúnebre, conforme cálculos da Polícia Militar, cerca de 200.000 pessoas. (tais números são desencontrados). janeiro/fevereiro • Tribuna Espírita • 2015 28


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JoĂŁo Pessoa - ParaĂ­ba


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