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Interlocução

A ENTRADA DE UM TERCEIRO ATOR SOCIAL PODE MUDAR OS RUMOS DE UM CONFLITO

Coordenação geral: Nicholas Kaminski (Fundação Neotrópica do Brasil - FNB). Coordenação executiva: Nicholas Kaminski, Juliana Andrade Santana, Isis Rodrigues Reitman, Rodolfo Portela Souza e Giana Alves Corrêia (Fundação Neotrópica do Brasil - FNB); Nayara Stacheski e Sandro Roberto da Silva Pereira (Parque Nacional da Serra da Bodoquena/ICMBio). Gestão dos recursos e gerenciamento: Fundação Neotrópica do Brasil.

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Apesar de recente, o Parque Nacional da Serra da Bodoquena tinha sua trajetória relacionada aos conflitos com o Assentamento Canaã, localizado nos limites da Unidade de Conservação (UC). “A criação de uma UC de proteção integral após 20 anos de existência do assentamento gerou diversos conflitos ambientais e fundiários que perduraram até recentemente. A falta de informação sobre o contexto da criação de uma UC, a regularização fundiária de alguns lotes sobrepostos à área do parque ainda não concluída e a restrição na utilização desses lotes levou a uma relação bastante conflituosa entre os assentados e a gestão da unidade”, pondera Nicholas Kaminski, superintendente executivo da Fundação Neotrópica do Brasil (FNB). Entre as principais atividades econômicas nos 3.620 hectares do assentamento estava a pecuária (leite e corte) praticada sobre solos rasos e com grande potencial de erosão. Até 2016, diversas tentativas de aproximação da gestão do parque com a comunidade do Assentamento Canaã foram frustradas, qualquer movimento parecia em vão até que surgiu uma janela de oportunidade pela iniciativa de uma organização de fins não lucrativos na área de conservação da natureza. PERFIL

O maior remanescente de Mata Atlântica de interior do Brasil está no Parque Nacional da Serra da Bodoquena. A unidade tem como principal característica o relevo cárstico que funciona como reservatório hídrico em canais submersos, responsáveis por uma série de rios que seguem para o Pantanal. O Assentamento Canaã localizado nos limites do parque, no município de Bodoquena/MS, possui 3.620 hectares ocupados por 50 lotes. Em 1980, contava com mais de 100 famílias, atualmente, apenas 37 residem no local.

OBJETIVOS

Demonstrar aos moradores do Projeto Canaã que novas alternativas de geração de renda aliadas à conservação da natureza são possíveis. Realizar oficinas de capacitação sobre Turismo de Base Comunitária, recursos naturais e sistema agroflorestal, com plantio de mudas de espécies arbóreas nativas e de plantas de espécies agrícolas, visando a produção e a recuperação florestal, principalmente de matas ciliares nas propriedades. Otimizar o uso da terra, conciliando a produção florestal com a produção de alimentos, conservando o solo e diminuindo a pressão pelo uso da terra para produção agrícola. Desenvolver atividades de educação ambiental, em especial a observação de aves, com crianças e jovens residentes no Assentamento Canaã.

RESULTADOS

ࡿ Aproximação e mudança na relação entre os moradores e a equipe gestora da UC, que passou a ser vista como parceira. ࡿ O olhar sobre o parque também revela alterações, desde o projeto, a unidade é considerada como oportunidade de crescimento para a região. O acesso a alguns atrativos em áreas que estão sendo regularizadas dentro da UC poderá ser feito pelo assentamento Canaã, integrando assim a comunidade na dinâmica do parque. ࡿ O fortalecimento da comunidade levou à criação de uma nova associação, o que demostra superação quanto a uma infeliz experiência com o antigo grupo. O trabalho especificamente com mulheres não estava previsto, mas também registrou avanços em busca de novas perspectivas de trabalho. ࡿ A implantação dos sistemas agroflorestais proporcionou melhor qualidade de vida aos moradores e ao mesmo tempo contribuiu na regeneração dos solos degradados e na restauração da mata ciliar em alguns lotes. Os moradores aprimoraram o manejo do gado, compreenderam a legislação vigente e passaram a segui-la.

METODOLOGIA

Em 2016, a Fundação Neotrópica iniciou o Projeto Canaã e convidou a gestão do parque a apoiar a iniciativa. Esse momento foi um marco de uma nova relação entre moradores da comunidade e a gestão do parque, com a construção do diálogo no sentido da resolução de conflitos. A partir de visitas e conversas nas residências do Assentamento foi feito diagnóstico nas esferas socioeconômica e ambiental. Coleta de pontos em GPS, criação de mapas, cadastro dos moradores e calendário de atividades subsidiaram o desenvolvimento do projeto. As oficinas participativas incluíram as seguintes estratégias: mapa falado, linha do tempo, diagrama de Venn (organização de conjuntos para agrupar elementos dentro de figuras geométricas e de suas áreas de conexão) e árvore dos sonhos. Visitas a outros projetos no Estado para troca de experiências também integraram o processo. Após o levantamento, foram realizadas reuniões participativas e oficinas de capacitação, seguidas de almoço e conversas informais.

Foto: Acervo FNB

O repasse de conhecimento à comunidade privilegiou a apresentação de alternativas produtivas sustentáveis, implantação dos sistemas agroflorestais e diversificação da produção. Visitas periódicas e registros fotográficos são as práticas utilizadas para o monitoramento do plantio. A assessoria técnica aos moradores busca responder as questões levantadas nas oficinas. As reuniões com a comunidade apresentam como eixo as técnicas e ferramentas de participação comunitária. O projeto contou com apoio financeiro do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA).

PERÍODO

Junho de 2016 – em andamento.

PARCEIROS DO PROJETO

Prefeitura Municipal de Bodoquena/MS; Agência Nacional de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural de Mato Grosso do Sul (Agraer).

INSPIRE-SE!

ࡿ Participação de atores sociais de diferentes esferas muitas vezes favorece a construção do diálogo e a identificação do interesse em comum. A presença exclusiva de atores sociais posicionados nos extremos é um desafio por si só. ࡿ Desenvolver atividades com crianças presume resultados de longo prazo, mas considerando a influência delas sobre as famílias o retorno pode estar mais próximo do que o estimado.

ࡿ Visitas de monitoramento possuem múltiplas funções: acompanhar a evolução da iniciativa, trocar informações sobre o projeto e aprimorar a relação com a comunidade, mantendo sempre esse canal aberto. ࡿ Capacitar os moradores de assentamentos em atividade econômica harmônica à Unidade de Conservação e que dialogue com o perfil da comunidade desponta como potencial instrumento gerador de renda.

Foto: Acervo FNB

Foto: Acervo FNB

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