CÍRCULO D O recorte privilegiado para a mostra Círculo do Tempo de Falves Silva buscou, a um só tempo, reposicionar na recente história da arte e dar visibilidade à produção desse inventivo artista brasileiro. A exposição – a primeira em São Paulo a reunir trabalhos representativos e inéditos da frutífera trajetória do artista – exibe um conjunto pouco visto ou não aceito por se distanciar das apostas estéticas e geopoliticamente comerciais de seu respectivo tempo. Nesse sentido, o conjunto selecionado evidencia a importância que as redes artística e de sociabilidade, bem como a experimentação, características dos anos 60/70, tem ainda hoje na produção do artista. Os trabalhos ora exibidos, por um lado exploram a pesquisa de fundo concretista, com formas e padrões geométricos – caso da série Signo, poemas visuais que encontram no alfabismo de Álvaro de Sá a chave para uma das possibilidades de sua leitura. Por outro lado, uma forte tendência em construir narrativas, como fica evidente em Círculo do tem po. Nessa obra – que pode ser pensada como uma metanarrativa visual aos moldes de Giambatistta Vico, pensador que inaugurou a filosofia da história – o artista traça uma história visual da humanidade tomando como ponto de partida e fio condutor a invenção da escrita. A minuciosa narrativa visual é dividida em três partes: a idade dos deuses, a idade dos heróis e a idade dos homens. Essa divisão, clara no âmbito do discurso do artista, se embaralha numa fragmentada e multitemporal colagem de 25 metros. 4