CUBISMO, DADAÍSMO E SURREALISMO
ICHLA- Curso de Artes Visuais – Licenciatura e Bacharelado Disciplina: Laboratório da Linguagem Visual II Profª. Rosana Krug
JOSIANE DUTRA DE SIQUEIRA CEZAR
A COLAGEM NO CUBISMO, DADAÍSMO E SURREALISMO
Embora exista um entrelaçamento de ideias dos movimentos artísticos que sucederam o Cubismo, como Dadaísmo e Surrealismo - haja vista que todos caracterizavam o rompimento dos conceitos da arte tradicional europeia e burguesa dos períodos anteriores - cada movimento continha suas particularidades. No século XX, o Cubismo rompe com os padrões estéticos da perfeição das formas e na representação das imagens realistas da natureza cultivados pelos europeus até o Renascimento. Essa ruptura do discurso plástico conceituado dos movimentos antecessores, sob a influência da pintura de Cézane, liberta o artista da opressão da superfície e da perspectiva. Esse período divide-se em duas fases, o Cubismo Sintético e o Analítico. O Cubismo Analítico, de 1910 a 1912, tende a fragmentar as imagens e ordená-las de forma desproporcional à realidade cuidando para não chegar ao ponto de torná-la abstrata e sem reconhecimento. Nas cores, passagens de cinza, ocre e castanho, branco e preto. Na composição das colagens, que segue à fase analítica, os diversos elementos sobre a tela, como tinta e outros materiais, de texturas ou não, papéis ondulados, superpostos ou lado a lado, e a apropriação de fragmentos dos textos de jornais, revistas, partituras, tecidos, madeira, caixas de fósforo entre outros era incorporado à pintura. O efeito das colagens através dos relevos criam efeitos de tridimensionalidade, sugerindo assim um fim aos limites entre pintura e escultura. Antes do século XX a colagem já era conhecida, porém não com a responsabilidade artística e técnica adquirida no período cubista.
Durante o Cubismo Sintético, de 1913 a 1914, os volumes coloridos nas representações geométricas sobre superfícies planas voltam a ser valorizados. O dadaísmo foi um movimento artístico que surgiu em Zurique, Suíça, no ano de 1916. Em meio à Primeira Guerra Mundial. Com um comportamento anarquista, o pensamento dadaísta promove de forma agressiva e irônica a ruptura dos conceitos e formas da arte tradicionais até então difundidos. O termo inglês non sense se resume na falta de sentido, algo absurdo ou sem nexo e esse significado reflete no nome concebido ao movimento dada, que embora em francês seja cavalo de madeira, a non sense da linguagem é comparada à fala de um bebê. Os artistas de várias categorias que se rebelavam contra os parâmetros da arte tradicionais criavam obras artísticas que difundiam suas ideias por meio da ironia, piadas, trocadilhos ou da nonsense.
AS COLAGENS NAS OBRAS DOS ARTISTAS
As colagens de Braque, Picasso e Gris despertam o interesse de artistas dos círculos cubistas mais próximos e dos mais distantes, que passam a fazer uso de colagens em suas composições. Juan Gris nasceu em Madri, na Espanha, no dia 23 de março de 1887, grande nome do cubismo que trabalha exaustivamente com colagens em cores vibrantes ao contrário das obras monocromáticas de Picasso e Braque.
Boulogne-sur-Seine, Juan Gris, 1927.
Homem no café, Juan Gris, 1914.
Georges Braque foi um escultor, gravurista e pintor modernista francês. Nasceu na cidade francesa de Argentuil, em 13 de maio de 1882. É o inventor da técnica do papier collé, técnica que utiliza colagem de pedaços de papel na tela.
Violino e jarro, Georges Braque, 1910.
Picasso nasceu em 5 de outubro de 1881, em Málaga, Espanha. Foi pintor, escultor, gravador, ceramista, cenógrafo, poeta e dramaturgo que passou a maior parte de sua vida adulta na França.
Guitarra, Picasso, 1913, papel colado, carvão, giz e nanquim sem papel. ,
O pintor, filósofo e teórico cubista francês Albert Gleizes, nasceu em 8 de dezembro de 1881, Paris. Foi um dos fundadores do movimento cubista.
Portrait of Igor Stravinsky, Albert Gleizes,
Louis Marcoussis foi um artista gráfico e pintor de origem judaica da Polônia. Nasceu em 14 de novembro de 1878, em Varsóvia, mas recebeu cidadania francesa por ter vivido em Paris a maior parte de sua vida.
Violon, bouteilles de Marc et cartes, Louis Marcoussis, 1919
Fernand Léger, pintor e desenhista cubista, nasceu em 4 de fevereiro de 1881, em Argentan, França. Em 1914, Léger foi recrutado para as trincheiras da Primeira Grande Guerra e a partir daí sua pintura passou a representar a sua admiração por objetos mecânicos, em especial, os tanques de guerra. A partir de 1920, predomina em sua obra a figura humana enquadrada por elementos industriais.
Machine elemento 1st state, Fernand Lèger, 1924.
Sonia Delaunay, pintora e designer, nasceu em 14 de novembro de 1885, em Hradyzk, Ucrânia. A artista desenvolveu sua arte nas áreas do design têxtil e gráfico e aplicava a abstração geométrica além das cores fortes em seus trabalhos. Foi a primeira artista feminina a receber em vida uma exposição retrospectiva no Louvre em 1964, e em 1975 a nomeação de oficial da Legião de Honra Francesa.
La prosa du Transsibérien et de la Petite Jehanne de France , Sonia Delaunay, 1913, - livro ilustrado com aquarela aplicada através de pochoir (stencil) e cópia do relevo no papel, 2,00 x 35,6 cm..
LITERATURA
Os textos de Guillaume Apollinaire, escritor e crítico de arte francês nascido em 26 de agosto de 1880, Roma, eram inovadores através de seu manifesto, marcariam os períodos que sucederiam o Cubismo. Seus textos sem
pontuação
e
regularidade
gráfica,
foram
importantes
para
as vanguardas na França, tais como o do Cubismo e posteriormente a poesia futurista.
ESCULTURA
Na escultura, os trabalhos de Alexander Archipenko, Jacques Lipchitz, e Henri Laurens são exemplos de volumes.
Carroussel Pierrot, Alexander Archipenko, 1913.
Sculpture, Jacques Lipchitz, 1916
Figura, Henri Laurens, 1929.
PRINCIPAIS ARTISTAS DADAÍSTAS E OBRAS
Nos trabalhos de Kurt Schwitters, nascido em 20 de junho de 1887, em Hannover, Alemanha. Conhecido por suas colagens foi também o inventor da arte das instalações artísticas. Suas inovações iriam, definitivamente, conduzir muito da arte do século XX e início do XXI e, através de sua influência na Bauhaus, definir novos rumos para o design publicitário. O artista dá ênfase sobre elementos e materiais diversos, como exemplo nas obras Merz (1919), que segundo ele, não só utiliza a cor, a tela, o pincel e a paleta, mas todos os materiais percebidos pelos olhos e as ferramentas necessárias.
Merzbild Rossfett, Kurt Schwitters, 1919.
Hugo Ball, poeta, escritor e filósofo alemão nasceu em 22 de fevereiro de 1886, em Pirmasens. Foi um dos principais artistas do Dadaísmo e escreveu o Manifesto Dadaísta, sendo considerado por muitos teóricos o inventor da poesia fonética.
Cabaret Voltaire, Hugo Ball, 1916
George Groz nasceu em Berlim, em 26 de julho de 1893. Desenhista, caricaturista e pintor dadaísta alemão, retratava em suas obras temas como a corrupção, a violência urbana e social através de sátiras e críticas à imprensa e ao clero.
Plano tatliniano, George Groz, 1920, aquarela, tinta e colagem sobre papel, 41 x 29,2 cm
A obra e a atuação de Francis Picabia estabelecem um elo entre Europa e Estados Unidos. Albert Gleizes e A. Cravan, a expressão dada em
Barcelona. Picabia se associa também ao grupo de Tzara e Arp, em Zurique. E Nova York é protagonista do movimento com Marcel Duchamp e Man Ray.
Máquina De Transformar Rapidamente, Francis Picabia, 1917.
Tristan Tzara nasceu em 16 de abril de 1896, Moinesti, Romênia. Poeta romeno, judeu e francês, foi um dos iniciadores do Dadaísmo. Escreveu o Manifesto Dadaísta e muitos teóricos o consideraram o inventor da poesia fonética.
Retrato de 1927, por Lajos Tihanyi
Richard Huelsenbeck nasceu em Frankenau, Alemanha, em 23 de abril de 1892, foi poeta, escritor de relatos de viagens, baterista, médico, psicanalista alemão e participante do grupo fundador do Dadaísmo, Cabaret Voltaire. Rauol Hausmann começou a criar fotomontagens satíricas em 1918, como forma de protesto contra a sociedade burguesa. Ele usava materiais do cotidiano, como fotografias, recortes de jornal e uma tipografia extrema. Em O Crítico de Arte, Hausmann satirizou os jornalistas, cujas críticas de arte podiam ser compradas com dinheiro; como sugerido com a colocação de um pedaço de cédula atrás do pescoço do crítico.
O crítico de arte, Raoul Hausmann, 1919, Litografia e fotocolagem em papel
Johannes Baader, arquiteto, escritor e artista, nasceu em Stuttgart em 22 de Junho de 1875. Escreveu um tratado com temática religiosa, intitulandose como o Cristo, e artigos para as revistas The Street Free e Der Dada. Temas cósmicos são representados em suas colagens.
Plasto-Dio-Dada-Drama, Johannes Baader, 1920
Max Ernest, escultor e pintor surrealista alemão, nacionalizado francês, nasceu na cidade alemã de Brühl, região da Renânia em 2 de abril de 1891.
Oedipus Rex, 1922, Max Ernst
Sophie Taeuber nasceu em 19 de janeiro de 1889, em Davos, Suíça.
Sophie Taeuber-Arp, composição com encostas e pequeno círculo transparente, 1916-1918
Hans Peter Wilhem Arp, pintor, escultor e poeta franco-alemão. Nasceu em 16 de setembro de 1886 na cidade francesa de Estrasburgo.
Hans Arp, construção Elementary 1916
Hans Arp, crucificação de 1914
Marcel Duchamp, pintor e escultor francês, nasceu em 28 de julho de 1887 na cidade francesa de Blainville-Crevon,
Fonte - obra ready-made de Duchamp de 1917
Além das telas, os artistas usavam em suas pinturas e esculturas pedaços de materiais encontrados nas ruas e objetos jogados fora como bronze, madeira, mármore. Representavam as técnicas de colagens e grafismos com abstração geométrica e contexto histórico.
LITERATURA
A literatura dadaísta é desordenada, incoerente e agressivamente verbalizada. Autores ingleses como Lewis Carroll e Edward Lear, faziam uso da literatura non sense, caracterizada pela falta de sentido da linguagem, incoerência e desordem das palavras dispostas conforme surgem no pensamento, desprezo da lógica, do raciocínio a fim de ridicularizar o tradicionalismo.
O cotidiano e os seus objetos comuns eram utilizados de forma irreverente,
enfatizando
conteúdos
absurdos,
sem
lógica,
através de
fotografias, música, poesias e outros formatos. O ready-made revela o espírito crítico que alimenta o dadaísmo. Segundo Marcel Duchamp, o criador do ready-made, um objeto comum do cotidiano pode ser levado à condição de obra de arte ao receber o juízo de alguém e sua assinatura. Dessa forma, esse objeto manufaturado é promovido à dignidade de objeto de arte e aceitá-los como obra de arte significa assumir que as diversas qualidades que, tradicionalmente, conceituavam a obra de arte, já não se tornam relevante. Como se pode observar, é justamente o que preconizavam os dadaístas, o que está no foco dessas críticas: o seu rompimento com a ideia clássica de arte como representação. O ready-made caracteriza-se por ser algo que se retira do contexto tradicional. Os comentadores de Duchamp também dizem que os readymades são trocadilhos em três dimensões que, como tal, apontam para além da significação. Nisto, o chiste se aproxima da poesia. Freud falava da "benevolência do chiste: as palavras são um material plástico, com o que se pode fazer qualquer coisa". Para Lacan, "O que se diz a partir do inconsciente participa do equívoco, do equívoco que está na base do chiste". "Passou-se a aceitar como arte tudo aquilo que o artista apresenta como obra de arte. Passou a valer a assinatura, a intenção. Daí o silogismo perverso: se tudo é arte, então nada é arte". Livro Desconstruir Duchamp (2003, p. 116)
SURREALISMO
O surrealismo surgiu na França na década de 1920. O marco de início do surrealismo foi a publicação do Manifesto Surrealista, feito pelo poeta e psiquiatra francês André Breton, em 1924. O movimento surrealista é influenciado pelas teses do psicanalista Sigmund Freud, de que o homem deve libertar sua mente da lógica imposta pelos padrões estabelecidos pela sociedade e dar vazão aos sonhos e as informações do inconsciente para a produção criativa. A ironia e a crítica representavam
a
aversão
aos
acontecimentos
políticos
e
formatos
institucionais de arte da época. Os artistas surrealistas ilustravam em suas obras o bom humor, a utopia, os sonhos e a negação da lógica e renegavam os valores impostos pela burguesia conforme era declarado no Manifesto, de Breton. Embora na década de 1930 num período de expansão surrealista pelo mundo, onde artistas de várias categorias como cineastas, dramaturgos e escritores do mundo todo assimilam as ideias e o estilo do surrealismo, no final da década de 1960 o grupo entra em crise e acaba se dissolvendo. Os artistas do surrealismo de maior destaque na década de 1920 foram: o escultor italiano Alberto Giacometti, o dramaturgo francês Antonin Artaud, os pintores espanhóis Salvador Dalí e Joan Miró, o belga René Magritte, o alemão Max Ernst, e o cineasta espanhol Luis Buñuel e os escritores franceses Paul Éluard, Louis Aragon e Jacques Prévert.
Salvador Dalí, pintor e escultor, nasceu em 11 de maio de 1904, na cidade espanhola de Figueres, Catalunha. O artista representava imagens do cotidiano de forma inesperada e surpreendente. As cores vivas, a luminosidade e o brilho também marcaram o estilo artístico de Dali.
Barcelona Mannequin, Salvador Dali, 1926, 198 x 148 cm, Óleo sobre tela
A Persistência da Memória, Salvador Dali, 1931.
Nas obras de Joan Miró e Max Ernst, as telas saem com formas curvas, linhas fluidas e com muitas cores. Joan Miró, pintor, escultor, gravurista e ceramista surrealista catalão, nasceu em 20 de abril de 1893, Barcelona. Em suas obras, principalmente nas esculturas, utiliza materiais surpreendentes, como a sucata.
Nos últimos anos de vida, os elementos de seus trabalhos artísticos foram reduzidos a pontos, linhas, alguns símbolos. Reduziu também a cor, utilizando basicamente o branco e o preto.
Joan Miró, Carnaval de arlequim, 1924
Muro cerâmico, Joan Miró, no Wilhelm-Hack-Museum, Ludwigshafen, Germany, 1971
Fogos de artifício I, Joan Miro, 1974.
No Brasil, as ideias do surrealismo foram absorvidas na década de 1920 e 1930 pelo movimento modernista no Brasil. Podemos observar características surrealistas nas pinturas de Ismael Nery e da artista Tarsila do Amaral.
Desejo de Amor – 1932, Ismael Nery
Abaporu, 1928, Tarsila do Amaral
Os artistas trabalham com a distorção e justaposição de imagens. Deixam a mente aberta e dão vazão ao inconsciente, sem nenhum controle da razão. As telas saem com formas curvas, linhas fluidas e com muitas cores. Através da pintura, as ideias do surrealismo eram representadas. A tela e as tintas expressavam as emoções e a sensibilidade dos artistas plásticos. Além das artes pictóricas e a escultura, o movimento destaca também a linguagem surrealista da escrita automática, algo espontâneo e impulsivo, onde, de maneira sequencial, vários artistas escreviam partes da obra literária. No teatro, Antonin Artaud é o maior representante do surrealismo. Em suas peças teatrais ele procura impulsionar a plateia a libertar o inconsciente das regras impostas.
No cinema, cineastas também quebraram com o tradicionalismo cinematográfico. Dois filmes que representam este gênero são, Um Cão Andaluz (1928) e L'Âge D'Or (1930) de Luis Buñuel em parceria com Salvador Dalí. Artistas como Salvador Dali e Joan Miró representavam na arte uma realidade subjetiva, através do simbolismo e temas místicos e religiosos e o automatismo surrealista. Salvador Dali não tinha uma preocupação estética, mas baseava-se no que lhe dava prazer. O artista explorava imagens simbólicas em suas obras como relógios, que simbolizavam a Teoria de Einstein, de que o tempo é relativo e não fixo, em A persistência da memória. Em outros trabalhos, as imagens de formigas representavam a morte, a decadência, e o imenso desejo sexual. O elefante, a distorção do espaço e gafanhotos são o desperdício e medo. A ideia do caramujo relacionar-se com a cabeça humana veio ao avistar um caramujo em uma bicicleta perto da casa de Freud, a quem conheceu. Outra imagem comum na obra de Dalí é o ovo, o qual expressa a ideal intrauterina, que aparece em O grande masturbador e Metamorfose de Narciso, simbolizando a esperança e a caridade. Miró, por sua vez, desenvolveu seu estilo influenciado pelo interesse no Automatismo. O
desenho
automatista
era
um
meio
de
expressar
o subconsciente, permitindo que a mente inconsciente tenha controle e influência sobre o artista no processo de tomada de decisões. Joan Miró criou um estilo único em representar formas orgânicas e imagens achatadas desenhados com uma linha nítida e o uso de símbolos sexuais, como ovóides com linhas onduladas. André Breton descreveu-o como “o mais surrealista de todos nós”.
REFERÊNCIAS
ARGAN, Giulio C. Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. CHIPP, Herschel Browning. Teorias da arte moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1988. ELGER, Dietmar. Dadaísmo. Bonn, Alemanha: Taschen, 2004. http://www.suapesquisa.com/artesliteratura/dadaismo.htm http://arpmuseum.org/museum/unser-haus/kuenstlerpaar-arp.html http://arpmuseum.org/museum/unser-haus/sammlungen/sammlung-arp.html http://www.fondationgleizes.fr/fr/gleize/page/albert-gleizes/musees-etrangers http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1678-53202007000200006&script=sci_arttext http://www.suapesquisa.com/surrealismo/artistas.htm