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Cantinho do João João Correia
from 49ª Edição
Sobre os prefácios, os posfácios e sobre os agradecimentos aos tradutores.
Nunca li um prefácio, mas quando terminei a “Conversa na Catedral” tive que o fazer.
Talvez para encontrar, de imediato e sem grandes esforços, uma opinião sobre o livro que me ajudasse a pôr as ideias na ordem. Sempre ouvi dizer que as pessoas, quando sofrem um acidente de viação, reconstroem a realidade de modo não muito fidedigno uma vez que devido ao choque ou trauma, nem sempre se recordam de tudo o que sucedeu de uma forma clara ou com nitidez.
No dito prefácio encontrei diversas percepções sobre Lima, cidade que já tive o prazer de visitar, opiniões sobre a política sul americana assim como um relato da nossa postura (europeia) face a esta. Só para o final é possível ler, no dito prefácio, sobre o livro de Llosa encontrando neste algumas comparações e exemplos que nos ajudam a compreender o que aconteceu, não fosse esta a forma mais fácil de explicar algo complexo a alguém, através do exemplo ou da comparação.
A obra é comparável a um caleidoscópio ou a um puzzle sendo a leitura da mesma realizada através daquele ou mediante o preenchimento das peças deste num exercício de elevada dificuldade que nos deixa, não poucas vezes, frustrados. A compensação (ou frustração) surge quando, no final, nos recordamos da obra como recordamos uma pintura impressionista após a vermos exibida numa qualquer exposição. Ficam as impressões na memória causadas por uma técnica de cruzamento de narrativas levada à exaustão, não só capítulo após capítulo, mas também parágrafo a parágrafo e por vezes, até dentro do mesmo parágrafo. Há quem lhe chame realismo mágico.
É pródiga em diálogos dando-nos a conhecer a sua história mediante uma conversa entre Santiago
CANTINHO DO JOÃO
João Correia
FICA ASSIM A RECOMENDAÇÃO SOBRE O QUE PODEMOS APRENDER COM OS PREFÁCIOS, POSFÁCIOS E AGRADECIMENTOS
Zavala e Ambrósio, entre Queta e Hortênsia, entre D. Fermin e Caio Bermudez, entre muitos outros. E para mim, que sempre achei que ninguém sabe escrever se não souber escrever diálogos, fiquei sem palavras (dúvidas houvesse).
Ainda sobre prefácios, mas desta feita sobre tradutores, não pude esquecer o que li noutra obra de Mário Vargas Llosa, o “Tempos Duros”, sobre Cristina Rodriguez e Artur Guerra, ambos tradutores que se juntaram no universo profissional, relação essa que deu origem a um filho. Ambos, juntos, traduziram mais de duzentos livros, de diversos autores, não distinguindo o trabalho de um e de outro uma vez que, como se lê nos agradecimentos constantes dessa obra, o teclado de casa funciona a quatro mãos. No final, leem tudo em voz alta para que o outro possa ouvir e assim concluem, ambos, os retoques finais. Têm uma pequena horta em casa e dedicam-se às terapias alternativas tendo aprendido a apreciar música jazz com o seu filho mais novo.
Fica assim a recomendação sobre o que podemos aprender com os prefácios, posfácios e agradecimentos que rodeiam as obras constantes dos livros que lemos, como se de borboletas esvoaçando em redor de flores se tratasse.
Não sendo estes obras literárias são, contudo, janelas abertas para uma melhor compreensão das obras primas que rodeiam, dando a possibilidade de, se assim o quisermos, imaginarmos outros contos, histórias ou aventuras que poderiam, quiçá, integrar outros livros os quais, por sua vez poderiam conter outros prefácios, posfácios e agradecimentos num ciclo, não diria vicioso, mas apenas delicioso.
Fica o desafio.