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Pano para Mangas Margarida Vargues

as últimas semanas, muito se tem falado na comunicação social sobre o ensino em N

Portugal, especialmente sobre a crescente e gritante falta de professores, não só por ser uma classe maioritariamente à beira da idade da reforma, mas também por ser uma profissão nada - mesmo nada! - atractiva aos olhos dos mais jovens. De uma coisa podemos ter a certeza: sem professores não há médicos, não há engenheiros, não há arquitectos, não há advogados, não há juízes, não há… a lista é infinita, tal como as razões que têm levado ao abandono da carreira por muitos profissionalizados.

A título de curiosidade, e movida por esta avalanche de notícias, fui consultar as tabelas salariais em vigor e fazendo contas ao tempo que (não) tenho de serviço - por ter estado afastada do ensino praticamente desde que me formei -, caso concorresse e ficasse colocada - hoje, quase de certeza ficaria! - o meu salário líquido mal daria para pagar as despesas fixas e, caso a colocação exigisse uma mudança para longe, com sorte conseguiria pagar um quarto partilhado e alimentar-me-ia de latas de atum com massa o mês inteiro.

Este facto, aliado ao que vivencio e oiço sobre o que se passa dentro das salas de aula, levoume a ir buscar um dos filmes da minha vida - e quiçá das escolhas que fui fazendo ao longo dos anos. E de que filme se trata, afinal? Nada mais, nada menos que o Clube dos Poetas Mortos. Quem nunca o viu que se acuse! Se se acusou, não espere mais - está disponível no Youtube para compra ou aluguer. Sim, também deve existir pirateado, mas como o exemplo vem de cima, adquiri-o para o dar a conhecer aos meus alunos e para o (re)ver tantas quantas vezes que me apetecer.

O filme é longo para a duração das aulas. Infelizmente… Assim deixei ao critério de cada aluno que escrevesse o fim da história a partir de alguns momentos de viragem. Só depois o mostrei até ao fim. Houve textos surpreendentes, outros nem por isso. Nada fora do normal.

Deste modo, nas últimas semanas, as palavras Carpe Diem ou O Captain! My Captain! entraramme pela alma seis vezes. Seis vezes. Comovome sempre. A última cena deixa-me lavada em lágrimas.

O curioso é que apesar de ter sido realizado em 1989 e de a história se passar nos anos 50 do século passado, há cenas que podiam acontecer agora, neste início de anos 20 do século XXI.

A prepotência e intransigência dos pais retratados transporta-me para as exigências actuais de que na cabeça de muitos, os filhos são prodígios e que valores na pauta inferiores a 4 ou 17, de acordo com o nível de ensino, não são notas válidas. Por incrível que pareça, ainda há quem exija que os filhos estudem para ser isto ou aquilo, em prol do status, do reconhecimento, da placa dourada numa qualquer porta onde possa ser exibido o título conseguido. Isto causa angústia, frustração e dor. É uma faca de dois gumes, onde o meio termo é difícil de encontrar, onde os egos se sobrepõem ao SER e fomentam o TER (“ Se tiveres um 18, ofereço-te…”) Temo que se esteja a criar uma geração de TERES HUMANOS…

E onde entra Mr. Keating - o professor cujos métodos de ensino são muito pouco ortodoxos - na sociedade de hoje? Ainda há alguns como ele, felizmente. Mas como ele, também nós, os professores, somos castigados por um sistema onde o aluno tem sempre razão e onde as notas são inflacionadas em prol do “bem de todos” apenas para não haver problemas nem milhares de burocracias para cumprir, que mais parecem um castigo que um dever. A liberdade de pensamento e de interpretação são tolhidos por programas extensos, obsoletos, muitas vezes aborrecidos e que fomentam a memorização sem criar conexões entre as diversas áreas. As notas são sobrevalorizadas em detrimento da vocação e dos talentos naturais. Está tudo à distância de um click e as teclas de Ctrl C + Ctrl V fazem o trabalho que pertence ao cérebro. É mais fácil. Dá menos trabalho. As notas desejadas continuam a preencher a pauta.

Utopia, ou não, acredito na mudança. Acredito na existência de outros Mr. Keating na vida das gerações mais novas. Acredito, ainda, que o ser professor venha também a ter direito à tal placa dourada, ao reconhecimento, ao salário ajustado,

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