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Ré em Causa Própria Adelina Barradas de Oliveira
from 49ª Edição
Faz anos de que eu pecadora me confesso a vós senhor e a vós irmãos que pequei muitas vezes por palavras actos e omissões.
De que peco ainda muitas vezes por palavras e por actos e todos os dias por omissões.
Eu pecadora me confesso de continuar a fechar os olhos e seguir em frente, como se todo o Mundo fosse um local de praia e areia branca em que as marés se repetem com as luas e eu assisto, serena, de pensamento pendurado no olhar e sorriso encostado ao queixo, no punho aberto quando devia fechar-se. Eu pecadora me confesso de continuar a minha vida a assegurar a minha carreira e a minha sobrevivência e a dos meus e de ler jornais todos os dias como se visse filmes.
Eu pecadora me confesso por fazer férias enquanto o ébola destrói vidas e anunciam ora a cura, ora a propagação do vírus.
Eu pecadora me confesso de partilhar com amigos gargalhadas e sorrisos, sonhos de realização enquanto caem aviões abatidos por manobras militares e ninguém assume responsabilidades.
Eu pecadora me confesso de me ter licenciado em Direito e esquecer por vezes as razões que me levaram a fazê-lo.
Confesso-me pecadora por dilema e lutadora por sistema e, confesso-vos a vós senhor e a vós irmãos hoje, que faz anos que muitos inocentes morreram por nada, que tenho consciência de que hoje, faz horas que muitos outros inocentes morreram por razão nenhuma.
E não peço absolvição do meu pecado e nem suporto penitência. O que eu preciso de ouvir dizer e a cada um de nós é :- Guilty! - como num filme americano em que os jurados decidem da minha pena...
Mas não há pena para mim, como não há pena para as nações que violam os Direitos Humanos e essas, são todas as Nações formadas e reconhecidas no Mundo e principalmente, essas.
Eu pecadora me confesso por pecar muitas vezes por pensamentos e por actos e, todos os dias, por omissões.