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Página Murça
Domingos Nascimento
Presidente da Agência Social do Douro
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Sem a Proteção Civil, teria sido um desastre..!
Com a pandemia, a Proteção Civil Municipal ganha um novo conceito e maior visibilidade. Através das suas estruturas de Proteção Civil, os Municípios fizeram e fazem a diferença e são as âncoras do cuidar de muitas pessoas. A Proteção Civil, nos territórios de cada município, são as estruturas formais, (Responsáveis políticos, Colaboradores do município, Bombeiros, GNR, Polícia, e, neste tempo tão desassossegante, também as Instituições da comunidade), mas por princípio, também todos nós os cidadãos, devemos ser parte ativa. Há um ano a esta parte, a saúde veio colocar-se no centro de todas as preocupações. E as estruturas de Proteção Civil fizeram e estão a fazer um trabalho extraordinário de saúde e amparo social. Apoiando pessoas e instituições e também as unidades de saúde do SNS. Teria sido um desastre a ação solitária das unidades de saúde pública e até das instituições, sem o apoio dos municípios. É importante enfatizar isto! Os municípios, na generalidade, deram mostras da importância da proximidade, da versatilidade, da robustez da decisão, da rápida alocação de meios. Foi da saúde que vieram os maiores entraves. Na partilha de informação, na abertura para atuações conjuntas. Tenho ouvido dizer muitas vezes de que "a saúde é a quinta mais difícil de entrar"! Neste contexto exigente e perigoso, percebemos todos a relevância estruturante do trabalho em rede, muito em particular nos territórios do interior. O trabalho realmente em Rede, faz toda a diferença. Permite otimizar recursos e concretizar facilmente operações de segurança e socorro. Por isso, também as estruturas da saúde, diria, particularmente essas, deverão abrir-se ao que o tempo exige. E o tempo exige, união de esforços, partilha de recursos, lideranças técnicas de braço dado com as lideranças operacionais e com as lideranças política locais. É a hora de colocar no terreno um conceito - que me comprometo abordar oportunamente -, que são as Redes de Cuidar das Pessoas, em ação de forma integrada, na saúde, no amparo social, na segurança, etc. Por exemplo, com os Hospitais, Centros de Saúde, Municípios, Bombeiros, Forças de Segurança, Instituições e os Cidadãos. É a hora de também se perceber quem é elegível para a "vacina" contra a falta de sensibilidade e competência, para que consigamos ajustar a estratégia à realidade e as ações às necessidades. Do conceito de Proteção Civil antes da pandemia pouco restará. As necessidades trágicas do presente farão a mudança que há muito se intuía ser urgente concretizar. Falar de Proteção Civil vai ser falar de rede, falar de abraçar, falar de partilhar e de operacionalizar respostas transversais, sejam de que organização forem. Também, dificilmente, alguém, ousará pôr em causa a evidência de que a saúde e o amparo social deverão estar na base de todas as políticas e no topo das prioridades municipais. Teremos, assim, territórios, cada vez mais, amigos das pessoas. As pessoas não são pedras no horizonte, as pessoas são o horizonte!
Murça Selo Prata de Usabilidade e Acessibilidade atribuído ao Website do Município de Murça
A Câmara Municipal de Murça é a primeira autarquia a nível nacional, a quem foi atribuído um Selo de Usabilidade e Acessibilidade – versão Prata, passando essa indicação a constar no seu site autárquico (www. cm-murca.pt). O Selo de Usabilidade e Acessibilidade identifica e promove a aplicação das melhores práticas em sítios Web e aplicações móveis. A iniciativa, desenvolvida pela AMA - Agência para a Modernização Administrativa e pelo Instituto Nacional para a Reabilitação, visa simplificar e tornar mais eficiente a utilização dos serviços públicos online por parte dos cidadãos, nomeadamente aqueles que necessitam de recorrer a tecnologias de apoio. Este Selo aplica-se a qualquer sítio Web ou aplicação móvel, mas foi concebido principalmente para as entidades destinatárias do Regulamento Nacional de Interoperabilidade Digital (RNID), que regula as normas abertas nos sistemas informáticos do Estado. Órgãos de soberania, ministérios, institutos públicos, regiões autónomas, autarquias, escolas, universidades e organizações não governamentais são algumas das entidades listadas no n.º 2 do Decreto-Lei n.º 83/2018, de 19 de outubro. Para o presidente da Câmara de Murça, Mário Artur Lopes, “estamos a trabalhar diariamente para que o nosso município seja mais inclusivo, prova disso é este reconhecimento da AMA e do INR que distingue o sítio web do nosso Município, como uma ferramenta de boas práticas de usabilidade e acessibilidade”. O autarca salientou ainda que “este reconhecimento só contribui para aumentar a nossa responsabilidade, para continuarmos a promover a sua melhoria contínua, de modo a que o nosso site e toda a informação que este contém possa ser acedida através de todo o tipo de equipamentos e por todas as pessoas”. O Município de Murça é também a primeira autarquia do país a ter uma Declaração de Acessibilidade e Usabilidade publicada de acordo com o modelo preconizado pelo DL n.º 83/2018 e pela Diretiva (UE) 2016/2102. ▪
O VivaDouro inaugura, nesta edição, uma série de trabalhos com vista às próximas eleições autárquicas que terão lugar ainda este ano, devendo ocorrer no mês de outubro, sem data definida até ao momento. Com este trabalho pretendemos dar a conhecer a visão que diferentes setores têm sobre o poder autárquico, através das questões que colocamos. Para inaugurar esta série de trabalhos começamos exatamente pela política ouvindo dois representantes dos dois maiores partidos com representação autárquica no nosso território: PSD e PS.
André Marques
Membro do Conselho Nacional do PSD
1 - Com a delegação de competências que tem colocado nos municípios mais responsabilidades na gestão do seu território, que papel tem hoje o autarca?
O poder local é o primeiro grande parceiro das pessoas nas suas vidas. Se olharmos para o percurso do poder autárquico, desde do início da construção do Portugal democrático, estava quase tudo por fazer! Hoje podemos olhar em retrospetiva e reconhecer que pela via das autarquias se efetivou uma evolutiva construção democrática e infraestrutural no país. Foi indiscutivelmente o poder local que desenhou em grande medida uma nova sociedade em questões tão básicas como por exemplo no acesso das pessoas a serviços como a água e o saneamento, a energia elétrica e a iluminação pública, acessibilidades e arruamentos, a educação e o apoio social, a prática desportiva ou a dinamização cultural, entre tantos outros exemplos. Relativamente à sua questão concreta sobre a delegação de competências, acho que é consensual que vamos ter doravante um novo paradigma no poder local, os próximos mandatos autárquicos serão marcados por novos desafios, mas acima de tudo por um aumento da responsabilização em diversas dimensões. Importa perceber se essa transferência está a ter um enquadramento eficaz no quadro organizativo do estado e acima de tudo se há ou não um reforço financeiro para o lado do poder local. O poder central não pode passar “a bola” só porque tem de ser feita essa transição, é preciso ir monitorizando e ajustando, se possível, o impacto. Como sabe temos territórios muito diferenciados uns dos outros e a “receita” de um pode não servir o outro. Sou favorável ao processo em si, mas creio que a implementação está a ser feita um pouco aos “atropelos”, sem uma clarificação exata de como se irá desenrolar a via financeira. Esta indefinição causa naturalmente instabilidade e incertezas aos autarcas. No entanto e de forma geral é um caminho natural que todos sabemos que temos de percorrer, com aspetos muito positivos, como por exemplo, permitirá sobressair a importância do poder local face aos outros níveis de poder do país. Julgo que será sempre algo um pouco “inacabado”, que necessitará de constantes aperfeiçoamentos. A curto prazo, há um passo difícil a dar, veja, a delegação de competências na área da saúde e educação é um “fardo” que não pode ser tratado levianamente, implicará um planeamento bem estruturado. Acredito, no entanto, que o princípio da proximidade destas duas áreas aos territórios pode ser muito bom a longo prazo. Afinal de contas, é na dinâmica de cada território individualmente, de forma articulada, que se pode fortalecer o todo – Portugal. Respondendo ao que considero sobre o papel do Autarca nos dias de hoje, é sem dúvida uma tarefa de muita honra e extremamente exigente. Hoje em dia, a nova geração de autarcas está muito bem preparada, e tem de estar forçosamente, já que executar com tantos normativos legais, que muitas das vezes são contrários à eficácia, exige um vasto conhecimento e domínio. Realço como exemplo, esta crise sanitária, o papel dos autarcas que se revelou muitas vezes heroico, foram capazes de dar respostas eficazes e céleres num ambiente desconhecido e de total imprevisibilidade. Que julgo que a população na sua generalidade reconhece e agradece.
2 - Com 19 municípios na sua composição a CIM Douro tem-se cada vez mais afirmado na defesa do território. É um modelo que serve a região?
Sempre acreditei no princípio da intermunicipalidade. Quanto à CIM Douro tem demonstrado uma ação interventiva e suprapartidária na defesa dos interesses da Região, isso é notório. Percebe-se a solidariedade entre os Presidentes da Câmara na afirmação de causas importantes para o território. Uma CIM Douro forte e coesa é fundamental para enfrentarmos os tempos difíceis que se avizinham. Vivemos hoje um contexto novo que exigirá uma reprogramação estratégica na ação, em que é preciso repensar as prioridades, vivemos um tempo em que tudo o que tínhamos como certo implodiu. Estamos todos à prova, temos pela frente um contexto económico complexo e extremamente desafiante, desde os desafios de reestruturação de serviços para dar resposta às novas necessidades comunitárias, até à total reformulação do modelo de gestão autárquico, descontinuando a título de exemplo alguns dos tradicionais projetos, que terão de se reinventar num sentido de reformular mecanismos de apoio mais individualizados e simplificados. Nesse sentido, acho que neste ponto, se a CIM for promotora de uma rede executiva, que consiga articular a visão das autarquias, empresas e academia, poderemos encontrar respostas próximas das necessidades reais e ser uma mais valia para a região. Por outro lado, não se pode deixar cair por terra as estratégias de construção e de adaptação do território ao futuro, sobe pena de ficarmos para trás. É necessário dosear a ação de resposta à crise bem como capacitar/constituir a região como um agente indutor de inovação e modernidade. É um equilíbrio difícil, mas devemos ambicioná-lo. A Região necessita estar unida.
3 - Qual é a expectativa do PSD para estas eleições na CIM Douro?
O PSD tem na sua génese o poder local, tem nas suas fileiras excelentes autarcas com provas dadas, tem novos quadros emergentes que estão perfilados para vencer um pouco por todo o país. Quanto a um “prognóstico” para o território CIM Douro, é demasiado imaturo apontar possíveis cenários. Não seria de bom tom da minha parte fazer conjunturas detalhadas. Creio que de forma geral a CIM Douro tem bons Presidentes da Câmara a exercer atualmente, há uma certa estabilidade que poderá ser fator de confiança renovada por parte das populações de cada concelho. No entanto a perceção individual de cada eleitor é que decide, e sabemos que por vezes há surpresas. Quanto à expectativa do PSD, obviamente que é um partido que vai a eleições, sempre para vencer. Mas acho que acima de tudo, devemos pugnar pela moderação e estar vigilantes e se possível com uma postura educativa para que algumas tendências extremistas e populistas não contaminem o ambiente participativo e a sociedade em geral.
José Silva
Presidente da Comissão Politica Concelhia de Vila Real
1 - Com a delegação de competências que tem colocado nos municípios mais responsabilidades na gestão do seu território, que papel tem hoje o autarca?
O papel de um autarca, seja enquanto presidente de Câmara, seja enquanto presidente de Junta de Freguesia, é do mais exigente que podemos encontrar no exercício da gestão pública. A proximidade que tem com as populações, o conhecimento aprofundado dos seus problemas, e, consequentemente, as muitas solicitações a que diariamente é sujeito, torna o seu trabalho interminável, mas ao mesmo tempo motivante e compensador. Não raras vezes, o autarca é chamado a assumir responsabilidades perante os cidadãos que na realidade não possuí. Resolve problemas para os quais não lhe foram atribuídas as necessárias competências. Encontra soluções onde muitos, possuidores da obrigação de tratar, esbarram em dificuldades. Decidem quando outros adiam. As novas competências, que entretanto foram atribuídas às autarquias, aumentaram ainda mais esta imensa obrigação do autarca. De facto, são muitas as novas atribuições que agora são propostas. Desde a justiça, à educação, aos transportes, à cultura, passando por assuntos de âmbito social e outras. A preocupação e o cuidado que, de forma generalizada, são manifestados pelos autarcas, que não receiam aquelas responsabilidades, prendese com os meios necessários para o seu cabal cumprimento. Falamos, claro está, dos meios financeiros, humanos e equipamentos. A gestão destes implica a transferência de recursos, não esquecendo a sua salvaguarda para o futuro. Não pode o Estado central delegar obrigações sem garantir a atribuição dos respetivos instrumentos, sem os quais poderíamos assistir ao estrangulamento financeiro dos municípios. Na certeza de que os nossos autarcas saberão dar conta destas novas responsabilidades, convém não esquecer que todos os outros desafios permanecem, nomeadamente o de garantirem o desenvolvimento social, económico, cultural e ambiental do seu concelho, da sua região.
2 - Com 19 municípios na sua composição a CIM Douro tem-se cada vez mais afirmado na defesa do território. É um modelo que serve a região?
A CIM Douro, constituída por 19 concelhos e servindo uma população de cerca de 205.000 pessoas, tem, como todas as outras (23 no total, incluindo as duas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto), a missão de contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida dos seus concelhos. O objetivo desta reforma administrativa tinha e tem como princípios orientadores a maior proximidade e descentralização administrativa, reforço da coesão e competitividade territorial, a eficiência na gestão dos recursos públicos e, acima de tudo, potenciar economias de escala, entre outros. Passados todos estes anos, somos agora capazes de dizer que este propósito foi alcançado? E como tal seria possível quando a região de Trás-Os-Montes e Alto Douro foi tão inexplicavelmente divida em três pequenas comunidades intermunicipais? Que ganhos de escala se conseguiam obter desta forma? Que reforço na competitividade territorial era possível alcançar? Inicialmente, quando se discutia ainda a criação das comunidades intermunicipais, estava pensada para a nossa região a CIM Trás-os-Montes e Alto Douro, a qual tinha por base o que uma década antes tinha sido conseguido – AMTAD Associação de Municípios de Trás-os-Montes e Alto Douro, que era composta pela totalidade dos 34 concelhos que compõem atualmente as três CIM’s. Tal, infelizmente, não foi realizado. Para além da CIM Douro, nasceram duas das mais pequenas CIM’s do todo nacional. A CIM Alto Tâmega, a segunda mais pequena e a CIM Terras de Trás-os-Montes, a quarta com menor número populacional. Perdeu-se assim a excelente oportunidade de termos uma voz única junto do poder central e potenciarmos verdadeiramente os ganhos de escala que isso implicava. Uma comunidade com mais de 400.000 pessoas e um vasto território, dar-nos-ia aquilo que ao longo de todos estes anos nos tem faltado. Uma importância e um poder reivindicativo que nos habituamos a encontrar noutras regiões, sobretudo no litoral. Para além disso, este teria sido o primeiro grande passo para a regionalização e uma forma de, progressivamente, irmos esvaziando o poder da CCDRN e sermos, definitiva e merecidamente, alvo da tão propalada e necessária descriminação positiva.
3 - Qual é a expectativa do PS para estas eleições na CIM Douro?
Sendo o Partido Socialista aquele que detém o maior número de camaras sob a sua responsabilidade, o que por si só demonstra a confiança que os portugueses têm nos autarcas socialistas, é natural que as expectativas sobre as próximas eleições autárquicas sejam otimistas. O bom trabalho que vem sendo realizado por todos os nossos autarcas, mesmo nos municípios onde somos oposição, transmite-nos a confiança necessária para enfrentarmos o próximo desafio eleitoral. Sendo verdade que no conjunto dos 19 concelhos que compõem a CIM Douro o PS não detém a maioria dos presidentes de câmara, é igualmente exato que, no que diz respeito ao número de vereadores, o Partido Socialista tem nesta altura cerca de 50% da quantidade de mandatos. Já no que concerne ao número de eleitores votantes e/ ou inscritos, o Partido Socialista é o mais votado, o que poderia levar a uma outra escolha do presidente da CIM Douro, já que este é um dos critérios para esse efeito. Esta situação mostra que é possível conseguirmos um melhor resultado que em 2017. Ou seja, não só mantermos as atuais camaras, mas também aumentarmos o número de concelhos sob a nossa gestão. Como habitualmente, pretendemos fazer uma campanha pela positiva, levando da melhor maneira possível as nossas propostas aos nossos concidadãos, na expectativa de obter destes a sua confiança. É desta forma que nos apresentamos sempre a todas as eleições e desta vez não será diferente.
Opinião
António Fontaínhas Fernandes
Reitor da UTAD
O contexto de pandemia da doença Covid-19 que vivemos merece uma profunda reflexão. Efetivamente, a origem da doença parece estar relacionada com a forma como o ser humano tem vindo a invadir a natureza causando danos nos ecossistemas. Desde logo, a atual crise pandémica é um alerta para a urgência da Europa cumprir as
A liderança pelo exemplo inspira mudanças
metas do Acordo de Paris, tomando medidas claras para limitar o aumento da temperatura da Terra. A própria Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia 2021 assumiu, entre as principais prioridades, promover a recuperação económica e social, mantendo a preocupação de assegurar a transição verde a par da digital. Nos últimos tempos têm surgido sinais de esperança, quer vindos da China ao declarar pretender a neutralidade carbónica em 2060, quer da nova liderança de Joe Biden afirmando que os EUA pretendem regressar ao Acordo de Paris reafirmando o compromisso para atingir esta meta em 2050. Contudo, além das mudanças ao nível global, importa assumir medidas e estratégias ao nível local e individual. Ao nível local, as cidades devem ser redesenhadas e pensadas à luz dos desafios ambientais. Mas, o mundo não muda se nós não mudarmos. As mudanças devem surgir pelo exemplo e ser impulsionadas a partir dos diferentes níveis de governação, desde o global ao local, bem como ao nível dos comportamentos individuais. O futuro passa por consumir menos, mas com maior qualidade e justa remuneração. Os preços devem ter em conta os custos reais de produção, ao nível dos recursos naturais consumidos e dos serviços dos ecossistemas, garantindo um trabalho digno à luz de uma economia sustentada e inclusiva. Todos temos de fazer a diferença, pelo que importa dar o exemplo. Hoje, mais do que nunca, precisamos de consolidar estes valores no quotidiano, para construir um futuro coletivo melhor e preservar o planeta.
Gilberto Igrejas
Presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, I. P. (IVDP)
Sublinhando uma preocupação na Sustentabilidade, a Missão, a Visão e os Valores prosseguidos pelo Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, I.P.(IVDP) foram ajustados, sendo que a Missão passa a ser “Certificar, controlar, defender e promover as denominações de origem Porto e Douro”, numa Visão que pretende “Potenciar a Qualidade, trabalhar no futuro, para um território sustentável”, tendo como Valores a “Competitividade, credibilidade, integridade, sustentabilidade e inovação”. Por despacho recente do Senhor Secretário de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Rural, o IVDP viu aprovados os documentos estruturantes da sua estratégia anual, ou seja, o Quadro de Avaliação e Responsabilização (QUAR) e o Plano de Atividades (PA) para
Uma estratégia para 2021 ao serviço da região, potenciando o país no mundo
2021. O IVDP mobiliza todas as suas valências na elaboração destes documentos estratégicos, onde se conjugam as propostas de ações com os recursos humanos e financeiros disponíveis, destacando-se o alinhamento com a Estratégia para a Inovação e Modernização do Estado e da Administração Pública 2020-2023 e a Agenda da Inovação para a Agricultura 2020-2030, bom como com as orientações decorrentes da aprovação da Lei de Orçamento de Estado 2021. Os objetivos incluídos no QUAR do IVDP, os quais se desenvolvem no Plano de Atividades, visam melhorar a sustentabilidade do território da Região Demarcada do Douro (RDD), reforçar competências na Certificação das Denominações de Origem Porto e Douro. Numa ótica de funcionamento interno, iremos promover a melhoria continua no desempenho da organização para otimização do Serviço Público. Um dos objetivos que maior relevância tem na nossa atividade é, sem dúvida, promover a RDD e as suas Denominações de Origem e reforçar a sua relevância internacional. Numa ótica mais voltada para o Conhecimento, iremos reforçar a inclusão e o estimular o progresso e inovação tecnológica na RDD e contribuir para a agenda de investigação e inovação direcionada para a criação de valor económico e social para a RDD. Para esse efeito, iremos incrementar o investimento em investigação e inovação em agricultura e alimentação através de práticas colaborativas e transferência do conhecimento na RDD. Sendo o cerne de toda a nossa atividade, iremos melhorar o processo de certificação de produtos vitivinícolas e a gestão vitivinícola e melhorar o processo de controlo vitivinícola. Vamos melhorar o desempenho da organização, incentivando a participação dos cidadãos e dos Agentes Económicos. No âmbito interno, iremos mobilizar os trabalhadores, envolvendo-os na definição de estratégias internas e externas do Instituto, na partilha de conhecimento e na promoção de projetos comuns e transversais. Complementarmente, propomo-nos promover a motivação, as qualificações e competências dos recursos humanos, estimulando o seu desenvolvimento pessoal e profissional e a conciliação da vida pessoal, profissional e familiar. É longa a listagem dos projetos e ou atividades e respetiva calendarização que se estabeleceu e que ambicionamos para o IVDP num ano em que Portugal assume, no primeiro semestre, a presidência do Conselho da União Europeia e a produção sustentável no setor vitivinícola adquire importância crescente a nível mundial. No mesmo sentido, através destes documentos estratégicos (QUAR_2021 / PA 2021) cujo conteúdo aqui apenas se aflorou, mas que, por serem públicos, é permitida a sua consulta e uma leitura minuciosa está patente a ambição de medidas mais inclusivas, intuitivas e inovadoras que pretendemos promover na RDD mais sustentável e competitiva.
Luís Braga da Cruz
Engenheiro Civil
O Dr. Miguel Cadilhe publicou, no último número da revista Brotéria , um excelente artigo sob o título: "Francisco Sá Carneiro e o Centralismo", numa justíssima homenagem ao grande estadista que nos deixou de forma dramática há 40 anos. Recomendo vivamente as suas reflexões, dada a lucidez da análise. Sá Carneiro era uma figura corajosa, esclarecida e tinha a vantagem de ter boa formação política e, sobretudo, mundo na cabeça.
É minha convicção que, se Sá Carneiro não tivesse morrido, a regionalização se teria concretizado no calendário previsto, no início da década de 80. A criação da autarquia regional estava prevista na constituição de 1976 e fazia parte do processo de democratização política, tal como
as outras duas autarquias locais - a freguesia e o município. O Governo da AD inscrevera esse preceito no seu programa. Foi crida uma comissão que produziu um "Livro Branco sobre a Regionalização" , preparando a implementação do processo. Se o malogrado acidente não tivesse ocorrido, a descentralização regional teria acontecido naturalmente e hoje estaríamos a beneficiar dos seus efeitos positivos. Teria sido possível aproveitar melhor as energias de cada parcela do território nacional e da expressão da sua legítima vontade. A letra e o espírito da Constituição eram claros. Estava lá tudo o que era necessário para poder ter sido bem feita. Infelizmente, o medo, a ignorância e o défice de verdadeira cultura democrática alimentou uma solução alternativa - o centralismo - que não é inocente, porque dá jeito a muita gente. É mais fácil exercer influência junto de um só nível de decisão política e administrativa, do que ter de se confrontar com vários escalões de soberania. za. Em 1985, os seus indicadores regionais não eram muito superiores aos nossos. Entretanto, os desvios não cessaram de se acentuar. O sucesso galego não aconteceu pelo efeito de arrastamento de Espanha, como um todo. Pelo contrário, a Espanha é que beneficiou, sobretudo na década de 90, da afirmação autónoma de cada uma das suas regiões. Ouvi dos nossos amigos galegos que o segredo do seu crescimento, se ficou a dever a duas orientações - selectividade e persistência. Selectividade significa saber fazer escolhas, não querer "ir a todas", optar por aquilo que permite potenciar o que mais facilmente acrescenta valor. Persistência corresponde a manter as políticas correctas de forma continuada no tempo e não andar sempre a mudar. Assim, se conseguem resultados consistentes, se apuram respostas adequadas e se valoriza a estrutura produtiva. O sucesso desta forma de actuar foi evidente nos domínios em que a economia galega era mais capaz: pescas, sector automóvel, agro-alimentar. A Galiza, que estava atrasada em termos tecnológicos e científicos, passou a estar em 4.º ou 5.º lugar nos rankings das autonomias espanholas, em matéria de despesa em I&D, logo a seguir aos campeões habituais: Madrid, Catalunha e País Basco. A regionalização, ao invés do centralismo, apela à responsabilidade, confere autoestima e, por isso, reforça a coesão nacional. Lamento que esteja esquecida com o beneplácito ou a conivência dos nossos centralistas.
1 Miguel Cadilhe - "Francisco Sá Carneiro e o Centralismo", Brotéria, Vol.191-6, Dezembro de 2020, pp.484-492. 2 "Livro Branco sobre Regionalização", Ministério da Administração Interna, Secretaria de Estado da Administração Regional e Local, Lisboa, 1980.