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Inclusão Digital
MORADORES DE COMUNIDADES REALIZAM AÇÃO NO CONTROLE DE ZOONOSES EMERGENTES
Coordenação geral: Marcia Chame (Fundação Oswaldo Cruz). Coordenação executiva: Marcia Chame e Maria Lucia de Macedo Cardoso (Fundação Oswaldo Cruz). Gestão dos recursos e gerenciamento: Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fiotec).
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A extensão territorial nacional, assim como as dimensões das UCs e os limites quanto ao número de servidores, tanto da saúde quanto do setor ambiental, representam desafios que precisam ser superadas para o monitoramento da saúde silvestre e humana nas Unidades de Conservação (UCs) e entorno, com foco no controle e prevenção de zoonoses emergentes e na conservação das espécies. “As alterações ambientais crescentes e intensas têm favorecido o aumento na distribuição da transmissão e o rompimento de barreiras biológicas favorece a circulação de doenças, causando impacto considerável tanto nos animais quanto nas pessoas”, afirma Marcia Chame, coordenadora do Centro de Informação em Saúde Silvestre e da Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Em resposta a esse cenário que inspira atenção, o investimento em tecnologia alinhado à participação da sociedade, em especial de moradores de comunidades tradicionais, indígenas, gestores de UCs e especialistas representa um caminho de oportunidades. PERFIL
Unidades de Conservação Federais e Estadual. Parque Nacional da Serra dos Órgãos/RJ; Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns/PA; e Parque Estadual da Serra do Conduru/BA.
OBJETIVOS
Identificar riscos e a percepção de risco das comunidades sobre doenças que circulam entre animais silvestres e pessoas e são potencializadas pelo modo de vida e produção; qualificar multiplicadores e comunidades para a compreensão da relação da biodiversidade com a saúde humana; implementar o uso do SISS-Geo para o monitoramento participativo de animais silvestres e potenciais riscos de emergências de zoonoses; elaborar materiais de boas práticas em saúde, qualidade de vida e conservação da biodiversidade.
Foto: André Telles
Foto: André Telles
RESULTADOS
ࡿ Ampliação do conhecimento das comunidades sobre zoonoses, hábitos e atividades que podem favorecer a transmissão de doenças. O sistema, em setembro de 2017, contava com 3.222 registros de animais, enviados por mais de 1.400 usuários, de 19 Estados. Uma ferramenta de validação dos dados analisa a pertinência dos registros que são abertos, inseridos no Google Maps e podem ser visualizados, em tempo real, em www.biodiversidade.ciss.fiocruz.br ࡿ Notificações de macacos mortos durante a recente epizootia (doença ou morte de animal ou de grupo de animais que possa apresentar riscos à saúde pública) de Febre Amarela geraram alertas para a tomada de decisão da vigilância em saúde e conservação de primatas. O alerta de tartarugas mortas no litoral sul
Foto: André Telles
da Bahia em cerca de 15 dias resultou na autuação da pesca predatória nos bancos de corais em área não monitorada pelo Projeto Tamar. ࡿ O SISS-Geo disponibiliza aos gestores a obtenção de relatórios a partir da escolha das informações desejadas na Plataforma SISS-Geo webservice. Informações do sistema também contribuem com os Planos de Ação de Espécies Ameaçadas e com o monitoramento da Lista Vermelha de espécies ameaçadas.
ࡿ Em 2017, a plataforma SISS-Geo obteve a certificação Tecnologia Social, pela Fundação Banco do Brasil. O projeto foi o vencedor da categoria Órgãos Públicos do Prêmio Nacional de Biodiversidade, promovido pelo Ministério do Meio Ambiente.
INSPIRE-SE!
ࡿ Conheça mais sobre o tema no livro Biodiversidade faz bem à saúde: guia prático, desenvolvido a partir das informações obtidas nas comunidades. http://bit.ly/bioguia ࡿ Falar sobre a saúde das pessoas, dos seus animais e dos animais silvestres, incluindo o tema como parte dos projetos e programas de gestão de UCs com as comunidades auxilia na aproximação de interesses comuns, dilui conflitos e gera possibilidades de acordos e práticas de ganho comum. ࡿ Devolutivas sobre os resultados de pesquisas com o envolvimento das comunidades favorecem o relacionamento e estabelecem confiança. Nessa prática, os participantes (famílias, agentes de saúde e professores) receberam além da apresentação dos resultados, o livro desenvolvido pelo projeto. Seminários para apresentação dos resultados aos gestores das UCs são estratégicos. ࡿ Além do aumento da integração das comunidades e de outros atores sociais com a equipe da Unidade de Conservação, com o monitoramento participativo é possível produzir mais informações que podem ser valiosas para apoiar a gestão.
METODOLOGIA
O Sistema de Informação em Saúde da Vida Silvestre SISS-Geo é uma parceria entre a Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre (PIBSS), da Fiocruz, e o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação. A tecnologia baseada na Ciência Cidadã busca transpor as dificuldades de monitoramento frente à extensão territorial brasileira, às dimensões da maior parte das Unidades de Conservação, assim como o pequeno efetivo das equipes. O SISS-Geo funciona em dispositivos de comunicação móvel e opera offline. A partir do georreferenciamento do GPS do próprio aparelho possibilita que moradores e especialistas em lugares distantes e de difícil acesso também contribuam com o monitoramento da fauna em ambientes naturais, rurais e urbanos. As informações sobre espécie, localização, comportamento e condições de saúde são sistematizadas, gerando alertas e notificações aos órgãos responsáveis em diversas esferas, ampliando os esforços da vigilância em epizootias e a geração de informação tanto para a saúde quanto para a conservação da biodiversidade.
Na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, o projeto foi aprovado pelo Conselho da unidade e contou com expedições para levantamento da percepção e análise de risco de doenças. Oficinas nas comunidades e treinamento sobre como usar o SISS-Geo proporcionaram também a seleção de colaboradores do projeto. No Parque Estadual da Serra do Conduru, reunião com parceiros locais sinalizou um caminho com algumas particularidades, como a realização de cursos estruturados para atender às expectativas dos grupos de interesse. As comunidades mais isoladas e vulneráveis participaram do projeto, por meio de oficinas, em conjunto com a liderança da unidade, ONGs e organização de setores produtivos locais, como pescadores e guias de Turismo de Base Comunitária.
Já no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, a aproximação com os gestores ocorreu via participação da Fiocruz no Conselho do parque e apresentação do projeto nos eventos de pesquisa. As palestras sobre o SISS-Geo e o treinamento tiveram como público-alvo condutores de trilhas, brigadistas, equipe do parque e o batalhão ambiental municipal de Magé. A continuidade no envio dos registros indica o potencial de participação da sociedade no monitoramento da fauna. Os contatos pelo Fale Conosco revelam mais uma conquista, um canal de comu-
nicação efetivo com comunidades desassistidas.
A partir das contribuições das comunidades, 166 melhorias foram implementadas na plataforma. Entre os colaboradores selecionados durante as oficinas estão moradores das comunidades, agricultores, guardas-parque e técnicos florestais que receberam aparelho celular (via doação) para monitoramento da fauna.
O projeto foi financiado com recursos do Fundo Brasileiro para Biodiversidade (Funbio) e do Projeto Nacional de Ações Integradas Público-Privadas para Biodiversidade (Probio II/MMA).
PERÍODO
Janeiro de 2015 a julho de 2017
PARCEIROS DO PROJETO
Conselho da Resex Tapajós-Arapiuns; Associação das Organizações da Reserva Tapajós-Arapiuns - Tapajoara; Instituto Arapyaú (SP/BA); Associação Mecenas da Vida/BA; Instituto Floresta Viva/BA; Instituto Marola/BA; Conselho do Parque Nacional da Serra dos Órgãos.
Foto: ICMBio / André Telles