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Cantinho do João João Correia
from 50 Edição
O meu amigo russo não gostava de Putin.
Aliás, quando falava nele, no mesmo ano em que este ocupou o poder, chamava-lhe nomes feios e assim veio para Portugal onde o conheci a servir às mesas num restaurante em frente a minha casa. O tipo era esperto e falava um português perfeito, com algum sotaque mas com uma gramática excelente pelo que não resisti a perguntar-lhe sobre como é que aprendeu a falar português e eis que a resposta não pode deixar de ser excelente, ou seja, confidenciou-me que quando chegou a Portugal comprou um livro escrito em português e traduziu todas as palavras nele constantes para russo e assim foi.
Também me confidenciou que, nos seus
CANTINHO DO JOÃO
João Correia
primeiros dias por cá, assistiu a um concerto de Monica Sintra e achou a nossa pronúncia muito estranha, mas que, passado uns tempos, se habituou. Mais tarde, a servir às mesas, brincava comigo sobre os erros ortográficos que o seu patrão português cometia, sobretudo quando escrevia “irvilhas” ao invés de “ervilhas”.
O meu amigo russo deu-me aulas de russo, das quais eu aprendi apenas algumas frases correntes, através de um livro com o símbolo da extinta União Soviética cuja personagem principal chamava-se “Valodia” mas sempre ficaram. E o mesmo insistia que ninguém podia aprender russo sem primeiro aprender o seu alfabeto, o qual foi, de facto, um desafio.
O meu amigo russo teve problemas com a embaixada russa, muito embora já fosse português pois, o senhor embaixador (sim escrevi com letras pequenas) não gostava de cidadãos russos que faziam traduções sem para isso estarem autorizados pela embaixada. Ou seja, por ele controlados.
Reencontrei o meu amigo russo há pouco, perto do meu local de trabalho, onde lhe perguntei sobre se estava a ter chatices com a guerra na Ucrânia. O mesmo é, actualmente, empresário e disse-me que trabalha com muitos ucranianos os quais são indiferentes, salvas raras e honrosas excepções, ao facto de ele ser russo, recomendando-o a outros ucranianos.
Fiquei contente e desejei-lhe boa sorte na expectativa de o encontrar em breve pois, o meu amigo russo é bom para o meu país, tal como os seus clientes ucranianos que com ele trabalham.