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Regionalizar as Compras
AGRICULTORES E PRODUTORES LOCAIS TÊM PRIORIDADE COMO FORNECEDORES DE CONCESSIONÁRIA
Coordenação geral: Fernando Henrique de Sousa (Cataratas do Iguaçu S/A) e Parque Nacional do Iguaçu (ICMBio). Coordenação executiva: Diretoria Institucional e Sustentabilidade do Grupo Cataratas S/A. Gestão dos recursos e gerenciamento: Cataratas do Iguaçu S/A.
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O Parque Nacional do Iguaçu é a segunda Unidade de Conservação (UC) federal mais visitada do Brasil. Em 2017, a unidade registrou 1,8 milhão de turistas. Na liderança está o Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, com mais 3 milhões de turistas, no mesmo período. Unidades de Conservação como essas, que são a principal atração de inúmeros roteiros turísticos, agregam à economia local valores significativos. E a questão é exatamente essa, como migrar do local para o regional? “A visitação no parque é um claro gerador de benefícios para o setor turístico de Foz do Iguaçu. Em contrapartida os outros municípios do entorno da unidade se viam como não partícipes dos resultados da visitação e da presença da unidade”, pontua Fernando Henrique de Sousa, diretor institucional e sustentabilidade da Cataratas do Iguaçu S/A, empresa responsável pela gestão da bilheteria, do transporte interno no parque e de pontos de vendas de souvenirs, serviços de alimentos e bebidas.
Outra problemática identificada em estudo técnico do WWF-Brasil* para o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em 2015, mostra a relação entre expansão das monoculturas da soja e do milho nos municípios no entorno do parque e a perda de biodiversidade nessas áreas. “O mesmo estudo apontou que o fomento e o incentivo positivo à agricultura familiar, baseada em sistemas produtivos da agroecologia de pequenos produtores localizados próximos a esses fragmentos, poderia ser uma maneira de congelar a expansão da monocultura extensiva sobre essas áreas”, completa Sousa.
* Mapeamento de Oportunidades de Atividades Econômicasbaseadas em Serviços Ecossistêmicos no entorno do Parque Nacional do Iguaçu e Desafios de Implementação. PERFIL
Localizado a 637 quilômetros de Curitiba/PR, na região da tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, o parque abriga nos 185 mil hectares o maior remanescente de floresta Atlântica (Estacional Semidecídua) da região sul do Brasil. Desde 1986, integra a lista de Patrimônio Mundial da Unesco.
OBJETIVOS
Levar os benefícios socioeconômicos em consequência do Parque também para os municípios do entorno, reduzindo tensões no campo e introduzindo novas oportunidades baseadas na Economia Verde. Incorporação dos potenciais produtores e prestadores de serviço na rede de fornecedores. Integrar pequenos produtores da Agricultura Familiar, baseada em agroecologia no entorno da unidade, na cadeia de valor da concessão, por meio da compra dos seus produtos para os restaurantes e lanchonetes do parque, como forma de prestigiar e garantir a sobrevivência deste tipo de produção e de uso da terra, oferecendo produtos mais saudáveis e orgânicos aos visitantes.
Foto: Cassiano Preve/Cataratas S/A
RESULTADOS
ࡿ 70% de todos os produtos e serviços consumidos na concessão vêm dos municípios do entorno da unidade, são 514 fornecedores, em geral micro e pequenos empresários. ࡿ O impacto na economia regional é de aproximadamente R$ 38 milhões/ano, direta e indiretamente, incluindo a arrecadação de impostos e efeito distributivo, segundo estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro. ࡿ No Centro de Visitantes, semanalmente, é realizada a Feira da Agricultura Familiar, uma vez que os funcionários das concessionárias do parque também são público-alvo dos agricultores. ࡿ O incentivo à agroecologia na região, por parte da concessionaria, é uma estratégia na tentativa de frear a expansão da monocultura extensiva, protegendo a biodiversidade e as conexões entre os fragmentos florestais.
METODOLOGIA
A concessionária estabeleceu uma política de compras que privilegia produtores e prestadores de serviços dos 15 munícipios no entorno do parque: Foz do Iguaçu, Santa Terezinha do Itaipu, São Miguel do Iguaçu, Serranópolis, Medianeira, Matelândia, Céu Azul, Santa Tereza do Oeste, Lindoeste, Capitão Leônidas Marques, Capanema, Ramilândia e Vera Cruz do Oeste, Missal e Cascavel.
A rede de fornecedores da concessionária é composta por produtores e prestadores de serviço comprometidos a observar o código de ética com critérios socioambientais legais e a seguir o compromisso de melhoria contínua na qualidade do produto, serviço e atendimento. Produtores da agricultura familiar interessados em vender alimentos para o parque precisaram adotar práticas da agroecologia, proteger as nascentes e as Áreas de Proteção Permanente. A concessionária investiu na assistência técnica para esses agricultores
pela parceria com o WWF, seguida do acompanhamento da Cooperativa Biolabore, via financiamento da concessionária.
A equipe de compras buscou maior aproximação com esses fornecedores, por meio de rodadas de negociação, capacitações e, principalmente, em reuniões sobre condições de fornecimento especiais para a configuração de parceria de longo prazo. Os turistas tiveram conhecimento sobre o conceito de compras sustentáveis como um valor da unidade de conservação, por meio de campanha desenvolvida pela equipe de comunicação da concessionária. A constituição do Comitê de Governança e do Programa de Acompanhamento, com formulários específicos de avaliação em relação às atividades dos fornecedores, funcionam como subsídio à tomada de decisão por parte do departamento de compras da concessionária.
Durante todo o processo, reuniões entre a chefia da unidade e produtores, prefeitos e outras lideranças fortaleceram a importância da integração entre a cadeia produtiva do entorno do parque e a concessionária.
PERÍODO
Setembro de 2015 – em execução.
PARCEIROS DO PROJETO
Cooperativa da Agricultura Familiar do Oeste do Paraná (Coafaso); Associação Santa Anna de Fruticultura; WWF-Brasil; Associação Comercial de Foz do Iguaçu (Acifi); Prefeituras Municipais de Capanema, Serranópolis, Santa Terezinha, Matelândia e Foz do Iguaçu; Cooperativa Biolabore; Associação dos Municípios do Oeste do Paraná (Amop); Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Paraná (Sebrae-PR).
INSPIRE-SE!
ࡿ Conheça os pontos fortes da produção local e regional, como por exemplo, o cultivo de algum alimento, em especial, ou até mesmo os produtos beneficiados, como conservas e compotas. O Centro de Visitantes pode ser um ponto estratégico para esses produtos. A agricultura familiar é uma ótima aliada da conservação. Feiras aos fins de semana de produtores locais/regionais, dentro das UCs, têm potencial para ampliar a renda da comunidade e surpreender turistas. ࡿ Nesta prática, as negociações com os pequenos empresários mostraram a necessidade de contratos de longo prazo como forma de garantir fôlego financeiro ao parceiro. Diante de fornecedores com diferentes perfis, considere adaptações que podem tornar o negócio mais viável para todos os envolvidos. Futuras parcerias entre Unidades de Conservação e a iniciativa privada podem incluir a preferência por compras locais entre os critérios da contrapartida. ࡿ Na Secretaria da Educação, a parceria entre Unidades de Conservação e fornecedores locais pode ser apresentada como sugestão de aula prática nas escolas. É possível abordar a valorização dos produtos locais, o comércio sem intermediários, que permite um preço mais justo ao produtor, a importância de distâncias menores entre produtor e consumidor e como o alinhamento dessas práticas reduz os impactos ambientais. ࡿ Capacitar os moradores do entorno em agroecologia, via parcerias, pode otimizar os resultados dos agricultores em uma prática repleta de benefícios para quem trabalha direto com a terra, consumidores e o entorno, onde neste caso está a UC.