Círculo do tempo | Falves Silva.

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CÍRCULO DO TEMPO Falves Silva


SUMÁRIO


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CÍRCULO D O recorte privilegiado para a mostra Círculo do Tempo de Falves Silva buscou, a um só tempo, reposicionar na recente história da arte e dar visibilidade à produção desse inventivo artista brasileiro. A exposição – a primeira em São Paulo a reunir trabalhos representativos e inéditos da frutífera trajetória do artista – exibe um conjunto pouco visto ou não aceito por se distanciar das apostas estéticas e geopoliticamente comerciais de seu respectivo tempo. Nesse sentido, o conjunto selecionado evidencia a importância que as redes artística e de sociabilidade, bem como a experimentação, características dos anos 60/70, tem ainda hoje na produção do artista. Os trabalhos ora exibidos, por um lado exploram a pesquisa de fundo concretista, com formas e padrões geométricos – caso da série Signo, poemas visuais que encontram no alfabismo de Álvaro de Sá a chave para uma das possibilidades de sua leitura. Por outro lado, uma forte tendência em construir narrativas, como fica evidente em Círculo do tem­ po. Nessa obra – que pode ser pensada como uma metanarrativa visual aos moldes de Giambatistta Vico, pensador que inaugurou a filosofia da história – o artista traça uma história visual da humanidade tomando como ponto de partida e fio condutor a invenção da escrita. A minuciosa narrativa visual é dividida em três partes: a idade dos deuses, a idade dos heróis e a idade dos homens. Essa divisão, clara no âmbito do discurso do artista, se embaralha numa fragmentada e multitemporal colagem de 25 metros. 4


DO TEMPO Fabrícia Jordão e Sânzia Pinheiro

Já em Equações Assimétricas, outra narrativa visual, o artista reconstrói uma genealogia do movimento do Poema-processo, seus agentes, artistas, poemas visuais e textos fundamentais. Aqui, o artista reata os nexos entre paulistas (de Oswald de Andrade a Décio Pignatári e os irmãos Campos), cariocas (Wlademir Dias Pino, Álvaro de Sá) e norte rio grandenses (Moacy Cirne, Dailor Varela…) e, nesse processo, reposiciona sua própria produção desde uma vanguarda descentralizada e simultânea. Tal qual Diderot, Falves Silva empreende a tarefa de construir uma enciclopédia, a Enciclopédia Visual. No entanto, diferente da Encyclopédie (ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers) do filósofo francês, o conhecimento condensado por Falves é apropriado, copiado e editado. Jornais, livros, revistas, catálogos, quadrinhos, panfletos são a fonte primária de onde o artista extrai o conhecimento produzido pela humanidade. Agora as imagens, e não a reflexão textual, são as grandes protagonistas. A imagem ruim, p&b, ruidosa, mil vezes copiada, editada, violentada e, algumas vezes, ilustrada por textos curtos, nos conta de uma humanidade cada vez mais midiatizada. Tipógrafo e gráfico desde adolescência, muito cedo o artista inicia uma intimidade com o papel/texto/imagem e com questões próprias da impressão e da edição. Essa experiência profissional será potencializada e radicalizada em suas experimentações poéticas culminando, muitas vezes, em livros de artistas e variados tipos de impresso. Para exposição foram selecionados 28 livros de artistas, muitos dos quais realizados em colaboração. Também 5


foram exibidas algumas edições de A Margem. Editada pelo artista durante 15 anos, a revista pode ser pensada como uma plataforma de disseminação de informações do campo da cultura – literatura, história em quadrinhos, cinema – e da poesia visual brasileira e latino americana. O conjunto exibido na mostra Círculo do Tempo nos autoriza a pensar a produção de Falves Silva como plenamente inserida na arte contemporânea, sobretudo, por sua vinculação a dois dos principais eixos da arte brasileira: os movimentos concretos e a arte conceitual. Por um lado sua produção está, ainda hoje, em intenso diálogo com um projeto de modernidade brasileira expressa nas propostas dos concretos, neoconcretos e do poema-processo. Por outro, está inegavelmente associada à arte conceitual, como atesta sua ativa e profícua atuação na rede internacional da arte correio nos anos 1960 e 70 e sua permanente experimentação. Falves Silva tem a inquietação dos inventores. Sua produção, marcada por uma minuciosa artesania, enaltece a imagem do artista “homem operário”, como se auto denomina, que não perde a si mesmo nem se aliena da sua produção. Essa imagem aponta para a própria trajetória do artista, marcada por uma incessante atualização, reinvenção e reconstrução de um projeto poético que nunca perde o vigor, a coerência e nem tampouco se aliena de seu tempo.

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Expografia Círculo do Tempo, Centro Cultural São Paulo, 2016.

Comemorativo Poema-Processo 1967-2017.

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Maria Olimpia de Mello Vassão

ENTREVISTA Falves Silva | FS

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Coleção de Arte da Cidade | CAC

26.11.2016 CAC Estamos na Web Radio do Centro Cultural da Cidade de São Paulo para fazer uma entrevista com Falves Silva, artista intermeios e poeta visual, ativo participante da rede internacional de arte correio. Passou pela poesia semiótica e pelo Poema Processo, do qual participou desde o início, junto com Wlademir Dias-Pino, Álvaro de Sá, Neide de Sá e Moacy Cirne. Sua produção envolve livros de artista, poemas visuais em que utiliza colagem, carimbo, desenhos e imagens apropriadas da cultura pop, cinema, revistas, jornais, quadrinhos. Falves Silva está em São Paulo participando como artista convidado da III Mostra de Artistas Selecionados do Programa de Exposições de 2016 do Centro Cultural São Paulo.


Falves Silva (Cacimba de Dentro, Paraíba, 27 out. 1943). Vive e trabalha em Natal, RN. É um dos fundadores do movimento poema processo. Poema Processo movimento que surgiu simultaneamente em 1967 no Rio de Janeiro e em Natal, RN (com posterior difusão no ano seguinte para Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Paraíba e Ceará).Espaço dedicado ao POEMA PROCESSO. Editor: Programa de Pós-graduação em Arte da UnB. Apoio: CNPq. Disponível em <http://www.poemaprocesso. com.br/poetas.php?poeta=25&alfaini=c&alfafim=g>Acesso: 20 Fev. 2017. Wlademir Dias-Pino (Rio de Janeiro, 02 de fev, 1927). Vive no Rio de Janeiro Em 1956, Wlademir Dias-Pino participa da Exposição Nacional de Arte Concreta, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), com outros cinco poetas: Augusto de Campos, Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Ronaldo Azeredo e Ferreira Gullar, além de 25 artistas plásticos..In: Rogério Câmara, SOLIDA 1956-1962 no livro de Rogério Câmara; Priscilla Martins (Org.). Poesia/poema: Wlademir Dias-Pino, 2015. Disponível em: <http://www.museudeartedorio.org. br/sites/default/files/wlademirdp_ textos_exposicao.pdf> Acesso: 31 Jan. 2017. Álvaro de Sá (Rio de Janeiro,1935 / 2001). Foi poeta, critico filólogo, professor e engenheiro químico. Publicou os livros: “Poemics”, “Vanguarda Produto de Comunicação”, foi co-autor de “Poesia de Vanguarda no Brasil”. Foi um dos fundadores do POEMA-PROCESSO em 1967. Participou de todas as exposições da movimento.

Neide de Sá (Rio de Janeiro RJ 1940). Trabalha e vive no Rio de Janeiro. É poeta visual e foi uma das fundadoras do movimento poema/processo, em 1967 , sendo uma das responsáveis pela publicação das revistas Ponto 1, Ponto 2, Processo e Vírgula, ligadas ao movimento. Foi casada com o poeta Álvaro de Sá (1966 e 1983). Moacy Cirne (São José do Seridó, RN, 1943/Natal, RN, 2014), poeta, teórico da poesia, artista visual e professor do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense, autor de vários livros sobre teoria da história em quadrinhos, além de ter sido um dos fundadores do poema/ processo.

Intersignos, Falves Silva, 1984.

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FS Primeiramente eu quero agradecer ao Centro Cultural da Cidade de São Paulo por este convite. São Paulo é a cidade que se destaca como polo cultural e arregimenta diversos movimentos artísticos que rolam pelo Brasil. Eu quero agradecer a Prefeitura da Cidade de São Paulo, a Marcio Harum, a Maria Adelaide Pontes, especialmente a Fabrícia Jordão e a Sânzia Pinheiro, que são as curadoras dessa exposição, inclusive a você também, Maria Olímpia. CAC Estou fazendo esta entrevista para a Coleção de Arte da Cidade que é gerida pela Supervisão de Acervo do Centro Cultural da Cidade de São Paulo. O acervo do Núcleo I de Arte Postal da XVI Bienal Internacional de São Paulo, de 1981, com curadoria de Júlio Plaza da qual você participou, chega ao CCSP em 1984, por doação de Walter Zanini, curador geral da XVI BSP. A intermediação foi na gestão de Gabriel Borba Filho (fevereiro 1984/ março 1986) que à época era Diretor da divisão de Artes Plásticas do CCSP. A doação foi condicionada à criação do Escritório de Arte Postal, coordenado por João Eudes Piraí que funcionou de 1984 a 1989 (Gestão Paolo Maranca abril 1986/ janeiro 1989). Falves, você é um dos artistas que mais se destaca na Coleção de Arte da Cidade.

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Gabriel Borba Filho (José Gabriel Borba Filho – Gabí, São Paulo, SP, 1942), arquiteto, artista intermeios, cenógrafo, curador, participa com vários artistas da publicação colaborativa de livre distribuição “On/ Off” (1973-1974), pioneiro da vídeo performance, professor universitário da disciplina “Multimídia” ECA/USP.


A AVE [livro objeto/poema, 1956] é um livro para se pensar sobre o livro e a leitura. A perfuração, a cor, os gráficos, sugerem a ideia de uso como meio de decodificação, ironizando a utilidade do olhar e das mãos. - “Assim quando começamos A AVE, estávamos participando do Movimento Intensivista em Cuiabá; e muito nos preocupava o problema da colocação da palavra nos vértices (dobradiças) do espaço (o nível ou altura da palavra no suporte do papel significava a potencialidade)”, Wlademir Dias-Pino. IN: ALMANDRADE, A Leitura Como Objeto Do Olhar. Disponível em: <http://expoart.com. br/colunista/22/almandrade.html> Acesso em 31 Jan. 2017. Em 1962, SOLIDA seria relançado como livro-poema, impresso em serigrafia. O poema é apresentado em páginas soltas dentro de um a caixa e se divide em um apêndice - que funciona como um manual didático de leitura do poema, expondo a palavra geradora – e em cinco séries de poemas visuais. As séries são conjuntos de nove páginas que recodificam cada uma das (nove) palavras do poema-matriz em elementos gráficos que evoluem do ponto para a linha, o plano e, por fim, esculturas montáveis em papel. ... No livro-poema SOLIDA, o limite da página é usado como expressão: o plano se arma em escultura, rompendo conceitos de gênero, “criando a leitura esférica globalizante”. Ao não fazer uso da língua, afirma Dias-Pino, o poema “torna-se uma linguagem visual, universal, dando uma nova escala ao conceito territorial”. In: Rogério Câmara. SOLIDA 1956-1962 no livro de Rogério Câmara; Priscilla Martins (Org.). Poesia/poema: Wlademir Dias-Pino, 2015. Disponível em: <http://www.museudeartedorio.org. br/sites/default/files/wlademirdp_ textos_exposicao.pdf> Acesso: 31 Jan. 2017.como meio de decodificação, ironizando a util

FS Minha participação, primeiro no movimento do poema processo que surge em 1967, simultaneamente no Rio de Janeiro e em Natal, em plena ditadura militar. Esse movimento, que naquele momento é vanguarda, na realidade seria uma dissidência da poesia concreta, porque ele é um desdobramento, uma continuidade dos livros AVE e SOLIDA de Wlademir Dias-Pino, que pertencera dez anos antes ao movimento da poesia concreta em São Paulo. Mas houve uma ruptura e a partir daí eu, que estava em Natal, através de Moacy Cirne, ligado ao grupo do Rio – o próprio Wlademir, Neide de Sá, Álvaro de Sá – começamos a teorizar. O poema processo vem se insurgir contra a linearidade e contra a facilidade da poesia que estava rolando naquele momento e também contra o estado de ditadura da época. Como todo mundo sabe, cultura é poder e o poder tem sempre ao lado sua cultura, levando em consideração que a ditadura também aglutinava suas práticas literárias. Isso não quer dizer que todos os poetas fossem reacionários sob o ponto de vista político, mas era uma maneira da gente se insurgir contra o sistema, não só o sistema literário, mas o sistema da ditadura. E esse movimento não era só no Brasil, vemos que em 67 outros movimentos surgiram no mundo todo. Por exemplo, o rock e os Beatles estavam em plena ascensão, as re­ voluções em alguns países, especialmente a revolução maoísta na China, 11


o Mao Tsé-Tung queimando os livros das tradições. Na França tinha aquele movimento estudantil de maio (1968) contra o sistema de lá. Nos Estados Unidos surgiram movimentos como os Beatniks, o Woodstock tudo isso foi uma aglutinação de eventos. Aqui no Brasil em termos de música surgia o Tropicalismo que vinha se unir à poesia concreta. Caetano Veloso, Gilberto Gil tem uma influência muito forte da poesia concreta em suas composições. O Cinema Novo, Glauber Rocha, o Nouvelle Vague na França também estava contra o sistema do cinema hollywoodiano, aquele cinema padrão, institucional. O Cinema Novo brasileiro surge justamente neste mesmo momento e também o poema processo, para acrescentar a cada um desses, algo de revolucionário. CAC E interessante, todos os poetas passam a ter uma ação poética performática também. Por exemplo, os artistas do poema processo chegaram a queimar os livros... FS Na realidade isso não aconteceu, seria lá em Natal, mas não houve essa queima. CAC Mas houve no Rio de Janeiro. FS No Rio houve um rasga-rasga, não foi queima. Era um happening, um acontecimento. Nós queríamos aparecer. Porque éramos poetas obscuros que estavam surgindo como movimento de juventude. CAC Nas escadarias do Teatro Municipal no Rio de Janeiro. FS Nas escadarias do Teatro Municipal, lá no Rio de Janeiro. Em Natal haveria uma proposta de se queimar livros que não chegou a acontecer. O poema processo não tinha líderes, tinha equipes. Tinha uma equipe no Rio de Janeiro composta por Moacy Cirne, Álvaro de Sá, Neide de Sá, Wlademir Dias-Pino e outros. E no Rio Grande do Norte, outra equipe que era eu, Anchieta Fernandes, Dailor Varela, Marcos Silva e ou­ tros. 12


CAC E Moacy ? FS Moacy morava no Rio. Ele fazia a ponte entre Natal e o Rio através de correspondência. Nós criamos uma publicação chamada “Projeto ”, impressa em tipografia. Estávamos ainda no tempo do clichê, não tinha Offset nem Xerox. Nós imprimíamos os poemas que geralmente eram visuais. O poema processo se pode fazer como projeto escrito e um terceiro executar esse projeto, torná-lo visual ou não, dependendo de cada um que faça o seu poema processo. O poema existe no projeto e o poeta realizará à maneira dele. Uma das vertentes interessantes do poema processo é a versão. Ela deixa uma probabilidade para a versão do produtor. O poema processo nunca está terminado, ele deixa sempre uma lacuna. CAC Então vocês provocam que o leitor seja um ... FS Se torne um produtor, um poeta. Como diria Maiakovski, na época dos futuristas no início do século passado, a cultura é como a eletricidade, você bota um poste aqui, vem a luz, bota outro acolá, vem a luz, vai botando outro lá na frente... Essa era e é ainda uma das características do poema processo. Quanto a essa coisa de versão, as versões na li­ teratura, na História das Artes, sempre existiram, não é coisa nova. Por exemplo, uma das versões mais conhecidas no mundo é o “Ulisses” de James Joyce, uma versão da “Odisseia” de Homero. 13


Noventa por cento das peças de William Shakespeare são versões de outros textos já existentes, que não eram teatro, eram textos, contos. Ele transformava em teatro, fazia a versão dele. Orson Welles fez uma versão cinematográfica do “O Processo” de Kafka. Então essa coisa de versão sempre existiu. Só que o poema processo faz isso com o propósito de deixar um espaço para que o leitor se torne um poeta. CAC Olha! Que beleza. FS Outra característica do poema processo é que o poema processo não é poesia, não é literatura, não é quadrinhos. Poema processo é outra categoria de arte. Porque cinema é um tipo de arte, teatro é um tipo de arte, literatura é um tipo de arte, romance é um tipo de arte, conto é um tipo de arte e poema processo é poema processo. Deixa de ser poesia por não trazer aquele teor melancólico e meloso de alguns poetas discursivos. É bem verdade que existem bons poetas dentro do campo da poesia, digamos linear, um poeta como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, são poetas de uma grandiosidade enorme, no entanto eram institucionalizados. O último grande sonetista foi Shakespeare. O soneto é uma forma de poesia que não cabe mais no século XXI, não tem mais por que fazer soneto, não cabe para o tempo, não é? Então essa é uma das características do poema processo. CAC Você está expondo Círculo do Tempo, são cinquenta lâminas onde você usa uma borrachinha - daquelas ocas que são encaixadas nas pontas dos lápis - como carimbo.

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O ciclo do tempo, Falves Silva, 2015-2016.

FS É, aquele carimbo, se você observar bem... Aquele circulo­ zinho pequenininho remete para a retícula, aquilo seria uma ampliação de retícula. Na realidade esse Círculo do Tempo é um poema épico, um poema aos moldes de “Ulisses”, de Joyce. Eu gosto muito de Joyce. CAC Começa com aquele ovo. FS Exatamente. São fragmentos da história da humanidade. Como a história da humanidade é enorme eu diria que não está terminado ainda. Porque é impossível você contar a história da humanidade assim em pouco tempo. A história da humanidade é tão enorme quanto o espaço sideral, as galáxias. O que eu conto é o período ao qual eu me reporto, é aquele que eu tenho conhecimento até onde atinge o meu repertório da história da humanidade. É um poema com forte característica da cultura pop e utilizando uma técnica de carimbo, colagem e desenho também porque ali tem desenho. CAC Sim, mas aí você... É quase uma pintura, você usou esse carimbo com a borrachinha, não se vê a grade para essa retícula, nem nada. 15



O ciclo do tempo, Falves Silva, 2015-2016.


FS Cada pontinho daquele é feito manualmente. CAC Você levou um ano para fazer as cinquenta lâminas? FS

Um ano e pouco.

CAC E como começa o Círculo do Tempo? FS Começa da maneira que eu entendo, da maneira que eu li que o mundo surgiu. Primeiro aquele Branco, depois aquele Ovo e aquele Buum! Aí o surgimento da Galáxia, o surgimento dos Animais, o surgimento do Homem e aí os Conflitos da Humanidade, as Guerras, as Religiões, o Conhecimento chegando até os dias atuais. Numa narrativa sequencial. CAC Outra série interessante na sua exposição são as oito lâminas coloridas do Alfabismo. FS É. Na realidade esse Alfabismo é uma versão de um poema de Álvaro de Sá chamado Alfabismo. Álvaro de Sá transforma as letras, por exemplo, o “A” em um triângulo; o “O” é um círculo. Aí ele vai transformando as letras em elementos geométricos. Dessa maneira eu peguei algumas dessas letras e fiz esse poema que é bem maior, mas eu trouxe aqui apenas oito lâminas para exemplificar. CAC E como foi feito esse poema Alfabismo? Gravura, impressão? FS São colagens em papéis de cores dife­ renciadas. CAC É uma coisa perfeita. Nem se percebe que é uma colagem.


FS

Pois é.

CAC Em 1981, você juntamente com Jota Medeiros, organizou o Primeiro Seminário de Semiótica na UFRN. Da programação constava uma exposição de arte correio. Vocês enviaram a proposta, no formato de cartão postal, para os artistas da rede internacional de arte correio. Aí os artistas interferiram e devolveram os cartões que estão agora expostos nessa sua mostra aqui no CCSP. FS Essa coisa da interferência é uma das ca­ racterísticas da arte correio. Como no caso da “versão” no poema processo, na arte correio em vez de chamar “versão”, chama-se “interferência”. Você dá um tema, nesse caso o Primeiro Seminário de Semiótica era o tema. Como eu trabalhava em gráfica, imprimi pessoalmente o convite para es­ ses postais e delimitei um espaço para o artista. A gente enviava para um determinado artista, por e­xemplo, no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e mesmo fora do Brasil. O artista fazia sua interferência e devolvia para esse Primeiro Seminário de Semiótica. Mas essa não foi a primeira exposição realizada em Natal. A primeira exposição foi Olho Mágico, que eu realizei em 1978. Fiz o convite e enviei para vários artistas de diferentes partes do mundo, eles devolveram. Fiz essa exposição Olho Mágico, em Natal (duas vezes), em João Pessoa, em Recife e em Mossoró. Tenho essa exposição toda guardada, porque penso em reproduzi-la em livro. CAC Bem interessante. Olha Falves, antes de voltarmos para as obras que você está expondo no Centro Cultural, eu gostaria que você falasse um pouquinho de sua formação. Você começou em um cineclube, não é? 19


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Meta-signos, Série Sinais, Falves Silva, 2007.

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FS Na realidade, sou autodidata. Quando se pergunta da minha formação eu digo que sou um artista “deformado” e não “formado”. [Risadas]. Por ser autodidata... Inclusive acho que esse meu autodidatismo se deve muito a São Paulo, vou lhe explicar por quê. Na minha juventude, rapazinho, sempre gostei de arte, sempre gostei de história em quadrinhos. Acho que o meu gosto por história em quadrinhos, cinema e lite­ ratura foi o que me levou a mudar meu pensamento. Na minha família não tem nenhum intelectual, sou um operário, sempre fui operário, hoje sou aposentado. Mas o salário... Em Natal, na década de sessenta, tinha a Faculdade de Medicina e outros dois cursos universitários. Não tinha nenhum curso de arte. Nas revistas em quadrinhos, que eu lia muito, vinha uma propaganda de um curso de desenho por correspondência do Instituto Universal de São Paulo. Eu queria aprender a técnica de desenhar “claro-escuro”, toda a técnica de perspectiva. Então me inscrevi nesse curso. Eles mandavam as lições, com os papéis e eu devolvia. Eu ficava tão emocionado. Nesse tempo não era arte correio. Depois eu viria a fazer arte correio, mas isso aí, o curso, era 1962, 1963. Terminei fazendo o curso e passando. No estudo autodidata você tem que se esforçar porque senão, não passa. Você está fazendo uma coisa individual. E não tinha nenhum professor lá na cidade. Não era amigo de nenhum pintor. Conhecia os pintores da cidade, alguns famosos já, mas não eram meus amigos. Eles eram de classe alta e eu um 22


operário. Não podia chegar e falar com eles. E também qual era o pintor profissional que iria me ensinar a desenhar? A não ser que eu pagasse e eu não tinha dinheiro, era operário, não é? Então eu estudava à luz de candeeiro essa correspondência daqui de São Paulo. E como o meu nome é Francisco Alves, lá dizia numa dessas aulas que o artista tinha direito de usar um pseudô­nimo. Meu nome é Francisco e todo mundo me conhecia como Chico. Todo Francisco é Chico. Aí eu pensei em colocar Chico da Silva, mas aí eu descobri que tinha um Chico da Silva no Ceará. Chico Alves não podia porque já tinha o cantor. Daí eu tirei o “F” e juntei o “Alves” e comecei a usar “Falves”. Inicialmente eu acrescentava “da Silva”, mas depois tirei o “da” e ficou “Falves Silva”. CAC Muito bem escolhido. FS E é um nome diferente porque o pessoal não sabe se é feminino ou masculino. Nas minhas correspondências com artistas de outras partes do mundo, teve um momento em que, em correspondência com Anna Banana – que é uma artista canadense, mas morava nos Estados Unidos – ela me fez um convite para participar de uma exposição feminina e perguntou se eu era mulher ou era homem, porque pelo nome ela não sabia. Aí eu respondi que sentia muito, mas não podia participar por ser homem. [Risadas]. Mantive uma cor­respondência muito grande com vários artistas. Tenho trabalhos espalhados em quase toda parte do mundo. Estados Unidos, Espanha, França, Checoslováquia, 23


Polônia, México, Uruguai, Alemanha, Portugal, Inglaterra, Canadá, Austrália, Japão entre outros. CAC Voltando à exposição, grande parte dos Livros de Artista que você está expondo também fazem parte de uma proposta colaborativa. São livros que você enviou para outros artistas interferirem. Como foi o processo? FS Sempre trabalhei em Gráfica. Então fiz um protótipo de livro. Peguei uma série de jornais, revistas, histórias em quadrinhos e recortei até mesmo um livro literário, recortei um livro de história também. Em cada um intercalava com páginas diferentes, assuntos diferentes, e alguns com páginas em branco também. Cada um dos livros tem cerca de setenta páginas, que enviei para artistas em várias partes do mundo. Vários não responderam, mas alguns responderam e estão aí na exposição. CAC Quais artistas responderam? FS Rea Nikonova, da Rússia, Clemente Padín, do Uruguai e Paulo Bruscky, Lucio Kume, Pedro Osmar, Dailor Varela daqui do Brasil. Eu mesmo interferi em alguns. O resultado é que saiu um livro eclético, cada um com uma coisa dife­ rente, porque cada cabeça é uma sentença. CAC Você participou também da Posição Amorosa, proposta de Hudinilson Jr. para o Núcleo I de Arte Postal da XVI Bienal Internacional de São Paulo em 1981? 24

Rea Nikonova (Anna Alexandrovna Tarshis) 1942 Eysk, Rússia / 2014) artista conceitual, poeta visual. Foi casada com Serge Segay e juntos editaram a revista “Trans­ ponance” (1979-1986) que a partir do número 28 passa a se chamar “Rea-Structures”; a maior parte das edições estão “The Ruth and Marvin Sackner Archive of Concrete and Visual Poetry”, Miami USA. Disponível em: <http://ww3.rediscov. com/sacknerarchives/> Acesso: 10 fev. 2017


FS Participei. Tenho inclusive correspondência dele no meu Arquivo. Cada artista de arte correio é um arquivo, um museu particular. Caso alguma Instituição não se interesse, talvez esses arquivos tendam a se perder. CAC Fale um pouco sobre o carimbo que você criou no formato de um quadrado com uma flecha em cada um de seus lados. FS Fiz esse carimbo para mostrar a multidireção da arte correio, ela poderia ir para várias partes do mundo, Norte, Sul, Leste, Oeste. O propósito daquelas setas era esse. CAC Você não comentou ainda sobre sua participação no cineclube. FS O Cineclube Tirol foi um movimento de jovens que surgiu em 1961, em Natal. Era ligado à igreja católica. Como operário, eu pertencia à Juventude Operária Católica, um movimento do catolicismo, representado pelos cinco dedos da mão: JAC, JEC, JIC, JOC, JUC que era Juventude Universitária, Juventude Estudantil, etc. Faziam reuniões e tal, aquela coisa de educar, uma coisa bem característica da época. A Igreja estava vendo que a sociedade estava se esfacelando naquele momento. E a Igreja, acho, estava preocupada com o avanço de outras religiões como o Protestantismo que continua ainda hoje. Aqui no Brasil, especialmente os Pentecostais. E certo padre que gostava de cinema, na Paróquia de Santa Terezinha, convidou esse pessoal da JOC para integrar o Cineclube Tirol. Naquele período Natal não tinha televisão, só rádio. A diversão era rádio e cinema. O grande evento era você ir ao Cinema no dia de domingo, para namorar. Era a época de Juventude Transviada, filme do grande cineasta Nicholas Ray interpretado por James Dean. Intersignos, Falves Silva, 1984


CAC E quais filmes eram projetados? Eram os filmes do Novo Realismo italiano? FS Sim, mas no início os filmes eram desinteressantes. A gente discutia qualquer filme, e a partir disso a gente começou a descobrir que existia um tema mesmo num filme sem muita estética. Começamos a estudar cinema, a ler livros sobre cinema. Naquela época surgiam muitos livros sobre o assunto. Me lembro muito bem, “Aspectos do Cinema Americano”, de Salvyano Cavalcanti de Paiva , “A Tela Demoníaca”, de Lotte H. Eisner e a História do Cinema Mundial, das Origens a Nossos Dias, de Georges Sadoul, um francês, que era em vários volumes. E começamos a estudar. Todo fim de semana discutíamos um filme, até que o grupo se dividiu. Conseguimos uma máquina emprestada fizemos três filmes diferentes de 10 minutos. Naquele tempo não tinha 8 mm então a gente fez em 16 mm, mas graças à nossa incompetência não sobrou nada desses filmes. No cinema, a película precisa de cuidados. A gente não tinha nada. Apresentamos os três filmes numa sessão do próprio Cineclube Tirol. Alguns interessantes, mas para iniciantes. E continuamos a estudar. Entre as pessoas que participaram do Cineclube Tirol estava o Moacy Cirne, que foi o aglutinador da história do movimento do poema processo. Como ele tinha facilidade de viajar, viajava muito de Natal para o Rio. Em Natal, criamos o Cinema de Arte, que era uma sessão especial. Ninguém nem sabia o que era Cinema de Arte e depois de certo tempo outros intelectuais que gostavam de ci­ nema começaram a participar. E aí a gente assistiu tudo quanto era filme interessante. Filmes de arte, do expressionismo alemão, do Neo-Realismo, de Antonioni e outros. Cada escola com sua especificidade e a gente estudava esses filmes. Aí, claro, a gente já estava mais sólido no nosso repertório, cada um com seu conhecimento. Moacy Cirne, em 1966 chega em Natal com a ideia da poesia concreta, trazendo vários números da revista “Invenção”. Quando vimos a revista, falamos: - “Puxa, que coisa!” Começamos a nos empolgar. Eram os irmãos Campos, Décio Pignatari, todos eles... E fizemos, em Natal, uma Plaquetezinha comemorando os dez anos da poesia concreta em 1966. Em suas viagens, Moacy encontra o Wlademir Dias-Pino no Rio. Da conversa entre eles - Álvaro de Sá, Neide de Sá e outros - Moacy traz a ideia do poema processo. Quando soubemos do poema processo, dissemos: – “É por aqui que a gente vai.” Porque a poesia concreta já estava solidificada. No entanto, acho que a poesia concreta ainda não está sen26


Salvyano Cavalcanti de Paiva (Natal, RN, 1923 / Rio de Janeiro, 2011) Realizou importante estudo sobre o cinema brasileiro, que foi publicado na Revista MANCHETE em 1953. Tal estudo foi utilizado como fonte de consulta para o livro História do cinema mundial, de Georges Sadoul. Foi Fundador e Diretor do Círculo de Estudos Cinematográficos e da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro. Como Jornalista e Pesquisador, escreveu vários livros, entre eles Aspectos do cinema americano, O gangster no cinema e História Ilustrada dos Filmes Brasileiros: 1929-1988, que deve ser relançado, e outros dois ainda inéditos. Fez doação de seu Arquivo para o MIS Fundação Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro

do estudada no âmbito que merece. Eu diria que a Universidade do Rio Grande Norte é a primeira que se interessa pela poesia concreta porque lá em Natal a gente já comemorou os dez anos desse movimento, em 1966. Tem um livro, que foi reeditado agora, uma Plaquetezinha, com umas 40, 50 páginas, com experimentações de poetas do Rio Grande do Norte com a poesia concreta. E no ano seguinte alguns desses poetas que participaram dessa Plaquete iriam para o poema processo, como Dailor Varela, Anchieta Fernandes. Fiz algumas experiências com poesia concreta, mas nunca de grande qualidade. Sou muito ligado na Semiótica.

Lotte H. Eisner (Berlim, Alemanha 1896 / Neuilly-surSeine, França, 1983) EISNER, Lotte H. A Tela Demoníaca: As |Influências de Max Reinhardt e do Expressionismo, tradução de Lucia Nagib, Rio de Janeiro, Ed. Paz e Terra / Instituto Goethe, 1985. Disponível em: https://ayrtonbecalle.files. wordpress.com/2015/07/ eisner-lotte-h-a-tela-demonc3adaca-as-influc3aancias-de-max-reinhardt-e-do-expressionismo.pdf Acesso: 26 jan. 2017.

CAC Visual, não é?

Georges Sadoul (Nancy, França,1904 / Paris, França, 1967) historiador do Cinema é autor da a História do Cinema Mundial: das origens aos nossos dias, cuja edição brasileira mais recente data de 1963, em dois volumes, pela Livraria Martins Editora. Inclui um capítulo especial

FS Na ótica, porque nessa época não conhecíamos o conceito de Semiótica. Comecei a fazer os poemas processo a partir do meu próprio co­ nhecimento. Sempre gostei de pesquisar, por exemplo, sempre admirei muito Mondrian. Na minha juventude já me empolgava com Mondrian, com os filmes de Godard, com o cinema de Hitchcock, de Fritz Lang, com Eisenstein e com Glauber Rocha. CAC E vocês chegaram a ver os li­ vros que os Irmãos Campos publicavam - o livro de Mallarmé, o do Khlébnikov?

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FS Eu lia alguns livros deles. Como foi evoluindo eu nunca deixei de ler. Sempre tive uma forte admiração por eles, muito especialmente por Décio Pignatari, poeta por quem tenho uma fixação. Mas isso não quer dizer que não goste dos irmãos Campos. CAC Esse livro que está na mostra, Elementos da Semiótica, de 1982, trata do que? FS É uma experiência tipicamente semiótica. O título já diz, “Elementos da Semiótica”. Muita gente diz: – “Por que você não bo­ tou de semiótica?” – “Porque não é de; é da. Da ciência semiótica”. São elementos visuais com o mí­ nimo de texto, mas tem texto. Passei um ano para fazer esse livro, que, inclusive recebeu um elogio de Boris Schnaidermann. Tenho o bilhete que ele escreveu para mim. Disse mais ou menos assim: – “Jamais vi um livro expresso quase que semióticamente”. Algo assim, não estou lembrando agora.

Elementos da Semiótica SILVA, Falves, “Elementos de Semiótica”, Timbre Edições, Natal, RN, 1982.Coleção Livro de Artista / UFMG. Participa da exposição Tendências do livro de artista no Brasil: 30 Anos depois, Curadoria: Amir Brito Cadôr e Paulo Silveira, Piso Flávio de Carvalho, Centro Cultural São Paulo, 28 nov. 2015 / 20 mar. 2016, São Paulo, SP. 28


Elementos da Semiótica, Falves Silva, 1982.

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CAC E seu livro “Intersignos”? FS “Intersignos” é uma espécie de continuação do “Elementos da Semiótica”. É um livro com folhas soltas e a cores. CAC De quando é esse livro “Intersignos”? FS De 1982. Como trabalhava em gráfica e era chefe de oficina, sempre sobravam papéis. O papel, quando vem com a resma, tem um papel em cima e outro em baixo, guardando o restante do papel. Esse papel não servia de nada para a gráfica. Comecei a guardar esses papéis, passei um período guardando e daqueles papéis eu fiz algumas páginas e intercalei com outras e resultou um livro com várias páginas em papéis dife­ rentes, desde papel Flor Post que é um papel fininho, transpa­ rente, um papel Super Bond, um papel de 24k. Então terminou um livro eclético, feito somente em tipografia. Nesse tempo não existia Offset. É um livro artesanal.

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Intersignos, Falves Silva, 1984.

CAC Você chegou a usar Letraset? FS Usei um período. Ao longo de minhas experiências eu usei muito Letraset, principalmente retícula. Mas, na realidade gosto muito de recortar a letra, e ir montando, uma por uma. CAC De onde você recorta essas letras? FS

De revistas, publicações, jornais...

CAC Mas, fica uma coisa tão perfeita que não se percebe a colagem. FS

Você pensa que é feito em computador. Mas não, é recortado.

CAC Você recorta com estilete? FS Eu recorto com tesoura ou com estilete também, depende do tipo de letra.

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CAC No livro “A Desconstrução Verbal” você usa muitas letras. FS Exatamente. Uso não só as letras, mas também imagens. Colo imagens com letras. “A Desconstrução Verbal”, como diz o título, é a desconstrução do verbo linear que dá outro significado. Esse livro foi produzido entre 1993 e 1995, mas foi publicado em 1997. CAC Esse livro é composto por trinta lâminas, algumas delas coloridas, como por e­­ xemplo, a Marilyn. FS Quando o tema é social, assim muito forte, eu procuro colocar uma imagem escura e as letras pretas, e também quando o tema faz muita apropriação de fotografia. Você cita, por exemplo, a Marilyn. Eu ponho colorido para significar o glamour dela, do cinema colorido. E a coisa do preto e branco é mais para o Novo Realismo em termos ci­ nematográficos. CAC Você também faz muita apropriação de fotografias, mas as utiliza de maneira completamente diferente. FS É, faço. Muitas vezes a foto toda ou então misturo com outra foto. Geralmente eu pego uma composição fotográfica, recorto ou junto com outra. Cada uma dá um determinado efeito, dependendo do que estou imaginando. CAC Na série Cápsulas da Memória, de 2013, você se apropria de algumas fotos. Por exemplo, numa foto de trabalhadores, você sobrepõe letras onde tem enxadas e armas levantadas e funde tudo isso numa composição própria. 32

Cápsulas da Memória Curadoria: Falves Silva e Sânzia Pinheiro. Textos de Dácio Galvão, Celina Muniz, Yuno Silva e Roberto Siqueira, Sebo Vermelho Edições, 2013 20,5 x 29,5 cm Editor: Abimael Silva. Capa e Projeto: Falves Silva. Artistas brasileiros homenageados: Álvaro de Sá, Câmara Cascudo, Newton Navarro, Oswald de Andrade, Terezinha de Jesus, Wl­­ademir Diaz-Pino. Arte Correio: Leonhard F. Duch, Wlademir Dias-Pino, Paulo Bruscky, Hélio Leite, Unhandeijara Lisboa, Jorge Grimm e estrangeiros. Fotografias: Alderico Leandro, Alex Gurgel, Antônio Manso, Clovis Santos, Clóvis Tinôco, João Alves, Rodolfo Câmara, Ayres Marques, Paulo Saulo e Osório Almeida. Obs. Inclui uma entrevista com Falves Silva, comemorando os 70 anos do poeta “maldito” da imagem (poema processo, etc.) Col. A.M. Disponível em: <http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_ brasis/rio_grande_norte/ falves_silva.html> Acesso: 15 Fev. 2017.


FS Onde tem uma foto de um jogador de futebol com uma bola nos pés, em vez de eu deixar a bola, eu colo uma letra, um “O”, por exemplo, que é um círculo. CAC E fica uma coisa realmente muito boa. FS Dá certa unificação apesar de desordenado, mas o conjunto lá diante fica ordenado. CAC Os poemas visuais que compõem a Antologia que faz parte da exposição são todos seus? FS Ali é uma Antologia que eu fiz. É uma caixa branca, não tem letra, não tem indicação nenhuma. Eu fiz de propósito mesmo, para mostrar a pureza da arte e também que remete aos Beatles, aquele “Álbum Branco” dos Beatles, por exemplo. São só os meus poemas. No início eu fazia experiência meio cubista, com influência de Picasso e outros. CAC Se bem que parece muito com aquela corrente da arte russa um pouquinho anterior ao Suprematismo. FS Sim, exatamente. Faço uma leitura de alguns. É a coisa da influência mesmo. Todo artista tem influência de outros artistas. Você não pode nascer do nada; surge de outros movimentos, de outros artistas. A Antologia traz a sequência de 1966 até 2003. E as 50 lâminas que compõem o “Ciclo do Tempo” são de agora (2015-2016). Fiz em um ano e meio. Aí já não é mais poema processo, talvez desdobramento, na categoria de poema visual, porque o poema visual já está acabado, enquanto o poema processo deixa sempre uma lacuna para o indivíduo interferir, recriar. CAC Você editou a revista “A Margem” junto com Jaldete Soares e Franklin Capistrano ?

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FS Com Franklin Capistrano, sim. Jaldete não morava em Natal, ela morava em Campina Grande, na Paraíba e não era do meio. Nos comunicávamos apenas como artistas de arte correio. A editora era Rejane Cardoso, que é jornalista profissional. Mas quem diagramava era eu e selecionava o material com Franklin Capistrano. Eu fazia o projeto gráfico e arregimentava os artistas e outros materiais. Em conversa com o Franklin a gente definia a editoração de “A Margem”. CAC Dailor Varela também participou, não é? FS Dailor Varela já estava em São Paulo, ele veio para cá. CAC Alguns números de sua coleção pessoal de “A Margem” estão na exposição. A coleção completa, como lhe falei, agora faz parte do acervo do Pérez Art Museum Miami, pela compra do Arquivo dos colecionadores ... FS De Ruth e Marvin Sakner.

Ruth e Marvin Sakner : The Sackner Archive of Concrete and Visual Poetry. 34


A margem, Falves Silva, 1986-2001.

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CAC O Arquivo está na Internet. E sobre a revista “Brouhaha”, número 10. FS É uma revista da Prefeitura de Natal. O número 10 foi uma ho­ menagem aos 40 Anos do poema processo. CAC Você também participou de outro fanzine colaborativo de arte correio, o “Povis”? FS “Povis” era uma revista de publicação nossa, particular. Eu e o Jota Medeiros éramos os editores. Em alguns números a gente pedia para um determinado artista enviar 100 ou 150 cópias. Cada um dos artistas convidados mandava 150 cópias. Nós participávamos também com 150 cópias de um trabalho de nossa autoria. Juntávamos tudo para fazer a revistinha, que era enviada a cada um dos participantes, e também a outras instituições. De maneira que a revista era feita em cola­ boração com o próprio poeta que estava em Campina Grande, ou em Curitiba ou na França. Teve até um poeta francês que mandou trabalho. É o Julien Blaine. Dessa mesma maneira o Clemente Padín fazia no Uruguai uma publicação desse tipo. Era o “Ovum”. E como ele outros artistas na Europa também faziam isso. Era o “Common Press” na Europa, criada por Páwel Petàsz na Polônia. CAC Você participou de alguma revista de Páwel Petàsz? FS Participei. Essa revista Commonpress (1977-1990) era feita em vários países. Um número era feito nos Estados Unidos, outro feito na Itália, outro na Polônia. CAC O Paulo Bruscky e o Leonhard Frank Duch também editaram um número do “Commonpress”... Ah, já sei qual em que você parti­ cipou. Você participou da “Commonpress” número 23 “Political Satire” Zen Art. FS

É, acho que sim. Nicola Frangione foi um ...

CAC O Nicola Frangione foi o editor. E com essa sua participação, você está em vários arquivos em museus.


“Povis”, revista editada por Jota Medeiros e Falves Silva no final dos anos 1970 em Natal, RN

FS

Commonpress (1977-1990) WELCH, Chuck. Commonpress 1977-1990. In: FOCUS V | Global Network Zines: The Public Face of Mail Art 1970-1985. Disponível em: <http://www. lomholtmailartarchive.dk/ focus/focus-5-chuck-welchglobal-network-zines> Acesso: 21 fev. 2017

Com isso eu tenho um acervo enorme.

CAC E você tem nº 23 Zen Art da revista “Commonpress” também? FS Tenho. Cartões postais, cartazes. Cada cartaz lindo! Porque tem alguns catálogos que eram cartazes. CAC Com a Polônia sob um regime autoritário, Páwel Petàsz delegou para outros artistas a coedição de sua revista “Commonpress”. FS Inclusive era uma revista de produção precária, especialmente porque era editada em papel jornal que é pobre, mas depois apareceram outras edições em um papel de melhor qualidade. CAC Vamos falar também sobre os Selos de Artista. FS

Fiz um para Moacy Cirne.

CAC E como eram feitos esses Selos de Artista? FS É uma das características da arte correio. Porque o selo é aquela coisa comemorativa que o correio oficial faz. Os artistas da arte correio começaram a fazer o seu próprio selo, comemorando a si mesmos ou algum assunto. Quem mais produziu Selos de Artista foi o italiano Gu­ glielmo Achille Cavellini. Inclusive, acho que ele tinha muitos recursos, porque fazia muitas publicações e as enviava pelo correio. Ele chamava essa ação de Arte a Domicílio. E aí cada artista começou a fazer o seu próprio selo e eu entrei nessa também. 37


CAC Essa edição do seu selo, com fundo verme­ lho e com fundo azul, é de quando? FS É de 1993. Foi na época que completei 50 anos juntamente com Moacy Cirne. Temos a mesma idade, fiz o selo em homenagem aos 50 anos de Moacy, e outro para mim. Moacy Cirne nunca pertenceu à arte correio. Ele pertenceu ao poema processo. CAC E os calendários? FS Esses calendários são recentes. Foram feitos em Natal dois tipos de calendários, um de parede e outro de mesa. Como o poema processo estava completando 40 anos, um amigo nosso, que tem uma gráfica, resolveu fazer uma doação ao poema processo. E fizemos o Calendário Comemorativo 40 Anos do Poema Processo. CAC E quando se comemoraram os 40 Anos do poema processo? FS Foi há nove anos. O ano que entra completa 50 Anos. Para 2017 estou preparando uma exposição chamada Equações Assimétricas, para essa comemoração. É uma série de 50 laminas. CAC Você está exibindo oito lâminas de Equações Assimétricas nessa exposição do CCSP. FS Acho que são doze lâminas. Eu quero contar a história da poesia de vanguarda, especialmente do Rio Grande do Norte, envolvendo também o Rio de Janeiro e outros poetas. CAC Você pode dizer o nome de alguns poetas que vão estar representados na exposição Equações Assimétricas ? 38


Selo de artista, Falves Silva, 1993.


FS Dailor Varela e o Anchieta Fernandes, de Natal; José Bezerra Gomes, que é um poeta revolucionário no sentido literário, mas fazia poema de texto, muito bons, com características de hai-kai. O Jorge Fernandes é outro poeta de 1927 que já fazia uma tentativa de poesia concreta, inclusive teve alguns poemas publicados na “Revista Antropofagia” de 1928. Ele só tem um livro, que é o “Livro de Poemas”. Naquele período foi revolucionário, quebrou todos os paradigmas da linearidade da poesia. Ele só tem esse livro porque ele foi muito combatido na época por ser revolucionária a maneira como ele fazia poesia. CAC Então nessas Equações Assimétricas você vai homenageando esses poetas. FS Especialmente esses do Rio Grande do Norte. Homenageio também Ronaldo Azeredo, Décio Pignatari, Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Edgard Braga, José Lino Grünewald, e outros que fizeram poesia concreta. CAC Nós temos no Arquivo Multimeios quase todos os livros do Edgard Braga. Quando ele faleceu, a Lenora de Barros trabalhava no IDART e intermediou a doação junto à família. Você sabe que Décio Pignatari foi uma das pessoas que criou o IDART em 1975? FS É? Eu não sabia não. Eu o conheci pessoalmente em Natal, em algum desses Seminários. CAC A Curadoria de Artes Visuais do Centro Cultural São Paulo, (Maria Adelaide Pontes e Márcio Harum) fez uma grande exposição sobre o Décio Pignatari, chamada Arquivo Décio Pignatari: Um Lance de Dados. Você precisa conversar com ela. CAC E aqui o livro de Moacy Cirne A Poesia e o Poema do Rio Grande do Norte.. FS É, nas vitrines estão expostos alguns livros dos quais fiz as capas. 40


José Bezerra Gomes (Currais Novos, 1911 / 1982) “Antologia Poética” (1974), seu único livro de poemas. A Fundação Cultural “José Bezerra Gomes” foi instalada março de 1993, em Currais Novos, RN. Falves Silva faz a capa do livro de Moacy Cirne . “Dez poemas para José Bezerra Gomes”, Natal, RN, Fundação José Augusto, 11 f, Livro inconsútil: folhas soltas em carpeta de papel Ex. bibl. Antonio Miranda. Disponível em: <http://www. antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/ rio_grande_norte/moacy_cirne.html> Acesso: 26 jan. 2017. cesso. Jorge Fernandes (Jorge Fernandes de O­liveira, Natal, RN 1887-1953), poeta, foi precursor do Modernismo no Rio Grande do Norte. Tem seus poemas comentados por Antonio de Alcântara Machado. “Jorge Fernandes”. In: Reedição da Revista Literária Publicada em São Paulo, 1ª e 2ª “Dentições” 1928 - 1929. Introdução de Augusto de Campos. Edição fac-similar da “Revista de Antropofagia”, Editora Abril Ltda. e Metal Leve S/A, São Paulo, 1975. Disponível em: ,https://joaocamillopenna.files.wordpress. com/2014/02/andrade-oswald-de-revista-de-antropofagia.pdf> Acesso: 15 fev. 2017.

Arquivo Décio Pignatari: Um Lance de Dados A mostra de caráter retrospectivo, Arquivo Décio Pignatari: Um Lance de Dados (de 20 ago./ 25 out.2015) foi uma homenagem ao poeta-inventor e teórico da informação e comunicação Décio Pignatari (1927-2012), resultante de um extenso trabalho de digitalização de seu arquivo pessoal em pareceria com o CCSP, tendo em vista que Pignatari foi o primeiro diretor do Centro de Pesquisa de Arte Brasileira, do Departamento de Informação e Documentação Artísticas - IDART da Secretaria Municipal de Cultura, criado em 1975, e que deu origem ao acervo do Arquivo Multimeios do Centro Cultural São Paulo da Cidade de São Paulo. A Poesia e o Poema do Rio Grande do Norte, de Moacyr Cirne, reedição do Sebo Verme­ lho, Projeto Nação Potiguar, Natal 14 set. 2014 (Dia da Poesia).

Edgard Braga (Maceió, AL 1897 - São Paulo, 1985) poeta moderno, visual e experimental, médico alagoano, ligado ao mo­vimento concreto paulista. Seus livros estão na pesquisa tombada sob o n.º1583 “A Literatura Marginal” Análise da produção literária editada à margem do circuito comercial em 1976. Arquivo Multimeios da Supervisão de Acervos do Centro Cultural da Cidade de São Paulo, aberto à consulta pública.

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Equações Assimétricas, Falves Silva, 2016-2017.


CAC Eu fiquei muito interessada nesse Centro de Documentação do Poema Processo e da Poesia Visual, Mail Arte, Arquivo de Falves Silva. FS A gente conversando lá, certa vez, eu, Moacy, Anchieta e Jota Medeiros, Moacy disse: - “Pessoal, a gente poderia criar um Centro de Documentação aqui em Natal”. Isso ficou na minha cabeça. E depois, é difícil, eu não tenho muita facilidade de me envolver com instituições. E nem tenho tempo, sou operário, trabalho em gráfica, trabalhei um tempo como funcionário público, mas já estou aposentado. Mas nunca gostei muito de bajular e lá em Natal se não bajular não sai do canto. Acho que no Brasil todo é assim. [Risadas]. Como eu tenho um Arquivo, vou criar, mesmo que não seja uma coisa oficial. Esse que é o meu Centro de Documentação. CAC Claro, seu Arquivo... FS Que inclusive está aberto a algumas pessoas que estiverem interessadas. Só não vou também deixar ao léu para qualquer um levar. Só quando eu sinto que a pessoa realmente está estudando, querendo fazer alguma coisa. Agora está saindo uma série de teses de doutorado, dissertações de mestrado sobre o poema processo. Nos Estados Unidos, inclusive. O Eduardo Kac esteve em minha casa no ano passado, ele é professor na Universidade de Chicago e comprou todas as revistas “A Margem” que eu tinha, o livro “Elementos da Semiótica” e alguns outros poemas. Levou para a Universidade, para ensinar lá. E me falou que tem uma pessoa lá que está fazendo uma tese, só não sei quem, nem sei se de doutorado ou dissertação de mestrado sobre o poema processo. E em Natal tem o Dácio Galvão que fez sua dissertação de mestrado sobre a teoria do poema processo. Ele é Secretário de Cultura da Prefeitura de Natal, na atual gestão. A tese de Jota Medeiros é também sobre a teoria do poema processo. Agora, no atual momento, tem um professor no IFRN que é o Instituto Federal do Rio Grande do Norte, muito interessado no poema processo. O ano passado nós fizemos uma experiência, eu fiz uma exposição nesse Instituto que intitulei Olho por Olho. 44


CAC Como foi essa experiência na exposição Olho por Olho? FS Foi o seguinte, um poema de Anchieta Fernandes chamado Olho. Como eu trabalho numa gráfica, ele foi impresso errado, a impressão saiu assim espelhada do outro lado. Pensei em usar essa “ruma” de papel já impresso, levei aos alunos e disse: - “É possível fazer uma versão disso aqui. Isso aqui está errado, mas vocês podem fazer mesmo assim”. E então cerca de 40 alunos participaram. Eu mesmo fiz 50 versões desse erro e transformei num livro. Pena que eu só publiquei um único exemplar. Eu não tenho dinheiro para publicar li­ vros. Nenhuma editora vai arriscar publicar um livro sem aquele contexto mercantil imediato. CAC Quer dizer que é um único exemplar? FS Ultimamente eu tenho feito isso, vários exemplares, mas todos únicos. Dessa caixa que eu trouxe, a Caixa Branca, eu fiz 10 exemplares, por mim numerados. CAC No livro “A Desconstrução Verbal”, achei interessante que você menciona Marighela, o Carlos Lamarca e aquele moço ... FS Emmanuel Bezerra dos Santos e Zumbi dos Palmares também. Esse livro é uma espécie de homenagem a alguns. Como Lampião, Zumbi, Marighela, são pessoas que foram, digamos, sacrificadas pela sociedade. Emmanuel foi metralhado, inclusive aqui no interior de São Paulo. Era aquele período da ditadura e ele fez parte da resistência, foi preso e metralhado. Como tantos outros foram. Mas, como ele era do Rio Grande do Norte, eu fiz essa homenagem a ele. Eu o conhecia pessoalmente. A minha primeira exposição lá em Natal a gente saiu para tomar uma cerveja. Era um rapaz simpático. Era de esquerda, estudante. Ele foi presidente da Casa do Estudante lá em Natal. CAC Você fez a capa do livro do Moacy Cirne, “A Escrita dos Quadrinhos”?

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Enciclopédia Visual, Falves Silva, 1997-1998.


FS “A Escrita dos Quadrinhos” é o primeiro livro de crítica de quadrinhos escrito no Rio Grande do Norte . O único crítico de quadrinhos era ele. Agora, ele escreveu muito quando morava no Rio de Janeiro. O primeiro texto sobre quadrinhos escrita e editada no Rio Grande do Norte foi esse e a capa é minha, por sinal. CAC Você quer dizer alguma coisa, para chamar as pessoas para virem ver sua exposição? FS Eu acho o seguinte, é uma oportunidade para quem se inte­ ressa por vanguarda ou por arte. Chamem de vanguarda ou não, se a palavra está em desuso ou não, eu continuo achando que sim. Porque eu acho que vanguarda é aquela arte que está sempre adiante. Ela deixa de ser vanguarda quando começa a ficar instituída. E no caso o poema processo já começa a entrar nessa. Um exemplo disso é essa exposição no Centro Cultural São Paulo e outras que estão acontecendo em outras partes do mundo. No Recife, houve agora uma exposição homenageando a poesia visual e o poema processo. No Rio de Janeiro, em 2016, houve outra, em homenagem ao Wlademir Dias-Pino, e na 32.ª Bienal Internacional de São Paulo deste ano eu vi um poema enorme dele, que é um “cara” que eu admiro e por quem tenho uma

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Exposição individual O poema infinito de Wlademir Dias-Pino, Curadoria: Evandro Salles, Museu de Arte do Rio (MAR), Rio de Janeiro, RJ, março/junho 2016. Disponível em: <http://www.museudeartedorio.org.br/pt-br/ node/3503> Acesso: 17 Fev.2017.


O ciclo do tempo, Falves Silva, 2015-2016.

“A Escrita dos Quadrinhos”, 2006. É de autoria de Moacy Cirne o primeiro livro de crítica de História em Quadrinhos escrito no Brasil, “A explosão criativa dos quadrinhos” (1970). Para ler os quadrinhos (1972), “História e crítica dos quadrinhos brasileiros” (1990, Prêmio La Palma Real, de Cuba), “Quadrinhos, sedução e paixão” (2000) e “A invenção de Caicó” (2004).

32.ª Bienal Internacional de São Paulo Na 32ª BSP, 2016, Wlademir dias-Pino apresenta duas obras, uma instalação no interior do edifício da Fundação Bienal de São Paulo que é um recorte da Enciclopédia Visual Brasileira (1970-2016), 1001 volumes divididos em 28 séries. As imagens são compostas a partir de conteúdos apropriados de várias origens e épocas por meio de colagem, recorte, Xerox, sobreposição e manipulação digital; e externamente, em diversos pontos do Parque do Ibirapuera Outdoors (2015- 2016), uma série de placas com abstrações geométricas. Disponível em: <http://www.32bienal. org.br/pt/participants/o/2609> Acesso: 10 fev. 2017. 49


afinidade muito forte, apesar de não conhece-lo pessoalmente, só por correspondência. Eu nunca fui ao Rio de Janeiro e esta é a segunda vez que eu venho a São Paulo. Estive aqui no ano passado e achei a cidade uma lindeza, apesar de todas essas contradições, porque uma cidade nesse formato tem que ter contradições. São Paulo, Nova York, Tóquio, todas essas cidades tem suas contradições, é perfeitamente natural. Mas uma cidade que tem nome de santo é abençoada por deus. [Risadas]. CAC Então muito obrigada pela entrevista. Você quer dizer mais alguma coisa? FS Resta convidar o pessoal para aparecer aqui no sábado, que é a inauguração, e depois visitarem a exposição, que vai ficar até Março de 2017. Tem tempo suficiente para toda população de São Paulo ver a exposição. [Risadas]


CRONOBIOGRAFIA Falves Silva

EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS 2016 | 2017 Círculo do Tempo, Falves Silva, artista convidado, III Mostra do Programa de Exposições, Curadoria: Fabrícia Jordão e Sânzia Pinheiro. 2016 Sinais – Falves Silva, uma série de trabalhos realizados entre 1974 e 2007, Galeria Superfície, São Paulo. 26 Poemas de Amor e Ódio, Festival Literário Alternativo da Praia da Pipa, Natal, RN. 2013 Cápsula da Memória, retrospectiva e Sinais, exposições simultâneas, Curadoria: Falves Silva e Sânzia Pinheiro, Galeria da Fundação Capitania das Artes e do IFRN- Cidade Alta, Natal, RN. 2003 Explovisão Poema-Processo Hoje, Rio Claro, SP. 2012 Explovisão Vila Rock Point, Praia de Pipa, RN, Brasil. Individual de Falves Silva: Mostra de Arte Contemporánea Dia do Artista Plástico, Fundação Hélio Galvão, Natal, RN, Brasil (individual e coletiva). 2001 Individual de Falves Silva: 11 Contro 1, Embaixada Brasileira, Roma, Itália (individual e coletiva). 1988 Brasil Football Gol Solar Bela Vista. Natal, RN. 1985 Falves Silva Retrospectiva, Natal, RN. 1983 Brasil Ontem/Hoje Individual de Falves Silva, Natal, RN. 1976 Sexo Maldito, Gravuras, Natal, RN. 1974 Desenhos: Individual de Falves Silva, Livraria Presença, Natal, RN. 1973 Exposição Desenhos Biblioteca Câmara Cascudo, Natal, RN. 1971 Individual de Falves Silva, Biblioteca Câmara Cascudo, Natal, RN. 1968 Sexus: Individual de Falves Silva, Francesinha Clube, Natal, RN. 1967 Individual de Falves Silva, Faculdade de Jornalismo Natal, RN. Individual de Falves Silva, Faculdade de Direito Natal, RN. 1966 Erótica, Galeria do Município, Praça André de Albuquerque, Projeto cultural do então prefeito Agnelo Alves, Natal, RN. Mostra Pinturas Galeria de Arte do Municipio, Natal, RN. 51


EXPOSIÇÕES COLETIVAS 2016 Tendências do Livro de Artista 30 Anos Depois. Curadoria: Amir Brito Cadôr e Paulo Silveira, Piso Caio Graco, Centro Cultural São Paulo, São Paulo, SP. 2012 Cápsula da Memória, retrospectiva e Sinais, exposições simultâneas. Curadoria: Falves Silva e Sânzia Pinheiro, Galeria da Fundação Capitania das Artes e do IFRN- Cidade Alta, Natal, RN. 2010 | 2011 A Arte Postal da 16ª Bienal de São Paulo, curadoria Isis Baldini, Sala Tarsila do Amaral, Centro Cultural São Paulo, SP. 2002 Brazilian Visual Poetry, Curadoria: Regina Vater, Mexic-Arte Museum, Austin, Texas, USA. Travelling Arte Postal: Curto-Circuito, Porto, Portugal. Mostra de Arte Contemporánea Dia do Artista Plástico, Fundação Hélio Galvão, Natal, RN, Brasil (individual e coletiva). 2001 11 Contro 11 Embaixada Brasileira, Roma, Itália. 1999 II Bienal de Arte Correo, Espanha. II Semana de Cultura Solar Bela Vista, Natal, RN. 11ª Exposição Internacional de Arte Postal Câmara Municipal de Barreiro, Barreiro, Portugal. Exposição Arte Postal: Curto-Circuito. Porto, Portugal. Exposição Poesia Visual Latino-americana, Montevidéu, Uruguai. 1998 Exposição Internacional de Arte Postal Câmara Municipal de Barreiro, Barreiro, Portugal. 1997 IX Exposição Internacional de Arte Postal, Câmara Municipal de Barreiro, Portugal. 1995 Mostra Nacional de Poesia Visual, Curadoria: Falves Silva, UFRN, Natal, RN. Mostra de Poesia Visual Brasileira. UFMG, Ouro Preto, MG. O Cinema: Sétimo Festival Nacional de Arte Postal, Câmara Municipal de Barreiro, Portugal. 1990 Jazz Past/Future, Youngstown, Ohio, USA. 1989 III Bienal de Poesia Visual, DF, México. 1988 II Multimedia Internacional, Inauguração da Biblioteca Central, ESAM, Mossoró, RN, Brasil. 1987 Poema/Processo Brasileño, Montevideo, Uruguai. 1986 I Bienal Internacional de Poesia Visual, DF, México. 1985 Mostra Internacional de Arte Contemporânea, Rosário Argentina. 1984 Exposição de Livros de Artistas Brasileiros, promoção da Biblioteca Central da UFPE/ Biblioteca Blanche Knopf da Fundação Joaquim Nabuco, Biblioteca Central da UFPE, Recife, PE. International Mail Art Exhibition, Tóquio, Japão 52


EXPOSIÇÕES COLETIVAS 1983 Multimídia, Centro de Convivência, Campus Universitário, UFRN, Natal, RN. Exposição Nacional de Art door: Natal em Natal. Curadoria: Equipe Bruscky & Santiago, Org. Jota Medeiros, Rose Marie, Ari Rocha, Novenil Barros. Promoção: Coope­rativa de Artistas de Natal e UFRN, Natal, RN. 1982 World Art Post Exhibition: Stamp works-Commemorative stamps, Org. Artpool (György Galántai e Julia Klaniczai), Fészek Klub, Budapest, Hungria. 1981 Erotica Exotica International Mail Art Exhibition, New Vistas Gallery, CA, EUA. Homosexualitàt (Commonpress #39), Curadoria: Christoph Machart / Páwel Petàsz, Kommunikations-Centrum Ruhr, Dortmund, Alemanha. Alien Transmissions. Mail art exhibition, Artlink Artspace, Fort Wayne, Indiana, EUA. Mostra Internacional de Arte Postal 1981. Coord. Geral: Mário Röhnelt, Rogério Nazari e Milton Kurtz, Espaço N.O., Galeria Chaves, Porto Alegre, RS. Núcleo I de Arte Postal – XVI Bienal Internacional de São Paulo, Curador geral: Walter Zanini; Curadoria Núcleo I de Arte Postal: Júlio Plaza, Gabriela Suzana Wilder (Assistente), Cida Galvão (Auxiliar), Pavilhão Armando Arruda Pereira, Parque Ibirapuera, São Paulo, SP. Arte Correio Brasil: I Seminario de Semiótica e Arte. Curadoria de Jota Medeiros e Falves Silva, Hall de Entrada da Biblioteca Central da UFRN e na Galeria de Arte do NACCentro de Convivência Djalma Marinho, UFRN. Promoção: Núcleo de Arte e Cultura NAC/ UFRN, Associação Brasileira de Semiótica/ RN UFRN, Natal, RN. Mostra paralela ao evento 1º Seminario de Semiótica e Arte. 1980 1ª Mostra de Arte Postal de Belo Horizonte: Posições Amorosas, Org. Luciano Cortez, Sala 621, Faculdade de Letras, Belo Horizonte, MG Mostra de Arte Postal, Org. Atalie Rodrigues Alves Ferreira, Coordenação: Joaquim Branco, Alberto Harrigan Filho, Hudinilson Jr., Pinacoteca Municipal de Franca, Franca, SP. Internat ... Fool! Mail Art Show, Org. Jürgen O. Olbrich, Râ (Jacques Jin), Ku­nstraumLebensraum, Kassel, Alemanha. Oxirramphus 1066 Exposição Internacional de Arte Correio, Org. Sergio Pena e Gilmar Cardoso, DAGRO-FAFICLA (Faculdade de filosofia Ciências e letras), Arapongas, PR. International Mail Art Exhibition arte marginale e socialità e Alternative art ma­ gazine. Armadio Officina, Galleria Civica, Comune di Monza, Italia. “... everywhere in chains...”, The 1980 Outback Postal Art Show is dedicated to Abel Luis Vigo (AR), Clemente Padín (UR), Jorge Caraballo (UR) & Pavel Buchler (CH) and to work of Amnesty International, Org. Postcard Preservation Society, Orana Mall, Dubbo, N.S.W., Australia. Xeroart 80, Ribeirão Preto, SP. 53


EXPOSIÇÕES COLETIVAS

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1979 | 1980 1984 Is coming... Soon! Org. Winston Smith, Eric Arthur Blair and Chuck Stake, Clouds ‘N Water Gallery One [Cloud ‘n’ Water Gallery de 1974 a 1980; ex Off Centre Centre, de 1980 a 1987; 1987/ atual: The New Gallery, Calgary, Alberta, Canada. 1979 I Exposição de Arte Postal de Araraquara, promoção da Biblioteca Municipal “Mário de Andrade”, Araraquara, SP. Exposição internacional de Arte Correio, Curadoria: Paulo Bruscky, Biblioteca Pública “Marechal Castelo Branco”, 2º Festival de |Inverno da UNICAP, Recife, PE. I Mostra de Arte Postal de Campinas, dedicada a Clemente Padín e Jorge Caraballo, artistas visuais dedicados à arte postal presos e perseguidos desde 1977 no Uruguai, Organização: Comissão Pró-Cultural Eng. Alimentos e Agrícola da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Campinas, SP. Multimedia Internacional, Idealização: Tadeu Junges e Walter S. Silveira, Org. de José Guilherme Rodrigues Ferreira, Marília Gruenwaldt, Betty Leirner, Iara Simonetti, Assessoria: Walter Zanini, Escola de comunicações e Artes da USP, Cidade Universitária Armando Salles de Oliveira, São Paulo, SP the mythical image / l’immagine mítica: esposizione internazionale di “arte postale”. Org. Gino Gini, Studio Arti Visive, Matera, Itália. Itinerância: 1980 [mar.], Studio 16/e, Torino, Italia; [maio/jun.] Istituto Statale d’Arte, Siracusa, Italia; [set./out.] Caffé Pedrocchi, Padova, Italia; 1982 [jan.] Laboratorio Artivisive, Foggia, Italia; [maio] Università di Pavía, Pavía, Italia; [nov.] Palazzo Comunale, S. Vito dei Normanni, Italia. 1978 2º Festival de Inverno, UNICAP, Recife, PE; 1980, em João Pessoa, PB; 1982, em Natal e em Mossoró, RN. ARTE CORREIO – BRASIL, curadoria: Paulo Bruscky, 1.º Festival de Inverno UNICAP, Recife, PE. II Festival de Artes, Natal, RN. Exposição Duchamp (homenagem) Londres, Inglaterra. 1977 EXPOETICA, Exposição internacional 1967/1977 : Mostra comemorativa dos 10 anos do movimento do poema / processo. Org. Jota Medeiros, Anchieta Fernandes e Falves Silva, Biblioteca Câmara Cascudo, Promoção: Fundação José Augusto, Natal, RN. Primeira Exposição Internacional de Arte Por Correspondência, Org. Jota Medeiros, Restaurante Universitário da UFRN, Natal, RN. 1976 Experiências Escola de Artes Visuais, Rio de Janeiro. 1975 Exposição Poema/Processo, Livraría Presença, Natal, RN. 1974 Coletiva, Livraria Presença, Natal, RN. 1973 Exposição Coletiva, Biblioteca Pública, Natal, RN. 1970 II Explo Sesc Coletiva, Natal, RN. Explo: Coletiva Nacional Poema processo, Fortaleza, CE. III Fespepi (Festival de Poesia de Pirapora): Coletiva Prêmio Oswald de Andrade, Pirapora, MG.


EXPOSIÇÕES COLETIVAS I FAC (Festival Áudio – Visual de Cataguases, MG. Exposição Internacional de Poema Processo e outros Poemas visuais, Colégio Winston Churchill, Natal, RN. 1969 Segunda Exposição Internacional do Poema Processo. Galeria da Fundação Capitania das Artes, Conferencia de Clemente Padín. Scrash Processo, Teatro Santa Rosa, João Pessoa, PB. Explo / Processo, Cecosne, Recife, PE. Explo / Processo, Cecosne, Brasília, GO. Explo Internacional de Novissíma Poesia coletiva, Buenos Aires, AR. Exposición Internacional de la Nueva Poesia, Montevideo, UR. Explo Sesc, Natal, RN. 1968 Explo Nacional Arte Processo Recife, PE. 1967 Explo 02 - Exposição inaugural do movimento poema /Processo, Galeria O Sobradinho, Natal, RN e simultaneamente no Rio de Janeiro. 1966 Poesia Concreta: 10 Anos, Org. Grupo Dés (Moacy Cirne, Anchieta Fernandes entre outros), Galeria de Arte do Município, Natal, RN. Coletiva, Galeria L’Atelier, Natal, RN.

PUBLICAÇÕES 1986 CAPISTRANO, Franklin. CATAGRAMAS, Ilustrações de Falves Silva, Natal, RN. “O Princípio do Fim”, quadrinhos, Natal, RN.

1982 “Elementos da Semiótica”, livro Timbredições, Natal, RN. 1972 “O Destino dos Robôs”, Natal, RN.

EDIÇÃO de PUBLICAÇÕES ALTERNATIVAS POEMA PROCESSO E ARTE CORREIO 1986 | 2001 A MARGEM, Editores: Falves Silva, Anchieta Fernandes e Franklin Capistrano, revista colaborativa entre participantes rede de arte correio e poesia visual Natal, RN. 40 edições. 1984 | 1985 CRIAÇÃO – UMA REVISTA VANGUA|RDA, revista literária, poesia visual e semiótica, Editores: Dácio Galvão, Falves Silva e Venâncio Pinheiro. A revista teve apenas duas edições, em 1984, a primeira e em 1985, a segunda e última. 1975 PROJETO 8, Recife, PE. 1974 PROJETO 7, Natal, RN. 1972 PROJETO 6, Rio de Janeiro, RJ. 1970 PROJETO, Envelope, Editores: Equipe Poema/Processo J. Medeiros, Anchieta Fernandes e Falves Silva. Impresso tipograficamente em clichês. 55


CÍRCULO DO TEMPO Silva, Falves. 1a. edição São Paulo, SP | 2017 Exemplares ISBN PROJETO GRÁFICO | PRODUÇÃO GRÁFICA | FOTOGRAFIA Júlia Milward AUTORES DOS TEXTOS Introdução | Fabrícia Jordão e Sânzia Pinheiro Entrevista | Cronobiografia | Maria Olimpia de Mello Vassão CURADORIA E PRODUÇÃO DA EXPOSIÇÃO Fabrícia Jordão e Sânzia Pinheiro PUBLICADO POR Editora Xêmoá REALIZAÇÃO

Distribuição gratuita, proibida a venda. Esse livro foi composto na Fonte Didot e Stellar. O miolo foi impresso em Papel Pólen Bold 70 g/m2 e a capa impressa em Papel Kraft 300 g/m2 pela Gráfica MaisType em São Paulo.


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