HERMENGARDA DO VALLE-FRIAS
IDEIAS INQUIETAS Do lugar em que me encontro, vejo ao longe o Tejo. Melhor, vejo o oceano, porque ali já o Tejo se envolveu amorosamente com as águas mais profundas do Atlântico. Daqui, de onde estou, vejo o mar. Esse mesmo mar que permitiu um dia às gentes desta Nação cruzar as águas bravas e vastas em direcção às novas oportunidades que a Europa, entrincheirada nos grandes Reinos e Estados, parecia vedar a esta gente de humilde trato que se foi aquartelando neste pequeno espaço de condado. Essa História, que tantos enaltecem sem conhecer, é a história de um punhado de gente que levou as traineiras da vida à conquista de novas fronteiras. Essa História, que tantos aplaudem sem ver, é a história de um povo que não se acomodou e ensinou ao mundo como é possível entoar A Portuguesa, daqui até ao fim do espaço conhecido, em todas as línguas e cantos. É certo, também é uma história de gente que colonizou, que não soube tantas vezes conviver e optou por impor. Mas é, sobretudo, a história que nos permite ter hoje a grandeza de olhar para trás e perceber o quanto se ganhou com tanto de viajar…
Somos, de origem, a soma de afectos e rudezas vários. Somos o que aqui ficou dos Iberos, dos Celtas, dos Celtiberos, dos Lusitanos, e Fenícios, Gregos, Cartagineses, Romanos, Bárbaros, Muçulmanos. Somos Portugal! Depois, ainda fomos todos os Continentes que encontrámos pela frente. Sabe-se lá o que mais… Dizer, por piada, que Amstrong, quando deixou a bandeira na Lua, já lá encontrou um garboso galo de Barcelos, se calhar, tem menos piada do que imaginamos. E não imaginamos precisamente porque, feitas contas certas, se calhar, o próprio Amstrong teria uma tia com origem em trás-os-montes ou alentejo nos idos de outros tempo, ainda que longínquos, que galgou mundo em busca de novas felicidades. Temos no sangue a raça de muitas raças diferentes e isso confere-nos a sabedoria e a tolerância com que, muitos de nós, a maioria felizmente, envergonhamos quando nos falam de arianismo, racismo, supremacia e outras adjectivações do género. E esta é a riqueza de ser português. Esta é a fortuna que nos faz repensar passos menos bem dados na História e recuperar os afectos que um dia desleixámos, esta é a clarividência